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5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados

25 a 27 de agosto de 2004 São Carlos/SP

SOLOS NÃO SATURADOS

Volume 2

Editor
Orencio Monje Vilar
Escola de Engenharia de São Carlos
Universidade de São Paulo
Organização

Departamento de Geotecnia Associação Brasileira de Mecânica


Escola de Engenharia de São Carlos dos Solos e Engenharia Geotécnica
Universidade de São Paulo Núcleo Regional de São Paulo

Patrocínio

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do


Serviço de Biblioteca – EESC/USP

Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados


(5. : 2004 : São Carlos)
S612s.5 Solos não saturados / editor: Orencio Monje
2004 Vilar ; organização: Departamento de Geotecnia.
v.1-2 Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade
de São Paulo ; Associação Brasileira de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica. Núcleo Regional
de São Paulo. -- São Carlos : SGS/EESC/USP, 2004.
2 v.
ISBN 85-98156-04-3
1. Solos não saturados. 2. Sucção. 3. Retenção de
água. 4. Solo colapsível. 5. Fundações. 6. Análises
numéricas. I. Vilar,Orencio Monje. II. Departamento
de Geotecnia/Escola de Engenharia de São
Carlos/Universidade de São Paulo. III. Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Núcleo Regional de São Paulo.
IV. Título.

Impressão
Suprema Gráfica e Editora Ltda – São Carlos/SP

Distribuição
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica – ABMS
Fone (11) 3768-7325 e-mail: abms@ipt.br

ii
ÍNDICE
Prefácio V
Organização VII

Sessão 1 - Resenha:
Técnicas Experimentais de Laboratório e de Campo em Solos Não Saturados
Ensaios de laboratório e de campo....................................................................................................................................513
Wai Ying Yuk Gehling

Sessão 2 - Resenha:
Modelação e Análise Numérica em Solos Não Saturados
Modelagem constitutiva para o comportamento mecânico de solos não saturados..................................................527
Márcio Muniz de Farias

Sessão 3 - Resenha:
Retenção de Água, Fluxo e Geotecnia Ambiental
Transporte de massa e mecanismos de retenção em solos não saturados...................................................................545
Sandro Lemos Machado; Lázaro Valentin Zuquette

Sessão 4 - Resenha:
Aplicações da Mecânica dos Solos Não Saturados: Fundações,
Pavimentos e outras Obras Geotécnicas
Aplicações da Mecânica dos Solos Não-Saturados - Fundações em Solos Colapsíveis.............................................575
José Carlos Ângelo Cintra

Sessão 5 - Resenha:
Solos Tropicais, Colapso, Expansão e Erosão dos Solos
Propriedades e comportamento de solos tropicais não-saturados................................................................................597
José Camapum de Carvalho
Resistência ao Cisalhamento e Deformabilidade de Solos Tropicais Não-saturados................................................617
Luiz Antonio Bressani

Workshop:
Mecânica dos Solos Não Saturados: da teoria à prática da engenharia
Relevância da época de execução da investigação geotécnica no projeto de uma fundação
em solo não saturado............................................................................................................................................................629
Nelson Aoki
Algumas considerações sobre a utilização dos novos conceitos de comportamento dos solos
não saturados em projetos de engenharia.........................................................................................................................635
Cláudio Michael Wolle
Aplicações na geotecnia ambiental da permeabilidade ao ar em solos não saturados...............................................643
José Fernando Thomé Jucá; Leonardo José do Nascimento Guimarães; Felipe Jucá Maciel
Empurrando a teoria da mecânica dos solos não saturados para a prática..................................................................659
Fernando Antonio Medeiros Marinho

Palestra
Movimento de água e lixiviação de nitrato no solo.........................................................................................................667
Paulo Leonel Libardi
Registro Fotográfico.............................................................................................................................................................673

Índice Remissivo...................................................................................................................................................................691

iii
PREFÁCIO

A importância do comportamento de solos não saturados sempre foi reconhecida no âmbito da


Mecânica dos Solos, desde os primórdios de seu estabelecimento como ramo do conhecimento dentro
da engenharia. Não obstante, os princípios da Mecânica dos Solos foram estabelecidos para solos
saturados. Muitas razões podem ser apontadas para tal fato. A prevalência de formações, muitas vezes
saturadas, nos países de clima temperado em que a Mecânica dos Solos primeiro evoluiu; a aceitação de
que a condição saturada tende a ser mais crítica numa diversidade de situações e o alcance do princípio
das tensões efetivas estão entre algumas dessas razões. Por outro lado, o fato de as maiores ocorrências
de solos não saturados encontrar-se em regiões menos desenvolvidas e menos prósperas do globo
terrestre e a inerente complexidade associada ao comportamento desses solos são fatores adicionais
relevantes que contribuíram para retardar o desenvolvimento de teorias, experimentação e aplicação de
conceitos adequados ao comportamento dessa classe de solos.
As últimas décadas caracterizaram-se pelos esforços no sentido de compreender o
comportamento de solos não saturados, com o intuito de melhorar e aperfeiçoar projetos e
construções, pois é evidente que a condição de não saturação é típica de várias regiões, como as de
clima árido e semi-árido. Solos não saturados estão presentes, também, durante toda a vida útil de uma
grande variedade de obras, praticamente em todas as partes do mundo. Adicionalmente, eles estão
presentes em questões de natureza ambiental, servindo, por exemplo, como barreiras de contenção de
resíduos perigosos, ou condicionando o fluxo de poluentes em direção ao lençol freático.
A comunidade geotécnica brasileira, atenta a essas necessidades e considerando as vastas e
diversas ocorrências de solos não saturados em todo o país, prontamente se engajou nesse esforço de
evolução do entendimento do comportamento de tais solos.
Esse pioneirismo e o reflexo desse esforço podem ser vistos na realização de quatro simpósios
brasileiros relacionados ao tema e do 3º Congresso Internacional, realizado em Recife em 2002. Esta
quinta edição do Simpósio Brasileiro põe de manifesto essas questões pelo afluxo de contribuições que
chegaram à Comissão Organizadora e que resultaram na publicação, neste volume, de 76 trabalhos
provenientes do Brasil e do exterior. O número de contribuições e a diversidade de suas origens são um
indicativo do crescimento do interesse pelo tema, além de refletir o avanço experimentado por diversas
instituições em todo o Brasil que incorporaram um apreciável ferramental teórico e experimental que as
habilita a desenvolver pesquisas de ponta relacionadas ao tema.
O Volume I deste livro reúne as contribuições selecionadas para o Simpósio e que foram
agrupadas em cinco grandes temas. O volume II, a ser editado pós Simpósio, reunirá os relatos dos
diversos temas, as contribuições do Workshop sobre Mecânica dos Solos Não Saturados: da Teoria à
Prática de Engenharia, bem como as Palestras Especiais.
A Comissão Organizadora deseja agradecer o auxílio do Comitê Técnico Científico no
estabelecimento da programação e da dinâmica do Simpósio, aos Revisores que cuidaram da avaliação e
análise dos trabalhos encaminhados ao Simpósio, aos Relatores e Conferencistas das diversas sessões e
aos autores pelas suas valiosas contribuições. Os agradecimentos são extensivos também aos
patrocinadores que prontamente se dispuseram a apoiar e sem os quais teria sido quase impossível
viabilizar o evento. Finalmente, um agradecimento especial a todos os membros da Comissão
Organizadora e aos componentes do Departamento de Geotecnia da EESC-USP, em especial à Sra.
Neiva Mompean Rosalis Cardoso pelo seu empenho no trabalho de secretaria e de edição dos textos e
do material de divulgação do Simpósio e ao Dr. Herivelto Moreira dos Santos pela manutenção da
home-page.

São Carlos, 30 de julho de 2004

Orencio Monje Vilar


Presidente da Comissão Organizadora
5º. Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados

v
Comissão Organizadora

Presidente: Orencio Monje Vilar – EESC-USP


Secretário: Sandro Lemos Machado - Univ. Federal da Bahia

Membros - Escola de Engenharia de São Carlos – USP

Benedito de Souza Bueno


Nelson Aoki
Osni José Pejon
Lázaro Valentin Zuquette
Gene Stancati
Tarcísio Barreto Celestino
Antonio Airton Bortolucci
José Eduardo Rodrigues
Edmundo Rogério Esquivel
Alexandre Benetti Parreira

Comitê Técnico Científico

Fernando Antonio Medeiros Marinho - Escola Politécnica - USP


José Fernando Thomé Jucá - Univ. Fed. de Pernambuco
Tácio Mauro Pereira de Campos - Pontifícia Univ. Católica do Rio de Janeiro
Wai Ying Yuk Gehling - Univ. Fed. do Rio Grande do Sul
Márcio Soares de Almeida - Coppe - Univ. Fed. do Rio de Janeiro
José Camapum de Carvalho - Universidade de Brasília
Luís Edmundo Prado de Campos - Univ. Federal da Bahia
José Carlos Ângelo Cintra - Escola de Engenharia de São Carlos - USP

Secretaria
Neiva Mompean Rosalis Cardoso

Home Page
Herivelto Moreira dos Santos

vii
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica - ABMS

Presidente: Waldemar Coelho Hachich


Vice-Presidente: Arsênio Negro Junior
Secretário: Alberto Sayão
Secretário Executivo: Alessander Morales Kormann
Tesoureiro: Flávio T. Montez

Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica


Núcleo Regional de São Paulo – ABMS NRSP

Presidente: Urbano Rodriguez Alonso


Vice-Presidente: Ilan D. Gotlieb
Secretário: Frederico Fernando Falconi
Tesoureiro: Eugênio Pabst V. da Cunha
Secretário Executivo: Argimiro Alvarez Ferreira

viii
Comitê de Avaliação e de Seleção dos Trabalhos Apresentados ao Simpósio

Ademar da Silva Lobo - UNESP-BAURU


Adriano V. D. Bica – UFRGS
Alexandre B. Parreira – EESC-USP
Benedito de Souza Bueno - EESC-USP
Cezar A. B. Bastos – UFRG
Claudio H. C. Silva – UFV
Claudio F. Mahler – COPPE-UFRJ
David de Carvalho - UNICAMP
Denise M. S. Gerscovich - UERJ
Edson Wendland - EESC-USP
Enivaldo Minetti - UFV
Erundino Pousada Presa - UFBA
Eugenio Vertamati - ITA
Fernando Danziger – COPPE-UFRJ
Fernando A. M. Marinho – EP-USP
Glauco T. Fabri - EESC-USP
Heraldo L. Giachetti – UNESP-BAURU
José Camapum de Carvalho - UNB
José Carlos A. Cintra - EESC-USP
Lázaro Valentin Zuquette - EESC-USP
Liedi L. B. Bernucci – EP-USP
Lucio Flávio S. Villar - UFMG
Márcio M. de Farias - UNB
Marcos M. Futai – EP-USP
Nélio Gaioto - EESC-USP
Nilo Consoli - UFRGS
Osni José Pejon - EESC-USP
Paulo R. Chamecki - UFPR
Paulo Leonel Libardi – ESALQ-USP
Paulo Teixeira da Cruz – EP-USP
Renato P. da Cunha – UNB
Roberto F. Azevedo - UFV
Roger Augusto Rodrigues - EESC-USP
Sandro Lemos Machado - UFBA
Silvio Crestana - EMBRAPA
Silvio Romero M. Ferreira - UFPE
Tacio Mauro P. de Campos – PUC-RIO
Uberescilas F. Polido - UFES
Wai Y. Y. Gehling - UFRGS

ix
Tema 1:

Técnicas Experimentais de Laboratório


e de Campo em Solos Não Saturados

511
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Ensaios de laboratório e de campo

Gehling, W. Y. Y.
Professora Doutora, Depto. de Eng. Civil, PPGEC-UFRGS, Porto Alegre/RS, gehling@ufrgs.br

Resumo: Este relato visa comentar as mais recentes tecnologias desenvolvidas para medir e obter a sucção
(teor de umidade) nos solos não saturados tanto para os ensaios de campo quanto para os ensaios de
laboratório. Este trabalho está baseado nos artigos apresentados neste simpósio e suas contribuições para
inovação e o conhecimento de novas técnicas em desenvolvimento.

Abstract: This paper outlines recent proposals to obtain and to measure the suction for the unsaturated
soils in the laboratory and the field. This work is based in the papers submitted to the symposium and some
ideas and approaches evolving are considered within the state of knowledge and development.

1. INTRODUÇÃO e/ou controlar a sucção para determinação dos


parâmetros hidráulicos (taxa de infiltração,
Nas duas últimas décadas, a pesquisa de solos não coeficiente de condutividade hidráulica e outros),
saturados tem experimentado um notável avanço, na comportamento mecânico (compressibilidade e
procura de uma melhor compreensão da influência resistência) e também mostram algumas técnicas
da sucção no comportamento tensão-deformação de que possibilitam obter variáveis para a definição da
solos. A mecânica de solos clássica está sendo curva de retenção.
ampliada com introdução de novos conceitos, Com base na curva de retenção, os parâmetros
técnicas de ensaios e interpretação de hidráulicos de solos não saturados podem ser
comportamento, especificamente aplicados em obtidos por diferentes proposições matemáticas.
diferentes áreas de concentração em geotecnia. Portanto, a necessidade de definir a curva de
Dessa forma, as novas técnicas ou ajustes nos retenção é de extrema importância. A curva de
equipamentos convencionais estão permitindo retenção do solo relaciona a sucção com o teor de
determinar o comportamento mecânico em solos umidade (teor de umidade volumétrico ou
não saturados tanto em laboratório quanto em gravimétrico) ou grau de saturação.
campo. Por outro lado, o auxilio de novas Diversos pesquisadores têm procurado
ferramentas utilizadas por pesquisadores de uniformizar os procedimentos de obtenção da curva
diferentes áreas tem contribuído para o avanço de de retenção, mas ainda hoje, encontram-se vários
novas metodologias que possibilitam avaliar e trabalhos com diferentes processos de determinação.
monitorar o comportamento geotécnico de solos não Alguns partem umedecendo o corpo de prova até o
saturados. próximo à saturação e impondo a sucção num
Esse trabalho procura apresentar as recentes processo de drenagem, enquanto outros têm
técnicas e equipamentos disponíveis que permitem preferido manter a sucção de campo (umidade
determinar as características dos solos e avaliar o natural) para posterior umedecimento ou secagem.
comportamento mecânico (compressibilidade e
resistência) e hidráulico. 2.1 Técnicas de laboratório que permitem medir e
ou controlar a sucção (obtenção da curva de
2. TÉCNICAS DE LABORATÓRIO retenção)

As novas técnicas de laboratório para Várias técnicas de laboratório são apresentadas


determinação do comportamento de solos não neste simpósio que permitem determinar a curva de
saturados vêm sendo desenvolvidas com auxílio de retenção. Alguns autores utilizam técnicas
técnicas utilizadas pelos pesquisadores de outras combinadas que possibilitem uma melhora definição
áreas (física de solo). dos pontos da curva e outros apresentam
Neste relato serão apresentados alguns procedimentos utilizados em outras áreas. Entre as
equipamentos de laboratório que permitem medir técnicas usadas podemos citar
513
a) Tomografia computadorizada (TC) [Conciani &
Crestana;Angelotti Netto et al. – EESC-USP]
(Figura 1)

Esta técnica tem sido já comprovada por vários


trabalhos em física de solo e atualmente em
geotecnia. Ela permite avaliar variação da massa
específica, determinar a infiltração de água, obter a
condutividade hidráulica, o fluxo preferencial, o
transporte de solutos e fluxo bi e tridimensionais,
bem como a distribuição da água, a caracterização
da macro-porosidade e o conteúdo de água.
Este instrumento (tomógrafo de raios gama)
permite acompanhar rapidamente (4horas) a
infiltração de água no solo para determinar a curva
completa de retenção de água.

Figura 2 – Analisador Granulométrico (Angelotti


Netto et al – EESC-USP)
c) Termistor (Sensor de temperatura com
capacidade de monitorar a temperatura e
dissipar o calor de forma simultânea no meio
poroso controlado) [Beneveli, R.M. et al. -
UNB; Tan, E. et al. – University of
Saskatchewan] (Figura 3)

Esta técnica contém uma sonda térmica composta


por um transdutor de temperatura associado a uma
resistência elétrica, que dissipa calor em regime
permanente ou transiente num meio poroso
controlado. A tecnologia em regime transiente foi
desenvolvida no Brasil (departamento de engenharia
mecânica da Universidade de Brasília para
utilização na agricultura). O sensor realiza de forma
indireta a medição da sucção do solo através das
propriedades térmicas (massa específica, calor
específico e condutividade térmica).
As propriedades térmicas do meio dependem de
sua umidade, à qual é correlacionada com a sucção.
O sensor de condutividade térmica é instalado de
forma que o meio poroso do sensor entre em
Figura 1 – Tomografo de raios gama (Naime, 2001) equilíbrio com a água do solo e então associe o
[Angelotti Netto et al – EESC-USP] valor da tensão negativa de água do meio poroso
com a sucção da sonda. O principio térmico
b) Analisador granulométrico [Angelotti Netto et utilizado neste sensor afirma que a difusividade
al. – EESC-USP] (Figura 2) térmica do meio será função do teor de umidade do
mesmo.
O analisador granulométrico permite determinar a As vantagens e desvantagens são:
curva de distribuição granulométrica. Ele permite • Método indireto (sucção mátrica)
também estimar a curva de retenção da água por • Tamanho da amostra: 30 cmx30cmx30cm
meio de métodos indiretos, bem como, a porosidade • Tempo de resposta -laboratório = 60 segundos
total e a densidade de partículas e medir de forma -campo = 5 dias
rápida e precisa a densidade global e o conteúdo de • Variação do pH e da temperatura implicam na
água no solo. baixa sensibilidade das medidas realizadas

514
d) Técnica de radar de penetração do solo (GPR) sub-superfície. O uso de GPR pode ser empregado
[Machado et al. - UFBA] (Figura 4) para o diagnóstico do nível do lençol freático,
medidas de umidade, medidas de salinidade e
A técnica de radar de penetração do solo (GPR) é diagnóstico da presença de hidrocarbonetos em sub-
utilizada para determinar os valores de umidade em superfície.

seção do sensor de condutividade sensor solumid 1 medidas de sucção feitas pelo sensor
hidráulica (Phene et al, 1971) solumid
Figura 3 – Termistor (Sensor de térmico) [Beneveli, R. M. et al – UnB]

Figura 4 – Técnica de radar de penetração do solo (GPR) [Machado et al – UFBA]


a) Técnica de execução de ensaios de radar
b) Equipamento desenvolvido para realização de ensaios em laboratório-esquema de
funcionamento
c) Conjunto de dispositivos utilizados para realização de ensaios
d) Resultados obtidos e previstos a partir dos ensaios de laboratório

515
É uma técnica adotada nos métodos geofísicos de As vantagens e desvantagens são:
investigação rasa e propicia a execução de ensaios
não destrutivos. O GPR utiliza os mesmos • O tempo de resposta do papel é relativamente
princípios de funcionamento do Reflectometria do curto para cada equilíbrio (uma semana);
Domínio do Tempo (TDR). • A faixa de medida de sucção da ordem de 0,1
O método consiste na emissão contínua de pulsos a 15000 kPa;
eletromagnéticos (espectros com freqüências • Oferece economia e uma precisão similar aos
variando entre 10 e 250 MHz). Os sinais são métodos convencionais;
emitidos e recebidos através de antenas • Possibilita a medição da sucção osmótica pela
denominadas de transmissoras e receptoras (alta diferença entre as medidas de sucção total e sucção
freqüência-1Ghz), dispostas na superfície do solo. A mátrica;
utilização do GPR está condicionada à profundidade • Método simples;
de penetração do sinal do solo (propriedades • Requer o manuseio delicado e precisão na
elétricas dos solos). Os ensaios permitem obter pesagem numa balança com resolução de 0,0001g;
medidas de velocidade de propagação dos pulsos • O tempo do papel é relativamente longo para
eletromagnéticos através da camada de solo para cada equilíbrio, sendo da ordem de 30 dias para
diferentes teores de umidade. sucções de 0 a 100 kPa, quando medida a sucção
Para a determinação da distribuição da velocidade total;
de propagação da onda em sub-superfície, a técnica • Resultados dependem de um bom contato
denominada CMP (ponto médio constante) é a mais entre o papel e o solo.
indicada. Esta técnica consiste em afastar
simetricamente as antenas receptoras e
transmissoras de um ponto médio, de modo que a g) Transdutor de Alta Capacidade (TAC/TNV)
interface entre duas camadas horizontais irá (medida de sucção) [Mahler et al. - COOPE]
aparecer no radagrama como uma hipérbole. (Figura 5)
As vantagens e desvantagens são:
O tensiômetro de alta capacidade foi
• A eficiência está condicionada com as desenvolvido no Imperial College (Ridley e
propriedades elétricas dos solos (condutividade ou Burland, 1993, 1995). O princípio é similar aos
resistividade elétrica); tensiômetros convencionais, que baseia-se na
• A resolução dos sinais (freqüência das ondas transmissão de pressão de água numa ponta porosa
eletromagnéticas); em equilíbrio com o solo até o sistema de medição
• Erros de interpretação de um radagrama; de pressão e sucções até 350 e 500 kPa. O
• A velocidade de propagação do pulso desempenho do TNV apresentou satisfatório tendo
eletromagnético varia em função de parâmetros ou medido sucções até 3,5 atm sem apresentar sinais de
de propriedades. cavitação. Esse novo tensiômetro consiste em um
pequeno transdutor, uma pedra porosa e um corpo
e) Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR) acrílico (Mahler et al. – COOPE).
[Angelotti Netto et al. – EESC-USP] Esta técnica permite uma boa alternativa para
medida da sucção mátrica. Uma medição contínua
A técnica é utilizada para medir a quantidade de pode ser mantida por um limitado tempo.
água no solo. Ela é utilizada para estimar As vantagens e desvantagens são:
rapidamente o conteúdo de água e a infiltração.
• Medição direta da sucção mátrica em
f) Método do papel filtro [Feuerharmel et al.- laboratório e em campo (valor máximo de 1500
UFRGS] kPa);
• Tempo de resposta é rápida em relação aos
O uso do papel filtro foi inicialmente utilizado na tensiômetros
agronomia. O método consiste em colocar um papel Convencionais;
filtro de características conhecidas num ambiente • Garantir a saturação da ponta porosa colocada
hermético junto com uma amostra de solo. O estado em contato com o solo;
de equilíbrio entre o papel filtro e o solo, permite • Necessidade de pressurização da água para
determinar a sucção do solo usando uma curva de dissolver todo ar livre;
calibração do papel. • Efeitos de evaporação na superfície de contato
Os diferentes tipos de papeis são usados para tensiômetro-solo durante a medição em amostras
determinar a sucção matricial ou a sucção total. com texturas muito porosas.
516
Figura 5 – Tensiômetro de alta capacidade (TAC/TNV) [Mahler et al – COPPE
a) Componentes do transdutor
b) Tensiômetro (TNV)
c) Tensiômetro de alta capacidade (Imperial college)
d) Suporte para medição da sucção (Soto, 2004)

h) Placa de sucção (imposição de sucção) As vantagens e desvantagens são:


[Feuerharmel et al.- UFRGS] (Figura 6) • Obtenção de valores baixos de sucção até 100
kPa;
Esse método permite obter a sucção mátrica • Erros na determinação da variação do volume
mantendo-se a poro pressão de ar em zero (pressão de água para o cálculo do teor de umidade;
atmosférica) e a poro pressão de água em um valor • Tempo de equalização.
negativo. A sucção é conhecida e o valor de teor de
umidade da amostra é calculado em função da i) Dessecador de Vácuo [Pereira & Pejon - EESC -
variação de volume de água. USP] (Figura 7)

Esse método permite impor a sucção mediante


soluções saturadas de cloreto de sódio, de potássio e
de bário

Figura 6 – Placa de sucção (imposição de sucção) Figura 7 – Dessecador de vácuo (Soto, 200 –
Feuerharmel et al.- UFRGS EESC-USP)

517
j) Câmara de Equalização [Moncada et al. –
PUC –Rio de Janeiro] (Figura 8)

A câmara de equalização é composta de três


partes principais (tampa, anel, base). O conjunto
permite manter uma distância mínima entre o papel
filtro e o solo nas medições de sucção total e
garantir o contato entre o papel filtro e o solo
(sucção mátrica). O mesmo permite determinar a
sucção total mediante a colocação de uma tela de
material inerte para separar o solo do papel.
A câmara de equalização, com a amostra inserida,
é mantida em uma caixa de isopor com temperatura
constante durante um certo período para equalização
da sucção aplicada. Figura 9 – Edométrica para obtenção da curvade
retenção [Muñoz et al., UPC - Barcelona Espanha]

l) Técnica Osmótica para determinação da curva


de retenção [Soto, 2004-EESC-USP] (Figura 10)

Os corpos de prova são condicionados dentro de


segmentos de membrana pré-umedecida em água
destilada, vedando-se as extremidades da membrana
com o auxílio de presilhas. O conjunto é imerso na
solução (determinada concentração) contida num
recipiente. O fluxo de água em direção do solo para
a solução ocorrerá até atingir o equilíbrio osmótico.
A transferência de umidade entre o solo e a solução
através da membrana tenderá modificar a
concentração da solução. Para manter a mesma
Figura 8 – Câmara de Equalização (Moncada et al – concentração (sucção), é necessário à utilização de
PUC – Rio de janeiro) uma bomba peristáltica acoplado ao recipiente onde
estão as amostras.
k) Célula Edométrica para obtenção da curva
de retenção [Muñoz et al., UPC - Barcelona
Espanha] (Figura 9)

A célula edométrica utiliza a técnica de translação


de eixos. Ela é usada para controlar a sucção e adota
a técnica de equilíbrio de vapor que permite aplicar
sucções superiores a 3 MPa e inferiores a 83 Mpa..
A técnica consiste em colocar as amostras dentro de
um sistema termodinamicamente fechado com o ar a
uma umidade relativa pré-fixada. Esta umidade
relativa do ar é controlada com diferentes soluções
salinas saturadas ou parcialmente saturadas em
contato direto com o ar. A umidade relativa do ar
está relacionada com a sucção total da amostra.
Neste equipamento a pressão de água (Pw) é
aplicada na base da célula e a pressão de ar (Pg) na
parte superior. Uma membrana de celulose é
colocada entre a amostra e o disco inferior atuando Figura 10 – Técnica osmótica para determinação da
como interfase semipermeável entre a água e o ar. curva de retenção [Soto, 2004-EESC-USP]

518
2.2 Técnicas que permitem obter os parâmetros solução. Determina-se a condutividade hidráulica
hidráulicos e o comportamento mecânico em em condição saturada, uma vez alcançado o regime
laboratório estacionário. A permeabilidade relativa pode ser
obtida através da retro-análise dos ensaios de
a) Determinação da condutividade hidráulica infiltração.
[Eagler & Lier - ESALQ/USP] (Figura 11)

O sistema é composto por uma amostra de solo


acondicionada entre duas placas porosas sob sucção
conhecida, que permite determinar a resistência
hidráulica total do sistema. A resistência hidráulica
total é a soma das resistências hidráulicas das placas
porosas superior e inferior e a resistência hidráulica
do solo. As resistências hidráulicas das pedras
porosas superior e inferior podem ser obtidas em
laboratório e conhecendo o valor da resistência
hidráulica total, calcula-se a resistência hidráulica
do solo e por sua vez, a condutividade hidráulica do
solo mediante o conhecimento da altura da amostra.
As vantagens e desvantagens são: Figura 12 – Permeâmetro utilizado nos ensaios de
• As dimensões pequenas da amostra (3,0 cm de infiltração [Muñoz et al. – UPC, Barcelona]
altura e 4,8 cm de diâmetro); 1- tampa superior / 2 – anel de aço inoxidável / 3 –
• Valores de sucção baixos; filtro poroso superior / 5 – parafusos de ajustes / 6 –
• Grande dispersão entre os valores de o´rings / 7 – resina / 8 - amostra
condutividade hidráulica em uma mesma sucção;
• Realização de maior número de ensaios com c) Ensaios para determinar o comportamento
diferentes amostras. mecânico dos solos não saturados

• Células edométricas com sucção controlada


com técnica de translação de eixos (similar
ao de Escário) [Justino da Silva et al. –
UPPE; Martinez et al. –UFRGS] (Figura 13)
Os ensaios de compressibilidade em solos não
saturados são realizados através das células
similares ao de Escário e utilizam técnicas de
translação de eixos. Este equipamento similar de
Escário consta de três partes principais unidas por
anéis de vedação, que asseguram a estanqueidade do
sistema. A parte inferior da célula contém uma
pedra porosa de alto valor de entrada de ar ou por
membrana semipermeável. O controle da
Figura 11 – Equipamento para determinação da deformação é feito através da leitura de um
condutividade hidráulica [Eagler & Lier - defletômetro instalado na parte superior da célula e
ESALQ/USP] em contacto com o pistão de carga. Na base está
conectado um medidor de variação volumétrica.
b) Ensaios de infiltração para determinação do
coeficiente de condutividade hidráulica [Muñoz
et al. – UPC, Barcelona] (Figura 12)

A condutividade hidráulica em condição não


saturada não pode ser determinada diretamente do
ensaio de infiltração. A influencia do grau de
saturação na condutividade hidráulica pode ser
modelada através da lei de permeabilidade relativa
utilizando o modelo de Van Genuchten. O ensaio de
infiltração utiliza-se um permeâmetro que consiste
de um anel de aço inoxidável de 75 mm de diâmetro
e 50 mm de altura onde se encontra a amostra com Figura 13 – Célula edométrica com sucção
duas tampas (uma parte superior e outra na parte controlada (similar ao de Escário) [Justino da Silva
inferior). A sucção é aplicada mediante uma et al. – UPPE; Martinez et al. –UFRGS]
519
• Células edométricas com sucção controlada • Ensaios para determinar a resistência ao
com técnica osmótica [Soto & Vilar- EESC- cisalhamento (Figura 15)
USP] (Figura 14)
Essa técnica osmótica permite evitar a super Os ensaios para obtenção resistência ao
estimação dos valores de sucção e apresenta uma cisalhamento são abordados em alguns trabalhos e
alternativa para o controle da sucção matricial.
empregam ensaios de compressão simples, ensaios
O uso do potencial osmótico para o controle da
sucção matricial em solos não saturado torna-se de cisalhamento direto e ensaios triaxiais com
mais representativo das condições do meio controle de sucção.
(principalmente em processos de dessaturação).
O equipamento é constituído por componentes ƒ Ensaios de compressão simples
semelhantes a um edômetro convencional com [Kakehi et al. EESC-USP]
modificações para a imposição da sucção.
A base desta célula possui uma câmara que tem Uma alternativa para estimar a resistência ao
como função colocar a solução de Polietileno Glicol cisalhamento de solos não saturados a partir de
(PEG) nela contida em contato com o solo através ensaios de compressão simples associadas à medida
da membrana semipermeável. Para a realização de de sucção matricial através da técnica de papel filtro
ensaios com controle de sucção, o edômetro conta ou com o transdutor de pressão. A partir dos
adicionalmente com uma bomba peristáltica com
resultados de ensaios de compressão simples é
mangueiras para circulação da solução, reservatórios
e uma balança eletrônica. possível estimar a envoltória de resistência não
Essa técnica permite sem aplicações de pressões drenada utilizando a proposta de Fredlund et al.
de ar positivas, realizar os ensaios com menor (1978).
tempo de equilíbrio em relação ao de translação de
eixos. ƒ Ensaio de cisalhamento direto com
controle de sucção [Beneveli &
Campos]

ƒ Ensaio triaxial com controle de


sucção [Futai et al.- COPPE; Reis &
Vilar -EESC-USP]

ƒ Ensaio triaxial verdadeiro com


sucção matricial controlada [Ortiz et
al. EUA]

Este equipamento permite controlar as três


tensões independentemente e aplicar qualquer tipo
de caminho de tensões, além de possibilitar a
aplicação de diferentes níveis de sucção matricial
usando o principio da translação de eixos. Este
equipamento permite também estudar o efeito da
variação da sucção e do nível de tensões na rigidez
do meio não saturado, possibilitando medir a
velocidade de propagação de ondas cisalhantes
através do uso de elementos fletores piezoelétricos.
Esses elementos são pequenas placas que se fletem
quando submetidas a um potencial elétrico e eles
são colocados verticalmente de forma que haverá
uma polarização das ondas cisalhantes na direção
horizontal. Esta configuração permite o
monitoramento da tensão efetiva na direção
Figura 14 – Células edométricas com o emprego de horizontal, independentemente das variações nas
técnica osmótica [Soto & Vilar- EESC-USP] tensões verticais além de avaliaras características de
a) Edômetro osmótico rigidez tanto em pequenas quanto em grandes
b) Edômetro osmótico e demais componentes deformações.

520
Figura 15 – Ensaios para determinação de resistência ao cisalhamento
a) cisalhamento direto com controle de sucção da UFRGS
b) cisalhamento direto com controle de sucção da PUC-Rio
c) Ensaio triaxial verdadeiro com sucção matricial controlada (Ortiz et al, EUA)

3. Técnicas de campos (Figura 16)

a) Ensaios de duplo anel em campo (Infiltrômetro)


[Palma & Zuquete –EESC-USP]

O ensaio consiste em utilizar o infiltrômetro de


duplo anel que permite medir a taxa de infiltração
por tempo (condutividade hidráulica) e possibilita
aplicar o fluxo de água através de volumes
relativamente grandes de solo. O ensaio é simples e
de fácil execução. A limitação deste ensaio consiste
na infiltração horizontal induzida pelos fortes Figura 16 – Esquema do ensaio de duplo anel em
gradientes hidráulicos de pressão entre o solo muito campo [Palma & Zuquete –EESC-USP]
úmido sob o infiltrômetro e o solo seco circundante.
Os anéis são cravados apenas poucos centímetros do b) Lisímetro volumétrico com a utilização de
terreno. Dessa forma permite determinar a tensiômetros em diferentes profundidades
condutividade hidráulica dos solos não saturados. [Wendland & Cunha] (Figura 17)

Figura 17 – Lisímetro Volumétrico com tensiômetros [Wendland & Cunha]


a) Vista em corte da caixa principal
b) Desenho esquemático da instalação interna inferior do lisímetro

521
Esta técnica permite determinar o fluxo de substâncias químicas através da zona não saturada
umidade no solo com medidas de sucção através de do solo. As determinações de resistência e o
tensiômetros. Este estudo mostrou que o conteúdo de água são realizados simultaneamente
comportamento da água em campo e no lisímetro no mesmo ponto utilizando-se um único
são diferentes em função da profundidade limitada equipamento, o penetrômetro associado ao sensor de
do lisímetro e da presença de uma barreira capilar. TDR.
O efeito da barreira capilar, caracterizado pela
manutenção de valores altos de umidade próximo ao d) Penetrômetro manual com monitoração de
sistema de drenagem foi detectado somente pela sucção [Tshua et al. - EESCUSP] (Figura 19)
análise dos valores medidos nos tensiômetros.
O equipamento manual da Solotest é composto de
c) Penetrômetro de impacto combinado com sensor maçaneta dupla, um anel dinamométrico, uma ponta
de umidade [Angelotti Netto et al. – EESC- cônica removível e uma haste. Para melhor precisão
USP] (Figura 18) na leitura de resistência utilizou-se um relógio
O penetrômetro de impacto caracteriza a força comparador do anel com trava. Uma régua
necessária para conduzir um cone de tamanho plastificada impermeável foi colada na haste para
específico para dentro do solo. Esse equipamento controlar a penetração do conjunto haste, ponta para
associado com um sensor para medida de umidade leituras de penetração de 6, 9 e 12 cm. Foi também
por reflectometria no domínio do tempo (TDR) adicionada na haste uma placa de borracha que
permitiram avaliar a resistência à penetração com desliza com certo atrito, permitindo indicar na haste
medidas de conteúdo de água. Essa técnica é a penetração desejada. Antes da realização dos
utilizada para estimar rapidamente o conteúdo de ensaios penetrométricos são instalados os
água e a taxa de infiltração, como avaliar in situ, o tensiômetros para medir os valores de sucção
processo de transporte de água e movimento de durante o ensaio.

Figura 18 – Penetrômetro de impacto combinado com sensor de umidade (TDR) [Angelotti Netto et al. –
EESC-USP]

penetrômetro de solo anel dinamométrico régua de haste placa de borracha


Figura 19 – Penetrômetro manual com monitoração de sucção [Tshua et al. - EESCUSP]

522
e) Penetrômetro dinâmico manual (PDM) [Mello 4. CONCLUSÕES
Junior & Polido – UFES - ES]
O ensaio de penetrômetro dinâmico manual é um Os trabalhos apresentados na sessão de técnicas
ensaio à percussão que consiste na cravação de uma experimentais de laboratório, na sua grande maioria,
ponta cônica no solo com golpes de um martelo de estão direcionados na obtenção da curva de retenção
10 kg caindo em queda livre de uma altura de mediante diferentes técnicas. As técnicas mais
0,23m. O índice de resistência à penetração do recentes adotadas foram: a utilização de GPR e o
ensaio é usualmente adotado como o numero de uso do termistor (sensor térmico). Essas técnicas
golpes necessários a uma penetração de 0,20m. Com mais recentes já são conhecidas e aplicadas em
base na energia dispensada na cravação da ponta outras áreas (física de solo).
cônica pode-se estimar a resistência dinâmica de Com relação as técnicas experimentais de campo,
ponta. Os índices físicos foram determinados a os trabalhos apresentados enfocam nos ensaios de
partir de blocos indeformados. penetrometros (manual, dinâmico, impacto)
combinados com métodos de medição de sucção
f) Piezocone com filtro de cavidade [De Mio et al.- (tensiômetros, sensor térmico). Foi mostrado
EESC-USP] (Figura 20) também o ensaio de piezocone associado ao
emprego de filtro de cavidade preenchido com graxa
No ensaio de penetração do piezocone mede-se automotiva em substituição ao processo
simultaneamente a resistência de ponta, o atrito convencional de saturação do piezo-elemento com
lateral e a poro-pressão, o que permite a descrição água ou glicerina para os ensaios de dissipação.
continua do perfil geotécnico, a definição de O ensaio convencional utilizado em mecânica
parâmetros mecânicos e hidráulicos dos solos. clássica (compressão simples) é apresentado como
Alguns pesquisadores têm sugerido o emprego de uma alternativa para estimar a resistência ao
um filtro de cavidade preenchido com graxa cisalhamento de solos não saturados. Esta técnica
automotiva em substituição ao processo associada com a medida de sucção matricial foi
convencional de saturação do piezo-elemento com possível estimar com razoável precisão, a envoltória
água ou glicerina para os ensaios de dissipação, para dos ensaios triaxiais (a coesão equivalente à metade
obtenção de parâmetros mecânicos e hidráulicos. de da resistência a compressão simples).

Figura 20 – Piezocone com filtro de cavidade [De Mio et al.- EESC-USP]


a) deaeração da pedra porosa e da ponteira cônica
b) funil plástico utilizado para auxiliar no processo de saturação
c) preenchimento do filtro de cavidade com graxa

523
Tema 2:

Modelação e Análise Numérica


em Solos Não Saturados

525
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Modelagem constitutiva para o comportamento mecânico de solos


não saturados

Márcio Muniz de Farias,


Universidade de Brasília, muniz@unb.br

Resumo: Neste trabalho tenta-se inicialmente fazer um levantamento do estado da arte sobre as pesquisas
envolvendo o comportamento mecânico de solos não saturados. Grande parte das pesquisas internacionais
centra no desenvolvimento de modelos constitutivos e segue abordagens, às vezes divergentes, baseadas em
modelos elásticos não lineares ou em modelos elastoplásticos. São revistos alguns conceitos básicos,
identificadas as principais escolas e linhas de pesquisa no assunto e algumas contribuições brasileiras são
resgatas. A seguir, apresenta-se de forma genérica a formulação do problema acoplado com vistas a
aplicações em problemas de contorno. Uma vez apresentada uma visão geral do problema, tenta-se
identificar onde se inserem as contribuições relativas ao assunto apresentadas no 5 NSAT. Finalmente são
levantados alguns pontos para reflexão que demandam a atenção de futuras pesquisas..

Abstract: This report initially tries to review the State of the Art about researches related to the mechanical
behavior of unsaturated soils. Many international works concentrate on the development of constitutive
models, using different frameworks, which sometimes are divergent, based on non-linear elasticity or on
elasto-plasticity. Some basic concepts are defined and the main schools of thinking are identified. Some
Brazilian contributions are also pointed out. Then, a basic framework for the formulation of coupled
problems is described, aiming applications to boundary value problems. After this general overview has been
presented, a discussion is made about some of the contributions published in the 5 NSAT, which are related
to this report topic. Finally, some points for reflection are presented, trying to identify areas in which further
researches are necessary.

1. CONCEITOS BÁSICOS solo não saturado eram (σ − ua ) e (ua − uw ) ; em


O solo não saturado é um sistema multifásico, em que σ é a tensão total, ua é a poropressão de ar e
que o grau de saturação é inferior a um. De acordo uw é a poropressão de água. A primeira variável
com Fredlund & Morgenstern (1977), este sistema é
refere-se à tensão total líquida, enquanto que a
constituído de quatro fases: partículas de solo, água,
segunda emprega um conceito que será comentado a
ar e película contráctil (interface ar-água), conforme
seguir, o de sucção matricial ou sucção mátrica,
ilustra a Figura 1. A última fase advém de uma
como preferem alguns autores.
rigorosa interpretação dos requisitos necessários
para qualificar uma porção da mistura como fase
independente, isto é, possuir propriedades diferentes
dos materiais contíguos e definir uma superfície
partículas de
fronteiriça (Fredlund & Rahardjo, 1993). película contráctil solo
Fredlund & Morgenstern (1977) reconheceram a (interface ar-água)
vantagem dessa consideração multifásica e
afirmaram que, sob o ponto de vista
comportamental, um solo não saturado pode ser ar
água
concebido como uma mistura de duas fases em
equilíbrio (partículas de solo e película contráctil) e
duas fases que fluem (ar e água). Eles ainda
afirmaram a necessidade de se ponderar a influência
da interface ar-água na análise de tensões e Figura 1 - Elemento de solo não saturado com fase
indicaram que as variáveis de tensão mais ar contínua (modificado - Fredlund & Rahardjo,
adequadas para definir o estado de tensões de um 1993).

527
O desenvolvimento teórico-conceitual de sucção explicação dos fenômenos relacionados a esses
em solos data do início do século XX e está solos. As primeiras propostas para obtenção de uma
intimamente relacionado com princípios da variável de estado de tensão reguladora do
Termodinâmica utilizados pela Física dos solos comportamento mecânico do solo não saturado
(Fredlund & Rahardjo, 1993). Por exemplo, o termo objetivaram generalizar o conceito de tensões
termodinâmico energia-livre era comumente efetivas empregado na Mecânica dos Solos clássica.
empregado na abordagem da umidade do solo e, A Tabela 1 resume alguns dos principais autores e
portanto, na sucção (Edlefsen & Anderson, 1943; suas respectivas expressões.
Bolt & Frissel, 1959). Em 1935, Schofield aplicou o Todas as propostas de generalização do princípio
termo sucção do solo para representar a deficiência das tensões efetivas para solos não saturados
de tensão na água dos poros de alguns solos resumidas na Tabela 1 introduzem parâmetros que
saturados ou não saturados (Barrera, 2002). indicam a influência da poropressão no valor da
A sucção do solo quando quantificada em função tensão efetiva. Por exemplo, proposta de Bishop
da umidade relativa é comumente chamada sucção (1959) é expressa como:
total. Ela tem dois componentes: sucção matricial e
sucção osmótica. O primeiro componente é σ ij* =(σ ij − uaδ ij ) + χ ( ua − uw ) δ ij (2)
geralmente associado ao fenômeno da capilaridade,
decorrente da tensão superficial da água, sendo
definido como a diferença entre a pressão de ar e a onde χ é um parâmetro dado em função do grau de
pressão de água (ua − uw ), ao passo que o saturação. Para o solo saturado ele é igual a 1 (um),
enquanto que, para solo seco, ele assume o valor
componente osmótico relaciona-se à presença de zero. Este parâmetro depende do material, tratando-
íons e outros solutos na água intersticial (Fredlund se, portanto, de um parâmetro constitutivo.
& Rahardjo, 1993).
Evidências experimentais sugerem que o Tabela 1 - Expressões formuladas com base na
comportamento tensão-deformação dos solos não extensão do princípio das tensões efetivas para solos
saturados seja preponderantemente influenciado saturados (Fredulnd & Rahardjo, 1993).
pela sucção matricial, restando à sucção osmótica
um papel secundário (Fredlund, 1979; Alonso et al., Autores Componentes
1987). O termo comportamento mecânico está σ ′ : tensão efetiva
relacionado às respostas do material do ponto de Croney et al. (1958) σ : tensão total normal
vista de deformabilidade e resistência. O σ =′ σ − β ′ uw uw : poropressão de água
comportamento mecânico dos solos saturados vem
sendo estudado há décadas. Assim, assumindo-se β ′ : fator de ligação
que a mecânica dos solos saturados consegue ua : poropressão de ar
descrever com sucesso os fenômenos mecânicos Bishop (1959)
σ ′ =σ − ua + χ (ua − uw ) χ : parâmetro relacionado ao
observados na prática, a mecânica dos solos não
saturados parte desta experiência bem sucedida com grau de saturação do solo
o objetivo de descrever o seu objeto de estudo. p′′ : poropressão de água
Aitchison (1961) negativa
2. VARIÁVEIS DE ESTADO DE TENSÃO σ ′ = σ + ψ p′′ ψ : parâmetro com variação
entre 0 e 1
Os aspectos correspondentes à resistência e à p′′ : poropressão de água
deformação do solo na condição saturada têm sido negativa tomada como um
amplamente estudados com base no conceito de Jennings (1961)
σ ′ = σ + β p′′ valor positivo
tensões efetivas proposto por Terzaghi em 1936. β : fator estatístico relativo
Tensão efetiva é definida como o excesso de tensão
aplicada em relação à poropressão no fluido, de as áreas de contato
acordo com a seguinte expressão: χ m : parâmetro de tensão
efetiva para sucção matricial
σ= σ ij − δ ij uw
*
(1) Richards (1966) hm : sucção matricial
ij
σ ′ =σ − ua + χ m (hm + ua )
+ χ s (hs + ua ) χ s : parâmetro de tensão
onde δ ij é o delta de Kronecker. efetiva para sucção osmótica
hs : sucção osmótica
Entretanto, tentativas de aplicar esse conceito a
certos tipos de problemas geotécnicos falharam, Inicialmente, a proposta de tratar o solo não
essencialmente porque o solo encontrava-se em saturado pelo princípio das tensões efetivas se
condição não saturada. Em função disso, mostrou eficiente. Entretanto, posteriormente alguns
começaram a surgir várias pesquisas direcionadas à pontos foram levantados sobre a real eficiência da

528
utilização das tensões efetivas como variável de δij) e (ua – uw)δij. A justificativa é a total separação
controle dos fenômenos mecânicos dos solos não das componentes de tensão na estrutura sólida e das
saturados. poropressão pressões na fase líquida. O primeiro
Primeiro, na forma como foi apresentada esta tensor definido, (σij –uaδij), é conhecido por tensor
nova equação, a variável de tensão era função do de tensões líquidas e representa o excesso de tensão
material. Além disso, de acordo com o princípio das aplicada em relação à tensão na fase ar. O segundo
tensões efetivas a resposta mecânica do solo tanto tensor definido, (ua – uw) δij, é a diferença de tensão
em termo de deformabilidade, como de resistência entre os dois fluidos. O termo (ua – uw) é conhecido
ao cisalhamento, são funções exclusivas das por sucção matricial, ou simplesmente sucção.
variações na tensão efetiva. Em termos de
resistência ao cisalhamento foi observada uma boa 3. SUPERFÍCIES DE ESTADO
concordância. Entretanto, isso não foi observado
para fenômenos de deformabilidade tais como o Matyas & Radhakrishna (1968) sugeriram ainda a
colapso por molhagem. Por fim, associada a essas definição parâmetros de superfícies de estado. Estas
considerações, cita-se a dificuldade em mensurar o superfícies representam a resposta do solo
parâmetro χ, que é altamente dependente do tipo de submetido a uma determinada solicitação. Por
ensaio, ou seja, da trajetória de tensões e dos ciclos exemplo, pode-se definir uma superfície que
de molhagem e secagem. represente as variações de índice de vazios em
De uma forma simplificada, o princípio das função do estado de tensão líquida e da sucção. O
tensões efetivas acopla os efeitos das variações das mesmo pode ser feito para outras variáveis, como o
poropressões e das tensões. Bishop & Blight (1963), grau de saturação, os coeficientes de empuxos (K0,
Burland (1964) e, posteriormente, Matyas & Ka e Kp), a resistência ao cisalhamento, a
Radhakrishna (1968) propuseram que as variações permeabilidade, os módulos de elasticidade, o
no estado de tensão e na poropressão fossem coeficiente de Poisson ou qualquer outra variável
tratados de maneira independente, uma vez que a que dependa da sucção e da tensão.
resposta do solo às solicitações depende das Existem na literatura diversas propostas de
trajetórias dos componentes de tensões e superfícies de estados para índice de vazios e para
poropressões e não apenas da trajetória de tensões grau de saturação. Como exemplo, pode-se citar
efetivas. Na prática, consideração de variáveis Fredlund & Morgenstern (1976) e Lloret & Alonso
independentes permite a reprodução de fenômenos (1985). Tais relações foram definidas a partir de um
que ocorrem a tensões constantes e que não eram ajuste de curva para dados experimentais.
previstos nas formulações anteriores. Fredlund (1979) afirmou que a completa
Matyas & Radhakrishna (1968) assumiram que o definição do comportamento do solo não saturado
solo é um meio constituído por três fases. As em termos de deformações volumétricas requer a
tensões da fase sólida são representadas pelo tensor definição de duas superfícies de estado, a saber:
de tensões, σij, a tensão na fase ar é representado uma relacionando o índice de vazio e as variáveis de
pelo tensor, ua δij, e a tensão na fase água é estados de tensão e poropressão; e outra
representado pelo tensor, uw δij. A Figura 2 ilustra a relacionando a quantidade de água contida nos
atuação dessas variáveis num elemento de solo. vazios e as variáveis de tensão e poropressão.

( u a − u w ) (σ − ua ) 4. MODELOS PARA SOLOS NÃO SATURADOS


y

τ yx τ yz A influência do processo de molhagem no


comportamento de solos não saturados ganhou
destaque inicialmente ao serem observados padrões
( ua − u w ) de deslocamentos e recalques atípicos, fissuras e até
mesmo rupturas, durante o primeiro enchimento de
τ zx (σ x − u a ) algumas barragens na segunda metade do século
( ua − uw ) τ zy
passado. Sherard (1953) analisou as fissuras e
y
(σ z − u a ) deslocamentos na barragem homogênea de Rector
Creek (EUA), que se deslocou consideravelmente
x para montante durante o primeiro enchimento.
z Marsal (1960) relatou grandes recalques
Figura 2 - Variável de estado de tensão para um solo diferenciais, o que ocasionou fissura, durante o
não saturado (modificado - Fredlund & Rahardjo, início do enchimento da barragem homogênea de
1993). Cuautemoc (México). Holestol et al. (1965), apud
Pereira (1986), analisando a barragem de Venemo
Posteriormente, Fredlund & Morgenstern (1976, (Noruega), observaram que os recalques eram
1977) sugeriram que as melhores combinações entre proporcionais ao estado de tensão a que estavam
os componentes de cada fase são os tensores (σij – ua submetidos no instante da molhagem. Marsal &

529
Ramirez (1967), apud Pereira (1986), observaram os O método de Nobari & Duncan (1972), na
efeitos do enchimento da barragem de núcleo realidade, não propõe um modelo constitutivo para
argiloso de El Infiernillo (México). Vários outros solos não saturados, mas oferece apenas um artifício
casos são relatados na literatura e, em geral, estão numérico para a simulação do colapso. Embora o
relacionados a problemas com aterros compactados método original fosse de certa forma atrelado ao
com umidade insuficiente, criando uma estrutura modelo hiperbólico de Duncan & Chang (1970),
instável e colapsível. Naylor et al. (1989) e Farias (1993) propuseram
O termo colapso é convencionalmente utilizado generalizações que tornam o método aplicável a
para designar as grandes deformações volumétricas qualquer tipo de modelo constitutivo. Estes
que ocorrem em alguns solos, devido ao aumento de procedimentos foram aplicados com sucesso na
umidade. O fenômeno foi inicialmente observado análise da barragem de Beliche (Portugal), usando
em areias fofas siltosas com baixo grau de saturação modelos elásticos não lineares e também com o
(Jennings & Knight, 1957), mas atualmente se modelo Cam-clay (Tong, 1992; Naylor et al., 1997).
reconhece sua ocorrência em diversos outros tipos Além da adoção de dois conjuntos de parâmetros,
de solo, tais como, os solos aluvionares, há uma série de detalhes numéricos que devem ser
coluvionares, eólicos, residuais ou vulcânicos, bem observados quando da implementação de esquemas
como, os solos compactados (Dudley, 1970). que derivem do método de Nobari & Duncan
Várias divergências quanto ao conceito e à gênese (1972). Além do mais, o método não simula o
do colapso solo já foram registradas, mas fenômeno de colapso em si, mas seu efeito, sendo o
atualmente existe um consenso. No que se refere ao início do colapso determinado pelo usuário. Desta
conceito fenomenológico, Matyas & Radhakrishna forma, o método é inadequado para uma simulação
(1968), Dudley (1970), Escário & Saez (1973), Cox mais precisa do fenômeno, quando se deseja, por
(1978), entre outros, definem, de modo geral, os exemplo, reproduzir o colapso progressivo com o
solos colapsíveis como aqueles de estrutura aberta e avanço da frente de saturação durante o enchimento
meta-estável, que apresentam redução irrecuperável de uma barragem. Neste caso, deve-se recorrer a
(plástica) de volume com a diminuição da sucção uma análise acoplada, onde o comportamento de
matricial. cada fase é representado separadamente por
De acordo com Lawton et al. (1992), são modelos constitutivos adequados.
necessários quatro fatores para ocorrência do A modelagem constitutiva em solos não saturados
colapso: (a) existência de solo não saturado, com tem conseguido significativos avanços nas últimas
estrutura aberta e meta-estável; (b) tensões totais duas décadas, essencialmente com o
suficientes para provocar colapso; (c) presença de aperfeiçoamento e desenvolvimento de novos
agentes de ligações intergranulares ou cimentantes equipamentos triaxiais com controle de sucção
que tornem o solo estabilizado em condições não capazes de realizar ensaios em diversas trajetórias
saturadas; (d) ruptura por cisalhamento das ligações de tensão ou deformação. Desde a concepção e
intergranulares e redução de ligações cimentantes validação das variáveis de estado de tensão
pelo efeito da água. (σ − ua ) e (ua − uw ) controladoras do
As primeiras tentativas de modelagem do
fenômeno do colapso por saturação se baseiam no comportamento mecânico do solo, vários modelos
método proposto por Nobari & Duncan (1972). Este têm sido propostos. Não obstante, alguns autores
método se fundamenta em observações também têm utilizado a teoria estendida da tensão
experimentais de ensaio duplo oedométricos. efetiva de Terzaghi para solos não saturados.
Tomando-se duas amostras idênticas, inicialmente A seguir, serão apresentadas algumas das
não saturadas, uma das quais é saturada e depois características mais marcantes dos principais
carregada, enquanto a segunda é inicialmente modelos para solos não saturados, tanto aqueles
carregada e depois saturada, percebe-se que o ponto baseados na teoria da elasticidade, quanto aqueles
final é aproximadamente o mesmo. fundamentados na teoria da elastoplasticidade.
Desta forma, Nobari & Duncan (1972) sugerem a
adoção de dois conjuntos de parâmetros, um para 5. Modelos Elásticos
descrever o comportamento do solo em seu estado
natural não saturado e outro para descrever o Coleman (1962) foi um dos pioneiros na
comportamento do solo saturado. O colapso é formulação de relações elásticas para descrição do
simulado em três estágios: (a) inicialmente aplica-se comportamento mecânico dos solos não saturados,
o carregamento ao solo não saturado e registram-se porém, foi D.G. Fredlund quem deu um maior e
as deformações; (b) a seguir aplicam-se as mesmas significativo impulso nessa descrição. Juntamente
deformações ao solo saturado e registra-se o estado com Morgenstern, objetivando considerar o efeito
de tensão equivalente; (c) finalmente, muda-se da da sucção matricial no comportamento mecânico do
curva tensão-deformação do solo não saturado para solo, ele apresentou uma extensão da teoria elástica
aquela do solo saturado, aplicando-se a este as generalizada de Hooke para solos saturados baseado
forças equivalentes à diferença nos estados de em observações semi-empíricas (Fredlund &
tensão. Morgenstern, 1976). O solo, de início, foi assumido

530
como um material isotrópico, elástico e linear. As onde at e aw são os coeficientes de
equações incrementais associadas a deformações da
estrutura do solo geradas por essa formulação são as compressibilidade com respeito à tensão líquida
expressas a seguir: e à sucção matricial, respectivamente.

1 ν 1 e
εx
d= d (σ x − ua ) − d (σ y + σ z − 2ua ) + d (ua − uw )
E E H
1 ν 1
d=εy d (σ y − ua ) − d (σ z + σ x − 2ua ) + d (ua − uw ) d ( ua − u w )
E E H
d (σ − u a ) ∂e
1 ν 1
d=εz d (σ z − ua ) − d (σ x + σ y − 2ua ) + d (ua − uw ) ∂e ∂ ( ua − uw )
E E H
dτ xy dτ yz dτ zx ∂ (σ − ua )
=d γ xy = ; d γ yz = ; d γ zx ua − uw
G G G
(3)
Onde: σ − ua
d ε x , d ε y e d ε z : são os incrementos de Figura 3. Superfície de estado para índice de vazios
deformação normal nas direções x, y e z; (modificado - Fredlund, 1979).
d γ ij (= d γ ji ) : são os incrementos de Alonso et al. (1990) afirmaram que modelos
deformação cisalhante baseados em superfícies de estado não representam
E : é o módulo de elasticidade ou de Young de forma completa o comportamento do solo. Por
com respeito à tensão líquida (σ − ua ); exemplo, os autores citam a influência da trajetória
de carregamento e molhagem na resposta
H : é o módulo de elasticidade para variações volumétrica do solo. Além disso, sendo a superfície
em (ua − uw ); de estado única, esta não poderia ser utilizada para
ν : é o coeficiente de Poisson. simular trajetórias não monotônicas.
G : é o módulo de cisalhamento. Por natureza, os modelos elásticos tratam
deformabilidade e ruptura de formas separadas.
A Equação (3) pode ser re-escrita de forma Portanto, é necessário que se definam envoltórias de
concisa, como: ruptura que considerem o efeito da sucção matricial
na resistência dos solos não saturados. Ainda
d ε ij Cijkl d (σ kl - δ kl ua ) + H ij d ( ua - uw ) (4) utilizando a proposta de Matyas & Radhakrishna
(1968), Fredlund et al. (1978) apresentaram uma
superfície de estado para resistência ao
A obtenção dos tensores de compressibilidade C e
cisalhamento, cuja expressão matemática é dada
H requer a definição de taxas de deformabilidade
por:
em função das variáveis de tensão e de sucção.
Essas taxas são obtidas a partir das superfícies de
estado. Por exemplo, conhecida uma função f que τ = (σ - ua ) tg(φ ′) + (ua - uw ) tg(φ b ) + c′ (6)
represente o comportamento volumétrico do solo em
função das variações no estado de tensão e Esta equação é uma extensão da envoltória de
poropressão, é possível obter taxas de variações para Mohr-Coulomb para solos não saturados. A Figura 4
estas variáveis. A Figura 3 ilustra uma superfície de mostra uma visão espacial da envoltória de ruptura
estado para índice de vazios, além de definir as de Mohr-Coulomb estendida para solos não
taxas de deformabilidade. Nessa figura, foram saturados.
definidos os coeficientes de compressibilidade com Na proposta de Fredlund et al. (1978), Equação
relação à tensão total e à sucção matricial. Quando a (6), a resistência ao cisalhamento é afetada pela
superfície é não linear, tais coeficientes devem ser sucção por meio de um aumento do efeito coesivo.
obtidos para pequenos incrementos de tensão, ou Na forma apresentada, a equação evidencia a
seja, associado a cada variável de estado de tensão independência entre as variáveis de tensão e
existe uma inclinação de particular interesse poropressão. Entretanto, esta equação pode ser
conforme mostram as equações a seguir: reescrita de modo a atender ao princípio das tensões
efetivas, conforme expressa a seguir:
∂e
at = −
∂ (σ − ua ) τ = [(σ − ua ) + χ (ua − uw )] tg(φ ) + c′ (7)
(5)
∂e
aw = −
∂ (ua − uw ) onde tg(φb)=χtg(φ), então σ ′ = (σ − ua ) + χ (ua − uw ) .

531
τ modificado para solos não saturados. Este modelo
ficou conhecido como BBM (Barcelona Basic
Model). Utilizando quatro variáveis de estado
(tensão média líquida, tensão desvio, sucção
matricial e índice de vazios), estes autores definem
φb ua − u w uma superfície de plastificação matematicamente
expressa da seguinte forma:
φ
c' f ( p, q, s, p0* ) = q 2 − M 2 ( p0 − p )( p + ps ) =
0 (8)
σ − ua
Figura 4 – Envoltória de Morh-Coulomb estendida f ( p, q, s, s0 ) = s − s0 =
0 (9)
para solos não saturados.

Fredlund et al. (1978), com o objetivo de onde:


simplificar o modelo, assumiram inicialmente o
ângulo de atrito φ b constante e, portanto, uma p0 é a tensão de escoamento isotrópica para
relação linear entre a resistência ao cisalhamento e a sucção igual a s;
sucção matricial. Porém, evidências experimentais ps é a parcela de efeito coesivo produzido por
têm mostrado uma acentuada não linearidade dessa
acréscimo de sucção;
relação (Escario & Saez, 1986; Fredlund et al.,
1987; Escario & Jucá, 1989; Mahaling-Iver & M é a inclinação da linha de estados críticos;
Williams, 1995). De modo a corrigir tal hipótese p0* é a tensão de escoamento isotrópica para
simplificadora, alguns autores propuseram condição saturada;
expressões para considerar a referida não s0 é a sucção de escoamento, ou seja, limite
linearidade. Khalili & Khabbaz (1998), por
exemplo, retomaram a proposta de tensão efetiva de superior de sucção a partir do qual ocorreram
Bishop (1959) para solos não saturados, enquanto deformações plásticas.
que Rassam & Cook (2002) alteraram a Equação (6)
incluindo parâmetros obtidos da curva característica A Figura 5 ilustra a superfície de escoamento
do solo. proposta. Quaisquer trajetórias que ocorram dentro
da superfície de escoamento são consideradas
6. Modelos Elastoplásticos elásticas e produzem deformações totalmente
recuperáveis. Trajetórias que perfurem a superfície
O próximo passo no avanço da modelagem de solos em qualquer direção são consideradas trajetórias
não saturados foi a consideração de modelos elastoplásticas e produzem deformações não
elastoplásticos, que se caracterizam por tratar de recuperáveis.
forma conjunta a deformabilidade e a resistência ao A extensão do modelo Cam-clay para solos não
cisalhamento. Antes de definir um novo modelo, saturados se dá pela incorporação de dois efeitos, a
vale salientar que a definição de duas variáveis de saber: o aumento da rigidez e da tensão de
estado independentes para descrição do escoamento para incrementos de sucção e o
comportamento mecânico possibilitou estender aumento do efeito coesivo devido a aumentos de
modelos de sucesso na mecânica dos solos saturados sucção matricial. Conforme pode ser visto na Figura
para a condição não saturada. Isso porque a partir 5, a superfície se caracteriza por apresentar uma
desta definição, a condição saturada se torna um forma elíptica num plano de sucção constante. Para
caso particular da situação não saturada. a condição saturada esta se iguala à superfície do
modelo Cam-clay modificado. O tamanho da
a) Modelo de Barcelona. superfície de plastificação é controlado pelas
deformações volumétricas plásticas e pela sucção.
Em 1987, com base em estudos laboratoriais, o O modelo original, Cam-clay modificado, foi
grupo de Barcelona apresentou uma formulação desenvolvido com base na teoria da plasticidade
qualitativa do comportamento mecânico de solos clássica e na teoria de estados críticos, que trata o
não saturados, considerando a influência da sucção problema de deformabilidade e resistência
matricial na resistência e deformação volumétrica cisalhamento de forma acoplada. Assim, a extensão
(Alonso et al., 1987). Três anos depois, uma para solos não saturados incorpora tais
estrutura matemática dessa concepção inicial foi características.
descrita baseada nas teorias da elastoplasticidade e A superfície definida pela Equação (9) descreve
de estados críticos (Alonso et al., 1990). um plano no espaço de tensões (p,q,s). Este plano é
Assumindo que o solo saturado é um caso particular paralelo aos eixos da tensão média, σ med − ua , e
do solo não saturado, Alonso et al. (1990)
propuseram a extensão do modelo Cam-clay desvio, q .

532
Deformações plásticas podem ocorrer por modelo em relação a aspectos não considerados
trajetórias de carregamento, de molhagem, de adequadamente nas versões anteriores,
secagem, de carregamento e molhagem simultânea principalmente para solos expansivos. Dentre estes
e, finalmente, de carregamento e secagem pontos citam-se a resposta de solos muitos
simultâneas. expansivos, o surgimento de deformações plásticas
Como principais vantagens apresentadas pelo durante ciclos de molhagem e secagem e restrições
modelo proposto por Alonso et al. (1990) destacam- quando do acoplamento hidromecânico-químico.
se: a capacidade de reproduzir trajetórias de tensão e Outro ponto relevante é a relação entre deformações
de saturação não monotônicas; a previsão de de expansão com o estado de tensão inicial e a
fenômenos volumétricos como o colapso e a trajetória imposta. Reconhecendo estas limitações
expansão para trajetórias de molhagem; a Alonso (1998) e Alonso et al. (1999) apresentaram
possibilidade de separar as deformações em um novo modelo. A principal característica deste
elásticas e plásticas. Além disso, o BBM novo modelo é a tentativa de incluir aspectos
fundamenta-se no modelo Cam-clay que tem uma ligados à micro e à macro-estrutura dos solos não
história de relativo sucesso na modelagem de solos saturados. A macro-estrutura estaria ligada ao
saturados. rearranjo dos macro-poros da estrutura do solo,
Diversas críticas, porém, foram direcionadas ao enquanto a micro-estrutura estaria relacionada à
modelo de Alonso et al. (1990), em especial, à expansão e a contração dos argilos minerais ativos e
hipótese de aumento indefinido do colapso com micro-poros. O novo modelo prevê ainda um
relação ao nível de tensão atuante. Tal acoplamento entre a macro e a microestrutura, ou
comportamento somente é observado até certos seja, deformações de expansão ou contração da
níveis de tensão, dependente do tipo de solo. Para microestrutura produziriam deformações na
níveis de tensão superiores a este limiar, o colapso macroestrutura. A relação entre os fenômenos
volumétrico é decrescente. ocorridos na microestrutura e o seu efeito na
Entretanto, a grande contribuição do modelo de macroestrutura é dada por funções de acoplamento.
Alonso et al. (1990) foi a introdução de uma nova
visão sobre a modelagem de solos não saturados. b) Modelo de Wheeler & Sivakumar.
Isto é, dado um modelo constitutivo qualquer para
solos saturados, é possível propor uma Sivakumar & Wheeler (1993) apresentaram
generalização para solos não saturados adicionando- diversos ensaios triaxiais em amostras compactadas
se os efeitos resultantes da não saturação. de caulinita não saturada e aplicaram os resultados
Balmaceda (1991), também do grupo de na estrutura elastoplástica desenvolvida por Alonso
Barcelona, propôs modificações na formulação do et al. (1990). A interpretação da curva de
BBM para estados isotrópicos de tensão. Ele plastificação LC no espaço ( p, s ) foi confirmada;
desenvolveu novas equações, porém mais entretanto, eles perceberam inconsistências na
complexas e com mais variáveis, para relacionar o variação do coeficiente de compressibilidade λ ( s ),
volume específico e a tensão média líquida, de tal uma vez que os resultados dos ensaios indicavam
modo que fosse previsto um colapso decrescente aumento desse coeficiente com o acréscimo de
para altas tensões médias confinantes. sucção matricial, enquanto o modelo proposto por
Alonso et al. (1990) só previa redução.
q Em 1995, eles propuseram uma formulação
matemática alternativa, similar à desenvolvida por
M
Alonso et al. (1990), para melhor descrever o
q
s=0 s
comportamento dos resultados de ensaio das
amostras de solo não saturado (Wheeler &
− ps po* po p Sivakumar, 1995). A Figura 6 exibe a trajetória de
s tensões obedecida na dedução do modelo e a
s
idealização da resposta tensão-deformação em um
SI
SI LC ensaio de consolidação isotrópica. Com base nesta
p LC idealização Wheeler & Sivakumar (1995)
propuseram uma nova equação da curva de
plastificação LC.
− ps po* po p Wheeler & Sivakumar (1995) alegaram vantagens
(a) (b) dessa proposição frente a do BBM, já que os valores
Figura 5. Superfície de escoamento proposta por experimentais do volume específico N ( s ) são mais
Alonso et al. (1990). (a) Vista 3D. (b) Projeções nos fáceis e diretos de medir que p c (tensão de
planos (p,q) e (p,s).
referência). Além disso, afirmam que a hipótese
Os esforços mais recentes do grupo de Barcelona básica de Alonso et al. (1990) a respeito da
tentam ampliar a capacidade de simulação do existência de uma magnitude de p0* (tensão de pré-

533
consolidação para condição saturada) para qual a específico e a sucção convencional, o novo modelo
curva de plastificação LC é uma linha reta vertical proposto por Wheeler et al. (2003) apresenta como
nunca foi legitimada experimentalmente. variáveis de estado o tensor de tensões de Bishop, o
volume específico, a sucção modificada, e o grau de
v saturação, sendo esta última tratada como uma
s variável de deformação. A segunda diferença é que
LC
−Δv Wheeler et al. (2003) consideram o grau de
s1
s≠0 saturação como um parâmetro de endurecimento, ou
s=0 seja, variações irreversíveis no grau de saturação
p0 (0) p0 p p0 (0) p0 ln p modificariam o tamanho do domínio elástico.
Figura 6 - Derivação da função da curva de
c) Outros modelos elastoplásticos
plastificação LC (modificado - Wheeler &
Sivakumar, 1995).
Os trabalhos posteriores ao ano de 1987 foram
Quanto ao comportamento do modelo em estados uma tentativa de aplicar a estrutura descrita
triaxiais, eles também empregaram a elipse do qualitativamente em Alonso et al. (1987), ou ainda
modelo Cam-clay modificado, todavia, com uma uma confirmação da aplicação da teoria de estados
diferente interpretação, pois a elipse foi definida críticos aos solos não saturados. A maioria deles
somente até certo ponto da curva, correspondente à empregou as variáveis de estado de tensão (σ − ua )
linha de estados críticos. e (ua − uw ) , enquanto que uma minoria resgatou a
Posteriormente, Wheeler (1996) revisou seus
trabalhos precedentes e introduziu no modelo uma proposição estendida de tensão efetiva. A seguir,
outra variável de estado não existente em modelos são apresentados alguns desses trabalhos e suas
anteriores, a variação do volume específico de água. respectivas hipóteses e contribuições, cuja análise
Tal consideração aumentou a potencialidade do permite apreciar em que passo a modelagem
modelo, pois também se passou a prever o constitutiva para solos não saturados cresceu nos
comportamento do solo não saturado em ensaios últimos anos.
sem drenagem de água. Karube & Kato (1989) propuseram a
Os trabalhos mais recentes nesta linha de identificação de pontos de plastificação com base na
pesquisa seguem a mesma tendência de relacionar equação da energia utilizada no modelo Cam-clay
micro e macro-estrutura como nos trabalhos original e em resultados de ensaios de compressão
recentes do grupo de Bracelona, embora mantenham triaxial em uma argila caolinítica compactada. Eles
a crítica sobre a ausência de uma variável ligada ao empregaram uma superfície de plastificação linear
grau de saturação nestes modelos. A crítica se no plano isotrópico ( p × s ).
baseia na ocorrência de histerese na curva que Toll (1990) aplicou a teoria de estados críticos
relaciona o grau de saturação e a sucção. Deste com o intuito de explicar o comportamento
modo, para uma mesma sucção, a quantidade de cisalhante de um cascalho laterítico não saturado do
água contida nos vazios pode variar caso tenham Quênia em termos da tensão total líquida e da
ocorrido trajetórias de molhagem e secagem. Assim, sucção matricial. Ele ainda enfatizou a importância
o comportamento mecânico de solos não saturados é da estrutura do solo, uma vez que a estrutura inicial
influenciado não somente pela sucção matricial, mas não é destruída após grandes deformações
também pela quantidade de água existente nos cisalhantes. Wheeler, um ano depois, sugeriu
vazios do solo. Portanto, Wheeler et al. (2003) modificações na proposição de Toll a fim de
apresentam um novo modelo constitutivo para solos simplificar o número de variáveis independentes
não saturados que incorpora a influência do grau de envolvidas (Wheeler, 1991). Em 2003, juntamente
saturação no comportamento tensão deformação. com outro pesquisador, Toll apresentou dados
Além disso, a histerese apresentada pela curva experimentais de ensaios triaxiais não drenados com
característica, que representa o comportamento medida de sucção em um solo residual de Cingapura
hidráulico, é acoplada ao modelo elastoplástico. Os e os analisou à luz de sua teoria (Toll & Ong, 2003).
autores associam a resposta elastoplástica dos solos Cui & Delage (1993) apresentaram resultados de
a dois fenômenos irreversíveis: o primeiro é o um estudo em um silte compactado realizado em um
movimento entre as partículas, o segundo é aparelho triaxial com sucção controlada
deslocamento da interface ar-água. osmoticamente. Nestes ensaios, eles puderam
De uma forma global o novo modelo proposto concluir e confirmar alguns aspectos anteriormente
por Wheeler et al. (2003) assemelha-se ao modelo observados relativos à influência da sucção no
proposto por Alonso (1998) e Alonso et al. (1999). comportamento mecânico do solo, tais como, a
Entretanto há duas diferenças básicas. A primeira é diminuição da compressibilidade e o aumento da
quanto as variáveis de estados. Enquanto os resistência de pico e da tensão de pré-consolidação
modelos de Bracelona utilizam como variáveis de com o aumento da sucção matricial. Posteriormente,
estado o tensor de tensões líquida, o volume em 1996, eles analisaram os resultados com base na

534
teoria da elastoplasticidade, empregando uma tensor modificado σˆ ij = σ ij + σ 0δ ij , em que σ ij é o
superfície de plastificação elíptica inclinada na
direção K 0 e uma lei de fluxo não associada (Cui tensor de tensões líquido, σ 0 diz respeito ao efeito
& Delage, 1996). coesivo devido à sucção e δ ij é o delta de
Em contraposição aos modelos que utilizam Kronecker. O Cam-clay original foi usado como
variáveis de tensão e poropressão independentes, modelo base na condição saturada.
Kohgo et al. (1993a) propuseram um modelo Georgiadis et al. (2003), seguindo a tendência de
elastoplástico para solos não saturados utilizando o generalizações, adotaram as superfícies de
conceito de tensão efetiva. Os autores usaram como plastificação e potencial proposta por Lagioia et al.
fundamentação teórica a proposta de Bishop & (1996) para solos saturados. Adaptações na estrutura
Blight (1963) que redefine a tensão efetiva como isotrópica do modelo de Alonso et al. (1990)
uma função das tensões totais e das poropressões na também foram realizadas com o propósito de evitar
água e no ar. Os autores discutiram vários aspectos o crescimento monotônico do colapso. O modelo é
micro e macro-estruturais na formulação de mais complexo e necessita de dezenove parâmetros.
equações constitutivas para solos não saturados Seu desempenho foi avaliado na análise da
predominantemente granulares. influência da zona capilar acima do lençol freático,
Kohgo et al. (1993b) discutem ainda os possíveis assim como, da variação do lençol freático no
estados em que a água dos poros se encontra e comportamento de estacas isoladas de concreto em
classificaram os efeitos em categorias. Estes autores solo uniforme.
concluem que a sucção tem basicamente dois efeitos Ainda em 2003, Gallipoli et al. (2003)
sobre o comportamento mecânico dos solos não incorporaram os efeitos da sucção e do grau de
saturados. O primeiro é relativo ao acréscimo na saturação no comportamento mecânico para a
tensão de confinamento. Esse efeito tem influência consecução de um modelo elastoplástico para solos
tanto na resistência como no comportamento não saturados.
volumétrico. O segundo efeito resultante da sucção Hoyos et al. (2003) implementaram técnicas de
é relativo ao aumento na tensão de escoamento, ou integração implícita em modificações do BBM e as
de pré-consolidação, e na rigidez do solo quando validaram em ensaios executados em equipamento
submetido a trajetórias de carregamento virgem. Os triaxial verdadeiro com sucção controlada, obtendo
autores incorporaram estes dois efeitos no modelo bons resultados.
Cam-clay modificado.
Moradessi & Abou-Bekr (1994), Bolzon et al. d) Algumas Contribuições Brasileiras à
(1996) e Baumgartl et al. (2002) também resgataram Modelagem de Solos Não Saturados.
o conceito de tensão efetiva de Bishop (1959) para a
extensão de modelos constitutivos elastoplásticos No Brasil, vários autores também propuseram
previamente elaborados para solos saturados. Loret modelos ou adaptações de modelos preexistentes,
& Khalili (2002), a partir de trabalhos prévios de essencialmente, com o intuito de descrever o
Khalili & Khabbaz (1998), apresentaram uma colapso. Várias das contribuições brasileiras iniciais
diferente interpretação da tensão efetiva de Bishop se concentravam na tentativa de modelagem do
(1959). Bishop concedeu ao parâmetro χ um colapso, usando implementações e adaptações da
significado geométrico, enquanto eles o conceberam proposta de Nobari & Duncan (1972). Citam-se os
como função da sucção. Adaptações no modelo trabalhos de Pereira (1986) e Miranda (1988), os
Cam-clay modificado foram realizadas, quais usavam modelos elásticos não lineares com
especialmente na forma elíptica da superfície de diferentes conjuntos de parâmetros para o solo no
plastificação. O valor de entrada de ar também foi estado saturado e natural. Nestes trabalhos originais
considerado nas formulações. Para validação do a influência da sucção não entrava diretamente nas
modelo desenvolvido, eles utilizaram os resultados análises numéricas. Embora esta linha esteja sendo
de ensaios de Wheeler & Sivakumar (1995). gradualmente abandonada, ainda mantém adeptos,
Kato (1997), por sua vez, utilizou-se dos por exemplo, Miranda & Silva Filho (1998),
conceitos de plano espacialmente mobilizado e do utilizaram um modelo elástico não linear em que a
tensor modificado tij , além de outras considerações sucção, na estimativa do colapso, não é considerada
uma variável de estado de tensão, mas apenas uma
do modelo tij-sand (Nakai, 1989), para formalizar
variável de estado interferente nos parâmetros
um modelo constitutivo para solos não saturados. elásticos.
Matsuoka et al. (2002) aplicaram a extensão do Seguindo a escola canadense, Pereira (1996)
conceito de plano espacialmente mobilizado, analisou o comportamento de barragens de terra
inicialmente idealizada para retratar a influência da colapsíveis (barragens sonrisal) durante o primeiro
coesão, e aplicaram-na interpretação do efeito enchimento do reservatório e propôs alterações no
coesivo causado pela sucção. Diferentemente do modelo elástico incremental de Fredlund (1979). O
modelo de Kato (1997), eles empregaram outro intuito principal era justificar seus resultados de

535
ensaios e observações experimentais de Lawton et relações elásticas não-lineares ou elasto-plásticas
al. (1992) decorrentes da dependência entre o podem ser escritas como (usando notação indicial):
colapso e a tensão total média em trajetórias
monotônicas de molhagem. Essencialmente, Pereira σ& ij = Dijkl ε&kl − H ij ( u& a − u& w ) (10)
(1996) sugeriu a introdução de coeficientes de
anisotropia induzida pelo estado de tensão (1+χi), os
quais multiplicam o incremento de sucção no lado onde Dijkl é um tensor de quarta ordem e Hij é um
tensor de segunda ordem. O tensor D fornece o
direito das expressões do incremento de deformação
acréscimo de tensões devido exclusivamente às
normal (dεi) na Equação (3). Os fatores de variações de deformação do esqueleto sólido,
anisotropia, χ x , χ y e χ z são obtidos de tal modo enquanto que H fornece o acréscimo de tensões
que χ x + χ y + χ z =
0 . Esta condição permite que a devido a variações na sucção matricial. Este
segundo tensor é o principal elemento que distingue
inclusão desses fatores não modifique a deformação os modelos constitutivos para solos não saturados
volumétrica, mas apenas os componentes de daqueles elaborados para solos saturados. Na
incremento de deformação normal individualmente. Equação (10) temos seis equações (de fato nove,
Na linha de modelagem constitutiva elasto- mas o tensor de tensões é simétrico) em função de
plástica, Futai (1997), por exemplo, realizou ensaios sete variáveis, quais sejam: os 6 componentes de
oedométricos com sucção controlada em amostras deformação e a sucção matricial (ou apenas a
indeformadas de um latossolo argiloso altamente pressão na água, caso de considere a pressão no ar
colapsível. Em suas análises, ele assumiu p igual a constante ou nula).
A Equação (10) é suficiente quando se deseja
tensão vertical, o que é questionado por Gitirana Jr.
reproduzir o comportamento do solo, simulando
(1999), uma vez que diversos autores observaram
ensaios de laboratório onde as condições de sucção
sensíveis variações de K 0 em trajetórias de redução e tensão são controladas e a deformação medida ou
de sucção, fazendo com que a variação da tensão vice-versa. Entretanto, para aplicações da Mecânica
vertical não reflita a variação da tensão média dos Solos Não Saturados a problemas reais não
(Daylac, 1994; Pereira, 1996, Oliveira, 1998 e conhecemos estas variáveis e sim certas condições
Peixoto, 1999). O modelo elaborado por Futai de carregamento imposto e condições de contorno
(1997) limita-se à condição de tensões isotrópicas e (Boundary Value Problems). A solução do problema
foi fundamentado com base em ajustes dos modelos requer o atendimento de condições de campo como,
de Alonso et al. (1990) e Wheeler & Sivakumar por exemplo, a condição de equilíbrio, que é escrita
como:
(1995), de modo a considerar tanto os casos em que
o coeficiente de compressibilidade do solo em
estado virgem é crescente, quanto os casos em que σ& ij ,i + b&i = 0
(11)
ele é decrescente com o aumento de sucção
matricial. O coeficiente de compressibilidade κ foi
onde bi representa um conjunto de forças de massa.
também assumido dependente da sucção matricial.
Machado (1998), por sua vez, utilizou adaptações
na estrutura da proposição de Balmaceda (1991). A Equação (11) fornece um sistema de 3 equações,
Além disso, motivado por ensaios em solo não representado o equilíbrio de forças em cada direção,
para seis incógnitas (os componentes de tensão).
saturado colapsível, ele observou a inadequação do
Para expressar o equilíbrio em termos de
uso da superfície de plastificação do modelo Cam- deslocamentos, como é feito na maioria das
clay modificado generalizada em ensaios cuja formulações numéricas, precisa-se ainda das
plastificação é atingida à esquerda da linha de equações de compatibilidade entre deslocamentos e
estados críticos. (pequenas) deformações:
7. FORMULAÇÃO DE PROBLEMAS DE 1
CONTORNO ε&ij
=
2
( u&i, j + u&i, j )
(12)
Os modelos constitutivos são relações válidas
para cada ponto de um meio contínuo (ou um ponto A substituição da Equação (12) no modelo
de integração num esquema numérico). Por serem constitutivo e do sistema resultante nas equações de
em geral altamente não lineares, os modelos são equilíbrio, resulta num sistema de três equações e 4
formulados em termos de taxa de variação ou incógnitas (três componentes de deslocamento e a
incrementos infinitesimais de tensão ( σ& ij ou dσ ij ), sucção matricial). Portanto, ao contrário do que
ocorre com solos saturados, é impossível resolver
deformação ( ε&kl ou d ε kl ) e sucção um problema de contorno em solos não saturados
( u& − u& ou d (u − u ) ). Para o caso genérico estas
a w a w com base apenas na equação de equilíbrio (a menos

536
que a sucção matricial seja conhecida ou imposta Tabela 2. Resumo das equações e incógnitas num
em todo o domínio). problema acoplado.
A condição extra a ser atendida para tornar o Equações ΣNEq Incóg. ΣNinc.
problema solúvel é a equação de continuidade de
massa. Esta pode ser escrita em termos da umidade σ& ij ,i + b&i = 0 3 6σ ij 6
volumétrica θ (volume de água dividido pelo
6ε kl ,
volume de vazios): σ& ij = Dijkl ε&kl − H ij ( u& a − u& w ) 9 13
uw
θ& + vi ,i = 1
0 (13) ε&ij
=
2
( u&i, j + u&i, j ) 15 3ui 16

onde vi é a velocidade aparente de fluxo. θ& + vi ,i = 0 16 3vi ,θ 20

vi = kij h, j 19 h 21
Acrescentou-se uma equação ao sistema e quatro
incógnitas adicionais (a umidade volumétrica e três 1
componentes de velocidade de fluxo). Novamente =h uw − a x
i i 20 - 21
γw
são necessárias equações constitutivas, agora para a
fase líquida, a qual pode ser obtida pela lei de Darcy θ& =β1wε&kk + β 2w ( u& a − u& w ) 21 - 21
generalizada para solos não saturados:
Finalmente, fazendo as devidas substituições é
vi = kij h, j possível escrever as quatro equações fundamentais
(14) do problema (três de equilíbrio e uma de
continuidade) em função de quatro variáveis
onde kij é um tensor de permeabilidades (com fundamentais (3 componentes de deslocamento e
coeficientes dependentes do estado de tensão e/ou uma de pressão no fluido). De forma genérica pode-
sucção matricial) e h é a carga hidráulica total. Esta se escrever:
é calculada em função da pressão na água (uw) e da
energia específica devido ao campo gravitacional: Ei (u&i , u& w ) = 0
(17)
C (u&i , u& w ) = 0
1
=h u w − ai xi
γ w
(15) A Equação (17) representa um sistema de 4
equações diferenciais parciais em função das taxas
de variação (ou incrementos infinitesimais) de
onde xi é um vetor com as coordenadas (x,y,z) do deslocamentos e de poro-pressão na água. Caso se
ponto e ai é um vetor com a direção das forças deseje, ou seja necessário, incluir a pressão no ar
massa (geralmente tem-se a={0,1,0}T, se só atuar o (ua) como mais uma variável independente, seria
campo gravitacional). necessário incluir também a equação de
continuidade e modelos constitutivos para esta fase.
Ainda restam mais incógnitas do que equações. A Para obtenção da solução do sistema de equações
última equação necessária é o modelo constitutivo diferenciais, Eqs. (17), deve-se estabelecer
para a variável de armazenamento θ. Usando a apropriadamente as condições de contorno e as
noção de superfícies de estado é possível expressar condições iniciais do problema. Devido à alta não-
este modelo de forma genérica como: linearidade do problema não é possível obter
soluções analíticas, devendo-se recorrer a soluções
numéricas.
θ& =β1wε&kk + β 2w ( u& a − u& w ) (16) A solução numérica de um problema de
acoplamento hidro-mecânico requer a discretização
das equações de equilíbrio e fluxo no espaço e no
onde β1w é um coeficiente que expressa a variação tempo. A discretização no espaço pode ser obtida
do volume de água nos poros para uma dada por intermédio do método de Galerkin e/ou
eventualmente do princípio dos trabalhos virtuais. A
deformação volumétrica do esqueleto sólido e β 2w é discretização no tempo geralmente utiliza o método
um coeficiente que relaciona a variação do volume das diferenças finitas. Maiores detalhes sobre a
de água nos poros com o incremento de sucção. solução de problemas de adensamento acoplado em
solos não saturados podem ser encontrados em
Agora tem-se 21 equações e 21 incógnitas como é Lloret & Ledesma (1993), Pereira (1996), Li et al.
resumido na Tabela 2. (1999), Cordão Neto (2001). Estas formulações
foram implementadas em diversos programas de

537
elementos finitos, tais como Code-Bright, Coupso e fundamentando-se em conceitos avançados de
Allfine. plasticidade e da teoria dos estados críticos. Este
novo modelo, denominado tij-unsat, herdou
8. CONTRIBUIÇÕES NO 5º N-SAT características dos modelos de Barcelona (Alonso et
al., 1990) e tij-clay (Nakai & Matsuoka, 1986). Do
As contribuições apresentadas na sessão de primeiro, empregou-se a formulação para condições
“Modelagem Numérica” do 5º Simpósio Brasileiro isotrópicas. Do segundo, por sua vez, aplicou-se
de Solos Não Saturados podem ser divididas em essencialmente os conceitos de plano espacialmente
duas categorias: aplicações e desenvolvimento mobilizado (SMP), tensor modificado tij e critério de
teórico. ruptura de Matsuoka-Nakai. De modo a encaixar os
A maioria absoluta dos trabalhos se concentrou referidos conceitos e superar alguns inconvenientes
na aplicação de códigos numéricos acadêmicos ou herdados de ambos os modelos, diversas
comerciais a problemas específicos de interesse da modificações e generalizações foram propostas.
Mecânica dos Solos não Saturados. O tipo de Dentre estas, vale destacar: previsão do colapso para
aplicação mais explorado está ligado a problemas de o caso em que o coeficiente de compressibilidade λ
estabilidade de taludes, entre os quais se enquadram é crescente com o aumento de sucção matricial e
os trabalhos de Santos & Vilar (2004 a,b), Cordão para o caso em λ decresce com a sucção matricial;
Neto et al. (2004), Cordão Neto & Farias (2004). e generalizações dos conceitos de SMP, do tensor
Outros trabalhos fizeram retroanálises e reproduções modificado tij, da relação tensão-dilatância e do
de resultados de ensaios de campo e/ou laboratório critério de ruptura Matsuoka-Nakai, de modo a
(Costa et al., 2004, Romero et al., 2004, Silva Filho, considerar não só a existência da sucção matricial,
2004). Problemas de transporte de solutos foram mas também de uma coesão natural no solo. O
explorados nos trabalhos de Guimarães et al. (2004) modelo proposto é testado para uma grande
e Miranda et al. (2004). O tópico de interação solo- variedade de trajetórias de tensão e sucção,
atmosfera foi discutido nos trabalhos de Oliveira et conseguindo reproduzir adequadamente o
al. (2004) e de Borma & Karam Filho (2004). comportamento de diferentes tipos de solos.
Dentre os trabalhos aplicados que envolviam O trabalho de Romero et al. (2004) mostra
análises de tensões a maioria usou como relação aplicações de um modelo constitutivo capaz de
constitutiva modelos elasto-plásticos com reproduzir razoavelmente o comportamento de uma
endurecimento, em especial o Barcelona Basic mistura de caolinita e areia sujeita a ciclos de
Model (BBM). Os códigos computacionais em que sucção. Embora o trabalho não seja especificamente
este modelo foi implementado e utilizado nos sobre o desenvolvimento do modelo, faz-se uma
trabalhos apresentados foram o CODE-BRIGHT e o breve descrição e alguns pontos merecem ser
ALLFINE. Ambos os programas têm a capacidade destacados. Trata-se de um modelo elasto-plástico
de realizar análises com acoplamento hidro- com endurecimento proposto por Alonso et al.
mecânico. Ressalta-se, entretanto, que o programa (1999) para simular o comportamento de solos
Code-Bright integra ainda os acoplamentos térmicos expansivos. O modelo considera dois níveis
e químicos. estruturais e o acoplamento entre eles. O nível
Quanto aos trabalhos que realizaram a análise micro-estrutural é associado com a resposta da
isolada de problemas de fluxo, a maioria utilizou o matriz bentonítica, cujo comportamento é simulado
pacote comercial SEEP/W, muitas vezes acoplado com um modelo volumétrico elástico. O nível
com o programa SLOPE/W para análise de macro-estrutural é associado com o esqueleto sólido
estabilidade. Diferentes modelos constitutivos foram e descrito pelo Barcelona Basic Model (BBM). O
empregados para a curva de retenção e para a acoplamento entre estes dois níveis permite simular
condutividade hidráulica. o acúmulo de deformações permanentes na macro-
Com relação aos novos desenvolvimentos em estrutura, quando deformações reversíveis se
modelagem constitutiva, dá-se destaque aos desenvolvem na micro-estrutura. Apesar de diversas
trabalhos Soto & Vilar (2004), Pinheiro et al. (2004) hipóteses simplificadoras, a formulação do modelo
e Romero et al. (2004). No trabalho de Soto & Vilar bem como a determinação de seus parâmetros ainda
(2004) propõe-se utilização da geometria fractal é complexa. Entretanto, esta linha de pesquisa que
como uma ferramenta alternativa para previsão das tenta associar micro e macro-estrutura vem sendo
propriedades de retenção de água de solos. O perseguida em diversos países.
modelo é desenvolvido com simplicidade e
facilmente calibrado a partir de duas medidas de 9. ALGUNS PONTOS PARA REFLEXÃO.
umidade com os respectivos valores de sucção. A
aplicação bem sucedida na previsão da curva de • A linha de desenvolvimento de modelos
retenção em solos com diferentes texturas ilustra a constitutivos que utiliza a definição de variáveis
grande potencialidade do modelo. de estado, com utilização de tensores de tensão
Pinheiro et al. (2004) mostram o desenvolvimento líquida e sucção matricial, tem obtido maior
de um novo modelo para solos não saturados, aceitação nos principais grupos de pesquisa

538
sobre solos não saturados, no Brasil e no os incrementos (de deformação, sucção, tempo,
mundo. Entretanto, ainda há muitos grupos que etc) impostos nas análises estão longe de ser
perseguem a busca de uma definição de tensões infinitesimais? Tem-se verificado ou não o
efetivas para solos não saturados, e a simulação atendimento à condição de consistência (estado
do comportamento destes com modelos de tensão-sucção sobre as devidas superfícies de
empregados dentro do contexto de solos plastificação) ao final de cada incremento? Caso
saturados, porém com parâmetros dependentes não se atenda à condição de consistência, o que
da sucção. tem sido feito para corrigir, principalmente
• Na maioria dos trabalhos apresentados que quanto se tem superfícies complexas?
utilizam modelos constitutivos para a relação • Como impor adequadamente as condições de
tensão-deformação de solos não-saturados, contorno? Por exemplo, como tratar de
aparentemente há uma convergência em direção condições de contorno variáveis como em filtros
aos modelos elasto-plásticos, como os baseados antes da chegada da frente de saturação? Como
no BBM. Entretanto, alguns modelos tratar adequadamente as condições de contorno
apresentam um número exagerado de de infiltração durante chuvas intensas e depois
constantes, muitas das quais não apresentam que elas param?
significado físico e são de difícil obtenção. • Além das condições de contorno, o problema
• Em vários modelos constitutivos, deve avançar no tempo a partir de uma condição
principalmente para o fluxo não saturado e inicial. A principal dificuldade é como definir e
retenção de água, mas também para a relação impor os valores iniciais de sucção em todo o
tensão-deformação, faz-se uso das chamadas domínio de estudo. A maioria dos casos em que
“superfícies de estado”. Estas superfícies são em se aplica uma sucção constante (qual o valor?)
geral ajustes de curvas com muitos coeficientes parte de uma situação que não está em
sem sentido físico. Na opinião deste relator, esta equilíbrio de fluxo.
linha de atuação pode produzir resultados, mas • Quais os reais benefícios e custo ao se tratar
não leva ao desenvolvimento de “modelos” no todo o complexo grau de acoplamento dos
sentido mais preciso da palavra. fenômenos intervenientes? Até que ponto uma
• Uma nova tendência em diversas escolas é a análise não acoplada é suficiente? O
tentativa de unir observações relativas à micro- acoplamento químico, por exemplo, cria um
estrutura com variáveis macro-estruturais. Esta grau de liberdade adicional para cada tipo de
abordagem pode levar à solução de problemas soluto. Qual o custo de se realizar este tipo de
complexos como anisotropia, comportamento de análise, principalmente em condições 3D, e
solos estruturados, solos cimentados, etc. Este quais as possíveis alternativas simplificadoras?
tipo de modelo também ajudar a aproximar as • Como avançar na simulação do difícil problema
experiências de pesquisadores mais afeitos a de interação solo-atmosfera, envolvendo
análises de ensaios de laboratório e aqueles mais variações cíclicas?
devotados à busca de expressões analíticas para
os modelos constitutivos. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Grande parte dos desenvolvimentos de modelos
no mundo (e todos no Brasil) é baseada em Alonso, E.E, Gens, A. & Josa, A. (1990). A
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uma série de problemas numéricos que não têm Alonso, E.E., Vaunat, J. & Gens, A. (1999).
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542
Tema 3:

Retenção de Água, Fluxo e


Geotecnia Ambiental

543
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Transporte de massa e mecanismos de retenção em solos não


saturados.

Machado,
(1)
S. L.(1), Zuquette, L. V.(2)
Professor Doutor, Depto. Ciência e Tec. dos Materiais, UFBA, Salvador/BA, smachado@ufba.br
(2)
Professor Associado, Depto. de Geotecnia da EESC/USP, São Carlos/SP, lazarus1@sc.usp.br

Resumo: Este trabalho apresenta uma pequena revisão bibliográfica sobre o tema transporte de massa e
mecanismos de retenção em solos não saturados, realizada pelos autores com vistas a subsidiar a discussão
dos trabalhos técnicos apresentados no 5o Simpósio Brasileiro de Solos Não-Saturados. Os trabalhos
pesquisados na literatura técnica e apresentados neste simpósio tratam de aspectos importantes relativos ao
fluxo de água em meios não saturados, como o desenvolvimento e análise de técnicas de laboratório e campo
para obtenção das curvas de condutividade hidráulica e de sucção dos solos, levantamento de dados,
interpretação e estudo de aspectos importantes de solos brasileiros e a proposição e uso de diversos modelos
para representação dos complexos fenômenos envolvidos. Da mesma forma, ênfase é dada aos processos
envolvidos no transporte de massa em meios não saturados, como a difusão, adsorção, desorção e os
coeficientes de partição dos poluentes entre as diversas fases envolvidas.

Abstract: This work presents a short bibliographical revision on the themes water flow, mass transport and
sorption mechanisms in unsaturated soils. Some basic concepts based on several authors are present in this
document to give support to the discussion of the technical works presented in the 5th Brazilian Symposium
of unsaturated soils. The bibliographical revision presented in this paper consider important aspects related to
the water flow in unsaturated geological materials, as well as the development and analysis of field and
laboratorial techniques for obtaining of hydraulic conductivity and soil water characteristic curves, collecting
of data, interpretation and study of specific aspects of Brazilian soils and the proposition of several models
for representation of the involved phenomena. In the same way, is given emphasis to the mass transport
processes in unsaturated conditions, as diffusion, adsorption, desorption and partition coefficients of the
multiphase components.

1. INTRODUÇÃO conhecimento, residindo aí uma mola propulsora


importante do desenvolvimento técnico e científico.
É muito bem reconhecida a importância que os Nesse sentido, faz-se necessário uma padronização
fenômenos envolvendo o transporte de massa em da nomenclatura utilizada, aproximando diálogos e
meios porosos têm para o meio geotécnico. Trata-se, maximizando as possibilidades de transformação.
contudo, de um assunto complexo, situado em uma Ainda nesta linha, é com satisfação que se observam
região do conhecimento humano de interesse de nos trabalhos apresentados neste simpósio,
diversas linhas de trabalho, que envolvem diferentes origens, em um movimento que se
profissionais com formação bastante diferenciada. continuado fatalmente resultará em grandes
Como não poderia deixar de ser, o envolvimento de benefícios para todos.
diferentes profissionais fomenta o aparecimento de Nos estudos de transporte de massa em meios
múltiplas definições para a mesma coisa, mesma porosos, a advecção, ou seja, o transporte de
definição para coisas diferentes, diferentes escalas substâncias dissolvidas pelo movimento da água,
de trabalho, dentre outras dificuldades. desempenha um papel fundamental. Quando o fluxo
Assim, por muitas vezes, geotécnicos, de água ocorre na zona não saturada, ou zona
hidrogeólogos, geoquímicos, profissionais do ramo vadosa, há uma predominância de fenômenos
da geofísica aplicada e engenheiros agrônomos transientes, onde o conhecimento da curva de
ligados à física dos solos se vêem envolvidos em condutividade hidráulica e das características de
diálogos quase que incompreensíveis, que acabam retenção de água pelo solo é fundamental. Neste
por gerar fobias quase que insuperáveis. Não caso, o conhecimento da permeabilidade saturada
obstante, vale ressaltar que progressos importantes das camadas do subsolo não é informação suficiente
têm sido obtidos no seio das interfaces de para o entendimento e/ou modelagem do fluxo de

545
água. É necessário que se conheça também, a química) e a associação mineralógica afetam as
variação da permeabilidade com a umidade ou forças atuantes de maneira diferentes, enquanto que
sucção do meio. Por outro lado, a parcela do a temperatura, composição química (solutos
potencial da água referente à pressão será negativa e dissolvidos) e pressão da solução aquosa afetam a
dependerá fundamentalmente da curva característica relação da mesma com os materiais geológicos.
ou de retenção de água do solo. Considerando as diferentes interfaces envolvidas
Além disto, sabe-se haver uma estreita relação no fluxo não saturado pode-se considerar 2 tipos de
entre as propriedades mecânicas do solo e os forças que atuam no meio poroso e que regem a
potencias energéticos da água, para uma condição retenção de água : as capilares e as de adsorção, que
de não saturação. Fenômenos como expansão e predominam após a drenagem livre de um meio
colapso, típicos de solos não saturados, estão poroso saturado, sendo que quanto mais seco este
ligados intimamente com o fluxo de água no estiver maior será o predomínio das forças de
subsolo, requerendo para o seu perfeito adsorção.
entendimento um conhecimento das curvas de As forças de adsorção são então mais atuantes a
condutividade hidráulica e característica de sucção partir de um nível de umidade, porém em qualquer
do material. Problemas de instabilização de encostas condição de umidade interferem no processo de
estão relacionados profundamente com a infiltração transporte de poluentes, seja quanto aos processos
de água de chuva e de outras fontes na zona não de sorção, dispersão mecânica ou difusão molecular.
saturada. Estes tópicos serão abordados de forma As análises do fenômeno água-meio poroso
mais apropriada nas seções específicas deste podem ser realizadas sob o aspecto microscópico,
Simpósio. quando se considera os aspectos moleculares ou
Além do movimento da água, ocorrem interações sub-moleculares a partir de recursos estatísticos ou
importantes entre solutos, fases livres de da mecânica quântica ou sob o aspecto
contaminantes imiscíveis, partículas sólidas, ar e macroscópico, envolvendo propriedades espaciais
água intersticiais. É necessário que se leve em implícitas ou explicitas. Assim, quando das análises
consideração fenômenos como difusão molecular, macroscópicas são desconsideradas processos e
adsorção, desorção, decaimento e que se estude a detalhes microscópicos, e tem-se o uso dos
partição dos poluentes entre as diversas fases princípios clássicos da termodinâmica, mecânica do
envolvidas. Em se tratando da zona não saturada do contínuo e métodos empíricos.
solo, é necessário que se avalie a variação do Neste trabalho são apresentadas, de forma
comportamento destes fenômenos com a sucção, bastante resumida, algumas reflexões pontuais sobre
grau de saturação ou umidade do solo. os tópicos citados acima, com vistas a subsidiar a
O fluxo em condições não saturadas é um caso discussão dos trabalhos apresentados neste simpósio
particular de fluxo multifase em meios porosos, e traçar um panorama, ainda que superficial, dos
sendo que em materiais geológicos, normalmente assuntos que têm merecido maior destaque pela
em ambiente natural, os poros estão preenchidos por comunidade científica.
água e ar. O termo multifase é utilizado também no
caso de fluidos imiscíveis, sendo o fluxo 2. CURVA CARACTERÍSTICA DE SUCÇÃO
influenciado pelas propriedades das interfaces
fluido-fluido e fluido–sólido. Denomina-se normalmente de curva característica
Os materiais geológicos (solos e rochas) são de sucção ou curva de retenção de água do solo a
constituídos por minerais, materiais orgânicos e relação existente o seu conteúdo de água e a sucção
colóides. A água pode coexistir na forma sólida, da água intersticial. Além das duas denominações
liquida e gasosa, e as forças existentes nas interfaces apresentadas acima, aparecem de maneira freqüente,
sólido-líquido, líquido-gás e sólido-gás influenciam muitas outras, como curva característica de retenção
o comportamento da água no interior dos materiais de água, curva característica, etc. Do mesmo modo,
geológicos, assim como o comportamento de não há uma padronização quanto a forma de
moléculas, íons inorgânicos e orgânicos. apresentação da curva característica. A sucção
As interações podem ser observadas e estudadas aparece, tanto no eixo das abscissas quanto no eixo
em condições macro e microscópicas, em períodos das ordenadas, em escala normal ou logarítmica. O
de tempo curtos ou longos, com variação ou não de conteúdo de água aparece sempre em escala normal,
volume do material poroso. mas é expresso de diferentes formas, a partir da
Quando em estudos de longo prazo é fundamental umidade gravimétrica, umidade volumétrica ou do
a consideração da ação química da água sobre a fase grau de saturação do solo. Pode-se dizer também
sólida, o que causa modificações em ambos, assim que são minoria os trabalhos que especificam o tipo
como os compostos químicos dissolvidos na água e de medida de sucção realizada, se total ou matricial.
que afetam diretamente as relações entre estas A figura 1 apresenta curvas características de
forças. sucção típicas para solos arenosos e argilosos
As características espaciais (fabric) das partículas (Presa, 1982). Nesta figura, a sucção está
sólidas, a constituição mineral (cristalográfica e representada no eixo das ordenadas, em função do

546
logaritmo da carga hidráulica, em cm (pf) e o redistribuição de umidade, pode-se encontrar, para
conteúdo de água está representado no eixo das um mesmo solo e em condições de equilíbrio de
abscissas, em função da umidade gravimétrica. Esta sucção, diferentes valores de umidade. Rojas (2002)
é uma representação ainda muito em uso em apresenta uma proposta para modelagem dos ciclos
trabalhos relacionados com a física dos solos, de umedecimento e secagem da curva característica
embora neste caso a umidade volumétrica seja a de sucção do solo.
mais utilizada.
A figura 2 apresenta curvas características obtidas
por Villar & de Campos (2002), em função da
sucção total e matricial, para um rejeito da indústria
de produção de alumínio. Conforme se pode
observar, neste caso a sucção se encontra
representada no eixo das abscissas, em escala log,
em função da umidade gravimétrica, apesar de os
autores também apresentarem os resultados em
termos de grau de saturação e umidade volumétrica.

Figura 2 – Curvas características obtidas em termos


de sucção total e matricial. Modificado de Villar e
De Campos (2002).

Conforme se pode observar da figura 2, além da


histerese, a curva característica poderá diferir
bastante em função do método utilizado para a
medida da sucção. A diferença entre a sucção total e
a matricial (componentes de capilaridade e
adsorção) será tanto maior quanto maior for a
Figura 1: Curvas características típicas para solos quantidade de solutos dissolvidos (influência da
argilosos e arenosos e o fenômenos da histerese das componente de sucção osmótica). A tabela 1 ilustra
curvas características de sucção. Modificado de algumas das técnicas utilizadas para a realização de
Presa (1982). medidas de sucção. Maiores detalhes sobre a
utilização das técnicas apresentadas na Tabela 1
Conforme se pode observar da figura 1, a curva podem ser obtidas em Fredlund & Rahardjo (1993),
característica de sucção é dependente da trajetória Ridley (1993), Ridley & Burland (1993), Marinho
seguida durante o ensaio, se de secagem, & Chandler (1995), Woodburn & Lucas (1995),
umedecimento ou mista e este fenômeno é Ridley & Burland (1996), Harrison & Blight (1998),
denominado de histerese. O fenômeno da histerese é Ridley & Burland (1999), Tarantino & Mongioví
explicado por meio de diferentes causas, como a (2002) e Shuai et al. (2002).
geometria não uniforme dos poros, A partir da análise dos trabalhos apresentados na
intercomunicados por pequenas passagens, o efeito literatura técnica, observa-se um movimento
do ângulo de contato, que varia em função da crescente para a utilização conjunta de diferentes
trajetória seguida, a ocorrência de bolhas de ar técnicas para obtenção de curvas características de
aprisionadas, que influenciam a trajetória de sucção. Para baixas sucções (até cerca de 10 kPa),
umedecimento e as variações de volume sofridas tem sido freqüente o uso da placa de pressão. Para
por expansão e retração (Presa, 1982; Poulovassilis, sucções intermediárias, até cerca de 500 kPa, tem
1962 e Hillel, 1980). Assim, durante os processos de sido freqüente o uso das técnicas de translação de

547
eixos e para valores de sucção maiores, o uso do Nestas equações, θr e θs são as umidades
papel filtro tem ganhado destaque (Machado & volumétricas residual e de saturação,
Vilar, 1998; Feuerharmel et al., 2004; Soto & Vilar, respectivamente; ψ é a sucção da água intersticial,
2004; Custódio et al., 2004; Oliveira & Marinho, ψ r é o valor de sucção para a umidade residual, a
2004; Mahler & Oliveira, 1998). corresponde a uma aproximação do valor de entrada
de ar do solo e α, n e m são constantes empíricas.
Tabela 1: Algumas das técnicas utilizadas para
medidas se sucção em solos Na equação 2, e corresponde à base dos logaritmos
neperianos.
Componente da Range
Técnica A curva característica de sucção tem se tornado,
sucção medida (kPa) nos últimos anos, a ferramenta básica de
Papel filtro Total e matricial 10 - 30000 caracterização dos solos não saturados. Além dos
Sensor de aspectos relativos à sua utilização mais evidente,
Matricial 0 - 400 como uma peça necessária para a resolução de
condutividade térmica
Tensiômetros Matricial 0 - 70 problemas de fluxo transiente e dos usos
consagrados na agricultura, para a determinação da
Micro tensiômetros Matricial 0 - 1500
capacidade de campo e do ponto de murcha dos
Técnica de translação solos, a curva característica tem sido utilizada para
Matricial 0 - 1500
de eixos de Hilf previsão da resistência ao cisalhamento e da curva
Equilíbrio de vapor Total 3000-3E05 de condutividade hidráulica dos solos não saturados
Placas de pressão Matricial 0 - 70 (Kunze et al., 1968; Öberg & Sällfors, 1995; Öberg
Psicrometros Total 500 - 8000 & Sällfors, 1997; Fredlund et al., 1995; Machado &
Vilar, 1998).
Por outro lado, diversas modificações têm sido Os trabalhos mais recentes para previsão da curva
propostas para acelerarem a obtenção de resultados característica de sucção empregam técnicas não
com o uso da técnica de translação de eixos (Fourie tradicionais, como a teoria dos fractais (Bacchi et
& Papageorgian, 1995; Machado & Dourado, 2001; al., 1996; Tyler & Wheatcraft, 1990; Soto & Vilar,
Botelho et al., 2001). Uma das alternativas 2004) e o uso de imagens 3D, obtidas a partir de
utilizadas é a obtenção da sucção matricial a partir ensaios de tomografia computadorizada, por
de medidas da pressão de equilíbrio da água e não exemplo (Delerue, & Perrier, 2002).
da umidade de equilíbrio do solo. Após a drenagem Além dos métodos existentes para medidas de
de uma determinada quantidade de água, as sucção no solo, diversos métodos têm sido
drenagens são fechadas e medem-se as pressões de aprimorados para a realização de medidas indiretas
água ao longo do tempo, sendo a sucção de umidade. Diversos trabalhos encontrados na
determinada de forma convencional, a partir da literatura ilustram o uso de técnicas e equipamentos
diferença entre as pressões de ar e água. como a sonda de nêutrons, TDR e GPR para
Diversos modelos empíricos têm sido propostos medidas de umidade em solos não saturados (Topp
na literatura técnica especializada para a & Davis, 1985; Topp, 1987; Conciane et al. 1996;
representação da curva característica de sucção dos Carneiro & Conciane, 1997; Trichês & Pedroso,
solos. Uma abordagem aprofundada sobre estes 2002; Costa & Cintra, 2001; Botelho et. al. 2003;
modelos e sua adequação aos solos Brasileiros pode Machado et al. 2004; Beres & Haeni, 1991, Greaves
ser encontrada em Gerscovich (2001), Gerscovich & et al., 1996; Hagrey & Müller, 2000; Smith et al.
Sayão (2002) e Gerscovich et al. (2004). Pode-se 2002; Davis & Annan, 1989). TDR e GPR são duas
dizer, contudo, que os dois modelos empíricos mais técnicas indiretas para a realização de medidas de
amplamente utilizados para a reprodução da curva umidade no solo que seguem o mesmo princípio de
característica dos solos são os propostos por Van funcionamento (i.e., a influência que a água tem na
Genuchten (1980) e Fredlund & Xing (1994). As constante dielétrica do solo), sendo no entanto
equações 1 e 2 apresentam estes modelos, utilizadas em escalas diferenciadas.
respectivamente. A influência do processo de compactação nas
curvas características de sucção tem sido objeto de
pesquisa de diversos autores (Stoicescu et al., 1998;
Rezende et al., 2001; Sugii et al., 2002; Melgarejo et
(1) al., 2002; Leong & Rahardjo, 2002; Oliveira &
Marinho, 2004; Delgado & Carvalho, 2004).
Vertamatti & Araújo (2002) apresentam curvas
características obtidas para diferentes amostras de
solo compactadas segundo a metodologia MCT. Os
resultados obtidos são analisados considerando a
gênese e a granulometria dos solos ensaiados.
Devido ao crescente interesse na área ambiental,
(2) alguns autores vêm reportando, cada vez com maior
548
frequência, a determinação da curva característica de água, há um decréscimo mais acentuado da curva
de sucção de rejeitos e insumos industriais (Villar & de condutividade hidráulica dos solos grossos,
de Campos, 2002; Hernandez Moncada et al., 2004; quando expressa em termos de sucção, podendo,
Abrão & Marinho, 2004). inclusive, estes virem a apresentar valores de
condutividade hidráulica menores do que os solos
3. CURVA DE CONDUTIVIDADE argilosos, para altos valores de sucção. A figura 5
HIDRÁULICA DOS SOLOS ilustra duas curvas de condutividade hidráulica
típicas obtidas para areias e solos argilosos, quando
À medida em que decresce o conteúdo de água expressas em termos da umidade volumétrica e da
em um solo, há cada vez menos espaço disponível sucção matricial.
para que o fluxo de água aconteça. Isto faz com que
haja uma dificuldade cada vez maior para a
passagem da água, ou, em outras palavras, com que
a permeabilidade dos solos não saturados seja
inferior à permeabilidade saturada. Mais
recentemente, tem-se reservado o termo
condutividade hidráulica para se referir a
permeabilidade do solo em uma condição não
saturada e o termo permeabilidade para se referir a
condição de saturação. Denomina-se de curva de
condutividade hidráulica a função que relaciona a
permeabilidade não saturada do solo com o seu
conteúdo de água ou sucção. Desta forma, o termo
permeabilidade passa a representar uma condição
particular na curva de condutividade hidráulica do
solo.
Da mesma forma que na curva característica de
sucção, não existe um padrão definido para a
apresentação da curva de condutividade hidráulica.
Pode-se dizer, contudo, que a maioria dos trabalhos
analisados buscam apresentar condutividade
hidráulica do solo ou em função da sucção, em um
gráfico bi-log, ou em função da umidade
volumétrica, em um gráfico semi-log.
Ao contrário da curva característica de sucção, a Figura 3: Efeito da histerese em curvas de
curva de condutividade hidráulica, quando expressa condutividade hidráulica e característica de sucção.
em termos de umidade volumétrica ou grau de Modificado de Fredlund & Rahardjo (1993).
saturação, tem pequena histerese. Quando a curva
de condutividade hidráulica é expressa em termos
da sucção matricial, a histerese da curva
característica é transmitida a esta (Fredlund &
Rahardjo, 1993). A figura 3 apresenta curvas
característica de sucção e de condutividade
hidráulica quando representadas em termos de
sucção matricial. Conforme se pode observar, a
curva de condutividade hidráulica apresenta uma
histerese pronunciada. Quando estes mesmos dados
são expressos em termos de umidade volumétrica
(vide figura 4), a histerese observada é desprezível.
Desta forma e com base no relatado Figura 4: Redução na histerese d curva de
anteriormente, seria interessante a representação da condutividade hidráulica quando a mesma é
curva característica de sucção em termos de expressa em termos de umidade volumétrica.
umidade volumétrica e sucção e da curva de Modificado de Fredlund & Rahardjo (1993).
condutividade hidráulica em termos de umidade
volumétrica e condutividade hidráulica. Diversos são os métodos propostos para se
Conforme se pode observar da figura 1, os solos estimar a curva de condutividade hidráulica de solos
finos perdem água com facilidade, apresentando não saturados, variando desde testes de campo,
muito baixos valores de umidade para relativamente instrumentados com equipamentos para medidas de
baixos valores de sucção. Como a condutividade umidade e sucção até métodos empíricos, que
hidráulica do solo varia em função do seu conteúdo estimam a curva de condutividade hidráulica a partir

549
da curva característica de sucção. Embora possam
ser efetuados em condições extremamente (3)
controladas, os ensaios de laboratório têm a sua
deficiência na qualidade das amostras, já que é
extremamente difícil a obtenção de amostras (4)
verdadeiramente indeformadas e o aparecimento de
trincas e fissuras pode mascarar os resultados Na equação 3, k é o valor da condutividade
obtidos. Outro aspecto a ser considerado é a escala hidráulica do solo e i é o gradiente hidráulico da
do problema: os ensaios de laboratório normalmente energia total da água intersticial, h, dado pela
não são capazes de representar os “defeitos” que equação 4 (freqüentemente, para o caso de fluxo de
existem no solo, como a ocorrência de trincas e água na zona não saturada, são consideradas apenas
fissuras geradas em ciclos de umedecimento e as parcelas de energia referentes à posição e ao
secagem, a ocorrência de vazios causados por raízes potencial matricial, sendo a sucção osmótica
ou pela atividade animal, dentre outros aspectos. Os considerada em alguns poucos casos).
ensaios de campo, apesar de menos controlados, são Os ensaios de laboratório são classificados em
realizados em uma escala maior, obtendo-se uma métodos de fluxo estacionário e métodos de fluxo
maior representatividade do meio. transiente, em função do gradiente hidráulico ser
mantido constante ou variar durante a realização do
ensaio, respectivamente.
Klute (1965) apresenta diversos exemplos de
métodos de fluxo estacionário para a determinação
da curva de condutividade hidráulica, enquanto
Gardner (1956), Hamilton et al. (1981), e Olson &
Daniel (1981), entre outros, apresentam exemplos
de utilização de métodos de fluxo transiente. Os
métodos de fluxo transiente são também
denominados de métodos do perfil instantâneo,
apesar de alguns dos métodos transientes propostos
na literatura mais recente fugirem do arranjo
Figura 5: Curvas de condutividade hidráulica típicas característico do método do perfil instantâneo (ver
de solos arenosos e argilosos. obtidas . (a) gráfico Takeshita & Kohno, 1995 e Fourie & Papageorgian,
bi-log, em função da sucção e (b) gráfico mono-log, 1995, por exemplo). A figura 6 apresenta o esquema
em função da umidade volumétrica. Modificado de de laboratório freqüentemente utilizado para a
Prevedelo (1996). determinação da condutividade hidráulica do solo, a
partir do estabelecimento de um regime de fluxo
A questão da escala do problema, é, aliás, uma estacionário.
das principais fontes das diferenças existentes entre O fluxo de água se dá devido a diferença de
as visões dos profissionais das áreas afins energia entre a entrada e a saída de água do
envolvidas. Enquanto os hidrogeólogos procuram permeâmetro, hw1 – hw2. Tensiômetros (T1 e T2), são
obter parâmetros médios representativos de camadas instalados na amostra, a uma distância dt. Para esta
que se extendem por diversos hectares, geotécnicos situação, para cada estágio de ensaio, o gradiente de
trabalham em alguns metros quadrados. Por energia será dado por i = dt/(hw3-hw4). O valor da
envolverem uma massa maior de solo em suas condutividade hidráulica, para cada valor de sucção,
análises, os hidrogeólogos estão mais acostumados a será obtido a partir dos valores de vazão de água e
considerarem aspectos como balanço hídrico, do gradiente hidráulico. O valor da sucção é
evapotranspiração, recarga de aquíferos e utilizam controlado através do valor da pressão de ar
sistemas de informação geográfica para a geração de aplicada à amostra.
malhas, quando do uso de métodos numéricos para a Devido às dificuldades associadas à determinação
resolução das equações diferenciais envolvidas. da curva de condutividade hidráulica de solos não
saturados, o número resultados de experimentos de
Métodos de laboratório para a determinação da laboratório encontrados na literatura é reduzido,
curva de condutividade hidráulica quando comparado à curva característica de sucção.
Exemplos de trabalhos mais recentes apresentando
Existem diversos métodos de laboratório que resultados de ensaios de laboratório para a
podem ser utilizados para obtenção da curva de determinação da curva de condutividade hidráulica
condutividade hidráulica, sendo que em todos eles é podem ser encontrados em Mateus & Vilar
assumida a validade da lei de Darcy. Em outras (1994),Takeshita & Kohno (1995), Fourie &
palavras, é assumida a proporcionalidade entre a Papageorgian (1995), Fleureau & Taibi (1995),
velocidade de fluxo e o gradiente da energia total da Aversa et al. (1998), Miranda et al. (2004), Engler
água. & Van Lier (2004), dentre outros.

550
o método do perfil instantâneo. Nesta técnica,
denominada de modelagem inversa, são utilizadas
equações como a 1 e a 7 para representação das
curvas característica e de condutividade hidráulica
do solo. Seus parâmetros de entrada são então
ajustados de forma que os resultados previstos, em
termos de umidade e sucção, se ajutem aos dados
experimentais, segundo critérios específicos.
Exemplos mais recentes de aplicação do método da
modelagem inversa para a determinação da curva de
condutividade hidráulica em campo podem ser
encontrados em Alimi-Ichola & Anzoras, (1998) e
Antonino et. al (2002).
Conforme apresentado no item anterior, trabalhos
mais recentes têm utilizado o TDR para a realização
de medidas de umidade no solo. A facilidade e
relativa rapidez na realização das leituras permite
Figura 6: Esquema de laboratório utilizado para a
que a condutividade hidráulica seja estimada em
realização de ensaios para a determinação da curva
processos de umedecimento, em menor tempo em
de condutividade hidráulica do solo. Modificado de
campo, desde que a curva característica do material
Klute (1965).
seja conhecida (Khire et al., 1995 e Machado et al.,
2002).
Métodos de campo para a determinação da curva
Uma abordagem mais simplificada para a
de condutividade hidráulica
estimativa da condutividade hidráulica e da
permeabilidade saturada do solo em campo é obtida
A determinação da curva de condutividade
a partir do uso de infiltrômetros. Nestes métodos,
hidráulica em campo é normalmente realizada
um regime de fluxo estacionário é suposto
utilizando-se o método do perfil instantâneo. O
atravessar uma cavidade de forma e dimensões
procedimento de ensaio consiste basicamente no uso
conhecidas e dadas as condições de contorno do
de anéis metálicos, cavas ou aterros de forma a
problema, mantidas constantes durante o ensaio
isolar uma porção do terreno que será inundada,
geralmente através de um tubo de Mariotte, é
tomando-se o cuidado de manter uma altura de água
possível se calcular a permeabilidade saturada do
constante acima da superfície do solo. Quando o
solo. Mais recentemente, Reynolds & Elrick (1985),
fluxo de água que infiltra no solo se torna constante
baseados na equação de Richards (1931), para
e as medidas de sucção realizadas se estabilizam, o
representar o fluxo permanente de água através de
procedimento de infiltração é interrompido e a
uma cavidade cilíndrica, apresentam uma solução
permeabilidade saturada do solo é calculada. A
analítica que leva em conta o efeito da sucção
partir daí, medidas de umidade e sucção são
matricial do solo no processo de infiltração. Esta
realizadas ao longo do tempo, em diversas
formulação, apresentada nas equações 5 e 6, tem
profundidades, utilizando-se normalmente de sondas
sido utilizada, com e sem a proposição de
de nêutrons e de coleta direta de amostras para a
modificações, por diversos autores na estimativa da
determinação da umidade e de tensiômetros, para a
permeabilidade saturada e da condutividade
determinação da sucção do solo. O processo de
hidráulica dos solos (Xiang et al., 1997; Soto &
fluxo é normalmente assumido como unidirecional,
Vilar, 1999; Souza & Alves, 2003; Vieira, 2001;
razão pela qual as medidas de sucção e umidade
Hudson, 2003; Cunha, et al., 1996; Aguiar, 2001;
devem ser centralizadas e se situarem a uma
Lafhaj & Shahrour, 2002; Da fonte et al., 2001;
profundidade pequena quando comparada às
Garcia-Sinovas et al., 2001; Machado & Vilar,
dimensões da cava de infiltração. Quando somente
2004; Palma & Zuquette, 2004)
um tipo de medida é realizado em campo (sucção ou
umidade), o conhecimento da curva característica é
2
normalmente requerido para a determinação da 2 H 2 2 H
curva de condutividade hidráulica. Olson & Daniel a K fs m Q
C C (5)
(1981) apresentam uma síntese dos métodos
utilizados para a determinação da condutividade
hidráulica do solo através da técnica do perfil Na equação 5, Q [L3T-1] é a taxa de entrada de
instantâneo. água no solo, em regime estacionário, H [L] é a
Muitos algoritmos foram desenvolvidos altura de coluna de água dentro da cavidade, C é um
recentemente para estimativa dos parâmetros de fator de forma (adimensional), a é o raio da
entrada de modelos utilizados na reprodução das cavidade [L], Kfs é a permeabilidade saturada do
curvas de condutividade hidráulica e de sucção dos solo em campo [LT-1] e φ m corresponde ao fluxo
solos, a partir de resultados de ensaios obtidos com devido ao potencial matricial do solo [L2T-1], dado

551
pela equação 6. Na equação 6, K(ψ) [LT-1] Do mesmo modo que para o caso da curva
corresponde à função de condutividade hidráulica característica, diversos modelos empíricos têm
do solo e ψ [L] corresponde ao potencial matricial. sido propostos na literatura técnica
especializada para a representação da curva de
o
condutividade hidráulica. Uma abordagem
m K d sobre estes modelos pode ser encontrada
i (6) Fredlund et al. (1993) e em Gerscovich &
Guedes (2004).
O primeiro termo da equação 5 é relacionado ao
fluxo em condições saturadas, enquanto que o 4. ORIGEM DAS CARGAS SUPERFICIAIS NO
segundo termo é relacionado ao fluxo em condições SOLO
não saturadas do solo.
De acordo com o tipo e magnitude das cargas
Takeshita & Morii (2002) apresentam um método elétricas superficiais existentes pode-se prever a
misto de campo para a determinação da curva de força de atração ou repulsão das partículas sólidas
condutividade hidráulica. Neste método, além das do solo com relação aos íons em solução, podendo
medidas normalmente efetuadas nos ensaios de estas serem enquadradas em dois grupos: o de
infiltrômetro, medidas de umidade são realizadas no cargas permanentes ou constantes (principalmente
solo, próximas à cava de infiltração. A equação 7, argilas silicatadas) e aqueles com cargas variáveis,
proposta por Van Genuchten (1980) para presentes principalmente em óxidos, hidróxidos e
representação da curva de condutividade matéria orgânica. Baseado em sua origem, os
hidráulica do solo foi utilizada e os seus principais tipos de processos responsáveis pelas
parâmetros foram otidos a partir de ajuste com cargas são: substituição isomórfica, dissolução
os dados experimentais, utilizando-se a técnica iônica e cargas derivadas de complexos.
dos algorítmos genéticos.
Substituição Isomórfica
Estimativa da curva de condutividade hidráulica
a partir da curva característica de sucção
Reconhecidamente a fonte mais comum de carga
Além do uso de experimentos de campo e de superficial no solo é proveniente de imperfeições
laboratório, a curva característica tem se tornado estruturais no retículo cristalino. As imperfeições
uma importante ferramenta para estimativa da curva estruturais devido à substituição de íons ou vazios
de condutividade hidráulica. A idéia de uso da curva locais, resultam em cargas permanentes (σp) nas
característica como um indicador da configuração partículas do solo. A tabela 2 apresenta o percentual
dos poros preenchidos por água não é nova (Childs dos tipos de carga em diferentes minerais.
& Collis-George, 1950; Kunze et al., 1968). Em
geral, o solo é suposto possuir uma distribuição Tabela 2: Distribuição dos tipos de carga superficial
randômica de poros e uma estrutura incompressível nos principais minerais dos solos.
(Fredlund & Rahardjo, 1993). Outro exemplo de Tipo e % de carga
MINERAL
cálculo da curva de condutividade hidráulica a partir Permanente Variável
da curva característica é dado por Fredlund et al. Montmorilonita
(1994). 95 5
Dos diversos métodos encontrados na literatura, Vermiculita 100 0
contudo, destaca-se o método proposto por Mualem Ilita 52 42
(1976) e simplificado por Van Genuchten (1980), Caulinita 25 75
para a determinação da curva de condutividade Haloisita 33 67
hidráulica a partir da curva característica de sucção. Gibsita 0 100
Goetita 0 100
Húmus 28 72

(7) Conforme se pode observar na tabela 2,


argilominerais do tipo 2:1 (esmectita, ilita e
Na equação 7, ω é denominado de saturação vermiculita) e 2:2 (clorita) possuem carga negativa
efetiva do solo, sendo dado pela equação 8; Ko é a permanente resultado da substituição iônica de Si4+
condutividade hidráulica do solo saturado e l é um por Al3+ nas camadas tetraédricas de sílica, ou da
parâmetro empírico que foi estimado por Mualem substituição de Al3+ por Mg2+ nas camadas
(1976) como sendo aproximadamente igual a 0,5 octaédricas de alumina.
para a maioria dos solos A caulinita (argilomineral do tipo 1:1), também
possui carga negativa permanente, porém a carga
variável proveniente do comportamento anfótero de
suas bordas, é predominante.
(8)
552
Dissolução Iônica Cargas Derivadas de Complexos

As cargas superficiais também se desenvolvem Outras cargas podem ser definidas, como a
como resultado da quimiosorção (adsorção química) densidade de carga de complexos de esfera interna
de H2O, isto é, a água rompe-se (dissocia-se) em H+ (σei), que ocasiona os efeitos de adsorção específica
e OH- durante a adsorção para formar uma e a densidade de complexos de esfera externa (σee),
superfície hidroxilada gerando cargas variáveis que são responsáveis pela adsorção não específica.
denominadas de Carga Protônica Líquida (σH). O Os complexos de esfera interna são pares iônicos
estabelecimento desta carga superficial resultante que tem ligação de curta distância entre o íon e a
tanto da adsorção de H+ ou OH- quanto da partícula, sem interposição de moléculas de água. Já
dissociação de sítios superficiais pode assumir uma os de esfera externa são pares iônicos que tem pelo
carga positiva ou negativa, dependendo do pH menos uma esfera de hidratação entre o íon e a
(concentração do íon hidrogênio) no ambiente partícula (Langmuir, 1979 apud Camargo &
aquoso. Pode ocorrer ainda um pH no qual a Alleoni, 1998)
adsorção de H+ e OH- é nula.
O sinal e magnitude (potencial) da carga Balanço de Carga Superficial
superficial são definidos somente por íons que são
adsorvidos em excesso na superfície hidroxilada; A densidade de carga é o somatório de diversas
tais íons são denominados de íons determinantes do contribuições feitas pelas cargas que são
potencial. O mecanismo pelo qual uma partícula determinadas pelos seguintes fatores (Yong et al.
sólida adquire sua carga superficial é 1992):
esquematicamente apresentado na figura 7 (Singh &
Uehara, 1988). (α) a estrutura cristalina do sólido;
Alguns minerais, tais como, caulinita, óxidos e/ou (β) os íons que determinam o potencial de adsorção
hidróxidos de Al, Fe, Mn, Si e Ti (SiO2, Al2O3, específica;
TiO2, FeOOH, etc.), além de um grande número de (χ) a composição química e os grupos funcionais.
substâncias inorgânicas não cristalinas e orgânicas
no solo comportam uma grande densidade de carga Devido à diversidade de processos que podem
variável e predominam em solos formados em gerar cargas superficiais nas partículas do solo, pode
climas tropicais a subtropicais. As cargas se considerar que ocorram cargas do tipo
dependentes do pH estão associadas principalmente permanente, variável ou uma combinação delas
com os grupos hidróxidos (OH-) ligados ao ferro ou (Singh & Uehara, 1988). A densidade de carga
alumínio (Laumakis et al., 1996) superficial líquida (σl) pode ser matematicamente
expressa como (Sposito, 1989 apud Camargo &
Alleoni, 1998):

σl = σp + σH + σei + σee (9)

onde σp é a carga permanente, σH é a carga


protônica líquida, σei é a carga de complexos de
esfera interna, σee é a carga de complexos de esfera
externa.

Figura 7: Representação esquemática mostrando a As cargas superficiais (σp) são balanceadas pelas
reação de carga e o ponto de carga zero de uma cargas dissociadas (σd), provenientes dos íons em
partícula sólida em que a dissolução de um íon é o solução, cuja equação tem a seguinte forma:
processo de geração de carga (Sparks, 1990).
σl + σd = 0 (10)
Na matéria orgânica, por outro lado, a carga tem
sua origem na dissociação (denominado de A teoria mais aceita para explicar o
ionização) de hidroxilas de grupamentos funcionais comportamento das cargas existentes na superfície
na superfície das partículas sólidas (Singh & da partícula sólidas do solo é a teoria da dupla
Uehara, 1988). Porém, forma-se em valores de pH camada elétrica.
bem mais baixos do que nos óxidos, sendo pouco
provável a ocorrência de cargas positivas. Além do Fenômeno eletrocinético
pH a carga é dependente da constante de dissociação
de cada grupo funcional (Singh & Uehara, 1988). Quando existe a ação de um campo elétrico
Quando as partículas possuem cargas variáveis, externo aplicado no sistema constituído por uma
como neste caso, são denominadas de superfícies interface sólido-líquido, tem uma camada difusa de
anfóteras ou superfície de carga variável. cargas elétricas na fase líquida um movimento

553
relativo das 2 fases ocorre. O fenômeno Tabela 4: Valores do ponto de carga zero (pHo) para
eletrocinético ocorre quando forma se um campo alguns constituintes do solo (Mitchell, 1993).
elétrico na interface gerado por uma força externa pHo pHo
Constituinte Constituinte
tangencia, conforme representado na figura 8. O aprox. aprox.
fenômeno eletrocinético é causado pelo fluxo α-SiO2 (quartzo) 2,9 γ-Fe2O3 7,0
relativo de carga e liquido na dupla camada elétrica Montmorilonita α-FeOOH
2,5 7,3
em relação à superfície sólida. (Mg-filossilicato) (goetita)
α-Al2O3
caulinita 4,5 9,0
(coríndom)
Campo elétrico externo α-Al(OH)3 5,0 γ-Al2O3 8,5
α-Fe2O3
TiO2 (rutilo) 5,8 8,5
(hematita)
α-
6,6
Fase
Sólida
Distribuição do potencial
Fe3O4(magnetita)

Tabela 5: Adsorção seletiva de metais pesados em


Fase Líquida diferentes solos (Forbes et al 1974, modificado).
Material Ordem de Seletividade
Caulinita (pH 3,5 - 6) Pb>Ca>Cu>Mg>Zn>Cd
Caulinita (pH 5,5 - 7,5) Cd>Zn>Ni
Distância a partir da superfície Ilita (pH 3,5 - 6) Pb>Cu>Zn>Ca>Cd>Mg
Figura 8: Origem do fenômeno eletrocinético. Montmorilonita (pH 3,5 - Ca>Pb>Cu>Mg>Cd>Zn
Fonte: Mohamed & Antia (1998). 6)
Montmorilonita (pH 5,5 - Cd=Zn>Ni
Sabe-se que as cargas variáveis nos minerais são 7,5)
predominantes em solos de clima tropical. Na tabela Óxidos de Al (amorfos) Cu>Pb>Zn>Cd
3 encontra se uma listagem de minerais e as Óxidos de Mn Cu>Zn
porcentagens de carga negativa permanente e carga Óxidos de Fe (amorfos) Pb>Cu>Zn>Cd
variável, proveniente do comportamento anfótero de Goetita Cu>Pb>Zn>Cd
suas bordas. No entanto, entre os vários Ácido Fúlvico (pH 5,0) Cu>Pb>Zn
componentes da assembléia mineralógica dos solos Ácido Húmico (pH 4-6) Cu>Pb>Cd>Zn
tropicais ocorrem distinções significativas nos Material de origem Pb>Cu>Zn>Cd>Ni
valores do ponto de carga zero, como se observa na vulcânica
tabela 4. Forbes et al. (1974) verificaram que as Solos minerais (pH 5,0) - Pb>Cu>Zn>Cd
diferenças na adsorção seletiva foram induzidas (sem matéria orgânica)
pelas propriedades do solo e dos metais pesados, e Solos minerais (com 20 a Pb>Cu>Cd>Zn
na tabela 5, mostram a ordem de seletividade destes 40 g/kg de matéria
metais estabelecida para diferentes constituintes do orgânica)
solo.
5. ASPECTOS DA ADSORÇÃO
Tabela 3: Características básicas dos minerais
encontrados na área. O fenômeno de adsorção é considerado pelos
Minerais PCZ* 1
PZNPC PZSE PZNC diferentes tipos de interação que existem entre o
Hematita 2.1 8.4±0.1 *2 8.5 *2
adsorvente e o adsorvido, sendo classificado em
físico e químico. A adsorção física ocorre por tipos
Caulinita 4.2 4.8 *2
de interação molecular fraca como a de Van der
Gibsita 4.8
Waals e sem transferência de elétrons, enquanto a
Ferro 8.5 química envolve um rearranjo de elétrons entre as
Amorfo moléculas do adsorvido e do adsorvente, com a
Quartzo 2.0±0.3 *2 2.9±0.9 *2 formação de uma ligação química.
Goetita 6.1±0.6 *2 7.7±0.2 *2 7.3±0.2 *2 A quantidade de água adsorvida por um meio
*1 Mahamed & Antia (1998) poroso depende da temperatura, T e da pressão, P, e
*2 Sposito (1984) para facilidade de representação, a medida de
adsorção é representada por uma isoterma (T
Sendo: constante)
PCZ – Ponto de mudança zero (Point of zero
charge); PZNPC – (Point of zero net proton charge); Adsorção Física
PZSE ou PESZ– Ponto de Efeito salino zero (Point
of zero salt effect); e PZNC – (Point of zero net Em termos de adsorção física, quando um meio
charge). poroso hidrofílico é colocado em meio contendo

554
vapor de água, a adsorção aumentará com a No caso da interação de moléculas de água com
respectiva busca de equilíbrio da pressão de vapor, íons adsorvidos e pontos carregados, a hidratação
até que os poros tornam-se saturados. Em materiais ocorre da mesma maneira que em solução com íons
com distribuição de poros grandes a completa livres, basicamente via interação íon-dipolo e íon-
saturação não ocorre antes da pressão de vapor estar dipolo induzido.
próxima do valor da água pura, resultando, assim, Na figura 10 pode-se observar os efeitos da
em uma adsorção de água crescente densidade de carga superficial na energia de
assintoticamente com a pressão de vapor relativa hidratação devido à presença de íons de hidratação.
conforme tipos 2 ou 3 de Brunauer (1945), como Os dados da figura 10 demonstram que mistura de
representado na figura 9. Materiais com tamanho de íons trocáveis podem afetar significativamente os
poros pequenos apresentam isotermas com distintos níveis de energias de hidratação.
platôs, em pressões de vapor altas (tipo 4 e 5), Os resultados da figura 11 indicam que a
enquanto em pressões de vapor baixas apresentam hidratação de contraions pode ser o mecanismo que
isotermas do tipo 2 e 4, refletindo energia de governa a hidratação de superfícies com cargas
interação superfície-água com excesso de atração elevadas, e que as espécies químicas próximas tem
água-água. grande efeito na energia de hidratação.
As isotermas 3 e 5, com concavidade para cima
em pressões de vapor baixas, revelam presença de
pontos com alta energia devido à heterogeneidade
das superfícies.
Energia livre de hidratação J/ m2

Pontos com carga

Superfície - Oxigênio
Superfície - Hidroxila

Figura 9: Classificação dos tipos de isotermas de Densidade de carga de superfície, C/m 2


adsorção de vapor. Fonte: Brunauer, 1945.
Figura 10: Efeitos da densidade de carga de
Na figura 9, as ordenadas representam superfície na energia de hidratação por unidade de
quantidades adsorvidas. p – pressão de vapor de área da superfície devido a contra-ions, e
água, p0 – pressão de vapor saturação. comparação com outros níveis.

Adsorção química Na figura 11 observa-se às isotermas de adsorção


de vapor de água em caulinita saturada com
Pode-se analisar os aspectos das interações diferentes íons.
moleculares água-sólido em 2 condições distintas : Em condições de maior porcentagem de água as
com baixo e alto conteúdo de água. interações podem ser consideradas como água-água
e pelo fenômeno da camada dupla.
Em condições de baixo conteúdo de água a A interação água-água governa a contínua
adsorção é avaliada em termos das interações das adsorção como uma extensão da interação superfície
moléculas de água com as superfícies sólidas, íons sólida-água, e onde a energia de interação íon
trocáveis e outras moléculas de água. Neste caso as trocável- água diminui com a distância na forma de
2 primeiras camadas de água são adsorvidas devido uma função potencial. Neste caso o mecanismo é
à atração de grupos superficiais polares, pontos com considerado devido, principalmente (84%), as
cargas e íons trocáveis. ligações de H, que é uma força de atração de Vander
Quando da interação de moléculas de água com Waals do tipo orientação de Keeson. A assimetria
grupos superficiais não carregados as forças que de forças atuantes nas interfaces sobre moléculas de
atuam são, predominantemente, as de atração de H2O geram uma tensão de interfaces, que no caso do
Vander Waals, destacando-se as forças de dispersão líquido-gás é controlado pela equação de Laplace.
de London, de indução de Debye e de orientação de A teoria da dupla camada elétrica remonta desde
Keeson. o século passado porém apenas recentemente

555
passou a ser considerada no estudo químico das
águas naturais e particularmente na ciência dos
solos (Singh & Uehara, 1988).
Adsorção de Água, Kg/ Kg x 103

Figura 12: Representação da dupla camada, da


distribuição dos íons e potenciais de repulsão de
Coulom na proximidade de uma superfície de
partícula carregada (Mitchell, 1993).

Inicialmente havia a teoria da dupla camada


Pressão de Vapor Relativa, p/ pº rígida de Helmholtz (1879), que considerava apenas
a presença de uma camada de íons difusa (figura
Figura 11 - Isoterma de adsorção de vapor de água
13a). O termo dupla camada difusa (figura 13b) só
para caulinita saturada com íons.
veio a ser desenvolvido por Gouy & Chapman
Todos os conceitos e a maior parte dos trabalhos (1910) (Yong et al., 1992). Stern (1924) propôs a
da literatura sob o título “estrutura da dupla divisão da área próxima à superfície sólida em duas
camada” referem-se à interface eletrodo-solução. partes: a primeira com íons adsorvidos na superfície
Porém, há vários outros tipos de interfaces formando a dupla camada compacta (a camada de
envolvendo elétrons em excesso de um lado e íons Stern) e a segunda considerada como uma dupla
em excesso de outro (Bockris & Khan, 1993). camada difusa ou camada Gouy, (figura 13c, Singh
Os íons são atraídos por forças eletrostáticas e & Uehara, 1988). Os íons adsorvidos na camada de
acumulam-se próximos à superfície com sinal Stern estão sujeitos a interação eletrostática e
contrário, e ao mesmo tempo devido a forças de específica. Se a interação específica tiver valor
difusão os cátions, também são atraídos de volta maior que a eletrostática, a carga da camada Stern
para a solução em equilíbrio. pode ficar bem mais positiva do que aquela da
A distribuição dos cátions aumenta superfície denominada de adsorção
progressivamente em direção a superfície formando superequivalente (figura 13d), (Stum & Morgan,
em torno da partícula o que é geralmente 1981).
identificado como dupla camada difusa (figura 11, A teoria de Stern assumiu então que a carga
Yong et al., 1992), que definem a dupla camada superficial é balanceada pela carga em solução que é
elétrica (DCE) conceituada como a carga elétrica distribuída entre a camada Stern numa distância d da
formada na interface das partículas sólidas. Para que superfície, e uma camada difusa que tem uma
esta camada ocorra é necessário que haja uma distribuição de Boltzmann. A carga superficial total
interação entre a superfície sólida de cargas opostas é portanto resultante das cargas nas duas camadas.
aos íons presentes na solução. A partir modelo de Gouy & Chapman (1910), foi
A camada adjacente à superfície das partículas possível o cálculo do potencial de carga elétrica
sólidas é denominada de camada Stern ou médio ψ em função da distância da superfície da
Helmholtz, sendo seguida por uma camada iônica partícula carregada.
difusa, também denominada de camada Gouy- Íons adsorvidos sobre superfícies carregadas
Chapman (figura 12). afetam a adsorção de água mesmo após a hidratação
Baseado em tal teoria, diferentes modelos foram ter sido completada, assim como forças
formulados para descrever esquematicamente a eletrostáticas superfície-ion será originada devido às
distribuição espacial das cargas na superfície (figura forças difusas decorrentes da alta concentração de
13, Stum & Morgan, 1981). íons próxima à superfície.

556
instantânea, visto que as moléculas de água se
deslocam rapidamente não mantendo posição e
orientação. Se a escala de tempo varia entre 2.10-13
s e o tempo de difusão de uma molécula leva em
meio liquido para atingir uma distancia igual ao seu
diâmetro (2.10-11 s) a estrutura é denominada de
vibrationally averaged structure ou V structure
(figura 14). E quando o tempo é mais longo que o da
V-structure (10-6 s) a estrutura é denominada de
Diffusionally averaged structure ou D-structure,
sendo mais estável que a anterior, sendo possível
uma avaliação das posições e orientações das
moléculas (figuras 15 e 16).
Figura 13: Diversos modelos de distribuição de
cargas, íons, e potencial na interface sólido-solução
(Stum & Morgan, 1981).

A distribuição iônica e potencial, adjacente a


superfície carregada é sensível a variações na
densidade de carga superficial (σ) ou potencial
superficial (Ψ0 ), concentração do eletrólito(n0),
valência do cátion (v), constante dielétrica do meio
(D) e temperatura (T). Uma indicação quantitativa (A) (B)
da influência aproximada n0, v, D e T podem ser Figura 14: A – configuração tetraedral ideal de
percebidos em função da equação que define a moléculas de água liquida e B – Simulação de
espessura da dupla camada elétrica, determinada por Monte Carlo para V-structure em água liquida.
(Mitchell, 1993): Fonte: Rice (1975)

1/K = (∈0DkT / 2n0e2v2)1/2 (11) A controvérsia existente relativa à estrutura da


água adsorvida deve-se aos dois grupos de estudos
onde 1/K é a espessura da dupla camada (m); ∈0 é desenvolvidos com características diferentes :
a constante dielétrica estática (C2J-1 m-1 ou Fm-1); D
é a constante dielétrica do meio; k é a constante de 1- Baseados na análise da dinâmica molecular.
Boltzmann (1,38 x 10-23 J0K-1); T é a temperatura 2- Baseada em medidas macroscópica de
(oK); n0 é a concentração em solução; e é a carga propriedade físicas e termodinâmicas.
eletrônica (1,602 X 10-19 coulomb) e v é a valência
do cátion.

Forças de atração entre 2 superfícies sólidas


devido aos mecanismos físico-químicos da interação
molecular governam a interação superfície-água.
Constituem estas forças as de Van der Waals,
Coulombicas e decorrente da interface líquido-gás.

6. ESTRUTURA DA ÁGUA

A estrutura da água em meio poroso difere da


água pura devido aos efeitos dos solutos, e
fenômenos interfaciais líquido-gás e líquido-sólido.
Neste sentido é importante o conhecimento da
estrutura da água próxima à superfície sólida. O
ponto central para o entendimento da estrutura da Figura 15: Moléculas de água em D-structure entre
água é o efeito escala de tempo na estrutura camadas da haloisita (10 A).Fonte: Hendricks &
molecular. No caso da água no estado sólido (gelo) Jefferson, 1938 apud Sposito, 1984.
a influência do escala de tempo é muito pequena, ou
seja, não deve ser considerada. Quanto a água no As análises macroscópicas da água adsorvida,
estado líquido, o tempo é considerado muito normalmente, estão baseadas nos fundamentos da
pequeno quando comparado com o período de termodinâmica, a partir de 3 grandes grupos de
tempo de vibração de uma ligação de hidrogênio modelos: submonocamada, multicamada e estrutura
(2.10-3 s), e as moléculas apresentam uma estrutura porosa e histereses.

557
Quanto às relações contaminantes/água/partículas
sólidas em termos macroscópicos e em condição
não saturada dentre os processos envolvidos vale
destacar os aspectos que tratam das reações
químicas que ocorrem próximas às superfícies
sólidas, associadas à zona da dupla camada elétrica.

Figura 17: Base esquemática do modelo de


desorção-adsorção numa monocamada (Weber &
Digiano, 1996).

Yong et al. (1992), distinguem três mecanismos


presentes nos processos de transferência (adsorção)
ou remoção (desorção) de soluto da fase aquosa no
sistema solo-contaminante: troca iônica, adsorção
física, adsorção iônica ou fisiosorção e Adsorção
específica, adsorção química ou quimiosorção.
A troca iônica refere-se à acumulação de um
soluto em um sítio de sorção devido à atração
eletrostática entre a carga do solo e a carga do
soluto. A adsorção física é o resultado da atração de
van der Waals ou de forças similares. A adsorção
Figura 16: Moléculas de água em D-structure entre química resulta de uma reação química entre a
camadas de uma M+- montmorilonita (onde M+ – superfície do sólido e o soluto. Embora seja
Li, Na, K, etc) com uma camada hidratada. a – Vista conveniente a separação dos mecanismos de sorção
ao longo do eixo perpendicular ao eixo nessas três categorias, na realidade ela é resultante
cristalográfico c. b – Vista ao longo do eixo c, com de uma combinação de forças (Knox et al., 1993).
moléculas de água, próximas ao plano basal, e
indicadas por linhas tracejadas. Fonte: Mamy, 1968 Modelos de Adsorção
apud Sposito, 1984.
Sorção é um termo comum no caso da relação
7. PROCESSOS DE TRANSFERÊNCIA entre fases sólida e líquida (concomitantes), e
CONTAMINANTE-SUPERFÍCIE SÓLIDA DAS refere-se à transferência geral de material da fase
PARTÍCULAS líquida para as interfaces da fase sólida. Este termo
é utilizado devido às dificuldades para distinguir
Os processos químicos que afetam o transporte de entre os mecanismos de adsorção (física e química)
contaminantes nos materiais geológicos não e precipitação.
saturados de maior relevância são a Considera-se precipitação quando ocorre a
sorção/desorção, troca iônica, complexação, transferência de soluto da fase aquosa para a
oxidação/redução e especiação superfície da fase sólida, resultando em uma nova
(dissolução/precipitação) . substância, com uma nova fase sólida cristalina. O
processo de precipitação ocorre em 2 fases, de
Sorção/Desorção nucleação e de crescimento da partícula, e pode
ocorrer na superfície das partículas ou nos poros
A sorção é definida como a migração de um interpartículas. O pH do material geológico e da
soluto (íons, moléculas e compostos) para a fase líquida, o Eh, e a concentração dos
interface de uma partícula sólida e a desorção é a contaminantes são os principais controladores deste
remoção (figura 17). processo.
As interfaces de maior interesse para o destino e Quando líquidos poluídos percolam os materiais
transporte de solutos em subsuperfície são a geológicos parte dos íons e/ou moléculas podem ser
líquido/sólido e gás/sólido (Knox et al., 1992). A adsorvidos pelas partículas que constituem os
energia de interação devido à adsorção de um soluto materiais geológicos (solos, sedimentos, rochas
para a superfície dos constituintes do solo envolve alteradas e rochas) sejam minerais ou materiais
as seguintes forças de ligação: atração van der orgânicos. Tal processo ocorre até uma condição
Waals, atrações eletrostáticas ou coulombicas, denominada de equilíbrio de absorção, e poderá
ligações químicas – onde os três principais tipos de modificar quando um ou mais dos atributos
ligações químicas são:iônica, covalente e controladores (pH, pressão e temperatura) sofrerem
coordenada-covalente. alteração. A relação entre a concentração adsorvida

558
e a concentração em equilíbrio é denominada de S=K f C
j
(14)
isoterma de adsorção comumente enquadradas em
quatro categorias; isotermas S, L, H e C (figura 18).
onde: S é a massa do soluto sorvida por unidade
As isotermas de adsorção não podem ser
de massa seca de solo;
analisadas em termos de nenhum mecanismo
C é a concentração do soluto;
específico de adsorção, mas como um modelo que
Kf é o coeficiente de distribuição;
pode ser usado como ferramenta de previsão. Dentre
j é o coeficiente que especifica o tipo de sorção.
as 4 categorias a L e a C são encontradas para
Se j>1 a sorção é favorável, se j=1 a sorção é
materiais geológicos, sendo que a L é conhecida em
linear e se j<1 então a sorção é desfavorável.
termos matemáticos como equações de Langmuir ou
Freundlich e a C, como linear.
A declividade da curva no papel log-log é
H representada por j. Na relação de S versus C (figura
L 19), quando for linear, com j tendo valor unitário.
Sobre estas condições, a derivada de S em função de
S C é:
mg de adsorbido/Kg de solo

C dS
=K d (15)
dC

Langmuir

Esta isoterma pode ser determinada pela relação


Concentração em equilíbrio (mol/l) de C/S (figura 19).Se este gráfico resultar numa
Figura 18: Tipos clássicos de isotermas de adsorção. linha reta, então é uma isoterma de adsorção de
Langmuir, sendo determinado por:
A taxa de adsorção está relacionada à carga
eletrostática das partículas que constituem os C 1 C
materiais geológicos. Em geral, as cargas (16)
eletrostáticas em solos de clima tropical são S ab b
variáveis (positiva e negativa) resultantes da
assembléia mineralógica e do pH. onde: C é a concentração de equilíbrio do íon em
contado com o solo;
Linear S é a quantidade de íon adsorvido por unidade de
peso em solo;
Os dados de adsorção são estabelecidos para se a é uma constante de adsorção relacionada à
aproximarem adequadamente das variações de energia de ligação (cm/mg);
concentração, limitados através de modelos lineares b é a adsorção máxima de soluto pelo solo
da seguinte forma (Weber & Digiano, 1996): (mg/Kg).

S=KdC (12) BET

onde S é a massa de soluto adsorvido por unidade Outra equação usada para descrever os processos
de massa de sólido em equilíbrio com uma solução de adsorção é a equação de BET que reduz a
de concentração C e Kd é o coeficiente de equação de Langmuir sobre condições específicas.
distribuição (figura 19) . Diferente das outras equações, que adotam apenas a
Essa fórmula pode ser associada a qualquer um adsorção em uma monocamada, a de BET considera
dos inúmeros modelos conceituais não lineares. a adsorção em multicamadas. O uso mais comum da
Citam-se a seguir os modelos clássicos de equação de BET é para a determinação da superfície
Freundlich, Langmuir : específica de um gás, porém em alguns casos pode
ser utilizado na adsorção. A equação de BET mais
Freundlich comum é (Brunauer et al., 1938 apud Weber &
Digiano, 1996):
Quando uma relação de adsorção puder ser
representada como uma linha reta no papel log-log, C 1 1 1 C
então ela é matematicamente descrita pela isoterma (17)
de Freundlich : S Co C 2 1 2 1Co

log S=j . log C+ log K f (13) Onde: S é a quantidade de soluto adsorvido


(mg/g), Co é a concentração de saturação do soluto
ou (%) ou concentração necessária para precipitação da

559
espécie, C é a concentração do soluto (%) e β2 eβ1 dupla camada elétrica por unidade de área sob um
são constantes de BET. determinado conjunto de condições em solução
(Singh & Uehara, 1988).
A escolha de um valor para Co apresenta As reações de troca iônica ocorrem em vários
problemas quando muitos tipos de sólidos puderem constituintes do solo, isto é, em frações argilosas e
precipitar. A equação de BET pode ser considerada não argilosas do solo. O soluto na água dos poros
como C/S(Co-C) contra C/Co (figura 19) para que reage com a superfície da partícula do solo
determinar β2 eβ1 . incluí cátions, ânions e moléculas não iônicas (Yong
et al., 1992).
Para avaliar a seletividade de troca de íons na
superfície carregada dos solos argilosos, é
necessário considerar a presença de mistura de
eletrólitos e a variação de tamanho dos íons (Sparks,
1990).

Troca Iônica e Seletividade

A troca iônica e a seletividade são provavelmente


os aspectos mais importantes da química superficial
dos solos. O termo seletividade de troca de íons no
solo é utilizado para expressar a relação entre os
íons na superfície da partícula sólida e os íons na
solução.
A seletividade de troca de íons depende do
mineral de argila, da matéria orgânica, da
variabilidade do tamanho e forma dos cátions de
mesma valência e das formas de distribuição das
(A) cargas na superfície das partículas sólidas na
estrutura dos sítios de troca onde os íons são
adsorvidos. Em geral os minerais do solo
apresentam maior atração superficial pelos cátions
menos hidratados e os compostos orgânicos pelos
cátions polivalentes .

Complexação, Precipitação, Reações Redox e


Ácido/Base

A complexação ocorre quando um cátion


metálico reage com um ânion que funciona como
um ligante inorgânico. Os metais de transição e os
alcalinos terrosos podem ser complexados pelos
ânions OH-, Cl-, SO2-4, CO32-, PO33-, CN-, etc, que se
comportam como ligantes (Yong et al., 1992).
(B)
Figura 19: A – Representação dos modelos de A precipitação é o inverso da dissolução, e no
isotermas, B – recursos gráficos para obtenção dos caso de contaminantes em solução, ela ocorre
parâmetros das isotermas. quando o soluto migra da fase aquosa para a
superfície das partículas, resultando na formação de
Troca iônica uma nova substância sólida solúvel (Sposito, 1984).
Uma mudança nas condições de pH, Redox,
É uma categoria específica de adsorção e composição da solução, concentração dos elementos
envolvem os contra-íons (íons com cargas opostas traço (por ex. metais pesados), tempo, temperatura,
aos sólidos do solo), principalmente através de etc., pode fazer com que os químicos inorgânicos
forças eletrostáticas. mudem sua forma (espécie). Por isso, quando
Os contra-íons que recobrem outros íons de mudam as condições ambientais a especiação
mesmo sinal são denominados de íons trocáveis, já (formação de espécies) química também pode ser
que a substituição ou troca por outro íon de mesma alterada. O conhecimento das espécies presentes é
carga pode ocorrer alterando-se a composição importante, pois cada uma tem diferentes potenciais
química da solução eletrolítica em equilíbrio. A de transporte e destino. Na água subterrânea sugere-
capacidade de troca de cátions do sistema é a se que a partir de um elemento ou composto possam
quantidade máxima de contra-íons presente numa existir seis categorias (Knox et al., 1993):
560
(1) íons livres (cercados somente por moléculas controlada por sua interação direta com uma
de água); superfície inorgânica (tal como um cátion) até ser
(2) espécies insolúveis, tais como Ag2S e BaSO4; completamente sujeita ao padrão de sorção e
(3) complexos metal/ligante (por ex. Al(OH)2+, solubilidade da matéria orgânica (tal como um
Cu-humato); ânion). Existe uma tendência à fixação (não
(4) espécies adsorvidas (tal como o chumbo migração) dos íons metálicos em camadas
adsorvido na superfície de um hidróxido de superficiais de solo. Isto ocorre em soluções de solo
ferro); associado a moléculas orgânicas formando
(5) espécies fixadas a superfície por troca iônica complexos organo-metálicos em suspensão, sob a
(por ex. íons de cálcio na superfície de um forma de sólidos solúveis, como precipitados ou em
argilomineral) e várias outras formas. O pH dependente da
(6) espécies que diferem pelo estado de oxidação solubilidade dos cátions de metais pesados
(por ex., manganês [II] e [IV], ferro [II] e [III] e fortemente complexados pela matéria orgânica
cromo [III] e [VI]. natural dissolvida (por ex. Cu, Pb) se assemelha aos
ânions quando a solubilidade do metal for
A forma do elemento tem grande impacto na controlada pela solubilidade da matéria orgânica.
mobilidade, reatividade e toxidade química. Contudo, o pH pode afetar também a existência
A precipitação pode ocorrer na superfície dos de outras fases sólidas devido à hidrólise dos
sólidos do solo ou na água dos poros. Uma vez que, elementos traço ou devido ao seu efeito na
tanto a adsorção quanto a precipitação estão associação e dissociação dos agentes precipitadores
envolvidos com a remoção de substâncias da fase (por exemplo, ânion), (Salbu & Steinnes, 1995).
sólida (através da acumulação resultante na interface Yong et al. (1992), demonstram a importância do
solo-água por adsorção e a formação de uma nova pH, tanto no solo quanto na água dos poros, e da
fase sólida se houver precipitação) a distinção entre concentração dos solutos no controle da
os dois processos nem sempre é fácil de ser precipitação, como exibe a figura 20. As condições
percebida. Isto ocorre, porque as ligações químicas de precipitação aumentam com o aumento da
formadas em ambos os processos, podem ser muito concentração dos solutos de acordo com o princípio
semelhantes e os precipitados mistos podem ser do produto de solubilidade (Salbu & Steinnes,
sólidos heterogêneos com um componente restrito a 1995). Porém, segundo Yong et al. (1992), são
uma delgada camada externa (Sposito, 1984 apud necessárias concentrações muito altas de soluto para
Yong et al., 1992). ocorrer à precipitação na água dos poros, uma vez
Como previamente mencionado, a especiação que, o processo necessita da atividade iônica dos
pode ser alterada pelo pH do sistema e como solutos para superar o produto de solubilidade.
conseqüência o estado de equilíbrio entre a forma
solúvel (dissolução) e sólida (precipitação) dos
metais. O pH afeta principalmente a precipitação e
dissolução de óxidos e hidróxidos, desde que os íons
OH- atuem como agente precipitador neste caso.
Com valores de pH altos, os mecanismos de
precipitação dominam e a quantidade de metais
pesados sorvidos em solos argilosos aumenta. Os
metais pesados podem ser removidos do solo
através da precipitação, como hidróxidos e
carbonatos, ou por co-precipitação como óxidos e
hidróxidos de ferro e manganês. Esta tendência
(precipitação) é efetiva até um certo limite, após o Figura 20: Solubilidade de um composto de
qual, volta a atuar a solubilização (figuras 20). hidróxido metálico em relação ao pH. O M indica
Com o decréscimo do pH, os mecanismos de íons metálicos (Yong et al., 1992).
precipitação tornam-se menos importantes e a troca
de cátions (desorção e dissolução) predomina, os A figura 20, apresenta as variações de uma
metais pesados ganham mobilidade e a adsorção nas espécie de hidróxido metálico em valores de pH
partículas de solo argiloso decresce efetivamente, inferiores ao de precipitação (pHp) e em valores de
devido à competição nos locais de troca com o H+. pH elevados ocorre à precipitação de espécies
Bourg & Loch (1995), afirmam que alguns hidróxidos.
metais pesados (metais de transição e metalóides) Bourg & Loch (1995), citam que os fenômenos
ocorrem como oxiânions. geoquímicos que controlam a retenção de metais
Dependendo da natureza e da concentração pesados são a adsorção e precipitação, embora a
relativa do metal, da matéria orgânica e do sólido dissolução e complexação influenciem o transporte
adsorvente, a solubilidade dos cátions metálicos advectivo e dispersivo. Para todos estes fenômenos,
pesados pode ser variável desde totalmente as condições de pH e Redox são as variáveis
561
dominantes no controle do potencial de liberação de & Van Lier, 2004; Palma & Zuquette, 2004), um
poluentes fornecidos a fase aquosa e portanto, sua artigo trata do desenvolvimento de um modelo para
dispersão no ambiente e sua disponibilidade para a determinação dos parâmetros das curvas de
biota. condutividade hidráulica e característica de sucção e
Embora a condição redox de ambientes naturais do transporte de poluentes pelo solo, a partir de
seja normalmente expressa em Eh (medida do resultados obtidos em ensaios de coluna (Miranda et
potencial em um eletrodo), por analogia com o pH, al., 2004), um artigo trata do comportamento de um
é usual algumas vezes expressar o potencial redox lisímetro volumétrico (Wendland & Cunha, 2004) e
em termos de pe (-log da atividade do elétron). um artigo trata do desenvolvimento de um
As condições ambientais (parâmetros físico- tensiômetro para medidas de tensões elevadas em
químicos), tais como redox e pH, juntamente com as solos não saturados (Mahler et al., 2004).
substâncias orgânicas e ligantes inorgânicos, são Dois artigos tratam dos modelos empíricos
importantes no controle das formas (ou espécies) e existentes para a representação das curvas
conseqüentemente da solubilidade dos cátions de característica de sucção e de condutividade
metais pesados em plumas de lixiviação. Neste hidráulica (Soto & Vilar, 2004; Gerscovich &
ambiente os principais compostos que governam as Guedes, 2004). Soto & Vilar (2004) tratam do uso
trajetórias de solubilidade dos metais pesados, na da teoria do caos para a representação da curva
ausência de matéria orgânica dissolvida e sólida, são característica de sucção do solo.
os sulfetos e carbonatos. Para alguns metais os Dois artigos, em uma vertente que parece
fosfatos, óxidos e hidróxidos podem limitar a crescente, tratam das interações entre o solo e a
solubilidade (Christensen et al, 1997). atmosfera, através dos fenômenos de
Sob condições oxidantes a ligeiramente redutoras evapotranspiração e evaporação (Borma & Karam
em pH alcalino, a solubilidade dos cátions de metais Filho, 2004; Oliveira et al., 2004). Por fim, um
pesados decresce devido à precipitação de óxidos, artigo trata da modelagem de fluxo em solos não
hidróxidos, sulfatos ou carbonatos. saturados (Abrão & Marinho, 2004) e outro artigo
O tipo de produto de precipitação pode ser trata da variação dos índices físicos de solos não
determinado a partir das relações de estabilidade em saturados quando sujeitos a ciclos de secagem e
diagramas de Eh-pH. Os elementos mais umedecimento. Uma síntese de cada trabalho é
importantes no controle da solubilidade do íon apresentada nos itens seguintes, em conjunto com
metálico em sistemas naturais são normalmente uma análise crítica e a proposição de sugestões.
enxofre e carbono.
Feuerharmel et al. (2004) - Determinação das
8. SÍNTESE DOS ARTIGOS APRESENTADOS curvas características de solos coluvionares pelo uso
combinado da placa de sucção e método do papel
Neste Simpósio, um total de 20 trabalhos foram filtro.
selecionados e enquadrados na seção “transporte de
massa e mecanismos de retenção em solos não Os autores apresentam resultados de ensaios
saturados”. Uma análise preliminar permite dizer realizados para a determinação da curva
que os mesmos estão em sintonia com os trabalhos característica de dois solos coluvionares, formados a
publicados na literatura técnica especializada, partir do intemperismo de rochas ígneas. Na
enfocando diversos aspectos envolvidos na determinação experimental da curva característica
determinação das curvas de condutividade dos solos foram empregados dois métodos de
hidráulica e característica de sucção, como a ensaio: o método da placa de sucção, para baixos
aplicação e teste de diversas técnicas experimentais valores de sucção (inferiores a 5 kPa) e o método do
e a proposição de modificações e inovações, o papel filtro, para valores de sucção superiores a 5
estudo de comportamentos particulares de solos kPa. Para ambos os solos estudados, as curvas
Brasileiros, a modelagem do transporte de massa em características obtidas apresentaram um patamar
solos não saturados, dentre outros. horizontal, no qual apenas variações desprezíveis de
As técnicas experimentais foram destaque em 13 umidade eram observadas com o aumento da
artigos, 65 % do total. Destes, 7 artigos tratam dos sucção. O intervalo de sucção no qual o patamar de
aspectos do ambiente de realização dos ensaios, da umidade aproximadamente constante ocorreu foi
natureza do solo e da natureza do líquido de similar para as amostras ensaiadas, indo de 10 kPa a
percolação, que podem interferir na forma da curva cerca de 2000 kPa. O comportamento obtido é
de condutividade hidráulica (Feuerharmel et al., creditado a ocorrência de uma distribuição bimodal
2004; Muñoz et al., 2004; Lougon-Duarte, et al. de poros nas amostras ensaiadas, estando o trecho
2004; Oliveira & Marinho, 2004; Hernandez inicial da curva característica sob o domínio dos
Moncada et al., 2004; Custódio et al. 2004; Delgado macro-poros e o trecho posterior à sucção de 2000
& Camapum de Carvalho, 2004), três artigos kPa sob a influência dos micro-poros. O valor de
trataram da determinação da condutividade 2000 kPa é interpretado como uma espécie de valor
hidráulica de campo (Machado et al., 2004; Engler de entrada de ar nos micro-poros do solo. É

562
apresentada, em nível de detalhes, a metodologia dois pares ordenados de umidade x sucção. A
utilizada para a realização dos ensaios com o papel equação abaixo ilustra a proposta dos autores para a
filtro. A figura 21 apresenta a curva característica representação da curva característica de sucção do
obtida para uma das amostras de solo ensaiadas. solo.

(17)

Onde: ψ é a sucção matricial do solo,


correspondente à umidade w, ψa é o seu valor de
pressão de entrada de ar, ws corresponde à sua
umidade gravimétrica de de saturação, C(ψ) é uma
correção da curva característica adotada por
Fredlund et al., (1994), representada pela equação
10 e DCR é a dimensão fractal obtida a partir da
curva de retenção de água no solo. Na equação 10,
Figura 21: Curva característica obtida por ψr representa o valor de sucção residual do solo,
Feuerharmel et al. (2004) pelo uso dos métodos da adotado como igual a 3.000 kPa pelos autores.
placa porosa e do papel filtro para uma das amostras
de solo ensaiadas (solo AV).
(18)
Análise crítica e sugestões
Apesar de totalmente plausível a hipótese A figura 22 apresentada a seguir ilustra curvas
levantada pelos autores acerca da influência da características de sucção obtidas pelos autores,
distribuição dos micro-poros do solo na forma das ajustadas pela equação 9.
curvas características obtidas, o patamar horizontal
observado, poderia ser explicado, pelo menos em
parte, pela trajetória mista seguida durante a
realização dos ensaios. Parte-se neste caso do valor
de umidade natural do solo, secando-se ou
umedecendo-se as amostras de solo para a
determinação de sua sucção de equilíbrio. Como a
curva característica apresenta histerese, é de se
supor, portanto, que pelo menos na região próxima
ao valor de umidade inicial das amostras de solo, os
pontos obtidos se situem entre os ramos de secagem
e umedecimento, apresentando pequenas variações
umidade com a variação da sucção imposta ao solo
Villar & De Campos (2004).

Soto & Vilar (2004) - Geometria Fractal na


determinação da Curva de Retenção de Água no
Solo
Figura 22 – Curvas características obtidas por Soto
Os autores apresentam uma proposta de & Vilar (2004) para quatro solos distintos e ajuste
utilização da geometria fractal como uma aos dados experimentais obtidos com o uso da teoria
ferramenta alternativa para previsão das da geometria fractal.
propriedades de retenção de água em solos com
diferentes texturas. São apresentadas propostas de Um comportamento semelhante ao obtido por
modificação aos modelos propostos por Tyler & Feuerharmel et al. (2004) foi obtido para a curva
Wheatcraft (1990) e Bacchi et al., (1992), a partir da característica C, sendo o patamar aproximadamente
introdução de um fator de correção que limita a horizontal obtido para a curva característica, em
sucção máxima para qualquer tipo de solo, baseado torno do valor de umidade de 11%, justificado pela
na proposta de Fredlund et al. (1994) para a inexistência de poros com valor de tensão capilar
representação da curva característica de sucção, que equivalente entre 40 e 570 kPa, conforme apontado
se mostraram eficazes no ajuste aos dados pelos ensaios de porosimetria por intrusão de
experimentais. Como vantagens da proposta mercúrio realizados. No caso das curvas C e D foi
apresentada os autores citam a possibilidade de também utilizado o método do papel filtro para a
determinação da curva característica com apenas determinação da sucção do solo.

563
Análise crítica e sugestões analisados. Os autores ressaltam ainda o caráter
Conforme relatado pelos autores, duas dimensões preliminar das conclusões, face a limitação de dados
fractais foram necessárias, em quase todos os casos, experimentais.
para a representação da curva característica de
sucção do solo. A equação utilizada neste caso para Análise crítica e sugestões
o ajuste aos dados experimentais, não foi, contudo, A curva de condutividade hidráulica de solos não
explicitada no artigo. saturados normalmente apresenta um amplo leque
de valores, sendo que os valores de condutividade
Custódio et al. (2004) - Estudo de Fatores que hidráulica obtidos para altas sucções são, a maioria
Influenciam a Curva Característica de Retenção de das vezes, desprezíveis, quando comparados com o
Água no Solo. valor da permeabilidade saturada. Neste sentido,
vale uma reflexão sobre o critério de ajuste a ser
Os autores apresentam os resultados obtidos a adotado quando do uso de modelos empíricos. O
partir de um programa experimental elaborado com critério dos mínimos quadrados, por exemplo, se
vistas a análise da influência da altura das amostras aplicado aos valores de condutividade originais, sem
e do procedimento de saturação das mesmas nas nenhum fator de ponderação, tenderia a
curvas características de sucção obtidas. A partir dos sobrevalorizar a qualidade do ajuste para baixas
ensaios realizados conclui-se que a altura da sucções, desprezando-se a qualidade do ajuste para
amostra apresentou uma influência desprezível no valores de sucção maiores. Sugere-se que na
tempo de equalização da umidade no solo. Quanto à realização de ajuste de funções desta natureza, os
comparação entre os dois procedimentos de erros obtidos sejam relativizados, de modo que cada
saturação do solo adotados, concluiu-se que a valor experimental possua um peso semelhante no
aplicação de vácuo seguida de submersão da processo de ajuste do modelo empírico.
amostra mostrou-se ser mais eficiente que a
submersão seguida da aplicação de vácuo. Danos Miranda et al. (2004) - MIDI: Modelo para
maiores à curva característica foram observados simulação do deslocamento de solutos em colunas
para as amostras de solo colapsível, onde o processo verticais de solo não saturado
de saturação pode inviabilizar a realização dos
Os autores apresentam o desenvolvimento e
ensaios.
implementação em aplicativo computacional de um
modelo simplificado para a simulação do transporte
Análise crítica e sugestões de água e de solutos em meios não saturados, com
Seria interessante os autores compararem os base no conceito de diferenças finitas. Para
resultados obtidos com amostras saturadas avaliação do modelo desenvolvido e obtenção de
simplesmente pela adição de água pelo topo e pela parâmetros concernentes ao transporte de massa em
base, sem a aplicação de vácuo. meios porosos foram realizados ensaios de coluna,
com a aplicação de soluções de nitrato e potássio no
Gerscovich & Guedes (2004) - Avaliação das topo das colunas e medições das concentrações dos
relações de condutividade hidráulica em solos solutos nas saídas das mesmas. Os resultados
brasileiros não saturados experimentais foram utilizados para a obtenção dos
parâmetros de transporte de solutos em meios
Os autores apresentam um sumário das principais porosos (coeficientes de dispersividade mecânica e
equações encontradas na literatura para fator de retardo). Um melhor ajuste aos dados
representação da curva de condutividade hidráulica experimentais foi obtido para o potássio, que
de solos não saturados. É verificado o ajuste dos apresentou um maior fator de retardo e menores
modelos empíricos a dados experimentais obtidos valores de dispersividade mecânica.
em dois solos brasileiros. Os autores chamam a
atenção para o fato de que, enquanto há uma relativa Análise crítica e sugestões
abundância de dados referentes à curva Trata-se do desenvolvimento de um modelo
característica, poucos dados experimentais simplificado que pode ser bastante útil no
referentes a curva de condutividade hidráulica de desenvolvimento de análises de transporte de massa
solos não saturados são encontrados. Os resultados unidirecional em meios não saturados. Seria
obtidos das análises efetuadas permitiram concluir interessante, contudo, que os autores comparassem
que existe uma grande variabilidade na qualidade do os valores do fator de retardo e do coeficiente de
ajuste das curvas experimentais, sendo os menores dispersividade mecânica obtidos com valores
erros observados com os modelos baseados na encontrados na literatura, para solos com textura
variação da condutividade hidráulica com a sucção similar. Da mesma forma, seria interessante se
matricial do solo. Os resultados mostraram que, comparar os resultados das simulações obtidos com
dentre os modelos avaliados, o de Brooks & Corey o uso do MIDI com os resultados obtidos, com os
(1968) e Arbhabhirama & Kridakorn (1968) mesmos parâmetros e uso de um aplicativo já
forneceram os melhores ajustes para os dois solos testado exaustivamente no meio.

564
Oliveira & Marinho (2004) - Aspectos da curva Conforme se pode observar, a estrutura gerada no
de retenção de água de um solo residual compactado ramo seco da curva de compactação se mostra muito
mais agregada do que para o caso da amostra de
Os autores apresentam um estudo interessante solo compactada no ramo úmido.
sobre a influência da estrutura gerada durante o
processo de compactação na curva característica dos Análise crítica e sugestões
solos. Para tanto, amostras compactadas no ramo Seria interessante que os autores comparassem,
seco, umidade ótima e ramo úmido foram em conjunto, os trechos finais (sucções acima de
submetidas a ensaios para a determinação da curva 1000 kPa) de todas as curvas características obtidas,
característica de sucção. Foram empregados ao todo fazendo um paralelo com a capacidade do processo
três métodos para a determinação da curva de compactação ou do processo de compressão das
característica: placa de sucção (até 30 kPa de amostras de modificarem os seus micro-poros.
sucção), placa de pressão (de 30 kPa a 400 kPa) e
papel filtro, para pressões superiores a 400 kPa. Engler & van Lier (2004) - Método simples para
Adicionalmente, ensaios foram realizados para a determinação da condutividade hidráulica em
avaliação da influência da pressão de confinamento amostras de solo não-saturadas
nas curvas características obtidas, para o caso dos
ensaios moldados na umidade ótima. Outros ensaios Os autores apresentam um método simplificado
foram ainda realizados utilizando-se amostras de laboratório para a determinação da curva de
remoldadas partir da consistência de lama. A partir condutividade hidráulica do solo. São utilizadas
dos resultados obtidos, os autores concluem que, duas placas de valor de entrada de ar conhecido no
embora as diferenças entre as curvas características topo e na base do corpo de prova. Durante o ensaio,
obtidas para diferentes valores de confinamento os valores de h1 e h2, ilustrados na figura 24, são
sejam sutis, há um claro aumento da pressão de mantidos constantes e o fluxo de água é medido na
entrada de ar do solo com a tensão de confinamento saída do equipamento. Para estas condições, a
prévia das amostras. Para o caso dos corpos de diferença de energia entre os pontos A e D
prova compactados em diferentes regiões da curva corresponde a Ls + 2·Lp. A diferença de energia
de compactação, há uma clara diferença nas curvas entre os pontos B e C dependerá do fluxo de água e
características obtidas para os solos moldados na dos valores de resistência hidráulica das pedras
umidade ótima e no ramo úmido e os corpos de porosas. Trata-se de um método interessante e de
prova moldados no ramo seco. A figura 23 reproduz fácil execução, pois não requer o uso de
as curvas características obtidas para estas amostras, tensiômetros para a medida de sucção. Conforme os
em conjunto com os resultados de ensaios de próprios autores reconhecem, contudo, há a
microscopia eletrônica de varredura. necessidade de se efetuar estudos comparativos para
a validação do método.

Figura 23: Curvas características de sucção e micro- Figura 24: Esquema ilustrativo do método de ensaio
estrutura de amostras de solo compactadas em simplificado proposto por Engler & van Lier (2004)
diferentes regiões da curva de compactação para a determinação da curva característica de
(Oliveira & Marinho, 2004). sucção de solos não saturados.

565
Análise crítica e sugestões Machado et al. (2004) - Utilização do
Seria interessante adaptar o método proposto de permeâmetro Guelph para estudo da condutividade
modo a se permitir a realização de medidas de fluxo hidráulica de solos residuais de granulito da cidade
na entrada, através do tubo de Mariotte, utilizando- de Salvador- BA.
se de querosene ou vaselina líquida para facilitar as
leituras e evitar a evaporação de água. Da mesma Trata-se do emprego do permeâmetro Guelph
forma, sugere-se avaliar a possibilidade de para a determinação da permeabilidade saturada e da
incorporação da técnica de translação de eixos de curva de condutividade hidráulica em um solo
Hilf, para possibilitar a obtenção das curvas de residual de granulito. São apresentados resultados
condutividade hidráulica para maiores valores de de ensaios realizados na camada de solo maduro, em
sucção. diversos locais e épocas do ano. Os resultados
Acredita-se que os resultados obtidos fossem obtidos são analisados de forma a se avaliar a
mais conclusivos caso se utilizassem amostras influência das condições de contorno do problema e
remoldadas com os mesmos índices físicos. Neste do tipo de formulação utilizada nos valores de
sentido, aliás, sente-se a falta de dados de permeabilidade e de condutividade hidráulica
caracterização básicos das amostras ensaiadas. Na obtidos. É apresentada uma dependência entre os
descrição dos ensaios realizados, sentiu-se a falta de valores de kfs (permeabilidade saturada do solo) e
um procedimento experimental que garantisse a φm (fluxo devido ao potencial matricial), mostrando
obtenção de um regime de fluxo estacionário, o que que o equacionamento normalmente empregado não
somente ocorreria após a equalização entre a sucção é capaz de levar em conta, de forma integral, os
interna da amostra e a sucção aplicada ao solo. efeitos da sucção matricial. Procedimentos de
correção são então propostos de modo a se obter
valores de kfs e α mais representativos do solo.
Wendland & Cunha (2004) - Barreira capilar em
lisímetro volumétrico Análise crítica e sugestões
A análise dos dados poderia ter sido melhorada
Os autores apresentam resultados da em muito caso tivessem sido determinadas a
monitorização do processo de infiltração em um umidade e sucção do solo antes da realização dos
solo em campo e em um lisímetro, através do uso de ensaios. Da mesma forma, seria interessante se os
tensiômetros instalados a diferentes profundidades, valores de kfs obtidos, com e sem os procedimentos
para a realização de medidas da sucção matricial. Os de correção propostos, tivessem sido comparados
dados obtidos de sucção foram transformados em com valores de kfs obtidos em laboratório.
umidade através do uso da curva característica
adotada para o solo. Os dados obtidos em campo e Abrão & Marinho (2004) - Influência do sistema
através do lisímetro apresentaram diferenças de drenagem de base no fluxo de água em pilhas de
marcantes, sendo os altos valores de umidade minério de ferro.
medidos pelos autores no lisímetro, para a região
próxima a sua base, atribuídos à formação de uma Os autores apresentam resultados de ensaios
barreira capilar. realizados para a determinação da curva
característica de sucção de um minério de ferro,
com vistas à simulação numérica do processo de
Análise crítica e sugestões drenagem de pilhas de minério e à previsão de
Não foi apresentada pelos autores uma performance de sistemas de drenagem. A curva de
caracterização básica das camadas de solo natural e retenção obtida a partir dos ensaios de laboratório
empregadas na confecção do lisímetro. Da mesma realizados (não foi informado o método utilizado)
forma, apesar de ter sido utilizada para a conversão foi ajustada aos resultados obtidos a partir da
dos valores de sucção em umidade, as curvas realização de um ensaio de coluna, necessitando
características de sucção não foram apresentadas e apenas de pequenos ajustes para uma aderência
não há informações sobre a metodologia empregada satisfatória aos dados experimentais. Simulações
na sua determinação. Os autores não deixam claro numéricas foram realizadas para representar o
se a barreira capilar teria ocorrido no contato entre a comportamento das pilhas de minério sob diferentes
camada de areia fina e a brita e, caso afirmativo, condições de drenagem e de umidade inicial. A
como os altos valores de umidade se estenderam análise dos resultados enfoca os valores de umidade
para a camada superior, supostamente de textura obtidos após 10 dias de ocorrência de fluxo de água.
mais grossa. Seria interessante que em trabalhos Para este valor de tempo decorrido, a umidade final,
futuros os autores apresentassem os dados para uma situação de drenagem plena, é de cerca de
pluviográficos, em conjunto com os valores dos 0,5% menor do que para um situação de drenagem
volumes de água coletados na drenagem, para inexistente, sendo esta diferença considerada
períodos julgados representativos de situações de significativa, em virtude dos grandes volumes de
interesse. minério produzidos.

566
Análise crítica e sugestões Análise crítica e sugestões
Não foi explicitado pelos autores o método Os autores poderiam ter comentado melhor a
utilizado na obtenção das curva de condutividade afirmação constante das conclusões de que as
hidráulica ou se o valor da permeabilidade saturada posições de instalação e um fator relevante nos
do minério foi assumido constante com a sucção. Da resultados.
mesma, forma, acredita-se que os resultados seriam
melhor interpretados caso o ponto considerado no Delgado e Camapum de Carvalho (2004) -
traçado dos gráficos apresentados fosse indicado, já Análise da influência da variação da energia de
que em cada ponto da malha de elementos finitos compactação na forma das curvas características.
um comportamento de drenagem distinto é obtido.
O trabalho apresenta os resultados obtidos a partir
Lougon-Duarte et al (2004) - Efeitos da de um estudo voltado à verificação do efeito da
temperatura na relação umidade-sucção de dois energia de compactação, do tipo de compactação e
solos. da cal na forma da curva característica.
As sucções foram obtidas para os teores de
O texto apresenta como resultado um conjunto de unidade usados na compactação. Segundo os
curvas características obtidas para dois tipos de autores, para os solos estudados, os aspectos
solos submetidos a temperaturas de até 300oC, definidores da forma da curva característica são a
concluindo que as mesmas são altamente natureza química-mineralógica, o nível de
dependentes da temperatura. intemperismo e agregação que ocorrer.
Análise crítica e sugestões Análise crítica e sugestões
As modificações químico-mineralógicas e da Faltou uma melhor descrição química-
fabrica (fabric) poderiam ter sido melhor descritas mineralógica dos solos estudados, o que permitiriam
com o auxílio do M.E.V., o que permitiria uma um melhor entendimento das conclusões.
melhor análise dos resultados.
Souza Villar e Campos (2004) - Variação dos
Hernandez Moncada et al (2004) - Efeitos da índices físicos de materiais altamente compressíveis
temperatura na relação umidade-sucção de dois durante o processo de ressecamento.
solos.
O trabalho apresenta um grupo de procedimentos
O trabalho apresenta os resultados decorrentes do e resultados utilizados no estudo de materiais
estudo da influencia da infiltração de soluções altamente compressíveis quando sujeitos ao
causticas em três solos arenosos (mais de 70% de ressecamento, oriundos da indústria produtora de
areia). A avaliação das alterações foi realizada em alumínio e denominados de lamas vermelhas. Os
termos das curvas de sucção matrica e total, para resultados permitiram um melhor entendimento do
condição natural e contaminada. Os autores comportamento destes materiais durante o processo
concluem que a concentração alcalina do líquido de ressecamento.
infiltrado afeta os resultados da sucção.
Análise crítica e sugestões
Análise crítica e sugestões Alguns aspectos do texto devem ser vistos com
Como os solos são predominantemente cuidado, tais como : silicatos da bauxita original (a
constituídos de areias (>70%), que são bauxita é um aglomerado de hidróxidos). Como
mineralogicamente representadas pelo quartzo, e obter a partir do RX a determinação de um mineral
este tem alta solubilidade em pH > 10, uma análise amorfo?
deste aspecto seria interessante na análise dos
resultados visto que as soluções apresentavam pH Muñoz et al (2004) - Caracterización hidráulica
inicial acima deste limite. de un esquisto arcilloso en condiciones no saturadas.
Mahler et al (2004) - Desenvolvimento de um O texto apresenta os resultados obtidos a partir de
tensiômetro para medições de sucções elevadas. ensaios realizados para caracterizar hidraulicamente
uma rocha argilosa estratificada da área do
Os autores apresentam a comparação de laboratório subterrâneo de Mont Terri (Suíça) para
resultados obtidos com diferentes instrumentos condições saturadas e não saturadas. Os autores
(tensiômetro, equitensiômetro e TDR), assim como obtiveram resultados que demonstram a importância
um novo tensiômetro desenvolvido no laboratório da estratificação e da sua disposição espacial.
de Geotecnia da COPPE/UFRJ; e todos instalados
em um mesmo local sob as mesmas condições Análise crítica e sugestões
ambientais. O modelo proposto apresentou Uma descrição mais detalhada da rocha, seja em
resultados bastante satisfatórios quando comparados termos da mineralogia como da estratificação,
com os outros. assim como sobre o número de amostras estudadas,
567
permitiria um melhor entendimento dos resultados REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
obtidos com os ensaios laboratoriais.
Abrão, G. S. e Marinho, F.A.M. (2004) Influência do
Oliveira et al (2004) - Influência das propriedades sistema de drenagem de base no fluxo de água em
hidráulicas na evaporação de solos colapsiveis não pilhas de minério de ferro. V Simpósio Brasileiro
saturados. de Solos não saturados, São Carlos-SP.
Aguiar, A.B. (2001) O emprego do permeâmetro
Apresentam um estudo teórico das relações solo- Guelph na determinação da permeabilidade do
atmosfera, no caso evaporação em solos colapsiveis solo, de camadas de lixo e de sua cobertura.
não saturados. Foram utilizadas equações Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
diferenciais parciais no sentido de avaliar o fluxo de Janeiro-RJ.
água, vapor, e calor. Para solução do sistema de Alimi-ichola, I. e Anzoras, Ch. (1998) Use of inverse
equações foi utilizado o programa FlexPDG. Os problem theory to estimate hydraulic conductivity
dados referentes ao solo foram obtidos dos trabalhos parameters of unsaturated soils by the infiltration
de literatura, e os resultados comparativos tests. Proc. of the 2st Int. Conf. on unsaturated
encontram-se na forma gráfica. soils, 543-548, Beijing.
Alker, S. C.; Sarsby, R.W. & Howell, R. (1995). The
Análise crítica e sugestões. Composition of Leachate from Waste Disposal
Os autores poderiam ter considerado uma Sites. In:GREEN 93, Balkema, Roterdam 1995.
condição mais realística com variações das Anais. Rotterdam, ISBN. p.215 –223.
condições térmicas ambientais. Cuidados devem ser Anderson, S.A.; Hee, B. (1995). Lateritic Soil in
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estudada quando comparações sejam realizadas com DANIEL, D.E., ed. Geoenvironment 2000:
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planta-atmosfera. Antonino, A.C.D.; Borges, E.; Netto, A.M.; Lima
J.R.S; Lira, C.A.B.O.; Montenegro, S.M.G.L. e
Os autores apresentam uma revisão dos aspectos Cabral, J.J.S.P. (2002) Inverse modeling technique
físicos teóricos, assim como equações matemáticas for determining unsaturated hydraulic properties of
para condições evapotranspirativas em dois soils. Proc. of the 3st Int. Conf. on unsaturated
modelos: - coberturas evapotranspirativas em soils. V1, 39-43, Recife-PE.
aterros sanitários e de dinâmica da água em bacias Bacchi, O.O.S.; Reichart, K. e Villa Nova, N.A.
hidrográficas. (1996) Fractal scaling of particle and pore size
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O artigo aborda aspectos teóricos básicos e os BearR, J. (1972). Dynamics of Fluids in Porous Media.
autores poderiam ter usado dados da literatura para American Elsevier Publishing Company, Inc., U.S.
demonstrar melhor a diferença entre os 174p.
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Apresentam um trabalho que trata de uma Highly Weathered Soils. In: ANDREW, C.S.;
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dos processos que ocorrem em barreiras de argilas Legumes in Tropical and Subtropical Soils.
usadas no armazenamento de resíduos radioativos. Melborne, CSIRO. p.37-57.
Diversos processos foram considerados na avaliação Beres, M., e Haeni, F.P., 1991, Application of Ground-
geoquímica, considerando as hipóteses de equilíbrio Penetrating-Radar methods in hydrogeologic
local e cinética. Os dados foram implementados em studies, Ground Water, v. 29-3, 375-386.
um programa de elementos finitos CODE_BRIGHT. Bockris, J. O’M. & Khan, S.U.M. (1993). Surface
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Análise crítica e sugestões.
New York: PLENUM PRESS. 1014 p.
Apesar de terem sido apresentados diversos
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dados químicos não está claro no texto dados
Gouy-Chapman theory of the electric double layer.
amostrais que comprovam os dados processados
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pelo programa ao longo do estudo.

568
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572
Tema 4:

Aplicações da Mecânica dos Solos Não Saturados:


Fundações, Pavimentos e outras Obras Geotécnicas

573
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Aplicações da Mecânica dos Solos Não-Saturados - Fundações em


Solos Colapsíveis

Cintra, J.C.A.
Professor Titular, USP/ São Carlos - cintrajc@sc.usp.br

Resumo: Esta resenha trata do problema de fundações de edifícios em solos colapsíveis, com ênfase a
trabalhos publicados sobre provas de carga estática, e, por isso, não contempla outros aspectos importantes
do tema geral da colapsibilidade dos solos. Na sua estruturação, optou-se por um formato bem diferente do
usual, utilizando a figura simbólica de uma escada. Em vez da abrangência de um estado-da-arte, tentou-se
escolher as publicações que possam caracterizar “degraus” da seqüência dos trabalhos sobre fundações em
solos colapsíveis. Os degraus representam, ao mesmo tempo, temas de trabalho, sem nenhuma
correspondência com hierarquia de valores, e marcos cronológicos, sem estabelecer períodos cronológicos
encerrados. Em geral, cada degrau é caracterizado por apenas um trabalho estrangeiro e um brasileiro.Para
efeitos didáticos, o texto foi dividido em duas “escadas”, denominadas colapso e sucção, com sete degraus
cada. Na primeira, são estabelecidos os degraus dos trabalhos que não incluem o importante papel da sucção
matricial. A segunda escada não é uma continuidade cronológica da primeira, pois há uma simultaneidade
parcial entre elas. Ao final de cada uma das escadas, tem-se um patamar, para representar a síntese do
“momento histórico”, como resultado das reflexões do autor desta resenha.

Abstract: This summary deals with the problem of building foundations in collapsible soils, with emphasis
on static load test published papers, and therefore, it does not deal with other important aspects of the soil
collapsibility. This paper was written in an unusual format, having the symbolic figure of a ladder. Instead of
considering a state-of-the-art approach, some particular publications, which can characterize steps of the
sequence of studies about foundations in collapsible soils, were selected. The steps represent, at same time,
topics of studies without any correspondence with the hierarchy of values, and chronological marks, without
establishing ended chronological periods. In general, each step is characterized by only one foreign and a
Brazilian paper. For didactic purposes, the text was divided in two ladders, titled collapse and suction,
respectively, with seven steps each. In the first one are established the steps corresponding to papers that do
not include the important role of matric suction. The second ladder is not chronological sequence of the first
one, as there is a partial simultaneity between them. At end of each ladder, there is a landing to represent a
synthesis of the historical moment as a result of this author’s reflections.

1. INTRODUÇÃO do índice de vazios que ocorre na tensão de


inundação, evidenciando o colapso.
Nos solos colapsíveis, geralmente porosos e com Antigamente, julgava-se que para entrar em
baixos teores de umidade, a infiltração de água em colapso o solo precisaria ser completamente
quantidade suficiente pode causar uma espécie de saturado, mas hoje sabe-se que a elevação do teor de
umidade para um determinado valor, aquém da
colapso da sua estrutura, determinando um recalque
saturação completa, já faz disparar o gatilho desse
suplementar, brusco e de grandes proporções. fenômeno. Esse teor de umidade ou grau de
O fenômeno do colapso pode ser reproduzido em saturação suficiente para acionar o mecanismo do
ensaios edométricos ou em provas de carga, com colapso caracteriza a condição de solo inundado, de
inundação artificial do solo em determinado estágio acordo com a terminologia apresentada no próximo
de carregamento. No ensaio de adensamento, item. Para facilidade de leitura, essa terminologia
analisa-se o comportamento apenas do “material” substitui, quando necessário, a terminologia original
solo, enquanto na prova de carga observa-se o dos autores citados nesta resenha.
comportamento do “sistema”, que inclui a geometria Nos estudos iniciais sobre solos colapsíveis já se
e o processo executivo do elemento estrutural de afirmava que, à estrutura porosa, caracterizada por
fundação instalado no maciço de solo. A Figura 1 um alto índice de vazios, pode estar associada a
ilustra, no ensaio edométrico, a significativa redução presença de um agente cimentante.

575
e
mês. Incrível, nesse caso, foi a explicação de um
engenheiro, entrevistado num programa de rádio de
e0
inundação grande audiência local, que invocou reflexos de um
e1 abalo sísmico havido na Colômbia (Cintra, 1998).
Tal tipo de interpretação equivocada já havia sido
Δe dado em Terra Roxa, PR, quando uma forte
tempestade precipitou 155 mm em 4 h, causando
sérios danos em construções: rachaduras de
alvenaria com aberturas de até 100 mm, inclinação
de paredes, ruptura de muros, rompimento de canos
de água e de esgoto, ruptura de vigas de concreto,
desaprumo de janelas, quebra de vidros e azulejos,
log σ emperramento de portas e rachaduras extensas no
Figura 1. Reprodução do colapso em ensaio solo. Segundo Lopes (1987), a população e a
edométrico imprensa imaginaram a ocorrência de um terremoto,
associado ao enchimento do reservatório de Itaipu.
Posteriormente, descobriu-se o importante papel Portanto, fundações implantadas em solos
da sucção matricial, que decorre das forças de colapsíveis podem apresentar um comportamento
capilaridade (gerando pressão neutra negativa) e de satisfatório por algum tempo, mas bruscamente
adsorção, forças essas originadas da interação entre sofrer um recalque adicional, em geral de
a matriz de solo e água. A baixos valores do teor de considerável magnitude, por causa da inundação
umidade correspondem altos valores da sucção repentina do solo.
matricial, que é uma parcela da sucção total,
gerando uma coesão adicional (coesão “aparente”) 2. TERMINOLOGIA
e, portanto, aumentando significativamente a
resistência ao cisalhamento do solo. Então, a É normalmente aceito que leigos não tenham
inundação do solo colapsível provoca o conceitos exatos e que, por isso, geralmente, não
enfraquecimento (ou destruição) da cimentação e a façam distinção semântica entre dois vocábulos de
dissipação da sucção matricial, anulando a coesão significado “próximo”, tais como eficiência e
“aparente” e, portanto, reduzindo significativamente eficácia, juiz e árbitro, roubo e furto, socialismo e
a resistência ao cisalhamento, o que provoca o comunismo, etc. O significado leigo, ou não-
colapso da sua estrutura. especializado, de certos vocábulos tem uso tão
Há solos colapsíveis que, ao serem inundados, comum que acaba registrado nos dicionários.
entram em colapso sob atuação apenas do estado de Em trabalhos técnicos e científicos, porém, é
tensões geostáticas (peso próprio da camada), isto é, imprescindível adotar uma terminologia precisa. Por
sem carregamento externo. É o caso, por exemplo, isso, apresenta-se a seguir o significado de alguns
do loess russo. Não parece ser, entretanto, o caso termos específicos utilizados nesta resenha,
dos solos colapsíveis do Brasil, nos quais o colapso adequados a provas de carga com inundação do solo
só ocorre se a carga externa atingir um valor limite durante o ensaio. Sempre que possível, inclui-se o
(ou crítico ou mínimo necessário), definido por crédito ao pioneirismo no uso do termo.
Cintra (1995) como “carga de colapso”.
Portanto, o requisito duplo para que as estruturas Carga de colapso
edificadas nos solos colapsíveis (brasileiros) sofram
recalque de colapso são o aumento do teor de Valor mínimo de carga, aplicada a um elemento
umidade até a inundação do solo e a atuação, nas isolado de fundação em solo colapsível, que,
fundações, de uma carga, no mínimo, igual à carga sobrevindo a inundação do solo, é suficiente para
de colapso. Então, o solo colapsível pode não entrar deflagrar o fenômeno do colapso. O conceito de
em colapso por insuficiência de umidade e/ou de carga de colapso é uma proposição de Cintra (1995).
carga. Mas, ocorrendo o colapso, os danos podem Numa prova de carga em estaca, com inundação
ser mais ou menos graves, dependendo dos do solo na carga admissível (Pa) e ocorrência do
recalques diferenciais resultantes. colapso nesse estágio de carregamento (Figura 2), a
No caso, por exemplo, das intensas chuvas que carga de colapso deve ser pesquisada com a
ocorreram no interior do Estado de São Paulo, em inundação em estágios inferiores à carga admissível.
1995, a Defesa Civil catalogou algum tipo de dano Em outra situação, em que não se constate o colapso
em cerca de 4.000 edificações, na cidade de na carga admissível (Figura 3), a determinação da
Araraquara, SP, onde se registrou a precipitação de carga de colapso (Rc) exige a introdução de novos
135 mm no dia 31/01 e de 660 mm em 10 dias de estágios de carregamento, mantida a inundação.
chuvas ininterruptas. Em tubulões escavados, mas Nessas duas figuras, em que R simboliza a
ainda não concretados, constatou-se a elevação de 4 capacidade de carga, utiliza-se uma forma de curva
m no nível d´água, que perdurou por mais de um carga x recalque compatível com o modo de ruptura

576
denominado ruptura física, para evitar a discussão colapsível” em inglês: collapsing soil (depois
sobre critérios de ruptura. Mas, para os conceitos tornou-se mais freqüente o uso de collapsible soil).
apresentados, não importa a forma da curva. Em São Os termos “colapsível” e “colapsibilidade” foram
Carlos, SP, por exemplo, as provas de carga em utilizados em português, pela primeira vez, por
placa e em tubulão exibem um padrão de curva Vargas (1970).
carga x recalque com um trecho final retilíneo no
carregamento, com resistências sempre crescentes Colapso
com os recalques, o que exige a aplicação de um
critério de ruptura convencional para definir a Fenômeno que ocorre com a estrutura de certos
capacidade de carga, e, no descarregamento, uma solos porosos e não-saturados ao serem inundados
recuperação elástica praticamente nula. sob carga constante, no mínimo igual à carga de
colapso. A inundação praticamente anula a sucção
Pa R Carga matricial, reduzindo em muito a resistência ao
cisalhamento do solo e causando uma espécie de
inundação “desmoronamento” ou “desabamento” da sua
estrutura. Peck e Peck (1948) foram os pioneiros no
emprego do termo “colapso” com esse significado,
Recalque

inicialmente na forma verbal to collapse, em inglês.


Na literatura geotécnica, encontra-se, às vezes, o uso
do termo “colapso” englobando também o
significado de esgotamento da capacidade de carga
de um elemento isolado de fundação submetido a
uma carga suficientemente elevada, mas sem
inundação do solo. Nesse caso, mantém-se a
umidade e aumenta-se a carga, enquanto no colapso,
Figura 2. Ocorrência de colapso na carga admissível ao contrário, mantém-se a carga e aumenta-se a
Pa
umidade. Portanto, por não se tratar do mesmo
Rc R Carga
fenômeno, é preferível, em nome da precisão,
reservar o vocábulo “colapso”, no âmbito
inundação geotécnico, apenas para o fenômeno provocado pela
inundação do solo colapsível sem acréscimo de
carga.
Recalque

Inundação

Ato ou efeito, acidental, natural ou artificial, de


elevar o teor de umidade de um solo colapsível até,
pelo menos, o necessário para que ocorra o colapso.
Essa elevação do teor de umidade, até a inundação,
Figura 3. Ocorrência de colapso em carga superior à para deflagrar o colapso, corresponde a uma
carga admissível diminuição da sucção matricial até um valor
próximo de zero. Assim, solo inundado equivale à
Colapsibilidade condição de sucção matricial nula. As causas de
inundação do solo, além da artificial, podem ser:
Propriedade dos solos colapsíveis de entrar em ruptura de condutos de água ou esgoto, infiltração
colapso quando inundados sob carga constante, pelo de água de chuva, fissuras e trincas em reservatório
menos igual à carga de colapso. É equivocado o uso d´água enterrado, ascensão do lençol freático, etc.
da expressão “colapsividade do solo”, pois sempre Antigamente, usava-se o termo “saturação” por
que couberem os dois sufixos, “bilidade” e julgar-se que o solo colapsível precisaria ser
“vidade”, o primeiro se aplica ao elemento passivo e completamente saturado para entrar em colapso. É o
o segundo, ao ativo, como, por exemplo, no caso de caso, por exemplo, da afirmação de Vargas (1978):
erodibilidade do solo (o solo é que sofre a erosão) e “quando a quantidade de água que entra nos poros
erosividade da água (a água é que provoca a erosão). não é suficiente para saturá-los, o colapso estrutural
não se dá”. Mas ultimamente se compreendeu que
Colapsível não há necessidade da saturação completa para
ocorrência do colapso, despertando o interesse por
Característica dos solos que sofrem colapso ao um termo substituto. Alguns autores brasileiros
serem inundados sob carga constante, maior ou tentaram o uso de “encharcamento”,
igual à carga de colapso. Jennings e Knight (1957) “umedecimento” e “irrigação”, mas acabou
usaram pela primeira vez a expressão “solo predominando o emprego de “inundação”,

577
provavelmente porque, na falta de um termo mais Rc R Carga
apropriado, lembrou-se da expressão “tensão de
inundação”, que já era utilizada no ensaio
edométrico realizado com introdução de água no
corpo de prova, para um certo nível de tensão
aplicada. No sentido corriqueiro, “inundação” e

Recalque
“saturação” são vocábulos praticamente sinônimos,
mas um dos verbetes registrados no Aurélio, para
“inundar”, tem a acepção de umedecer, molhar ou
banhar. Portanto, no tema da colapsibilidade e dos
solos não-saturados, o termo inundação tem um
significado específico, que pode abranger ou não a
saturação completa. A falta de um termo mais
adequado parece ocorrer também na língua inglesa,
pois os autores têm usado várias opções: wetting, Figura 4. Carga de colapso determinada em prova de
soaking, inundation, flooding, application of water, carga com pré-inundação do solo
moistening, etc.
3. PRIMEIRA ESCADA: COLAPSO
Recalque de colapso
Nesta escada, são estabelecidos os degraus dos
trabalhos que não incluem o papel importante da
Recalque produzido pela inundação de um solo sucção matricial no comportamento de fundações
colapsível, sob carga constante, no mínimo igual à em solos colapsíveis.
carga de colapso, e, portanto, suplementar ao
recalque estabelecido antes da inundação. A 1º Degrau: Constatação da existência do problema
magnitude do recalque de colapso depende do valor
da carga aplicada e do teor de umidade do solo antes A mais antiga notícia sobre a existência do
da inundação, além de outros fatores. problema de recalque provocado por inundação do
solo, sob carga constante, é, provavelmente, a de
Solo inundado autoria de Zamarin e Reshetkin (1932), apud Abelev
e Askalonov (1957): “solos loéssicos, com sua
Qualquer condição de umidade do solo entre o estrutura macroporosa, apresentam problemas de
teor suficiente para provocar o colapso e a saturação recalque, sob fundações de estruturas e edifícios, por
completa. Um solo inundado pode não estar causa da sua tendência para deformação quando
saturado, mas todo solo saturado está inundado. inundados”.
Um registro histórico muito interessante foi feito
Solo não-inundado por Abelev (1938), apud Cambefort (1972). Trata-se
do caso de uma escola ucraniana, com fundações em
Qualquer condição de umidade do solo solo do tipo loess, que após ter sofrido um incêndio,
insuficiente para deflagrar o colapso. Muito se apresentou uma inclinação acentuada, exigindo
emprega, até hoje, no Brasil e no exterior, a escoramento. Constatou-se que foi a água lançada
expressão “umidade natural” de um solo colapsível. pelos bombeiros para apagar o fogo que, infiltrando-
Porém o teor de umidade dos solos não-saturados se no solo, provocou o recalque de uma parte da
não é constante ao longo do tempo, por influência construção e, conseqüentemente, o desaprumo.
das variações climáticas e pluviométricas. Essas No Brasil, Vargas (1951) faz a primeira menção à
oscilações naturais do teor de umidade podem se existência do problema em construções residenciais
traduzir em variações importantes da sucção ao citar que “a argila porosa vermelha da cidade de
matricial e, conseqüentemente, da capacidade de São Paulo tem sido tradicionalmente um problema
carga de fundações em solos colapsíveis. Por isso, de fundação”, pois “a construção de edifícios sobre
deve-se evitar o uso da expressão “solo na umidade essa argila, mesmo com tensões admissíveis
natural”. reduzidas nas sapatas, tem resultado em recalques
No caso de prova de carga realizada com pré- que, na maioria das vezes, são suficientemente
inundação do terreno, pode-se considerar, por grandes para trincar a alvenaria de tijolos”. Porém,
extensão de conceito, que a colapsibilidade se não é feita associação desses recalques com a
manifesta não por um recalque abrupto, já que não infiltração de água, embora, naquela época, já se
se tem um degrau na curva tensão x recalque, mas ouvissem “crônicas de casas residenciais que tinham
pelo aumento da deformabilidade (Figura 4). A trincado e recalcado depois que ocorrera ruptura de
aplicação de um critério de ruptura à curva carga x encanamento de água” (Vargas, 1993). Silveira e
recalque de uma prova de carga, realizada com Souto Silveira (1963) assinalam que um grande
inundação prévia, indica, também por extensão de número de casas em São Carlos, SP, apresenta
conceito, a carga de colapso. danos e trincas, também sem deduzir que a causa era

578
a infiltração de água. É Vargas (1970) quem faz essa 3º Degrau: Prova de carga em placa com inundação
correlação pela primeira vez, ao mencionar que “no
solo poroso do interior de São Paulo um simples Holtz e Gibbs (1951) apresentam os resultados
vazamento de esgoto pode provocar o recalque de pioneiros de provas de carga realizadas em placas de
colapso nas fundações de uma casa pequena”. 0,3 x 0,3 m2, 0,9 x 0,9 m2, e 1,5 x 1,5 m2, em loess
Fora do contexto de fundações de edifícios, há a com pré-inundação e em loess não-inundado, em
referência anterior de Scherrer (1965), sobre a cavas com 1,5 m de profundidade e com mesmo
barragem de terra de Jurumirim, na qual a tamanho das placas. Os resultados dos ensaios nas
“saturação das fundações devida ao enchimento do placas maiores, por exemplo, mostram que, embora
reservatório produziu um recalque adicional além o loess seco tenha suportado carregamentos de até
daquele devido ao adensamento”. 400 kPa, sem nenhum indício de ruptura e com
recalques de apenas 10 mm, no solo inundado houve
2º Degrau: Medidas reparadoras um aumento significativo da deformabilidade (para
uma tensão de 200 kPa, o recalque aumentou de 3
Peck e Peck (1948) fazem, provavelmente, o mm para 40 mm).
primeiro relato sobre trabalhos de reparação em No Brasil, o pioneirismo na realização de provas
fundações que sofreram recalque de colapso devido de carga em placa, em solo inundado, aparece na
à inundação do solo. publicação de Nápoles Neto e Lorena (1956), que
Trata-se de um edifício térreo construído em descreve os estudos efetuados pelo IPT para as
1930, em local não mencionado, com área de 100 x fundações da Usina Siderúrgica de Volta Redonda,
61 m2, para execução de serviços em locomotivas a no início da década de 40.
vapor, inclusive sua lavagem. A maior parte do piso Trata-se da maior obra civil do Brasil até aquela
era ocupada por 16 cavas, com 1,2 m de largura, 1,2 época. Numa área de 7 km2, localizaram-se a usina
a 1,8 m de profundidade, e cerca de 36 m de (35 construções industriais totalizando 0,25 km2 de
extensão, para possibilitar os serviços sob as área construída) e a parte residencial, a cidade de
locomotivas. As sapatas de fundação dos pilares Santa Cecília (3.700 construções, incluindo
foram projetadas para uma tensão admissível de 150 residências, igrejas, centros de saúde, posto
kPa, resultando a maioria delas com área de 1,5 m2. metereológico, escolas, hotéis, um bloco de
edifícios comerciais, etc.). Para o projeto desse
“O solo era descrito como silte, com material
complexo, foram feitas 1.481 sondagens com
cimentante suficiente para fazê-lo coesivo e muito
12.156 m perfurados, abertos 20 poços com mais de
estável; várias estruturas pesadas já haviam sido 100 m perfurados e realizadas 64 provas de carga
construídas na vizinhança e nenhuma delas tinha (em placa, estacas e tubulões).
experimentado recalque suficiente para levantar Numa das provas de carga realizadas em placa de
alguma suspeita sobre a qualidade do material de 0,8 x 0,8 m2, investigou-se o efeito da água sobre a
fundação.” argila siltosa de Volta Redonda. Nesse ensaio, o
Mas “menos de um ano após a construção, terreno resistiu bem à tensão máxima aplicada de
recalques comprometedores foram observados na 0,38 MPa, com recalque estabilizado de 14 mm,
área nordeste do edifício”, onde “seis cavas mas com a inundação da cava, mantida a tensão
recalcaram entre 25 e 150 mm e vários pilares máxima, deu-se o colapso em poucas horas, com o
recalcaram de 25 a 380 mm”, causando danos recalque passando para 42 mm. Em seguida,
estruturais. Descobriu-se que justamente a área experimentou-se descarregar a placa e recarregá-la
nordeste, e somente ela, havia sido extensivamente mantendo-se a inundação, quando, então, houve
usada para lavar as locomotivas. “Assim que o ruptura nítida a partir de 0,25 MPa de tensão,
subsolo se tornou mais ou menos saturado, escoando-se o terreno lateralmente.
rapidamente os recalques ocorreram”. “Onde a
estrutura do material foi completamente destruída, 4º Degrau: Prova de carga em estacas e tubulões
foi necessário reconstruir algumas sapatas e reduzir com inundação
a tensão admissível para 50 kPa”. Também foi
impermeabilizado o piso da área de lavagem das a) Estacas à compressão
locomotivas, além de providenciadas instalações
adicionais de drenagem. “Durante 15 anos após a Um trabalho pioneiro sobre provas de carga em
execução dessas reparações, não ocorreram estacas em solo colapsível é o de Holtz e Gibbs
recalques adicionais”. (1953), que relata a realização de 28 ensaios, em
É interessante observar que a solução adotada de Nebraska, EUA, para a construção de estruturas
reduzir a tensão significa a intuição, presente já hidráulicas em loess. O recalque era tido como o
naquela época, de que o colapso depende do nível problema mais importante neste tipo de construção,
de tensão aplicada e que, portanto, para tensões em loess, por causa do colapso da estrutura do solo
menores o colapso pode deixar de ocorrer. quando inundado sob carga e, por isso, o emprego
de estacas era considerado a solução do problema.

579
Então, planejou-se um programa experimental a aplicação da carga máxima de ensaio e
para ensaiar estacas cravadas ou instaladas com pré- estabilização do recalque, mas antes do início do
furo, se necessário, e estacas moldadas in loco com descarregamento, houve uma chuva intensa que
camisas metálicas. Foram escolhidos dois sítios para inundou o local e provocou o recalque de colapso.
a pesquisa. Em cada sítio, havia uma área para
instalação de estacas com pré-inundação do terreno b) Estacas à tração
e outra para implantação de estacas sem pré-
inundação. Na área em que não houve pré- Nadeo e Videla (1975) relatam a realização de
inundação do terreno para instalação das estacas, prova de carga à tração, com pré-inundação, numa
realizaram-se provas de carga em duas condições: estaca escavada de 0,3 m de diâmetro e 14,9 m de
com e sem pré-inundação. comprimento, na cidade de Córdoba, Argentina, na
No primeiro sítio, para estacas de ponta, com fase de projeto de um viaduto. Um carregamento
cerca de 14 m de comprimento, apoiadas em areia inicial, sem inundação, foi levado até apenas 120
compacta subjacente ao loess superficial com 10 a kN, com recalque estabilizado de 0,2 mm. No
12 m de espessura, praticamente não houve descarregamento, inundou-se no estágio de 60 kN,
influência da inundação nos resultados das provas atingindo-se um recalque de 0,8 mm. Finalmente,
de carga. Já no segundo, para estacas de atrito, com procedeu-se a um ensaio com pré-inundação, até
17 m de comprimento, embutidas em loess com 840 kN, que originou um recalque de 29,0 mm.
mais de 18 m de espessura, houve diminuição No Brasil, Carvalho e Souza (1990) apresentaram
significativa da capacidade de carga por causa da resultados de provas de carga à tração, realizadas em
inundação do terreno. Para uma estaca cravada com Ilha Solteira, SP, em estacas do tipo broca,
pré-furo a seco, a capacidade de carga de escavadas mecanicamente com 6 m de comprimento
aproximadamente 1000 kN caiu, com a inundação, e 0,25 m de diâmetro. Num ensaio inicial, sem
para 500 kN e, para uma estaca cravada com pré- inundação, atingiu-se a carga de ruptura de 150 kN.
furo obtido por injeção d´água, a redução foi de Em seguida, realizou-se novo ensaio, com
1500 kN para 1200 kN. Em outra estaca, cravada inundação no estágio de 50 kN, ocorrendo o colapso
sem pré-furo, a capacidade de carga, que era bem decorridos 92 min do início da inundação. O
superior a 1500 kN, reduziu-se a 600 kN no caso de recalque, que estava estabilizado em cerca de 2 mm,
terreno pré-inundado. antes da inundação, ultrapassou 45 mm.
É interessante observar que a decisão de realizar
esses ensaios indica que, já naquela época, sabia-se c) Grupos de estacas
que as fundações profundas também podem ser
afetadas pelo colapso. Fernandes (1995) apresenta os resultados de
No Brasil, Albiero (1972), embora tenha provas de carga realizadas em grupos de duas a
realizado apenas provas de carga sem inundação (19 quatro estacas, em São Carlos, SP. As estacas eram
ensaios em estacas escavadas do tipo broca com do tipo broca, escavadas mecanicamente, com 0,25
diâmetro 0,15 a 0,30 m e comprimento de 2 a 8 m, m de diâmetro e 6 m de comprimento, com
em São Carlos, SP), já destacava o fato de que “esse espaçamento entre estacas igual a três diâmetros, de
tipo de solo apresenta, quando inundado, uma centro-a-centro.
sensível redução de sua resistência ao cisalhamento Realizadas as provas de carga nos grupos de
e, por isso, na estação chuvosa esse tipo de estaca estacas, primeiramente sem inundação do solo,
sofre uma redução de sua capacidade de carga”. foram obtidos os seguintes valores de capacidade de
As primeiras provas de carga em estaca, com carga: 326 kN (duas estacas), 497 kN (três estacas
inundação do terreno, no Brasil, provavelmente em linha), 472 kN (triângulo) e 599 kN (quadrado).
foram as relatadas por Mellios (1985) e Monteiro Depois, com a inundação, as correspondentes cargas
(1985). Trata-se de provas de carga em estacas do de colapso foram de 190, 350, 350 e 450 kN,
tipo broca, nos solos porosos das proximidades da implicando valores de redução de capacidade de
Hidrelétrica de Jupiá, realizadas com e sem carga de 42, 30, 26 e 25% (Fernandes, 1995;
inundação do terreno. As estacas foram executadas Fernandes e Cintra, 1997).
com trado mecânico, com diâmetro de 0,3 m e
comprimento de 5 m. Constatou-se uma capacidade d) Carga horizontal em estacas
de carga da ordem de 150 kN, sem inundação do
terreno, valor esse que se reduziu para cerca da Miguel (1996) apresenta os resultados de provas
metade com a inundação prévia. de carga horizontal em estacas. Foram ensaiados
Nesse mesmo ano, há o registro interessante feito pares de estacas Strauss (0,28 m de diâmetro e 10 m
por Moraes et al. (1985) do colapso ocorrido “por de comprimento) e de estacas raiz (0,25 m de
acaso” numa prova de carga, uma vez que não se fez diâmetro e 16 m de comprimento), em São Carlos,
a inundação proposital do terreno. No ensaio de SP.
carregamento em tanque de armazenamento de Com a inundação do terreno, encontrou-se uma
GLP, apoiado em berços sobre estacas Strauss, após redução, em média, de 24 para 20 kN (17%) e de 27

580
para 22 kN (19%) na capacidade de carga horizontal B/2 B/2
para as estacas Strauss e raiz, respectivamente.
Quanto ao coeficiente de reação horizontal do solo
(nh), o parâmetro que rege o comportamento de
estacas carregadas horizontalmente em areia, B
obteve-se o valor de 8000 kN/m3, na condição não- z=B compactado
inundada, e uma enorme redução de 78% desse
valor em conseqüência da inundação (Miguel, 1996;
Miguel e Cintra, 1996). Figura 5. Uso de sapatas em solo colapsível
compactado (Cintra et al., 2003)
e) Tubulões a céu aberto
Inicialmente, a compactação foi concebida como
Carneiro (1999) apresenta os resultados de solução para redução da compressibilidade de solos
provas de carga realizadas em São Carlos, SP, em porosos para emprego de fundações por sapatas
quatro tubulões a céu aberto com fuste de diâmetro como, por exemplo, nos casos das fundações dos
0,6 m e base alargada apoiada à cota –8,0 m, com hangares da Escola de Aeronáutica de Pirassununga
diâmetro de 1,5 m. Dois tubulões foram ensaiados (IPT, 1944), da fundação de um grande reservatório
com pré-inundação do terreno, determinando uma de água, o Reservatório da Consolação, na cidade de
carga de colapso média de 820 kN e, outros dois, São Paulo, com cerca de 50.000 m3 de capacidade
sem inundação, com valor médio de capacidade de (Vargas, 1951), e das fundações dos edifícios da
carga de 1230 kN. Esses valores indicam uma Escola de Engenharia de São Carlos, de um ou dois
andares, para laboratórios, salas de aula e anfiteatros
redução de capacidade de carga de 33% devido à
(Silveira e Souto Silveira, 1963).
inundação do terreno.
Abelev & Askalonov (1957) já citavam que o
método mais simples de eliminar recalque de
5º Degrau: Melhoria do solo como solução de colapso é compactar o solo mecanicamente, cuja
projeto eficácia era corroborada pela experiência na
construção de barragens de terra em solos loéssicos
Abelev e Askalonov (1957) descrevem um na antiga URSS. No Brasil, a compactação como
procedimento de melhoria do solo, para evitar o medida preventiva ao colapso foi mencionada por
recalque de colapso. Trata-se do método de Aragão e Melo (1982), no caso do Conjunto
estabilização dos solos loéssicos por injeção de uma Habitacional Massangano, constituído por 1200
solução de silicato de sódio, empregado em 1949, na casas, em Petrolina, PE. Constatou-se a ocorrência
cidade de Zaporozhye, ex-URSS, na estabilização de colapso no solo de fundação, o qual foi
do loess de fundação sob chaminés de 80 e 120 m responsável pelo aparecimento de fissuras, trincas e
de altura. rachaduras em mais de 600 casas e, para a execução
Esse método da silificação de solos loéssicos foi das fundações de novas casas, os autores
usado logo depois, de 1954 a 1956, como medida recomendaram o procedimento da compactação para
reparadora no Teatro Ópera de Odessa, afetado por evitar o problema do colapso.
recalques de colapso que se repetiam. Após o Mas a comprovação da eficácia da compactação
término dos trabalhos (15.400 m3 de solo somente se iniciou com os ensaios em modelos
estabilizado por meio de 2.250 furos de injeção), realizados por Cintra et al. (1986). Em placas de 30
realizados em interdição do teatro, os recalques x 60 mm2, instaladas no topo de blocos
cessaram. Nesse caso de Odessa, para verificar a indeformados (300 x 300 x 240 cm3), em
eficácia do método, foram realizadas duas provas de laboratório, realizaram-se provas de carga com
carga em placa com área de 0,5 m2. O recalque do inundação na tensão de 80 kPa. Com grau de
compactação de 90%, o recalque de colapso foi
solo estabilizado, após inundação, foi igual a 3 mm,
reduzido em 86%.
enquanto o solo não-estabilizado recalcou 67 mm,
Depois, foram realizadas provas de carga em
para a tensão aplicada de 250 kPa. placa circular de diâmetro 0,80 m, em Ilha Solteira,
No Brasil, o procedimento de melhoria do solo SP. Para a tensão de 60 kPa, a redução do recalque
colapsível mais citado, para reduzir de colapso foi de 87% por causa da compactação, ao
substancialmente o recalque de colapso e viabilizar diminuir de 38,2 para 4,9 mm. Finalmente, foram
o emprego de fundações por sapatas, tem sido a construídas duas sapatas de 0,60 x 3,00 m2, com
compactação do solo. O próprio solo escavado, até aplicação de uma sobrecarga de 120 kPa e posterior
uma profundidade z, contada a partir da cota de inundação. O recalque de colapso diminuiu de 19,4
apoio da sapata e igual à largura B da sapata, é para 1,8 mm, resultando uma redução de 93% por
reposto em camadas compactadas, conforme o causa da compactação do solo sob a sapata (Souza,
esquema da Figura 5. 1993; Souza e Cintra, 1994; Souza et al., 1995).

581
Essas reduções são impressionantes, inclusive Realizadas as provas de carga, uma sem
porque se tem a presença do solo colapsível não- inundação do terreno e outra com pré-inundação,
compactado a uma distância de apenas B da base da encontraram-se inicialmente os baixos valores de
sapata. No topo dessa camada não-melhorada chega capacidade de carga, de 871 kN, e de carga de
uma tensão propagada aproximada de apenas 25% colapso, de 408 kN, respectivamente. Com a
da tensão aplicada pela sapata. Assim, a utilização “cravação” dos tubulões esses valores cresceram
da tensão admissível σa, determinada sem o significativamente. Para 0,3 m de “cravação”, por
benefício da compactação, corresponde a aplicar exemplo, a capacidade de carga passou para 1607
somente ¼ σa no topo da camada não-compactada, o kN e a carga de colapso para 774 kN, o que resulta
que ameniza significativamente o colapso (por uma carga admissível de 516 kN, com fatores de
diminuição da tensão). segurança de 2,0 à capacidade de carga e 1,5 ao
Obviamente, quanto mais espessa a camada colapso. Em conclusão, a “cravação” de 0,65 m
compactada, maior a eficácia da solução. Para uma seria suficiente para garantir a carga admissível
espessura de 2B, por exemplo, a tensão propagada (segura ao colapso e com recalques ínfimos) de 800
ao topo da camada não-compactada é de cerca de kN, compatível com o diâmetro de fuste de 0,50 m.
apenas 10% da tensão aplicada pela sapata. Porém, Para se obter a mesma carga admissível, sem a
economicamente a solução deixa de ser interessante. “cravação”, o tubulão precisaria ser bem mais
Essa melhoria do solo colapsível não se aplica profundo.
aos casos em que as sapatas têm dimensões muito
grandes, pois economicamente e até tecnicamente 6º Degrau: As contribuições de Jennings e Knight
pode ser inviável remover uma camada muito
espessa de solo para compactá-lo. Um exemplo de A proposição do ensaio de adensamento duplo
aplicação incorreta dessa solução ocorreu em por Jennings e Knight (1957) representa um marco
Paulínia, SP, nas fundações de tanques de betume no estudo da colapsibilidade. Em trabalho anterior,
com 40 m de diâmetro e 15 m de altura (Cintra et al. de 1956, esses autores já citavam a realização do
2003). A partir de outra experiência, bem-sucedida, ensaio de adensamento simples, para reproduzir o
em tanques menores, com remoção de uma camada fenômeno do colapso em laboratório: após a
de 7 m para compactação, usou-se equivocadamente aplicação do mesmo nível de tensão atuante na
a mesma espessura de 7 m em Paulínia. Já no teste fundação e a estabilização das deformações,
do tanque, ao se fazer o enchimento com água, um inundava-se a amostra, obtendo-se uma significativa
vazamento na mangueira, próximo à parede do redução adicional do índice de vazios, que
tanque, provocou um recalque de colapso de 30 cm, caracteriza o recalque de colapso.
comprometendo a utilização do tanque. O benefício No Brasil, Queiroz (1959) foi o primeiro a
da compactação foi insuficiente, pois essa espessura realizar ensaios edométricos com inundação do solo
de solo compactado de 7 m (17% do diâmetro do por ocasião do projeto e construção da Barragem de
tanque) implicou a propagação, até o topo da Três Marias.
camada não-compactada, de cerca de 70% da tensão Em outro trabalho, bem posterior, Jennings e
média aplicada pela base do tanque. Portanto, a Knight (1975) apresentam o conceito básico de
redução da tensão ficou bem aquém do necessário. recalque de colapso, ilustrado pela Figura 6. Sob a
No interior de São Paulo, o procedimento da atuação da tensão admissível (σa), uma sapata com
compactação é bem indicado para as obras pequenas base bem acima do NA sofre um recalque “normal”,
e até médias, mas o seu uso tem sido muito restrito, praticamente estabilizado no tempo t1, quando
por causa do advento das estacas apiloadas, que têm ocorre a ruptura de um conduto de água próximo da
baixo custo e boa produtividade nos solos porosos. base da sapata. Então, surge o recalque de colapso,
Outro método de melhoria do solo colapsível sem alteração da tensão aplicada, mas com
pode ser a “cravação” de tubulões a céu aberto para acréscimo importante do teor de umidade devido à
aumento da capacidade de carga e da carga de quebra do tubo.
colapso (Benvenutti, 2001; Cintra et al., 2004a). Essa figura parece ter sugestionado uma mudança
Dois tubulões com fuste de diâmetro 0,5 m e com nas provas de carga. A inundação, que era
base alargada (diâmetro de 1,5 m e altura de 0,9 m) introduzida sempre previamente ao ensaio, em
assentada à cota -6,0 m, foram ensaiados em São muitos casos passou a ser realizada durante o
Carlos, SP. Essa cota jamais seria cogitada para ensaio, sob carga constante, no estágio
apoiar a base de tubulões, em projetos reais de correspondente à tensão admissível (ensaio de
fundações, porque o solo é compressível e placa) ou carga admissível (ensaio de estaca).
colapsível. Mas os tubulões foram executados com Grigorian (1997) compara esses dois modos de
base apoiada nessa cota, de propósito, para execução de provas de carga com inundação e
pesquisar o benefício da cravação, a qual foi Cintra (1995) e Cintra et al. (1997) demonstram a
simulada por meio de sucessivas provas de carga vantagem da retomada da prova de carga com pré-
estática no mesmo tubulão. inundação do solo.

582
indeformada, com inundação em determinada tensão
(300 kPa, no caso) e também o cálculo do potencial
σa de colapso, com e1 em vez de eo.

7º Degrau: Ensaios de penetração dinâmica e


estática

Reginatto (1971) analisa os valores do índice de


resistência à penetração NSPT obtidos em sete furos
de sondagem, em Córdoba, Argentina, com pré-
inundação do terreno em três deles, constatando que
a inundação provoca uma redução importante no
NSPT.
No Brasil, Lobo (1991) verifica a influência que a
variação do NA provoca no valor do índice de
resistência à penetração (NSPT) com base nos
resultados de sondagens de duas campanhas
Figura 6. Conceito básico de recalque adicional executadas em diferentes épocas, em 1987 e 1988,
devido ao colapso da estrutura do solo (Jennings e quando da implantação de um conjunto residencial
Knight, 1975) em Bauru, SP. Ressalvando-se o fato de que as
Jennings e Knight (1975) apresentam também a campanhas foram realizadas por empresas
definição de potencial de colapso (PC), com base na diferentes, os resultados indicam uma redução de
variação do índice de vazios (Δe) que ocorre, no cerca de 50% nos valores de NSPT por causa da
ensaio edométrico, com a inundação da amostra na ascensão do NA. Também se observa uma
tensão de 200 kPa: diminuição de aproximadamente 30% no NSPT
quando se utiliza o sistema de circulação de água
Δe antes de atingir o NA.
PC = 100 (%) (1) Ferreira (1994) apresenta os resultados de duas
1 + eo sondagens realizadas em Petrolândia, PE, uma delas
com pré-inundação do terreno. Com os valores de
em que eo é o índice de vazios inicial, conforme NSPT obtidos até 5,3 m de profundidade, constata-se
ilustrado anteriormente pela Figura 1. Cinco que a inundação provoca uma redução no índice de
intervalos de valores do potencial de colapso resistência à penetração, crescente com a
definem os diferentes graus de gravidade do profundidade, de 30% para 70%.
problema. Quanto ao ensaio de penetração estática, Ferreira
et al. (1989) apresentam a comparação inédita entre
No Brasil, o potencial de colapso foi dois ensaios CPT, realizados numa camada de solo
popularizado por Vargas (1978) como uma espécie coluvionar colapsível de Ilha Solteira, SP, sendo um
de critério para diagnosticar solo colapsível, mas ensaio sem inundação e outro com pré-inundação.
com substituição, na equação (1), do índice de Os resultados obtidos em ambas as situações e
vazios inicial da amostra (eo) pelo índice de vazios apresentados na Figura 7, demonstram uma redução
no início da inundação (e1). O solo é caracterizado acentuada da resistência de ponta do cone devido à
como colapsível quando o potencial de colapso é inundação.
maior que 2%, sem fixação de uma tensão de
inundação, provavelmente indicando que se proceda qc(MPa)
à inundação na tensão admissível provável. 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Na nota do item sobre solos colapsíveis, no
capítulo das fundações superficiais, a NBR-9122/96
prescreve que “a condição de colapsibilidade deve
z (m)

ser verificada através de critérios adequados, não se


dispensando a realização de ensaios edométricos Não-inundado
com encharcamento do solo”. 5
Aquele valor limite de 2% já era citado por Beles
e Stanculesco (1961): “considera-se que um terreno
Inundado
de loess apresenta um perigo de recalque acentuado
sob carga, em caso de inundação, se o recalque
específico ultrapassar 2%”, para uma tensão de 10
inundação de 300 kPa no ensaio edométrico.
De acordo com Lutenegger e Saber (1988),
parece que foi Abelev, em 1948, o primeiro a Figura 7. Resistência de ponta de cone em solo pré-
sugerir um ensaio edométrico de uma amostra inundado e não-inundado (Ferreira et al., 1989)

583
Patamar da primeira escada estacas de deslocamento são menos afetadas pela
colapsibilidade do que as estacas escavadas, ou sem
Neste patamar, não se considerava o importante deslocamento. Assim, para estacas de deslocamento
papel da sucção matricial no comportamento das obtêm-se valores menores de redução de capacidade
fundações em solos colapsíveis. É como se a de carga. Por outro lado, as estacas flutuantes na
condição não-inundada fosse única, caracterizando camada colapsível são muito mais sensíveis à
um comportamento carga x recalque invariável. colapsibilidade, em relação a estacas do mesmo tipo,
O problema eram as chuvas intensas, a ruptura de mas mais longas, penetrando no estrato não
condutos ou qualquer outra causa de infiltração colapsível. Logo, nas estacas flutuantes a redução de
significativa de água no solo, provocando o recalque capacidade de carga por inundação é bem mais
de colapso nas fundações. Daí o interesse pela significativa.
adoção de medidas preventivas à infiltração de água, Portanto, além das características geotécnicas do
principalmente de água de chuva no caso de maciço de solo, a carga de colapso e,
fundações rasas. conseqüentemente, o grau de redução de capacidade
As chuvas também afetam os resultados de de carga são dependentes do processo executivo e
sondagens, pois o índice de resistência à penetração da geometria do elemento estrutural de fundação.
(NSPT) obtido em períodos chuvosos é inferior ao
encontrado em período de seca, no mesmo local, à c) Metodologia de projeto de fundações profundas
mesma profundidade. De modo semelhante, as
provas de carga realizadas em época de chuva No projeto de fundações profundas em solos
indicam valores de capacidade de carga diminuídos colapsíveis, geralmente se tem a opção técnica de
em relação a ensaios conduzidos na estação seca do escolher o tipo e profundidade de apoio do elemento
ano. estrutural de fundação de modo a minimizar o efeito
Como se esperava unicidade no comportamento da colapsibilidade do solo, isto é, minimizar a
carga x recalque do ensaio não-inundado, qualquer redução de capacidade de carga por inundação do
variação na capacidade de carga, em provas de carga solo. Mas, muitas vezes, a opção mais econômica é
realizadas no mesmo local, mas em datas diferentes, outro tipo de fundação, com menor profundidade,
era atribuída tão somente à variabilidade do maciço com carga admissível diminuída para garantir uma
de solo. Por razões semelhantes, variações no índice segurança mínima ao colapso.
de resistência à penetração em sondagens realizadas Qualquer que seja a solução, além da capacidade
em épocas diferentes, mas em furos próximos, eram de carga na condição não-inundada, há necessidade
interpretadas como devido à variabilidade do de se determinar também a carga de colapso, para
maciço de solo ou aos procedimentos de ensaio. aplicação de um fator de segurança específico. Isso
Considerando que o problema se restringia à constitui uma metodologia de projeto para
“chuva”, interessava reproduzi-lo por meio de fundações em solos colapsíveis. Na determinação da
ensaios inundados. carga admissível, além das verificações usuais de
segurança à ruptura e ao recalque excessivo, inclui-
a) Carga de colapso se a verificação da segurança ao colapso do solo.
Essa verificação complementar consiste na
A carga de colapso pode ser determinada aplicação de um fator de segurança de, pelo menos,
diretamente pela realização de uma prova de carga 1,5 à carga de colapso. Então, abstraindo a
com pré-inundação do terreno, aplicando-se um verificação ao recalque admissível, a carga
critério de ruptura à curva carga x recalque. admissível (Pa) deve ser tal que:
Pode-se especular que a carga de colapso talvez
possa ser estimada por meio dos métodos semi- ⎧R / 2,0
empíricos de cálculo de capacidade de carga, Pa ≤ ⎨
utilizando valores de NSPT ou qc obtidos em ensaios ⎩R c / 1,5
inundados.
De qualquer modo, a carga de colapso deve ser Assim, por exemplo, no caso de uma fundação
conhecida, por representar a resistência mínima do por estacas com capacidade de carga de 1000 kN
elemento isolado de fundação em solo colapsível. (obtida na condição não-inundada) e carga de
colapso de 600 kN (ensaio pré-inundado), a carga
b) Redução da capacidade de carga admissível seria de 400 kN (fator de segurança 1,5
ao colapso), em vez de 500 kN (fator de segurança
Em relação à capacidade de carga determinada na 2,0 à ruptura), desde que verificado o recalque
condição não-inundada, a carga de colapso admissível. Pode-se aproveitar esse exemplo para
representa uma redução da capacidade de carga mostrar a inconveniência da prova de carga com
devido à inundação. inundação na carga admissível com a mera
Essa redução da capacidade de carga define o finalidade de verificar o colapso ou não nessa carga.
grau de susceptibilidade da fundação ao colapso. No Nesse caso, não teria havido colapso nessa carga e o
caso de fundações por estacas, por exemplo, as projeto teria mantido a carga admissível de 500 kN,

584
o que implicaria um fator de segurança de apenas O uso de circulação de água antes do NA, em
1,2 ao colapso. alguns furos, pode até substituir a prescrição de
A adoção do valor 1,5 para o fator de segurança ensaios SPT com pré-inundação do terreno, se
ao colapso, juntamente com o fator de segurança 2,0 comprovada a equivalência dos dois procedimentos.
à ruptura na condição não-inundada, implica que a
carga de colapso é a condicionante de projeto 4. SEGUNDA ESCADA: SUCÇÃO
sempre que a redução de capacidade de carga por
inundação for superior a 25%. Para reduções de Nesta outra escada, são caracterizados os degraus
capacidade de carga inferiores a 25%, o valor da dos trabalhos sobre o papel importante do teor de
carga admissível não é afetado pela colapsibilidade. umidade ou da sucção matricial no comportamento
Essa metodologia caracteriza uma evolução do de fundações em solos colapsíveis.
conhecimento. Em vez de se determinar a carga
1º Degrau: Teor de umidade e sucção
admissível, sem a consideração da colapsibilidade, e
apenas fazer a verificação por meio de provas de Croney e Coleman (1953) abordam o papel
carga com inundação nessa provável carga desempenhado pelo teor de umidade nas
admissível, passou-se a levar em conta a propriedades mecânicas do solo, sugerindo que
colapsibilidade na própria determinação da carga essas propriedades estejam associadas à sucção do
admissível. solo, e também tratam do efeito que as mudanças na
Mudou-se a concepção filosófica de projeto. condição de umidade do solo pode ter na
Antes, realizava-se a prova de carga com inundação estabilidade de fundações rasas. Essa publicação
diretamente no estágio correspondente à carga talvez tenha sido a primeira a relacionar a sucção do
admissível, para simular o que podia ocorrer na solo com o comportamento de fundações.
fundação implantada em solo colapsível, projetada No Brasil, Wolle e Carvalho (1988) e Gusmão
sem considerar a colapsibilidade. Depois, com a Filho (1994) destacam a influência e os efeitos,
determinação da carga de colapso em prova de carga respectivamente, das variações de umidade na
com pré-inundação, instaurou-se o projeto de estabilidade de fundações.
fundação com segurança ao colapso, evitando a A infiltração de água, por chuva por exemplo,
ocorrência do colapso na vida útil da obra. Uma vez pode não ser suficiente para inundar o solo
que o colapso não deve ocorrer, não é cabível principalmente em maiores profundidades, o que é
nenhum cálculo para estimativa de recalque de incapaz de provocar o colapso, mas diminui a
colapso. sucção matricial, podendo majorar os recalques.
d) Fundações por sapatas 2º Degrau: Ensaios de campo
A NBR 6122/96 prescreve que, “em princípio, Reginatto (1971) mostra, por meio da Figura 8,
devem ser evitadas fundações superficiais apoiadas que os valores do índice de resistência à penetração
em solos colapsíveis, a não ser que sejam feitos NSPT diminuem com o aumento do teor de umidade
estudos considerando-se as tensões a serem do solo.
aplicadas pelas fundações e a possibilidade de
encharcamento do solo”. NSPT
Pode-se acrescentar a possibilidade de viabilizar
as fundações por sapatas em solos colapsíveis por
meio da compactação do solo.
15
e) Ensaios de penetração

A inundação do solo colapsível afeta os


resultados de ensaios de penetração, reduzindo os
valores do índice de resistência à penetração (NSPT) 10

e a resistência de ponta (qc) de ensaios CPT.


Por isso, numa campanha de ensaios de campo
em solo colapsível deve-se cogitar a realização de
alguns ensaios com pré-inundação do terreno. No
5
caso do SPT, em particular, é possível que a prática
contrária à norma de, na perfuração, usar o sistema
com circulação de água antes de atingir o NA,
reproduza, de certa forma, a condição de inundação
necessária para o colapso. Em conseqüência, essa
prática pode ser interessante em solos colapsíveis, se 0 5 10 15 20 25 30 w (%)

utilizada apenas em parte dos furos de sondagem de Figura 8. Variação de NSPT com o teor de umidade
uma campanha. (Reginatto, 1971)

585
Apesar de englobar valores de NSPT obtidos a 3º Degrau: Curva edométrica
diferentes profundidades em quatro locais, em
Córdoba, Argentina, essa figura é bem ilustrativa da Jennings & Knight (1975) apresentam cinco
dependência entre NSPT e teor de umidade. curvas edométricas típicas de um solo para
Em função disso, Reginatto (1971) conclui que, diferentes valores do teor de umidade (Figura 9),
“em solos colapsíveis, os valores de NSPT só podem com w5 representando a curva para o solo na
ser correlacionados com valores de resistência ao condição inundada e tal que w5 > w4 > w3 > w2 > w1.
cisalhamento correspondentes ao mesmo teor de Se σ0 é a pressão geostática na profundidade
umidade do momento da realização da sondagem”. considerada, com a aplicação de um acréscimo de
Além disso, Reginatto (1971) considera que “o tensão Δσ o recalque seguirá a curva apropriada de
uso do SPT é de um valor muito limitado para teor de umidade, dando um recalque “normal”, sem
determinar valores de capacidade de carga em solos alteração do teor de umidade. Se o solo é inundado
colapsíveis pois, na maioria dos casos, pode resultar (na tensão σ0 + Δσ), ocorre um deslocamento para a
curva w5. Isso causa um recalque adicional, que
valores muito maiores do que os valores seguros
ocorre sem alteração na tensão aplicada.
para condições inundadas”. Clevenger (1956) já
Essa evidência de que o recalque de colapso
alertava para o fato de que, nos solos loéssicos, depende do teor de umidade inicial foi comprovada
“estimativas da capacidade de carga podem ser experimentalmente por Vilar (1979), com a
feitas por meio de ensaios SPT, somente se houver realização de ensaios edométricos em amostras do
garantia de que o solo nunca se tornará mais úmido sedimento cenozóico de São Carlos, SP.
do que na época das sondagens”. Depois, Nunes
(1975) ratifica que “os ensaios estáticos e dinâmicos σ0
de penetração não podem ser empregados em solos Δσ log σ
com características colapsíveis, pois os seus
resultados são aplicáveis somente ao material com
seu teor de umidade inicial e nada podem informar
sobre o comportamento do mesmo se as condições e0
de umidade variam”.
Entretanto, tais advertências devem ser recebidas
com reservas. Não se trata de deixar de realizar o
SPT em solos colapsíveis, mas sim de não se poder w1
ignorar que os resultados são inerentes ao teor de
umidade (ou à sucção matricial) da época da w2
campanha e que uma parte dos ensaios deve ser
conduzida com inundação prévia do terreno. w3
Se o SPT fosse desaconselhado para solos
colapsíveis, por motivos idênticos as provas de e w4
carga também não teriam sentido nesses solos. w5
No Brasil, Camapum de Carvalho et al. (2001) Figura 9. Curvas edométricas do mesmo solo em
analisam a influência da sucção nos resultados de diferentes teores de umidade (Jennings & Knight,
SPT e SPT-T em solos porosos colapsíveis, 1975)
concluindo que o índice de resistência à penetração
depende da sucção, mas o torque é menos afetado Em conseqüência, o chamado potencial de
por ela. colapso é função do teor de umidade inicial do
Mota (2003) analisa a influência da variação da corpo de prova no ensaio edométrico. O mesmo solo
umidade e da sucção nos resultados de vários tipos terá potencial de colapso mais baixo, quanto mais
de ensaios de campo realizados em Brasília, DF. úmido, e potencial de colapso mais alto quanto mais
“Medidas de umidade no perfil, em diferentes seco estiver o solo antes do início da inundação.
épocas do ano, mostram que a variação do grau de Portanto, o potencial de colapso tem significado
saturação e, conseqüentemente, da sucção, é relativo e sua utilização deve ser cautelosa.
significativa para os três primeiros metros,
influenciando diretamente as medidas de qc, do 4º Degrau: Capacidade de carga de fundações por
CPT, e de po, do DMT. Porém, não se consegue sapatas
relacionar os resultados dos ensaios de CPT, DMT,
SPT-T e DPL com a sucção. Observa-se que o Fredlund e Rahardjo (1993) trazem uma
ensaio dilatométrico é o que apresenta melhor contribuição notável ao quantificar o efeito da
relação com a sucção e o ensaio de cone o que variação da sucção matricial na capacidade de carga
apresenta as maiores variações, em parte devido à de fundações por sapatas, utilizando a equação de
sucção.” Terzaghi. Com a adoção de parâmetros para o solo e

586
considerando sapatas corridas de 0,5 e 1,0 m de inundação do terreno (ψm representa a sucção
lado, apoiadas a 0,5 m de profundidade, são obtidos matricial média nos vários tensiômetros).
os resultados apresentados na Figura 10.
Tensão (kPa)
2000 0 40 80 120 160
0
φ’ = 20º
Capacidade de Carga (kPa)

1600 φb = 15º
20
c’ = 5 kPa B = 1,0 m

Recalque (mm)
1200 γ = 18 kN/m3
h = 0,5 m
40
800
B = 0,5 m
60
400
Ψm ≅ 0 Ψm =15 kPa Ψm = 22 kPa
80
0
0 100 200 300 Figura 11. Curvas tensão x recalque de provas de
Sucção Matricial (kPa) carga sobre placa em solo colapsível com diferentes
Figura 10. Capacidade de carga em função da condições de sucção matricial (Costa, 1999)
sucção matricial (Fredlund e Rahardjo, 1993)
É importante destacar que não é objetivo avaliar a
Os cálculos mostram que para a sapata com 0,5 m redução de sucção matricial que se processa no solo
de lado e sucção matricial nula, a capacidade de situado sob a placa em conseqüência da redução de
carga é de 182 kPa mas, quando a sucção matricial é volume durante o ensaio, mas apenas caracterizar o
aumentada para 100 kPa, a capacidade de carga sobe nível de sucção matricial atuante no solo, no início
para 655 kPa. Observa-se uma tendência semelhante do ensaio.
para a sapata mais larga. Os autores concluem que Na interpretação dessas curvas tensão x recalque,
“a sucção matricial aumenta fantasticamente a Costa (1999) utiliza o critério de ruptura
capacidade de carga”. convencional que associa a capacidade de carga ao
“In situ, a sucção matricial pode aumentar ou valor de tensão correspondente ao recalque de 25
diminuir em resposta a mudanças nas condições mm, obtendo uma correlação linear entre a
climáticas tais como evaporação e precipitação” capacidade de carga (σr) e a sucção matricial (ψm):
(Fredlund e Rahardjo, 1993). Mas mesmo que não
se atinjam valores tão elevados de sucção matricial, σr = 67 + 2,8 ψm (kPa) (2)
como os considerados nessa figura, constata-se que,
nesse caso, basta uma sucção matricial de 38 kPa Em relação a uma prova de carga realizada com
para dobrar o valor da capacidade de carga, em sucção matricial de 24 kPa (σr = 134 kPa), por
relação à condição inundada, ou de sucção matricial exemplo, a inundação do solo representaria uma
nula. redução de 50% na capacidade de carga (σr ≅ 67
kPa).
5º Degrau: Sucção matricial e tensiômetro Outras análises dessa pesquisa são apresentadas
por Costa et al. (2003).
Conciani (1997) faz o uso pioneiro de Macacari (2001) também apresenta resultados de
tensiômetros na medição da sucção matricial do solo provas de carga em placa circular de diâmetro 0,80
durante a realização de provas de carga em placa, m, em São Carlos, SP, mas com variação da
em Rondonópolis e em Campo Novo do Parecis, profundidade de assentamento da placa (1,5, 4,0 e
MT. 6,0 m). Por meio de ensaios não-inundados, com a
Mas é Costa (1999) que comprova sucção matricial monitorada por tensiômetros, e de
experimentalmente as conclusões de Fredlund e ensaios inundados, é possível quantificar a dupla
Rahardjo (1993), ao estabelecer uma correlação para influência da sucção matricial e da profundidade z,
o aumento significativo da capacidade de carga com na capacidade de carga, representada pela regressão
a sucção matricial. Essa comprovação foi obtida em linear múltipla:
provas de carga em placa, realizadas sob diferentes
condições de sucção ao longo do ano, em São σr = 29 + 22 z + 2,9 ψm (kPa) (3)
Carlos, SP, usando uma placa circular de 0,80 m de
diâmetro, assentada a 1,5 m de profundidade. A com z em metros e R2 = 0,9403.
sucção matricial foi monitorada por meio de
tensiômetros instalados na cava de ensaio, ao redor Tsuha (2003) e Tsuha et al. (2004) avaliam a
da placa. A Figura 11 apresenta os resultados de três utilização de um penetrômetro manual em solo
provas de carga, sendo uma delas com pré- colapsível, em cavas com 1,5 m de profundidade,
em São Carlos, SP. Ensaios penetrométricos

587
realizados com monitoração da sucção matricial por resistência por atrito lateral e de resistência de base
meio de tensiômetros, além de ensaios em ensaios de tubulões a céu aberto com 0,60 m de
penetrométricos realizados em cava inundada, diâmetro de fuste e 1,50 m de diâmetro de base
permitem comprovar, também nesse caso, o alargada, na cota –8 m, executados em São Carlos,
importante papel da sucção matricial na resistência SP (NA entre 9,90 e 10,80 m de profundidade na
do solo. A tensão de ruptura (qp) obtida no ensaio época dos ensaios). Nas provas de carga não-
penetrométrico é correlacionada com a sucção inundadas, a sucção matricial foi obtida
matricial (ψm), nesse caso, pela regressão linear: indiretamente por meio da umidade de amostras
indeformadas, retiradas de metro em metro por
qp = 487 + 25 ψm (kPa) (4) tradagem, e utilização das curvas características de
retenção de água previamente estabelecidas em
com R2 = 0,944. laboratório, em função da profundidade, por
Machado (1998). Nesse solo, parece ser razoável a
Correlações regionais desse tipo podem ter utilização de um valor constante da massa específica
grande importância prática, por permitirem a seca (ρd) para transformação da umidade
avaliação da sucção matricial por procedimento gravimétrica (amostra) em umidade volumétrica
simples, inclusive para o caso de tubulões a céu (curva característica).
aberto, se as correlações forem obtidas para Para se obter experimentalmente os valores
profundidades adequadas. Além disso, a separados da resistência lateral e da resistência de
combinação das equações do tipo (2) e (4) pode ponta, foram colocadas placas de isopor entre a base
fornecer, a partir unicamente do penetrômetro e o fuste dos tubulões. Maiores detalhes dos ensaios
manual, tanto a sucção matricial como a estimativa são descritos por Cintra et al. (2004b). Como síntese
de capacidade de carga do ensaio de placa. dos resultados, são apresentadas, em função da
sucção matricial, as curvas de resistência lateral
6º Degrau: Simulação da curva carga x recalque (Figura 12) e de resistência de base (Figura 13).

Machado (1998) apresenta uma proposta de 40


modelagem, com realização de simulações
Atrito lateral (kPa)

30
numéricas de curvas de provas de carga em placa e
em estacas escavadas, realizadas em São Carlos, SP. 20

São representadas as condições não-inundada (um 10

único perfil de sucção) e inundada. 0

A partir dos resultados de ensaios de placa de 0 5 10 15 20 25


Sucção matricial (kPa)
30 35 40

Conciani (1997), Futai et al. (2001) apresentam


simulações da curva tensão x recalque para Figura 12. Resistência por atrito lateral em função
diferentes sucções, utilizando um modelo elasto- da sucção matricial (Cintra et al., 2004b)
plástico e parâmetros do solo obtidos em ensaios
especiais com sucção controlada.
Resistencia de base (kPa)

Menegotto (2004) também realiza simulação 800

paramétrica, adotando uma expressão matemática


700
para a forma típica da curva tensão x recalque de
ensaio de placa em São Carlos, SP, e calibrando os 600
parâmetros envolvidos com retroanálise e ensaios de
laboratório com sucção controlada. As curvas tensão 500

x recalque são obtidas com variação da sucção 0 10 20 30

matricial e da profundidade de assentamento da Sucção matricial (kPa)

placa ou da dimensão da placa.


Tentativas para estabelecimento de métodos de Figura 13. Resistência de base em função sucção
previsão de curvas carga x recalque, para diferentes matricial (Cintra et al., 2004b)
níveis de sucção matricial, devem ser prestigiadas
nas pesquisas acadêmicas. A obtenção de previsões Guimarães (2002) e Guimarães et al. (2004)
razoáveis para curva carga x recalque, ao menos apresentam os resultados de cinco provas de carga
para a condição crítica de solo inundado, já realizadas em diferentes épocas do ano, em Brasília,
constituiria um grande progresso. DF, em estacas escavadas mecanicamente (0,3 m de
diâmetro e 7,5 a 8,0 m de comprimento), com
7º Degrau: Capacidade de carga de fundações simultânea obtenção dos perfis de umidade e de
profundas sucção ao longo do ano (sucção determinada pela
técnica do papel-filtro). Constata-se uma variação na
De forma inédita, Santos (2001) obtém a capacidade de carga de até 33% (270 a 360 kN),
variação, com a sucção matricial, das parcelas de embora as variações expressivas de umidade e de

588
sucção ao longo do ano tenham ocorrido apenas até médios da sucção matricial: o primeiro, ao longo do
3 m de profundidade. fuste, e o segundo, das cotas mais profundas que a
Mascarenha et al. (2004) relacionam esses base do elemento estrutural de fundação, afetando,
mesmos valores de capacidade de carga aos dados respectivamente, a resistência por atrito lateral e a
pluviométricos da região, por meio do fator IHU resistência de base. Em fundações que atravessam a
(ER), que corresponde ao índice de umidade obtido camada colapsível para se apoiar no estrato não-
com valores de evaporação real, precipitação colapsível, como é o caso por exemplo das estacas
excedente e o déficit de precipitação. Os autores que vão além do NA, tem-se apenas a sucção
concluem pela possibilidade de correção da matricial média do solo ao redor de parte do fuste
capacidade de carga por meio desse procedimento. afetando a capacidade de carga.

Patamar da segunda escada b) Prova de carga


Neste patamar, são discutidos novos paradigmas
para as fundações em solos colapsíveis, à luz do Para qualquer prova de carga realizada sem
importante papel da sucção matricial. inundação, em solos colapsíveis, a curva carga x
recalque é intrínseca à condição de sucção matricial
a) Curva carga x recalque do início do ensaio. Por isso, é necessário que se
passe a adotar algum tipo de procedimento de
Na condição não-inundada, a curva carga x avaliação da sucção matricial na data de realização
recalque de uma prova de carga não é única, pois a de uma prova de carga.
forma da curva depende da sucção matricial atuante Para a prática de fundações, não é o caso de se
no solo no início do ensaio. cogitar procedimentos sofisticados. Para ensaios de
Para valores mais altos da sucção matricial, no placa, considera-se que os tensiômetros possam vir a
início do ensaio, diminui-se a deformabilidade e ser incorporados às provas de carga “comerciais”.
aumenta-se a capacidade de carga. Para valores mais Eventualmente, também os penetrômetros manuais,
baixos da sucção matricial, aumenta-se a desde que correlações regionais sejam estabelecidas.
deformabilidade e diminui-se a capacidade de carga. Para ensaios de fundações profundas, mesmo uma
Portanto tem-se uma família de curvas carga x técnica mais sofisticada como o TDR não fornece
recalque, conforme o valor da sucção matricial no medida direta de sucção matricial, necessitando de
início do ensaio (Figura 14). Na condição pré- curvas características de retenção de água,
inundada (sucção matricial nula), tem-se uma curva previamente estabelecidas em laboratório, para
carga x recalque “crítica”, com a maior diferentes profundidades, para correlacionar a
deformabilidade e a menor capacidade de carga. sucção matricial com a umidade.
Por isso, talvez se deva incentivar a realização de
Carga tradagem, simultaneamente à realização de provas
de carga em estacas e tubulões, para obtenção do
teor de umidade com a profundidade. O acúmulo de
experiência com perfil de umidade poderá ser
benéfico para a prática de fundações, a qual
dificilmente incorporará a obtenção de perfis de
sucção matricial. Eventualmente, pode-se imaginar a
utilização da técnica do papel-filtro para
determinação direta da sucção das amostras obtidas
por tradagem, simultaneamente à realização de
provas de carga.
R eca lqu e

Ψ m crescente A análise de dados pluviométricos, conforme a


Ψm ≅ 0
proposição de Mascarenha et al. (2004), também
pode ser implementada.
O importante papel da sucção matricial na
Figura 14. Família de curvas carga x recalque para variação da capacidade de carga pode esclarecer,
diferentes valores da sucção matricial média no solo pelo menos em parte, divergências de resultados de
provas de carga que ocorrem nas seguintes
Em ensaios de placa, a sucção matricial no início situações: a) ensaios estáticos realizados em datas
do ensaio não-inundado pode ser representada pela distintas, às vezes intercaladas por chuva; b) prova
média dos valores obtidos ao redor da placa, em de carga dinâmica, realizada no momento da
diferentes profundidades que podem ir até, por cravação de uma estaca, e prova de carga estática
exemplo, a metade do bulbo de tensões. realizada algum tempo depois.
Em fundações profundas “flutuantes” em solo De modo semelhante, na situação corriqueira de
colapsível, como é o caso, por exemplo, de tubulões ensaio SPT e prova de carga realizados em épocas
a céu aberto, podem ser considerados dois valores diferentes, discrepâncias entre valores previstos e
589
experimentais de capacidade de carga podem ser estimativa do recalque, sob atuação da carga
devidos à influência da sucção matricial. admissível, para a sucção matricial quase nula, que é
Por outro lado, esse papel da sucção matricial a condição de solo menos rígido. Então, mesmo a
adiciona uma dificuldade na interpretação de fundação totalmente segura ao colapso, deve ser
reensaios, em que duas ou mais provas de carga são verificada ao recalque correspondente à sucção
realizadas no mesmo elemento isolado de fundação, matricial praticamente nula. Para isso, talvez
em datas distintas e, às vezes, distantes. possam ser utilizados os métodos existentes para
estimativa de recalque, mas com utilização de
c) Carga de colapso parâmetros do solo obtidos na condição inundada.

Além de ensaios não-inundados, é imprescindível f) Ensaios de penetração


a realização de prova de carga com pré-inundação
para determinação da carga de colapso, por De modo semelhante ao que ocorre com as
representar a condição mais crítica. provas de carga, os ensaios de penetração estática e
dinâmica também têm os seus resultados afetados
d) Redução de capacidade de carga pelo nível de sucção matricial da data do ensaio.
As variações de temperatura, umidade relativa do
A redução de capacidade de carga, representada ar e pluviometria provocam variações na sucção e,
pela carga de colapso, também é dependente do conseqüentemente, alterações nos valores de NSPT e
nível de sucção matricial atuante no solo quando da de qc.
realização do ensaio não-inundado. Para um mesmo Por isso, incentiva-se a determinação do teor de
elemento isolado de fundação em solo colapsível, umidade das amostras do SPT para acumular
sucções maiores dão reduções também maiores na experiência na relação entre os valores de NSPT de
capacidade de carga, enquanto sucções mais baixas um furo de sondagem e o respectivo perfil de
geram reduções menores de capacidade de carga. umidade.
Portanto, uma baixa redução de capacidade de É imprescindível que se realize parte dos ensaios
carga não implica necessariamente baixa com pré-inundação do terreno.
susceptibilidade ao colapso. O mesmo elemento de
fundação, no mesmo local, pode ser mais 5. CONCLUSÃO
susceptível ao colapso, se a inundação ocorrer em
outro momento, em que a sucção matricial for mais No patamar da primeira escada, considerava-se
elevada. que a chamada condição não-inundada era única,
Portanto, a redução de capacidade de carga tem restringindo o problema das fundações em solo
significado relativo e sua utilização deve ser restrita, colapsível à ocorrência de inundação (condição
uma vez que a percentagem de redução está sempre crítica). Assim, desconsiderando a variabilidade do
associada a um determinado nível de sucção maciço de solo, a prova de carga num elemento
matricial. isolado de fundação poderia fornecer apenas duas
curvas carga x recalque, que representam essas duas
e) Metodologia de projeto condições.
Havia uma metodologia de projeto que
A utilização conjunta de fatores de segurança preconizava um fator de segurança de 1,5 à carga de
mínimos de 2,0 (capacidade de carga na condição colapso (condição inundada), além da aplicação do
não-inundada) e 1,5 (carga de colapso na condição fator de segurança 2,0 à capacidade de carga
inundada) tem novas implicações pelo fato da (condição não-inundada). A determinação da carga
condição não-inundada não ser única, em termos de de colapso e da capacidade de carga podia ser feita
sucção matricial ou de teor de umidade. experimentalmente, por provas de carga, ou por
Seja, por exemplo, o caso em que a capacidade de métodos semi-empíricos, utilizando ensaios de
carga foi determinada numa prova de carga não- campo pré-inundados e não-inundados,
inundada, com correspondente sucção matricial respectivamente.
média de 20 kPa. Então, com a variação da sucção No patamar da segunda escada, a condição não-
para valores maiores que 20 kPa, o fator de inundada deixa de ser única e torna-se variável em
segurança à capacidade de carga torna-se maior que função da sucção matricial. Em conseqüência, a
2,0, mas para sucções menores que 20 kPa, esse prova de carga pode apresentar não apenas duas,
fator de segurança se torna menor que 2,0, mas mas uma família de curvas carga x recalque, uma
ficando assegurado o mínimo de 1,5 para a sucção para cada nível de sucção matricial, permanecendo
praticamente nula (inundação). como crítica a condição inundada (sucção
Outra implicação é que, mesmo sem ocorrer praticamente nula).
colapso, a diminuição da sucção matricial aumenta Pode-se manter a mesma metodologia de projeto,
os recalques, sob carga constante, pois o solo se utilizando uma única condição não-inundada, mas
torna mais deformável. Daí a necessidade da sem o direito de ignorar que o fator de segurança 2,0

590
só é compatível com o mesmo nível de sucção CARNEIRO, B.J.I (1999) Comportamento de
matricial correspondente à condição não-inundada tubulões a céu aberto instrumentados em solo
considerada. Oscilações na sucção matricial não-saturado colapsível. Tese de Doutorado,
implicarão variações desse fator de segurança para USP / São Carlos, 246 p.
maior que 2,0 ou para menor que 2,0, resguardado o CARVALHO, D.; SOUZA, A. (1990) Análise do
mínimo de 1,5. efeito do umedecimento do solo em fundações
O problema se complica porque é preciso rasas e profundas em solos porosos. IX Cong.
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recalque pode aumentar com a diminuição da sucção Salvador, v. 2, p. 109-114.
matricial que torna o solo menos rígido. Portanto, CINTRA, J.C.A. (1995) Fundações em solos
não basta garantir a segurança ao colapso. É preciso colapsíveis. Texto de livre-docência, USP / São
fazer a verificação do recalque para a condição Carlos, 124 p.
crítica de sucção matricial praticamente nula (solo CINTRA, J.C.A. (1998) Fundações em solos
inundado). colapsíveis. Ed. Rima, São Carlos - SP, 106 p.
CINTRA, J.C.A.; ALBIERO, J.H.; VILAR, O.M.
AGRADECIMENTOS (1997) Pile load tests in collapsible soils:
conclusions and recommendations. 14th Int.
Aos pós-graduandos Luciene Santos de Moraes e Conf. on Soil Mech. And Found Engng.,
Roger Augusto Rodrigues, pela revisão deste texto, Hamburgo, v. 2, p. 781-782.
e aos Profs. Nelson Aoki e Orencio Monje Vilar, CINTRA, J.C.A.; AOKI, N.; ALBIERO, J.H.
pelas críticas e sugestões. (2003) Tensão admissível em fundações
Antecipadamente, a todos que contribuírem para diretas. Ed. Rima, São Carlos - SP, 135 p.
a melhoria deste texto até a sua publicação nos CINTRA, J.C.A.; BENVENUTTI, M.; AOKI, N.
anais. (2004a) Tubulões “cravados” em solo
colapsível. 5º Simp. Bras. sobre Solos Não
REFERÊNCIA Saturados, São Carlos - SP, v. 1, p. 333-337..
CINTRA, J.C.A.; SANTOS, T.R.S.; AOKI, N.
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Found. Engng., London, v. 1, p. 259-263. Saturados, São Carlos - SP, v. 1, p. 327-332.
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593
Tema 5:

Solos Tropicais, Colapso,


Expansão e Erosão dos Solos

595
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Propriedades e comportamento de solos tropicais não-saturados

Camapum de Carvalho, J.
Professor Titular, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, UnB, Brasília/DF, camapum@unb.br

Resumo: Este texto apresenta uma breve síntese bibliográfica sobre os principais aspectos que afetam as
propriedades e comportamento dos solos, em especial dos solos tropicais. A abordagem adotada teve por
objetivo subsidiar os comentários que se seguem sobre os artigos relatados. Os artigos relatados dizem
respeito aos tópicos: expansão, colapso, erosão e compactação. Dentre outros aspectos, destaca-se como
relevante nos trabalhos apresentados, a busca de associação do comportamento dos solos tropicais às
propriedades físico-químicas, mineralógicas e estruturais.

Abstract: This report presents a summary on the main aspects affecting the properties and behaviour of
soils, particularly of tropical soils. The framework employed aimed to subsidise the comments on the papers
reported. These papers approached topics such as soil expansion, collapse, erosion and compaction. Among
other aspects, it is important to point out the relevance in the pursuit of the association of the behaviour of
tropical soils with its physical, chemical, mineralogical and structural properties.

1.INTRODUÇÃO argilo-minerais 2:1 e já contenha argilo-minerais 1:1


e finalmente o termo profundamente intemperizado
Antes de discutir os artigos apresentados no 5º para aqueles solos que praticamente já não possuem
Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, se faz minerais primários, a exceção de minerais muito
necessário apresentar a visão do autor do relato, resistentes ao intemperismo, como é o caso do
contendo alguns conceitos básicos sobre os solos quartzo, os minerais 2:1 já foram em sua totalidade
tropicais, tendo sempre em mente que, talvez seja transformados e parte significativa dos argilo-
esta uma das áreas geotécnicas com conhecimento minerais 1:1 já passaram à oxi-hidróxido de
científico menos consolidado, apesar de sua alumínio. Esta última classe corresponde aos solos
importância para o entendimento de outras áreas tropicais geralmente ricos em oxi-hidróxidos de
como a dos solos não saturados. ferro e alumínio e que são de difícil distinção dos
Uma primeira pergunta aos pesquisadores e solos transportados neste mesmo estagio de
técnicos poderia ser, qual o limite ou divisor de intemperização.
propriedades e comportamento entre os solos Uma segunda pergunta poderia ser, qual a
considerados tropicais e os demais? Na verdade, no importância da origem do solo para o seu
entendimento do autor deste relato não existe este comportamento? Ser residual ou transportado é
divisor, trata-se de um sistema contínuo. Tudo passa fundamental? Na visão do autor pode ser. Tudo
pelo grau de intemperismo a que o solo se submeteu depende de quantos passos o solo deu na escala de
ao longo do tempo, e neste caso, os solos tropicais desenvolvimento no processo de intemperismo. Em
estão simplesmente um passo ou alguns passos solos pouco intemperizados a origem é geralmente
adiante dependendo do nível de intemperismo a que relevante, já em solos profundamente
foram submetidos. Um conceito talvez não muito intemperizados normalmente não. Cardoso (1995)
apropriado, mas consagrado na engenharia, é a aborda este aspecto em sua Dissertação de
distinção dos solos residuais em jovem e maduro. Mestrado, “Análise química, mineralógica e
Na verdade, talvez o mais correto fosse substituir micromorfológica de solos tropicais colapsáveis e o
estes termos por pouco intemperizado, para os solos estudo da dinâmica do colapso”.
que guardam a estrutura da rocha mãe e a maioria Apesar de várias outras questões poderem ser
dos minerais primário ou parte significativa deles, colocadas, uma terceira merece destaque, dado o
de intemperização média, para os solos que já não próprio enfoque do evento: Qual seria a importância
guardam a estrutura, mas mantém parte dos minerais do tema “Solos não saturados” para o entendimento
primários, contém quantidade significativa de dos solos tropicais e vice-versa? Entende-se aqui,

597
que os dois temas convivem juntos em Regiões superficial são: hidratação-desidratação, oxidação-
Tropicais e o menosprezo de qualquer deles, é no redução, dissolução-precipitação, carbonatação-
mínimo delicado. Verifica-se geralmente que os descarbonatação, hidrólise e a queluviação
mantos intemperizados e principalmente os (Carvalho, 1995). Nos solos brasileiros predominam
profundamente intemperizados encontram-se em a hidrólise e a queluviação (Pedro, 1966).
condição não saturada, daí a importância do
comportamento dos solos não saturados no
entendimento das propriedades e do comportamento
dos solos tropicais. Por outro lado, a composição
químico-mineralógica e a micro-morfologia dos
solos tropicais, impõem a eles condições
diferenciadas de comportamento.
Para fundamentar este relato, será apresentada
uma breve síntese sobre aspectos relevantes ao
estudo dos solos tropicais não saturados buscando
refletir a literatura e a visão do autor sobre as
propriedades, características e comportamento dos
solos tropicais não saturados. Os trabalhos
concernentes a cada tópico serão apresentados logo
em seguida à fundamentação teórica. Cabe destacar
que a expressão “solo tropical” adotada neste relato
(a)
se refere aos solos formados predominantemente em
regiões tropicais, e que passaram por processos de
intemperização mais ou menos intensos, conforme
já colocado. Estes solos, quando profundamente
intemperizados, são também comumente
denominados na literatura de laterito/laterita, solo
laterítico e dependendo da origem, solo residual
maduro. Quando pouco intemperizados são
denominados, solos saprolíticos e dependendo da
origem, solo residual jovem. Nesta escala, com
menor intemperização encontram-se os saprólitos.

2. GÊNESE DOS SOLOS TROPICAIS

Para se falar das propriedades químicas,


mineralógicas e estruturais dos solos tropicais torna-
se indispensável entender o seu mecanismo de (b)
formação. Os solos tropicais, como os demais, têm Figura 1 – Microorganismos presentes em solos
sua origem na rocha, mesmo que não seja local. São tropicais, (a) interior de uma concreção laterítica, (b)
constituídos por elementos químicos, e esses solo saprolítico (Silveira 2004).
elementos químicos encontram-se combinados
formando minerais, argilo-minerais e oxi- Segundo Cardoso (2002) a hidrólise é a reação
hidróxidos. Nos solos tropicais, a matéria orgânica mais comum nos minerais silicatados. Ela se dá pela
sob condições climáticas apropriadas tem papel quebra da ligação, entre os íons dos minerais pela
importante na evolução pedogenética, propiciando ação do H+ e OH- da água. Os prótons H+ e íons OH-
as condições ideais de pH para a transformação e os cátions e ácido silícico são colocados em
mineralógica. Um outro fator importante para a solução, podendo dar origem a produtos
alteração dos solos tropicais é a bioturbação, secundários. Em meios tropicais, a rápida
propiciada pela flora, fauna e microorganismos. As degradação da matéria orgânica gera soluções de
Figuras 1a e 1b ilustram a presença desses alteração levemente ácidas (pH de 5,5 a 6),
microorganismos no interior de uma concreção caracterizadas por certa carga de CO2 (Melfi &
laterítica do Distrito Federal (1a) e em um solo Pedro 1978). Nesta faixa de pH o alumínio e o Ferro
saprolítico de Medellín na Colômbia (1b, Silveira são insolúveis (Figura 2), enquanto os elementos
2004). alcalinos e alcalinos terrosos são muitas vezes
Das formas de intemperismo que propiciam a totalmente lixiviados. A sílica também é mobilizada
formação e evolução dos solos, o químico assume embora em menor velocidade.
papel de destaque em regiões intertropicais, dadas as As reações de hidrólise que se desencadeiam a
condições climáticas favoráveis. Os tipos de reações partir do feldspato potássico constituem um bom
que propiciam as alterações químicas no ambiente exemplo de hidrólise:

598
-2/3 K+ e -2 SiO2 -SiO2 -SiO2

KAlSi3O8 →→→→→ 1/3 KAl (AlSi )O 2 3 10(OH)2 →→ ½ Al SiO (OH) →Al(OH)


2 5 4 3

(K-feldspato) (ilita) (caulinita) (gibbsita)

observações de que os minerais cauliníticos podem


ser produzidos a partir de materiais de diferentes
naturezas e que surge o domínio dos oxi-hidróxidos
de ferro e de alumínio nos produtos de alteração
química, a partir de materiais quimicamente
diferentes, sempre que certas condições climáticas
existam. Gomes (1988) destaca, no entanto, que a
gibbsita embora presente como produto de
meteorização em regiões tropicais deve ser
considerada como um mineral azonal. Entende-se de
um modo geral, que da ação e nível de
intemperismo atuante dependem a química, a
Figura 2 - Mobilização de Fe, Al e Si vs pH das mineralogia e mesmo a estrutura do solo formado. O
soluções de alteração (Krauskopf, 1967). intemperismo atua modificando a estrutura herdada
da rocha mãe, por meio da transformação químico-
A hidrólise (Tabela 1, Melfi 1994) pode ser mineralógica e da lixiviação, e dá origem a uma
total, quando toda a sílica e bases são eliminadas nova estrutura, mais ou menos porosa, cimentada e
dando origem a gibbsita (Al(OH)3), processo este agregada. Como resultante da atuação do
chamado de Alitização, ou parcial, quando parte da intemperismo em regiões intertropicais surge o
sílica é liberada do mineral primário reagindo com o perfil de alteração que vai da rocha sã ao solo
alumínio para formar sais básicos insolúveis, que profundamente intemperizado.
são os hidroxissilicatos aluminosos (argilas),
processo este chamado de Sialitização. Na hidrólise
parcial, quando a eliminação dos cátions básicos é
total dá-se origem ao argilo-mineral 1:1 do tipo
caulinita, processo conhecido como
Monossialitização. Já quando esta eliminação é
parcial ocorre formação de argilo-minerais com
estrutura 2:1 do tipo esmectita, com a carga das
camadas compensada pela presença de íons em
posições interfoliares, processo este denominado
Bissialitização (Pedro, 1966).
A queluviação é o processo em que os
elementos metálicos, em especial o alumínio e o
ferro-férrico (Fe3+), são móveis em relação à sílica,
que tende a se concentrar no perfil de alteração
(Carvalho, 1995). Também a queluviação pode ser
total ou parcial. A total ocorre em condições de Figura 3 - Produtos da alteração dos minerais
acidez elevada com a saída completa das bases e do primários com o aumento do intemperismo
alumínio, restando como material residual um (Buckman & Brady, 1960 - modificado Cardoso
produto silicoso. A queluviação parcial ocorre em 2002).
solução meteórica percolante menos ácida, ficando
retido além da sílica, parte do alumínio e algumas A Tabela 2, apresentada por Cardoso (2002)
bases como o K e o Mg. O alumínio parcialmente sintetiza algumas propostas de classificação destes
retido se redistribui no perfil dando origem a argilo- perfis de alteração.
minerais 2:1 ou do grupo das esmectitas. Este Além do fato de que os perfis de alteração da
processo é denominado Aluminossiliatização. Tabela 2 não se apresentam necessariamente de
Portanto, a formação dos solos tropicais está forma completa, cabe ressaltar que acima da zona
diretamente associada ao intemperismo nele atuante, mosqueada o perfil pode ser transportado ou
como mostra a Figura 3, proposta por Buckman & residual. Normalmente esta peculiaridade não tem
Brady (1960) e modificada por Cardoso (2002). grande reflexo sobre as propriedades e
Como destaque quanto à formação dos solos comportamento do solo, uma vez que estes vão estar
tropicais, cabe salientar com base nesta figura as mais associados ao nível de intemperismo sofrido.

599
Tabela 1 - Características geoquímicas e cristaloquímicas da alteração hidrolítica (Melfi, 1994).
GRAU DA HIDRÓLISE Hidrólise total Hidrólise parcial
Geoquímica da dessilicatação Dessilicatação total Dessilicatação parcial
Mineralogia Gibbsita Tipo 1:1 (caulinita) Tipo 2:1 (esmectita)
Processo de alteração Alitização Monossialitização Bissialitização
Geoquímica da desalcalinização Desalcalinização total Desalcalinização parcial

Tabela 2 - Classificações de perfis de alteração completos, aplicadas em distintas áreas do


conhecimento dos solos (geologia, pedologia e geotecnia), Cardoso (2002).
Maiores Sistema Brasileiro de
Cardoso (2002) Martins (2000) Pastore (1995)
Subdivisões Classificação de Solos (1999)
Horizonte O Horizonte O Solo
Horizonte A Solum Horizonte A Orgânico
Horizonte B Horizonte B Horizonte laterítico
Cascalho Cascalho Horizonte B com caráter
Horizonte B
Pedólito
laterítico laterítico petroplíntico
Horizontes Ferruginosos

Couraça Couraça
(0 a 30 m) Horizonte B
ferruginosa ferruginosa
Litoplíntico ou similar a
Carapaça Carapaça ???
litoplíntico
Horizontes C plíntico ou
similar a plíntico, ou glei
Zona Zona com mosqueamentos ou
Mosqueada Mosqueada similar a glei com
Horizonte C

mosqueamentos
Horizonte C glei sem
Saprólito
Saprólito fino mosqueamentos ou
fino ou Solo saprolítico
ou argiloso similar a glei sem
argiloso
Saprólito

mosqueamentos
Saprólito ou
Saprólito Saprólito
saprólito Horizonte C Saprólito
(0 a 100 m) grosso
grosso
Rocha muito Rocha muito
ou arenoso
alterada alterada
Rocha alterada Saprock Horizonte R Rocha alterada
Protólito Rocha sã Rocha-mãe Rocha sã

3. PROPRIEDADES QUÍMICAS, solo. Já as cargas de superfície ocorrem em função


MINERALÓGICAS E ESTRUTURAIS DOS de substituições isomórficas no reticulado cristalino
SOLOS TROPICAIS E SUA IMPORTÂNCIA NO e da ionização de grupos funcionais, o que dá
ESTUDO DE SOLOS NÃO SATURADOS. origem a cargas permanentes e cargas dependentes
do pH do solo (Figura 4, Bohn et al. 1985). No caso
Não parece difícil entender a partir do exposto de minerais de dimensão relativamente grande,
no item 2, que as propriedades químicas, como é o caso do quartzo na fração areia, a
mineralógicas e estruturais de um perfil de solo reatividade será, portanto, mínima, pois as
tropical vão variar com a profundidade, muito substituições isomórficas inexistem e a superfície
embora aspectos como cor e textura sejam muitas específica é pequena. Sendo assim, a interação entre
vezes aparentemente iguais. No entanto, antes de se partículas será predominantemente de natureza
tecer maiores comentários a respeito da química, gravitacional, enquanto a interação entre a água e
mineralogia e estrutura destes solos parece relevante partículas vizinhas, será de natureza marcantemente
fazer alguns comentários a respeito da interação capilar (Figura 5). Neste caso a curva característica
mineral-água devido a sua influência nas de sucção em função do teor de umidade é de modo
propriedades e comportamento dos solos. marcante, influenciada pelo tamanho dos grãos,
Segundo Bohn et al. (1985) a reatividade do distribuição granulométrica e índice de vazios.
solo depende da área e das forças de superfície. A Nos solos argilosos, nos quais a reatividade é
área de superfície é uma função direta do tamanho e alta devido à superfície específica elevada e à
forma do grão sendo esta associada à mineralogia do ocorrência de substituições isomórficas no

600
reticulado cristalino, a superfície do mineral relevantes para se entender as propriedades e
encontra-se recoberta por uma solução eletrolítica comportamento dos solos argilosos. A Figura 7
de água e a interação mineral-mineral se dá por complementa a Figura 4 e ilustra a variação das
meio desta camada de hidratação. A água se liga aos cargas de superfície com o pH (Vidalie 1977). Nela
minerais por forças de adsorção estabelecendo entre o ponto de carga zero é chamado de isoelétrico e é
eles forças de ligação proporcionais à deficiência de de grande importância para o estudo dos solos
energia que apresentam e que diminuem com o tropicais, nele ocorre o equilíbrio de cargas. Quanto
aumento da espessura desta camada de hidratação. mais próximo o pH deste ponto maior será a
Os íons presentes na camada de hidratação alteram o agregação do solo. Segundo Botelho da Costa
balanço eletromagnético entre as partículas afetando (1973), a agregação em solos lateríticos ocorre
as propriedades e comportamento do solo como também devido à ação floculante (irreversível ou
mostram os vários estudos apresentados em Grim não) dos hidróxidos de ferro e alumínio. Cabe
(1962). Sendo assim, as curvas características destes ressaltar que, o ponto isoelétrico dos hidróxidos de
solos, em função do teor de umidade são alumínio, é maior e mais próximo do pH dos solos
marcantemente influenciadas pelas forças de tropicais. Sendo assim, eles apresentam maior poder
absorção/retenção (Figura 6). A ligação entre a água floculante que os hidróxidos de ferro (Tabela 3, Van
e os minerais de argila pode ser dividida em três Schuylenborgh & Sanger 1949). Outro aspecto
níveis: água solidamente ligada à estrutura cristalina levantado nos estudos de ciências do solo é a fraca
(água higroscópica), água fracamente ligada ao resistência à floculação dos sistemas dominados por
mineral e mais susceptível à mobilidade (água íons de Al3+ e H+, como é o caso dos solos
capilar) e água livre sujeita apenas ao efeito da lateríticos, em comparação com os solos saturados
gravidade (água gravítica). por elementos alcalinos e principalmente alcalino-
terrosos, típicos de regiões temperadas (Russell,
1961).

Camadas de
hidratação

D (A)

Força de retenção

Figura 4 – Variação das cargas de superfície com o Figura 6 - Força de retenção em uma partícula de
pH (Bohn et al. 1985). argila.

Ainda quanto à importância do pH, há que se


destacar o fato de que a diferença entre o pH
Forças de
Contato
determinado em KCl 1N e em água constitui um
forte indicativo do grau de alteração do solo.
Tensão
Capilar
Valores de ΔpH (pHKCl - pHH2O) positivos indicam a
predominância dos oxi-hidróxidos de ferro e
alumínio, enquanto valores negativos são
indicativos do predomínio de argilas silicatadas.
Finalmente, coloca-se em evidência o fato de
Figura 5 – Forças de interação em minerais que, na interação entre partículas de argila os
granulares de baixa reatividade. fenômenos de agregação e dispersão ocorrem em
função da maior ou menor importância das forças de
Quimicamente pode-se dizer que a capacidade repulsão em relação às de atração (Figura 8, Vidalie,
de troca catiônica é baixa nos solos tropicais 1977), sendo que a floculação geralmente só ocorre
profundamente intemperizados (solos lateríticos), e quando as forças repulsivas entre as partículas são
pode ser alta, dependendo dos argilo-minerais fracas. As forças de atração compreendem as forças
presentes nos solos pouco intemperizados (solos de Van der Waals, ligações de hidrogênio, e outras
saprolíticos). O pH nos solos tropicais é geralmente forças eletrostáticas e de tensão superficial. As
baixo variando na maioria dos casos entre 5 e 6,5. O forças de repulsão aumentam com o aumento do pH
pH é talvez, um dos parâmetros químicos mais e diminuem com a sua redução.

601
profundamente intemperizada. Nele, tanto o teor de
gibbsita como de caulinita são praticamente
constantes.

Figura 7 – Influência do pH sobre a carga das


partículas (Vidalie, 1977).

Tabela 3 - Pontos isoelétricos de alguns hidróxidos e Figura 8 – Curvas relativas ao potencial de interação
amorfos (Van Schuylenborgh & Sanger, 1949). entre partículas (Vidalie, 1977).

Mineral Ponto Isoelétrico pH Como fruto das propriedades químicas e


mineralógicas, a estrutura dos solos tropicais
Gibbsita 4,8
apresenta características bastante particulares. Nos
Geles amorfos de Al e Si 8,3
solos pouco intemperizados (solos saprolíticos), a
Goethita 3,2 agregação é pequena, a estrutura é influenciada pela
Geles amorfos de Fe 8,5 estrutura da rocha mãe e a distribuição de poros é
relativamente homogenia (mono-modal) (Figura 9).
Na crosta terrestre não só varia a condição de Nestes solos o nível de herança da rocha mãe
intemperismo como a resistência dos minerais depende do grau de alteração sofrido. Já nos solos
primários à alteração. Em regiões tropicais lateríticos, principalmente os profundamente
aparecem comumente como minerais resistentes ao intemperizados, a agregação é importante, a
intemperismo o quartzo, o rutilo/anatásio e o zircão. estrutura independe da origem (residual ou
Nos perfis de alteração de um modo geral, os solos transportado) e é geralmente marcada por
saprolíticos são marcados pela presença de minerais porosidade elevada que se distribui entre os
primários e argilo-minerais 2:1 (ilitas e esmectitas) e agregados e no interior dos mesmos, conferindo ao
1:1 (caulinita). De modo menos marcante, à exceção solo uma distribuição de poros bi-modal (Figura
de casos específicos, podem aparecer a vermiculita e 10). As peculiaridades estruturais dos solos tropicais
a clorita. À medida que aumenta o nível de mostram, a necessidade de se dispensar maior
intemperismo do solo e surge o processo de atenção a sua influência na forma das curvas
laterização os minerais primários menos resistentes, características como mostra Camapum de Carvalho
e os argilo-minerais 2:1 tendem a desaparecer dando et al. 2002. Os agregados nos solos tropicais se
lugar a caulinita e aos oxi-hidróxidos de ferro ligam uns aos outros por meio de ponte de argila
(hematita e goethita) e alumínio (gibbsita). e/ou por meio de cimentos (oxi-hidróxidos de ferro
Enquanto os oxi-hidróxidos de ferro podem e alumínio) (Paixão e Camapum de Carvalho 1994).
apresentar teores mais ou menos constantes ao
longo do perfil inclusive no solo saprolítico, o teor
de oxi-hidróxidos de alumínio é máximo na
superfície, diminui com o aumento da profundidade
e tende a desaparecer na transição para o solo
saprolítico. Um perfil típico de intemperismo é
apresentado por Araki (1997). Destaca-se que em
perfis de solos transportados, dependendo da época
(depois da intemperização) e dos modos como se
deram os transportes (desordem no perfil original),
podem ocorrer alterações nesta configuração de
perfil de alteração não explicáveis à luz do perfil
geral de intemperismo. Um exemplo é mostrado por
Santos (1997), para um perfil de solo do Jardim
Botânico de Goiânia cuja mineralogia aponta para
um solo originário de transporte recente de Figura 9 – Microestrutura de um solo saprolítico,
sedimentos erodidos de camada superficial Distrito Federal, SG12, profundidade 10m.

602
Quartzo
Livre

(a) – Laterita do Distrito Federal (diâmetro=19mm).

Figura 10 – Microestrutura de um solo laterítico,


Distrito Federal, SG12, profundidade 1m.

Na relação mineralogia-microestrutura há que se


realçar três aspectos importantes: a presença de
minerais fisicamente livres no interior dos
agregados ou concreções lateríticas, a presença de
vazios isolados no interior destes agregados e
micro-concreções e a variação do peso específico
dos grãos com a granulometria. A presença de
minerais fisicamente livres, como é o caso dos grãos
de quartzo existentes no interior da concreção
mostrada na Figura 11a, indica que neste caso as
tentativas de correlação entre a mineralogia e o
comportamento do solo são quase sempre fadadas
ao insucesso, pois o mineral será qualificado e
mesmo quantificado, sem que no entanto contribua
para o comportamento do solo. Já a variação do
peso específico dos grãos com o tamanho do grão (b) – Laterita do Distrito Federal (diâmetro=19mm).
(Palocci et al 1998) e a presença de vazios isolados Figura 11. (a) Quartzo livre no interior de uma
no interior de agregados e concreções lateríticas concreção, (b) vazios isolados no interior de uma
(Figura 11b) impõem a necessidade de maiores concreção.
cuidados ao se estabelecer um paralelo entre os
resultados de laboratório e de campo, em face dos 4. COMPORTAMENTO DOS SOLOS
tratamentos dispensados ao solo nos dois casos. Em TROPICAIS
laboratório a preparação de amostras passa quase
que invariavelmente por processos de secagem, 4.1. Sucção
destorroamento e seleção granulométrica, processos
esses dificilmente presentes no campo (Camapum O manto de intemperismo nos solos tropicais
de Carvalho et al. 1985) encontra-se quase sempre em condição não
Conclui-se, portanto, que os perfis de saturada. O lençol freático, quando presente em
intemperismo de regiões intertropicais apresentam condições naturais, se situa normalmente na zona
propriedades químicas, mineralógicas e estruturais mosqueada ou mesmo no contato mais impermeável
diretamente ligadas ao nível de intemperização da camada de solo saprolítico. Com isso, as
sofrido e que o elo entre elas e a origem do solo é diferentes obras geotécnicas, fundações, estruturas
fragilizado à medida que a ação do intemperismo se de pavimento etc. se encontram assentes, pelo
amplia. Destaca-se ainda a importância do pH e dos menos em parte, sobre solos não saturados.
oxi-hidróxidos de ferro e alumínio para o nível de Diante do exposto, torna-se freqüente a
agregação do solo (Cardoso et al. 2003). Sendo necessidade de se analisar o comportamento dos
assim, a análise das propriedades e comportamento solos tropicais em condições não saturadas e quando
destes solos não pode se dar de modo isolado, mas da variação do estado de saturação. Poucos são, no
sim interligando os aspectos físicos, químicos, entanto, os laboratórios equipados para a realização
mineralógicos e estruturais. de ensaios com controle de sucção e as obras

603
instrumentadas para se ter um controle efetivo da Com esse procedimento obtém-se uma curva
mesma. Um outro aspecto a ser destacado diz característica mais representativa da situação real do
respeito à longa duração dos ensaios geotécnicos solo; é possível obter a curva característica
com controle de sucção. Sendo assim, um meio transformada; conhecendo-se a resistência à tração
comumente utilizado na prática tem sido o da do solo e o ângulo de atrito efetivo, admitindo-o
estimativa da sucção a partir da curva característica constante, é possível estimar a envoltória de ruptura
do solo. A curva característica depende, no entanto, do solo não saturado para cada valor de sucção
de fatores como o índice de vazios, a distribuição de determinado para a definição da curva característica
poros e a estrutura do solo, fatores estes muitas (Figura 12a), ou ainda, conhecendo-se o ângulo de
vezes variáveis ao longo de uma obra ou com a sua atrito efetivo, a coesão efetiva e a resistência a
vida útil. tração do solo é possível determinar a parcela de
Para ampliar a representatividade da curva coesão do solo devida a cada valor de sucção e
característica extrapolando-a para diferentes valores assim se estimar o valor de φb como mostra a Figura
de índice de vazios, Camapum de Carvalho e 12b (González 2005). A determinação da resistência
Leroueil (2004) propuseram um método no qual é à tração dos corpos de prova submetidos ao ensaio
traçado um gráfico da transformada da sucção em de sucção constitui-se, portanto, em elemento
pF (pF é o logaritmo da sucção em centímetros de complementar simples e útil de avaliação do
coluna de água) pelo índice de vazios em relação ao comportamento mecânico dos solos não saturados.
grau de saturação. Com este gráfico é possível obter
curvas características para diferentes valores de
τ
índices de vazios. Esta técnica permite ainda obter a
curva característica do solo a partir de ensaios de
adensamento ou triaxiais à sucção controlada, desde
que se conheça a sucção e as variações de umidade e
índice de vazios durante o ensaio. O uso desta φ’
técnica para os solos com distribuição de poros bi-
modal como é o caso dos solos tropicais exige, no
c
entanto, um tratamento que leve em conta a c’
distribuição de poros como mostrado por Camapum
de Carvalho et al. (2002). σt σ
Para a obtenção da curva característica existem
várias técnicas sendo a do papel filtro uma das mais (a)
simples e de fácil utilização. Nas pesquisas que
temos realizado na Universidade de Brasília com o Volador
uso desta técnica adota-se como padrão o seguinte
30
procedimento:
- Prepara-se 10 a 12 corpos de prova com 5cm 25
de diâmetro e 1,5 a 2cm de altura; 20
- A partir da umidade inicial e levando-se em 15
φb

conta o grau de saturação correspondente se 10


umedece alguns corpos de prova e se seca outros de 5
modo a se obter a curva característica completa. 0
Destaca-se que este item foi também apresentado 0 500 1000 1500 2000
por Tácio M. P. Campos neste evento. (ua-uw) (kPa)
- Sobre cada corpo de prova são colocados 3
papeis filtro e feito o envelopamento do conjunto
com filme plástico; (b)
- Mantém-se o conjunto por 14 dias em Figura 12 – (a) Envoltória de resistência, (b)
ambiente climatizado; após este período se pesa o determinação de φb.
papel intermediário e em seguida o superior; o papel
superior serve, em princípio, apenas como contra 4.2. Fenômeno da Expansão
prova, podendo eventualmente substituir em caso de
erro, o resultado obtido para o papel central; A literatura sobre o tema é vasta tanto no que
- Cada corpo de prova é então rompido concerne aos solos naturais como quanto aos solos
diametralmente, determinando-se assim a resistência compactados (Seed et al. 1962, Matyas &
à tração para cada valor de sucção; este Radhakrishna 1968, Presa 1984, Jucá & Pontes
procedimento é recente no laboratório, e consta da Filho 1997). A literatura mostra que o fenômeno da
dissertação de mestrado de Gozález (2005); expansão está associado ao que é o solo
- Finalmente é feita a determinação do peso (composição químico-mineralógica, estrutura,
específico do corpo de prova pelo método da porosidade, umidade etc.) e às condições a que ele
parafina e em seguida a determinação da umidade. está submetido (temperatura, características do

604
fluido de saturação, estado de tensões etc). Em um - Removeu-se a água do interior da célula, que
perfil de solo tropical geralmente os minerais circundava e cobria o corpo de prova deixando-o
expansivos se encontram nas camadas menos submetido à desidratação e, portanto, ao aumento de
intemperizadas (solos saprolíticos ou residuais sucção. Neste caso, observa-se que a partir de um
jovens). É nelas também, que se fazem presentes às determinado intervalo de tempo o solo passa a
estruturas mais preservadas da rocha mãe e que são apresentar recalques significativos, o que
muitas vezes expansivas, principalmente quando corresponderia à continuidade do colapso estrutural
predominam características estruturais lamelares. do solo. Cabe destacar que esta ampliação de
Mineralogicamente os solos tropicais recalque foi também verificada na obra apresentada
profundamente intemperizados não são geralmente no relato oral, o que, aliás, motivou o estudo;
expansivos, pois neles predominam a caulinita e os - Depois de estabilizadas as deformações
oxi-hidróxidos de ferro e alumínio. devidas ao efeito da secagem, se efetuou uma nova
Na condição compactada os solos menos inundação do corpo de prova com o defloculante
intemperizados podem apresentar expansão hexametafosfato de sódio, guardando-se a devida
associada seja à mineralogia seja à estrutura imposta proporção com a solução usada no ensaio de
pela compactação. Já os solos profundamente sedimentação. Esta fase objetivou colocar em
intemperizados, devido à mineralogia e à estrutura evidência dois aspectos importantes, primeiro que o
natural geralmente agregada, raramente o são, a colapso depende do fluido de inundação o que não
menos que a energia de compactação seja suficiente constitui novidade; segundo, que a colapsibilidade
para gerar a desagregação e orientação das dos solos tropicais só deixa de existir quando da
partículas. desagregação completa do solo. No Distrito Federal
Intrinsecamente o fenômeno da expansão está geralmente os recalques são muito mais importantes
associado às características químico-mineralógicas e quando da infiltração de águas residuais que quando
estruturais do solo. As características químico- da infiltração de água potável ou pluvial.
mineralógicas se associam mais fortemente à As Figuras 15 e 16 mostram, portanto, que a
expansão interna do mineral por aumento da avaliação do colapso deve ser atrelada à situação
distância interplanar basal. Já as características prevista para cada obra e que o colapso por
estruturais são geralmente responsáveis pelo inundação com água não é capaz de expressar o
fenômeno da expansão entre os minerais. Em ambos potencial máximo de colapso do solo. Buscou-se
os casos a expansão tem por objetivo estabelecer o neste ensaio examinar qual seria o limite máximo de
equilíbrio energético no solo, seja quando se remove recalque devido ao colapso estrutural do solo. Há
uma carga (alívio de tensões externas) seja quando que se ter em mente, no entanto, que se o solo
se umedece o solo (alívio de tensões internas – estivesse inicialmente mais desidratado
sucção). Como os solos argilosos têm cargas provavelmente a amplitude do colapso estrutural
distintas nos bordos (positivas) e nas faces seria ainda maior, isto porque, até 24 kPa ocorreu
(negativas) este equilíbrio de energia depende do provavelmente um colapso estrutural do solo por
estado de hidratação, do meio em que se encontra e efeito do carregamento. Este colapso estrutural por
da estrutura. Assim por exemplo nos solos efeito do carregamento será tanto menor quanto
compactados, para um mesmo índice de vazios, a maior for a sucção, é evidente que até um
expansão é mais importante no ramo seco que no determinado limite. Sendo assim, a amplitude do
ramo úmido. colapso estrutural do solo poderá ser ampliada ou
reduzida em função da sucção inicial.
4.3. Fenômeno do Colapso Do ponto de vista prático, talvez o ideal fosse
avaliar o colapso não a partir da umidade natural no
Ainda buscando o entendimento dos solos
momento da amostragem, mas sim a partir da
tropicais, firmamos a idéia de que o colapso
umidade mínima de equilíbrio no campo. Em solos
depende da meta-estabilidade estrutural do solo e
muito superficiais, pouco protegidos contra os
esta é sujeita aos fatores que a provocam como o
efeitos da evaporação esta umidade seria
estado de tensões aplicado e atuante e sua variações,
aproximadamente a higroscópica.
a sucção atuante e sua variação e o fluido presente
As observações apresentadas neste item não têm
no solo e sua alteração. As Figuras 15 e 16 dão
a pretensão de corresponder à verdade absoluta, mas
sustentação a esta idéia. Elas foram obtidas a partir
simplesmente pretendem contribuir para a reflexão e
de um ensaio oedométrico realizado com o corpo de
entendimento do comportamento dos solos tropicais.
prova colocado em um anel de PVC com micro-
furos laterais, seguindo as seguintes etapas:
- Amostra na umidade natural carregada até 4.4. Erosão
24kPa;
- Inundação do corpo de prova com água É significativa e preocupante a degradação dos
destilada nesta tensão. Esta fase corresponde à solos, em conseqüência do manejo inadequado dos
avaliação convencional do colapso por inundação mesmos ou da implantação de obras de engenharia e
sob um estado de tensão pré-definido; saneamento sem os devidos cuidados.

605
poderiam ser classificadas em ordem cronológica
2,7
como erosão laminar, sulcos, ravinas e voçorocas ou
boçorocas. A forma da ravina ou da voçoroca é
2,5 quase sempre condicionada pela geologia local
(Mortari 1994).
2,3 Antes da precipitação e do fluxo o solo
Índice de vazios

Colapso por
inundação Efeito da
superficial encontra-se normalmente no estado não
com água desidratação saturado e, portanto, submetido a forças capilares
2,1
e/ou de sucção. Neste caso o modo como se dá a
saturação poderá propiciar o desprendimento e
1,9 desagregação das partículas. Se um agregado ou
Colapso por inundação
com defloculanate
uma dada massa de solo vê-se repentinamente
1,7 imersa em água, a capilaridade e/ou sucção faz com
Consolidação que a água penetre no seu interior gerando uma
1,5
pressão positiva na fase ar, que ao atingir a coesão
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000 do solo o rompe desagregando-o. A influência da
Tempo de ensaio (horas) umidade inicial do solo no processo de erosão é
analisada em maior detalhe por Bender (1985).
Figura 15 – Curva tempo x recalque. Portanto, fica clara nessa abordagem
simplificada do problema, a importância da sucção
w natural Inund. Defloculante
para a compreensão de muitos processos erosivos, é
certo que em outros casos, a influência de fatores
2,5
como o estrutural pode ser mais relevante (Lima
Colapso por
1999).
2,3 inundação
com água
4.5. Compactação
Índice de vazios

2,1
Efeito da
1,9 Colapso por desidratação Para estabelecer os critérios de eficiência da
inundação com compactação e entender o comportamento dos solos
1,7
defloculanate
Consolidação
tropicais compactados é necessário antes de tudo
buscar a compreensão dos seus aspectos químicos,
1,5 mineralógicos e principalmente estruturais ligados
1 10 100
ao processo de formação.
Tensão vertical (kPa)
Atentando-se para esses aspectos é possível
Figura 16 – Curva carga x recalque. perceber que o modelo de variação estrutural
proposto por Lambe com base na observação das
A degradação do solo envolve a alteração de propriedades e comportamento dos solos de região
propriedades físico-químicas e de nutrientes bem temperada não é de todo aplicável aos solos
como os processos erosivos. Os processos erosivos tropicais, pois se naqueles as partículas se
podem ser naturais ou de origem antrópica. Eles encontram ligadas apenas por forças de natureza
podem ser causados pela ação das águas dos ventos eletromagnéticas e de interação iônica, nos solos
e das geleiras. A ação da água gera três tipos de tropicais, principalmente nos profundamente
erosão nos solos, a erosão interna ou piping, a intemperizados, elas se encontram muitas vezes
esqueletização ou aumento da porosidade e a erosão também ligadas por agentes cimentantes. Além da
de superfície. A erosão interna geralmente surge em influência marcante dos cimentos, as condições
conseqüência do aumento da taxa de infiltração ou favoráveis de pH também contribuem para a
do gradiente hidráulico, e corresponde a formação formação de agregados nos solos tropicais o que
de canais de fluxo no solo. A esqueletização (Roose limita a possibilidade de orientação estrutural.
1977) corresponde apenas ao aumento da Sendo assim, enquanto nos solos de região
porosidade do solo e normalmente surge em temperada certo grau de liberdade existente entre as
conseqüência do aumento da taxa de infiltração ou partículas faz com que a aplicação da energia de
do gradiente hidráulico ou ainda por meio da compactação em condições favoráveis de umidade
dissolução de compostos químicos. Neste processo a conduza a orientação das mesmas, nos solos
sucção pode muitas vezes assumir papel importante, tropicais intemperizados elas se encontram
sendo o seu gradiente responsável pela migração de formando os agregados em situação pouco propensa
elementos químicos. A erosão de superfície pode ser a reorientação. Portanto, em um perfil de solo
gerada pela ação das ondas do mar ou fluviais e pela tropical a aplicabilidade do modelo de variação
ação da água de chuva. estrutural proposto por Lambe para os solos
A erosão de superfície gerada pela água de compactados é tanto menor quanto maior é o
chuva passa por um processo evolutivo cujas fases intemperismo sofrido pelo solo.

606
Nestas condições, a influência da sucção na intemperizados e, portanto, provavelmente pouco
compactação e no comportamento dos solos agregados e propensos à alterações estruturais. É
compactados é bastante distinta nos dois tipos de possível observar que mesmo o solo mais granular
solo. Nos solos de região temperada a distribuição tem elevada CTC (CTC=CIC) na fração argila, o
de poros é mais homogênea (mono-modal) e toda que corrobora a idéia do relator quanto ao nível de
variação de sucção interfere de modo direto na intemperização sofrido. É sabido que a energia
compactação e no comportamento dos solos dinâmica orienta mais as partículas que a estática e
compactados. Já nos solos tropicais, principalmente esta mais que a vibratória, e que esta mesma
os profundamente intemperizados, a distribuição bi- orientação aumenta com a energia de compactação
modal dos poros faz com que a influência direta da (Camapum de Carvalho et al. 1987). Por outro lado
sucção seja por vezes pouco marcante. A energia de a expansão é tanto maior quanto maior for a
compactação atua quebrando os agregados e o floculação do solo. Os solos estudados que
aumento de umidade e conseqüente redução da apresentaram expansão admissível são também os
sucção os torna mais frágeis. mais granulares e pobres em argilo-minerais, e por
Dentro deste contexto, considerando-se a conseqüência são os mais permeáveis e apresentam
estrutura dos solos tropicais naturais e dos próprios estrutura menos sensível a alterações de energia e
agregados, é necessário repensar os critérios de umidade de compactação. Os resultados
eficiência e de controle da compactação. Muitas apresentados são, portanto, coerentes com o
vezes o aumento do peso específico com a esperado. Não ficou claro no texto, qual teria sido o
compactação não corresponde diretamente a uma método de compactação adotado na preparação dos
melhoria de comportamento e nem pesos específicos corpos de prova para os ensaios de expansão em
abaixo do especificado significam necessariamente células oedométricas, no entanto, se este foi estático
um comportamento indesejado. Analisar a ou semi-estático, a menor orientação de partículas
influência da compactação no comportamento dos em relação ao método dinâmico adotado nos ensaios
solos tropicais requer atenção especial para a convencionais de pavimentação seria, pelo menos
distribuição dos poros do solo e para os aspectos em parte, responsável pela maior expansão
estruturais dos agregados e torrões, pois estes oedométrica. Esta análise mostra a necessidade de
possuem índices de vazios por vezes muito distintos se buscar o entendimento do comportamento dos
dos representativos dos valores médios do solo solos com base nas condições de compactação e nas
compactado. propriedades químicas e mineralógicas dos solos.
Por exemplo, com exceção da amostra IV as demais
5. RELATO apresentam peso específico aparente seco máximo e
teor de umidade ótimo que se relacionam bem com
5.1 Expansão a CTC, sendo que o mesmo tipo de relação deve ser
obtido para a expansão. Finalmente cabe destacar
Musso, M. Rostan, A. & Behak, L. (vol.1, pp. que geralmente a compactação de solos finos pouco
377-381): “Expansión en suelos de intemperizados no campo se aproxima mais da
subrasantes de Uruguay:Edómetros vs CBR” energia estática de laboratório que da dinâmica e
esta pode ser uma das fonte das discrepâncias que os
Relato: O artigo faz a análise comparativa entre autores vêm obtendo (Camapum de Carvalho et al.
os resultados de expansão medidos a partir da 1987).
metodologia convencional adotada em Questão para reflexão: Não seria importante
pavimentação e os resultados obtidos a partir de explorar os aspectos químicos e estruturais na
ensaios oedométricos. O estudo foi feito sobre cinco análise dos resultados?
amostras diferentes de solo sendo apenas uma
granular. Os solos possuem esmectita, e/ou
vermiculita, e/ou ilita em sua composição Burgos, P.C. & Fontes, L.C.A.A. (vol.1, pp. 411-
mineralógica. Do ponto de vista químico observou- 415): “Comportamento geotécnico da
se na amostra IV (siltosa) a presença de carbonato expansão de dois solos saprolíticos
como agente cimentante. compactados”
Comentários: O maior tempo de estabilização
nos ensaios de expansão livre do CBR pode ser Relato: O estudo é realizado sobre dois solos
atribuído à baixa permeabilidade dos solos, ao ao saprolíticos de origem geológica distinta. Apesar de
efeito escala e ao tempo necessário a re-hidratação classificações semelhantes nos sistemas SUCS e
dos solos ricos em argilo-minerais expansivos. Este HRB (TRB) as propriedades físicas e as curvas de
problema foi detectado principalmente nos solos compactação revelam materiais ligeiramente
mais argilosos (amostras I e II). No estudo dos solos diferentes. Os autores apontam para a coerência do
compactados pouco intemperizados e de região comportamento expansivo em relação às condições
temperada, é indispensável considerar-se a estrutura de compactação. Os autores realçam a influência da
do solo. No presente estudo, à natureza mineralogia sobre o comportamento expansivo dos
mineralógica dos solos reflete materiais pouco solos.

607
Comentários: O traçado do gráfico da sucção entanto, depende de outros fatores como, por
matricial versos expansão, permitiria aos autores exemplo, da estrutura e dos cátions trocáveis. A
verificar a relação direta entre os dois parâmetros e estrutura tende a orientar com o aumento da sucção.
seria um bom complemento ao estudo. O Portanto, ao se aumentar a sucção a mineralogia do
interessante é que tanto o gráfico da expansão x teor solo se mantém, mas a estrutura provavelmente não,
de umidade como o gráfico do teor de umidade x daí ser difícil desassociar a sucção da mineralogia
sucção apresentados pelos autores fornecem duas na análise da expansão. Do ponto de vista da
curvas distintas para os dois materiais, no entanto, o constatação a observação dos autores é interessante
gráfico da sucção matricial x expansão tende a uma e representa uma contribuição. No entanto,
curva única para os dois solos. Isto se justifica pelo relacionando-se a pressão de expansão com a sucção
fato de tanto a sucção como a expansão dependerem se percebe certa dispersão nos resultados, embora
dos dois aspectos, o físico e o químico e a relação em escala bem menor e com ótimos valores de
com a umidade constitui um aspecto puramente coeficiente de correlação.
químico-mineralógico. Questão para reflexão: A constatação foi feita.
Questão para reflexão: O que se recomendaria Não seria, no entanto, recomendável entender por
em termos de faixa de variação de umidade para a que a mineralogia perde influencia na pressão de
compactação destes solos no campo? expansão ao se aumentar a sucção inicial no solo?

Campos, L.E.P. & Burgos, P.C. (vol. 1, pp. 417- Justino da Silva, J.M. & Ferreira,M.G.V.X.(vol.
421): “Determinação do potencial de 1, pp. 477-482): “Caracterização física,
expansão de dois massapés da Região química e mineralógica de um depósito de
Metropolitana da cidade de Salvador- BA” argila expansiva e sua relação com o
comportamento de deformação”
Relato: O artigo apresenta a análise da
atividade e expansibilidade dos solos com base em Relato: Neste estudo é analisada a relação
resultados de ensaios de caracterização, adsorção de existente entre o fenômeno de expansão/retração e a
azul de metileno e sucção matricial. A expansão foi sucção e a composição química e mineralógica de
avaliada a partir de ensaios de expansão livre. Os um perfil de solo de Paulista, Estado de
autores concluem que a proposta de Van der Merwe, Pernambuco. Os autores concluem que a
a técnica de de Fabbri e o critério pedológico mineralogia, o tipo de cátion e o percentual de
concordam na previsão da expansibilidade. Os colóides determinam o comportamento
autores apontam ainda como importante o expansivo/contrátil do solo. A dificuldade em
conhecimento das variáveis climáticas, dada a correlacionar o fenômeno com os perfis de sucção
influência da sucção na expansão. determinados levou os autores a recomendarem a
Comentários: As duas amostras ensaiadas são necessidade de se dispensar maior atenção ao
muito semelhantes e os resultados coerentes com o balanço hídrico.
esperado, exceto quanto ao coeficiente de atividade Comentários: Os autores estão certos em
de Skempton conforme verificado pelos autores. recomendar maior atenção ao balanço hídrico. No
Recomendaria que se determinassem os limites de entanto, na falta do controle da sucção in situ, o
liquidez e plasticidade a partir da amostra natural, conhecimento das curvas características dos solos
sem qualquer tratamento, nem mesmo peneiramento talvez pudesse ajudar na associação da sucção ao
para então determinar o coeficiente de atividade de comportamento expansivo/contrátil do solo, pois se
Skempton. teria a variação de umidade correspondente à
Questões para reflexão: Por que a variação de sucção e esta por sua vez poderia
classificação de Skempton não foi satisfatória? eventualmente ser relacionada ao comportamento.
Permitiu-se a completa re-hidratação do solo antes Presa (1984), mostra que o comportamento
da realização dos ensaios de limite de liquidez e de expansivo/contrátil do solo se relaciona à variação
plasticidade? de sucção. Acredita-se que, melhor que associar a
profundidade de desaparecimento das fissuras no
Pereira, E.M. e Pejon, O.J (vol. 1, pp. 471-476): campo ao limite de plasticidade, seria fazê-lo em
“Características de materiais não saturados relação ao limite de contração. Komornik & David
expansivos mediante ensaios com soluções (1969) mostram que a expansão livre aumenta com
salinas” a redução do limite de contração. Na camada mais
superficial as propriedades físicas variam até
Relato: Neste artigo os autores avaliam a aproximadamente 1m a 1,5m de profundidade e a
influência da mineralogia e da sucção na expansão e CTC se estabiliza entre 1m e 2m enquanto o teor de
concluem que a primeira só é relevante quando a alumínio apresenta um pico entre 1m e 1,3m e o
segunda é pequena. magnésio a 2m. Observa-se, ao mesmo tempo, que
Comentários: Nos solos argilosos a própria os deslocamentos verticais apresentam a
sucção depende da mineralogia. A expansão, no descontinuidade entre 1m e 2m o que constitui uma

608
coincidência com as variações da propriedades afeta a tensão de expansão e a própria expansão. O
físicas e químicas e poderia estar apontando para a mesmo tipo de análise pode ser feito com relação ao
efetiva profundidade das fissuras de retração. pH. Estas análises permitirão aos autores mostrar a
Questão para reflexão: Por que se deu mais importância da química e mineralogia do solo para o
importância ao cátion cálcio que ao alumínio, uma fenômeno de expansão. Seria recomendável, tentar
vez que até 2m o primeiro inexiste enquanto o associar as curvas características ao índice de vazios
segundo é significativo? para depois tentar entendê-las como uma função da
química e mineralogia do solo. É por exemplo,
Justino da Silva, J.M., Cruz, P.T. & Jucá, J.F.T. possível verificar que a curva característica da
(vol. 1, pp. 483-488): “Medidas de campo e de camada um, reflete um solo em estado
laboratório da variação de volume em um extremamente ressecado, pois este teor de umidade
solo expansivo não saturado” corresponderia a um peso específico aparente seco
de aproximadamente 20 kN/m3 para as maiores
Relato: Este estudo foi realizado aparentemente
umidades constantes da curva característica
sobre o mesmo perfil de solo do artigo anterior.
apresentada na Figura 7 do artigo em apreço. Os
Vistos isoladamente não conseguem colocar em
menores valores de limite de contração obtidos para
evidência a importância do estudo em toda a sua
as amostras coletadas por shelby em relação aos
magnitude. O presente artigo se fundamenta em
obtidos pelo método da ABNT, refletem a diferença
resultados de laboratório e de campo para concluir
de estrutura entre as duas amostras, tendo a de
que as deformações de expansão verificadas
campo passado por vários ciclos de molhagem e
dependem mais do teor de umidade inicial do que da
secagem e a de laboratório ser fruto de um material
tensão vertical líquida. Quanto às medidas de
totalmente desestruturado. Finalmente é possível
campo, os autores concluíram que os movimentos
associar as variações de sucção às variações de
ocorridos no terreno não são constantes ao longo da
deslocamento vertical ao longo do perfil. Esta
zona ativa, como normalmente admitidos em
relação é quase perfeita e linear para o presente
cálculos de levantamento.
estudo.
Comentários: Tomando-se valores
Questões para reflexão: Como se situam no
aproximados dos gráficos apresentados, neste e no
presente estudo os limites de contração em relação
artigo anterior, e adotando quando necessário um G
às curvas características? Geralmente abaixo da
médio para o solo igual a 2,8, várias análises
zona ativa ocorrem variações de umidade, embora
complementares puderam ser feitas buscando
pequenas. Isto faz parte das variações do balanço
entender melhor o comportamento do perfil de solo.
hídrico ao logo do ano.
Entendemos que dada à limitação de espaço nunca é
possível apresentar tudo que se pode avaliar em um
estudo, e por isso, não vai aqui qualquer crítica. Para 5.2 Colapso
não tirar dos autores a oportunidade de explorar os
resultados em outras publicações, limitar-se-á aqui Medero, G.M., Wheeler, S.J., Schnaid, F. &
apenas a abordar o que se entende relevante para Gehling, W.Y.Y. (vol. 1, pp. 79-82):
análises posteriores. É de difícil quantificação a “Behaviour of na artificial cemented highly
importância da umidade inicial em relação à tensão collapsible soil”
vertical líquida, pois enquanto a primeira se
relaciona com a sucção e com a hidratação dos Relato: O estudo analisa o fenômeno do
minerais e compostos químicos, a segunda impõe ao colapso a partir de corpos de prova confeccionados
solo uma distância interpartícula inferior a de artificialmente com o uso de um solo residual do
equilíbrio ditada pelas forças de atração e repulsão e arenito Botucatu, misturado com partículas de
faz variar o índice de vazios e com isso a sucção. O poliestireno expandido com e sem o uso de cimento
traçado de gráficos da expansão como função do Portland tipo ARI. Os corpos de prova preparados
teor de umidade e da tensão vertical permite com dois índices de vazios 0,8 e 1,3 foram
verificar que na verdade os dois parâmetros são submetidos a ensaios oedométricos e com base nos
relevantes. Aliás, será encontrada uma boa resultados experimentais os autores concluíram ser
semelhança entre o gráfico relativo à tensão vertical possível obter artificialmente amostras com elevado
e o de deformação específica apresentado na Figura índice de vazios e altamente colapsáveis e que as
3 do referido artigo. Um outro parâmetro relevante é mesmas seriam representativas dos solos naturais
a capacidade de troca catiônica (CTC), que é colapsáveis.
diretamente ligada à mineralogia do solo. Para Comentários: Cabem aqui os comentários do
ressaltar a sua importância, um gráfico a ser traçado artigo seguinte. Complementarmente destaca-se a
deveria ser o de peso específico aparente seco necessidade de se avaliar melhor as reações
versos a CTC, pois o índice de vazios de equilíbrio é químicas oriundas da presença do cimento no solo,
função das tensões externas e também das forças de pois as diferença de comportamento não devem, em
atração e repulsão predominantes no solo. Em princípio, estar simplesmente refletindo a ação
seguida será possível verificar que a CTC também cimentante de 1% de cimento.

609
Questão para reflexão: Os resultados comportamento dos solos tropicais, sem que possa,
apresentados neste artigo deixam uma interrogação, no entanto, oferecer conclusões generalizadas.
pois um dos problemas levantados que conduziram Assim por exemplo, os solos argilosos
ao estudo do material artificial foi a heterogeneidade profundamente intemperizados, quase sempre um
dos solos naturais, no entanto, os resultados da pouco ao contrário dos solos quartzosos,
Figura 3 refletem o mesmo problema. O que se teria apresentam-se com estrutura agregada nas quais
a dizer a este respeito? entre os agregados existem os macroporos e no
interior destes os microporos. Em termos de
Medero, G.M., Wheeler, S.J., Schnaid, F. & permeabilidade em meio saturado o comportamento
Gehling, W.Y.Y. (vol. 1, pp. 83-86): “Fatores dos dois materiais não muda muito, pois o fluxo se
que comandam o comportamento mecânico dará predominantemente pelos macroporos, no
de um material colapsível” entanto, em termos de comportamento mecânico e
curva característica pode mudar enormemente. Um
Relato: O estudo analisa o fenômeno do outro aspecto é que aditivos como a cal e o cimento
colapso a partir de corpos de prova confeccionados muitas vezes instabilizam estes agregados como
artificialmente com o uso de um solo residual do mostra Rezende (2003). A iniciativa da pesquisa é
arenito Botucatu, misturado com partículas de interessante, e me parece oportuno, se ainda não foi
poliestireno expandido com e sem o uso de cimento feito, que se proceda a análises microestruturais
Portland tipo ARI. Os corpos de prova foram comparativas com os solos naturais colapsáveis que
submetidos a ensaios oedométricos e com base nos se pretende representar.
resultados experimentais os autores concluíram ser Questões para reflexão: No cálculo do índice
importante a influência do índice de vazios inicial e de vazios como é considerado o poliestireno? Qual a
do nível de cimentação no potencial de colapso. interação poliestireno-água? Este material artificial
Comentários: Vários são os trabalhos representaria também a estrutura e comportamento
apresentados na literatura utilizando materiais dos solos argilosos? Sobrepondo-se as Figuras 2 e 3
cimentados artificialmente para simular os solos apresentadas no artigo, é possível verificar que o
tropicais. O presente trabalho ao utilizar partículas material da Figura 3 se apresenta como se estivesse
de poliestireno expandido na produção do material dentro de uma zona pré-adensada da Figura 2, não
artificial, introduz um procedimento inovador seria esta a causa dos menores colapsos?
quanto à composição da mistura. É preciso lembrar,
no entanto, a grande gama de solos colapsáveis Ferreira, S.R.M. & Silva, M.J.R. (vol. 1, pp. 423-
existentes. Podem sofrer colapso tanto os solos 429): “Microestruturas de solos colapsíveis
naturais como os compactados, tanto os arenosos do semi-árido de Pernambuco antes e após o
como os argilosos e siltosos, tanto os cimentados colapso”
como os não cimentados, tanto os residuais como os
transportados, em determinada condição um solo Relato: Neste estudo é analisada a
pode ser colapsável em outra expansivo, enfim, são microestrutura de dois solos antes e após o colapso.
vários os solos colapsáveis. Ao mesmo tempo para Os autores concluem que elas são semelhantes e que
que o fenômeno do colapso ocorra o mais após o colapso a microestrutura ainda se mantém
importante é o fato da estrutura ser metaestável, e instável. Os autores colocam como hipótese que a
esta é uma característica inerente aos solos amostra Petrolina-PE poderia ter sofrido lixiviação
colapsáveis, como os próprios autores colocam já na de argilas e pequenos deslocamentos do silte para
introdução ao trabalho. O colapso pode ocorrer por preenchimento dos vazios existentes quando da
ataque químico aos vínculos de sustentação da inundação sob as tensões de 320 e 640 kPa. Para a
estrutura metaestável ou por variação da energia amostra Petrolândia-PE é mantida a hipótese de
existente ou atuante no solo. A fonte de variação da carreamento de partículas de argila pela percolação
energia que o provoca, pode ser a redução de de água. Para ambos os solos os autores concluem
sucção, solicitação externa, vibração, alteração do que após colapso o solo continua a apresentar
estado de tensão etc. A ruptura estrutural do solo por estrutura instável.
variação de energia, embora relevante, não é Comentários: O grande problema na
considerada como tal por grande parte da literatura preparação de amostra para microscopia é quase
que trata o colapso pura e simplesmente como um sempre a sua secagem. Este problema pode ser
problema de aumento do teor de umidade do solo. sanado pela técnica de liofilização, na qual a água
No entanto, segundo Araki (1997), Denisov já em passa do estado sólido para o de vapor sem os danos
1951 o dividia em duas parcelas, subsidência devido gerados pela retração provocada pelo aumento da
ao carregamento e subsidência devido à saturação, sucção no processo de secagem (Camapum de
sendo que a soma das duas parcelas correspondiam Carvalho 1985). Dada a cimentação existente, o
à subsidência total devido ao colapso. Sendo assim, problema da retração nos solos tropicais é muitas
acredito que os materiais artificiais sempre vão vezes mínimo. No presente caso seria conveniente
representar uma contribuição particular no estudo do avaliar esta influência. A hipótese dos autores

610
concernente à possibilidade de lixiviação durante o quanto ao que é o colapso e quanto à forma de sua
processo de saturação do solo é pertinente, pois avaliação. Nos critérios baseados nas propriedades e
surge aí um gradiente de sucção importante entre a características físicas, quando se leva em conta a
face de inundação e o interior do corpo de prova. granulometria talvez o mais correto fosse considerar
Lima (2003), ao analisar processos de alteração de os resultados de ensaio sem o uso de defloculante,
maciços junto a taludes de voçorocas, mostra que o pois o solo na natureza encontra-se muitas vezes em
fluxo em meio não saturado é susceptível de alterar condição agregada e a própria curva característica
as propriedades e comportamento do solo. Para de sucção terá sua forma a ela associada e não
verificação deste caso específico seria recomendável simplesmente às partículas de argila
a avaliação micro-estrutural do corpo de prova em individualizadas. Já no critério de Priklonskij
perfil de corte vertical. Com base no aspecto micro- (1952), é possível perguntar se a real intenção do
estrutural dos solos após colapso por inundação, os autor não teria sido considerar wo como a umidade
autores consideram que eles continuam correspondente ao índice de vazios inicial do solo?
estruturalmente instáveis, ou seja, podendo sofrer Caso não tenha sido, o ideal será propor a sua
novos colapsos. Desconsiderando eventuais efeitos modificação para tal. Nos ensaios oedométricos
de ataque químico do solo ou alteração do fluído de quando o solo apresenta certa heterogeneidade
saturação, o que no estudo apresentado não é o caso, inicial, heterogeneidade esta muitas vezes virtual e
o colapso seria então o resultado das variações do de difícil identificação, devida a vazios que ficam
estado de tensões em que a sucção entraria como entre o anel e o corpo de prova, o recomendável
uma das variáveis de estado. seria tratar os resultados de modo normalizado
Questões para reflexão: Segundo os autores a dividindo-se os índices de vazios ao longo do ensaio
estrutura dos solos ainda se mantém instável após o pelo índice de vazios inicial do próprio corpo de
colapso sofrido por efeito da saturação. Caso prova, uma vez que o método de ajuste proposto
partisse dessa situação como seriam classificados os Jennings & Knight (1975) seria no caso, de
solos quanto à colapsibilidade? Não seria possível aplicação limitada. Segundo este critério o solo
estimar a sucção dos solos após carregamento e coluvionar de arenito apresentaria praticamente a
antes da inundação? mesma curva de compressibilidade a exceção das
tensões de inundação de 50kPa e 800kPa, ambas
Feuerharmel, C., Gehling, W.Y.Y., Bica, A.V.D. com maior rigidez. Já para o solo coluvionar de
& Pereira, A. (vol. 1, pp. 431-437): “Análise basalto apenas o corpo de prova inundado a 12,5
do potencial de colapso de solos coluvionares kPa tenderia a destoar do comportamento esperado.
da Formação Serra Geral/RS” Embora aparentemente não se verifique colapso por
inundação em qualquer dos corpos de prova, seria
Relato: O artigo avalia o potencial de colapso possível verificar a redução de rigidez próxima às
de dois solos coluvionares com base em critérios tensões de inundação. A adoção da normalização
qualitativos que se fundamentam em ensaios de aproximará os resultados dos ensaios simples
caracterização, e em critérios quantitativos baseados daqueles obtidos para o ensaio duplo ao mesmo
em ensaios oedométricos simples e duplos, tempo em que permitirá uma melhor avaliação do
realizados sobre amostras indeformadas e efeito da re-moldagem e da estrutura do solo no
remoldadas. Como conclusão tem-se que a maioria processo de colapso.
dos métodos qualitativos utilizados, a exceção de Questão para reflexão: Seria efetivamente
apenas um, mostraram-se coerentes com os possível comparar o potencial de colapso obtido por
resultados dos ensaios oedométricos. Segundo os Basma e Tuncer (1992) aos determinados com base
autores, para a umidade de campo os solos apenas nos ensaios oedométricos?
mostraram-se não colapsáveis por inundação para o
intervalo de tensão adotado (12,5 kPa a 800 kPa) Gutierrez, N.H.M., Nóbrega, M.T. & Vilar, O.M.
quando ensaiados no ensaio simples, indicando (vol. 1, pp. 439-444): “Condicionantes
assim, solos estruturados com cimentação natural. estruturais do colapso de um solo argiloso
No ensaio oedométrico duplo o solo pode ser tropical oriundo de basalto no Norte do
classificado como colapsável para as tensões mais Paraná”
altas. Quanto às curvas de compressão elas se
mostraram paralelas para o solo coluvionar de Relato: Neste estudo é analisada a
arenito e tenderam a convergir para o solo colapsibilidade de um perfil de solo oriundo de
coluvionar de basalto. A maior compressibilidade Maringá buscando associá-la a micro-estrutura do
dos solos remoldados evidencia a contribuição da solo. Em uma primeira fase os autores analisam os
estrutura e arranjo das partículas para a estabilidade resultados de colapso associando-os ao índice de
do solo natural. vazios e às tensões geostáticas.
Comentários: O trabalho apresentado ao Comentários: Mantêm-se aqui, os comentários
mesmo tempo em que é interessante mostra que a do relato anterior quanto à preparação de amostra
literatura encontra-se muito distante de um consenso para análise micro-estrutural. As micro-fissuras

611
observadas nas micro-análises podem, pelo menos determinada tensão em alguns solos e em outros
em parte, estar associadas à secagem do solo na fase não, ou o fato de em alguns solos o colapso no
de preparação das amostras para lâmina. As análises duplo oedômetro ser menor que no ensaio simples e
efetuadas pelos autores são bastante interessantes e em outros não, mostra que o colapso não pode ser
pertinentes, no entanto, deixar de tecer alguns tratado simplesmente como um problema de
comentários seria minimizar a contribuição do variação de sucção. Por exemplo, o solo que
trabalho. Analisando-se atentamente os resultados expandiu para determinados níveis de tensão e
das Figuras 2 e 3, colocam-se em evidência alguns colapsou para outros conjuga os aspectos
aspectos importantes. Em termos de mineralógico (expansão) e estrutural (colapso) à
comportamento, os resultados permitem dividir o energia externa, sendo que em ambos a sucção
perfil de solo estudado em duas camadas, 1m a 3m e matricial foi conduzida a valores próximos de zero.
4,5m a 9m. O pré-adensamento do solo inundado Questões para reflexão: Qual seria o
encontra-se na primeira camada em torno de 50kPa mecanismo de colapso em relação à microestrutura
e na segunda em torno de 150kPa. Observa-se dos do solo apresentada? Qual seria a diferença de
resultados apresentados, que até estes limites de estrutura entre os solos CHPV (microestrutura
tensão de inundação nas duas camadas as amostras mostrada) e CPA (microestrutura não mostrada)
praticamente não apresentaram colapso, ou seja, as uma vez que os colapsos dos dois são bastante
estruturas mantiveram-se estáveis. O mais diferentes?
importante é, no entanto, observar que na primeira
camada o colapso por inundação diminui a partir de Teixeira, R.S., Belincanta, A., Lopes, F.F.,
200kPa sendo inexpressivo a 800kPa e na segunda Gutierrez, N. & Branco, C.J.M.C. (vol. 1, pp.
camada ele tende a diminuir ao passar da tensão 495-499): “Avaliação do colapso do solo da
confinante 400kPa para 800kPa. camada superficial da cidade de
Questões para reflexão: Como se explicaria a Londrina/PR”
constatação de que na primeira camada o colapso
por inundação diminui a partir de 200kPa sendo Relato: O artigo apresenta, com base em
inexpressivo a 800kPa e na segunda camada ele ensaios oedométricos simples, a análise da
tende a diminuir ao passar da tensão confinante colapsibilidade de um perfil de solo típico da
400kPa para 800kPa? A estrutura não estaria neste camada superficial de solo de Londrina. O perfil de
caso entrando em colapso por efeito do solo estudado apresentou colapso variando com a
carregamento antes de ser submetida à inundação? profundidade, com os níveis de tensão e com o teor
de umidade inicial.
Silva, M.J.R. & Ferreira, S.R.M. (vol. 1, pp. 489- Comentários: Aparentemente o trabalho
494): “Solos colapsíveis do município de constitui o estudo inicial realizado pelos autores e
Petrolina - PE” como tal é possível considerá-lo na boa direção.
Com base nas análises granulométricas realizadas é
Relato: O trabalho analisa a partir de ensaios possível calcular o índice de agregação do solo
simples e duplo oedométricos o comportamento de (Lima 2003) e buscar associá-lo ao fenômeno do
amostras de solo provenientes do município de colapso. A realização de ensaios de pH em água e
Petrolina, localizado no Semi-árido do Estado de em KCl permitirá a definição das zonas mais e
Pernambuco. Os autores concluem que para alguns menos intemperizadas e possivelmente associa-las
solos o colapso aumenta com a tensão vertical de ao colapso. Avaliar a microestrutura a partir de
consolidação, enquanto em outros ocorre um pico de microscopia eletrônica de varredura poderá ajudar
máximo colapso para um valor definido de tensão. no entendimento do fenômeno do colapso que
Os ensaios oedométricos simples apresentaram caracteriza o perfil de solo estudado. Finalmente
maiores valores de colapso que os duplos, sendo a seria recomendável a determinação das curvas
diferença de comportamento atribuída aos caminhos características de sucção do solo, e a partir dela e da
de tensão seguidos nos dois casos. distribuição de poros, analisar os resultados.
Comentários: Com base na micro-estrutura Questão para reflexão: Os resultados mostram
parece importante a realização de ensaios variações importantes de colapso ao longo do perfil,
granulométricos também sem o uso de defloculante, com a tensão aplicada e com o teor de umidade
com o objetivo de se averiguar a estabilidade inicial, agora, que estudos poderiam ser realizados
estrutural dos agregados em presença de água. Esta para chegar a um entendimento mais definitivo a
poderia ser uma informação complementar relevante cerca da colapsibilidade do perfil de solo?
na análise do colapso. O estudo retrata bem o
aspecto de que o colapso é um problema de 5.3 Erosão
metaestabilidade estrutural do solo no qual
interferem, a química, a mineralogia e Higashi, R.R. (vol. 1, pp. 445-449): “Estudo da
principalmente a própria estrutura, ou seja, o fato de erodibilidade de horizonte C da Formação
ocorrer um valor máximo de colapso para uma Guabirotuba em São José dos Pinhais”

612
Relato: O trabalho apresenta um estudo Questão para reflexão: Por que a erodibilidade
realizado sobre amostras do horizonte C oriunda da da amostra 2 quando obtida para a amostra seca ao
Formação Guabirotuba em São José dos Pinhais. O ar teria sido menor que a obtida para o solo natural?
estudo foi realizado com base em ensaios de
infiltrabilidade, perda de massa por imersão e 5.4 Compactação
classificação MCT pelo método das pastilhas. Os
resultados são associados à qualidade das amostras Parreira, A.B., Takeda, M.C. & Luz, M.P. (vol. 1,
ensaiadas. pp. 383-388): “Avaliação da influência do
Comentários: O estudo realizado é ao mesmo período de imersão nos resultados do ensaio
tempo simples e interessante. Os parâmetros CBR de solos tropicais”
mostraram-se coerentes e a metodologia adotada
pode se constituir em uma boa técnica de avaliação Relato: O trabalho representa uma contribuição
da erodibilidade do solo. Deve-se, no entanto, tentar importante para reflexão sobre o comportamento
associar os resultados a medidas diretas de dos solos compactados. Ele apresenta a análise do
erodibilidade. O autor tem razão em levantar o comportamento de seis solos finos divididos em
problema do grau de saturação inicial do solo, pois pares considerados semelhantes quanto às
ele afeta diretamente a desagregabilidade, a perda de propriedades físicas, sendo três classificados
massa por imersão e o valor de sorção. segundo a metodologia MCT como lateríticos e três
Questão para reflexão: Como seria possível como não lateríticos. Na classificação Unificada e
introduzir o efeito da sucção neste tipo de estudo? AASHTO os solos que compunham cada par
apresentavam as mesmas classificações. A
Meirelles, M.C. & Davison Dias, R. (vol. 1, pp. granulometria é considerada como o principal fator
465-470): “Estudo da erodibilidade de solos afetando o comportamento dos solos. O tempo de
residuais do Complexo Granito-Gnáissico – imersão de 4 dias para determinação do CBR é
município de Santo Amaro da Imperatriz, considerado satisfatório.
SC” Comentários: O trabalho é interessante por
apresentar uma preocupação não só com os aspectos
Relato: O estudo analisa a erodibilidade de físicos como também com o mineralógico e com o
perfis de solos residuais do Complexo Granito- estrutural. A semelhança mineralógica entre as
Gnáissico – município de Santo Amaro da amostras 1 e 2 mostra que além dela é necessário
Imperatriz-SC, constituídos por um delgado que se considere o nível de evolução pedogenética
horizonte B seguido do horizonte C com mais de da estrutura do solo. A metodologia MCT mostrou-
10m de espessura. Com base em ensaios de se eficiente como divisor de comportamento em
laboratório e levantamento de campo, os autores relação à classificação. No entanto, se os autores
recomendam fortemente a implementação de tiverem a curiosidade de traçar gráficos de umidade
medidas de controle do processo erosivo ótima, peso específico aparente seco máximo, (Sf-
objetivando reduzir a turbidez existente na água So)/So, tempo de estabilização da expansão e CBR
coletada para abastecimento da grande em função do IP, perceberão a grande importância
Florianópolis. da mineralogia no entendimento do processo de
Comentários: O trabalho se propõe a associar a intemperismo e comportamento dos solos finos,
erodibilidade à resistência ao cisalhamento do solo, uma vez que o IP está diretamente associado a ela.
mais especificamente à coesão. Esta é uma tarefa Nestes gráficos não fica clara a importância do solo
extremamente difícil e não são poucas as tentativas ser classificado ou não como de comportamento
apresentadas na literatura. Embora as colocações laterítico. Um outro aspecto relevante a ser
apresentadas sejam pertinentes não se conseguiu a analisado é o referente à qualidade da brita, pois
associação paramétrica pretendida. Dois aspectos talvez um dos motivos que poderiam contribuir para
foram talvez limitadores, o pequeno número de a drástica queda de resistência com o tempo seria,
amostras estudadas e a grande dispersão de além do próprio efeito lubrificante da água, a sua
resultados nos ensaios de cisalhamento realizados deterioração em presença de água. Recomenda-se
sobre a amostra 3 na condição natural. Esta cuidado na avaliação do grau de severidade do CBR
associação será provavelmente facilitada se si após imersão em relação ao CBR sem imersão. Três
dispuser das curvas características do solo. A aspectos merecem serem considerados de modo
dispersão obtida para os resultados da amostra 3 no isolado nesta análise. O primeiro diz respeito à
estado natural pode estar associada a diferenças de metodologia de imersão. O controle de umidade
sucção, pois na condição saturada as diferenças são realizado aponta para o procedimento muito usual
bem menores. Conhecendo-se a curva característica de imersão imediata e total do corpo de prova.
transformada (Camapum de Carvalho e Leroueil Segundo esta técnica a penetração da água por
2004) e o grau de saturação e o índice de vazios na atuação da sucção/capilaridade, torna o ar
ruptura de cada corpo de prova será possível avaliar prisioneiro no centro do corpo de prova
a sucção de cada um deles. submetendo-o a pressão neutra positiva por vezes

613
superior à coesão do solo. O mais apropriado é a e matriz fina. Isto porque o peso específico obtido
inundação progressiva do corpo de prova de modo a representa apenas a média do solo, e os torrões em
permitir a ascensão da água por capilaridade e a função do peso específico maior ou menor (este é
conseqüente expulsão do ar. O segundo aspecto geralmente o caso) interferem neste resultado
importante e realçado pelos autores diz respeito à (Guimarães et al. 2003). Em termos de
pequena diferença obtida entre o valor do CBR comportamento, se os torrões forem muito
imerso e inundado. É preciso lembrar que o ponto resistentes, apenas os vazios externos terminarão
correspondente à umidade ótima é o de oclusão da por interferir no comportamento. Um outro aspecto
fase gasosa, para o qual a sucção é pequena e se relevante é que muitas vezes estas agregações mais
começa mesmo a gerar pressão neutra positiva resistentes possuem em seu interior vazios não
quando da compactação. Sendo assim, neste ponto a conectados que quando expostos contribuem para o
sucção é pequena e inundar o solo geralmente não aumento de peso específico e piora do
faz grande diferença, a não ser que outros comportamento devido à presença de uma matriz
fenômenos como os relativos à geração de pressão mais fina. Esta observação é importante, pois indica
neutra e à lubrificação e estabilidade estrutural dos que aumentar o peso específico médio não equivale
agregados intervenham nos resultados. Certamente, necessariamente a aumentar a resistência do solo.
a inundação de corpos de prova compactados no Analisando os resultados apresentados surgem
ramo seco conduziria a reduções de CBR muito algumas interrogações. Na Tabela 2 os índices de
mais importantes quando da inundação. Não se pode vazios dos torrões aumentam quase que linearmente
esquecer que no campo é comum compactar nesta com o teor de umidade. Este comportamento aponta
situação. Finalmente cabe destacar como terceiro para dois aspectos relevantes: a) o solo estudado
aspecto relevante o fato de que em várias regiões do poderia conter argilo-mineral expansivo, pois os
país a umidade de equilíbrio de campo se situa índices de vazios são relativamente elevados para a
abaixo da umidade ótima e, portanto, com valores ocorrência de expansão estrutural, embora não se
de sucção bem mais elevados que os de possa descartá-la; b) a cimentação dos torrões é
compactação. Neste caso a inundação pode ser um fraca pois se mostra incapaz de conter a expansão.
critério severo, quiçá inatingível. Um outro aspecto a ser destacado da comparação
Questões para reflexão: Não seria interessante dos resultados desta tabela com os resultados de
verificar a influência do IP no comportamento dos compactação é que os índices de vazios
solos estudados? O IP não poderia ser um parâmetro correspondentes ao patamar nas curvas de
de avaliação do comportamento desses solos? compactação são inferiores aos índices de vazios
constantes da tabela nos mesmos intervalos de
Maccarini, M. & Valle, A.R. (vol. 1, pp. 451-457): umidade. Sendo assim, a quebra dos torrões deveria
“Curva irregular de compactação de um solo contribuir para o aumento do peso específico e não
naturalmente cimentado do município de para a sua estagnação. No entanto, encontrando-se
Piçarras, em Santa Catarina” mais secos, ao serem quebrados os torrões poderão
elevar a sucção que interfere no processo de
Relato: O trabalho apresenta resultados de compactação, dificultando-a. Apesar destas
compactação de um solo naturalmente cimentado, constatações não discordo, em princípio, da opinião
com padrão diferenciado de comportamento no dos autores de que a ocorrência do patamar poderia
ramo seco, onde aparece um patamar. Para explicar estar associada à instabilização dos
este comportamento foram realizados ensaios com torrões/agregados. O entendimento do
amostras submetidas a diferentes níveis de comportamento do solo quando da compactação
destorroamento. Para auxiliar na análise os autores poderá ser aprimorado com análises, químicas,
determinaram a sucção total para o solo em estado mineralógicas e estruturais e com a definição da
deformado e indeformado. Foram ainda realizados curva característica em termos de sucção mátrica.
ensaios de compressão diametral. Questão para reflexão: Não seria interessante
Comentários: Os resultados apresentados neste neste caso comparar os resultados de compactação
trabalho são capazes de suscitar muitas discussões e obtidos com os que se obteria para o solo sem
reflexões a cerca das propriedades e comportamento secagem e destorroamento prévio? Temos adotado
dos solos tropicais compactados. Um primeiro este procedimento e verificado que esta é uma das
aspecto a ser realçado diz respeito à necessidade de causas de erro na avaliação da compactação in situ.
se buscar em laboratório as condições de campo.
Assim, por exemplo, embora previstos em norma, a 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
secagem e o destorroamento prévio do solo são
susceptíveis de gerar matrizes compactadas muito Embora outros artigos contenham informação
distintas das obtidas na compactação de campo. Em sobre as propriedades químicas, mineralógicas e
solos contendo torrões e elementos agregados, estruturais dos solos, apenas três dos artigos
parece indispensável tratar a compactação relatados neste texto ressaltam sua importância para
considerando as duas frações separadamente, torrões o comportamento mecânico, sendo um quanto à

614
expansibilidade e dois quanto à colapsibilidade. Esta chimiques, physiques et mecaniques de
associação é quase sempre relevante para o quelques sols lateritiques du Nord et du Nord-
entendimento do comportamento do solo, embora Est du Brésil. First International Conference on
não muito freqüente. Geomechanics in Tropical Lateritic Soils,
Hoje, o Brasil e o mundo dispõem de uma Brasília, DF, 1:51-62.
quantidade de dados imensa, muitos deles Camapum de Carvalho, J.; Guimarães, R.C. &
extremamente repetitivos e limitados quanto à Pereira, J.H.F. (2002) Courbes de retention
contribuição científica e tecnológica. A limitação se d’eau d’un profil d’alteration. Third
dá pelo fato da maioria destes constituírem dados International Conference on Unsaturated Soils,
mais relativos à constatação que ao entendimento A.A. Balkema Publishers, Recife, Pe, pp. 289-
dos fenômenos. 294.
Assim por exemplo, no campo teórico Camapum de Carvalho, J. (1985) Étude du
experimental, constata-se com certa freqüência, que comportment mécanique d’une marne
o ângulo de atrito dos solos tropicais não saturados compactée. Thèse de Doctorat, Génie Civil,
aumenta com a sucção. Por que isso ocorre? I.N.S.A., Toulouse – França, 181 p.
Constata-se, mas não se explica efetivamente a Camapum de Carvalho, J. & Leroueil, S. (2004)
causa. Curva característica de sucção transformada.
Um outro exemplo, desta feita no campo Solos e Rocha, ISSN 0103-7021, ABMS-
prático, consiste na constatação de que anualmente ABGE, vol. 27, no 3, pp. 231-242.
mais e mais encostas em regiões tropicais estão a Cardoso, F.B.F. (1995) Análise Química,
romper no período chuvoso. As tentativas de Mineralógica e Micromorfológica de Solos
explicação se associam geralmente à análise das Tropicais Colapsíveis e o Estudo da Dinâmica
precipitações e dos próprios eventos chuvosos e do Colapso. Dissertação de Mestrado,
eventualmente à ocupação inapropriada do solo. A Universidade de Brasília, Departamento de
explicação seria realmente tão simples? O problema Engenharia Civil e Ambiental, Programa de
não poderia estar ligado, por exemplo, a degradação Pós-Graduação em Geotecnia, Brasília-DF,
físico-química e à alteração mineralógica paulatina G.DM – 026 A/95 142 p.
do maciço? Cardoso, F.B.F. (2002) Propriedades e
Estas considerações são apenas para destacar a comportamento mecânico de solos do Planalto
importância da ampliação dos estudos geotécnicos Central Brasileiro. Tese de Doutorado,
buscando o entendimento dos fenômenos. Nessa Universidade de Brasília, Departamento de
linha de raciocínio acredito que o 5º Simpósio Engenharia Civil e Ambiental, Programa de
Brasileiro de Solos Não Saturados contribuiu com Pós-Graduação em Geotecnia, Brasília-DF,
avanços significativos. G.TD - 009 A/02, 357 p.
Cardoso, F.B.F.; Martins, E.S.; Farias, W.M. &
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Camapum de Carvalho, J. (2003) Papel dos oxi-
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616
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Resistência ao Cisalhamento e Deformabilidade de Solos


Tropicais Não-saturados

Bressani, Luiz A.
Professor Adjunto, PhD, Departamento de Engenharia Civil, UFRGS, bressani@ufrgs.br

Resumo: Este Relato apresenta um resumo dos principais resultados apresentados sobre o tema de
Comportamento de Solos Tropicais Não-saturados, uma revisão sobre alguns conceitos de solos estruturados
e sucção e tece comentários sobre a interação entre estes 2 fatores. Os resultados experimentais apresentados
nos trabalhos são analisados à luz desta revisão. Os resultados de vários trabalhos mostram que tg φb não é
constante e que o crescimento da coesão com a sucção pode ser aproximado por uma hipérbole. Resultados
em alguns solos indicam que o próprio valor do ângulo de atrito interno (φ´) varia com a sucção, devendo
este aspecto ser melhor estudado. Há indicações de que a superfície de plastificação (cedência) é afetada pela
sucção e que esta variação é maior para trajetórias de tensão com variação das tensões desviadoras. Este
resultado é compatível com observações de que a deformabilidade é dependente tanto da sucção quanto da
trajetória de tensões do ensaio. Estas observações indicam que há diversos aspectos que necessitam ser
melhor estudados.

Abstract: This Report presents a summary on the main results presented on the theme Behaviour of
Tropical Unsaturated Soils, a review about some basic concepts on structured soils and suction and make
some comments on their interaction. The experimental results are analised on the light of this review. The
results presented show clearly that the tg φb is not a constant and that the cohesion increase with suction has
an hyperbolic format. Some of the test results even show that the angle of internal friction (φ´) varies with
suction. There are some indications that the yield surface of the soils is affected by suction and that this
variation is larger for stress paths that involve shearing. This result is compatible with observations that the
deformability is dependent of the suction as well as the stress path of the test.
1.INTRODUÇÃO formação e manutenção de arranjos de partículas e
micro-estruturas típicas destes solos (Collins, 1985).
Este trabalho apresenta uma revisão dos trabalhos Esta presença é importante e induz grande parte das
apresentados neste Simpósio relacionados ao características mecânicas e hidráulicas observadas
comportamento mecânico de solos tropicais. Os nestes solos, havendo muitas vezes inferências
principais pontos apresentados são discutidos diretas entre a mineralogia, a química dos solutos e
comparando-os ao modelo de comportamento de as propriedades dos solos. É natural, portanto, que
solos estruturados. Os trabalhos apresentados se tente estabelecer relações entre a mineralogia e o
cobriram diversas áreas de interesse e aplicação comportamento dos solos.
prática, sendo aqui reunidos sob os itens Martinez, Flores e Queiroz de Carvalho (2004)
classificação e mineralogia e comportamento estudaram a influência da composição química e
mecânico. mineralógica sobre o comportamento de 3 solos
Alguns dos resultados experimentais mostram tropicais da Paraíba. O trabalho apresenta relações
que a resistência ao cisalhamento e a entre a resistência ao cisalhamento e (a) a
deformabilidade variam com o nível de sucção e a quantidade de ferro total e (b) com o índice de
trajetória de tensões seguida pelo ensaio. cristalinidade da caulinita onde tem forte correlação.
2. MINERALOGIA E CLASSIFICAÇÃO DE O aumento do teor de ferro e a maior cristalinidade
SOLOS TROPICAIS são consequência da maior evolução do solo.
Sugerem também uma relação entre a quantidade de
A mineralogia dos solos tropicais apresenta sesquióxidos de ferro e a compressibilidade.
grandes diferenças em relação aos solos mais Vertamatti e Araújo (2004) apresentam uma
tradicionais, sendo originária das condições de proposta de diferenciação de solos tropicais baseada
formação dos solos em ambientes tropicais. Assim, na bem conhecida metodologia MCT (Nogami e
a presença de diversos óxidos e silicatos permite a Villibor, 1981), considerando a sucção. Os autores

617
estudaram as curvas de retenção de água de diversos Os autores enfatizam as facilidades operacionais
solos de todo o Brasil, na condição compactada, e do método osmótico e a manutenção do solo em
definiram ângulos de variação da umidade x sucção condições semelhantes às condições naturais de
(escalas naturais), denominados θi em intervalos campo (pressão do ar permanece igual à
definidos de sucção. A partir destes ângulos são atmosférica).
derivados alguns índices (D, DL e DM) que foram
utilizados para diferenciar os diversos 4.COMPORTAMENTO MECÂNICO DE SOLOS
comportamentos de solos. TROPICAIS NÃO-SATURADOS

3. TÉCNICAS UTILIZADAS EM ENSAIOS DE 4.1 Relato dos ensaios de resistência


LABORATÓRIO
Reis & Vilar (2004a) apresentam um conjunto de
resultados de ensaios triaxiais em uma areia siltosa
Soto e Vilar (2004) apresentam resultados
(solo saprolítico) de um perfil típico de alteração de
comparativos entre ensaios edométricos realizados
gnaisse da região de Viçosa, MG. O trabalho estuda
utilizando a técnica tradicional de translação de
a aplicação do modelo de Alonso et al. (1990), o
eixos proposta por Hilf (1956) e ensaios realizados
quais sugerem que o aumento da sucção provoca um
com controle osmótico (Zur, 1966), neste caso
aumento da superfície de plastificação no diagrama
através do uso de polietileno de glicol (PEG). O uso
de tensões, aumentando o intercepto coesivo e a
da técnica de translação de eixos, embora bastante
pressão de cedência hidrostática. Para estudar este
testada, pode apresentar limitações quando se tem ar
efeito, foram realizados ensaios triaxiais com
ocluso no interior do solo ou quando a amostra é
diferentes trajetórias de tensões e com sucções entre
dessaturada a baixas tensões (Dineen e Burland,
40 e 320kPa além de ensaios saturados. As tensões
1995), além de aumentar os tempos de equalização
confinantes líquidas dos ensaios (σ - ua) variaram
da sucção pela restrição do fluxo de água causado
entre 50 e 200kPa.
pelas pedras de alta pressão de borbulhamento.
Os resultados dos ensaios de compressão
O método osmótico baseia-se no equilíbrio que
isotrópica sob diferentes valores de sucção
tende a ser estabelecido entre água pura sob
mostraram uma variação consistente, embora pouco
determinada sucção e uma solução de polietileno de
importante, das tensões de plastificação isotrópicas,
glicol (ou outra solução) sob pressão atmosférica,
entre 265kPa e 300kPa, mas não apresentaram
quando separadas por uma membrana semi-
diferença importante na compressibilidade. O efeito
permeável. No caso dos ensaios, a amostra úmida
da sucção foi mais pronunciado na envoltória de
em contato com a membrana trocará a água com a
resistência (valor de ps), causando um alargamento
solução até que se estabeleça o equilíbrio da sucção
vertical da curva de plastificação (Figura 1). Os
na estrutura do solo. Como a membrana permite a
dados experimentais mostraram bom ajuste ao
passagem dos solutos naturais do solo, é medida
modelo de Alonso et al.(1990), para as trajetórias
apenas a sucção mátrica, pois a água dos dois lados
que se encontram à direita da projeção da LEC, com
passa a ter a mesma concentração de sais naturais.
pequena variação da tensão de escoamento
Para determinação da sucção utiliza-se uma
isotrópica e considerável crescimento da coesão.
calibração entre a concentração da solução de PEG e
a sucção gerada (Delage et al., 1998, apud Soto e
Vilar, 2004).
Foram realizados ensaios utilizando as duas
técnicas sobre amostras inalteradas de um solo
arenoso típico do Estado de São Paulo (sedimento
coluvio-aluvionar do Campus II da ESC-São
Carlos), com estrutura porosa e colapsível (e =
0,91). A estabilização das medidas era observada
pela constância do peso do reservatório de solução
de PEG, variando entre 5 e 7 dias neste caso. Após o
equilíbrio das sucções, as cargas verticais eram
aplicadas por equipamento convencional. Os ensaios
com o método de translação de eixos teve um tempo Figura 1 – Variação da curva de cedência com a
de equilíbrio de sucção em torno de 12 a 15 dias. sucção para um solo saprolítico de gnaisse (Reis &
Os autores realizaram 4 ensaios com cada técnica
Vilar, 2004a).
de ensaio (TE-translação de eixos e MO-método
osmótico). Como apontado pelos autores, devido à No trabalho também foi verificado que o aumento
variabilidade dos corpos-de-prova originais, não é da coesão é não-linear com a sucção (s), tendo sido
claro quanto da diferença dos resultados deve-se às ajustado uma função hiperbólica aos dados
diferentes técnicas e quanto é devido às experimentais (Equação 1) com parâmetros de
características dos ensaios. ajuste a e b.

618
c = c´+ s / (a + b.s) (1) O solo laterítico apresentou uma variação da
coesão aparente entre 0 e cerca de 120kPa e uma
Reis e Vilar (2004b) apresentam resultados de variação do ângulo de atrito interno ente 28° e 35°.
ensaios triaxiais no mesmo solo saprolítico de O crescimento destes parâmetros neste solo é
gnaisse e no solo mais superficial, completamente bastante acentuado com a aplicação do primeiro
intemperizado, e classificado como uma argila nível de sucção (100kPa), reduzindo-se depois. O
areno-siltosa. Foram realizados ensaios triaxiais solo saprolítico apresentou uma variação da coesão
saturados e drenados com tensões confinantes entre entre cerca de 40 e 85kPa com o ângulo de atrito
50 e 400kPa. Os ensaios não-saturados tiveram interno variando entre 24,5° e 30°, mostrando ser
tensões líquidas confinantes de 50, 100 e 200kPa e bem menos sensível à variação da sucção.
sucções entre 40 e 320kPa. A diferença de comportamento entre os dois solos
As envoltórias de resistência obtidas dos ensaios é reflexo das diferentes estruturas dos solos, que
mostraram uma variação de resistência consistente também têm influência nas correspondentes curvas
com o aumento da sucção para os 2 solos, sendo que de retenção de água.
o ângulo de atrito interno manteve-se constante para No trabalho são apresentadas correlações entre a
as sucções aplicadas (31° no solo maduro e cerca de sucção e os valores de coesão encontrados nos
28° no solo saprolítico). A parcela de coesão ensaios, através de ajustes hiperbólicos (Equação 2).
aparente foi a única responsável pelo aumento da O ajuste utilizado para ângulo de atrito foi uma
resistência com a sucção. equação similar à Equação 2.
No trabalho são propostos ajustes hiperbólicos
para a coesão (Equação 1) para os dois solos, tendo c(s) = c´+ (c (s=∞ ) – c´)(1-10 a (s)) (2)
sido obtidos ajustes adequados, o que demonstra que
a hipótese simplificada de tg φb ser constante não onde:
pode ser utilizada. Este ajuste indica que a coesão c(s) - coesão aparente
ainda poderá crescer para valores maiores de c´ - coesão efetiva
sucção. c (s=∞ ) - coesão aparente máxima
Futai, Almeida & Lacerda (2004) apresentam um a - parâmetro de ajuste
conjunto de ensaios triaxiais não-saturados em dois
solos originários de gnaisse da região de Ouro Preto, Embora só tenham sido feitos ensaios com
MG. O primeiro é um solo saprolítico silto-arenoso sucções matriciais até 300kPa, o ajuste parece
de 5m de profundidade e o outro é um solo argilo- adequado para estes solos. São discutidos no
arenoso de 1m de profundidade descrito como argila trabalho alguns aspectos sobre a validade da
laterítica. Foi utilizada a técnica de translação de utilização de φ´ constante ou não e apresentados
eixos e os solos foram testados na condição alguns gráficos de ajustes dos parâmetros. Os
inundada e não-saturada com tensões confinantes autores sugerem que os mecanismos de variação da
líquidas (net) entre 25 e 800kPa. São apresentados resistência com a sucção devem ser melhor
resultados realizados em dois níveis de sucção (100 estudados.
e 300kPa) e na condição de secos ao ar. Os dois Kakehi, Reis e Vilar (2004) apresentam um
solos apresentam curvas de retenção de água método de previsão da envoltória de resistência não-
bastante distintas, resultantes das diferentes saturada a partir de ensaios de compressão simples.
estruturas e pedogênese. São utilizados 2 solos: o mesmo solo saprolítico de
Os resultados apresentados no trabalho mostram gnaisse, utilizado por Reis e Vilar (2004a,b), de
um claro ganho de resistência e aumento da rigidez Viçosa, MG, na condição indeformada, e uma areia
com o aumento da sucção nos solos laterítico e argilosa laterítica compactada de São Carlos, SP.
saprolítico respectivamente. É de se salientar a Foram realizados ensaios na condição saturada
grande expansão apresentada pelos ensaios do solo (com tensões confinantes de 50 a 200kPa), ensaios
laterítico com sucções mais elevadas, especialmente na situação não-saturada com sucções de 40 a
nas menores tensões líquidas de confinamento. 320kPa e ensaios de compressão simples com
A partir destes ensaios foram derivadas curvas de determinação da sucção imposta com papel filtro.
envoltórias de resistência para os 2 solos, incluindo Para o solo saprolítico as envoltórias de
resistência não saturadas foram paralelas com um
resultados de ensaios saturados drenados, as quais
incremento da coesão devido ao efeito da sucção e
mostram um crescimento dos valores da coesão e do sem variação do ângulo de atrito (entre 11 e 99kPa e
ângulo de atrito interno com o aumento da sucção. φ=28°). O crescimento da coesão ajusta-se bem à
É interessante observar que as envoltórias de equação hiperbólica proposta pelos autores
resistência, além de não crescerem de forma linear (Equação 1). Os valores de coesão foram então
com a sucção (variação de φb), também não são estimados utilizando uma técnica simples de ajuste
paralelas, diferentemente do que foi encontrado por das envoltórias de resistência aos ensaios de
Reis & Vilar (2004b) nos solos de gnaisse de compressão simples, o que originou valores baixos
Viçosa. de coesão. Os autores adotaram então a forma

619
tradicional de definição de coesão total (Rcs/2), o classificação pedológica. Os solos têm índices de
que forneceu valores mais próximos dos vazios entre 0,80 e 1,05.
encontrados com os ensaios mais complexos. Os Foram realizados ensaios de cisalhamento direto
valores de coesão assim calculados tiveram sempre na umidade natural e inundados em tensões normais
um crescimento hiperbólico com a sucção, como entre 30 e 200kPa (curvas não apresentadas). Os
sugerido. autores apresentam apenas os parâmetros de
A areia argilosa laterítica compactada apresentou resistência derivados. Os resultados parecem indicar
uma envoltória linear nos ensaios drenados com φ´ uma razoável correlação entre comportamento e tipo
=30°. Utilizando este ângulo de atrito interno o de solo.
mesmo ajuste aos dados de compressão simples foi A amostra 2, que apresentou os maiores valores
feito, também adotando-se (Rcs/2) como antes. de ângulo de atrito e pequena influência da
Novamente a forma da variação da coesão com a inundação, apresenta a textura mais grosseira e tem
sucção foi hiperbolóide. Não foram feitos ensaios de certa cimentação da rocha de origem (fragilidade em
comprovação do valor deste valor de coesão com campo). As amostras 1, 3 e 4 tem granulometrias
sucção. semelhantes e valores de φ entre 32° e 35° na
Os autores discutem os valores de coesão assim condição inundada, variando pouco na condição
obtidos já que os ensaios de compressão simples natural. Já a coesão medida varia entre as amostras e
ocorrem em uma região de muito baixas tensões para as condições de umidade. A amostra 5 de solo
(tensão confinante é zero, como de praxe). Os saprolítico, que tem a maior parcela de finos,
autores comparam esta situação com os problemas apresentou redução apenas da coesão com a
de determinar a coesão de solos saturados pré- inundação. A alteração deste solo (horizonte B)
adensados com ensaios de compressão simples. mostrou grande influência da umidade, em especial
Meirelles & Davison Dias (2004) estudaram solos na coesão que reduziu de 92kPa para 16kPa.
saprolíticos de granito-gnaisses de Santo Amaro da
Imperatriz, SC, coletados de 2 locais. Os solos 4.2 Relato dos resultados de compressibilidade
podem ser descritos como silto-arenosos. Os autores
mediram a resistência ao cisalhamento não-saturada Bevilaqua et al.(2004) também apresentam
com ensaios de cisalhamento direto em amostras resultados de ensaios edométricos nos mesmos solos
inundadas e na umidade natural. Não foram medidas na condição natural e inundada e os dados
as sucções ou fornecidos os valores de umidade das numéricos calculados das curvas tensão vertical x
amostras. deformação. Segundo os autores, a inundação
Os resultados das amostras 1 e 2, obtidas do causou uma redução das tensões de pré-
mesmo local, apresentaram parâmetros de adensamento virtual em todos os solos. Na condição
resistência não-saturados bastante semelhantes de umidade natural, os valores foram entre 1,3 e 4,7
(c=22kPa e φ=41,5°). Quando ensaiados na vezes maiores nos 4 solos saprolíticos e de 8 vezes
condição inundada, apresentaram uma considerável no solo laterítico. Houve reduções também no índice
redução de resistência e certa dispersão no valor de de compressão (Cc).
coesão (c´=4-16kPa e φ´=30,6°). Os autores indicam que há uma tendência do
Os resultados da amostra 3 apresentam uma crescimento da compressibilidade com o índice de
envoltória na condição natural bastante curva e que vazios, mas esta tendência não é clara.
foi tentativamente ajustada por uma reta de
5. DISCUSSÕES , COMENTÁRIOS E ALGUMAS
parâmetros c=47kPa e φ=31° (mas poderia ser
CONCLUSÕES
c=30kPa e φ=35,5°). Os ensaios inundados fornece-
ram uma envoltória de resistência linear com 5.1 Mineralogia e classificação de solos tropicais
c´=6kPa e φ´=35,5°. não-saturados
Os autores chamam a atenção para a acentuada
queda da coesão que ocorre nestes solos pelo efeito É consenso no meio geotécnico a importância da
da inundação e os picos de resistência nas baixas mineralogia no comportamento dos solos.
tensões normais (30 e 70kPa), associado a um Entretanto, há muitas dúvidas sobre como a
comportamento dilatante, na umidade natural. Não mineralogia influi neste comportamento. Neste
são fornecidas indicações sobre as sucções iniciais aspecto os resultados apresentados por Martinez et
das amostras ou mesmo sobre suas umidades, o que al. (2004) são interessantes e promissores, pois o
seria desejável. efeito do óxido de ferro no aumento do ângulo de
Bevilaqua, Moura, Santos & Davison Dias (2004) atrito e na redução da compressibilidade é coerente
apresentam dados de ensaios em 5 solos saprolíticos com a experiência de campo. Entretanto, como as
não-saturados graníticos de Florianópolis, SC, nas amostras são originárias de diferentes procedências,
condições natural e inundado e também de um solo a relação causa-efeito não pode ser estabelecida de
do horizonte B. Foram feitos ensaios de maneira sólida.
cisalhamento direto e edométricos. Os perfis de O sistema de classificação de solos compactados
coleta são descritos no trabalho com base na apresentado por Vertamatti & Araújo (2004) é

620
promissor como forma de incorporar a forma da deformações. A experiência brasileira e referências
curva sucção-umidade destes solos, mas o sistema internacionais têm mostrado que a tensão isotrópica
necessita ser melhor testado. de cedência (ponto A da figura) tem ficado na região
de 200-300kPa para a maioria dos solos tropicais
5.2 Técnicas de ensaios (Sandroni, 1981; Bressani et al., 1994; Reis e Vilar,
2004, por exemplo). Existem evidências de que esta
Os resultados de compressão edométrica de Soto estrutura cimentada é frágil e pode ser afetada pelo
e Vilar (2004) mostram que nos ensaios com manuseio e ciclagem de tensões reduzindo os
controle de sucção pelo método osmótico, o valores das tensões de plastificação (Bressani &
equilíbrio da sucção foi mais rápido do que com a Vaughan, 1989).
técnica de translação de eixos (6 dias contra 13 dias,
em média). Esta diferença deve estar relacionada às
diferentes restrições ao fluxo de água causadas pela
membrana semi-permeável (MO) e pela pedra
porosa de alta pressão de borbulhamento no caso da
translação de eixos (TE).
Os resultados de deformação obtidos com os 2
métodos parecem ser diferentes, mas a dispersão dos
resultados não permite conclusões claras. É
interessante conhecer se o comportamento de
fluência dos corpos de prova (após o recalque
primário) é afetado pelo método utilizado para
aplicação da sucção. Além disto, como nos ensaios Figura 2 – Superfície de cedência de solos
com uso da PEG, o controle da variação da umidade estruturados (adaptado de Leroueil & Vaughan,
do corpo-de-prova é feito pela variação do peso da 1990)
solução que circula no sistema, considerado
A presença desta superfície faz com que os solos
fechado, seria interessante conhecer o grau de
tropicais indeformados, quando solicitados de forma
precisão que se tem na circulação fechada e detalhes
drenada sem sucção (saturados), apresentem
destes testes de qualificação do sistema.
comportamentos rígidos e considerável resistência,
Esta comparação entre diferentes técnicas tem
associados à estrutura originada pela sua gênese.
grande interesse já que a técnica osmótica também
Com isto obtem-se valores de coesão efetiva e
pode ser utilizada em outros tipos de ensaios
módulos de deformação elevados, que são sensíveis
geotécnicos (resistência, permeabilidade e
aos níveis de deformação e tensão efetiva impostos.
deformabilidade geral).
O estudo dos solos tropicais indeformados não-
5.3 Resistência ao cisalhamento não-saturado saturados deve considerar a pré-existência destas
curvas de cedência, associadas a esta micro-
O comportamento mecânico de solos tropicais é estrutura natural, sobre a qual incidirá o efeito da
influenciado por diversos fatores genéticos e de sucção aplicada. Já para o caso dos solos tropicais
estado. Entre os fatores de interesse citam-se a rocha compactados, a micro-estrutura estará parcial ou
de origem, o grau de intemperismo, a deposição de totalmente modificada pelo esforço de compactação,
óxidos, a micro-estrutura, a evolução pedológica, alterando em decorrência o efeito da sucção sobre os
além dos fatores como índice de vazios, parâmetros mecânicos.
granulometria e história de tensões. A análise dos resultados do comportamento de
Leroueil & Vaughan (1990) denominaram solos não-saturados tem como referência clássica os
estrutura cimentada (bonded structure) à soma das trabalhos de Bishop et al. (1960) no qual foi
influências da textura, do arranjo dos grãos e proposta uma equação com o parâmetro χ , que
agregados (fabric) e das ligações entre partículas. O dependia do grau de saturação das amostras. Mais
efeito desta estrutura é de criar uma superfície de tarde Fredlund et al. (1978) propuseram uma
cedência (yield curve) no espaço de tensões q x p´. modificação desta equação, apresentando uma
Nos solos tropicais estruturados (indeformados) a forma mais simplificada em que surge a definição
existência de uma superfície de cedência foi bem
da tgφb (Equação 3), a qual passou a ser muito
estabelecida por diversos autores (Leroueil
difundida.
Vaughan, 1990; Maccarini, 1987; Bressani et al.,
1994; De Campos, 1997). τ = c′ + (ua-uw) tgφb + (σ - ua) tgφ′ (3)
A Figura 2 representa esta superfíce de cedência
para ensaios saturados drenados convencionais e As primeiras duas parcelas representam a coesão
para uma trajetória de deformação lateral nula aparente, que incorpora o efeito da sucção matricial.
saturada (Ko). A envoltória de resistência é curva Há diversas evidências de que o valor de φb é não
nos baixos níveis de tensão e depois, para maiores linear tendendo a se estabilizar com o aumento da
tensões, aproxima-se da envoltória reta de grandes sucção. Este modelo foi desenvolvido fundamental-

621
mente para solos compactados, onde se aplica com O mesmo raciocínio geral de interação entre
boa precisão. sucção e micro-estrutura, embora com muito menor
No caso de solos estruturados naturais a variação evidência experimental, pode ser aplicado ao
de resistência dependerá da interação entre a sucção comportamento deformacional (módulos edomé-
e a micro-estrutura do solo, pois a curva de retenção tricos e de elasticidade) - influência direta nas
será influenciada pela distribuição de poros (que pequenas sucções e diferente importância nas
depende da granulometria, índice de vazios e maiores sucções. Porém, neste caso temos que
estrutura). Desta forma, para baixos valores da considerar também a importância da trajetória de
sucção matricial (sucções menores do que o valor de tensões.
entrada de ar), as sucções tem um efeito direto na De que forma o aumento da sucção afeta a
estrutura do solo e atuam de forma similar às resistência e a deformabilidade? Os trabalhos
tensões efetivas externas. Para sucções maiores do apresentados no simpósio mostram alguns casos em
que este valor, o efeito da sucção tende a se tornar que o ângulo de atrito é afetado pela sucção e outros
mais localizado, em torno dos micro-agregados e em que este parâmetro não é afetado.
outras micro-estruturas. O efeito será uma mudança Reis e Vilar (2004a,b) mostraram resultados de
do comportamento das partículas e agregados. um solo saprolítico de gnaisse em que a mudança de
Assim, para valores de sucção pequenos e sucção não alterou significativamente a pressão
elevados graus de saturação, pode haver uma isotrópica de cedência, mas tem efeito de aumentar
relação direta entre o aumento da sucção e o as tensões de cedência por cisalhamento (Figura 1).
aumento de resistência, relacionados pelo φ´ do solo O intercepto coesivo teve um crescimento de forma
(portanto φb = φ´), conforme mostram diversos hiperbólica e o ângulo de atrito interno manteve-se
dados experimentais (De Campos, 1997). No caso constante.
de solos com partículas predominantemente Por outro lado, Futai et al. (2004) mostram
maciças, como areias por exemplo, com sucções resultados de ensaios em solos de alteração também
muito elevadas o efeito da sucção na estrutura pode de gnaisse, em que tanto o intercepto coesivo quanto
ser anulado ou muito reduzido. Já no caso de solos o ângulo de atrito crescem de maneira consistente
compostos de grãos porosos e arranjos de com a sucção.
agregados, altas sucções podem ainda ter Meirelles e Davison Dias (2004) apresentam
importância, podendo mudar o próprio ângulo de resultados de solos saprolíticos de granito-gnaisses
atrito do solo. Para sucções de valor intermediário, em que houve variação dos ângulos de atrito e
cada solo apresentará uma gradativa transição entre interceptos coesivos com a sucção. Os picos de
estes dois comportamentos. resistência em baixas tensões normais estão
Por outro lado, este modelo de raciocínio tem que associados a comportamento dilatante.
ser adaptado à curva de retenção dos solos que, além Bevilaqua et al. (2004) mostram resultados de 5
de não linear, muitas vezes apresenta patamares de solos saprolíticos com variação na coesão, mas
umidade como mostrado na Figura 3 para um solo variações pequenas nos ângulos de atrito. Os
laterítico (Bortoli, 1999, apresenta curvas seme- resultados de resistência parecem indicar um
lhantes). Desta forma, o comportamento dos solos comportamento semelhante para os solos
tenderá a refletir o efeito da sucção na micro- saprolíticos de mesma origem (granito) na região de
estrutura (refletido na curva de retenção). É de se Florianópolis. A amostra de solo do horizonte B,
esperar que o efeito da sucção sobre a resistência como era de esperar, apresenta parâmetros e
dos solos tenha uma forma assintótica a um valor variações bastante diferentes.
constante como mostrado em trabalhos deste A Tabela 1 apresenta uma compilação dos
simpósio (ajuste hiperbólico). resultados de ensaios de resistência apresentados no
Simpósio, a partir de ensaios em diferentes
condições (referências indicadas na Tabela). Como
os ensaios foram realizados sob diferentes condições
de sucção e tensões líquidas, os parâmetros
mostrados na Tabela foram obtidos dos trabalhos,
ou inferidos dos dados, para 2 condições de sucção:
a) sucção ~ zero (saturados ou inundados) e b)
sucções < 300kPa (ensaios triaxiais com controle de
sucção e condição ´natural´).
Os solos saprolíticos de granito de diferentes
origens (Ai) apresentaram variações de parâmetros
entre as amostras, como é natural, mas a variação do
ângulo de atrito com a sucção não é acentuada.
Entretanto, o intercepto coesivo mostra grande
Figura 3 – Curvas de retenção de umidade de um variação entre as duas condições de sucção. Dois
solo laterítico (Futai et al., 2004) dos solos saprolíticos de granito-gnaisse (B1 e B2)

622
apresentaram um aumento significativo de φ e o solo mesmo com estas limitações, os ensaios forneceram
B3 apresentou uma envoltória curva, que poderia uma tendência consistente com o comportamento
indicar a manutenção de um ângulo médio de 35,5°. obtido em ensaios controlados e devem ser melhor
Os solos saprolíticos de gnaisse de 2 origens investigados, além de servirem como excelente pré-
(Viçosa, C2 e Ouro Preto, D2) são solos de mesma indicador de comportamento. O método proposto
granulometria (areno-sitosos) e plasticidade (IP= para estimativa da envoltória de resistência é
15-19, ver Tabela 2). Os ensaios realizados nos dois promissor.
horizontes de solo de Viçosa mostraram uma grande
variação da coesão e praticamente nenhuma Tabela 1 – Parâmetros de resistência derivados dos
alteração nos ângulos de atrito. Quando os ensaios apresentados no Simpósio
resultados dos ensaios realizados no solo D2 são Solo sucção ~ zero sucção < 300kPa
analisados apenas para sucções de até 300kPa, c (kPa) φ (°) c (kPa) φ (°)
comportamento semelhante é obtido. O solo A1 3 32 25 33,0
laterítico de Ouro Preto apresenta um incremento de A2 7 43,5 11 48
ângulo de atrito mesmo nesta faixa de sucções (28° A3 14 34,5 20 37
→ 32°), o que indica a diferença micro-estrutural
A4 6 35,0 18 37,0
destes dois solos, como apontado por Futai et al
(2004). A5 0 35 18 36
Um outro aspecto a ser considerado é a B1 16 31 21,5 41,5
importância das tensões líquidas de confinamento B2 4 30,5 23 41,5
(ou normais no caso do cisalhamento direto) no B3 6 35,5 47 (30) 30 (35,5)
comportamento dos solos. Dos resultados
C1 19 31 40-120 31
apresentados na Tabela 1, somente os solos D1 e D2
foram testados com tensões confinantes líquidas C2 24 28 40-100 28
maiores do que 250kPa. Sabendo-se do D1 ~10 28 10-80 32
comportamento dos solos estruturados frente ao D2 ~40 25 40-80 27
aumento das tensões (Figura 2), este fator tem que Ai - solos saprolíticos de granito (Belivaqua et al.,
ser levado em conta. 2004), cisalhamento direto; Bi – solos saprolíticos de
Assim, a resistência dos solos parece ser granito-gnaisse (Meirelles e Davison Dias, 2004), cis.
comandada por uma forma geral como representada direto; C1 e C2 – solo de gnaisse horiz. B e horiz. C (Reis
na equação 4: e Vilar, 2004), D1 e D2 – solo de gnaisse, horiz. B e
horiz. C (Futai et al., 2004 – para sucções até 300kPa).
τ = c′ + (ua-uw) tgφ s b + (σ - ua) tgφs′ (4)
Tabela 2 Características dos solos de gnaisse
onde (φs) representa a variação dos parâmetros com Solos (*) Viç. OP sap OP later
a sucção. No caso dos solos saprolíticos, de grãos Areia (%) 50 38 44
mais maciços, a variação do ângulo de atrito interno Silte (%) 45 54 9
com a sucção é pequena ou não observável. Argila(%) 5 8 46
Entretanto, no caso de solos lateríticos, com micro- IP (%) 15 19 29
estrutura complexa e grãos formados por micro- G 2,67 2,68 2,64
agregados, há evidências de que φ′ varia com a (*) Viç. – solo saprolítico de Viçosa, MG; OP sap e later
sucção, portanto deve-se considerar φs′. – solo saprolítico (5m) e solo saprolítico (5m) de Ouro
Foram apresentadas indicações favoráveis ao uso Preto, MG. Todos de gnaisse (ver texto).
de ensaios em corpos de prova na condição “secos
ao ar” como situação limite de sucção. Isto é uma 5.4 Deformabilidade
simplificação prática e com resultados de resistência
bastante adequados (Reis & Vilar, 2004 e Futai, A discussão sobre a deformabilidade será feita de
2004). Estes resultados poderiam ser utilizados forma qualitativa, já que poucos dados explícitos
como propriedade-índice em métodos de foram apresentados. De maneira geral tem sido
classificação. observado que o aumento da sucção diminui a
Kakehi, Reis e Vilar (2004) mostram que a deformabilidade dos solos.
coesão não-saturada apresenta dificuldades de ser Os resultados de ensaios de cisalhamento direto
medida por ensaios de compressão simples não de Meirelles e Davison Dias (2004) mostram um
saturados. Devido à curvatura da envoltória efetiva aumento acentuado da relação τ x Δh dos solos (que
saturada nesta região, a falta de qualquer grosseiramente está relacionado ao módulo
confinamento sobre os corpos-de-prova deve afetar cisalhante), quando os resultados com corpos de
a resistência de maneira diferente do estimado pela prova inundados são comparados com aqueles na
envoltória reta normalmente assumida. Além disto, umidade natural. A variação volumétrica também
sob tensão líquida zero, pode haver uma diferente apresenta crescentes expansões com a redução da
inter-relação sucção x micro-estrutura. Entretanto, umidade.

623
Os ensaios de Futai et al. (2004) no solo 5.5 Conclusões
saprolítico e no solo laterítico de Ouro Preto
mostram um crescimento visível dos módulos de 5.5.1 Mineralogia e classificação de solos tropicais
deformação com a sucção e uma tendência à maior não-saturados
dilatação dos corpos-de-prova durante o
As relações entre química dos solos e
cisalhamento. Resultados semelhantes foram
comportamento apresentadas por Martinez et al.
encontrados nos ensaios triaxiais do solo saprolítico
(2004) são interessantes e promissoras.
de Viçosa por Reis e Vilar (2004).
O sistema apresentado por Vertamatti & Araújo
Bevilaqua et al. (2004) apresentam resultados de
(2004) é interessante como forma de incorporar a
ensaios de compressão confinada (curvas de
forma da curva sucção-umidade destes solos na
variação de e x log tensão vertical) em amostras
classificação.
inundadas e na umidade natural, mostrando um
aumento da compressibilidade e redução das tensões 5.5.2 Técnicas de ensaios
de cedência (ou tensões de pré-adensamento
virtuais) nas amostras inundadas. Utilizando o método osmótico o equilíbrio da
Por outro lado, Reis e Vilar (2004) apresentam sucção foi mais rápido do que com a técnica de
resultados de ensaios de compressão isotrópica com translação de eixos (6 dias contra 13 dias, em
controle de sucção em que não houve variação média). Esta diferença deve estar relacionada às
significativa da compressibilidade das amostras diferentes restrições ao fluxo de água causadas pela
(Figura 4) e as tensões de cedência tiveram apenas membrana semi-permeável (MO) em relação a
um ligeiro incremento (265-300kPa, Figura 1). pedra porosa de alta pressão de borbulhamento. O
método osmótico é muito interessante e seu uso
deve ser incentivado.
5.5.3 Resistência ao cisalhamento não-saturado
Diversos autores mostraram a variação acentuada
da coesão com a sucção. Este aumento é hiperbólico
com a sucção (s), o que significa que o valor de tg
φb não é constante. O ângulo de atrito interno efetivo
de grande parte dos solos parece permanecer
constante, mas em alguns materiais ele cresce com a
sucção, o que sugere o uso da equação (4).
Existem propostas de previsão da envoltória de
resistência não-saturada a partir de ensaios de
compressão simples, com resultados práticos
promissores.
Alguns materiais testados com sucções de 300kPa
mostraram grande redução no valor da resistência
quando foram testados com sucção ~zero.
Figura 4 – Resultados de compressão isotrópica em Ensaios edométricos em solos saprolíticos de
um solo arenoso indeformado em diferentes níveis granito mostraram redução das tensões de pré-
de sucção (Reis & Vilar, 2004) adensamento virtual com a inundação.
O uso de ensaios na condição “secos ao ar” é uma
Nota-se que há uma diferença nos indicadores de simplificação prática e com apresenta resultados de
deformabilidade quando medidos durante ensaios de resistência adequados (Reis & Vilar, 2004 e Futai,
cisalhamento (cisalhamento direto ou triaxial) e 2004). Estes resultados poderiam ser utilizados
compressão confinada, comparados com aqueles como propriedade-índice em métodos de
medidos em compressão isotrópica. Esta diferença classificação.
pode ser explicada utilizando-se o modelo de
5.5.4 Deformabilidade
comportamento de solos estruturados da Figura 2,
devido às diferentes trajetórias seguidas pelos De maneira geral o aumento da sucção diminui a
ensaios. Nestes solos, o aumento da sucção tem um deformabilidade dos solos e a expansão volumétrica
maior efeito em ensaios com aumento das tensões em ensaios de cisalhamento. Nos ensaios triaxiais
cisalhantes (inclusive o ensaio dito Ko) do que apresentados, geralmente há um crescimento visível
ensaios isotrópicos. Isto é explicado pela ampliação dos módulos de deformação e também dilatação dos
das curvas de cedência ao cisalhamento com o corpos de prova.
aumento da sucção, mas pequena alteração da Ensaios de compressão confinada mostraram
tensão de cedência isotrópica, como mostrado na aumento da compressibilidade e redução das tensões
Figura 1 (Reis e Vilar, 2004). de cedência em solos saprolíticos de granito.

624
Ensaios de compressão isotrópica não mostraram Leroueil, S. & Vaughan, P.R. (1990) The general
variação significativa da compressibilidade das and congruent effects of structure in natural soils
amostras e ligeira variação das tensões de cedência. and weak rocks. Géotechnique, 40, 3:467-488.
Esta diferença pode ser explicada pelas diferentes Hilf, J.W. (1956) An investigation of pore-water
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Soils, UNSAT 95, Paris, França, V.2, p.459-465.
Futai, M.M.; Almeida, M.S.S. & Lacerda, W.A. O autor agradece à Comissão Organizadora pelo
(2004) Resistência ao cisalhamento de solos convite deste Relato, ao CNPq pelo financiamento
tropicais não-saturados. 5o. Simp. Bras. Solos parcial, aos colegas da UFRGS com quem tem
Não-saturados, São Carlos. discutido alguns destes conceitos.

625
Workshop:

Mecânica dos Solos Não Saturados:


da teoria à prática da engenharia

627
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Relevância da época de execução da investigação geotécnica no


projeto de uma fundação em solo não saturado.

Nelson Aoki
Prof. Dr. Departamento de Geotecnia, EESC-USP, São Carlos/SP, nelsonak@sc.usp.br

Resumo: Trata-se de um viaduto em solo não saturado onde o projeto de fundação em tubulões a céu
aberto foi baseado em sondagens de simples reconhecimento, com medidas de resistência à penetração NSPT,
realizadas no final de primavera em um mês excepcionalmente seco. Durante a execução da fundação na
primavera do ano seguinte tudo corria bem até que, no verão, constatou-se acentuada elevação do nível do
lençol freático e queda da resistência do solo. Como conseqüência houve necessidade de reforço das
fundações já executadas e utilização de ar comprimido nos demais tubulões, resultando em atraso no
cronograma e custo adicional não previsto. Portanto, a época de execução da investigação geotécnica é um
fator relevante que deve ser também considerado no projeto de uma fundação em solo não saturado.

Abstract: A viaduct foundation consisting of caissons with enlarged bases was built in an unsaturated soil.
The design has been done from NSPT soil resistance index, measured at the end of an extra dry season. The
caisson construction started during the dry season of the next year. In the mean time, during the rainfall
season, an unusual elevation of phreatic water level has been observed, corresponding to an intense drop in
the soil resistance in all area, particularly under the previously built caissons. As a consequence, it was
necessary to reinforce the previously built caissons. Also, it was necessary to change the building procedure
for the remaining caissons, adopting the compressed air technique. As a result, execution delays and
unforeseen additional costs occurred. As a conclusion, for the case of unsaturated soils, as the resistance
varies with the year round seasons, this fact should be taken into account in the foundation design.

1. INTRODUÇÃO nível do lençol freático dos solos não saturados


destas regiões tende a subir no verão e a descer no
Os maciços de solos formam o estrato superior da inverno. Assim, a resistência e a compressibilidade
crosta terrestre e devem ser modelados como meios destes solos tendem a variar sazonalmente.
contínuos no espaço-tempo. O estado da água em Entretanto, a conseqüência do condicionamento
um ponto no interior do maciço, ou seja, o potencial imposto pelo estado da água e pela variabilidade das
de realizar trabalho e de se mover para outro ponto, propriedades do solo no espaço-tempo, ou seja, ao
pode ser fisicamente descrito em termos de energia longo das estações do ano, é muitas vezes olvidada
potencial, que depende da altura em relação ao nível pelos engenheiros.
do mar, da pressão ou sucção a que está submetido, Neste artigo apresenta-se um caso de obra onde
da superfície da partícula e, da presença de sais os fatos observados durante a execução demonstram
dissolvidos (FITZPATRICK, 1978). Portanto, para a relevância da consideração da época de execução
fins de projeto, as propriedades do solo dependem da investigação geotécnica no projeto de fundação
não só da posição geográfica dentro do maciço, mas, de uma obra em solo não saturado.
também, da estação do ano e, do estado da água
devido à ação da gravidade, da pressão freática e da 2. CRONOLOGIA DOS FATOS OBSERVADOS
sucção matricial e osmótica. No caso de solos não NA OBRA
saturados o papel da sucção tem sido objeto de
intensa pesquisa no exterior (ALONSO et al., 1990; 2.1. Projeto das fundações.
FREDLUND, 1993) e também no Brasil (VILAR et
al., 1981; VILAR, 1995; CINTRA, 1998; Trata-se de um viaduto de 65m de comprimento,
MACHADO, 1998; COSTA et al, 2003). com duas pistas de 4,0m, passeio lateral de 1,5m e
Em muitas regiões tropicais no hemisfério sul a largura total de 10,4m, apoiado em dois encontros
estação chuvosa ocorre no verão e a estação seca no (E1 e E2) e num pilar central (PC). A figura 1
inverno. Acompanhando o ritmo natural do tempo, o apresenta os dados das sondagens de simples

629
S-E1 cota +618,39m S-PC cota +618,32m S-E2 cota +617,57m
NSPT Argila arenosa NSPT NSPT Areia fina siltosa com
2 3 Argila arenosa 1/20 80 pedregulhos marrom
vermelha
vermelha
3 muito mole a mole 5 mole a média
2 Argila arenosa vermelha
4 400 4 5 400 muito mole a mole
10 6 510 6 Silte pouco arenoso
Silte pouco argiloso
14 8 7 variegado méd. compacto
variegado Silte arenoso
19 médio a rijo 8 11 590
vermelho pouco
24 800 14 700 compacto 12 Silte argiloso variegado
19 18 9 850 médio
26 13 Silte argiloso 10
variegado Areia fina e média pouco
29 19 11 argilosa variegada
rijo
24 20 1210 18 1200 median. compacta
31 32 20
Areia fina e média
31 32 siltosa cinza escura 23
35 33 compacta 26 Areia fina e média siltosa
Silte argiloso 35 1590 28 variegada compacta
43
variegado
40 39 Silte argiloso
31
duro
47 41 variegado duro 38 1790
46 46 46 NA= +598,60m
48 NA= +598,44m 46 NA= +598,42m 50
55 49 60 Silte pouco argiloso marrom
2140 solo residual
51/25 50/25 2240 solo residual 76 claro duro
60/25 72
2330 solo residual
48/15
Figura 1. Sondagens executadas no final do mês de novembro de 1998.

reconhecimento, com medidas do índice de +604,0m onde NSPT ≥ 33 g/30cm.


resistência NSPT, executadas no fim do mês de
novembro de 1998, nos locais dos encontros E1, E2 2.2. Execução das fundações.
e PC (sondagens S-E1, S-E2 e S-PC). Nesta ocasião
constatou-se que o nível do lençol freático Os serviços de abertura dos poços, alargamento
encontrava-se, em média, na cota +598,49m. das bases e concretagem a céu aberto dos dois
Baseado nestes dados elaborou-se, em agosto de tubulões do encontro E1 foram executados sem
1999, o projeto das fundações. Tendo em vista a problemas no período de setembro a novembro de
grande profundidade do lençol de água e, a 1999. No mesmo período executou-se a escavação,
resistência do solo indicada pelas sondagens forma, concretagem e reatêrro da sapata do pilar
projetou-se a fundação dos encontros em tubulões central PC. Todos estes serviços se desenvolveram a
de concreto armado e a fundação do pilar central em céu aberto conforme previsto no projeto.
sapata retangular. Esse projeto, de baixo custo e Entretanto, na continuação dos serviços de
fácil execução a céu aberto, não exigia equipamento execução dos tubulões do encontro E2, notou-se a
ou procedimento especial para instalação dos presença de água em cota muito acima da cota de
elementos estruturais de fundação no solo. assentamento das bases prevista no projeto. Foram
A fundação do encontro E1, formada por dois então executadas novas sondagens no local deste
tubulões de concreto armado com diâmetro de encontro (sondagem S-E2A) e, também, nas
1,20m, base alargada de 2,5m e taxa admissível do proximidades dos tubulões já executados do
solo de 0,6 Mpa, foi apoiada na cota +605,4m onde encontro E1 (sondagens S-E1A, S-E1B e S-E1C). O
NSPT ≥ 31 g/30cm. A fundação do encontro E2, resultado dessas sondagens executadas em janeiro
formada por dois tubulões de concreto armado com de 2000 é apresentado na figura 2.
diâmetro de 1,20m, base alargada de 2,3m e taxa Verifica-se nesta figura que o nível do lençol
admissível do solo de 0,7 Mpa, foi apoiada na cota freático no local do encontro E2 foi encontrado na
+598,0m onde NSPT ≥ 50 g/30cm. A fundação do cota +604,0m, a 6,0m acima da cota de projeto e
pilar central, constituída por uma sapata de concreto 5,4m acima do nível de água encontrado na
armada retangular com área de 3,9 x 7,4m2 e taxa sondagem S-E2 executada em 1998, que serviu de
admissível do solo de 0,4 Mpa, foi apoiada na cota base para o projeto.

630
S-E1A cota +618,39m S-E1B cota +614,93m
NSPT Argila arenosa vermelha NSPT Silte arenoso vermelho
1/22 muito mole 6 150 pouco compacto
4 a mole Silte argiloso com areia
7 fina marrom claro e
5 400 11 450 amarelo média a rija
10 Silte pouco argiloso 14
11 Silte pouco argiloso com
variegado médio a rijo 10 areia fina amarelo e
11 8 vermelho médio
11 800 18 670
11
19 Areia fina média pouco argilosa
12
28 vermelha e marrom clara
12
16 21 mediante NA= compacta e compacta
+603,31m
1150
26 9
9 Areia fina pouco argilosa
29 marrom escura mediante
23 NA= +603,39m 23 1260 compacta
18 33
18 26 Areia fina pouco siltosa
17 Silte argiloso 38 amarela compacta
21 variegado 36
17 duro 37 1878 solo residual
Silte arenoso amarelo
17 30 compacto a muito compacto
16 45/15
11 45/15 2082 solo residual
55/21 45/15 Silte argiloso cinza duro
40 46/10 2407 solo residual
50/15 45/07
48/05
50/15
40/15
2905 solo residual
50/05

S-E1C cota +614,93m S-E2A cota +617,57m


NSPT Silte arenoso vermelho NSPT Areia fina
4 fôfo a pouco compacto 1/24 70 argilosa vermelha
5 280 2 Argila siltosa com areia
9 Silte argiloso com areia fina vermelha muito mole
2
12 580 fina amarelo médio rijo
a
2 450
10 Silte arenoso vermelho 4 Argila siltosa com areia
9 e marrom mediamente 5 fina vermelha muito mole
17 compacto e compacto 5 845
20 6 Argila siltosa vermelha e
19 1061 7 marrom clara média
17 NA= +603,31m 9 1050
20 Areia fina e média pouco Areia fina e média pouco
9 siltosa marrom clara e
21 argilosa marrom compacta
11 NA= +604,02m
23
10
25
10 escura medianamente
18 1650 solo residual compacta a compacta
24
18
Areia fina e média pouco 1763
24 argilosa marrom escura 30
13/15 compacta 29
39 25
1835 solo residual
47/24 Areia fina pouco argilosa 32
45/10 marrom escura e cinza 45/10 Silte argiloso
45/15 compacta solo residual 47/15 cinza
1960 duro
45/10 45/10
Silte argiloso cinza e
45/08 marrom claro duro solo
45/15 2408
2408 residual 45/08
Figura 2. Sondagens executadas em janeiro de 2000.

631
2.3. Conseqüências da elevação do nível do lençol do encontro E2 sob ar comprimido foi completada
freático. sem problemas.

Comparando-se as sondagens das figuras 1 e 2 3. ANÁLISE DA CAUSA DA ELEVAÇÃO DO


pode-se concluir que a elevação geral do nível do NÍVEL DO LENÇOL FREÁTICO.
lençol freático provocou uma significativa
diminuição da resistência do solo. De fato, os O quadro 1 apresenta os valores da precipitação
índices de resistência à penetração, nos locais dos pluviométrica mensal no local da obra em Sumaré,
encontros E1 e E2, iguais a 31 e 50, passaram para no interior do estado de São Paulo, nos anos de
19 e 32, respectivamente (redução de cerca de 40%). 1997 a 2000. A cota média do nível de água de
Esta queda de resistência do solo originou a +598,5m, verificada no final de novembro de 1998,
necessidade de: justifica-se pelo fato de ter sido medida em um mês
- reforço da fundação dos dois tubulões já excepcionalmente seco (28mm).
executados no encontro E1; A elevação de 5,4m do nível do lençol freático no
- uso de ar comprimido no prosseguimento da local do encontro E2 pode ser explicada pelos altos
execução dos dois tubulões do encontro E2. valores de precipitação verificadas nos meses de
dezembro de 1999 e janeiro de 2000. Por outro lado,
A possível redução de 40% na resistência do solo tratando-se de um aqüífero em uma camada de solo
no local da sapata do pilar central foi considerada arenoso, é também possível atribuir esta acentuada
ainda satisfatória para a taxa admissível do solo de variação do nível d’água a outras condições hidro-
0,4 MPa. geológicas da região.
Finalmente, cada tubulão do encontro E1 foi A figura 3 apresenta os dados do quadro 1 em
reforçado com seis estacas raiz (duas estacas forma gráfica. As médias das precipitações no
verticais + quatro estacas inclinadas a 12,50) de período observado comprovam que os valores
diâmetro igual a 310 mm, armadas com cinco barras mínimos aconteceram durante os meses do inverno
de 20mm, aço CA50A, comprimento 16,5m de e valores máximos no verão. Neste caso o nível de
perfuração em solo e 6m de injeção de argamassa água medido correlaciona-se bem com a média de
sob pressão de 2 kgf/cm2. A execução dos tubulões precipitação mensal observada.

Quadro 1. Índices de precipitação pluviométrica mensal (mm / mês)


Ano janeiro fevereiro março abril maio junho julho agosto setembro outubro novembro dezembro
1997 286 146 9 49 62 115 19 23 84 83 332 26
1998 168 217 178 55 112 21 11 20 73 195 28* 268
1999 448 119 131 67 56 91 2 2 108 44 62 200
*
2000 291 166 175 2 3 8 75 -- -- -- -- --
Médias 298 162 123 43 58 59 27 15 88 107 141 165
Estação Verão Verão Outono Outono Outono Inverno Inverno Inverno Primavera Primavera Primavera Verão
• época de realização das sondagens

DADOS PLUVIOMÉTRICOS
2000 1999 1998 1997
mm
/ me

600
s

400

200
1997

0 1998

ano
jan
fev

1999
mar
abr
mai
jun
jul

2000
ago
set

me
out

s
nov
dez

Figura 3. Gráfico de precipitação pluviométrica mensal

632
4. CONCLUSÕES FITZPATRICK, E. A. (1978). Soils their formation,
classification and distribution. Vol. 1,
Dos fatos observados nesta obra pode-se concluir 182p.Longman, London and New York.
que custos adicionais e atraso no cronograma de FREDLUND, D. G., RAHARDJO, H. (1993). Soil
execução de fundações em solos não saturados Mechanics for Unsaturated Soils. New York,
podem ser evitados tomando-se os seguintes John Wiley & Sons.
cuidados no projeto: CINTRA, J. C. (1998). Fundações em solos
- desconfiar de nível d’água muito profundo e, neste colapsíveis. São Carlos: RiMa. 106 p.
caso, verificar se o solo é colapsível; COSTA, Y. D., CINTRA, J. C., ZORNBERG, J. G.
- sempre proceder à investigação geotécnica em (2003). Influence of matric suction on plate load
época de chuvas intensas; test result performed on lateritic soils.
- considerar as propriedades do solo na condição Geotechnical Testing Journal, v.26, n.2, p. 219 –
saturada que é a mais desfavorável. 227, June.
De forma mais abrangente deve-se também MACHADO (1998). Aplicações de conceitos de
pesquisar a dependência entre o fator de segurança e elastoplasticidade a solos não saturados. Tese
a probabilidade de ruína, a serem considerados no (Doutorado), EESC / USP, São Carlos / SP, 362
projeto, relacionando-os com a probabilidade de p.
ocorrência de chuva da época em que a investigação VILAR, O. M.; RODRIGUES, J. E.; NOGUEIRA,
geotécnica foi executada. J. B. (1981). Solos colapsíveis: um problema
para engenharia de solos tropicais. Anais
5. BIBLIOGRAFIA Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em
Engenharia, Vol. 1, p.209-224, COPPE, Rio de
ALONSO, E. E.; GENS, A. & JOSA, A. (1990). A Janeiro.
constitutive modelling for partially saturated VILAR, O. M. (1995). Suction controlled
soils. Géotechnique 40, 405-430. oedometer tests on a compacted clay. Proc. First
International Conference Unsaturated Soils
UNSAT’95, Paris, France, Vol.1, p. 201-213.

633
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Algumas considerações sobre a utilização dos novos conceitos de


comportamento dos solos não saturados em projetos de engenharia

Wolle, C. M.
Consultor em Geotecnia e Prof. Dr., Depto. de Estruturas e Fundações, EPUSP/SP, cwolle@usp.br

Resumo: Pretende-se, neste texto, apresentar algumas considerações sobre a utilização dos conceitos de
comportamento dos solos não saturados desenvolvidos nos últimos anos em projetos de engenharia
geotécnica, enfocando-se aspectos relacionados com fundações, estabilidade de taludes e encostas naturais, e
barragens. O texto apresentado procura enfocar de modo simples como a Engenharia Geotécnica vem
recebendo as novas teorias e metodologias de ensaios e análises desenvolvidas no âmbito dos solos não
saturados, o que está aos poucos sendo incorporado ao dia a dia dos engenheiros e geólogos atuantes na
prática e como este processo pode ser intensificado, almejando um aprimoramento da tecnologia em uso
neste campo.

Abstract: This text presents some considerations about the use of the new concepts of unsaturated soil
behavior, developed in recent years, in geotechnical design and construction of earth works, foundations and
slope stability. The author tries to explain, in simple words, how Geotechnical Engineering is receiving and
incorporating the new theories, laboratory test techniques and analyses methodologies specially developed
for unsaturated soils and how does this reflect on the day by day work of geotechnical engineers and
geologists, as well as what could be done to intensify this process, in order to improve the technology in use
in this field of knowledge and activity.

1.INTRODUÇÃO onde os principais especialistas brasileiros no


assunto (entre os quais o autor não se inclui) estarão
O texto que ora se apresenta tem caráter bastante reunidos e onde questões mais polêmicas sobre a
informal, de vez que pretende discorrer sobre aplicação no dia a dia da engenharia, dos novos
questões da prática profissional da engenharia conceitos, teorias, métodos de ensaio e de
geotécnica, sob um enfoque peculiar: o ponto de modelagem, devem ser debatidos.
vista do autor, baseado em mais de 30 anos de Procurar-se-á enfocar a questão do avanço das
vivência no meio, numa condição também peculiar pesquisas a respeito do comportamento dos solos
– atuando na prática profissional inicialmente como não saturados e o relativo atraso que está ocorrendo
engenheiro e pesquisador do IPT – Instituto de na aplicação prática destes novos conhecimentos
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo e, nos projetos e nas obras de engenharia usuais.
mais recentemente como consultor independente de Dentro deste enfoque será feita uma tentativa de se
projetos – mas também sempre, durante este mesmo apontar alguns possíveis caminhos para aproximar
período, como professor de Geotecnia da Escola estes dois pólos de atividade, de modo a fazer com
Politécnica da USP em São Paulo. que, mais rapidamente a prática da engenharia
Desta forma, o autor pode acompanhar as três venha a usufruir dos avanços produzidos pelos
últimas décadas de desenvolvimento da Engenharia pesquisadores neste ramo do conhecimento.
Geotécnica no Brasil, seja pelo enfoque de quem
projeta as obras ou presta consultoria a estes 2. ASPECTOS HISTÓRICOS
projetos e obras, seja pela visão de quem acompanha
as pesquisas que são desenvolvidas no âmbito da Como todos sabem, a moderna Mecânica dos
Universidade e de uma instituição de pesquisa. Solos desenvolveu-se há cerca de 80 anos com os
Por outro lado, não se pretende apresentar uma trabalhos de Terzaghi, enfocando essencialmente
revisão geral e organizada sobre o assunto, mas tão solos de países de climas temperado e frio do
somente se objetiva mostrar alguns aspectos Hemisfério Norte. Durante algumas décadas os
vivenciados pelo autor e coloca-los para discussão conceitos então desenvolvidos foram aplicados
no 5o Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, praticamente sem questionamentos a solos também

635
de regiões tropicais, onde nem sempre sua aplicação responsável pela resistência que garantia a
era tão bem sucedida assim. Apenas no final da estabilidade nas condições usuais da encosta.
década de 40 e durante a década de 50 alguns dos De fato, o meio precisava de novas formulações
principais estudiosos da geotecnia foram se dar teórico-conceituais para entender os
conta de que os solos predominantes nestas regiões comportamentos destes solos, assim como novas
tropicais apresentavam características muito metodologias para ensaia-los.
diferenciadas daqueles que tinham estudado até A primeira proposição de um modelo conceitual
então e que os preceitos estabelecidos nas décadas para o entendimento do comportamento dos solos
anteriores não poderiam ser aplicados “in totum”, não saturados é na verdade bastante antiga – foi
como até então se pensava. proposta por Bishop numa conferência em Oslo em
A presença de espessos horizontes de solos 1955, publicada quatro anos depois (Bishop, 1959) e
residuais e saprolíticos, os efeitos da laterização não rediscutida pelo autor, em co-autoria com vários dos
só em delgadas camadas superficiais, mas também seus discípulos nos anos seguintes (destaca-se a
em espessos pacotes de solos tanto sedimentares publicação de Bishop & Blight de 1963). No entanto
quanto residuais e a presença de solos não saturados esta proposição “não vingou” e, só durante a
com espessuras de muitos metros, às vezes dezenas segunda metade da década de 70 e durante a de 80,
de metros, constituía um quadro complexo que Fredlund, inicialmente trabalhando em conjunto
exigia uma reformulação generalizada de teorias, com Morgenstern, formulou o seu modelo para
conceitos e metodologias, que só ao longo de várias solos não saturados (Fredlund et al 1976, 1978).
décadas viria a se consagrar. Já no final da década Este modelo é atualmente adotado pela maioria dos
de 40, quando aqui estava a serviço da Light & pesquisadores que se dedicam ao estudo destes
Power Co. estudando as movimentações de uma solos, mesmo que o seja com algumas adaptações.
grande massa de solo coluvionar/tálus na Usina Enquanto isto, no Brasil surgiam excelentes
Henry Borden em Cubatão, SP, Terzaghi teria dito a relatos sobre o comportamento dos solos tropicais,
um grupo de engenheiros brasileiros que o estudo em especial dos solos residuais e saprolíticos, como
dos solos residuais e o estabelecimento de teorias e por exemplo, os trabalhos de Vargas (1971) e Mello
métodos adequados aos mesmos seria uma tarefa (1972).
para ser desenvolvida pela Geotecnia Brasileira. Já na década de 70 a questão dos mecanismos de
As primeiras respostas a este desafio vieram logo instabilização de encostas em solos residuais não
– já no início da década de 50 Vargas (1953) saturados ganhou um destaque especial, mesmo
apresentava um esboço das características dos antes do surgimento da modelagem atualmente mais
nossos solos residuais no congresso internacional na utilizada. Este assunto passou a ser estudado
Suíça. Nesta década e na seguinte muitas pesquisas concomitantemente em várias partes do mundo, mas
foram realizadas, associadas à construção de em especial no Brasil e em Hong Kong, devido à
importância que os deslizamentos em encostas,
estradas, barragens e fundações, assim como aos
deflagrados pelas chuvas, assumiam nestes países.
catastróficos eventos de escorregamentos de
Assim, constatou-se que a estabilidade de muitas
encostas, primeiro em Santos (1956 e 57) e depois
destas encostas era devida à sucção (na época
no Rio de Janeiro (1966 e 67) e Caraguatatuba
falava-se basicamente em “coesão aparente”) e que
(1967). Começava-se a conhecer melhor os nossos o papel preponderante das chuvas era a redução das
solos residuais e saprolíticos, especialmente nas tensões de sucção (na época “redução da coesão
regiões de encostas do Sudeste, assim como os solos aparente”), podendo este fato ser, por si só, o
lateríticos, estes últimos principalmente no interior deflagrador de muitos dos escorregamentos
do estado de São Paulo, porém este conhecimento verificados nestas regiões. Estas proposições foram
apresentava ainda uma forte conotação qualitativa. apresentadas em meados da década de 70 por Lumb
A quantificação, quando realizada, o era através de (1975) em Hong Kong, Morgenstern & Matos
ensaios laboratoriais convencionais. Em geral a (1975) no Canadá e por Wolle et al (1976) no
caracterização dos solos seguia os padrões Brasil. Ressalta-se que o exemplo ilustrativo
convencionais e daí então surgiam as utilizado por Morgenstern & Matos no Canadá,
incongruências hoje tão conhecidas: como um solo oriundo de trabalhos anteriores de Vargas (encosta
bem argiloso pode funcionar tão bem como leito ou da Caneleira, em Santos), foi interpretado
sub-base de estradas – tratava-se de solos lateríticos, erroneamente, de modo que o conceito, apesar de
cujas agregações características eram “destruídas” correto, não ser aplicável a este caso em particular,
num ensaio de granulometria convencional... Ou, conforme explicado por Wolle (1988).
com os resultados dos ensaios triaxiais concluía-se Na década de 80 novos e importantes avanços
que muitas das encostas naturais apresentavam FS’s foram feitos no Brasil, seja na aplicação dos novos
muito baixos, freqüentemente inferiores à unidade, modelos conceituais desenvolvidos para solos não
mesmo sem o aparecimento de poro-pressões de saturados, seja no aprofundamento do conhecimento
redes de fluxo – tratava-se de solos não saturados a respeito dos solos tropicais. Destaca-se neste
nos quais a “coesão aparente”, ou seja a sucção era contexto, um evento especialmente importante: a

636
realização no Brasil do 1o Congresso internacional significativamente nos nossos projetos de
sobre Solos Tropicais e a apresentação do relato da engenharia?
Comissão de Solos Tropicais da ISSMFE. Este Pode-se analisar este assunto, como é até usual na
evento foi um marco no desenvolvimento dos moda da Mecânica dos Solos, considerando 3
estudos sobre solos tropicais no Brasil e no mundo, questões básicas: a dos comportamentos limites
dele derivando o hoje grande e importante grupo de (ruptura, capacidade de carga, etc.) associados à
especialistas que pesquisam os solos não saturados. resistência dos solos; a dos comportamentos sob
Cabe ressaltar a apresentação, entre outros, do carregamentos de serviço ou estados de tensões
importante relato de Nogami e seus colaboradores, ocorrentes no campo, associados às deformações
que definiu e organizou a questão dos dos solos e das estruturas nele apoiadas ou inseridas;
comportamentos básicos e da classificação dos solos e a dos fluxos d’água nos maciços de solos com
lateríticos e saprolíticos e lançou as bases da porções não saturadas.
metodologia de ensaios hoje amplamente difundida No âmbito da primeira destas questões, ou seja,
e de enorme importância para a Engenharia dos comportamentos diante de estados limites,
Rodoviária no país (Nogami et al, 1985). envolvendo a resistência ao cisalhamento dos solos,
praticamente em todos os casos a condição mais
3. PROBLEMAS DE ENGENHARIA crítica a ser enfrentada é aquela na qual o solo deixa
RELACIONADOS AOS SOLOS NÃO de ser não saturado, passando ao estado de saturação
SATURADOS plena, ou ao menos, de total oclusão do ar existente
nos seus poros. Assim, a análise de estabilidade de
No contexto objetivo dos projetos de Engenharia taludes, tanto naturais como de cortes ou aterros, da
Geotécnica em nosso país a aplicação, no dia a dia capacidade de carga de fundações rasas ou
dos engenheiros de projeto, das teorias, dos profundas, da estabilidade de contenções de
conceitos e das metodologias desenvolvidos nos escavações e outros casos de condições limites,
últimos 25 a 30 anos para solos não saturados é passa, usualmente, pela consideração do solo
ainda bastante tímida, quase incipiente. saturado, ocasião em que este oferece as menores
Deve-se ter em conta que o Brasil sofreu, nos resistências aos esforços atuantes. A consideração
últimos 15 anos, um forte processo de de estado não saturado, portanto com ganhos de
desestruturação de suas empresas e equipes de resistência oriundos do efeito benéfico das tensões
Engenharia de Projetos Civis, o qual afetou de sucção, passa a ser um exercício de raciocínio
sobremaneira a área de Geotecnia. Enquanto na que objetiva verificar os ganhos de fator de
década de 70 predominavam grandes empresas de segurança obteníveis e, eventualmente, procurando-
projeto, com equipes de dezenas de engenheiros se adotar medidas práticas que venham a permitir a
geotécnicos e geólogos de engenharia, a partir do sustentabilidade de tais condições.
fim da década de 80, com o desmantelamento destas No entanto, na maioria dos casos da prática, esta
equipes e o fechamento ou extremo “enxugamento” questão sequer é considerada, na medida em que
das empresas, a realidade do dia a dia dos grande parte das obras (fundações, por exemplo) são
engenheiros projetistas em Geotecnia mudou projetadas dispondo-se apenas dos resultados de
radicalmente. Trabalhando sozinhos ou em sondagens (NBR-6484). Assim, utilizam-se os
pequenos grupos nas pequenas ou médias empresas valores do índice SPT ou mesmo SPT-T, sem levar
em consideração se foram obtidos numa época em
que atuam no mercado atualmente, estes
que os solos estavam com maiores ou menores
profissionais trabalham praticamente em “nível de
umidades, com o N.A. mais ou menos elevado,
subsistência”, com pouquíssimos recursos e mesmo
muito menos qual era o grau de saturação dos solos
tempo disponíveis para se dedicar ao aprimoramento ou quiçá quais eram as tensões de sucção atuantes
técnico e científico e, em especial, para incorporar por ocasião da realização de tais ensaios. O
novos modelos, conceitos, teorias e metodologias, a panorama não é muito diferente quando se trata dos
não ser aquelas essenciais para o desenvolvimento outros tipos de obras citadas.
dos seus trabalhos. Assim, assistimos a um grande A segunda das questões elencadas trata das
esforço por parte destes profissionais de se atualizar deformações ocorrentes no maciço ou nas estruturas
no uso das novas ferramentas e equipamentos nele apoiadas ou inseridas, sob carregamentos de
computacionais colocados à sua disposição nas serviço ou nos estados de tensões totais presentes no
últimas duas décadas, mas, ao mesmo tempo, uma campo. Neste contexto o efeito das variações de
grande dificuldade e, às vezes até uma certa umidade dos solos, oriundas de infiltração d’água,
rejeição, à introdução de novos modelos de por exemplo, é bastante importante, mesmo que não
comportamento dos materiais, como é o caso dos seja atingido estado de saturação ou mesmo de
solos não saturados. oclusão. No entanto, apesar desta importância
Quais são, afinal, estes novos conceitos e inegável, raros tem sido os casos em que na previsão
modelos de comportamento associados aos solos de recalques de fundações a questão da variação do
não saturados que podem impactar estado de umidade (e portanto das tensões de

637
sucção) é realmente considerada nos projetos das hidrogeológicas e geotécnicas, o que propicia um
fundações. Da mesma forma, recalques ou universo de diferentes processos de instabilização.
deformações ocorrentes em maciços terrosos, Assim, o meio tropical e sub-tropical acaba sendo
taludes diversos, encostas naturais, etc. quando muito mais rico em tipos de mecanismos de
oriundos de variações nas tensões de sucção, são instabilização de encostas naturais e taludes de corte
completamente negligenciados na análise destas e escavação, incluindo-se entre estes uma plêiade de
obras, quando poderiam representar interessantes ocorrências associadas com a redução das tensões de
indicativos de comportamento das mesmas e, sucção decorrentes de infiltrações d’água. Por outro
indiretamente até do seu nível de segurança contra lado, não ocorrem neste meio os mecanismos
ruptura (nos casos em que a perda de sucção tem associados ao congelamento e degelo, importantes
maior responsabilidade numa eventual ruptura). nas regiões de climas frios.
Finalmente, a questão do fluxo d’água em Conforme já citado, foi apenas a partir de meados
maciços de solos não saturados costuma ser tratada da década de 70 que foi constatado
apenas no contexto de estudos e pesquisas, quantitativamente que a redução (por vezes
geralmente associadas a análises de questões do eliminação) de tensões de sucção poderia ser, por si
primeiro ou segundo grupo citados. Projetos de só, suficiente para deflagrar escorregamentos em
drenagem interna de maciços, rebaixamento do N.A. encostas naturais. Esta constatação se deu
e outros envolvendo questões de fluxo d’água nos concomitantemente em vários centros de estudo,
solos, se atém exclusivamente ao fluxo em meio inclusive no Brasil (Wolle et al, 1976). No entanto,
saturado, praticamente não considerando o que na prática da engenharia este mecanismo, ou pelo
ocorre nas porções não saturadas destes maciços. menos uma vaga noção do mesmo, já eram de
Em resumo, está a parecer ao autor que há um conhecimento há algumas décadas e ensejavam
grande distanciamento entre o que vem sendo soluções de estabilização de taludes simples e
estudado e pesquisado sobre solos não saturados e o baratas. Lembra-se ao leitor de que a companhia de
que ocorre na prática dos projetos de engenharia eletricidade Light, atuante em São Paulo e no Rio de
usuais. No próximo item procurar-se-á especificar Janeiro, portanto com inúmeros problemas de
um pouco mais este tema no que tange alguns tipos encostas e taludes diversos na Serra do Mar e
de obras geotécnicas. morros de Santos, Rio, etc., costumava recobrir
todos os seus taludes de corte e muitos trechos
4. TALUDES E FUNDAÇÕES
instáveis de encostas com revestimentos asfálticos
(geralmente por aspersão de asfalto diluído a
4.1 Taludes quente). Disto resultavam taludes com aspecto
estético muito feio, porém, na maioria dos casos
Um dos aspectos mais relevantes do
bastante estáveis, já que se reduzia drasticamente as
entendimento dos comportamentos dos solos não
saturados diz respeito aos mecanismos de infiltrações, preservando deste modo as tensões de
instabilização de encostas naturais e taludes de sucção nos maciços.
cortes e aterros nas regiões tropicais e sub-tropicais, Em Hong Kong algo muito semelhante ocorria:
nas quais a imensa maioria destes taludes e encostas anos antes de Peter Lumb constatar que os taludes
apresenta solos não saturados como os principais rompiam por causa da “perda de resistência” dos
materiais presentes. solos residuais não saturados de suas encostas
Conforme citado no item 2 deste texto, os estudos devido às infiltrações d’água provenientes das
de taludes e os modelos utilizados para análise chuvas das monções e dos tufões que assolam
quantitativa de índices de segurança para os mesmos aquela região, já era habitual revestir os taludes de
desenvolveram-se inicialmente nos países de clima corte e os trechos expostos das encostas com
temperado do Hemisfério Norte. Assim, fazia muito “chunam” – mistura de solo-cimento-cal, que não só
sentido considerar que o principal mecanismo de protegia a superfície contra a erosão, mas tam,bem
instabilização de taludes, em especial de encostas reduzia significativamente a infiltração.
naturais, fosse a ocorrência de pressões neutras É curioso, mas nestes casos, assim como em
(poro-pressões) positivas, decorrentes de infiltração alguns outros, a prática da engenharia “andou na
d’água, degelo ou elevação de N.A. frente” da pesquisa científica, talvez com base em
Ao se aplicar estes conceitos no estudo de taludes observações simples e pragmáticas, talvez se
no Brasil, assim como em muitos outros locais de alicerçando também muito em uma certa dose de
clima mais quente, com ocorrência de espessos intuição.
mantos de solos saprolíticos sobrejacentes a rocha Nas duas décadas seguintes muito se avançou no
alterada e muito fraturada até grandes entendimento dos mecanismos de instabilização de
profundidades, os modelos falharam. No entanto, encostas em nosso meio, envolvendo
levou alguns anos até isto ficar claro para o meio significativamente as ocorrências em solos não
geotécnico e, evidentemente, ocorre muita saturados. Diversos relatos importantes foram
diversidade de condições geológicas, publicados neste período e poderiam ser citados.

638
Para não alongar esta descrição referimo-nos apenas não saturada para a saturada merece análises à luz
ao relato relevante de Lacerda (1991). das novas teorias e modelos desenvolvidos. Isto é
Atualmente, decorridos já quase 30 anos desde o válido tanto para se analisar a evolução do fluxo
estabelecimento dos mecanismos de instabilização quanto para o estudo das deformações a que a
citados, muito se avançou no conhecimento dos barragem estará sujeita e, eventualmente a alguma
comportamentos dos solos não saturados, fissuração que disto poderá decorrer e, novamente
estabeleceram-se teorias e modelos, desenvolveram- das alterações que resultarão no fluxo, etc.
se técnicas apuradas de ensaio e dispõe-se de Novamente estes tipos de análises não estão
modelos bastante sofisticados de análise. Neste sendo aplicados nos projetos na prática corrente,
simpósio mesmo, é apresentado um trabalho no qual nem nas análises associadas ao acompanhamento de
se analisam taludes hipotéticos, constituídos por construção de novas barragens ou nas reavaliações
diferentes solos, dos quais já se conhecem os das existentes, porém as primeiras tentativas de se
parâmetros significativos para tal análise, realizarem análises deste tipo já estão sendo
mostrando-se como é possível quantificar a variação desenvolvidas no ambiente de pesquisa. Cita-se um
do fator de segurança em função da duração de uma estudo recente apresentado por Britto objetivando
chuva com intensidade conhecida (Santos e Vilar, uma análise da variação das condições de
2004). Evidentemente esta modelagem pode estabilidade dos taludes de uma barragem de terra
perfeitamente ser aplicada a taludes reais, durante a época do primeiro enchimento.
permitindo que, com a monitoração das chuvas, se Outros aspectos relacionados a barragens
possa acompanhar a evolução das condições de poderiam ser objeto de estudos e análises
segurança de tais taludes. considerando os modelos de fluxo em meios não
No entanto, isto ainda não está vigente na prática saturados hoje disponíveis, tais como as vazões de
da engenharia – no entanto já se dispõe das percolação pelo maciço e pelas ombreiras e os
ferramentas necessárias para sua aplicação! deslocamentos horizontais e recalques no maciço e
Também não é de se esperar que tal metodologia nas ombreiras, grandezas estas todas passíveis de
venha a ser empregada de maneira extensiva, porém observação “in situ” através de instrumentação
é perfeitamente cabível para monitoração e adequada. Desta forma o acompanhamento do
definição de condições de alerta e/ou intervenção desempenho da barragem, das ombreiras e das
em áreas de maior risco. estruturas complementares poderia ser aperfeiçoado
a partir deste novo enfoque.
4.2 Barragens de terra
4.3 Fundações
Barragens de terra estão entre as obras de
engenharia geotécnica que recebem maior atenção É no campo do estudo, análise e
no que se refere aos estudos geotécnicos, ensaios acompanhamento das fundações que, com certeza,
laboratoriais, uso de instrumentação e aplicação de os novos avanços associados à Mecânica dos Solos
modelagem numérica. Não Saturados tem encontrado maior aplicação
No entanto, relativamente pequena foi a prática, especialmente quando se trata de fundações
influência dos novos desenvolvimentos da Mecânica rasas ou pouco profundas em solos colapsíveis. Já
dos Solos Não Saturados na prática dos projetos de por ocasião do 2o Simpósio de Solos Não saturados
barragens de terra. No Brasil isto se deve em parte à Gusmão Filho (1994) apresentou seu relato a
redução significativa de novos projetos de respeito de fundações nestes solos, discutindo os
barragens, especialmente de barragens de terra, principais fenômenos ocorrentes e danos associados.
desenvolvidos nos últimos anos, quando se faz a Muitos pesquisadores têm se interessado pelo
comparação com as décadas de 60 a 80. De fato, assunto e vários trabalhos tem sido desenvolvidos
depois dos avanços mais significativos no campo estudando tanto as questões relativas à variação da
dos solos não saturados (que se deu praticamente capacidade de carga das fundações quanto os
nos últimos 15 anos), poucas novas barragens de recalques ocorrentes (inclusive os deslocamentos
terra foram projetadas e construídas no Brasil. horizontais e módulos de reação sob carregamento
Mesmo assim, há interessantes contribuições que horizontal) devidos às variações de umidade do solo
estes avanços podem propiciar para tais projetos. e das tensões de sucção associadas.
Considerando-se que os maciços de solo De início estes estudos enfocavam principalmente
compactado que vão sendo construídos para formar as variações de capacidade de carga e os recalques
a barragem são essencialmente constituídos de solos medidos por ocasião de provas de carga realizadas
inicialmente não saturados e que partes destes na “umidade natural” e sob “inundação superficial”,
maciços irão sofrer saturação (ou oclusão), primeiro geralmente registrando as umidades e graus de
pelo efeito de confinamento nas porções inferiores e saturação associados a cada uma destas condições.
centrais da barragem e depois devido ao fluxo Tais estudos não se restringiram a fundações
d’água quando do enchimento do reservatório, o “stricto sensu” mas trataram também de fundações
comportamento destes solos passando da condição de barragens, canais e outros aterros sobre solos não

639
saturados, em especial solos colapsíveis. Cita-se um de obras geotécnicas ainda não incorporou,
trabalho do autor sobre a questão de fundações de formalmente, os novos avanços propiciados pela
aterros de canais de grande porte sobre solos Mecânica dos Solos Não Saturados nos últimos 20 a
colapsíveis no Nordeste do Brasil, ocasião em que 30 anos, especialmente as teorias desenvolvidas e
foi realizado também um “ensaio de tanqueamento” metodologias de ensaios e análises colocadas à
num trecho do canal, portanto em verdadeira disposição do meio técnico e científico, nos últimos
grandeza (Wolle et al, 1981). 15 a 20 anos.
Um excelente relato do problema das fundações Isto não significa que a prática corrente
em solos colapsíveis pode ser encontrado em Cintra desconheça os princípios físicos dos
(1998) aprofundando bastante a questão do comportamentos dos solos não saturados – pelo
comportamento de fundações rasas e também contrário, os mesmos são considerados
profundas em solos com estas características, porém sistematicamente nos projetos e nas obras, porém de
ainda tratando o tema sem introduzir medições de forma qualitativa, “as vezes até um pouco intuitiva”,
sucção associadas às muitas provas de carga como já foi discutido ao longo do texto.
realizadas. No entanto, nesta época já eram lançadas Por que ocorre então este distanciamento entre a
as bases para análises que considerassem de fato o pesquisa e a prática neste campo? Há várias
efeito da sucção nas deformações do solo e, por possíveis causas, que provavelmente atuam em
decorrência, na geração de recalques, como se pode conjunto, não existindo uma única que se
observar em Vilar (1994). sobressaia. Podem ser citadas as dificuldades pelas
Atualmente os trabalhos de pesquisa já se voltam quais passa a atividade de consultoria e engenharia
a objetivos como o de quantificar as relações entre a de projetos em Geotecnia, o esfacelamento das
a capacidade de carga e os níveis de sucção grandes empresas na área, o novo modelo de gestão
presentes nos solos. Cintra et al (2004), no presente das obras públicas (privatização, concessões, etc.),
5o Simpósio, apresentam não só a influência da no contexto institucional, mas há também causas
sucção na capacidade de carga de fundações mais diretamente ligadas às atividades do dia a dia
profundas (tubulões a céu aberto), mas através de do engenheiro geotécnico. Cita-se, por exemplo, a
provas de carga em tubulões nos quais se introduziu maior facilidade que se tem em lidar com apenas
isopor entre o fuste e a base, conseguem determinar com os conceitos da Mecânica dos Solos clássica, o
curvas de capacidade de carga em função da sucção, fato de que, diante das questões que envolvem
separadas para a resistência da base e para o atrito “ruptura” ou capacidade de carga, considerar a
lateral. Os autores reconhecem, no entanto, que em condição saturada dos solos é mais conservador,
muitos casos da prática, nos quais possa vir a além de outros motivos que podem ser elencados.
ocorrer encharcamento do solo durante a vida útil da Porém, é inegável que um tratamento mais
obra, para fins de projeto há de se considerar esta cuidadoso das questões relativas aos solos não
condição para o dimensionamento, por ser a mais saturados, levando em consideração os avanços
crítica. teóricos e experimentais produzidos, traria um
No entanto, parece ao autor que a principal desejável aprimoramento à prática da Engenharia
aplicação mais imediata dos modelos de Geotécnica.
comportamento dos solos não saturados em Como proceder então? Lembremo-nos que esta é
fundações se dê na consideração das variações de uma questão de introduzir mudanças numa cultura
sucção nos parâmetros de deformabilidade dos solos existente e que, para isto, deve haver maior
de fundação. Poder-se-ia assim estimar os recalques aproximação e ser criada maior familiaridade.
de fundações considerando as variações de umidade Assim, deve-se procurar avançar aos poucos,
dos solos e, por decorrência, de sucção, de modo a tratando primeiramente de questões mais simples e
obter previsões muito mais realistas destes óbvias – recalques de fundações em solos não
recalques. Além disto, em caso de ocorrências de saturados, por exemplo.
recalques aparentemente anômalos, poder-se-ia com Para que as “novidades” possam de fato alcançar
muito maior confiabilidade verificar se tais o dia a dia da prática é fundamental que os
recalques são ou não originados por infiltrações estudiosos, pesquisadores e cientistas da Geotecnia
d’água ou elevação de N.A. Lembra-se que esta passem a se dirigir para os engenheiros e geólogos
possível causa é muito freqüentemente invocada que atuam na prática, seja através de artigos escritos
para explicar recalques não esperados, praticamente especialmente para este público, seja através de
sempre sem um embasamento teórico e cursos e palestras também assim dirigidas. Para
experimental para tanto. lograr êxito outra questão importante é que os
pesquisadores e cientistas devem simplificar o seu
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS linguajar ao se dirigirem a tal público, evitando
deixar a impressão de que se trata de uma “casta
Pelo que foi exposto nos itens anteriores, pode-se elitizada intelectualmente” (atualmente esta é a
concluir que a prática da Engenharia Geotécnica, visão freqüente que muitos profissionais praticantes
nas atividades de elaboração de projetos e execução têm).

640
Um outro mecanismo que está com as “portas Lacerda, W. A. (1991) General Report: Mass
abertas” é a revisão das normas técnicas na área da Movement Phenomena in Tropical Soils. Proc.
Geotecnia: atualmente duas importantes normas 9th Panam. Conf. On Soil Mech. & Found. Eng,
estão em processo de revisão – a NBR-6122, de Viña del Mar, v. 4, p. 1907-1917.
Fundações e a NBR-11682, de Taludes. Uma Lumb, P. (1975) Slope Failures in Hong Kong.
participação mais enfática da “comunidade” dos Quaterly journal of Engineering Geology, v. 8,
estudiosos dos solos não saturados seria bem-vinda p.31-65.
e poderia ajudar a encurtar o citado distanciamento Mello, V. F. B. (1972) Thoughts on Soil Mechanics
entre a pesquisa e a prática. Aplicable to Residual Soils. Proc. 3rd Southeast
Enfim, há muito a ser feito, e o melhor é fazê-lo Asian Conf. on Geotechnical Engineering., Hong
logo e sempre, de preferência paulatinamente e com Kong, p. 5-34.
paciência. O meio geotécnico só terá a ganhar com Morgenstern, N. R. and Matos, M. M. (1975)
isto. Stability of Slopes in Residual Soils. Proc. 5th
Panamerican Conf. on Soil Mech & Found Eng.,
6. AGRADECIMENTOS Buenos Aires, v. 3, p. 367-383.
Nogami, J. S. et al (1985) Characterization,
O autor agradece ao colega Eng. Jaime Marzionna Identification and Classification of Tropical Soils
pela colaboração na discussão deste texto. for Engineering Purposes. ISSMFE com Trop.
Soils – Progress Report 1982-85, p. 1-43.
7. REFERÊNCIAS Santos, C. R. e Vilar, O. M. (2004) Análise
Paramétrica da Estabilidade de Taludes em Solos
Bishop, A. W. (1959) The Principle of Effective Não Saturados: A Influência do tipo de Solo.
Stress. Teknisk Ukeblad, v. 39, p. 859-863. Proc. 5o Simpósio Brasileiro de Solos Não
Bishop, A. W. & Blight, G. E. (1963) Some Aspects Saturados, São Carlos.
of Effective Stress in Saturated and Partly Vargas, M. (1953) Some Engineering Properties of
Saturated Soils. Géotechnique, v. 13, n. 3, p. Residual Soils Occurring in Southern Brazil,
177-197. Proc. 3rd Int. Conf. on Soil Mech. & Found. Eng.,
Britto, C. C. et al (2004) Transient Stability Zürich, v.1, p. 67-71.
Analysis of a Collapsible Dam Using Dynamic Vargas, M. (1971) Geotécnica dos Solos Residuais.
Programming. Proc. 9th Int. Symp. On Revista Latinoamericana de Geotecnia, v.1, n.1,
Landslides, Rio de Janeiro, v. 2, p. 1079-1084. p. 20-41.
Cintra, J. C. A . (1998) Fundações em Solos Vilar, O. M. (1994) Deformações Volumétricas
Colapsíveis. Serv. Graf. EESC-USP, São Carlos, Induzidas por Redução de Sucção em um Solo
106p. Compactado. Proc. 2o Simpósio Brasileiro de
Cintra, J. C. A. et al (2004) Provas de Carga em Solos Não Saturados, Recife, p. 191-196.
Tubulões com Isopor entre a Base e o Fuste e Wolle, C. M. et al (1976) Caracterização de um
com Avaliação da Sucção do Solo. Proc. 5o Mecanismo de Escorregamento nas Encostas da
Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, São Serra do Mar. Boletim IPT 1079, São Paulo, 16p.
Carlos. Wolle, C. M. et al (1981) Collapsible Soil
Fredlund, D. G. and Morgenstern, N. R. (1976) Foundations of Canals in Central Brazil. Proc.
Constitutive Relations for Volume Change in 10th Int. Conf. on Soil Mech. & Found. Eng.,
Unsaturated Soils. Canadian Geot. Journal, v. 16, Stockholm, v.1, p. 277-280.
p. 261-276. Wolle, C. M. (1988) Análise dos Escorregamentos
Fredlund, D. G. et al (1978) The Shear Strength of Translacionais numa Região da Serra do Mar.
Unsaturated Soils. Canadian Geot. Journal, v.15, Tese de Doutorado, EPUSP, São Paulo, 406 p.
n. 3, p. 313-321. Wolle, C. M. and Hachich, W. C. (1989) Rain
Gusmão Fo, J. A. (1994) Fundações em Solos Não Induced Landslides in Southeastern Brazil".
Saturados. Proc. 2o Simpósio Brasileiro de Solos Proc. 13th. Int. Conf. on Soil Mech. & Found.
Não Saturados, Recife, p. 217-230. Eng., Rio de Janeiro, v. 3, p.1639-1642.

641
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Aplicações na geotecnia ambiental da permeabilidade ao ar em


solos não saturados

J.F.T. Jucá; L.J.N. Guimarães & F.J. Maciel


Professor Adjunto, Depto. de Eng. Civil, UFPE, jucah@ufpe.br

Resumo: O estudo da permeabilidade do solo não saturado ao ar e as suas aplicações na geotecnia


ambiental vêm crescendo bastante nos últimos anos. O presente trabalho tem por objetivo mostrar o estudo
laboratorial de determinação dos parâmetros de permeabilidade do solo ao ar em função de diversas variáveis
do solo não saturado e dois estudos de caso de aplicações deste tema na engenharia geotécnica. O primeiro
estudo refere-se à determinação do fluxo de gases nas camadas de cobertura de aterros sanitários, onde foi
utilizada uma placa de fluxo para avaliação da velocidade de percolação dos gases no solo in situ. O
principal objetivo deste estudo foi quantificar as emissões de gases provenientes da massa de lixo do Aterro
da Muribeca para a atmosfera. O segundo estudo de caso refere-se a simulação de vazamento de gás natural
em gasodutos enterrados por meio da modelagem bidimensional e tridimensional. Esta modelagem foi feita
através do programa de elementos finitos CODE_BRIGHT, cuja formulação geral resolve problemas
acoplados termo-hidro-mecânico e geoquímicos em meios porosos não saturados e deformáveis.

Abstract: Uunsaturated soil air permeability study and its application in the environmental geotechnics
have increased considerably in the last years. The aim of this paper is to present the laboratory investigation
that was carried out to determine soil air permeability parameters as function of unsaturated soil variables
and two case studies that shows the application of this subject in the geotechnical engineering. The first case
study is related to gases flux determination through cover layers in sanitary landfill, where a flux chamber
was used to evaluate gas percolation velocity through the soil in situ. The main objective of this study was to
quantify landfill gas emissions from the waste mass to the atmosphere at Muribeca’s Landfill. The second
case study refers to a natural gas escape simulation in buried gas pipelines through a bi-dimensional and tree-
dimensional modeling. This modeling was realized through the finite element code CODE_BRIGHT that
was proposed to solve thermo-hydro-mechanic and geochemical coupled problems in unsaturated and
deformable porous media.

1. INTRODUÇÃO necessários para promover uma melhor operação


das demais células.
Os processos de decomposição da matéria A maioria dos países do globo tem incrementado
orgânica em aterros de resíduos sólidos urbanos o uso de gás natural motivados pela necessidade de
resultam na geração de gases (CH4, CO2, H2S, entre uma fonte energética mais limpa e polivalente
outros) que podem vir a afetar diretamente o meio (Praça, 2003). No Brasil, a implantação de sistemas
ambiente e a saúde humana. A camada de cobertura de distribuição de gás natural para indústrias e
dos resíduos é o elo existente entre o lixo e o residências nas grandes cidades vem sendo feita
ambiente atmosférico, tendo, por esta razão, grande com uma intensidade cada vez maior. Estes sistemas
potencial de influência na liberação de gases e na de distribuição possuem vários quilômetros de
entrada de ar atmosférico e águas pluviais para a ramais e, portanto, é de se esperar que em algum
massa de lixo. O fluxo de gases nas camadas de trecho e por algum intervalo de tempo o sistema de
cobertura de aterros é avaliado através de estudos da proteção do gasoduto (ex: proteção catódica) falhe,
permeabilidade ao gás de solos compactados não pondo em perigo a integridade da tubulação. Esta
saturados. O estudo de dimensionamento das situação de vulnerabilidade resulta numa maior
camadas argilosas de cobertura é parte integrante do possibilidade de danos ao gasoduto e conseqüente
projeto de recuperação ambiental do Aterro da vazamento de gás e risco de explosão.
Muribeca. Das nove células que perfazem o Aterro, Este trabalho apresenta inicialmente um estudo
as Células nº 4 e 8 foram tomadas como laboratorial de determinação da permeabilidade do
experimentais a fim de obter os parâmetros solo ao gás e a estimativa do fluxo de gases para a

643
atmosfera a partir da execução de ensaios in situ, compactados que esta proporcionalidade é válida
que inicialmente foi utilizado para avaliar os para gradientes de pressão de até 120 kPa. Bouazza
problemas de contaminação em aterros de resíduos e Vangpaisal (2000) observaram também a mesma
sólidos e posteriormente para avaliação de seu linearidade para pressões diferenciais de até 80 kPa
potencial energético. Na segunda parte do trabalho aplicadas em um solo reforçado com geossintético.
são apresentados estudos do vazamento de gás Por sua vez, Blight (1971) constatou em vários tipos
natural em gasodutos enterrados a partir da de solo que a Lei de Darcy não se aplica a fluxo de
modelagem numérica bidimensional e gases sob pressões superiores a 200 kPa, sugerindo
tridimensional do fluxo de gás no subsolo. Esta para estes casos o uso da Lei de Fick. Loiseau et. al.
modelagem permitiu obter a vazão de gás em (2002) utilizaram pressões bem mais elevadas e
possíveis pontos de escape para a atmosfera, sendo observaram que apenas para pressões superiores a
esta uma informação essencial para as posteriores 200 kPa (0,2 MPa) a linearidade entre o fluxo e o
análises da formação da nuvem de gás natural e ΔP não pode ser mais visualizada.
risco de explosão na superfície do terreno. Algumas modificações conceituais se fazem
necessário para ajustar esta nova condição de
2. INVESTIGAÇÃO EXPERIMENTAL PARA compressibilidade do fluido e validar a Lei de Darcy
ESTUDO DE FLUXO DE GASES EM CAMADAS para todos os níveis de pressão. Ignatius (1999)
DE COBERTURA DE ATERROS DE RESÍDUOS mostra detalhadamente os passos necessários para
SÓLIDOS obtenção da formulação da Lei de Darcy para
fluidos compressíveis. Algumas destas
2.1. Estudos Laboratoriais considerações são: a expansão do gás provoca
variação de volume durante sua percolação pelo
2.1.1 – Validade da Lei de Darcy para fluidos solo; fluxo em massa é constante; o fluxo é
compressíveis isotérmico e os gases obedecem a Lei dos Gases
Ideais. A partir destas considerações, Ignatius
A Lei de Darcy foi formulada para a percolação
(1999) apresenta a expressão final para a
de fluidos viscosos e incompressíveis em um meio
permeabilidade intrínseca do solo considerando o
poroso saturado sob regime laminar. De acordo com
fluido compressível (Ka):
esta Lei, a velocidade de percolação do fluido
(velocidade de Darcy) é diretamente proporcional ao
gradiente de pressão entre as extremidades do solo, 2 × μ × L × Ps × v
sendo esta proporcionalidade representada pelo
coeficiente de permeabilidade (κ). Esta relação pode
Ka =
(Pe
2
− Ps
2
)
ainda ser representada em termos da permeabilidade
intrínseca do solo de acordo com a seguinte De acordo com Langfelder et. al. (1968), é
equação: possível verificar a influência da compressibilidade
do gás através da relação numérica entre Ka e Kia.
v ×μ ×L Desta forma, pode se obter a expressão ilustrada
K ia = abaixo, em que Pm = (Pe + Ps)/2:
ΔP
Onde: Kia = permeabilidade intrínseca para fluidos Ka ΔP
= 1−
incompressíveis (m2); v = velocidade de Darcy K ia 2Pm
(m/s); μ = viscosidade dinâmica do fluido (Pa.s); ΔP
= gradiente de pressão (Pe – Ps); Pe = pressão de
entrada da amostra (Pa); Ps = pressão de saída da Esta equação mostra que a influência da
amostra (Pa) e L = comprimento da amostra de solo compressibilidade do gás está associada não apenas
(m). ao gradiente de pressão mas também à pressão
média aplicada (Pm). Quanto maior for o gradiente
Para o caso de fluidos compressíveis, como os de pressão aplicado ao solo, maior será a diferença
gases, a velocidade de Darcy pode não ser mais entre Ka e Kia, ou seja, maior será o efeito da
proporcional ao gradiente de pressão devido ao compressibilidade do gás. No entanto, este efeito
fenômeno de expansão dos gases. Esta expansão pode ser diferente para um mesmo valor de ΔP,
depende dos níveis de pressão aplicados e aumenta à desde que as pressões médias sejam distintas. Por
medida que o fluido for atingindo a extremidade de exemplo, se Ps for alterada de 1 atm para 3 atm,
saída do solo (Ignatius, 1999). Desta maneira, há um mantendo fixo o valor de ΔP, o efeito da
aumento no volume do gás no meio, fazendo compressibilidade, vista pelo resultado da equação
aumentar sua velocidade de percolação, e anterior, será menor na situação em que a pressão de
conseqüentemente eliminando a proporcionalidade saída for 3 atm.
entre v e ΔP considerada na Lei de Darcy. No caso em que se deseja medir o fluxo do gás
Jucá e Maciel (1999) verificaram através de em massa é conveniente reordenar a equação de Ka
ensaios laboratoriais em solos argilosos representando da seguinte forma:

644
Ja =
(
K a × ρo × Pe 2 − Ps 2 ) dificuldades técnicas de se trabalhar com um gás
tóxico e explosivo em laboratório foram superiores.
2 × L × μ × Ps Anteriormente à passagem do ar pela amostra de
solo, o fluxo de entrada é direcionado a um pré-
Onde: Ja = fluxo advectivo do gás em massa saturador (Figura 1). O pré-saturador é parcialmente
(g/m2.s); ρ0 = densidade do gás à uma dada pressão preenchido com água deionizada e funciona
e temperatura (g/m3). aumentando a saturação do fluido percolante. A pré-
saturação do fluido evita que haja uma remoção
significativa da umidade do solo, na forma de vapor,
2.1.2 – Metodologia durante sua percolação pelo solo.
Um fluxímetro mecânico do tipo bolhômetro é
A metodologia de ensaio utilizada nesta pesquisa utilizado na saída do sistema para obtenção da vazão
foi baseada em modelos desenvolvidos por do gás através da passagem de bolhas por duas
Stylianou e DeVantier (1995), Ignatius (1997), marcas indicadoras, cujo volume corresponde a 25
Springer et al. (1998), Jucá e Maciel (1999), Maciel ml (φ ≅ 1,44cm e h ≅ 15,35cm). Este bolhômetro é
e Jucá (2000) e Maciel (2003). Algumas adaptações feito em vidro e para a formação das bolhas é
ao sistema do permeâmetro de parede flexível, Tri- utilizado detergente líquido comum diluído. É
flex 2 - Soil Test – ELE, foram necessárias para que necessário também que as paredes internas do
os ensaios de permeabilidade do solo ao ar fossem bolhômetro estejam previamente limpas e molhadas
realizados. Estas modificações restringiram-se à com detergente para evitar a “quebra” das mesmas
colocação de um pré-saturador de gás anteriormente durante seu deslocamento no fluxímetro. Um
à passagem do ar na amostra e à introdução de um cronômetro digital é utilizado para medição do
sistema de medição de vazão do fluido na saída do tempo de passagem da bolha pelo volume fixo de 25
corpo de prova. O sistema Tri-flex 2 permite ml.
aplicação de pressões confinantes, de topo e base A ligação entre os elementos de todo o sistema
com vários tipos de fluídos. A Figura 1 ilustra o Tri-flex 2 é formada por tubos de polipropileno (φ =
esquema do ensaio de permeabilidade ao ar utilizado ¼”). As conexões entre os tubos e estes elementos
na pesquisa. são do tipo encaixe rápido com o-rings. As exceções
As pressões aplicadas pelo permeâmetro Tri-flex ficam por conta das adaptações, pré-saturador e
2 provêm de um simples compressor de ar e são fluxímetro, onde foi necessário a colocação de tubos
reguladas no quadro de comando do equipamento de silicone devido à impossibilidade de conectá-los
para assim serem lançadas em todo o sistema. A via encaixe rápido.
pressão liberada pelo compressor pode ser No que se refere ao procedimento de coleta de
transferida para outros fluidos antes da entrada na amostras, previu-se inicialmente a obtenção de
câmara de ensaio. No caso da pressão confinante, a amostra amolgada para a análise gralunométrica e
água foi utilizada como fluido de transferência para de corpos de prova indeformados da cobertura do
comprimir a amostra de solo. Por outro lado, o aterro. Ressalta-se, no entanto, que não foi possível
fluído permeante utilizado neste procedimento extrair as amostras indeformadas da cobertura
laboratorial foi o próprio ar atmosférico. Uma devido à baixa densidade do solo. Desta maneira,
composição de gases similar ao biogás poderia ser procedeu-se o estudo com corpos de prova
empregada nestes ensaios, no entanto as compactados sob energia do Proctor Normal.

Quadro de comando
Tri-Flex2
Válvulas reguladoras de pressão

Câmara de ensaio Fluxímetro

Pressão conf. (Pc)

Pressão de saída

Pressão (Pe)
Tubo de silicone

Tubos de silicone
Pré-saturador
Figura 1. Esquema do ensaio de permeabilidade ao ar.

645
O solo da cobertura foi classificado como uma consistente com a literatura, a qual considera a
argila de alta plasticidade (CH) composto de 27% de relação verdadeira para baixas pressões aplicadas.
argila, 24% de silte, 23% de areia fina, 24% de areia Para pressões acima de 200 kPa, esta linearidade
média, 1% de areia grossa e 1% de pedregulho. O pode não ser mais verificada e alguns autores
solo apresenta granulometria contínua com sugerem o uso da Lei de Fick. (Blight, 1971,
percentual de partículas inferior a 2μm igual a 10%. Bouazza e Vangpaisal, 2000, Loiseau et. al., 2002 e
Os limites de Atterberg determinados para este solo Jucá e Maciel, 1999).
são: LL = 57% e LP de 27%. A densidade seca A Figura 3 apresenta a variação da
máxima está em torno de 16,10 kN/m3 e a umidade permeabilidade máxima do solo ao ar em função da
ótima em 23%. Os dez corpos de prova ensaiados umidade de compactação. Vale lembrar que a
foram compactados com diferentes teores de permeabilidade máxima do solo ocorre quando a
umidade e ensaiados em condições de saturação fase água não interfere na percolação do ar, ou seja,
distintas, permitindo assim, avaliar o para baixos valores de grau de saturação. Observa-
comportamento da permeabilidade do solo ao ar em se nesta Figura que a permeabilidade decresce com
função da umidade de compactação e do grau de a umidade de compactação até valores próximos da
saturação (Maciel, 2003). ótima. Após este ponto, a permeabilidade
praticamente não varia com o incremento da
2.1.3 – Resultados e discussões umidade de compactação dos corpos de prova.
Desta maneira, pode-se dizer que as características
Nesta pesquisa a validação da Lei de Darcy foi
de percolação do ar no solo compactado na hotm são
constatada conferindo a proporcionalidade entre a
mais semelhantes aos solos com distribuição
velocidade aparente de fluxo (v) e o gradiente de
dispersa (ramo úmido) em comparação com aqueles
pressão (ΔP) nos corpos de prova ensaiados. A
de distribuição aleatória das partículas (ramo seco).
Figura 2 apresenta alguns exemplos da linearidade
É importante mencionar que a compactação da
entre v e ΔP, bem como o resultado das correlações
camada de cobertura da Célula nº 8 foi executada no
lineares obtidas em diferentes corpos de prova.
ramo seco da curva de compactação em umidades
As regressões lineares mostradas na Figura 2
em torno de 10-12%. Uma aplicação desta análise
indicam uma boa proporcionalidade entre v e ΔP,
para as demais células da Muribeca indicaria uma
comprovando que a metodologia utilizada nesta
redução de até 10 vezes no lançamento de poluentes
dissertação pode ser bem confiável para a
para a atmosfera caso a camada seja compactada
determinação do κa para o solo em questão. Vale
próximo da umidade ótima do solo.
ressaltar que esta proporcionalidade está bastante
Velocidade aparente fluxo (m/s)

4,44E-04
4,04E-04 R2 = 0,998
3,64E-04
3,24E-04 CP-10
R2 = 0,9956
2,84E-04 CP-8
2,44E-04 R2 = 0,9851
CP-7
2,04E-04
CP-5
1,64E-04 R2 = 0,9892
1,24E-04 CP-4
8,40E-05
4,40E-05 R2 = 0,9988
4,00E-06
3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Gradiente de pressão (kPa)


Figura 2. Verificação da Lei de Darcy para os ensaios.
Permeabilidade ao ar máxima (m/s)

1,0E-06

Umidade ótima

1,0E-07

1,0E-08

1,0E-09

1,0E-10
9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29

Umidade compactação (%)


Figura 3. Variação da permeabilidade máxima ao ar nas diferentes amostras.

646
A Figura 4 mostra as curvas da permeabilidade Muribeca seria a implantação de uma cobertura
obtidas em função do grau de saturação do solo para vegetal para retenção da umidade no solo e por
três corpos de prova compactados em diferentes conseguinte reduzir a liberação do biogás para a
condições de umidade. É importante distinguir o atmosfera.
comportamento das curvas nesta figura em três
partes: A primeira parte refere-se a valores de 2.2. Investigação de campo
saturação inferiores a 60%, onde a permeabilidade
nos três C.P é praticamente constante e equivale ao
máximo valor para cada solo. Estes valores As estimativas das emissões de gases das
máximos de κa foram aproximadamente 2,0 x 10-7 coberturas das Células nº 4 e 8 são o principal
m/s (CP-4), 2,5 x 10-8 m/s (CP-7) e 1,2 x 10-8 m/s objetivo desta etapa da investigação de campo
(CP-10). realizada no Aterro da Muribeca. Este estudo é parte
A segunda parte da curva refere-se a um integrante do plano de monitoramento de gases que
decréscimo lento da permeabilidade com o aumento envolvem análises periódicas dos gases na
da saturação para intervalos de 60 a 85% nos três superfície, sub-superfície e em profundidade da
corpos de prova. Por fim, para valores superiores a célula de lixo (Maciel e Jucá, 2002). Os ensaios de
85%, a permeabilidade decresce drasticamente com campo foram realizados por meio de duas placas de
pequenos incrementos de água no solo. Este grau de fluxo desenvolvidas para esta pesquisa. A primeira
saturação representa o ponto de passagem do estado placa possui área útil de 1,0 m2, enquanto a segunda
contínuo do ar para a fase oclusa na matriz do solo e tem 0,16 m2. As alturas das placas são idênticas e
está condizente com o encontrado na literatura iguais a 0,05 m. A placa nº 1 foi utilizada em três
(Loiseau et. al., 2002, Maciel e Jucá, 2000, Corey, ensaios realizados na Célula nº 4, enquanto que a
1957 e Matyas, 1967 citados por Fredlund e segunda foi empregada numa série de seis ensaios
Rahardjo, 1993). Uma aplicação desta análise a ser (P-3 ao P-8) na Célula nº 8. A Figura 5 ilustra as
adotada nas camadas de cobertura do Aterro da placas de fluxo acima referidas.
1,0E-06
Coef. de Permeabilidade - ka (m/s)

1,0E-07

1,0E-08

C.P-7 (h.ótm)
1,0E-09
C.P-10 (+6,1% h.ótm)
C.P-4 (-6,2% h.ótm)

1,0E-10

1,0E-11

1,0E-12
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Saturação (% )
Figura 4. Variação da permeabilidade em função da saturação do solo.

Placa nº 1 Placa nº 2

Figura 5. Placas de fluxo utilizadas para estimativa das emissões de gases.

647
O procedimento do ensaio da placa de fluxo foi – C) sua percolação na camada de cobertura, ou
descrito detalhadamente por Maciel (2003). Em seja, pela relação C/Co. A Figura 7 apresenta os
suma, este ensaio consiste na avaliação da resultados encontrados na cobertura da Célula nº 8.
concentração dos gases no interior da placa de fluxo Observa-se nesta Figura, que a relação final C/Co do
(após sua percolação pela cobertura) com o tempo CH4 foi mínima no ensaio P-4 (0,40) e máxima no
desde do instante em que a mesma é cravada na P-7 (0,96), ou seja, houve uma retenção de 60% na
camada (t=0) até a estabilização das leituras. concentração inicial do CH4 no ensaio P-4 e de
Paralelamente a este procedimento, realiza-se o apenas 4% no ponto P-7. Vale ressaltar que o ensaio
monitoramento da concentração dos gases em P-7 apresentou comportamento atípico de pressão e,
dispositivos instalados na base da camada, por este motivo, foi constatado a retenção mínima
permitindo assim, avaliar as características do do gás. Desta maneira, pode-se dizer que quanto
biogás antes de sua percolação pela camada de maior a velocidade de percolação do gás no solo,
cobertura. menor foi sua retenção.
A Figura 6 mostra a variação da massa de gás Excluindo o ponto atípico das análises, pode-se
metano na placa de fluxo para os seis ensaios notar que a retenção do CH4 está associada também
experimentais realizados na Célula nº 8. O fluxo de à espessura da camada de cobertura nesta Célula.
CH4 determinado na cobertura da Célula nº 8 variou Para espessura de 0,90 m (ensaio P-4) foi constatada
de 1,2 a 4,2 x 10-3 g/s.m2 (103,7 à 362,9 g/dia.m2). uma redução máxima de 60% em relação à
Estes valores estão enquadrados dentro das taxas de
concentração sob a cobertura, enquanto no ponto P-
emissões de CH4 reportadas na literatura.
Representando o fluxo em termos volumétricos 3 foi verificado uma redução de apenas 20% (C/Co =
(ρCH4(30ºC) = 0,645 kg/m3), os valores encontrados 0,80) para a menor espessura de solo (0,25 m) dos
situam-se entre 1,9 e 6,5 x 10-6 m3/s.m2. Com ensaios. Concluindo, quanto mais espessa a camada
relação ao fluxo de CH4 na Célula nº 4 (Maciel e de cobertura, maior a possibilidade de o gás ficar
Jucá, 2000), a média dos três ensaios realizados foi retido física, química ou biologicamente no solo.
de 2,9 x 10-6 m3/s.m2, mostrando coerência com os A Figura 8 apresenta a análise de retenção do gás
parâmetros da Célula nº 8. A estimativa de liberação H2S realizada em um único ensaio (P-3). Observa-
total de CH4 da Célula nº 8, realizada a partir da ser nesta Figura que o gás H2S ficou totalmente
interpolação das taxas de fluxo verificadas numa retido na camada de cobertura de apenas 0,25 m de
área de 53 m x 60 m, é equivalente a cerca de 884 espessura. Esta retenção é de grande interesse para o
m3/dia ou 540 kg de CH4 lançados diariamente ao contexto da liberação de gases no Aterro da
meio ambiente (Maciel, 2003). Muribeca. Este gás apresenta um enorme impacto na
É interessante ressaltar que as altas taxas de fluxo poluição local do aterro devido à sua elevada
verificadas nas Células nº 4 e 8 do Aterro da toxicidade a saúde humana (gás carcinogênico) e
Muribeca estão relacionadas tanto a ineficiente por ser um dos causadores do forte odor do lixo.
compactação do solo (baixa densidade seca) que Desta forma, pode-se dizer que, apesar da cobertura
resulta em altos valores de coeficiente de no ensaio P-3 ser ineficiente para evitar a poluição
permeabilidade do solo ao gás quanto à pequena do CH4, a mesma funciona como uma satisfatória
espessura da camada de cobertura, o qual é barreira na minimização da poluição local do H2S. A
insuficiente para promover uma satisfatória retenção avaliação do H2S precisa ser realizada em outras
dos gases (Maciel, 2003). regiões da Célula nº 8 e estendida para as demais
A avaliação da retenção do CH4 foi realizada por células da Muribeca para que este tipo de
meio da comparação da concentração do CH4 antes informação possa ser de fato aplicado na
(abaixo da cobertura – Co) e após (interior da placa operacionalização de todo o aterro.
Massa CH4 na placa de fluxo (g)

3.00

2.50
P-3 (h=0,25m)
2.00 P-4 (h=0,90m)
P-5 (h=0,55m)
1.50
P-6 (h=0,55m)
1.00 P-7 (h=0,75m)
P-8 (h=0,45m)
0.50

0.00
0 50 100 150 200
Tempo (min)
Figura 6. Variação mássica de CH4 com o tempo nos ensaios da placa de fluxo.

648
1.0 30 H2S sob cobertura

Concentração (ppm)
0.8
25
Pt-6 (h=0,55m)
Pt-7 (h=0,75m) 20
0.6
C/Co

Pt-5 (h=0,55m) 15 H2S sobre cobertura

0.4 Pt-4 (h=0,90m)


10
Pt-3 (h=0,25m)
0.2 Pt-8 (h=0,45m) 5
0
0.0
0 50 100 150 200
0 30 60 90 120 150 180

Tempo (min) Tempo (min)

Figura 7. Relação C/Co do CH4 com o tempo. Figura 8. H2S antes e depois da cobertura.

2.3. Considerações finais meios porosos deformáveis e multifásicos (Olivella,


1995; Guimarães, 2002) foram implementadas
O estudo de gases permite se avaliar as etapas do utilizando um enfoque composicional, que
tratamento dos resíduos, os riscos ambientais que estabelece a conservação de massa de cada uma das
ocorrem pela percolação através das camadas de espécies presentes no meio poroso, em lugar de
cobertura, além de se caracterizar adequadamente as estabelecer a conservação de massa de cada fase.
possibilidades de aproveitamento energético do As análises apresentadas neste artigo só utilizam
aterro. As técnicas desenvolvidas para ensaios de o módulo hidráulico (fluxo multifásico) do
campo e laboratório permitem avaliar os parâmetros CODE_BRIGHT. Algumas hipóteses básicas para
de gases internos da massa de lixo, bem como se problema hidráulico adotado neste artigo são
avaliar a eficiência na retenção de gases nas listadas a seguir:
camadas de cobertura. • O meio poroso é trifásico, com as fases
líquida (l) e gasosa (g) como fases fluidas,
3. ANÁLISE NUMÉRICA DE VAZAMENTO DE mais a fase sólida;
GÁS NATURAL EM GASODUTO ENTERRADO • Além de água (w), a fase líquida também
pode conter gás dissolvido (d);
Na formulação matemática do problema, são • As variáveis de estado (incógnitas) do
resolvidas as equações de fluxo das fases líquida e problema hidráulico são: pressão de líquido
gasosa, além das equações constitutivas (curva de (Pl), e pressão de gás (Pg);
retenção e lei de Darcy), que introduzem a • A conservação de quantidade de movimento
dependência do tipo do solo no problema de fluxo das fases fluidas se reduz à Lei de Darcy
multifásico em meio poroso. Os resultados aplicada a cada fase.
numéricos mostraram as trajetórias preferenciais do As equações do problema são as equações de
fluxo de gás natural no subsolo e a importância da continuidade (conservação) e as equações
caracterização hidráulica (permeabilidades) dos constitutivas. As equações de conservação de massa
diversos materiais que compõem o perfil geotécnico são: conservação de água e conservação da espécie
por onde o gás natural irá percolar. não aquosa (gás natural). A conservação de massa
Em particular, mostrou-se que o material de de água vem dada por:
reaterro da vala, onde é colocado o gasoduto e o
solo de cobertura são fundamentais na determinação ∂ w
das trajetórias preferenciais do fluxo de gás natural
∂t
(wl ρ l S l φ ) + ∇ ⋅ (wlw ρ l q l ) = f w
(1)
no subsolo. Neste caso, um detalhado estudo dos
parâmetros geotécnicos destes materiais deve ser
realizado de forma a permitir que os resultados onde wlw é fração mássica de água na fase líquida, φ
numéricos possam ser quantitativamente é a porosidade, ρl a densidade da fase líquida, Sl o
interpretados. grau de saturação da fase líquida e ql o fluxo
volumétrico de líquido, dado pela Lei de Darcy. fw é
3.1. Formulação Matemática um termo fonte/sumidouro de água.

Nas análises numéricas, a ferramenta de trabalho Por sua vez, a conservação da massa de gás vem
utilizada foi o programa de elementos finitos dada por:
CODE_BRIGHT (COupled DEformation, BRIne,

Gas and Heat Transport). Neste programa, as
equações que descrevem o problema acoplado ∂t
(ρ g S gφ + wld ρl Slφ ) + ∇ ⋅ (ρ g q g + wld ρl q l ) = 0
Termo-Hidro-Mecânico e Geoquímico (THMG) em (2)

649
onde ρg é a densidade da fase gasosa, Sg o grau de o gás (Kg) são dados por:
saturação da fase gasosa e qg o fluxo volumétrico de k rα
K α = k. α = l,g (8)
gás (Lei de Darcy). wld é a fração mássica de gás μα
dissolvido na fase líquida dada pela lei de Henry
(restrição de equilíbrio): onde k é o tensor de permeabilidade intrínseca do
meio poroso (não depende do fluido), krα é a
Pg M g permeabilidade relativa (depende do fluido α) e μα é
wld = (3) a viscosidade do fluido α. Adotou-se para a
H Mw viscosidade da fase líquida a viscosidade da água
(0,9556cP) e para a fase gasosa a viscosidade do gás
onde Mg é a massa molecular média do gás e Mw a natural (0,010816cP), ambas na temperatura
massa molecular da água. H = 1000 MPa é a ambiente (25oC). Outra importante equação
constante de Henry, segundo Olivella (1995). Na constitutiva hidráulica é a curva de retenção, que
fase líquida, que contém a água e o gás dissolvido, relaciona a sucção (Pg – Pl) com o grau de saturação
as concentrações dessas espécies são dadas pelas de líquido (Sl = f (Pg – Pl), com Sl + Sg = 1).
suas respectivas frações mássicas wlw e wld , Mais detalhes da formulação matemática do
problema encontram-se em Olivella (1995) e
relacionas pela restrição wlw + wld = 1. Guimarães (2002). Todas as equações acopladas,
quando discretizadas no CODE_BRIGHT, são
As densidades das fases líquida e gasosa são resolvidas simultaneamente pelo método de
dadas por equações de estado em função da Newton-Rapshon.
temperatura (T em oC) e de suas respectivas
pressões (em MPa). A densidade da fase líquida é 3.2.CASO DE ESTUDO
dada por:
3.2.1 Descrição do perfil geotécnico analisado
ρ l = 1002.6 exp(4.5 × 10 ( Pl − 0.1) − 3.4 × 10 T )
−4 −4
As análises de fluxo multifásico foram realizadas
Kg/m3 (4) no espaço bidimensional e tridimensional para um
perfil geotécnico típico da cidade do Recife (Fig. 9),
e para a fase gasosa admite-se a lei dos gases ideais: cuja formação geológica é sedimentar, composta por
camadas horizontais intercaladas de material
M g Pg arenoso (alta permeabilidade) e argiloso (baixa
ρg = Kg/m3 (5) permeabilidade ao gás). Este perfil corresponde a
R (273.15 + T ) uma seção do ramal de distribuição do gás, situado
na BR-101, em Jaboatão dos Guararapes, no Estado
onde R é a constante dos gases perfeitos. de Pernambuco. Durante a investigação geotécnica,
foi detectada a presença do nível d’água a uma
As equações constitutivas relacionam direta ou profundidade de 1,50m em relação ao nível do
indiretamente as variáveis que aparecem nas terreno. O gasoduto segue paralelo a uma avenida
equações de conservação com as incógnitas do com duas pistas de rolamento, pertencendo ao plano
problema e introduzem a dependência do tipo de de simetria que separa as pistas e localizado a uma
material. As equações constitutivas do problema profundidade de 1,20m, logo acima do nível d’água
aqui apresentado estão listadas na Tabela 1. O inicial.
problema hidráulico de modelagem de fluxo No perfil da Figura 9 pode-se ver destacado em
multifásico tem como equação constitutiva vermelho a região que define o domínio da
fundamental a Lei de Darcy, que dá o fluxo modelagem numérica, que vai desde o eixo do
volumétrico dos fluidos no meio poroso em função gasoduto até o acostamento no lado oposto da pista
de suas pressões. O fluxo de Darcy vem dado para de rolamento da direita. A consideração de simetria
água por: simplifica a geometria e diminui o tempo de cálculo
das análises.
q l = −K l (∇Pl − ρ l g ) (6) A análise bidimensional considera o vazamento
de gás linear e é computacionalmente mais barata
e para o gás por: que a tridimensional, permitindo estudar o
fenômeno de ponto de vista qualitativo através de
q g = −K g (∇Pg − ρ g g ) (7) diversas análises paramétricas. A análise
tridimensional é mais realista por considerar o
onde g é o vetor gravidade e os tensores de vazamento de gás pontual, no entanto é
condutividades hidráulicas para o líquido (Kl) e para computacionalmente muito mais cara.

650
Tabela 1. Equações Constitutivas do Problema Hidráulico
Equações Constitutivas Variáveis a serem determinadas Nomenclatura
Lei de Darcy fluxos de líquido e gás por advecção ql, qg
S l = f ( Pg − Pl )
Curva de retenção Graus de saturação de líquido e gás (Sl,Sg )
Sl + Sg = 1

Figura 9. Perfil analisado (destacando em vermelho a geometria do modelo numérico).

Os materiais considerados na modelagem Nesta figura, é importante observar as altas


numérica são o material de reaterro e solo permeabilidades medidas para a areia fina (amostra
superficial (amostra 5 no perfil geotécnico da Fig. 8) em relação aos demais materiais ensaiados. Neste
9), as camadas de areias argilosas de pequena caso, tendo em vista que o gás sempre irá escoar
espessura (amostras 6 e 7) e a camada de grande pelos materiais que oferecem menor resistência ao
fluxo (mais permeáveis), é de se esperar que boa
espessura de areia fina (amostra 8). Estes materiais
parte do gás proveniente do vazamento percole
foram identificados através da caracterização preferencialmente através da areia fina.
geotécnica do local e suas propriedades foram Os valores das permeabilidades intrínsecas e
obtidas a partir de ensaios in situ e de laboratório. porosidades utilizadas nas simulações numéricas
A determinação das permeabilidades dos solos é encontram-se listados na Tabela 2. As
de grande importância para a análise numérica de permeabilidades intrínsecas e relativas foram
fluxo multifásico. Na Figura 10, podem-se ver os obtidas a partir dos valores da Figura 10. Para os
resultados de uma série de ensaios de valores de saturação analisados, verificou-se que a
permeabilidade ao gás em função do grau de lei cúbica era adequada para as permeabilidades
saturação para amostras dos distintos materiais relativas do líquido (krl = Sl3) e do gás dada (krg = 1 -
envolvidos na modelagem numérica. Sl3).

Figura 10. Curvas de permeabilidade ao gás versus saturação de água (laboratório).

651
Tabela 2. Porosidades e permeabilidades dos materiais.
Materiais Porosidade Permeabilidade Intrínseca (m2)
Material de reaterro e solo superficial Kh = 4,28x10-13
0,300
(amostra 5) Kv = 4,28x10-13
Kh = 4,28x10-13
Areia argilosa (amostra 6) 0,355
Kv = 4,28x10-14
Kh = 3,025x10-13
Areia argilosa (amostra 7) 0,280
Kv = 3,025x10-14
Kh = 6,89x10-12
Areia fina (amostra 8) 0,406
Kv = 6,89x10-12

As curvas de retenção relacionam a sucção com o cálculo, considerou-se o limite esquerdo do domínio
grau de saturação de líquido e são muito importantes de estudo cortando o gasoduto pela metade. A pista
para o problema hidráulico. As curvas adotadas para de rolamento foi incluída na geometria do modelo
os diferentes materiais nas análises numéricas estão numérico como um material de permeabilidade
apresentadas na Figura 11. praticamente nula.
A malha de elementos finitos utilizada para
3.2.2 Análise Bidimensional descrição do problema é uma malha bidimensional,
relativamente fina, com 2723 nós e 2775 elementos.
3.2.2.1 Descrição da análise Trata-se de uma malha mista, com 2444 elementos
quadriláteros e 331 triangulares (Figura 13). Os
A partir do perfil geotécnico adotado na Figura 9,
elementos triangulares foram usados para se obter
definiu-se a geometria para o modelo numérico
bidimensional ilustrada na Figura 12. Para uma melhor adaptação do contorno circular do
simplificar a geometria e diminuir o tempo de gasoduto.

Areia argilosa
0.1
sucção (MPa)

0.01 Areia fina

0.001
Material de reaterro e
solo superficial
0.0001

0.00001
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Grau de saturação
Figura 11. Curvas de retenção adotadas para os materiais.

Pista de Rolamento

Material de reaterro e solo superficial (amostra 5) Camada impermeável (base e subbase compactada)

Areia fina
(amostra 8)

Figura 12. Geometria do modelo bidimensional (corresp. a área em vermelho na Fig. 9).

652
(a)

(b)
Figura 13. Malha de elementos finitos utilizada na simulação bidimensional:
a) malha completa (2775 elementos e 2723 nós); b) detalhe da região próxima ao duto.

Como condições iniciais, adotou-se o perfil de sucção e grau de saturação são coerentes com as
distribuição geostática de pressão de líquido determinadas in situ. O nível d’água inicial no
indicada na Figura 14. A pressão de gás inicial é modelo numérico também é o mesmo verificado em
igual a atmosférica (0,1MPa). Disto resulta na
campo (ver Fig. 9). O limite inferior da malha de
distribuição inicial de grau de saturação de líquido
mostrada na Figura 15. As distribuições iniciais de elementos finitos está abaixo do nível d’água inicial.

Figura 14. Distribuição de pressão de líquido no início da análise.

Figura 15. Distribuição de grau de saturação de líquido no início da análise.

653
Como condições de contorno foram adotadas as No ponto A de entrada de gás natural,
indicadas na Figura 16, a saber: considerou-se o furo na parte superior da tubulação,
que é a situação mais desfavorável ao escape de gás
● Fronteira A: Ponto de injeção de gás natural para a atmosfera, já que o furo está localizado o
no subsolo, que corresponde a um furo mais próximo possível da superfície do terreno. Para
na parte superior da tubulação, através do simulação bidimensional, adotou-se uma pressão de
qual ocorre o vazamento; injeção de gás no ponto A igual a 0,15 MPa que é
● Fronteira B: Saída de gás para a atmosfera mais baixa que a pressão interior do gasoduto (~1,7
MPa), pois se admitiu que há uma considerável
através do solo superficial;
perda de carga do gás natural que atravessa a parede
● Fronteira C: Ponto de escape de gás para do tubo através do furo. Nas fronteiras B e C de
atmosfera, no acostamento, do outro lado da escape de gás para a atmosfera, a pressão de gás é
pista. fixada em 0,1 MPa (atmosférica).

B
C
A

Figura 16. Condições de contorno.

3.2.2.2. Resultados Através da modelagem numérica também é


possível calcular a quantidade de gás que está sendo
A seguir são apresentados os resultados das injetado e que está escapando para a atmosfera pelas
simulações numéricas com o CODE_BRIGHT para fronteiras A, B e C do domínio do problema. Estas
a análise bidimensional. O tempo total da mesma foi vazões foram calculadas e, no estacionário, os
de 10 dias, tempo suficiente para se atingir o valores encontrados são:
estacionário.
Na Figura 17, observa-se a distribuição do grau ● Fronteira A: entra no domínio gás a uma vazão
de saturação no regime estacionário de fluxo. Esta de 0,8984 g/s
figura pode ser comparada com a Figura 15, que dá ● Fronteira B: sai do domínio gás a uma vazão de
a distribuição inicial da saturação de líquido. A 0,7172 g/s
injeção de gás seca o solo nas imediações do ● Fronteira C: sai do domínio gás a uma vazão de
gasoduto, deslocando a água para zonas mais 0,1812 g/s
afastadas deste. Neste processo, o nível d’água é
rebaixado nas imediações do gasoduto. Quando se atinge o regime estacionário, toda a
Observa-se, também, na Figura 17 que a parte vazão de gás que entra pelo furo no gasoduto
superior da areia fina (amostra 8) seca
consideravelmente, indicando que esta zona é uma (fronteira A) será igual à soma do que sai do
zona de passagem do gás. Este fato pode ser domínio para a atmosfera (fronteiras B e C). Para
comprovado analisando-se a Figura 18, que mostra este caso estudado, verifica-se que a fronteira B é
os vetores de fluxo de gás quando se atinge o regime responsável por 80% da saída de gás proveniente do
estacionário. No detalhe da zona próxima ao vazamento para atmosfera. A fronteira C é
gasoduto, pode-se observar que o gás injetado no responsável por 20% do escape de gás para a
ponto superior do tubo segue preferencialmente atmosfera.
duas direções: para cima, em direção à superfície do Para o perfil em estudo, verificou-se que umas
terreno, devido a sua baixa densidade; e das variáveis básicas que controla a porcentagem de
lateralmente através da areia fina, neste caso porque saída de gás pelas fronteiras B e C é a relação entre
a areia fina (amostra 8) é mais permeável que o as permeabilidades do material de reaterro e solo
material de reaterro e solo superficial (amostra 5). superficial (amostra 5) e a areia fina (amostra 8).
Na Figura 18 pode-se ver que o gás escoa pela Quanto mais impermeáveis forem o solo superficial
parte superior da areia fina, que está acima do nível e o material de reaterro, maior a porcentagem de gás
d’água e, por isso, não saturada, sendo mais que escapará para a atmosfera pela fronteira C, no
permeável ao gás. O gás só consegue atingir a acostamento, do outro lado da pista.
superfície do terreno no acostamento, do outro lado Portanto, uma caracterização geotécnica do
da pista, depois de seguir horizontalmente pela areia material de reaterro e das camadas dos solos
fina (amostra 8), abaixo das camadas de areia superficiais são de fundamental importância no
argilosa (amostras 6 e 7) e da base e subbase cálculo da vazão de escape de gás para a atmosfera.
compactadas da pista (fronteira impermeável). Estes Elementos de proteção do gasoduto como placas de
últimos impedem o fluxo ascendente para a concreto também afetarão o regime de fluxo de gás
superfície do terreno. no subsolo.

654
Figura 17. Distribuição do grau de saturação da fase líquida no final da análise quando já se alcança o regime
estacionário.

(a) Toda a mallha.

(b) Detalhe do lado esquerdo da malha.

(c) Detalhe do lado direito da malha.


Figura 18. Vetores de fluxo de gás na malha de elementos finitos quando se alcança o regime estacionário.

3.2.3 Análise Tridimensional problema de vazamento de gás em condições


tridimensionais, que exigem muito mais recursos
3.2.3.1 Descrição da análise computacionais e são mais representativas da
realidade de campo (injeção pontual de gás) que as
O objetivo da análise é mostrar que a ferramenta condições bidimensionais (injeção linear). Os
numérica CODE_BRIGHT é capaz de resolver o resultados desta análise não são comparáveis com os

655
da seção anterior por tratarem-se de problemas com a geometria do gasoduto nem se refina tanto suas
condições de contorno diferentes. imediações como se fez no caso bidimensional.
Na análise tridimensional são consideradas as
mesmas condições iniciais adotadas na análise Como condições de contorno foram adotadas as
bidimensional. Otimizando o problema visando a indicadas na Figura 20, a saber:
economia de recursos computacionais, algumas
simplificações são introduzidas na geometria e ● Fronteira A: Ponto de injeção de gás natural no
discretização da malha de elementos finitos. Estas subsolo, que corresponde a um furo na
simplificações são descritas a seguir. tubulação através do qual ocorre o
Os materiais considerados na modelagem vazamento;
numérica foram apenas o material de reaterro e solo ● Fronteira B: Saída de gás para a atmosfera
superficial (amostra 5 no perfil geotécnico da Fig. 1) através do solo superficial;
e a camada de grande espessura de areia fina ● Fronteira C: representa uma fronteira
(amostra 8). As camadas de areias argilosas de suficientemente longe do ponto de injeção ou
zona de escape do gás pelo acostamento da
pequena espessura (amostras 6 e 7) e a pista de
pista.
rolamento não foram incluídas na geometria do
modelo numérico tridimensional por serem O gás é injetado no ponto A a uma pressão de
praticamente impermeáveis ao gás. 0,30MPa. Na fronteira B, a pressão de gás é fixada a
A malha de elementos finitos utilizada é uma 0,1MPa, igual à pressão atmosférica. Na fronteira C,
malha tridimensional, relativamente fina, com 7024 impõe-se uma distribuição geostática para a pressão
nós e 5685 elementos, constituída apenas por de líquido (igual à inicial), fixando a pressão de gás
elementos do tipo “brick” (Fig. 19). Não se detalha a 0,1MPa.

(a) vista tridimensional

(b) vista bidimensional

Figura 19. Malha de elementos finitos utilizada na simulação:

Figura 20. Condições de contorno.


656
3.2.3.2. Resultados apresentados os vetores de fluxo de gás quando se
atinge o regime estacionário. Nesta figura, é
Os resultados das simulações numéricas com o relevante observar que o gás injetado no ponto
CODE_BRIGHT para a análise tridimensional são superior do tubo segue preferencialmente duas
apresentados a seguir. O tempo total da mesma foi direções: para cima, em direção à superfície do
de 10 dias, tempo suficiente para se atingir o terreno, devido à baixa densidade do material de
estacionário. reaterro e solo superficial (amostra 5); e
Na Figura 21, observa-se a distribuição do grau horizontalmente através da areia fina até atingir a
de saturação no regime estacionário de fluxo. Pode- fronteira C. Percebe-se também nesta figura que
se verificar que, assim como no caso bidimensional, ocorre uma maior saída de gás pela face B em
há uma redução da saturação nas imediações do comparação à fronteira C. O mesmo foi observado
ponto de injeção de gás. Na Figura 22 estão no caso bidimensional.

Figura 21. Distribuição do grau de saturação da fase líquida no final da análise, quando já se alcança o
regime estacionário.

(a)

(b) (c)
Figura 22. Vetores de fluxo de gás na malha de elementos finitos quando se alcança o regime estacionário: a)
toda a malha; b) detalhe central; c) detalhe do lado esquerdo.

657
3.3. Cnsiderações finais Guimarães, L. do N., (2002). Análisis multi-
componente no isotermo en medio poroso
Neste artigo demonstrou-se a aplicabilidade do deformable no saturado. PhD thesis,
programa de elementos finitos CODE_BRIGHT ao Departamento de Ingeniería del Terreno,
problema de vazamento de gás em gasoduto Universidad Politécnica de Cataluña,
enterrado. O programa é capaz de descrever o fluxo Barcelona, España.
de gás na zona não saturada assim como mostra que Jucá, J.F.T. (1993). “Flow properties of unsaturated
o gás é capaz de deslocar a água, secando o solo e soils under controlled suction”. ASCE
rebaixando o nível d’água. Ambos os regimes de Geotechnical Special Publications 39, pp.151-
fluxo transiente e estacionário são considerados nas 162, USA.
análises numéricas. Jucá, J.F.T e Maciel, F.J. (1999). “Permeabilidade
Com este tipo de análise, é possível obter a ao gás de um solo compactado não saturado”.
trajetória do gás no subsolo proveniente de um Anais do 4º Congresso Brasileiro de Geotecnia
vazamento em gasoduto enterrado. Foram feitas Ambiental, São José dos Campos, SP, pp. 384-
análises bi e tridimensional nas quais foram 391.
consideradas pressões de injeção de gás natural no Maciel, F.J. (2003). “Estudo de geração, percolação
subsolo iguais a 0,15 e 0,30MPa, respectivamente. e emissão de gases no Aterro de Resíduos
Mostrou-se que o gás pode entrar em contato com a Sólidos da Muribeca/PE”. Dissertação de
atmosfera em diferentes pontos da superfície do Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco.
terreno. Estes possíveis pontos de escape vão Maciel, F.J. e Jucá, J.F.T (2002). “Gases monitoring
depender das características do perfil geotécnico methodology applied in Muribeca Solid Waste
estudado, entre elas, a geometria do perfil, as Landfill.” Proceedings of The Fourth
propriedades geotécnicas dos materiais International Congress on Environmental
(permeabilidade e retenção) e a posição inicial do Geotechnics, Rio de Janeiro, Brazil.
nível d’água. Neste sentido, cada perfil geotécnico Maciel, F.J. e Jucá, J.F.T. (2000). “Laboratory and
se constituirá num cenário diferente para o problema field test for studying gas flow through MSW
de escape de gás do subsolo para a atmosfera. landfill cover soil.” ASCE Geotechnical Special
Em particular, os resultados numéricos Publication, Number 99, pp. 569-585.
mostraram que o material de reaterro da vala, onde é Olivella, S., 1995. Nonisothermal Multiphase Flow
colocado o gasoduto, e o solo de cobertura são of Brine and Gas Through Saline Media. PhD
fundamentais na determinação das trajetórias thesis, Departamento de Ingeniería del Terreno,
preferenciais do fluxo de gás natural no subsolo. Universidad Politécnica de Cataluña,
Neste caso, um detalhado estudo dos parâmetros Barcelona, España.
geotécnicos destes materiais deve ser realizado de Praça, E. R., 2003. Distribuição de gás natural no
forma a permitir que os resultados numéricos Brasil: um enfoque crítico e de minimização de
possam ser quantitativamente interpretados. custos. Mestrado em Engenharia de
Transportes, Centro de Tecnologia,
4. REFERÊNCIAS Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
Brasil.

658
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Empurrando a teoria da mecânica dos solos não saturados para a


prática

Marinho, F.A.M.
Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil, fmarinho@usp.br

Resumo: Existe uma discussão permanente entre os profissionais que trabalham com solos não saturados,
tanto na indústria como nos centros de pesquisa, que é a dificuldade encontrada na aplicação dos conceitos
da mecânica dos solos não saturados (MSÑS) na prática da engenharia. Muitos dos profissionais da indústria,
embora trabalhem com solos não saturados, não aplicam nenhum conceito teórico nas soluções ou
equacionamentos dos problemas. O Brasil é um dos países com maior desenvolvimento científico na área
dos solos não saturados e ainda assim, é comum se questionar a razão da pouca visualização da teoria
existente na prática. O trabalho aqui apresentado objetiva apresentar alguns conceitos sobre o conhecimento
científico que possam ser usados na reflexão do problema. O problema é: Como levar a teoria da MSÑS para
a prática da engenharia?

Abstract: There is a permanent discussion among professionals that are working in the industry or at
research centres about the difficult in applying the concepts of the Unsaturated soil Mechanics (USM) in the
engineering practice. Most of the professionals from the industry that work with unsaturated soils, does not
apply any theoretical concept to the solution or in the equation of the problems. Brazil is one of the countries
with greater scientific development in the area of USM and, still it is common to question the reason of the
little visualization of the existing theory in practice. The objective of this paper is to present some concepts
about scientific knowledge that could be used in the reflection of the problem. The problem is: How to take
the theory of the MSÑS into the practice of engineering?

1. INTRODUÇÃO parte do todo que existia a ser distribuído, vou me


atrever a discorrer sobre quais os caminhos a serem
Peck (1969) na sua Rankine Lecture reconhece a seguidos para ajudar a “empurrar” a teoria para a
dificuldade que tiveram ele e Terzaghi para escrever prática na mecânica dos solos não saturados
sobre a prática da mecânica dos solos no conhecido (MSÑS).
livro “Soil mechanics in engineering practice.” A teoria nada mais é do que uma ferramenta para
Embora, no livro poucos aspectos relativos à se avaliar o comportamento no futuro (previsão do
mecânica dos solos não saturados tenham sido comportamento), e a prática é aquilo que irá testar
abordados, Terzaghi e Peck (1967) apresentaram as teorias conhecidas e definir quais delas irão ser
comprovadas ou abolidas. Obviamente que existirão
considerações importantes sobre o comportamento
aquelas que poderão ser modificadas e novamente
dos solos não saturados. testadas. Veremos que não podemos separar, de
Logo percebi que o assunto que me propus a forma tão absoluta, a teoria da prática.
tratar neste artigo exigiria muito mais reflexão e Serafim (2001) chama atenção para a falácia da
estudo do que o que dediquei a ele. Em muitos dicotomia teoria-prática. Embora o seu artigo trate
aspectos a questão geral sobre o uso da teoria na da questão sob ótica social (que também deve estar
prática foi abordada por diversos pensadores. presente na análise de engenharia) podemos extrair
Saliento que no rol de pensadores incluo todos que pensamentos úteis ao nosso desejo de “empurrar” a
possuem bom senso. No entanto, esta inclusão exige teoria da mecânica dos solos não saturados para a
uma observação feita por Descartes, no seu prática.
“Discurso sobre o método.” “Bom senso é o que O que vem a ser usar uma teoria na prática? Esta
existe de melhor dividido no mundo...” (Descartes, é uma questão difícil de ser respondida. Embora o
1637). Embora muitos não se achem com habilidade segundo parágrafo responda indiretamente a este
no futebol, música ou outra coisa qualquer, ninguém questionamento, julgo ser útil uma análise, ainda
acha que não tem bom senso. Com a ressalva que que teórica, das ligações da prática com a teoria e a
vou utilizar o bom senso, que me foi dado como necessidade desta ponte.
659
Quando ministramos aulas usamos muito de deduções indutivas. “Que corvos são negros eu
nossas convicções e experiências para ilustrar o que sei porque vi (empiria) vários corvos até hoje, e
queremos ensinar. Este aspecto também existe no todos eram pretos. São os conhecimentos a
engenheiro que pauta sua atividade na aplicação, ou posteriori (ganhos através da experiência)”
seja na prática da engenharia. A prática neste caso (Imaguire, 2000).
pode ser subdividida em: projetos, obras e • Conhecimento por autoridade – São
consultorias. Quando estamos diante de um conhecimentos que obtemos de fontes que
problema de engenharia a abordagem teórica julgamos seguras. Ou seja vem de uma fonte que
geralmente nos leva a uma análise das diferentes está a princípio numa condição de conhecimento
partes que compõem o problema em questão. Capra superior a nossa. O fato de se saber que Manoel
(1982) sugere que não se é ecologicamente correto Bandeira foi um poeta Pernambucano não é um
quando se trata dos problemas de forma a separá-los conhecimento inato (ninguém nasceu sabendo
do todo. Na geotecnia temos, na maioria das vezes, isto) nem empírico (ninguém de nós viu ele
que tratar do problema como um todo e não nascer). Pode-se concluir que este conhecimento
separando-o em pequenos problemas. No caso da é “obtido” por meio de outros.
MSÑS isto fica mais evidente pois a interação com • Conhecimento por revelação divina – É óbvio que
o meio ambiente envolve muitas vezes outras áreas de todos, este é o que mais gera polêmica.
do conhecimento. A dificuldade em equacionar os Algumas pessoas afirmam que sabem de algo
problemas na geotecnia nos leva muitas vezes a porque Deus revelou isto a elas.
caminhos tortuosos, separando a teoria da prática. É
possivelmente daí que vem o procedimento do Se chover amanhã poderá haver rupturas em
engenheiro considerado “prático” que age no muitos taludes da cidade. Esta convicção temos nós
sentido de resolver baseado na sua experiência e os leigos. No entanto, os engenheiros geotécnicos
profissional, sem equacionar adequadamente o podem avaliar quais os taludes que estão mais
problema antes de definir a solução. sujeitos à ruptura. Os que possuem conhecimentos
O que deixa claro a existência de uma tendência da MSÑS poderão ir além e identificar detalhes ou
harmonizante entre a teoria e a prática é que nem sugerir soluções que outros não saberiam justificar.
sempre o mesmo lado vence e assim um se apóia no
outro. Ou seja, é uma questão de “Traduzir uma 3. OS OBJETIVOS DA ENGENHARIA
parte na outra parte...” (do poema de Ferreira
Gullar). Esta é uma questão importante e difícil. Creio que seja necessário agregarmos à teoria
É preciso traduzir falhas (rupturas) em sobre o conhecimento os objetivos da engenharia,
conhecimentos. É preciso traduzir conhecimento para que possamos traduzir de forma mais adequada
consolidado (de todos os tipos) em solução de a teoria na prática.
problemas. Os objetivos que devem ser perseguidos pelo
engenheiro podem ser sumarizados nos seguintes:
2. TIPOS DE CONHECIMENTO
• Atender a sociedade
Imaguire (2000) apresenta uma divisão do • Reduzir custos
conhecimento repartindo-o em quatro grupos. • Garantir a segurança
Podemos usar estes grupos para chegarmos na • Reduzir prazos
questão principal que é: Por que não se aplicam
mais os conceitos da mecânica dos solos não Para isto o perfil do engenheiro não é diferente do
saturados na prática? Por que não é feita uma maior de nenhum profissional de qualquer área.
tradução de uma parte na outra parte? Assim, faz parte de nossa capacitação:
Os grupos do conhecimento são:
• Conhecermos a nossa sociedade de forma a
• Conhecimentos inatos – Estes conhecimentos podermos compreender e orientar soluções.
independem da experiência. Também são • Preparar planos detalhados e especificações.
chamados de conhecimentos a priori • Desenvolver pesquisas.
(independentes da experiência). É aí que podemos • Realizar análises detalhadas.
ver que ninguém nasce com conhecimentos inatos • Preparar relatórios com clareza.
suficientes para ser um engenheiro e por isto • Apresentar recomendações e planos.
necessitamos de um ensinamento. Platão citava • Ter habilidade de analisar situações e tomar
que aprender é recordar uma verdade que já está decisões
dentro de nós. Mas cuidado, pois muitas idéias
são “intuitivamente” rejeitadas ou aceitas por nós. É fácil percebermos que tamanhas atribuições e
• Conhecimentos empíricos – Estes são adquiridos capacitações são difíceis de se ter em um só
por nossos sentidos, ou seja, visão, audição, etc.. profissional, embora sejam desejadas. Ao
São conhecimentos que acumulamos por observarmos a lista de capacitação veremos que
660
muitas delas exigem aspectos teóricos e outros • A agronomia
práticos. Em outras palavras, alguns exigem um • A química
conhecimento empírico outros por autoridade. • A biologia
• A engenharia de saneamento
4. O QUE TEM DE DIFERENTE A MSÑS • A hidrologia

A mecânica dos solos não saturados tem sido Os projetos que envolvem solos dependem
apresentada de duas formas distintas. Uma sugere fundamentalmente de aspectos ambientais naturais e
uma nova conceituação e assim cria uma barreira antrópicos, independentemente do solo ser saturado.
natural à difusão do conhecimento. A outra forma, É por isto que a geotecnia é inevitavelmente
ao contrário, tenta demonstrar que a estrutura da ambiental. Quando se trata de solos não saturados as
MSÑS é a mesma e que integra à esta estrutura causas de problemas e mesmo as soluções, são
existente aspectos novos e, principalmente, muitas vezes difíceis de serem compreendidas sob a
parâmetros e variáveis novas. ótica usual. Na Figura 1 apresenta-se uma série de
A interação com o meio ambiente é o aspecto obras de engenharia onde a MSÑS pode ser
mais importante para se entender as diferenças aplicada, e um fluxograma do caminho ideal para se
existentes entre a abordagem tradicional e a da obter as ferramentas de análise das soluções de um
MSÑS. O solo funciona como um elemento vivo problema na engenharia geotécnica.
que reage às condições climáticas e do meio Estas ferramentas são as informações que
ambiente em que está inserido. Por envolver o clima devemos obter para melhor embasar nossa solução.
e por muitas vezes exigir a compreensão de fatores Obviamente que nem todas as ferramentas (ensaios,
ambientais que estão ligados a outras áreas do análise numéricas, medição de sucção etc..) podem
conhecimento, deve-se ter em mente que a MSÑS ser obtidas em todos os casos. Muitas vezes a
possui uma elevada multi-disciplinaridade. obediência a um dos objetivos da engenharia (e.g.
Dentre as várias ciências que interagem com a custos, tempo, etc..) força a retirada de algumas
MSÑS, estão: destas ferramentas de análise do problema. Deve-se
ter em mente que esta redução na obtenção das
• A termodinâmica ferramentas de análise vem sendo levada a extremos
• A climatologia perigosos.

Barragens – Taludes - Aterros de resíduos sólidos - Estocagem de material granular


Fundações - Contenções - Campos de golfe – Ensaios de campo Etc…

Fluxo
Definição do problema Resistência
Compressibilidade

Investigação de campo

Ensaios para obtenção de parâmetros Medição do estado de tensão

Aspectos ambientais Análise numérica

Análise do problema

Figura 1 – As diversas aplicações para a MSÑS e o fluxograma de ferramentas de análise de problemas e


projetos.
661
5. O TRIÂNGULO DA MECÂNICA DOS SOLOS dos solos o aspecto que se relaciona com o meio
ambiente. Este aspecto possui suas próprias teorias e
No primeiro congresso internacional de mecânica empirismos, também com graus variados de
dos solos realizado em Paris em 1995, o Professor metodologia e rigor. Na Figura 3 apresenta-se a
Burland apresentou um conceito que ele usualmente pirâmide da MSÑS, que inclui o meio ambiente
utiliza nas suas aulas. Trata-se do triângulo da como um aspecto importante na compreensão da
mecânica dos solos. O objetivo do conceito é MSÑS.
chamar a atenção para quatro aspectos da mecânica
dos solos:
Perfil
• Perfil do subsolo do subsolo

• Comportamento do solo
• Modelagem
• Empirismo
Experiência Adquirida
(Empirismo)
Os três primeiros aspectos formam os ápices do Comportamento
do solo
triângulo e o empirismo localiza-se no centro. A
Figura 2 ilustra a idéia. Conforme enfatizado por Meio ambiente

Burland (1995) todos os quatro aspectos possuem


um papel vital na mecânica dos solos. Salientando Modelagem
que cada um possui sua metodologia e seu rigor. É
importante que se faça uma perfeita distinção entre
eles, mas deve-se, ao mesmo tempo reconhecer que Figura 3 – A pirâmide da MSÑS
eles estão ligados. Burland (1995) enfatiza que é
necessário manter o triângulo em equilíbrio. 6. DEFINIÇÃO DOS PROBLEMAS NA MSÑS
Chamaremos atenção apenas para o centro do
triângulo, que reúne aspectos importantes para o Existem várias formas de se enfocar um problema
tema aqui abordado. Burland (1995) destaca que e dentre elas destacam-se a maneira indutiva, a por
tendo em vista o grau de complexidade do subsolo, analogia e a dedutiva.
o empirismo é inevitável e representa um aspecto Não nos cabe aqui defender uma ou outra forma
essencial da mecânica dos solos, embora muitas de argumento, mas é interessante termos em mente
vezes existam abusos. as distinções entre estes raciocínios. Muitas vezes
Francis Bacon acreditava que o conhecimento só aplicamos um ou outros destes argumentos sem
poderia vir de algo que tivesse raízes no empirismo. mesmo nos darmos conta disto.
Não precisamos chegar a tanto, mas o uso do A melhor forma de apresentarmos estas
empirismo como produto de um conhecimento bem definições é por meio de exemplos, então vejamos:
estabelecido pode ser bastante confiável. Porém é
necessário se saber perfeitamente a base originária • Argumento indutivo – As areias são permeáveis à
do empirismo utilizado. Este aspecto precisa ser água, as argilas são permeáveis à água, as areias
lembrado aos “práticos radicais”. argilosas são permeáveis à água, logo todo
material poroso é permeável à água. Partimos do
particular para o geral.
Perfil • Argumento analógico – Se duas areias possuem
do subsolo
curvas granulométricas semelhantes e só se
Investigação de campo
conhece a curva de retenção de uma delas, pode-
se dizer que a curva de retenção da segunda será
Experimentos, ensaios
e medições de campo
Idealização, modelagem, semelhante a da primeira. Através dele não se
análise
chega a uma conclusão geral e sim específica.
Empirismo • Argumento dedutivo – Se é uma verdade que os
humanos são falíveis e Terzaghi era um ser
humano, temos que aceitar que Terzaghi era
Comportamento
do solo
Modelagem falível. Parte-se de verdades gerais para afirmar
algo particular.

Figura 2 – O triângulo da Mecânica dos Solos Na geotecnia certamente temos de fazer uso de
(modificado de Burland, 1995). uma combinação destes argumentos.
Ao se falar em MSÑS é comum ouvirmos a
A análise apresentada por Burland (1995) traduz palavra sucção. A sucção é sempre associada,
bem onde a prática encontra-se com a teoria. No corretamente a MSÑS. No entanto, deve-se ter em
entanto podemos adicionar ao triângulo da mecânica mente que é a água e sua distribuição que “cria”
662
características distintas nos solos e materiais investigação deve ser extremamente bem feita e
porosos em geral. Muitas vezes não precisamos da detalhada. Deve-se levar em conta que na MSÑS
sucção para resolver problemas ou mesmo analisá- a caracterização do solo exige alguns parâmetros
los. Em alguns casos não se pode medir a sucção. diferentes do convencional).
Esta introdução à definição dos problemas é • Estabelecer as condições mais prováveis e mais
necessária para desmistificar o uso da sucção como desfavoráveis (a condição mais desfavorável é o
elemento indispensável da MSÑS. que tem levado a análise sob a ótica dos solos
Pode-se imaginar que as dificuldades de uma saturados. O clima tem papel fundamental neste
maior aplicação dos conceitos da MSÑS estejam aspecto).
relacionadas com os seguintes aspectos: • Escolha dos parâmetros que devem ser
monitorados durante a construção e vida útil da
• A visão do problema é sempre baseada na obra (tanto pode-se monitorar a sucção como, em
mecânica dos solos clássica (embora seja alguns casos o teor de umidade)
necessário o conhecimento!) • Ter em mente sempre uma alternativa que
• Imagina-se sempre que seja necessário medir o responda às observações feitas por meio da
estado de tensões (A determinação da sucção monitoração da obra (compreender os
pode ser uma tarefa difícil e desnecessária) mecanismos associados aos solos não saturados é
• Imagina-se que os parâmetros são difíceis de fundamental neste aspecto).
serem obtidos e a análise é complexa (Será que
escolhemos os ensaios corretos para a solução dos 7. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
problemas?)
• É necessário se ter uma “educação” para o Em geral se o material é poroso existe a
problema. Temos de ser “ensinados” sobre os possibilidade do mesmo estar no estado não
conceitos da MSÑS. saturado. Estando na condição não saturada a
pressão de água é negativa. Em alguns casos mesmo
Albert Einstein fez uma observação que é ao com o solo saturado tem-se pressão negativa na
mesmo tempo confortante e desanimadora. Ele água.
disse: “A formulação de um problema é O primeiro questionamento que é usual de se
freqüentemente mais fundamental do que a sua ouvir é: A sucção não pode ser garantida, logo não
solução”. E ele ainda acrescentou: “levantar novas temos como considerá-la.
questões, novas possibilidades para problemas De fato a sucção não pode ser garantida mais se
antigos, mas sob uma nova ótica requer uma pode saber qual a sua faixa de variação levando em
imaginação criativa e marca o avanço real da conta o clima onde o projeto será feito. Vieira e
ciência.” Marinho (2001) apresentam dados de medição de
Como podemos concluir, não é nada fácil definir sucção em um talude de solo residual na cidade de
adequadamente um problema. No entanto, alguns São Paulo onde foi possível definir que no período
elementos facilitadores podem ser levantados, quais de um ano pôde-se contar com um valor de sucção
sejam: significativo para manter o talude de pé. Da mesma
forma que se trabalha com tempo de recorrência em
• Com os aspectos relativos aos fenômenos da hidrologia devemos ter em mente que na MSÑS
mecânica dos solos não saturados em mente, também deve ser assim. O mesmo raciocínio se
pode-se facilitar a elaboração do cenário que aplica para o caso de obras de fundação. Lembrando
define o problema a ser analisado que em se tratando de um solo homogêneo existe
• Existem muitas técnica que permitem medir ou sempre a possibilidade de se trabalhar com o teor de
inferir a sucção. O uso da curva de retenção de umidade e não com a sucção.
água é um grande facilitador. Cada vez mais os No caso de barragem ou aterros é comum a
ensaio estão sendo simplificados e o uso da curva preocupação com o desenvolvimento de pressões
de retenção tem colaborado para uma avaliação positivas construtivas. Inúmeros estudos com solos
rápida de diversos aspectos do comportamento brasileiros mostram que existem solos que mantêm
dos solos não saturados. A análise numérica tem um significativo valor de sucção mesmo quando o
sido uma maneira rápida de se avaliar os nível de tensão total é elevado.
problemas com o enfoque: “o que acontece se?” No que se refere a fluxo a MSÑS possui inúmeras
ferramentas para uma melhor adequação de projetos
Não podemos deixar de destacar que o método onde o fluxo é eminentemente em meio não
observacional proposto por Peck (1969) é saturado. Em particular os casos de armazenamento
plenamente aplicável a MSÑS, e podemos destacar de resíduos, industriais ou urbanos. A MSÑS é
os seguintes aspectos: integralmente ambiental.
Adquirindo conhecimento podemos ampliar a
• Investigação (segundo Peck há necessidade de ser nossa capacidade de equacionar o problema o que
detalhada, mas dependendo do tipo de obra esta nos permitirá ter uma maior probabilidade de
663
resolvê-lo. Assim, problemas que envolvam o que não sabemos.
materiais porosos em geral podem ser equacionados
usando-se os conceitos da MSÑS. 9. REFERÊNCIAS

8. CONCLUSÕES Burland (1995) – Closing session – First


International Conference on Unsaturated
Concluir um artigo como este é tarefa difícil e Soils – Vol 3 – pp. 1562 – 1564. Paris.
arriscada. Por isto gostaria de embasar a minha Capra, F. (1982) – O Ponto de Mutação –
conclusão em duas frases de autores desconhecidos Editora Cultrix – 445p.
por mim, quais sejam: “Existe cada vez mais um Descartes, R. (1637) – Discurso sobre o método
número alarmante de coisas que não se sabe nada a – (traduzido por Torrieri Guimarães) -
respeito”, e “Existem, pelo menos duas maneiras de Editora Hemus – 100p.
se passar facilmente pela vida, acreditar em tudo ou Imaguire, G. (2000) – Conhecimento
duvidar de tudo; as duas nos faz economizar http://www.filosofos.com.br/index.htm
raciocínio.” Peck, R. B. (1969) – Advantages and
Pouco do conhecimento inato pode ser usado para limitations of the observational method in
o uso prático da MSÑS. O conhecimento empírico applied soil mechanics – Nith Rankine
deve ser obtido e transmitido de forma clara e Lecture – Géotechnique, 19 – n.2 – 171-187.
deixando absolutamente clara as suas limitações. O Serafim, M. C. (2001) – A falácia da dicotomia
conhecimento por autoridade deve ser o maior teoria-prática – Revista Espaço Acadêmico –
difusor da MSÑS. Assim é necessário que seja Ano 1 - no 7 – ISSN 15196186.
incluído nos currículos dos cursos de engenharia o Terzaghi, K. e Peck, R. B. (1967) – Soil
enfoque da MSÑS. Mechanics in Egineering Parctice – Wiley &
Desta forma podemos afirmar que a mecânica dos sons. 727p.
solos não saturados é e será aplicada na prática na Vieira, A. M. & Marinho, F. A. M. (2001) -
medida em que pudermos ter uma massa de Variação Sazonal de Sucção em um Talude
profissionais com capacitação suficiente para de Solo Residual em São Paulo - III
equacionar os problemas de forma a poder visualizar COBRAE - Rio de Janeiro - RJ.

664
Palestra:

Movimento de água e lixiviação de nitrato no solo

665
5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados 25 a 27/08/2004 – São Carlos/SP

Movimento de água e lixiviação de nitrato no solo

Libardi,
(1)
P.L.(1)
Professor Titular, Depto. de Ciências Exatas, ESALQ, USP, pllibard@esalq.usp.br

Resumo: O estudo do movimento da água e da lixiviação de nitrato no solo é de grande importância nos
sistemas agrícolas, uma vez que fornece elementos essenciais para o estabelecimento e aprimoramento de
práticas de manejo que visam a otimização da produtividade sem deixar de considerar a proteção do
ambiente. São levantados pontos relacionados a aspectos teóricos e metodológicos das propriedades de
condução e de retenção da água no solo, especificamente, a condutividade hidráulica em função do conteúdo
de água determinada, sob condições de campo, pelo método do perfil instantâneo e a curva de retenção
relacionada à qualidade física do solo. E, finalmente, apresentam-se exemplos de balanço hídrico no solo em
sistemas de cultivo irrigado e não irrigado e de lixiviação de nitrato utilizando nitrogênio fertilizante
enriquecido com 15N.

Abstract: The study of water movement and nitrate leaching in soils is of great importance in agrosystems,
since it provides essential elements to the establishment and amelioration of management practices that lead
to higher productivity, taking into account the environment protection. Theoretical and methodological
points are approached on water transmission and retention in the soil, specifically, a) the hydraulic
conductivity as a function of soil-water content determined by the instantaneous profile method, under field
conditions and b) the soil-water retention curve as related to the soil physical quality. Finally, examples are
presented on soil water balance studies in irrigated and non-irrigated crop systems and on nitrate leaching
using 15N enriched nitrogen fertilizer.

1.INTRODUÇÃO A água no solo é, na realidade, uma solução


aquosa de vários eletrólitos (K+, Ca2+, Mg2+, Cl-,
A água geralmente se encontra em movimento no NO 3− , SO 24 − , etc.) e outros componentes, pelo que o
solo. Quando se irriga uma determinada cultura conhecimento detalhado de sua dinâmica no solo,
agrícola, ou quando chove, a água penetra no solo e em condições de campo, notadamente durante o
redistribui-se no seu interior. Se a quantidade ciclo de uma cultura, é essencial para a
adicionada por estes processos exceder a capacidade quantificação do movimento e da lixiviação de
de infiltração do solo, o excesso move-se nutrientes e possíveis contaminantes no solo.
lateralmente sobre a superfície do solo. O O objetivo desta apresentação é analisar aspectos
conhecimento teórico-prático do deflúvio superficial relevantes no que respeita à determinação de
da água, da infiltração e da evapotranspiração, do parâmetros essenciais do solo e da solução no solo,
movimento da água no interior do perfil do solo, da para a quantificação do movimento da água e da
absorção da água pelas plantas, da drenagem, etc., é lixiviação de nitrato, com discussão de alguns
de extrema relevância para que se obtenha aumentos resultados obtidos em nosso país.
na produtividade dos cultivos e previna-se a
degradação do ambiente. 2. CURVA DE RETENÇÃO
A quantificação do movimento da água no solo,
tanto sob a condição de saturação como sob as de A água comporta-se de maneira diferenciada nas
não-saturação, tem sido feita pelas chamadas mais diversas classes de solo e nas diversas culturas.
equações de fluxo para regime estacionário Com a curva de retenção da água no solo ou,
(equação de Darcy-Buckingham) e para regime simplesmente, curva de retenção, o produtor, ao
transiente (equação de Richards). A aplicação dessas fazer o manejo da água, saberá quando e quanto
equações exige o conhecimento do conteúdo de exatamente de água deverá adicionar ao sistema de
água no solo, dos potenciais da água no solo e dos produção para suprir adequadamente a planta sem
coeficientes de transmissão de água do solo perda para fora do sistema radicular por drenagem
(condutividade e difusividade hidráulicas). interna.
667
Foi Buckingham (1907), em seu trabalho de função K(θ) a partir de dados de retenção da água
busca de uma equação para quantificar o movimento mais facilmente medidos no laboratório (Childs e
da água no solo sob condições de não-saturação, Collis-George 1950, Burdine 1953, Marshall 1958.
quem introduziu na ciência do solo essa relação Millington e Quirk 1961, Mualem 1976, Genuchten
entre o conteúdo de água e o potencial mátrico. A 1980). Sob condições de campo o método que mais
metodologia de determinação da curva de retenção tem sido utilizado para a determinação da função
teve seu início aparentemente, como o trabalho de K(θ) é o método do perfil instantâneo (Watson,
Haines (1930) que utilizou um funil munido de 1966) o qual passamos a descrever.
placa porosa na parte inferior do seu corpo com o
qual fixava valores de potencial mátrico ou tensão U (kg kg-1)
da água no solo e media os conteúdos de água
correspondentes após o equilíbrio. Por isso, o funil
0,25
de placa porosa comercial disponível no comércio é solo
não degradado
também chamado de funil de Haines (Libardi, 2000) 0,20
e é usado para determinação da parte mais úmida da
curva de retenção (valores de tensão menores que 10 0,15
kPa). Posteriormente, Richards (1941, 1947, 1949)
0,10
desenvolveu a câmara de pressão de placa porosa
para medida de tensões maiores (10 a 2000 kPa) 0,05
solo degradado
também conhecida pelo nome de câmara de pressão
de Richards. Atualmente, esses dois aparelhos são 0 1 2 3 4 5 Log|φm|, (hPa)
equipamentos de rotina para determinação da curva Figura 1: Curvas de retenção do mesmo solo sob
de retenção nos laboratórios de física do solo. duas situações: degradado e não-degradado;
Algumas variações do funil podem ser encontradas retirado de Dexter (2004).
(mas o princípio teórico é o mesmo) com os nomes
de, por exemplo, mesa de tensão, tanque de areia, 3. CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
etc. (Kutilek e Nielsen, 1994). É importante
esclarecer que a curva de retenção pode ser obtida Para aplicar este método no campo deve-se
por secamento ou por molhamento, resultando no escolher uma parcela de solo de área
fenômeno de histerese (Poulovassilis 1983, Klute suficientemente grande, de tal maneira que os
1986). Nesse contexto, para a utilização prática dos processos em seu centro não sejam afetados pelos
resultados, há necessidade de se especificar o ramo seus limites. Esta área deve ser convenientemente
da curva que se está utilizando (Moraes 1991). instrumentada para medida do conteúdo de água no
A curva de retenção completa de um solo (de 0 a solo e do potencial mátrico, ao longo do perfil, até a
1500 kPa), além de refletir o comportamento da profundidade de interesse. A superfície do solo é,
água no solo em termos de disponibilidade de água então, mantida com uma lâmina de água, de tal
para as plantas, é também o reflexo de propriedades modo que o perfil, até a profundidade de interesse,
físicas do solo importantes como textura, estrutura, se torne tão úmido quanto possível. Atingida esta
distribuição de poros, consistência, etc. (Sharma e condição, a qual pode ser percebida pela
Uehara, 1968; Reeve et al 1973; Rawls e Pachepsky, praticamente não variação do conteúdo de água e do
2002). Neste contexto, é importante citar o recente potencial mátrico com o tempo de infiltração ao
trabalho de Dexter (2004) a respeito da avaliação da longo do perfil, interrompe-se a infiltração e cobre-
qualidade física de um solo por meio da curva de se a superfície do solo com uma capa plástica, para
retenção. Basicamente, o que o autor faz é definir evitar a evaporação e a entrada de água através da
um parâmetro S que nada mais é do que o superfície. A água contida no perfil redistribui-se,
coeficiente angular da curva de retenção (expressa então, pelo processo de drenagem interna e, à
como o conteúdo de água no solo em função do
medida que este processo ocorre, medidas
logaritmo da tensão da água no solo) no seu ponto
periódicas de conteúdo de água e de potencial
de inflexão e que, com base em vários argumentos,
mátrico são feitas.
quanto maior S, em valor absoluto, melhor a
Sob essas circunstâncias, isto é, durante este
qualidade física do solo. Como ilustração, reproduz-
se, na Figura 1 abaixo, o exemplo apresentado pelo processo de redistribuição, procura-se com esse
próprio Dexter (2004) de duas curvas de retenção de método uma solução para a equação de Richards na
um mesmo solo degradado (ou compactado) e não- direção vertical. Para tanto, após o umedecimento
degradado. do perfil de solo e prevenção do fluxo de água
Além disso, no que respeita à condução da água através de sua superfície da maneira acima descrita,
pelos solos, a curva de retenção pode ser uma as seguintes condições inicial e de contorno podem
alternativa à determinação direta da condutividade ser utilizadas durante o processo de redistribuição:
hidráulica do solo K em função do conteúdo de água
no solo θ, isto é, pode-se calcular teoricamente esta t = 0 , z < 0 ou Z > 0 , θ o = θ o (Z) (1)

668
t > 0 , z = −∞ ou Z = ∞ , θ = θi (2) Nestas condições, por meio de medidas
simultâneas do conteúdo de água e do potencial total
∂φ t ao longo do perfil de solo durante o tempo de
t > 0 , z = 0 ou Z = 0 , K (θ ) =0 (3) redistribuição da água, determinam-se,
∂z respectivamente, a integral e o gradiente de φt que
aparecem na equação (6) e, então, a função K(θ ).
sendo t = tempo de redistribuição, Z = profundidade As medidas do conteúdo de água para esse fim
do solo, θ = conteúdo de água no solo, função de Z têm sido normalmente feitas por meio a) da técnica
e de t, θ0 = conteúdo de água no solo no tempo zero de moderação de nêutrons ou, simplesmente, sonda
de redistribuição (colocação da capa plástica), θi = de nêutrons (por exemplo, Greacen, 1982), b) de
conteúdo de água inicial no solo (antes do tensiômetros, instalados em diversas profundidades,
umedecimento), K = condutividade hidráulica do em conjunto com as respectivas curvas de retenção
solo, função de θ , φt= potencial total da água no (Carvalho, 2003) e, mais recentemente, c) da técnica
solo e z = coordenada vertical de posição cujo eixo, da reflectometria no domínio do tempo ou,
escolhido positivo para cima, tem sua origem simplesmente, TDR (Topp et al 1980). Outras
coincidente com a superfície do solo. técnicas podem ou poderão, no entanto, ser
utilizadas para a medida do conteúdo de água, desde
A equação de Richards, para a situação em estudo o método termogravimétrico, tido com padrão, a
(na qual o movimento se dá só na direção vertical) técnica da atenuação da radiação gama e novas
técnicas que foram e estão sendo desenvolvidas
pode ser escrita como
como a tomografia computadorizada, ressonância
magnética, indução eletromagnética, etc. (Smith e
∂θ d ⎡ ∂φ ⎤
= ⎢ K (θ) t ⎥ . (4) Mulins, 1991).
∂t dz ⎣ ∂z ⎦
4. BALANÇO DE ÁGUA NO SOLO
Assim, integrando a equação (4) acima com
relação à profundidade Z, isto é, multiplicando Como salientam Reichardt et al (1979), o
ambos os seus membros por dZ e integrando, conhecimento detalhado da dinâmica da água,
obtém-se: durante o desenvolvimento de uma cultura, fornece
elementos essenciais para o estabelecimento ou
Z Z aprimoramento de práticas de manejo agrícola que
∂θ d ⎡ ∂φ ⎤
∫ dZ = ∫ ⎢ K (θ) t ⎥dZ visam a otimização da produtividade. A água é fator
Z1
∂t Z1
dz ⎣ ∂z ⎦ fundamental no desenvolvimento de uma cultura,
afetando, principalmente, o desenvolvimento do
sistema radicular e a absorção e transferência de
Como dZ = -dz (lembre-se que Z = profundidade
nutrientes para as plantas. Sua dinâmica tem sido
do solo, aumenta para baixo e z = coordenada
estudada por meio de balanços hídricos, baseados
vertical de posição, aumenta para cima), então
principalmente em informações obtidas na
Z
atmosfera, deixando para segundo plano
∂θ ∂φ t ∂φ t informações edáficas. Estudos da dinâmica da água
− ∫ ∂ t dZ = K(θ) ∂z
Z1 Z
− K (θ)
∂z Z1
em condições de campo dando ênfase a fluxo de
água na zona radicular da cultura, já são menos
freqüentes e, muitas vezes, incompletos, devido à
Para Z1 = 0 m, isto é, a superfície do solo, a grande complexidade dos procedimentos
equação acima se simplifica, pela condição (3), experimentais necessários. Apresenta-se, a seguir,
para: alguns exemplos de balanço hídrico com ênfase na
drenagem interna cujo conhecimento é
Z
∂θ ∂φ t indispensável para a estimativa da lixiviação de
− ∫ ∂ t dZ = K(θ) ∂z (5) nitrato para baixo da profundidade do sistema
0 Z
radicular da cultura agrícola em estudo. Nestes
exemplos, o cálculo da drenagem interna, no limite
Rearranjando a equação (5): inferior do volume de solo considerado
(profundidade do sistema radicular), foi feito por
Z
∂θ meio da equação de Darcy-Buckingham a qual pode
− ∫ ∂ t dZ ser escrita, na direção vertical, como:
K (θ) Z = 0
(6)
∂φ t r ∂φ
∂z q z = −K (θ) t k̂ (7)
Z ∂z

669
em que qz é a densidade de fluxo da água no solo, ou que irrigou em excesso um dia desse período. As
seja, quantidade de água que atravessa a unidade de conclusões tiradas pelos autores foram: 1) O uso de
área de solo por unidade de tempo; K(θ) é a função tensiômetros para controlar a irrigação e as perdas
condutividade hidráulica do solo, determinada pelo de água pelo feijoeiro, assim como o cálculo da
método de perfil instantâneo na profundidade de lâmina de água requerida, a partir da umidade
interesse; ∂φt/∂z é o gradiente de potencial total da correspondente ao potencial mátrico à profundidade
de 0,15 m que precede a irrigação (= -6 m) e a
água no solo, força propulsora que faz a água mover;
umidade correspondente ao potencial mátrico de –
z é a coordenada vertical de posição e k̂ é o vetor 0,8 m (capacidade de campo) são procedimentos
unitário na direção z. recomendáveis para o tipo de solo estudado, uma
vez que foi obtida elevada produção de grãos com o
A Tabela 1 apresenta os dados obtidos por mínimo de perdas de água por drenagem interna. 2.
Libardi e Saad (1994) que determinaram o balanço A camada superficial do solo de 0,30 m foi
hídrico no solo com uma cultura de feijão irrigada suficiente para um adequado controle das irrigações
por pivô central num latossolo roxo distrófico de à cultura do feijão no tipo de solo considerado.
textura muito argilosa, utilizando tensiômetros e No item em seguida é apresentado um outro
curvas de retenção, para o cálculo da variação de exemplo de resultados de drenagem interna,
armazenagem e da drenagem interna. Nesta tabela, juntamente com dados de lixiviação de nitrato,
D significa drenagem interna, AC = ascensão capilar numa situação não irrigada durante um período de
(o mesmo que D só que no sentido ascendente, um ano (janeiro a dezembro de 1977).
também estimada a partir da equação de Darcy-
Buckingham), I = irrigação, ΔA = variação de 4. LIXIVIAÇÃO DE NITRATO
armazenagem e ET = evapotranspiração,
considerada no trabalho como incógnita da equação A importância do nitrogênio em agrosistemas é
do balanço hídrico. Neste experimento não houve bem conhecida, principalmente em solos localizados
qualquer tipo de deflúvio de água, nem superficial, em regiões tropicais úmidas em que a mobilidade do
nem sub-superficial e nem chuva. nitrogênio, sua alta taxa de mineralização e o alto
custo dos fertilizantes têm papel relevante. Com
Tabela 1 – Balanço hídrico no solo com feijão: D = isso, o uso do fertilizante tornou-se limitado,
drenagem interna, AC = ascensão capilar, I = demandando um conhecimento mais profundo dos
irrigação, ΔA = variação de armazenagem e RT = processos e interações que ocorrem no sistema água-
evapotranspiração real. solo-planta-atmosfera. Estudos relacionados ao
Período D AC I ΔA ET movimento, disponibilidade, absorção e perdas de
10/07 – 14/07 0,00 4,88 0,00 -5,86 10,75 nitrogênio são muitas vezes limitados, pela
15/07 – 22/07 18,80 3,86 39,00 4,36 19,70
dificuldade em distinguir o nitrogênio aplicado do
nitrogênio nativo. Atualmente, os métodos mais
23/07 – 30/07 2,73 1,42 25,26 -3,21 27,16
precisos para estudar o comportamento do
31/07 – 07/08 6,65 0,79 37,24 1,40 29,97 nitrogênio aplicado utilizam fertilizantes
08/08 – 14/08 2,37 0,32 43,50 7,25 34,20 enriquecidos com o isótopo estável 15N do
15/08 – 21/08 1,07 0,14 26,80 -10,98 36,85 nitrogênio (Hera, 1979).
22/08 – 27/08 0,04 0,01 48,28 -2,05 50,29 Para quantificar as perdas de nitrogênio por
28/08 – 02/09 1,65 0,03 26,16 10,68 13,85 lixiviação, que ocorrem principalmente na forma de
03/09 – 10/09 0,33 0,00 50,75 -3,13 53,56 nitrato, que é a forma mais móvel de nitrogênio nos
11/09 – 16/09 0,02 0,00 23,60 -7,23 30,80
solos, é necessário conhecer a densidade de fluxo de
água no solo (equação de Darcy – BucKingham) e a
17/09 – 26/09 1,72 0,00 48,85 4,24 42,89
concentração de nitrato da solução no solo, segundo
TOTAIS 35,40 11,46 369,44 350,03 a equação:
Todos esses parâmetros (ΔA, I, D, AC, ET) são q NO −3 = qC NO − (8)
denominados de processos do balanço hídrico e 3

expressos em altura de água (mm). Por estes dados


(Tabela 1) vê-se que o manejo da água foi muito em que q NO3 = densidade de fluxo de nitrato, q =
bem feito, pois praticamente não houve drenagem
densidade de fluxo de água e C NO3 = concentração
interna a profundidade de 0,3 m (limite inferior do
volume de solo considerado para o balanço de nitrato da solução ao no solo extraída por meio
englobando 100% do sistema radicular do feijoeiro). de um extrator com cápsula porosa (Reichardt et al
O único valor que chama a atenção é o do período 1977).
de 15/07 a 22/07, durante o qual houve uma
drenagem interna de 18,8 mm. Isso ocorreu, Apresenta-se, a seguir, como exemplo, a parte
entretanto devido um problema com o pivô-central dos resultados obtidos por Meirelles et al (1980)

670
referente a fração do nitrogênio (nitrato) perdida
com a solução no solo por lixiviação a 1,20 m de Tabela 3 – Perdas de nitrogênio (nitrato) por
profundidade e, por meio da técnica do 15N, a lixiviação a 1,20 m de profundidade em solos da
contribuição relativa do fertilizante aplicado, ao região de Piracicaba, SP.
longo do ano de 1977, durante o qual foi instalada

Nitrogênio Lixiviado
uma cultura de feijão que recebeu 100 kg N/ha, na

Taxa de fertilizante

lixiviado (kg N/ha)

do fertilizante (kg
Nitrogênio Total
forma de sulfato de amônio enriquecido com

Chuva (mm)
Período (d)

(kg N/ha)
3,657% de átomos de 15N. A Tabela 2 resume os

Autores

Cultura

N/ha)
Solo
resultados.

Tabela 2 - Lixiviação mensal de todo o nitrogênio


(nitrato) e aquele proveniente o fertilizante na
profundidade de 1,20 m; retirado de Meirelles et al
(1980). A Alfisol feijão 120 120 6,7 - 661
B Alfisol feijão 365 100 15,0 1,4 1382
Drenagem Lixiviação de C Oxisol milho 130 80 9,2 0,4 717
Mês interna de D Alfisol milho 150 100 32,4 11,0 620
N do E Alfisol feijão 86 42 - 0,8 403
água a 1,20m N
fertilizante Média 88,4 15,8 3,4 757
mm kg ha-1 kg ha-1 A: Libardi and Reichardt; B: Meirelles et al.
Janeiro 115,4 5,12 - C: Reichardt et al. ;D: Araújo Silva; E: Urquiaga
Fevereiro 23,4 1,81 -
REFERÊNCIAS
Março 9,0 0,56 0,016
Abril 27,2 3,71 0,712 Araújo Silva, J.C. (1982) Movimento e perdas por
Maio 3,2 0,56 0,103 lixiviação de nitrogênio – CO(15NH2)2 – em um
Junho 0,6 0,09 0,016 Alfisol cultivado com milho (Zea mays L.), M.S.
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Dezembro 25,5 3,01 0,470 Petroleum Trans. Am. Inst. Mining Eng., 198:
210,2 15,06 1,344 71-77.
Carvalho, L.A. de (2003) Condutividade hidráulica
do solo no campo: as simplificações do método
Pode-se observar pelos dados da Tabela 2,
do perfil instantâneo. Tese (Mestrado) – “Escola
conforme concluem os autores que Superior de Agricultura Luiz de Queiroz”,
aproximadamente 15 kg/ha de nitrogênio, foram Universidade de São Paulo, Piracicaba.
lixiviados a 1,20 m de profundidade durante o ano Childs, E.C.; Colins George, N. (1950) The
de 1977, dos quais apenas 1,35 kg/ha eram permeability of porous materials. Proc. Roy.
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A Tabela 3 é um resumo, feito por Reichardt et al Theory, effects of soil texture, density and
(1982) de cinco trabalhos conduzidos por organic matter and effects on root growth.
pesquisadores brasileiros na região de Piracicaba Georderma 120: 201-214.
(SP). Note-se que os resultados (anuais) obtidos por Genuchten, M.T. (1980) A closed-form equation for
Meirelles et al (1980) também constam da Tabela 3. predicting the hydraulic conductivity of
Conforme salientam Reichardt et al (1982), embora unsaturated soils. Soil Sci. Soc. Am. J. 44: 892-
usando os valores médios da Tabela 3, que 898.
certamente apresentam várias limitações, pode-se Greacen, E.L. (1981) Soil water assessment by
verificar que, para taxas de aplicação de nitrogênio neutron method. CSIRO. Austrália, 140p.
de 90 kg/ha, somente 4,5 g do nitrogênio fertilizante Hainess, W.B. (1930) Studies in the physical
são perdidos por lixiviação, por hectare e por properties of soil: V. The hysteresis effect in
milímetro de chuva, indicando que taxas de capillary properties and the models of misture
aplicação de fertilizantes nitrogenados desta ordem associated therewith. J. Agr. Sci. 20: 97-116.
de grandeza não devem causar problemas de Hera, C. (1979) Some aspects of nitrogen
contaminação de água subterrânea na região fertilization using 15N. In: IAEA – Isotopes and
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265-281.

672
REGISTRO FOTOGRÁFICO

673
Sessão de Abertura (esq. - dir.): Benedito S. Bueno; Francisco A. Rocco Lahr;
Orencio M. Vilar; Waldemar C. Hachich; Tácio M. P. de Campos

Vista geral de uma das Sessões Plenárias

675
Palestra Especial: Tácio Mauro de Campos Sessão 1: Wai Ying Yuk Gehling

Sessão 1 (esq. - dir.): Carlos de Sousa Pinto; Erundino Posada Presa

676
Sessão 2: Eurípedes do Amaral Vargas Junior Sessão 2: Márcio Muniz de Faria

Sessão 2: Roberto F. Azevedo e Kátia Vanessa Bicalho

677
Sessão 3: Sandro Lemos Machado Sessão 4: José Carlos A. Cintra

Sessão 3 (esq. - dir.): Silvio Crestana e Lúcio Flávio de Souza Villar

678
Sessão 4 (esq. - dir.): José Henrique Albiero e Dario Cardoso de Lima

Sessão 5 (esq. - dir.) Luís A. Bressani; José Camapum de Carvalho;


Paulo Teixeira da Cruz e Osni José Pejon e Fernando Marinho (em pé)

679
Workshop: Cláudio M. Wolle Workshop: Nelson Aoki

Workshop (esq. - dir.): Márcio S. Almeida e Tarcisio Barreto Celestino

680
Workshop: José Fernando Thomé Jucá Workshop: Fernando A. Medeiros Marinho

Palestra Especial: João Baptista Nogueira Palestra Especial: Paulo Leonel Libardi

681
Sessão de posters

682
Secretaria

Sessão de posters

683
Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

684
Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

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Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

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Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

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Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

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Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

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Participantes do Simpósio na Festa de Confraternização

690
ÍNDICE REMISSIVO
Abrão, Guilherme Semensato 211
Albiero, José Henrique 357
Albuquerque, Paulo José Rocha de 315
Alfaro Soto, Miguel Angel 115; 203
Almeida, Marcio Soares 043
Alonso, Eduardo 175; 273
Amparo, Nelson Silva do 061
Andrade, Aluisio G. 263
Angelotti Netto, Antonio 003
Antunes, Franklin S. 267
Aoki, Nelson 327; 333; 389; 395, 629
Araruna, José T. M. P. 235
Araújo, Francisco Antonio Ramos de 501
Barbosa, Paulo Sérgio de Almeida 223
Behak, Leonardo 377
Belincanta, Antônio 369; 495
Beneveli, Rodrigo Marques 009; 015
Benvenutti, Marcio 333
Bernucci, Liedi L. B. 321
Bevilaqua, Fernanda Ziegler 405
Bica, Adriano Virgilio Daminiani 243; 431
Borma, Laura de Simone 217
Botelho, Marco A. B. 061
Branco, Carlos José Marques da Costa 495
Bressani, Luiz Antonio 617
Burgos, Paulo Cesar 411; 417
Camacho, Jair 321
Camapum de Carvalho, José 015; 229; 363; 351, 597
Campos, Luis Edmundo Prado de 417
Carvalho, David de 315
Carvalho, M. O. M. 015
Carvalho, Miriam de Fátima 255
Cintra, José Carlos Angelo 327; 333; 395, 575
Conciani, Wilson 027; 345
Cordão Neto, Manoel Porfirio 143; 169; 339
Costa, Licia Mouta 135
Crestana, Silvio 003; 027
Cruz, Paulo Teixeira da 483
Cunha, Alessandra Troleis 307
Cunha, Renato Pinto 351
Custódio, Gisele Santos 223
Davison Dias, Regina 405; 465
De Campos, Tácio M. P. 009; 235; 267; 299
De Mio, Giuliano 031
Delgado, Anna Karina Chaves 229
Dourado, Tiago Costa 061
Duarte, Anna Paula Lougon 235
Duarte, Sergio Nascimento 155
Engler, Marcela Prada de Campos 039
Farias, Márcio Muniz 143; 169; 339, 527
Ferreira, Cláudio Vidrih 345; 357
Ferreira, Maria da Graça V. X. 477
Ferreira, Silvio Romero de Melo 135; 423; 489
Feuerharmel, Carolina 243; 431
Flores, Juan Antonio Altamirano 459
Fontes, Luiz C. A. A. 411
Fratta, Dante 095
Fredlund, Delwyn G. 127

691
Futai, Marcos Massao 043
Gallipoli, Domenico 121
Gehling, Wai Ying Yuk 073; 079; 083; 243; 431, 513
Gens, Antonio 149
Gerscovich, Denise Mara Soares 249
Giacheti, Heraldo Luis 031; 345
Gitirana Jr., Gilson F. N. 127; 161
Gonçalves, Helcio 069
Guedes, Michelle Nogueira 249
Guimarães, Leonardo José do Nascimento 135; 149, 643
Guimarães, Renato Cabral 351; 363
Gutierrez, Nelci Helena Maia 439; 495
Higashi, Rafael Reis 445
Hoffmann, Cristian 175
Jong van Lier, Quirijn de 039
Jucá, José Fernando Thomé 483, 643
Justino da Silva, José Maria 477; 483
Kakehi, Sérgio 055
Karam Filho, José 217
Lacerda, Willy Alvarenga 043
Libardi, Paulo Leonel 155, 667
Lloret, Antonio 273
Lobo, Ademar da Silva 345; 357
Lopes, Fabiana F. 495
Luz, Marta Pereira da 383
Macari, Emir José 095
Maccarini, Marciano 451
Machado, Sandro Lemos 061; 255, 545
Maciel, Felipe J. 643
Mahler, Claudio Fernando 069; 263
Marinho, Fernando Antonio Medeiros 211; 279; 321, 659
Martinez, Gioconda S. e S. 073; 459
Mascarenha, Márcia Maria dos Anjos 363
Matta, Breno Matos da 255
Medero, Gabriela Maluf 079; 083
Meirelles, Márcia Collares 465
Mello Junior, José de Oliveira 087
Mendes, C. A. R. 263
Miguel, Miriam Gonçalves 369
Miranda, Jarbas Honório de 155
Miranda. Jr., Gentil 315
Moncada, Monica Priscila Hernandez 267
Mondelli, Giulliana 031
Mota, Neusa Maria Bezerra 351
Moura, Adriano Pinto de 405
Muñoz, Juan Jorge 273
Musso, Marcos 377
Naime, João M. 003; 027
Nóbrega, Maria Teresa de 439
Oliveira, Dennys Rodrigues 161
Oliveira, Orlando Martini 279
Olivella, Sebastià 149
Pacheco, Andréa. Cristina Carneiro dos Santos 069
Palma, Janaina Barrios. 289
Parreira, Alexandre Benetti 383
Pejon, Osni José 471
Pereira, Álvaro 243; 431
Pereira, Eliana Martins 471
Pereira, José Henrique Feitosa 161; 339
Pinheiro, Mauricio 143; 169

692
Polido, Uberescilas Fernandes 087
Pontes Filho, Ivaldo D. S. 135
Porras Ortiz, Fernando Oscar 095
Primavesi, Odo 003
Queiroz de Carvalho, João Batista 073; 459
Reis, Rodrigo Martins 055; 103; 109
Renófio, Adilson 357
Romero, Enrique E. 175
Rostan, Álvaro 377
Sánchez, Marcelo 149
Santos, Cláudio Rodrigues dos 181; 189
Santos, Glaci Trevisan 405
Santos, Túlia Ribeiro Silva 327
Schnaid, Fernando 079; 083
Silva Filho, Francisco Chagas 195
Silva, Claudio Henrique de Carvalho 095; 223
Silva, Fernando das Graças Braga da 003
Silva, Mario José Ribeiro da 423; 489
Soares, Fábio Lopes 389
Stephens, Samuel 121
Takeda, Marcelo de Castro 383
Tan, Elsa 127
Teixeira, Raquel Souza 495
Toledo, F. G. L. 015
Toll, David G. 121
Tsuha, Cristina de Hollanda Cavalcanti 395
Valle, André Reitz do 451
Vaz, Carlos M. P. 003
Veras, Deborah F. 339
Vertamatti, Eugênio 501
Vieira, G. S. 223
Vilar, Orencio Monje 055; 103; 109; 115; 181; 189; 203; 439
Villar, Lúcio Flávio de Souza 299
Wendland, Edson Cezar 307
Wheeler, Simon J. 079; 083
Wolle, Cláudio Michael 635
Zammataro, Bruno B. 315
Zuquette, Lázaro Valentin 289, 545

693

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