Antônio de Castro Alves nasceu na Bahia em 1847 e faleceu em
Salvador no ano de 1871. Castro Alves é um dos maiores poetas românticos
do Brasil, tanto pela popularidade como pelo valor próprio de seus versos. Além de suas poesias serem apaixonantes tem cunho humanitário e revolucionário. Castro Alves amou o oprimido com sentimento de justiça sendo este o traço básico da sua personalidade. A desarmonia da alma romântica não é produzida, segundo ele, por conflitos do espírito, mas por conflitos entre o homem e a sociedade, o oprimido e o opressor. É uma nova forma da existência da dualidade romântica do bem e do mal. Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista. No seu tempo o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontravam na eloquência dos poetas. E mesmo tendo ampla vertente lírica dentro do Romantismo as suas características de espírito reformista, sua fé e sua liberdade criadora, estão presentes em suas obras. Tendo vivido num momento histórico bastante agitado, marcado pelos acontecimentos decisivos para a nação (a guerra do Paraguai, a eclosão do movimento abolicionista) e, tendo ouvido dos seus familiares incidentes do tempo das Regências, Castro Alves, de temperamento revolucionário, realizou uma obra poética com características sociais. Versou neste gênero temas patrióticos, humanitários e abolicionistas, em versos enfáticos com imagens brilhantes e ousadas, próprias para serem recitadas. Muitas dessas poesias foram pelo próprio autor declamadas diante de multidões de admiradores, nos meios estudantis e nos teatros. Assim sendo, a lira que se destaca por denunciar a miséria física e moral dos escravos e o Navio Negreiro. O Navio Negreiro é um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, e foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868. Quase vinte anos depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, de quatro de setembro de 1850. A proibição, no entanto, não vingou, pois ainda havia resistência política da elite agrária escravocrata para emperrar o processo da Abolição, que só chegaria em 1888. Contudo, o pensamento abolicionista e as ideias republicanas aumentaram contra o governo monárquico, levando assim, Castro Alves a se empenhar na denúncia da miséria a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica, na qual em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios completavam a viagem com vida. É nesse contexto que surge a poesia de Castro Alves, como arma poderosa na defesa dos ideais libertários. Contudo, o poema Navio Negreiro está dividido em seis partes e cada uma retrata situações diferentes, cabendo aqui decorrer apenas a quinta parte. Assim sendo, o poeta faz um retrocesso temporal, descrevendo a vida livre dos africanos em sua terra. Criando, no entanto um contraponto dramático com a situação dos escravos no navio, cuja liberdade lhe é roubada. Na última estrofe Castro Alves retoma a primeira para protestar com veemência contra a crueldade do tráfico de escravos. O quinto período descreve uma paisagem de um mar poluído pelo crime. Este novo momento é aquele em que: “há tanto horror perante os céus..., este borrão, loucura ou verdade”. Castro Alves invoca a maior entidade do universo, na primeira estrofe da quinta parte: “Senhor Deus dos desgraçados!” E pede que o mar, local primordial, um espaço de ação naquele tempo, cheio de mistério e de convulsões, como tufão e onde tudo desaba astros! noite! tempestades! para que tudo se apague com uma espoja. Portanto, apesar de ter cunho triste, o poema conta com o realismo e desespero da vinda dos africanos ao Brasil, e é através de Castro Alves que e possível ter uma visão mais precisa de como era as viagens dos africanos nos porões dos navios. Embora não mencione o nome África, sempre identifica-a ao falar em Serra Leoa, um lugar onde outrora, os africanos gozavam de liberdade, na qual tinha poder de ir e vir, eram os guerreiros ousados, homens simples, fortes e bravos na caça ao leão. No Brasil, são míseros escravos, presos nas mesmas correntes e fadados ao som do açoite. Sonos são cortados pelos baques dos copos jogados ao mar. Maldade e tristeza se incluem, pois a luz, o ar e a razão são tragados pelo deserto e pela solidão, cujo escravo não é tido com sentimento nem coração, por isso não são livres nem para morrer. Referencias Bibliográficas: FUJIAMA, Yoji. Noções de Literatura Brasileira. Editora Ática, 1969.