Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
renatavalera.jusbrasil.com.br/artigos/246607000/venire-contra-factum-proprium
A teoria do “venire contra factum proprium” deriva do princípio da boa-fé objetiva (art.
422 do Código Civil)[1], assim como “supressio”, “surrectio” e “tu quoque”, fazendo parte
da tutela da confiança, pelo Direito.
1/6
“O tu quoque é um tipo específico de proibição de comportamento contraditório na medida em
que, em face da incoerência dos critérios valorativos, a confiança de uma das partes é violada.
Isto é, a parte adota um comportamento distinto daqueloutro adotado em hipótese
objetivamente assemelhada.
Ocorre o tu quoque quando alguém viola uma determinada norma jurídica e, posteriormente,
tenta tirar proveito da situação, com o fito de se beneficiar.
(...) No tu quoque a contradição (...) reside (...) na adoção indevida de uma primeira conduta
que se mostra incompatível com o comportamento posterior.
Nas palavras de Nelson Nery Jr. E Rosa Maria de Andrade Nery: “A cláusula geral de boa-
fé objetiva obriga as partes a não agirem em contradição com atos e comportamentos
anteriores, praticados antes da conclusão do contrato. Em outras palavras, a parte não
pode ‘venire contra factum proprium’.”[9]
Na teoria estudada, o “factum proprium” é o ato inicial que o sujeito, futuramente, irá
contrariar. Trata-se de conduta não juridicamente vinculante, “pois, se fosse, estaria
dispensada a análise da confiança e far-se-ia uso automático das disposições civis
específicas”[10].
Um dos dispositivos legais em que se reconhece o “venire contra factum proprium” é o art.
330 do Código Civil, segundo o qual “o pagamento reiteradamente feito em outro local faz
presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”.
“(...) O direito moderno não compactua com o venire contra factum proprium, que se traduz
como o exercício de uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido
anteriormente (MENEZES CORDEIRO, Da Boa-fé no Direito Civil, II/742). Havendo real
contradição entre dois comportamentos, significando o segundo quebra injustificada da
confiança gerada pela prática do primeiro, em prejuízo da contraparte, não é admissível dar
eficácia à conduta posterior.”
(STJ, RESP nº 95539-SP, Relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, julgado em
03/09/1996, publicado no DJ em 14/10/1996)
“(...) Assim é que o titular do direito subjetivo que se desvia do sentido teleológico (finalidade
ou função social) da norma que lhe ampara (excedendo aos limites do razoável) e, após ter
produzido em outrem uma determinada expectativa, contradiz seu próprio comportamento,
incorre em abuso de direito encartado na máxima nemo potest venire contra factum proprium.
(...)”
(STJ, 1ª seção, EDcl no Resp nº 1.143.216 - RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/08/2010,
publicado no DJe em 25/08/2010)
O preceito do “venire contra factum proprium” também se aplica a outros ramos do Direito,
além do Direito Privado.
No Direito Administrativo é aplicável, porque o Poder Público tem dever de agir com
lealdade, moralidade, eticidade, boa-fé objetiva, de modo que, se gera expectativas para
os administrados em decorrência de seus atos, deve estar também sujeito à aplicação do
“venire”. Logo, embora a Administração Pública esteja em situação de superioridade em
relação aos cidadãos, mesmo assim não se admite a quebra de confiança legítima e a
insegurança jurídica, ressalvadas exceções legalmente positivadas.
“Conforme demonstra a parte exeqüente, apesar de Ruben Eugen Becker não constar nos
cadastros da Receita Federal como representante legal da CELSP, figura como o seu
real administrador. Haja vista haverem sido outorgados amplos poderes, por meio de
procurações, a Ruben Eugen Becker (fl. 08). Como exemplo, aponta a Fazenda Nacional o
fato de o Reitor da Ulbra ter firmado escritura pública de promessa de compra e venda
(documentação juntada nos autos n. 200771120005425), qualificando-se como representante
legal da CELSP. Os documentos das fls. 66/81 corroboram, também, as afirmações aqui feitas.
"As relações sociais se baseiam na confiança legítima das pessoas e na regularidade do direito
de cada um. A todos incumbe a obrigação de não iludir os outros, de sorte que, se por sua
atividade violarem esta obrigação, deverão suportar as conseqüências de sua atitude"
(RIZZARDO, Arnaldo. Teoria da aparência. AJURIS n. 24, mar. 1982, p. 222)
Para melhor desenvolvimento da tese discutida, tenho como bem esclarecedora a lição de José
Gustavo Souza Miranda, em seu artigo "A proteção da confiança nas relações obrigacionais"
(Revista de Informação Legislativa, Brasília a. 38 n. 153 jan/mar. 2002 - disponível no sítio
www.senado.gov.br).
"Onde houver o dano efetivo (requisito essencial para a responsabilidade civil), mas não se
puder obter uma solução satisfatória pelos caminhos tradicionais da responsabilidade, tem-se a
teoria da confiança como opção válida. Como bem afirmam os críticos da Teoria, a confiança
está presente em todas as áreas do relacionamento interpessoal, ainda que faltem outros
elementos embasadores da responsabilidade" (p. P. 138 e 139)
"No caso do venire contra factum proprium, é mais clara a ofensa à confiança, pois a
característica principal desses casos é uma posição jurídica contrária àquela que vinha sendo
praticada pelo agente. Em outras palavras, quando uma pessoa vem agindo de tal forma que
cria uma aparência jurídica na qual as pessoas confiam, esse mesmo indivíduo não pode
mudar o seu comportamento agindo contrariamente à expectativa que gerou nos demais. A
intenção primeiramente manifestada pode ser no sentido de praticar (ou continuar praticando)
4/6
determinado ato ou no sentido de não o praticar. A segunda atuação é contraditória porque o
agente deixa de fazer aquilo a que se propusera ou vem a tomar atitude a qual deu a entender
que não tomaria.
Um ponto importante é que esse segundo factum, que contraria o primeiro, pode ser legal ou
contratualmente possível. Contudo, o agente fica impedido de valer-se dessa possibilidade,
pois causaria danos a outrem. Se o ato é contrário à lei ou ao contrato, cai-se, novamente, na
responsabilidade contratual ou na responsabilidade delitual." (p. 141; grifado)
"Quando uma pessoa, por suas palavras ou pelo seu comportamento, induz conscientemente
uma outra a crer na existência de uma certa situação e leva esta pessoa a atuar com base nessa
convicção de modo que altere sua posição anterior, considera-se que esta primeira é
responsável pelas declarações feitas a esta última; declarações descrevendo um estado de fato
diferente daquele existente no momento."
Dessa forma, acolho a tese da Fazenda Nacional, reconhecendo que Ruben Eugen Becker é o
real administrador da CELSP.”
[1] A boa-fé pode ser objetiva ou subjetiva. A boa-fé objetiva é a cláusula geral de boa-fé
do art. 422 do Código Civil, é norma jurídica, a concepção ética da boa-fé. A boa-fé
subjetiva é a concepção psicológica de boa-fé, que se baseia numa crença ou numa
ignorância (ex: art. 1.242 do Código Civil, do qual se extrai que a boa-fé “ad usucapionem”
é a crença do possuidor de que ele seja o titular legítimo da propriedade).
5/6
[2] Alcemara Carmem Borges Marques Melo, no artigo “A boa-fé objetiva e os efeitos da
supressio e surrectio nos contratos cíveis”, disponível em <http://goo.gl/EhB4hG>. Acesso
em 22/10/15.
Código Civil Comentado. 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 642-643.
[4] Citado por Alcemara Carmem Borges Marques Melo no artigo “A boa-fé objetiva e os
efeitos da supressio e surrectio nos contratos cíveis”, disponível em
<http://goo.gl/EhB4hG>. Acesso em 22/10/15.
[5] Citado por Danilo Cruz em “tu quoque uma variante do Princípio da Boa-Fé Objetiva -
Parte II”, disponível em <http://goo.gl/19xdXR>. Acesso em 22/10/15.
Código Civil Comentado. 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 643.
[8] Citados por Danilo Cruz em “tu quoque uma variante do Princípio da Boa-Fé Objetiva -
Parte II”, disponível em <http://goo.gl/19xdXR>. Acesso em 22/10/15.
Código Civil Comentado. 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 641.
[10] Ana Ferreira Quesada, no artigo eletrônico “Venire contra factum proprium e a boa-fé
objetiva: por um exame sistemático”, p. 17, disponível em <http://goo.gl/hKI7OH>. Acesso
em 22/10/15.
Código Civil Comentado. 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 642.
[13] AYRES, Beatriz Flores; RODRIGUES, Mariana Andrade. E-civitas Revista Científica
do Departamento de Ciências Jurídicas. Políticas e Gerenciais do UNI-BH. Belo Horizonte.
Vol. III, n. 1, jul-2010, p. 17-18. ISSN: 1984-2716. Disponível em:
<http://revistas.unibh.br/index.php/dcjpg/article/viewFile/85/48>. Acesso em 22/10/2015.
[14] Decisão interlocutória do Juiz Federal Guilherme Pinho Machado nos autos da
execução fiscal nº 2009.71.12.000414-4/RS (0000414-38.2009.404.7112), datada de 19 de
março de 2009, tendo como exequente a União – Fazenda Nacional e como executado a
Comunidade Evangélica Luterana São Paulo – CELSP (Juízo Federal da 1ª Vara Federal
de Canoas/RS). Disponível em <http://goo.gl/Jba0D9>. Acesso em 23/10/15.
[15] AYRES, Beatriz Flores; RODRIGUES, Mariana Andrade. E-civitas Revista Científica
do Departamento de Ciências Jurídicas. Políticas e Gerenciais do UNI-BH. Belo Horizonte.
Vol. III, n. 1, jul-2010, p. 18-19. ISSN: 1984-2716. Disponível em:
<http://revistas.unibh.br/index.php/dcjpg/article/viewFile/85/48>. Acesso em 22/10/2015.
6/6