Resenha do artigo “Economia regional, desigualdade regional no Brasil e o estudo dos
eixos nacionais de integração e desenvolvimento”
Um campo de estudo da economia espacial é o que define a economia regional, e sua
preocupação é estudar a localização de determinada atividade econômica em relação a outras atividades econômicas, enfatizando aspectos como proximidade e/ou concentração, bem como estuda as semelhanças ou diferenças dos padrões de distribuição geográfica das atividades e ainda, busca respostas para as perguntas: “O que está?”, “Onde está?” e “Por que está?”. O maior destaque que a literatura econômica recente tem dado à economia regional deve-se ao possível aumento da ligação dela com a economia internacional, às crescentes e preocupantes desigualdades, a incapacidade do processo de globalização de resolver esses problemas e, no caso brasileiro, à necessidade de resolver as desigualdades regionais – embasaram este artigo, que teve como objetivo explicitar a importância dos estudos na área de economia regional e como estes se tornam ainda mais necessários para a solução dos problemas de desigualdade regional no Brasil. Este trabalho mostra que as questões espaciais e de localização se evidenciaram com o passar do tempo, aumentando as demandas para estudos específicos. Localizar mão de obra, recursos naturais e outros que geram vantagem competitiva em uma região, são aspectos importantes para as análises econômicas. Outros fatores, como a necessidade de se lidar com desigualdades regionais, controlando-as ou reduzindo-as, impulsionaram em grande parte os estudos na área. Devido ao enfoque nos diferenciais de produtividade e de custos de transporte, da teoria das vantagens competitivas desenvolvida por David Ricardo, vários estudos passaram a ser realizados com a atenção voltada para as diferenciações regionais. Objetivando a redução de desigualdades ou para simples avaliação de situações, o estudo da economia regional é um importante instrumento para concepções de políticas de âmbitos nacional e internacional. O artigo de Nasser (200) ainda relaciona questões de outras áreas tais como: economia urbana, geografia econômica, sociologia e economia internacional. Demonstrar os níveis elevados de desigualdades, que sequer possuem tendência de reversão foi a pretensão desse trabalho, além de chamar a atenção dos formuladores de políticas no país acerca da desigualdade regional brasileira. Além de destacar a importância dos estudos em economia regional e o espaço conquistado face as questões atuais da economia mundial, o estudo procurou explicar a relevância do tema e suas principais visões teóricas. Observa-se que, desde o início do século 20, iniciou-se a implementação de políticas regionais no Brasil para as áreas pobres e subdesenvolvidas, em especial nas regiões Norte e Nordeste. O texto fez um retrospecto do início da implantação de programas que visavam ao desenvolvimento regional e as suas características. Segundo o autor, pode-se questionar a eficiência de muitos programas em função da continuidade da emergência dos problemas de desigualdade, pois muitas vezes os problemas apenas estancam o contínuo aumento, sem resolver de fato a desigualdade. Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento foram estudados neste texto, fazendo-se necessário entender que eixo “é um corte espacial composto por unidades territoriais contíguas, efetuado com objetivos de planejamento, cuja lógica está relacionada às perspectivas de integração e desenvolvimento consideradas em termos espaciais”. O estudo dos eixos é um importante insumo para o desenvolvimento futuro da economia brasileira, além de analisar de forma diferente vários dados e características do território nacional. A delimitação dos eixos obedeceu aos seguintes critérios: as vias de transporte existentes, os focos dinâmicos identificados no país, a hierarquia funcional de cidades e a diferença dos ecossistemas das diversas regiões brasileiras. Esses critérios permitiram a divisão em nove Eixos de Integração e Desenvolvimento, como demonstrado a seguir: Arco-Norte, Madeira-Amazonas, Araguaia-Tocantins, Oeste, Sudoeste, Transnordestino, São Francisco, Rede Sudeste e Sul. Um portfólio de investimentos e um banco de dados georreferenciado são produtos finais deste estudo e eles são importantes fonte de consultas, em função de suas informações, em especial o portfólio traduz-se como um instrumento de suma importância para promover o desenvolvimento do país e reduzir as disparidades regionais. Este estudo buscou demonstrar que programas de cunho regional são uma emergência para o Brasil e que a sua existência em grande parte pode contribuir para começar a reversão da tendência de concentração da economia. No geral, o artigo está bem coerente em relação ao seu objetivo, que foi explicitar a importância dos estudos na área de economia regional e como estes se tornam ainda mais necessários para a solução dos problemas de desigualdade regional no Brasil. Entretanto, ele poderia ter sido enriquecido abordando questões relativas aos aspectos demográficos, pois, o desenvolvimento econômico de uma região ou país é acompanhado pela concentração cada vez maior da população em áreas urbanas e, de outro lado, pelo êxodo rural da mão-de-obra ativa. Os indivíduos com maior força de trabalho abandonam as regiões que não lhes concedem meio de vida, o que aumenta o jogo de forças do mercado, em vez de diminuir as desigualdades existentes entre as diversas regiões do país.
Nasser, B. (2000). Economia regional, desigualdade regional no Brasil e o estudo dos eixos nacionais de integração e desenvolvimento. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, 7(14).