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HISTÓRIA I 9

Módulo 6
Brasil Colônia: economia e sociedade

Você sabia que as drogas do sertão são


consumidas até hoje pela maioria da
população brasileira?
Produtos como guaraná, anil, salsa, urucum, noz de pixurim,
pau-cravo, gergelim, baunilha, castanha-do-pará, fibras, poaia,
cravo e cacau fazem parte da alimentação e de tratamentos medi-
cinais dos brasileiros. Esses artigos foram conhecidos como drogas

©Flavio_Conceicao/iStock
do sertão e eram considerados especiarias no sertão do Brasil, no
século XVII. Por exemplo, o urucum auxilia no tratamento de
problemas estomacais, colesterol, hepatite, vermes e hemorroidas.
Essas especiarias foram extremamente cobiçadas pelos nobres Urucum.
europeus, já que não eram encontradas em seu território, e foram
extraídas durante a colonização portuguesa no Brasil. Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, trabalharemos a organização e o desenvolvi- C3 – Analisar os principais pilares da economia colonial brasileira,
assim como suas especificidades;
mento das atividades econômicas e as principais características da C6 – relacionar a economia colonial à lógica mercantilista portuguesa;
sociedade colonial brasileira. – entender a hierarquia social colonial, bem como seus membros.

1. A economia açucareira que a montagem desse complexo aparato produtivo contou com o
capital flamengo, determinante na montagem na plantation. Em
O sistema mercantilista português, baseado no conceito de troca, os flamengos transportavam, distribuíam e comercializavam
superávit econômico, foi instaurado no Brasil a partir das especifici- o açúcar no norte da Europa.
dades de cada região. Com isso, a estruturação da economia colonial foi A produção propriamente dita era feita nos engenhos.
marcada pela pluralidade e demandou tempo para ser definitivamente Compostos pela casa-grande (local de moradia do senhor), senzala
sedimentada. Nesse sentido, somente em meados do século XVII é (moradia dos escravos) e moenda (onde a cana era purgada e
possível identificar um projeto macroeconômico para o país. transformada em açúcar), eram de propriedade dos senhores
Um conjunto de fatores levou Portugal a optar pelo cultivo da de engenho, que exerciam rígido controle e dominação local
cana-de-açúcar no Brasil. A não descoberta de metais preciosos sobre a sociedade canavieira, o que conferia a essa sociedade
fez com que a Coroa lusa buscasse um produto de alta lucratividade, um caráter patriarcal. A representação legal do poder desses
e, devido à raridade nos mercados europeus, o açúcar respondia senhores era a sua participação nas Câmaras Municipais, que
a esse quesito. Somou-se a isso a experiência bem-sucedida da ficavam nas vilas circunvizinhas (e que eram dependentes do
cultura açucareira nas ilhas portuguesas do Atlântico, sobretudo engenho); eram comumente chamados de “homens-bons”.
em Madeira, Cabo Verde e São Tomé, de onde veio a expertise Havia ainda nessa sociedade alguns poucos homens livres,
para o cultivo da cana. A implementação do sistema de capitanias pobres, que trabalhavam para os engenhos em funções que
hereditárias também foi importante, já que, em cada sesmaria, os requeriam maior capacitação, como nas moendas, ou em cargos
colonos tinham a obrigação de produzir sobre a terra. de confiança dos senhores, como capitães do mato ou capatazes.
A produção canavieira no Brasil esteve ligada diretamente à lógica Em vilas próximas aos engenhos, os homens livres apareciam
mercantilista de acumulação de capitais. Por isso, foi adotado o sistema como pequenos comerciantes, alfaiates, soldados e mesmo bisca-
de plantation, em que o açúcar seria produzido em grandes proprie- teiros. A possibilidade de ascensão social era praticamente nula.
dades, em um modelo de monocultura voltado ao mercado externo A concentração de terras e, consequentemente de renda, era a marca
e que privilegiasse o trabalho escravo. Com relação a este último, maior nas localidades dominadas pelo engenho.
cabe ressaltar que o tráfico de escravos era igualmente uma atividade O plantio da cana-de-açúcar, embora ocorresse em todo o
lucrativa aos cofres portugueses. Além disso, inibia a formação de um litoral, mostrou-se mais propício na Região Nordeste, especial-
mercado consumidor interno na Colônia cujo objetivo primordial era mente em Pernambuco, pela existência do solo de massapê, que
o de complementar a economia metropolitana. aumentava a produtividade do cultivo e, consequentemente, o
O sistema de exclusivismo metropolitano – a Colônia, em lucro dos senhores. Como já foi dito, o capital necessário para a
tese, só podia manter relações econômicas com a Metrópole – implantação dos engenhos muitas vezes era procedente da região
permitiu à Coroa controlar o preço do produto, tanto da compra de Flandres, cuja burguesia manteve estreitos laços econômicos
aos senhores quanto da venda no exterior. É importante ressaltar com Portugal até a União Ibérica (1580-1640).
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Módulo 6

É importante associar a economia açucareira a outras atividades

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desenvolvidas na Colônia. Em alguns engenhos, por exemplo,
a matriz energética das moendas era animal, o que estimulou a
criação de gado, atividade esta que também fornecia o couro,
que era usado para a produção dos mais diversos itens de ofício
necessários para o dia a dia dos engenhos da fazenda. Com relação
aos cativos, vale lembrar que o desenvolvimento da cultura açuca-
reira no Brasil contribuiu para vitalizar os portos exportadores de
indivíduos escravizados na África.

canavial
roças
senzala

casa
moenda grande

Disposição física de um engenho de açúcar.


Pintura de um capitão do mato, uma emblemática figura da estrutura
social do Brasil colonial. Johann Moritz Rugendas, 1823.

Quem eram os capitães do mato


Uma das figuras mais conhecidas na repressão aos escravos 2. Tabaco
no Brasil foi a do capitão do mato. Conhecido também como Os índios produziam tabaco para consumo próprio, e quando
capitão de assalto e entrada, tinha como principal função a de os primeiros colonizadores por aqui desembarcaram, também
caçar escravos fugidos das fazendas e minas pertencentes a seus usufruíram da produção nativa para uso pessoal. Com o tempo,
senhores. Via de regra, não atuavam sozinhos, compondo em os colonos passaram a produzir seu próprio fumo. A princípio, as
sua maior parte tropas de número variável de capitães do mato, lavouras ocupavam áreas reduzidas, concentradas entre Salvador
além de atuar juntamente com as forças militares da colônia. e Recife, sobretudo nos arredores de Cachoeira, no Recôncavo
Baiano, e valiam-se de mão de obra familiar. A partir de meados
Figura temida e de pouquíssimo prestígio na sociedade
do século XVII, o tabaco passou a ser produzido em larga escala
colonial, era geralmente um escravo liberto, o que garantia
e a integrar a pauta de exportações da Colônia, sendo produzido
uma posição social superior à dos cativos e despertava o ódio
não só na Bahia – a principal região produtora –, mas também em
nestes, já que no passado estiveram em uma posição social
Sergipe, Alagoas e Rio de Janeiro.
semelhante. Havia muitas denúncias de que eles, não raro,
roubavam escravos que não haviam fugido para poder entregá- A razão do crescimento dessa atividade está diretamente rela-
-los a seus senhores e conseguir o pagamento, burlando assim cionada à crescente necessidade de mão de obra escrava africana, já
a regra de confiança entre senhores e capitães. que o fumo produzido no Brasil era utilizado como moeda de troca
por cativos na África. Os traficantes conseguiam o produto por
Ainda assim, o capitão do mato tornou-se uma figura
preços relativamente baixos com os médios proprietários brasileiros,
importante para garantir a manutenção do status escravocrata
pois, além das influências já conhecidas do monopólio comercial,
da sociedade. Isso reforça a ideia de que a violência foi uma
o fumo não possuía grande valor de mercado. E com o tabaco
das características mais marcantes da formação da sociedade
tinham acesso a uma mercadoria – o escravo – que lhes conferia
brasileira.
altos lucros. Ou seja, as lavouras de fumo cresceram para atender
às necessidades de um sistema de produção que dependia cada vez
mais do braço escravo, privilegiando os lucros da Metrópole. Mais
do que isso, observa-se como a produção de fumo também estava
interligada ao pilar central da economia colonial: o açúcar.
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3. Algodão mercado internacional, beneficiando a atividade no Brasil. Nessa


época, o estado do Maranhão foi um dos maiores produtores de
Antes da chegada dos portugueses, os nativos já conheciam algodão de todo o Brasil. Em seu período de auge, o produto chegou
a cultura algodoeira, cuja produção já existia no Maranhão e a representar 24% da riqueza produzida na Colônia, perdendo
em Pernambuco, mais precisamente em Itamaracá. A partir do apenas para o açúcar, que dominava mais de um terço da economia
século XVI, com o crescimento da manufatura têxtil na Europa colonial. No século seguinte, a produção na América portuguesa
Ocidental moderna, observou-se o desenvolvimento de mais essa enfraqueceu com a recuperação econômica dos Estados Unidos.
atividade no Nordeste brasileiro. No século XVIII, a produção Vale destacar que a estrutura produtiva da agricultura baseou-se
ganhou novo impulso em função da necessidade de matéria-prima no latifúndio e na mão de obra indígena. No Maranhão, a
para a indústria têxtil inglesa. densidade demográfica dos nativos era satisfatória, e a oferta
Na segunda metade desse mesmo século, o crescimento de africanos, insuficiente. Tal contexto revelava um modelo um
das lavouras de algodão tornou-se significativo em função das pouco diferente daquele em que predominava a utilização de
guerras de independência dos Estados Unidos. Como as colônias cativos negros. A peculiaridade tornava a região um dos palcos de
norte-americanas eram responsáveis pela maioria do algodão conflitos entre colonos dispostos a escravizar os índios e a Igreja
consumido pelos europeus, com os conflitos, a produção do – representada na figura dos jesuítas –, que condenava tal prática.
gênero foi comprometida, provocando forte elevação dos preços no

4. Drogas do sertão
Mapa do Vale Amazônico no Brasil colonial
O Va l e A m a z ô n i c o
representava uma fonte de
diferentes riquezas para a
metrópole. Os índios a serem
Forte São José de
catequizados, certos vegetais a Forte
Marabitanas
Macapá
serem extraídos e a construção carmelitas franciscan
o s
de um caminho náutico que ários
rced Belém
levasse às minas de prata do me
Peru eram alguns dos prin- Forte do São Francisco
nccis
issco
Xavier de Taba
Tabatinga
aba Fo São Joséé
Forte
cipais atrativos. Penetrar e do Rio Negr
Negro
ocupar a região era fruto do jesuíta s
esforço não só dos colonos, je s uít a s
mas também dos religiosos, forte

além das determinações que missão


vinham da Metrópole, desejosa área de extração das
de expandir seus domínios na drogas do sertão
Forte Príncipe
área amazônica. da Beira limites atuais

Dessas múltiplas demandas, é possível afirmar que as grandes


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estruturadoras da presença metropolitana na região foram as


ordens religiosas. O Estado português era por elas representado,
e a construção de missões jesuíticas, principal ordem na região,
proliferou. As missões eram caracterizadas pela busca de uma
sociedade atrelada aos valores cristãos europeus estabelecidos pelo
Concílio de Trento, sendo submetidas apenas ao Papa. Os índios,
alvos da catequese jesuítica no interior das missões, eram atraídos
para esses núcleos a partir de técnicas de contato desenvolvidas
por esses religiosos – como o aprendizado das línguas nativas – e,
com isso, eram imersos na realidade europeia. Dotadas de uma
complexa administração e com regime comunitário de funciona-
mento, as missões passaram a educar os nativos à luz dos valores
Guaraná, uma das mais valiosas drogas do sertão.
anteriormente citados.
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A escola, as oficinas, a morada fixa e as aulas de língua 5. Pecuária


portuguesa deveriam formar no índio o homem civilizado.
O catequismo e o cemitério cristão, por sua vez, deveriam conduzir Como observado, a criação de gado teve sua origem nos
os índios ao catolicismo, que estava fragilizado pela Reforma próprios canaviais, pois em muitos deles os animais serviam para
Religiosa e ávido por novos fiéis. força de tração nas moendas e nos arados. Além disso, forneciam
Nas missões, o trabalho também era muito valorizado. leite e derivados e ainda eram os responsáveis pela locomoção
A cultura católica, desde a escolástica, entendia o trabalho como de pessoas e da produção. Contudo, a partir do século XVIII, a
uma atividade que fortalecia a alma e enrijecia o espírito. Por isso, Metrópole definiu regras para a atividade criatória, proibindo-a
é possível afirmar que o indígena era levado ao extrativismo das em um raio de 80 km para o interior.
drogas do sertão também em uma perspectiva catequética. Casta- Em linhas gerais, dois fatores explicam tal intervenção da Coroa.
nhas-do-pará, castanhas-de-caju, guaraná, salsaparrilha e pimenta O primeiro foi o fato de que o gado era criado de forma livre,
eram os produtos mais lucrativos dessa atividade econômica. sem cercas, o que frequentemente causava prejuízos à plantação
Levados aos grandes centros, eram vendidos como iguarias seme- de cana. O segundo relaciona-se à crescente demanda por açúcar
lhantes às trazidas das Índias. nos mercados europeus, tornando necessário o máximo aprovei-
Se, como observado, as missões foram o cenário de mais tamento das áreas costeiras. Com isso, a pecuária interiorizou-se.
uma das atividades econômicas desenvolvidas no Brasil, também O Rio São Francisco e os pampas gaúchos foram as novas regiões
protagonizaram conflitos entre jesuítas e bandeirantes. Estes, de desenvolvimento da atividade.
desejosos de escravizar indígenas, encaravam as missões como
locais que poderiam lhes fornecer boa quantidade de escravos a
serem vendidos para as plantations litorâneas. Os jesuítas, por seu
lado, não mediam esforços para proteger os nativos do trabalho
compulsório. Os conflitos entre eles estenderam-se ao longo do
tempo e diminuíram no século XVIII, quando Marquês de Pombal
expulsou os jesuítas da Colônia e proibiu oficialmente a escravidão
indígena, em 1757. área de produção
do açúcar

área de criação
Jesuítas: os pais do teatro no Brasil de gado
Uma das formas mais
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eficientes de catequizar os
Colonização no início do século XVII.
índios nas missões do Vale
Amazônico foi a linguagem
A criação de gado também apresentava algumas peculiaridades.
teatral. Trazida pelo padre
A mão de obra nela empregada era majoritariamente mestiça e livre,
Jo s é d e A n ch i e t a , t a l
mas havia também a presença de um grande número de negros
linguagem foi amplamente
e brancos – em algumas regiões, havia mais negros que mestiços,
utilizada, pois a expressão
CALIXTO, Benedito. Evangelho nas Selvas inclusive. E essa mão de obra era remunerada – e não assalariada –
corporal facilitava muito a
(Padre Anchieta). 1893. Pinacoteca do em função do número de novilhos que vingavam sob o controle de
comunicação entre jesuítas Estado de São Paulo.
determinado vaqueiro.
e indígenas.
Cabe destacar que os pecuaristas foram diretamente responsáveis
Os espetáculos eram quase sempre litúrgicos, unindo temas
pela expansão do território português para além do Tratado de
apostolares com a fauna e a flora nativas. Além disso, os jesuítas
Tordesilhas, não só durante a União Ibérica, mas, principalmente, no
valeram-se de recursos culturais indígenas – como máscaras
decorrer do século XVIII, quando a difusão da técnica do charque e
e pinturas – para aprimorar ainda mais o teatro catequizador.
o aparecimento da sociedade mineradora estimularam a atividade.
Estima-se que em meados de 1557 a atividade teatral teve
forte impulso no Brasil. As primeiras representações eram de
peças religiosas trazidas da Europa, mas logo surgiram temas 6. O mercado interno
locais, ambos sempre impregnados de profunda religiosidade. A produção de alimentos era necessária ao crescimento e à
Os poucos registros sobre essas peças revelam uma impres- consolidação da economia agroexportadora brasileira. Portugal
sionante produção envolvendo cenários, fogos de artifício e possuía um histórico déficit agrícola e não poderia responsabilizar-se
instrumentos musicais. pela sustentação econômica de seu império ultramarino.
Assim, não eram raras as pequenas e médias propriedades voltadas
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às culturas básicas da dieta alimentar colonial, principalmente os poderosos ostentavam seu poder, principalmente na organização
mandioca, milho, feijão e arroz. Tal informação é de extrema impor- de festas, casamentos e batizados. A autoridade do senhor da casa-
tância, pois amplia as possibilidades de compreensão da economia -grande era inquestionável. Na família, era obedecido e respeitado, e
colonial. Mais do que isso, serve de contraponto à ideia de que, no as mulheres a ele eram subordinadas. Por isso, a sociedade colonial
Brasil Colônia, a agricultura era baseada apenas na plantation voltada brasileira tinha um caráter patriarcal.
ao mercado externo. A classe intermediária da sociedade era composta por uma
Mesmo assim, a produção agrícola para o mercado interno repro- pequena parcela da população de homens livres; eram plantadores
duzia a lógica mercantilista. A mão de obra era predominantemente de cana (sem recursos, não tinham as instalações necessárias para
escrava, embora com plantéis bem mais modestos. produzir o açúcar), de tabaco, criadores de gado e produtores de
Dois outros pontos merecem destaque e estão ligados a uma artigos de subsistência. A essa classe pertenciam também os artesãos
historiografia mais recente, que critica a análise engessada da livres (pedreiro, carpinteiro, ferreiro, sapateiro, alfaiate, pintor, etc.),
economia colonial, predominante desde os anos 1970. Se for admitida militares, padres, feitores e capatazes.
a existência de uma dinâmica voltada, principalmente, à produção No plano inferior da sociedade estavam os mendigos,
de alimentos, não é mais possível estudar a economia do Brasil os ladrões, as prostitutas e os escravos, que não eram conside-
Colônia apenas a partir das plantations. Mais do que isso, se o que era rados pessoas, e sim mercadorias.
produzido nas pequenas e médias propriedades era absorvido pelo
mercado interno, é possível concluir que havia a geração de um tipo
de riqueza que não era transferido para a Metrópole, mas circulava
internamente. Tal constatação fragiliza o conceito de exclusivismo
metropolitano, já que nem toda a riqueza produzida na Colônia era 01 (CEFET-CE) Comente a situação dos escravos na montagem
necessariamente transferida para a Metrópole. da empresa agrícola açucareira.
Além disso, as crises de fome existentes na Colônia não podem
02 (UNESP) As “plantations da América” correspondem a:
ser explicadas pela disputa por terras em épocas de expansão do
comércio atlântico, como se pensava. Na verdade, uma série de fatores (A) um esforço de coordenação da colonização ao redor do
levava o Brasil àquela realidade, e os principais deles eram o manejo Atlântico, com a aplicação de modelos econômicos idênticos
inadequado da terra, a eliminação da biodiversidade, a ausência ou nas colônias ibéricas da América e da costa africana.
insuficiência de práticas de recomposição do solo e a obrigatoriedade (B) uma estratégia de valorização, na colonização da América e
de abastecer as forças armadas. na África, das atividades agrícolas baseadas em mão de obra
escrava, com a consequente eliminação de toda forma de
artesanato e de comércio local.
7. Sociedade colonial (C) um modelo de organização da produção agrícola caracterizado
pelo predomínio de grandes propriedades monocultoras, que
A sociedade do açúcar utilizavam trabalho escravo e destinavam a maior parte de sua
produção ao mercado externo.
(D) uma forma de organização da produção agrícola, implantada
aristocratas
nas colônias africanas a partir do sucesso da experiência de
senhor
de engenho povoamento das colônias inglesas na América do Norte.
(E) uma política de utilização sistemática de mão de obra de origem
africana na pecuária, substituindo o trabalho dos indígenas,
homens livres
que não se adaptavam ao sedentarismo e à escravidão.
senhor de terras sem engenho,
ferreiro, carpinteiro, capataz, etc.
03 (FGV) Caracteriza a agricultura colonial no Brasil do final do
século XVIII:
escravos
“mãos e pés do senhor” (A) a importância alcançada pela produção de tabaco em São Paulo
e em Minas Gerais, que ocorreu após o Conselho Ultramarino
ter permitido esse cultivo, o que favoreceu a sua troca com
manufaturas inglesas e francesas.
(B) um novo produto, o trigo, beneficiado pela estrutura originada
A sociedade colonial brasileira era extremamente desigual e da Revolução Industrial, que aprofundou a divisão entre os
hieraquizada. No alto da pirâmide social estavam os senhores de papéis a serem exercidos pelas nações, isto é, as ricas, produtoras
engenho, proprietários de escravos, que formavam a aristocracia de industrializados, e as pobres, de matérias-primas.
rural, a qual tinha o poder econômico e político da colônia brasi- (C) o valor especial adquirido pelo extrativismo no Norte do Brasil,
leira. Como foi visto anteriormente, a casa-grande era o local onde com o guaraná, que concorreu com os produtos agrícolas tradi-
cionais, como o açúcar, permitiu um rápido desenvolvimento
dessa região e a sua articulação com o restante da Colônia.
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(D) o revigoramento da produção de açúcar e o desenvolvimento 07 (UTFPR) Se as especiarias dominaram o comércio marítimo
do cultivo do algodão decorrentes, principalmente, de alguns português durante o século XV, um século depois esse papel foi
fatos internacionais importantes, em especial, a independência ocupado, no Brasil, pela produção açucareira, que abrangia a lavoura
das Treze Colônias inglesas e a Revolução Haitiana. de cana propriamente dita e a fabricação do açúcar nos engenhos.
(E) o aparecimento do café na pauta de exportações coloniais, o Muitos historiadores denominam essa economia de plantation,
que revolucionou as relações entre o Estado português e a elite expressão emprestada dos ingleses para indicar as lavouras tropicais.
escravista, pois a sustentação econômica da metrópole exigiu
o abrandamento das restrições mercantilistas. Assinale a alternativa que apresenta os três elementos nos quais esse
tipo de produção se fundamentava:
04 (UCS) Sobre a escravidão negra no Rio Grande do Sul, é correto
apontar que: (A) Latifúndio, monocultura e mão de obra escrava.
(B) Latifúndio, policultura e mão de obra escrava.
(A) o regime compulsório de trabalho, devido à necessidade de (C) Latifúndio, monocultura e mão de obra livre.
controle sobre o escravo, não era o mais adequado a atividades (D) Minifúndio, monocultura e mão de obra escrava.
como a tropeada, a criação e a caça de gado; isso fez com que (E) Minifúndio, policultura e mão de obra livre.
não houvesse escravidão no Rio Grande do Sul.
(B) a atividade charqueadora proporcionou um acúmulo de capitais 08 (UECE) Sobre a estrutura social e econômica dos engenhos
capaz de introduzir em grande escala o trabalho escravo no Rio coloniais no Brasil, marque a opção certa:
Grande do Sul, a partir do século XVIII, em especial na região
de Pelotas. (A) A escravidão era a forma de trabalho predominante, fazendo
(C) a presença de escravos negros no Rio Grande do Sul, ainda com que não houvesse qualquer divisão técnica do trabalho.
que em pequena escala, teve um caráter diferente do restante (B) Na agromanufatura do açúcar, os escravos trabalhavam nas
das províncias brasileiras. Nas terras gaúchas, a escravidão foi plantações de cana-de-açúcar enquanto os homens livres se
mais amena, ao contrário do que ocorreu nas fazendas de café ocupavam do trabalho nos engenhos.
do Rio de Janeiro e de São Paulo. (C) os engenhos mantinham uma divisão do trabalho muito
(D) a grande presença de população de origem europeia fez com que desenvolvida, com escravos realizando tarefas simples e homens
a figura do escravo no Rio Grande do Sul passasse despercebida livres realizando atividades que exigiam maior conhecimento
e, ainda hoje, a contribuição dos africanos na cultura gaúcha é técnico.
muito pequena. (D) apesar de uma certa divisão do trabalho ser estabelecida nos
(E) o escravo negro participou ativamente das atividades ligadas à engenhos, geralmente os homens livres se ocupavam das tarefas
colonização das terras gaúchas, em especial na região nordeste menos importantes e mais simples, em que se exigia somente
do estado, em atividades ligadas à agricultura e à pecuária. a força física.

05 (FUVEST) A economia das possessões coloniais portuguesas 09 (CN) O Brasil integrou-se ao quadro econômico europeu
na América foi marcada por mercadorias que, uma vez exportadas como uma colônia de exploração. Com relação à economia colonial
para outras regiões do mundo, podiam alcançar alto valor e garantir brasileira, é incorreto afirmar que:
grandes lucros aos envolvidos em seu comércio. Além do açúcar,
explorado desde meados do século XVI, e do ouro, extraído regu- (A) durante o período pombalino, com o objetivo de fortalecer
larmente desde fins do XVII, merecem destaque, como elementos o erário régio, houve um aumento da carga tributária e a
de exportação presentes nessa economia: consolidação dos monopólios (criação das Companhias
Gerais do Comércio do estado do Grão-Pará e Maranhão e de
(A) tabaco, algodão e derivados da pecuária. Pernambuco e Paraíba).
(B) ferro, sal e tecidos. (B) a pecuária nordestina se caracterizou por ser uma atividade
(C) escravos indígenas, arroz e diamantes. econômica subsidiária à economia açucareira, voltada para
(D) animais exóticos, cacau e embarcações. o mercado interno, organizada de forma extensiva e que
(E) drogas do sertão, frutos do mar e cordoaria. comportou predominantemente a mão de obra escrava.
(C) as “drogas do sertão” se caracterizavam pela coleta de recursos
06 (FUVEST) A respeito dos espaços econômicos do açúcar e do florestais da Amazônia, como o cacau e o guaraná, organizada
ouro no Brasil colonial, é correto afirmar: pelos jesuítas, tinha como mão de obra predominante a
indígena.
(A) A pecuária no Sertão nordestino surgiu em resposta às (D) o açúcar tornou-se o carro-chefe de nossa economia colonial
demandas de transporte da economia mineradora. porque possuía alto valor no mercado externo e viabilizava a
(B) A produção açucareira estimulou a formação de uma rede ocupação territorial, além de contribuir para a estruturação da
urbana mais ampla do que a atividade aurífera. classe senhorial.
(C) O custo relativo do frete dos metais preciosos viabilizou a (E) a mineração provocou um grande aumento demográfico, o
interiorização da colonização portuguesa. aparecimento de vilas e cidades, a articulação de um mercado
(D) A mão de obra escrava indígena foi mais empregada na explo- interno e uma maior diversificação no estrato social e
ração do ouro do que na produção de açúcar. econômico.
(E) Ambas as atividades produziram efeitos similares sobre a
formação de um mercado interno colonial.
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(A) a prática do escambo com os indígenas e a instituição de


vice-reinos, comarcas, vilas e freguesias.
(B) a implementação do sistema de plantation no interior e a
01 H15 (FGV) construção, por ordem da Coroa, de extensas fortalezas e fortes.
O que queremos destacar com isso é que o tráfico atlântico (C) a imposição de um vultoso pedágio aos navios corsários de
tendia a reforçar a natureza mercantil da sociedade colonial: distintas procedências e a instalação de capitanias hereditárias.
apesar das intenções aristocráticas da nobreza da terra, as fortunas (D) a introdução da cultura da cana-de-açúcar com uso de trabalho
compulsório e a instituição de um governo geral.
senhoriais podiam ser feitas e desfeitas facilmente. Ao mesmo
(E) o comércio da produção das missões jesuíticas e a fundação da
tempo, observa-se a ascensão dos grandes negociantes coloniais, Companhia das Índias Ocidentais.
fornecedores de créditos e escravos à agricultura de exportação e
às demais atividades econômicas. Na Bahia, desde o final do século 03 H11 (ESPM)
XVII, e no Rio de Janeiro, desde pelo menos o início do século Quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas
XVIII, o tráfico atlântico de escravos passou a ser controlado pelas perpetuamente ardentes, o ruído das rodas, das cadeias, da gente
comunidades mercantis locais (...). toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo
FRAGOSO, João et al. A economia colonial brasileira (séculos XVI-XIX), 1998. tudo ao mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso;
quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e estrondoso
O texto permite inferir que: daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etnas
e Vesúvios, que é uma semelhança de inferno.
(A) o tráfico atlântico de escravos prejudicou a economia colonial
brasileira porque uma enorme quantidade de capitais, oriunda Padre Antonio Vieira. Apud: Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. In: Brasil: uma Biografia.
da produção agroindustrial, era remetida para a África e para
Portugal. A leitura do trecho deve ser relacionada com:
(B) as transações comerciais envolvendo a África e a América
portuguesa deveriam, necessariamente, passar pelas instâncias (A) o trabalho indígena na extração do pau-brasil.
governamentais da Metrópole, condição típica do sistema (B) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar.
colonial. (C) o trabalho de escravos negros africanos no engenho de cana-de-
(C) a monopolização do tráfico negreiro nas mãos de comerciantes -açúcar.
encareceu essa mão de obra e atrasou o desenvolvimento das (D) o trabalho de escravos negros africanos no garimpo, na mineração.
atividades manufatureiras nas regiões mais ricas da América (E) o trabalho de imigrantes italianos na lavoura cafeeira.
portuguesa.
(D) as rivalidades econômicas e políticas entre fidalgos e burgueses, 04 H11 (UFTM)
no espaço colonial, impediram o crescimento mais acelerado da Em 1570, a Província de Santa Cruz contava com 60 engenhos.
produção de outras mercadorias além do açúcar e do tabaco. Destes, 41 situavam-se nas capitanias de Pernambuco e da Bahia.
(E) nem todos os fluxos econômicos, durante o processo de colo-
Quinze anos depois, o número de engenhos nessas duas regiões
nização portuguesa na América, eram controlados pela Coroa
portuguesa, revelando uma certa autonomia das elites coloniais mais do que triplicou, atingindo a marca dos 131. No final do
em relação à burguesia metropolitana. século, em 1590, a colônia contava com 150 engenhos espalhados
pelas capitanias de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de
02 H11 (PUC-Camp) Janeiro e São Vicente. As duas primeiras capitanias, entretanto,
Do Brasil descoberto esperavam os portugueses a fortuna fácil continuavam a concentrar o maior número de unidades produtivas,
de uma nova Índia. Mas o pau-brasil, única riqueza brasileira de que correspondia a 80% do total (...). Em 1584, cerca de 40 navios
simples extração antes da “corrida do ouro” do início do século eram utilizados para transportar o açúcar de Recife para Lisboa. No
XVIII, nunca se pôde comparar aos preciosos produtos do Oriente. início do século XVII, em 1614, mais de 130 navios eram utilizados
(...) O Brasil dos primeiros tempos foi o objeto dessa avidez colonial. no transporte do açúcar de Pernambuco para a metrópole.
A literatura que lhe corresponde é, por isso, de natureza parcial- LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil, uma interpretação, 2008.
mente superlativa. Seu protótipo é a carta célebre de Pero Vaz de
Caminha, o primeiro a enaltecer a maravilhosa fertilidade do solo. Infere-se do texto que:
MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides. Breve história da literatura brasileira.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1977. p. 3-4. (A) a produção açucareira distribuiu-se de forma equilibrada por
toda a colônia.
A colonização portuguesa, no século XVI, se valeu de algumas (B) os lucros propiciados pelo açúcar inibiram o desenvolvimento
estratégias para usufruir dos produtos economicamente rentáveis da pecuária em larga escala.
no território brasileiro, e de medidas para viabilizar a ocupação (C) a prosperidade das regiões dependia da capacidade adminis-
e administração deste. São exemplos dessas estratégias e dessas trativa dos donatários.
medidas, respectivamente: (D) a cana forneceu a base material para o estabelecimento dos
portugueses nos trópicos.
(E) o crescimento da produção foi lento e constante ao longo dos
séculos XVI e XVII.
16 HISTÓRIA I
Módulo 6

05 H1 (PUC-PR) Observe a obra O jantar de Debret: (A) a utilização de um mesmo padrão tecnológico nas sucessivas
fases da produção de mercadorias de baixo custo.
(B) a existência de uma produção de mercadorias inteiramente
voltada para o abastecimento do mercado interno.
(C) a liberdade de decisão política do grupo dominante local
enriquecido com a exploração de riquezas naturais.
(D) a ausência de diferenças regionais econômicas e culturais
durante o período colonial e imperial.
(E) a manutenção de determinadas relações sociais num quadro
de modificações do centro dinâmico da economia.

07 H1 (UFJF) O mapa a seguir constitui-se como um documento


do século XVII e revela o Brasil conhecido e cartografado naquele
contexto. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, muitas atividades
propiciaram o aumento do espaço conhecido e habitado do terri-
tório hoje chamado Brasil.

Debret. O jantar.
Este é o Mapa de João Teixeira Albernaz II, intitulado Província
Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/14/A_Brazilian_family_in_ do Brasil, datado de 1666. Nele é possível ver o litoral do Brasil,
Rio_de_Janeiro_by_Jean-Baptiste_Debret_1839.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2017. desde a Barra do Pará, até o Rio Grande, incluindo algumas missões
jesuíticas na fronteira do Rio da Prata.
A sociedade patriarcal brasileira retratada na imagem tem como
características:

(A) a mobilidade social presente nas regiões açucareiras e mine-


radoras, por meio da qual os escravos poderiam receber ou
comprar sua liberdade e serem aceitos pelo status quo desde
que estabelecidos como proprietários de terras ou negócios.
(B) a herança cultural portuguesa e muçulmana, presenciada no
âmbito privado e não no público, em que o patriarca era o
chefe da família, visto que a Península Ibérica já havia sido de
domínio mouro.
(C) o controle dos grandes fazendeiros sobre suas terras e regiões
vizinhas, mais tarde observado também no coronelismo,
modelo político combatido após a Proclamação da República.
(D) a extensão do poder do senhor de engenho não somente sobre
sua propriedade e empregados, mas também sobre sua família
e a região ao redor de suas terras.
(E) a centralização na figura do pai, chefe não somente da família,
mas dos negócios e da política local, padrão do Nordeste
açucareiro entre os séculos XVI e XVII, e do Sudeste nos séculos
XVIII e XIX.

06 H14 (UEFS)
A igualdade de interesses agrários e escravocratas que através Cartografia Biblioteca Nacional. Disponível em: <https://goo.gl/7ifakX>.
dos séculos XVI e XVII predominou na Colônia, toda ela dedicada
com maior ou menor intensidade à cultura do açúcar, não a A respeito da expansão territorial, assinale a alternativa correta:
perturbou tão profundamente, como à primeira vista parece, a
descoberta das minas ou a introdução do cafeeiro. Se o ponto de (A) A pecuária desempenhou um importante papel para o povoa-
apoio econômico da aristocracia colonial deslocou-se da cana- mento do Sertão e com o tempo, os vaqueiros seguiram o curso
dos rios, especialmente do Rio São Francisco.
-de-açúcar para o ouro e mais tarde para o café, manteve-se o
(B) O desconhecimento em relação às bacias hidrográficas exis-
instrumento de exploração: o braço escravo. tentes fez com que a ocupação se mantivesse restrita ao litoral
Casa-Grande & Senzala, Gilberto Freyre, 1989. da Colônia.
(C) Os jesuítas instalaram suas missões na Região Nordeste, visto
O excerto descreve o complexo funcionamento do Brasil durante que a Coroa Portuguesa proibia a presença das aldeias na região
a Colônia e o Império. Uma de suas consequências para a história ao sul do Rio de Janeiro.
brasileira foi:
Brasil Colônia: economia e sociedade HISTÓRIA I 17
Módulo 6

(D) A colonização portuguesa manteve-se localizada na Região Indique dois objetivos da Coroa portuguesa com a implantação
Nordeste, permanecendo as terras abaixo do Trópico de da empresa açucareira no Brasil colonial. Em seguida, identifique
Capricórnio dominadas pela Espanha. duas características da economia colonial que comprovam o seu
(E) Não houve nenhuma ocupação da região da Amazônia, o que dinamismo interno.
fez com que esta parte do Brasil ficasse inexplorada até o final
do século XIX. 02 (UNESP) A pecuária, ao longo de praticamente todo o Período
Colonial brasileiro, foi uma atividade econômica sempre secundária,
08 H11 (ENEM) mas sempre em expansão, ao contrário do que ocorreu com a
“O açúcar e suas técnicas de produção foram levados à Europa agricultura canavieira e com a mineração aurífera. Explique, com
pelos árabes no século VIII, durante a Idade Média, mas foi relação à pecuária, o porquê dessas características.
principalmente a partir das Cruzadas (séculos XI e XIII) que a sua
03 (UECE) No Ceará, durante os séculos XVII e XVIII, formou-se
procura foi aumentando. Nessa época, passou a ser importado do o que o historiador cearense Capistrano de Abreu denominaria
Oriente Médio e produzido em pequena escala no sul da Itália, mas como “civilização do couro”. Este aspecto característico da coloni-
continuou a ser um produto de luxo, extremamente caro, chegando zação cearense está ligado:
a figurar nos dotes de princesas casadoiras”.
(A) ao fato de existir, nas terras cearenses, uma farta manada de
CAMPOS, R. Grandeza do Brasil no tempo de Antonil (1681-1716). São Paulo: Atual, 1996.
gado bufalino natural da região, o que proporcionou aos nativos
Considerando o conceito do Antigo Sistema Colonial, o açúcar locais e aos europeus colonizadores as condições ideais para
foi o produto escolhido por Portugal para dar início à colonização explorarem aquela riqueza.
brasileira, em virtude de: (B) ao desenvolvimento, após a decadência da produção algodoeira,
de uma grande atividade de pecuária de corte e leiteira que, ainda
(A) o lucro obtido com o seu comércio ser muito vantajoso. hoje, é uma das maiores do Brasil e sustenta a economia cearense.
(B) os árabes serem aliados históricos dos portugueses. (C) ao processo colonizatório cearense que ocorreu a partir da
(C) a mão de obra necessária para o cultivo ser insuficiente. ocupação pela pecuária, na capitania, por meio da frente de
(D) as feitorias africanas facilitarem a comercialização desse ocupação do sertão de fora, conduzida por pernambucanos, e
produto. da frente de ocupação do sertão de dentro, controlada princi-
(E) os nativos da América dominarem uma técnica de cultivo palmente por baianos.
semelhante. (D) ao modelo original de ocupação por meio da pecuária bovina
que, saindo do Ceará, ajudou na ocupação do interior nordes-
tino e na colonização dos Cerrados do Centro-Oeste, dos
Pampas do Sul do país e do Pantanal Mato-Grossense.

04 (UECE) Enquanto na maioria das regiões do Brasil as primeiras


01 (UERJ) vilas e cidades surgiram no litoral (Igaraçu e Olinda, em Pernam-
Pelo que, começando, digo que as riquezas do Brasil consistem buco; Vila do Pereira, Ilhéus, Santa Cruz e Porto Seguro, na Bahia,
em seis coisas, com as quais seus povoadores se fazem ricos, que e São Vicente, Cananeia e Santos, em São Paulo), no Ceará, os
povoados e as primeiras vilas surgiram tanto no litoral (Aquiraz em
são estas: a primeira, a lavoura do açúcar; a segunda, a mercancia;
1700 e Fortaleza, ocupada desde 1603 e elevada à categoria de vila
a terceira, o pau a que chamam do Brasil; a quarta, os algodões e em 1726) quanto no interior (Icó, colonizada desde 1683 e elevada
madeiras; a quinta, a lavoura de mantimentos; a sexta e última, a à categoria de vila em 1738).
criação de gados. De todas estas coisas o principal nervo e substância
da riqueza da terra é a lavoura dos açúcares. Com relação a esses fatos, é incorreto dizer que:
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes, 1618. In: PRIORE, M. del; VENÂNCIO, R. P. O livro de ouro da
história do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001 (adaptado). (A) a existência de uma atividade econômica relevante no interior
do Ceará — a pecuária bovina — contribuiu para que vilas
Considera-se hoje que o Brasil colonial teve um desenvolvimento surgissem também longe do litoral.
bastante diferente da interpretação de Caio Prado Júnior. É que mudou (B) nos primeiros momentos da colonização, a produção açuca-
reira, realizada próxima ao litoral, bem como o comércio de
a ótica de observação: os historiadores passaram a analisar o funciona-
exportação deste produto, fizeram com que a maioria das vilas
mento da Colônia. Não que a intenção da política metropolitana fosse e cidades se desenvolvessem na zona litorânea.
diferente do que propõe o autor. Mas a realidade se revelava muito mais (C) as relações entre as atividades econômicas e a urbanização da
complexa. No lugar da imagem de colonos engessados pela metrópole, colônia são determinantes para o processo de povoamento e
vem à tona um grande dinamismo do comércio colonial. interiorização da colonização brasileira.
FARIA, Sheila de Castro. Disponível em: <www.revistadehistoria.com.br> (adaptado). (D) desde o início, enquanto a colonização se interiorizava no
restante do Brasil, no Ceará ela somente ocorreu com a cultura
O texto do século XVII enumera interesses da Metrópole portuguesa do algodão no século XIX.
em relação à colonização do Brasil; já o segundo texto, uma análise
mais contemporânea, descreve uma sociedade mais complexa que
ia além dos planos dos exploradores europeus.
18 HISTÓRIA I
Módulo 6

05 (CPS) A partir do início do século XVII, padres jesuítas De acordo com as informações apresentadas no texto e no mapa,
espanhóis fundaram povoados nos quais reuniram populações é correto afirmar que:
indígenas da região da bacia do rio da Prata. Os trinta povos
das missões, como ficaram conhecidos esses aldeamentos, eram (A) os jesuítas espanhóis estabeleceram as suas missões em 1756, na
formados especialmente por índios guarani, tradicionais habitantes região que hoje corresponde a São Paulo, Paraguai e Argentina.
locais. De acordo com o Tratado de Tordesilhas, esses povoados (B) os índios guarani, obedecendo ao Tratado de Madri,
ficavam na área pertencente à Espanha. estabeleceram-se em novos povoados fundados nos arredores
Entretanto, com a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, os de Assunção, Curitiba e Florianópolis.
limites entre as terras sob controle espanhol e português na América (C) os portugueses fundaram 30 reduções jesuíticas às margens do
do Sul foram redefinidos. Conforme o novo acordo, sete povoados rio da Prata, atendendo ao que havia sido definido pelo Tratado
guarani que ficavam a leste do rio Uruguai foram incorporados de Tordesilhas no início do século XVII.
aos domínios portugueses e, por essa razão, seus habitantes foram (D) os povoados formados por jesuítas e indígenas na bacia do Prata
obrigados a se mudar para a margem oeste do rio. foram diretamente afetados pelo Tratado de Madri, acordo de
Os povos guarani guerrearam pelo direito de permanecer em limites assinado em 1750.
seus povoados e, como foram derrotados em 1756 pelas tropas (E) os espanhóis recuperaram, com o Tratado de Tordesilhas, a
ibéricas, acabaram se estabelecendo, em sua maioria, na região região de Porto Alegre, tomada pelos índios guarani que não
sob controle espanhol. aceitaram ser realocados.

Paraguai Brasil
Foz do Iguaçu Curitiba
Assunção
Trinidad
Sta. Rosa
Sta. Maria da Fé Corpus
Jesus S. Ignácio Mini
São Ignácio
Loreto
Guazú Itapéa Sta. Ana
Santiago
Martires
São Cosme
Candelária São Javier Florianópolis
São Carlos Sta. Maria
São José Concepción
Apóstoles
Argentina Santo Ângelo
São João
São Tomé
La Cruz
São Miguel
São Luís
Yapeyú Porto Alegre
São Nicolau
São Borja São Lourenço

Uruguai
N

O E

limites da região Missioneira


0 100 200 km

Disponível em: https://tinyurl.com/y82hlhrb. Acesso em: 13 nov. 2017.

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HISTÓRIA I 19
Módulo 7
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras

©Leonardo Rivello/Wikimedia
Você sabia que uma das pontes mais
importantes de Recife foi construída com a
ajuda de um “boi voador”?
O então administrador da região ocupada pela Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais no Nordeste brasileiro, Maurício
de Nassau, mandou construir uma ponte sobre o Rio Capibaribe
com seus próprios recursos. Dotado de formidável espírito empre-
endedor, Nassau teve uma inusitada ideia para reaver o dinheiro
que gastou com a construção. Preparou, então, uma grande festa
e anunciou ao povo que, no final da tarde, um boi iria voar sobre
a ponte. Seu plano incluía a cobrança de determinada quantia a Ponte Maurício de Nassau.
quem atravessasse a ponte para ver o espetáculo.
Expectativas de aprendizagem:
O boi de Nassau era, na verdade, um animal empalhado. Na – Compreender as motivações e os interesses dos estrangeiros,
hora combinada, arranjaram um boi manso – de propriedade de C2 sobretudo dos holandeses, ao invadirem o Brasil;
Melchior Álvares – e o fizeram subir ao alto da galeria, para que C3 – identificar as mudanças socioeconômicas provocadas pelos
holandeses no Nordeste brasileiro;
toda a gente que pagara o pedágio pudesse ver que realmente havia
– entender como ocorreu o processo de interiorização da Colônia.
um animal por ali. Em seguida, trocaram o boi manso por outro
boi cheio de palha que, amarrado em cordas finas, sobre roldanas,
realmente “voou”, para consternação de todos os presentes. Neste módulo, estudaremos o período de domínio holandês
Vale lembrar que a ponte não aguentou, caindo em 1815, e em e os impactos da colonização para a colônia brasileira, bem como
7 de setembro de 1917, foi reinaugurada após sua reconstrução, compreenderemos como se deu o processo de interiorização e
sendo chamada de Ponte Sete de Setembro. expansão das fronteiras do país.

1. As invasões francesas

Halley Pacheco de Oliveira/Wikimedia


Representação
idealizada do
Os franceses foram responsáveis pelas primeiras invasões desembarque de
relevantes em terras brasileiras. No Período Pré-Colonial, fazendo Estácio de Sá no
Rio de Janeiro,
uso de corsários, eles chegaram a construir uma rede de escambo de Antônio
para a obtenção do pau-brasil no Nordeste. A postura francesa, Firmino Monteiro.
no entanto, mudou a partir da segunda metade do século XVI. Na semana da
fundação, as
Motivados por sucessivas batalhas religiosas entre católicos e chuvas eram
huguenotes, uma leva de calvinistas franceses desembarcou no Rio torrenciais e não
havia edificações.
de Janeiro para fundar nessas terras uma colônia de reformistas.
Ocupando uma grande área do litoral fluminense, os franceses, Cinquenta anos depois, mais uma esquadra francesa invadiu o
liderados por Nicolas Durand de Villegagnon, associaram-se aos Brasil, dessa vez no Maranhão. Ainda interessados em ocupar uma
tamoios, grupo indígena da região, e continuaram a explorar o região na América, os franceses enviaram uma missão oficial, que
pau-brasil, porém no Sudeste. Além das questões religiosas, nota-se desembarcou na região onde hoje se encontra São Luís, fundando
que também havia motivação econômica para a invasão. um forte de mesmo nome em homenagem ao monarca francês Luís
A repressão não tardou. Uma esquadra portuguesa comandada XIII. A resistência e a repressão portuguesa vieram em seguida.
por Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, governador-geral do Os senhores de engenho locais, apoiados por tropas portuguesas,
Brasil à época, apoiada por grupos indígenas rivais aos tamoios, expulsaram os franceses que, acuados, rumaram para a Amazônia,
derrotou os franceses, expulsando-os do Rio de Janeiro. Vale fundando a Guiana Francesa.
enfatizar que Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do O fim das pretensões francesas no Brasil não seria o último
Rio de Janeiro (1565) como forma de consolidar a vitória sobre capítulo das tentativas estrangeiras de controlar parte das Américas.
os franceses. Ainda na primeira metade do século XVII, os holandeses também
desembarcaram em terras brasileiras.
20 HISTÓRIA I
Módulo 7

2. A União Ibérica (1580-1640) Foi nesse contexto que aconteceu um episódio que poste-
riormente teria reflexos no Brasil: a independência da Holanda,
Em 1578, o jovem rei português, D. Sebastião, morreu na célebre em 1581. Situada na região dos Países Baixos – dominada pelos
batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em um combate contra espanhóis –, a Holanda tinha uma forte e atuante burguesia
os árabes da região. O trono foi ocupado por seu tio-avô, o cardeal comercial, em virtude da existência de importantes feiras desde a
D. Henrique, até 1580, ano em que este também faleceu, sem deixar Idade Média, como as da região de Flandres. Com o surgimento das
herdeiros. Era o fim da dinastia de Avis e o início de uma acirrada religiões reformistas na Europa, parte significativa dos flamengos
disputa pelo trono português, que contou com inúmeros preten- converteu-se ao calvinismo, cuja doutrina não condenava o lucro
dentes, como Catarina de Médici, rainha da França; D. Catarina, comercial, sua principal fonte de receita.
sobrinha do Cardeal D. Henrique; e Filipe II, rei da Espanha, da A situação gerou uma série de conflitos religiosos, na medida
dinastia Habsburgo. Este era o monarca mais poderoso daquele em que Filipe II, católico fervoroso, passou a reprimir com vigor o
momento, visto que a Espanha obtivera grandes quantias de ouro avanço protestante em seus domínios, despertando o sentimento
e prata oriundas da América. Ademais, o Império Espanhol abran- separatista entre os holandeses. Com a independência, o monarca
geria, além da vasta região do oeste do Atlântico, o Sacro Império espanhol proibiu todas as regiões de seu vasto império de manter
Romano-Germânico do Ocidente e a região dos Países Baixos. quaisquer tipos de laços com os holandeses, o que prejudicava as
Além do poder econômico e militar e da extensão de seus relações econômicas entre o Nordeste brasileiro e a Holanda, já que,
domínios, Filipe II era descendente de D. Manuel, o Venturoso, como observado, os holandeses tinham participação no comércio
rei de Portugal na fase áurea açucareiro na Colônia portuguesa, especialmente em Pernambuco.
Domínio Público/Wikimedia

das Grandes Navegações lusas. Com o objetivo de recuperar-se dos efeitos dessa proibição, os
Como se não bastassem tais Países Baixos, associados ao capital privado da burguesia, criaram a
pré-requisitos, o monarca Companhia das Índias Orientais, em 1602. E, de fato, a Companhia
espanhol contava ainda com o conquistou vários dos territórios controlados pelos portugueses
apoio de importantes parcelas na Ásia, passando a dominar o comércio de especiarias em boa
da nobreza e da burguesia parte da Europa. Já a Companhia das Índias Ocidentais, criada em
portuguesas, interessadas em 1621, era encarregada do comércio externo flamengo no Atlântico
aumentar seu prestígio social e e, principalmente, de restaurar a ligação comercial com o Nordeste
em ter acesso a novos mercados, açucareiro a qualquer custo.
respectivamente. O resultado
dessa conjuntura foi a anexação
da Coroa portuguesa ao Império O mito do sebastianismo
Espanhol, dando início à União A morte do jovem rei

Domínio Público/Wikimedia
Ibérica (1580-1640). Com isso, D. Sebastião I em Álcacer-
os portugueses passaram a ser -Quibir estimulou o imági-
VECELLIO, Ticiano. Felipe II da Espanha, 1551.
regidos pelas normas espa- nário da sociedade portu-
nholas, como as Ordenações Filipinas, que impunham um rígido guesa. Como as notícias sobre
controle sobre os mecanismos de acumulação mercantil nas colônias e o monarca e seus soldados
tratavam de todos os assuntos referentes à política interna do Império. demoravam a chegar à popu-
Ainda assim, cabe destacar que Filipe II comprometeu-se com os lação, difundiu-se com muita
portugueses em preservar as leis, os costumes e a língua portuguesa rapidez a crença de que o rei
em Portugal e em seus domínios. ressuscitara e voltaria para
organizar o reino e livrar os Retrato do rei Dom Sebastião (óleo
Domínio Público/Wikimedia

sobre tela datável do final do século


portugueses das dificuldades XVI ou início do século XVII, patente
pelas quais atravessavam – na Câmara dos Azuis).
dentre elas, o fato de terem um rei espanhol. Surgiu, assim, o
mito do sebastianismo.
O sebastianismo deixou raízes profundas no imaginário
coletivo popular português. Mais do que isso, chegou ao Brasil
e disseminou-se entre os colonos. No século XIX – portanto,
três séculos depois da morte do rei –, a crença na volta de
D. Sebastião fazia parte dos discursos de Antônio Conselheiro
em pleno Arraial de Canudos.
Nos dias de hoje, ainda é possível ler sobre o mito, sobretudo
Brasão da União Ibérica.
na literatura de cordel, popular no Nordeste brasileiro.
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 21
Módulo 7

3. As invasões holandesas
Calabar foi mesmo traidor?
Mesmo depois da criação dessas companhias privilegiadas
de comércio, os holandeses ainda se mantiveram afastados do É comum nos livros de História a associação de Domingos
Nordeste açucareiro. Não lhes restou outra opção a não ser tomar Fernandes Calabar à figura de um traidor. Segundo a histo-
a região à força de Portugal. O projeto de invasão do Nordeste riografia tradicional, Calabar seria mulato – embora alguns
tinha como alvo incial a capitania da Bahia de Todos os Santos, afirmem que era mameluco – e se tornou senhor de engenho
à época em que os holandeses iniciavam suas incursões em
onde se encontrava a capital da colônia, Salvador. Em 1624, uma
Pernambuco. Em um primeiro momento, ajudou na resis-
esquadra holandesa chegava à região, comandada por Van Dorth,
tência dos colonos, mas, por motivos que dificilmente serão
que logo após se tornou governador da região. Entretanto, devido
elucidados, Calabar passou a colaborar com os holandeses.
à invasão ter ocorrido justamente na capital, a resistência foi
bastante eficiente e acabou vitoriosa. Profundo conhecedor da região, teria oferecido infor-
mações valiosas aos invasores e acabou sendo rotulado de
Em pouco tempo, os colonos portugueses, comandados pelo
traidor e responsável direto pela vitória dos holandeses sobre
governador da região e por seus grandes fazendeiros, expulsaram os a resistência colonial.
holandeses em 1625. Na grande batalha, a esquadra luso-espanhola
No entanto, é importante destacar que, muitas vezes,
contava com mais de 50 navios e 10 mil homens. Os holandeses reti-
a História abandona perigosamente a isenção dos fatos ao
raram-se de Salvador, mas fizeram uma nova tentativa de invasão:
julgar determinados indivíduos. Parece que Calabar foi
aproveitando-se da fraqueza defensiva dos espanhóis, pela grandeza
vítima desse problema. Ao que tudo indica, o personagem em
de seus domínios, saquearam Salvador em 1627 e capturaram um questão viveu um instigante dilema, que o dividia entre sua
grande carregamento de prata nas Antilhas, em 1628. A partir da insatisfação com a falta de reconhecimento dos líderes lusitanos
obtenção desse capital, começaram a planejar uma nova invasão do e as recompensas financeiras oferecidas pelos flamengos
Nordeste, dessa vez na área mais rica da região e menos fortificada a todo aquele que ajudasse no projeto de dominação holandês.
que Salvador: Pernambuco. Então, em 22 de abril de 1632, decidiu aliar-se ao “inimigo”.
Ao colocá-lo como traidor, a História despreza a possibili-
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dade de Calabar fazer suas próprias escolhas e lhe atribui uma


rótulo pejorativo sem que as razões de suas decisões tenham
sido plenamente esclarecidas.

Domínio Público/Wikimedia

Planta da restituição da Bahia (João Teixeira Albernaz, o Velho – 1631): em primeiro plano, a
Armada Espanhola.
Bandeira do Brasil holandês.

Em 1630, uma esquadra de 70 navios desembarcou em Recife,


depondo o governador Matias de Albuquerque. Evidentemente, 3.1 A administração de Maurício de Nassau
a presença holandesa foi combatida e a região do Arraial do Bom
O momento mais importante do domínio holandês na região
Jesus tornou-se o principal foco da resistência colonial. Ainda
ocorreu de 1637 a 1644. Nesse período, o governador local,
assim, os holandeses avançaram rumo ao interior e conquistaram
nomeado pela Companhia das Índias Ocidentais, foi o conde João
o Arraial, estabelecendo o domínio holandês no Nordeste brasi-
Maurício de Nassau-Siegen. Recém-chegado em 1637, Nassau
leiro. Cabe destacar que, nesse momento, as forças de resistência
derrotou o último foco da resistência contra os holandeses na
à presença holandesa não puderam contar com o suporte militar da
Colônia. A dominação holandesa estendeu-se do Maranhão até o
Espanha, envolvida em outros conflitos na Europa, como a Guerra
Rio São Francisco. Além disso, Nassau conquistou áreas na África
dos Trinta Anos.
pertencentes aos portugueses, como São Jorge da Mina, grande
entreposto no tráfico de escravos. O governo-geral português na
Bahia estava impotente, tamanha era a força econômica e militar
flamenga.
22 HISTÓRIA I
Módulo 7

Garantida a posse da terra, Nassau tratou de reorganizar em uma área de mais de 200 km de extensão, enfrentando diversas
a economia e a sociedade canavieira. Por meio da redução dos investidas das tropas coloniais e até de invasores holandeses.
tributos, da concessão de novos empréstimos a juros baixos e do Dotados de grande habilidade militar e de capacidade de organi-
incentivo à produção de mandioca – que, por ser base da dieta zação em sociedade, os quilombolas dos palmares resistiram por
alimentar da sociedade colonial, acabou reduzindo a mortalidade mais de cem anos sem que fossem dominados ou dissipados.
e a fome –, Nassau conseguiu abrandar o espírito beligerante dos
O Brasil Holandês
colonos portugueses e fez com que a região alcançasse níveis de
desenvolvimento econômico jamais obtidos – a agromanufatura Belém
São Luís
do açúcar chegava ao auge. Fortaleza
invasão holandesa
domínio (1630-1654)

Domínio Público/Wikimedia
holandês Natal
Paraíba
domínio domínio Olinda
espanhol português
Recife
Salvador invasão holandesa
(1624-1625)

Mapa do domínio holandês no Brasil.

Engenho de Pernambuco, Frans Post.


O governo de Nassau chegou ao fim em 1644, e basicamente dois
fatores contribuíram para isso. O primeiro deles foi a ascensão de D.
A decretação de liberdade religiosa, nos moldes do que ocorria João IV ao trono luso, o que representou o fim da União Ibérica e
nos Países Baixos, proporcionou a católicos e judeus aproxima- a restauração da Coroa portuguesa, agora sob controle da dinastia
rem-se dos flamengos, reduzindo ainda mais a rejeição perante os de Bragança. O fim do domínio espanhol sobre Portugal permitiu
invasores. Inúmeros artistas, cientistas, poetas e arquitetos foram a reorganização do Estado e deu início às negociações para inibir
trazidos da Europa para retratar e estudar a região. Por fim, Nassau os ímpetos holandeses na América e na África e à formação de uma
empreendeu um amplo e pioneiro programa de urbanização frente que visava à expulsão do invasor holandês. O segundo fator foi
da cidade de Recife, chamada à época de Cidade Maurícia. a nova estratégia adotada pela Companhia das Índias Ocidentais.
As intervenções contemplaram a construção de canais, de ruas e de Naquele momento, os holandeses demandavam uma quantidade
edifícios. Recife tornou-se uma das principais cidades do Atlântico cada vez maior de capitais, visto que estavam envolvidos em guerras
Sul, senão a mais importante, em meados do século XVII. Nassau na Europa contra os ingleses, que ameaçavam seu domínio nos
conseguiu o que fora previamente planejado pelos holandeses: mares com os Atos de Navegação. Por isso, a Companhia abriu
dominar o Nordeste açucareiro. Os domínios holandeses durante mão de sua política conciliatória e tolerante para com os colonos
o “período nassoviano” estenderam-se à Bahia, a Fernando de luso-brasileiros. Nassau foi pressionado a aumentar a arrecadação
Noronha, ao Ceará, ao Rio Grande do Norte, à Paraíba e à Ilha no Brasil, cobrando maiores juros e impostos e vendendo produtos
de Itamaracá. Vale destacar que, para garantir o pleno controle por maiores preços. A negativa de Nassau causou a sua demissão.
sobre as atividades açucareiras, os holandeses se fizeram presentes
A partir daí, verificou-se o fortalecimento da Insurreição
também na África, tomando posse de regiões estratégicas para o
Pernambucana. A revogação das medidas de Nassau levou
fornecimento de escravos, como Daomé, Angola e África do Sul.
à organização dessa insurreição, tendo à frente figuras como André
Talvez a única derrota de Nassau foi não ter conseguido Vidal de Negreiros, senhor de engenho, Felipe Camarão, o índio
desmobilizar o Quilombo dos Palmares. No início dos conflitos que poti, líder dos tupis, e Henrique Dias, líder dos negros. As tropas
resultaram na conquista de Pernambuco, a instabilidade provocada holandesas mostravam sinais de enfraquecimento, não conseguindo
pela invasão dos holandeses contribuiu para a fuga de um número derrotar os colonos e seus aliados. Com isso, o rei português D. João
significativo de escravos que “aquilombaram-se” no interior do atual IV enviou ao Brasil, em 1654, uma esquadra que agregou novamente
estado de Alagoas, na região da Serra da Barriga. O quilombo teve a região ao domínio lusitano.
seu auge no período de 1624 a 1654, quando registrou, segundo
dados históricos, aproximadamente 35 mil habitantes, espalhados
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 23
Módulo 7

Municipais, controladas pela elite local, os “homens bons”, também

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perderam poder e passaram a ser controladas por juízes de fora,
nomeados pelo Conselho. Os cargos criados ou fortalecidos eram
controlados por esse órgão, que se submetia apenas ao rei de
Portugal. A proibição do aportamento de navios estrangeiros no
Brasil (1661) e de navios brasileiros em portos estrangeiros (1684)
foram outras importantes medidas do Conselho. Ainda tendo
em vista a garantia do exclusivo metropolitano, foram criadas
companhias de comércio na Colônia.
Em 1647, foi criada a Companhia Geral de Comércio do
MEIRELES, Victor. Batalha dos Guararapes. 1879. Óleo sobre tela, 494,5 × 923 cm. Brasil, que monopolizava o comércio do Rio Grande do Norte para
Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes.
o sul; em 1682, foi criada a Companhia de Comércio do Estado
Terminado o conflito, diplomatas dos dois países assinaram um do Maranhão, que detinha o monopólio nas regiões acima do Rio
tratado de paz, chamado Tratado de Haia, em 1661, estabelecendo Grande do Norte. Tais companhias tinham tanto o monopólio sobre
o pagamento de uma indenização por parte dos portugueses aos a venda de produtos metropolitanos para essas regiões – inclusive
holandeses pela perda do Nordeste. Além disso, Angola retornava de escravos – quanto sobre a venda de produtos coloniais para a
ao domínio português, mas alguns territórios portugueses na Ásia metrópole.
foram cedidos aos flamengos, que se deslocaram para as Antilhas Nesse sentido, é possível afirmar que a criação do Conselho
para produzir açúcar, e para a América do Norte, fundando Nova Ultramarino representou um primeiro esforço mais ostensivo por
Amsterdã (atual Nova York). parte de Portugal de estabelecer maior controle administrativo e
econômico sobre as regiões coloniais, especialmente o Brasil.
Albert Eckhout/Wikimedia

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5. Bandeirantismo
A partir do século XVII, ocorreu no litoral brasileiro uma série
de expedições com destino ao interior, que tiveram diferentes moti-
vações e objetivos. Em linhas gerais, tais expedições receberam o
nome de entradas ou bandeiras. As entradas eram organizadas pela
Metrópole e tinham caráter oficial. Eram lideradas por funcionários
públicos e objetivavam ampliar a colonização e descobrir reservas
de metais preciosos. As bandeiras eram organizadas por parti-
culares em busca do “remédio para suas vidas”, como consta dos
ECKHOUT, Albert. Negra. 265 × 178 cm.
testamentos por eles deixados, ou seja, em busca de riquezas – em
ECKHOUT, Albert. Mulher Tapuia.
266 × 159 cm. Museu Nacional da Dinamarca. Museu Nacional da Dinamarca. geral o aprisionamento de índios (bandeiras de apresamento) e a
descoberta de ouro, de prata ou de pedras preciosas (bandeirismo
de prospecção).
4. O Conselho Ultramarino
As bandeiras também foram motivadas pela busca da sobrevi-
Um dos resultados imediatos do fim da União Ibérica foi vência em regiões que não apresentavam um grau razoável de desen-
o quadro de crise econômica instalado em Portugal. Durante volvimento econômico. Nesse sentido, os bandeirantes procuraram
o período sob domínio espanhol, o reino luso foi induzido a parti- no interior aquilo que as regiões litorâneas não lhes ofereciam. A
cipar de uma série de conflitos ao lado da beligerante Espanha, o que vila de São Paulo foi o grande polo irradiador do bandeirantismo
acabou por exaurir sua economia. Somou-se a isso a concorrência colonial, haja vista a fragilidade de sua agricultura e sua localização
do açúcar antilhano, produzido pelos holandeses a partir de sua geográfica favorável à conquista do Planalto Meridional, pontos
expulsão do Brasil, que era mais barato do que o produzido no fundamentais para a compreensão desse processo de interiorização.
Nordeste brasileiro. Em virtude dessa crise, a Coroa portuguesa
Vale lembrar que, além da fixação no interior, da escravização
criou vários órgãos para otimizar a administração do Império após
de indígenas e da busca pelos metais preciosos, os bandeirantes
a restauração. O mais importante deles foi o Conselho Ultramarino
eram acionados para capturar escravos negros “fujões” ou para
(1642), órgão metropolitano responsável pela centralização da
destruir comunidades quilombolas. Tal atividade ficou conhecida
administração das colônias, em especial do Brasil.
como “sertanismo de contrato” e era financiada pelas elites locais,
Com a criação desse órgão, os poderes dos donatários que pagavam uma quantia preestabelecida pelo serviço.
diminuíram sensivelmente, já que se submeteram, de fato, aos
governadores-gerais, e estes, ao Conselho. Além disso, as Câmaras
24 HISTÓRIA I
Módulo 7

O bandeirismo trouxe importantes transformações para As missões tornaram-se uns dos alvos preferidos dos paulistas,
a realidade brasileira. A primeira e mais evidente delas foi a dilatação pois reuniam grande quantidade de nativos em uma localização
das fronteiras anteriormente definidas pelo Tratado de Tordesilhas. previamente conhecida, facilitando a sua captura. Embora a
A ocupação das novas regiões tornou inevitável que as coroas Companhia de Jesus tenha reagido às investidas dos bandeirantes,
ibéricas redimensionassem suas possessões na América mediante estes frequentemente atingiam seus objetivos, colocando o trabalho
novos tratados de limites. missionário dos religiosos em xeque.
Ao longo do século XVII – período em que as expedições A partir da segunda metade do século XVII, a retomada das
ocorreram com mais frequência –, muitos foram os conflitos entre regiões africanas que estavam sob domínio dos holandeses norma-
os bandeirantes e os jesuítas. Como já observado, estes procuravam lizou o comércio de escravos africanos e diminuiu a lucratividade
proteger os nativos da escravidão para poder evangelizá-los, ao do apresamento de indígenas. Por isso, a busca por reservas de
passo que os bandeirantes viam nos índios uma fonte de recursos metais preciosos tornou-se o principal objetivo dos bandeirantes;
para sua sobrevivência. o ouro foi encontrado no final daquele século, em Minas Gerais.

E quem disse que os bandeirantes foram heróis?

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Na literatura e na pintura nacionalista do século XIX
e do início do XX, os bandeirantes foram representados como
heróis, desbravadores de uma terra hostil e gigantesca –
homens brancos de grande coragem e bravura, bem armados,
bem vestidos, calçando botas, usando chapéus e com traços
puramente europeus. Dessa forma, os artistas ajudaram a criar
um mito.
Na verdade, os bandeirantes eram mestiços e quase maltra-
pilhos. Adentravam nas florestas descalços; muitos nem sequer
falavam português e eram quase todos pobres.
A transformação do bandeirante em herói branco e
destemido é apenas um exemplo de como a história pode ser
interpretada para que se crie uma memória romântica e épica Domingos Jorge Velho, um célebre bandeirante, responsável pela
sobre determinado assunto, fenômeno ou personagem. destruição do Quilombo dos Palmares – Benedito Calixto (1903).

6. A ocupação do Sul e os Durante a União Ibérica, a convivência foi pacífica, mas, três
anos após a restauração de Portugal, os portugueses tentaram
tratados coloniais conquistar a cidade. Embora não tenham logrado êxito, a ideia
de fixar um enclave lusitano na Região Sul não foi abandonada.
A falta de condições técnicas e de conhecimentos mais detalhados
Os problemas estavam apenas começando.
sobre cartografia tornou quase impossível precisar os limites territo-
riais definidos pelo Tratado de Tordesilhas, o que elucida as dificul-
dades em determinar o território do Brasil colonial, principalmente 7. Os tratados de limites
em relação ao extremo sul, onde espanhóis e portugueses dispu-
Como visto, o sul do continente foi o “pomo da discórdia” entre
tavam a posse da Região do Prata.
portugueses e castelhanos ao longo do Período Colonial. Portugal
O contrabando, a pecuária, o comércio do couro e as reservas
havia fundado a Colônia de Sacramento, e a Espanha, para se
de metais preciosos nas regiões mineradoras da América espanhola
precaver contra a soberania de Portugal na região, fundou a cidade
transformaram a Região Platina em um centro de interesses portu-
de Montevidéu, nas proximidades de Sacramento. Isso acirrou ainda
gueses, afinal, desde o século XVI, a principal área produtora de
mais os conflitos, tornando iminente um confronto armado entre
prata do Império Espanhol era o Potosí, na atual Bolívia.
duas nações enfraquecidas militar e economicamente, perspectiva
Durante o domínio espanhol, os paulistas intensificaram que não seria boa para ambas, nem mesmo para outros países
o contrabando com os espanhóis da Bacia Platina, e muitos portu- europeus, que tinham portugueses e espanhóis como consumidores
gueses se estabeleceram na cidade espanhola de Buenos Aires, em potencial. Tal fato acabou produzindo uma série de tratados, na
principal centro urbano e capital do Vice-Reinado do Prata. tentativa de solucionar os conflitos fronteiriços na América do Sul.
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 25
Módulo 7

A Espanha revidou à presença lusa na região invadindo Sete Povos das Missões – no atual Rio Grande do Sul, mas exigiu
Sacramento. Portugal, apoiado pela Inglaterra, seu tradicional em troca a Colônia do Sacramento.
aliado, ameaçou iniciar uma guerra contra o governo espanhol Tratado dedeTordesilhas
Tratado Tordesilhas ee de
deMadrid
Madrid
caso a colônia não fosse restituída ao Império Luso. Temerosa de
um conflito com a Inglaterra, a Espanha assinou o Tratado de
Lisboa de 1681, devolvendo a Colônia de Sacramento ao controle
português, muito embora essa devolução forçada não tenha levado
ao fim dos conflitos. território
espanhol
Entre 1701 e 1714, ocorreu a Guerra da Sucessão Espanhola,
que acabou envolvendo diversas casas reais europeias.
O rei espanhol havia morrido sem deixar herdeiros diretos território
e, em seu testamento, nomeou para sucedê-lo um francês, o Duque português
d’Anjou, neto do rei francês Luís XIV.
Essa aliança franco-espanhola aumentava o poderio francês,
o que não agradava a outros países europeus, em especial à Ingla-
terra, eterna inimiga do reino francês. O reino britânico, aliado à
Holanda e ao Sacro Império Romano-Germânico (atual Alemanha),
declarou guerra aos franceses e aos espanhóis. Portugal, sempre
dependente do capital da Inglaterra, apoiou o arquiduque Carlos
de Habsburgo, pretendente ao trono espanhol com anuência dos Tratado de Tordesilhas (1494) Tratado de Madri (1750)
ingleses. As rivalidades entre portugueses e espanhóis repercutiram
na Região do Prata, e os castelhanos invadiram e ocuparam outra Os padres de Sete Povos das Missões não acataram a decisão
vez a Colônia do Sacramento. do Tratado de Madri, que cedia a região a Portugal, e transferiram
as missões para a margem esquerda do Rio Uruguai. Para eles,
A França e a Espanha foram derrotadas e obrigadas a assinar os
seria a destruição de um trabalho de defesa e proteção dos índios
Tratados de Utrecht de 1713 e de 1715, que, dentre outras cláusulas,
ali aldeados e da garantia de subsistência.
estabelecia que a Espanha seria obrigada a devolver a Colônia do
Sacramento aos portugueses, além de obrigar a França a reconhecer O primeiro-ministro português, Sebastião de Carvalho e
a soberania portuguesa sobre a Bacia Amazônica, definindo o Rio Melo, Marquês de Pombal, aproveitou-se das Guerras Guaraníticas
Oiapoque como marco divisório entre o Brasil e a Guiana Francesa. e também do envolvimento da Espanha na Guerra dos Sete Anos
para assinar o Tratado de El Pardo, em 1761, que anulava o Tratado
Apesar do acordo, portugueses e espanhóis interpretavam
de Madri. Com isso, a Colônia do Sacramento voltava para Portugal
de maneiras diferentes os Tratados de Utrecht. Os primeiros
e a região de Sete Povos era devolvida à Espanha. Mas as questões
achavam que tinham direito a toda a região próxima à Colônia
de limites não tinham ainda terminado.
do Sacramento, enquanto os espanhóis achavam que os portu-
gueses tinham direitos apenas sobre a Colônia do Sacramento. Em 1777, ano em que o Marquês de Pombal foi demitido do
A diferença de interpretação fez com que os espanhóis invadissem cargo de ministro pela nova rainha portuguesa, D. Maria I, a Louca
e ocupassem pela terceira vez a Colônia do Sacramento. Em 1737, – que desencadeou em Portugal uma política de transformações
por interferência da França, espanhóis e portugueses assinaram um muito intensas, chamada de “política da viradeira” –, foi assinado
armistício, e os portugueses mantiveram a posse da Colônia. Mas, o Tratado de Santo Ildefonso. Por esse acordo, tanto Colônia
ainda assim, a paz estava longe de ser alcançada. Saques e roubos do Sacramento como Sete Povos das Missões foram devolvidos à
eram praticados por ambos. Espanha, embora o governo espanhol tenha reconhecido outras
áreas como, de fato, portuguesas.
Ainda na primeira metade do século XVIII, o rei espanhol
aproximou-se da casa de Bragança desposando a princesa de Entretanto, a paz ainda não aconteceria naquele momento,
Portugal, o que facilitou sobremaneira as discussões de um acordo pois ocorreram novos conflitos. Os gaúchos invadiram Sete Povos
que pusesse fim à rivalidade na Região Platina. e expulsaram de lá os padres jesuítas espanhóis. Essa situação, bem
como o isolamento político da Espanha no cenário europeu – uma
O Tratado de Madri, assinado em 1750, definia a posse, de
vez que o governo castelhano havia rompido com a Inglaterra e
direito e de fato, das terras efetivamente ocupadas. O representante
apoiado a França napoleônica, sem ter, com isso, a reciprocidade
do governo português nesses acordos foi o paulista Alexandre de
do monarca francês –, levaram à assinatura do Tratado de Badajós,
Gusmão, que defendeu a tese do uti possidetis (a terra pertence
em 1801, que retomava as decisões tomadas pelo Tratado de Madri.
por direito a quem a ocupa). A Espanha se viu obrigada a aceitar
Então, pelo menos naquele momento, o Brasil assegurava suas
o princípio do uti possidetis, pressionada pela Inglaterra, e acabou
fronteiras ao sul.
cedendo a Portugal todas as terras efetivamente ocupadas – inclusive
26 HISTÓRIA I
Módulo 7

No quadro abaixo, segue um resumo dos tratados de limites:


País
Data Nome Situação externa Resolução
contratante
1681 Lisboa Espanha Aliança anglo-lusa A Espanha devolve pela primeira vez Sacramento a Portugal.
Guerra de sucessão ao Define as fronteiras entre o Brasil e a Guiana Francesa, tendo como
1713 Utrecht França
trono espanhol limite o Rio Oiapoque.
Guerra de sucessão ao
1715 Utrecht Espanha A Espanha devolve pela segunda vez Sacramento a Portugal.
trono espanhol
Definiu, aproximadamente, a atual configuração territorial do Brasil, com
Reaproximação exceção do Acre; baseou-se no princípio do uti possidetis (a terra pertence
1750 Madrid Espanha
luso-espanhola a quem a ocupa), com exceção do extremo-sul, em que Sacramento fica
para a Espanha, e Sete Povos, para Portugal.
1761 El Pardo Espanha Guerra dos Sete Anos Anulou o Tratado de Madri.
Santo Restabeleceu o Tratado de Madri, com exceção do extremo-sul, em que
1777 Espanha Guerra dos Sete Anos
Ildefonso Sacramento e Sete Povos ficaram para a Espanha.
Fixou os limites do extemo-sul, com a devolução de Sete Povos para
1801 Badajós Espanha Guerras Napoleônicas
Portugal.

01 (IFSC) Os holandeses estão entre os diversos povos que 03 (UFPR) Durante a Colônia, experimentou-se uma série de
invadiram ou tentaram invadir o território que hoje corresponde conflitos protagonizados por colonizadores e populações presentes
ao Brasil, durante o Período Colonial, no século XVII. no território. Um deles, denominado “Guerra Justa”:

Sobre a presença holandesa no Brasil, assinale a alternativa correta: (A) consistiu na invasão armada dos portugueses em territórios
indígenas, com o objetivo de capturar o maior número de pessoas,
(A) Os holandeses estabeleceram suas colônias no Sudeste brasi- incluindo mulheres e crianças, com a finalidade de escravizá-los.
leiro. (B) foi um conflito bélico protagonizado pelos holandeses após
(B) Os holandeses eram parceiros comerciais dos portugueses na a ocupação de Pernambuco por esses últimos.
atividade açucareira. (C) tratava-se de guerras por conquistas de território realizadas
(C) O principal interesse dos holandeses era a crescente economia entre os diversos grupos indígenas e nas quais os portugueses
cafeeira. participavam, apoiando um grupo ou outro, dependendo dos
(D) Os portugueses estabeleceram uma política de cordialidade seus interesses.
com os holandeses quando estes invadiram sua colônia. (D) consistiu na invasão armada dos grupos indígenas aos assen-
(E) Os holandeses saíram do Brasil por meio de um processo tamentos portugueses, com a finalidade de capturar invasores
chamado “União Ibérica”. para serem comidos ritualmente.
(E) foram guerras de retaliação que os portugueses realizaram em
02 (EsPCEx-AMAN) Em 1578, Dom Sebastião, rei de Portugal, territórios ocupados pelos holandeses após serem atacados por
morreu na batalha de Alcácer-Quibir. Sem descendentes, o trono eles.
foi entregue a seu tio, Dom Henrique, que viria a falecer dois anos
depois, sem deixar herdeiro. Depois de acirrada disputa, a Coroa 04 (ACAFE) A União Ibérica (1580-1640) caracterizou-se quando
portuguesa acabou nas mãos de Filipe II, rei espanhol, dando início Filipe II invadiu Portugal com suas tropas e assumiu a Coroa
à chamada União Ibérica. Com essa união, um tradicional inimigo portuguesa, unindo Portugal e Espanha.
da Espanha tornou-se inimigo de Portugal.
No contexto da União Ibérica, todas as alternativas estão corretas,
exceto:
Das opções abaixo, assinale aquele que se tornou inimigo de
Portugal:
(A) Em 1640 terminou o domínio espanhol, por meio do
movimento liderado pelo Duque de Bragança. O duque foi
(A) Holanda.
coroado monarca de Portugal, dando início à dinastia de
(B) Alemanha.
Bragança.
(C) Itália.
(B) Nesse período, o Tratado de Tordesilhas não teve nenhum efeito
(D) Inglaterra.
entre os limites territoriais portugueses e espanhóis na América.
(E) EUA.
Isso favoreceu o avanço português para o interior da colônia.
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 27
Módulo 7

(C) O principal motivo da União Ibérica foi a tentativa da França de em Salvador, e lá ficaram durante quase um ano. Em 1630, o ataque
anexar a Espanha ao seu território. A União do exército espanhol a Recife iniciou uma longa guerra de ocupação e reconquista, na
com o exército português conseguiu afastar essa ameaça. qual todos os recursos materiais e humanos da colônia foram
(D) Os holandeses invadiram o Nordeste nesse período e
mobilizados para expulsar os invasores.
dominaram Pernambuco, pois os espanhóis não estavam
permitindo o contato comercial dos batavos com os produtores História do Brasil. Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota.
de açúcar.
O texto deve ser relacionado com:
05 (UPF) No Período Colonial, o Brasil foi marcado por expe-
dições internas, com destaque para as bandeiras. Lideradas pelos (A) invasões francesas.
paulistas, as bandeiras percorriam os sertões, onde passavam meses, (B) ataques de corsários ingleses.
ou mesmo anos. (C) confrontos com espanhóis.
(D) invasões holandesas.
Sobre esse fenômeno histórico, considere as afirmativas: (E) ataques de corsários franceses.

I. As bandeiras organizaram a sociedade do interior a partir do 08 (EsPCEx - AMAN) O território brasileiro é, atualmente, bem
modelo norte-americano de colônias de povoamento. maior do que as terras atribuídas a Portugal pelo Tratado de Torde-
II. Os rumos das principais bandeiras foram Minas Gerais, Goiás, silhas. A expansão da colônia ocorreu graças à ação de bandeirantes,
Mato Grosso e Paraná, tendo algumas delas chegado até missionários, militares e pecuaristas que ocuparam as vastidões pouco
o Paraguai. exploradas das áreas de ambos os lados da linha de Tordesilhas.
III. Os bandeirantes ensinaram aos índios técnicas de agricultura O tratado em que a França renuncia às terras que ocupava na margem
para que desenvolvessem a Colônia economicamente. esquerda do Rio Amazonas e aceita o Rio Oiapoque como limite entre
IV. Os objetivos principais dos bandeirantes foram o apresamento de a Colônia portuguesa e a Guiana Francesa é o:
índios para serem escravizados e a busca por metais preciosos.
V. As bandeiras foram responsáveis pela expansão territorial do (A) Segundo Tratado de Utrecht.
Brasil para muito além da Linha de Tordesilhas. (B) Tratado de Santo Ildefonso.
(C) Tratado de Madri.
Está correto apenas o que se afirma em: (D) Tratado de Badajós.
(E) Primeiro Tratado de Utrecht.
(A) I, II e IV.
(B) II, IV e V. 09 (ACAFE)
(C) II, III e IV.
(D) III e V. “É verdade que antes da união das monarquias ibéricas,
(E) III, IV e V. em 1580, ao manter uma boa relação com os portugueses, os
flamengos frequentavam os portos brasileiros e a cidade de Lisboa
06 (UPE) A primeira metade do século XVII em Pernambuco foi carregando açúcar em suas urcas, levando-o a refinar em Flandres
marcada pela invasão holandesa à capitania. A presença holandesa em
e distribuindo-o por via terrestre e fluvial por toda a Europa
Pernambuco durou 24 anos, de 1630 a 1654. A invasão foi motivada
por vários fatores, dos quais podemos destacar: central. De sua embarcação tão características, ficou a lembrança
na toponímia carioca, através do morro que evoca a sua forma.”
(A) o sucesso da colonização holandesa no sul da América, espe- PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira: v. 1: colônia.
cialmente nas possessões espanholas, e a vontade da Holanda São Paulo: Editora LeYa, 2016. p. 69.
em expandir seus domínios no Novo Mundo.
(B) a necessidade do algodão, produto amplamente produzido na Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Período Colonial
capitania de Pernambuco, desde o século XVI, por parte das da história do Brasil é correto afirmar, exceto:
indústrias têxteis holandesas.
(C) o bloqueio do acesso holandês pela Coroa espanhola ao (A) Durante a União Ibérica, holandeses e espanhóis formaram
comércio do açúcar produzido em Pernambuco, durante a a Companhia das Índias Ocidentais e dividiram os lucros da
União Ibérica. comercialização do açúcar produzido no Brasil e levado para
(D) a presença maciça de tropas holandesas na Bahia, desde 1625. a Europa.
(E) os interesses dos comerciantes e dos senhores de engenho (B) Com a União Ibérica acirraram-se os conflitos entre a Espanha
locais em comercializar com os holandeses, em detrimento dos e a Holanda. Após a proibição espanhola da parceria comercial
portugueses. entre holandeses e produtores de açúcar no Brasil, os flamengos
invadiram o Nordeste.
07 (ESPM) (C) Maurício de Nassau, administrador holandês em Pernambuco,
A expansão da agroindústria açucareira atingiu proporções promoveu reformas urbanas e manteve uma boa relação com
os senhores de engenho.
assombrosas. O negócio da produção e comercialização do açúcar
(D) A revolta conhecida como Insurreição Pernambucana acabou
formava uma complexa rede de interesses que atraiu ataques
determinando a saída dos holandeses do Nordeste brasileiro e teve
estrangeiros. Em 1624 membros do exército da Companhia das como consequência uma crise na empresa açucareira brasileira.
Índias Ocidentais atacaram e ocuparam a sede do Governo-Geral
28 HISTÓRIA I
Módulo 7

10 (PUC-RS) A primeira metade do século XVII se caracterizou, 02 H15 (MACKENZIE) Com a união das Coroas de Portugal e
na história da colonização portuguesa na América, pelas invasões Espanha, ocorreu o início do período chamado de União Ibérica
holandesas no Nordeste do Brasil. Sobre esse processo, é incorreto (1580-1640). A Holanda, que enfrentou diversas lutas contra a
afirmar que: Espanha, exerceu influência direta na colônia portuguesa na
América, pois:
(A) um dos motivos dessas invasões foi a proibição, estabelecida
pela Espanha, de que a Holanda comercializasse o açúcar (A) passou a pilhar e saquear as feitorias na costa africana dominada
brasileiro na Europa, visto que, devido à União Ibérica (1580- pelos espanhóis, interessada no comércio de escravos e de
1640), Portugal estava sob o domínio da Coroa espanhola, rival marfim, invadindo, também, as cidades de Santos e Salvador,
dos holandeses. no Brasil.
(B) as invasões foram ocasionadas pelo fato de a Holanda – principal (B) o embargo espanhol representou prejuízos para os interesses
parceira comercial do açúcar brasileiro na Europa antes da holandeses no Brasil, uma vez que participavam do comércio
União Ibérica – pretender manter o fluxo desse produto, de de produtos tropicais nacionais, principalmente do pau-brasil.
cuja comercialização dependia parte de sua economia, para o (C) sofria, na época, perseguições religiosas na Europa e retaliações
mercado europeu. dos católicos residentes em seu país, por isso, seu desejo foi
(C) a Holanda, que era uma aliada da Espanha por ambas perten- montar uma colônia protestante no Brasil.
cerem ao Império da família Habsburgo, invadiu o Brasil (D) ocupou o Nordeste brasileiro para evitar a criação de bases e
como parte da luta espanhola contra Portugal pelo controle feitorias espanholas, visando quebrar o monopólio da rota da
da navegação no Oceano Atlântico, objeto de acirrada disputa prata advinda das demais colônias e também minar o prestígio
entre as duas Coroas ibéricas. internacional ibérico.
(D) o período áureo dessa ocupação foi marcado pela administração (E) apoderou-se do Nordeste brasileiro e retomou o controle da
de Nassau (1637-1644), quando os holandeses estenderam o lucrativa operação de transporte, refino e distribuição comercial
seu domínio para o norte do Brasil – atingindo a Paraíba, o do açúcar brasileiro, perdido a partir da União Ibérica.
Rio Grande do Norte e o Maranhão – e a produção de açúcar
foi reorganizada. 03 H11 (UPE-SSA 1)
(E) a administração do “Brasil Holandês” ficou a cargo de
uma empresa privada, a Companhia das Índias Ocidentais Os holandeses ocuparam, durante 24 anos, o Nordeste brasi-
(WIC); além do negócio do açúcar, essa companhia exercia leiro: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Itamaracá
o monopólio do tráfico negreiro e tinha o direto de praticar a (1630-1654). Nesse período, Pernambuco se transformou em uma
atividade de corso no Atlântico, o que lhe permitia boas fontes verdadeira metrópole, com uma vida cultural intensa, onde poetas,
de lucro. cientistas e filósofos tornaram o Brasil um centro intelectual único
na América do Sul. Nesse contexto, os judeus puderam constituir
uma comunidade com escolas, sinagogas e cemitério, dando sua
contribuição ao enriquecimento da vida cultural da região.
01 H15 (ENEM-PPL) LEVY, Daniela Tonello. Judeus e Marranos no Brasil Holandês. Pioneiros na colonização de Nova York.
Século XVII. São Paulo: USP, 2008 (adaptado).
Os holandeses desembarcaram em Pernambuco no ano de 1630,
em nome da Companhia das Índias Ocidentais (WIC), e foram aos Uma característica sociopolítica da ocupação holandesa no contexto
poucos ocupando a costa que ia da foz do Rio São Francisco ao mencionado foi:
Maranhão, no atual Nordeste brasileiro. Eles chegaram ao ponto
de destruir Olinda, antiga sede da capitania de Duarte Coelho, para (A) a retração da produção de açúcar.
erguer no Recife uma pequena Amsterdã. (B) o florescimento de um movimento antimodernizador.
(C) o estabelecimento da tolerância e da liberdade religiosa.
NASCIMENTO, R. L. X. “A toque de caixas”. Revista de História da Biblioteca Nacional, (D) a preocupação apenas em explorar comercialmente o território.
ano 6, n. 70, jul. 2011.
(E) a manutenção de boas relações comerciais com o mundo ibérico.
Do ponto de vista econômico, as razões que levaram os holandeses a
04 H11 (ESPM)
invadirem o Nordeste da Colônia decorriam do fato de que essa região:
As incursões dos bandeirantes paulistas às missões dos jesuítas
(A) era a mais importante área produtora de açúcar na América castelhanos do Guairá multiplicaram-se a partir do século XVII.
portuguesa. Paulistas e guerreiros tupiniquins enveredavam pelo Caminho do
(B) possuía as mais ricas matas de pau-brasil no litoral das Peabiru, velha trilha tupi, rumo ao Guairá, território situado entre
Américas. os rios Paranapanema, Iguaçu e Paraná. Nessa região de posse
(C) contava com o porto mais estratégico para a navegação no
duvidosa, dado que os portugueses sempre consideraram que a linha
Atlântico Sul.
(D) representava o principal entreposto de escravos africanos para de Tordesilhas passava pelo estuário do Prata, os jesuítas espanhóis
as Américas. haviam criado, entre 1622 e 1628, onze missões.
(E) constituía um reduto de ricos comerciantes de açúcar de origem História do Brasil: uma interpretação, Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota.
judaica.
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 29
Módulo 7

Quanto ao assunto tratado no texto, é correto assinalar: 07 H1 (UFRGS) Leia o enunciado abaixo:
A expansão portuguesa não pode nem deve ser vista como um
(A) As incursões dos bandeirantes às missões jesuítas visavam processo acumulativo: foi marcado por continuidades e descontinui-
apresar indígenas aldeados em grupos numerosos e habituados
dades, e por quebras e transformações nos padrões das suas atividades,
ao trabalho rural.
(B) Nessas incursões não havia nenhuma participação de indígenas do Atlântico ao Índico, da Índia ao Atlântico Sul, do Brasil à África.
entre os integrantes das bandeiras. BETHENCOURT, Francisco; CURTO, Diogo Ramada (Dir.). A expansão marítima
(C) O objetivo primordial dos bandeirantes paulistas era apresar portuguesa,1400-1800. Lisboa: Edições 70, 2010. p. 8.

“negros da terra” para a exportação dessa mão de obra para a


Europa.
(D) Os ataques dos bandeirantes paulistas aos jesuítas castelhanos A partir da leitura do enunciado, considere as seguintes afirmações:
eram uma resposta contra a postura da Espanha, que naquele I. A reduzida capacidade demográfica da Metrópole portuguesa
momento apoiava a invasão holandesa ao Brasil. não impediu a constante emigração com destino ao Brasil
(E) As incursões dos bandeirantes paulistas contra as missões principalmente.
jesuíticas de Guairá e Tapes ocorreram após o Tratado de Madri. II. O tráfico de escravos iniciado pelos portugueses não tardou
a envolver, na América, os domínios coloniais de Espanha,
05 H1 (CPS) Inglaterra, França e Holanda.
Desde o alvorecer de São Paulo, as águas amarelas e quietas do III. A América Portuguesa foi um exemplo de Colônia de povoa-
Tietê despertaram sonhos de aventura e de riqueza. mento, que serviu para o envio dos excedentes populacionais
da Metrópole.
NÓBREGA, Mello. História do Rio Tietê. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade
de São Paulo, 1981, p. 61.
Quais estão corretas?
Sobre esse rio, pode-se afirmar corretamente que: (A) Apenas I. (D) Apenas l e III.
(B) Apenas II. (E) Apenas II e III.
(A) foi utilizado pelos bandeirantes, como meio de transporte, na (C) Apenas l e ll.
procura de ouro e na captura de indígenas.
(B) possibilitou o acesso de nordestinos para São Paulo, por ser o 08 H1 (FGV) Leia o excerto de uma peça teatral, de 1973:
mais importante afluente do Rio São Francisco.
(C) se tornou poluído a partir do século XIX, em decorrência da Nassau: — Como governador-geral do Pernambuco, a minha
intensa mineração desenvolvida ao longo de seu leito. maior preocupação é fazer felizes os seus moradores. Mesmo porque
(D) facilitou a intensa urbanização da capital paulista pelo fato de eles são mais da metade da população do Brasil, e esta região, com
suas águas correrem no sentido interior-litoral e de ter sua foz a concentração dos seus quase 350 engenhos de açúcar, domina a
no litoral. produção mundial de açúcar. Além do mais, nessa disputa entre
(E) exerceu importante papel no século XVIII, uma vez que possi- a Holanda, Portugal e Espanha, quero provar que a colonização
bilitou o escoamento da produção cafeeira do oeste paulista até
holandesa é a mais benéfica. Minha intenção é fazê-los felizes…
o porto de Santos.
sejam portugueses, holandeses ou os da terra, ricos ou pobres,
06 H11 (EsPCEx-AMAN) Durante o período colonial, o Brasil protestantes ou católicos romanos e até mesmo judeus.
sofreu diversas invasões estrangeiras. Nessas invasões: Senhores, a Companhia das Índias Ocidentais, que financiou a
campanha das Américas, fecha agora o balanço dos últimos quinze
(A) a francesa, na Baía da Guanabara, resultou na criação de anos com um saldo devedor aos seus acionistas da ordem de dezoito
uma colônia, a França Antártica, formada principalmente
milhões de florins.
por católicos interessados no cultivo da cana-de-açúcar e no
trabalho de conversão dos índios.
(B) a holandesa foi motivada pelo embargo espanhol que, por Moradores: — Viva! Já ganhou! (...) Viva ele! Viva!
representar uma ameaça à sua economia, levou o país a se Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra. Calabar: o elogio da traição, 1976 (adaptado).
decidir pela invasão do Brasil, inicialmente pela região do Rio
Grande do Norte, onde encontrou forte resistência. Sobre o fato histórico ao qual a obra teatral faz referência, é correto
(C) a holandesa em Pernambuco foi favorecida pelo constante afirmar que:
reforço vindo da Holanda, pelo auxílio de cristãos-novos
residentes na região e por estarem seus soldados mais bem (A) as bases religiosas da colonização holandesa no nordeste
armados e mais experientes. brasileiro produziram uma organização administrativa que
(D) a resistência luso-brasileira à invasão pernambucana foi privilegiava a elite luso-brasileira, ao oferecer financiamento
organizada em grupos de guerrilha e contou com a liderança com juros subsidiados e parcelas importantes do poder político
de Domingos Fernandes Calabar, morto lutando contra os aos grandes proprietários católicos.
holandeses. (B) a grande distância entre as promessas de tolerância religiosa e
(E) embora a resistência luso-brasileira em Pernambuco contasse a realidade presente no cotidiano dos moradores da capitania
com a vantagem do fator surpresa e melhor conhecimento do de Pernambuco deu-se porque os dirigentes da companhia
terreno, os holandeses acabaram por conquistar o Nordeste, holandesa impuseram o calvinismo como religião oficial e
onde se estenderam desde o Maranhão até a Bahia. perseguiram as demais religiões.
30 HISTÓRIA I
Módulo 7

(C) a presença da Companhia das Índias Ocidentais no nordeste Essas duas estátuas representam bandeirantes paulistas do século
da América portuguesa trouxe benefícios aos proprietários XVII e trazem conteúdos de uma mitologia criada em torno desses
luso-brasileiros, como o financiamento da produção, mas personagens históricos.
reproduziu a lógica do colonialismo, ao concentrar a riqueza
no setor mercantil e não no produtivo. a. Caracterize a mitologia construída em torno dos bandeirantes
(D) a felicidade prometida pelos invasores holandeses não pôde ser paulistas.
efetivada em função da lógica diplomática presente na relação b. Indique dois aspectos da atuação dos bandeirantes que, em
entre Portugal e Holanda, pois se tratava de nações inimigas geral, são omitidos por essa mitologia.
desde o século XV, em virtude da disputa pelo comércio
oriental. 02 (FGV-RJ) Frans Post chegou ao Brasil em 1637 e integrou o
(E) as promessas dos invasores holandeses se confirmaram, e a grupo de artistas ligados à administração holandesa sob o comando
elite ligada à produção açucareira e ao comércio colonial foi de Maurício de Nassau. Paisagens, cenas cotidianas e personagens
amplamente beneficiada, principalmente pelo livre comércio, foram os temas principais representados por Post durante os anos
o que explica a resistência desses setores sociais ao interesse vividos no Brasil. Observe atentamente a imagem abaixo, de sua
português em retomar a região invadida pela Holanda. autoria, e depois responda às questões propostas.

09 H11 (UFRGS) Considere o enunciado abaixo e as três propostas


para completá-lo:

A união das Monarquias Ibéricas (1580-1640) foi a solução para


uma grave crise político-dinástica em Portugal diante da morte de
Dom Sebastião, que não tinha herdeiros ao trono. Durante sessenta
anos, Portugal foi governado por monarcas da Espanha.

Esse período histórico:

I. fez com que Portugal participasse de sérios conflitos, principal-


mente aqueles travados pela Espanha contra Inglaterra, França
e Holanda.
II. determinou o bloqueio econômico dos Países Baixos (Holanda),
os quais foram impedidos de comercializar seus produtos nos a. Identifique na pintura a instalação representada; a força motriz
portos ibéricos de todo o mundo. utilizada; a mão de obra predominante e o produto processado.
III. resultou na ocupação e no estabelecimento de uma colônia b. Depois de estabelecidos em Pernambuco, os holandeses conquis-
holandesa no litoral nordeste do Brasil por mais de duas taram Angola. Qual era a articulação entre essas duas regiões?
décadas.
03 (UEG)
Quais proposições estão corretas? Brigam Espanha e Holanda

(A) Apenas I. (D) Apenas II e III. Pelos direitos do mar


(B) Apenas II. (E) I, II e III. O mar é das gaivotas
(C) Apenas I e III.
Que nele sabem voar
O mar é das gaivotas
E de quem sabe navegar
Brigam Espanha e Holanda
01 (FUVEST) Observe a seguinte foto:
Pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
Porque não sabem que o mar
É de quem o sabe amar
DINIZ, Leila. Leila Diniz. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.

A final da Copa do Mundo de 2010 reproduziu de modo simbólico


Estátuas de Antônio
um conflito que tem origens históricas: a disputa entre Espanha
Raposo Tavares (esq.)
e de Fernão Dias Paes e Holanda pela hegemonia do comércio marítimo mundial no
(dir.), existentes no salão século XVII. Um evento diretamente relacionado a essa disputa
de entrada do Museu pelo domínio marítimo foi:
Paulista, São Paulo.
Brasil Colônia: invasões estrangeiras e interiorização das fronteiras HISTÓRIA I 31
Módulo 7

(A) a criação da Companhia das Índias Ocidentais, pela Holanda, 05 (PUC-Camp)


com o objetivo de explorar as colônias e possessões espanholas. Se a obra historiográfica de Sérgio Buarque de Holanda foi um
(B) a Guerra dos Trinta Anos, motivada pelos interesses ingleses e olhar para o passado brasileiro a partir da História de São Paulo (as
holandeses em estabelecer colônias no continente africano.
monções, as entradas e bandeiras, os caminhos e fronteiras) entre
(C) a tomada do Cabo da Boa Esperança em 1650 pelas tropas
portuguesas, que criaram na região a Cidade do Cabo. a generalidade do ensaio, em Raízes do Brasil, e a sistematização
(D) a Guerra dos Emboabas, motivada pelo controle do comércio acadêmica de sua produção na USP, a cidade do Rio de Janeiro
escravista nas regiões mineradoras brasileiras. funda um universo poético e um horizonte criativo inteiramente
novos em Chico Buarque, no cruzamento das atividades do “morro”
04 (UECE) A História do Brasil colonial apresenta o movimento (o samba, sobretudo) com as da “cidade” (A Bossa Nova e a vida
de entradas, bandeiras e monções como um importante fator para o intelectual do circuito Zona Sul).
processo de ocupação das áreas do interior da Colônia, uma vez que
a ocupação originada da atividade canavieira se limitava, naqueles FIGUEIREDO, Luciano (org.). História do Brasil para ocupados.
Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013, p. 451.
tempos, aos espaços próximos ao litoral.

Atente ao que se diz a seguir sobre essas expedições, e assinale com As entradas e bandeiras, durante o Período Colonial, foram
V o que for verdadeiro e com F o que for falso: expedições:

( ) Enquanto as bandeiras eram financiadas exclusivamente (A) contratadas pelos donatários das capitanias, a fim de mapear as
pela Coroa portuguesa, as entradas eram expedições fluviais populações indígenas que habitavam a região e instalar missões
privadas que usavam os rios nordestinos. e aldeias visando à sua pacificação, etapa indispensável para o
( ) Os bandeirantes foram importantes personagens na destruição sucesso do empreendimento colonial.
dos quilombos, pois uma das modalidades de bandeirantismo (B) idealizadas por autoridades coloniais e pelos primeiros
foi a do sertanismo de contrato. moradores instalados na Vila de São Paulo, com o objetivo
( ) As monções, expedições fluviais que adentravam ao interior da principal de combater os colonizadores espanhóis que vinham
Colônia, foram muito importantes na colonização dessa região, desrespeitando os limites do Tratado de Tordesilhas e tomando-
partindo do Rio Tietê que nasce em São Paulo. -lhes as minas de ouro e prata.
( ) As bandeiras, expedições oficiais de apresamento de indígenas, (C) planejadas pelos brancos colonizadores, empreendedores
não tiveram importância na prospecção de metais preciosos particulares ou encarregados da Coroa, compostas de dezenas
como o ouro, que se deu somente por meio das entradas. de índios e mestiços contratados para desbravar o Sertão e
viabilizar rotas comerciais de minérios, especiarias e gado entre
A sequência correta, de cima para baixo, é: as isoladas vilas do interior.
(D) articuladas e executadas pelos bandeirantes, a mando da Coroa,
(A) F – F – V – V. da Igreja Católica ou por iniciativa própria, a fim de assegurar
(B) F – V – V – F. o controle português das minas de ouro e o plantio em terras
(C) V – F – F – V. férteis, dizimando índios hostis e fundando vilas jesuíticas para
(D) V – V – F – F. o branqueamento da população.
(E) organizadas e financiadas, respectivamente, pela Coroa
portuguesa e por particulares, em busca de metais preciosos,
do apresamento de indígenas e da efetivação da posse das terras
por colonizadores portugueses.

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HISTÓRIA I 32
Módulo 8
Brasil Colônia: a mineração e o
Período Pombalino

Você sabe dizer qual é a origem da expressão


“santinho do pau oco”?
Trata-se de uma expressão popular proveniente de aspectos
históricos, utilizada no Brasil para designar pessoas dissimuladas.
Segundo o imaginário popular, o “santo do pau oco” era um símbolo
do contrabando do ouro em pedra ou pó, ou de diamantes nas
imagens religiosas, durante o Período Colonial. Essas imagens eram
esculpidas em madeira e ocas por dentro. Nelas, escondiam-se ouro
e pedras preciosas, para enganar a fiscalização da Coroa e fugir à
cobrança de impostos. As tentativas de sonegação de impostos
foram inúmeras durante esse período.
Neste módulo, estudaremos o desenvolvimento da atividade
mineradora no Brasil, as tentativas de controle fiscal português e suas
consequências para a economia e a sociedade colonial brasileiras.

Expectativas de aprendizagem:
©DanielAzocar/iStock

– Entender o funcionamento da sociedade mineradora a partir das


C2 demandas metropolitanas;
C6 – compreender a atuação do Marquês de Pombal no Brasil;
– identificar a raiz cultural da região das minas, atual estado de Minas
Gerais, berço do Barroco brasileiro.

1. A administração das minas momento, quando a economia metropolitana agonizava, que


chegaram a Lisboa as primeiras notícias da descoberta de reservas
Desde o início do colonialismo na América, em fins do século XV, de ouro na região de Minas Gerais.
o grande interesse europeu foram os metais preciosos. Encontrados
A corrida inicial pelo ouro levou a região a uma situação caótica.
em grande quantidade no México, no Peru e na Bolívia, sua busca
Apesar de uma legislação específica sobre extração de metais constar
resultou em fracasso para os portugueses egressos no Brasil. Durante
das atas da Coroa – os regimentos auríferos de 1603 e 1618 –, Minas
os séculos XVI e XVII, nem mesmo a ação de expedições oficiais
Gerais era o retrato da desordem. Como os enviados do poder central
– as Entradas – e dos bandeirantes paulistas no interior do Brasil
não eram suficientes para controlar a região, inúmeros e variados
resultou no sucesso de tal empreitada. Com isso, o sustentáculo da
eram os crimes praticados por toda gente. Até mesmo párocos
economia colonial até esse período foi o açúcar.
praticavam delitos, tal era a ganância dos prelados. Foram, inclusive,
os maiores incentivadores da sonegação na região.
Domínio Público/Wikimedia

Para normatizar a região e organizar a exploração dos metais


ali encontrados dentro da lógica mercantilista, a Coroa portuguesa
tomou uma série de medidas. Inicialmente, enviou às minas um
governador, ministros de Justiça e um grande contingente de
soldados. Em seguida, criou, em 1702, o Regimento dos Superinten-
dentes, Guardas-mores e Oficiais deputados para as Minas do Ouro,
cujas determinações valeram até o final da mineração.
Dentre as medidas adotadas pelo regimento, destaca-se a criação
da Intendência das Minas. Subordinada apenas ao Conselho Ultra-
A busca por metais preciosos trouxe para o Brasil muitos interessados em enriquecer. marino, a Intendência tinha por função distribuir as datas – terrenos
Entretanto, a concorrência da produção açucareira antilhana auríferos demarcados em lotes – a partir do critério de sorteio.
causou enormes prejuízos a Portugal. Isso estimulou a Coroa a A distribuição ocorria da seguinte forma: a primeira data era entregue
incentivar novamente a descoberta de metais no Brasil. E foi nesse ao descobridor – em geral, um paulista –, que também escolhia o local
Brasil Colônia: a mineração e o Período Pombalino HISTÓRIA I 33
Módulo 8

que melhor lhe conviesse; a segunda data era de propriedade do rei, visava garantir que a maior parte da mão de obra disponível
que, por intermédio de seus representantes na Colônia, a escolhia estivesse concentrada nas zonas auríferas. Também foi criada, em
e, em seguida, a leiloava; as demais eram sorteadas, obedecendo ao 1750, a derrama, que consistia em cobrar dos habitantes das minas
critério de posse de escravos. Quanto maior o número de escravos, 100 arrobas (1 arroba = 15 kg) anuais de ouro que, se não fossem
maior a chance de o minerador ser sorteado e de poder escolher a pagas em tempo hábil, seriam cobradas à força, de forma indiscri-
posição do lote. A essas datas concorriam todos, mesmo o descobridor minada. Essa medida mostrou-se infrutífera e fomentou o germe
das minas da região, que poderia ser dono de várias datas. de um dos principais movimentos de contestação da dominação
As datas eram classificadas, ainda, pela possibilidade que portuguesa na América, a Inconfidência Mineira.
ofereciam a seus exploradores de encontrar ouro. As maiores e de
maior qualidade eram chamadas de lavras, caracterizando-se pela 1.1 O Distrito Diamantino
presença de grandes empresas mineradoras, com excessiva quan- Se, em regiões mineradoras como Vila Rica – atual Ouro Preto –,
tidade de escravos, enquanto as menores e quase esgotadas eram os mecanismos de fiscalização metropolitanos foram intensos,
chamadas de faiscações, sendo exploradas por pequenos mineradores a exploração de diamantes é que estabeleceu a forma mais radical
com número reduzido de escravos. de opressão.
Outra atribuição da Intendência das Minas era a cobrança dos No início – pelo menos até 1740 –, também incidia o quinto
diversos tributos criados para a região. Dentre eles, destaca-se a sobre a extração de pedras preciosas. Mas da década de 1740 em
capitação, imposto a ser pago em gramas de ouro pelo número de diante, prevaleceu o sistema de concessão e contrato. Por meio
escravos que a pessoa possuísse. Esse imposto logo foi abolido, pois dele, o direito de exploração era concedido pela metrópole a
sobretaxava o grande minerador e reduzia a possibilidade de lucros uma única pessoa – conhecida como contratador –, que tinha
da metrópole. Outro tributo criado e logo abolido foi a finta, que por obrigação cuidar da extração das pedras preciosas, enviá-las à
consistia em um imposto de 30 arrobas anuais de ouro de toda a Coroa, retendo para si uma parte da riqueza. O primeiro contratador
população. Finalmente, foi estipulado o quinto, que consistia na foi João Fernandes de Oliveira, que se casou com Chica da Silva.
cobrança de 1/5 de todo ouro extraído pelos mineradores na região O contratador tinha plenos poderes sobre o Distrito Diamantino,
aurífera. inclusive o de decretar a morte de alguém por contrabando.
Apesar de tais medidas, o contrabando de mercadorias e a Saliente-se que tal sistema durou até 1771, quando Portugal,
sonegação fiscal eram inevitáveis na região, haja vista a vastidão do por intermédio do Marquês de Pombal, decretou o monopólio real
interior e o grande número de caminhos que levavam às minas. Foi sobre a exploração, por meio da Real Extração.
construído o “Caminho Novo”, que ligava Minas ao Rio de Janeiro,
principal porto de escoamento dos metais. A partir da ascensão
do Marquês de Pombal, outras medidas foram adotadas, visando Quem foi Chica da Silva?
ampliar o controle da Metrópole sobre a atividade mineradora e, Filha de mãe negra e

Warleycajazeiro/Wikimedia
consequentemente, inibir a sonegação e o contrabando. Destaque-se pai branco, a escrava Chica
que todos os esforços da Coroa reduziram os desvios, contudo, não da Silva pertencia a Manoel
foi possível extingui-los por completo. Pires Sardinha, antes de ser
Com o tempo, a exploração de ouro entrou em natural processo comprada e alforriada pelo
de decadência. A extração desse metal começou a dar sinais de contratador João Fernandes
esgotamento a partir de meados do século XVIII. Uma quantidade de Oliveira, com o qual teve Casa de Chica da Silva.
cada vez menor de minas era descoberta e a utilização de técnicas 13 filhos registrados, fato
rudimentares de exploração levava a uma brusca queda na arreca- pouco comum para a época.
dação metropolitana. Sua relação com o homem mais poderoso do Arraial do
Tijuco lhe conferiu prestígio na sociedade local. Chica usufruiu
Domínio Público/Wikimedia

bem as regalias, antes exclusivas das senhoras brancas. Prova


disso foi que, depois de liberta por seu amante, tornou-se dona
Considerada a de escravos.
primeira casa Como não conhecia o mar, João Fernandes mandou
de fundição da
construir em sua chácara um navio com capacidade para 10
mineração, esse
prédio é, hoje, o pessoas, que “navegava” no lago da residência, na qual Chica
Museu Municipal oferecia à sociedade local grandes festas. Orquestra particular
de Iguape, em
São Paulo.
e um “teatrinho de bolso” eram outros luxos que embalavam
as recepções.
Para contornar tal problema, a Coroa aumentou a repressão
fiscal. A rainha D. Maria I, por meio do Alvará de 1785, proibiu Morreu em 1796 e foi enterrada na igreja de São Francisco
a manufatura na região. Além de aumentar a opressão, a medida de Assis, privilégio reservado apenas aos brancos ricos.
34 HISTÓRIA I
Módulo 8

2. A sociedade mineradora de alguns senhores ao de seus escravos, nas catas do ouro. Ainda
assim, observa-se que os lucros oriundos da exploração do metal
A descoberta de ouro em Minas atraiu pessoas dos mais eram usufruídos apenas por uma minoria. A riqueza da região
variados grupos sociais e étnicos. Os que se dirigiam aos locais resumia-se, na verdade, a um grupo restrito.
mineradores não vinham apenas de São Paulo, mas também de Ainda sobre os grupos étnicos, observava-se uma associação
outras partes da Colônia e da Metrópole, e até mesmo de outros dos mestiços às classes média e pobre. Sua ascensão à classe mais
países, apesar das restrições que se faziam à entrada de estran- alta era dificultada (nunca impossível, em se tratando de sociedade
geiros nas minas. Homens e mulheres das mais variadas idades, mineradora) pelo fato de cargos públicos não poderem ser ocupados
condições econômicas e origens tornaram a sociedade mineradora por homens de “sangue negro ou manchado”. Logo, pode-se dizer
um mosaico étnico-social de indivíduos, todos com o intuito de que eram, de certa forma, indesejáveis.
enriquecer pelo ouro, direta ou indiretamente. Esse enorme fluxo
É importante destacar que, nos primeiros momentos de
populacional torna impossível precisar quantos indivíduos se
ocupação, Minas Gerais sofreu uma grave crise de abastecimento,
deslocaram para a região, embora estime-se que o número varie
caracterizada pela falta de gêneros primários em quantidade
em, aproximadamente, 30 mil habitantes.
suficiente para suprir a região. Como as principais atividades
Quanto às classes sociais que compunham a região, identifi- econômicas do Brasil até então eram fundamentalmente litorâneas,
cam-se: faltava uma infraestrutura sólida capaz de abastecer a região.
Com o tempo, as regiões próximas ao centro minerador foram
• Elite: formada por grandes mineradores, grandes comerciantes
sendo ocupadas por aqueles que foram afastados da busca pelos
e altos funcionários públicos e eclesiásticos. Era de maioria
metais, já que, como observado, a exploração do ouro era feita por
branca, sendo ainda frequente a presença de mestiços e até de
uma elite abastada. Nessas regiões periféricas, formaram-se vilas
alguns negros, ligados ao tráfico de escravos africanos. Dentro
que desenvolveram uma série de atividades complementares à
desse grupo, os comerciantes – e não os mineradores – eram
mineração – agricultura de subsistência é o maior exemplo –,
os mais ricos, já que se aproveitavam dos altíssimos preços dos
garantindo não só o abastecimento da região, como permitindo a
produtos na região pela carência da produção de gêneros de
dinamização econômica interna e a sobrevivência de Minas Gerais
subsistência e manufaturados na localidade – voltada apenas
após o esgotamento das reservas de metais.
para a extração, segundo determinação da Coroa.
• Classe média: é nela que se observa a maior heterogeneidade
Sociedade mineradora
social de todo o Período Colonial – formada por profissionais
liberais, pequenos mineradores e comerciantes. Aqui, destaca-­se ricos mineradores
um setor da economia que muito se desenvolveu na região – o autoridades da Coroa portuguesa
pequenos mineradores
de serviços, sobretudo na área de hospedagem. Para dar conta
comerciantes
da quantidade de aventureiros na região, surgiram várias tropeiros
estalagens para abrigar aqueles que tentavam a sorte em Minas soldados
profissionais liberais
Gerais.
padres
• “Desclassificados do ouro”: os pobres e negros podem ser
escravos
inseridos em uma classificação bastante similar, um ligeira-
mente acima do outro. Isso porque aos primeiros era difícil
(não impossível) a ascensão a outros degraus, encarregando-se
de trabalhos pouco técnicos ou da faiscação de minas aban-
donadas, trabalhos semelhantes aos destinados aos escravos. 3. A cultura em Minas Gerais
Os negros, por sua vez, apesar da possibilidade da compra Até mesmo no campo das artes, pode-se dizer que a extração
da liberdade, viviam em condições de saúde mais precárias aurífera foi influente. É possível estabelecer um paralelo entre a
que as da região açucareira. As exceções eram os “escravos quantidade de ouro produzido nas minas e seu desenvolvimento
de ganho”, de funções específicas e que, por isso, gozavam de artístico e intelectual. Observando a arrecadação do quinto, nota-se
maior consideração dos patrões, tendo seu preço superior aos que “os anos de ouro” da mineração estão diretamente ligados ao
“convencionais”. Manifestações contrárias à escravidão eram período mais promissor da produção cultural na região.
comuns na região das minas.
Dois importantes movimentos culturais no Brasil ocorrem à
A sociedade mineradora não era tão rígida quanto a canavieira, época: o Barroco, que teve como ícones o Padre Antonio Vieira,
quando são associadas as formas de trabalho aos grupos étnicos. Gregório de Matos (literatura) e Antônio Francisco Lisboa, o
Isso pode ser observado a partir da possibilidade de ascensão Aleijadinho (escultura); e o Arcadismo, de Tomás Antonio
social de índios e negros escravos, além da associação do trabalho Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa (dois dos inconfidentes de
1789), entre outros.
Brasil Colônia: a mineração e o Período Pombalino HISTÓRIA I 35
Módulo 8

O Barroco foi uma das formas de expressão artística mais Decorando o interior das igrejas mineiras, simultaneamente
visíveis entre o século XVII e a primeira metade do século XVIII, desenvolveu-se uma escola de pintura que, assimilando elementos
no Brasil. O enriquecimento provocado pela mineração e a forte estrangeiros, traduziu-os e adaptou-os às características regionais.
religiosidade dos povos das minas favoreceram o desenvolvimento Um dos seus representantes mais importantes foi Manuel da Costa
das artes em Minas Gerais. O Barroco desenvolveu-se nas proximi- Ataíde. Retratou, no teto da Igreja de São Francisco, em Ouro Preto,
dades dos primeiros núcleos urbanos. As principais manifestações a Virgem Maria como uma mulher morena que, cercada de anjos
dessa arte foram as construções religiosas levantadas em Salvador mulatos, acolhia piedosamente os fiéis em sua glória, fugindo aos
e Recife, mas seu auge manifestou-se nas cidades mineiras do ciclo padrões da pintura europeia.
do ouro, como Ouro Preto e Mariana.

Domínio Público/Wikimedia
Apesar da influência inicial do Barroco europeu, a arte barroca
no Brasil assumiu características próprias. Ela evoca a religião
em cada detalhe. Altares, geralmente em madeira, expõem ricos
ornamentos espirais ou florais e são todos entalhados com figuras
de anjos e imagens revestidas de uma fina película de ouro. Santos
em relevo se espalham pelas capelas da nave central, e o teto, repre-
sentando geralmente um céu em perspectiva, aumenta a sensação
de profundidade no ambiente.
O mais famoso expoente do Barroco no Brasil foi Antônio
Francisco Lisboa (1730-1814), responsável por uma vasta obra na
arquitetura e na escultura, destacando-se com projetos nas igrejas e
nos centros urbanos. Filho ilegítimo do português Manuel Francisco
Lisboa (autor da planta da Igreja do Carmo da Vila Rica) com uma
escrava negra, seus trabalhos revelavam o extraordinário desenvolvi-
mento do Barroco mineiro. Considerado gênio por muitos, sofria de
uma doença que o deformava – origem do apelido “Aleijadinho” – e,
por isso, trabalhava com o martelo e o cinzel amarrados nos braços.
Considerava-se um “escultor ornamental”, que utilizava, no exercício
de sua arte, o padrão decorativo do entalhe (madeira esculpida).
Ricardo André Frantz - Tetraktys/Wikimedia

Assunção da Virgem, Manuel da Costa Ataíde (1801-1812).

4. O Período Pombalino (1750-1777)


Primeiro-ministro português, Pombal foi um déspota esclare-
cido, influenciado pelos ideais iluministas. Durante praticamente
Jesus escarnecido pelos soldados romanos.
Obra de Antônio Francisco Lisboa três décadas, esteve à frente dos negócios da Coroa portuguesa,
que, nesse período, começou a passar por dificuldades financeiras
Domínio Público/Wikimedia

Domínio Público/Wikimedia

em decorrência da decadência da atividade mineradora. Além


disso, a expansão dos ideais iluministas na Europa ameaçava os
regimes absolutistas, entre eles o português, que tinha como rei
D. José I. Pombal concentrou seus esforços para modernizar
Portugal, fortalecendo o Estado e aumentando a rigidez na fiscali-
zação das colônias, para delas extrair o máximo de riquezas.

Cristo no Horto Cristo carregando


das Oliveiras. a cruz.
36 HISTÓRIA I
Módulo 8

Suas principais medidas foram:

• Expulsão dos jesuítas do Império Português (1759), confis-


01 (PUC-RS) As invasões holandesas no Brasil, no século XVII,
cando suas propriedades, instaurando o ensino laico e estatal estavam relacionadas à necessidade de os Países Baixos manterem
(influência iluminista) e reduzindo a influência da Igreja e ampliarem sua hegemonia no comércio do açúcar na Europa, que
Católica na política portuguesa. havia sido interrompido:
• Criação de companhias privilegiadas de comércio, como a
(A) pela política de monopólio comercial da Coroa portuguesa,
do Grão-Pará e Maranhão (1755) e a de Pernambuco e Paraíba
reafirmada em represália à mobilização anticolonial dos grandes
(1759), reduzindo o contrabando nessas regiões. proprietários de terra.
• Criação da derrama (1762). (B) pelos interesses ingleses que dominavam o comércio entre Brasil
• Transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763). e Portugal.
• Instituição do monopólio real no Distrito Diamantino (1771). (C) pela política pombalina, que objetivava desenvolver o benefi-
• Incentivo à interiorização do território, para defesa das fron- ciamento do açúcar na própria colônia, com apoio dos ingleses.
teiras e expansão econômica, por meio da imigração para áreas (D) pelos interesses comerciais dos franceses, que estavam presentes
no Maranhão, em relação ao açúcar.
pouco ocupadas (Sul) e da construção de fortes na Amazônia.
(E) pela Guerra de Independência dos Países Baixos contra a
• Alvará de permissão industrial na região das minas, para Espanha, e seus consequentes reflexos na colônia portuguesa,
abastecer a escravaria. devido à União Ibérica.

02 (IFCE) Com a notícia da descoberta de minas de metais preciosos


Pombal foi filho do terremoto no Brasil colonial, ocorreu uma verdadeira corrida pelo ouro.
A população na região aumentou gerando toda uma dinâmica perti-
Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Marquês de nente à atividade de exploração aurífera. Essa exploração gerou relações
Pombal, ainda era secretário de Estado quando encarou seu sociais de produção, por conseguinte, definindo uma estrutura social.
primeiro grande desafio, que foi a reconstrução de Lisboa, A sociedade da mineração pode ser caracterizada como:
destruída por um terremoto em 1755.
(A) abolicionista, utilizando mão de obra livre.
João Glama Ströberle/Wikimedia

(B) matriarcal e equitativa.


(C) escravista e aristocrática.
(D) aristocrática, utilizando mão de obra assalariada vinda
de Portugal.
(E) industrial e democrática.

03 (CPS) O escultor Antonio Francisco Lisboa (c. 1730-1814),


mais conhecido como Aleijadinho, é o autor das doze esculturas
dos profetas bíblicos na cidade mineira de Congonhas do Campo.

Disponível em: <www.tinyurl.com>.


Alegoria ao Terremoto de 1755.

Além de planejar a reorganização da cidade, Pombal


enfrentou uma sociedade profundamente católica mergulhada
nas incertezas espirituais que a devastação – encarada como a ira
divina sobre os homens – provocara no imaginário das pessoas.
Seguindo um modelo iluminista – e, portanto, racional –,
Pombal apresentou uma das mais audaciosas propostas
urbanísticas da Europa da época. Nela, foi imposto um traçado
geométrico ortogonal, com hierarquização de vias, definidas
em função das duas praças mais emblemáticas da cidade, o
Rossio, centro comunitário, e a Praça do Comércio (antigo
Terreiro do Paço), centro político e econômico.
Sobre o contexto histórico em que viveu Aleijadinho, é correto
O sucesso da urbanização da parte baixa da cidade fez com afirmar que foi o período:
que Carvalho e Melo obtivesse o cargo de primeiro-ministro no
mesmo ano. Seu empenho na reconstrução da cidade tornou-o (A) da colonização e do ciclo do ouro.
(B) da colonização e do ciclo do pau-brasil.
um dos homens mais poderosos de Portugal na segunda metade
(C) do Primeiro Reinado e do ciclo do açúcar.
do século XVIII.
(D) do Segundo Reinado e do ciclo do café.
(E) da Regência Una e do ciclo da borracha.
Brasil Colônia: a mineração e o Período Pombalino HISTÓRIA I 37
Módulo 8

04 (IFSC) Alguns autores denominam o século XVIII de 08 (UFG) O Barroco foi um estilo artístico predominante na
“O século do ouro” em função da importância da atividade na Europa entre os séculos XVII e XVIII, alcançando a América
América portuguesa. Sobre a atividade econômica do ouro no portuguesa. Esse estilo é representativo do trânsito cultural entre
Brasil, assinale a alternativa correta: os continentes, pois:

(A) O excesso de protestos e conflitos fez com que a Coroa portu- (A) incorporou à arquitetura religiosa os vitrais góticos, auxiliando
guesa diminuísse os impostos sobre a atividade de extração do a Igreja reformista na conversão das populações nativas ao
ouro na Colônia. protestantismo.
(B) A “Revolução Federalista” tinha por objetivo nacionalizar a (B) implicou em uma adaptação das técnicas às condições da
extração do ouro. Colônia, utilizando como material a pedra-sabão em lugar do
(C) Na extração do ouro, participavam apenas homens livres. mármore.
(D) O ouro proporcionou sobretudo a urbanização da região (C) consolidou a pintura como modalidade artística na Colônia,
das minas. disseminando escolas para o ensino dessa técnica nas cidades.
(E) O ouro foi encontrado no Brasil logo no início da colonização (D) privilegiou a proporcionalidade, a racionalidade e o equilíbrio,
no século XVI, o que pode ser comprovado pela carta de Pero associando-se às características da empresa colonial.
Vaz de Caminha. (E) ampliou o horizonte temático dos artistas coloniais, enfati-
zando cenas do cotidiano que substituíram as cenas bíblicas
05 (CEFET-SC) Sobre a economia do Brasil colonial, assinale a renascentistas.
alternativa correta:
09 (CEFET-RJ)
(A) Com a descoberta do ouro, foi introduzida a mão de obra
Em 1750, D. José I sucede seu pai, D. João V, no trono de
escrava negra.
(B) O ciclo do açúcar foi irrelevante e pouco rentável. Portugal. (...) Com a mudança do monarca entra em cena Sebastião
(C) A colônia podia desenvolver-se livremente sem nenhuma José de Carvalho e Melo (1699-1782), que recebe o título de Conde
interferência da metrópole. de Oeiras em 1759 e, dez anos mais tarde, o de Marquês de Pombal.
(D) A economia da colônia foi controlada e limitada pelas práticas (...) O futuro Marquês de Pombal fez-se embaixador em Londres
mercantilistas. e depois em Viena...”.
(E) Predominou a policultura de exportação.
ENDERS, Armelle, História do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Gryphus, 2002. p. 69.

06 (UFC) Em 1750, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês


de Pombal, tornou-se primeiro-ministro português e procurou Estão entre as reformas promovidas pelo Marquês de Pombal,
dinamizar a administração colonial. Dentre as medidas por ele exceto:
adotadas, destaca(m)-se:
(A) Fomento das capitanias do Grão-Pará e do Maranhão por meio
(A) o controle do ensino e da política de aldeamento entregue às da introdução de escravos e exploração das chamadas “drogas
ordens religiosas. do sertão”.
(B) a extinção do Estado do Grão-Pará e Maranhão, por ser o (B) Apoio às atividades dos jesuítas no interior da colônia por meio
centralismo a tônica de sua administração. do pacto régio que previa o pagamento de impostos sobre os
(C) a reforma e a ampliação da justiça, possibilitando, assim, o lucros obtidos pela ordem religiosa.
acesso da elite colonial aos cargos administrativos e fiscais. (C) Transferência da capital da Colônia portuguesa na América,
(D) a expulsão dos jesuítas da Colônia, favorecendo os povos indígenas, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, como forma de
que passaram a ter maior autonomia sobre os aldeamentos. fortalecer militarmente o centro da Colônia, por sua posição
(E) a retomada do controle dos mecanismos comerciais e fiscais estratégica de ligação do sul com o norte da Colônia.
do mundo colonial por parte da Metrópole, o que resultou em (D) Retomada do controle dos mecanismos comerciais e fiscais
autonomia para as companhias de comércio. do mundo colonial com o fim das capitanias hereditárias e
reformas nas cobranças de impostos.
07 (UECE) Dentre as principais medidas tomadas pelo Marquês
de Pombal com relação à colonização do Brasil, pode-se assinalar 10 (UNESP)
corretamente: Em 1500 fazia oito anos que havia presença europeia no Caribe:
(A) Permissão para a criação de manufaturas e indústrias no Brasil, uma primeira tentativa de colonização que ninguém na época podia
liberalização dos impostos alfandegários sobre os produtos imaginar que seria o prelúdio da conquista e da ocidentalização de
brasileiros e maior controle sobre as atividades religiosas. todo um continente e até, na realidade, uma das primeiras etapas
(B) Criação de Companhias de Comércio, expulsão dos jesuítas e da globalização.
maior pressão fiscal sobre as áreas produtoras de ouro.
(C) Transferência da capital da Colônia do Rio de Janeiro para A aventura das ilhas foi exemplar para toda a América,
Salvador, expulsão da Companhia de Jesus dos territórios espanhola, inglesa ou portuguesa, pois ali se desenvolveu um
portugueses e criação de mesas de negociação de impostos com roteiro que se reproduziu em várias outras regiões do continente
os produtores de ouro. americano: caos e esbanjamento, incompetência e desperdício, indi-
(D) Extinção dos monopólios comerciais estatais, assinatura de ferença, massacres e epidemias. A experiência serviu pelo menos
acordos com a Igreja sobre a ação dos jesuítas e transferência de lição à Coroa espanhola, que tentou praticar no resto de suas
da capital da Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro.
38 HISTÓRIA I
Módulo 8

possessões americanas uma política mais racional de dominação e 02 H7 (FATEC)


de exploração dos vencidos: a instalação de uma Igreja poderosa, São os portugueses que antes de quaisquer outros se ocuparão
dominadora e próxima dos autóctones, assim como a instalação de do assunto. Os espanhóis, embora tivessem concorrido com eles nas
uma rede administrativa densa e o envio de funcionários zelosos, primeiras viagens de exploração, abandonarão o campo em respeito
que evitaram a repetição da catástrofe antilhana. ao Tratado de Tordesilhas (1494) e à bula papal que dividira o mundo
GRUZINSKI, Serge. A passagem do século: 1480-1520: as origens da globalização, 1999 (adaptado).
a se descobrir por linhas imaginárias entre as Coroas portuguesa e
espanhola. O litoral brasileiro ficava na parte lusitana, e os espanhóis
“A instalação de uma Igreja poderosa, dominadora e próxima dos respeitavam seus direitos. O mesmo não se deu com os franceses, cujo
autóctones” contribuiu para a dominação espanhola e portuguesa rei (Francisco I) afirmaria desconhecer a cláusula do testamento de
da América, uma vez que os religiosos: Adão que reservava o mundo unicamente a portugueses e espanhóis.
Assim eles virão também, e a concorrência só resolveria pelas armas.
(A) mediaram os conflitos entre grupos indígenas rivais e assegu-
raram o estabelecimento de relações amistosas destes com os PRADO Jr, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1967.
colonizadores.
(B) aceitaram a imposição de tributos às comunidades indígenas, Segundo o texto, é correto afirmar que:
mas impediram a utilização de nativos na agricultura e na
mineração. (A) espanhóis e portugueses resolveriam a posse das terras da
(C) toleraram as religiosidades dos povos nativos e assim conse- América pela força das armas.
guiram convencê-los a colaborar com o avanço da colonização. (B) a concorrência entre Portugal e Espanha serviu de pretexto
(D) rejeitaram os regimes de trabalho compulsório, mas estimu- para que o rei da França reservasse a si o direito de atacar a
laram o emprego de mão de obra indígena em obras públicas. Península Ibérica e resolver o impasse pela força das armas.
(E) desenvolveram missões de cristianização dos nativos e facili- (C) os franceses não reconheceram o Tratado de Tordesilhas e, por
taram o emprego de mão de obra indígena na empresa colonial. isso, não respeitaram a posse de terras pertencentes a Portugal
ou Espanha.
(D) lançando mão da “cláusula de Adão”, o rei da França funda-
mentava a tese de que o Papa tinha todo o direito de dispor do
mundo, uma vez que era descendente direto de Adão.
(E) para os franceses, os espanhóis não respeitavam o litoral brasi-
01 H11 (UNESP) leiro e assolavam-no constantemente porque não reconheciam,
Em meados do século, o negócio dos metais não ocuparia senão o em nenhum documento, que Portugal detinha a posse das terras
terço, ou bem menos, da população. O grosso dessa gente compõe-se brasileiras.
de mercadores de tenda aberta, oficiais dos mais variados ofícios,
03 H14 (UEPR)
boticários, prestamistas, estalajadeiros, taberneiros, advogados,
médicos, cirurgiões-barbeiros, burocratas, clérigos, mestres-escolas, Nassau chegou em 1637 e partiu em 1644, deixando a marca do
tropeiros, soldados da milícia paga. Sem falar nos escravos, cujo administrador. Seu período é o mais brilhante de presença estrangeira.
total, segundo os documentos da época, ascendia a mais de cem mil. Nassau renovou a administração (...) Foi relativamente tolerante com
A necessidade de abastecer-se toda essa gente provocava a formação os católicos, permitindo-lhes o livre exercício do culto, como também
de grandes currais; a própria lavoura ganhava alento novo. com os judeus (depois dele não houve a mesma tolerância, nem com
os católicos, nem com os judeus – fato estranhável, pois a Companhia
HOLANDA, Sérgio Buarque de. “Metais e pedras preciosas”.
História geral da civilização brasileira, vol. 2, 1960 (adaptado).
das Índias contava muito com eles, como acionistas ou em postos
eminentes). Pensou no povo, dando-lhe diversões, melhorando as
De acordo com o excerto, é correto concluir que a extração de metais condições do porto e do núcleo urbano (...), fazendo museus de arte,
preciosos em Minas Gerais no século XVIII: parques botânicos e zoológicos, observatórios astronômicos.
Francisco lglésias
(A) impediu o domínio do governo metropolitano nas áreas de Esse texto se refere:
extração e favoreceu a independência colonial.
(B) bloqueou a possibilidade de ascensão social na colônia e forçou (A) à chegada e à instalação dos puritanos ingleses na Nova Ingla-
a alta dos preços dos instrumentos de mineração. terra, em busca de liberdade religiosa.
(C) provocou um processo de urbanização e articulou a economia (B) à invasão holandesa no Brasil, no período de União Ibérica, e
colonial em torno da mineração. à fundação da Nova Holanda no nordeste açucareiro.
(D) extinguiu a economia colonial agroexportadora e incorporou (C) às invasões francesas no litoral fluminense e à instalação de
a população litorânea economicamente ativa. uma sociedade cosmopolita no Rio de Janeiro.
(E) restringiu a divisão da sociedade em senhores e escravos e (D) ao domínio flamenco nas Antilhas e à criação de uma sociedade
limitou a diversidade cultural da colônia. moderna, influenciada pelo Renascimento.
(E) ao estabelecimento dos sefardins, expulsos na Guerra de Recon-
quista Ibérica, nos Países Baixos e à fundação da Companhia
das Índias Ocidentais.
Brasil Colônia: a mineração e o Período Pombalino HISTÓRIA I 39
Módulo 8

04 H15 (FGV) Os textos apresentados retratam, respectivamente, São Paulo e


Guerreado por Madri e pela Holanda, posto em quarentena pela Olinda no início do século XVII, quando Olinda era maior e mais
Santa Sé, Portugal busca o apoio de Londres, preferindo a aliança rica. São Paulo é, atualmente, a maior metrópole brasileira e uma
das maiores do planeta. Essa mudança deveu-se, essencialmente,
com os distantes hereges, a associação com os vizinhos católicos.
ao seguinte fator econômico:
Dando seguimento a vários tratados bilaterais, os portugueses
facilitam o acesso dos mercadores e das mercadorias inglesas às (A) Maior desenvolvimento do cultivo da cana-de-açúcar no
zonas sob seu controle na Ásia, África e América. planalto de Piratininga do que na Zona da Mata nordestina.
(B) Atraso no desenvolvimento econômico da região de Olinda e
ALENCASTRO, L. F. de. “A economia política dos descobrimentos”, NOVAES, A. (Org.),
A descoberta do homem e do mundo, São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 193. Recife, associado à escravidão, inexistente em São Paulo.
(C) Avanço da construção naval em São Paulo, favorecido pelo
O trecho do texto de Alencastro refere-se: comércio dessa cidade com as Índias.
(D) Desenvolvimento sucessivo da economia mineradora, cafeicul-
(A) ao período inicial da expansão marítima portuguesa, no qual tora e industrial no Sudeste.
as rivalidades com a Espanha em torno da partilha da América (E) Destruição do sistema produtivo de algodão em Pernambuco
levaram a uma aproximação diplomática entre Portugal e quando da ocupação holandesa.
Inglaterra.
(B) à época da Restauração, que se seguiu à união dinástica entre 06 H11 (FAMERP) A descoberta de ouro, no Brasil do século
as monarquias ibéricas e que obrigou a Coroa portuguesa a XVII, provocou, entre outros:
enfrentar tropas espanholas na Europa e holandesas na África
e na América. (A) a formação de núcleos populacionais no interior da colônia e o
(C) à época napoleônica, que acabou por definir o início da apro- pagamento, por Portugal, de parte das dívidas com a Inglaterra.
ximação diplomática de Portugal com a Inglaterra, em virtude (B) o fim da economia agrícola monocultora e a clara diferenciação
da articulação franco-espanhola que ameaçava as colônias em relação às áreas de colonização espanhola na América.
portuguesas na América. (C) o início do extrativismo na colônia e a exploração dos metais
(D) ao período de Guerras de Religião, durante o qual a monarquia nobres brasileiros por multinacionais inglesas e norte-
portuguesa, por aproximar-se dos calvinistas ingleses, passou -americanas.
a ser encarada com suspeitas pelo poder pontifício. (D) o desenvolvimento de ampla produção agrícola na região das
(E) à época das primeiras viagens portuguesas às Índias, quando Minas e a autossuficiência alimentar das áreas mineradoras.
muitas expedições foram organizadas em conjunto por (E) a implantação de vasta rede de transportes na região das
Inglaterra e Portugal, o que alijou holandeses e espanhóis das Minas e o rápido escoamento do ouro na direção dos portos
atividades mercantis realizadas na Ásia. do Nordeste.

05 H9 (ENEM) 07 H11 (FAMEMA) No Brasil colonial, uma atividade gerou


maior articulação entre regiões distantes, ampliou a intervenção
Texto I regulamentadora da Metrópole e deu origem a uma sociedade
diferenciada, caracterizada pela vida urbana, pelo aumento da
No princípio do século XVII, era bem insignificante e quase
mestiçagem e do número de alforrias e por uma notável produção
miserável a Vila de São Paulo. João de Laet dava-lhe 200 habitantes, cultural. Trata-se:
entre portugueses e mestiços, em 100 casas; a Câmara, em 1606,
informava que eram 190 os moradores, dos quais 65 andavam (A) da pecuária no Sertão nordestino.
homiziados*. (B) das plantations de tabaco e algodão no Nordeste.
(C) da coleta de drogas do sertão na Região Amazônica.
*homiziados: escondidos da justiça (D) das missões jesuíticas no Sul.
SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1964. (E) da extração de ouro nas Minas Gerais.

Texto II 08 H11 (CPS) Segundo a historiadora Laura de Mello e Souza,


Na época da invasão holandesa, Olinda era a capital e a cidade um dos principais divertimentos da população escravizada ou livre
e pobre que vivia nas zonas de mineração eram as festas e procis-
mais rica de Pernambuco. Cerca de 10% da população, calculada
sões religiosas, celebradas com a ostentação típica dos tempos do
em aproximadamente 2.000 pessoas, dedicava-se ao comércio, com barroco. Mais do que celebrações religiosas, esses eventos deixavam
o qual muita gente fazia fortuna. Cronistas da época afirmavam que de lado momentaneamente a pobreza existente naquela época e
os habitantes ricos de Olinda viviam no maior luxo. demonstravam, entre outras coisas, aquilo que aquela sociedade
gostaria de ser. Em uma dessas festas, de origem africana, um casal
FÉIST, Hildegard. Pequena história do Brasil holandês. São Paulo: Moderna, 1998 (adaptado).
era coroado e reverenciado, como se vê na imagem.
40 HISTÓRIA I
Módulo 8

Também no Brasil, o século XVIII é momento da maior


importância, fase de transição e preparação para a Independência.
Demarcada, povoada, defendida, dilatada a terra, o século vai lhe
dar prosperidade econômica, organização política e administrativa,
ambiente para a vida cultural, terreno fecundo para a semente da
liberdade. (...) A literatura produzida nos fins do século XVIII
reflete, de modo geral, esse espírito, podendo-se apontar a obra de
Tomás Antônio Gonzaga como a sua expressão máxima.
COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro:
EDLE, 1972, 7. Ed. p. 127-138.

O conhecimento histórico permite afirmar que a construção do


convento, retratado na foto, coincidiu com um período de prospe-
ridade em Portugal, proporcionado principalmente:

(A) pelo maior desenvolvimento da América portuguesa: a


Festa de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, 1835.
exploração do ouro em Minas Gerais dinamizou as atividades
Disponível em: <https://tinyurl.com/htna9r4>. Acesso em: 9 fev. 2017.
econômicas na Colônia.
(B) pela pesada carga tributária imposta sobre a população portu-
É correto afirmar que no século XVIII, a mineração:
guesa e pela riqueza acumulada pelo Estado com o tráfico de
escravos africanos.
(A) permitiu o enriquecimento das populações paraenses, que
(C) pela transferência da Corte portuguesa para o Brasil, que
celebravam em grandes festas o fim da pobreza.
contribuiu para que o comércio externo da Colônia fosse feito
(B) contribuiu para a abolição da escravidão por meio da Lei Áurea,
sem intermediação inglesa.
cujo nome fazia referência ao ouro.
(D) pelo desenvolvimento da nova agroindústria de exportação na
(C) trouxe prosperidade à região de Cuiabá, onde foi fundada a
colônia portuguesa na América, a cultura cafeeira no Vale do
nova capital do Brasil.
rio Paraíba.
(D) foi a base sobre a qual se estruturaram as sociedades do Nordeste
(E) pela participação da Igreja católica no processo de colonização,
colonial, sobretudo em Pernambuco.
que favoreceu a exploração econômica da Colônia pelo Estado
(E) possibilitou o desenvolvimento do Barroco mineiro, expresso
metropolitano.
na arquitetura e nas celebrações religiosas.
10 H5 (UFSM)
09 H11 (PUC-Camp)

©Marcos Alves Morato/Editora Abril

Foto do Convento de Mafra, tirada em 1969. A larga escadaria conduz à entrada do Palácio e
Mosteiro de Mafra, erguido em 1716 e 1735.
In: Gislane Azevedo e Reinado Seriacopi. História. São Paulo: Ática, 2005. p. 276 (Série Brasil).
Brasil Colônia: a mineração e o Período Pombalino HISTÓRIA I 41
Módulo 8

A igreja de São Francisco (foto), construída em Ouro Preto no 03 (UEMG)


século XVIII, é um marco do Barroco e da arquitetura brasileira.
O contexto histórico que explica a realização dessa obra é criado
pelo(a):

(A) crise do sistema colonial e eclosão das revoltas regenciais.


(B) deslocamento do centro administrativo da Colônia para a
cidade de Ouro Preto.
(C) exploração econômica das minas de ouro e consolidação da
agricultura canavieira.
(D) ciclo da mineração, e decorrente diversificação do sistema
produtivo.
(E) distanciamento em relação à autoridade colonial e consequente
maior liberdade de expressão.

01 (FUVEST)
A maior parte das representações atuais do paulista do
século XVII, seja na pintura, seja na escultura, mostra-o como uma
espécie de Pilgrim Father, em seu traje, com botas altas. Mas, na
verdade, eles muito pouca coisa usaram além do chapelão de abas Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo. Obra prima de Aleijadinho.

largas, barbas, camisas e ceroulas. Caminhavam quase sempre


Disponível em: <http://ozorioalex.blogspot.com.br/2014/06/
descalços, em fila indiana, ao longo das trilhas do sertão e dos algumas-esculturas-barroco-brasileira.html>. Acesso em: 10 ago. 2014.

caminhos dos matagais, embora, muitas vezes, levassem várias


armas. Sua vestimenta incluía, igualmente, gibões de algodão, que Em 2014, foram comemorados os 200 anos da morte do criador das
se mostraram úteis contra as flechas ameríndias (...) belíssimas peças em pedra-sabão, uma das quais é apresentada na
imagem acima, com autoria do mais importante artista brasileiro
A Idade do ouro do Brasil, Charles R. Boxer. do Período Colonial: Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho
(1737-1814). Ele nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto, e antes dos
a. A que figura da Capitania de São Vicente corresponde a essa 50 anos, foi acometido por uma doença degenerativa que atrofiava
descrição? seu corpo. Mesmo assim, tornou-se um dos maiores mestres do
b. A que se deve sua existência nessa região? Barroco no Brasil.

02 (UNICAMP) O Barroco teve terreno fértil para a expansão em Minas Gerais, pois:
A transferência da Corte portuguesa para o Brasil beneficiou
a economia mineira. O final do século XVIII fora marcado pelo (A) o enriquecimento provocado pela mineração e a forte religio-
sidade dos povos das Minas, conjugados com a intensa vida
enfraquecimento da mineração. Mas não se deve imaginar um
cultural ligada ao catolicismo, favoreceram o desenvolvimento
cenário de decadência. A mineração ocasionou em Minas uma desse estilo artístico na região.
diversificação econômica e um consequente crescimento popu- (B) a pouca presença de protestantes na região, por causa da
lacional sem precedentes. O sul de Minas adquiriu importância distância do litoral, fez com que não houvesse forte influência
crescente ao produzir gêneros de subsistência para abastecer os desse ramo religioso, deixando caminho livre para a expansão
centros urbanos. do Barroco, tão ligado ao catolicismo.
(C) fortaleceu-se com os altos investimentos feitos pelo governo
CUNHA, Alexandre Mendes. “Tropeiros em alta”. Revista de História da Biblioteca Nacional. v. 28.
Rio de Janeiro, jan. 2008. Disponível em: <http://rhbn.com.br/secao/capa/tropeiros-em-alta>.
português na região, já que por causa da produção aurífera,
Acesso em: 10 jun. 2015 (adaptado). buscava-se fazer de Minas, e principalmente de Vila Rica, a
referência americana para a Europa.
a. Contextualize a afirmação contida no texto: “Mas não se deve (D) a decadência da produção açucareira no Nordeste e a descoberta
imaginar um cenário de decadência”. do ouro em Minas levaram os principais artistas da Colônia a
b. Explique as funções desempenhadas pelos tropeiros na inte- migrarem para Vila Rica, em busca de financiamento para suas
gração política e geográfica do Sudeste. obras e apoio para novos empreendimentos.
42 HISTÓRIA I
Módulo 8

04 (FGV) 05 (FUVEST)
Encontro, teoricamente inexplicável, de dois fenômenos que
deveriam em princípio repelir-se um ao outro: o Mercantilismo e a
Ilustração. Entretanto, ali estavam eles juntos, articulados, durante
todo o período pombalino.
FALCON, F. J. C., A época pombalina. São Paulo: Ática, 1982, p. 483.

Entre as medidas implementadas durante o período em que o


Marquês de Pombal foi o principal ministro do rei português
D. José I, é correto apontar:

(A) A anistia aos mineradores da Colônia que possuíam débitos


tributários com a Metrópole portuguesa.
(B) A implementação de medidas liberalizantes e a extinção das
companhias de comércio monopolistas. Projeto de novo aposento para os índios da Aldeia de São Miguel, na margem do rio Guaporé,
(C) O estabelecimento do Diretório dos Índios, que significou uma feito no mês de dezembro de 1765.
tentativa de enfraquecer o poder dos jesuítas. 1. Igreja 5. Casa do Diretor
2. Sacristia 6. Paiol para recolher os frutos
(D) A intensificação das perseguições aos judeus e cristãos-novos 3. Praça 7. Engenho para açúcar e seus pertences
bem como o fortalecimento do Tribunal do Santo Ofício. 4. Casa do Padre 8. Vão para as Casas dos Índios
(E) O fortalecimento da nobreza e do clero em detrimento dos Arquivo Histórico Ultramarino. Disponível em: <www2.iict.pt>.

setores financeiros e mercantis da sociedade portuguesa.


Essa planta foi elaborada no contexto da nova política estabelecida
pela Coroa portuguesa para suas possessões na América durante o
chamado período pombalino (1750-1777). A partir dela:

a. identifique dois elementos que contrastam a organização


espacial das comunidades indígenas com a organização espacial
proposta pelos poderes coloniais.
b. descreva as principais diretrizes políticas e culturais do projeto
pombalino para a população indígena da América.

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HISTÓRIA I 43
Módulo 9
Brasil Colônia: revoltas

Você já ouviu falar na Revolta da Cachaça?


Em meados do século XVII, o Brasil ainda era uma colônia,
e o governo português não permitia que a aguardente produzida
por aqui fosse vendida. Embora as autoridades coloniais fizessem
ameaças e apreensões, fazendeiros desafiavam a proibição e
continuavam a produzir cachaça. Em 1660, os alambiqueiros flumi-
nenses lideraram uma rebelião a fim de comercializar seu produto.
O movimento, conhecido como Revolta da Cachaça, foi derrotado,
mas os produtores da bebida deixaram claro que mereciam ser
respeitados. Conseguiram o perdão da Coroa portuguesa e abriram

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caminho para a legalização da cachaça.
Desde o Período Colonial até hoje, dezenas de revoltas e
movimentos foram organizados no país. Os meses de junho e julho Manifestações de 2013.
de 2013 foram de extrema turbulência nas ruas do Brasil, quando
milhares de pessoas tomaram os espaços públicos em busca de Expectativas de aprendizagem:
melhores condições de vida e de trabalho – que tinham em comum – Aprender a identificar as principais revoltas nativistas quanto a
– a insatisfação em relação ao Estado e algumas de suas práticas. C3 sua origem, localização e motivações;
– entender os primeiros movimentos separatistas à luz das
Neste módulo, estudaremos os primeiros movimentos que tinham C5 contestações em relação ao sistema colonial;
como projeto reformular o Pacto Colonial e os que representavam – aprender a relacionar as revoltas separatistas com o aumento do
efetiva tentativa de emancipação do Brasil em relação a Portugal. controle colonial por parte de Portugal.

1. Revoltas nativistas A criação da Companhia do Comércio do Maranhão, em 1682,


objetivava resolver tais problemas, mas terminou por agravá-los. Em
Como observado anteriormente, a crise econômica portu- função do regime de monopólio, os colonos do Maranhão ficaram
guesa ocorrida em meados do século XVII foi responsável por à mercê dos preços praticados pela Companhia, que comprava os
uma mudança de postura da Metrópole em relação à Colônia, gêneros locais a valores muito baixos e cobrava caro pelos produtos
caracterizada pelo aumento da repressão fiscal e rígido controle metropolitanos. Mais do que isso, o compromisso de levar 500
sobre a aplicação do Pacto Colonial. Foi justamente essa atitude que escravos negros por ano, para findar definitivamente a exploração
proporcionou a ocorrência de levantes no Brasil, de 1640 a 1750. da mão de obra indígena, não era cumprido.
Tais movimentos não possuíam caráter separatista, já que ocorreram
A insatisfação assumiu a forma de rebelião em 1684, quando
antes do movimento iluminista. Nesse sentido, também não é possível
Manuel Beckman, senhor de engenho, assumiu o governo local,
afirmar que as revoltas eram dotadas de conteúdo nacionalista, mas,
destituindo o governador-geral e, além de permitir a escravização
ainda assim, contestaram determinados aspectos da rígida dominação
de indígenas, expulsou os jesuítas do Maranhão para que estes não
colonial pós-criação do Conselho Ultramarino e receberam o nome
atrapalhassem os interesses econômicos dos senhores de engenho
de rebeliões coloniais (ou nativistas). As rebeliões ocorreram em
locais. Foi enviada uma junta a Portugal, chefiada pelo irmão de
âmbito local, não havendo qualquer tipo de relação entre as diferentes
Beckman, Thomas, para apresentar a Lisboa as reivindicações dos
reivindicações de seus personagens que não a contestação à rigidez
revoltosos.
metropolitana na aplicação do Pacto Colonial.
Entretanto, ao chegar à Metrópole, a junta foi aprisionada. Um
1.1 Revolta de Beckman (1684) novo governador foi enviado ao Maranhão em seguida, e os demais
revoltosos foram presos. Manuel Beckman foi enforcado para que
O Maranhão do século XVII tinha dificuldades de escoar sua servisse de exemplo da forma metropolitana no trato com traidores.
produção, assim como de obter produtos oriundos da Metrópole.
Havia, também, carência no fornecimento de mão de obra escrava
africana, fazendo da região mais um cenário de conflitos entre
1.2 Guerra dos Emboabas (1708)
religiosos e aqueles que aprisionavam nativos para o trabalho Esse conflito ocorreu motivado pela disputa entre bandeirantes
compulsório. Mesmo que a Coroa portuguesa tenha expedido, paulistas e exploradores não paulistas, chamados “emboabas”,
no início da década de 1680, novas instruções acerca dos índios, pela posse das minas da região mineradora. A descoberta de ouro
dando-lhes terras, declarando-os livres e mandando castigar quem na região de Minas Gerais provocou mudanças significativas na
os escravizasse, a caça aos nativos ainda era frequente na região. dinâmica da Metrópole, além de motivar uma grande onda migra-
44 HISTÓRIA I
Módulo 9

tória da Metrópole e das zonas de colonização mais antigas para Com a ocupação holandesa em Pernambuco, Recife, que era
a região. Em razão desse enorme afluxo de pessoas de Portugal, apenas um pequeno povoado, ganhou destaque ao ser reorgani-
Angola e mesmo do Nordeste açucareiro, Minas Gerais passou a zado por Maurício de Nassau. Isso contribuiu para enriquecer os
ser a região mais rica da Colônia. Entretanto, os habitantes da Vila comerciantes locais, predominantemente portugueses e ligados ao
de São Vicente – descobridores da região mineradora – há algum comércio naval. Após a expulsão dos flamengos, o comércio local
tempo já estavam estabelecidos por lá. desenvolveu-se ainda mais, devido ao excelente porto e à presença
Com o grande número de pessoas que se deslocou para lá, os cada vez maior de comerciantes portugueses. Já Olinda, principal
paulistas perderam seu grande “filão”, inclusive pela maior dispo- centro urbano da região, passava por grandes dificuldades finan-
nibilidade de recursos dos forasteiros, que exploravam o ouro com ceiras. O açúcar antilhano desbancara o pernambucano na Europa,
grande aparato técnico, enquanto os paulistas praticavam a e o preço dos cativos aumentava em razão da exploração crescente
mineração com bateias. de ouro em Minas Gerais, que carecia de um grande número de
O administrador braços para a extração aurífera, o que superinflacionava o valor

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local, Manuel Borba dos escravos.
Gato, um paulista, Os comerciantes de Recife, enriquecidos, tornaram-se credores
intimou os forasteiros dos senhores de engenho olindenses, praticamente sem recursos em
– os emboabas, desig- virtude da crise do açúcar. O crescente endividamento dos grandes
nação que em uma proprietários era tratado de forma inflexível pelos comerciantes
tradução informal recifenses, que cobravam elevados juros aos fazendeiros de Olinda.
significa “que vem de Entretanto, apesar da saúde financeira, os comerciantes de
fora” – a se retirarem Recife eram submetidos às leis impostas pelos senhores de engenho,
da região das minas. já que Olinda possuía aquilo que os recifenses almejavam: uma
Estes, liderados por Pintura representando a Guerra dos Emboabas. Câmara Municipal, símbolo máximo do poder político local,
Nunes Viana, rico na qual as leis eram elaboradas. Os comerciantes – conhecidos
comerciante de gado oriundo do sertão da Bahia, responsável por pejorativamente como mascates – começaram a reivindicar uma
grande parte do contrabando de ouro em pó das Minas para essa maior participação na política local, por meio das eleições à Câmara
região, negaram-se a abandonar Minas Gerais. Municipal de Olinda, ao passo que os decadentes senhores de
Como grande parte das minas já havia sido ocupada pelos engenho negavam tal prerrogativa para manter seu status.
emboabas, a divergência entre os dois grupos se generalizou,

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envolvendo também o abastecimento de gado para a região, sob
controle dos forasteiros. O conflito entre paulistas e forasteiros teve
início enquanto Nunes Viana foi aclamado governador de Minas
pelos forasteiros. A vitória emboaba era questão de tempo. Alguns
vicentinos, em número infinitamente menor que os forasteiros,
foram encurralados e se renderam no Rio das Mortes. Entretanto,
evidenciando o caráter beligerante da disputa, os emboabas
dizimaram-lhes no episódio conhecido como Capão da Traição.
Visando à solução do conflito, o rei português substituiu o
governante local, criou a Capitania de São Paulo e de Minas de Ouro,
com capital em São Paulo (1709), e aplicou o sistema de sorteio de
datas para apaziguar os ânimos na região e garantir a arrecadação
fiscal da Coroa em alta. Os paulistas abandonaram Minas Gerais
em grande número, temendo novos conflitos, e penetraram mais
a fundo no interior da Colônia, encontrando ouro em Goiás e em
Mato Grosso, embora em menor quantidade, estabelecendo novos
povoados nessas localidades.

1.3 Guerra dos Mascates (1710)


Motivada pela disputa política entre os senhores de engenho
da Vila de Olinda e os mascates de Recife, tal movimento também
ficou marcado pela inauguração de um sentimento de antilusita-
nismo na Colônia.
Mapa antigo da Vila de Olinda.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 45
Módulo 9

Contudo, em 1709, o rei português, atendendo aos pedidos dos dos Santos, que não era minerador, mas um humilde tropeiro a
mascates de Recife, criou nesse povoado uma Câmara Municipal, serviço da elite local para arregimentar participantes para o levante.
transformando-o em vila e separando-o de Olinda. Tal fato desa- Tanto que, em alguns livros, a revolta é conhecida como “Revolta
gradou os olindenses que, em retaliação, invadiram Recife, demoliram de Filipe dos Santos”.
o Pelourinho – símbolo do poder municipal –, fecharam a Câmara A repressão foi cruel, principalmente contra os menos favore-
vizinha e impediram os comerciantes de cobrarem juros sobre cidos. Filipe dos Santos foi enforcado e esquartejado, e os demais
empréstimos concedidos aos fazendeiros. A reação dos comerciantes envolvidos foram presos e perderam suas posses. As casas de fundição
não tardou e o conflito se iniciou. só seriam reabertas em 1725. Mais uma vez, a Coroa dava sinais de
Para acabar com o estado de desordem que estava prejudicando que a lógica mercantilista seria sempre posta em primeiro plano.
os interesses metropolitanos na região, a Coroa interveio em favor

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dos comerciantes portugueses de Recife. A cidade foi efetivada
como vila e sede da capitania de Pernambuco, de acordo com os
anseios dos mascates, enquanto as lideranças olindenses tiveram
terras confiscadas e alguns dos líderes foram punidos com exílio
para a África.

1.4 Revolta de Vila Rica (1720)


A região de Minas Gerais vinha passando por diversas
Figura de Filipe dos Santos, líder da Rebelião Mineira de 1720 – Antônio Parreira (1923).
mudanças desde a Guerra dos Emboabas. A sociedade ia sedimen-
tando-se, várias vilas surgiram desde 1711. Entretanto, um problema
continuava sem solução: o controle sobre a tributação na região.
Vários impostos haviam sido criados, mas o ouro continuava sendo As revoltas esquecidas
sonegado, pois seu transporte em pó facilitava o trabalho desonesto. Neste módulo, abordamos os primeiros e mais importantes
Para solucionar esse caso, o governador de Minas, o Conde levantes do Brasil Colônia. No entanto, eles não foram os
de Assumar, foi instruído pela Coroa portuguesa a implementar, únicos. Alguns motins são muito pouco conhecidos para a
a partir de 1720, a cobrança de um imposto conhecido como maioria das pessoas.
“Quinto” (1/5 de todo ouro extraído nas minas deveria ser pago Exemplo disso é a Aclamação de Amador Bueno (1641),
à Metrópole) por meio das casas de fundição, que seriam criadas quando os bandeirantes paulistas elevaram o rico fazendeiro
na região nessa época. Nesses órgãos, o ouro extraído das minas que dá nome à revolta como rei de São Paulo, após o fim
deveria ser transformado em barras ou linguotes, que recebe- da União Ibérica. Amador Bueno não aceitou o que lhe foi
riam o selo real, bem como seria “quintado” automaticamente. oferecido, declarando fidelidade ao rei de Portugal. Outro
A arrecadação se tornaria mais eficiente, aumentando as receitas da interessante motim foi a Conjuração de “Nosso Pai” (1666),
Coroa e diminuindo as possibilidades de sonegação. ocorrida em Pernambuco, quando a população prendeu o
governador Jerônimo de Mendonça Furtado, antipatizado pelo
©Douglas Cometti/Folhapress

povo devido a seu mau governo.


Há, ainda, a Revolta do Maneta (1711) ocorrida na Bahia.
Liderada pelo negociante João Figueiredo da Costa, apelidado
de “Maneta”, a revolta foi motivada pelos altos impostos
cobrados na região. O governador da Bahia atendeu à reivin-
dicação dos rebeldes – predominantemente portugueses – e
deu anistia a todos.
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A Casa dos Contos em Ouro Preto, onde funcionava a casa de fundição.

Naturalmente, a medida não foi bem aceita pelos mineradores,


adaptados à sonegação, que passaram a protestar contra essa decisão.
Em 1720, tais protestos culminaram em uma revolta dos minera- Aclamação de Amador Bueno (1930), Oscar Pereira da Silva.
dores. Dentre as “lideranças” do movimento, destacou-se Filipe
46 HISTÓRIA I
Módulo 9

2. Revoltas separatistas • D. Maria I, em 1785, decretou o alvará corroborando a


proibição das manufaturas coloniais, exceção feita aos tecidos
destinados a “cobrir escravos”. Como a economia mineira se
2.1 A Inconfidência Mineira (1789) autoabastecia de ferramentas de prospecção e calçados, além de
Como já estudado, entre o final do século XVII e meados do possuir oficinas locais, houve um inflacionamento do mercado
século XVIII, ocorreram as primeiras rebeliões no Brasil. Tais movi- local nesse momento de decadência da mineração.
• A Coroa portuguesa ameaçava fazer a cobrança da derrama,
mentos surgiram no esteio da nova política de Portugal em relação
imposto complementar ao Quinto, caso a arrecadação não
ao Brasil após o fim da União Ibérica, e revelam as contradições chegasse a 100 arrobas de ouro ao ano na província, ou seja,
entre os interesses metropolitanos e coloniais. Nas últimas décadas cada cidadão contribuiria de forma complementar e compul-
do século XVIII, eclodiram novos movimentos de contestação soriamente para a Metrópole até que esta atingisse a quantia
que propuseram a independência política como mecanismo de de 1.500 kg de ouro arrecadado.
resolução definitiva dos problemas na relação colônia-metrópole. • Muitos membros da elite local assinaram contratos com a
monarquia para arrecadarem tributos em nome do rei. Os
Vale ressaltar que os movimentos emancipacionistas ocorridos
particulares deveriam pagar uma quantia preestabelecida,
no Brasil também possuem especificidades, que serão analisadas podendo ficar com a diferença da arrecadação. Dessa relação,
adiante. Mais do que isso, é importante associá-los às transforma- contudo, nasceram muitas dívidas dos membros da elite para
ções pelas quais a Europa passava no mesmo momento. A emer- com a monarquia e, assim, despontava mais um motivo para
gência das ideias iluministas – que contribuíram para a Revolução lutar pela liberdade.
Industrial inglesa, Independência dos Estados Unidos e Revolução • As casas maçônicas eram muito comuns na região e parte
Francesa – também desembarcou na América e serviu de base para considerável da elite participava delas. Como tal sociedade
secreta trazia como um dos seus pressupostos básicos o segredo
a ambição separatista que marcou o final do século XVIII.
interno guardado pelos pares, as reuniões maçônicas tornaram-
O primeiro dos movimentos de inconfidência ocorreu em -se foco de discussão e ampliação dos ideais inconfidentes.
Minas Gerais. Como analisado, a sociedade mineradora possuía
particularidades nos âmbitos político, econômico e social que a Aqui, cabem algumas importantes observações. A primeira
tornavam singular. Foram essas tais peculiaridades que, somadas delas é a de que o movimento não tinha caráter nacionalista – o
às influências externas, fomentaram a Inconfidência. que significa dizer que não havia a intenção de libertar todo o
território brasileiro, mas apenas Minas Gerais, Rio de Janeiro e parte
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de São Paulo. Outro ponto relevante é o caráter predominantemente


elitista da conjuração. O grupo formado em torno dos objetivos
separatistas era, geralmente, dos homens mais ricos da região. A
exceção fica por conta de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
Alferes do exército real, Tiradentes também viu no movimento a
possibilidade de uma ascensão socioeconômica que o status colonial
não lhe oferecia. Tal contexto reforça que as motivações pessoais
dos inconfidentes tiveram peso significativo na organização do
movimento.
Dentre os objetivos a serem atingidos – além da já citada
emancipação política – destacam-se:
Reunião dos conjurados, Pedro Américo.
• transformar São João Del Rei na capital da república que seria
Dentre as motivações para a eclosão do movimento, destacam-se
criada;
as seguintes:
• criar o alistamento dos cidadãos quando a república “estivesse
• As ideias iluministas circulavam na região, motivando a luta em risco”;
contra Portugal. Muitos dos conspiradores estudaram na Europa
• liberar a manufatura e estimular o setor industrial;
e retornaram com as ideias de contestação do Antigo Regime.
Exemplo disso foram os estudantes José Maia e José Maciel, • criar uma universidade em Vila Rica;
que conversaram com representantes dos Estados Unidos e • estimular a produção de alimentos facilitando o acesso à terra;
da Inglaterra, respectivamente, para angariar apoio para a luta • abolir as restrições administrativas no Distrito Diamantino;
“brasileira”, mas não conseguiram resultados práticos. • fundar uma fábrica de pólvora;
• A chamada Era Pombalina (1750–1777) caracterizou o • criar uma casa da moeda;
despotismo esclarecido português, impondo ao Brasil um • instituir parlamentos locais;
maior controle metropolitano. Bons exemplos dessa política
• perdoar todas as dívidas dos que deviam a Portugal.
eram as companhias privilegiadas de comércio do Grão-Pará e
Maranhão e de Pernambuco e Paraíba; a transferência da capital
para a cidade do Rio de Janeiro; e a instituição do sistema de
contratação real para a extração em Diamantina.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 47
Módulo 9

Havia dois pontos sobre os quais os inconfidentes não chegaram Em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado e esquartejado.
a um consenso. O primeiro deles foi sobre o assassinato do gover- Sua cabeça foi erguida em um poste de Vila Rica e seus restos
nador de Minas Gerais, o Visconde de Barbacena. O segundo – e mortais, espalhados pelas cidades por onde passou divulgando o
mais importante – era sobre o fim da escravidão. O liberalismo movimento. Sua casa foi demolida e o terreno salgado, para que
dos inconfidentes era profundamente marcado pelos interesses de nada mais ali germinasse. O espetáculo que envolve a morte de
classe dos latifundiários e dos mineradores, setores alavancados pela Tiradentes tinha um objetivo: mostrar à população o destino de
exploração da escravidão e, por isso, não previa, necessariamente, quem ousasse trair a Coroa.
a abolição. Apesar de alguns dos adeptos do movimento, como

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Alvarenga Peixoto, pensarem ser os alforriados aqueles que melhor
defenderiam o país nascente, a posição hegemônica refletia a própria
elite nacional no período e partia do pressuposto da fragilização
econômica a partir da perda da mão de obra africana.

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Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos inconfidentes, Leopoldino Faria


(final do século XIX ou início do XX).

Julgamento dos inconfidentes, de Eduardo Sá. As bandeiras da inconfidência


O projeto era para ser colocado em prática em fevereiro de Várias foram as propostas de se criar um pavilhão que
1789, quando se supunha que a derrama seria instalada em Vila representasse os anseios dos conspiradores. A primeira
Rica, mas o movimento não demorou a fracassar. Em março do proposta veio de Alvarenga Peixoto e continha a expressão
mesmo ano, Joaquim Silvério dos Reis denunciou a conspiração. “Libertas quae sera tamen”, fundo branco e ao centro, um
A razão que levou o inconfidente a delatar seus pares tinha forte triângulo azul, branco e vermelho (cores francesas) e no meio
conteúdo pessoal e financeiro: Silvério dos Reis devia enormes do triângulo branco, um índio quebrando grilhões. Tiradentes
somas de impostos à Metrópole e, com a denúncia, foi perdoado propôs que o triângulo – segundo ele, símbolo da Santíssima
de suas dívidas. Trindade – fosse verde, cor da esperança. Finalmente, a
A partir de maio de 1789, o Visconde de Barbacena começou bandeira da Inconfidência foi a fusão das duas propostas.
a desmontar o movimento, prendendo os conjurados e iniciando a Vale lembrar que o triângulo passou a ser vermelho em
devassa. No mês seguinte, foi divulgada a sentença que condenava 1963, quando o pavilhão foi oficializado como a bandeira do
onze inconfidentes à morte, além de outras penas, como açoites e estado de Minas Gerais.
exílio. No entanto, a pena de morte de dez condenados foi substi-
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tuída por afastamento perpétuo na África. O único executado foi


Tiradentes. Sua condição social – a mais baixa entre os conspira- Depois de várias
alterações, a
dores –, sua atuação ativa na propagação da trama e o fato de ter bandeira da
sido o único a assumir a participação no movimento foram fatores Inconfidência
determinantes para sua morte. ficou assim: com o
triângulo vermelho
no centro e com
o escrito “libertas
quae sera tamen”
em seus lados.
48 HISTÓRIA I
Módulo 9

2.3 A Conjuração Baiana (1798)


A cabeça de Tiradentes e a maçonaria O movimento pela independência da Bahia, elaborado na
No mesmo dia em que cidade de Salvador, tem inúmeras peculiaridades se comparado

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a cabeça de Tiradentes aos anteriores. Seus objetivos não eram meramente políticos; seus
foi erguida em um poste membros não eram homens da elite; a cor da pele e a religiosidade
de Vila Rica, ela desapa- dos líderes eram africanas; e, portanto, tratava-se de um projeto
receu. Uma das hipóteses estritamente popular e singular naquele momento de efervescência
é que ela teria sido furtada pelo qual o Brasil passava na virada do século XVIII para o XIX.
pelos colegas maçons da Dentre as principais motivações que são encontradas para essa
vítima. O roubo da cabeça conjuração, podem-se enumerar:
seria, segundo pesquisa-
dores, uma das primeiras • as crises cíclicas de fome que ocorriam não só em Salvador,
afrontas da maçonaria às mas também em todo o Nordeste;
autoridades repressoras • o monopólio do comércio metropolitano que acabava inibindo
portuguesas, mostran- o consumo popular, pois os produtos estavam sempre com seus
preços inflacionados;
do-lhes que “a luta só Estátua em homenagem a Tiradentes.
• a Revolução Francesa em seu período jacobino, por servir de
começava”. Autores maçons afirmam que não teria sido por motivação e exemplo;
acaso que, no mesmo local em que a cabeça de Tiradentes fora • a rebelião escrava do Haiti (1791-1804), na qual os setores
exposta, o então presidente da província mineira e grão-mestre populares, principalmente escravos e negros livres, conduziram
da maçonaria brasileira em 1874, Joaquim Saldanha Marinho, a região à independência;
em 3 de abril de 1867, ergueu uma coluna de pedra em memória • a difusão dos escritos franceses – possível entre os populares
do mártir maçom, que teria se tornado membro da irmandade graças à sociedade secreta dos Cavaleiros da Luz, liderada
pelo médico Cipriano Barata – presente em outras inúmeras
em uma de suas várias viagens à Bahia.
rebeliões na região;
• a situação de penúria, desqualificação e desprezo vivida pelos
não brancos livres, libertos ou escravos – e, em menor grau,
2.2 A Conjuração Carioca (1792) pelos brancos muito pobres –, obviamente, é o motivo central
O segundo movimento insurrecional – em busca da indepen- para qualquer explicação envolvendo as motivações do
dência política – ocorrido no Brasil colonial não pode ser conside- movimento insurrecional baiano.
rado típico. Não havia um plano de tomada do poder, os envolvidos
não estocavam armas, não conclamavam o povo a um levante nem Os objetivos do movimento estavam diretamente relacionados à
mesmo fizeram qualquer plano de propaganda revolucionária. origem social – humilde – de suas principais lideranças. A consciência
de classe formada nos ofícios de soldado e alfaiate (por isso o outro
Na verdade, as origens do movimento estavam relacionadas à
nome pelo qual o movimento é conhecido é Conjuração dos Alfaiates),
fundação da Sociedade Literária, cujos membros, sob inspiração
profissões da maioria dos expoentes do movimento, fez com que as
iluminista, liam livros franceses e debatiam as ideias em eferves-
propostas da Conjuração Baiana , também conhecida como Revolta
cência na Europa.
dos Búzios, diferissem muito da agenda de intenções em Minas Gerais.
Quando as autoridades descobriram o grupo, trataram de Dentre os principais objetivos, destacam-se:
reprimi-lo, prendendo seus integrantes. Vale destacar que a postura
da Metrópole reforça o quanto tais ideias iam de encontro aos • a proclamação de uma república com voto universal para os livres;
interesses do reino. Além disso, muitos dos cariocas tiveram contato • a abolição da escravidão (há uma historiografia contemporânea
com Tiradentes e com as propostas da Inconfidência Mineira. que critica o caráter abolicionista da conjura baiana);
No entanto, três anos depois, quando terminou o julgamento, • a liberdade de comércio;
nada ficou comprovado contra os acusados, e todos acabaram • a proibição do preconceito racial entre os livres;
soltos. A soltura de pessoas debilitadas e doentes, no entanto, • o aumento do soldo dos soldados.
não deve ser compreendida como uma falha metropolitana, ao
A gênese do movimento ocorreu no dia 12 de agosto de 1798,
contrário, também serviu de exemplo para mostrar o quanto a Coroa
quando Salvador amanheceu com cartazes espalhados por toda a
portuguesa era eficiente no desmembramento de movimentos que
cidade. Os cartazes, além de fazerem claras alusões à Revolução
ameaçassem a ordem vigente.
Francesa, criticavam a rainha D. Maria I, a cobrança de tributos à
população e a escravidão. Imediatamente, o governador da Bahia,
D. Fernando José de Portugal, iniciou as investigações que levaram
à prisão do soldado Luís Gonzaga das Virgens. Ao final do mesmo
mês, quase 40 integrantes do movimento estavam presos.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 49
Módulo 9

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01 (PUC-RS) Associe as revoltas coloniais (coluna A) às suas
características essenciais (coluna B).

Coluna A

I. Revolta dos Beckman


II. Guerra dos Emboabas
III. Guerra dos Mascates
IV. Revolta de Vila Rica
Praça da Piedade, local onde os conjurados foram executados. V. Inconfidência Mineira
A maioria era de mulatos, negros e escravos alforriados,
Coluna B
embora também participassem da trama alguns brancos pobres.
E tais lideranças receberam da Metrópole um tratamento bem ( ) Transcorrido em Pernambuco, entre 1709 e 1710, o movimento
distinto do concedido aos insurretos de Minas. Ao contrário da caracterizou-se pela oposição entre os comerciantes de Recife
ameaça de degredo suspensa – exceção óbvia a Tiradentes –, o contra os senhores de engenho de Olinda, tendo como base
que se viu em Salvador foram quatro enforcamentos seguidos de a tentativa dos mercadores recifenses em conseguir maior
esquartejamento em praça pública. A contundência metropolitana autonomia política e cobrar as dívidas dos produtores de açúcar
olindenses.
não foi gratuita: várias rebeliões escravas aconteciam na região; a
( ) Deflagrada no Maranhão, em 1684, a revolta teve como base
Revolução Haitiana e seu iminente desfecho assombravam a elite; o descontentamento com a proibição da escravidão indígena,
e havia uma dificuldade de controlar as grandes cidades. Esses decretada pela Coroa portuguesa, a pedido da Companhia de
fatores, somados à origem sociorracial dos envolvidos, levaram a Jesus, medida que prejudicou a extração das “drogas do sertão”
uma postura rígida por parte da Metrópole. pelos colonos europeus.
( ) Ocorrido em Minas Gerais, em 1720, sob a liderança de Filipe
Dentre as causas do fracasso do movimento, é possível elencar: dos Santos, o levante teve como causa a oposição ao sistema de
taxação da Coroa portuguesa, que resolveu estabelecer quatro
• a maioria dos populares que poderia ser seduzida pelos
casas de fundição na região mineradora, como forma de cobrar
panfletos revolucionários era analfabeta;
o quinto (imposto de vinte por cento) sobre o ouro.
• Salvador, desde os tempos de sede do Governo-Geral e também
( ) Sucedido em Minas Gerais, no ano de 1708, o conflito opôs os
por sua importância econômica, possuía muitos portugueses
paulistas (bandeirantes), primeiros aventureiros a descobrir e
residindo em suas ruas, o que facilitou a organização da
ocupar a zona da mineração, contra os “forasteiros”, os seja, os
repressão;
grupos que chegaram depois na região, originários do reino ou
• a elite da província, embora tenha tido participação discreta no
de outras capitanias.
início do movimento, assustou-se com as propostas populares
e afastou-se do movimento;
A numeração correta na coluna B, de cima para baixo, é:
• a delação dos torturados ou dos indivíduos interessados
em benesses individuais entregou à Metrópole os líderes do
(A) III – I – IV – II.
movimento.
(B) I – II – III – V.
(C) III – IV – I – II.
Por fim, é importante ressaltar que tanto o movimento mineiro (D) II – III – IV – V.
quanto o baiano – muito mais estudados do que o carioca –, têm (E) III – IV – V – II.
relevância mais simbólica do que prática na história do Brasil.
A independência do Brasil não nasceu a partir de revoluções locais, 02 (UECE) A historiografia do Brasil registra várias revoltas
mas de uma articulação da própria elite. e insurreições ‒ ações situadas no âmbito do contexto social,
político e econômico do Brasil colonial que expressavam a
insatisfação dos vários grupos sociais com os poderes instituídos.
Domínio Público/Wikimedia

Assinale a opção que apresenta somente movimentos ocorridos


nesse período:

Bandeira da Conjuração (A) Inconfidência Mineira, Conjuração dos Alfaiates, Revolução


Baiana, de 1798. Ainda Pernambucana.
hoje, as cores (B) Inconfidência Mineira, Balaiada e Conjuração dos Alfaiates.
da bandeira foram (C) Balaiada, Cabanagem e Revolução Pernambucana.
preservadas como cores (D) Revolução Praieira, Inconfidência Mineira, Revolução Pernam-
da Bahia.
bucana.
50 HISTÓRIA I
Módulo 9

03 (IFSC) Dentre os movimentos que contestavam o imperia- 05 (ESPM)


lismo português no Brasil, podemos destacar a Inconfidência À medida que o século chegava ao fim, agravava-se a tensão
Mineira e a Conjuração Baiana. Apesar dos dois movimentos entre os comerciantes portugueses residentes em Recife e os produ-
terem como base as ideologias do Iluminismo, também tiveram tores luso-brasileiros. Esse atrito assumiu a forma de uma contenda
grandes diferenças entre si. Comparando esses dois movimentos,
municipal entre Recife e Olinda, ou seja, entre o credor urbano e
é correto afirmar que:
o devedor rural. Olinda era a principal cidade de Pernambuco e
(A) Minas Gerais e Bahia se comunicavam ativamente para que sediava as principais instituições locais. Lá os senhores de engenho
seus movimentos ocorressem. Tanto é verdade que Tiradentes tinham suas casas. Por outro lado, o porto de Recife, a poucos
se tornou herói nacional por lutar nas duas revoltas. quilômetros de distância era o principal local do embarque das
(B) Tanto a Conjuração Baiana quanto a Inconfidência Mineira exportações de açúcar da capitania.
foram movimentos burgueses, com a participação popular
História do Brasil: uma interpretação. LOPEZ, Adriana; MOTA, Carlos Guilherme.
quase nula e apenas os mais pobres foram condenados: João
de Deus Nascimento, na Bahia, e Tiradentes, em Minas Gerais.
(C) Diferente da Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana A tensão mencionada no texto contribuiu para desencadear uma
tinha como proposta o fim da escravidão e um levante das rebeliões coloniais citadas abaixo:
armado imediato.
(D) Um dos grandes motivos para que as revoltas ocorressem foi (A) Aclamação de Amador Bueno da Ribeira.
a Independência dos Estados Unidos. Os revoltosos da Bahia (B) Revolta de Beckman.
e de Minas Gerais foram em comitiva para o país recém-inde- (C) Guerra dos Mascates.
pendente conseguir apoio para suas revoltas. (D) Guerra dos Emboabas.
(E) Os dois movimentos foram sumariamente reprimidos. Os dois (E) Revolta de Felipe dos Santos.
líderes, João de Deus Nascimento e Joaquim José da Silva Xavier,
o Tiradentes, foram enforcados juntos, lado a lado, no Rio de 06 (UECE) Ocorridos entre meados do século XVII e as primeiras
Janeiro para servirem de exemplos. décadas do século XVIII, os movimentos nativistas apresentam-se
como os primeiros sinais de uma crise do sistema colonial.
04 (CN) Leia texto a seguir.
Sobre esses movimentos, é correto afirmar que:

Em 1682, foi criada a Companhia Geral do Comércio do (A) tinham como principal objetivo a separação política entre
Estado do Maranhão, com o objetivo de controlar os atritos entre Colônia e Metrópole, com a autonomia administrativa e a
fazendeiros e religiosos na disputa pelo trabalho indígena, mais formação de novas nações livres nas regiões onde ocorriam.
barato que o africano, e incentivar a produção local... A companhia (B) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a Revolta de
venderia aos habitantes do Maranhão produtos europeus, como Felipe dos Santos, no Maranhão, com a Revolta dos Beckman, e
em Pernambuco, com a Insurreição Pernambucana e a Guerra
azeite, vinho e tecidos, e deles compraria o que produzissem, como
dos Mascates, apareceram as divergências entre os interesses
algodão, açúcar, madeira e as drogas do sertão, para comercializar dos colonos e os da Metrópole.
na Europa. Também deveria fornecer à região quinhentos escravos (C) ocorreram somente em locais que vivenciavam crises econô-
por ano, uma fonte alternativa de mão de obra, diante da resistência micas, como o Rio Grande do Sul (Farroupilha 1835-1845) e
jesuítica em permitir a escravidão de nativos. Os preços cobrados Pernambuco (Revolução Pernambucana de 1817).
pela companhia, entretanto, eram abusivos, e ela não cumpria os (D) somente a Confederação do Equador, ocorrida no Nordeste
acordos, como o fornecimento de escravos. brasileiro, pode ser tomada como um legítimo movimento
nativista, uma vez que não pretendia a separação política em
VICENTINO, Claudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. relação à Portugal, mas, somente, mais autonomia administra-
São Paulo: Editora Scipione, 2010. p. 358.
tiva.
O texto acima descreve uma situação que colaborou para o acon-
07 (UEFS) A Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana
tecimento de um conflito, no período colonial brasileiro ocorrido
(1798) expressaram localmente o conjunto de mudanças ocorridas
na segunda metade do século XVII, que ficou conhecido como:
no mundo ocidental a partir de meados do século XVIII. Apesar
de suas diferenças, os dois movimentos opunham-se:
(A) Revolta de Beckman.
(B) Guerra dos Mascates.
(A) à submissão colonial implícita na política mercantilista metro-
(C) Guerra dos Emboabas.
politana.
(D) Revolta de Felipe dos Santos.
(B) à importação de ideais iluministas pela cultura brasileira.
(E) Revolta de Amador Bueno.
(C) à divisão do país entre ricos donatários portugueses.
(D) à influência das independências das colônias inglesas da
América.
(E) à participação de homens livres pobres na preparação da
independência.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 51
Módulo 9

08 (EsPCEx-AMAN) No início do século XVIII, a concorrência benefícios pelos quais acreditavam ter direito de usufruir em sua
das Antilhas fez com que o preço do açúcar brasileiro caísse no plenitude. Apesar de algumas opiniões contraditórias, percebe-
mercado europeu. Os proprietários de engenho, em Pernambuco, -se que o diferencial entre as duas conjurações é o fato de que a
para minimizar os efeitos dessa crise, recorreram a empréstimos
Conjuração Mineira teve um caráter elitista em sua organização
com os comerciantes da Vila de Recife. Esta situação gerou um forte
e execução até o fim, enquanto a Conjuração Baiana, ao adquirir
antagonismo entre estas partes, que se acirrou quando D. João V
emancipou politicamente Recife, a qual deixou de ser vinculada a contornos mais radicais e populares, causou o afastamento dos
Olinda. Tal fato desobrigou os comerciantes de Recife do recolhi- líderes intelectuais da elite local que organizaram inicialmente o
mento de impostos a favor de Olinda. O conflito que eclodiu em movimento, fazendo com que mulatos, escravos, brancos pobres e
função do acima relatado foi a: negros libertos se transformassem nos cabeças do levante.
Disponível em: <http://historiasylvio.blogspot.com.br/2013/inconfidencia-mineira-x-
(A) Revolta de Beckman. inconfidenciabaiana>. Acesso em: 2 set. 2016.
(B) Guerra dos Mascates.
(C) Guerra dos Emboabas. Fazendo um paralelo entre os movimentos revolucionários, a
(D) Insurreição Pernambucana. Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, podemos afirmar que:
(E) Conjuração dos Alfaiates.
(A) enquanto os participantes da Inconfidência Mineira, em geral,
09 (ACAFE) A Revolta de Vila Rica no século XVIII mostrou os buscaram como modelo político a república organizada nos
abusos que as autoridades portuguesas cometiam com os minera- Estados Unidos, na Conjuração Baiana foi clara a inspiração
dores e a população de Minas Gerais. na Revolução Francesa.
(B) a existência da imprensa livre no século XVIII no Brasil
No contexto dessa revolta é correto afirmar, exceto: possibilitou a difusão dos ideais de liberdade e igualdade em
Minas e nas outras regiões do país, possibilitando o êxito dos
(A) O movimento reivindicava a redução dos preços dos alimentos revoltos.
e o cancelamento da medida que proibia a circulação de ouro (C) na capitania das Minas Gerais, o consumo de livros era inferior,
em pó. quando comparado a outras capitanias, o que dificultou a
(B) Foi um dos nomes dados à Inconfidência Mineira, que entre discussão dos ideais emancipacionistas pelos setores médios
seus participantes teve Joaquim José da Silva Xavier. urbanos.
(C) Os altos impostos e o rígido controle sobre a exploração do (D) na Inconfidência Mineira, houve um amplo apoio das camadas
ouro também contribuíram para o levante de Vila Rica. populares, dando maior força ao movimento, enquanto a
(D) Um dos líderes da revolta foi enforcado e teve seu corpo Conjuração Baiana ficou restrita a intelectuais.
esquartejado e exposto em praça pública. (E) na Conjuração Baiana, os envolvidos restringiram suas ações
a reuniões secretas coordenadas pela loja maçônica Cavaleiros
10 (UNESP) A Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração da Luz, sem nenhuma iniciativa de convocação pública para a
Baiana (1798) tiveram semelhanças e diferenças significativas. luta.
É correto afirmar que:
02 H6 (UFRGS – adaptada) Observe o gráfico a seguir, relativo
(A) as duas revoltas tiveram como objetivo central a luta pelo fim à produção aurífera no Brasil do século XVIII:
da escravidão.
(B) a revolta mineira teve caráter eminentemente popular e a 12.000
baiana, aristocrático e burguês. 10.000
Minas
(C) a revolta mineira propunha a independência brasileira e a
quilogramas

8.000 Gerais
baiana, a manutenção dos laços com Portugal. 6.000
(D) as duas revoltas obtiveram vitórias militares no início, mas Goiás
4.000
acabaram derrotadas. Mato
2.000
(E) as duas revoltas incorporaram e difundiram ideias e princípios Grosso
iluministas. 0
1700-1705

1780-1784
1790-1794
1760-1764
1730-1734

1750-1754
1740-1744

1770-1774
1721-1725
1711-1715

anos
01 H15 (IFBA) Após a leitura do texto abaixo e de acordo com PINTO, Virgílio N. O ouro brasileiro e o comércio anglo-português.
seus conhecimentos sobre o tema, responda à questão: São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979. p. 114.

A Inconfidência Mineira (1789) e a Inconfidência Baiana (1798) Com base nos dados do gráfico, considere as seguintes afirmações:
têm em comum o fato de serem reprimidas pela Coroa portuguesa
I. O auge da produção de ouro em Minas Gerais foi atingido ainda
ainda na fase de preparativos e o desejo de autonomia de seus
na primeira metade do século XVIII, mas, na segunda metade
participantes, pois consideravam-se prejudicados e excluídos dos do século, a extração aurífera na capitania entrou em declínio
acentuado.
52 HISTÓRIA I
Módulo 9

II. A produção aurífera conjunta de Goiás e de Mato Grosso (C) As noções de que os governos deveriam existir para garantir
suplantou durante alguns períodos a produção de ouro da direitos naturais dos homens, como a liberdade e a ideia de que
capitania de Minas Gerais. a soberania residia no povo, e não em um monarca.
III. A produção aurífera de Goiás atingiu seu ápice ao mesmo tempo (D) Compreendiam que as leis deveriam expressar a vontade da
em que ocorria a queda nos rendimentos do ouro produzido nobreza e do clero, e não a dos escravos.
na região de Minas Gerais. (E) A experiência de independência dos Estados Unidos da
América, em 1776, não influenciou as Conjurações Baiana e
Qual(is) está(ão) correta(s)? Mineira, apesar de ambas defenderem ideias liberais.

(A) I. (D) II e III. 05 H13 (FGV)


(B) I e II. (E) I, II e III. Dom Pedro Miguel de Almeida Portugal – conde de Assumar
(C) I e III. – se casou em 1715 com D. Maria José de Lencastre. Daí a dois
anos partiria para o Brasil como governador da capitania de São
03 H13 (IFBA)
Paulo e Minas Gerais. Nas Minas, não teria sossego, dividido entre
Aportou nesta cidade um navio francês que descarregou, com
o cuidado ante virtuais levantes escravos e efetivos levantes de
todo segredo e sagacidade, uns livrinhos cujo conteúdo era ensinar
poderosos; o mais sério destes o celebrizaria como algoz: foi o conde
o modo mais fácil de fazer sublevações nos estados com infalível
de Assumar que, em 1720, mandou executar Filipe dos Santos sem
resultado (...). Instruídos por esses livrinhos, alguns mulatinhos
julgamento, sendo a seguir chamado a Lisboa e amargurado um
e também alguns branquinhos da plebe, conceberam o arrojado
longo ostracismo.
pensamento de fazerem também seu levante (...).
Norma e conflito: aspectos da história de Minas no século XVIII, Laura de Mello e Souza.
Autor anônimo. “Relação da francesia formada pelos homens pardos da cidade
da Bahia no ano de 1798.” In: Saga. São Paulo: Abril Cultural, 1981. p. 269.
A morte de Filipe dos Santos esteve vinculada a:
No contexto da Conjuração Baiana (1798), o texto pode ser
associado: (A) uma sublevação em Vila Rica, que envolveu vários grupos
sociais, descontentes com a decisão de levar todo ouro extraído
(A) à capacidade dos homens de cor da Bahia de promoverem para ser quintado nas casas de fundição.
levantes contra o poder senhorial e acabar com o regime de (B) um movimento popular que exigia a autonomia de Minas Gerais
escravidão no Brasil. da capitania do Rio de Janeiro e o imediato cancelamento das
(B) ao projeto dos negros escravos, livres e libertos da Bahia de atividades da Companhia de Comércio do Brasil.
instalar uma monarquia constitucional, inspirada no ideal (C) uma revolta denominada Guerra do Sertão, comandada por
liberal da alta burguesia francesa. potentados locais, que não aceitavam as imposições colonia-
(C) à influência do liberalismo jacobino francês nos setores mais listas portuguesas, como a proibição do comércio com a Bahia.
populares que participaram do movimento baiano, impregnan- (D) uma insurreição comandada pela elite colonial, inspirada no
do-o de um ideal de república democrática. sebastianismo, que defendia a emancipação da região de Minas
(D) à forma como o movimento iluminista chegou ao Brasil, do restante da América portuguesa, com a criação de uma nova
compondo uma ideologia própria que sustentará a luta dos monarquia.
homens pobres pela tomada do poder imperial. (E) uma rebelião, que contrapôs os paulistas – descobridores das
(E) ao papel de lideranças revolucionárias francesas que viajavam minas e primeiros exploradores – e os chamados emboabas ou
pela América, incentivando levantes liberais e democráticos forasteiros – pessoas de outras regiões do Brasil, que vieram
contra os governos absolutistas metropolitanos. atrás das riquezas de Minas.

04 H13 (UEPB) 06 H13 (UECE) Leia atentamente o seguinte excerto:


Tanto na Conjuração Mineira quanto na Baiana, com graus e níveis O papel de herói da Inconfidência Mineira cabe ainda a
diferenciados de envolvimento dos grupos mais pobres da população, Tiradentes porque ele foi o inconfidente que recebeu a pena maior:
estão presentes os seguintes aspectos do pensamento iluminista. a morte na forca, uma vez que o próprio réu, durante a devassa,
FREITAS NETO, João A de. TASIFANO, Célio Ricardo. História Geral e do Brasil. assumiu para si toda a culpa. Sabe-se, no entanto, que sua morte se
São Paulo: Editora Habra.
deve também em grande parte à acusação dos demais inconfidentes,
bem como a sua condição social: pertencente à camada média
Assinale a alternativa que aponta aspectos dessa influência
iluminista: da sociedade mineira, sem importantes ligações de família, sem
ilustração nem boas maneiras.
(A) A Conjuração Baiana defendia o regime monárquico e não teve Cândida Vilares Gancho & Vera Vilhena de Toledo. Inconfidência Mineira.
a participação popular como o da Mineira, embora adotasse as São Paulo: Editora Ática, Série Princípios,1991. p. 45.
ideias liberais.
(B) O movimento rebelde que teria sido deflagrado na capitania de
Minas Gerais, em 1789, defendia o centralismo lusitano, porque
sua principal preocupação era com a libertação dos escravos.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 53
Módulo 9

Sobre a Inconfidência Mineira, ocorrida em Vila Rica no período repressão sobre a população eram as tarefas maiores das autoridades
da mineração aurífera, é correto afirmar que: públicas, indica um alto grau de consciência da capacidade de
libertação da dominação metropolitana.
(A) representou o exemplo de revolta popular contra a dominação
colonial portuguesa no Brasil, uma vez que, oriunda das RESENDE, Maria Efigênia Lage de. A Inconfidência Mineira. São Paulo: Global, 1988.

camadas mais humildes de Minas Gerais, inclusive de escravos,


chegou a contagiar indivíduos pertencentes às mais altas De acordo com o texto apresentado, assinale a assertiva correta:
posições sociais.
(B) foi uma representação dos interesses de grupos da elite local, de (A) A opulência da produção mineradora alcançou o seu apogeu
intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros, em se livrarem na segunda metade do século XVIII, aumentando a ganância
do controle e dos impostos cobrados pela Coroa portuguesa da Metrópole portuguesa, que acreditava que os mineiros
na região, mas não havia consenso em relação à libertação dos estivessem sonegando impostos e passou a usar de violência
escravos. na cobrança deles.
(C) marcou o início do processo de independência do Brasil, (B) O descontentamento dos colonos aumentava de acordo com
baseado na luta armada do povo contra as forças leais a Portugal, o preço das mercadorias importadas, já que eram proibidas as
e em defesa dos ideais liberais e republicanos, como o fim da manufaturas na Colônia. Além disso, os jornais que circulavam
escravidão, o direito ao voto universal masculino e o governo na região, alertavam a população sobre a corrupção nos altos
presidencialista. cargos administrativos coloniais.
(D) apesar de bem-sucedida, com a proclamação da independência (C) Sofrendo violenta opressão, a classe dominante mineira
de Minas Gerais, teve pouco impacto na história do Brasil, uma conscientizou-se das contradições entre os seus interesses e
vez que seus objetivos extremamente populares não foram bem os da Metrópole. Influenciada pelo pensamento iluminista e
aceitos pelas elites econômicas de outras regiões da Colônia. na iminência da cobrança da derrama em Vila Rica, em 1789,
preparou uma insurreição.
07 H13 (PUC-Camp) (D) Contando com adesão e apoio efetivo de diversas parcelas da
população mineira, os insurgentes reivindicavam um governo
Tiradentes era alguém com todas as características e ressen-
republicano inspirado na ideias presentes na Constituição dos
timentos de um revolucionário. Além do mais, ele se apresentava Estados Unidos, mas foram traídos por um dos participantes
para o martírio ao proclamar sua responsabilidade exclusiva pela em troca do perdão de suas dívidas pessoais.
inconfidência. Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes (E) Mesmo sem ter ocorrido de fato, a Inconfidência Mineira, o
representava para o governo português: pouca gente levaria a apoio recebido da população revoltada e influenciada pelos
sério um movimento chefiado por um simples Tiradentes (e as ideais iluministas, demonstrou a maturidade do processo pela
autoridades lusas, depois de outubro de 1790, invariavelmente se independência do país. Tal engajamento esteve presente durante
todas as lutas em prol da nossa emancipação.
referiam ao alferes por seu apelido de Tiradentes).
MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa. A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808. São 09 H13 (UPF)
Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 216.
Não é fácil saber de onde foi que Jorge Velho partiu para ir
O texto de Kenneth Maxwell, ao se referir a Tiradentes, nos remete combater Palmares, se de São Paulo ou do Piauí. Tanto se pode
à Inconfidência Mineira. Sobre esse conflito, é correto afirmar que: admitir uma versão como a outra, já que ambas se apoiam em
documentos de igual autoridade (...). Há também muita controvérsia
(A) o fracasso do movimento deveu-se, entre outros, à precária sobre os seus efetivos. Em diferentes documentos o número de
organização do movimento e à falta de coesão efetiva entre os indígenas oscila entre 800 e 1.300, e o de brancos entre 80 e 150,
conspiradores.
não falando nas mulheres e crianças que costumava levar consigo.
(B) a conjuração resultou em reuniões nas quais se travaram debates
A marcha de seiscentas léguas até Pernambuco foi uma estupenda
políticos e filosóficos sem que com isso resultasse em proposta
de revolta. façanha. Custou-lhe a perda de 396 pessoas, das quais 196 morreram
(C) a ausência de princípios iluministas, como os de liberdade e de fome ou doença e 200 desertaram.
igualdade jurídica, deu ao movimento um caráter verdadeira- FREITAS, Décio. Palmares: a guerra dos escravos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1984. p. 145-146.
mente revolucionário.
(D) o êxito da conspiração deu-se em função de ser formada, O bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado pelo governo
principalmente, pelas camadas médias e urbanas e dos grupos português para destruir o quilombo de Palmares. Isso se deu porque:
pobres da população.
(E) as ideias do despotismo ilustrado deram origem a um (A) os paulistas, excluídos do circuito da produção colonial centrada
movimento conspiratório e libertário no processo de ruptura no Nordeste, queriam estabelecer lá pontos de comércio, sendo
política do país. impedidos pelos quilombos.
(B) os paulistas tinham prática na perseguição de índios, os quais,
08 H13 (MACKENZIE) aliados aos negros de Palmares, ameaçavam o governo com
A Inconfidência Mineira representou potencialmente uma das movimentos milenaristas.
maiores ameaças de subversão da ordem colonial. O fato de ter (C) o quilombo desestabilizava o grande contingente escravo
ocorrido na área das Minas, área na qual a permanente vigilância e existente no Nordeste, ameaçando a continuidade da produção
açucareira e da dominação colonial.
54 HISTÓRIA I
Módulo 9

(D) os senhores de engenho temiam que os quilombolas, que Com base no texto, na imagem e nos conhecimentos a respeito da
haviam atraído brancos e mestiços pobres, organizassem um Inconfidência ou Conjuração Mineira, responda aos itens a seguir:
movimento de independência da colônia.
(E) os aldeamentos de escravos rebeldes incitavam os colonos a. Discorra sobre esse movimento denominado Inconfidência ou
à revolta contra a metrópole, visando trazer novamente o Conjuração Mineira, ocorrido em Minas Gerais, em 1789.
Nordeste para o domínio holandês. b. Analise a representação de Tiradentes na pintura elaborada por
Pedro Américo, após a Proclamação da República no Brasil.
10 H13 (UECE) Atente ao seguinte enunciado: “Nove anos após a
Inconfidência Mineira, idealizada e liderada por membros da elite 02 (UFV) No início do Período Colonial, havia mais de trezentas
da capitania de Minas Gerais (advogados, magistrados, militares, línguas indígenas na América portuguesa e a difusão da língua
padres e ricos contratantes), uma nova revolta ocorreu na Colônia, dos colonizadores deu-se muito lentamente. Somente na segunda
contra a dominação portuguesa. Essa, entretanto, não ficou restrita metade do século XVIII, durante a administração do Marquês
de Pombal, a metrópole adotou o que se poderia chamar de uma
a um pequeno grupo da elite de brancos e intelectuais ou às ideias
política de língua. Passou-se, a partir de então, a coibir o uso do
políticas liberais. Teve a participação e mesmo a liderança de pessoas “nheengatu”, a estimular-se e a impor-se o ensino da gramática e
oriundas dos grupos desprivilegiados (mulatos, brancos pobres, da língua portuguesa.
negros livres e escravos), dela participaram o médico Cipriano José
Barata de Almeida, os soldados Lucas Dantas do Amorim Torres e a. Com base nessas informações e nos seus conhecimentos,
Luís Gonzaga das Virgens e os alfaiates João de Deus do Nascimento indique uma razão que levou a metrópole lusitana a impor a
e Manuel Faustino dos Santos Lira. Seus objetivos incluíam, além língua portuguesa na Colônia.
b. Cite outra medida da administração pombalina que afetou os
da autonomia em relação a Portugal, a implantação de um governo
povos indígenas.
republicano, a busca por igualdade racial com a abolição da escra-
vidão e o fim dos privilégios sociais e econômicos das elites, com a
03 (PUC-Camp)
diminuição dos impostos e com aumentos salariais para o povo”.
Os enciclopedistas constituíram uma pequena elite de letrados
O enunciado acima se refere ao movimento separatista colonial e de técnicos, ligados à vida material como elementos de ponta do
denominado: progresso econômico e também estreitamente vinculados ao aparato
estatal, o qual se esforçaram por tornar melhor e mais racional. (...)
(A) Conjuração Baiana, de 1798. Por toda a parte na Europa das Luzes, encontramos esta pretensão e
(B) Revolução Pernambucana, de 1817.
esta vontade [dos filósofos] de pôr-se à testa e na direção da sociedade.
(C) Revolução Praieira, de 1848.
(D) Confederação do Equador, de 1824. VENTURI, Franco. Utopia e reforma no Iluminismo. Bauru: Edusc, 2003, p. 44, 239-240.

Um grande número de jovens da elite colonial brasileira frequentou


a Faculdade de Direito de Coimbra, em Portugal. Essa elite, influen-
ciada pelos ideais da pequena elite a que o texto de Franco Venturi
se refere, contribuiu para a:
01 (UEL) Leia o texto e analise a imagem a seguir:
(A) Revolta de Beckman em 1684.
Vou falar hoje, neste (B) Guerra dos Mascates em 1710.
Disponível em: <www.1.folhauol.com.br/ Ilustrada/2014/11/1544763-
pinacoteca-expoe-pintura-historica-de-tiradentes-esquartejado.shtml>.

bicentenário, da Conjuração (C) Revolta de Felipe dos Santos em 1720.


Mineira, menos sobre as (D) Insurreição Guaranítica em 1750.
consequências desta prisão (E) Inconfidência Mineira em 1789.
do que sobre as causas da
chamada Inconfidência 04 (FGV) Ao final do século XVIII, ocorreram duas grandes
Mineira, designação de que revoltas na América portuguesa: a Inconfidência Mineira (1789) e
francamente não gosto, e que a Conjuração Baiana (1798).
não uso; a palavra inconfi-
A respeito dessas duas revoltas, explique:
dência vem dos donos do
poder, e não da oposição. Vem a. a composição social dos seus dirigentes.
da contrarrevolução, e não da b. as influências político-culturais de cada uma delas.
revolução; e, enfim, o objeto c. os objetivos político-sociais de cada uma delas.
Tiradentes esquartejado, Pedro Américo.
das nossas comemorações é
uma revolução frustrada, não uma repressão bem-sucedida. É bom
que estejamos bem claros sobre isto.
MAXWELL, K. Conjuração mineira: novos aspectos. Estudos Avançados. v. 3. n. 6. maio/ago, 1989. p. 4.
Brasil Colônia: revoltas HISTÓRIA I 55
Módulo 9

05 (IFSUL) Entre as principais revoltas nativistas, destacam-se:


As revoltas nativistas foram aquelas que tiveram como causa
principal o descontentamento dos colonos brasileiros com as (A) Beckman e Filipe dos Santos.
(B) Cabanagem e Balaiada.
medidas tomadas pela Coroa portuguesa. Ocorreram entre o final
(C) Sabinada e Farrapos.
do século XVII e início do XVIII. (D) Carrancas e Setembrada.
Disponível em: <http: //www.historiadobrasil.net/brasil_colonial/revoltas_nativistas.htm>.
Acesso em: 22 jul. 2016.

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HISTÓRIA I 56
Módulo 10
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil

©Joa_Souza/iStock
Você sabia que até hoje pagamos impostos que
foram criados em 1808?
Seus pais, provavelmente, já pagaram ou estão pagando um
imposto chamado IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano. Ele
é um tributo pago aos governos dos municípios por quem possui
ou aluga uma propriedade urbana.
O curioso é que esse imposto é antigo, embora seu nome
original tenha sido outro. Você já ouviu falar da “décima urbana”?
Foi um imposto criado em junho de 1808 por D. João, durante a
permanência da Família Real portuguesa no Rio de Janeiro, com o
objetivo de atender as despesas da Corte naquele momento.
Curiosidade à parte, a verdade é que foram muitas as transfor-
mações ocorridas na Colônia – no Rio de Janeiro e em todo o Brasil –,
no período em que D. João, sua família e a nobreza portuguesa Expectativas de aprendizagem:
desembaracaram por aqui. – Discutir as motivações da vinda da Corte para o Rio de Janeiro;
C3 – entender as transformações ocorridas na capital da Colônia e no
Neste módulo, estudaremos a chegada na Corte no Brasil e as
modificações acarretadas por esse fato, como a criação da “décima C5 Brasil com as medidas adotadas por D. João VI;
– examinar o desdobramento desse episódio no processo de
urbana”. emancipação política do Brasil.

1. A transferência do aparato com a Inglaterra. Para isso, a

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Família Real, a Corte e todo o
estatal português aparato burocrático do Estado
português precisaram ser trans-
No ano de 1806, Napoleão Bonaparte, imperador da França,
feridos para o Brasil. A defesa de
decretou o Bloqueio Continental. Tal medida proibiu todos os
Portugal ficaria a cargo de seus
países europeus dominados por tropas francesas – algo em torno
habitantes e de tropas enviadas
de 80% do Velho Continente – de manterem laços comerciais com
pela Inglaterra, que ficariam
a Inglaterra, grande rival econômica da França, sob pena de invasão
ainda encarregadas de escoltar a
do território de quem descumprisse suas recomendações. O decreto
esquadra portuguesa na travessia
teve impactos na já conturbada situação geopolítica europeia. Uma Príncipe regente D. João de Bragança, 1904.
atlântica, impedindo ataques
das situações mais complicadas era a de Portugal, dependente, desde
franceses contra a comitiva real. Note-se que a decisão de D. João
a crise açucareira do século XVII, da economia britânica.
não só reforçou os laços de dependência econômica em relação à
Militarmente, os portugueses não teriam como resistir a um
Inglaterra como tornou os portugueses dependentes dos ingleses
ataque das temidas tropas de Bonaparte. Economicamente, era
também no campo militar.
impossível que os portugueses abrissem mão do consumo das
No final de 1807, Portugal foi, de fato, invadido pelas forças
mercadorias e dos empréstimos britânicos. Diante desse impasse,
napoleônicas, mas a Família Real e sua comitiva já haviam viajado
D. João, à época príncipe regente de Portugal, passou a adotar uma
para o Brasil. Em 22 de janeiro de 1808, a frota trazendo o príncipe
postura diplomática indefinida junto às duas potências. Como
regente, seus parentes e compatriotas desembarcou em Salvador,
resultado, foi submetido a uma dupla pressão. De um lado, a ameaça
rumando posteriormente para a capital da Colônia, o Rio de Janeiro.
francesa de invasão ao território. De outro, a ameaça inglesa de
A Casa de Bragança estava a salvo: Portugal fora cortado pela espada
destruir toda a frota lusa e tomar o Brasil.
de Napoleão, mas a Coroa permaneceu na cabeça de D. Maria I até o
A solução encontrada por D. João e ratificada por lorde
ano de 1816, quando D. João tornou-se rei de Portugal.
Strangford, embaixador da Inglaterra em Lisboa, não deixou
dúvidas quanto à posição lusa no conflito: manter as relações
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil HISTÓRIA I 57
Módulo 10

As reivindicações britânicas não cessaram com a abertura dos

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portos. Desejosos de tratamento diferenciado nos portos brasileiros,
os ingleses passaram a contestar as tarifas alfandegárias praticadas
no Brasil. Sem muito espaço para negociação, Portugal submeteu-se
mais uma vez aos interesses britânicos. Em 1810, dois importantes
tratados foram assinados entre os dois países: o Tratado de Aliança
e Amizade e o Tratado de Comércio e Navegação.
Com o primeiro, Portugal assumiu um compromisso com
a Inglaterra de iniciar uma gradual abolição do comércio de
escravos, além de permitir que ingleses no Brasil fossem julgados
somente pelas leis britânicas (conhecido como princípio da extra-
territorialidade). Além disso, a Inglaterra estava autorizada a manter
uma esquadra de guerra no litoral brasileiro.
Embarque da Família Real portuguesa – autor e data desconhecidos.
O segundo tratado estabelecia uma taxa de 15% sobre a
importação de produtos ingleses. Tal medida também contribuiu
1.1 As transformações econômicas para a enxurrada de produtos britânicos no Brasil, na medida em
Naturalmente, pesou sobre Portugal a tarefa de auxiliar os que os oriundos de Portugal eram sobretaxados em 16% e os dos
ingleses, que inicialmente foram prejudicados com o Bloqueio Conti- demais países, em 24%.
nental – o Banco de Londres chegou a decretar falência nos primeiros Dois anos antes, D. João VI decretou a revogação do Alvará
momentos de vigência do decreto. Pressionado pelas circunstâncias, de 1785, permitindo que indústrias se instalassem no Brasil para
D. João VI, logo após sua chegada ao Brasil, decretou a abertura suprir a falta de artigos secundários, já que Portugal ainda estava
dos portos brasileiros às nações amigas do Império Português. ocupado pelos franceses. Entretanto, tal medida não teve impacto
Desse momento em diante, a Coroa não precisava mais autorizar significativo na economia brasileira, tendo em vista a incapacidade
previamente o comércio de países estrangeiros com o Brasil. Eram das manufaturas desenvolvidas no Brasil e a já referida preferência
admitidos negócios com todos os aliados de Portugal. pelos produtos britânicos.
Tal medida, além de claramente beneficiar a Inglaterra,
representou o fim do Pacto Colonial no Brasil e a independência 1.2 Europeização, cultura,
econômica da Colônia. Mais do que isso, a abertura dos portos teve ciência e política externa
um duplo significado para a Metrópole. Para os comerciantes lusos
instalados em Portugal e no Brasil, o fim do monopólio representava Além das questões econômicas, a vinda da Família Real trouxe
grandes perdas econômicas e insatisfação, já que os manufaturados mudanças significativas em outros setores. Essas transformações
vindos do reino e negociados por eles seriam preteridos em relação tinham um objetivo: tornar o Rio apto a receber a Família Real e
aos industrializados – e mais baratos – britânicos. Por outro sua extensa comitiva – algo em torno de 15 mil pessoas –, além de
lado, para a elite econômica brasileira, essa medida foi de suma torná-lo a sede do Império Português. O desafio era grande: fazer do
importância. Antes relegados ao comércio exclusivo e desigual Rio de Janeiro a capital do reino, quando o Rio estava muito aquém
com Portugal, agora poderiam vender seus produtos a quaisquer de cidades como Paris, Londres, ou mesmo Lisboa. O cenário, aos
nações que estivessem em paz com a Coroa, bem como importar, olhos da nobreza europeia que aqui desembarcava, era desolador:
na mesma escala, pagando preços menores que aqueles impostos uma cidade cheia de mazelas, cortada por becos e vielas, infestada
pelos comerciantes do reino (portugueses). A liberdade comercial de doenças em decorrência da sujeira, com uma grande população
trouxe uma acumulação de capital – até então impensável – para negra circulando pelo centro urbano e que causava temor aos
a elite nacional. brancos. Faltavam até mesmo habitações em número suficiente
para receber a comitiva real. Mesmo os costumes locais causavam
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estranheza aos europeus.


Tudo mudou com a chegada da Corte, em 1808. A abertura
dos portos trouxe inúmeros produtos europeus que não eram de
conhecimento dos colonos. Elementos que habitavam regiões valo-
rizadas da cidade foram deslocados de suas casas, dando lugar aos
recém-chegados, o que gerou insatisfação nos grupos desalojados.
A própria presença da Família Real contribuiu para a mudança na
sociedade, redimensionando hábitos e inaugurando novos espaços
sociais. O Rio de Janeiro viveu um processo de europeização de
seus costumes.
Carta Régia declarando a abertura dos portos às nações amigas.
58 HISTÓRIA I
Módulo 10

ocorreram em função de um arrocho fiscal – cobrança de pesados

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impostos – sobre as diversas regiões da Colônia. Isso despertou um
sentimento de antilusitanismo e aversão aos habitantes da “nova
Lisboa” nessas regiões, sobretudo no Nordeste.
No que diz respeito à política externa, dois pontos merecem
destaque. O primeiro deles está relacionado à invasão da Guiana
Francesa, em 1808, em um claro exercício revanchista de D. João VI
contra os franceses. A questão dos limites territoriais entre América
portuguesa e espanhola no Sul do Brasil, somando-se aos objetivos
de garantir os interesses lusos na Bacia Platina, motivaram o monarca
a também invadir a região da Cisplatina (atual Uruguai), em 1816.
Ao término de todo esse processo, a cidade do Rio de Janeiro
deixou de ser o centro econômico colonial que integrava o Centro-Sul
Um jantar brasileiro, Jean-Baptiste Debret, 1827. às demais regiões, e tornou-se o centro sociopolítico, econômico
e cultural do Império Português, interligando-se agora às outras
Para adaptar a cidade à Corte, prédios foram construídos ou colônias portuguesas de além-mar e ao “antigo” centro político,
reformados para instalar órgãos político-administrativos transfe- Lisboa. A metrópole do Império Português, outrora localizada na
ridos de Portugal ou criados na nova capital, como ministérios, o fria Europa, agora estava situada no calor dos trópicos, no interior
Conselho de Estado, o Erário Real, o Banco do Brasil e a Real da Colônia.
Academia Militar. Instituições científico-culturais, como a Biblio-
teca Real, o Museu Real, a Academia Real de Belas Artes e a Escola
de Medicina, foram criadas. Juntamente com tais edificações, Os escravos tigres
criaram-se também parques e jardins, como o Real Horto (hoje
Como observado, não havia muita preocupação com a
Jardim Botânico). Missões artísticas e culturais foram trazidas
higiene no Rio de Janeiro. A urina e as fezes dos moradores
para estudar a fauna, a flora e os costumes “daquela gente” – como
eram armazenadas em tonéis – muito deles ficavam dentro
a Missão Francesa de 1816.
das residências – que, pela manhã, eram conduzidos às praias
para serem despejados pelos escravos. Esses cativos recebiam
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a alcunha de escravos-tigres ou tigreiros. O apelido desses


escravos pode estar associado à coragem por desempenharem
tal função ou à fuga dos transeuntes que, ao ver tais carregadores,
se afastavam como se fugissem de animais selvagens.
No entanto, a interpretação mais recorrente é a de que os
tigreiros recebiam esse nome porque os dejetos escorriam pelas
frestas dos tonéis, sujando e manchando as costas dos negros,
em uma combinação que se assemelhava à pelagem dos tigres.
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Damas da Corte, Jean-Baptiste Debret.

Além de investir no centro urbano carioca, a Coroa gastou


grandes somas de capital para interligar o novo centro do reino a
outras regiões, em especial as produtoras de gêneros para abasteci-
mento da capital. Sesmarias foram doadas, fazendo surgir um novo
grupo social muito importante: o de produtores e comerciantes
ligados ao comércio interno, destinado a abastecer a Corte.
No entanto, é relevante destacar que a Coroa não estava em
situação financeira confortável. Todas as intervenções citadas
Pintura de Debret mostra diversos tipos de trabalhos de escravos.
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil HISTÓRIA I 59
Módulo 10

1.3 O Congresso de Viena e dos preços dos principais produtos exportados (açúcar e algodão)
trouxe prejuízos aos senhores de terras. Para se recuperar econo-
a elevação do Brasil a Reino Unido micamente, eles reduziram a produção de gêneros de subsistência
Como observado, a vinda da Família Real para o Brasil esteve em suas fazendas em proveito do plantio das espécies exportáveis.
condicionada à supremacia de Napoleão na Europa. Entretanto, Isso aumentou a fome e a miséria das populações de baixa renda.
com sua derrota em 1815, intensificou-se o debate no Congresso A crise econômica acirrou as rivalidades entre elite agrária
de Viena, iniciado ainda em 1814, e, com ele, o esforço de restaurar e comerciantes portugueses na região. Os primeiros, superex-
as monarquias absolutistas abaladas pelas concepções liberais plorados pela Corte e sofrendo enormes prejuízos, pretendiam
francesas. aumentar seu poder político e reduzir a submissão aos portugueses
De todos os princípios definidos pelo Congresso de Viena para mais próximos da Coroa. O povo também estava insatisfeito com
a restauração, o da legitimidade afetou diretamente a presença da essa situação, pois os comerciantes portugueses mantinham os
Corte no Brasil. Segundo aquele princípio, só seriam consideradas preços dos gêneros de primeira necessidade sempre elevados,
válidas as fronteiras, os sistemas de governo e as decisões políticas agravando o quadro de carestia e fome.
anteriores ao ano da Revolução Francesa (1789). Ou seja, o Somou-se a esse quadro a propagação dos ideais iluministas
Congresso não reconhecia a transferência da capital do Império em Pernambuco a partir de lojas maçônicas, que fortaleceu as
Português para os trópicos. A Família Real portuguesa não deveria críticas à dominação colonial e aos portugueses. Proprietários de
mais permanecer no Rio de Janeiro, já que o centro do Império terras, comerciantes, profissionais liberais, militares e padres faziam
voltaria a ser em Lisboa. Entretanto, as ideias liberais burguesas se parte delas. Um levante contra a Coroa começou a ser organizado.
espalharam de tal forma na Europa que D. João VI temia voltar para
Não tardou muito e chegaram ao Rio de Janeiro informações
Portugal e encarar a oposição de grupos influenciados por elas.
dando conta da rebelião que estava para ocorrer. Em março de 1817,
contingentes militares foram destacados para Pernambuco, a fim
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de fazer uma devassa (investigação) e controlar a área. Entretanto,


o braço armado do movimento conseguiu derrotar as tropas do
reino. Iniciava-se naquele momento a insurreição.

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Embarque do príncipe regente de Portugal, Dom João, e toda a Família Real, para o Brasil, no
cais de Belém. Henri L’Evêque, 1815.
A bandeira da Insurreição Pernambucana de 1817, cujas estrelas representam
Dessa forma, D. João VI não encontrou outra saída a não ser Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, inspirou a atual bandeira pernambucana.
elevar o Brasil a Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em Bem preparados, os rebeldes tomaram rapidamente o governo
1815. O Rio de Janeiro, que era a capital do Império Português “de e proclamaram uma república. Instalaram um governo provisório,
fato”, passava a ser também capital do Império “de direito”. e adotaram uma Lei Orgânica, que assegurava liberdade de
Para os habitantes do Brasil, nenhuma mudança significativa comércio, de imprensa e religião, promovia a anistia fiscal dos
foi observada com essa medida. Já os habitantes de Portugal, agora grandes fazendeiros, aumentava o soldo dos militares e suspendia
relegados “de direito” a um papel secundário no Império Português, tributos sobre produtos essenciais para o povo, medida que atraiu
ficaram enfurecidos diante do fato de ver seu rei governar o reino à a simpatia popular para a revolução. Ficou ainda estabelecido que
distância, da antiga colônia. Suas reivindicações foram ignoradas, seria convocada uma Assembleia Constituinte para redigir uma
sua economia encontrava-se em colapso, os abusos dos ingleses Carta Magna. O governo provisório duraria até a conclusão dos
eram cada vez maiores. Os portugueses estavam sendo dominados trabalhos da Assembleia.
em seu próprio reino. O sucesso inicial do movimento fez com que ele se espalhasse
para outras províncias, como Paraíba e Rio Grande do Norte.
1.4 A Insurreição Pernambucana de 1817 Entretanto, a reação joanina também foi rápida: mobilizando tropas
A opressão fiscal da Corte no Nordeste deixava inúmeros de Salvador e da capital, a Corte conseguiu controlá-lo em menos
fazendeiros e comerciantes da região descontentes. Além disso, de três meses. A isso se seguiu uma devassa, que condenou à morte
a região enfrentava uma séria crise no campo: a acentuada queda suas principais lideranças, como o padre Miguelinho, Domingos
José Martins e Theotônio Jorge.
60 HISTÓRIA I
Módulo 10

A fragilidade do movimento ficou evidenciada na pouca parti- III. A Família Real portuguesa foi transferida para o Brasil para
cipação popular, em virtude de suas reduzidas propostas de cunho resolver os problemas causados pelo fim da Guerra do Paraguai.
social. Nenhuma determinação acerca da abolição da escravidão IV. A abertura dos portos às nações amigas beneficiou, em especial,
a França e a Espanha, parceiras econômicas de Portugal.
foi tecida, o que impossibilitou que grandes contingentes de negros
fossem usados como força militar. É necessário ressaltar que a
Assinale a alternativa correta:
Coroa pacificou a região, mas não a controlou. Elite rural e povo
ainda estavam descontentes com os portugueses e com a situação (A) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.
econômica vivida pela província. Pernambuco ainda seria, nos anos (B) Apenas as afirmações I, II e IV são verdadeiras.
seguintes, um dos principais focos de oposição do Brasil. (C) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.
(D) Apenas as afirmações I, II, e III são verdadeiras.
(E) Todas as afirmações são verdadeiras.

Carlota Joaquina: arrogante 02 (IFSC) Em 1806, o imperador francês Napoleão Bonaparte


ou decidida? anunciou o Bloqueio Continental à Inglaterra, estabelecendo que
É frequente a associação nenhum país europeu poderia comercializar com os ingleses.

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da esposa espanhola de O rei de Portugal, pressionado pela onda liberal da Revolução
D. João VI a uma mulher Francesa e apoiado pela Inglaterra, fugiu para a colônia portu-
grosseira, vulgar, perversa, guesa, na América, para esperar a situação se normalizar.
inculta e amoral. No entanto,
Com relação à presença da Família Real portuguesa no Brasil
é correto afirmar que:
é importante lembrar que
essa é uma visão construída (A) A Revolução Farroupilha, ocorrida no sul do Brasil, tinha como
ou por franceses do século principal objetivo expulsar a Corte portuguesa e proclamar a
XIX – que criticavam os independência da colônia americana.
costumes ibéricos – ou por (B) Salvador foi elevada à condição de capital do Reino Unido de
brasileiros republicanos que Portugal, Brasil e Algarves, tornando-se o maior centro político,
procuraram desqualificar a econômico e cultural da colônia.
Carlota Joaquina – Autor e data (C) A presença da Corte portuguesa no Brasil, exercendo um
monarquia luso-brasileira. desconhecidos.
governo absolutista e conservador, contribuiu para retardar a
Alguns episódios podem relativizar esta imagem. Durante Independência do Brasil, pois as melhorias administrativas e
o domínio francês na Espanha, ela conseguiu abolir a Lei Sálica econômicas deixaram a elite liberal brasileira satisfeita.
– que impedia a ascensão de mulheres ao poder – para tentar (D) Chegando ao Brasil, D. João VI tratou logo de cumprir o
reaver a Coroa espanhola para sua família. No Brasil, Carlota prometido aos ingleses e decretou a abertura dos portos, em
Joaquina deu abrigo na Chácara de Botafogo, onde residia, a 1808, para as nações amigas comercializarem diretamente
com a colônia.
uma mulher abandonada pelo marido em um asilo de pobres.
(E) Em 1821, os franceses foram expulsos de Portugal e D. João VI
Em um outro episódio interessante, a espanhola repreendeu foi chamado para assumir o trono português, mas ele preferiu
um homem que açoitava sua escrava publicamente – parece ficar no Brasil. Esse fato ficou conhecido como “Dia do Fico”.
que a cativa havia roubado 250 gramas de açúcar – e concedeu
liberdade à negra. 03 (ENEM)
Independente da visão que se construa sobre ela, Carlota A transferência da corte trouxe para a América portuguesa
Joaquina foi, muito provavelmente, uma mulher de tempera- a Família Real e o governo da Metrópole. Trouxe também, e
mento forte e que oscilava entre a extrema generosidade e o sobretudo, boa parte do aparato administrativo português. Perso-
rigor no trato com as pessoas à sua volta. nalidades diversas e funcionários régios continuaram embarcando
para o Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes
após o ano de 1808.
NOVAIS, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (org.). História da vida privada no Brasil.
São Paulo: Cia. das Letras, 1997.

01 (IFSC) Em 1808, a Família Real portuguesa chegou ao Brasil. Os fatos apresentados se relacionam ao processo de independência
Enquanto esteve na Colônia, uma série de transformações aconte- da América portuguesa por terem:
ceram. Sobre esse período, leia e analise as afirmações abaixo:
(A) incentivado o clamor popular por liberdade.
I. Algumas atividades antes proibidas passaram a ser liberadas (B) enfraquecido o pacto de dominação metropolitana.
na Colônia, como a tipografia. (C) motivado as revoltas escravas contra a elite colonial.
II. Ainda que a Família Real tenha se transferido para a Colônia (D) obtido o apoio do grupo constitucionalista português.
também em função da política expansionista de Napoleão (E) provocado os movimentos separatistas das províncias.
Bonaparte, artistas franceses foram convidados a virem ao Brasil.
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil HISTÓRIA I 61
Módulo 10

04 (UERN) III. O período entre a abdicação de Pedro I e a regência efetiva de


...é comumente, datado a partir de 1808, com a chegada da Pedro II foi caracterizado pela consolidação do processo eman-
cipatório, pelo desenvolvimento econômico com a produção
Família Real portuguesa ao Brasil. A verdade dessa proposição
do café e pela estabilidade política marcada pela ausência de
reside, em especial, na montagem pelo príncipe, e depois rei, João
conflitos armados.
VI, de um aparelho governativo no Brasil. Tal criação dá-se, por um
lado, por meio da transferência de órgãos portugueses e, de outro, Quais estão corretas?
com o surgimento, no Rio de Janeiro, de estruturas típicas de uma
capital, com bibliotecas, um jornal, instituições de fomento. Ao (A) Apenas I. (D) Apenas II e III.
mesmo tempo, são substituídos os institutos de caráter colonial, (B) Apenas II. (E) I, II e III.
como os monopólios e as restrições industriais e comerciais. Por (C) Apenas I e III.
fim, todo o processo é coroado pela assinatura de dois tratados
07 (ENEM)
com a Inglaterra, um de Aliança e Amizade e outro de Comércio
Quando a Corte chegou ao Rio de Janeiro, a Colônia tinha
e Navegação, em 1810.
acabado de passar por uma explosão populacional. Em pouco mais
MONTEIRO, Hamilton de Mattos. In: LINHARES, Maria Yedda. História Geral do Brasil. 14. ed. de cem anos, o número de habitantes aumentara dez vezes.
Rio de Janeiro: Elsevier, 1990. p. 129 (adaptado).
GOMES, L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta
O trecho anterior se refere ao processo de: enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil.
São Paulo: Planeta do Brasil, 2008 (adaptado).

(A) abolição da escravidão. A alteração demográfica destacada no período teve como causa a
(B) independência do Brasil. atividade:
(C) descolonização da Região Sul do país.
(D) desenvolvimento industrial no Brasil. (A) cafeeira, com a atração da imigração europeia.
(B) industrial, com a intensificação do êxodo rural.
05 (CEFET-RJ) As guerras napoleônicas e a invasão francesa da (C) mineradora, com a ampliação do tráfico africano.
Península Ibérica (1807-1808) resultaram na transferência da Corte (D) canavieira, com o aumento do apresamento indígena.
portuguesa e de setores dirigentes do Estado português para o Brasil, (E) manufatureira, com a incorporação do trabalho assalariado.
criando uma situação inédita para a principal colônia portuguesa.
Entre as mudanças trazidas, assinale a opção que expressa a opção 08 (PUC-Rio) Analise as afirmativas abaixo que apresentam
verdadeira: acontecimentos referidos à política da Corte portuguesa durante
sua permanência no Brasil entre 1808 e 1821:
(A) A transformação do Rio de Janeiro em sede da monarquia
portuguesa trouxe uma série de benefícios para esta cidade, I. Como expressão da relação de poder assimétrica entre os
como a criação de indústrias, centros culturais e universidades. soberanos britânico e português, os tratados de 1810 impunham
(B) A transferência da sede do Império Português para o Brasil ao governo de D. João no Rio de Janeiro, entre outras decisões,
era um projeto existente desde o século XVII, prevendo a a limitação do tráfico negreiro intercontinental às colônias de
modernização econômica da colônia e a gradativa abolição da Portugal na África e o compromisso de abolir gradualmente o
escravidão. trabalho escravo na América portuguesa.
(C) A vinda da Família Real democratizou de certa forma as relações II. A criação do primeiro Banco do Brasil, da Impressão Régia, da
políticas existentes no Brasil, abrindo caminho para uma maior Escola de Medicina, das Academias Militar e de Marinha, do Real
participação de camadas populares livres na vida política. Horto, da Real Biblioteca e inúmeras outras medidas, assim como
(D) A abertura dos portos, em 1808, e os tratados comerciais a conquista da Guiana Francesa e a ocupação da Banda Oriental,
assinados em 1810 resultaram, na prática, no fim do exclusivo revelavam o projeto político da Corte joanina de “criar um novo
colonial português, em benefício dos interesses econômicos império” na América, tendo como sede a cidade do Rio de Janeiro.
ingleses. III. Ao revogar o alvará de 1785 que proibia qualquer atividade
manufatureira na Colônia americana, com exceção da fabri-
06 (UFRGS) O processo de formação do Estado Nacional brasi- cação de panos grossos para a vestimenta dos escravos, o
leiro, no século XIX, envolveu uma série de fatores políticos, sociais príncipe-regente D. João propiciou o surgimento de inúmeros
e culturais. estabelecimentos fabris em diferentes pontos do Reino do Brasil,
deflagrando o primeiro grande surto industrial do país, apesar
Considere as afirmações abaixo, sobre esse processo: da permanência do trabalho escravo.
IV. A Revolução Pernambucana de 1817 teve como uma de suas
I. A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, motivações a reação aos privilégios concedidos por D. João aos
ocasionou o completo desmantelamento das elites coloniais, comerciantes, burocratas e proprietários de escravos e terras
que foram retiradas da administração política. do Rio de Janeiro e áreas próximas, o que lhes possibilitara
II. A lei de 07 de novembro de 1831, conhecida como Lei Feijó, prosperar, acumular poder e ganhar prestígio. Para os revolu-
declarou livres os escravos importados para o Brasil, impondo cionários de 1817, o Rio de Janeiro se transformara em uma
penas aos mercadores responsáveis pela entrada desses escravos “nova Lisboa”, dominada por “portugueses” que oprimiam os
no território brasileiro. “brasileiros” de outras partes do Reino do Brasil.
62 HISTÓRIA I
Módulo 10

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.


(B) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. 01 H14 (UFSM) A década de 1990 foi considerada muito profícua
(C) se somente as afirmativas I e IV estiverem corretas. para o cinema brasileiro. Alguns dos filmes nela produzidos alcançaram
(D) se somente as afirmativas II, III e IV estiverem corretas. grande sucesso em razão da qualidade estética, do enredo e da opção
(E) se somente as afirmativas I, II e IV estiverem corretas. por temas de fácil compreensão pelo grande público. Em 1995, o
longa-metragem Carlota Joaquina: princesa do Brazil, dirigido por Carla
09 (PUC-RS) O período que antecedeu a Independência do Brasil Camurati e estrelado por reconhecidos atores brasileiros, como Marco
foi marcado pela presença da Coroa portuguesa em sua Colônia Nanini, Marieta Severo e Ney Latorraca, entre outros, foi considerado
americana. Sobre esse processo, é incorreto afirmar: uma “comédia histórica” de bom nível, embora tenha provocado
muitos debates sobre a opção narrativa adotada. O filme ora referido
(A) A primeira medida de D. João, o príncipe regente de Portugal, tem como plano de fundo o seguinte episódio da história brasileira:
ao desembarcar no Brasil, foi assinar o decreto que estabelecia
a abertura dos portos brasileiros às nações amigas (1808), (A) A chegada da esquadra portuguesa à costa brasileira, em 1500.
atendendo, assim, aos interesses da Inglaterra, maior parceira (B) A chegada da Família Real portuguesa e da Corte ao Brasil, em
econômica da Coroa lusitana. 1808, além de aspectos do cotidiano da realeza.
(B) Em 1810, D. João assinou tratado com a Inglaterra, estabe- (C) A presença do imperador Pedro I na Bahia e suas dificuldades
lecendo que os produtos ingleses importados pelo Brasil na implantação do Império.
pagariam apenas 15% de tributos alfandegários nos portos (D) A partida de D. João IV, em direção a Portugal, em obediência
brasileiros, enquanto os portugueses pagariam 16%, e os dos a determinações da Corte portuguesa.
demais países, 24%. (E) A invasão dos territórios brasileiros, durante as guerras napo-
(C) A Coroa portuguesa tomou várias medidas para modernizar a leônicas, pelo general Junot.
sua colônia americana, promovendo maior abertura comercial,
fazendo investimentos em infraestrutura e no desenvolvimento 02 H4 (MACKENZIE)
cultural do Rio de Janeiro, o que deu grande dinamismo à

Domínio público
Domínio público
cidade.
(D) Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido a
Portugal e Algarve, deixando, assim, de ser oficialmente uma
colônia, decisão tomada por D. João devido ao receio de que o
Brasil seguisse o caminho das colônias espanholas e se separasse
definitivamente da Metrópole.
(E) Em 1820, foi deflagrada a Revolução do Porto que, entre outras
medidas, exigiu o retorno do Brasil à condição de colônia
portuguesa e a volta de D. João a Portugal, a fim de reestabelecer
o absolutismo nesse país.

10 (CEFET-MG)
Com a vinda da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808, não só os
portos se abriram para as Nações Amigas, mas também as portas
Napoleão em seu estúdio, Retrato de D. João VI, Debret, 1817.
para a entrada de estrangeiros. [...] Comerciantes, especialmente Jacques-Louis David, 1812.
ingleses, artistas franceses e imigrantes, além de viajantes natura-
listas de várias regiões do Velho Mundo, têm permissão de estudar Neste ano, em que comemoramos as relações Brasil-França, veri-
o que o país desconhecido parecia prometer em novidades. Esses ficamos que as interfaces que ligam as duas nações são marcantes
visitantes serão autores de um novo descobrimento do Brasil [...]. ao longo de toda a nossa história. A presença da Família Real
portuguesa no Brasil, em 1808, motivou, entre outros eventos, a
LISBOA, Karen Macknow. A Nova Atlântica de Spix e Martius: natureza e civilização na Viagem pelo vinda da Missão Artística Francesa, em 1816, porque:
Brasil (1817-1820). São Paulo: Hucitec, 1997. p. 29.

(A) o estilo neoclássico trazido pelos artistas franceses traduzia


O texto refere-se aos viajantes como autores de um “novo desco-
o modelo ideal de civilização, de acordo com os padrões da
brimento do Brasil” porque eles teriam:
classe dominante europeia, sendo essa a imagem que o governo
português desejava transmitir, nesse momento, do Brasil.
(A) denunciado a condição degradante dos indígenas da América,
(B) a arte acadêmica, fruto da Missão Francesa chefiada por
dada a expropriação de suas terras.
Joaquim Lebreton, tinha, como objetivo, alterar o gosto e
(B) apontado a necessidade de emancipação política brasileira
a cultura nacional, ainda marcadamente influenciada pela
diante dos interesses colonialistas de Portugal.
opulência do Barroco e pela tradição indígena.
(C) influenciado as práticas agrícolas brasileiras por comparti-
(C) a arte acadêmica, afastando-se dos motivos religiosos e
lharem tecnologias modernizantes dos Estados Unidos.
exaltando o poder civil, as datas e os personagens históricos,
(D) divulgado as informações sobre o país ao transformarem suas
agradava mais às classes populares nacionais, ansiosas por
anotações de viagens em relatos publicados na Europa.
imitarem os padrões europeus.
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil HISTÓRIA I 63
Módulo 10

(D) somente artistas franceses poderiam retratar, com exatidão e 05 H15 (ENEM)
competência, a paisagem e os costumes brasileiros, modificados Eu, o Príncipe Regente, faço saber aos que o presente Alvará
com a vinda da Família Real para a Colônia. virem: que desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e
(E) era necessário criar, na colônia, uma Academia Real de Belas
sendo um dos mananciais dela as manufaturas e a indústria, sou
Artes, a fim de cultivar e estimular, nos trópicos, a admiração
pelos padrões intelectuais e estéticos portugueses, reconheci- servido abolir e revogar toda e qualquer proibição que haja a este
damente superiores. respeito no Estado do Brasil.
“Alvará de liberdade para as indústrias (1º de Abril de 1808)”. In: BONAVIDES, P.; AMARAL, R.
03 H15 (UECE) Leia o fragmento a seguir atentamente: Textos políticos da História do Brasil. vol. 1. Brasília: Senado Federal, 2002 (adaptado).

Em seguida, veio a mãe de D. João, em seus 73 anos, a rainha O projeto industrializante de D. João, conforme expresso no alvará,
Maria I. Dizem que quando a carruagem corria para as docas, ela não se concretizou. Que características desse período explicam
teria gritado: não vá tão depressa, pensarão que estamos fugindo. esse fato?
Ao chegar ao porto, ela teria se recusado a descer...
(A) A ocupação de Portugal pelas tropas francesas e o fechamento
WILCKEN, Patrick. Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro (1808-1821). das manufaturas portuguesas.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 44-46.
(B) A dependência portuguesa da Inglaterra e o predomínio
industrial inglês sobre suas redes de comércio.
O episódio narrado acima está relacionado com a: (C) A desconfiança da burguesia industrial colonial diante da
chegada da Família Real portuguesa.
(A) fuga da Família Real portuguesa para a colônia brasileira. (D) O confronto entre a França e a Inglaterra e a posição dúbia
(B) chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro. assumida por Portugal no comércio internacional.
(C) chegada da Família Real portuguesa a Salvador, primeiro porto (E) O atraso industrial da Colônia provocado pela perda de
após a fuga de Portugal. mercados para as indústrias portuguesas.
(D) fuga da Família Real portuguesa de Recife, antes do desem-
barque no Rio de Janeiro. 06 H1 (UECE)

04 H13 (FUVEST) No dia 17 de janeiro de 1808, a Real Casa de Bragança chegou


ao Rio de Janeiro, após 45 dias navegando pelos mares do Atlântico
Fui à terra fazer compras com Glennie. Há muitas casas inglesas,
Sul, com rápida estada em Salvador.
tais como celeiros e armazéns não diferentes do que chamamos
na Inglaterra de armazéns italianos, de secos e molhados, mas, AZEVEDO, Francisca L. Carlota Joaquina na Corte do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 69.

em geral, os ingleses aqui vendem suas mercadorias em grosso a


O principal resultado da transferência da Corte Portuguesa para
retalhistas nativos ou franceses. (...) As ruas estão, em geral, repletas
o Brasil foi:
de mercadorias inglesas. A cada porta as palavras Superfino de
Londres saltam aos olhos: algodão estampado, panos largos, louça (A) a abertura dos portos e o consequente rompimento do Pacto
de barro, mas, acima de tudo, ferragens de Birmingham, podem-se Colonial.
obter um pouco mais caro do que em nossa terra nas lojas do Brasil. (B) a autonomia política e econômica do Brasil em relação a
Portugal.
GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil. São Paulo, Edusp, 1990, p. 230
(publicado originalmente em 1824) (adaptado). (C) o colapso do sistema econômico brasileiro baseado na mão de
obra escrava.
Esse trecho do diário da inglesa Maria Graham refere-se à sua estada (D) o fim do sistema colonial e a instauração do regime republicano
no Rio de Janeiro em 1822 e foi escrito em 21 de janeiro deste mesmo no Brasil.
ano. Essas anotações mostram alguns efeitos:
07 H4 (ENEM-PPL)
(A) do Ato de Navegação, de 1651, que retirou da Inglaterra o
controle militar e comercial dos mares do norte, mas permitiu Texto I
sua interferência nas colônias ultramarinas do sul. O príncipe D. João VI podia ter decidido ficar em Portugal.
(B) do Tratado de Methuen, de 1703, que estabeleceu a troca regular Nesse caso, o Brasil com certeza não existiria. A Colônia se
de produtos portugueses por mercadorias de outros países fragmentaria, como se fragmentou a parte espanhola da América.
europeus, que seriam também distribuídas nas colônias.
Teríamos, em vez do Brasil de hoje, cinco ou seis países distintos.
(C) da abertura dos portos do Brasil às nações amigas, decretada
por D. João em 1808, após a chegada da Família Real portuguesa José Murilo de Carvalho
à América.
(D) do Tratado de Comércio e Navegação, de 1810, que deu início Texto II
à exportação de produtos do Brasil para a Inglaterra e eliminou Há no Brasil uma insistência em reforçar o lugar-comum
a concorrência hispano-americana. segundo o qual foi D. João VI o responsável pela unidade do país.
(E) da ação expansionista inglesa sobre a América do Sul,
Isso não é verdade. A unidade do Brasil foi construída ao longo do
gradualmente anexada ao Império Britânico, após sua vitória
sobre as tropas napoleônicas, em 1815. tempo e é, antes de tudo, uma fabricação da Coroa. A ideia de que
64 HISTÓRIA I
Módulo 10

era preciso fortalecer um Império com os territórios de Portugal e 08 H11 (UPE-SSA)


Brasil começou já no século XVIII. (Evaldo Cabral de Mello) Em 1808, a Família Real portuguesa, fugindo do cerco
“1808 – O primeiro ano do resto de nossas vidas”. Folha de S. Paulo, 25 nov. 2007 (adaptado). napoleônico, transferiu-se para o Brasil que, de colônia, se tornou
sede da monarquia e do vice-reino. Os treze anos durante os quais
Em 2008, foi comemorado o bicentenário da chegada da Família a Corte permaneceu no Rio de Janeiro tiveram grande importância
Real portuguesa ao Brasil. Nos textos, dois importantes historia- política e econômica e foram seguidos pela declaração de indepen-
dores brasileiros se posicionam diante de um dos possíveis legados dência do Brasil em 1822.
desse episódio para a história do país. O legado discutido e um
argumento que sustenta a diferença do primeiro ponto de vista para OLIVEN, Rubem George. “Cultura e modernidade no Brasil”.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/spp/v15n2/8571.pdf>. (adaptado).
o segundo estão associados, respectivamente, em:
Uma das principais características socioeconômicas desse período
(A) Integridade territorial – Centralização da administração régia
na Corte. foi a(o):
(B) Desigualdade social – Concentração da propriedade fundiária
no campo. (A) diminuição do fluxo de mercadorias.
(C) Homogeneidade intelectual – Difusão das ideias liberais nas (B) início do ciclo econômico da borracha.
universidades. (C) abertura dos portos ao comércio exterior.
(D) Uniformidade cultural – Manutenção da mentalidade escravista (D) ampliação das relações bilaterais com os EUA.
nas fazendas. (E) elevação do Brasil à condição de protetorado da Inglaterra.
(E) Continuidade espacial – Cooptação dos movimentos separa-
tistas nas províncias.

09 H25 (UEMA) O mapa abaixo representa a divisão geopolítica europeia no início do século XIX,
destacando a estratégia militar napoleônica conhecida como Bloqueio Continental.

A conquista da Europa
França e possessões diretas
A
EG
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TIC países dependentes
NO

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O vitórias de Napoleão
AN
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derrotas de Napoleão
GRÃ-BRETANHA
Bloqueio Continental
DINAMARCA
Tilsit
IA 1807
Londres HOLANDA ÁL PRÚSSIA
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ES
W GRÃO–DUCADO
Iena DE VARSÓVIA
1806
Amiens Waterloo Leipzig
1813
Paris
Austerlitz
BE

Vale 1805
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SUÍÇA
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Viena
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REINO ÁUSTRIA
FRANÇA DA ITÁLIA
A
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Vitória Bayona
Q

Eb ETRÚRIA
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Arapiles ro Córsega MAR NEGRO


Lisboa Elba
L
GA

Madri CATALUNHA Ajácio


Roma
U

1812 R
RT

ESPANHA NÁ EIN
PO

es PO O D
lear LE E
Cádiz Bailén s Ba S Istambul
1806 Ilha Sardenha

MAR Sicilia IMPÉRIO TURCO


MEDIT
Trafalgar ERRÂ
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1805

Rodes
a
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MARROCOS ARGÉLIA
Chipre
n
Tu

Creta

A linha de Bloqueio Continental que se estende de Portugal até a Noruega, representada no mapa,
revela a intenção francesa de:

(A) integrar a economia europeia, com a isenção das tarifas alfandegárias.


(B) fortalecer a França, garantindo-lhe a livre circulação pelos portos britânicos.
(C) desenvolver a economia espanhola, consolidando seu monopólio comercial na Península Ibérica.
(D) isolar a Grã-Bretanha, impedindo-lhe o acesso a importantes mercados da Europa continental.
(E) inibir o comércio de escravos oriundos de portos africanos, situados ao norte da Linha do Equador.
A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil HISTÓRIA I 65
Módulo 10

O comércio [...] progrediu muito depois que a cidade tornou-se


residência real [...]
01 (PUC-Rio) Os ingleses têm aberto muitos cafés no Rio de Janeiro, uma
O Rio de Janeiro é a capital do Brasil há bastante tempo, muito novidade, que tenho certeza, será bem acolhida. De fato, desde
antes de a Família Real deixar Lisboa. Traçarei uma breve descrição março de 1808, toda a cidade vem passando por transformações e
dessa cidade a partir do que pude apurar durante a minha estada. recebendo melhorias.
(...) O comércio (...) progrediu muito depois que a cidade tornou-se O’NEILL, Conde Thomas, 1809, apud FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Outras visões do Rio de Janeiro
residência real (...) Os ingleses têm aberto muitos cafés no Rio Colonial – antologia de textos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. p. 310-320.

de Janeiro, uma novidade, que tenho certeza, será bem acolhida.


A descrição do inglês Thomas O’Neill destaca algumas das trans-
De fato, desde março de 1808, toda a cidade vem passando por formações ocorridas desde a chegada da Corte portuguesa ao Rio
transformações e recebendo melhorias. de Janeiro no ano de 1808.
O’NEILL, Conde Thomas, 1809, apud FRANÇA, Jean Marcel Carvalho, Outras visões do Rio de Janeiro
Colonial – Antologia de Textos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000. p. 310-320.
a. Explique por que, a partir da abertura dos portos (1808),
ocorreu a preponderância dos ingleses nas transações comer-
De acordo com seus conhecimentos, relacione a abertura dos portos ciais com o Brasil.
decretada em 1808 à abertura de “muitos cafés no Rio de Janeiro”, b. Cite duas transformações culturais ocorridas na cidade do Rio
realizada principalmente por ingleses. de Janeiro durante o Período Joanino (1808-1821).

02 (UECE) Leia o seguinte texto: 05 (PUC-PR) Discutiu-se muito, no segundo semestre de 2015, no
Brasil, a problemática do aumento dos impostos devido ao déficit de
Na manhã de 29 de novembro de 1807, circulou a informação 30 milhões nas contas públicas. Nesse debate é possível visualizar
de que a rainha, o príncipe regente e toda a Corte estavam fugindo recorrências a episódios da história política brasileira, conforme
para o Brasil, sob a proteção da Marinha Britânica. Nunca algo observamos na charge a seguir:
semelhante tinha acontecido na história de qualquer país europeu,

Disponível em: <www.rb.am.br/wp-content/uploads/


2015/04/tiradentes-charge.jpg>. Acesso em: 03 out. 2015.
rei nenhum havia ido tão longe a ponto de cruzar um oceano para
viver e reinar do outro lado do mundo.
Super Interessante.

No que diz respeito à chegada da Família Real ao Brasil, em 1808,


apresente duas consequências que representaram significativa
relevância no sentido de modificar o rumo histórico do Brasil.

03 (UNESP)
A transformação do Rio de Janeiro em Corte real começou
apenas dois meses antes da chegada do príncipe regente, quando
notícias do exílio real – tão “agradáveis” quanto “chocantes”, cheias de
“sustos e alegrias” – foram recebidas. Entretanto, como descobriram A charge faz menção:
os residentes da cidade, os preparativos iniciais para acomodar Dom
João e os exilados marcaram apenas o começo da transformação do (A) à Conjuração Baiana, evento que também ficou conhecido
como Rebelião dos Alfaiates, na qual os revoltosos, além de
Rio de Janeiro em Corte real, pois o projeto de construir uma “nova
questionarem os altos impostos, buscaram fundar um governo
cidade” e capital imperial perdurou por todo o reinado brasileiro do monárquico no Brasil independente de Portugal.
príncipe regente. Construir uma corte real significava construir uma (B) à marca do pensamento católico no contexto do Brasil Colonial,
cidade ideal; uma cidade na qual tanto a arquitetura mundana como a que deu base ideológica para criminalizar e punir os políticos
monumental, juntamente com as práticas sociais e culturais dos seus corruptos.
residentes, projetassem uma imagem inequivocamente poderosa e (C) à Revolução Pernambucana, que eclodiu devido ao aumento
virtuosa da autoridade e do governo reais. de impostos que foi decretado com a chegada da família real
portuguesa ao Brasil em 1808. Esse movimento também foi
SCHULTZ, Kirsten. Versalhes tropical, 2008 (adaptado). marcado pela luta pelo fim da escravidão.
(D) à Conjuração Mineira, revolta que ocorreu em Minas Gerais
Explique o principal motivo da transferência da Corte portuguesa
devido à derrama declarada pela Coroa portuguesa e aos preços
para o Brasil, em 1808, e indique duas mudanças importantes pelas
abusivos que eram cobrados pelas mercadorias importadas.
quais o Rio de Janeiro passou para receber e abrigar a Família Real.
(E) à restrição da liberdade de imprensa, no contexto do século
XIX, que dificultou a emergência de movimentos contrários à
04 (PUC-Rio)
excessiva cobrança de impostos pela Coroa portuguesa.
O Rio de Janeiro é a capital do Brasil há bastante tempo, muito
antes de a Família Real deixar Lisboa. Traçarei uma breve descrição
dessa cidade a partir do que pude apurar durante a minha estada. [...]
66 HISTÓRIA I
Módulo 10

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