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Coleção 82
Academia Acreana de Letras
@aalacre
Luísa Karlberg
Presidente da AAL
CONSELHO FISCAL:
Reginâmio Bonifácio
Edir Marques
Vacante
QUADRO PERMANENTE QUADRO DE EMÉRITOS
01 – Alexandre Melo de Souza
02 - Reginâmio Bonifácio de Lima Antônio Hamilton Bentes
03 - Rosana Cavalcante dos Santos Aury Félix de Medeiros
04 – Maria Cecília Ugalde Edson Ferreira de Carvalho
05 – Sebastião A. M. Viana Neves Francisco de Moura Pinheiro
06 – Sebastião Isac de Melo Francisco Gregório Filho
07 – Enilson Amorin de Lima Geraldo Brasil
08 – Carlos Alberto A. de Souza Íris Célia Cabanellas Zanini
09 – Clara Elizabeth Simão Bader João Crescêncio de Santana
10 – Maria José da Silva Oliveira Maria da Glória Oliveira
11- Edir Figueira M. de Oliveira Mário Lima Brasil
12- Deise Brandão Torres Leal Sílvio Martinello
13- Mauro D’Ávila Modesto Jorge Araken Farias da Silva
14- Jefferson Henrique Cidreira Margarete Edul Prado S. Lopes
15 –Vacante Naylor George
16 – Vacante Robélia Fernandes Souza
17 – Vacante
18 –Telmo Camilo Vieira
19 – José Dourado de Souza
20 – Vacante
21- Gilberto Braga de Mello
22- Dalmir Rodrigues Ferreira
23- Vacante
24- Olinda Batista Assmar
25 – Moisés Diniz Lima
26 – Vacante
27- José Cláudio Mota Porfiro
28– Vacante
29– José do Carmo Carile
30- Claudemir Mesquita
31- Álvaro Sobralino de A. Neto
32- Vacante
33– Renã Leite Pontes
34- Luisa Galvão Lessa Karlberg
35– Vacante
36– Arquilau de Castro Melo
37– Francis Mary Alves de Lima
38–Eduardo de Araújo Carneiro
39– Vacante
40– Maria José Bezerra.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 05
INTRODUÇÃO 08
Primeira Parte
INGRESSO NA ACADEMIA ACREANA DE LETRA
Segunda Parte
O POETA E SEUS SEGREDOS
3. Poesia e autor 23
3.1 Coisas de mim 24
3.2 Tardes Noites Frias 25
3.3 Coisas do Amor 26
Terceira Parte
REPRESENTAÇÕES DO CIENTISTA
SONHADOR
8
INTRODUÇÃO
10
comunidades e na Assembleia Legislativa do Estado do Acre. Quanto
a mim, escolhi atuar a partir das bases da educação e da construção da
consciência do “sujeito” que se torna “agente”, não sendo “produto do
meio”, nem “livre meritocrático”, mas, antes, um “lutador” que, tange
o preposto, na real intenção de romper as amarras, reconstrói a si e ao
mundo que lhe permeia.
A presente obra foi dividida em 03 partes. Primeiramente, a
reprodução do discurso de posse e da biografia encaminhada para a
posse em 2015. Nos últimos 04 anos muita coisa ocorreu, registros
dignos de muitas falas, mas que, para cumprir o rito acadêmico, não
foram inseridas. Assim, discurso e biografia permanecem incólumes
como no dia da posse na AAL.
Segundamente, o poeta desvela seus segredos: o coração que
nem sempre é compreendido; o amor e a imperfeição do autor; as
angústias que fulguram em dilúculo; os sonhos de amar sem medo; um
acróstico à amada imortal; e, por fim, imperfeitos e aceitos amores em
afáveis e heterodoxas fotos.
Finalmente, faz-se conhecer enquanto cientista sonhador. Há a
livre percepção de representações e simbologias nas principais áreas de
atuação do autor. Nesta obra, não se encontram produções de
“Segurança Pública”, embora o autor tenha escrito 02 livros e alguns
artigos sobre o assunto; nem sobre “Contos”, ainda que haja
considerável publicação nesse sentido; tampouco há aqui a deferência
de produções sobre as “linguagens”, mesmo que as tenha em acervo
público. O autor se vê, prioritariamente como partícipe e construtor da
história, perscrutador das relações humanas com o Divino e um
sonhador por excelência que tenta ensinar e aprender cotidianamente.
Sejam bem-vindos às páginas deste livro, nem maior, nem
melhor, contudo o mais incisivo em marcar o conhecimento de autoria,
incluindo os muitos defeitos, do ocupante da Cadeira de n.° 02 da
Academia Acreana de Letras: um imortal antes de tudo humano. Que
Deus nos abençoe!
11
Primeira Parte
INGRESSO NA ACADEMIA
ACREANA DE LETRAS
1
DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA ACREANA DE
LETRAS EM 24 DE JULHO DE 2015
Vislumbres
Entre a vida e a morte
o importante é amar.
Para mudar algo tem-se que ser forte
o homem tinha tudo para ser feliz
faltava apenas a descoberta.
Tudo é belo, do jeito que é!
Viva aqui de tal maneira
que o aqui não se torne importante.
Tudo o que guardei perdeu-se, foi-se
você tem somente aquilo que compartilhou.
Sinta as descobertas e não esqueça o natural!
O amor é a percepção do amado
Nesse mundo, nada é realmente conhecido
a ignorância é absoluta,
suprema quando entender,
terá novamente aqueles olhos bonitos, quanto criança.
Para perder-se é necessário a liberdade.
Se a mulher foi criada a partir do homem
é um refinamento muito mais purificado.
Estar só é belo. estar solitário é feio.
Mas agora sabe,
ser enganado é melhor que perder a confiança.
Futuro e passado, trazem pensamentos
e este destrói os sentimentos
nos pensamentos esquecem-se do coração.
O que mata o povo é o dinheiro
é a maior verdade que se disse.
Não permita que ninguém seja seu senhor
olhe dentro de você
o medo, não pode lhe dá um caráter
pode sim, dar-lhe uma impotência de fraco.
17
2
BREVE BIOGRAFIA DE REGINÂMIO BONIFÁCIO DE
LIMA PARA A AAL EM 2015
Trajetória profissional
18
ocupação de terra que ocorria no que veio a se chamar bairro Bahia
Nova, onde viveu até os 28 anos de idade, quando casou-se.
Aos 12 anos de idade, Reginâmio já trabalhava como
vendedor ambulante de pão para auxiliar na renda da família – era
um período em que a hiperinflação e as condições de trabalho não
eram as melhores. Com sua cesta de pão nas costas, saía às quatro
horas da madrugada pelas ruas dos bairros adjacentes onde vendia
pães de casa em casa gritando “padeiro”. Nesse período, aprendeu
que existem pessoas más, por várias vezes foi assaltado e teve sua
cesta de pães tomada pelos infratores. Quando chegava à padaria e
relatava o ocorrido, que era comum aos “vendedores mirins” o bom
dono da padaria dizia: “Não foi culpa sua, não vou lhe cobrar os
pães. Apenas peço que você tome mais cuidado e, quando for
possível, pague o material que usei para fazer os pães”. Naquele
momento, Reginâmio teve noções de economia e da relação das
trocas simbólicas, enquanto cursava a sexta série do Ensino
Fundamental.
Aos 14 anos o trabalho precisou ser intensificado para
auxiliar em casa. Assim, trabalhava como vendedor de pães das
quatro da madrugada às seis da manhã, ia para casa apressadamente,
tomava café e se preparava para ir para o trabalho como “orelha
seca” de pedreiro até meio dia. Em seguida, apressadamente comia,
tomava banho quando dava, vestia a única calça comprida que tinha
e ia para a escola, onde estudava a oitava série.
Aos 17 anos, Reginâmio era financeiramente independente,
trabalhava e estudava. Nesse ano concluiu o Segundo Grau
Científico.
Aos 18 anos, conseguiu seu primeiro emprego formal e
aprendeu sobre negociações e exploração. Descobriu que ganhar um
salário e meio não compensava se for pressionado a trabalhar das
sete da manhã às nove da noite, de segunda a sábado.
Seu primeiro contato com a pesquisa científica se deu no
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, onde
aprendeu sobre o método sociológico e sobre a contagem teórica da
população enquanto trabalhava de sol a sol no recenseamento de
1996. Descobriu, aos 19 anos, que quando você ganha por produção
e esse valor é considerável é possível fazer realizar sonhos e guardar
um pouco para os “dias das vacas magras”. Era a primeira vez que
tinha contato com um trabalho prazeroso que lhe rendia dividendos:
aproximadamente sete salários mínimos por mês. Dois salários para
19
despesas pessoais, dois para ajudar em casa e três guardados para os
tempos difíceis que poderiam voltar. E de fato voltaram. Oito meses
depois, a pesquisa acabou, mas o “pé de meia” deu para viver
confortavelmente por um ano.
Como tudo o que é bom dura pouco, no ano em que
ingressou na Faculdade de História, o dinheiro acabou. Eram fins
de 1997. As apostilas, os trabalhos de aula, as necessidades
universitárias e sociais – não havia tantas bolsas de estudo naquela
época, apenas duas por curso. Era hora de voltar à atividade de
“orelha seca”. Durante o dia ajudando os pedreiros e à noite,
cursando faculdade. Em 1998 ganhou uma bolsa de um ano onde
foi apresentado à pesquisa científica. Foram doze meses de muito
conhecimento, pesquisa de campo e pouco dinheiro – foi fantástico!
Com o fim da pesquisa e o término da bolsa, era hora de retornar ao
trabalho braçal, mas era inverno e a construção civil não funciona
muito bem nessa época. Surgiu a oportunidade de trabalhar como
“Chapa de caminhão”, aqueles homens que carregam e descarregam
cargas – a equipe de cinco homens enchia e desabastecia até oito
caminhões por dia e, na hora do almoço, apostila na mão para
estudar para o Concurso da Polícia Militar, sem esquecer os
trabalhos do quinto período da Faculdade de História.
No findar do século XX surgiu uma luz no fim do túnel.
Com a ajuda de sua família, conseguiu, no dia 02 de fevereiro de
2000, o seu ingresso como “Técnico em Segurança Pública e
Soldado Policial Militar”. O trabalho árduo e a função nem sempre
reconhecida renderam dividendos para sustentar a família. Em
2003, transferido para a Divisão de Ensino, fez diversos cursos de
formação complementar, dentre os quais dois se destacaram:
Special Weapons and Tatics – SWAT, que lhe rendeu a liderança
da segunda equipe SWAT no ano e, posteriormente, lhe
proporcionou o comando técnico de uma das equipes táticas da
PMAC; e o Curso de Educador Social Proerd, no qual progrediu nas
atividades de Mentoria e Estágio Master, o que lhe proporcionou a
Coordenação Administrativa da Guarda Mirim da PMAC.
Dentro da Caserna, concluiu sua faculdade. Reginâmio
progrediu nos estudos, sempre com dois focos: História e Teologia.
Licenciou-se em História, especializou-se em Cultura e obteve o
grau de Mestre em Letras: Linguagem e Identidade. No lado
teológico, bacharelou-se em Teologia, especializou-se em Ciências
da Religião, obteve os graus de Mestre e Doutor em Teologia, este
20
último grau obtido aos 28 anos de idade – infelizmente por
problemas administrativos da faculdade onde doutorou-se, toda a
turma teve seu doutorado reconhecido apenas como Doutorado
Livre em Teologia, com registro no Conselho Federal de Teólogos,
mas não no Ministério da Educação.
No fim de 2003, criou o “Grupo de Estudos e Pesquisas
Sobre Terras e Gentes” que tem como foco o estudo da Amazônia e
as modificações antrópicas nela estabelecidas.
Em 2005, aos 28 anos de idade, mesmo ano em que
doutorou-se e teve uma grave cólica renal, a ponto de ser levado ao
Pronto Socorro pela ambulância do SAMU, casou-se. Teve o
privilégio de casar-se com a professora Iracilda, com quem, anos
mais tarde, teve um casal de filhos.
Em 2006, mais gordinho pelo casamento e tendo publicado
seu primeiro livro, teve o privilégio de, pela graça de Deus, ser
eleito Diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil, onde congrega
desde os 14 anos de idade e desempenha vários papéis e ofícios na
promulgação do amor, da esperança e da fé em Deus, Criador de
todas as coisas. No ano de 2007, foi eleito Presbítero Regente da
mesma Igreja.
Em 2008, Reginâmio prestou concurso para professor no
Ensino Superior de uma IFEs no Acre, contudo, mesmo passando,
não pôde entrar por “entraves técnicos que a justiça delegou como
de segredo”, coincidentemente, o segundo concurso para a mesma
área, na mesma IFEs, passando outra vez em primeiro lugar, não
pôde assumir a cadeira, novamente a justiça brasileira precisou
julgar a ação dos litigantes. Em ambos os casos, o mesmo motivo:
um docente metido a “semideus marxista” afirmou, explicitamente,
que não queria “crente” atrapalhando a docência universitária.
Em 2009, coordenou a área de Historiografia da Fundação
Cultural Garibaldi Brasil; além de ser convidado a fazer parte da
Academia Brasileira Virtual de Letras, na qual tem como patrono o
Geógrafo Milton Santos.
Outros concursos em diversas IFES vieram e, por fim, em
2013, Reginâmio ingressa na Universidade Federal do Acre como
professor de História.
Em 2014, Reginâmio aprova seu primeiro Projeto
institucional PIBIC, mesmo já tendo publicado 11 livros: sete deles
sozinho e outros quatro em parceria com vários professores. Em
parceria com professores da UFAC publica o menor livro do Acre
21
intitulado “Uma História do Acre em Retalhos”; é convidado a
integrar a Comissão Local da SBPC Jovem e Mirim, sendo eleito
Vice-Coordenador e, por fim, é convidado a integrar a Academia
Acreana de Letras.
Em 2015 realiza sua primeira publicação em uma revista
internacional, a convite de um colega da Argentina. No mesmo ano
ganha o “Prêmio Professores do Brasil” e vai, a convite, a Santiago
do Chile, expor sua teoria sobre a “transcrição, textualização e
transcriação” de relatos orais.
Reginâmio é o autor de mais de uma dúzia de obras, dentre
elas se destacando os livros:
22
Segunda Parte
3
POESIA E AUTOR
23
COISAS DE MIM
24
TARDES NOITES FRIAS
25
COISAS DO AMOR
Amar...
É querer dividir minha rede com você.
Viver...
É poder escolher quando e como fazer isso.
Sonhar...
É pensar em adiantar o relógio para que você
logo chegue.
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38
Terceira Parte
REPRESENTAÇÕES DO
CIENTISTA SONHADOR
4
HISTÓRIA
AS VOZES DA MEMÓRIA,
AS IDENTIDADES E O TEMPO1
Introdução
1
O texto de revisão histórica foi originalmente produzido no ano de 2013. Foi
enviado para análise em fins de 2017 e aceito para publicação na South
American Journal of Basic Education, Technical and Technological. Issn:
2446-4821, V.5, N.2, Ano 2018, p. 244-257.
39
Os anatomistas alexandrinos (séc. III a. C.) sugeriram a
localização da função mental no cérebro. A localização
da memória no cérebro, hoje, é vista como
inquestionável e a procura de loci cada vez mais
especializados, considerados responsáveis pelo processo
mnemônico, move as pesquisas mais atuais [1].
40
passagens acerca da memória, ela está contida em seu consagrado Em
busca do tempo perdido:
41
interfere no processo atual das representações. A autora ainda declara
que cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória
coletiva, que muda conforme o lugar que algo ocupa e que este lugar
mesmo muda segundo as relações que mantemos com outros meios.
Édouard Glissant [9], em sua Introdução a uma Poética da
Diversidade,fala da idéia de “lugares comuns”, neles um pensamento
do mundo encontra outro pensamento do mundo, quando ele fala da
totalidade-mundo explicitando que a literatura provém de um lugar.
Isso é interessante por ratificar as vivências e relações se estabelecerem
no que o Reboratti [10] vai chamar de território local. Também Freire
[11] fala da valorização que se deve às culturas tradicionais, e que, por
não ouvi-las muitas coisas ruins acontecem com pessoas que poderiam
ter a situação-problema resolvida ou esclarecida pelo conhecimento
das populações tradicionais.
Stuart Hall [12] trabalha de forma mais sistemática a
conjuntura em que se forma e concretiza a identidade cultural do
sujeito pós-moderno. Ele afirma que a alteridade tem se mostrado
como necessária para que a nova busca de ver o local não se separe do
global, de mesma forma que o global tem sido visto a partir das
localidade. Porque, para o autor, hoje não existem mais “lugares
fechados em si”, há uma pluralidade de culturas interagindo
dialeticamente, sendo necessário aprendermos a viver com as
diferenças identitárias. Para Neves [7], as pessoas em suas relações
sociais criam e rompem laços de vínculo, vivendo suas vidas
interdependendo uns dos outros.
Fazendo um paralelo desse aspecto com o que Édouard
Glissant trabalhou em relação às culturas, almejamos trabalhar as
identidades em questão, procurando lembrar e afirmar explicitamente
que a identidade não é una, mas plural.
Essas identidades e memórias fronteiriças são heterogêneas e
“totalidades contraditórias” [10] em si, de si, por si, exatamente por sua
mestiçagem, suas pluralidades e turbidez. Abdala, citando Marli
Fantini [14], afirma que são identidades quebradas porque há os
rompimentos, os desenraizamentos e as descontinuidades presentes na
vida, e que tanto aparecem na fala eivada de interdiscursos. Por isso, é
tão complexo trabalhar com memórias e identidades.
Segundo Paul Thompson [15], as pessoas comuns procuram
compreender as revoluções e mudanças porque passam em suas
próprias vidas. A finalidade social da História requer uma
compreensão do passado que direta ou indiretamente se relaciona com
o presente.
42
Para trabalhar essas trajetórias de vida e histórias temáticas
que, pouco ou quase nada têm de escrito, é possível escolher a pesquisa
com relatos orais como base para registrar os discursos proferidos
através da rememoração presentificada das lembranças, por sua
possibilidade de “compor e interpretar” as histórias de vida das pessoas
em seu cotidiano. O estudo dos relatos orais discute a documentação
viva, ainda não aprisionada pela linguagem escrita e incorpora visões
subjetivas, sentimentos e observações dos indivíduos [15]. Sendo
vários os discursos que participam, integram e recontam a realidade, a
reconstrução dos fatos e a colagem das informações podem ter diversas
formas.
Material e Métodos
43
Resultados e discussões
44
Os movimentos da história são múltiplos e se traduzem
por mudanças lentas ou abruptas, por conservação de
ordens sociais, políticas e econômicas e também por
reações às transformações. Na maior parte das vezes,
esses processos, contraditórios entre si, acontecem
simultaneamente e se integram a uma mesma dinâmica
histórica [5].
46
simultaneidade social, mas também quatro elementos que caminham
juntos: o tempo, a memória, o lugar e a história em suas pluralidades
conjunturais, para a construção, ainda que de forma fragmentada e
tensa, das identidades desses homens e mulheres sujeitos lembrantes.
Delgado conceitua tempo explicando suas relatividades e projeções:
47
sociabilidade. Existem identidades múltiplas, como afirmou Hall [12].
Identidades e papéis sociais não devem ser confundidos, estes estão
envoltos e normas e estruturas de organização das sociedades,
enquanto aquelas são fontes de significado para os próprios atores e
são construídas pelos indivíduos nos processos por eles vivenciados.
O processo identitário é produzido quando da autoconstrução
internalizada pelos atores que atribuem a esse processo um significado.
Contudo, em nossa sociedade patriarcal há a confusão entre o papel dos
homens e das mulheres – que estão ligados a funções executadas
socialmente nessas sociedades – e suas identidades construídas.
Considerações Finais
51
Esses elementos expressos na narrativa quase nunca levam em
consideração as implicações político-econômico-sociais dos atos
vivenciados pelos sujeitos lembrantes, na própria relação vivida.
Assim, fica evidente que para muitos entrevistados a vida se resume às
suas próprias histórias de vida e trabalho. Os entrevistados narram os
acontecimentos que perpassam de forma transcendente aquilo que se
apresenta de forma mais imediata em suas vidas, ora por aspectos
comuns, ora por experiências do cotidiano.
As identidades estão sempre em curso, é na relação
tempo/espaço que se tensiona a memória que almeja conhecer as
referências fundamentais do passado. As lembranças são sempre
tencionadas no tripé memória/tempo/espaço. É pelo entrelaçar dessas
lembranças que memória resgata de forma presentificada o passado
vivido, ainda que vivido como substrato parcialmente construtor das
identidades.
Referências
52
[9] GLISSANT, Édouard. Introdução a uma poética da diversidade.
Trad. Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora
UFJF, 2005.
[12] HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.
Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro – 9. ed. –
Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
[13] HALL. Da diáspora: identidades e mediações culturais.
Tradução: Adelaide La Guardiã Resende... [et al]. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2003.
[17] MONTENEGRO, Antônio Torres. História Oral e Memória. 5
ed. São Paulo: Contexto, 2003.
[7] NEVES, Lucília A. Memória e História: substratos de identidade.
Coleção História Oral. (4) São Paulo: ABHO, 2001.
[6] NEVES. Memória, História e Sujeito: Substratos da identidade. In:
História Oral. Revista da Associação Brasileira de História Oral,
n. 3, jun. 2000. – São Paulo: Associação Brasileira de História Oral.
[4] PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. Rio de Janeiro:
Zahar, 2003.
[10] REBORATTI, Carlos E.. A question of scale: society,
environment, time and territory. Sociologias. Porto Alegre, n.°
5, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1517-
45222001000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 12 de março
de 2017.
[15] THOMPSON, Paul. A voz do passado - História Oral. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
[14] FANTINI, Marli. Águas turvas, identidades quebradas:
hibridismo, heterogeneidade, mestiçagem & outras misturas . In:
ABDALA JR, Benjamim. Margens da Cultura. Editora
Boitempo. 2004.
53
5
TEOLOGIA
O PLANETA VISITADO2
2
Esse texto foi originalmente escrito como o Capítulo IV do livro Intitulado
Jesus: a missão do Cristo. LIMA, Reginâmio Bonifácio de. Jesus: a missão
do Cristo. Rio Branco (AC): Boni, 2010. ISBN 978-85-907581-8-1. Artigo e
livro fazem parte da Coleção “Um novo começo” fruto da minha tese de
Doutorado em Teologia transformada em “paper”. A tese, que continha 05
capítulos, foi transformada em 05 livros que traçam a necessidade do ser
humano adorar e não sentir-se só no universo. O que prioritariamente foi um
debate teológico com inserções sobre as relações do humano com o sagrado
nas religiões pré-cristãs, com ênfase ao século I, foi reescrita e recortada com
enfoque na cristandade nascente, a partir de uma visão histórico-refornada.
Vale à pena conferir os outros 04 livros da coleção que têm um viés histórico-
teológico-cristão.
54
esotérica. Fingindo adorar os deuses, ela não adora senão
a sua loba (SHURÉ, 1992, p. 17).
3
O neologismo é composto de três radicais gregos: theos, logos, ménos, do
verbo meneaínein, não tendo tradução exata para o português, significa
“persistir intensamente desejoso de algo”. Essa asserção teológica afirma que
os cristãos querem muito o nascimento virginal de Jesus, por isso, se
empenham em comprová-lo sem que haja provas.
56
era o verbo...”. Literalmente, pode-se perceber a colocação de João
expondo Jesus como anterior à criação, por um correlato paralelo de
ambas as testificações. No primeiro versículo, ao descrever Jesus, o
autor utiliza-se do termo filosófico grego estóico, O verbo – logos. Esse
termo foi utilizado pela primeira vez por um filósofo grego chamado
Heráclito, por volta de 600 a.C., para ele, o logos era o plano divino
que coordena o universo em mudança, a razão. Com isso, João pôde
escrever para todas as nações “civilizadas”, pois o termo grego logos
significa simplesmente palavra, sendo seu correlato aramaico, Memra,
ao mesmo tempo em que o insere na cultura grega como sendo logos,
a palavra – conhecedora que coordena. A partir da justaposição de um
“Jesus”, “Logos” e um “Eliom”, “Theos”, a mensagem do Cristo se
fez acessível e compreensiva a ambas as culturas. O Dicionário da
Bíblia comenta o conceito e emprego do termo logos:
4
Antiguidades Clássicas. Livro XVII, cap. XIII, Sec. 2.
57
Muitos acreditam que a estrela de Belém foi um fenômeno
astronômico. Alguns estudiosos afirmam que foi o cruzamento das
órbitas de Júpiter e Saturno ocorridas no signo zodiacal de peixes, no
ano 06 a.C; outros acreditam que foi um cometa brilhante; os chineses
relatam um cometa muito brilhante ou estrela, no ano 05 ou 04 a.C. O
certo é que, por volta do ano 06 a.C., um astro resplandeceu no céu, e
aqui não cabe afirmar se estrela, cometa, meteoro, uma super-nova ou
fulgor de uma luz divina, esse astro anunciou a chegada de alguém
muito especial. O Sol nascente das alturas, proclamado por Zacarias,
pai de João Batista, como sendo: a Aurora em levante, um Sol
espiritual, dissipador das trevas da ignorância, do erro e do pecado.
Aquele que anteriormente foi chamado de “luz dos povos” (Is: 49.6),
“sol da justiça’ (Ml: 4.2) e “sol nascente” (Zc: 6.12). O mesmo que fora
anunciado por Gabriel a uma virgem nazarena, chamada Maria.
No sexto mês em que Isabel estava gestante, o anjo Gabriel
apareceu a Maria, uma jovem virgem desposada com um homem
chamado José – com quem ainda não havia tido relações sexuais – e
lhe disse que ela fora agraciada por Deus para dar à luz O que sentaria
eternamente no trono de Davi, sendo chamado Filho do Altíssimo, e
Seu nome seria Jesus.
Em Lucas 1. 26-38 está contida a narrativa da ocasião em que
o anjo Gabriel foi enviado para dar a notícia a Maria sobre o
nascimento do seu filho. No ato da apresentação de Gabriel a Maria ele
a saudou chamando-a de “muito favorecida”, indicando o grande
privilégio concedido a ela por ser escolhida para ser a geradora do Filho
de Deus. Jesus não seria concebido da mesma forma que todos os
homens, mas a miraculosa concepção seria efetuada pelo envolvimento
do poder realizador do Espírito Santo em seu ventre fecundando-o para
a concepção de uma criança, a quem seria dada grandeza e o
chamariam “Filho do Altíssimo”. “Descerá sobre ti o Espírito Santo e
o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra, por isso, também
o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc: 1. 35).
Ele seria o herdeiro do trono de Davi, e reinaria sobre “a casa de Jacó,
e seu reinado não terá fim”.
José ao Descobrir que Maria, sua prometida, estava grávida,
“sendo justo e não a querendo infamar” intentou deixá-la secretamente,
ao que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor explicando-lhe o que
ocorrera, e José desposou Maria não a conhecendo até que ela desse à
luz o menino.
Jesus foi plenamente Deus, mas também totalmente homem.
Sua história está contida em toda a Bíblia, tendo sido destacada pelos
58
quatro evangelhos escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. A
tradição atribui a Marcos, o intérprete do apóstolo Pedro, a autoria do
evangelho sinóptico que leva seu nome. Segundo a doutrina teológica,
João Marcos escolheu esse nome, de origem latina, Marcus, por ter
estudado nos círculos romanos, portanto, seria a pessoa ideal para
escrever aos romanos5. Marcos procurava escrever as lembranças de
Pedro quanto à palavra ou ações de Cristo, mesmo tendo sido o
acompanhante do apóstolo Paulo e de Barnabé, um rico levita da cidade
de Chipre. João Marcos, como era chamado, após deixar Paulo e
Barnabé em Perge, retornou a Jerusalém, embora inicialmente tenha
parecido a Paulo uma deserção, tempos depois eles se reconciliaram,
como está contido na carta aos colossenses, onde é expresso o desejo
de Paulo enviá-lo à igreja de Colossos, além de outras passagens nos
escritos paulinos (Cl: 4.10; Fm 24; II Tm: 4.11). João Marcos, filho de
Maria, uma mulher de Jerusalém, encontrou-se com Pedro, tendo os
discípulos mais velhos uma significativa relação paternal para com os
mais novos.
Enquanto Marcos fornece uma breve narração dos três anos do
ministério de Jesus, apresentando-O como o Conquistador poderoso;
Mateus escreve aos judeus, apresentando Jesus como o Rei Messias, o
Único cumpridor das Escrituras com relação ao Cristo. Pouco se sabe
acerca de Mateus, entretanto, é sabido que ele era um coletor de
impostos do governo romano e foi chamado pelo Mestre para ser Seu
discípulo e apóstolo. O Evangelho que leva a sua assinatura foi escrito
depois do de Marcos; pelas passagens contidas em ambos, sendo as
mesmas resumidamente em Mateus, com um considerável acréscimo
de outros feitos não postulados em Marcos, assim, pode-se dizer que
Mateus conhecia o evangelho de Marcos. O evangelho segundo
Mateus tem como característica principal o ensino ético de Jesus
Cristo, sendo uma constante o cumprimento dos Escritos Sacros.
Os evangelhos de Marcos e Mateus se diferenciam
principalmente pela ênfase dada por este ao intuito de provar a
descendência real e sacerdotal de Jesus6, buscar estabelecer a verdade
5
O estilo de grafia, a moeda utilizada, a medida de tempo, a descrição, as
características, as poucos menções ao Antigo Testamento e a explicação dos
costumes hebraicos, demonstram a escrita desse evangelho para os gentios,
presumivelmente latinos.
6
Para ser sacerdote era necessário o candidato provar sua ascendência
remetida a Arão; enquanto para ser rei precisava provar sua descendência de
Davi, a quem foi dito ter a descendência perpetuada no trono governando o
povo de Deus; para ser o enviado de Deus era necessário teu uma ligação
59
histórica de Jesus e o Seu propósito do cumprimento da lei e dos
profetas.
O terceiro evangelho sinóptico foi escrito por um companheiro
do apóstolo Paulo, o médico Lucas, apresentando uma narrativa
histórica de Jesus como o perfeito homem divino. Foi escrito para os
gregos em particular; o Dr. Gregory afirma ser ele ideal para os gregos,
pelas qualificações do autor – um grego de grande instrução –, pelo
estilo e arranjo da obra, uma obra metódica reveladora de passagens
escritas por um pensador a um povo filosófico, o estilo eloquentemente
poético, acentuando as obras de Jesus em vez de Suas doutrinas e
omitindo partes distintamente judaicas ou acerca dos profetas. Assim,
como a lei cerimonial judaica a educação filosófica dos gregos não
salvaria a humanidade, a esperança de salvação estava na vinda do
homem divino.
O evangelho de Lucas foi escrito a partir de pesquisas do autor.
Seu prólogo afirma que ele não apenas teve contato com os que tinham
conhecimento pessoal da verdade das Boas Novas, mas também com
documentos escritos. Não tencionava escrever um tratado teológico ou
uma biografia no sentido estrito, ele cria em Jesus como salvador do
mundo e como Filho de Deus, tanto que O apresenta como Redentor,
no sentido universal. Mateus escrevera a genealogia de Jesus a partir
de José, da família de Davi, de Belém da Judéia, sendo respeitada sua
genealogia de acordo com os costumes; Lucas achou por bem escrever
a ascendência de Maria que, concomitantemente com a de José, levam
o Messias a um nascimento real e origem sacerdotal, tanto da família
paterna quanto materna, sendo Cristo o enviado de Deus.
Ao analisar as genealogias descritas acerca de Jesus, fica claro
o fato de a casa de Davi ter a descendência no trono e reinar sobre Israel
(2 Sm: 7.15 e 16), quanto a Salomão, não lhe foi confirmado ter
descendência e sucessão perpétua no trono; segundo Deus, a sucessão
só se daria “se andares diante de mim, como andou Davi, teu pai e
fizeres segundo tudo o que te ordenei...”; “se”, essa partícula exerce a
função de conjunção subordinativa condicional e significa que, para ter
a promessa feita a Davi também estendida à sua casa, Salomão deveria
andar diante de Deus sem se desviar (2 Cr: 7.17 a 22), o que não
ocorreu. Ao fim de seus dias, Salomão se Desviou e fez o que era mau
perante Deus (1 Rs: 11.1-13), por isso, O Senhor não cumpriu nele a
perpetuação da casa, nem a aliança messiânica. Mateus fala de Jesus
direta com Deus, passando pela raiz sacerdotal e real, apenas o Messias teria
tal antecedente, assim, as genealogias eram muito utilizadas entre os judeus
como forma de provar a raiz familiar de onde se é proveniente.
60
como sendo da casa de Salomão, com referência à genealogia de José,
esposo de Maria, ele acompanhou a gravidez e cuidou de Maria, sem
tê-la desposado ou influído, contudo, José não teve participação direta
na concepção de Jesus. Lucas fala da genealogia de Jesus, como sendo
da casa de Natã, filho de Davi, nascido em Jerusalém (2 Sm: 5.14), pela
ascendência direta a Maria. Assim, vê-se cumprida a profecia e os
desígnios da vontade soberana de Deus. O Messias descende
diretamente da casa de Davi, mas não da de Salomão, uma vez que a
concepção foi produzida pelo Espírito Santo em uma filha da
descendência de Natã.
Quanto à genealogia, ainda pode-se dizer ser ela
representativamente formal e não por produção direta. O fato de em
Mateus se contar três seqüências de quatorze predecessores de Abraão
a Jesus, e, em Lucas, contar de Adão a Jesus com uma proposição direta
de aumentar a enumeração do número de pessoas da árvore
genealógica de Jesus, não implica uma ou outra estar errada. O que os
autores buscaram foi comprovar diretamente a ligação de Jesus com o
gênesis da criação divina, sendo Ele sacerdote, segundo a família de
Arão7 e descender diretamente da casa de Davi, como prometido por
Deus. As genealogias veterotestamentárias tinham como fim o
arrolamento dos antepassados ou sua descendência para listar os nomes
das pessoas, de acordo com as famílias, para qualquer dada situação,
podendo ser meramente nominais ou adicionar informações e fatos
tidos por importantes, sendo elas postuladas em ordem ascendente ou
descendente.
Mesmo se forem consideradas como cronológicas, algumas
genealogias levam em consideração o grau de importância dada a
determinadas pessoas listadas, com essa informação vê-se que no caso
da descendência de Arão, listada em Esdras, capítulo sete e versos de
um a cinco, há a omissão de cinco nomes que são dados no primeiro
livro das Crônicas, capítulo seis e versos de três a quatorze. Em outras
genealogias ocorre o mesmo. Se comparadas às genealogias de Arão,
contidas nas passagens descritas acima, com as de Mateus e Lucas,
percebe-se que elas contêm não a literarilade seqüencial de nomes de
membros da família, antes de pessoas que se destacaram e tiveram
relativa significância para a família. O verbo yãladh não significa
apenas “gerar”, no sentido de físico imediato, podendo também
significar “gerar” no sentido de “tornar-se ancestral de”; também, a
7
Alguns teólogos afirmam Jesus ascender à ordem profética de
Melquisedeque, portanto sendo da descendência de Arão, mas tendo a
primazia sobre ele.
61
palavra ben não significa apenas “filho”, mas “neto” e “descendente”.
O que se vê nas genealogias neotestamentárias de Jesus é a
apresentação de Sua ascendência sem a necessidade de uma seqüência
de geração imediatamente direta, o que levaria a páginas de nomes
familiares. Os autores alcançaram o objetivo de demonstrar o ato de
Jesus Se solidarizar com a humanidade e ter uma ralação direta com
todos quantos vieram antes dEle.
O Evangelho segundo o apóstolo João foi escrito com o fim de
aprofundar as verdades já conhecidas através dos outros evangelhos.
João era um pescador que não tinha domínio da cultura helenista,
todavia, seus escritos demonstram uma intimidade com a filosofia e o
pensamento conciso. Pode-se, com isso, dizer que alguém douto no
pensamento da época escreveu para João, com base em seus relatos,
assim como, algumas cartas paulinas foram escritas a partir de sua
oratória.
De todos os apóstolos, João foi quem esteve mais intimamente
ligado com o Mestre, fazendo parte de Seu círculo mais próximo,
juntamente com Pedro e Tiago. O evangelho que escreveu foi
direcionado à igreja em geral, embora tenha sido escrito muitos anos
depois dos demais, ele evidencia a pré-existência de Cristo, Sua
encarnação, Sua relação com o Pai, na perspectiva de não aprofundar
os feitos materiais do Senhor, por ter Se apresentado a um povo
espiritual.
Os quatro escritos tratam do que Marcos afirma ser o
“evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Essa palavra evangelho,
em grego evangelia, designa a recompensa dada pela entrega de boas
notícias, podendo ser traduzido como “boas novas” ou “boas notícias”.
A boa notícia é a mensagem que Deus, através de Jesus Cristo, cumpriu
as promessas feitas a Israel e que o plano salvífico seria posto em
prática para todos, como desde o início havia sido anunciado.
A existência de Jesus tem sido posta à prova por vários
teóricos, muitos deles insinuando ter sido Jesus meramente um grande
homem, um rabino ou ainda o fruto de maquiagens e retoques dados
no decorrer da história. Alguns escritores sugerem não haver evidência
histórica sobre Jesus. Em busca aos fatos relevantes sobre Jesus,
historiadores se empenharam e contribuíram diretamente para com a
ciência sobre a aceitabilidade histórica de Jesus.
O fato de se pensar que os escritos haviam sido produzidos
quase um século após a morte de Jesus fazia com que estudiosos
duvidassem de sua veracidade por acreditar serem frutos de lendas e
oralidade repassadas entre gerações, conseqüentemente, refutavam sua
62
autenticidade. William F. Albright, em um artigo para a revista
Cristianity Today (Cristianismo Hoje), de 18 de Janeiro de 1963,
escreveu: “Em minha opinião, todos os livros do Novo Testamento
foram escritos por judeus batizados, entre os anos quarenta e oitenta do
primeiro século d.C.” Frederic G. Kenyon, depois de uma vida
revisando os manuscritos do Novo Testamento, concluiu que o texto
que integra a Bíblia atualmente é absolutamente confiável. Ele
escreveu: “É tranqüilizador descobrir que o resultado final de todas
estas descobertas e de todo este estudo fortalece a prova da
autenticidade das Escrituras e nossa convicção de que temos em mãos,
com substancial integridade, a verdadeira palavra de Deus.”
(KENYON appud JEFFREY, 1998, p. 91). O arqueólogo William F.
Albright, em 1955, após pesquisas sobre o Novo Testamento e sua
temporaneidade escreveu: “Já podemos dizer enfaticamente que não
existe nenhuma base sólida para datar qualquer livro do Novo
Testamento com data posterior a 80 d.C. [todos os livros foram
escritos] provavelmente em algum tempo entre 50 e 75 d.C.”
(ALBRIGHT appud JEFFREY, 1998, p. 83).
Estão cravadas na história não apenas a veracidade bíblica,
como também a existência de um homem por nome Jesus,
cognominado Cristo. Cornélio Tácito, governador da Ásia, no ano 112
d.C., escreveu em seus anais sobre a perseguição aos cristãos, após
Nero tê-los falsamente acusado de incendiar Roma:
64
Historiadores liberais têm asseverado que as afirmativas acerca
de Jesus na obra de Josefo são incrustações cristãs posteriores, contudo,
ninguém pôde provar isto. Jesus fez grande diferença no meio dos
judeus e Seus seguidores influenciaram em muito a cultura e sociedade;
seria de estranhar se um historiador, estudando Israel no século I, não
citasse linha alguma sobre Jesus ou o movimento que dEle surgiu.
Philip Schaff, em seu livro História da Igreja Cristã, afirma que todas
as cópias do livro de Josefo, inclusas as em latim, eslavo e árabe,
contêm a passagem supracitada. Ninguém poderia fraudar tantas obras
em tantos países e nações; nem ainda no início, quando da publicação,
poderia se fraudar os originais e as cópias com o autor ainda vivo para
contradizer.
Ainda sobre a veracidade da existência de um Jesus histórico,
torna-se evidente pelo achado de 1947 d.C. Os rolos do Mar Morto,
descobertos por um garoto árabe, eram os escritos de uma comunidade
judaica que vivia às margens do Mar Morto, a comunidade asceta
essênia de Qumram, no Mar Morto. Os essênios existiram enquanto
grupo religioso de cerca de 200 a.C. até sua destruição pelos exércitos
romanos em 68 d.C. Eles resolveram se isolar do restante dos judeus e
viviam em algumas vilas, no Monte Sião, em Jerusalém e em Qumram.
Os escritos achados nas cavernas do Mar Morto contêm evidências de
todos os livros do Velho Testamento, exceto Ester. Esse achado foi,
sem dúvida, um grande feito, porque antes deles a tradução bíblica
mais antiga que se tinha era a versão de King James, de 1611 d.C.. Para
a surpresa dos perseguidores, com exceção de algumas variações na
grafia, nenhuma palavra havia sido alterada na versão King James em
relação aos escritos do Mar Morto. Mais que isso, nesses rolos
inicialmente traduzidos por um pequeno grupo de estudiosos, e, depois,
os ainda não traduzidos, liberados para os demais estudiosos, encontra-
se a menção a um “Messias” crucificado pelos pecados dos homens.
Esse rolo a que se faz referência, contendo apenas cinco linhas,
demonstra que o essênio que o escreveu entendia o papel duplo de
Jesus como os cristãos o entendem. O rolo O identifica como “o trono
de Jessé” (o pai do rei Davi), declarando que Ele foi “traspassado”,
descrevendo o Messias como um “líder da comunidade” que foi
“morto”.
Muito se tem a descobrir ainda nos rolos, já que sua tradução
ainda não foi completada nos dias atuais. Contudo, fica clara a menção
de um “líder da comunidade local”, ou seja, de Israel, “morto”,
chamado de “Messias”, alguém que foi “traspassado”, descendente
direto do “tronco de Jessé”, de quem descenderia o salvador de Israel.
65
Ninguém com ousadia, antes de Jesus, teve tantas semelhanças com o
Messias veterotestamentário, nem mesmo poderia se intitular Messias,
com a comprovação genealógica de pertencer ao tronco de Davi, filho
de Jessé, e ainda tornar-se um líder local traspassado e morto; e após
Jesus, com a destruição do templo e das genealogias nele guardadas,
ninguém mais pôde comprovar ascendência a Davi, por conseguinte,
se auto-intitular o Messias prometido.
A Bíblia pouco afirma acerca da infância de Jesus. A maior
parte do que se sabe sobre Ele está contida nos evangelhos sinópticos.
De acordo com Packer (2003), após Seu nascimento sobrenatural,
cinco seqüências de fatos são apresentadas. A primeira relata a
circuncisão de acordo com a lei judaica, ao oitavo dia, onde passou
pelo rito que sujeitava a obediência sob o pacto divino, identificando-
O com o povo de Deus. Nesse dia Lhe foi dado o nome de Jesus (Lc:
2.21).
A segunda reporta ao ato da purificação, conforme a lei
judaica, quando foi apresentado no templo para selar a circuncisão e
quando Maria fez a oferta dos pobres, pelo pagamento de cinco ciclos
(Lv: 12.8; Lc: 2.24). Nesse ato, o que chama a atenção é não apenas
Jesus ter nascido em humildade, com poucos bens materiais, mas,
principalmente, o reconhecimento de Simeão e Ana, atestando Sua
missão (Lc: 2.25-38).
Na terceira sequência, passado algum tempo, vieram à
presença de Herodes, o Grande, alguns sábios, inquirindo a respeito do
nascimento de um “rei dos judeus”, porque haviam visto uma estrela
no céu. Após consultar os escribas, Herodes soube que as profecias
apontavam para Belém-Efrata, na Judéia, o local de nascimento do
Messias, enviando para lá os magos e falsamente afirmando o intento
de adorá-Lo. Um anjo avisou os sábios do Oriente que não retornassem
a Herodes, e eles assim o fizeram. Quando os magos estavam próximos
a Belém, a estrela reapareceu, pairando sobre o lugar onde Jesus e Seus
pais estavam morando (Mt: 2.9).
A quarta, contém o relato de após a partida dos magos; Deus
mandou que José fugisse para o Egito com a família. Ao perceber
Herodes que eles não retornavam, e por não saber quem era o menino
rei, mandou matar todos os meninos de dois anos abaixo, em Belém e
adjacências, como contido nos feitos de Herodes, descritos no terceiro
capítulo. Após a morte de Herodes, Deus mandou que José voltasse do
Egito e esse passou a residir em Nazaré.
A quinta sequência de acontecimentos e ocorrências, alguns
anos após a quarta, se dá em sendo Jesus já adolescente – quando se dá
66
a passagem da infância para a vida adulta, de acordo com a tradição de
Israel; acerca desse fato e da precocidade de Jesus será tratado mais à
frente. Por ocasião da Páscoa, a família de Jesus estava no templo e
Este conversava com os mestres compenetradamente, a ponto de não
perceber a partida da Sua família. Seus pais, por sua vez, pensando que
Jesus estava com algum familiar na caravana, só perceberam Sua falta
muitas horas após a partida para casa. Ao retornar a Jerusalém e
inquirir a Jesus o motivo de Sua permanência no templo, a enfática
resposta dEste foi a de estar tratando dos negócios de Seu Pai.
Referências
67
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São Paulo: Vida Nova, 1964.
YANCEY, Philip. A Bíblia Que Jesus Lia. Trad. Valdemar Kroker.
São Paulo: Vida, 2000.
YANCEY, Philip. O Jesus Que Eu Nunca Conheci. Trad. Yolanda
M. Krievin. 4 ed. São Paulo: Vida, 2001.
68
6
A SAGA DO HERÓI:
DAS AULAS DE HISTÓRIA À TELA DOS CINEMAS8
Introdução
O ensino de História na Educação Básica, sobretudo no
Ensino Médio, tem como fundamento proporcionar aos estudantes
um espaço para reflexão sobre as relações humanas em suas
vivências no tempo e no espaço. Nesse contexto, as deslinearidades
e a fluidez das relações estabelecidas no espaço-tempo dialogam
com o contexto em que o aluno está inserido, com as práticas por
ele vivenciadas e com as representações de mundo que se ensejam
necessárias para uma formação cidadã como aporte para vivências
cotidianas.
Nesse panorama, desde os Parâmetros Curriculares
Nacionais até as mudanças realizadas mais recentemente com a
nova Base Nacional Curricular Comum para o Ensino Médio
(BRASIL; 1998, 2018), contextualizar os conteúdos dos
componentes curriculares, ajustando-os à realidade e às
características dos estudantes tem sido o principal desafio dos
docentes da Educação Básica que atuam na área do ensino de
Humanidades. O trabalho docente, nessa perspectiva, necessita
considerar como base a construção de estratégias para que os alunos
trabalhem as habilidades e desenvolvam as competências de
reflexão sobre os conteúdos históricos apresentados, sendo capazes
de ressignificá-los, conectá-los e relacioná-los com o passado e com
8
Texto de autoria é uma mescla de relato de experiência com procedimentos
para adaptação das normas dos PCNs e BNCC à realidade da sala de aula. Foi
originalmente publicado no livro “Pesquisas no Ensino Básico, Técnico e
Tecnológico” – 2019. IBSN: 978-65-80261-04-8. Foi produzida uma dúzia de
artigos sobre a temática dentre as quais destaco a falta de apoio dos
governantes e o processo de pesquisa no artigo “Iniciação Científica Jr no
Brasil: panoramas e abordagens para o fortalecimento da pesquisa na
Educação Básica”, e, a parceria com a comunidade escolar como base para a
superação das dificuldades cotidianas e construção do conhecimento no artigo
“Discurso, Literatura e Construções Identitárias em Sonhos em BVA”.
69
a realidade do lugar e do tempo em que as aprendizagens
encontram-se situadas.
Nesse afã de promover o ensino de História tendo como
premissa a realidade do aluno do Ensino Médio, desenvolvemos a
presente proposta de atividades, cujo objetivo principal foi aliar a
análise da saga dos heróis, desde as narrativas orais da Antiguidade,
contadas ao redor das fogueiras, até o contexto contemporâneo, em
que esses personagens emblemáticos renascem nas telas do cinema.
No início do ano letivo de 2017, apresentamos aos alunos o
Programa da Disciplina, dialogando sobre os objetivos, conteúdos,
habilidades e competências previstos para a série. Em um diálogo
muito franco, discutimos brevemente o que os alunos já sabiam
sobre os assuntos apresentados, abrindo a discussão sobre temáticas
transversais e sobre as que não estavam no programa, mas que eram
de interesse dos estudantes para estudo durante as atividades de
aprendizagem da História. Nesse momento, identificamos que, em
suas falas, os estudantes manifestaram grande interesse pelo
cinema, em especial os filmes que traziam os heróis como
protagonistas.
A partir desse mote, embarcamos com os alunos do 1.º ano
do Ensino Médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal
do Acre em uma aventura que nos fez refletir sobre a capacidade do
professor interagir com a turma, partindo de onde os alunos
conhecem para caminhar juntos, rumo ao horizonte histórico.
Nas primeiras aulas sobre as origens da vida, teorias e
variantes, ficou claro que eles queriam mais. Não bastava saber de
onde viemos ou para onde vamos, eles queriam conhecer a si
mesmos, ao outro e se ver representados na história. Como que em
um “inscrever e apagar” (CHARTIER, 2007), sempre surgiam
contrapontos com os heróis da Antiguidade (BULFINCH, 2002),
em um jogo de vislumbres entre a “memória e a história”
(RICOEUR, 2008).
Eles não se viam como os deuses da Antiguidade, mas não
se sentiam prisioneiros das adversidades ou das circunstâncias.
Queriam descobrir, desbravar, estudar história como se o cotidiano
fizesse parte do passado e o passado se fizesse presentificado no
cotidiano (JENKINS, 2008). Então pensamos: por que não? Com
essa odisseia de filmes revisitando as histórias em quadrinhos
(ECO, 2006) e as salas de cinemas constantemente visitadas por
alguns dos alunos que aproveitam os dias de promoção para assistir
70
seus filmes favoritos. Por que não revisitar a história pela
perspectiva dos heróis por eles tão reverenciados? E assim o
fizemos.
Definimos como público-alvo do Projeto os estudantes que
estavam matriculados no 1.º ano do Ensino Médio do Colégio de
Aplicação. Durante todo o projeto, realizamos reuniões com a
equipe executora para alinharmos os nossos objetivos às
necessidades da clientela atendida e à metodologia das aulas
(SANTOS; PEREIRA, 2013). O projeto se desenvolveu entre os
meses de maio e novembro do ano de 2017.
Uma das discussões iniciais do Projeto foi propor um novo
olhar sobre o conceito de “cultura de massa”. Tal pressuposto foi
concebido como propagação ideológica, tendo sua origem na
década de 1930 com a Escola de Frankfurt, a primeira a abordar essa
questão, tornando-se um forte referencial para pesquisas nessa área,
inclusive neste trabalho (ADORNO, 1982; 2002; BENJAMIN,
1994). Diante dessa perspectiva de repensar esse conceito,
promovemos uma conversa com os alunos sobre os assuntos em
estudo e as histórias em quadrinhos (CARNICEL, 2006).
A estratégia de verificar a saga do herói (CAMPBELL,
1997; VLOGER, 2006) foi proposta com base nos anseios dos
alunos e sustentada com os estudos de obras que dialogavam com
a História em versão ilustrada, como a “Eneida”, de Virgílio (2009),
a “Odisseia” (2016), de Homero (2016), as obras de ficção “Aladin
e o gênio da lâmpada” (GALLAND, 2000) e “As mil e uma noites”
(GALLAND, 2001); além de histórias em quadrinhos Marvel
Comics (BEATTY et al, 2000; DARLING, FORBECK, 2009; DE
FALCO et al, 2006) e DC Comics (BEATTY et al, 2009).
Começamos lendo os livros e fazendo os debates iniciais sobre o
assunto, procurando destacar os heróis e suas ações nessas
literaturas. Em seguida, realizamos o debate sobre as ideias do autor
e sobre as obras objetos de leitura (ADORNO, 2002). O próximo
passo foi realizar as rodas de leitura, ocasião em que debatemos
alguns assuntos como a relação do fantástico com o cotidiano, a
memória de Sherazade (GALLAND, 2001) e sua perspicácia
utilizadas com o intuito de vencer as adversidades e permanecer
viva (FOUCAULT, 2001).
O objetivo traçado visava fazer os alunos lerem melhor,
desenvolverem habilidades de interpretação e argumentação do
discurso e da escrita em Língua Portuguesa, além de promover a
71
discussão sobre o espaço geográfico e fomentar a descoberta no
globo das localidades onde se passavam as sagas históricas e,
quando possível, as ficcionais. Tínhamos uma problemática: Seria
possível visualizar nas aulas de história a saga dos heróis assim
como se verifica nas histórias em quadrinhos e cinemas?
O encanto dos alunos pelos heróis em meio a essa
revisitação dos quadrinhos que está sendo reproduzida nas telas dos
cinemas foi preponderante para a escolha do tema (PINSKY, 2009;
VIANA, 2005).
No envolvimento dos alunos com as atividades propostas,
passamos a vislumbrar maior participação pessoal e coletiva nos
debates em sala de aula. Os estudantes, à medida que debatiam as
leituras realizadas, iam passo a passo construindo o respeito diante
dos posicionamentos diferentes, adquirindo nova percepção de si e
do outro em suas relações sociais.
Materiais e Métodos:
Resultados e Discussões:
74
diversas sagas dos heróis presentes tanto na História quanto na
Literatura:
Conteúdo programático:
76
Alguns dos quadrinhos baseados em heróis míticos com
representação histórica. Aladim (A busca por melhores condições
de vida na China), Sherazade (Luta por sobrevivência contra a
tirania), Fantasma (A defesa da floresta), Mogli – o menino lobo
(em defesa da vida), Tarzan (O choque de culturas na África
subsaariana), Batman (Trabalhador vespertino, Vigilante noturno),
Superman (Esperança após o “Crash” da Bolsa de Nova Iorque),
Mulher Maravilha (Movimento Feminista), Pantera Negra (Partido
dos Panteras Negras – EUA), Homem de Ferro (Guerra do Vietnã),
Hulk (Corrida armamentista nucleares), O Quarteto Fantástico
(Corrida Espacial), Thor (Busca por vida no espaço).
O livro “O herói de mil faces” (CAMPBELL, 1997) serviu
de base para a atuação de nosso histórico de busca do monomito,
pensamos em descrever a saga do herói e como ela se relaciona com
a construção dos heróis relatados pela história (VIANA, 2005).
Algumas aulas foram ministradas como projeto de ensino
no contraturno escolar, outras foram marcadas para que alunos e
professores se encontrassem em determinada sala de cinema (ECO,
2006), em que professores previamente conversaram com o gerente
do cinema para fazer uma adequação no preço do ingresso para que
os alunos pudessem usufruir do conhecimento científico ao mesmo
tempo em que visitavam a sessão matinê.
O interessante é que alguns dos alunos foram ao cinema pela
primeira vez nesse projeto – uma surpresa para os professores e uma
alegria ainda maior para esses alunos.
A saga do herói é a realização do desejo de professores que
perceberam a necessidade de aproximar a ciência e a escola,
envolvendo aulas de história com literatura ficcional, histórias em
quadrinhos e filmes nos cinemas (ECO, 2006, EISNER, 2010). É
uma oportunidade para troca de conhecimentos e de proporcionar
aos adolescentes espaços de expressão e de apreensão do saber fazer
ciência.
Buscamos imprimir nos estudantes o gosto pela ciência e a
leitura a partir de algumas atividades interativas. As atividades
foram concebidas para que suas ações se desenvolvessem de modo
multidisciplinar e transversal em torno de 05 (cinco) eixos
temáticos de conhecimento: cultura, comunicação, educação, meio
ambiente e cidadania.
77
Conclusões
78
Nossa turminha do 1º ano do Ensino Médio conseguiu.
Alcançamos os objetivos traçados. Como “Aladin”, eles venceram
o Gênio da Lâmpada dos receios de ler em público ou de assumir
que não entenderam o que leram. Nas “Jornadas Quixotescas”
(CERVANTES, 2002) enfrentaram e venceram seus medos que
pareciam moinhos de vento. Como “Sherazade”, as Mil e uma
noites se tornaram a possibilidade cotidiana do reinventar-se para
não perder a cabeça, para descobrir novas experiências, encarar
novos desafios.
Nas palavras do poeta: “navegar é preciso” (PESSOA,
2004). É preciso sair da comodidade de nossa zona de conforto
docente para desbravar a caverna além do mito, enfrentar o
Minotauro, reformar os ideais, descobrir novos povos, novas vidas,
novas civilizações intra e trans-oceânicas, e, enfim, sonhar com a
volta a Ítaca, ou, aos braços de Malina. Sejam bem-vindos à história
do cotidiano e às revisitações do passado presentificado.
Referências
80
ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectivas,
2006.
EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins
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