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Faculdade São Bento

Curso de Pós-Graduação
História Antiga e Medieval – Religião e Cultura

Newton Gerardo Braune Neto

ESTOICISMO
E
CRISTIANISMO PRIMITIVO

Rio de Janeiro

2019

1
Faculdade São Bento - História Antiga e Medieval

Prof.: Maria Eichler

Aluno: Newton Gerardo Braune Neto

Tema: Estoicismo e Cristianismo Primitivo

Introdução

No século IV a.C., Alexandre, o Grande1, e seu vitorioso exército macedônio


conquistou o mundo antigo. O historiador Justo Gonzáles2 afirma que Alexandre não tinha
somente preocupação com as vitórias, mas queria também unificar a humanidade sob uma
mesma civilização de “tonalidade marcadamente grega”.3
O resultado dessa conjunção de conquistas foi o desenvolvimento do Helenismo4,
período histórico que ansiava combinar elementos culturais puramente gregos com outros
princípios tomados das diversas civilizações conquistadas.

Com a morte de Aristóteles5 (332 a.C.) e do próprio Alexandre (323.a.c), a influência


da vida e do pensamento das cidades-estados gregas diminuíram consideravelmente. Atenas
deixou de ser o centro cultural do mundo mediterrâneo e outras cidades, como Roma e
Alexandria, passaram a ter mais destaque na antiguidade.

A polis6 grega acabou sendo superada por unidades políticas maiores, com a força
local de dominação sendo substituída por governadores distantes. A intimidade circunscrita da

1
Rei da antiga Macedônia. Até os trinta anos de idade criou um dos maiores impérios do mundo antigo, que se
estendia da Grécia para o Egito e ao noroeste da Índia. É considerado um dos comandantes militares mais bem-
sucedidos da história.
2
Justo L. González é historiador e teólogo cubano-americano. Tem sido um contribuinte influente no
desenvolvimento da teologia latino-americana.
3
GONZALES, J. Uma história do Cristianismo ilustrado. São Paulo: Vida Nova, 1989, p. 16.
4
Helenismo refere-se ao período da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte
de Alexandre o Grande em 323 a.C. e o seguimento do Império Romano. Caracterizou-se pela concretização de
um ideal de Alexandre: levar e difundir a cultura grega aos territórios que conquistava.
5
Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos,
como a física, drama, a música, lógica, retórica, governo, ética, biologia, linguística e economia. Aristóteles é
visto como um dos fundadores da filosofia ocidental.
6
Modelo das antigas cidades gregas, definindo um modo de vida urbano que seria a base da civilização ocidental
e mostrou-se um elemento fundamental na constituição da cultura grega.

2
ordem moral e civil local foi substituída por uma ordem social distante, gerando incertezas e
valores transitórios.

O nascimento do estoicismo ocorreu nesse mundo em transformação, onde os códigos


de conduta existentes deixaram de ser válidos em função da nova ordem que passou a vigorar.

Entretanto, dialogando com o professor Danilo Marcondes7, constata-se que a


influência da filosofia grega e das escolas filosóficas fundadas no início do Helenismo,
sobretudo o estoicismo e o epicurismo8, permaneceu durante o Império Romano.

Marcondes, em seu livro, Introdução a História da Filosofia, enfatiza que:


“Alguns tomam o surgimento do cristianismo como um marco do fim do helenismo;
porém a filosofia cristã em seus primeiros séculos, desenvolveu-se tipicamente no
contexto do helenismo”.9

Nesse trabalho abordaremos exclusivamente a influência do estoicismo no


desenvolvimento do cristianismo primitivo, pois consoante com Danilo Marcondes:
“A ética estoica teve grande influência no desenvolvimento do cristianismo, visto seu
caráter determinista e sua valorização do autocontrole, da submissão e da
austeridade”.10

Estoicismo

O Estoicismo é uma escola do pensamento helenístico fundada no século III a.C. e


bastante popular até o ano de 529, sendo considerada uma forma de vida, indo além da teoria
filosófica. O renomado teólogo Paul Tillich11 chegou a escrever que: “o estoicismo era, na sua
época, a única real alternativa ao Cristianismo no mundo Ocidental”.12

7
Danilo Marcondes é doutor em filosofia pela Universidade de St. Andrews, professor titular do Departamento
de Filosofia da PUC-Rio e professor associado do Departamento de Filosofia da UFF. Com mais de trinta anos
de experiência no magistério, é autor de vários sucessos editoriais.
8
Epicuro (341-271 a.C.) fundou a sua escola em Atenas em 306 a.C., notabilizando-se sobretudo por seu tratado
da natureza.
9
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro:
Ed. Zahar, 1997, p. 4.
10
Ibid., p. 12.
11
Paul Oskar Tillich filósofo e professor alemão-americano. É considerado um dos mais influentes teólogos
protestantes do século XX.
12
TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 2000.

3
O Estoicismo tem seu nome derivado de Zenão de Cítio (Chipre)13. Zenão era,
aparentemente, bastante versado no pensamento Platônico e foi o responsável pela divisão da
filosofia em três partes: lógica14, física15 e ética. Para Zenão a felicidade humana era produto
da vida de acordo com a natureza, sendo a teoria física a provedora do significado pelo qual as
ações corretas são determinadas.

Os seguidores do estoicismo, na Grécia e Roma antiga, acreditavam que a base de


todo o questionamento humano era um modelo de conduta caracterizado pela tranquilidade da
mente e pela certeza do valor moral. A felicidade seria alcançada pelo autocontrole como forma
de superar as emoções.

A moral, o dever e a justiça eram os pilares da filosofia estoica.16 Os estoicos


acreditavam que o domínio do autocontrole permitia ao seu seguidor superar as privações e
sofrimentos, não sentindo, portanto, tristeza ou arrependimento. O estoicismo procurava evitar
os excessos da natureza humana que eram provedores da ansiedade e da inquietação.

A escola estoica foi bastante influente desde a sua fundação. Durante a Roma antiga
e o período medieval, elementos da moral estoica foram usados na formulação das teorias
Cristãs, Judaicas e Islâmicas.

O estoicismo floresceu na Roma antiga com tamanha força, tornando-se assim a


escola filosófica com maior número de seguidores e admiradores, tanto no período republicano
quanto no imperial.

Durante a Renascença17 a política estoica foi popular para os teóricos da lei natural,
autoridade política e reforma educacional. No século XX, o estoicismo voltou a ter destaque
pela ênfase na valorização do indivíduo em um mundo cercado de disputas e incertezas.

13
Zenão de Cítio (333 a.C. - 263 a.C.) foi um filósofo da Grécia Antiga. Nasceu na ilha de Chipre e lecionou em
Atenas, onde fundou a escola filosófica estoica por volta de 300 a.C.
14
Lógica: incluindo retórica, gramática e as teorias da percepção e pensamento.
15
Física: não apenas do ponto de vista de ciência, mas também a natureza divina do universo.
16
Definição de Estoicismo, Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Stoicism/Later-Roman-Stoicism.
Acesso em: 01 set. 2019.
17
Renascença é o termo usado para identificar o período da história da Europa aproximadamente entre meados
do século XIV e o fim do século XVI. Apesar das transformações serem bem evidentes na cultura, sociedade,
economia, política e religião, caracterizando a transição do feudalismo para o capitalismo e significando uma
evolução em relação às estruturas medievais, o termo é mais comumente empregado para descrever seus efeitos
nas artes, na filosofia e nas ciências.

4
Cristianismo Primitivo

Quando Alexandre, o Grande venceu os Persas em 333 a.C., toda a complexidade do


mundo Oriental começou a mudar. Ele estabeleceu cidades em todo o seu império, o idioma
grego passou a ser a língua do comércio e uma nova ordem política foi inaugurada.
Esse processo de desenvolvimento continuou com seus sucessores até o surgimento
de Roma. Entretanto, mesmo após o Império Romano ter conquistado o Oriente, as principais
particularidades do Helenismo sobreviveram.
As consequências culturais da dominação Greco-romana foram muito importantes,
pois enquanto os exércitos gregos e romanos sucessivamente conquistavam o mundo antigo,
eles não apagavam as civilizações dos povos conquistados. Os elementos gregos e romanos
foram transferidos para as sociedades que passaram a fazer parte do império, incluindo nesse
espectro a influência na religiosidade.18
O Cristianismo cresceu em um mundo que já era bastante religioso. Na Palestina, onde
Jesus viveu, a religião era o maior alento do povo judeu. Nesse mundo antigo existiam várias
crenças para atender às demandas de seu tempo.
As pessoas procuravam a religião como forma de ajuda para dominar as forças da
natureza e, principalmente, garantir uma boa colheita. Morte, fome, guerras e infertilidade eram
considerados sinais de mal presságio e desfavorecimento.
Os deuses do paganismo eram responsáveis por prover vitórias, boas safras e sucesso
no amor e no casamento, com o nascimento de filhos. As pessoas buscavam na religião
progresso material em suas vidas, ao invés de tentar alcançar um melhoria moral e espiritual.
Os deuses individuais eram venerados em função de necessidades específicas da sociedade.
Nascido de uma pequena seita do Judaísmo no Século I, o Cristianismo herdou do
Judaísmo um forte sentimento de “ser sagrado”, separando-se da idolatria e do paganismo. O
Cristianismo primitivo, por sua vez, absorveu várias tradições religiosas, culturais e intelectuais
do mundo Greco-Romano.
Na história tradicional, oriunda da cultura ocidental, o nascimento do Cristianismo no
Império Romano é conhecido pelo “Triunfo do Cristianismo”. Essa referência invoca a vitória
do Cristianismo sobre as demais crenças pagãs. Entretanto, é importante frisar que o
Cristianismo não despontou no vácuo. A influência da filosofia grega teve um papel importante
no seu desenvolvimento.

18
The Nature of Primitive Christianity. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/t-and-c. Acesso em:
02 set. 2019.

5
Pontos de convergências

Para mostrar a convergência entre a filosofia estoica e o cristianismo nos primeiros


séculos da era cristã é importante analisar o pensamento do importante e prestigiado Imperador
Marco Aurélio.19
Segue abaixo uma síntese das principais concepções éticas que demonstram os
pressupostos estoicos, que o aproximam do cristianismo primitivo:
• Como se deve tratar o corpo: “Como estoico, sua tônica recai na razão, no sentido de
que o corpo não deve ser desprezado, todavia deve estar sob o constante domínio do
espírito”.

• Vida: deve-se viver intensamente “cada dia como se fosse o último”

• Compaixão pelo próximo: “É próprio do homem amar até os que o magoam”.

• Virtude: Virtude é praticar ações justas e ser homem de bem”.

O estoicismo, portanto, propunha a conquista da eudaimonía20, enquanto seus


seguidores viviam na rudeza da existência humana. O estoicismo é detentor de uma psicologia,
onde a racionalidade é credora do bem-estar.
Todavia, é preciso considerar o aspecto religioso, pois existia uma profunda piedade
em relação à divindade. O Deus único e racional do estoicismo, assim como o Deus único do
cristianismo, formou a base da Igreja de Roma.
Ainda é relevante considerarmos os estudos do professor Reinholdo Ullmann21, os
quais apontam as semelhanças entre o estoicismo e o cristianismo. Conforme Ullmann, assim
como os cristãos, os estoicos se referiam uns aos outros como “irmãos” ou “amigos” em suas
comunidades.
No campo da sexualidade o estoicismo também exerceu grande influência no
cristianismo primitivo. Os estoicos faziam graves reservas à busca do prazer, fazendo com que

19
Marco Aurélio foi imperador romano de 161 até sua morte em 180. Seu reinado foi marcado por guerras na
parte oriental do Império Romano e na fronteira norte, contra os germanos. Ele é lembrado como um governante
bem-sucedido e culto; dedicou-se à filosofia, especialmente à corrente filosófica do estoicismo, e escreveu uma
obra que até hoje é lida, Meditações.
20
Eudaimonia é um termo grego que é traduzido como felicidade ou bem-estar. Outras traduções têm sido
propostas para melhor expressar o que seria um estado de plenitude do ser.
21
Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Reinholdo Ullmann foi pesquisador de
filosofia, escritor, revisor. Foi pioneiro, no país, no estudo de Plotino e Epicuro.

6
a sexualidade fosse concentrada no casamento. Os grandes Padres da Igreja na antiguidade –
Agostinho e Tomás de Aquino – contribuíram muito para a manutenção do negativismo em
relação ao prazer sexual característico da influência estoica. O sexo só se justificava para a
reprodução, caso contrário traria o "estigma negativo do prazer". Constata-se nesse caso o
surgimento de uma moralidade que foi, essencialmente, um pudor de ordem sexual.22

Conclusão

É equivocado atribuir ao cristianismo tudo o que se lhe costuma atribuir, e que uma
parcela de sua doutrina é originária do estoicismo, muito embora o Helenismo e as escolas do
pensamento grego tenham prestado um grande serviço para o crescimento do cristianismo.
Ao refletirmos sobre a influência dos estoicos no pensamento cristão podemos abraçar
a citação do professor Reinholdo Ullmann: “o mestre do Jardim não excluía ninguém do acesso
às suas comunidades. Homens, mulheres, velhos, moços, crianças e até escravos eram
partícipes delas”.
A referência de Ullmann recai no princípio de que a mulher era aceita naturalmente
na comunidade estoica, o que lhe permite afirmar: “De fato, muitas vezes, atribuem-se,
apressadamente, ao cristianismo ações que, no entanto, já estavam em uso entre os gregos e os
romanos, séculos antes”.23

22
A invenção da sexualidade. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org. Acesso em: 01 set. 2019.
23
ULLMANN, R. A. O estoicismo romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996,
p. 17-20.

7
Bibliografia

GONZALES, J. Uma história do Cristianismo ilustrado. São Paulo: Vida Nova, 1989, p. 16.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein.


Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1997, p. 4

Definição de Estoicismo, Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Stoicism/Later-


Roman-Stoicism. Acesso em: 01 set. 2019.

The Nature of Primitive Christianity. Disponível em: http://www.journals.uchicago.edu/t-and-


c. Acesso em: 02 set. 2019.

ULLMANN, R. A. O estoicismo romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre:


EDIPUCRS, 1996.
TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 2000.

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