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Fichamento da obra “A razão populista “ de Enersto Laclau.

PARTE I - “A denigração das massas”

1. Populismo: ambiguidades e paradoxos

“O populismo, enquanto categoria de análise política, nos leva a confrontar


problema um tanto idiossincráticos. Constitui, por um lado,
um conceito recorrente, que não apenas é empregado em larga escala,
pois faz parte da descrição de uma ampla variedade de movimentos
políticos, mas que também tenta captar algo a respeito destes, o que
é fundamental” p.

“Um traço persistente da literatura sobre o populismo é sua relutância - ou


dificuldade- em dar ao conceito qualquer significado preciso. A clareza
conceituai, para não falar em definições, está visivelmente ausente
desse campo. Na maior parte do tempo, a compreensão intelectual
é substituída por apelos a uma intuição não verbalizada ou por enumerações
descritivas de uma variedade de "características relevantes" p.

Uma definição comumente usada, na sua forma abrangente , acerca do termo


populismo pode ser resumida nesse excerto :
“O próprio populismo tende a negar qualquer identificação ou classificação com
a dicotomia direita/ esquerda. Trata-se de um movimento multiclassista, embora
nem todo movimento multiclassista possa ser considerado populista. O
populismo provavelmente desafia qualquer definição abrangente. Deixando
momentaneamente de lado esse problema, o populismo inclui usualmente
componentes contrastantes, tais como a reivindicação da igualdade de direitos
políticos e da participação universal das pessoas comuns, mas funde-se com
algum tipo de autoritarismo, frequentemente sob uma liderança carismática” p.

“Nesse caso, a única coisa que nos resta é a impossibilidade de definir o termo.
Não se trata de urna situação muito satisfatória no que diz respeito à análise
social. Gostaria, desde o início, de adiantar a hipótese que guiará nossa
indagação teórica: o impasse que a teoria política experimenta em relação ao
populismo está longe de ser acidental, pois tem suas raízes fincadas na limitação
dos instrumentos ontológicos atualmente disponíveis para a análise política; o
populismo, enquanto locus de um empecilho teórico, reflete alguns dos limites
inerentes ao modo pelo qual a teoria política abordou a questão de como os
agentes sociais "totalizam" o conjunto de sua experiência política” p.

IMPASSES NA LITERATURA SOBRE O POPULISMO


“Dada a vagueza do conceito de populismo e a multiplicidade de fenômenos que
têm sido incluídos nesse rótulo, poderíamos pensar que uma primeira estratégia
intelectual consistiria em não tentar ir além da própria multiplicidade, isto é,
permanecer nela, analisar a gama de ocorrências empíricas que ela abrange e
tirar quaisquer conclusões possíveis de uma comparação limitada e descritiva
entre elas. É o que Canovan tenta fazer em seu livro Populism (1981)” p.

2. Le Bon: sugestão e representações distorcidas
Psicologia das multidões, 1 o famoso livro de Gustave Le Bon (1841--1931),
situa-se numa encruzilhada intelectual. Trata-se, em certo sentido, de uma
interpretação extrema de como o século XIX abordou os novos fenômenos da
psicologia das massas como algo pertencente ao domínio da patologia.

“A linha mestra de sua análise foi, o conceito de "sugestão", ao qual voltaremos


mais adiante. Nosso ponto de partida, entretanto, será a reflexão de como a
sugestão opera, de acordo com Le Bon, num domínio limitado, o das "imagens,
palavras e fórmulas"

“encontrada nas imagens que tais palavras evocam, com total independência de
seu significado. O poder das palavras está unido às imagens que elas evocam e
é totalmente independente de seu real significado. Palavras cujo sentido é.
menos definido são, algumas vezes, aquelas que possuem a maior influência.
Tomemos como exemplo os termos democracia, socialismo, igualdade,
liberdade etc., cujo sentido é tão vago que livros volumosos não bastam para
defini-los com precisão. No entanto, é certo que um poder verdadeiramente
mágico está ligado a essas curtas sílabas, como se elas contivessem a solução
de todos os problemas. Elas sintetizam as mais diversas e inconscientes
aspirações, bem como a esperança de sua realização”

“a ausência defixidez da relação entre significante e signíficado (nos termos de


Le Bon: a relação entre palavras e imagens) e o processo de sobedeterminação
por meio do qual certa palavra condensa uma pluralidade de significados”

“A razão e os argumentos são incapazes de combater certas palavras e


fórmulas. Elas são proferidas com solenidade na presença das multidões e,
assim que são pronunciadas, uma expressão de respeito é visível em todos os
semblantes e todas as cabeças se inclinam.
Elas são consideradas por muitos como forças da natureza, poderes
sobrenaturais. Evocam nas mentes dos homens imagens grandiosas e vagas,
mas essa mesma vagueza que as envolve na obscuridade aumenta seu
misterioso poder[ ... ]. Nem todas as palavras e fórmulas possuem o poder de
evocar imagens; existem algumas que tiveram outrora esse poder, mas o
perderam no decurso de seu uso, até deixarem de despertar qualquer reação na
mente. Elas se tornaram sons vazios, cuja principal utilidade é dispensar a
pessoa que as emprega da obrigação de pensar”

"Uma das funções mais essenciais de um estadista consiste em batizar com


palavras populares, ou pelo menos indiferentes, coisas que a multidão não pode
suportar sob seus velhos nomes. Tão grande é o poder das palavras que basta
escolher bem os termos para tornar aceitáveis às multidões as coisas mais
odiosas".6
“Existe para Le Bon uma nítida conexão entre a dialética palavras/ imagens e a
emergência de ilusões, as quais são o próprio terreno em que se constitui o
discurso da multidão:
Como eles ( os povos) precisam ter suas ilusões a todo custo, elas se voltam
instintivamente, assim como o inseto atraído pela luz, aos retóricos que lhes
proporcionam aquilo que elas querem. Não a verdade,mas o erro, tem sido o
principal fator na evolução dos povos,e o motivo pelo qual o socialismo é tão
poderoso hoje é o fato de ele constituir a última ilusão ainda viva[ ... ]. As
multidões jamais tiveram sede da verdade. Elas dão as costas a evidências que
não são de seu gosto e preferem deificar o erro, caso o erro as seduza.”

De acordo com Le Bon, esses recursos são três: afirmação, repetição e contágio.
''A afirmação pura e simples, mantida livre de todo raciocínio e de toda prova,
constitui um dos meios mais seguros de fazer com que uma ideia penetre na
mente das multidões. Quanto mais concisa uma afirmação, quanto mais
destituída de qualquer aparência de prova e demonstração, mais peso ela
carrega."
Quanto à repetição, "seu poder se deve ao fato de que uma afirmação repetida
se enraíza, a longo prazo, naquelas camadas profundas de nosso inconsciente,
nas quais se forjam as motivações de nossos atos. No final de um certo tempo
esquecemos quem é o autor da assertiva repetida e acabamos por acreditar
nela".
Finalmente o contágio:
As ideias, os sentimentos, as emoções e crenças possuem, nas multidões, um
poder contagioso tão intenso quanto o dos micróbios. O fenômeno é muito
natural, pois é observado até mesmo em animais quando eles se reúnem em
grande número [ ... ]. No caso dos homens reunidos em uma multidão, todas as
emoções se tomam contagiosas com rapidez, o que explica os pânicos
repentinos. Desordens cerebrais, tais corno a loucura, são contagiosas. A
frequência da loucura entre médicos especialistas em doenças mentais é
notória. De fato, recentemente têm sido citadas formas de loucura -a agorafobia,
por exemplo - que são transmissíveis dos homens para os animais.”

“A ausência de fixidez do relacionamento entre palavras e imagens é a própria


precondição de qualquer operação discursiva politicamente significativa. A partir
desse ponto de vista, as observações de Le Bon são penetrantes e
esclarecedoras”

“Para se ter uma correspondência precisa entre significante e significado, a


linguagem precisaria possuir a estrutura de uma nomenclatura, algo que iria
contra o princípio linguístico básico, formulado por Saussure, segundo o qual na
linguagem não existem termos positivos, apenas diferenças.”
“A linguagem é organizada em torno de dois polos: o paradigmático, que
Saussure denominou associativo, e o sintagmático. Isso significa que as
tendências associativas subvertem sistematicamente a própria possibilidade de
um significado puramente denotativo”

“O mais importante para nosso propósito é enfatizar o fato de que esse processo
associativo não opera unicamente em nível gramatical - o nível primariamente
estudado por Saussure – mas também em nível semântico”

Afirmação: para Le Bon, esta é uma operação ilegítima, cuja única função é
romper o liame entre aquilo que é afirmado e qualquer raciocínio que o apoie.
Para ele, afirmar algo que vá mais além da possibilidade de uma prova racional
só pode ser uma forma de mentir;

Afirmar algo que se situaria para além de qualquer prova poderia ser um primeiro
estágio da emergência de uma verdade, que somente poderia ser afirmada ao
se romper com a coerência dos discursos existentes. É claro que o exemplo a
que Le· Bon se refere - a afirmação sem prova como um modo de mentir - não
é algo impossível, mas constitui apenas uma instância numa série de outras
possibilidades que ele nem chega a considerar. Podemos dizer o mesmo sobre
a repetição. Algumas das colocações iniciais de Le Bon sobre ela podem ser
aceitas prontamente, a saber: é pela repetição que os hábitos sociais são
criados, e esses hábitos estão incrustados "naquelas profundas regiões de
nosso inconsciente, nas quais são forjadas as motivações de nossos atos".
Nesse sentido, poderíamos afirmar que a repetição exerce múltiplos papéis na
moldagem das relações sociais: através de um processo de erros e acertos,
torna possível o ajustamento de uma comunidade a seu meio.

Porém, como a racionalidade do hábito é a garantia de sua legitimidade, não nos


restam alternativas que não as categorias da "racionalidade" e "irracionalidade".
Assim, ele afirma o seguinte:
O raciocínio inferior das multidões baseia-se, tal como o raciocínio de urna ordem
mais elevada, na associação de ideias, mas entre as ideias associadas pela
multidão existem apenas aparentes cadeias de analogia ou sucessão[ ... ]. As
características do raciocínio da multidão consistem na associação de coisas
dessemelhantes, que possuem urna conexão meramente aparente entre si, além
da generalização imediata de exemplos particulares [ ... ]. Uma cadeia de
argumentação lógica é totalmente incompreensível para as multidões, e por esse
motivo é possível afirmar que elas não raciocinam, ou que raciocinam
falsamente, e que não são influenciadas pelo raciocínio

O inconexo-isto é, as conotações puramente associativas - opõe-se a um


processo de argumentação lógica. O resultado é que nada existe que possamos
conceber como uma maneira específica de raciocínio das multidões. Seu módus
operandi é tratado como mero reverso negativo da racionalidade concebida em
seu sentido estrito e acanhado. A possibilidade de que a repetição aponte para
algo comparável, presente numa pluralidade de instâncias -, por exemplo, a
noção, para uma variedade de estratos sociais, de compartilhar uma experiência
comum de exploração - não é absolutamente leva a em consideração.
Finalmente o contágio. Para Le Bon, este só pode ser uma forma de transmissão
patológica. Sua explicação deve ser encontrada no fenômeno geral da
''sugestionabilidade", que-era, naquela época, o deus ex machina onipresente
no discurso da psicologia das massas.

O que ocorreria por exemplo se o contágio não fosse uma doença, mas a
expressão de um traço comum, compartilhado por um grupo de pessoas, difícil
de se verbalizar de maneira direta, e que somente pudesse ser expresso por
alguma forma de representação simbólica?

distinção entre racionalidade e irracionalidade coincidiria amplamente com a


distinção entre o indivíduo e o grupo. Ao tornar-se parte de um grupo, o indivíduo
experimenta um processo de degradação social.
Conforme suas palavras:
Pelo simples fato de fazer parte de uma multidão organizada, um homem desce
vários degraus na escala da civilização. Isolado, ele pode ser um indivíduo culto;
na multidão, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura que age por instinto. Possui
a espontaneidade, a violência, a ferocidade e também o entusiasmo e o
heroísmo dos seres primitivos, a quem, além disso, tende a assemelhar-se
devido à facilidade mediante a qual se permite deixar-se impressionar por
palavras e imagens, as quais não exerceriam efeito algum em cada um dos
indivíduos que compõem as multidões. Será induzido a cometer atos contrários
a seus interesses mais óbvios e a seus hábitos mais conhecidos.
Descreverei, mais adiante, como mudanças na teoria psiquiátrica e uma
progressiva transferência da "racionalidade" individual ao grupo abriram caminho
para uma nova compreensão do comportamento das massas(o próprio Le Bon
já representa certo distanciamento em relação às dicotomias de Taine). O ponto
culminante dessa reversão de paradigmas encontra-se na obra de Freud, na qual
os dois pressupostos são resolutamente abandonados.

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