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um só fator de
AULA
coerência não basta
Helena Feres Hawad
Meta da aula
Expor os principais fatores envolvidos no
estabelecimento da coerência textual.
objetivos
Junior Gomes
Fonte: htpp://www.sxc.hu/photo/252886
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• inferir a classificação da sogra como uma “cobra”. (Observe que, embora
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AULA
a palavra cobra não esteja no texto, inferir essa associação e conhecer o
sentido figurado da palavra é indispensável para a compreensão da frase
citada.)
FATORES DE COERÊNCIA
Elementos linguísticos
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
Conhecimento de mundo
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ATIVIDADE
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Atende ao Objetivo 1
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
RESPOSTA COMENTADA
Na primeira anedota, a expressão ambígua é “Ele está na escola?”. O
apresentador do programa pretendia indagar se o irmão do menino
já frequenta a escola. Em vez disso, o menino entendeu a pergunta
como uma referência ao momento em que o apresentador falava:
“Ele se encontra na escola agora?”.
Na segunda anedota, a expressão ambígua é “Quem é o morto?”.
O viajante pretendia saber a identidade do morto – talvez porque,
pelo tamanho da procissão, tenha concluído tratar-se de alguém
importante na cidade. O bêbado entendeu a pergunta como uma
solicitação para identificar o morto entre as outras pessoas presentes
(“Dessas pessoas, qual é o morto?”).
Em ambos os casos, as anedotas são engraçadas porque o sentido
em que as perguntas foram entendidas pelos personagens não é
o mais comum para elas nessas situações. O receptor da anedota
entende a pergunta, primeiro, em seu sentido mais frequente, com
base em seu conhecimento de mundo: sabemos que é comum,
em nossa cultura, os adultos perguntarem às crianças se elas vão
à escola, se gostam da escola, se gostam da professora etc.; sabe-
mos também, por nossa experiência de vida, que, em enterros, é
óbvio que o morto é aquele que está no caixão, sendo velado ou
carregado, e que uma pergunta como “quem é o morto?”, nesse
contexto, só poderia servir como um pedido para que a identidade
do morto fosse esclarecida (p. ex.: é o pároco da cidade, é o prefeito,
é um fazendeiro rico, é um cantor muito querido do público etc.).
Embora, pelo conhecimento que tem da língua, o receptor saiba que
as perguntas feitas são potencialmente ambíguas, seu conhecimento
de mundo dirige o entendimento que ele constrói para essas per-
guntas no primeiro momento, fazendo com que ele só dê atenção
ao sentido mais plausível para elas naquele contexto. Só depois da
resposta do personagem, em cada caso, é que o destinatário da
piada se dá conta da ambiguidade potencialmente presente na
pergunta, e nisso consiste o efeito de humor do texto.
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Conhecimento partilhado
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AULA
Como vimos, não há duas pessoas cujo conhecimento de mundo
seja idêntico. No entanto, para que haja compreensão mútua entre o
produtor e o receptor do texto, é preciso que pelo menos uma parte do
conhecimento de mundo seja comum a ambos. A essa parte comum,
chamamos conhecimento partilhado. A porção de conhecimento par-
tilhado entre duas pessoas é tanto maior quanto mais essas pessoas
convivem. Assim, por exemplo, cônjuges ou membros de uma mesma
família têm muito conhecimento partilhado; colegas de trabalho, estudo
ou profissão também.
O conhecimento partilhado torna possível que muitas informa-
ções sejam deixadas implícitas nos textos. Veja, por exemplo, o seguinte
diálogo:
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
Inferências
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Todos os textos, não apenas os humorísticos, contêm uma parcela
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de informações implícitas que o leitor precisa inferir. A quantidade de
inferências que o leitor necessita realizar depende de vários elementos,
inclusive das finalidades do texto.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
Pai,
Berlim é linda, as pessoas são muito simpáticas e eu estou gostando
muito daqui. Mas eu fico um pouco envergonhado quando chego à
universidade com minha Ferrari de ouro, enquanto meus professores
e meus colegas chegam de trem!
Seu filho,
Nasser
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
RESPOSTA COMENTADA
O destinatário dessa anedota precisa fazer uma inferência sobre o
motivo de o rapaz se sentir envergonhado. Conclui que ele se sente
constrangido por ostentar uma riqueza tão grande num ambiente
em que os outros – professores e colegas – levam uma vida modes-
ta. Para fazer essa inferência, o leitor recorre a seu conhecimento
de mundo: sabemos que o trem, por ser um meio de transporte
coletivo, é mais barato para o usuário que o automóvel particular,
e, portanto, é acessível a todos; sabemos que os carros Ferrari são
luxuosos e caríssimos, acessíveis apenas aos muito ricos (ainda mais
uma Ferrari de ouro!).
O pai, por sua vez, revela, em sua resposta, desconhecer esses fatos
e fazer uma inferência diferente sobre o motivo da “vergonha” do
moço: conclui que ele se sente humilhado porque os outros apa-
rentam ainda mais riqueza do que ele (cada um seria dono do seu
próprio trem!).
O efeito de humor do texto decorre desse desencontro, ou descom-
passo, entre as inferências feitas pelo leitor e pelo personagem da
anedota. Note que isso só é possível porque há uma “lacuna” de
informação no texto: o motivo da vergonha do rapaz. Esse “espaço
vazio” de informação é onde ocorrem as inferências do leitor, que
consistem em imaginar ou depreender as informações implícitas.
Como já vimos, os textos humorísticos lançam mão desse recurso
com frequência.
Situacionalidade
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A adequada compreensão desse texto exige que o leitor calcule as
referências das palavras você, já e lá. Você, nesse caso, é o viajante que
está na estrada, de carro ou de ônibus; já se refere ao tempo decorrido
de viagem até aquele ponto da estrada em que o cartaz se encontra; lá é
o destino da estrada, a cidade para onde aquela estrada leva. Só recupe-
rando corretamente essas referências é que o leitor constrói um sentido
para o texto, correlacionando as palavras à imagem: “Essa viagem é
mais rápida se for feita de avião.”
A recuperação das referências corretas, nesse caso, depende da
situação em que o cartaz se encontra. Se o cartaz fosse removido da beira
da rodovia e pregado, por exemplo, em um ponto de ônibus urbano,
onde passam apenas ônibus para os diferentes bairros da cidade, essas
referências não seriam as mesmas, e o texto pareceria incoerente, ou sem
sentido. (Quem seria você? A pessoa que espera o ônibus para ir a outro
bairro da cidade? A pessoa que passa a pé na rua? Onde seria lá? E já?
Seria referente ao tempo de espera pelo ônibus?)
Na anedota do enterro, transcrita na Atividade 1, temos mais um
exemplo de como a situação pode ser crucial na recuperação de referên-
cias textuais – e, portanto, na construção da coerência. A resposta do
bêbado (“É aquele ali”, acompanhada do gesto de apontar o caixão) só
pode ser compreendida porque tanto ele quanto o viajante estão vendo
o caixão – um elemento presente na situação.
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
Focalização
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Atende ao Objetivo 2
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RESPOSTA COMENTADA
Veja uma possibilidade de reformulação do texto:
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Quando, ao produzir um texto, realizamos um “recorte” do tema
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e selecionamos as informações que vão integrar o texto de acordo com
esse recorte, estamos elaborando a focalização.
Intencionalidade
Intertextualidade
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
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Um bom exemplo desse segundo caso são os “classificados poé-
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ticos” de Roseana Murray. Veja um fragmento de um deles, e procure
identificar o gênero de texto com o qual é feita a referência intertextual:
Fatores de contextualização
CONCLUSÃO
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Língua Portuguesa Instrumental | Para bom entendedor, um só fator de coerência não basta
ATIVIDADE FINAL
Atende ao Objetivo 3
O texto a seguir foi escrito por um estudante universitário. Avalie sua coerência
no que diz respeito ao fator focalização.
E para quem gosta de leitura, mas não tem condições de ficar comprando
livros, uma ótima ideia é visitar a biblioteca municipal, será uma boa chance
de conhecer nossos escritores brasileiros.
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RESPOSTA COMENTADA
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A coerência do texto está precária porque faltou um recorte do tema, ou uma
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focalização adequada. Para tratar de um tema amplo como “a leitura no Brasil”,
é indispensável estabelecer o ponto de vista sob o qual ele será abordado: será apre-
sentado um levantamento sobre as condições da leitura no país?; serão abordadas
causas e consequências da situação?; serão propostas soluções?.
Pela ausência de um foco claramente estabelecido, o texto acaba se realizando
como uma sequência de frases desconexas, isto é, sem ligação de sentido entre elas.
Desse modo, nenhum dos aspectos que poderiam integrar um bom desenvolvimento
do tema pode ser satisfatoriamente aprofundado, e a coerência fica enfraquecida.
É como se o autor “atirasse para todos os lados”, perdendo a oportunidade de acertar
com precisão um alvo escolhido.
RESUMO
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