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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO EM TERCEIRO


SETOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL

O CRISTÃO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL


VISÃO: CATÓLICA, ESPÍRITA E EVANGÉLICA.

AUTORA:

JOSENILDA TINDÔ ROQUE RIBEIRO

Niterói
2007
11

CENTRO UNIVERSITÁRIO PLÍNIO LEITE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO EM TERCEIRO


SETOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL

MONOGRAFIA

O CRISTÃO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL


VISÃO: CATÓLICA, ESPÍRITA E EVANGÉLICA

AUTORA :

JOSENILDA TINDÔ ROQUE RIBEIRO

AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO DE ACORDO COM OS SEGUINTES CRITÉRIOS

Organicidade..............................
Conteúdo...................................
Análise Crítica...........................
Relação Teoria/ Prática.............
Pesquisa Bibliográfica...............
Nota Final..................................

Observações_________________________________________________________
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________

Niterói, 21 de setembro de 2007

____________________________________
Profª Rosângela Saísse
Orientadora
12

CENTRO UNIVERSITÁRIO PLÍNIO LEITE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO EM TERCEIRO


SETOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL

MONOGRAFIA

O CRISTÃO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL


VISÃO: CATÓLICA, ESPÍRITA E EVANGÉLICA

AUTORA :

JOSENILDA TINDÔ ROQUE RIBEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro
Universitário Plínio Leite como
requisito parcial do Curso de Pós-
Graduação em Gestão do Terceiro
Setor e Responsabilidade Social .

Niterói
2007
13

A Deus,
Autor da Vida, que tem guiado os meus passos.
14

AGRADECIMENTOS

À minha família que me compreendeu e me apoiou neste período de estudo onde


tive que me ausentar do convívio familiar aos sábados.

À Professora Rosângela Saísse que, apesar de pouco contato em sala de aula,


pude perceber em suas atitudes, um algo diferente que me fez escolhe-la para me
orientar neste trabalho.
15

RESUMO

Esse estudo pretende mostrar como o Cristianismo, que é uma religião

monoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus Cristo, encontrados no

Novo Testamento, dentro de uma cosmovisão cristã, tem papel essencial no

processo de transformação social. Pelo fato de o Cristianismo bíblico ter tomado

vários rumos no que se refere à interpretação do Novo Testamento, nasceram

diferentes concepções acerca dos ensinamentos de Jesus principalmente no que se

refere à ação de dar, ou seja, a ação social dentro dos três maiores seguimentos

cristãos do Brasil, que são: Católicos, Espíritas e Evangélicos. O Cristianismo

oferece fundamentação para uma ação de responsabilidade social mais efetiva,

preocupando-se com a transformação integral do ser humano. Apesar de haver

muita diferença no que se refere às suas interpretações e práticas, todos os três

segmentos do Cristianismo têm algo em comum, que é o senso de

responsabilidade social pessoal e coletiva. Assim sendo, pretende-se abordar,

independente da estratégia utilizada, princípios que norteiam a ação de cada

seguimento que são baseados em valores cristãos na sua integralidade, ou seja,

abordando princípios baseados no Novo Testamento.

Palavras chave:

 Bem- Tudo o que está de acordo com a lei de Deus

 Cosmovisão cristã- é um conjunto de suposições e crenças que alguém usa

para interpretar e formar opiniões acerca da sua humanidade, propósito de

vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação

da verdade, questões sociais, etc.


16

 Evangélicos-Diz-se evangélico todo aquele que segue a doutrina de Cristo .

 Monoteísta-que ou quem admite um só Deus

 Novo Testamento - também conhecido por Escrituras gregas, é o nome dado

à parte da Bíblia que foi escrita após o nascimento de Jesus. O termo é uma

tradução do Latim, Novum Testamentum, que em grego escreve-se Η Καινη

Διαθηκη, Hê Kainê Diathêkê, significando "A Nova Aliança" ou Testamento.

Foi originalmente usado pelos primeiros cristãos para descrever suas relações

com Deus e posteriormente para designar uma coleção específica de 27 livros

 Assistencialismo- Mitigar problemas no curto prazo, sem que se busque atingir

as causas estruturais.É um acesso a um bem através de doação ou de

serviço prestado individualmente. Está ligado ao voluntariado

 Assistência Social: Política pública de atenção e defesa de direitos, e é

regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).

 Serviço Social: É uma profissão que atua no campo das políticas sociais,

entre elas, a assistência social.

 Filantropia- Na raiz, o termo significa "amor à humanidade", "humanitarismo"

tradicionalmente está relacionado às atividades de pessoas abastadas que

praticam ações sociais sem fins lucrativos ou doam recursos para entidades

beneficentes.

 Caridade- benevolência , complacência, compaixão

 Reino de Deus- Reino É, por definição, a esfera onde se desenvolve

determinado tipo de governo. Sendo assim, o reino de Deus é o lugar no qual

Deus exerce Sua autoridade.

 Mordomia Cristã- é um ensino bíblico que reconhece Deus como o Senhor e

dono de todas as coisas, "a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que
17

nele habitam",e o homem como responsável pelo uso delas, de acordo com o

propósito perfeito desse Deus, a quem presta contas pela qualidade e

resultados de sua administração.

 Devocional- é aquele período do dia que é separado para um encontro com

Deus, através de meditação, reflexão e leitura de Sua Palavra.

 Boas Novas- é o mesmo que evangelho, ou seja ,palavra grega que significa:

espalhar boa notícia.

 Fé- é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não

vêem.

 Pão da Vida- Termo usado por Jesus,onde se auto-denominava ser o “pão da

vida”, significando que aquele que o experimentasse jamais teria forme

espiritual.

 Publicano- O publicano era um cobrador de impostos no Império Romano.

Geralmente, odiado pelos judeus pela cobrança dos impostos em favor de um

Império a que o povo não queria honrar, além de serem conhecidos (alguns

deles), como pessoas desonestas, que cobravam além do que era justo

 Gentios- Na época dos acontecimentos registrados no Novo Testamento,

eram gentios, todos os que não eram judeus.

 Diácono- ser servo, ou seja, servir.


18

ABSTRACT

This paperwork intends to show how the Christianity , which is a

monotheist religion based in the life and in the teachings of Jesus Christ, found in the

New Testament , has essential paper in the process of social transformation. For the

fact of the Biblical Christianity have taken some routes with different interpretation of

the Bible, different conceptions concerning the teachings of Jesus mainly as the

action of giveness inside of the three biggest Christian pursuing in Brazil, that are:

Catholics, Spiritualism and Evangelical . The Christianity offers to recital for a social

action for damages more effective, being worried about the integral transformation of

the human being. Although to have much difference as for its practical interpretations

and, all the three segments of the Christianity have something in common, that it is

the sense of personal and collective social responsibility. Thus being, it is intended to

approach, independent of the used strategy, principles that guide the action of each

pursuing that they are based on Biblical values in its completeness, which is,

approaching principles based on the Old one and the New Testament.
19

SUMÁRIO

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO II RESPONSABILIDADE SOCIAL E O CRISTIANISMO 12

CAPÍTULO III O QUE DIZIAM OS DEZ MANDAMENTOS ESCRITOS POR 21

MOISÉS

CAPITULO IV JESUS CRISTO, O FUNDADOR DO CRISTIANISMO E OS 25

EXEMPLOS DEIXADOS PARA OS SEUS DISCÍPULOS

CAPÍTULO V A IGREJA PRIMITIVA E REFORMA PROTESTANTE 30

CAPÍTULO VI O QUE DIZEM AS TRÊS PRINICIPAIS DOUTRINAS 37

CRISTÃS

CAPÍTULO VII CATÓLICOS, EVANGÉLICOS E ESPÍRITAS PRATICAM O 51

EVANGELHO GENUÍNO?

CAPÍTULO VIII CONCLUSÃO 57

CAPÍTULO IX REFERENCIAS 59
20

CAPÍTULO I

1- INTRODUÇÃO

Embora o Brasil seja considerado um dos países com maior número

de cristãos do mundo, ou seja 92% (noventa e dois porcento) da população se diz

cristã, tendo o maior número de espíritas e católicos do mundo, segundo o IBGE

através do seu site: www.ibge.gov.ibgeteen/datas/religiao/brasil.html, ainda assim

apresenta uma enorme desigualdade social e injustiça, mesmo confessando-se

cristão, não há transformação social significativa. Como então os brasileiros se

declararam cristãos se não vivem dentro dos conceitos cristãos, principalmente o

neo-testamentário ensinado por Jesus, o fundador do cristianismo? Quanto da

religiosidade dos brasileiros é aquilo que o evangelho ensina, e quanto daquilo que

são é meramente uma resposta ao ambiente social e religioso?

Será que alguns grupos ou igrejas realizam seus trabalhos na área social

apenas por uma questão de alívio de consciência? Ou porque “fica feio” vestir a

bandeira cristã falando de amor num país de povo tão pobre como o nosso e não ter

nenhum trabalho nessa área? Quando se implantam projetos sociais será apenas

para se dar o direito de “evangelizar” as pessoas usando a necessidade do povo

para fazer valer um discurso? Por que se presta ajuda: por amar as pessoas, e

como Deus, nos importar integralmente com elas, ou por que querem se dar o direito

de serem ouvidos?

A metodologia empregada para a realização deste trabalho de cunho

teórico consiste de pesquisa bibliográfica, sendo a coleta de informações realizada,

principalmente, através de dados secundários, a saber: livros, teses, revistas, jornais,

pesquisas de instituições e sites na Internet.


21

CAPÍTULO II

2- RESPONSABILIDADE SOCIAL E O CRISTIANISMO

Quando se fala de responsabilidade social pensa-se logo em grandes

empresas atuando em ações sociais e fazendo trabalhos de caridade. É difícil traçar

fronteiras claras entre assistencialismo e política ou entre caridade e solidariedade

social. Isto porque as motivações e as representações que delas fazem os seus

agentes permitem muitos arranjos entre lógicas de reciprocidade (humanitárias ou

religiosamente motivadas) e a lógica da cidadania.

Pode parecer até um paradoxo falar de Responsabilidade Social e o

Cristianismo, visto porque sempre que conceituamos o primeiro, temos em mente

alguma definição ligada à ação social de Empresas, como diz D’Ambrósio, D &

Mello, P.C. no artigo: A responsabilidade que dá retorno social. (Gazeta Mercantil,

10.11.98, p. C-8).

" A Responsabilidade Social (...) tem a ver com a consciência social


e o dever cívico. A ação de responsabilidade social não é individual.
Refere à ação da empresa em prol da cidadania."

Quando as pessoas se referem à ação social ligada a algum

movimento religioso sempre vem à mente a Filantropia que é conceituada como

gesto de caridade não vinculada a qualquer estratégia empresarial. Sabe-se,

portanto que a filantropia foi o passo inicial em direção à responsabilidade social,

não sendo esta, portanto, sinônimo daquela, mas representando a sua evolução ao

longo do tempo. As ações de filantropia, motivadas por razões humanitárias, são

isoladas e reativas, enquanto o conceito de responsabilidade social possui uma


22

amplitude muito maior. A diferença entre as duas, segundo o Instituto Ethos de

Empresas e Responsabilidade Social, instituição brasileira que se dedica a

disseminar a prática da responsabilidade social empresarial, é a de que, enquanto a

responsabilidade social faz parte do planejamento estratégico, trata diretamente dos

negócios da empresa e de como ela os conduz e é instrumento de gestão, a

filantropia é apenas relação social da organização para com a comunidade

(INSTITUTO ETHOS, 2002)

Partindo da premissa de que as ações de Responsabilidade Social

transformam uma sociedade ou uma comunidade, enquanto as ações filantrópicas

ou assistencialistas apenas amenizam o problema, mas não trazem solução

definitiva, podemos então afirmar, por analogia, que Jesus foi o maior responsável

social de todos os tempos. Vemos nas passagens narradas no Novo Testamento de

que todos que tinham um encontro com ele, tinham as suas vidas transformadas e

mudavam completamente de direção e de propósito de vida.

O Novo Testamento, livro onde se baseia o cristianismo, não deixa os

seus seguidores à vontade no que diz respeito à justiça social. Ao contrário, ela cria

incômodos problemas de consciência, que azucrinam, envergonham e condenam.

De todos os nossos pecados e crimes, a falta de consciência social é o mais coletivo,

o menos reconhecido e o causador das maiores tragédias, que vão desde a fome até

as guerras. Em nenhum momento, o cristianismo dispensa da obrigação de elaborar

as leis da justiça social no papel e no modo de viver. O chamado à justiça social está

no Decálogo (Os Dez mandamentos), nas leis secundárias, nos Provérbios, nos

profetas, no exemplo de Jesus, no segundo grande mandamento que está escrito no

Evangelho de Mateus 22: 39 onde diz: Amarás o teu próximo como a ti mesmo ,e na

preocupação dos seus discípulos quanto ao social.


23

Seria o objetivo principal dos três seguimentos Cristãos do estudo em

questão, primeiramente arrebanhar adeptos ou seguidores para os seus ambientes?

Será que a prática de atos de assistencialismo, filantropia, ou serviço social apenas

amenizam ou transformam realidades? Os Cristãos precisam se sentir indignados

diante da miséria do outro, para praticarem a responsabilidade social.

Todo cristão sabe a oração do Pai Nosso que tem um trecho que diz “...

venha a nós o teu reino”. Mas o que significa o reino de Deus? Como ele se

manifesta? O que é preciso fazer pra entrar nele? O reino de Deus é todo ambiente

onde ele reina e sua vontade seja cumprida. Seria o reino de Deus um lugar de

injustiças sociais e desigualdades? Ou o ele deve estar manifesto em cada aspecto

da vida de um cidadão cristão?

A compreensão desses princípios aplicáveis individualmente é

fundamental para o desenvolvimento comunitário. Quando o reino de Deus não se

restringe apenas à vida devocional e as disciplinas espirituais, somos livres para

ministrar junto à comunidade em todas áreas. Isso não é como uma mera expressão

de “trabalho social”, mas uma forma de “a política” de Deus, através dos princípios

do Cristianismo, ser estabelecida aqui na terra.

Muitos que se intitulam cristãos quando são confrontados quanto à

pobreza e injustiça social, contribuem generosamente, para aliviaram o sentimento

de culpa, mas depois se esquecem e não agem com responsabilidade social,

realizando apenas um ato de filantropia.

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente

representada no ministério de Cristo no Novo Testamento. Quando os estragos da

pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que

uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de
24

demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso 1.

Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as

mudanças que queremos ver no mundo”.

Um discípulo de Cristo não pode tratar com indiferença as

desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos

e leva ao empobrecimento espiritual de outros. O evangelho convida o discípulo de

Cristo à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos poderem receber,

incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos.

Como Cheryl Sanders o expressa: “O reino preparado desde a fundação do mundo é

um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para

entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a

partir da abundância que recebeu como legado de Deus. Aqueles que alimentam os

famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e

visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de

Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios

humanos. Desobedecer esse mandado cristão é negar lealdade ao reino e ao Rei”.2

À luz das terríveis histórias de crianças famintas ao redor do mundo, os

cristãos não podem dizer: “Isso não me diz respeito”. Não podem ficar na defensiva

ao lidar com o desafio persistente da pobreza. Esse não é um programa ou problema

do governo.

Há uma geração, o governo dos Estados Unidos assumira muitos dos

programas de bem-estar social, e os idealistas da nação acreditavam que a guerra à

pobreza poderia ser ganha pelos funcionários públicos com o apoio dos impostos.

Mas algo estava faltando, algo que era essencial ao sucesso e algo que os

1
Biblia Sagrada. Livro de Isaías.Cap 58
2
Cheryl Sanders, Ministry at the Margins, pág. 28
25

funcionários e programas do governo não podiam prover — fé. A fé em Deus

demonstrou-se essencial em programas bem-sucedidos de livramento das pessoas

de drogas e do álcool, e de uma vida de pobreza.

Nossa sociedade tem tentado despersonalizar a pobreza falando em

termos de programas, organizações e estruturas. Mas a pobreza é pessoal. As

pessoas é que são pobres. Essa é a gente da qual Jesus falou repetidamente em

Seu ensino e pregação. Ele tinha compaixão dela e desafiou os cristãos a

reconhecê-la. Assim sendo, um seguidor de Cristo não pode eximir-se do

envolvimento com essa condição humana. A pobreza é uma crise humana. E para

aqueles que são abençoados e privilegiados, ignorar isso constitui uma contradição

entre confissão e conduta.

Como podem chamar a si mesmos de seguidores de Cristo quando não

se preocupam com seus semelhantes? Como podem representar o reino de Deus e

não se preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em

Seu reino?

A responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados

não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte

integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do

pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes

Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes”3.

3
Bíblia Sagrada- Evangelho de Mateus .25:40
26

2.1 O MOTIVO E O MÉTODO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS CRISTÃOS

A responsabilidade social do cristão tem por base as seguintes normas

éticas: outros homens devem ser respeitados como pessoas e não usados como

coisas e muitas pessoas têm maior valor que poucas pessoas.

Biblicamente falando:

I. O cristão deve amar o seu próximo4.

II. Cada outra pessoa, amiga ou inimiga, é nosso próximo5. Sendo

assim, o cristão tem uma responsabilidade diante do seu próximo, e o mundo inteiro

de pessoas se constitui seus vizinhos.

A Responsabilidade pela Pessoa Total: O homem é mais do que uma

alma destinada ao outro mundo, é também um corpo que vive neste mundo.

FILOSOFIA PLATÔNICA: O homem essencialmente é um ser

espiritual, tendo apenas conexão funcional com o corpo, que na melhor das

hipóteses é um impedimento, e na pior, um grande mal.

POSIÇÃO BÍBLICA: Deus criou todas as coisas boas6. O corpo tem

valor para Deus7 e a ressurreição é a resposta máxima de Deus para este fato

4
Bíblia Sagrada-Evangelho de Mateus, 22:39
5
Id. Ibid. Evangelho de Mateus 5>43,44 e Evangelho de Lucas 10:29
6
Id. Ibid. Gênesis 1.31
7
Id. Ibid. Carta aos Corintios 6:19,20 e Carta aos Tessalonissences 5:23 e Atos dos Apóstolos 17:32
27

2.1.1 AS RESPONSABILIDADES SOCIAIS ESPECÍFICAS DO CRISTÃO

I. Responsabilidade Social Pelos Seus (ou Básica).

II. Prover para Si Mesmo8.

III. Provendo para Sua Família9: A obrigação social primária pelos

pobres e necessitados não recai sobre a igreja nem sobre o estado, mas, sim, pela

família imediata, Se alguém deixa de prover para seus parentes indigentes,

fracassou na sua responsabilidade cristã básica à sua própria família, a menos que

seja incapaz de cuidar de si mesmo.

IV. Provendo para Seus Irmãos10. A marca básica do amor cristão é o

amor aos irmãos, conforme presente na vida da Igreja Primitiva11.

2.1.2 A RESPONSABILIDADE PARA PROMOVER A PAZ E A MORALIDADE

É para o bem de todos os homens, como seres sociais, que a

sociedade seja pacifica e piedosa12. O Cristão, pois, deve fazer tudo quanto puder

para ser um embaixador da paz na sociedade.

O cristão deve fazer o bem social somente a fim de ganhar uma

oportunidade de fazer algum bem espiritual adicional? Ou o bem social deve

ser feito pôr amor a ele mesmo?

2.1.3 OS MOTIVOS PARA A PRÁTICA DO BEM SOCIAL

8
Bíblia Sagrada-Carta aos Efésios 5:29
9
Id. Ibid. Carta de Paulo a I Timóteo 5:8-16
10
Id.Ibid. Gálatas 6.10 E tiago 2:15
11
Id. Ibid .Atos dos Apóstolos 6:1
12
Id. Ibid. . Carta de Paulo a I Timóteo 2:1 e Romanos 12,17,18 e Evangelho de Mateus 5:9
28

I. É um bom testemunho de Cristo – Recusar-se a fazer o bem em

nome de Cristo é trazer opróbrio sobre Cristo pôr omissão.

II. Aquilo que é feito para os necessitados é feito a Cristo13

III. O bem social pode ajudar a ganhar os homens para Cristo14

IV. Fazendo o bem pôr amor a ele mesmo - Jesus praticava o bem

social pôr amor a este próprio bem. Curou dez leprosos sabendo que somente

um deles voltaria para agradecer15 . Ele insistia em que se fizesse o bem aos

inimigos que não retribuiriam o favor e aos necessitados que não poderiam

pagar a bondade O Cristão, seguindo a Cristo deve fazer qualquer bem que

puder, meramente porque é o bem, quer alguém o aprecie ou é levado pôr ele

a Cristo, quer não.

2.1.4 MÉTODO PARA FAZER O BEM SOCIAL

Falando de modo geral, a responsabilidade social do cristão é clara:

deve fazer o melhor que pode, para providenciar as necessidades básicas

(alimentos, roupas, abrigo, etc.) daqueles que não podem prover para si mesmos. O

problema não é saber o que fazer, mas, sim, saber como melhor fazê-lo.

I.Ajudando os outros a ajudarem a si mesmo

A sociedade não deve aos pobres o sustento; deve-lhes um meio de

ganhar a vida. Logo, seria muito mais construtivo para o amor achar meios de

empregar os homens do que simplesmente continuar a sustentá-los. E visto que a

13
Bíblia Sagrada-Evangelho de Mateus- 25:40-45
14
Id. Ibid. I Corintios 10:33
15
Id.Ibid. Evangelho de Lucas 17:13
29

educação é crucial para o emprego, segue-se que um modo muito básico para o

amor ser construtivo é ajudar a educar os necessitados.

II. Ajudando os outros a não danificar a si mesmo

III.Ajudando os Seus a Ajudar os Outros

Não é necessariamente egoísta cuidar que a pessoa obtenha uma educação

e um emprego para si mesma e procure o mesmo para sua família. Se um homem

não revela amor e cuidado para si mesmo e para seus próprios familiares, logo, outra

pessoa terá de fazê-lo. Se um homem passa seu tempo cuidando dos seus de modo

que outra pessoa não precisa fazê-lo, além disto, de modo que os seus possam, pôr

sua vez, ajudar aos outros, segue-se que está realizando um bem específico para a

sociedade em geral.
30

CAPITULO III

3. O QUE DIZIAM OS DEZ MANDAMENTOS ESCRITOS POR MOISÉS.

Enquanto os quatro primeiros mandamentos tratam do relacionamento

do homem com Deus, os seis restantes dizem respeito ao seu relacionamento com

os outros. O quinto mandamento diz que não se deve cometer injustiça alguma

contra aqueles que nos trouxeram à vida. O sexto mandamento proíbe de tirar a vida

de quem quer que seja. O sétimo mandamento proíbe de cometer adultério. O oitavo

mandamento proíbe de diminuir o patrimônio alheio para aumentar o patrimônio

próprio. O nono mandamento proíbe de prejudicar alguém por meio da mentira, do

falso testemunho, da intriga, da calúnia. E o décimo mandamento proíbe de dar asas

ao desejo incontido e imoral de possuir aquilo que pertence ao próximo. Para tornar

esse mandamento mais contemporâneo, ele pode ser lido assim: Não cobiçarás a

propriedade alheia, o emprego alheio, o trono alheio, os mananciais alheios, as

florestas alheias, o petróleo alheio, o mercado alheio, a glória alheia, a mão-de-obra

alheia, o poder alheio, o sucesso alheio, a mulher alheia, o marido alheio, a vaga

alheia e assim por diante16.

Vários são os exemplos encontrados na Bíblia no que se refere à justiça

social:

"Não se aproveitem do pobre e necessitado, seja ele um irmão


israelita ou um estrangeiro que viva numa das suas cidades.
Paguem-lhe o seu salário diariamente, antes do pôr-do-sol, pois ele é
necessitado e depende disso" (Dt 24.14,15, NVI).

"Não amaldiçoem o surdo nem ponham pedra de tropeço à frente do


cego" (Lv 19.14, NVI).

16
Bíblia Sagrada- Livro de Êxodo Cap. 20:1-7 e Livro de Deuteronômio Cap. 5:1-21
31

"Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos" (Lv


19.32, NVI).

"Quando um estrangeiro viver na terra de vocês, não o maltratem. O


estrangeiro residente que viver com vocês deverá ser tratado como o
natural da terra. Amem-no como a si mesmos, pois vocês foram
estrangeiros no Egito" (Lv 19.33,34, NVI).

"Não usem medidas desonestas quando medirem comprimento, peso


ou quantidade. Usem balança e pesos honestos, tanto para cereais
quanto para líquidos" (Lv 19.35,36).

3.1 A LEI DA REBUSCA ,O ANO SABÁTICO E O ANO DO JUBILEU

Já era tradição entre os judeus a prática do bem, pois esta prática era

institucionalizada pelas leis e mandamentos contidas no Antigo Testamento. De

todas as leis secundárias (em relação ao Decálogo), a mais bonita de todas é a lei

da rebusca, que tem muito a ver com o eterno conflito entre os proprietários de terra

e os sem-terra. Em benefício dos deserdados da sorte, o proprietário rural era

proibido de praticar a sovinice na época da colheita. Ele não deveria colher "até as

extremidades da sua lavoura nem ajuntar as espigas caídas da sua colheita", não

deveria depenar por completo as videiras e as oliveiras, não deveria percorrer outra

vez a propriedade toda à cata de algum fruto que porventura não tivesse sido colhido

nem apanhar algum produto que tivesse caído ao chão. Embora a propriedade fosse

própria, os sem-emprego, os sem-terra, os sem-arrimo, isto é, os estrangeiros, as

viúvas e os órfãos, tinham todo o direito de entrar em seus terrenos e fazer a

segunda colheita17.

17
Bíblia Sagrada, Livro de Levítico-Cap. 19:9, 10 e Livro de Deuteronômio- Cap. 24:19-22
32

Ao pensarmos em responsabilidade social do cristão, quase que

instintivamente, reportamo-nos ao Novo Testamento. Histórica e religiosamente o

Novo Testamento é o complemento do Velho Testamento, porém modificado

inteiramente por Jesus Cristo, principalmente no episódio do famoso sermão do

monte (capitulo 5 de Mateus),.

O Antigo Testamento mostra o interesse divino em proteger os mais

necessitados. Por este motivo várias leis foram estabelecidas como exemplo

podemos citar a lei do ano sabático onde todo o povo que foi liberto da escravidão

no Egito ao entrar em Canaã, a terra prometida, deveria lembrar. Esta lei

determinava que o solo deveria ser semeado durante seis anos e no sétimo ano, o

solo teria que descansar. Como veremos a referência a seguir que se encontra na

Bíblia no Livro de Levitico cap. 25:1-4

“Quando entrardes na terra que vos dou, então, a terra guardará


um sábado ao Senhor. Seis anos semearás o teu campo, e seis
anos podará a tua vinha, e colherás os seus frutos. Porém no
sétimo ano, haverá sábado e descanso ao Senhor; não semearás o
teu campo nem podarás a tua vinha.”

Durante o referido período, os israelitas não semeavam o campo nem

podavam as videiras. Tudo quanto colhessem naquele ano deveria ser partilhado

igualitariamente pelo proprietário entre os servos, estrangeiros e até animais. E todo

débito deveria ser cancelado. Os credores eram instruídos a cancelar as dívidas dos

pobres, assumidas durante os seis anos anteriores. O ano sabático era um

instrumento pedagógico que servia para lembrar aos judeus que um dia eles também

foram escravos no Egito.

Após os sete anos sabáticos, era chegado o ano do jubileu; a cada

quarenta e nove anos, um era observado como período de descanso para as terras

agricultáveis. Aquele ano caracterizava um período de restituição da herança familiar


33

para aqueles que a haviam perdido; uma época de libertação de escravos e de

descanso da terra. O cuidado de restituir a herança tem a ver com fato de que a terra

pertencia a Deus; Ele dava à família o direito de administrá-la, o que passaria de

geração em geração.

Quanto aos escravos eles deveriam servir aos seus senhores no

máximo, por um período de seis anos. Chegando o ano do jubileu mesmo que o

escravo tivesse servido por período menor que seis anos, deveria ser libertado.

Estas leis foram instituídas objetivando proporcionar uma sociedade

justa para todos os cidadãos, independente de sua classe social.


34

CAPÍTULO IV

4. JESUS CRISTO , O FUNDADOR DO CRISTIANISMO E OS EXEMPLOS

DEIXADOS PARA OS SEUS SEGUIDORES

Os evangelhos revelam a verdade irresistível de que Jesus foi tocado

pelas necessidades humanas, e atendeu-as por atos de misericórdia. Mas Jesus

também atendia às suas carências físicas, muitas vezes antes mesmo de suprir-lhes

as insuficiências espirituais. A pobreza de milhões deveria chocar os cristãos.

Infelizmente o que se tem visto é que muitos se acostumam à desgraça alheia, como

se isso representasse apenas um reflexo do juízo divino.

O ensino mais distintivo do cristianismo é que Deus deixou a esfera do

divino e entrou completamente na experiência humana. Nesse processo, Jesus

mostrou ao mundo que os seres humanos podem se purificar mediante a prática da

compaixão em favor dos pobres, dos opressos, dos excluídos e dos estrangeiros.

A empatia de Jesus pelos pobres é revelada repetidamente nas

páginas do Novo Testamento. Ele contou a história do rico que pensava ter um

problema com a armazenagem inadequada de sua colheita. A preocupação desse

homem ficou expressa numa ansiosa declaração: “Que farei? Não tenho onde

armazenar minha colheita”18. Enquanto esse homem próspero tencionava edificar

celeiros maiores para armazenar sua colheita abundante, parecia completamente

esquecido das necessidades dos pobres. Mas Jesus apontou para o verdadeiro

problema de sua vida: egoísmo e ganância. Ele poderia ter resolvido o problema

simplesmente reconhecendo seu dever para com os pobres. Precisava aprender a

lição que Jesus tão claramente ensinou: Somos abençoados a fim de ser uma

18
Bíblia Sagrada- Evangelho de Lucas , Cap. 12:7
35

bênção para os outros; somos privilegiados em servir a outros. Jesus chamou o

homem de louco e ensinou onde reside a verdadeira sabedoria: na ajuda aos

necessitados.

Outro exemplo da profunda preocupação de Jesus com os pobres é

Seu diálogo com o jovem rico. Esse homem não era somente poderoso

economicamente, mas possuía também influência religiosa e política.

Evidentemente, a riqueza e a influência não satisfaziam os anseios profundos do seu

coração. Assim, aproximou-se de Jesus com a sincera intenção de buscar a vida

eterna. Jesus demonstrou solene interesse por ele e, em resposta à sua pergunta,

disse-lhe: “Vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres... e vem e segue-Me”.

Mas essa exigência de discipulado era demais para ele — pelo menos assim

pensava. Era um preço muito alto a pagar para seguir a Jesus. Por isso, o jovem rico

“retirou-se triste”19

Dentre as muitas lições que podemos tirar dessa história, pelo menos

uma é clara: Jesus repetidamente demonstrava preocupação com os pobres. Eles

estavam sempre em Sua mente e eram uma parte de Sua conversação. Ele

começou Seu ministério público lendo o que o profeta Isaías tinha predito acerca do

Messias: “O Espírito Santo é sobre Mim, pois Me ungiu para evangelizar os pobres,

enviou-Me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, e

dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável ao

Senhor”.20

Jesus estava consciente de que Sua messianidade incluía cuidar dos

pobres e necessitados. Por exemplo, quando João estava definhando na prisão e

dúvidas começaram a surgir em sua mente a respeito de Jesus e de Sua pretensão

19
Bíblia Sagrada – Evangelho de Marcos , cap 10:21-22
20
Id.Ibid., Evangelho de Lucas., cap 4:18,19
36

de ser o Messias, ele enviou alguns de seus discípulos a fim de inquirirem Jesus. Ao

se encontrarem com Cristo, perguntaram-Lhe: “És Tu Aquele que havia de vir, ou

esperamos outro?” A resposta de Jesus foi simples: “Ide e anunciai as coisas que

ouvis e vedes: Os cegos vêm, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os

surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o

evangelho”21 As obras de compaixão de Jesus testificavam ser Ele o Messias. Os

seguidores de Cristo precisam demonstrar por suas obras como eles cumprem sua

responsabilidade para com os pobres e necessitados; não somente por palavras

eloqüentes concernentes à pobreza, mas por ações simples que aliviam seu

sofrimento. Em outras palavras, o dever dos cristãos com os pobres vai além do que

dizemos, para incluir também o que fazemos. Com efeito, “o verdadeiro culto

consiste em trabalhar juntamente com Cristo. Orações, exortações e conversa são

frutos de baixo preço, freqüentemente ainda ligados à árvore; mas frutos manifestos

em boas obras, no cuidado dos necessitados, dos órfãos e viúvas, são genuínos e

crescem naturalmente numa boa árvore”.

Seguindo o exemplo de Jesus ,o apóstolo João diz na carta de I João


3:17

“Quem pois tiver bens do mundo, e, vendo seu irmão necessitado,


lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele a caridade de
Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua,
mas por obra e em verdade”

O exemplo mais perfeito e mais impressionante de solidariedade com

o pobre e miserável é o exemplo de Jesus Cristo. Ninguém é tão alto, majestoso e

glorioso quanto Ele, e ninguém desceu de seu pedestal tanto quanto Jesus Cristo. A

pessoa mais empolgada com o exemplo de Jesus certamente é o apóstolo Paulo.

21
Bíblia Sagrada- Evangelho de Mateus 11: 3:5
37

Na carta que ele escreveu ao povo de Coríntios que se encontra no Novo

testamento o ex-fariseu escreve:

Vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que,


sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de
sua pobreza vocês se tornassem ricos" (2 Corintios 8.9).

E na carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses – cap. 2:5-8 ,ele propõe

a imitação do exemplo de Jesus:

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora


sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que
devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em
forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a
morte, e morte de cruz.

A espantosa solidariedade de Jesus com os socialmente

marginalizados, com os humildes e com os famintos, e não com os soberbos, com

os poderosos e com os ricos, começou com a eleição de Maria para ser a mãe do

Salvador e com nascimento de Jesus numa humilde estrebaria ,como podemos ver

no exemplo abaixo:

E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e


deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na
estalagem. ( Lucas – cap. 2:7)

À semelhança de João Batista, que não se vestia de roupas finas

nem transitava pelos palácios Jesus vivia entre pecadores e pescadores, entre

famintos de pães e peixes e famintos do Pão da vida, entre pessoas tomadas de

alguma enfermidade ou deficiência física e pessoas tomadas ferozmente de

espíritos imundos, entre publicanos e meretrizes. Ele não tinha "onde repousar a

cabeça22" e recebia apoio material de algumas mulheres da Galiléia, como Maria

Madalena, Joana (cujo marido era do alto escalão do governo de Herodes) e

22
Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus- Cap 8:10
38

Susana).De tal modo Jesus desceu ao nível do ser humano que Ele permitiu que

uma "mulher pecadora", conhecida de todos, entrasse na casa de um "homem

rigoroso" (Simão, o fariseu), e lhe mostrasse publicamente toda a sua gratidão pelo

perdão anteriormente obtido. Dominada por forte emoção, a mulher derramou suas

lágrimas sobre os pés de Jesus, cujas pernas estavam estendidas para trás no

assoalho, enquanto Ele comia da mesa de Simão, para depois enxugá-los com os

próprios cabelos soltos23 .

O exemplo de Jesus não deve ser esquecido, jogado fora,

desperdiçado. Ele é o nosso padrão de comportamento: "Eu lhes dei o exemplo,

para que vocês façam como lhes fiz" 24 .No segundo grande mandamento um dos

mestres da lei de Moisés perguntou a Jesus qual de todos os mandamentos era o

mais importante. De pronto, Jesus Cristo respondeu mais do que havia sido

solicitado. Ele mencionou o mais importante (amar a Deus com força total) e o

segundo mais importante: "Ame o seu próximo como a si mesmo" 25

Ora, esse "segundo mais importante mandamento" fecha

definitivamente o cerco contra qualquer omissão e qualquer transgressão na área

da justiça social. Ele obriga o seguidor de Cristo a amar o próximo como amamos

a nós mesmos. Como o amor com que nos amamos é enorme, ambicioso e

constante, então, não se deve tirar vantagem pessoal de ninguém, mas construir

a sobrevivência dos homens e patrimônio juntos!

23
Id. Ibid., Evangelho de Lucas-Cap. 7:36-50
24
Bíblia Sagrada- Evangelho de João ,Cap. 13:15
25
Id. Ibid., Evangelho de Marcos 12:28-34
39

CAPÍTULO V

5. A IGREJA PRIMITIVA E A REFORMA PROTESTANTE

Na maior parte da história da igreja os cristãos entenderam

que o socorro aos sofredores era uma parte importante da sua vocação no mundo.

Eles não acreditavam que havia qualquer conflito entre essa preocupação e outros

interesses da vida cristã. Não somente o Novo Testamento como também o Antigo

Testamento está cheio de referências à justiça social.

No tempo dos apóstolos, a igreja era constituída de judeus e gentios

ou, melhor, de judeus de fala hebraica, que viviam na Palestina, e de judeus de

fala grega, que viviam em países fora da Palestina (gentios são todos aqueles que

não são oriundos do povo judaico). No princípio, as necessidades de ambos os

grupos eram plenamente supridas pela igreja: "Ninguém considerava unicamente

sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham" 26

Com o grande crescimento numérico da igreja, o velho problema da

discriminação arrebentou: as viúvas dos judeus de fala grega "estavam sendo

esquecidas na distribuição diária de alimento. Em vez de serem caladas e

repreendidas por levantarem suas vozes contra essa desesperadora e injusta

situação, as viúvas lesadas obtiveram imediata atenção dos apóstolos. Para não

haver acúmulo de trabalho, para não prejudicar nem a pregação da Palavra nem

os necessitados, para preservar a unidade até então existente e levada a sério, os

apóstolos promoveram a eleição de "sete homens de bom testemunho, cheios de

sabedoria" para cuidar do aspecto diaconal da igreja. E todos, os queixosos e os

não-queixosos, as viúvas de língua hebraica e as viúvas de língua grega, ficaram

26
Bíblia Sagrada- Livro de Atos dos Apóstolos –Cap. 4:32-35
40

satisfeitos27 . Graças à rapidez e ao acerto dessa providência, a primeira tentação

de divisão da igreja foi vencida.

Mais do qualquer outro escritor do Novo Testamento, Tiago é

extremamente severo quando trata da discriminação social e opressão econômica,

como se pode ver nos textos a seguir:

Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo,


não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade.
Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de
ouro e roupas finas, e também entre um pobre com roupas velhas e
sujas. Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido
com roupas finas e disserem: `Aqui está um lugar apropriado para o
senhor', mas disserem ao pobre: `Você, fique em pé ali', ou `Sente-se
no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés', não estarão
fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?"
(Tiago Cap. 2.1-4,.)

Vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem


vocês? Não são eles os que os arrastam para os tribunais?" (Tiago
Cap 2.6,.)

Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento


de cada dia e um de vocês lhe disser: `Vá em paz, aqueça-se e
alimente-se até satisfazer', sem porém lhes dar nada, de que adianta
isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de
obras, está morta" (Tiago ,Cap. 2.15-17).

"Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a


desgraça que lhes sobrevirá... Vejam, o salário dos trabalhadores
que ceifaram os seus campos, e que vocês retiveram com fraude,
está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos
ouvidos do Senhor dos Exércitos... Vocês têm condenado e matado o
justo, sem que ele ofereça resistência" (Tiago,Cap. 5.1-6).

Segundo historiadores da época (Hegésipo, Josefo e Eusébio), Tiago

foi martirizado no ano 62 da era cristã, tendo sido atirado do pináculo do templo.

Quando a verdade do Cristianismo é vivida e crida em sua essência

a história da humanidade muda, mas quando a sua essência é degenerada, se

torna impotente não havendo mudança significativa na sociedade.

27
Bíblia Sagrada-Livro de Atos dos Apóstolos –Cap. 6:1-7
41

Um sociólogo e professor de religião comparada, chamado

Dr.Rodney publicou, em 1996, uma obra que imediatamente se tornou um clássico:

The Rise of Christianity. Segundo ele, o cristianismo deixou de ser apenas um

íntimo movimento religioso para se tornar, em poucos séculos, a religião dominante

da civilização ocidental, em razão de seu profundo impacto sociocultural. No seu

livro ele diz que como um homem com apenas doze apóstolos pode em menos de

300 anos se estender de uma extremidade a outra do Império Romano. Ele faz

uma análise de como as conversões do primeiro século estavam relacionadas à

atitude moral dos cristãos para com a família, o casamento e sua sinceridade

perante a vida como um todo. Mas além do crescimento numérico, a expansão no

cristianismo primitivo trouxe transformações sociais significantes.28 No Ano de 165,

no reinado de marco Aurélio uma grande epidemia golpeou o Império, dizimando

um terço da população no decorrer de 15 anos, inclusive provocando a morte do

próprio Imperador. Em 251, uma epidemia provavelmente o sarampo, trouxe

resultados semelhantes. Os historiadores dizem que essas epidemias

despovoavam o Império mas foram relevantes para o crescimento do

cristianismo. Em primeiro lugar porque o cristianismo” acredita que coisas ruins

acontecem com pessoas boas”; afinal o próprio Cristo sofrera demasiadamente,

tendo morrido na cruz, apesar de ser inocente .

Os valores Cristãos de amor ao próximo, compaixão e misericórdia,

como base do serviço social e da solidariedade na comunidade cristã, capacitam

os Cristãos a lidarem com as tragédias. Portanto, quando sofriam , foram os

Cristãos que melhor puderam entender que eles também estavam sujeitos a tais

circunstâncias. Depois da onda de epidemias, constatou-se que, o percentual de

28
Cunha,Mauricio e Outros-Cosmovisão Cristã e Transformação ., pg.23 e 24.Ed. Ultimato,2006
42

Cristãos sobreviventes foi maior do que a população pagã. Os que não tinham

nenhuma fé foram inábeis de confrontarem tais dificuldades.

Rodney Stark constatou que a fé Cristã proporcionava um lugar

seguro não só às epidemias, mas também as mazelas sociais da cidade. Ele

observou que o Cristianismo era um fenômeno primordialmente urbano. Neste

ambiente que as pessoas se encontravam. Como por exemplo os primeiros

Cristãos convertidos, os judeus helênicos . Na Cidade de Antioquia, Stark pontua,

que a vida social era terrível;muita miséria, pobreza, perigo , medo,desespero e

ódio. Em resposta a isso, os cristãos geraram uma nova cultura, capaz de tornar

avida nas cidades greco-romanas muito mais tolerável para as pessoas em geral.

Nas cidades com grande número de pessoas sem lar e empobrecidas, o

Cristianismo oferecia tanto caridade como esperança. Nas cidades com alto índice

de viúvas,órfãos, ele proveu um novo conceito e senso de família.Quando havia

terremotos, epidemias, incêndios, o Cristianismo oferecia serviços significativos de

socorro. Os pagãos fugiam das pragas, mas os cristãos iam para elas.

Pode-se pensar então que o Cristianismo era uma fé só de massas

de escravos e desafortunados. Verificou-se que ele também alcançou e penetrou

na classe média e alta, modificando significativamente a sua atitude para com a

riqueza. Com efeito, se tornou notória a generosidade dos Cristãos abastados.Eles

ajudavam a construir, os locais de adoração , cemitérios e casas para acolher os

pobres.

O Colapso do império romano introduziu um tremendo vácuo de poder

que foi ocupado pela igreja católica por séculos. No tempo da reforma a igreja

católica operava não apenas como uma das instituições que mais exploravam o
43

pobre, mas também, e talvez como a última fonte de legitimação dos interesses da

classe dominante.

O Sistema de indulgências é o exemplo mais conhecido. Para alcançar

o perdão dos pecados, livrando a si mesmo e aos seus antepassados e parentes do

purgatório. O fiel podia comprar atestados da igreja, obtendo acessos ao “tesouro de

méritos”

O período reformista foi bastante conturbado, mas mesmo diante de

todas as dificuldades surgidas por causa das vozes que se levantaram contra o caos

presente no seio da Igreja, a Igreja nascente, fruto da Reforma Protestante, foi

marcada pela presença da missão integral. Ela era uma Igreja preocupada pela

salvação pela graça, mas que entendia que o ser humano deveria ser tratado

integralmente com dignidade. Não se deve limitar a Reforma Protestante do século

XVI a um movimento espiritual e eclesiástico. Sem duvida alguma, a ação dos

reformadores também trouxe conotações e implicações políticas e sociais.

Os dois mais importantes reformadores, Martinho Lutero e João

Calvino tiveram importante papel no que tange à questão social. Lutero ficou

conhecido como teólogo, pregador e reformador, mas o seu agir não é fruto apenas

de uma reflexão teológica, e sim, de sua experiência como cotidiano. “ O dado

religioso se constrói na história, em meio aos fenômenos sociais, políticos e

econômicos.”29

O reformador reconhece que o cristão é cidadão pertencente a dois

reinos, o reino de Deus e o reino deste mundo e isto nos ensina que, sob o prisma

de Lutero, o ser humano é responsável diante de Deus e da autoridade civil. Por isso

mesmo ele dá ênfase ao papel social do cristão em suas 95 teses:

29
Caio Fábio DÁRAUJO FILHO, Igreja , Evangelização , Serviço e transformação histórica ,p.20 Ed. Sepal
1987
44

 43º - Os cristãos devem ser ensinados que aquele que dá ao

pobre ou empresta ao necessitado pratica uma obra melhor do

que comprar perdões.

 45º - Os cristãos devem ser ensinados que aquele que vê um

homem em necessidade, e passa por ele, e dá( seu dinheiro) por

perdões, não compra as indulgências do papa, mas a indignação

de Deus.

Pensar sobre ação social na perspectiva de João Calvino é pensar,

inevitavelmente, sua teologia, pois esta é pressuposto para formular sua reflexão e

motivar aqueles que estavam ao seu redor a uma ação efetiva. Ocorre, porém que

toda a leitura de Calvino sobre o aspecto social passa pela realidade por ele

vivenciada. Ele pastoreou uma igreja na cidade de Genebra e ali, os problemas

sociais comuns por toda a Europa se faziam presentes, dentre eles: pobreza

extrema, altos impostos, salários miseráveis e uma jornada de trabalho extenuante.

Além do mais, o analfabetismo era igualmente habitual, a ignorância estava

presente, bem como os vícios e a prostituição.

No seio de uma sociedade achacada foi que Calvino desenvolveu sua

teologia e sua visão sobre a responsabilidade social da Igreja. Na leitura daquele

reformador, a miséria era um claro sinal da corrupção humana, fruto da queda do

homem. Ele faz sérias denúncias sobre os pecados sociais, falando sobre a

estocagem de alimentos que visam ao enriquecimento de poucos, denunciando a

especulação financeira oriunda do egoísmo e da avareza do ser humano.

Mas Calvino dispunha de uma teologia que ultrapassava questões

individuais e espirituais.Cristo Jesus é o Senhor de toda a existência humana,sendo

assim, era dever da igreja dar atenção aos temas sociais e políticos.
45

Três aspectos resumem a visão de Calvino sobre a responsabilidade

social do cristão: os ministérios didático, político e social.


46

CAPÍTULO VI

6 O QUE DIZEM AS TRÊS PRINCIPAIS DOUTRINAS CRISTÃS: OS


CATÓLICOS, EVANGÉLICOS E ESPÍRITAS

6.1 VISÃO SOCIAL DA IGREJA CATÓLICA

O social-catolicismo alemão foi, de certa forma, precursor da

doutrina social da Igreja, promulgada por Leão XIII, em 15 de maio de 1891, na

encíclica Rerum Novarum.

A encíclica trata da questão operária, em virtude dos

antagonismos crescentes na sociedade industrial, marcada pelo distanciamento

entre capital e trabalho, que gerou tensões, cada vez mais acentuadas, entre os

donos dos meios de produção e os trabalhadores.

No seu preâmbulo diz:

“A sede de inovações, que há muito tempo se apoderou das


sociedades e as tem numa agitação febril, devia, tarde ou cedo,
passar das regiões da política para a esfera da economia social.
Efetivamente, os progressos incessantes da indústria, os novos
caminhos em que entram as artes, a alteração das reações entre os
operários e os patrões, a afluência da riqueza nas mãos de um
pequeno número ao lado da indigência da multidão, a opinião mais
avantajada que os operários formam de si mesmos e a sua união
mais compacta, tudo isto, sem falar da corrupção dos costumes, deu
em resultado final um temível conflito”.30

A doutrina social católica nasceu de uma crise teórica e prática

das relações entre a Igreja e o mundo e se propôs estratégias de estabilidade

intraeclesial e de mobilização dos católicos frente à nova ordem social em

30
LEÃO XIII. Rerum Novarum. Brasília: Congresso – Câmara dos Deputados, 1981, p. 9.
Em 1891, a questão social ganhou um novo estatuto: a encíclica Rerum Novarum, que compilou a doutrina
social da Igreja. Todas as questões de ordem institucional, política, jurídica ou religiosa, passaram a ter essa
referência.
47

construção. Por esta razão a doutrina social alemã pode ser entendida como

ideologia da formação social do catolicismo social alemão.31

O ultramontanismo32 foi criando fortes adeptos dentro e fora da

Alemanha a ponto de entender que as questões de política social deveriam ter seu

foco de discussão transferido para Roma, uma vez que lá se acreditava ser possível

dar um enfoque multifacetado ao problema social.

O Abade Villeneuve, do Canadá, entendeu que a reordenação do

mundo católico só se faria possível mediante um segura orientação de Roma. Para

isto, propôs a constituição de um Comitê de Estudos das políticas sociais

diretamente vinculado a Roma, para que as situações diferenciadas tivessem um

entendimento e uma orientação comum.

O direito natural, defendido pelo tomismo33 e incorporado pela

neoescolástica, se caracteriza por ser uma doutrina sobre uma determinada ordem

social, que é invariável na sua essência e universalmente válida, cognoscível

ontologicamente graças a uma congruência fundamental entre a racionalidade

humana e a racionalidade divina e que, em virtude disto, necessita da autoridade

eclesiástica como última instância de interpretação.

Franz X. Kauffmann demonstrou em seu estudo sobre “a sociologia do

catolicismo” que o pensamento embasado no direito natural neoescolástico teve

influência na Alemanha a partir da segunda metade do século XIX. 34

31
KRUIP, Gerhard. “Las raíces históricas de la doctrina social católica en la Alemania del siglo XIX: un
modelo para superar los desfios de la modernidad?” In: Salmanticensis. V. XXXVIII, Fasc. 2, mayo-agosto de
1991, p.194.
32
refere-se à doutrina e política católica que busca em Roma a sua principal referência. Este movimento surgiu
na França na primeira metade do século XIX. Reforça e defende o poder e as prerrogativas do papa em matéria
de disciplina e fé.
33
é a doutrina ou filosofia escolástica de Santo Tomás de Aquino (1225-1274), adotada oficialmente pela Igreja
Católica, e que se caracteriza, sobretudo pela tentativa de conciliar o aristotelismo com o cristianismo.
Procurando assim integrar o pensamento aristotélico e neoplatônico, aos textos das Sagradas Escrituras, gerando
uma filosofia do Ser, inspirada na fé, com a teologia científica.
34
KAUFMANN, Franz Xaver. Zur Sociologie des Katholizismus. Mainz, 1.980, p. 201-25; KRUIP, p. 211.
48

Em decorrência desta posição o Papa Leão XII encarregou o Arcebispo

Domenico Jacobini, com o apoio de Monsenhor Boccali, secretário particular do

Papa, para organizar um Círculo de Estudos Sociais e Econômicos, que se ocupasse

das questões que afetavam as relações de trabalho.35

A encíclica Humanum Genus, de 1884, de Leão XIII, advertiu que os

operários que ganhavam duramente com o seu salário a sua vida eram os mais

sujeitos ao socialismo e aos perigos da maçonaria. “Com o maior amor temos que ir

ao encontro deles e reuni-los em sólidas associações, para que não sejam

pervertidos”, asseverava a carta pastoral.36

A situação dos operários encontrava, de certa forma, alento no discurso

socialista. Por esta razão, a encíclica Humanum Genus recomendava aos bispos o

fomento à vida associativa. “Organizai os nossos trabalhadores cristãos, antes que

seja tarde; organizai-os em associações cristãs, antes que os inimigos estejam em

nossos próprios muros”.37

Na encíclica Quod Apostolici Muneris, Leão XIII admoestou que os

operários e as associações de ofício fossem fomentados para que pudessem, sob a

proteção da religião, trazer a todos os seus associados a satisfação na sua liberdade

e a paciência no trabalho, convidando-os para uma vida de convívio pacífico.

A possibilidade de uma iminente revolução social se afigurava, cada

vez mais, ameaçadora ao universo da ação pastoral da Igreja. A busca de

mecanismos de aproximação, ou de reaproximação dos trabalhadores à Igreja teria

que se valer da estratégia da socialização da mensagem cristã e, ao mesmo tempo,

35
RITTER, Emil. Die Katholische-soziale Bewegung Deutschlands im Neuzehnten Jahrhundert und der
Volksverein. Köln: Verlag J. P. Bachen, 1954, p.165.
36
Idem, p. 65.
37
Ibidem.
49

da organização de associações cristãs, cujo elo de unidade, além dos interesses

comuns, teria que ser reforçado pelos vínculos da fraternidade e da caridade cristãs.

Com este teor as Assembléias Católicas - Katholikentagen -

fomentaram a criação das corporações profissionais – Arbeitvereinen. Na reunião de

Fulda, em 23 de agosto de 1890, os bispos da Alemanha novamente destacaram a

importância da associação dos trabalhadores.

Para tanto foi criado um Comitê para a centralização das associações,

no intuito de achar um caminho, que não poderia ser o do autoritarismo, para

promover o associativismo livre na perspectiva da política social católica. Os pontos

já destacados em 1881 pelo Comitê Central dos Katholikentage para o

enfrentamento da problemática social foram retomados:

a) reorganização da sociedade em base a princípios cristãos e corporativos;

b) capitalismo, lucro e juro, plutocracia e judeus;

c) as justas referências para o estabelecimento dos salários;

d) a situação agrária e os impostos;

e) o trabalho aos domingos e o fretamento de mercadorias aos domingos;

f) associações de agricultores e as caixas Raiffeisen.38

Estes pontos passaram a integrar o programa dos partidos de

orientação católica e a Igreja entendia que, com esta ação programática, estava indo

ao encontro do Estado moderno. Mais tarde a própria encíclica Rerum Novarum, de

Leão XIII, viria confirmar esta preocupação:

“O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. É difícil,


efetivamente, precisar com exatidão os direitos e os deveres que
devem ao mesmo tempo reger a riqueza e o proletariado, o capital e
o trabalho. Por outro lado, o problema não é sem perigos, porque
não poucas vezes homens turbulentos e astuciosos procuram

38
RITTER, op. cit., p. 81.
50

desvirtuar-lhe o sentido e aproveitam-no para excitar as multidões e


fomentar desordens”.39

A Rerum Novarum, em seu preâmbulo, destaca a época marcada pela

sede de inovações, que, provocadas pela cobiça humana, deixam as classes sociais

inferiores desprotegidas.

“O século passado destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as


corporações antigas, que eram para eles uma proteção; os
princípios e o sentimento religioso desapareceram das leis e das
instituições públicas, e assim, pouco a pouco, os trabalhadores,
isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo,
entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma
concorrência desenfreada”.40

As corporações, as associações de socorro e de previdência são

apresentadas como vitais para o salutar funcionamento da sociedade. Defende as

“sociedades privadas, cujo direito de existência foi-lhes outorgado pela própria

natureza; e a sociedade civil foi instituída para proteger o direito natural e não para o

aniquilar”.41

Ao Estado, visto sob a ótica do jusnaturalismo e definido como “todo o

governo que corresponde aos preceitos da razão natural e dos ensinamentos

divinos”, cabe manter a ordem social e a proteção da sociedade.42

Mesmo assim, condena todos os ensaios de inversão da ordem e de

destruição das instituições, refutando o critério socialista de propriedade,

conceituando-a como fruto do trabalho do homem, e afirmando a primazia do homem

sobre o Estado.43

Na questão social básica, a doutrina social da Igreja admite a

desigualdade, convocando o homem a aceitá-la pacientemente, uma vez que “é

39
Rerum Novarum, 4, p. 10.
40
Rerum Novarum , 6.
41
Rerum Novarum, IV, 68-81.
42
Rerum Novarum, III, 46-50.
43
Rerum Novarum, I, 7-23.
51

impossível que na sociedade civil todos estejam elevados no mesmo nível”, mas não

tolera a luta de classes. Prega a harmonia, através de relações sociais justas e de

salários dignos, e reserva ao concurso da Igreja a possibilidade de êxito nos esforços

humanos.44

A justificação da exclusividade da Igreja Católica em torno das

questões sociais está fortemente ligada à estratégia de renovação espiritual e

representa uma forma de reação à situação marcada pela marginalização dos

católicos no contexto da modernização alemã.

Kauffmann chegou a entender que havia uma intenção de segregar os

católicos do conjunto da sociedade e de defender e de estabelecer uma subcultura

católica mais ou menos fechada, para recuperar o controle social perdido em virtude

da industrialização.

Para tanto, o catolicismo teria se estruturado em uma subsociedade de

associações, de tal forma que buscou oferecer aos católicos uma rede quase

completa de relações sociais possíveis.45

A implantação do socialismo e a crescente conversão dos

trabalhadores à sua doutrina tornaram a Igreja Católica mais tolerante diante das

questões que orientavam a organização associativa dos seus fiéis. A encíclica

comemorativa aos quarenta anos da edição da Rerum Novarum, a Quadragésimo

Anno, de Pio XI, justifica esta postura assegurando que:

“...nos países onde as leis pátrias, as instituições econômicas, ou a


discórdia de inteligências e de corações tão deploravelmente
enraizada na sociedade moderna, ou ainda a necessidade urgente
de opor uma frente única aos inimigos da ordem, impedia os
católicos a fundação de sindicatos próprios. Em tal estado de coisas
os católicos vêem-se quase obrigados a inscrever-se em sindicatos

44
Rerum Novarum, II, 25-45.
45
KAUFMANN, Franz Xaver. Zur Sociologie des Katholizismus. Mainz, 1.980, p. 210 e seguintes.; KRUIP, loc.
cit., p . 212.
52

neutros, uma vez que façam profissão de justiça e eqüidade e


deixem aos sócios católicos plena liberdade de obedecer à própria
consciência e seguir os preceitos da Igreja”.46

Os perigos eminentes do socialismo, vislumbrados pela encíclica de

Pio XI, fizeram com que a Igreja Católica reafirmasse o cristianismo como o único

caminho de renovação da sociedade.

Embora pensadores católicos e luteranos já tivessem afirmado que os

princípios do cristianismo deveriam se sobrepor às peculiaridades confessionais, as

associações inter e trans-confessionais representavam para a alta cúpula

eclesiástica católica uma solução emergencial e cabia aos bispos “...reconhecerem

que tais associações são impostas pelas circunstâncias e não oferecem perigo para

a religião...”.47

Recomendava, no entanto, de seguir as recomendações de Pio X,

expressas na encíclica Singulari Quadam, de 1912, e de tomar as precauções

necessárias para que a filiação a associações não representasse perigo para a

religião.48 A flexibilização desta prerrogativa no conjunto da organização da

sociedade teve como contrapartida a conclamação para o revigoramento da ação

católica, pela união das forças católicas, para combater os males da sociedade e

promover a sua renovação cristã.

E invocando a Rerum Novarum, Pio XI convidou a todos para que,

seguindo os ensinamentos da Igreja, se unam “não se procurando a si mesmos nem

a seus próprios interesses, mas os de Jesus Cristo; não teimando em fazer triunfar

as suas idéias, por boas que sejam, mas dispostos a sacrificá-las ao bem comum;

46
“PIO XI. Quadragésimo Anno. (QA, 35). Brasília: Congresso/Câmara dos Deputados, 1981, p.54.
47
Ibidem.
48
Ibidem.
53

para que em tudo e sobre tudo reine e impere Cristo, a quem seja “honra, glória e

poder por todos os séculos”.49

6.2 A VISÃO SOCIAL DOS EVANGÉLICOS

A questão social foi vista muito mais por pensadores evangélicos do

que assumida como compromisso institucional da Igreja. Na perspectiva institucional

e sob o ponto de vista doutrinário a relação homem-Deus não comportava

mediações sociais.

Na VI Conferência Luterana, em Hannover, em 1890, ficou ressaltado

que a interpretação científica e prática das questões sociais não cabia à Igreja e aos

seus servidores.

“A condução da Igreja nesta direção aumenta o problema em si, a


Igreja do alto da sua consciência legada por Deus, portadora e
mediadora do reino do céu deve prever seu eterno bem celestial e
deve distinguir e separar a ordem mundana da ordem cristã”.50

Estabeleceu-se, desta forma, um amplo debate no interior da Igreja.

Uma facção mais progressista da hierarquia da Igreja Evangélica percebeu que a

doutrina socialista representava uma possibilidade de atração dos seus fiéis e, ao

mesmo tempo, uma ameaça à própria instituição enquanto organização social

comunitária e proprietária de bens.

49
Quadragésimo Anno,146, p. 89.
50
SHÜRMANN, Karl Heinz. Zur Vorgeshichte der Christlichen Gerwerkschaften. Freiburg: Herder Verlag,
1958, p. 80.
54

Inspirada no pensamento do pastor Rudolf Todt (1838-1887) buscou

desmistificar o caráter personalista da vida evangélica para aproximá-la da realidade

social.

Entendeu que a proposta do socialismo estava embasada em situações

concretas da vida dos trabalhadores, por isso a sua grande receptividade, e para

fazer-lhe frente era necessário partir do entendimento que o Novo Testamento não

só enuncia princípios doutrinários, mas se embasa num discurso social concreto.

Este entendimento permitiria à Igreja uma nova postura, sem que ela

renunciasse às especificidades de sua missão que se situam na esfera espiritual e

se traduzem, basicamente, na revelação dos bens celestiais e na salvação da alma.

Percebeu que os tempos modernos, com a industrialização,

apresentavam novos desafios que exigem novas respostas. As respostas

encontrariam sentido quando consideradas a partir da história da formação do

mundo do trabalho, que se assentou em bases que imprimiram uma grande

mobilidade social e definiram novas classes sociais.51

51
Idem, p. 82.
55

6.3 A VISÃO SOCIAL DO ESPIRITISMO

“Fora da Caridade não há salvação” dizia Alan Kardec no “O Evangelho

Segundo o Espiritismo: Cap. XV )”. Ao “dar: doar”, deve-se acrescentar o “dar:

doar-se”, no sentido de que a “caridade material” venha movida, amorosamente

acionada, pela “caridade espiritual” escreveu o brasileiro Deolindo Amorim em seu

livro “O Espiritismo e os Problemas Humanos”. O Espiritismo surge a partir da obra

“O Livro dos Espíritos”, publicada na França, em 1857. O livro faz uma compilação

dos diálogos entre um conjunto de “seres espirituais” e Allan Kardec - pseudônimo

de Hyppolyte Leon Denizard L. Rivail - pedagogo formado numa tradição cientificista

e liberal. No Brasil, as idéias de Kardec chegaram a partir de 1860, através de

imigrantes franceses. Na década seguinte o Espiritismo já fazia parte do plural

campo religioso brasileiro. A noção de “espírito” era usada, por Kardec, para explicar

certos fenômenos (por exemplo: movimentação de objetos sem interferência

mecânica) que revelavam a existência de um outro plano existencial. Os “médiuns”

teriam o poder de servir de canal para comunicação e manifestações desses

espíritos. Nesta cosmologia, o aperfeiçoamento de cada “espírito” depende de sua

trajetória composta por diversas “encarnações”, durante as quais são afirmadas

“tanto a individualidade de cada um, livre para agir segundo suas decisões, quanto o

caráter justo de Deus, que através de leis imutáveis recompensa ou pune segundo

um critério moral que explica as desigualdades encontradas no mundo”.

(Giumbelli,1997).

Para Kardec, Cristo era um “espírito superior” e no centro da moral

recomendada e praticada por ele estava a “caridade”, chave da “evolução” e do

“progresso” de cada “espírito imperfeito” ou “criatura” comum. Para os espíritas, os


56

pobres são objeto de caridade enquanto símbolo de uma humanidade imperfeita. O

espiritismo funda-se, portanto, na noção de “melhoramento moral de cada um” na

necessidade de redenção e evolução e, por isso, a caridade torna-se “um

mandamento capaz de mobilizar recursos pessoais e financeiros em vista de ações

filantrópicas, cristalizadas em instituições específicas ou dispersas entre os próprios

centros espíritas”, analisa Giumbelli (1998). O perfil do doador espírita, se

comparado a outras religiões,tem maior proporção de adeptos com mais alta

escolaridade e nível de renda. Os espíritas kardecistas, com sua doutrina em que a

caridade ocupa posição central, são os mais propensos a fazer doações para

instituições, tanto em dinheiro como em bens. E a maior parte dessas doações vai

para entidades dedicadas à assistência social e não aos centros religiosos. No

entanto, como se sabe, no caso do espiritismo é difícil separar os lugares da

atividade religiosa dos lugares da assistência social. As instituições espíritas podem

ser classificadas como “Centros Espíritas” (entidades de cunho religioso

constituídas em torno de atividades tais como reuniões, estudos, sessões de

atendimento etc.); “Obras Sociais” (organizações filantrópicas, sem fins lucrativos,

que prestam algum tipo de assistência à população) e “outras entidades” (como

editoras, livrarias, bibliotecas, meios de comunicação e centros de estudo). No

entanto, no caso do espiritismo é difícil separar os lugares da atividade religiosa dos

lugares da assistência social visto que muitos dos Centros Espíritas desenvolvem

serviços de assistência à população carente dentro da própria instituição. É

importante destacar o papel das entidades que reúnem e organizam o movimento

espírita como as “federações” e “uniões”. É alto o índice de institucionalização legal

formal entre as instituições espíritas. Cabe lembrar que a filantropia faz sentido

nestas entidades porque a caridade faz parte da doutrina espírita. (Giumbelli, 1998).
57

De acordo com Emerson Giumbelli no texto Em Nome da Caridade: Assistência

Social e Religião nas Instituições Espíritas:“parece existir um reconhecimento,

percebido nos mais diferentes domínios sociais, da legitimidade das práticas e

crenças espíritas enquanto modo de identificação social e credencial de atuação no

espaço público”.

Vejamos o que disseram alguns adeptos do espiritismo em

entrevistas realizadas em 2003:

“A base da nossa doutrina é que sem a caridade você não pode


adquirir um processo de evolução. É raro um centro espírita que não
tenha uma obra social, eu acho que não existe. Todo centro Espírita
tem uma obra assistencial ou é para velho ou para criança ou é escol
aou é cesta básica, sopas na rua”. (Marlene Dantas, da
InstituiçãoEspírita Joanna de Angelis).

“A idéia é ajudar aquele que tem dificuldade. Pronunciar a palavra


“caridade” é fácil, difícil é ela ser exercida. Caridade é muito mais do
que dar o que sobrou”. (Maria Elisa Hillesheim, presidente da
instituição Espírita “Lar de Teresa”).

Há uma tendência de que as ações de caráter “espiritual” se

concentrem nas classes média e média baixa, chegando até as chamadas classes

altas, enquanto que as ações de caráter “social”, naturalmente, se dirijam para

pessoas das camadas mais baixas da população. Segundo o Espiritismo “a caridade

independe de qualquer volta, gratidão ou recompensa. O que interessa é que seja

alguém que esteja precisando naquele instante”. não importa quem está sendo

ajudado. Segundo a Espírita Marlene Dantas diz que “As pessoas ficam com medo

de dar um cobertor para um mendigo e que ele venda para beber cachaça, não

importa. O que importa é o que você fez, o que ele vai fazer depois, se ele acha que

a cachacinha esquenta mais do que a coberta, a gente não pode fazer julgamento de

ninguém. Você não pode lembrar que a pessoa não te agradeceu, que a pessoa
58

vendeu o que você deu, isso não interessa.” Marlene Dantas diz que percebe

claramente mudanças no espírito de solidariedade das pessoas na última década. “O

mundo está tendo uma mudança, apesar dos pesares, estou sentindo mudanças.

Por exemplo, uma inundação não sei onde que foi uma calamidade e sai na

televisão mobiliza o país inteiro. Daqui a pouco todos os estados ficam solidários em

mandar mantimentos, agasalhos, para a região atingida”. Ela aponta como fator

decisivo desta transformação o poder de comunicação das mídias. “As pessoas

estão mais esclarecidas. A comunicação está globalizada mesmo, então você está

sabendo o que está se passando e acompanha tudo isso. Hoje até o índio lá no

Xingu tem sua televisão, seu computador, a comunicação está sendo rápida. O bem

contagia, o mal é terrível, mas o bem contagia, faz uma corrente de paz”. Outra

integrante do Instituto Espírita Joanna de Angelis, a segunda Secretária Leda Lúcia,

também acredita que a mídia ajudou muito a tornar as pessoas mais solidárias. Diz

ela: “Antes o apelo era bem mais difícil, as pessoas estavam sempre ocupadas, hoje

já se sente uma repercussão muito positiva com os outros quando se fala em

caridade. Quando as campanhas ganham visibilidade, pessoas aparecem doando

quentinhas, participando de ações etc., despertam a vontade de ajudar os

necessitados. E isso aconteceu positivamente aqui no Brasil”. Para ela em algum

momento todos despertam para a necessidade do social, da coletividade, do outro,

da caridade e da fraternidade. Marlene destaca que a questão da solidariedade está

acima da religião. “Para se ajudar não é necessário religião, é querer ajudar, é da

própria pessoa. Ela é solidária porque ela é. Não importa rótulos de que fulana é

espírita e isso, não importa... A campanha do Natal sem Fome, todos estão

participando independente do seu credo. O importante é a solidariedade que tem

que existir.” Segundo seu ponto de vista, o espiritismo é a religião mais ligada a
59

ações sociais: “É uma característica do espiritismo ter obra social. Todas as religiões

têm o princípio de ‘se salvar’ mas esse se salvar é que difere. Uns acham que vai

para o céu, outros acham que vai para o inferno. Nós temos o nosso estágio

conforme o nosso procedimento e assim vai e vamos evoluindo. Todas querem

pregar o bem , falar de Jesus.”


60

7 . CATÓLICOS ,EVANGÉLICOS E ESPÍRITAS : PRATICAM O CRISTIANISMO

GENUÍNO?

7.1 CATÓLICOS

Segundo Leonardo Boff, frei franciscano que em 1985 foi condenado

a onze meses de silêncio por questionar a origem divina da Igreja Católica, "A Igreja

Romano-Católica, em termos institucionais, é um fóssil medieval, autoritário,

patriarcal, não mais adequado às conquistas modernas dos direitos das pessoas e

do espírito democrático e da cidadania

Ao escrever o Livro: Igreja: Carisma e Poder, Boff tenta aplicar os

princípios da Teologia da Libertação na própria Igreja, procurando mostrar que a

libertação não vale apenas para a sociedade mas também para a Igreja em suas

relações internas. Assim, seria papel da Igreja pregar a libertação na sociedade e se

comprometer com os oprimidos para que eles se organizem e busquem a sua

libertação. Mas, segundo Boff, isso só pode ser conquistado quando a própria Igreja

realizar a libertação de seu rebanho em assuntos delicados, e que até hoje

continuam a gerar um grande debate, como a marginalização das mulheres, a

infantilização dos leigos e o desrespeito aos direitos humanos dentro da Igreja,

especialmente, o direito de expressão em assuntos polêmicos, como moral familiar,

divórcio, uso de contraceptivos e homossexualidade.


61

Segundo o autor, criou-se no mundo católico uma Igreja-sociedade

organizada piramidalmente e com desigual distribuição do poder sagrado. Ao

contrário dos primeiros mil anos, que foram de uma Igreja-comunidade, de caráter

fraternal, onde valia o princípio: aquilo que interessa a todos deve poder ser

discutido e decidido por todos. No primeiro modelo impera o poder que atrela a ele o

carisma. No segundo, vigora o carisma que se serve do poder para ser efetivo na

história. O autor defende que na Igreja-rede-de-comunidades-de-base se realiza o

equilíbrio entre carisma e poder. Ele, então, serviria de esperança para um outro

modo de toda a Igreja ser.

7.2 EVANGÉLICOS

Os evangélicos formam um segmento socialmente responsável, que se

ocupa dos pobres, dos órfãos e das viúvas, seguindo o exemplo da Igreja primitiva,

certo? Bem, esta é, pelo menos, a imagem que se procura cultivar. Mas uma

analogia entre a ação desenvolvida pelos apóstolos e discípulos do Primeiro Século

e as denominações e congregações de nossos dias revelam distinções significativas

em relação aos conceitos de ação social, ministério, comunidade e mutualidade

daquela época. É dessas diferenças que trata Uma Igreja que faz e acontece —

Responsabilidade social, cidadania e serviço à luz do Novo Testamento, de

Vanderlei Gianastacio, publicado pela Editora Vida Nova.

Neste Livro o autor registra o trabalho diligente de alguém que se

dispôs a revisitar as igrejas formadas em três cidades importantes – Jerusalém,

Antioquia e Éfeso – e compor um quadro daquele período, em que o helenismo

ocidental e as influências orientais formavam uma sociedade multifacetada. Este


62

painel contextual é fundamental na compreensão da proposta de Gianastacio. É a

partir das peculiaridades de cada uma das três igrejas dentro do panorama histórico

que ele consegue identificar a ação pastoral e a prática do serviço.

Isto não significa que as práticas daquele período eram homogêneas.

O autor mostra que, mesmo naquela época, havia conflitos no trabalho de

assistência e promoção da dignidade, especialmente dos grupos desfavorecidos e

considerados “inferiores”. Ainda assim, é possível distinguir uma profunda

consciência social e suas diversas manifestações em vocações e ministérios.

Gianastacio arremata a obra lançando um olhar crítico sobre a ação

social da Igreja brasileira atual, que possui um discurso elaborado e estruturas de

serviço mais bem definidas, porém fica a dever em outros aspectos, como a

tolerância diante das desigualdades do país e a conduta ética condenável de alguns

líderes.

7.3 ESPÍRITAS

A razão do crescimento do kardecismo no Brasil, após 1950, foi sua

ênfase na caridade. Mas atualmente, segundo reportagem da Revista Época de

agosto de 2006, o Espiritismo tem crescido por “ preservar os pilares básicos da

religião: a imortalidade do espírito, sua reencarnação e evolução, além da

possibilidade de comunicação entre vivos e mortos.” Mas se baseia muito mais em

leituras e na introspecção que em rituais ou sessões que invocam supostas forças do

além. São incentivadas também as duas práticas mais fortes da doutrina: a caridade

e a tolerância religiosa. O espiritismo vem crescendo no Brasil, principalmente entre


63

jovens de classe média. No site de relacionamentos Orkut, já existem 366

comunidades sobre "espiritismo" e outras 808 quando se busca a palavra-chave

"espírita". Ao contrário do que se possa imaginar, quem entra num centro espírita

não vai encontrar médiuns se contorcendo ou sessões de exorcismo coletivo.

Centros espíritas são, mais que tudo, espaços de leitura, discussão e prece. Nas

reuniões dos espíritas, normalmente há primeiro uma leitura de um dos livros de

Kardec. Depois uma palestra, em que um participante do centro apresenta suas

interpretações sobre algum ponto da doutrina. Por fim, há o passe, momento em que

o médium (não necessariamente incorporado) diz trocar energia com os presentes.

Ao fundo, oração coletiva e, em muitos casos, luz mais fraca.

A segunda razão para o crescimento do espiritismo é a flexibilidade da

doutrina. Avessos a fundamentalismos, hierarquias, sacerdotes, altares e ídolos, os

espíritas acolhem pessoas de todas as religiões. Não há exigências na atitude, no

vestuário ou cobrança financeira. Adeptos de outras religiões costumam se envolver

com o espiritismo sem necessariamente abandonar as crenças originais. "Somos

avessos ao fundamentalismo. Daí ser tão importante o estudo e a leitura", afirma o

carioca Raul Teixeira, considerado pela Federação Espírita Brasileira um dos

maiores médiuns do país. "Quem se digladia com outras religiões mostra falta de

maturidade na fé. Quando você não crê o suficiente, quer convencer os outros para

convencer a si mesmo." Uma pesquisa realizada pela Federação Espírita Brasileira

em São Paulo e no Rio Grande do Sul mostra que apenas um em cada quatro

freqüentadores de centros se considera oficialmente espírita. "Não temos dogmas,

santos, hierarquia. Há respeito por todas as crenças", diz o economista carioca

André Menezes Cortes, de 36 anos. Nascido em uma família católica, hoje ele é

adepto da doutrina de Kardec.


64

A terceira e principal razão para que o espiritismo tenha tantos adeptos é

a maneira como a religião fundada por Kardec lida com a questão da morte. Para os

espíritas, ela não é o fim de tudo. É possível ter outras vidas e nelas resolver

assuntos pendentes de encarnações passadas. É algo semelhante ao que os

budistas costumam chamar de carma, uma espécie de "preço" pago nas diversas

vidas rumo à evolução espiritual. Para os cristãos, a vida é uma chance única:

resolva tudo agora e salvará sua alma - ou arderá no inferno. Só o espiritismo, no

entanto, diz possibilitar a comunicação entre "encarnados" e "desencarnados".

Segundo os espíritas, é possível trocar mensagens orais ou escritas por meio dos

médiuns - pessoas que funcionam como antenas entre os dois mundos.

Segundo reportagem da Revista Época, a doutrina espírita se difere de

outros seguimentos do cristianismo quando aceita a comunicação entre vivos e

mortos: “Apenas o corpo físico morre - ou desencarna, na terminologia dos espíritas.

O espírito imortal retorna a sua verdadeira vida, a vida espiritual. As almas podem

reencarnar infinitas vezes. Os mortos podem se comunicar com os vivos por meio

dos médiuns”.

Já os seguimentos do cristianismo, Católico e Evangélico afirma em suas

doutrinas que: Não há segunda chance ou reencarnação. Só se vive uma vez, e a

vida na Terra é a preparação para o encontro com Deus. Depois da morte, há o

Juízo Final. De acordo com sua conduta em vida, o cristão é recompensado com o

céu ou punido com o inferno ou o purgatório.

Os Espíritas realizam muitas obras sociais como por exemplo as Casas

André Luiz, de São Paulo que atendem pacientes com problemas de saúde mental -

630 em regime de alojamento e 800 em regime ambulatorial. A assistência se

estende à família do doente, já que quase todos os pacientes são muito pobres.
65

Esse exemplo é de se comemorar pois ,há responsabilidade social neste trabalho.

Porém, muitos espíritas, ao ter a atitude em relação a dar/doar ,não se importam

com o que o beneficiário fará com a oferta recebida. Não seria isso apenas um ato

de filantropia? Pois já vimos que a responsabilidade social visa à mudança ou

transformação de uma comunidade, não fazendo ações imediatistas que só

amenizariam o caso, mas não o resolveria num todo.


66

8 Conclusão

A falta do envolvimento dos cristãos quanto à injustiça social revela

quão hipócrita é aquele que se diz um verdadeiro cristão e não faz nada pra mudar

a situação que o cerca. Tudo o que um cristão faz decorre da sua crença em Cristo.

Portanto cabe aos Cristãos mudar a realidade. Quando Jesus disse: estive doente e

não me visitastes, ele quis dizer que os cristãos seriam responsabilizados de não

cumprir à sua palavra. Certos questionamentos que Jesus fez, deve levar aos

cristãos a se questionarem quanto à conduta social e tomar posturas e medidas pra

retificá-las. Ao tomar atitudes de acordo com o ensinamento do cristianismo, este

estará sendo seguido. Isso não significa que todas as questões de desigualdade

deverão ser solucionadas pelos cristãos, mas se o papel destinado aos Cristãos for

seguido, muita coisa poderá ser feita e muitos problemas amenizados ou até mesmo

resolvidos.

Toda ênfase do Cristianismo é dada à pregação do evangelho e a

evangelização. Quanto ao restante da vida, os problemas sociais que atingem aos

outros, etc. - preferem não se envolver diretamente. Afinal, a fé diz respeito às

coisas espirituais, o reino de Deus é espiritual. Essa compreensão do Cristianismo é

deficitária. A visão cristã da criação do homem é que ele seja integral e pleno em

toda a sua maneira de viver. Se não houver transformação nas pessoas de uma

sociedade dita Cristã, suprindo às suas necessidades, pode-se dizer então que o

Cristianismo fracassou em seu objetivo. Ou seja, o Cristão deve ser alguém com

uma mentalidade diferente cuja postura diante da vida difere, em toda sua extensão,

daquele que não tem a mente de Cristo.


67

Apesar de todos os três seguimentos do Cristianismo estarem fazendo

algo em prol do social, constatamos que se o Cristianismo genuíno fosse seguido

em sua essência, muito mais poderia ser feito, pois onde há responsabilidade social,

há transformação social.
68

9- REFERÊNCIAS

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