Sei sulla pagina 1di 14

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.

0000

A C Ó R D Ã O
SBDI­2
EMP/ds

I   ­   RECURSO   ORDINÁRIO.   AÇÃO


RESCISÓRIA. PENHORA SOBRE IMÓVEL. BEM
DE   FAMÍLIA.   LEI   Nº   8.009/1990.
VIOLAÇÃO   LITERAL   DE   LEI.
CONFIGURAÇÃO.  A   proteção   da   Lei   nº
8.009/1990 decorre do direito social
à moradia, previsto no artigo 6º da
Constituição Federal, sendo oponível
em   qualquer   fase   do   processo   de
execução.   Na   decisão   rescindenda,   o
Juízo da Vara do Trabalho manteve a
penhora   sobre   bem   imóvel,   ao
fundamento de que o proprietário não
demonstrou que o bem constrito era o
único   de   sua   propriedade,
ressaltando, ainda, que não restaram
observados   os   requisitos   do   artigo
1.711   do   Código   Civil.   Todavia,   é
inequívoca   a   distinção   do   bem   de
família decorrente de previsão na Lei
nº   8.009/1990,   independente   de
estipulação   pelo   proprietário   e
respectivo   registro   no   Cartório
Imobiliário,   do   bem   de   família
voluntário, previsto no Código Civil,
em   que   a   entidade   familiar   destina
parte do seu patrimônio para tal fim.
Por   sua   vez,   a   referida   Lei   nº
8.009/1990   só   condiciona   a   proteção
legal ao fato de o imóvel ser usado
como   moradia   permanente   da   entidade
familiar,   sendo  contra   legen  a
exigência   de   prova   sobre   a
inexistência   de   outros   bens   imóveis
de   propriedade   do   devedor.
Precedentes da Subseção.
Recurso   ordinário   conhecido   e
provido.

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.2

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

II – AÇÃO CAUTELAR EM APENSO. "A ação
cautelar não perde o objeto enquanto
ainda estiver pendente o trânsito em
julgado da ação rescisória principal,
devendo o pedido cautelar ser julgado
procedente, mantendo­se os efeitos da
liminar   eventualmente   deferida,   no
caso   de   procedência   do   pedido
rescisório   ou,   por   outro   lado,
improcedente,   se   o   pedido   da   ação
rescisória   principal   tiver   sido
julgado   improcedente"   (Orientação
Jurisprudencial   nº   131   da   SBDI­2   do
TST).   Assim,   no   caso   em   exame,
considerando   o   resultado   do   recurso
ordinário, impõe­se a procedência da
ação cautelar.
Ação cautelar julgada procedente.

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Recurso   Ordinário   n°  TST­RO­1113000­33.2010.5.02.0000,   em   que   é
Recorrente ROSA NAIR GIARELLI e Recorrida NAIR RODRIGUES DE ARAÚJO.

O   Eg.   TRT   da   2ª   Região,   pelo   acórdão   de   fls.


168/171   do   sequencial   nº   2,   julgou   a   pretensão   desconstitutiva
improcedente.
A Autora interpôs recurso ordinário (fls. 174/185
do sequencial nº 2).
Admitido   o   apelo   pelo   despacho   de   fl.   187   do
sequencial nº 2.
Contrarrazões às fls. 193/230 do sequencial nº 2.
Dispensada a remessa dos autos à D. Procuradoria­
Geral do Trabalho.
Determinei o apensamento da ação cautelar nº TST­
CauInom­72061­82.2010.5.00.0000   a   este   processo,   para   fim   de
julgamento em conjunto.
É o relatório.

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.3

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

V O T O

I – CONHECIMENTO.
Presentes   os   requisitos   de   admissibilidade
recursal:   tempestivo   (acórdão   recorrido   publicado   em   28.10.2010   e
apelo interposto em 4.11.2010 – fl. 187 do sequencial nº 2), regular
a representação processual (fl. 19 do sequencial nº 2) e dispensado
o pagamento das custas processuais (fl. 171 do sequencial nº 2).
Conheço do recurso ordinário.

II   –   PRELIMINAR   DE   EXTINÇÃO   DO   PROCESSO,   SEM


RESOLUÇÃO DE MÉRITO, SUSCITADA PELA RÉ POR AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO
DAS PEÇAS.
A   Ré,   em   contrarrazões,   alega   que   "é   de   se
verificar   que   a   patrona   da   recorrente   limitou­se   apenas   em   juntar
cópia   simples   de   todos   os   documentos,   e   não   cópias   devidamente
autenticadas, não se podendo ter certeza da veracidade dos aludidos
documentos" (fl. 203 do sequencial nº 2).
Sem razão.
A   decisão   apontada   como   rescindenda   constante   no
sequencial nº 9 e a certidão do Diretor de Secretaria da 4ª Vara do
Trabalho de São Paulo de que, em 14.8.2008, decorreu o prazo de 8
(oito)   dias   para   interposição   de   agravo   de   petição   em   face   da
sentença   rescindenda   à   fl.   320   do   sequencial   nº   1   encontram­se
autenticadas   por   Tabelião   de   Notas,   razão   pela   qual  rejeito  a
preliminar de extinção, sem resolução de mérito, por incidência da
Orientação Jurisprudencial nº 84 da SBDI­2.

III   –   PRELIMINAR   DE   IMPOSSIBILIDADE   JURÍDICA   DO


PEDIDO.
A Ré suscita a impossibilidade jurídica do pedido
de   desconstituição   da   sentença   em   que   rejeitados   os   embargos   à
adjudicação, na esteira da Súmula nº 399 do TST.
Não assiste razão à Ré.
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.4

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

O   óbice   do   item   I   da   Súmula   nº   399   do   TST   está


relacionado   à   decisão   homologatória   de   adjudicação,   pois,   nessa
hipótese,   justamente   pelo   pronunciamento   judicial   limitar­se   a
homologar o requerimento de adjudicação, a decisão possui natureza
interlocutória,   meramente   executória,   não   se   enquadrando   como
sentença de mérito, nos termos do "caput" do artigo 485 do CPC.
No   caso   em   análise,   todavia,   o   pronunciamento
judicial que se pretende desconstituir enfrentou questão de mérito,
qual   seja   o   enquadramento   do   bem   constrito   como   bem   de   família,
razão pela qual inaplicável o óbice do verbete em questão.
Rejeito.

IV – PREJUDICIAL DE DECADÊNCIA.
A  Ré   sustenta  que  a  presente  ação  rescisória  foi
ajuizada fora do prazo previsto no artigo 495 do CPC, na medida em
que "a primeira medida dentre as várias apresentadas pela recorrente
visando desconstituir a penhora realizada sobre seu imóvel, alegando
que   o   mesmo   se   tratava   de   bem   de   família,   foi   apresentada   em
19/07/2002   (doc.   29   ­   fls.   115/132),   ocorrendo   o   seu   trânsito   em
julgado no ano de 2003 (doc. 29 ­ fls. 149/151), (...) restando a
presente ação intempestiva" (fl. 197 do sequencial nº 2).
Mais uma vez sem razão.
O   objeto   da   presente   ação   rescisória   é
desconstituir a decisão do Juízo da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo
em que rejeitados os embargos à adjudicação opostos pela ora Autora
(sequencial nº 9).
De acordo com a certidão do Diretor de Secretaria
do Juízo da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo, o trânsito em julgado
da referida decisão ocorreu em 14.8.2008 (fl. 320 do sequencial nº
1).
Tendo em vista o ajuizamento da ação rescisória em
28.6.2010, é forçoso concluir pela observância do artigo 495 do CPC.
A questão relativa à preclusão da alegação de bem
de família está afeta ao mérito da ação rescisória.
Rejeito.
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.5

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

V – MÉRITO.
Rosa Nair Giarelli ajuizou ação rescisória em face
de Nair Rodrigues de Araújo, com base no inciso V do artigo 485 do
CPC,   objetivando   a   desconstituição   da   sentença   proferida   pela   4ª
Vara do Trabalho de São Paulo em embargos à adjudicação, nos autos
da Reclamação Trabalhista nº 947/99, em que rejeitada a alegação de
bem de família do imóvel constrito.
Aduziu na petição inicial da ação rescisória que o
Juízo da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo, ao rejeitar a alegação de
bem de família, ao fundamento de que o bem penhorado não era o único
imóvel da Executada e de que não observados os requisitos do artigo
1.711 do Código Civil, importou em ofensa aos artigos 1º e 5º da Lei
nº 8.009/1990.
Eis   os   termos   da   decisão   rescindenda   (sequencial
nº 9):

A embargante sustenta a impenhorabilidade do imóvel constrito por


tratar-se de bem de família.
Quanto à arguição de nulidade da penhora e aplicabilidade da Lei nº
8.009/90, entende este Juízo o seguinte:
Para se considerar o imóvel como bem de família, há de se preencher
alguns requisitos, como por exemplo: ser o referido imóvel o único bem de
família; estar registrado como tal na Circunscrição Imobiliária Competente,
conforme artigo 1.711 do Novo Código Civil.
No entanto, não há prova nos presentes autos de que o referido bem
imóvel seja o único do executado. Ademais, é imprescindível o registro na
Circunscrição Imobiliária competente, como tal (bem de família).
O artigo 1.711 do Código Civil, por sua vez, referindo-se ao bem de
família, para isentá-lo da execução por dividas, exige a escritura
instituidora e também o seu registro na Circunscrição Imobiliária.
Ausentes estes pressupostos, não se poderá acolher a existência de
bem de família como obstáculo a constrição.
Nada a modificar.

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.6

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

O   Tribunal   Regional   julgou   improcedente   a


pretensão   desconstitutiva,   consignando   os   seguintes   fundamentos
(fls. 169/171 do sequencial nº 1):

Pretende a autora, por meio desta ação rescisória, com base no art.
836 da CLT c/c art. 485 do CPC, rescindir a sentença proferida pelo MM.
Juízo da 4ª Vara de São Paulo nos autos do processo nº
00947.1999.004.02.00-9. Aponta a ocorrência de violação ao art. 1º da Lei
8.009/90, em razão do não reconhecimento do bem de família e
manutenção da adjudicação formalizada nos autos.
A violação à literal dispositivo de lei consiste na adoção de
entendimento manifestamente contrário à norma tida como vulnerada.
Pontes de Miranda, citado por Manoel Antonio Teixeira Filho, in Ação
Rescisória no Processo do Trabalho, 4ª edição, pág. 245, sustenta que ... ao
juiz da ação rescisória é que cabe dizer se existe ou não existe a regra
consuetudinário, ou o princípio geral de direito ou a regra jurídica
analógica.
O próprio Colendo Tribunal Superior do Trabalho já pacificou o
entendimento de que é necessário haver pronunciamento explícito na
decisão rescindenda acerca do conteúdo da norma tida por violada. Isso
significa que o Órgão julgador deve ter emitido entendimento sobre a
matéria aventada na ação rescisória. Tem-se, portanto, como pressuposto
necessário para que se configure a hipótese do inciso V do art. 485, do
CPC, o prequestionamento estabelecido na Súmula nº 298 do C. TST: :
98 - Ação rescisória. Violação de lei. Prequestionamento.
(Res. 8/1989 - DJ 14.04.1989. Nova redação em decorrência da
incorporação das Orientações Jurisprudenciais nºs 36, 72, 75 e
85, parte final, da SDI-II - Res. 137/2005, DJ 22.08.2005)
I - A conclusão acerca da ocorrência de violação literal de
lei pressupõe pronunciamento explícito, na sentença
rescindenda, sobre a matéria veiculada. (ex-Súmula nº 298 -
Res. 8/1989, DJ 14.04.1989)
II - O prequestionamento exigido em ação rescisória diz
respeito à matéria e ao enfoque específico da tese debatida na
ação e não, necessariamente, ao dispositivo legal tido por
violado. Basta que o conteúdo da norma, reputada como
violada, tenha sido abordado na decisão rescindenda para que se

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.7

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

considere preenchido o pressuposto do prequestionamento. (ex-


OJ nº 72 - inserida em 20.09.2000)
Neste caso observa-se que o Juízo singular concluiu que para se
considerar o imóvel como bem de família, há de se preencher alguns
requisitos, como por exemplo, ser o referido imóvel o único bem de
família; estar registrado como tal na Circunscrição Imobiliária Competente,
conforme artigo 1.711 do Novo Código Civil. (fls. 562 do 2 volume de
documentos).
O pronunciamento necessário exigido na hipótese de pedido de
rescindibilidade da decisão com fundamento no inciso V do art. 485, do
CPC, permite que o órgão jurisdicional competente, em sede de ação
rescisória, avalie se o comando conferido na decisão rescindenda é
manifestamente contrário ao teor da norma destacada.
Dessa forma, não prospera o pedido de corte rescisório da sentença
rescindenda com fundamento na violação da Lei 8009/90. A decisão apenas
considerou alguns requisitos como essenciais para configuração da hipótese
legal, invocando a aplicabilidade do art. 1.711 do Código Civil atual. Não
se discutiu da definição de bem de família prevista na lei invocada pela
Autora (8009/90), não havendo contrariedade ao disposto nessa lei.
Na verdade, o que pretende a Autora, sob a aparência de suposta
violação literal de dispositivo de lei, é demonstrar o desacerto da
interpretação conferida pelo Juízo singular à citada Lei.
De se ressaltar que a decisão rescindenda concluiu pela inexistência
de prova acerca da singularidade do bem objeto da penhora a justificar a
alegação de bem de família, o que por si só já desconfigura a possível
violação literal de dispositivo legal invocada pela Autora.
Assim, não se afigura possível discutir novamente a questão de
impenhorabilidade do bem adjudicado, uma vez que a ação rescisória
fundada em violação à disposição literal da lei não admite o reexame de
provas, conforme dicção da Súmula 410 do C. TST:
410 - Ação rescisória. Reexame de fatos e provas.
Inviabilidade. (Conversão da Orientação Jurisprudencial nº 109
da SDI-II - Res. 137/2005, DJ 22.08.2005)
A ação rescisória calcada em violação de lei não admite
reexame de fatos e provas do processo que originou a decisão
rescindenda. (ex-OJ nº 109 - DJ 29.04.2003)

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.8

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

Impõe-se, assim, julgar improcedente a ação rescisória, ficando, via


de consequência, revogada a antecipação de tutela concedida a fls. 61
verso.

Inconformada,   a   Autora   sustenta   que,   na   decisão


rescindenda, ao se afastar a aplicação dos artigos 1º e 5º da Lei nº
8.009/1990,   ao   fundamento   de   que   não   restaram   atendidos   os
requisitos do artigo 1.711 do Código Civil, incorreu­se em afronta
aos   dispositivos   citados   da   Lei   nº   8.009/1990,   pois   é   necessário
para   a   caracterização   do   bem   de   família   legal   "apenas   três
requisitos concomitantes: a propriedade do imóvel, a sua utilização
para residência e a entidade familiar" (fl. 180).
Em   relação   ao   fundamento   de   ausência   de
pronunciamento explícito sobre a Lei do Bem de Família, aduz que a
decisão rescindenda "a abordou, sim, e vinculou o seu reconhecimento
à existência de registro, o que viola frontalmente a disposição dos
artigos 1º e 5º da Lei nº 8.009/1990" (fl. 181 do sequencial nº 1).
No que tange ao óbice de reexame de fatos e provas
da reclamação trabalhista para se examinar a violação literal de lei
sustenta   que   "a   Súmula   nº   410   do   C.   TST   de   fato   obstaculiza   o
reexame de fatos e provas nas ações rescisórias fundadas em violação
literal   de   lei,   o   que   de   maneira   alguma   impede   verificar   a
pertinência da exigência das provas, não o seu reexame" (fl. 181 do
sequencial n° 1).
Ao exame.
Conforme   o   art.   6º   da   Constituição   da   República,
"são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição".
Em   consonância   com   a   Constituição   Federal,   foi
editada   a   Lei   nº   8.009/1990,   instituindo   o   bem   de   família   legal,
restando mantido no atual Código Civil o regime de bem de família
convencional, a teor dos artigos 1.711 e seguintes.
Com   efeito,  a   proteção   da   Lei   nº   8.009/1990
decorre   do   direito   social   à   moradia,   previsto   no   artigo   6º   da
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.9

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

Constituição Federal, sendo oponível em qualquer fase do processo de
execução.
Ao contrário do decidido na decisão rescindenda, o
preenchimento dos requisitos do artigo 1.711 do Código Civil só tem
aplicação   no   caso   de   bem   de   família   convencional,   ao   passo   que   a
proteção da Lei nº 8.009/1990 está ligada ao princípio da dignidade
da pessoa humana, assegurando­se um patrimônio mínimo.
Nesse   sentir,   para   a   caracterização   do   bem   de
família,   de   acordo   com   a   referida   Lei   nº   8.009/1990,   basta   a
destinação   de   residência   do   bem   imóvel,   restando   despiciendo   o
registro na Circunscrição Imobiliária.
No   que   tange   ao   segundo   fundamento   adotado   na
decisão rescindenda, ausência de demonstração de que o bem constrito
era o único imóvel de propriedade da então Embargante, constata­se
que tal exigência é contrária ao texto da lei. Com efeito, dispõem
os artigos 1º e 5º da Lei nº 8.009/1990:

Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade


familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil,
comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o
qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer
natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou
móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
(...)
Art. 5º. Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei,
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela
entidade familiar para moradia permanente.
Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser
possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a
impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido
registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do
Código Civil.
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.10

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

Infere­se que não há restrição à proteção legal do
bem de família à hipótese de o devedor possuir apenas um imóvel. A
impenhorabilidade   recai   sobre   o   imóvel   utilizado   pela   entidade
familiar como moradia permanente.
Assim, o Juízo da 4ª Vara do Trabalho São Paulo,
ao  rejeitar  os  embargos   à  adjudicação  opostos  pela  ora  Autora,  ao
fundamento   de   que   a   proteção   legal   só   se   justificaria   quando
demonstrado   que   o   devedor   possua   apenas   um   imóvel   e   de   que   não
restariam observados os requisitos do artigo 1.711 do Código Civil,
incorreu   em   violação   literal   dos   artigos   1º   e   5º   da   Lei   nº
8.009/1990.
Cito precedentes desta Subseção:

RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. PENHORA


SOBRE IMÓVEL. BEM DE FAMÍLIA. LEI Nº 8.009/1990. VIOLAÇÃO
LITERAL DE LEI. CONFIGURAÇÃO. A proteção da Lei nº 8.009/1990
decorre do direito social à moradia, previsto no artigo 6º da Constituição
Federal, sendo oponível em qualquer fase do processo de execução. Na
decisão rescindenda, o Juízo da Vara do Trabalho manteve a penhora sobre
bem imóvel, ao fundamento de que a proteção da Lei nº 8.009/1990 não se
estende aos créditos trabalhistas. Concluiu, ainda, que o proprietário do
imóvel deveria demonstrar que o bem constrito era o único de sua
propriedade. Todavia, é inequívoca a aplicação da proteção legal nas
execuções trabalhistas, por força do ‘caput’ do artigo 3º da Lei nº
8.009/1990. Por sua vez, a referida lei só condiciona a proteção legal ao
fato de o imóvel ser usado como moradia permanente da entidade
familiar, sendo contra legen a exigência de prova sobre a inexistência de
outros bens imóveis de propriedade do devedor. Recurso ordinário
conhecido e não provido.
(RO-1267400-39.2009.5.02.0000, Relator
Ministro Emmanoel Pereira, DEJT 7.3.2014)
(destaquei);

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.11

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

RECURSO ORDINÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. PENHORA.


IMÓVEL DESTINADO À MORADIA DA FAMÍLIA DO DEVEDOR.
BEM DE FAMÍLIA. ARTIGOS 1º E 5º DA LEI Nº 8.009/90. VIOLAÇÃO.
PROVIMENTO. 1. Trata-se de ação rescisória ajuizada pelo ora recorrente,
em que se busca a desconstituição do acórdão regional proferido em agravo
de petição, por meio do qual foi declarada subsistente a penhora incidente
sobre 50% (cinquenta por cento) do imóvel pertencente ao autor, sob o
fundamento de ter ficado comprovado nos autos que o sócio executado era
proprietário de outros bens imóveis. Consignou-se, também, na ocasião,
que o referido imóvel não foi registrado no Cartório de Registro de Imóveis
como bem de família, bem como que a Lei nº 8.009/90 não teria
aplicabilidade no âmbito da Justiça do Trabalho. 2. A proteção conferida ao
bem de família pela Lei nº 8.009/1990 decorre do direito social à moradia,
previsto no artigo 6º, caput, da Constituição Federal. Desse modo, trata-se
de princípio de ordem pública, oponível em qualquer processo de execução,
razão pela qual não admite renúncia do seu proprietário, já que somente nas
hipóteses previstas no seu artigo 3º é possível ser afastada sua condição. 3.
Registre-se que os autos originários versam sobre reclamação trabalhista
em que, na fase de execução, foi desconsiderada a personalidade jurídica da
primeira empresa reclamada - Alvalux Comércio e Serviços Ltda.,
determinando-se a inclusão dos seus sócios, inclusive do ora autor, a
ensejar a penhora do bem em discussão. 4. No caso vertente, da leitura do
acórdão rescindendo é possível depreender que o Tribunal a quo não
afastou, em momento algum, a condição de imóvel residencial que fora
alegada pelo então agravante. Apenas concluiu, substancialmente, que o
fato de o sócio executado possuir outros bens imóveis de sua propriedade
seria o bastante para descaracterizá-lo como bem de família. 5. Sucede que,
sobre a referida questão, o Superior Tribunal de Justiça já firmou
jurisprudência no sentido de que, para efeito de caracterização do bem
de família a que alude a Lei nº 8.009/90, mostra-se suficiente que o
imóvel objeto da constrição judicial seja destinado à residência da
família, restando desnecessário, desta forma, a produção de prova pela
parte executada quanto à inexistência de outros bens imóveis de sua
propriedade. Igualmente irrelevante, para tal fim, a circunstância de o
imóvel não haver sido registrado como bem de família no Cartório de
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.12

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

Registro de Imóveis. 6. Ademais, ao contrário do que entendeu o Tribunal


Regional, a referida Lei nº 8.009/90 mostra-se plenamente aplicável nesta
Justiça Especializada, tendo em vista tratar-se de regramento especial e nela
se encontrarem as disposições acerca da impenhorabilidade do bem de
família. 7. Patente, pois, a ofensa perpetrada pelo acórdão rescindendo aos
artigos 1º e 5º da Lei nº 8.009/90, de modo que o provimento do recurso
ordinário é medida que se impõe para desconstituir a penhora realizada nos
autos originários sobre a fração ideal do imóvel pertencente ao ora
recorrente. 8. Recurso ordinário conhecido e provido para julgar procedente
a pretensão rescisória do autor.
(RO-2584-78.2011.5.02.0000, Relator Ministro
Caputo Bastos, DEJT 11/10/2013) (destaquei).

Ressalto que, justamente pelo fato de a aplicação
da   Lei   nº   8.009/1990   constituir   matéria   de   ordem   pública,   não   se
cogita de trânsito em julgado da matéria pela rejeição do argumento
da Executada em oportunidade anterior. Cabe destacar que, na decisão
rescindenda, o Juízo da 4ª Vara do Trabalho de São Paulo examinou a
matéria,   afastando   tal   alegação   com   base   em   dispositivo   do   Código
Civil   e   interpretando   a   referida   Lei   nº   8.009/1990,   autorizando   o
manejo da presente ação rescisória.
Tampouco   se   cogita   de   ausência   de   pronunciamento
explícito   na   decisão   rescindenda   sobre   os   dispositivos   legais
evocados, pois, de acordo com o item II da Súmula nº 298 desta Corte
Superior: "O pronunciamento explícito exigido em ação rescisória diz respeito à matéria e ao
enfoque específico da tese debatida na ação, e não, necessariamente, ao dispositivo legal tido por
violado. Basta que o conteúdo da norma reputada violada haja sido abordado na decisão rescindenda
para que se considere preenchido o pressuposto".
Não   incide,   ainda,   o   óbice   da   Súmula   nº   410   do
TST,   na   medida   em   que   a   conclusão   de   violação   literal   de   lei
prescinde do exame de documentos da ação matriz. Com efeito, apenas
a leitura da decisão apontada como rescindenda autoriza o resultado
ora exposto.
Ante   o   exposto,   dou  provimento  ao   recurso
ordinário,   para   rescindir   a   sentença   de   embargos   à   adjudicação,
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.13

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

proferida nos autos da Reclamação Trabalhista nº 947/99, que tramita
na   4ª   Vara   do   Trabalho   de   São   Paulo,   por   violação   literal   dos
artigos   1º   e   5º   da   Lei   nº   8.009/1990,   e,   em   juízo   rescisório,
acolher   os   referidos   embargos   à   adjudicação,   para,   reconhecendo   a
natureza   de   bem   de   família   do   imóvel   constrito,   desconstituir   a
adjudicação   do   imóvel   localizado   na   Rua   João   Gomes   Júnior,   935,
Jardim Bonfiglio, São Paulo/SP.
Devidos   honorários   advocatícios   pela   Ré,   na   ação
rescisória, na forma do item II da Súmula nº 219 do TST, consoante a
qual   é   devida   a   parcela   nesta   Justiça   Especializada,   em   ação
rescisória, pela mera sucumbência, no importe de R$ 8.000,00, isenta
(arts. 3º, V, e 4º, § 3º, da Lei nº 1.060/50).
Invertido   o   ônus   da   sucumbência   quanto   às   custas
processuais,   das   quais   fica   isenta   a   Ré   (art.   3º,   II,   da   Lei   nº
1.060/50).

II ­ AÇÃO CAUTELAR EM APENSO.
Nos termos da O.J. nº 131 da SBDI­2 desta Corte, "a
ação cautelar não perde o objeto enquanto ainda estiver pendente o trânsito em julgado da ação
rescisória principal, devendo o pedido cautelar ser julgado procedente, mantendo-se os efeitos da
liminar eventualmente deferida, no caso de procedência do pedido rescisório ou, por outro lado,
improcedente, se o pedido da ação rescisória principal tiver sido julgado improcedente".
Assim, no caso em exame, considerando o resultado
do recurso ordinário, impõe­se a procedência da ação cautelar.
Custas   pela   Ré,   no   importe   de   R$   20,00,   isenta
(art. 3º, II, da Lei nº 1.060/50).

ISTO POSTO

ACORDAM  os Ministros da Subseção II Especializada
em   Dissídios   Individuais   do   Tribunal   Superior   do   Trabalho,   por
unanimidade, conhecer do recurso ordinário, rejeitar as preliminares
suscitadas pela Ré, em contrarrazões, e, no mérito, dar provimento
ao   apelo   ordinário,   para   rescindir   a   sentença   de   embargos   à
adjudicação,   proferida   nos   autos   da   Reclamação   Trabalhista   nº
Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.14

PROCESSO Nº TST-RO-1113000-33.2010.5.02.0000

947/99,   que   tramita   na   4ª   Vara   do   Trabalho   de   São   Paulo,   por


violação   literal   dos   artigos   1º   e   5º   da   Lei   nº   8.009/1990,
condenando a Ré em honorários advocatícios, na ação rescisória, no
importe de R$ 8.000,00, isenta (arts. 3º, V, e 4º, § 3º, da Lei nº
1.060/50)   e,   em   juízo   rescisório,   acolher   os   referidos   embargos   à
adjudicação,   para,   reconhecendo   a   natureza   de   bem   de   família   do
imóvel   constrito,  desconstituir   a  adjudicação   do  imóvel   localizado
na   Rua   João   Gomes   Júnior,   935,   Jardim   Bonfiglio,   São   Paulo/SP.
Invertido o ônus da sucumbência quanto às custas processuais na ação
rescisória,   das   quais   fica   isenta   a   Ré   (art.   3º,   II,   da   Lei   nº
1.060/50). Por unanimidade, quanto à ação cautelar em apenso, julgá­
la procedente. Custas, na ação cautelar, pela Ré, no importe de R$
20,00, isenta (art. 3º, II, da Lei nº 1.060/50).
Brasília, 21 de outubro de 2014.

Firmado por assinatura digital (Lei nº 11.419/2006)


EMMANOEL PEREIRA
Ministro Relator

Firmado por assinatura digital em 22/10/2014 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, nos termos
da Lei nº 11.419/2006, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Potrebbero piacerti anche