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Resumo
Esse artigo vai tratar da forma como as mulheres se apropriaram da capoeira como ato ou
movimento de resistência ao sistema racista e patriarcal. Inicia trazendo algumas informações
gerais do autor Pedro Abib (2005) sobre a prática da capoeira no final do século XVIII e no
século XIX no Rio de Janeiro e na Bahia, período em que se começa a ter registros. Em
seguida, discorre sobre a participação da mulher na capoeira e seus significados sociais no
referido período, antes de apresentar como uma mulher negra capoeirista e pesquisadora analisa
a inserção do gênero feminino negro nessa arte enquanto resistência hoje. Conclui-se com a
feminista Sueli Carneiro a partir das reflexões colocadas.
Palavras chave: Mulher, Educação, Capoeira, Resistencia.
houve outras mulheres que romperam com a normatização do espaço masculinizado e que nos
enfrentamentos do cotidiano da rua, viviam e sobreviviam no universo codificado pela cultura masculina, a
*rafael82silva@yahoo.com.br, Universidade Federal do Ceará.
exemplo das zonas de prostituição, onde ganharam notoriedade como “ mulheres vagabundas (Oliveira; 2009:
p.129).
muitas mulheres eram presas em grupos, às vezes por estarem em luta corporal entre elas. Mas
poderiam ser presas simplesmente por estarem juntas em determinada localidade, com comportamentos
reprováveis pela sociedade da época e considerados crime de desrespeito à moral pública (Oliveira;2009: p.132)
Os negros que foram traficados da África praticavam a capoeiragem nos terreiros, nas
senzalas e ruas, para brincar, se defender, jogar, dançar, se contrapor à opressão. Essa prática se
tornou comum sobretudo a partir do século XVIII, por escravos e livres que viviam nas cidades
e no campo.
A capoeira é uma forma de resistência. As mulheres assim como os homens, se
apoderaram dessa artimanha para sua própria proteção. A participação masculina na capoeira é
comumente tratada nos livros. Hoje novas pesquisas vêm mostrando a mulher como
protagonista dessa prática também nos séculos XIX e XX, mesmo que de forma discreta:
“Alguns registros existem sobre as mulheres neste universo, como é o caso de Salomé,
personagem a memória da capoeira baiana”(Oliveira:2009,p.117).
Essas mulheres são cantadas em corridos e ladainhas, lembradas por Mestres como
Pastinha: “Ao lembrar da capoeira das décadas de 1920 e 1930, afirmavam que Salomé
“cantava no samba e jogava capoeira”. O mestre Pastinha era enfático ao salientar a bravura
da valente mulher”( Oliveira, 2009: p.118). Salomé está em letras de capoeira:
Adão, Adão
Oi cadé Salomé
Outras mulheres também são lembradas: “Mestre Pastinha lembra de duas mulheres
que se destacam entre os valentes da capoeira do início do século XX: “Julia Fogateira” e
“Maria Homem” (Oliveira, 2009: p.119).
Outros registros de mulheres negras capoeiristas vão surgir, durante o século XIX, em
jornais e boletins policiais. Nesse momento, elas não eram classificadas como capoeiras, mas
sim, como mulheres valentes, boas de brigas.
A vida familiar e as tarefas da casa faziam parte do cotidiano delas, não se admitia
que elas saíssem da rotina. Assim, “as mulheres caberia uma vida integrada dentro de uma
ordem que não deveria ser quebrada. Ocorrendo a quebra de imediato surgiam denúncias que
condenavam o comportamento “irregular” que não se enquadrava no modelo proposto” (
Oliveira, 2009: p.143).
A sociedade queria uma mulher doce, sensível e dependente do homem. Mas as
mulheres negras conquistaram seu espaço com muito trabalho, inicialmente prestando serviços
domésticos, vendendo sua própria produção de comidas e utensílios. Porém, mesmo nas ruas a
presença delas deveria ser discreta: “dentre os espaços sociais conquistados pelas mulheres,
estavam também as ruas, mas a sua presença deveria se dar de forma discreta, quase uma
extensão do ambiente doméstico” (Oliveira, 2009: p.119). Assim, quando elas quebram essa
discrição e se permitem usar da capoeira, elas são chamadas de briguentas e valentonas: “A
notícia divulgava a prisão de algumas mulheres que brigavam nas ruas da capital federal (...) O
periódico informava da prisão de Jerônima, escrava de Caetano Antônio de Lemos, autuada
por transgressão de ordem pública na prática de capoeiragem”. (Oliveira, 2009: p.122).
No entanto, as mulheres negras e escravas, dos séculos passados sempre resistiram à
opressão do sistema colonizador e machista. A valentia era uma de suas características, para se
defender dos brancos donos de escravos que queriam estuprá-las e em casa, do marido
violento. Enquanto elas se submetiam passivamente como donas de casa, elas não chamavam a
atenção da imprensa, mas ao se rebelarem com o corpo-arma, elas apareciam nas crônicas
policiais: “muitas dessas mulheres, que em sua vida privada eram mães de família, donas de
casas, mulheres da vida, enfim, pessoas comuns, tornaram-se personagens constituídas a partir
das crônicas policiais jornalísticas” (Oliveira, 2009: p.123).
Nesse espaço entre o doméstico e o público nos bairros reputados violentos, as
mulheres valentes não hesitavam em usar a capoeira de navalha em briga com o homem:
O uso da navalha foi de domínio da mulher que cortou seu adversário. A violência perpetrada revela-
nos o universo das ruas da cidade, especialmente no centro tradicional de Salvador, entendida por nós como a
cartografia da capoeiragem; nesse período ocorreu em área considerada marginal e incivilizada. (Oliveira, 2009: p.
125).
A senhora, Rosângela Costa Araújo, a (Mestra Janja), é uma das personagens mais
conhecidas no mundo da capoeiragem. É uma mulher negra, capoeirista há mais de 30 anos na
Bahia e ativista no movimento social negro e feminista. Formada em História pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Doutora em Educação pela Universidade de São
Paulo (USP) com Título: Iê, Viva meu Mestre: a Capoeira Angola da ´escola pastiniana´ como
práxis educativa, (2004). Atualmente é professora universitária da UFBA. Nesse artigo, trago
Mestra Janja como exemplo, com suas opiniões a respeito da inserção da mulher no mundo da
capoeira, das transformações ocorridas nessa área e dos desafios e perspectivas que a capoeira
terá pela frente.
Mestra Janja considera a capoeira como uma manifestação cultural afro-brasileira. Isso
é muito importante para ela, uma vez que considera “fundamental não prosseguirmos pensando
o Brasil sem as suas africanidades”. Assim, fica entendido que a capoeira é uma arte reveladora
do jeito de ser do brasileiro, desenvolvendo formas criativas de se relacionar com realidades
muitas vezes violentas.
Mestra Janja destaca algumas mudanças que caracterizam as novas formas de
convivências entre os grupos e principalmente, entre os mestres. Primeiro, a possibilidade de
realizarem atividades conjuntas, dialogando com diferentes públicos ou mesmo com os poderes
(M. Janja)
À procura de amor
Em nome do desamor
Camará..
(m. Janja)
Mora lá no pé da serra
Me falar de abolição,
camará...
Consideramos que esse artigo foi apenas um incentivo inicial para uma pesquisa mais
ampla sobres as mulheres negras na capoeira angola e no movimento social. Os resultados
apresentados não foram tão fáceis de encontrar devido à pequena bibliografia existente.
Entretanto, foi possível catalogar informações importantes da história das mulheres
negras capoeiristas ditas valentes no século XIX e XX em registros de jornais e boletins
policiais. No segundo momento conseguimos trazer o exemplo de uma Mestra de capoeira
angola (Mestra Janja) negra e feminista com mais de 30 anos de prática. No terceiro item
tivemos as considerações da pesquisadora, Sueli Carneiro, ativista do movimento de mulheres
negras de São Paulo.
Vemos que no decorrer da história, existe uma luta das mulheres negras
desvalorizadas desde a escravidão. Hoje as mulheres negras feministas como Sueli Carneiro
conseguiram colocar na agenda nacional propostas de politicas públicas para esse grande
segmento populacional. É a grande roda que a Janjá cita: eliminar a violência politica,
pensando nesse caso qual a contribuição que a capoeira faz para isso acontecer enquanto espaço
simbólico de conquista da mulher. O fato da mulher capoeira ter conseguido sair da
marginalidade desvalorizada onde se encontrava como mulher valente, para uma figura de
Referencias bibliográficas:
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OLIVEIRA, Josivaldo Pires e; LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Capoeira identidade e gênero:
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