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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO
PROCESSO: 0000122-06.2018.5.14.0151
RECORRIDOS: OS MESMOS
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1 RELATÓRIO
Trata-se de recursos ordinários interpostos pelas partes, nos autos de reclamação trabalhista, movida
por VALDECI DA SILVA BARREIRA em face de BANCO BRADESCO S.A. contra sentença na qual foram
julgados parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial para a) declarar prescritos todos os
créditos trabalhistas anteriores a 03/08/2013; b)condenar a Reclamada a pagar ao Reclamante, no prazo de 8
(oito) dias, a importância de R$ 45.184,02 a título de indenização por danos morais decorrentes de riscos
resultantes de transporte pessoal de valores e de dobra das férias referentes aos períodos aquisitivos de
2012/13, 2013/14, 2014/15 e 2015/16 por concessão extemporânea do direito trabalhista, tudo devidamente
limitada ao pedido.
Além disso, foram deferidos os benefícios da justiça gratuita ao autor e condenada a reclamada em
honorários advocatícios sucumbenciais em 5% do valor bruto da condenação, bem como o reclamante em
honorários sucumbenciais recíprocos na quantia de R$ 2.053,82, apurados estes sobre a parcela indeferida de
indenização por danos morais em razão de trabalho por estresse.
Inconformada, a instituição financeira reclamada, em seu arrazoado (Id 9435ece), pugna pela
reforma da decisão, argumentando que não há nenhuma orientação interna da empresa que instrua seus
empregados a realizarem transporte de numerários ou utilizem-se de carro próprio para tanto. Além disso,
defende que não agiu com culpa ou dolo e que não existe nos autos qualquer nexo de causalidade.
Em prosseguimento, aduz que, conforme documentos referentes à comunicação de férias que juntou
aos autos, restou demonstrado que as férias sempre foram concedidas dentro do prazo legal e que o obreiro
tinha a faculdade de converter 1/3 de suas férias em abono pecuniário. Assevera, ainda, que não foi produzida
no feito prova quanto ao alegado pelo empregado.
Subsidiariamente pleiteia que, caso seja mantida a condenação ao pagamento de indenização por
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danos morais em decorrência do transporte de valores, deve ser essa minorada por não figurar razoável o
"quantum" indenizatório arbitrado.
Em contrarrazões, o reclamante alega que a instituição bancária é confessa ao afirmar que havia a
realização do transporte de valores por aquele, e que isso é suficiente para gerar o dano moral, visto que
aplica-se a teoria do dano moral "in re ipsa", afastando a necessidade de sua comprovação. Ademais, a prática
do transporte de valores era feita por imposição da empregadora aos seus empregados.
Na sequência, assere que, quanto às férias, cabia ao empregador o ônus de provar o seu efetivo gozo
pelo empregado, tratando-se de típica inversão do ônus da prova, não tendo a empregadora se desincumbido.
Em seu recurso ordinário (Id 3889e1f), por sua vez, o trabalhador pugna pela reforma da decisão,
aduzindo, preliminarmente, cerceamento do direito de defesa ante a recusa da oitiva por carta precatória da
sua testemunha, pelo que deveria ser declarada a nulidade da sentença e retornado os autos à fase de instrução
para a oitiva da referida testemunha, Sr. Eudes de Aguiar Barbalho.
No mérito, o obreiro afirma que há provas suficientes para demonstrar o excesso de metas, tanto
documentais quanto orais, comprovando o "psicoterrorismo" sofrido. Expõe que na agência em que
trabalhava sempre operava com uma quantidade de empregados abaixo do mínimo, acarretando um maior
número de metas a serem cumpridas pelos demais bancários, tornando-se impossível atingí-las. Além disso,
alega que, conforme as oitivas de testemunhas, restou caracterizado o dano suportado pelo trabalhador e o
nexo causal com a conduta ilícita da instituição.
Ademais, requesta pela majoração do "quantum" arbitrado a título de indenização por danos morais
em razão da realização irregular de transporte de valores para o importe de R$ 82.152,80 (oitenta e dois mil e
cento e cinquenta e dois reais e oitenta centavos). Fundamenta tal pedido na extensão do dano e na
capacidade econômica da empresa ré.
Por derradeiro, requer a manifestação expressa sobre diversos dispositivos constitucionais e legais
para fins de prequestionamento, a fim de viabilizar o manejo de recursos às instâncias superiores.
2 FUNDAMENTOS
2.1 DO CONHECIMENTO
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Recurso ordinário aviado tempestivamente pela reclamada (Id 9435ece) em 03-09-2018 (segunda-
feira), com regular representação processual (Id 1797752) e preparo, tendo em vista o regular recolhimento
de custas (Id db09c2d) e depósito recursal (Id f41f945).
Recurso ordinário apresentado pelo obreiro em 04-09-2018, isto é, dentro do prazo legal (Id
3889e1f). Peça subscrita por profissional regularmente habilitado (Id a2885df). Isento de custas por se tratar
de beneficiário da justiça gratuita recorrente.
Requer o Banco Bradesco S.A, ao fim, que todas as publicações sejam feitas em nome de João Paulo
Pereira Silva Filho, OAB/RO6.145.
Em seu apelo (Id 3889e1f), o reclamante erige preliminar de nulidade processual por cerceamento de
defesa, ao argumento de que o Juízo "a quo" indeferiu a oitiva de uma testemunha arrolada pela autora, que
se apresenta de essencial importância para o deslinde do feito, violando o direito à ampla defesa e ao
contraditório, nos termos do art. 5º, LV, da Constituição Federal, causando prejuízo à parte reclamante em
relação à possibilidade de comprovação do assédio moral alegado na petição inicial.
Alega que requereu a oitiva de uma testemunha, Sr. Eudes de Aguiar Barbalho, por carta precatória,
tendo o juízo indeferido o pedido na audiência de instrução realizada no dia 16-08-2018, por considerar os
fatos suficientemente elucidados.
Assevera que a imprescindibilidade da referida testemunha pode ser atestada pelo fato de que a
testemunha mencionada havia participado de várias reuniões, nas quais eram feitas cobranças abusivas de
metas, comprovando o "psicoterrorismo" suportado pelo reclamante.
Estabelece o art. 370 do CPC que ao juiz, inclusive de ofício, cabe determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito.
No mesmo sentido, o art. 765 da CLT e o art. 139, do CPC estatuem que os juízos e tribunais terão
ampla liberdade na direção do processo.
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Nessa esteira, pode o juiz indeferir as diligências que entender desnecessárias para formação de seu
convencimento. Observa-se que tal faculdade não conflita com o direito do reclamante ao contraditório e
ampla defesa garantidos às partes constitucionalmente, já que objetiva assegurar a solução do processo em
tempo razoável.
Nesse sentido, é o entendimento do colendo Tribunal Superior do Trabalho, conforme se observa das
seguintes ementas:
No caso dos autos, não houve prejuízo ao reclamante já que foi ouvida outra testemunha, Paulo
Roberto Sanches, por ele apresentada, que também trabalhava na empresa e possuía conhecimento dos fatos
controvertidos, mormente a existência de um potencial ambiente de assédio que ocorreria nas reuniões, fato
que queria provar especificamente conforme pleito apresentado em audiência de id 17b524d por intermédio
da oitiva da testemunha, cujo depoimento, por carta precatória, foi indeferido, uma vez que a testigo ouvida
acompanhava o reclamante em reuniões para verificação do cumprimento de metas, como gerente
administrativo, e estando, portanto, apta a influir na composição do caderno de provas, e, por conseguinte, no
julgamento da causa.
Não obstante isso, indeferida a oitiva da testemunha acima mencionada, via precatória, a recorrente
não apresentou protestos, restando, preclusa a matéria.
Por todo o exposto, por não considerar a produção da prova testemunhal útil ao processo, e por ser a
direção do processo de competência do magistrado, que detém ampla liberdade para executá-la (CLT, 765),
bem como em razão da citada preclusão, rejeita-se a preliminar.
2.3 MÉRITO
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Insurgem as partes contra a sentença de primeiro grau que condenou a empresa ré ao pagamento de
R$ 12.322,92 (doze mil trezentos e vinte e dois reais e noventa e dois centavos) a título de indenização por
danos morais decorrentes de riscos resultantes do exercício de atividade de transporte pessoal de valores pelo
reclamante.
Pretende a reclamada o afastamento da condenação, alegando que não há nenhuma instrução interna
da empresa que imponha a realização de transporte de numerários pelos seus empregados ou a utilização de
seus veículos próprios para tanto. Assevera, ainda, que no curto período em que o empregado realizou
transporte de valores, não houve nenhum incidente à sua integridade física.
Ademais, defende a ausência de culpa ou dolo e intenção de causar prejuízo ao obreiro, afirmando
não restar provado o suposto dano moral sofrido, sequer o nexo de causalidade, visto que não sofreu nenhum
dano decorrente do transporte de valores. Assim, requesta a improcedência do referido pedido de
indenização, por serem inexistentes os requisitos caracterizadores do dever de indenização, nos termos dos
arts. 186 e 927, CPC.
Subsidiariamente pleiteia que, caso seja mantida a condenação, deve ser essa minorada por não
figurar razoável o "quantum" indenizatório arbitrado.
Por outro lado, o demandante pretende a majoração do valor fixado, considerando o risco manifesto
ao qual era submetido o trabalhador e com vista ao atingimento do caráter pedagógico da condenação, haja
vista tratar-se a reclamada de uma das maiores instituições financeiras do país. Tenciona, assim, o
recebimento de danos morais, no importe de R$ 82.152,80 (oitenta e dois mil e cento e cinquenta e dois reais
e oitenta centavos).
A Constituição, em seu título destinado aos direitos e garantias fundamentais, dispõe que a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis, sendo assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (art. 5º, V e X, CRFB). Tal direito, por
sua vez, é regulamentado pelo Código Civil, mais especificamente em seus artigos 186, 187 e 927.
Consoante os dispositivos acima, aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo, entendendo-se como ato ilícito tanto a ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência que
violar direito alheio quanto o abuso de direito.
Relativamente ao transporte de valores por instituição financeira, dispõe a Lei nº 7.102/1983, em seu
art. 3º, que tal atividade deve ser feita por meio de empresa especializada contratada ou pelo próprio
estabelecimento financeiro, desde que organizado e preparado para tal fim, com pessoal próprio, aprovado em
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curso de formação de vigilante autorizado pelo Ministério da Justiça e cujo sistema de segurança seja
aprovado pelo mesmo ente ministerial.
Desta feita, encontra-se pacificado na jurisprudência o entendimento de que o empregador que exige
o transporte de valores de empregado que não tenha essa atividade como inerente à função para a qual fora
contratado, nem possua o treinamento e o preparo adequados, comete ato ilícito passível de indenização, uma
vez que a situação sujeita irregularmente o trabalhador a risco à vida e à integridade física e psicológica, além
de configurar desvio funcional perpetrado pela empresa, que deixa de contratar pessoal especializado para
tanto.
Em tais casos, tem-se, inclusive, como desnecessária a efetiva comprovação de dano psíquico ou
físico sofrido pelo obreiro, na medida em que a ilicitude da exigência patronal e o risco envolvidos na
atividade de transporte de valores denotam, por si só, lesão à personalidade do trabalhador.
É como tem decidido o colendo Tribunal Superior do Trabalho (TST), conforme se observa dos
precedentes de todas as suas oito turmas abaixo colacionados:
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dano moral é in re ipsa (pela força dos próprios atos), ou seja, independe da
demonstração do abalo psicológico sofrido pela vítima, exigindo-se apenas a prova
dos fatos que balizaram o pedido de indenização. No caso ora em apreço, concluiu o
Tribunal a quo que, "ao determinar que fizesse o transporte de somas consideráveis
em dinheiro, sem segurança, a ré colocou a autora em condição acentuada de risco,
provocando indubitável dano à sua vida privada" (pág. 1.067). Estando a decisão
regional em consonância com a jurisprudência desta colenda Corte Superior, incide o
óbice da Súmula nº 333/TST ao seguimento do apelo. Recurso de revista não
conhecido. [...] (RR - 1056-11.2013.5.12.0016, Relator Ministro: Alexandre de Souza
Agra Belmonte, Data de Julgamento: 23/05/2018, 3ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 25/05/2018).
[...] TRANSPORTE DE VALORES. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
CONDUTA ILÍCITA NÃO CARACTERIZADA. 1. Pacificou-se, no âmbito do TST,
o entendimento de que a conduta do empregador de exigir do empregado o transporte
de valores, atividade para a qual não foi contratado tampouco capacitado, expondo-o
indevidamente a situação de risco e estresse, dá ensejo ao pagamento de indenização
por dano moral. 2. A jurisprudência desta Corte vem reiteradamente orientando que,
no caso de transporte de valores, a negligência do empregador em adotar as medidas
de segurança exigidas pela Lei n.º 7.102/83 acarreta exposição do trabalhador a
elevado grau de risco, sendo passível de reparação civil. 3. Nesse caso, o dano moral
é in re ipsa, ou seja, prescinde da demonstração da ocorrência de dano efetivo, em
razão da exposição ao risco de sofrer violência ou grave ameaça em face do ato ilícito
praticado pelo empregador, conforme previsto nos arts. 186 e 927 do Código Civil. 4.
Ocorre que a indenização por danos morais pressupõe a existência de todos os
elementos que justificam a reparação civil, a saber, o dano, o nexo causal e a prática
de ato ilícito por parte do ofensor. 5. Assim, sendo incontroverso, porque confessado
pelo próprio Autor, que este apenas "pegava carona" no veículo que transportava
valores da Cooperativa, do Município de Ponto Novo para o Município de Senhor do
Bonfim, não se caracteriza o ato ilícito passível de reparação civil, nos moldes dos
arts. 186 e 927 do CC. Recurso de Revista não conhecido. (RR -
486-76.2011.5.05.0311, Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, Data de
Julgamento: 18/05/2016, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT 20/05/2016).
[...] DANO MORAL. COMPENSAÇÃO. TRANSPORTE DE VALORES.
EXPOSIÇÃO INDEVIDA A SITUAÇÃO DE RISCO. DAMNUM IN RE IPSA.
PROVIMENTO. A atual jurisprudência desta Corte Superior inclina-se no sentido de
se considerar devido o pagamento de compensação por dano moral,
independentemente de prova do dano sofrido, ao empregado que desempenha
atividades de transporte de valores, sem que isso faça parte das suas atribuições e sem
o necessário treinamento, porque se trata de atividade típica de pessoal especializado
em vigilância, que expõe indevidamente o empregado a situação de risco. Precedentes
desta Corte Superior. Restabelecida, assim, a decisão de primeira instância, inclusive
no que tange ao valor compensatório, arbitrado em R$10.000,00 (dez mil reais).
Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento. [...] (ARR -
10082-06.2012.5.12.0004, Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data
de Julgamento: 18/10/2017, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 09/02/2018).
RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL. TRANSPORTE DE VALORES. Esta
Corte entende que, uma vez reconhecida a exigência de transporte de valores do
empregado, sem qualquer tipo de treinamento para tanto ou desacompanhado de
aparato de segurança, em patente desvio de função, é devido o pagamento de
indenização por danos morais. Há precedentes. É importante salientar, ainda, que o
ilícito a que foi submetido o reclamante caracteriza-se in re ipsa, espécie de
constrangimento que prescinde de efetiva comprovação do dano (efetiva ocorrência
de roubo, por exemplo), dada a sua imaterialidade. Recurso de revista conhecido e
provido. [...] (RR - 180-02.2012.5.12.0013, Relator Ministro: Augusto César Leite de
Carvalho, Data de Julgamento: 16/12/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT
12/02/2016).
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No caso em apreço, o reclamante narrou na exordial que "durante o período em que trabalhou no
município de Buritis/RO, mais precisamente nos anos de 2016 e 2017 realizava, realizava transporte de
valores entre a agência da reclamada e as agências do Banco do Brasil, Sicoob e CrediSIS. Os valores
transportados variavam entre R$ 100.000,00 (cem mil reais) a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) e ocorriam
em média 1 (uma) vez a cada 2(dois)/ 3(três) meses" (Id 0614f5d - Pág. 19). Isso sem que tenha recebido
qualquer treinamento ou equipamento de proteção, vez que informou ainda que realizava tal atividade "sem
que lhe fosse assegurada a devida preparação" (Id 0614f5d - Pág. 20).
Em sua contestação (Id 64ac902) o BANCO BRADESCO S/A assevera que a atividade exercida
pelo empregado era eminentemente de bancário, e nessa atividade jamais esteve em perigo, bem como se
limita, basicamente, a argumentar que não existem nos autos provas de que havia o transporte de valores e
que se o fez, foi de forma eventual, motivo pelo qual a circunstância de que o autor não era devidamente
treinado para exercer tal função restou incontroversa nos autos.
Ainda que essa questão específica não tivesse restado incontroversa, a existência de treinamento e de
habilitação do reclamante para o transporte de valores, bem como o fato de se encontrar este dentre as
atribuições precípuas para as quais fora contratado configura fato impeditivo do direito autoral, de modo que
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caberia ao banco réu comprová-los, a teor dos arts. 818 da CLT e 373, II, do CPC - ônus do qual não se
desincumbiu.
Não obstante a negativa de transporte de valores realizada na peça de defesa, durante a audiência de
instrução, observa-se que o preposto da reclamada não detém conhecimentos dos fatos, visto que afirma em
seu depoimento que "sua base de trabalho é em Porto Velho/RO, ativando-se invariavelmente em serviços
externos". Além disso, a testemunha da ré afirmou que "sabe informar que chegou a faltar dinheiro em caixas
eletrônicos, não sabendo informar como foi feita a reposição" (Id 17b524d - Pág. 4), o que corrobora com a
oitiva da testemunha do autor, que afirmou a ocorrência do efetivo transporte de valores pelo demandante, em
veículo próprio e a pé, para suprir extrema necessidade de reposição dos caixas, conforme segue:
[...] a reclamada tem empresa terceirizada para fazer o transporte de valores, com
utilização somente de carro-forte; quando havia extrema necessidade, ocorria
transporte de valores por funcionários da agência da reclamada, o que ocorria em
média 1 ou 2 vezes por mês; referido transporte de valor, nos casos mencionados
anteriormente era feito por si, ou pelo reclamante ou pelos dois conjuntamente; não é
possível quem mais fazia esse serviço; nesses casos, o transporte de valores
alcançavam aproximadamente R$100.000,00 a R$200.000,00; o dinheiro era
transportado em veículo particular do reclamante quando este realizava os serviços,
acomodado em uma maleta de mão; quando fazia o transporte de valor realizava o
deslocamento a pé; [...]
Desse modo, restou demonstrado o exercício de transporte de valores por trabalhador não contratado
para exercer tal função, apto a ensejar a indenização por danos morais, sendo irrelevante o valor transportado,
haja vista que a jurisprudência não condiciona a indenização ao transporte de valores de grande monta.
Por conseguinte, verificado o ato ilícito patronal, de submeter o reclamante a risco irregular e
incompatível com sua função, o nexo de causalidade e sendo presumido o dano moral, tem-se como razoável
e proporcional o "quantum" indenizatório postulado pelo autor, no importe de R$ 82.152,80 (oitenta e dois
mil e cento e cinquenta e dois reais e oitenta centavos) para reparação civil por danos morais, o que impõe a
reforma da sentença.
Isso, em vista: a) a extensão do dano sofrido pela reclamante (art. 944 do Código Civil), que
permaneceu durante cerca de 03 (três) anos exposta a riscos físicos e psicológicos com o transporte de
valores de numerários em torno de R$ 100.000,00 (cem mil) a R$ 200.000,00 (duzentos mil), realizados sem
escolta, em média, uma a duas vezes por mês, sem, no entanto, ter provado maiores consequências lesivas,
nem ter alegado a ocorrência de roubos ou ameaças a sua pessoa em função disso; b) o grau de culpa do réu,
que cometeu ato ilícito, ao exigir a realização de atividade arriscada para a qual o empregado não tinha
habilitação, nem tinha como dever contratual; c) o caráter pedagógico da indenização, a fim de se buscar
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evitar a reiteração de condutas semelhantes por parte do ofensor; e d) as condições econômicas e sociais da
vítima, trabalhadora bancária, e do ofensor, sem implicar em enriquecimento sem causa de uma parte sobre
outra, mormente por ser este último instituição que atua no ramo financeiro, de notória capacidade
econômica.
Registra-se que esse valor encontra-se em harmonia com os que vem sendo aplicados por esta E. 2ª
Turma no julgamento de demandas semelhantes em face de instituições bancárias, a exemplo das
indenizações arbitradas nos processos nº 0000019-64.2015.5.14.0131, julgado na sessão do dia 17-8-2017, e
nº 0000305-05.2015.5.14.0402, julgado na sessão do dia 13-12-2016, nos quais era réu o Banco Bradesco
S.A.
Verifica-se, de igual modo, os precedentes desta 2ª Turma de demandas em face de outras empresas
que realizam transporte de valores, dentre os quais cito os seguintes: nº 0000244-41.2013.5.14.0071, nº
0100700-18.2009.5.14.0401, nº 0000103-87.2010.5.14.0051, nº 0000193-61.2011.5.14.0051, nº
0010197-55.2014.5.14.0051, nº 0000103-58.2015.5.14.0004, com publicações no DETR de 18-12-2013,
7-10-2010, 15-10-2012 e 13-8-2012, 13-07-2015 e 07-10-2016, respectivamente.
Pelo exposto, nega-se provimento, quanto a esta matéria, ao recurso ordinário patronal e dá-se
provimento ao recurso ordinário obreiro a fim de que o valor da indenização arbitrada seja majorado de R$
12.322,92 (doze mil trezentos e vinte e dois reais e noventa e dois centavos) para R$ R$ 82.152,80 (oitenta e
dois mil e cento e cinquenta e dois reais e oitenta centavos).
Aduz que, conforme documentos referentes à comunicação de férias que juntou aos autos, restou
demonstrado que as férias sempre foram concedidas dentro do prazo legal e que o obreiro tinha a faculdade
de converter 1/3 de suas férias em abono pecuniário. Assevera, ainda, que não foi produzida no feito prova
quanto ao alegado pelo empregado.
Ao regulamentar o instituto das férias, a CLT estabelece, no caput de seu artigo 130, que, após cada
período de 12 (doze) meses de vigência do contrato de trabalho, o empregado terá direito a férias -
denominado período aquisitivo. No caput de seu artigo 134, por sua vez, determina que as férias são
concedidas por ato do empregador nos 12 (doze) meses subsequentes à data em que o empregado tiver
adquirido o direito - denominado período concessivo.
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Caso as férias sejam concedidas apenas após o decurso do período concessivo, o empregador será
obrigado a pagar em dobro a respectiva remuneração, nos termos do art. 137, da norma celetista.
No caso ora em análise, registra-se que o autor afirmou em seu depoimento que "embora recebesse
os valores de férias, gozava o referido direito invariavelmente vencido o período concessivo", o qual foi
corroborado com a oitiva da testemunha, Sr. Paulo Roberto Sanches, que confirmou que "lembra-se somente
de um período em que o reclamante gozou férias após o período concessivo, referindo-se as férias gozadas
em março/2018".
Ademais, nos presentes autos, não foram apresentadas provas documentais referentes ao efetivo
gozo de férias pelo empregado nos períodos 2012/13, 2013/14, 2014/15 e 2015/16. Verifica-se, no entanto, o
pagamento das férias desses períodos, conforme afirmado pelo próprio autor e exibidos nos recibos de
pagamentos (Id 3852bf9).
Nessa senda, tem decidido o colendo Tribunal Superior do Trabalho, conforme se observa nas
seguintes ementas:
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Com efeito, pelo princípio da aptidão da prova, cabia ao BRADESCO S.A trazer à presente
demanda a documentação comprobatória do efetivo gozo de férias pelo reclamante. Entretanto, anote-se que
nenhum documento fora anexado pela reclamada.
Em razões recursais, embora a empresa ré alegue que juntou aos autos documentos referentes à
comunicação de férias, estando todas assinadas pelo reclamante, tais documentos não se encontram neste
feito, não se desincumbindo do seu encargo.
Desta feita, considerando a ausência de demonstração pela demandada, ora recorrente, de que as
férias foram usufruídas no prazo legal, nos termos do art. 134, CLT, impõe-se a manutenção da sentença no
particular, para indeferir o pleito reformista patronal.
Nas razões recursais, o autor, gerente geral, alega que o excesso de metas foi demonstrado através
dos documentos juntados aos autos, bem como a oitiva de testemunhas. Ademais, esclarece que a agência de
Buritis/RO sempre operou com uma quantidade de empregados inferiores ao mínimo recomendável, razão
pela qual sobrecarregava os demais empregados com a mesma quantidade de metas. E que o próprio obreiro é
responsável por todas as metas da referida agência, o que era cobrada de forma abusiva.
Aduz, ainda, que as metas exigidas pela reclamada eram impossíveis e que não consideravam a
realidade da agência de Buritis/RO, vez que estipulavam que fossem cumpridas metas nas mesmas exigências
que eram impostas para as demais agências.
A única meta que o autor apresentou no processo foi do mês de janeiro/2018, referente à produção
de crédito consignado, em que se exigiu, conforme alegado no recurso, a quantidade de 16 empréstimos
consignados, motivo pelo qual o empregado considera excessiva a meta, visto que a agência só possui 21
clientes em seu cadastro. No entanto, não se demonstra a existência de cobranças constantes pela
empregadora.
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Relativamente ao assédio moral, importa registrar como a doutrina delineia seu conceito. Para a
Juíza do Trabalho Márcia Novaes Guedes:
[...] o assédio moral somente estará presente quando a conduta ofensiva estiver
revestida de continuidade e por tempo prolongado, de forma que desponte como um
verdadeiro "modus vivendi" do assediador em relação à vítima, caracterizando um
processo específico de agressões psicológicas. Deve estar caracterizada a
habitualidade da conduta ofensiva dirigida à vítima. Caso contrário, teremos meras
ofensas esparsas, mas que não possuem o potencial evidenciador do assédio moral.
(SILVA, Jorge Luiz de Oliveira da. Assédio moral no ambiente de trabalho. Rio de
Janeiro: Editora e livraria jurídica do Rio de Janeiro, 2005).
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Desses conceitos, extrai-se que o assédio moral consiste num processo reiterado e prolongado de
condutas abusivas e atentatórias à dignidade do trabalhador, de cunho psicológico, que se caracteriza por
abalar emocionalmente a vítima, expondo-a a situações vexatórias e/ou humilhantes, sendo por isso
conhecido também como terror psicológico ou violência psicológica. Pode se manifestar por meio de
políticas agressivas de gestão, capazes de gerar grave perturbação psicológica aos trabalhadores vitimados,
no chamado assédio moral vertical descendente institucional. Ademais, a sua configuração pressupõe a
habitualidade da conduta lesiva, de forma a degradar o ambiente laboral.
Analisando-se o caderno de provas constante nos autos, converge-se com o posicionamento adotado
na sentença, de que não houve concretamente a prática de assédio moral pela recorrida ou por qualquer de
seus empregados contra o recorrente. Isso porque, como bem ressaltado pelo magistrado sentenciante, não
restou comprovada a gravidade no procedimento administrativo praticado pela empresa, sequer revelou
serem práticas reiteradas que abalariam o psicológico do autor.
Nos depoimentos das testemunhas, observa-se que não há afirmações quanto a ocorrências de
constrangimentos ou condutas desabonadoras contra o reclamante, registrando apenas episódios isolados de
que viram o autor em crise de choro e tremores no local de trabalho, porém sem imputar tal fato a algum
acontecimento.
É incontroverso o fato de ser o obreiro gerente geral da respectiva agência, sendo remunerado pela
sua função, dispondo de maior responsabilidade quanto aos demais bancários. Pontua-se que as constantes
pressões para o atingimento de metas é tanto comum quanto necessária a uma instituição bancária que se
dedica à atividade comercial.
Nesse viés, tem-se que o reclamante não se desincumbiu adequadamente do seu ônus processual
(arts. 818 da CLT e 373, I, do CPC) de comprovar a ocorrência de um processo reiterado e prolongado de
condutas abusivas e atentatórias à sua dignidade, fato constitutivo do direito à indenização pleiteada.
Desta feita, inexistindo prova de que tenha havido assédio moral por parte da reclamada, causa de
pedir da reparação civil vindicada, inviável responsabilizar a empresa ré pelo estresse que vem sofrendo o
trabalhador, encontrando-se correta a decisão de origem que julgou improcedente o referido pleito, motivo
pelo qual se nega provimento, no particular, ao recurso autoral.
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Tal sistemática, contudo, foi sobremaneira alterada pela chamada reforma trabalhista (Lei nº
13.467/2017), cuja vigência se iniciou em 11 de novembro de 2017, que fez constar no art. 791-A do texto
consolidado expressa previsão de cabimento de honorários advocatícios sucumbenciais como regra também
nesta Justiça Especializada, inclusive de forma recíproca, "in verbis":
Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários
de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15%
(quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da
causa.
O referido instituto, com efeito, embora previsto no contexto de normas tipicamente processuais,
reveste-se de natureza jurídica híbrida (processual-material), consubstanciando, a um só tempo, crédito
próprio em favor do patrono da parte - refletindo, por isso, na esfera patrimonial das partes e dos advogados -
e sanção processual àquele que deu causa, indevidamente, à ação.
É o que se denomina de princípio da causalidade, sobre o qual bem leciona Nelson Nery Junior:
Nesse passo, a regra processual aplicável aos honorários advocatícios deve ser, não aquela em vigor
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ao tempo em que tal direito foi reconhecido judicialmente, mas aquela vigente à época em que o dano
processual potecialmente se efetivou, nascendo o direito material. Ou seja, quando da propositura da ação
indevidamente causada por uma das partes.
No caso em análise, a demanda foi intentada sob a égide da nova sistemática processual, em
03-08-2018. Logo, devem ser aplicadas as normas que regulam os honorários advocatícios, nos termos do art.
791-A, da CLT, no qual estabelece percentual entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15%
(quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico obtido ou,
ainda, do valor atualizado da causa.
Nesse sentido, aplica-se o dispositivo celetista a ser observado quando da fixação dos honorários,
que dispõe os seguintes parâmetros:
2.3.3.3 PREQUESTIONAMENTO
A fundamentação constante na presente decisão, por si só, atende de forma clara o instituto do
prequestionamento, porquanto todos os fundamentos fáticos e jurídicos utilizados foram claros e
coerentemente expostos, sendo despicienda uma análise pormenorizada e individualizada de todos os
dispositivos e princípios invocados pela parte, nos termos da Súmula nº 297 do TST, que dispõe o seguinte:
II. Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada no recurso
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2.4 CONCLUSÃO
Defere-se o requerimento da reclamada para que todas as intimações relativas à reclamatória sejam
feitas em nome do causídico João Paulo Pereira Silva Filho, OAB/RO6.145.
3 DECISÃO
(Assinado eletronicamente)
ILSON ALVES PEQUENO JUNIOR
DESEMBARGADOR-RELATOR
Assinado eletronicamente. A
Certificação Digital pertence
a:
[ILSON ALVES 18100310404343300000003967725
PEQUENO JUNIOR]
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