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TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL:
UM CAMPO HISTORICAMENTE
CONTESTADO
MICHAEL REED
a promessa
mundo fundamentalmente distinto daque-
sociedade organizacional predomí-
era o
organizações garantiam a ordem social e a ao relativismo ético. Quem entre nós pode
liberdade pessoal pela combinação entre dar-se ao luxo de ignorar aquilo que Bauman
processos decisórios coletivos e interesses chama de “padrõesde ação tecnológico-bu-
individuais (Storing, 1962), por meio de um rocráticos modernos e a mentalidade que
projeto de bases científicas em que estrutu- estesinstitucionalizam, geram, sustentam e
dialética histórica para erradicar o conflito posição histórica e num contexto social em
utilitária
dos ao seu estudo (Reed e Hughes, 1992).
construção de atividades integra-
de
meio de focalizar Fundamentar-se em pressupostos que
das, ou um as energias
qualidades racionais éticas são inerentes
esforço combinado. En- e
humanas em um
símbolo
o de comunidade era a à organizaçãomoderna é algo cada vez mais
quanto
fraternidade, o símbolo de organizaçãoera contestado por vozes altemativas que criti-
o poder... organização signiñca um méto- radicalmente bonda-
cam a objetividade e
meio de
do de controle social, um impor de "naturais” das organizações (Cooper e
conferida pela perspectiva histórica do fi- racionalismo" de sua “disciplina" (Cf. Haire,
naldo século XX, o estudo e a prática de 1960; Argyris, 1964; Blau e Scott, 1963),
organizaçõesjá são muito diferentes de an- nos trabalhos dos anos 80 e 90, predomi-
As trata- nam expectativas incertas, complexas e con-Q
tes.
primeiraskrnetanarrativas que
vam da ordem coletiva e liberdade indivi- fusas sobre a natureza e o mérito dos estu-
por meio do incremento tecnológico contí- por programas de pesquisa incremental, re-
nuo, organização
da moderna da admi-
e alizados com base em modelos teóricos
os “pressupostoscomuns" sobre
objeto. o de ração paradigmática”por meio do desen-
do uma dinâmica intelectual interna de con- cial e sublevação intelectual fornece susten-
flitos teóricos. Significa que tal disciplina é tação teórica para “experimentações lúdicas
avassalada por conflitos internos e desacor- sérias" em estudos organizacionais, nos
quisa (Pfeffer, 1993). Tanto a forma "nos- Este capítulo adota a terceira via. Seu
é história do desen-
tálgica" quanto a “política" de conserva- objetivo reconstruir a
dorismo têm por objetivo resistir às tendên- volvimento intelectual da teoria organiza-
desencadeadas luta cional de forma a balancear contexto social
cias centripetas pela
intelectual e promover o retorno à ortodo- com idéias teóricas, bem como condições
xia teórica e ideológica. Uma combinação estruturais com inovação conceitual. Essa
te atrativa para aqueles que se sentiram per- histórica e de sensibilidade contextual que
dão crédito à às
turbados pela fermentação intelectual que tanto "sociedade" quanto
ocorre nos estudos organizacionais. “idéias”. A história dos estudos organizacio-
Ao invés da “imposição paradigmá- nais e a maneira como essa história é conta-
tica”, outros acadêmicos buscam a "prolife- da não são representações neutras do que
PARTE I -
MODELOS DE ANÁLISE
giram certo grau de predominância intelec- uma prática intelectual situada em dado
tual (sempre sujeita a contestação). A pe- contexto histórico e que está voltada para a
tivo aceitação
de obter dentro da comuni-
A ÓRGANIZAÇÃO DA TEORIA dade em geral (Clegg, 1994; Thompson e
McHugh, 1990). Como afirma Bendix, "um
Essa concepção de teorização organi- estudo das idéias como armas para a gestão
zacional é baseada na visão de Gouldner de de organizações poderia proporcionar um
tanto o produto da melhor entendimento das relações entre
que o
processo quanto
teoria devem ser vistos como um "processo idéias e ações” (1974 : xx).
Isto não significa, contudo, não
de ação e criaçãorealizado
por pessoas num que
período histórico específico" (1980 : 9). A existam bases coletivas reconhecidas que
análise e o debate sobre organizações e o possam ser utilizadas avaliação
para a de
base informações teóri- conhecimentos contraditórios. Em qualquer
organizar com em
Tabela
1 Narrativas analíticas em análise organizacional.
dos e relacionados a dado contexto e situa- raízes históricas e ideológicas bem defini-
ção histórica, que argumentação tornam a das. Há uma tendência a considerar Saint-
racional possível (Reed, 1993). Simon (1958) primeiro o "teórico organi-
Os modelos interpretativos da Tabela zacional", supondo-se ter sido ele, “prova-
1 formam o campo intelectual de conflitos velmente, o primeiro a observar o surgimen-
pouco propensos a interferir nos planos de cial e moralmente legitimada como uma
longo prazo das classes dominantes e eli- forma indispensávelde poder organizado,
tes. Portanto, os problemas sociais, politi- baseado em funções técnicas objetivas e
MODELOS DE ANÁLISE
"as ideologias gerenciais de hoje são dis- à medida forem tratadas elemen-
que como
tintas das ideologias empresariais do pas-
aleatórios, externos
tos e portanto não su-
sado, à medida que primeiras suposta-
as
à
jeitos influência dos processos cognitivos,
mente ajudam o empregador ou seus agen- dos procedimentos
tes a controlar e dirigir as atividades dos organizacionais, e mui-
to menos de seu controle.
empregados” (1974 : 9).
O racionalismo exerceu profunda in-
fluência histórico
princípiosorganizacionais
Os Fayol, de no desenvolvimento e
ção de forças, foram orientados pela neces- dos, mesmo por aqueles que quiseram ado-
sidade de construir de tar uma linha radicalmente diferente
uma arquitetura co-
ordenação e controle que contívesse a (Perrow, 1986). Além disso, tal corrente re-
ce o
princípio projeto estrutural
do e valori-
estado político "alcançáveispelo conheci-
za uma
prática de controle operacional, que
mento". O racionalismo forneceu uma re-
formal da organização (Massie, 1965). racional (Ellul, 1964; Gouldner, 1976). Ade-
Ainda o conceito de Simon mais, ele "elevou" a teoria e prática da ad-
que (1945)
de "racionalidade limitada” e sua teoria de ministraçãoorganizacional de uma arte in-
"comportamento administrativo” se ba- tuítiva para um corpo de conhecimentos i
gência perspectiva
da da escola de relações
nal. Esse senso crescente limitaçõesprá-
de
humanas na análise organizacional, que
ticas e conceituais e a natureza utópíca do
embora trate dos mesmos do
problemas
projeto político que o modelo racional sus-
modelo racional, fornece para estes soluções
tentava deram espaço para que o pensarnen- distintas.
to organicista prosperasse onde antes as for-
mas de discurso mecanicista monografia Administraçãoe o tra-
A
predominavam. balhador (Roethlisberger e Dickson, 1939)
e os escritos de Mayo (1933; 1945), por-
tanto, acusam a tradição racional de igno-
REDESCOBRINDO A COMUNIDADE rar as qualidades naturais e evolucionárias
são
ciológicas e abstratas mais acentuadas, que problemas consideradas mecanismos
des" da vida
organizacional (Gouldner, não estruturas planejadas, asseguram a es-
deveria existir nos sistemas sociais em de- temas sociais voltados para as "necessida-
de integração sobrevivência das
orgânico (cada des" e or-
senvolvimento um com sua
dinâmica própria).“Interferências" por parte dens societárias maiores, das quais elas fa-
tais ziam estabeleceu-se como o modelo
de agentes externos, como projetoo parte,
teórico predominante dentro da análise
planejado das estruturas organizacionais,
sobrevivência do sistema. organizacional. simultaneamente e de for-
ameaçam a
desenvolvidos fun-
organização sistema eram os
A como um so- ma convergente,
cial facilita a integração de indivíduos den- damentos da "teoria geral dos
sistemas",
tro da comunidade mais ampla, bem como originária das áreas da biologia e da fisica
técnico-so- forne-
a adaptação desta às condições (von Bertalanffy, 1950; 1956), o que
inspiração conceitual considerável
ciais de mudança, que freqüentemente ocor- cia para
re de forma volátil. Essa visão é teoricamente o desenvolvimento subseqüenteda teoria de
TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO
_w
sistemas sociotécnicos (Miller e Rice,, 1967) valor sobre fins e meios em questões técni-
e das"metodologias de sistemas soft" cas podem
que ser
por "resolvidas" meio de
(Checldand, 1994). Foi, contudo, a interpre- um projeto eficaz de sistema e de adminis-
tação estrutural-funcionalista da abordagem j,
tração. Como indica Boguslaw (1965), essa
sistêmica que assumiu proeminência den- conversão apóia-se em uma fachada teóri-
tro da “análise organizacional" não
e que domi- ca, para dizer utópica, de homo-
naria o desenvolvimento teórico e a pesqui- geneidade de valores; a realidade política
sa empíricadesse campo entre os anos 50 e das mudanças organizacionais, bem como
70 (Silverman, 1970; Clegg e Dunkerley, as tensões e deformaçõesque é
elas geram,
1980; Reed, 1985). O funcionalismo estru- mascarada como pequenos elementos de
tural e sua progênie, a teoria de sistemas, atrito de um sistema que em tudo o mais
forneceram um foco "interno" no projeto funciona perfeitamente. Ela também aten-
segunda expunha as
indeterminações ine- teoria de sistemas pela foi recebida comu-
rentes à ação organizacional tendo em vis- nidade de estudos organizacionais nos anos
ta as demandas ambientais e as ameaças que 50 e 60 refletia uma ampla renascença do
escapam ao controle da organização. ques-
A pensamento utópico, que presumia que a
tão fundamental de pesquisa que emerge análise funcional dos sistemas sociais for-
dessa síntese entre preocupações estruturais neceria fundamentos
os intelectuais para a
uma adaptação funcional adequada entre a si resolveria o problema da ordem social fi-
organização e seu ambiente. "impe- Certos ava-se em um "pressuposto do campo” de
rativos funcionais", tais como a necessida- que “toda a história da humanidade tem
de de equilíbrio de longo prazo do sistema uma forma característica, padrão, uma um
n
72 PARTE I -
MODELOS DE ANÁLISE
.E
litica muito inferiores às de seus predeces- mercado parecem ser uma contradição, em
amplo que ressuscitou os modelos evolu- artigo clássico, se os mercados são perfei-
cionistas do século XIX (Kumar, 1978: 179- tos, então as firmas (e organizações) deve-
190). Na teoria
organizacional, essa orto- riam desenvolver transações de mercado
doxia completou-se teoricamente com o perfeitamente reguladas, baseadas no inter-
desenvolvimento da "teoriacontingên- da câmbio voluntário de informações entre
cia" entre o fim dos anose princípio dos
60 agentes econômicos iguais. Coase foi, con-
das sociedades industriais modernas (Lipset, agentes, os quais, por natureza, descon-
1960; Bell, 1960; Galbraith, 1969). fiam de seus parceiros.
Ainda assim, à medida que os anos 60 Coase, inadvertidamente, faz uso do
avançavam, as virtudes do pensamento modelo racional quando admite que o com-
realidades sociais, econômicas e políticas se cado e maximizar seus retornos. Tanto a tra-
son, 1990; Williamson, 1990), assim como modelo de organização em que seu projeto,
uma do comportamento
teoria da ñrma mais funcionamento e desenvolvimento são tra-
sensível às limitaçõesinstitucionais em que tados como resultados diretos de forças uni-
são conduzidas as transações econômicas, versais, podem não modificadas
que ser pela
encorajaram a formulaçãode uma agenda ação estratégica.
de pesquisa com ênfase nas estruturas de O que fica evidente no modelo do
corporativas administração
de e em seu elo mercado é a falta de qualquer tentativa con-
com as funções organizacionais (William- tínua de abordar a questão do poder social
son, 1990). Esse modelo também se vale da e da intervenção humana. Nem a aborda-
concepção de organização
Barnard sobre gem de mercados/
hierarquias, nem a de
como é
cooperação, "que consciente, deli- ecologia populacional, ou mesmo a "teoria
berada e com fins específicos"(1938 : 4), e liberal das organizações" de Donaldson
.
que somente pode ser explicada como o re- (1990; 1994) se interessam muito pelos
sultado de uma interação complexa entre a meios por meio dos quais a mudança
racionalidade formal e a substantiva ou en- organizacional se estrutura em função de
tre requisitos técnicos e ordem moral lutas de poder entre atores sociais e as for-
74 PARTE 1- MODELOS DE ANÁLISE
l
......... Mwwmwnmmnmwwmím..
mas de dominação
legitimam que eles No entanto, elas
permanecem negligentes
(Francis, 1983; Perrow, 1986; Thompson e quanto à questão das estruturas e lutas de
McHugh, 1990). Essas abordagens tratam poder dentro das organizações,por meio das
a "organização” como sendo constituída de quais respondem
estas a pressões econômi-
uma ordem social e moral em que os inte- cas supostamente "objetivas" e "neutras".
resses e valores individuais e grupais são
simplesmente derivados de uma estrutura
de "interesses e valores do sistema", que não FACES no PODER
se contaminam por conflitos setoriais e lu-
tas de poder (Willman, 1983). Uma vez que Poder continua a ser um conceito que,
esse conceito unitário é considerado inato, embora usado em excesso, é um dos menos
os conflitos e a dominação podem ser segu- mológicas para uma teoria de organizações
ramente ignorados, tratados como elemen- que contrasta, profundamente, com as nar-
elevam as "forças impessoais de mercado" turais e a ação social, à medida que molda
à categoria analítica de universalidades as formas institucionais reproduzidas e
e Rose, 1990; Rose, 1992; Silver, 1987). determinismo ambiental inerente às teorias
Desde as ideologias neoliberais ou darvvi- organizacionais baseadas no mercado, com
nianas do século XIX (Bendix, 1974) até sua ênfase obstinada nos imperativos de efi-
doutrinas mais recentes que enfatizam a ciência e eficácia que garantem a sobrevi-
“sobrevivência dos mais aptos", todas essas vência de
longo prazo tipos de certos de
teorias defendem a expansão progressiva do organização em detrimento de outros. A
cupações sociais. Por meio da globalização, uma arena de interesses e Valores confli-
as nações e empresas envolvem-se em lutas tantes, constituída pela luta de poder.
cada vez mais acirradas, que terão por Ven- O modelo de poder em análise
cedoras organizações as que e economias organizacional é fundamentado na sociolo-
se adaptarem de forma intensiva às deman- gia de dominação de Weber e na análise da
das do mercado (Du Gay Salaman, 1992;
e burocracia e burocratizaçãoque derivam de
Du Gay, 1994). Assim, teorias organiza- seu trabalho (Weber, 1978; Ray e Reed,
cionais baseadas no mercado tradição
lidam com 1994). Mais recentemente, essa
do qual fazem parte (Barley e Kunda, 1992). interesse de Maquiavel pela micropolítica do
TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO
poder organizacional expressão con- e sua manobras táticas que buscam inverter o
cionais e aos mecanismos por meio dos quais meio do qual as relações poder
de são tem-
despertando cada vez mais interesse" vélicas/ processuais levaram a uma compre-
(Fincham, 1992: 742). Assim, a análise ensão muito mais sofisticada da natureza
gem está em forte consonância com o tra- como dos modelos pelos quais o tema pode
balho de Foucault sobre o mosaico das coa- ser abordado.
lizões alianças diagonais
e que mobilizam O conceito "episódico" de poder con-
regimes disciplinares (Lyon, 1994). Nesses centra-se nos conflitos de interesse que se
em que o poder "sobre outros" pode ser, seu encontro com objetivos opostos, parti-
mantido temporariamente de uma perspec- cularmente em processos de tomada de de-
tiva “de baixo para cima", ao invés da tradi- cisão. “manipulativa”
A visão concentra-se
cional visão "de cima para baixo". Essa in- nas atividades de “bastidores”, por meio das
MODELOS DE ANÁLISE
de descartar questões que têm o potencial discursos criam tipos específicos de regimes
de perturbar, ou ameaçar, seu dominio e disciplinares em um nível organizacional ou
controle. A interpretação "hegemônica" setorial que estabelecem mediação uma
o papel estratégico de
enfatiza estruturas entre políticas governamentais estratégicas
ideológicas e sociais existentes ao formar, e centralizadas em agentes de intervenção,
assim limitar, seletivamente, os interesses e por um lado, e a sua implementação tática
valores -
relações poder,de até o papel dos mecanis- Esse tipo de pesquisa tenta explicar a
1989) tentaram contornar esta divisão en- liticas das mudanças organizacionais.
tre a concepção/institucional/estrutural e a
processual/ intervencionista
focalizar as ao
quanto empíricos, é o discurso que usa o outros se inserem. Ao invés disso, essa abor-
pretexto de “perícia" para estabelecer pa- dagem trata de todas as formas da ação so-
drões particulares de estruturaçãoe controle cial institucionalizada e estruturada como
setores (Abbott, 1988; Miller e O"Leary, aliançastáticas, que formam redes mutáveis
1989; Powell DiMaggio 1991; Larson,
e e relativamente instáveis de
poder, tenden-
1979; 1990; Reed e Anthony, 1992). Esses do à decadência e dissolução internas. Ele
TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 77
explica desenvolvimento
o de “sistemas”mo- inerente nem significado expla-
demos da disciplina organizacional e con- natório como entidade ou estrutura
trole governamental como mecanismos ne- generalizável e monolítica. A contingência,
gociados contingentes de poder e relações,
e e não a universalidade,
impera tanto no to-
cujas raízes institucionais estão na capaci- cante ao conhecimento localizado e restri-
dade de exercer gerenciamento efetivo dos to, que torna possível a existência de orga-
meios de produçãode novas nizações, quanto
formas do po- nas relações poder que
de
der em si (Cerny, 1990 : 7). elas geram. O foco da pesquisa encontra-se
Assim, surgem como foco estratégico na “ordem interacional” que produz a orga-
de análise mecanismos técnicos e culturais, nização e os de conhecimentos
estoques por
meio dos
por quais campos particulares de meio dos quais agentes se envolvem em prá-
comportamento humano (saúde, educação, ticas situacionais que constróem as estrutu-
Criminologia, administração) são estabele- ras que reproduzem a
“organizaçãd”
cidos como reservas de mercado para cer- (Goffrnan, 1983; Layder, 1994).
tos especialistas ou
grupos de peritos. Esses Várias abordagens teóricas especificas
mecanismos têm muito maior significado do baseiam-se nessa
orientação geral para de-
que os poderes econômicos e políticos au- senvolver uma agenda de pesquisa para
tônomos, tais como "estado" ou “classe". O análise organizacional que tenha, como in-
conhecimento, e o poder que ele potencial- teresse estratégico, os processos de produ-
mente confere, assumem o papel central,
ção do conhecimento por meio dos quais a
fomecendo a chave cognitiva e os recursos
“Organizaçãd” reproduzida. é A etnome-
representativos para a aplicação de um con- todologia (Boden, 1994), as abordagens
junto de técnicas com que regimes discipli- pós-modernistaspara cultura e simbolismo
nares, ainda que temporários e instáveis, organizacional (Calás e Smircich, 1991;
podem ser construídos (Clegg, 1994). Co- Martin, 1992), a teoria da tomada de deci-
nhecimentos altamente especializados e são neoracionalista (March e Olsen, 1986;
aparentemente esotéricos, que podem, po- March, 1988), a
tgoria rede-ator (Law, 1991;
tencialmente, ser acessados e dominados 1994a) e a teoria pós-estruturalista (Kondo,
por qualquer indivíduo ou grupo com trei- 1990; Cooper, 1992; Gane e Johnson, 1993;
namento e habilidade
necessários(Blackler, Clegg, 1994; Perry, 1994) contribuem, co-
1993), fornecem os recursos estratégicos letivamente, para uma mudança do foco na
para apropriação do tempo, do espaço e da análise organizacional, deslocando-o do ní-
consciência. Assim, a produção,codificação,vel macro de formalização ou institu-
estoque e uso daqueles conhecimentos, que cionalização para um nível micro de análi-
são relevantes regulação compor-
para a do se do ordenamento ou rotinização social. A
tamento social, tornam-se uma questão es- seus diferentes modos, essas abordagens -
tratégica para a
mobilização_ e institu- muitas das quais são representadas nesse
cionalização de uma forma de poder orga- livro (Ver os Capítulos de Calás e Smircich,
nizado que permita o “controle à distância" Clegg e Hardy, e Alvesson e Deetz, neste
(Cooper, 1992). Handbook) tentam
-
reformular o conceito
MODELOS DE ANÁLISE
(Boden, 1994 : 210). Isto está, por sua vez, ticas e normativas que elas levantam.
inteiramente de acordo com as teorias da Um exemplo relativamente óbvio des-
especialização
flexível Sabel, 1984) (Piore e se desenvolvimento é encontrado no “novo
e do capitalismo
desorganizado (Lash e Urry, institucionalismo" (Powell e DiMaggio,
1987; 1994), em que as formas ou estrutu- 1991; Meyer e Scott, 1992; Whitley, 1992,
ras institucionais, consideradas
uma vez Outro pode ser visto no Perry, 1992).
res-
constitutivos da "economia política", dissol- surgimento do interesse pela política eco-
vem-se em fluxos e redes de informações nômica da organização e suas implicações
fragmentadas. para a extensão da vigilância e do controle
Há, contudo, uma dúvida persistente burocráticos na "modernidade tardia", que
quanto ao que está perdido nessa "localiza- se observam na complexa cadeia de formas
ção" da análise organizacional e sua apa- e práticas institucionais (Alford e Friedland,
rente obsessão com o nível micro de pro- 1985; Giddens,
1990; Cemy, 1990; 1985;
cessos e práticas. A dúvida faz essas abor- Wolin, 1988; Thompson, 1993; Silberrnan,
dagens parecerem estranhamente dissocia- 1993; Dandekei; 1990). Por fim, debates
das das questões mais amplas sobre justiça, sobre a perspectiva imediata e de longo pra-
democracia
igualdade, e racionalidade. Per- zo para a democracia e participação
gunta-se: e quanto à preocupação socioló- organizacional dentro de estruturas de con-
gica clássica com os aspectos macroes- trole corporativo, debates estes que se de-
truturais da modernidade (Layder, 1994) e senvolveram em economias políticas domi-
suas
implicações na forma como "devería- nadas por ideologias e práticas neoliberais
mos” conduzir nossas vidas organizacionais? durante as décadas de 80 e 90 (Lammers e
de
pos controle corporativo predominantes papel estratégico desempenhado pe-
vela o
nas
organizaçõescontemporâneas e em suas las lutas de poder entre atores institucionais
bases de julgamentos morais e politicos so- com o objetivo de controlar "a formaçãoe
bre justiça e imparcialidade, em contraste reforma dos sistemas de regras que guiam
com outros interesses e valores. Essa litera- a ação politica e econômica" (1991 : 28).
tura também reafirma a importância das Ao reconhecer que a geração e a
marginalizadas nos discursos pós-modernis- tral, o processo cultural e politico por meio
tas e pós-estruturalistas,centrados na prá- do qual atores e seus interesses/valores são
tica de interpretaçõese representações lo- institucionalmente construídos e mobiliza-
cais. Essas abordagens reavivam uma con- dos no apoio de certas "lógicas orga-
cepção organização como uma estrutura
da nizacionais" em detrimento de outras. Des-
institucionalizada de poder e autoridade que sa forma, explicaçõesque relacionam o com-
está acima das micropráticaslocalizadas dos desenho
portamento e
organizacional aos.
membros organizacionais. contextos de nivel macro -ganham primazia,
DiMaggio e Powell sustentam que o dado que estes são constituídos por padrões
"novo institucionalismo" representa uma de atividades
e
PARTE l MODELOS DE ANÁLISE
zações modemas que, como sugere Giddens, teórico, uma vez que a percepção de amea-
cos de vigilância controle, e que podem ser integrativo para o homem [sic]; uma vida
pel crucial no avanço das condições materi- sociedades modernas (Etzioni, 1993; Àrhne,
ais e sociais aos quais a vigilância e o con- 1994), é um tema rico. As pesquisas sobre
trole organizacional podem ser estendidos participação e democracia organizacional
(Cemy, 1990; Silberman, 1993). Mudanças sugerem que esforços de desenvolvimento
tecnológicas, culturais e politicas relativa- de projetos organizacionais vmais partici-
mente recentes estimularam a criação e a pativos e igualitários têm encontrado diñ-
difusão de sistemas de vigilância mais dis- culdades extremas nos últimos 15 anos
cretos, que são muito menos dependentes (Lammers e Szell, 1989). Perspectivas de
da supervisãoe do controle diretos (Zuboff, longo prazo para a democracia parecem
1988; Lyon, 1994). O crescimento da sofis- igualmente pessimistas em um mundo cada
ticação técnica e da penetração de sistemas vez mais globalizado e fragmentado, que
de controle também servem para reafirmar desestabiliza ou mesmo destrói identidades
a relevância atual da preocupação de Weber sociopolíticas e culturais estabelecidas, cor-
82 PARTE 1 -
MODELOS DE ANÁLISE
l_
......... M VVVVVV _
.nm. _....,_.~.J
PoNros DE INTERSEÇÃO -
rios onde se requer uma orientação deter-
minada à ação; e para a tarefa que cabe
Vários temas interconectados consti- àqueles que aceitam os primeiros três te-
mas de expor seu hermetismo conceitual
tuem a “espinliadorsafde”
análise” em tor-
onde este foi imposto artificialmente
no da qual as seis estruturas narrativas ana-
1993
(Connolly, : 225-231).
lisadas neste capítulo podem ser interpre-
tadas como tentativas contestadas de repre- Connolly desenvolve esse argumento
desenvolver critica "univer-
sentação para uma ao
e controle de nosso entendimento
salismo racional” "relativismo radical"
prática
estratégica
e ao
sobre a social insti-
é dominam análise politica
“organizaçãd”. que a nas arenas
tucionalizada que a Assim
como o discurso da teoria política, o discur- da filosofia analítica anglo-americana e do
so da teoria da organização deve ser consi- deconstrucionismo continental (1993 : 213-
247). Ele é particularmente critico do
derado como uma rede contestável e con-
"hermetismo
travam conceitual" artificial e sem
testada de conceitos e teorias, que
batalhas garantias dos relatos foulcaudianos sobre
para impor certos significados em
entendemos -
ter tais contendas vivas mesmo em cená- nivel "global" de análise; um debate nor-
TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO
meio das quais seres humanos criam e re- de” (1994 : 71). Sua rejeição de extremis-
produzem instituíções. que
Os privilegiam mos teóricos de reducionismo individualis-
a "estrutura" ressaltam a importância dos ta e determinismo coletivista é bem aceita.
padrões relações externas que
e das deter- A necessidade de desenvolver teorias expla-
minam e circunscrevem a
interação social natórias em que a
"atuação deriva da natu-
dentro de formas institucionais especificas. reza simultaneamente facilitadora e contra-
Com relação às estruturas narrativas ditória dos princípiosestruturais de acordo
acima, percebe-se, por um lado, um abismo com os quais agem as pessoas" (1994 : 72)
teórico entre um conceito de organização constitui uma das questões centrais no pro-
que se refere
determinadas a
estruturas grama de pesquisas da análise organiza-
como condicionantes de comportamentos cional.
individuais e coletivos, e por outro lado, um
conceito que induz a uma teoria de redes
de interaçãopreconcebidas, por meio das O debate construtivista/
quais geram-se e reproduzem-se estruturas positivista
temporárias,cujos mecanismos ordenadores
estão em permanente mudança. As narrati- Os assuntos epistemológicostêm de-
vas racional, integracionista e de mercado sempenhado papel estratégicono desen-
um
apóiamfirmemente a
concepção estrutural volvimento da teoria organizacional, espe-
da organização, ao passo que os pesquisa- cialmente nos últimos 25 à medida
anos,
dores que trabalham segundo as
tradições que a ortodoxia positivista vem sendo pre-
de poder, conhecimento e justiça várias
preferem terida por escolas de metodologia
o conceito de atuação organizacional. Mui- interpretativa, e crítica realista
(Hassard,
to esforçotem sido feito na tentativa de su- 1990; Willmott, 1993; Donaldson, 1985,'
perar, ou pelo menos reconciliar essa 1994; Aldrich, 1992; Gergen, 1992). Esse
dualidade teórica, por meio de abordagens debate tem que ver com as formas repre-
que enfatizam a natureza simultaneamente sentacionais, meio das quais
por as "preten-
sões de conhecimento" dos teóricos _da or- O debatelocal/ global
ganização podem ser avaliadas e legitima-
das. Enquanto as narrativas racional, O debate atuação/estrutura gira em
integracionista e de mercado desenvol- de questões fundamentais
se
torno sobre a ló-
veram com base na ontologia realística e na
gica da explanação que deve ser seguida
epistemologia positivista, as tradições de
pelos analistas organizacionais, ao passo que
poder, conhecimento e justiça são mais fa- o debate construtivista/positivista realça a
voráveis a uma ontologia construtivista e a
controvérsia sobre
arraigada as formas
uma epistemologia convencionalista. A pri- através das
representacionais, quais este
meira trata "organização" como um objeto conhecimento deve ser desenvolvido, ava-
ou entidade existindo como tal, que pode
e
liado e legitimado. O debate localismo/
ser explicada em termos de princípios ge- globalismo surge quando o foco narrativo
rais ou de leis que governam seu funciona- se direciona às questões relativas ao nível
mento. A
segunda promove concepção
uma
de análise em que a pesquisa e a análise
da organização como sendo um artefato devem
organizacional ser conduzidos. Como
socialmente construído e dependente, que
Layder (1994) assinala, questões relativas
somente pode ser entendido em termos de a níveis de análise fixam-se em torno de di-
convenções metodológicas altamente restri- ferentes modelos de realidade social e em
tas e localizadas, sempre abertas a revisões torno das propriedades analíticas das enti-
e mudanças]
dades ou objetos localizados nos diferentes
Essas epistemologias radicalmente níveis dentro de tais modelos. Portanto, o
opostas legitimam procedimentos e proto- debate "micro/macro" questiona se a ênfa-
colos muito diferentes avaliar "pre-
para as se deve ser dada aos "aspectos íntimos e
tensões de conhecimento” do pesquisador detalhados da conduta individual [ou] em
organizacional. A epistemologia positivista fenômenos impessoais, de maior escala"
restringe severamente o limite do "conheci-
(1994 : 6).
mento" que pode ser atingido pelos estudos Em estudos abor-
organizacionais, as
ções semelhantes a leis que ela sanciona. O cas organizacionais em nível local/ micro; as
construtivismo adota uma posição muito narrativas racional, integracionista e de
mais liberal- para não dizer relativista -
e
mercado, por outro lado, começam por uma
recai nas normas e práticas comunais res-
concepção mais global da “realidade da or-
tritas de comunidades pesquisa específi-
de
ganização”. Abordagens etnometodológicas
desenvolvidas ao longo do tempo (Reed,
cas, e pós-estruturalistas
levam o foco local ao
1993). Várias tentativas de se seguir um
extremo, ao passo que a ecologia popu-
meio termo entre essas polaridades episte- lacional e o institucionalismo desenvolvem
mológicas têm sido feitas (Bemstein, 1983), um nível de análise mais global. Abordagens
porém campoo de conflitos onde lutam a
que se fixam no nível local/micro de análi-
corrente relativista/ construtivista e a positi-
estudos ris-
se em organizacionais correm o
MODELOS DE ANÁLISE
quase extingui-las. Embora o coletivismo cido nos últimos anos, porém, estas perma-
muito atualmente, ele necem sendo realidades relativamente sub-
esteja menos em voga
estudos
continua concepção
a oferecer uma de or- desenvolvidas e minimizadas nos
ganização e análise organizacional que de- das organizações, para as quais somente
safia diretamente o domínio das perspecti- agora nos voltamos. Quatro temas são
Çada
°
tre as narrativas são também relevantes por oria e análise organizacional é bem docu-
tudo eles excluem, seja, mentada em outras obras e não necessita
aquilo que ou por
conta dos pontos de exclusão ou de "silên- ser ensaiada (Hearn
outra al., 1989;
vez et
filtram e mediam seletivamente uma ponto básico que se quer enfatizar aqui é
que
realidade social e histórica extremamente que as categorias, conceitos e teorias fun-
diversa Essas narrativas omi- damentais com quais os a análise orga-
e complexa.
mínimo lida não permitem
tem, ou no marginalizam, aspectos* nizacional geralmente o
exploração, quee encontram pouca aceita- ção vital das teorias e práticas organi-
ção em outras áreas. zacionais para a produção reproduçãoe de
Nossa consciência e sensibilidade para "pessoas sexuadas" (Mills e Tancred 1992),
com essas omissões ou "ausências" tem cres- bem como as estruturas de desigualdade e
TEORIZAÇÃOORGANIZACIONAL UM CAMPO HISTORICAMENTE CONTESTADO 87
controle por meio das quais se perpetua sua sas categorias analíticas e compromissos
subordinação(Witz e Savage, 1992). ideológicos básicos.
história como natureza (Ferguson, 1994 : desígnios dos poderosos e ameaçar, e não
93). simplesmente reproduzir, a estrutura eco-
tecnologia como
agente produto e da pro- dos interesses e tradiçõesdo Terceiro Mun-
dução cultural e social. Ele argumenta que do nos estudos organizacionais.
novos desenvolvimentos em inteligência
artificial e biotecnologia, que radicalmente
transformam o relacionamento entre as Desenvolvimento global e
máquinas,corpos e
comportamentos, deses- subdesenvolvimento
tabilizam a divisão convencional do traba-
lho entre ciência, tecnologia e sociedade. Em Pesquisadores como Castells (1989) e
vez da tradicional distinçãocategórica en-
começado
Smith (1993) têm a reconhecer
e "sociedade", está se forrnan-
tre "natureza" as "novas
dependências” entre os países “ri-
do, “por meio de intervençõestecnológicas cos em tecnologia” e os "pobres em
baseadas na biologia, uma nova ordem para tecnologia", que resultam da dominação,
a interação entre a vida, a natureza e o cor- pelo Primeiro Mundo, das inovações como
a prática e o discurso
mente organizacional informação, bem como de sua coordenação
que giram em torno dos desenvolvimentos sistemática dos mecanismos organizacionais
tecnocientíficos. Escobar afirma ainda que associados à "tecnociência". As práticascul-
esses desenvolvimentos levarão a “profun- turais e as formas políticas por meio das
das mudançasna acumulaçãodo capital, nas quais esses novos relacionamentos de ex-
relações sociais e na divisão do trabalho em ploração dependência
e são mediados co-
muitos níveis... A mudança para novas meçam também a atrair a atenção dospes-
tecnologias da informação marcou o apare- quisadores organizacionais (Escobar, 1994;
cimento de processos de trabalhos mais fle- Ramirez, 1994). Contudo, todo o terreno da
xíveis e descentralizados, altamente globalização política, econômica e cultural
estratificados por fatores de gênero, etnia, dominada pelo Ocidente e seus impactos nas
classe e fatores geográficos" (1994 : 120). novas formas organizacionais emergentes
Considerado nesses termos, o concei- no Primeiro e no Terceiro Mundo permane-
to de "tecnociência" começa a sensibilizar cem como temas pouco explorados nas aná-
pesquisadores organizacionais para os no- lises contemporâneas
da organização(Calás,
vos campos organizacionais e cenários insti- 1994).
tucionais nos quais os desenvolvimentos Essa breve revisão de algumas das
científicos e tecnológicosse combinam para omissões apresentadas pelas tradiçõesteó-
criar novas formas de apropriação e meca- ricas revela sua capacidade limitada de auto-
nismos de decisão. Isso é, particularmente, reflexão crítica. Qualquer das narrativas
o caso do desenvolvimento do Terceiro Mun- analiticamente estruturadas, bem como as
plantas, cultura de
industriais tecidos
e estrutura. Contudo, a interação dinâmica
manipulaçãogenética microorganismos,
de entre tradições rivais abre espaço para o
comunidade intelectual, bem como nas au- teórico aceito e um programa básico de pes-
diências mais amplas para as quais ela diri- quisas, que neutralizem a dinâmica frag-
ge seu discurso. O estudo das organizações mentária criada pelas abordagens que rom-
vem atravessando um
debate prolongado peram com a ortodoxia. A segunda opção
sobre sua identidade, razão e objetivo há. estimula uma continuada proliferaçãode
mais de três décadas. Esse debate tem lan- “mais questões e incertezas (...) mais nar- e
çado uma verdadeira torrente de novas rativas que gerem questões" (1994b : 249).
abordagens, cujas falas são dirigidas a uma Isto não necessariamente leva os estudos
extensão cada vez maior de audiências, e organizacionais a um redemoinho incon-
que trata de um conjunto muito mais am- trolável de relativismo, argumenta Law, pois
plo questões
de do que o fazia quando as essa opção nos sensibiliza para a necessida-
necessidades técnicas e os interesses políti- de de preservar e utilizar o pluralismo inte-
cos de uma pequena elite formadora de di- lectual viabilizado pela crítica e de revelar
retrizes dominavam o cenário. O debate os "processos pelos quais os atos de narrar
atual também enfatiza algumas questões bá- e ordenar as estórias ocorrem espontanea-
sicas sobre os rumos mais apropriados para mente" (1994b : 249).
o desenvolvimento futuro do estudo de or- Como já seções
foi relatado em ante-
clusão e o
reagrupamento em torno de uma
duas décadas, os estudos organizacionais Pfeffer (1993) tentam reviver a narrativa dos
atravessaram "fogueira uma de certezas” em estudos organizacionais como um empreen-
relaçãoa suas fundações ontológicas, com- dimento científico em sintonia_direta com
duas respostas possíveispara essa situação: com o atual desejo de restabelecer ordem
"avançar qualquer
a custo" ou, o oposto, intelectual controle
e em um mundo cada
"deixar que brotem mil flores”. A primeira vez mais fragmentado e incerto. Eles são
opção sugere uma reclusão às
fortificações herdeiros intelectuais e ideológicos do
intelectuais que oferecem proteção contra cientificismo tecnocrático que permeia as
Mamma_ -ml
quais a análise
organizacional servir, deve desconstruçãototal e pelo relativismo sem'
se apóiam no pressuposto de que o retorno qualificação em que se baseiam esses auto-
à ortodoxia é um projeto politicamente viá- res.
O alter ego da visão “de volta à orto- todoxia renovada e o relativismo radical não
doxia” é "tese da incomensurabilidade”, é única
a a
opção: uma sensibilidade maior
que vem recebendo nova vida intelectual da ao contexto sócio-histórico e à dinâmica
crescente influência abordagens pós-
das política do desenvolvimento teórico não
estruturalista e pós-modernista, tais como precisa degenerar-se em uma
desconstrução
a teoria do discurso de inspiração impensada e total como a única alternativa
foucauldiana e a teoria ator-rede (Jackson à ortodoxia ressurgente. O, trabalho, de
e Carter, 1991; Willmott, 1993; 1994; Willmott (1993) baseado n”)aabordagem
Alvesson e Willmott, 1992). simpatizantes kuhniana do desenvolvimento teórico no
tradiçõesrivais. Relaçõesde mútua exclusi- alternativa mais atraente, tanto para a ar-
vidade paradigmas
entre oferecem visões rogância do "sempre em frente” ortodoxo
polarizadas da organização e das linguagens quanto para a desesperança
do "tudo é váli-
da análise organizacional, que não podem do” relativista. Willmott (1993) resiste ao
ser reconciliadas. Assim, as narrativas rivais dogma da incomensurabilidade
paradig-
que constituem “nosso" campo estão trava- mática, ao mesmo tempo em que enfatiza o
das em uma luta pelo poder intelectual sem papel crucial da política acadêmica insti-
nenhuma esperança de mediação. Um "de- tucionalizada ao determinar critérios de
sejo de poder” transcendental nietzschiano acesso aos recursos e infra-estruturafbol-
e uma idéia geopolítica darvviniana de "so- sas, periódicos, etc.) que confor- editores
brevivência do mais adaptado" tornam-se mam as condições em que os diferentes
os parâmetros intelectuais e institucionais paradigmas do conhecimento são produzi-
dentro quais dos essa luta deve ser travada. dos e legitimados. Contudo, essa sensibili-
Não há possibilidade de sustentar uma nar- dade quanto às "práticas de produção” que
rativa por meio da argumentação, da lógica facilitam a aceitação de certas teorias
e da prova; o que há simplesmente é o po- organizacionais e marginalizam ou exclu-
der de um paradigma dominante e das prá- em outras não é suficiente. A análise de
ticas disciplinares que ele gera e legitima. Willmott revela que há pouca consciência
Não há reconhecimento de regras funda- quanto às formas em que essas práticas de
mentais, negociadas, dentro das quais se produção interagem com práticas adju-
pode contestar racionalmente (Connolly, dicatórias, construídas ao longo de deter-
mínado período de desenvolvimento inte- nidades acadêmicas afeta claramente a so-
lectual, para formar as regras negociadas por brevivência de tradições narrativas rivais.
meio das quais abordagens e tradições ri- Contudo, o elo indelével entre o raciocínio
vais possam ser avaliadas. Precisamos de- prático que permeia as narrativas estru-
senvolver maior consciência das maneiras turadas analiticamente e o desenvolvimen-
sutis e íntricadas de interação entre as con- to teórico em um contexto sócio-histórico
dições
materiais e as práticas intelectuais, e dinâmico não pode
apagado pela
ser nem
do modo como essa interação gera e sus- ortodoxia conservadora, nem pelo relati-
tenta as tradições
narrativas e os programas vismo radical. É precisamente o confronto
de pesquisa inerentemente dinâmicos, que entre tradições narrativas rivais, particular-
constituem campo o dos estudos organi- mente quando suas tensões internas e con-
zacionais ao longo do tempo. tradições ou anomalias estão clara e crua-
“Reflexividade institucional" (Giddens, mente expostas, que fornece o dinamismo
1993; 1994) não é apenas a característica intelectual essencial ao
redescobrimento e
que define os fenômenos que são objeto de renovação dos estudos organizacionais.
estudo dos pesquisadores organizacionais; Como argumenta Perry, "não emos es-
po
ela é também uma característica constitutiva capar da história ou do jogo da cultura. Toda
da troca intelectual que eles praticam. O teorização é portanto parcial; toda teo-
estudo de organizações é ao mesmo tempo rização é seletiva" (1992 : 98). Contudo,
progenítor e herdeiro dessa reflexividade aqui não racionalização prol
se trata de em
legado intelectual. Os estudiosos da organi- tação, à medida que se combinam para re-
zação não podem evitar esse legado: ele produzir a reflexividade e a crítica que são
define os pressupostos que formam o pano o marco do estudo contemporâneo orga- de
de fundo e o contexto moral que alimentam nizações.
decisões dos pesquisadores implícita
as
quanto a ideo- A proposta destecapítulo é
logia, epistemologia e teoria. Essas escolhas sugerir que os teóricos organizacionais de-
são feitas em um legado que não é simples- senvolveram e continuarão a desenvolver
mente “passadoadiante", mas sim constan- uma rede de debates críticos internos e ex-
temente revisitado, reavaliado e renovado ternos às
tradições narrativas, que irão in-
à medida que passa pelo debate critico e re- delevelmente conformar a evoluçãodo cam-
flexão que são o sangue intelectual dos es- Três debates
po. parecem particularmente
tudos organizacionais. intensos e potencialmente
produtivos no
A reflexividade crítica estão institu-
e a
presente. O primeiro é a necessidade perce-
cionalizadas no âmbito das práticas intelec- bida de desenvolver uma "teoria sobre o
tuaisque constituem organi- o estudo das assunto" não
que degenere nas simplicida-
zações. Os critérios especificos pelos quais des do reducionismo ou nos absurdos do
“mandatos gerais” são definidos, bem é
esses determinismo. O segundo o desejo gené-
como as
condições sociais, econômicas e rico de construir uma "teoria organizacio-
políticas em que eles são ativados, variam nal" que venha a realizar a mediação analí-
no tempo espaço.
e noO poder material e tica metodológica
e entre as restrições do
simbólico mobilizado diferentes comu- localismo e a grandiosidade do
por globalismo.
PARTE 1- MODELOS DE ANÁLISE
PP
_j
,
pP
.,.
__%WW_,
O terceiro debate é a necessidade imperio- BELL, D. The end of ideology. New York : Collier
sa de nutrir uma "teoria do desenvolvimen- Macmillan, 1960.
às
"
to (intelectual) que resista limitações do BENDIX, R. Work and
authority industry. in
conservadorismo e às distorções do rela- California: of California
University Press,
tivismo. Desde que este capítulo tenha for- 1974.
necido alguma contribuiçãopara avançar o BERNSTEIN, B.Beyond objectivism and relativism.
debate sobre esses temas de forma histori- Oxford : Basil Blackwell, 1983.
camente mais informada e intelectualmen- BERTALANFFY, L. theory
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te mais coerente, ele terá cumprido seu pa- systems in physics and biology Science, 3,
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