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Josué

Antônio Neves de Mesquita.


VISÃO PANORÂMICA DA PALESTINA

(Geografia)

Sobe a este monte de Abarim., ao monte Nebo., que está na terra de Moabe, defronte de
Jericó, e, vê a terra de Canaã, que eu dou aos filhos de Israel por possessão (Deut. 32:49).

Moisés viu a terra sonhada e desejada, mas não pôde entrar nela. Muitos lá entraram, muitos
lutaram por ela, muitos a combateram, muitos a desejaram e muitos a venceram. Nenhum
outro pedaço de terra na superfície do globo viu tantas guerras, tantas lutas pela posse desta
nesga de terra. Os hebreus, que nunca tinham lutado por ela, passariam, em pouco, a ser os
seus donos perpetuamente. De 1400 a.C. até o ano 70 da era cristã lá ficaram vivendo mansa
e pacificamente. Apenas 1470 anos. Dois mil anos depois de expulsos dela, para lá estão
voltando, para completar a tarefa que o Deus de Abraão lhes destinou. Pela parte que nos
cabe na história desta gente eleita de Deus somos agradecidos à divina Providência, pois a
história dos hebreus é, em grande parte, a nossa história também, do ponto de vista espiritual.
De lá vieram os nossos profetas; de lá veio a nossa Bíblia; de lá veio o nosso Salvador.
Portanto, nós também amamos esta terra, e amamos a sua gente.

Agora que estamos prestes a pôr diante do público o livro da história da Conquista levada a
efeito por Josué, o livro que traz o seu nome, nada mais natural que ofereçamos um breve
bosquejo dos encantadores contornos da Palestina, para que a história melhor seja
compreendida e o relato que Josué nos deixou na sua memorável conquista melhor seja
entendido.

Do ponto de vista político-econômico a Palestina não oferece grandes atrativos. É um país


pequeno, de 220, quilômetros de norte a sul, e de uns 80 de leste a oeste. Portanto, é um
pequeno país. Todavia, a sua posição geográfica deu-lhe, através da história, uma posição de
destaque. Era por ela que os exércitos do Oriente vinham fazer as suas conquistas no
Ocidente. Foi por ela que os Faraós egípcios passaram para as suas conquistas no norte.
Totmes III, Ramsés II, Sargão II, Senaqueribe e tantos outros conheceram os contornos desta
nesga de terra, e lá se desafiaram reciprocamente, lá se combateras lá uns venceram os
outros, de modo que não há na face da terra um país que tivesse assistido a tantos embates, a
tantas lutas e a tantas conquistas.- Já se vê, por esta breve amostra, que a Palestina sempre foi
uma terra cobiçada por sua posição geográfica, mais que por sua riqueza natural. Entretanto,
é um país admirável por seus contrastes, por sua grande variedade de contornos. Já se disse
que em nenhuma outra terra se encontram tantas e tais variedades de climas, de belezas
naturais. No decorrer desta modesta apreciação da Palestina, ver-se-á que a terra era
pequena, mas desejável. Era "terra que manava leite e mel", no dizer gracioso da Bíblia.

Um observador postado no pico do monte Nebo, onde Moisés foi ao encontro da morte, ficará
fascinado ante tantas altas montanhas e tão profundos vales, várzeas e platôs, outeiros e
campinas, picos cobertos de neve no inverno e mesmo no verão, para então descer a vista pelo
vale do Jordão, até o Mar Morto, com a sua cavidade, a mais baixa, da superfície da terra, a
420 metros abaixo do Mediterrâneo. Mas isso não é tudo que um observador atento verá, se a
sua visita for feita na primavera. Por cima, da sua cabeça a glória dos céus da Síria, e cá
embaixo o tapete de verdura emoldurando o cenário encantador. A vista do pico do Nebo, a
1.400 metros de altitude acima do Mar Morto, apresenta ura conjunto entre a terra e o céu e o
mar para produzir uma tal variedade de contornos e de belezas que a imaginação não pode
descrever. Deve ser vista para ser apreciada. Quer se olhe para o norte ou para o sul, para
leste ou para oeste, as diferenças são tantas que poderiam criar na mente do observador um
conjunto de contrastes; todavia, não é isso que acontece. Parece que tudo foi feito para
compor um quadro em que as diferenças formam o fundo da cena. Se o observador puder
então reunir a história à geografia, então o quadro ficará ainda mais completo e perfeito.
Nenhum pedaço de terra na superfície do globo tem história igual. Em nenhuma outra parte
Deus trabalhou tanto. Em nenhum outro lugar se deram tantas maravilhas da graça divina.
Em nenhum outro lugar se viram tantos milagres como ali. É uma terra privilegiada e desejada.
Em nenhuma outra parte os turistas se benzem tanto, em nenhum outro lugar se perde a
respiração, face ao que os lugares nos contam da vida dos hebreus e, especialmente, da vida
de nosso Senhor Jesus Cristo. Qual a criatura humana que pode visitar o Jardim das Oliveiras,
o Getsêmane, sem se sentir comovido? Quem pode visitar o Calvário, e ficar insensível?
Verdade é que há outras terras no Oriente Próximo de muito encanto histórico. O vale da
Mesopotâmia, o vale do Nilo, com as suas fertilíssimas campinas, bem regadas e ricas, são
duas delas, mas a sua história não fala tanto ao coração como a história da Palestina. A
Palestina é um epítome do mundo, pois foi lá que se desenhou a sua história, lá que se decidiu
o destino eterno da humanidade. Então todos estamos ligados a esta terra, seja pelos laços
afetuosos do coração, seja pelos do espírito. Abraão, Isaque, Jacó, Isaias e uma plêiade de
outros foram judeus de nascimento, mas são cidadãos do mundo; pertencem a todas as gentes
e a todas as nações. Quando hoje se faz uma visita ao túmulo de Abraão, morto há tantos
séculos, parece que ainda se sente, a sua figura comandando os seus rebanhos, na esperança
do cumprimento das promessas de Deus, e todos se sentem igualmente comovidos ante
aquele pedaço de chão que guarda o pó do pai da fé.

Para se compreender melhor a Palestina, deve se conhecer a sua geografia, os seus contornos
geográficos. Por isso que vamos tentar fazer no menor número de palavras. Quando, há anos,
o autor escreveu um pequeno livro a que deu o nome de "Panorama do Mundo Bíblico", teve
justamente o propósito de dar aos leitores da Bíblia uma noção simples das diversas divisões
da Terra da Promessa. Está esgotado este livro e não se sabe quando voltará a ver a luz do dia.
Por isso, e na falta de melhores compêndios em português, vamos tentar dar aos leitores do
livro de Josué uma sinopse geográfica da terra que foi palco da narrativa ali encontrada.
Muitos têm escrito sobre a geografia da Palestina. Entre outros, George Adam Smith, Edward
Robinson, etc. São livros um tanto antigos e fora de circulação, além de estarem todos na
língua inglesa. De modo geral, são livros mais para professores de investigação do que para
um público como o nosso.

As fronteiras naturais da Palestina são: ao norte, o Hermom ou o Líbano e o Anti-Líbano, com


os seus picos nevados de verão a inverno; ao sul, o Neguebe e o rio do Egito; a oeste, o
Mediterrâneo com as suas águas eternamente azuladas e mansas; a leste, a profunda
depressão do rio Jordão. Toda a região do leste é atualmente compreendida como a
Transjordânia, que, nos tempos do Novo Testamento, exerceu notável papel nos destinos da
vida israelita. Não fazia parte da Terra da Promessa, pois a região ocupada pelos moabitas,
edomitas e amoritas não estava compreendida nos territórios a serem conquistados. Um
desvio da história levou esta região a ficar inclusa na terra conquistada. Foi dada às tribos de
Gade, Rúben e a meia tribo de Manassés. O território prometido por Deus a Abraão ficava
entre o Jordão e o Mediterrâneo, e entre Dá e Berseba, nomes muito familiares aos estudantes
da Bíblia. Como se vê, era uma terra pequena, mas também os seus destinatários não eram
muito numerosos. Ocupava, entretanto, uma estratégica posição geográfica que a tornava
uma terra cobiçável e de muita importância nos destinos do lo antigo. Basta o fato de ficar
entre o Tigre e o Eufrates a leste, e o Egito ao sul, os dois maiores centros de cultura antiga,
para se compreender que era uma região de muita valia, nos destinos daqueles povos
primitivos. Todas as estradas do comércio antigo passavam pela Palestina. Ninguém podia
visitar o Egito, a grande capital da antigüidade, sem passar pela Palestina, do mesmo modo
que ninguém podia vir do sul à Caldéia sem passar por lá. Os grandes impérios do norte,
amoritas, mitânios e hiteus, tinham ali os seus caminhos, quer para o comércio, quer para as
guerras. Algumas das cidades da Palestina passaram de mão por mais de uma vez, em virtude
das guerras ali feridas. Vemos, portanto, que a Palestina tinha um grande papel a
desempenhar na formação da história dos povos antigos, e quando Deus determinou dar ao
Seu povo esta nesga de terra certamente teria em vista este conjunto de fatos, na esperança
de que os israelitas ,executassem o seu ministério missionário em condições únicas na
superfície da terra.

Com esta breve apreciação introdutória, podemos passar a examinar as diversas divisões
fundamentais do território palestino, e nosso estudo se tornará mais inteligível e apetitoso.
DIVISÕES FUNDAMENTAIS DA PALESTINA

1. Planície Marítima,

2. Piemonte ou Sefelá,

3. Platô Ocidental (incluindo a Planície de Esdraelom e Jizreel).

4. Vale do Jordão,

5. Platô Oriental,

6. Neguebe ou País do Sul.

Estudaremos, além dessas seis divisões, duas outras, não menos importantes, tais como a
Planície de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordão, e a de Jizreel, que separa o norte do sul.
Apreciando essas divisões, poderemos compreender não só o valor político e social da terra,
mas também a significação da conquista por Josué, nosso principal fim neste estudo.
1. Planície Marítima.

A região marítima ou costeira estende-se do rio do Egito, o moderno Wadi e el-Wade (a


rinocultura), uma área de uns 70 quilômetros, ao sul de Gaza, até a Escada de Tiro, ao norte,
que fica a uns 25 quilômetros ao sul da cidade de Tiro, a famosa cidade dos tempos de
Salomão. Esta região, do norte ao sul, compreende uns 200 quilômetros de extensão, e de
largura varia muito. Ao norte há apenas pequena frincha entre os Líbanos e a terra dos
sidônios, alargando-se bastante no centro, na altura do monte Carmelo. Ali se formaram o
mais lindo e aprazível prado, o encanto da natureza da Palestina. Na primavera, este prado
oferece tal beleza, com os seus roseirais e seus trigais que nada há comparável na face da
terra.

Toda a região costeira é de recente formação geológica, constando de extensos areais


fecundos pelo aluvião carregado pelos diversos rios que regam aquela área. É uma terra
roubada ao mar, e em constante crescimento, graças às correntes marítimas vindas da África.
É a parte, talvez, mais antiga da Palestina. Gaza, a famosa cidade ao sul, deve ter sido fundada
antes de 4500 a.C. Ainda não se sabe tudo dos seus antigos palácios porque a picareta do
arqueólogo ainda não fez todo o serviço. A sua riqueza é tal que desde tempos imemoriais os
cretenses ali se estabeleceram, formando o povo conhecido pelo nome de filisteus. Teria sido
inicialmente ocupada pelos levitas, depois desapossados pelos filisteus. Esta divisão pede uma
subdivisão, para melhor compreensão do nosso estudo: (1) Platô da Filístia, (2) Planície de
Sarom, (3) Planície de Acre.

(1) O Platô da Filístia (1) compreende uma área de 90 quilômetros de norte a sul e uns 30 de
largura. É uma faixa muito importante que tem o seu centro em Jope, incluindo a famosa
cidade de Gaza. Nos tempos das cartas de Tell-el-Amarna (14501350) foi uma região muito
famosa, e mesmo nos tempos da conquista. Algumas das suas mais famosas cidades são
Asquelão, Gerar, Gaza e Jope, muito nossas conhecidas. Os egípcios ali tiveram o seu domínio
em tempos antigos, sendo depois empurrados mais para o sul, rumo ao Nilo. A importância
desta região liga-se à vida dos filisteus, que nunca puderam ser desapossados. Estava no mapa
da conquista, mas Josué não pôde ou não quis conquistá-la, e os seus sucessores, igualmente,
nunca conseguiram tomar conta da região. Vez por outra, unia cidade passava às mãos
israelitas para, logo depois, voltar aos seus antigos donos. Se Josué tivesse tomado esta
região, teria evitado as lutas que nós conhecemos durante mais de 1.000 anos. No estudo de
Josué e Juizes voltaremos a considerar, diversas vezes, as lutas que ali se feriram. A
organização füistéia, não sendo uma monarquia com um centro político, mantendo por séculos
as cinco cidades confederadas, pôde, entretanto, por mais tempo, manter unidos os filisteus
que qualquer outro povo da Palestina. Suas cinco cidades, cada uma com o seu régulo,
Ascalão, Asdode, Gade, Ecrom e Gaza, eram cinco baluartes difíceis de dominar e só foram
inteiramente dominados no tempo de Salomão. Os historiadores nem sabem a que admitir a
invencibilidade destas cidades, se à riqueza da terra, se à belicosidade dos seus habitantes, se
à sua posição estratégica, pois ficavam na entrada da Palestina, e ninguém podia ir para o sul,
vindo do norte, ou ir para o norte, vindo do sul, sem prestar sua homenagem à Filístia. Fosse
pelo que fosse, a fertilidade, o espírito guerreiro do seu povo, a posição geográfica, o certo é
que nunca houve quem pudesse desapossar esta gente da faixa costeira. Admite-se que aos
conquistadores de Josué interessavam as várzeas férteis dos platôs centrais, mais do que a
região marítima, mas nós não estamos de acordo com este ponto de vista. Outros motivos
deveria ter havido para que essa gente ficasse sem ser molestada por séculos. Perdido o
ímpeto guerreiro de Josué, os seus irmãos contentaram-se em ficar em paz nalguns cabeços e
várzeas, misturados com os cananeus, em vez de avançar para oeste e dominar esta gente. O
que nos parece verdade é que os filisteus jamais seriam dominados, humanamente falando,
com as armas daqueles dias, pois tinham armas melhores do que os seus inimigos, tinham
lanças de ferro e carros ferrados, que os israelitas não tinham. Muito lamentamos o terem
ficado invencíveis, pelos horrores que causaram aos nossos hebreus através de tantos séculos.
Outros grandes povos foram dominados, mas esse não.

No decorrer desta apreciação geográfica, fomos vítima de nossa preferência pelos hebreus em
detrimento dos povos conquistados ou a serem conquistados, mas isso tem sua justificação.
Deus mesmo teve esta preferência e se não fosse assim não teria dado a terra ocupada ao
povo que elegeu. Somos basicamente contrários à idolatria, à deturpação do sentimento
religioso da raça humana; e Deus, por condenar a idolatria, deu a terra da Palestina a um povo
que não era idólatra, com a missão de estabelecer o verdadeiro monoteísmo primitivo. No
Brasil somos vítimas da mariolatria, e do culto a centenas de santos com o qual o povo fica
embrutecido e incapaz de fazer a distinção entre um culto espiritual e um idolátrico. Esta é a
continuação da luta começada há 3.400 anos. É a nossa luta transformar uma nação idolátrica
numa nação que adore a Deus em espírito e verdade. Se venceremos ou não, a história o dirá.

Nenhum estudante de geografia poderá ignorar o afamado pentágono, composto de Gaza,


Asquelão, Asdode, Gade e Ecrom. Sua superioridade, como núcleo de cidades, não resultava
apenas do fato de possuir uma área por demais fértil, mas também porque controlava todos os
movimentos políticos da Palestina. Por esta razão, julgavam-se os filisteus com o direito de
dominar toda a Palestina. Até que ponto eles teriam razão cabe ao historiador dizer. Não se
pode negar a sua influência na terra, desde tempos muito antigos, porque foram eles que
deram o nome à Palestina. Os historiadores não sabem dizer com segurança em que se
baseou esta herança, além dos fatos aqui alinhados.

(2) Planície de Sarom. Esta área constitui naturalmente a segunda divisão do território
constituído pela Planície Marítima. Os limites sulinos desta região são demarcados pelo Nahr
(Rio) el-Auja (Jacrom), que deságua no Mediterrâneo, perto de Jope, enquanto os limites
nortistas da mesma região se encontram na pequena cordilheira formada pelo Carmelo. A
extensão desta área não é muito grande, compreendendo aproximadamente 75 quilômetros
de norte a sul, e uma largura de vinte a trinta quilômetros. Muito naturalmente, estas divisões
são mais políticas que geográficas, e apenas são oferecidas para não deixar o leitor na
ignorância dos fatos, quer geográficos quer políticos destas zonas. Admiram-se alguns
historiadores que os filisteus nunca tivessem reclamado esta parte da Palestina, sendo, como
era, de uma beleza e fecundidade a toda prova. Durante o período do Velho Testamento era
considerada como província independente, uma região isolada. Sarom é muito bem regada,
porque além da precipitação anual bastante elevada, recebe as águas que atravessam a região
perenemente. Os rios mais importantes são o Auja (Isconderunebe) Mefjir e Zerca. Esta
planura esteve, em antigas eras, em poder dos filisteus. Eles a perderam por motivos que se
ignoram e ela está atualmente em poder dos hebreus. Aos poucos vão eles devolvendo a esta
região a riqueza e fertilidade que sempre teve.

(3) Planície de Acre. Esta planura começa nas faldas do Monte Carmelo, muito conhecido pela
história de Elias, e se estende pela costa numa distância de 30 quilômetros, mais ou menos.
Sua largura é de 5 a 6 quilômetros. A Escada de Tiro é o em ponto culminante. Esta planura,
com as suas fontes no Platô Central, é regada por dois pequenos rios: o Namein e o antigo
Quinsom, famoso na história de Débora e Baraque. O interior da planura é muito fértil,
especialmente no norte e no sul, onde floresceram antigamente algumas cidades bem
famosas. Toda esta área, incluindo Sarom, ao sul do Carmelo, conhecido pelo nome de Dor,
pertencia antigamente aos fenícios. Este território a partir de Tiro até o Carmelo caiu em sorte
à tribo de Aser, mas a sua proximidade dos filisteus não lhe permitiu a posse mansa por muitos
anos. Por isso, Acre, Tiro e Sidom nunca foram cidades israelitas. A cidade de Acre, a uns 20
quilômetros da costa, era, não somente a mais importante, mas também, a porta de entrada
da Palestina central. O Novo Testamento nos dá informações da importância desta região,
perto de Jope, Cesaréia e a moderna cidade de Halfa, o orgulho dos hebreus modernos.

Para concluirmos nossa apreciação da Planície Marítima, diremos umas poucas palavras sobre
a costa numa costa aberta sem boas balas. Enquanto a planície costeira oferece tantas
vantagens, sua costa nunca despertou interesse dos navegadores por falta de portos onde
acostar os navios. Se outra fosse a configuração, acredita-se que outra teria sido também a
sorte desta parte da Palestina. Os hebreus atuais estão construindo seu melhor porto de mar
à custa de grandes gastos, numa pequena saliência ao norte do Carmelo porque não há outro
local onde fazê-lo. Haifa, com 450.000 habitantes, é uma cidade moderna, com grande
comércio e amplo movimento nacional e internacional. Mais para o norte, o litoral oferece um
panorama muito diferente, pois os portos de Tiro, Sidom, Beirute, Gebal e Trípoli, entre outros,
dão à costa um outro aspecto. Toda esta vasta zona. desde o Egito a Tiro, ficou privada de
bons portos de mar, pois nem mesmo Alexandria e Port Saide são ainda hoje os melhores do
mundo. Repetimos: se a costa da Palestina tivesse sido servida de boas enseadas, outra teria
sido a sua história. Mesmo que reconheçamos que os navios antigos não careciam de grandes
portos como os modernos, ainda assim, se portos bons houvesse, teríamos outra história.
Cesaréia era o principal porto nos tempos herodianos. Jope era outro bom porto. Mas nem
um nem outro merecem o nome de portos de navios. Teria sido por isso que os hebreus nunca
se sentiram atraídos para o mar, a não ser nos tempos de Salomão, usando o porto de Acaba,
no Sinai, e isto por causa da influência fenícia, senhora dos mares naqueles longínquos dias.
Isso fez dos hebreus antigos um povo de criadores e agricultores, e talvez por essa razão
tivessem evitado muitas outras contendas com os seus vizinhos. Se tivessem conhecido o mar,
teriam entrado em competição com os fenícios, e quem sabe se, de amigos que foram, não se
teriam convertido em inimigos. A geografia também influi nos destinos dos povos e marca a
sua história com lances diferentes daquilo que poderia ter sido. A longa história escrita pelos
povos da Planície Marítima é a que nós conhecemos, e não podemos escrever outra. Mas
reafirmamos: se a geografia fosse diferente, diferente teria sido a história. Resta ao
observador moderno esperar por outros contornos da história dos hebreus atuais, para ver, no
final, o que eles poderiam ter tido nos tempos antigos. De qualquer modo, mesmo sem bons
portos, a Planície Marítima deu um capítulo da história antiga dos mais movimentados e
belicosos. (2)

Ainda que fora do alvo deste estudo, pedimos licença para dizer que aquilo que os hebreus
antigos não conseguiram de modo completo os hebreus modernos o estão conseguindo. Já
ficou claro que muita coisa da geografia foi mudada durante os últimos milênios. Basã, que
nós conhecemos como uma terra rica e fértil, foi reduzida a um campo quase estéril por falta
de cultivo adequado. Assim, a parte ocidental. Os árabes, que se apossaram da terra depois
do ano 600 da nossa era, não souberam tratá-la, e a exploraram de modo muito primitivo, até
que não deu mais a sua riqueza. Atualmente, a parte sob domínio dos hebreus é uma prova do
que ela foi antigamente. Os prados, a vegetação, o arvoredo, os montes cobertos de herva,
tudo nos indica que a terra está voltando ao que era antes. Como tem sido assinalado em
diversos tópicos, a terra ficara totalmente desprovida de árvores, que foram destruídas pelos
conquistadores orientais. Pois bem, estão sendo agora replantadas e, dentro de alguns anos,
pelo menos a parte sob domínio israelita, voltará a ser o que era antes. Por isso o autor tem as
suas preferências pelo domínio hebreu da terra, pois esta gente é a senhora da ciência
agronômica e química, e a terra carece desse tratamento.
(1) Smith, The Historical Geography of the Holy Land. P. 148

(2) Kent Biblical History and Geography.


2. Piemonte ou Sefelá.

Entre os altos montes, a oeste de Jerusalém e planície costeira, ficam os baixos montes de
Sefelá. É uma área característica e bem definida, vista como conjunto de vales e planícies. Os
montes, esparsos em diversos lugares, têm uma altura média de 150 a 300 metros acima do
Mediterrâneo. O solo não é tão rico como o da Filístia ou de Sarom, mas também não é muito
pobre. É um território peculiar ao cultivo das oliveiras e vinhedos, de cereais e produz fartas
colheitas de trigo e cevada. Por sua posição, foi por muitas vezes o centro de grandes
combates nos tempos do Velho Testamento, e por certo teria sido assim em tempos
anteriores. Muitas das mais sangrentas batalhas dos tempos antigos foram feridas nesta
região. (3)

Os limites geográficos naturais de Sefelá são dados como o que compreende o estreito
território que vai do vale de Aijalom, uns 12 quilômetros a oeste de Jerusalém, até Berseba, no
extremo sul, incluindo as divisões naturais da Filístia e as planuras de Judá, O Sefelá ocupa uma
região que melhor se entenderá como um tabuleiro entre a Planície Marítima e as montanhas
de Judá. Politicamente, nunca foi bem definida, e as definições aqui usadas são mais
geográficas que políticas, pois nunca houve ali qualquer governo que desse configuração ao
território. Temos então uma área de montículos, aqui e além, com grande claros ou vales
entre si. É fácil compreender uma região assim: os montes dão a característica especial, e os
vales ou planura, os contornos. Tanto nos montes como nos vales a agricultura era abundante,
especialmente, como já vimos, de oliveiras que cresciam abundantemente. Atualmente nada
se vê porque tudo foi destruído. Um vandalismo selvagem varreu, desta terra rica e próspera,
não apenas a beleza, mas também a riqueza. Os atuais hebreus estão fazendo voltar esta terra
ao que era há séculos, diríamos, milênios passados, e certamente, vão triunfar. No plano da
conquista de Josué estava o Sefelá, mas Josué mal chegou às bordas deste território talvez
porque, para o sul, o terreno torna-se áspero e pouco produtivo, sendo a antiga região dos
amalequitas e filisteus. Parece ser uma terra de ninguém porque nem os filisteus jamais
procuraram dominar nesta região, nem os israelitas se preocuparam muito com ela. Os
modernos sionistas crêem que o Sefelá e a Filístia fazem parte de uma mesma região, mas isso
nunca foi reconhecido na antigüidade. O que nos parece mais lógico é reconhecer que esta
área era um prolongamento do vale de Aijalom, e não uma área independente. Nas narrativas
de Josué e Juizes, o Sefelá figura como uma região montanhosa, o que é verdade em sentido
restrito, porque havia grandes e férteis vales de permeio. Uma visita rápida ao lugar nos daria
a visão correta da situação.

Parece que o seu maior valor, entretanto, está na sua relação com o platô central. No extremo
norte, onde os montes do Carmelo sobem -gradualmente da Planície de Sarom, há uma
aproximação fácil a esta área por três lugares bem conhecidos dos amigos da Palestina. O
primeiro, pelas arenosas inclinações do Carmelo, na direção da Planície de Esdraelom, em
Megido, o bem conhecido lugar das grandes batalhas da antigüidade; o segundo, talvez por
uma estreita passagem do platô central rumo ao interior de Dotã; o terceiro, é o mais difícil
passo através da vila atual de Tulcarem, rumo a Nablus. Essas regiões foram testemunhas das
mais aguerridas lutas na antigüidade, para garantirem a passagem das planícies costeiras rumo
à Palestina central. Megido figura nas crônicas bíblicas e estrangeiras como o centro mais
cobiçado, pois era por ali que a passagem era ou berrada ou consentida. Foi ali que Totmés III
se defrontou com os povos do norte, e foi ali que Ramsés II se defrontou também com os
hiteus, e foi ainda ali que Josias morreu nas mãos do Faraó Neco, que não lhe desejava fazer
guerra, mas aos caldeus (II Crôn. 35:20-27). Era um campo de batalha em que os exércitos ou
se dirigiam contra os israelitas ou apenas desejavam a passagem livre. A arqueologia ainda
tem muito a nos contar a respeito de Megido, onde também Salomão tinha as baias dos seus
cavalos, tendo sido descobertas até agora cinqüenta delas, construídas de mármore.

Na parte suleste do Platô central o Sefelá é mais pronunciado, p sua aproximação um tanto
mais difícil, e "talvez seja por isso a parte menos interessante na história de Israel. Há quatro
passagens mais importantes que levam a esta região quem vem do norte: Uma delas é o vale
de Aijalom (talvez a parte mais importante da Palestina, pois coloca o norte em contato com o
sul e ali se feriram algumas das batalhas de Josué pela posse da Palestina central). É também a
passagem natural para quem vai a Jerusalém, partindo da Planície de Sarom, e também para
quem vem de Sefelá. Aijalom fica perto de Gibeom, uns 8 quilômetros a noroeste de
Jerusalém. O acesso se faz por uma série de desfiladeiros, e por ali se vai também às partes
baixas de Bete-Horom, nos limites de Sarom. O vale era facilmente defensável, e foi ali que
Josué perseguiu os confederados (Jos. 10). Séculos mais tarde, Judas Macabeu provou que a
região era mesmo o ponto melhor para uma defesa contra os sírios. Quem dominasse Aijalom
dominava facilmente o resto do sul, inclusive Jerusalém, e por esta razão é que os lideres
religiosos sempre se preocupavam com esta praça de guerra. O seu sistema de defesa eram as
cidades de Balate, Baixa Bete-Horom, onde Salomão construiu algumas das defesas da sua
cidade.

A segunda aproximação aos montes da Judéia através do Sefelá, era pelo vale de Soreque,
vasta planura, rica de pastagens para gado e agricultura. Foi dali que os doze espias levaram a
Moisés um cacho de uvas enfiado numa vara, como prova da riqueza da terra. Deste vale
tanto se vai a Jerusalém como à Filístia, pois as cidades de Ecrom e Geser ficam próximas. Foi
ali que Davi enfrentou o gigante Golias (I Sam. 17:14-58). A antiga estrada de ferro de Lude a
Jerusalém segue este curso, passando pelos tabuleiros de Bete-Semes, Meoah e Zorá, lugar do
nascimento de Sansão, e onde ele executou a maior parte das suas proezas. A rigor, o vale de
Soreque pertence ao Sefelá, mesmo que os seus limites não sejam facilmente determinados.
Por sua proximidade aos filisteus, era o lugar onde maiores cuidados se faziam necessários, e
não foram poucas as vezes que estes inimigos de Israel ocuparam algumas das suas cidades.
Era uma zona conflagrada. A fortaleza de Bete-Semes era uma guarda avançada contra os
inimigos do oeste. Salomão teve todo cuidado em se garantir contra estes inimigos até que os
dominou totalmente, pois quem dominasse Soreque dominava às portas da capital.

A terceira via de aproximação ao sistema central, via Sefelá, era o vale de Elá. Os extremos
deste vale ficam um pouco ao sul de Belém, perto do antigo campo de batalha de Bete-
Zacarias, na estrada que também leva a Jerusalém. Os seus extremos ocidentais, passando
pelo imponente outeiro de Zacarié, levam facilmente às ondulantes planuras da Filístia, em Tell
es-Safi, moderna Gade, uma das cidades do pentágono filisteu, a mais famosa e perigosa liga
anti-israelita. Guardar esta passagem rumo a Gade era guardar a entrada do inimigo rumo ao
centro vital de Israel. Provavelmente a atual Tell Zacarié é a antiga Azeea, em cujas
vizinhanças os israelitas, de um lado, e os filisteus do outro, se defrontaram por longo tempo,
até que Davi deu fim ao problema, matando Golias. Anos mais tarde, Roboão constituiu Azená
numa fortaleza, juntamente com outras cidades, precisamente para se garantir contra os
clássicos inimigos do oeste. Assim podemos ver que o vale de Elá era muito importante, quer
para os filisteus quer para os hebreus. Guardar esta passagem era questão vital para os nossos
israelitas. Se não era tão importante como Aijalom, não era menos importante que qualquer
outro passo mais ao sul.

Uma quarta passagem ou aproximação, quer às partes sulinas ou a oeste, ficava nas
proximidades de Beite Jearim, conhecido como o vale de Zefetá. Ficava um tanto afastada de
Jerusalém, e por isso não era de importância vital. Para percorrer esse caminho teria um
conquistador de vencer algumas das grandes cidades do sul, tais como Hebrom e Betezur. Fica
então claro que o domínio da região sulina era de importância vital por sua aproximação com o
centro de Canaã. Por esta razão, Sefelá foi sempre um centro de graves contendas entre
hebreus e filisteus.

A história desta região não compreende apenas os filisteus e israelitas. Os romanos ali
estabeleceram o seu quartel geral e os não menos belicosos sírios. Nas lutas macabeanas,
também este local assistiu a sangrentos combates contra os sírios. Modim, célebre nas lutas
dos Macabeus, Geser, Beite-Jibrim, Bete Semes, Zacarié, Quiriate-Sefer, Queilá, Marquedá e
Yimná são apenas alguns dos antigos bastiões que guardavam o sul e especialmente a capital
hebraica. Muitos destes centros foram desorganizados por Josué, mas tempos depois, por
falta de uma continuada vigilância, voltaram a servir aos antigos inimigos filisteus. Era o
campo clássico de batalha.

(3) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 201.


3. Platô Ocidental.

A parte mais importante de Canaã é, sem qualquer dúvida, o Platô Ocidental. É a terceira
divisão geográfica da Palestina, pois é a ponta que liga todas as demais divisões já referidas.
Para ir à planície marítima ou ao Jordão, se o viajante estiver do lado ocidental do rio, terá de
passar por esta divisão. Quando se observa Canaã do topo do Nebo ou do Hermom parece
que Canaã é um conjunto de montes sem fim, mas a realidade é bem outra. Há muitos
montes, mas pequenos, e eles se sucedem de tal modo que parecem mesmo um conjunto de
elevações. Talvez o panorama mais impressionante seja o visto de qualquer parte ao norte,
dos contrafortes dos Líbanos. Então a vista parece sem fim, porque se vêem os vales de
permeio com os montes. O planalto da Alta e Baixa Galiléia apresenta-se como um vasto
lençol de verdura, e se a visita se der na primavera, então a beleza não tem paralelo. A
expressão "De Dá até Berseba" toma uma feição diferente da que se tem lendo apenas as
palavras da frase. Se você fizer a viagem, digamos, de Jerusalém ao Mar da Galiléia, verá
várzeas sem fim, tão vastas que os agricultores são forçados a plantar arbustos, cana brava e
outros, entre os diversos lotes, para evitar que o vento varra tudo na sua Passagem. (4)

Anotaremos aqui as principais divisões desta vasta área, para melhor compreensão do estudo.

A parte norte do Platô forma a espinha dorsal da Galiléía, cercada pelas regiões marítimas de
Acre e Fenícia a oeste; ao norte, pelo rio Londres e os Líbanos, e a leste pelo famoso Vale do
Jordão. Eis uma boa sinopse da região. Começando com o sistema dos Líbanos, o platô desce
gradualmente, numa sucessão de depressões, até atingir o planalto de Esdraelom, dividindo-se
esta região em duas partes bem distintas, que são: (a) a Alta Galiléia e (b) a Baixa Galiléia. A
bem da verdade, o observador não vê outra diferença senão a altura dos montes que na
Galiléia do Norte se elevam de 700 a 1.400 metros acima do Mediterrâneo, enquanto na Baixa
Galiléia não vão a mais de 600 metros. De permeio, grandes vales formados pela depressão do
Jordão, que vão de Tiberíades à Planície Marítima, de Haifa e Acre. Toda esta região é muito
bem regada, por bons e permanentes rios, e uma grande precipitação anual. Por isso esta
região sempre foi o celeiro de muitos povos que viviam e morriam na sua defesa. A
proximidade do Monte Hermom também dá a sua contribuição à umidade do solo. Os cereais
crescem abundantemente, e, a não ser em longas estiagens, nunca há falta de alimento para o
povo. Além de cereais, as vinhas, os olivais, as nespereiras e outras frutas da região crescem
abundantemente. Boas estradas partem deste centro, rumo ao Jordão, Síria, Galiléia e sul de
Canaã. É o coração da Palestina, e, por sua localização geográfica e fertilidade, muitos povos a
desejaram e por ela muitos se guerrearam. A parte norte é livre por todos os lados; parece
uma terra de todos, e um convite a todos. As suas cidades, tais como Nazaré, a terra de nosso
Senhor, Tiberíades, Caná, onde Jesus fez o primeiro milagre, fazendo da água bom vinho,
Corazim, Betsaida e tantas outras, umas maiores e outras menores, são um mundo de
encantos, e parece até de louvores ao Criador. O Lago de Nazaré é a ,"ande pérola encrustada
neste conjunto, com os seus modestos barquinhos, indo e vindo, de um lado para outro em
busca do pescado para as populações. Foi nestas regiões que Jesus demorou mais e onde fez a
maior parte dos seus milagres. O povo, por seu feitio meio internacionalista, sempre aberto a
Quaisquer novidades, deu-lhe sua cooperação e amor, mesmo que houvesse a natural
oposição dos lideres religiosos sempre ciumentos das suas opiniões.

Para quem vai do sul ao norte, a Galiléia oferece o contraste já visto linhas atrás, com os seus
montes se elevando até a altura de 1.400 metros acima do Mediterrâneo. Vindo do norte para
o sul, o aspecto é o mesmo, mas com uma tonalidade diferente até encontrar as planuras de
Samária, com os seus vastos vales e campinas, os montes de Ebal e Gerizim a leste, montes de
tão celebradas recordações, por ter sido neles que a Lei foi reafirmada, com a proclamação das
bênçãos e das maldições, nos dias de Josué (Jos. 8:30-35). Foi em Samária que Jesus convidou
os discípulos a levantarem os olhos e verem os campos brancos para a ceifa e foi ali que Jesus
teve um dos seus mais tocantes encontros, no poço de Jacó que fica um pouco para leste. Há
duas planuras de especial importância nesta área: Dotã, onde José foi vendido por seus irmãos
para o Egito, e a outra, onde Eliseu mais tarde, foi cercado e livre (II Reis 6:8-23). Uma outra,
não menos significativa, é a chamada Moré, nas imediações dos montes Ebal e Gerizim, o lugar
da antiga Siquém, onde Abraão morou ao chegar a Canaã. Não há um palmo de terra nesta
região que não esteja ligado a um fato histórico muito querido aos leitores da Bíblia. Foi em
Siquém (Jos. 24:1) que Israel se reuniu para se despedir do seu grande líder Josué e receber as
últimas recomendações de ser fiel ao seu Deus; foi ainda ali que Israel se reuniu para coroar
Roboão, filho e sucessor de Salomão (I Reis 12:1). Foi perto dali mais tarde que se fundou a
capital do Reino do Norte, com dois centros de culto idólatra, organizados por Jeroboão I, um
em Dá, no extremo norte, e outro em Betel, na divisa com o reino do sul. Foi ali que se
fundiram as civilizações israelita e siríaca como resultado da mistura de povos que os reis da
Assíria trouxeram para Israel, de que resultou o problema religioso e político, tão do nosso
conhecimento no Novo Testamento, entre samaritanos e judeus. Como se vê, esta região tem
uma história.

Mais para o sul ficam as planuras de Judá, que alguns geógrafos chamam de "terceira seção"
desta área do Platô Ocidental. Começa em Betel e termina em Berseba, bem ao sul de Canaã.
Seus montes alcançam uma altura de 300 a 100 metros acima do Mediterrâneo e vão
declinando, até formarem um chapadão em Berseba. As suas fronteiras se unem em Sefelá, já
estudada nestas notas. Para o lado oriental, vai-se ao Jordão e Mar Morto, cuja situação será
vista mais adiante. Mais ainda para leste, ficam os lugares queridos do mundo cristão, grego
ortodoxo e católico; o Jardim de Getsêmane, o Monte das Oliveiras e outros.

Chegando a este ponto, encontramos a cidade de Jericó e o Gilgal, onde Josué estabeleceu seu
quartel general, e de onde comandou as campanhas da conquista do sul da Palestina. Mas
deixaremos esta apreciação para depois.

Um pouco para o sul de Samária encontram-se os famosos vales de Ajalom ou Aijalom, onde
Josué mandou parar o sol e a luz. É um vasto platô, rico para agricultura, amplo e bem regado,
onde os rios perenes tornam a região um dos pedaços mais cobiçados da Palestina. O vasto
vale de Esdraelom, que vai do Carmelo ao Jordão, foi um dos grandes centros de combate de
todos os tempos, e especialmente nos dias de Josué. Esdraelom e Jisreel se confundem, pois
ocupam a mesma área. Foi neste local que Josué enfrentou a coligação levita, perto de
Gibeom.

Daqui partem estradas rumo a todos os pontos da Palestina; para o sul até Berseba, para o
norte até Galiléia do norte e adjacências, para leste rumo ao Jordão. Era de ver que seria um
lugar disputado. Jerusalém, o antigo forte jebuseu, ficava apenas a poucas milhas, bem assim
Hebrom e as cidades do sul. Perto deste vale fica o bem conhecido lugar de Emaús onde Jesus
se encontrou com os discípulos depois da ressurreição. Um turista que sai de Jerusalém pela
manhã ficará encantado ao atravessar este lugar pela moderna rodovia que corta
longitudinalmente até Galiléia. Verá os verdes prados e, no tempo das colheitas, os grandes
trigais amarelecidos, como emblema da seara branca para a ceifa. De passo a passo,
encontrará as antigas cidades, mesmo com nomes novos, e algumas ainda não identificadas.
Assim revendo antigos e modernos locais, vamos de Jerusalém, passando por Aijalom, Jizreel,
Esdraelom, Samária, Nazaré e Alta Galiléia e, se desejarmos ir mais adiante, iremos aos
Líbanos, e bem ao norte à linda cidade de Beirute, perto dos picos gelados do Líbano. Não
esqueçamos o querido monte Hermom bem nas faldas do Anti-Líbano, onde Jesus se
transfigurou, para dar uma imagem do que será a vida dos transformados na ressurreição.
Não há aqui nesta aparente nesga de terra um palmo que não fale ao coração dos amigos da
Bíblia, sejam judeus ou gentios cristãos. Para nós, parece até ser a nossa terra, o nosso país.
(5)

(5) Kent, Biblical History and Geography, p. 45 - Veja Huntington, Palestine and its
Transformation, p. 304.
4. Vale do Jordão.

É a quarta área do nosso estudo. Tudo que se puder dizer desta região ainda será pouco para
descrever tanta história e tanta beleza. Com uma extensão de 220 quilômetros de norte a sul,
apresenta os dois extremos em altitudes; no norte, nas alturas do Monte Hennom, atinge a
2.045 metros acima do Mediterrâneo, e ao sul 420 metros abaixo deste mesmo mar, no Mar
Morto. 10 a mais profunda depressão na face da terra. A distância não é tão grande, pois
alcança uns 220 quilômetros de norte a sul. Por isso o Jordão se chama o "Corredor", pois é
um rio que desce com grande velocidade, especialmente no tempo das águas da primavera. É
uma região pitoresca.

O Vale do Jordão não incluía apenas o rio propriamente dito, mas a região lateral. Portanto, o
Vale do Jordão constitui-se da área que vai desde o sopé do Monte Hermom, ao norte, até o
Mar Morto, ao sul, e suas imediações. É uma região sujeita a terremotos e muitos têm sido os
abalos sísmicos que visitam a região. Quando estudamos a queda dos muros da cidade de
Jericó fazemos referência a um possível abalo sísmico que levantou o solo da cidade e fez
tombar os muros de dentro para fora. 0 rio mesmo muda de curso muitas vezes pela
interrupção do curso natural e temporária abertura de outro. Dai suporem os geólogos que a
passagem do povo pelo rio se deu precisamente no momento de um desses abalos. Pode ter
sido assim, mas então foi numa coisa totalmente medida, pois o rio secou quando as Plantas
dos pés dos sacerdotes que levavam a arca, tocaram a água, e as águas voltaram ao seu
normal justa e precisamente quando o último hebreu passou. Tudo calculado e medido por
quem tem nas mãos os destinos da terra e sua ciência. Antigamente havia florestas
marginando o rio, onde os leões e outros animais ferozes tinham as suas moradas.
Atualmente, a terra está devidamente aproveitada onde é possível, não havendo mais do que
arbustos marginando o rio. No 'verão o rio parece um carrego, com alguns lagos meio
parados, mas na primavera com o derretimento das neves dos Líbanos, as águas descem com
uma velocidade incrível, esbarrancando as margens e cavando ainda mais fundo o leito do rio,
que nalguns lugares é totalmente intransponível. Existem apenas alguns vaus, em certas
margens, onde o povo aproveita para passar de um lado para outro.

Nas imediações de Hamate, no Orontes, as montanhas correm paralelas ao Mediterrâneo,


formando o sistema conhecido por Líbano; do outro lado do Jordão corre outro sistema,
conhecido como o Anti-Líbano. Quando estas montanhas atingem a Alta Galiléia, vão
abaixando até se perderem em pequenas elevações esparsas por toda a Palestina. Quando
estes sistemas atingem Berseba, no sul, já desapareceram praticamente os Líbanos. As
montanhas de Judá representam este ramo oriental dos Líbanos. O sistema ocidental também
se chama "os Líbanos sírios". Um turista, visitando Beirute, vê lá em cima os picos nevados dos
Líbanos, e quando chega a Balbeque, muito abaixo, ainda está a 3.300 metros acima do
Mediterrâneo. Isso dá à região um tom de qualquer coisa milagrosa. Ao meio-dia o turista
toma seu banho nas águas quentes do Mediterrâneo, e à tarde vai esquiar nas neves lá em
cima, gastando menos de uma hora de carro. Olhando lá de cima para o sul tem-se a
impressão de um grande tobogam, em cuja extremidade há uma esteira de verdura
convidando o observador a vir refrescar-se e alimentar-se com as frutas abundantes que ali se
encontram na época própria. 2 uma terra de encantos e surpresas. O passo de Hamate é um
dos mais famosos nas crônicas do Velho Testamento, pois era o lugar por onde passavam os
exércitos invasores da Palestina, e quem dominasse este passo era senhor de toda a região
ocidental. Por ali passaram Sargão II, para cercar Samária, Tiglate-Pileser, Senaqueribe, para
cercar Jerusalém, Nabucodonozor, para tomar a cidade. Era a passagem do leste para oeste.
(11)

Com o abaixamento deste sistema Anti-Líbano vêm as grandes planuras do Auram, muito
famosas até nos tempos do Novo Testamento; a grande Basã, conquistada por Moisés aos
amoritas, e dada aos filhos de Israel; e mais para o sul as planuras de Moabe. Toda esta região
é plana e muito fértil. Ao sul destas planuras reaparecem as montanhas, com o nome de
Abarim, Nebo, e outras que se estendem para o sul até o Golfo de Acaba. Acredita-se que toda
esta bacia, no período pluvial, fosse um grande mar interno comunicando-se com o Mar
Vermelho, sendo então o curso do Jordão bem diferente do que é atualmente. Depois da
subversão de Sodoma e Gomorra e outras cidades do planalto sulino, tudo foi alterado,
cortando-se o curso do Jordão e formando-se o Mar Morto que não existiria antes. Nos
tempos de Abraão esta região era rica e apetecível, tanto que Ló a preferiu às secas estepes de
Berseba. Era uma região bem regada e fértil. Temos, portanto, uma vasta região, que parte do
Hermom, passa por Jericó e vai para o sul, até Acaba. Atualmente parece uma mesma região,
mas a verdade é que ela ainda oferece as divisões que teria noutros tempos.

Esta região presta-se a diversas divisões. Infelizmente não podemos estudá-la, por amor à
concisão que desejamos dar a este Panorama da Palestina. Mencionaremos os nomes, e os
estudantes se poderão valer de outras obras para completar o seu estudo. (7)

Alto Vale do Jordão ou o norte de Arabá

Mar da Galiléia, outro encanto da Palestina

Gor, ou médio Arabá

Mar Morto

Arabá do sul

O Arabá do norte começa nas alturas do Hermom e vai findar nas águas de Merom, onde Josué
desbaratou a coligação de Jabim, conhecida como coligação amorita. O lugar é um encanto
para a vista. O lago Merom é apenas uma pequena parada das águas que descem para o Mar
da Galiléia. As nascentes do Jordão ficam mais acima e provêm de diversos pequenos riachos.
Bânias é o nome que também se dá a este lugar, onde nos tempos dos romanos havia um
grande santuário dedicado a Vênus, uma espécie de sucursal de Balbeque. Lá foi construída a
Cesaréa de Filipos, cidade construída em honra de César Augusto, imperador romano. Ali
ficava a famosa cidade de Hazor, que Josué incendiou depois da vitória sobre os amoritas.
Mais abaixo, fica a linda cidade, de Tiberíades, construída em honra a Tibério, imperador
romano. É um oásis, cheio de verdura e frutas. O autor passou uma noite no hotel de
Tiberiades, e, pela manhã, no café, havia mais qualidades de frutas do que tinha visto em toda
a sua vida. Antes vêm Capernaum, Betsaida, para chegarmos ao Mar da Galiléia. Pelo lado
oriental ficam o Haurã, Uaconites, Gerasa, Gadara a antiga Decápolis, lugares muito famosos
no tempo de Jesus. A Galiléia, já mencionada nestas notas, dispensa qualquer outra palavra,
mesmo porque o autor está apenas dando algumas informações da terra que Josué
conquistou.

A seção entre a Galiléia e o Mar Morto chama-se Gor ou o meio Arabá, e vai da Galiléia ao
Mar, sempre descendo. O clima é muito quente, atingindo no verão a temperatura de 42º
centígrados, para melhorar quando chega a Jericó, o ponto final desta região. Pelo lado
ocidental ficam os platôs de Esdraelom, Jizreel, Aijalom, já referidos nestas notas, e pelo leste
ficam as planuras de Betsaida-Júlia, Gadara, Jabes-Gileade, muito nossa conhecida, e que será
ligeiramente estudada em conexão com a quinta divisão geral da Palestina. O estudante
destas notas observará que estamos apenas fazendo um ligeiro esboço de geografia da
Palestina, pois se nos detivéssemos a apreciar todas estas áreas, faríamos um livro, o que
queremos evitar.

O Mar Morto, já tocado aqui e ali, é o último dos três lagos desta região. Os outros são Merom
e Mar da Galiléia. O Mar Morto tem uma largura de dez quilômetros e um comprimento de
setenta e seis. Como se vê, é uma nesga de mar, pelo que se supõe haver sido outrora um vale
ocupado pelas cidades desaparecidas de Sodoma e Gomorra. A profundidade deste mar é de
400 metros no lugar mais fundo. As suas águas são tão pesadas que uma pessoa pode nadar
sem correr o risco de afundar. Recebe toda a água do Jordão num total de 26 milhões de
toneladas por dia e nada devolve. Toda esta água se evapora pelo calor contínuo que faz ali,
deixando os resíduos trazidos das alturas. Acredita-se que a riqueza no fundo deste mar daria
para tirar da miséria todos os povos subdesenvolvidos. Todos os metais ali se encontram.

Um pouco mais para o sul fica o Arabá do sul, uma região estéril até atingir o Golfo de Acaba,
onde ficava a antiga cidade de Petra, famosa nas crônicas antigas, e onde os marinheiros de
Salomão e os de Hirão, rei de Tiro, ancoravam os seus navios vindos do Oriente. Ali só moram
os beduínos, e antigamente ficavam lá os horitas ou seitas, que se misturaram depois com os
descendentes de Esaú e Ismael, dando os modernos árabes, conhecidos como os ismaelitas
antigos. Os israelitas tiveram de passar por ali e, como a terra era dos seus primos esaultas,
foi-lhes proibido tomar qualquer coisa da terra.
(6) Smith, The Historical Geography of the Holy Land, p. 448.

(7) Robinson, Physical Geography of The Holy Land. Veja, A Bíblia e as Civilizações antigas, p.
441, tradução do autor.
5. Platô Oriental.

Esta última região abrange todo o vale do Jordão e compreende a moderna Transjordânia, cuja
capital é Amã, antiga capital dos amonitas, filhos de Lá. Nas descrições bíblicas é quase
sempre denominado "além do Jordão". Esta terra não estava compreendida na "terra da
Promissão" dada a Abraão, mas por um desvio da história, veio a caber aos israelitas, quando
vinham do Egito. A história desta conquista encontra-se nos capítulos 31 e 32 de Números. Na
descrição da partilha da terra, segundo Josué 22, verifica-se que esta região já havia sido dada
por Moisés às duas e meia tribos de Gade, Rúben e meia de Manassés. (8)

Este antigo território pertencia aos amoritas, havendo os moabitas se estabelecido ao sul do
rio Arnom, e os amonitas a leste. Em o Novo Testamento o território é conhecido como Basã e
Gileade. Os amoritas tinham a sua sede lá nos altos do Líbano e Anti-Líbano, mas no decurso
do tempo se estenderam para o sul, ocupando grandes áreas, como esta do leste do Jordão.
Vencidos os reis amoritas, Siom e Ogue, foi o território dado aos israelitas. Em tempos
primitivos, todo este território deveria pertencer aos filhos de Ló, que juntos com seus
parentes ismaelitas ocuparam toda a vasta zona desde o Jaboque até o Golfo de Acaba. Com o
poder dos amoritas, foram os moabitas empurrados para o sul, e os amonitas encostados no
deserto a leste, onde os encontraram os israelitas, cujo território foi poupado. Muitas
referências bíblicas que falam das campinas de Moabe, junto a Jericó (Núm. 36:13), são uma
referência correta, pois o território era deles, mas havia sido tomado pelos amoritas. As três
divisões naturais desta região eram a terra de Basã, Gileade e Moabe.

O território de Basã incluía toda a área ao sul do Hermom até o rio Iarmuque, ao sul, e se
estendia do vale do Jordão até o Mar da Galiléia, a oeste. Toda a região é de formação
calcárea, com o,solo bastante rico, plano e admirável para a agricultura. Muitas são as
referências a Basã, quer no Velho Testamento quer no Novo. No Novo Testamento também é
conhecida como o Haurã e Traconites. Os limites entre uma área e outra são muito
aproximados, pois não havia divisões permanentes e estáveis, muito dependendo de
condições políticas. Do Iarmuque ao Jaboque ficava a alta Gileade, e do Jaboque a Hesbom a
baixa Gileade. Este território está associado com muitas atividades de personagens bíblicas,
tais como Davi, Elias, Saul e Jefté (Juí. 11). Do Iarmuque ao Arnom, bem ao sul, ficava o
território que nós conhecemos como a Peréia, o lugar por onde transitavam os hebreus no
tempo de Jesus, para não terem de atravessar a região dos samaritanos. Este território
pertencia a Herodes Antipas e era onde ficavam algumas das mais importantes cidades de
Decápolis, tais como Pela, Dium, Gadara e Gerasa. A cidade de Rabate-Amom foi a que Jefté
atacou, para defender os filhos de Jacó (Juí. 11 e 12), quando os amonitas alegaram que a sua
terra havia sido tomada pelos filhos de Israel 300 anos antes. Contra esta cidade Davi mandou
os seus homens (H Sam. 10,11). Com um mapa diante de nós podemos compreender melhor
esta vasta região- a -Dartir do Hermom até o Arnom, terra boa, bem regada e farta, servida de
boas estradas, com o bafejo do Jordão, que corre por toda a região, do norte ao sul. Falando
ainda de Gileade, faremos bem em lembrar o acordo feito ali entre Labão e Jacó, quando este
fugia de seu sogro (Gên. 31:22-42). Há, pois, uma linha histórica entre esta região e os
destinos do povo eleito.

Moabe. Esta região era a terra dos moabitas, mas pela pressão dos amoritas, foram aqueles
empurrados mais para o sul, onde os encontravam os israelitas vindos do Sinai, entre o rio
Axnom e os estéreis montes do sul. Por isso diz o texto bíblico que o termo dos moabitas é
entre o Arnom e os amoritas (Núm. 21:13). Toda esta área, desde o Hasor até o Arnom, era
possessão das duas e meia tribos de Gade, Rúben e a meia de Manassés, terra boa, bem
regada e admirável para a agricultura. Custou muito pouco a ser conquistada, e foi de fácil
manutenção durante os dias do Velho Testamento, por que os cananeus não exerciam
qualquer influência a leste do Jordão. Enquanto os outros hebreus tiveram de lutar durante
toda a sua existência para manter o seu direito à terra conquistada, os seus irmãos tiveram
apenas algumas rusgas com os amonitas, e uma ou outra vez a pilhagem dos moabitas.

Os moabitas, que não exerceram qualquer influência entre os seus irmãos israelitas, bem
poderiam ter mudado a face da história, mas eles mesmos estavam sob o domínio de reis
estrangeiros, pois Balaque, que mandou buscar ]3alaão em Peor, era, ao que se supõe, de
origem estrangeira. A história escreve-se de modos misteriosos. As relações entre edomitas,
filhos de Esaú, moabitas filhos de Ló, sempre foram de malquerença, e até os dias de hoje esse
espírito de contenda permanece, e parece até que não há povos que mais se odeiam do que os
árabes, descendentes destas gentes, e os hebreus. A raiva de Esaú, ao perder a primogenitura,
que vendeu por um prato de comida, dura até hoje e ainda não se sabe o que irá produzir no
futuro. Nesta hora, as armas dos dois lados estão silenciosas, mas não se sabe por quanto
tempo. Por outro lado, sabemos que os israelitas, senhores das promessas de Deus, com a
missão terrena que ainda não foi totalmente cumprida, terão de vencer, não por causa deles
mesmos, Ánas porque Deus lhes garante a vitória. Este escritor é sionista, e deseja a paz
ardentemente entre os filhos de um mesmo pai, mas não acredita muito nos arranjos políticos
para resolver o tremendo problema palestínico.

(8) Gebad, The New Standrad Dictionary, p. 298.


6. Neguebe ou País do Sul.

Esta vasta região estéril começa onde os montes de Judá começam a declinar. Faz parte do
Platô Oriental, na direção do deserto ao sul. As ruínas de civilizações mortas encontram-se por
toda parte. No tempo dos grecos-romanos muita gente viveu ali e calcula-se que 40 ou 50 mil
pessoas podiam acomodar-se nas estepes desta região. Muitas são as referências bíblicas a
esta região. Os amalequitas foram os primeiros a contestar o direito de passagem dos
israelitas rumo ao norte. Essa gente, que parece não tinha domicílio certo, por causa da
escassez da terra, julgava-se senhora de todo o Neguebe. Mesmo depois do estabelecimento
na terra, não foram poucas as vezes que os hebreus tiveram de se haver com eles. Por causa
da sua agressão ao povo, Deus determinou sua destruição. Saul foi comissionado por Deus
para ir destrui-los, mas o despojo foi tão tentador que foi ele o destruído, perdendo o trono
por causa da falta de obediência à ordem divina (I Sam. 15). O Prof. Hutington foi quem mais
estudou esta área, mas as suas conclusões padecem de confirmação, por falta de dados
históricos. A região era, além de estéril, sujeita a secas, que eram a sua constante,
dependendo de oásis e poços cavados aqui e ali. A história do Êxodo nos confirma esta
asserção, quando os israelitas clamavam por água para beber, eles e o seu gado. A agricultura
seria possível nos pequenos vales, entre os montes, ou junto aos oásis. A famosa cidade de
Petra deveria contar com suprimento de água, que não se sabe agora de onde vinha.
Igualmente as cidades de Robote, Aroer, Tâmara, Lalasa, Es-Beite entre outras menores,
sabiam como conservar a água das épocas chuvosas, sistema que ainda hoje é usado em
muitos lugares, onde a provisão especial é feita das águas que caem nos telhados ou
platibandas de suas casas de moradia. Nas ilhas Bermudas não há um litro de água potável.
Os habitantes dependem de navios que tragam a água de Nova Iorque ou da que recolhem em
seus depósitos nos tempos de chuva. Face a uma situação como esta, pode ver-se que seria
impossível construir grandes civilizações, a não ser a dos amalequitas que se nos apresentam
com certo grau de desenvolvimento, pois quando Saul foi mandado a destruir esta tribo ficou
interessado no despojo de ovelhas e bois (I Sam. 15).
Por outro lado, esta região nenhuma relação tinha com a conquista da terra, pois os grandes
povos posseiros estavam lá para o norte. Por isso, as referências a esta região e ao seu povo
são muito precárias.

Na vinda do Egito, os nossos hebreus tiveram de atravessar estes desertos, e as conseqüências


foram alguns dos milagres que Deus teve de operar para prove-los de carne, pão e água. O
deserto de Parã a oeste, passando pelas desoladas estepes de Sur, rumo às planuras de
Moabe, valia por uma prova de fogo para quem estava acostumado a viver nas margens do
Nilo, sempre cheio e rico em peixes e cebolas. Abraão conhecia bem esta região porque lá
morou junto com os amalequitas, tendo a sua casa ou tenda mais permanentemente em
Berseba, que fica muito para o norte. Podemos então entender porque esta região nunca
esteve nas cogitações de Moisés ou Josué. O que sabemos dos edomitas, descendentes de
Esaú, leva-nos a pensar numa região sofrivelmente servida de água e boas terras, mas isso não
era o caso. Sempre foram um povo meio selvagem, junto com seus irmãos, os ismaelitas
também moradores desta árida região. A não ser Petra, que é considerada um mistério da
história por sua beleza, seus palácios de mármore, talvez como resultado da sua proximidade
com o mar, outra coisa não há naquelas bandas que nos provoque admiração. Toda a cultura e
civilização estavam cá para o norte, entre os cananeus, de vários ramos, e especialmente os
hiteus, mitânios e mais tarde os sírios e assírios.

Não sabemos se os leitores do Livro de Josué lucrarão alguma coisa com as informações dadas
nesta introdução, mas o desejo do autor foi justamente o de facilitar esta compreensão, pois
lhe parecia que levar o estudante pouco familiar com a história da Conquista, assim de chofre,
ao centro de operações, sem um prévio conhecimento da terra, tornaria a compreensão um
tanto difícil. Além disso, também as lutas dos juizes para manterem as suas posições ao
ocidente do Jordão pedem-nos algumas informações da situação da terra depois da conquista.
Pelo menos o autor considera-se desobrigado de maiores responsabilidades com respeito a
informações prévias à conquista de Josué, objeto desta modesta obra. Para um estudo
sofrível, aconselhamos um bom mapa e especialmente um que contenha as divisões da terra
depois da partilha feita por Josué.
O ponto de partida para a conquista foi dado justamente desta região que acabamos de
estudar, a região chamada terra dos amoritas, dos moabitas, dos amonitas. Foi aqui que
Moisés fez a sua despedida e aqui foi sepultado por Deus. O povo estava agora bem
descansado e bem nutrido com a fartura desta região leste, e pronto para avançar rumo ao
oeste da Palestina.

(*) Esta introdução é o ponto de partida para a conquista.

NOTA. Os estudantes que desejarem uma informação completa da Palestina, devem ler, pelo
menos, os primeiros sete capítulos da obra de McKee Adams, tradução do autor, sob o nome A
BIBLIA E AS CIVILIZAÇOES ANTIGAS.
INTRODUÇÃO

1 . O Ato de Sucessão

A substituição de Moisés por seu auxiliar imediato, Josué, representou o que se convencionaria
chamar de Grande Crise. Efetivamente, substituir o líder inigualável numa hora de grande
expectativa, qual fosse a da entrada na terra prometida, não poderia ser entendida, em termos
administrativos, de outro modo. Moisés era o organizador da nação. De um aglomerado
humano, sem idéias definidas, fez ele o que se conhece hoje como nação israelita. Foi seu
legislador único e inconteste. Todas as leis que iriam reger a novel nacionalidade, quer
jurídicas quer morais ou religiosas, tinham sido elaboradas por ele. Foi ele o grande diplomata
face ao governo egípcio. Em suas mãos estivera o destino das promessas feitas a Abraão e a
seus descendentes, do ponto de vista humano. Substituir um homem deste por um quase
desconhecido, como Josué, era mesmo criar uma séria crise administrativa. Até que ponto isto
teria sido apreciado, não sabemos. Tudo se passou como no melhor dos mundos, na mais
calma e plácida situação. Parece até que a demissão de um e a nomeação de outro foram
considerados f atos corriqueiros. Nós não podemos crer que assim fosse. As crônicas que nos
legaram tanto Moisés mesmo como o seu sucessor dão-nos a impressão que, quer um quer
outro, eram simples mandatários de um outro poder, acima de tudo.

Nós fazemos a nossa apreciação dos fatos daqueles distantes dias como quem aprecia um fato
coevo, normal, rotineiro. Não era nada disso. Acima de Moisés e Josué estava o Grande
Capitão-General das hostes israelitas, e a maneira como havia agido por mais de 40 anos no
meio do povo seria o bastante para que uma situação como esta fosse recebida como coisa
normal. Havia, porém, algo de que ninguém poderia ter dúvida: Moisés fora proibido de
entrar na terra pela qual tinha trabalhado e lutado tanto. Como é que o povo receberia esse
castigo, não sabemos. O pecado de Moisés talvez nem tivesse sido observado pelo mesmo
povo. Uma coisa, que nós chamaríamos insignificante, priva o grande líder de entrar na terra
desejada e querida. Apenas por isto: em lugar de falar à rocha, para que desse água ao
povo, bateu nela com a vara. Não tinha sido essa a ordem divina. Somente por isso foi
punido com um castigo que só Deus pode precisar (Núm. 20:7-12). Por mais de uma vez
Moisés pediu a Deus que revogasse a sua decisão de proibi-lo de entrar na terra , até que Deus
mesmo se agastou e disse: "Não me fales mais nisso" (Deut. 3:23-29).

Depois da recusa, por parte de Deus, de conceder a Moisés o privilégio de entrar na terra,
estava ele demitido do seu ofício, sendo nomeado o seu sucessor, Josué (Deut. 3:28). Daqui
em diante, todos os atos de Moisés eram realizações de quem se despede de um pesado
ofício. Todavia, a não ser nesta oração a Deus, para lhe permitir entrar na terra, nenhuma
recriminado, desgosto, ou qualquer outro gesto, se nota no grande homem de Deus. Como se
tudo estivesse correndo a seu favor, continua na sua obra de realçar a lei e os compromissos
assumidos pelo povo perante ela. O autor gostaria de ver quantos homens, assim despedidos
sumariamente, com apenas um deslize na sua vida, seriam capazes de chamar o seu substituto
e prepará-lo para o encargo de fazer o povo entrar na terra. Se não tivéssemos outros muitos
motivos para admirar o caráter de Moisés, este bastaria para o imortalizar. Até o autor destas
linhas sente pena de Moisés. Homem fiel, leal, esforçado, corajoso que, num ato de ira, usou a
sua vara para ferir a rocha, quando a ordem era falar à rocha. Deus não foi glorificado naquele
episódio, e isso foi o que decretou a demissão do grande líder. Coisa pequena,
aparentemente, mas perante Deus não há coisas pequenas nem grandes: todas têm o mesmo
tamanho. Nós não estamos em condições de apreciar devidamente o fato; limitamo-nos a
mencioná-lo. Nada mais.

Tudo, daqui em diante, por parte de Moisés, convergiria para adestrar o seu substituto e
capacitá-lo, para o grande cometimento de atravessar o Jordão e entrar na terra prometida. O
grande livro de Deuteronômio é, pois, um livro de despedida, e veja-se, que grande despedida!
Muitas e novas determinações foram dadas por Deus, mas tudo em preparativo para a posse
da terra. Parece que todos os ensinos de Deuteronômio visam apenas à conduta do povo
depois de entrar na "terra que mana leite e mel". Alguns comentadores têm visto neste livro
uma outra lei. Não há nada disso. Há repetição da antiga lei dada no Sinai e sua interpretação
prática, no convívio entre os outros povos, junto aos quais passavam a viver. Era a prática da
lei ou a sua parte prática. Bem vistas as coisas, podemos estudar o Deuteronômio como
apêndice de Éxodo e introdução ao livro de Josué. Neste sentido, veremos, mais adiante,
outra apreciação ao livro ora referido.

(1) Para uma apreciação valiosa de Josué. veja-se International Standard Bible, artigo Josué.
Idem Enciclopédia Britânica
2. O Cântico de Moisés

Não podemos nem devemos terminar esta apreciação ao grande servo de Deus, sem passar os
olhos pelo capítulo 32 de Deuteronômio. É o Cântico de Moisés. Não é uma despedida
sombria de um derrotado, mas o cântico da vitória de um grande lidador. "Inclinai os ouvidos,
6 céus, e falarei; e OuÇa a terra as palavras da minha boca. . . Deus é fiel e sem iniqüidade;
justo e reto é ele" (Deut. 32:1 e 4b). Nenhum amargor se nota no espírito de Moisés, por ter
sido preterido e demitido por Deus. Ele, afinal, era apenas um servo, e nada mais. Aceitou a
sua tarefa tal como Deus a determinou. Se havia qualquer preocupação em seu espírito
quanto ao final desta caminhada, não parece. Ele sabia que a obra não era sua, que tinha sido
apenas um comissionado, para livrar o povo do cativeiro egípcio. E quando o Senhor da obra
entendesse que estava terminada a sua tarefa, aceitaria, com dignidade, o seu afastamento e
substituição. Nem sempre é este o espírito que demonstramos em situações críticas. Como
nos informa do autor de F-ebreus, capitulo 11, Moisés era homem de fé, desde o seu resgate
nas águas do Nilo até agora. Este é o seu retrato - Homem de Fé.

3. A última Concessão

Foi feita a Moisés uma grande e admirável concessão: ver a terra de longe. Deus ordenou que
subisse ao monte Nebo, defronte de Jericó, para ver toda a terra do outro lado do rio. Ele foi e
viu; e poderia dizer, Venceu, parafraseando César. Ficou tão encantado com o que viu,
levantou a sua voz e abençoou o povo que iria possuir uma terra para a qual tanto ele tinha
trabalhado (Deut. 33). No Estudo dos Livros de Números e Deuteronômio, do autor, há muitas
outras informações, que não devem ser repetidas aqui, e as que agora se oferecem aos leitores
são apenas uma manifestação de apreço pelo grande líder israelita. Depois de ver a terra e
admirar os seus contornos até onde a vista podia alcançar, e depois da bênção proferida no
capítulo 33, despediu-se desta vida, deixando lá embaixo o povo que lhe havia dado tantos
desgostos e tantas alegrias. Com 120 anos não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu
o vigor (Deut. 34:7). Morreu por ter cumprido a sua tarefa e não por velhice. Deus mesmo
preparou o enterro, não se sabendo até hoje onde foi sepultado. Judas, no seu breve livro, um
só capítulo, no verso 9, citando de um livro acanônico, informa-nos da disputa entre Satanás e
o anjo Miguel, a respeito do corpo de Moisés. Porque Judas cita um livro não inspirado, Para
nos dar este informe, não sabemos, senão que o enterro de Moisés teria sido alguma coisa
fora do comum. A opinião do autor é que toda a linguagem a respeito da morte e enterro de
Moisés é natural, mas não real. Moisés teria sido trasladado ao céu, como foi Elias, e isso não
milita contra a linguagem que dá Deus como o coveiro. O texto sagrado diz: "o sepultou num
vale na terra de Moabe" (Deut. 34:6). Quando da transfiguração de Jesus no monte,
apareceram Moisés e Elias falando com Ele. Por que Moisés e Elias? A interpretação é que
Moisés representava a Lei e Elias a Profecia; e o autor acrescentaria, mui reverentemente, que
os dois foram levados ao céu sem passarem pela sepultura. Mas o texto diz expressamente,
que Deus enterrou Moisés num vale na terra de Moabe. Para o historiador nada mais natural
Moisés ser enterrado, e a tanto valia a sua subida ao céu, no caso de este humilde autor estar
certo. São maneiras de dizer uma mesma coisa. Estava assim encerrado um grande capitulo
da história de Israel e terminada uma grande vida.
4. O Sucessor

Depois do luto de trinta dias, celebrado nas campinas de Moabe, Josué assumiu o posto, para
o qual estava já devidamente preparado. Não sabemos de alguma alternativa surgida entre o
povo. Acostumado que estava a ouvir Moisés e terminando a sua carreira, muito
naturalmente aceitou a nova situação. Deus se encarregou de intervir na situação criada.
Apareceu a Josué e lhe deu as ordens, já antes dadas e agora confirmadas. Tomemos em
consideração que Deus era o Senhor absoluto da situação. Era o chefe do povo. E isso tinha
sido demonstrado por muitos modos e maneiras. Não havia um rei a que alguém sucedesse.
Havia um chefe, de nomeação exclusiva de Deus. A ele caberia a orientação do curso a seguir.
Deus, pois, deu as ordens a Josué, de como deveria proceder. Josué, por sua vez, falou aos
chefes do povo, consoante o que ouvira de Deus e recebeu o apoio maciço do mesmo povo.
Estava, pois devidamente credenciado para a grande tarefa de passar o Jordão e empossar a
nação na sua herança. Em 2060 antes de Cristo, Deus prometeu a Abraão a posse desta terra;
em 1440 foi ratificada a promessa com a outorga da Lei; agora em 1400 é cumprida a
promessa. Alguém perguntou ao autor que titulo jurídico o povo de Israel pode oferecer como
detentor dos direitos à Palestina. A resposta foi que toda a terra é do Senhor, e a sua
plenitude. Ele a dá a quem quiser e a tira de quem quer. Deu a Palestina aos hebreus. Tinha o
direito de a dar, porque era sua. Não a deu aos árabes nem a outro qualquer povo, mas aos
israelitas, descendentes de Abraão, e eles a possuirão sem qualquer dúvida, haja o que houver.
5. Problemas Literários do Pentateuco

Antes de entrar no estudo do livro de Josué, convém examinarmos, mesmo ligeiramente, o


problema literário que afetou Josué, como o Pentateuco mesmo. Todo o século XIX foi
consumido em divagações literárias a respeito da autoria do livro de Josué e mesmo do
Pentateuco, chegando os críticos alemães a tal ponto, em seus estudos, que nada faltou para
desacreditar a Bíblia totalmente. Um resumo das especulações desses sábios é o que vamos
ver linhas adiante.

1) Hipótese documentária (2)

Em 1753, Astruc, um médico francês, descobriu que o livro de Gênesis tinha sido composto de
dois documentos diferentes usados por Moisés: num se usava o nome de Deus, Eloim; e no
outro, o nome de Deus, Jeová. Astruc não tentou negar a autoria mosaica de Gênesis, mas
apenas que ele teria usado dois documentos preexistentes. Daqui, deste ponto de partida, é
que surgiu a celeuma que envolveu a credibilidade do Pentateuco e de toda a Bíblia mesma.
Prosseguindo nesta análise, descobriu ainda que Gênesis continha outros dez documentos
menores. Um pouco mais tarde, em 1782, Eichorn, erudito alemão, publicou um trabalho
intitulado "Introdução ao Velho Testamento", no qual não só apreciava as conclusões de
Astruc, mas as elaborava, oferecendo novas opiniões sobre a composição do livro de Gênesis.
De modo geral, mantinha-se ainda a autoria de Moisés para o livro de Gênesis, mas, pelas
conclusões a que Eichorn tinha chegado, já se podia vislumbrar, que em breve Moisés
desapareceria da cena. Estava assim aberto o caminho para as mais extravagantes conclusões,
não apenas sobre Gênesis, mas sobre todo o Pentateuco. A estas conclusões deu-se o nome
de Hipótese Documentária. Vale dizer que Moisés teria usado duas ou mais fontes de
informação na elaboração do seu grande primeiro livro.
(2) Veja Sylabus for the Old Testamet, J. R. Sampey e introdução do V. Testamento Trad. de
Antônio N. de Mesquita, JUERÉ 11 edição 1969.
2) Hipótese fragmentária.

Alexandre Gudes, em 1800, publicou um trabalho em que decompunha não apenas o Gênesis,
mas todo o Pentateuco, numa série de pequenos documentos, sem ordem cronológica, sem
nexo e sem conteúdo histórico. Seguiram-se Vater, em 1802, e Hertmann, em 1831, tentando
analisar a fundo a maneira como teriam surgido os livros do Pentateuco, e quem teria sido o
seu autor, ou autores, pois a esta altura já Moisés não podia ser o autor de qualquer dos seus
livros. Estava assim destruída toda a unidade interna do Pentateuco e toda a sua história.
Está-se num labirinto, cuja entrada e saída são desconhecidas. O que isso provocou nas
universidades européias está longe de ser posto nestas páginas. Cada qual interpretava o
assunto a seu modo, e os que antes tinham vivido e morrido na crença de que Deus tinha
falado a Moisés e o levara a escrever estes livros estavam desarvorados. Os estudantes
universitários, especialmente, eram os mais afetados pela nova doutrina, pois tudo estava
subvertido. Nem Moisés era autor de coisa alguma, nem se sabia quem poderia tomar o seu
lugar. Um abismo chama outro abismo. Foi o que aconteceu. Rapazes e moças universitários
que haviam saído de suas casas abeberados nas doutrinas mosaicas estavam agora sem saber
o que ou em que crer.
3) Hipótese suplementar

No estado a que chegou o exame dos livros de Moisés, ninguém mais se entendia. Em 1805
de Wette escreveu um trabalho, que fez época a respeito do Deuteronômio. Segundo as
conclusões deste critico, o Deuteronômio nem era de Moisés nem mesmo da sua época. Teria
sido forjado nos tempos do rei Josias, ou um pouco antes da sua notável reforma Religiosa.
Lembram-se os leitores da Bíblia que este grande rei reformou a religião, que estava
anarquizada, e atualizou o culto, dando-lhe as cores dos tempos de Salomão. Pois bem, algum
elemento, piedoso ou não, teria escrito o Deuteronômio e o teria escondido no templo,
nalgum canto, de modo que quando os operários de Josias vasculhavam tudo, para proceder a
uma limpeza em regra, descobriram este livro. Esta opinião, que se afigurava tão fascinante,
teve logo o apoio de outros não menos famosos críticos da Bíblia, tais como Bleek, 1830, Tuch,
1838, Stacheliw, 1843, e Knobel, 1852. Juntos deram o último golpe em toda a tradição
mosaica, e quem seria o cristão que poderia contestar as opiniões destes ilustres luminares da
ciência histórica? Segundo esta escola, os dois documentos Eloim e Jeová formariam a base de
toda a literatura do Pentateuco, com os adendos e as alterações, que veremos mais adiante.
Mas logo se verificou que, separando os dois documentos, Eloístico e Jeovístico, o que sobrava
não tinha nexo nem sentido. Estava, assim, não apenas destruída a obra de Moisés, mas
também os mesmos livros a ele atribuídos, pois o problema não tinha sido simplificado, porém
tremendamente complicado. O problema que eles criaram constituiu o seu calvário. Era
preciso, antes de tudo, achar uma conexão histórica, uma explicação, pelo menos, para toda
esta divisão de documentos. Depois de tudo, se Moisés não foi o autor do Pentateuco é se
nem se sabia quem teria sido, porque a nenhuma das supostas seções componentes se havia
dado autor, surgiu então a linguagem de que tudo não passava da elaboração de uma ou de
diversas escolas durante séculos, escolas que não apenas tinham preparado o Pentateuco, mas
o mesmo livro de Josué pertencia a estas escolas. Logo não tínhamos um Pentateuco, mas um
Exateuco.
Estes críticos sempre deram pouco valor ao pensamento dos outros. Pois como teria sido
possível admitir que o povo judeu, que deveria ter um pouco de memória, aceitasse um livro
atribuído a Moisés, porém de quem jamais tinham ouvido falar? O rei Josias rasgou as suas
vestes, quando ouviu ler no livro de Deus, as recomendações dadas ao povo, julgando-se e a
toda a nação como transgressores da lei de Deus. Ora, se Josias assim procedeu, é porque
verificou, junto com o povo, que estavam mesmo afastados da lei. Impingir a um rei e a uma
nação um livro como sendo de Moisés, morto havia 770 anos, era qualquer coisa que não cabe
na cabeça de ninguém. Para estes críticos, a consciência de um povo, as suas tradições e os
seus conhecimentos da história antiga de nada valem.

Em 1853 Hupfeld, tentando achar uma saída para o intrincado problema, escreveu que além
do Deuteronômio e da teoria Jeovística e Eloística, havia mais outro documento. Eramentão
quatro. Para chegar a esta conclusão dividiu o documento Eloístico em dois, perfazendo assim
o número de quatro. Dois Eloísticos, um Jeovístico e um Deuteronômio. Na análise do
Pentateuco, era difícil determinar que parte pertenceria ao documento Jeovístico e que partes
pertenceriam aos documentos Eloísticos, porque, segundo os seus critérios de análise, sempre
sobrava alguma coisa, que nem pertencia a um documento nem a outro. Um verso, por
exemplo, podia pertencer tanto a um destes documentos, como a dois ou mais. Para facilitar o
exame, usaram então letras designativas dos documentos em questão. O Eloístico era
representado pela letra E; o Jeovistico pela letra J, o Deuteronômio pela letra D, e o que
sobrava de qua'Lquer destes documentos, pela letra P. Temos então EJDÉ sendo P
representado pela escola de sacerdotes que teria forjicado o Pentateuco. De 1865 em diante,
nem Levítico nem Números eram mais atribuídos a Moisés, e até se declarava que Moisés
nunca existira. Era o cúmulo da ousadia.
4) Impossível uma apreciação.

Não cabe nesta breve apreciação uma análise exaustiva de todo o curso seguido por estas
diversas escolas atéias. Estamos apreciando o livro de Josué e isto é o que nos interessa. Só
damos esta breve explicação do problema por amor à clareza. Mas o problema não estava
resolvido. Verificando que, pela linguagem, certas expressões nem cabiam no documento E
nem no J nem no É então inventaram uns redatores, ou seja, homens que durante séculos
teriam modificado os documentos originais J E D. Assim teremos ER, JR, DR, PR, ou como
outros escrevem: El, E2, Jl, J2, Pl, P2. O Pentateuco virou uma colcha de retalhos, cabendo
muitas vezes um simples verso a duas ou três escolas, que teriam manipulado o texto a seu
modo. Face a estas conclusões, nem Moisés existiu, nem Deus falou a ninguém. Tudo era
produto de escolas racionalistas, que se tinham encarregado de fabricar estes documentos.

Especialmente, durante o cativeiro babilônico, a Escola de Sacerdotes, representada pela letra


É P1, P2, teve a parte principal na fabricação dos documentos, que depois vieram a ser
atribuídos a Moisés.

Igualmente, tudo que cheirasse a milagres, "Assim disse Jeová", estava eliminado. Deus jamais
falou a ninguém, portanto, tais frases deveriam ser riscadas dos documentos. Era um cipoal
em que não se tomava pé. Um verso qualquer tinha frases atribuidas ao documento J, quando
o documento era E. Então tirava-se tudo que supostamente não concordava com o documento
em questão; mas o que ficava não dava sentido. Assim se passou todo o resto do século XIX,
procurando achar uma saída para o problema simples, que estes críticos tinham
tremendamente complicado. O mal que causaram à mente cristã, especialmente à mence
estudantil, está longe de ser analisado. A Alemanha, luterana que era, tornou-se racionalista;
e não nos devemos surpreender que ela tenha dado à humanidade duas tremendas guerras.
Quando Deus é varrido das escolas, perto está, a nação, da sua ruína.
(1) O estudante destas notas dispensará que se dê maior exame ao problema critico do Velho
Testamento. Não se pode eliminar o sobrenatural da Bíblia. Tal tentativa redundará em
fracasso. Portanto, o Pentateuco não pode ser o resultado de uraa escola ou de meia dúzia. É
claro em suas páginas que Deus falava a Moisés e a seus seguidores.

(2) Igualmente não se pode creditar ao povo hebreu tamanha ignorância aceitar livros como de
Moisés, quando tal pessoa nem sequer existiu. O nome de Moisés enche todo o Velho
Testamento, e todas as transgressões eram sempre aferidas à base dos ensinos de Moisés.
Isso, tanto durante a existência da nacionalidade como depois. Como é que se pretende sacar
contra a mente de um povo tamanha ignorância, não sabemos. Hoje, 3.500 anos depois de
Moisés, este nome ainda enche a história, tanto dos judeus como dos povos cultos do nosso
século. Negar a existência desse homem é negar a história dos povos cultos, pois a sua
legislação encontra-se em todos os códigos modernos. Os Dez Mandamentos nunca puderam
ser ignorados, como não pode ser ignorada a história antiga.

(3) No princípio do século XIX, a arqueologia ainda não tinha nacido. A história da Assíria e de
Babilônia, com suas conquistas dos povos ocidentais e orientais, era totalmente ignorada. Se
esta história fosse conhecida, estes homens teriam tido outro cuidado; não avançariam, como
o fizeram, destruindo crenças e história, exterminando personagens, como se fossem
fantoches. O século dezenove era muito ignorante da história antiga.

Entretanto, quando um homem julga saber tudo, e ter o direito de desacreditar o que os
outros crêem, resulta em ser desacreditado pela mesma história que ele contraditou.

Estas notas, talvez dispensáveis, são dadas a propósito da palavra exateuco, que muitos
leitores encontrarão em obras antigas e modernas. Nós não temos um Exateuco, um conjunto
de seis livros, atribuídos a grupos, mas um Pentateuco, atribuído a Moisés, e um Josué,
atribuído a outro escritor. Os que desejarem maiores esclarecimentos sobre a critica
racionalista, com referência ao Pentateuco, leiam o livro Introdução ao Velho Testamento, da
autoria de Clyde T. Francisco e tradução deste autor. (3)
(3) Os livros dos historiadores alemães não se encontram em português. Só os que leem
francês e inglês ou alemão podem consultar estas obras.
6. Autoria, Autenticidade e Data do Livro

Infelizmente não se pode dizer muita coisa a respeito da autoria e data do livro ora em estudo.
Parece certo que Josué nada escreveu. Não que não estivesse capacitado para isso, porque é
bem possível fosse um dos amanuenses de Moisés. Também o fato de os últimos versos de
Josué (24:29,30) se referirem à sua morte não vale como argumento, porque tampouco
Moisés poderia descrever a sua morte, como ocorre em Deuteronômio 34. Tanto Moisés
como Josué poderiam ter os seus amanuenses. As razões que nos levam a não aceitar a
autoria de Josué, do livro que traz o seu nome, são outras. A descrição dos fatos nele narrados
parece distanciar-se muito do tempo em que ocorreram. Como veremos no estudo ora
proposto, o livro retrata uma série de ocorrências, muitas vezes deslocada do contexto,
parecendo que o escritor se valeu de memórias existentes, mas muito distantes dos
acontecimentos. Este mesmo fato se encontra no Livro de Juizes. Admitem alguns que as
atividades bélicas de Josué não lhe permitiram descrever a marcha da guerra de conquista da
Palestina. Também isso não nos parece argumento suficiente. De qualquer forma, o exame do
texto nos leva a concluir que o livro é obra de composição, e não de descrição. Admite-se que
muitas das suas narrativas constituíssem memórias isoladas, escritas por diversos autores, e
mesmo correntes entre o povo oralmente. Uma coisa deve ser notada: Josué não completou a
tomada da terra, conforme 13:2. Foram apenas 10 anos de conquista e o terreno conquistado
foi somente uma cabeça de ponte para a posse definitiva, que só teve lugar no tempo de Davi
e Salomão.

Não sendo Josué o autor do livro, quem teria sido e em que data teria sido escrito é assunto
que tem feito gastar muita tinta e tempo. Foram 350 os anos que medearam entre a entrada
na terra e a coroação de Saul. Durante esse longo período, a vida em Israel seria muito
instável. As instituições nacionais não se desenvolveram; não havia mesmo um lugar certo
para centro de culto. As incertezas do dia de amanlhã seriam tantas que a ninguém ocorreria a
idéia de escrever a história do povo. A não ser o Cântico de Débora, parece mesmo que nada
se escreveu de tudo que aconteceu. O livro de Juizes ainda é mais flagrante do que o de Josué,
pois naquele encontram-se fatos completamente deslocados do seu contexto cronológico.
Portanto, nós somos levados a crer que antes do estabelecimento do Reino de Israel não teria
sido sentida a necessidade de escrever as coisas que tinham ocorrido séculos antes. Depois do
reino, sim, pois até os reis tinham os seus cronistas, de onde nos vieram os dados que se
encontram nos dois livros de Reis, e onde eram registramos os atos dos reis. Não nos parece
adiantar muito supor que Samuel tenha escrito os dois livros de Josué e Juizes e parte dos dois
que trazem o seu nome, pois não temos quaisquer elementos para afirmar isso. Concluimos
então que os livros sejam o produto da era literária de Davi e Salomão, quando uma imensa
literatura nacionalista e religiosa foi produzida, e quando teria sido sentida a necessidade de
retomar a história encerrada com o Pentateuco.

Os hebreus contam os nossos chamados livros históricos, Josué, Reis, como os primeiros
profetas e no cânone hebraico são considerados como livros proféticos, os proto-proféticos,
designação, aliás, muito superior à que corista das nossas Bíblias, livros históricos. Assim, no
pensamento dos organizadores do Cânone, estes livros foram escritos por profetas, e estes só
existiram no tempo do reino.

Pouca diferença faz que Josué escrevesse o seu livro ou um dos amanuenses reais, um dos
profetas mesmo. O livro encontra-se no Cânone hebraico e faz parte da coleção sagrada, tanto
quanto Isaias ou Jeremias. A nação deveria ter razões seguras para creditar este livro como
livro profético, mesmo que descrevesse fatos puramente históricos, porque a profecia tambem
é história. Nossa mentalidade altera muito o conteúdo de certos fatos bíblicos. Por exemplo,
profeta é um homem que Deus chamou, pessoalmente, para ser o seu porta-voz, numa
determinada época, quando o Concerto estava em crise. Esse homem recebia a sua
mensagem diretamente de Deus. Então dito homem era profeta. Um outro, a quem Deus
teria cometido a tarefa de pôr em ordem certas coisas da nacionalidade e em quem não há o
estilo rigorosamente Profético, não é profeta. Isso resulta em nosso falso conceito de profecia,
a que sempre se atribui um tom divinatório. Profeta é a voz de Deus, seja na entrega de
determinados cometimentos ou não. Tantos quantos Deus chamou para o seu serviço são
profetas no conceito israelita. Por isso que os livros pré-proféticos são também chamados
proféticos. O cânone hebraico tem apenas três divisões: (1) Profetas, de Josué a Malaquias; (2)
Lei, os cinco livros de Moisés; (3) os chamados escritos, e por nós chamados poéticos. Nós
temos cinco divisões: (1) Lei; (2) históricos; (3) profetas maiores; (4) profetas menores e (5)
poéticos. Daqui resulta a dificuldade de incluirmos o livro de Josué como profético, escrito por
um profeta. Não temos tampouco a data da canonicidade destes livros. Sabemos que sempre
foram canônicos, desde o seu aparecimento no meio da literatura hebraica, e o cânone ficou
encerrado depois do profeta Malaquias.

Apreciaremos então o livro de Josué como um livro profético, lidando com fatos históricos
puros. Isso nos ajudará a compreender o livro como uma peça importante do conjunto
canônico, e não faremos diferença entre o seu conteúdo e o de Jeremias ou qualquer outro
livro profético. A narrativa da parada do sol é um forte argumento de que o livro não foi
escrito por Josué. O fato foi extraído de um livro de poesias nacionais, uma antologia
conhecida como o livro de Jaser ou o livro do Justo, livro muito posterior ao tempo de Josué
(Jos. 10:13).

Josué nasceu no Egito, ao tempo da escravidão, e dali saiu com o povo, tornando-se coadjutor
de Moisés, como Calebe. O nome significa Yahweh é salvador, ou salvação de Yahweh. Desse
mesmo nome veio o de Jesus, Salvador.

O hebraico do livro é igual ao de Samuel e Reis. Não tem aquele sabor do livro de Jó, muito
mais antigo.
7. Problema Moral do Livro

Um problema de natureza moral nos oferece Josué. É um grave problema para os que ignoram
que "do Senhor é a terra e a sua plenitude". Logo, Ele dá a terra a quem quer e a tira de quem
quer. A destruição dos cananeus, para que a terra fosse ocupada pelos israelitas tem oferecido
combustível para longas tiradas literárias. Não admitem muitos que Deus destrua um povo
para dar a sua terra a outro povo. É um argumento sensível, que só comove quem não
conhece os direitos divinos à vida e à terra. Os israelitas estavam destinados a ser um povo
missionário, quer pelos contornos geográficos, quer por sua influência social. A Palestina era o
"corredor do mundo", pois por lá passavam as grandes estradas que uniam o Oriente ao
Ocidente. Os povos cananitas tinham corrompido a terra e tudo que podiam fazer era
influenciar para o mal. Ali se tinham desenvolvido todos os pecados do mundo de então,
cevado nos vários sistemas de idolatria. Destruir a idolatria sem destruir o povo era
impossível. Então a destruição do povo se impunha como um problema moral. Entre outras
razões, que poderiam ser alinhadas aqui, esta é a principal. Tenhamos em mente que Deus
tinha deliberado começar um sistema novo na ordem das coisas humanas. Como não Podia
tratar com os anjos, Por lhes faltarem condições para tanto, escolheu uma família, para com
ela tentar moldar o mundo. Esta família não existia ainda, pois não poderia escolher qualquer
das existentes, por estarem todas corrompidas. A que fosse escolhida teria de ter um
território e nenhum melhor do que a Palestina, que, pelos dizeres da revelação, era terra que
manava leite e mel. Mas a Palestina estava ocupada por muitos povos pequenos. Que fazer?
Desapossar uns, para dar lugar a outros. Foi o que Deus fez. Alguns sociólogos insistem,
atualmente, era que Israel não tem titulo jurídico de propriedade da Palestina. Como não
tem? A terra foi prometida em 2060, e o povo tomou nosse em 1400 e lá ficou até o ano 70 da
nossa era. Isso é suficiente para justificar o direito à terra, por parte dos judeus. Demais a
mais, são um povo sem pátria. Qual a nação que lhes daria guarida independente? Nenhuma.
Portanto, eles têm o direito de desejar voltar à terra de seus antepassados e ficar lá.
8. A Doutrina do Livro

O valor religioso de Josué está além de qualquer palavra.

É um livro que retrata as grandes verdades da Bíblia, tais como:

1) Fidelidade de Deus à sua palavra. Nem uma, das palavras faladas por Deus caiu. Tudo foi
cumprido. Se falhas houve, estas devem ser debitadas ao povo, que não soube cumprir as suas
obrigações.

2) A Santidade de Deus. Deus é Santo e é contrário a todo e qualquer pecado, ou condições


que permitam o pecado, tais como casamento com gentios, coisas de que os israelitas nunca
se livraram, porque tais casamentos comprometem a unidade da religião.

3) A graça de Deus e Sua paciência com o povo. Deus é um Deus gracioso, e isso ficou
demonstrado através do livro e vai continuar em Juizes. Deus é o salvador do povo em todas
as circunstâncias, e, apesar dos pecados do povo, a salvação estava sempre presente. O nome
de Josué Significa Jeová é Salvador. Deste nome veio mais tarde o nome de Jesus, que salva o
povo dos seus pecados.
I - COMANDANTE DOS EXÉRCITOS VISITA O ACAMPAMENTO

1. Uma Visita de Jeová

Depois da morte de Moisés, Deus aparece a Josué e o confirma como o novo líder. A nós se
afigura uma grave tarefa para um homem que, embora maduro, não tinha a experiência de
Moisés. Deus, entretanto, afirma seu plano de apoiar o novo líder como apoiara o antigo. A
área a ser conquistada era de apavorar: desde o deserto do sul, até o Líbano, ao norte da
Palestina, virando para leste, até o Eufrates, e para o Ocidente, até o Mediterrâneo. Abrangia
alguns dos grandes impérios daqueles dias, como dos hiteus e dos famosos fenicios
navegadores. Estavam incluídos nessa área a Ásia Menor, atual Turquia, sede do império
hiteu, e os territórios conhecidos como assírio e babilônico, a Fenícia e a terra dos filisteus. Era
todo o Oriente Médio em termos de Geografia moderna. Porque Josué não conquistou esses
povos, não sabemos. As armas israelitas não chegaram aos subúrbios do Líbano nem tocaram
os territórios fenicios de filisteus. Mal conseguiram desmantelar os pequenos povos palestinos
centrais, nações mal organizadas, vivendo em confederações, sem unidade racial e política.
Por outras informações, tanto de Josué como de Juizes, os israelitas não estavam em
condições de dominar tanta terra e tantos povos. Isso só se tornou possível com Davi e
especialmente com Salomão, séculos mais tarde. Não sabemos se Josué tinha conhecimento
da geografia dos territórios a conquistar; acreditamos que não. Se conhecesse, estremeceria.
Nem mesmo a Palestina Central ele conquistaria com suas armas, mas pelo poder de Deus. Era
Deus o seu escudo. Bastava. (1)

(1) Sayce, Patriarcal Palestine. p. 96.


2. Uma Condição

Havia uma lei para ser observada: a lei do servo Moisés, a pedra de toque. Em torno dos
postulados de Moisés giraria toda a iniciativa da conquista e até mesmo a história posterior.
"A lei de meu servo Moisés" era para o tempo e para a eternidade. Os que tanto têm lutado
para destruir essa lei e suas conquistas nunca pensaram a sério no significado da lei dada por
Deus. Josué aceitou o desafio proposto e se preparou para a partida. O caminho não seria tão
longo, mas deslocar uma multidão de milhões, com crianças e animais, era um problema que
precisava ser ordenado com antecipação. Por isso enviou pregões a todos os cantos do arraial,
mandando o povo se preparar. Conclamou os rubenitas, gaditas e a meia tribo de Manassés a
que os acompanhassem, e de bom grado o fizeram. Ressaltamos aqui o espírito de honra
demonstrado por essas duas e meia tribos. Já instaladas em boas terras, as terras dos
amoritas, de Seam e Ogue, com suas casas, seus filhos, tudo bem preparado, se aprestaram
para unir sua sorte à dos seus irmãos, do outro lado do rio. Essa era a ordem deixada por
Moisés, e não poderia ser de outro modo: enquanto uns estariam lutando por vencer os
inimigos não seria justo que os outros permanecessem tranqüilos em suas casas e fazendas. É
a doutrina da solidariedade bem exemplificada. A resposta a Josué, dada pelas duas e meia
tribos, foi exemplar e merece destaque. "Tudo quanto nos ordenaste faremos, e onde quer
que nos enviares iremos. Como em tudo ouvimos a Moisés, assim te ouviremos a ti.. ." (Jos.
1:16,17).
3. Dois Espiões São Enviados a Ver a Terra (2)

A terra havia sido espiada, quando de Cades-Barnéia Moisés enviou doze homens a vê-Ia
(Núm. 13). O relatório dessa missão causou tremendo prejuízo, detendo os israelitas por 40
anos no deserto, até que morressem todos os incrédulos. Agora a situacão era diferente, mas
ainda assim Josué quis certificar-se antes de manobrar as suas forças, de modo a evitar uma
cilada. Tem parecido a alguns comentadores que tanto Moisés como Josué não confiavam na
vitória garantida por Deus.

Pode-se ver o problema por outro ângulo também. tratava-se de ordenar um ataque contra
inimigo poderoso. Essa ordenação recria planos de estratégia, e Deus não é contrário aos
nossos planos. Até os aprova. Logo, não há dúvida da parte de Josué quanto ao resultado do
ataque. De qualquer modo, os homens foram enviados e, disfarçadamente, foram bater na
casa de uma meretriz, que tinha seu alojamento sobre as muralhas da cidade, suficientemente
largas para permitirem um automóvel moderno manobrar por cima delas. Lá moravam os
mais pobres, os que não podiam ficar nas avenidas. Era uma espécie de favela. Como foram
dar ali não se nos diz, mas possivelmente desejavam ocultar-se ao máximo e recorreram ao
cimo da muralha para melhor observarem a cidade. Ali não haveria guardas nem qualquer
espécie de observadores. Em tempo de guerra, os soldados ocupavam as guaritas nos
contornos das muralhas, mas possivelmente a casa da mulher ficava virada para as bandas do
rio, onde não havia porta e a subida era difícil. Da parte de Deus haveria outros motivos. O
certo é que a mulher os recebeu e os ocultou no eirado, debaixo dos molhos do linho deixados
ali secar. As casas orientais não tinham telhados como as nossas. Eram cobertas por uma lage
de barro batido onde se guardavam alimentos, faziam-se reuniões sociais, reuniam-se as
mulheres para discutir a vida alheia. Dali saiam muitos mexericos. Jesus faz referências a
esses lugares, dizendo que o que se disser em oculto será proclamado pelos telhados (eirados).

(2) Para uma melhor apreciação da cidade de Jericó, veja Garstang e Marston, p. 136, em "A
Bíblia disse a Verdade.
4. Os Espiões São Descobertos (2:2-5)

A entrada dos espiões foi descoberta. Talvez pelas roupas ou pelo aspecto, não se sabe. O
certo é que em pouco o prefeito (rei) tomou conhecimento da presença de gente estranha na
cidade e essa gente só poderia ser dos filhos de Israel hospedados em casa da meretriz Raabe,
naturalmente bem conhecida por seu ofício. Os soldados bateram para lá e exigiram a entrega
dos homens. A mulher não escondeu o fato. Confessou que efetivamente vieram à sua casa,
mas não sabia de onde eram e já tinham ido embora. Seria o caso de irem depressa e ainda os
encontrariam no caminho. Após livrar-se dos soldados, foi aos homens escondidos, e
entabulou com eles um colóquio interessante. Ela sabia que a cidade estava condenada.
Sabia, como todo mundo na Palestina, que Deus tinha destruído os reinos de 0gue e Seam e
aberto o Mar Vermelho para o povo atravessá-lo a pé enxuto. Tuclo isso ela sabia, prevendo
inclusive a destruição de Jericó. Então pediu o preço de sua atitude, por havê-los salvo. E eles
se obrigaram, sob juramento, a salvá-la e a sua casa, quando da destruição da cidade. Temos
neste relato simples um episódio dos mais significativos dentre tantos narrados na Bíblia. A
mulher era muito atilada e tinha maior percepção dos acontecimentos que a maioria do povo
(3) . Depois de acertado o contrato de sua segurança e da família, ela os desceu por uma corda
para o lado do rio e recomendou se escondessem no monte perto da cidade, até que os
homens de Jericó desistissem da busca. Atou uma fita escarlate na janela do lado do Oriente,
para que as tropas de Josué pudessem ver o sinal de salvação. Os dois espias velariam pelo
cumprimento do contrato porque estava selado com juramento e isso era muito sério. Se ela
perecesse eles seriam culpados diante de Deus, testemunha de todo o acontecimento. O
monte, onde ela aconselhou se esconderem, seria o chamado Monte das Tentações, um pouco
ao sul da cidade. Os soldados jamais poderiam pensar nos espias refugiados ali e os
procuraram pelos caminhos do vau do Jordão, imaginando a fuga por aqueles lados. Três dias
depois desceram e foram embora em segurança. Esta nobre mulher foi esposa de Salmom, pai
de Boaz, que se casou com Rute (Rute 4:21). Em Mateus 1:5 seu nome aparece como Racabe.
Ela foi ancestral de nosso Senhor. Um ato de tal grandeza e fé foi honrado por gerações
posteriores.

A situação dentro da cidade de Jericó, cuja porta se fechava à tarde, era de terror, pois do
outro lado uma multidão incontável se aprestava.para atravessar o rio e atacar a cidade. Bem
disse a mulher que o coração do povo desmaiava. Entrementes, o cordão escarlate estava
pendurado na janela do lado dos israelitas, ondulando ao vento, como a dizer: "podeis vir que
a cidade é vossa". Apenas uns 3.370 anos, quase quatro milênios, nos separarn daqueles dias,
mas o gesto nobre desta mulher e o não menos nobre dos espias ficam na história como
marcos de honradez, de palavra empenhada e cumprida fielmente. Os espias bem podiam
esquecer o juramento feito, já estavam salvos. Deus, porém, era testemunha e em Seu nome
haviam jurado. As promessas feitas com juramento, tendo por Deus testemunha, eram um ato
sagrado e valiam por tudo e para tudo. Voltaram os espiões a Josué e contaram tudo que
havia ocorrido. Certamente contaram o contrato feito com a mulher Raabe ou Racabe, e ele
teria aprovado, pois, se não fora ela, estariam perdidos dentro de uma cidade amuralhada e
sobressaltada, com as tropas oficiais à sua procura. A vida de Raabe e dos seus valeu pela vida
dos espias de Josué.

(3) Coisa um tanto estranha para nós foi o casamento desta mulher com um descendente de
Arão, por nome Salmom, bisavó de Davi, rei de Judá. Salmom gerou a Boaz, Boaz casou com
Rute e gerou a Obede e Obede a jessé, pai de ,Davi. Aqui está a linhagem de Jesus Cristo.
Mateus 1.
5. A Mentira de Raabe (2:5-14)

Tem-se alegado que os crentes de Josué acoroçoaram uma mentira e até a gratificaram. É
certo que ela mentiu aos guardas de Jericó, mas que outro curso poderia ela ter tomado?
Poderia entre-ar os espias ao governo, sabendo que Deus já tinha determinado destruir a
cidade? Certo que não. Assim, não vemos outro curso senão contornar um fato e dizer o que
disse. Há circunstâncias em que se fica nas pontas de um dilema, sem saber como escolher.
Ela escolheu a sua sorte com a do povo de Deus, e nesta condição, tinha de ser contra o seu
próprio povo. O Novo Testamento recomenda esta mulher não pela mentira que proferiu, mas
por sua fé (Heb. 11:31). Se falta ela cometeu, esta falta deve ser julgada pelo contexto, pela
história e pelo resto da narrativa. Não adianta sermos muito puritanos, em casos como este.
Se ela falasse a verdade, entregaria os homens à sanha dos seus perseguidores, prejudicaria
toda a obra de Deus e nem se salvaria. Em nome de interesses maiores, admitimos a falta que
ela cometeu para com o seu povo já condenado, e a favor de Deus e da Sua causa.
6. O Conselho Sábio (2:15-24)

Segundo as indicações de Raabe, os homens se esconderam nos matos e nas cavernas antigas
(e havia muitas por ali) até que os soldados voltassem à cidade. Eles não voltaram pelo vau do
Jordão transbordando naquelas imediações. Mas provavelmente teriam passado a nado um
lugar mais acima, onde o Jordão é mais estreito. Toda a narrativa, incluindo o tratamento que
a mulher deu aos espias, torna esta história verídica e natural.
II - O JORDÃO É POSTO A SECO

1. Preparação para a Guerra Santa (3:1-13)

Recebido o relatório dos espias, verificada a situação bélica em geral, contados os soldados
israelitas, feito o balanço das condições, Josué passou proclamação pelo arraial. Deixaram
Sitim e caminharam três dias até as margens do Jordão. A marcha era muito vagarosa por
causa dos meninos e dos animais. De Sitim ao vau do Jordão gasta-se um dia e meio, em
marcha lenta. Chegados ao Jordão, fizeram alto. Santificaram-se, de acordo com a lei,
inclusive com abstinência sexual, e depois foi ordenada a marcha rumo ao rio. A arca da
Aliança iria na frente, levada pelos sacerdotes. A distância entre a arca e o povo seria de dois
mil côvados. Ninguém poderia aproximar-se, sob pena de morrer. Logo que a planta dos pés
dos sacerdotes fosse molhada o rio se dividiria. Josué fez uma proclamação ao povo,
recordando as coisas que já tinham sido ditas tantas vezes. Deus também falou a Josué,
afirmando que assim como tinha sido com Moisés seria com ele. O rio transbordava por todas
as suas ribanceiras (4:18). Estavam na primavera, quando as neves dos Líbanos começam a
derreter-se, e as águas se dirigem para o vale. Deveria ser um panorama assustador. No
verão, o rio parece um riacho. Em agosto, quando o autor esteve lá, parecia mais um córrego
que um rio. Mas na primavera é mesmo um rio caudaloso, com uma correnteza apavorante.
Jordão significa o que corre. Iordan, verbo hebraico, significando corredor. O desnível, entre o
Mar da Galiléia e o Mar Morto é de mais de 300 metros. É a mais profunda depressão em todo
o planeta, pois o Mar Morto está a 420 metros abaixo do nivel do mar. O percurso entre o Mar
da Galiléia e o Mar Morto é uma corredeira desenfreada e, a não ser em certos vaus, em que
as reentrâncias fazem curtos remansos, o resto é uma avalanche que deveria apavorar o povo
israelita. Logo que os pés dos sacerdotes pisaram a água, o rio se dividiu. As águas de cima se
fizeram um montão, e as debaixo escorreram para o Mar Morto (3:16). O povo passou a Pé
enxuto como tinha passado o Mar Vermelho. Dois milagres muito parecidos e não sabemos
qual dos dois teria impressionado mais aquela gente dura de crer. O rio se fez um mar desde
Adã na banda de Zaretã. Adão significa vermelho, devido à cor da terra. Identifica-se este
lugar com o moderno nome de Tell-el-Damié. Segundo os geógrafos, o Jordão, como o
Missouri, muda de curso muitas vezes, e nesta mudança deixa partes, onde antes corria
inteiramente a seco. No ano de 1237 A.D., dizem, o sultão Ribera assalariou trabalhadores
para reparar os fundamentos da ponte de Damié, corroídos pelo rio. Repentinamente o rio
secou e o trabalho foi feito, antes que as águas retomassem ao seu leito. Certamente
atribuíram o fato à intervenção de Alah. Nós não afirmamos nem negamos. O fato ora
estudado oferece tais características que merecem ser devidamente anotadas para não se
fazer qualquer comparação inadequada. Quando os pés dos sacerdotes se molharam, as águas
pararam de correr. Assim que o último homem passou, as águas voltaram ao leito original. É
portanto, alguma coisa rigorosamente medida e calculada.

2. Passagem do Jordão (3:14; 4:1-18)

A região do Jordão, e de toda a Palestina, é muito dada a terremotos e abalos sísmicos. É


possível que, em outras oportunidades, fenômenos parecidos tenham ocorrido, pois um
pequeno abalo na região do rio corta facilmente o seu curso, abrindo outra rota, logo após
fechado. Isso poderia também ter acontecido aqui, mas, com todas as circunstâncias
devidamente medidas, de sorte que, apreciando os fatos, anteriores e posteriores, não
podemos deixar de ver neste caso a direta intervenção divina. Josué tinha ordenado que doze
homens, um de cada tribo, se pusessem no meio do rio, e dali retirassem doze pedras, para o
memorial a ser erigido do outro lado. Quando os filhos indagassem do significado daquilo, os
pais contariam o ocorrido com os seus antepassados. Tiraram as pedras e as colocaram no
arraial, onde passaram a noite. Ditas pedras estavam no lugar, quando o livro foi escrito,
"porque ali estão até o dia de hoje" (cap. 4:9). A referência a esta coluna é tomada como
indicação de que o livro que estudamos foi escrito muito depois de Josué. Se assim não fosse
não haveria lugar para a expressão "até o dia de hoje".
3. Acampamento em Gilgal (4:19; 5:12)

O povo passou e acampou em Gfigal, da banda oriental de Jericó. Toda esta região é plana e
naquele tempo devia ser um oásis. De Sitim, lugar de palmeiras, até esta banda oriental do
Jordão, há uma vasta e linda campina, e gasta-se mais de meia hora de automóvel até a Jericó
moderna. Um acampamento ali daria a medida do que estava para acontecer. Só os homens
das duas e meia tribos de Gade, Rúben e Manassés eram uns 40.000, todos armados com seus
arcos e flechas como quem ia para um duelo. Calculados os homens de guerra das outras nove
e meia tribos, podemos então avaliar os capazes de entrar em batalha em cerca de 400.000. A
narrativa indica que os homens capazes de pegar em armas, saídos do Egito, eram 600.000.
Significa que não havia diminuído o número de soldados. Multiplique-se este número por
quatro ao menos, incluindo os velhos, os infantes e as mulheres, e teremos uma multidão de
mais de 2.000.000 de pessoas. Alguns calculam em 3.000.000 o número total do povo. Dos
altos da cidade de Jericó poderia ser vista esta imensa multidão acampada em Gilgal. Se o
coração do povo da Palestina já se tinha derretido, apenas com as noticias, imaginemos agora
com tal multidão, que acabava de passar o rio a pé enxuto, e com toda a liberdade. Um poeta
pode fazer uma poesia. Um filósofo pode discorrer a seu jeito. O que, porém, está em nossa
mente é qualquer coisa que nem um nem outro podem, a rigor, descrever. Imaginação é o
que podemos usar.

Todo o capítulo quatro é complementar à passagem do Jordão. Há algumas repetições,


produto de quem está tentando descrever um episódio passado, e é traído pela mente,
incapaz de dar um relato fiel do ocorrido. Se Josué tivesse escrito este livro, acreditamos que a
descrição seria diferente.
4. A Natureza de Gilgal (4:19-5:12)

Círculo ou giro deve corresponder ao que nós chamaríamos hoje de estádio ou ginásio. Uma
imensa planura, sem montanhas, sem vales, com amplas possibilidades para acomodação do
povo e para manobras militares, quando seriam estudados os planos para as futuras
conquistas. Dali foi comandada a manobra de contornar a cidade por sete dias até ela cair por
si mesma, depois de um grande e possível terremoto que teria levantado o solo e feito ruir os
muros de dentro para fora, como a arqueologia se encarregou de mostrar. Enquanto a cidade
ardia, e o povo se lançava à destruição, os mais velhos e as crianças estavam de longe, vendo
tudo e a salvo de qualquer imprevisto. Olhando o mapa podemos ver como tudo se teria
desenrolado aos olhos atônitos do povo, de modo geral.(1)

(1) Veja Panorama do Mundo Bíblico, do autor, p. 58.


III - PREPARATIVOS PARA A CONQUISTA

1. Duas Grandes Solenidades (5:1-12)

1) A circuncisão.

Este rito, instituído por Deus, era o sinal de separação dos filhos de Israel através dos tempos.
Antes da saída do Egito, todos os homens haviam sido circuncidados, mas na travessia do
deserto, pelas condições ambulantes, a cerimônia foi negligenciada. Nem mesmo durante os
40 anos que passaram no deserto, quando poderiam proceder ao rito, não foi observado.
Agora, quando estavam prestes a tomar posse da terra, há tantos séculos prometida, era
tempo de observarem a fórmula oficial da nacionalidade. Quem não fosse circuncidado não
pertencia a nação. Era uma espécie de certidão de nascimento. Deus deu a norma. Mandou
fazer facas de pedra, para com elas proceder ao rito. Porque facas de pedras? Alguns pensam
que os Hebreus estavam na era da pedra polida, quando não se conhecia o uso do metal, mas
isto não é verdade. No Egito havia utensílios de metal e até se admite que se conhecia uma
liga de bronze e ferro, dando aos utensílios tal dureza que um ponteiro podia ser usado
indefinidamente, sem necessidade de ser apontado. Os filisteus contemporâneos já faziam
uso do ferro, indústria trazida de Creta, segundo alguns críticos, roubada dos hiteus ou de
outro qualquer povo desenvolvidos Deve haver então um motivo para o uso da pedra em lugar
de metal. Talvez a dor fosse menor, talvez não houvesse tanta possibilidade de infecção. Que
o uso de instrumentos de pedra estava muito difundido, é certo. E tempos houve em que, em
certos lugares pelo menos, não se usariam outros instrumentos caseiros. O uso de
instrumentos de metal é tão antigo como a raça mesma. Lameque foi o pai de Tubal-Caim,
perito em toda obra de cobre e ferro (Gên. 4:19-23). Não seria por ausência de facas de metal
que o uso de pedra foi aconselhado. Deus mesmo deu a ordem de usar facas de pedra, e a
declaração bíblica é incisiva. "Naquele tempo disse o Senhor a Josué (5:2). Esta imposição
surge no texto sem qualquer decorrência natural. Parece que Josué nem estava pensando em
tal coisa. Estava, sim, preparando o arraial para as grandes arremetidas futuras, quando Deus
lhe diz: "Antes de outra coisa, prepara o povo para as obrigações nacionais." "Toda a nação foi
circuncidada" (Cap. 5:5). Toda a nação queria dizer todos os homens. O assunto fundamental
em Israel era nação. O concerto feito no Sinai foi com a nação e não com Moisés ou outro
qualquer. Através da história, é com a nação que Deus trabalha. O individualismo é fruto do
Evangelho. Há vislumbres de individualismo responsável nos profetas, como Ezequiel capitulo
18 e referências, mas a doutrina da nação é fundamental em matéria de salvação. Na segunda
vinda de Cristo a nação será salva (Rom. 11:26). Uma nação de incircuncisos era igual a
qualquer outra e Deus tinha estabelecido que a nação seria santa em todos os seus
pormenores. A circuncisão na carne era um emblema da circuncisão do coração (Rom. 4:11;
2:29). A doutrina da circuncisão é amplamente desenvolvida por Paulo em Romanos (2:25, 29;
3:1; 4:9; 10, 11; 15:8 e refs.). Assim como a circuncisão na carne estabelecia a união com Deus,
a circuncisão espiritual estabelece idêntica relação. Era, pois, necessário circuncidar toda a
nação, para que ela pudesse esperar a ajuda divina na conquista da terra. O rito foi dado a
Abraão e serviu para a nação. Abraão foi por igual pai da raça espiritual, pois todos são
benditos com o pai Abraão. Não podemos alongar estas considerações, porque não estamos
fazendo um estudo da circuncisão e suas implicações nacionais e espirituais, mas uma breve
referência ao fato histórico de Josué.

2) A Páscoa.

Como já foi notado, estavam os israelitas em abril, quando as águas do Jordão transbordavam
por suas ribanceiras, com o degelo das neves dos Líbanos. A outra prova de que agora
estavam em abril é a celebração da páscoa. O dia 14 de abib, mais ou menos, o nosso mês de
abril, era a data da partida do Egito (Êx. 12). Não sabemos se durante os anos no deserto
celebraram esta festa nacional. Não temos muitas inforções a respeito. Agora era o tempo
próprio para um começo completo. Tudo ia começar de modo definitivo. Tudo que havia
acontecido visava esta hora. O Concerto feito entre Deus e Abraão (Gên. 15 e 17) apontava
para esta ocasião. O preparo no Egito por 430 anos, a marcha pelo deserto por 40 anos, tudo
visava esta hora. Portanto, depois do rito da circuncisão nem a páscoa, ou a passagem (isto é a
passagem do anjo da morte por sobre o Egito, poupando as casas onde estivesse o sangue do
cordeiro pascal). Páscoa significa passagem sobre. Esta festa foi celebrada com o produto da
terra. Os verdadeiros donos estavam já comendo dos frutos da terra: "E comeram do trigo da
terra do ano anterior." Entende-se que já se teriam apossado de alguns armazéns de cereais e
os estivessem usando para sustento. Nesta altura cessou o maná. Werner Keller (1), autor do
livro E A BIBLIA TINHA RAZÃO, esforça-se para provar que o maná era produto de um arbusto
que cresce profusamente nas imediações do Sinai. Entretanto, não cresce na Palestina, e os
israelitas comeram até o dia quando comeram do trigo da terra. Só cessou de cair o pão do
céu quando comeram do produto da terra. Os adversários da revelação não se fartam de
inventar estórias que, afinal, terminam sendo desacreditadas. Porque Deus não pode mandar
chover trigo ou milho ou o que seja? Haverá alguma coisa que Ele não possa fazer? No
momento próprio, o maná cessou de cair. Justamente no momento próprio.

(1) Wemer Keller. E A Bíblia Tinha Razão, pp. 115-117. Veja ainda Estudo no Livro de
Gênesis, do Autor, III Edição da JUERP.
2. Jesus, o Principe dos Exércitos do Senhor Jesus aparece a Josué (5:13-15)

Diz-nos o autor do livro que Josué estava junto à cidade de Jericó, quando viu um varão
desconhecido empunhando uma espada. Perguntou-lhe: "És tu dos nossos ou dos nossos
adversários?" A resposta foi: "Não, sou príncipe do exército do Senhor. " Era o general-chefe
dos exércitos de Jeová. Era uma outra teofania, das muitas que o Velho Testamento conhece.
Josué, verificada a natureza do personagem, atirou-se ao chão e o adorou. Como prova de que
não se tratava de um anjo, mas era o Senhor mesmo, este aceitou a adoração. "Que diz o meu
Senhor?" perguntou Josué. Que nova traz lá de cima a respeito do andamento dos assuntos
aqui de baixo? teria dito mais. O anjo apenas disse: "Descalça as sandálias dos teus pés,
porque o lugar em que estás é santo." Justamente a mesma linguagem que Deus doa a Moisés,
quando lhe apareceu na chamada para ir ao Egito (Êx. 3:1-5). A linguagem é clara. Jesus era,
como é agora, o revelador de Jeová. Aqui é mesmo Jeová, pois a palavra anjo é apenas uma
maneira de tornar a personalidade mais inteligível. Que veio Jesus fazer ali, não se diz. Deus
ordena apenas para se descalçar e nada mais. Bastava Josué saber que Deus estava ali, que
estava acompanhando os movimentos do seu povo, para que criasse novo ânimo. O texto
nada diz quanto a qualquer mensagem nova. Era o Príncipe dos Exércitos do Senhor (Jeová) .
O nome Jeová ou como muitos grafam, Javé ou Yavéh, é o nome geralmente atribuído a Jesus
pré-encarnado. É o verdadeiro nome da divindade. O termo Deus deriva-se de outra palavra
hebraica, Eloim, que significa o Poderoso é um sobrenome. Quando dizemos Yavéh Deus,
estamos mencionando o nome e o sobrenome. Yavéh ou Jeová deriva-se da forma imperfeita
do verbo ser.

Quando Moisés pediu que Deus lhe dissesse em nome de quem ele iria ao Egito, Deus
respondeu: "Eu Sou o que Sou" (Êx. 3:14). Desta forma verbal veio a nossa palavra Jeová ou
Yavéh. Os hebreus não escreviam com vogais, pois o hebraico não tem vogais. Por outro lado,
a forma " Sou o que Sou" ou Yavéh, raramente era pronunciada pelos hebreus, para não
quebrarem o Mandamento que proíbe usar o nome de Deus em vão. Quando a língua cessou
de ser falada, ninguém sabia como se pronunciava o nome "Sou o que Sou". Então foram
tiradas as vogais de uma outra palavra hebraica, que significa "senhor", o que possui, o dono, e
as colocaram na forma Yavéh. Dai veio a nossa palavra Jeová; com as letras do verbo ser e as
vogais de outra palavra. Assim ninguém sabe como se deve escrever o nome sagrado, o
verdadeiro nome da divindade, se Javé, se Yavéh ou se Jeová. No original hebraico escreve-se
assim: YHWH ou JHVH, traduzido então como Yahweh ou Jahveh. A tendência é traduzir o
nome sagrado na forma mais clara de qualquer língua, o que destrói o significado da palavra.

A versão Brasileira sempre traduziu o termo original por Jeová. Os que trabalharam na Versão
Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil preferiram substituir a palavra Yahweh por
Senhor. O autor destas notas insistiu em que se conservasse o termo original, uma vez que
Senho-r não interpreta bem o original. Foi vencido.

Seja qual for a tradução do verbo hebraico, o fato é inconteste. Ele representa o verdadeiro
nome da divindade e é invariavelmente atribuído a Jesus, o Príncipe dos Exércitos de Yahweh.

Temos então uma visita de Jesus ao seu comandante terreno, na condução dos exércitos. Não
sabemos se haveria qualquer ligação do nome de Josué ou Joshua, como traduz o inglês, de
onde vem o nome Jesus, com esta revelação aqui. Talvez não, porque Jesus conviveu com
Moisés e com ele falou muitas vezes. De qualquer forma, Jesus veio visitar Josué no seu
acampamento. O nosso Jesus maravilhoso chamou Moisés para ir ao Egito. Tirou o povo dali e
o conduziu pelo deserto em segurança até agora. Quando está prestes a terminar a
caminhada, o mesmo Jesus aparece, dá o Seu nome, como o Príncipe dos Exércitos de Jeová. A
revelação divina é algo muito maravilhoso.

Tudo agora está pronto para a operação decisiva que era a tomada da cidacle-chave da
entrada em Canaã. Por sua posição estratégica, junto ao vau principal do Jordão, na parte Sul,
cidade fortificado duplamente, nenhum conquistador poderia aventurar-se a entrar na
Palestina, deixando atrás um bastião daquele porte. Havia outra situação idêntica na
Palestina: Jerusalém e Laquis. Tentar tomar Jerusalém e deixar Laquis era cair numa ratoeira.
Foi por isso que Senaqueribe, antes de tentar cercar Jerusalém, foi cercar Laquis e nem chegou
a tomá-la, pois o seu exército foi morto numa noite. Jericó era assim. Se os hebreus
avançassem, deixando Jericó atrás, estariam encurralados. Josué sabia disso e, portanto, antes
de outra coisa, precisava destruir Jericó. Os preparativos para esse ataque são o que vamos
ver no outro capítulo.
IV - À CONQUISTA DE JERICÓ

1. Preâmbulo

A Palestina tinha estado debaixo do domínio egípcio por séculos, especialmente depois da
conquista de Totmés III, marido da mãe adotiva de Moisés. Era um território ocupado cujo
povo trabalharia nara manter o fausto da metrópole. Admite-se que os habitantes dessa
região estavam fartos de trabalhar para os estrangeiros. Pelas cartas de Tell-el-Amarna,
sabemos que pediram socorro angustiosamente, mas o Egito não se moveu para socorrer suas
colônias palestínicas. Não se crê que os palestinos morressem de amores pelo Egito, mas
naturalmente tinham de se defender, pois o perigo ameaçava tanto os territórios egídeos
como o povo mesmo. Com o conhecimento das ocorrências anteriores sabiam o destino que
os esperava. Entretanto, o Egito não atendeu aos seus apelos. Por quê? Que haveria no Egito
para assim desprezar as suas colônias? Multa coisa se pode dizer e muito ficará ainda por
mencionar. As condições egípcias eram politicamente más. Com a saída dos israelitas e os
resultados tremendos das pragas a situação estava caótica. Haveria muita coisa a corrigir na
mãe pátria, antes de socorrer um território ocupado. O governo no poder, se não era amigo
dos hebreus, também não os hostilizava. A esposa de Faraó era mitânia, de origem
estrangeira. Até que ponto isso influiria na situação não se sabe. Por outro lado, o Faraó
estava empenhado na modificação do sistema de culto politeísta por um sistema monoteísta e
não teria tempo para cuidar das colônias. Isso tudo, e mais que a história não registra e ignora,
deve ter determinado a situação, mostrada no livro de Josué. O Egito não se mexeu. Essa
situação do Egito face aos invasores hebreus acompanha os acontecimentos através de todo o
período dos Juizes de Israel. Nós podemos imaginar o que aconteceria se o Egito se
intrometesse nos negócios da Palestina nesta época crucial para os hebreus, quer agora com
Josué, quer depois com os Juizes, quando a situação era ainda pior. Admitamos que tudo
estava delineado pela mão do Príncipe dos Exércitos do Senhor, pois doutra forma a história
seria bem diferente.
2. A Cidade

A Bíblia chama Jericó "a cidade das palmeiras". Como cidade, era uma terrível fortaleza; como
local, era um oásis. Colocada a 420 metros abaixo do nível do mar, com um clima sempre
ameno, onde nem os rigores do inverno nem os calores do verão se faziam sentir
demasiadamente, Jericó era um encanto. Lá Herodes, o Grande, tinha a sua casa de veraneio.
A cidade mesma ficava num cabeço acima da planície que se estende para além, até o Jordão,
de onde se podia desfrutar as aragens vindas do rio e da planura. Cercada de grandes várzeas,
tinha todas as possibilidades de ser uma cidade farta e descansada. Era, igualmente, uma das
cidades mais antigas do globo, e por isso famosa também!

Quem passa hoje por ali e contempla as suas ruínas tem de ficar triste por ver uma cidade, que
foi o encanto da sua geração, reduzida a um montão de blocos de tijolos, espalhados por toda
parte. Não obstante, estava condenada por seus pecados e tinha de ser destruída. O autor
teve de contemplar, com natural tristeza, estas ruínas que nos falam de um passado
comovente e triste, pois, não obstante os fatos por nós conhecidos temos pena de ver uma
cidade tão famosa reduzida a nada. Nem os árabes se animam, a construir qualquer coisa em
suas ruínas.

Pensa-se que foi uma das mais antigas cidades do mundo. Talvez mais nova que Babilônia.
Naturalmente, as primeiras migrações vindas do Oriente teriam de parar ali, para contemplar o
ambiente, bem diverso do que é hoje. Pela moderna Jericó imaginamos a antiga.

Ernest Sellin e Carl Watzinger, (1) os primeiros a examinarem as estruturas da cidade, ficaram
pasmados ante a sua antigüidade, e calcularam que ela teria sido construída, pela primeira vez,
2.000 anos antes da era antiga. O autor acredita que deva ter mais de 5.000 anos. Talvez seja
mais antiga que Damasco, considerada a cidade mais velha do Globo. Admitem outros ainda
que as casas mais antigas remontam a uma era de 7.000 anos. Foram postas a descoberto
duas muralhas concêntricas: a primeira, ao redor da colina, e a outra, um pouco mais abaixo.
Muralhas, construídas com tijolos secos ao sol, de três e quatro metros de espessura e
separadas uma da outra por um espaço de quatro metros. A data destas fortificações perde-se
no tempo e os arqueólogos não chegaram à conclusão segura, o que também importa pouco
para o caso. O interessante nestas notas é mais a situação atual que a sua antigüidade. Os
relatórios lidos em livros de arqueologia não são uniformes porque a interpretação de tudo
decorre da interpretação da história em geral. Quem crê que a cidade caiu no tempo de
Ramsés II, dá a essas muralhas o ano 2000 a.C., e à sua queda o ano de 1200 a.C. Os que
colocam o Êxodo em 1440 dão à cidade destruída o ano de 1400 a.C. (2)

Os estudos feitos por Garstang e sua esposa em 1931, quando recolheram dos escombros mais
de 1.400 peças e fragmentos de cerâmica e fizeram estudos acurados, deram à destruição da
cidade o ano de 1400 a.C. Depois de exaustivos estudos, exames e comparações de detritos
encontrados, tiveram a coragem de afirmar que a cidade caiu justamente ao redor de 1400.
Quando descobriram o cemitério da cidade, num ângulo ao norte, e fizeram as suas
investigações em restos de sepulturas, encontraram 80 escaravelhos, sinetes ou carimbos,
usados para marear ()s vasos de cerâmica e carimbar documentos públicos. Alguns destes
escaravelhos traziam a efígie de Hatshepsut, mãe adotiva de Moisés e esposa de Totmés IIII
(1500-1447). Havia também escaravelhos com a efígie de Amenofis III (1413-1337). Depois
destas descobertas, nada mais encontraram, motivo porque se admite, que depois desta data,
ninguém mais foi sepultado ali. Estas conclusões são finais e dão-nos a data em que Josué
tomou a cidade. Alguns tem outros dados e datas, mas a palavra de Garstang, para o autor, é
final.

Perguntará o leitor porque o autor dá tanta importância à idade da cidade e à sua destruição?
Justamente para com ela concluir os estudos da data do Êxodo. Se colocarmos o Êxodo ao
tempo de Ramsés II, 1220, ou seu sucessor, não sabemos como interpretar o resto da história,
nem o período dos Juizes e outros acontecimentos. Tudo muda. Por essa razão é
fundamental, que tenhamos a data certa do Êxodo e conseqüentemente da queda da cidade
de Jericó. No livro do autor, "Povos e Nações do Mundo Antigo", (3 ) dá ele o ano 1870 para a
descida de Jacó ao Egito. Os israelitas ficaram ali 430 anos, segundo Êxodo 12:40; Gálatas 3:17
e referências. Portanto saíram em 1440. Gastaram 40 anos no deserto. Devem ter chegado à
Palestina em 1400. É por isso que a data de 1400, dada por notáveis arqueólogos, nos é
interessante. Nós lidamos com história e não podemos interpretar a Bíblia fora do contexto
histórico. Estamos agora em condições de apreciar o cerco da cidade e a sua destruição.

(1) Citado em Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, p. 149.

(2) Smith, Historical Geography of the Holy Land, p. 443.

(3) Veja Povos e Nações do Mundo Antigo, edição Bereana 1954, p. 80.
3. A Cidade É Cercada (6:1-21)

O relato do capítulo 6 é conclusivo quanto à estratégia usada pelo general Josué, conforme a
ordem de Deus. Seria a cidade rodeada uma vez, por seis dias; no sétimo dia os sacerdotes,
tocando as suas buzinas de chifre de carneiro, a rodeariam sete vezes, quando então o povo
gritaria a plenos pulmões. A Arca do Senhor acompanharia a procissão, como a dizer que o
próprio Deus estava rodeando a cidade. Depois que os gritos do povo foram ouvidos, ruíram
os muros da fortaleza, caindo de dentro para fora, em enormes blocos, como se podem ver
ainda hoje, e o fogo irrompeu por toda parte. Nisto os homens avançaram e liquidaram todos
os moradores, salvando-se apenas Raabe e seus familiares. Muito se tem discutido sobre este
fenômeno. Não há o que discutir. Deus provocou um terremoto, a que aquela região é muito
dada, e os fundamentos da cidade foram levantados, fazendo inclinar os muros de dentro para
fora. Ninguém poderia escapar. Eram milhares de guerreiros dispostos a liquidar tudo que
tivesse vida. O que não foi destruído no terremoto a espada do Exército do Senhor destruiu. A
arqueologia, com o seu estudo meticuloso e científico, deu a última palavra de como teria
ocorrido a catástrofe e a sua data. iã evidente que só Deus podia tomar uma cidade como
aquela, com muralhas de dez metros de altura, com dois grandes cinturões de quatro metros
de largura. Era uma cidade para desafiar qualquer exército. Um particular interessante foi que
a casa de Raabe, em cima dos muros, não caiu. Josué deu ordens aos moços para que
subissem e tirassem a mulher e toda a sua parentela (6:22-24), o que foi feito, cumprindo-se o
prometido com juramento. A casa de Raabe estaria do lado oriental, onde as muralhas não
caíram totalmente, deixando, pois, a casa da mulher praticamente intacta. Se a casa tivesse
ruído com as muralhas, ninguém teria escapado. As investigações do Prof. Garstang
confirmam tudo isso. Da cidade, nada escapou senão o ouro e a prata encontrados, bem como
objetos de metal, que seriam oferenda ao Senhor. Pelos montes de cinzas e encontrados
agora, concluem os arqueólogos que o incêndio teria sido qualquer coisa fenomenal, pois não
apenas os materiais combustíveis, mas os cereais, que deveriam ter sido amontoados
esperando um cerco de meses, tudo foi devorado pelos incêndios. A cidade foi considerada
anátema. Ninguém podia reconstruí-la (1)

Az investigações arqueológicas confirmam, em seus mínimos detalhes, a descrição sumária da


cidade, feita pelo autor do livro de Josué. Não há um detalhe sequer que seja contraditório. A
cidade caiu por si, como se tivesse sido empurrada de dentro para fora. Igualmente foi
incendiada, podendo ver-se as cinzas em grandes montes. Nada escapou. A data da sua
destruição, coisa muito valiosa para a história bíblica, também está plenamente confirmada. O
autor destas notas, desde o seu tempo de estudante, questionava com professores a possível
tomada de Jericó em 1200, ao tempo de Ramsés H, devido ao fato de as cartas do Tell-el-
Amarna se referirem a uns invasores, por nome habiru ou habiri, que não podiam ser outros
senão os hebreus. Por esses fatos e tantos outros, o Pastor Mesquita não podia concordar
com a data de 1220. Depois das investigações de 1930-1945 nenhuma dúvida ficou restando a
respeito da data da queda de Jericó. Com isso tem ele sentido natural prazer. A nossa Bíblia,
com o relato da tomada e destruição da cidade, ficou muito em evidência, pois, em seus
mínimos detalhes, tudo que ela diz foi confirmado.

Apenas mais um detalhe que deu muito que fazer aos primeiros estudantes do histórico de
Jericó. A meretriz Raabe mandou que os espias saíssem logo e se escondessem no monte por
três dias. As antigas cidades tinham em geral quatro portas, uma para cada lado; oriente,
ocidente, norte e sul. Ora, se houvesse quatro portas em Jericó, ela teria aconselhado a mais
segura. Nada disso ela fez. Garstang verificou que a cidade só tinha uma porta. Não se
descobriu nenhum vestígio de porta nem a leste, oeste ou ao norte. É certo que a mulher os
aconselhou a saírem depressa antes que a porta se fechasse (2:5-7). Uma porta virada para o
sul era a única via de comunicação com a cidade. Não se vá pensar que uma cidade como
Jericó teria qualquer aparência com uma Nova Iorque ou São Paulo. As cidades antigas eram
muito pequenas. O povo se espalhava por vilas e cidades em redor. A população do mundo
naqueles dias atingiriam a poucos milhões.

(4) Smith, Historical Geography o[ the Holy Land, p. 280, e Marston. p. 132. Veja ainda
Garstang, Foundations of the Bíble Historg, joshua, Constable, Co.
4. Raabe É Salva (6:22-27)

Havia um juramento de que a mulher que guardara os espiões seria salva, com toda a sua casa.
Era um juramento solene, impossível de ser invalidado. Logo que a cidade foi assaltada,, Josué
mandou os dois espiãos retirarem a mulher e seus parentes, conforme o verso 23 do capítulo
6. Na cidade, nada foi poupado, senão a dita mulher e os seus (v. 25). A seguir, a cidade foi
considerada anátema por gerações. Estava assim cumprida uma parte difícil da missão dos
espiões.
5. Quem Eram os Habiru ou Habiri

As cartas de Tell-el-Amarna, (1) já referidas diversas vezes, são um repositório de informações


preciosas a respeito dos israelitas. Foi encontrada no Egito, em 1888, por um velho que
escavava o quintal para fazer uma plantação no lugar conhecido por Tell-el-Amarna, uma
coleção de 320 tabuinhas que, depois de decifradas, revelaram ser cartas escritas da Palestina,
pelos monarcas súditos do Egito. Estavam escritas em caracteres cuneiformes babilônicos, dai
a discussão sobre sua procedência. A Palestina foi dominada por Babilônia durante muitos
anos. Lá encontramos os reis babilônicos ao tempo de Abraão, entre os quais se contava o
célebre Hamurabi ou Chamurabi. Os babilônios perderam depois o domínio, mas a sua língua
ficou. Estas cartas, ou tabuinhas de barro, foram dirigidas aos monarcas egípcios, Amenofis III
e seu sucessor, Amenofis IV, mais conhecido na história por Akhnanton, o herege. Datam
todas elas de 1400-1320 a.C. Como já sabem os leitores destas notas, estes eram os monarcas
reinantes ao tempo da salda do Egito e na época da entrada em Canaã. Todas têm uma só
nota. Apelos e mais apelos para que os seus senhores do Egito mandassem socorro contra um
povo invasor que vinha pelo lado oriental do Jordão e estava arrasando tudo. Esse povo era
chamado de habiru. Houve muita discussão sobre quem seriam esses habirus, algumas vezes
denominados habiri, que é o plural. Os que defendem ou defendiam a entrada dos hebreus na
Palestina ao redor de 1200 acreditavam que fossem fugidos da escravidão egípcia, forçando
sua entrada na Palestina. Se isso pudesse ser aceito, haveria a dificuldade de interpretar as
cartas, que dão a entender que tudo está. arruinado, e os senhores do Egito nada mais têm a
esperar da terra. Meia dúzia de fugitivos não poderia causar tanto espanto. Por outro lado,
que tipo de invasores seriam esses, se não eram os hebreus em 1400? O Dr. Marston, no livro
A Bíblia Disse a Verdade, não tem nenhuma dúvida de que se tratava dos hebreus. (6 ) As
cartas são um tanto confusas e mencionam fatos que nós ignoramos. Algumas cartas deixam
transparecer que os invasores se aliaram aos povos do Norte, os hiteus e outros; as cidades da
Filístia e Siria tinham entrado em combinação com os habirus. Nós não conhecemos esta
união e parece que nunca existiu; mas o desespero de uns e talvez a simpatia dos povos do
Norte pelos invasores dessem essa impressão. Uma carta dum rei de Jerusalém, por nome
Abdikika, ,diz que tudo estava perdido e até o rei de Laquis estava obstado. Há outra indicação
de que outros não eram estes invasores senão ,os hebreus. O nome da divindade mencionada
em muitas cartas é El, divindade antiga dos patriarcas. Esse nome, é verdade, era conhecido
em todas as áreas antigas, desde Babilônia, Síria e outras. Noutros documentos El é vertido
por Elohim, o plural. Seja El ou Elohim, é o nome do Deus dos hebreus. As cartas indicam
ainda que o roteiro dos habirus era como quem vinha de Seir, pelo lado oriental do Jordão,
justamente o caminho que eles tinham seguido. O período das tabuinhas abrange 40 anos.
Começaram a chegar ao Egito muito antes de os hebreus alcançarem as margens do Jordão. O
pavor se apoderou efetivamente de todos os povos, de maneira que quando começou a luta
contra os povos orientais já os súditos do Egito alertavam seus senhores para o perigo que se
avizinhava.

Portanto, examinadas estas tabuinhas à luz da Bíblia, não há para onde fugir. Tanto a época
como os dizeres, tudo concorre para aceitarmos que elas foram o resultado da entrada dos
hebreus na Palestina oriental e ocidental. As últimas cartas são um apelo desesperado, como
quem não espera socorro algum. Uma delas menciona até o nome de Josué.

Numa carta há uma espécie de denúncia com a suspeita de que os Faraós estivessem
mancomunados com os israelitas, dando-lhes mão livre na Palestina. Nós nada sabemos disso,
embora, saibamos que os monarcas egípcios nada fizeram para deter o avanço e a conquista
dos hebreus. Já foi feita mais de uma referência a este fato, e os historiadores se têm
esforçado para achar uma resposta a esta indagação, isto é, da ausência do governo egípcio
nesta quadra, deixando os seus territórios totalmente abandonados. No Pentateuco (Êx.
23:28) Deus promete enviar "vespas" na frente dos seus servos, para facilitar a conquista. A
vespa era o símbolo de Totmés III e de seus sucessores. Seriam estas vespas uma forma de
ajuda oferecida pelo Egito à conquista? Que interesses teriam os monarcas egípcios em que os
israelitas conquistassem a terra? Há uma vasta literatura a respeito, que, porém, os nossos
limites não permitem apurar. Já fizemos referência ao falto de que Amenofis IIII e IV estavam
empenhados em fundar no Egito uma nova religião monoteísta. Seria por isso? Outros
pensam que ao Egito interessava ter na Palestina um povo nem guerreiro nem conquistador,
no sentido comum. Os israelitas se dedicavam ao pastoreio e agricultura, deixando livres as
costas do Mediterrâneo, via natural, para a marcha dos exércitos. O que interessava de fato
ao Egito era ter um estado tampão, que não só não ofereceria perigo ao estado egípcio, mas
até o favoreceria. Até que ponto estas conjecturas serão válidas, não sabemos. Uma coisa é
certa: os povos do norte, hiteus, mitânios e outros não molestaram os israelitas. O Egito,
igualmente, deixou-os livres. Este fato de o Egito não se intrometer na vida de Israel tanto
pode ser um fato puramente histórico, como uma providência divina. Quando estudarmos o
livro de Juizes, voltaremos a este assunto com maior Profundidade. Por agora, basta que
saibamos, que o povo conhecido nas cartas de Tell-el-Amarna era justamente o povo hebreu,
que entrou na Palestina pelo lado oriental do Jordão. Assim, tanto a Bíblia como a História se
completam.

(5) Veja E a Bíblia Tinha Razão, de Werner Keller, Edições Melhoramentos pp. 137-150.

(6) Veja Sir Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, pp. 142-144. Editora Itatiaia, Belo
Horizonte.
V - PROSSEGUE A CAMPANHA CONQUISTADORA

1. A Derrota em Ai e a Resposta de Deus (7:1-25) (1)

O novo alvo da campanha ficava um pouco para o Ocidente, em linha reta. Não era um bastião
como Jericó, mas, pela estratégia de Josué, devia ter algum valor. Assim, ele despachou para
lá apenas 3.000 homens, mais como espiões que como conquistadores. Voltaram derrotados.
Uma coisa impossível. Deus não estava ausente nesta quadra da conquista. Josué contava
com a Sua presença e era uma questão de tempo a submissão da terra. Que teria havido?
Josué rasgou as vestes e se deitou por terra, em sinal de pesar pela derrota. A ser assim, todos
os demais chefetes tomariam alento e o povo seria massacrado impiedosamente. Longe,
como estamos, do cenário, mal podemos imaginar a angústia de coração do chefe do povo. A
sua oração a Deus foi uma recriminação por ter o povo passado o Jordão para agora ser
derrotado. Antes tivessem ficado do outro lado, onde havia muita terra e onde os inimigos
estavam dominados. Este espírito é muito nosso também. Quando as coisas nos correm mal,
clamamos: ",õ Senhor, por que isto? antes eu tivesse feito aquilo, e aquiloutro." Não sabemos,
a maioria das vezes, a razão de nossas derrotas, mas há uma causa. Ou o plano está fora do
programa divino e não deve ir adiante, ou há coisa melhor a fazer. Nunca estamos seguros do
curso da nossa vida e isso constitui uma cruz para quem dirige um trabalho.

"Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te! por que estás assim prostrado com o rosto em
terra? Israel pecou; e eles transgrediram o meu pacto . . . " (7: 10, 11). A cidade de Jericó foi,
porém, um ACÃ. Sempre há um Acã em nosso caminho, e devido, a ele, a causa toda sofre.
Não podemos entender muito claramente por que a falta de um homem afetou toda uma
congregação, mas é um f ato, que todo o grupo sofre as faltas de um de seus elementos.
Especialmente no caso em apreço, toda uma nação estava sob juramento, e se um elemento
falhasse, todos fracassariam. Em nossas igrejas isto acontece muitas vezes. Um crente em
pecado arrasta a congregação na sua falta, mesmo que o grupo de nada saiba. É a
responsabilidade grupal. Assim como há um programa comum, e todos partilham dele, há
também uma falta comum e todos fazem parte dela. Os pecados dos grupos religiosos são a
causa de muitos fracassos. Aqui era o pecado do roubo e da sonegação. Havia um ladrão no
meio da congregação. Um que se tinha apossado do que não era seu e o havia escondido.
Tomar emprestado e não pagar é pecado de muita gente e afeta a prosperidade do grupo.
Felizmente, o pecado do roubo não é comum no meio evangélico. Há outros pecados, mais
vulgares. Acã roubou, pois se apoderou do que não era seu e estava condenado por Deus. Era
anátema. Deus declara que não seria mais com o povo. Tudo estaria acabado, se não tirassem
do meio o causador. Manda então que o povo seja santificado, e no dia seguinte se ajunte e
trate de descobrir o culpado. Foram tiradas as sortes. Caiu a sorte na tribo de Judá. Daí
passou às famílias, caindo a sorte na família dos zeraltas, e deste a Zabdi. Dali, homem por
homem, até que caiu em Acã. "Filho meu, dá, peço-te, glória ao Senhor Deus de Israel, e faze
confissão perante ele." Ele não negou: contou a sua triste história. O autor recorda certa
ocasião quando um diácono de .sua igreja foi acusado de feio pecado. Por toda uma tarde ele
negou, mesmo diante das provas à vista. Afinal, cansado confessou o pecado e foi excluído.
Acã tem a seu favor que iião negou. Confessou que, tendo visto uma capa babilônica, uma
barra de ouro e cinqüenta siclos de prata, apanhou tudo e foi escondê-los na terra, na sua
tenda. Apanhado o roubo, e reunida toda a sua família, gado e pertences, foram levados ao
Vale de Acor, ali perto, e apedrejados até que se fez um monte por cima deles. Estremece o
nosso espírito, ao lembrar que inocentes também sofreram. Mas o castigo exemplar era uma
necessidade da guerra, quando sempre sofrem os pecadores e os inocentes. Nós estamos
todos ligados uns aos outros por sangue ou interesses comunitários, e quando um sofre todos
sofrem. A sociedade em nossos dias está sofrendo terrívelmente por falta de paz e
tranqüilidade. Quantos são os malfeitores? Um reduzido número, mas esse pequeno número
faz toda a família social sofrer. O monte de pedras ali estava até o dia quando foi escrito este
livro de Josué, e que, se o autor está certo, foi depois de 400 anos. Quem passasse por ali
diria: "Aqui estão Acã e todos os seus interesses." Era o exemplo para as gerações vindouras.
Os códigos penais modernos são muito brandos em matéria de punição. As penitenciárias não
são mais lugares de castigo, mas escolas. O crime tem sido muito abrandado na sua punição.
Por isso ou não, ele se tem alastrado de modo assombroso. Parece que o crime deve ser
tratado como crime; o criminoso como criminoso, salvante, já se vê, as atenuantes e as
agravantes que sempre acompanham os processos. No caso de Josué estava-se em guerra, e
em tempo de guerra as leis são excepcionais. Terminada a triste missão de limpar a culpa do
arraial, Josué preparou-se para a arrancada final contra Ai.
(1) Para uma apreciação exata da Terra da Promessa, veja-se a Bíblia e as Civilizações
Antigas de J. McKee Adams, trad. do autor, Editora Dois Irmãos, 1962, pp. 131-175 (Cap.
VI). É o que existe de mais acurado e perfeito.
2. Uma Estratégia Diferente (8:1-29)

Em Jericó tudo foi condenado, povo e seus pertences. Com Ai seria diferente. O povo seria
destruído, mas os haveres seriam o espólio. Ai seria tratada como presa de guerra e não seria
destruída toda a vida. Com 30.000 homens valentes puseram emboscada à vila, o que deu
muito certo. Um grupo se chegaria à cidade e outro se esconderia nas imediações. O grupo
que fazia o serviço de ataque fugiria, e os habitantes sairiam em sua perseguição. Enquanto
isso, os emboscados entrariam na cidade e lhe poriam fogo, de modo que ninguém poderia
mais entrar. Foi assim, sem muita luta, que a cidadezinha foi tomada e destruída. Ao todo
doze mil pessoas morreram na luta, todas moradoras de Ai. Pelo visto, era mesmo uma
pequena vila. Porque Josué destruiu esta vila ou cidade antes de outros centros deve ser
entendido como ponto de estratégia. Parece que nesta região não havia outro centro a ser
destruído. Hebrom, que era um grande centro, ficava muito ao sul, e Jerusalém a leste. Antes
de avançar para o norte, era necessário limpar o caminho. Um pouquinho ao norte de Ai
ficava o poço de Jacó, que nesta oportunidade estaria sendo usado para os gastos da imensa
multidão. Olhando um mapa da Palestina, podemos ver a área ao redor de Jericó, limpa de
centros de perigo.
3. A Ratificação da Lei (8:30-35)

Agora Josué virou o rosto para o norte, na direção da ratificação da lei nos montes Gerizim e
Ebal. Conforme Deuteronômio 27:11-26, logo que o povo entrasse na terra, seria procedida a
ratificação da lei. A ordem era esta: Seis tribos - Rúben, Gade, Aser, Zebulom, Dá e Naftali -
por seus cabeças, seriam postos no cume de Ebal e profeririam as maldições prometidas pela
desobediência. No Monte Gerizim estariam Simeão, Levi, Judá, Issacar, José e Benjamim, que
pronunciariam as bênçãos prometidas pela obediência. Entre os dois montes corre um amplo
vale que serve de corneta a quem estiver no cume de qualquer dos montes. A multidão
estaria no vale e diria: AM:ÊM, tanto às bênçãos como às maldições. A lei foi religiosamente
lida perante o povo. Esta lei deveria ser o Deuteronômio, onde estavam precisamente as
recomendações. A mente não nos pode ajudar muito a transpor o quadro que se projetaria
naquela tarde, quando uma multidão sem conta se reuniu, incluindo os estrangeiros, os
meninos, todos ali para ouvirem o seu destino, como nação de Deus. Depois da cerimônia da
ratificação da lei, com a decisão de todos obedecerem, voltaram ao acampamento em Gilgal,
que ficava bastante longe do cenário da ratificação da lei, um bom meio-dia de caminhada.
Josué deveria estar satisfeito com a cerimônia, porque todos, grandes e pequenos, haviam
dito: AMÉM, às bênçãos e às maldições. Quem se esqueceria daquele quadro?
VI - CAMPANHA DECISIVA NO SUL DA PALESTINA

1. Os Gibeonitas - Uma cilada Para Josué (cap. 9)

Todos estes povos palestinos eram descendentes de Cão (Gên. 10:6-20). Os gibeonitas,
conhecidos na história como heveus, moravam um pouco ao ocidente de Ai, caminho de
poucas horas. Cientes do que estava acontecendo e ia acontecer, combinaram-se para
enganar a Josué por meio de hábil estratagema. Fingiram-se embaixadores de um país muito
distante, vestidos que estavam com roupas velhas e gastas, sandálias remendadas, velhos
odres de vinho e remendados, pão bolorento nos seus bornais, tudo a indicar que, de fato,
vinham de uma terra longínqua. Os lideres de Israel parece, não foram na conversa, mas
Josué, homem de boa fé, acreditou em tudo, e aceitou o oferecimento dos embaixadores para
uni pacto de amizade, em que se ofereciam como servos do grande guerreiro. A história está
contada no capítulo 9 e de maneira dramática. Nós temos de admirar o tino desta gente.
Sabiam que a sorte de todos os palestinos estava selada pelo que havia ocorrido do outro lado
do Jordão e a Jericó. Portanto, pôr suas vidas em troca de uma condição de servos era ainda
uma coisa desejável. A sua argumentação era convincente, pois a roupa tinha envelhecido
durante a viagem, as sandálias tinham-se gasto e até os odres do vinho tinham ficado velhos.
Vinham, pois, de uma terra mui distante. "Então os israelitas tomaram de provisão e não
pediram conselhos ao Senhor." Aqui está o erro. Não consultaram a Deus, que sabia de tudo.
Aceitaram a conversa dos embaixadores. Feito o pacto, ficaram no acampamento por três dias
e depois partiram, tendo assegurado a sua vida. Dias depois, os israelitas ouviram que eram
seus vizinhos, de bem perto. Agora era tarde. Uma aliança, mesmo de palavra, era coisa
sagrada. A palavra empenhada valia por um documento. Nisto, os antigos eram mais
honrados, do que muitos civilizados de nossos dias, que não respeitam um documento
assinado, e com firmas reconhecidas (Veja II Samuel 21). (1)
(1) Para um exame acurado sobre a Coligação Levita (gibeonitas) veja Smith, Patriarcal
Palestina, pp. 210-223. Igualmente, A Bíblia e as Civilizações Antigas de J. McKee
Adams, tradução do autor, Edição Editora Dois Irmãos, pp. 184-186.
2. A Revanche dos Povos Vizinhos (10:1-5)

Logo os vizinhos souberam que os gibeonitas estavam em paz com os israelitas e decidiram
tirar a forra. Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém, aliciou outros reizinhos: Hobão, rei de Hebrom,
lá no sul; Pirã, rei de Jarmute; Jafia, rei de Laquis; Debir, rei de Eglom (cap. 10). Com um mapa
diante dos olhos, contemplamos a área abrangida por esta coligação de cinco reis.
Compreendia, especialmente, toda parte sul e oeste da Palestina, a mais populosa e mais fértil.
Quem estava mais afastado e mais seguro era o rei de Jerusalém. Estava, assim, deflagrada a
guerra antes mesmo que Josué tivesse feito os planos para a conquista. Efetivamente, Josué
foi apanhado de surpresa, pois estes povos vieram atacar as cidades de Gibeão, Cefira,
Beerobe e Quiriate-Jearim (9:17). Pediram socorro a Josué e este não pôde deixar de atender
ao pedido.

3. Grande Arrancada para o Sul e Oeste (10:6-11)

Josué deixou o acampamento em Gilgal e partiu com os seus homens para socorrer Gibeão.
Durante uma noite, viajou de Gilgal a Gibeão, apanhando de surpresa os cinco reis, que foram
desbaratados em Azeea e Maqueda, cidades um pouco para o sul, no vale de Soreque, de onde
os espias haviam trazido o cacho de uvas de presente a Moisés no deserto. Os reis fugiram e
se esconderam numa caverna, das muitas que há na Palestina, mas foram descobertos pelos
israelitas. A intervenção de Deus nesta peleja é coisa singular. Uma chuva de pedras quentes
matou mais que a espada dos exércitos de Josué. Que pedras seriam estas? Pensam alguns
que um cometa se aproximou da cena e despejou a carga de meteoritos da sua cauda em cima
dos exércitos em ruga, de maneira que os que escaparam da espada não escaparam das
pedras. Nada contraria o fato de que um milagre significativo, cometa ou não, estava em ação.
Uma chuva de pedras quentes era coisa totalmente desconhecida na região. Era um
acontecimento fora do comum.

4. O Sol e a Lua Param (10:12-15) (2)

Josué, inflamado com a vitória divina nesta campanha decisiva pela posse da terra, fez uma
proclamação ao Sol e à Lua, para que parassem até o término da guerra. Não poucas
discussões tem suscitado esta Escritura. Pela astronomia moderna, o Sol e a Lua não pararam,
mas, sim, a Terra. Contudo, nos tempos de Josué e segundo a astronomia egípcia, eram o Sol e
a Lua que andavam ao redor da Terra. Foi preciso que Copérnico, sábio alemão, tivesse
coragem para demonstrar, não apenas a astronomia dos seus dias, mas até a teologia. Com
Galileu, Newton e Kepler, deu ao mundo os conhecimentos de leis astronômicas que estão
servindo aos viajantes do espaço. Nicolau Copérnico nasceu a 19 de fevereiro de 1473 na
aldeia de Toron, na Alemanha, e graças ao seu conhecimento e coragem desbancou
Aristóteles, Ptolomeu e todos os antigos, que haviam sustentado a teoria geocêntrica, isto é, a
Terra como centro do sistema planetário. Deixando de lado a questão científica, perguntamos:
Como podia a Terra parar e com ela todos os outros astros do nosso sistema solar? A Igreja
Romana não podia conformar-se com a nova ciência, e, não conseguindo lançar mãos em
Copérnico, apanhou Galileu, que sofreu nas masmorras de Florença. O autor teve
oportunidade e tristeza de visitar a masmorra onde esteve encarcerado o grande seguidor de
Copérnico, o astrônomo Galileu. A Igreja era senhora dos céus e da terra e a teologia ensinava
que a Terra era imóvel, e o Sol, a Lua e os demais planetas é que giravam ao seu derredor.
Foram precisos anos e sofrimentos para que a Igreja se conformasse com a verdade.

Não temos que demorar na apreciação do milagre. Os astrônomos modernos deram-se ao


trabalho de buscar, no calendário astronômico, se o fato teria realmente ocorrido. Depois de
buscas e fastidiosos estudos, concluíram que efetivamente falta um dia no calendário
astronômico, concluindo então, que o quase um dia inteiro (Jos. 10:13b) corresponde a 11
horas e cinqüenta minutos, e os 10 graus de sombra do relógio de Acaz, que Deus mandou
retroceder (Is. 38:1-8), correspondem a 10 minutos. Está assim provado que de fato a Terra
esteve parada por todo um dia de Sol. Acreditam alguns que o f ato não se deu tal como está
narrado em Josué, porque o verso 13 do capítulo 10 é uma citação de uma antologia nacional,
tendo por título: O Justo. Portanto, trata-se de uma citação poética e os poetas têm o direito
de usar hipérboles, o que dizem direito de mentir. Seja como for, o fato é que Josué teve um
dia claro, fosse pela parada da Terra (Sol e Lua), fosse pela refração solar, ou por qualquer
meio usado por Deus, até que os inimigos foram derrotados. Deus atendeu à voz de um
homem. Depois dessa tremenda vitória, Josué voltou ao quartel general, em Gügal, onde as
notícias da vitória certamente já haviam chegado, pois não ficava muito longe.

(2) Veja "Mundos em Colisão" citado pelo autor em Estudo no Livro de Gênesis.
5. Segunda Etapa da Guerra no Sul

A briga Herita (10:16-43) Os cinco reis da conjura tinham-se refugiado numa caverna.

Josué deu ordens para que grandes pedras fossem roladas para a boca da caverna, até que ele
determinasse o que fazer. O texto diz que Josué voltou a Gilgal, o que parece certo, mas o
verso 19 do capitulo 10 dá o início da segunda arrancada, parecendo que Josué não se afastou
do cenário da guerra. Questão do redator do livro, que não teve a preocupação de detalhes.
Feridos e mortos os restantes do exército desbaratado dos cinco reis, era agora a
oportunidade de exterminar as suas cidades. Esta é talvez a mais séria parte da campanha do
sul. De f ato o verso 21 diz claramente que todo o povo voltou em paz ao acampamento,
menos o de Gilgal, outro acampamento provisório em Maqueda, que ficava um pouco a
sudoeste de Belém, num admirável vale fértil e bonito. Os cinco reis foram trazidos à sua
presença e ali enforcados e pendurados no madeiro. A cidade de Maqueda foi destruída no
mesmo dia. Não havia povo que resistisse, nem havia coragem em ninguém para levantar a
cabeça. Maqueda era uma boa cidade, não sabemos de quantos milhares de seres humanos.
Todavia, era uma das grandes cidades do Sul. De Maqueda, passaram a Libna, cujo rei já
estava morto e o povo fácil presa dos exércitos invasores. Laquis era a mais tremenda
fortaleza daquela área. Parece que não havia nenhuma outra com iguais meios de segurança.
Senaqueribe, ao tentar tomar Jerusalém, sentiu que, antes de outra coisa, tinha de tomar
Laquis. Nesta quadra ele enviou os seus embaixadores ao rei Ezequias, para que entregasse a
cidade (Is. 36). Naquela oportunidade o anjo destruiu o seu exército e ele nem tomou Laquis
nem Jerusalém. Deixou, entretanto, muitas informações em seus monumentos, em Nínive,
que, depois de decifrados, vieram trazer muita luz sobre acontecimentos históricos
relacionados com a Bíblia. O nome atual da velha fortaleza é Tell Duweir, que por algum
tempo foi confundida por Tell-el-Hesy. A importância de Laquis é de tal monta, que o autor
pede licença para dar alguns traços da sua história (Is. 36).
Depois da conquista por Josué, em 1400 a.C., Laquis ficou em esquecimento por quase 500
anos. Não se sabe que papel teria desempenhado como fortaleza fronteiriça dos filisteus,
durante um tão longo período da história. Roboão construiu, em Laquis, um novo sistema de
fortaleza, para se defender de Sisaque, rei do Egito. É quando a cidade volta a firmar o seu
crédito como fortaleza fronteiriça. Amazias, rei de Judá, fugindo de uma conspiração,
refugiou-se lá (II Reis 14:19). O seu peso, como fortaleza, aparece no tempo de Senaqueribe,
rei da Assíria, quando fez a sua memorável campanha na Palestina, em que teria de tomar
Laquis, antes mesmo de atacar Jerusalém, como já foi notado noutro lugar. Os estragos
causados à cidade só agora foram conhecidos, depois que as escavações arqueológicas tiveram
lugar. Acredita-se que Senaqueribe teria cortado as oliveiras e os carvalhos, de que a Palestina
era tão rica, para encostar os troncos juntos às muralhas, feitas de pedra calcárea, e que
facilmente seriam queimadas. Nabucodonozor, mais tarde, completou a obra de destruição,
arrasando a Palestina em seus frondosos arvoredos. Quem atualmente visita a Palestina fica
desolado com a falta de árvores, quando se sabe que era um país de oliveiras e carvalhos.
Segundo as crônicas, não ficou árvore em pé. Tudo foi cortado para servir de combustível na
destruição da Fortaleza. Depois de Nabucodonozor, desce o pano sobre esta notável fortaleza,
até que as picaretas dos arqueólogos põem a descoberto as suas fundações. A importância da
Laquis é tal que o arqueólogo Charles Marston dedica diversos capítulos ao estudo da cidade e
às descobertas arqueológicas.

Seria interessante que o autor de Josué nos desse um pouco da história dessa cidade; mas esse
não era o seu escopo. As atuais escavações indicam que a cidade é um composto de diversas
cidades, construídas umas sobre as outras, devendo a primeira ter sido edificada aí por 4000,
antes de Abraão entrar na Palestina, ou seja, uma cidade contemporânea de Jericó. Teria sido
construída com dois propósitos: defesa contra invasões, vindas do Mediterrâneo, e domínio de
toda aquela área a oeste de Jerusalém. No tempo dos hicsos, já ela teria um importante papel
a desempenhar nesta área nos domínios da Palestina. Crê-se que nos tempos de Totmés IH
teria sido fundado ali um grande centro postal. Edificada sobre um penhasco de pedra
calcárea, tornava difícil o acesso. Tão impossível de tomar era ela que nem mesmo um
Senaqueribe conseguiu dominá-la. O autor gostaria de alongar estas apreciações, não apenas
sobre Laquis,, mas sobre as outras cidades tomadas por Josué, tais como Eglom, um pouco ao
sul de laquis, a moderna Tell-el-Hesy, por anos considerada a Laquis da Bíblia. (3 ) Interessa
nestas notas a conquista da terra por Josué, deixando os outros assuntos, aliás interessantes,
para os estudantes de arqueologia. Josué diz de Laquis tão pouco que ficamos surpresos
quanto à pobreza de informações. Josué pelejou contra Laquis dois dias e depois tomou a
cidade. Nada mais se diz do tipo da cidade, das suas muralhas, dos seus templos, três pelo
menos. Nessa linha de combates, já tinham ficado para trás, Maqueda, Libne e Laquis. Agora
era a vez de Gezer, cujo rei se chamava Eglom. Gezer não era cidade do tipo de Maqueda nem
de Laquis. Era uma cidade importante para o seu dia. Horão, tendo ficado fora da conspiração
dos primeiros cinco reis, achou que devia defender Laquis, porque sua queda seria a derrota
da sua cidade, como de fato aconteceu. Num só dia a cidade foi tomada e seus habitantes
foram destruídos.

Antes de prosseguir para o sul, havia uma grande cidade, notável, aliás, na história da Bíblia,
que deveria ser tomada. Era a cidade de Hebrom, ao sul de Judá, nas faldas das montanhas,
perto dos carvalhos de Manre, onde Abraão estabeleceu a sua tenda. Próximo havia diversas
cidades pequenas que foram igualmente destruídas. Era uma guerra de limpeza. Para leste
nada havia de importante, a não ser o Mar Morto. Portanto, viraram outra vez rumo ao sul e
foram atacar Debir, cuja situação não é bem conhecida atualmente. Convém notar, uma vez
mais, que esta região era uma das mais ricas da Palestina, de onde os doze espias cortaram um
cacho de uvas, carregado por dois homens até o arraial de Moisés. Atualmente os israelitas
fizeram voltar a região ao tempo antigo e já provaram que, efetivamente, a história do cacho
de uvas carregado por dois homens é um fato.

Voltando de Hebrom, retomaram a campanha interrompida no vale de Escol e dirigiram-se


para o sul, para o deserto, até Cades-Barnéia, o lugar de onde Moisés enviou os 12 espias. Não
havia, parece, grandes cidades nesta região montanhosa, mas, quaisquer que fossem, tinham
de ser destruídas. Voltando-se para oeste, atingiram Gaza, na terra dos filisteus, ao Sul. Toda
parte sul da Palestina estava agora destruída e as ruínas em poder de Josué. Passando uma
linha de Gilgal, quartel general da campanha, atravessando Bete-Horom, até Ecrom, na terra
dos filisteus, tudo estava dominado. Não sabemos por que Josué não foi um pouco mais para
oeste, destruir as cidades dos filisteus. Deixou-os intatos e com isso ficou criado um problema,
que permaneceu até os tempos de Salomão, ou seja, aproximadamente 500 anos. Toda a
história, até Davi, está pontilhada de incidentes com esta terrível gente cretense. Talvez
desígnios divinos, talvez outra razão, não sabemos. Ao observador moderno se afigura que, o
que primeiro deveria ser destruído era a Filistéia. Não foi. Por quê? (4)

Josué, depois desta campanha vitoriosa, voltou ao arraial em Gilgal, onde estava o grosso do
povo, espalhando-se e ocupando as cidades conquistadas.

(3) A Bíblia e as Civilizações Antigas, J. McKee Adams, tradução do autor, Editora Dois Irmãos,
1962 pp. 66-68.

(4) Veja A Bíblia e as Cívílizaç6es Antigas, J. McKee Adama, Tradução do autor, Edição da
Editora Dois Irmãos, p. 191.
6. Jerusalém Ficou (10:28-43)

Um outro reduto não tocado foi Jerusalém. O rei tinha sido morto em combate, junto com os
outros quatro reis. O nome, Adoni-Zedeque, tem muita semelhança com Melquisedeque.
Melqui significa rei, enquanto Adoni significa senhor. Até hoje não se sabe a que atribuir estes
nomes, tão de perto relacionados com a revelação. Zadeque, ou Sedeque, significa Justiça. No
livro Povos e Nações do Mundo Antigo, o autor deu amplas informações a respeito dos
monarcas de Jerusalém. O nome do rei que figura nas tabuinhas de Tell-el-Amarna é muito
diferente, mas a diferença de grafia deve resultar da interpretação dos sinais cuneiformes. A
Jerusalém dos tempos de Josué deveria ser pequena fortaleza de Ofel, bem ao sul das
montanhas de Judá, cujas muralhas são vistas ainda hoje. Seria um bastião difícil de tomar,
porém Davi se apossou da cidade, mais por um ardil do que pela força. Era cidadela
inexpugnável. Todavia, para Josué não havia cidades inexpugnáveis, porque era Deus quem
pelejava por ele e pelos seus exércitos. A história não sabe interpretar muitas destas coisas.
VII - A CAMPANHA DO NORTE DA PALESTINA

1. A Pacificação no Sul (10:40-43)

Depois de pacificado o sul, ou pelo menos afastado o perigo de qualquer tentativa de


revanche, Josué e todos os seus exércitos dirigiram-se ao quartel general em Gilgal. Ali
estavam as suas famílias e ali eram feitos os planos para toda a campanha. O texto sagrado
não diz por quanto tempo Josué ficou ali, mas parece que por bem pouco tempo. A notícia das
derrotas dos reis do sul teria chegado ao norte, pois a distância não era tão grande. Povos do
norte estavam amotinados e fazendo planos para evitar que seu destino fosse igual ao dos
sulistas. Eles não entendiam nem podiam entender o poder estranho por detrás de Josué, pois
nunca se tinha ouvido dizer que guerreiro algum conseguisse tanto em tão pouco tempo. Se as
noticias tinham chegado com fidelidade ao norte, não se sabe. Os meios de comunicação
eram muito primários. Se eles soubessem que o sol tinha parado, que uma chuva de pedras
incandescentes tinha caldo sobre os exércitos em fuga, talvez tivessem tomado providência
semelhante a dos gibeonitas. Teriam procurado a paz antes de serem destruídos. Todavia,
temos de levar em consideração que havia um plano e este plano não compreendia outra coisa
senão a destruição dos povos idólatras.
2. A Conspiração de Jabim (11:1-6)

"Tendo Jabim, rei de Hazor, ouvido isto" (11:1), enviou seus embaixadores aos outros reis da
região, a fim de que se preparassem para a campanha que ia chegar. Pela proclamação, todos
os povos do norte da Palestina estavam conclamados à guerra. Cananeus, do Oriente,
amorreus (amoritas), hiteus (hititas), jebuseus, heveus, todos vieram e se acamparam junto às
águas de Marom. Se Marom deve ser identificada com o Lago Hulé, o autor não pode dizer.
Fica a 16 quilômetros ao norte do Mar da Galiléia, o local do encontro, caso não tenha sido em
Hulé, como julgam alguns arqueólogos. As escavações levadas a efeito, no lugar denominado
El Cedeshe, dão a idéia de que se tratava efetivamente de uma praça de guerra, de enormes
proporções, com mil e duzentos metros de comprimento por outro tanto de largura. Hazor,
local de encontro dos reis do norte, não era menos valioso como centro de comércio, pois
poderia sustentar uma população de quatro a cinco mil pessoas. Ali os povos da região se
encontravam semanalmente para os seus negócios. E, 1800 a.C., quando os hiesos
dominavam o Egito, era um grande centro comercial dos próprios hiesos, ao norte da
Palestina. Nos tempos de Totmés III, era Hazor um dos mais notáveis centros de cultura e
comércio. Foi lá que ele se defrontou com as forças dos heteus, cujo final teve lugar na
fortaleza de Megido, ao sul. Mais tarde ainda Ramsés H teria se encontrado ali com as forças
mitânias e hetéias, de cujos resultados não temos informações, mas sabemos que ele levou as
suas forças até as fronteiras do império heteu.

Hazor, pois, era uma fortaleza que dava certa segurança aos exércitos confederados, e eram
muitos, pois todos saíram com as suas tropas, e com eles "muito povo, em multidão como a
areia que está na praia do mar, e muitíssimos cavalos e carros" (Jos. 11:4). O local era e é
muito pitoresco, junto ao lago de Merom, onde as águas do Jordão passam rumo ao Mar da
Galiléia. No tempo dos romanos havia ali grandes santuários, onde se adoravam uma formosa
divindade. Atualmente as ruínas de Hazor estão sendo investigadas para dizerem tudo que
podem a respeito do seu passado.
3. Deus Garante a Vitória (11:6)

O encontro era de temer. Deus mostrou a Josué que a cidade seria entregue ao povo
escolhido. A viagem do acampamento de Gilgal até Merom deveria ter tomado uma semana
ou mais, pois um exército não se movimenta como um homem. Pelo verso 7 do capítulo 11,
vemos que Josué foi tomado de surpresa, pois não esperava este encontro tão rápido: "Veio
apressadamente contra eles às águas de Merom." O que houve ali, o texto sagrado não diz.
Apenas que o "Senhor os entregou nas suas mãos e os feriram até a grande Sidom..." (Jos.
11:8). Ou porque fossem tomados de surpresa, ou pelo que fosse, fugiram e muitos se
dirigiram para a Fenícia, até Sidom, nas margens do Mediterrâneo. O espólio deveria ser
qualquer coisa de que não temos a menor idéia. Os cavalos seriam poupados, mas os carros
deveriam ser destruídos. Por quê? Não sabemos dizer. Hazor foi tomada, seu rei morto e as
cidades circunvizinhas igualmente destruídas. Josué pessoalmente incendiou a cidade.
Tomou, pois, Josué toda aquela terra, uma terra fértil, a região montanhosa, todo o Negebe, o
vale dos Líbanos até o monte Hermom, a leste.

Todos os pequenos reis e chefes foram destruídos e toda a região foi considerada livre do
perigo.

Não se deve pensar que todo mundo foi morto. O que interessava a Josué era destruir as
organizações políticas, os centros de comando. Mais tarde vamos encontrar núcleos cananitas,
de mistura com os israelitas, pelo que se infere que nem todo mundo foi destruído. Não seria
mesmo possível. A região é muito vasta, de Tiro e Sidom até o moderno território dos
gaulanitas, numa distância de mais de cinqüenta quilômetros. Os sidônios e tirenos não foram
sequer molestados, embora estivessem entre os povos destinados à destruição. Anos depois,
encontramos esta gente em boa paz com Israel e cooperando na construção e reconstrução do
templo. Igualmente o Líbano estava incluído no território a ser conquistado, mas Josué
contentou-se com a tomada dos povos vizinhos. "Por muito tempo, Josué fez guerra contra
todos esses reis" (Jos. 11:18). Temos então de admitir que, depois de tomada Hazor e
queimada, não estava terminada a campanha. Muitos lugares deviam ainda ser conquistados
e destruídos. Por quanto tempo durou a campanha, não sabemos: mas deve ter durado
meses, talvez. A menção dos heteus, no verso 3 do capítulo 11, deve corresponder a grupos
avançados do império hitita, (1) que tinha as suas capitais na Ásia Menor. A mesma referência
aos jebuseus, oriundos de Jerusalém, onde tinham a sua sede, indica que estes povos se
haviam espalhado por toda parte. Os heteus vão continuar a existir lado a lado com os
hebreus, pois no tempo de Davi havia mesmo oficiais hiteus no seu exército, tal o caso do
marido de Bate-Seba. Já foi notado, que todos estes povos eram oriundos de Cão ou de seu
filho Canaã. Os filhos de Sem tomaram outros rumos, os de Jafé ficaram lá para o norte. Aos
filhos de Cão é que coube toda a terra de Canaã e outros lugares, 'mais para o sul até a África.

(1) W.C. Ciran. O Segredo dos Hititas (Hiteus), II edição Itatiaia.


4. Josué Completa a Campanha do Sul (11:7-23) (2)

Terminada a campanha do norte, Josué ruma para o sul. A limpeza no sul de Judá e outros
locais não tinha ficado completa. O verso 21 do capítulo 11 indica o novo rumo: a busca dos
gigantes que tinham ficado. Enaque significa gigante. Eram descendentes de Arba, um dos
filhos de Hete (Gên. 23:3). A cidade de Quiriate-Arba, depois Hebrom, ao sul de Judá, deriva o
seu nome desta gente, espalhada por todo o sul da Palestina, de maneira que quando os 12
espias vieram ver a terra encontraram lá alguns desta raça, o que lhes fez parecer gafanhotos
junto deles (Núm. 13:33). A cidade de Hebrom, que Josué já havia tomado, era um reduto
dessa gente. Os enaquins são muita vez confundidos com os nafelins, segundo alguns
comentadores, descendentes do conúbio dos anjos com as filhas dos homens (Gên. 6:12). Não
há nada disso. Quer os nafelins, que significar caídos, do verbo hebraico Nafal, cair, como os
enaquins, nada há de anormal. Apenas uma família deu origem a um grupo, que se avantajou
em estatura. Golias era um remanescente dessa gente enaquim. Josué, pois, desce do monte
e vem ao encontro dos enaquius. Talvez fossem aparentados com os emins. Nas montanhas
de Judá, Hebrom e arredores, nenhum ficou, se não alguns em Gaza, Gate e Asdode. Voltamos
a lamentar que Josué não tenha estendido sua campanha até os filisteus. Teria exterminado
os gigantes, que algumas vezes fizeram muito mal aos hebreus. Calebe teve de lutar com os
remanescentes dessa gente quando recebeu Hebrom em herança. A cidade de Quiriate-Arba
(Arba pai de Enaque), em Hebrom, foi uma das cidades que Calebe teve de conquistar à força.
Antes que Zoá, no Egito, fosse fundada, fundaram Quiriate-Arba nas montanhas de Yudá, por
isso, uma das mais antigas cidades da Palestina (Núm. 13:22; Jos. 15:13-54). Talvez Laquis,
Jericó e Quiriate-Arba sejam as mais antigas cidades da Palestina. Pelos dizeres do capítulo 12,
versículo 24 estava terminada a campanha da conquista. O que ficou por fazer seria tarefa das
tribos, posteriormente.

Quando estudarmos o loteamento da terra pelas nove e meia tribos, notaremos a quem coube
esta parte norte, agora conquistada. Uma parte é montanhosa, mas a maioria é plana, bem
regada e farta. O autor passou algumas horas nesta região e pôde notar, mesmo de relance,
seu cenário encantador. O Mar da Galiléia serve a uma parte, e o Lago de Merom, à outra.
Mais tarde, uma fração da tribo de Dá, não encontrando terra satisfatória para sua morada, foi
parar numa cidade bem ao norte (Juí. 18). Terra boa e confiada, isto é, farta e descansada.
Laís era o nome do lugar, que depois ficou sendo conhecido por Dá, havendo duas Dá, uma ao
sul, antiga sede da família damita, e essa, resultado de pilhagem. Daí também a frase tão
comum: "desde Dá até Berseba", indicando os dois extremos da Palestina em poder dos
hebreus.

A impressão do leitor menos avisado é que tudo estava dominado. A verdade, entretanto, é
bem outra. Na conquista do sul, Hebrom foi tomada e queimada, mas (15:13) coube a Calebe
conquistar Hebrom e dominá-la, bem como a Quiriate-Sefer, a cidade do Sol. Como verá o
leitor, a conquista era uma coisa dolorosa, trabalhosa, e só com o tempo é que a situação
poderia ser considerada definitiva, se é que algum dia o foi. O capítulo 13 é bem claro: Josué
estava ficando velho, com 110 anos de vida. Deus mesmo reconheceu que ele estava
terminando a sua tarefa e "ainda havia muita terra a conquistar" (13:1). Não só muitos
redutos isolados dos grandes centros, mas vastas áreas estavam ainda por tocar, tais como as
cinco cidades dos filisteus, toda a Fenícia, o Líbano, para o norte, etc. Não era trabalho para 10
anos, como os que Josué gastou na conquista, atendendo a que os meios de guerra naquele
tempo eram bem diferentes dos atuais. Assim, recompondo a situação, como já tem sido
notado noutros lugares, a Palestina estava dominada, mas não conquistada. A felicidade de
Josué foi não ter encontrado oposição por parte dos grandes impérios daqueles dias. Os
egípcios não o molestaram, como se estivessem de acordo com a campanha; os impérios
mitânio e heteu, lá para o extremo norte, igualmente não se movimentaram. Josué teve mãos
livres para a sua obra, que custou muitas vidas aos Cruzados. Ainda se podem ver hoje as
fortalezas construídas por estes invasores nas praias da Sidom velha. A moderna Sidom fica
num cabeço a leste da velha cidade, famosa nos tempos dos reis de Israel. Deus promete a
Josué lançar fora todos estes reinos, e os juizes lutaram contra alguns deles, mas sem grande
sucesso. É certo que Judá tomou os territórios dos filisteus, suas cidades principais: Gaza,
Ascalom e Ecrom, com os seus territórios (Juí. 1:18), mas alguns moradores filisteus ficaram na
terra porque tinham carros forrados. Os filisteus tinham trazido de Creta, ou roubado pelo
caminho aos hiteus, a indústria do ferro, e eram neste particular invencíveis, porque os
hebreus não tinham o segredo. Por motivos que ignoramos, os hebreus não mantiveram essa
conquista, e o resto da história é bem diferente do que seria se estas gentes tivessem sido
dominadas permanentemente. No estudo sobre Juizes notaremos alguns territórios
conquistados. A política posterior foi dominar os cananeus e não os destruir porque já os
israelitas se consideravam bastante fortes, para não serem vencidos (Juí. 1:28).

O historiador vê, com natural apreensão, o fato de tanta terra ficar por tomar ou conquistar.
Isso se tornou o "calcanhar de Aquiles" na vida dos hebreus. Deus mesmo reconheceu que
não seria conveniente tomar e destruir todos os povos, porque os hebreus não tinham gente e
capacidade para ocupar convenientemente tudo e então as feras seriam outro problema,
talvez pior do que os próprios cananeus.

Examinada a situação em conjunto, verificamos que muita coisa foi feita. O que ficou por fazer
constitui o complexo histórico do povo através de séculos. O livro dos Juizes dá-nos a
impressão de que os cananeus não foram totalmente destruídos, como se declara em alguns
tópicos de Josué. Teriam destruído os grandes centros, os seus chefes, mas nos montes e vales
teriam ficado milhares deles. Foi este contato com povo idólatra que derrotou Israel a maioria
das vezes, afastando-os da lei de Deus, para seguirem os baalins, os astarotes e outros
sistemas de culto. Foi uma infelicidade essa mistura e o estudante chega a pensar como
teriam os hebreus conseguido vencer, sendo, como eram, um povo sem tradições, sem cultura
e sem back-ground, que os poderia salvar das influências cananéias. A história que nós temos,
é a relatada pelos livros de Josué até Neemias, lá pelo século 5 antes de Cristo. É uma história
de derrotas, de vitórias, de altos e baixos, e tudo ao redor da idolatria, com o seu cortejo de
pecados e crimes, por que não era apenas o pecado de prestar culto a imagens, era também o
pecado que a idolatria sempre traz. Essa, em estilo diferente, é a história dos povos sul-
americanos.

(2) Veja Charles Marston em A Bíblia Disse a Verdade, pp. 160-170.


5. Josué Dá a Lista dos Reis Vencidos (12:1-24)

O território conquistado vai do Vale do Líbano até o monte Halaque, que sobe de Seir, terra
dos horitas (Jos. 12:7), portanto, toda a região entre a Arábia e o Mediterrâneo. Era o mundo
mais habitado dos tempos antigos e onde se caldearam todas as raças que povoaram a terra.
Não foram incluídos os povos do norte nem do nordeste, por estarem fora da área destinada à
moradia dos hebreus. Ao todo são trinta e um reis. Nem todos são mencionados nas guerras
feridas, pelo que se conclui que muita coisa foi feita sem relações com as campanhas oficiais
de Josué. Não vale a pena gastar espaço para esmiuçar estas diferenças, pois que isso não
interessa ao escopo deste estudo.

Noutro lugar já foi notado que estes reis eram apenas chefetes de uma cidade e de pequenas
regiões. Cada cidade teria o seu rei, que nós chamaríamos de prefeito, e em alguns casos
havia condecorações de chefes que obedeciam a um maioral. Não sabemos ao certo quantos
meses durou a campanha. Sabemos que todo o tempo de Josué, em Canaã foi de 10 anos.
Entrou em Canaã em 1400 a.C. e morreu em 1390, com a idade de 110 anos (Jos. 24:29). A
nosso ver, não era velho para as condições daqueles dias, mas a vida acidentada o teria
alquebrado antes do tempo. Parece-nos que morreu cedo, antes de consolidada sua obra,
pois, ao abrir o livro dos Juizes, deparamos com o problema da conquista dos cananeus e
outros povos, como a dizer que a terra não estava dominada. Isso mesmo veremos no capítulo
13, que deve ser lido juntamente com os primeiros capítulos de Juizes.
6. A Terra a Conquistar (13:1-13) (3)

Deus é o primeiro a. reconhecer que havia muita terra a conquistar e que não foi plenamente
conquistada depois. Gesur era uma tribo a N.E. de Basã, que ia até os limites de Hermom.
Mas a Gesur de Josué (13:2) é uma região ao sul da Filistéia, conhecida como a terra dos
gessuritas. Sior ficava perto do Egito e dali partindo em linha reta pela costa Mediterrânea, e
incluía todos os régulos dos filisteus, e mais para o norte, toda a Filistéia, Tiro e Sidom, com
suas capitais Baal-Gade (Senhor de fortuna), perto de Hermom, lugar ainda não identificado,
mareava o extremo norte do território a ser conquistado, até :a entrada de Hamate. Era por
ali a passagem forçada de quem ia para o Oriente ou vinha para o Ocidente. Portanto, toda a
terra dos Líbanos pertencia ao povo de Israel. A não ser pequenas povoações, a leste, todo o
ocidente de Canaã estava por conquistar, e como já foi notado, nunca foi conquistado. Os
filisteus só foram destruídos com as guerras dos assírios e babilônios; e os fenícios igualmente
ficaram em seus territórios, até os tempos de Alexandre, o Grande. No tempo das Cruzadas,
os sidônios formaram um baluarte tremendo contra esta invasão.

No capítulo 13 e verso 13 há uma referência que merece um breve exame. Os gesureus e


maacateus ficaram na terra e com eles os israelitas se misturaram até o dia de hoje. Quando o
livro foi composto, alguns séculos depois de Josué, estes povos antigos estavam vivendo, lado
a lado, com os hebreus e parece até que, em muitos casos, eram os verdadeiros donos da
terra. Nos tempos do Novo Testamento esta região era conhecida como Traconites, e parece
que os povos não eram israelitas. Talvez muitos elementos de gaditas, rubenitas e manassitas
tivessem sido absorvidos pelos povos orientais. Os amoritas e edomitas se recompuseram e
terminaram por dominar grande parte da terra a leste do Jordão. Não é propósito deste
estudo entrar a fundo na transformação que se operou depois da morte de Josué, porque isso
nos levaria muito longe. Apenas breves informações são dadas, para que o estudante da
história não fique inteiramente fora do contexto histórico. Através do Velho Testamento, nos
confrontos históricos dos reis com os povos vizinhos, nós vemos como estava a situação.
Territórios que deveriam ser dos hebreus estavam em poder de povos supostamente
destruídos. Não é tempo de darmos um balanço das ocorrências havidas nesta fase da
campanha de Josué, mas uma observação vem a propósito. Se, por um lado, não convinha
destruir todos os povos, condenados à destruição, pois os elementos israelitas não tinham
capacidade para absorver e dominar o território, por outro lado, ficou plantada a semente da
discórdia, do desentendimento e da ruína. De Josué até Crônicas e mesmo depois, incluindo
os livros de Esdras e Neemias, o que vemos é um retrato triste das influências malsãs dos
povos que ficaram. A história dos hebreus é uma história de contradição. Um Deus todo-
poderoso, vendo-se tantas vezes impotente para contornar os problemas criados por esses
grupos étnicos. A nossa Bíblia seria muito diferente, se outras tivessem sido as bases da raça
que ia dar ao mundo a mesma Bíblia. Todavia, nós amamos a Bíblia com a sua história cheia de
pecados e desvios, quando por um lado o povo se afastava do seu Deus, e por outro, o mesmo
Deus vinha à procura do povo desviado. Quem sabe, esta é mesmo a verdadeira história da
humanidade; um povo que se afasta de Deus e um Deus que busca o povo afastado? Nós
examinamos as coisas à luz da nossa observação; e porque não podemos penetrar nos
mistérios do governo divino, nos acomodamos aos fatos que tanto nos fazem até sofrer.
Quando vemos mais tarde homens de Deus caindo em pecados feios, para voltarem
arrependidos aos pés do Senhor que ofenderam, descobrimos nosso retrato de corpo inteiro.

(3) A Bíblia e as Civilizações Antigas pp. 199-201.


VIII - A DISTRIBUIÇÃO DA TERRA (1)

1. Além do Jordão (13:1-33)

Uma recapitulação do leste da Palestina parece ser o escopo do autor de Josué. Estava prestes
a ser repartida a terra pelas tribos, e por certo convinha incluir a porção anteriormente dada
por Moisés às tribos de Gade e Rúben e à meia tribo de Manassés. Para compreendermos o
panorama dos territórios além do Jordão, temos de voltar a Números 21:21-35 e 22:1-24:14;
Deuteronômio 2:26-37 e 3:1-11. A história destas nações derrotadas encontra-se nestas
escrituras e o que Josué diz é apenas uma referência às mesmas.

Parece, não estava nos planos de Moisés a tomada dos territórios do leste do Jordão.
Acontecimentos inesperados determinaram esta conquista de que nos ocupamos agora, quase
três e meio milênios depois. Todos os povos, menos os amoritas, eram aparentados dos
israelitas. Os edumeus eram filhos de Abraão, os moabitas e os amonitas eram filhos de Ló,
sobrinho de Abraão. Deus não desejava desapossar essa gente, nem fazer-lhe guerra, mas a
raiva de Esaú ainda medrava na alma daquela gente, como tem sucedido até hoje.

Os edumeus não foram molestados. O primeiro encontro deu-se com os amoritas. A proposta
de Moisés, muito cândida e cordial, de passar pelo território sem beber a água dos poços e
sem comer a comida dos campos foi ostensivamente rejeitada. O rei Siom saiu ao encontro de
Moisés e foi naturalmente derrotado. A seguir, o rei Ogue, rei de Basã, também amorita, se
opôs a Moisés e foi vencido (Núm. 21:21-35). Os outros parentes dos israelitas, os moabitas,
tinham um rei que, parece, nem era moabita. Esse mandou buscar Balaão, o profeta adivinho,
lá nas bandas de Arã, para amaldiçoar o povo, cuja história todos conhecemos, pois está em
Números 22-24. O texto sagrado não diz tudo quanto ocorreu com os moabitas, mas nós
sabemos que não podiam ser molestados (Deut. 2:19). O seu território, muito ao sul da terra
conquistada do leste, não foi tomado. Os territórios ocupados iam do rio Arnom até Gesur,
nas fraldas do Anti-Líbano. Território rico, bem regado, grandes planaltos, era uma terra
cobiçável. Portanto, dominados estes reis, estava livre a terra para ser ocupada por outro
povo, mais digno e necessário ao plano divino. Era natural que algumas das tribos a
cobiçassem, como aconteceu. Assim, o antigo reino de Siom, que compreendia o território
desde o Arnom até Hesbom, sua capital, e incluía grandes e boas cidades, atualmente
investigados pela arqueologia, e que constam do relato de Josué (13:15-22), foi a possessão de
Rúben. Junto, neste território, para leste, ficavam os amonitas, meio eneravados no território.

À tribo de Gade foram dados os territórios conquistados de Ogue, rei amorita, a partir de
Hesbom até Ramá-Mizpe, incluindo os territórios pertencentes a Amom, a leste, até Aroer, que
chamaríamos do norte, pois a outra Aroer fica muito ao sul, nos territórios de Rúben. O texto
não é muito claro aqui, pois os territórios dos axnonitas eram sagrados; mas, como estavam
dentro desta área tomada ao rei Ogue, são incluídos como tendo sido dados aos gaditas.
Como se entenderiam gaditas e amonitas, não sabemos nem pretendemos pesquisar. Assim,
todo o seu território ia de Hesbom, incluindo grande parte de Basã, até o sul do Mar de
Quinerete (Mar da Galiléia) (Jos. 13:24-28). (2)

À meia tribo de Manassés, todo o território que pertenceu ao reino de Ogue, rei de Basã,
começando com Maanaim, metade de Gileade, Astarote e outras cidades. Ao todo sessenta
cidades. Incluía-se o Líbano, parte de leste e o Monte Hermom. (3)

A história dos povos vencidos, a leste, cujos territórios foram entregues aos gaditas, rubenitas
e manassitas, é uma história que se prende aos primórdios da história bíblica. Os moabitas e
amonitas eram descendentes de Ló com as suas duas filhas. Os amoritas seriam um pequeno
grupo desgarrado do seu grande centro, ao norte, onde se acredita que tinham a sua sede. Os
mitânios ou eram amoritas ou se tinham misturado com eles. Foi esta notável raça que, depois
de se fundir com outros povos, talvez semitas, nos deu o famoso império de Babilônia,
conhecido como o império dos acádios e sumérios. Portanto, não temos de pensar que se
trata de tribos nômades, semi-bárbaras. O caso de Ogue talvez se relacione com os enaquins,
do oeste, de que já demos notícias. Era um homem de alta estatura. Dormia numa cama de
ferro, de nove côvados de comprimento e quatro de largura. Em Deuteronômio ele é chamado
dos restantes dos refaina, possivelmente outra designação de enaquins ou nefelins.
Para termos uma idéia mais completa desta situação devemos comparar Números 21:21-35 e
Deuteronônúo 2:26; 3:11, incluindo Josué 13:15-33.

Mesmo à custa de algumas repetições, porque o texto ora em exame repete muito e disso
desejamos fugir, tanto quanto possível ' não podemos evitar umas tantas palavras a respeito
dos territórios de leste e dos povos que os ocuparam. Com um mapa diante de nós,
contemplemos a imensa nesga de terra que vai do Arnom até o Hermom, incluindo, pois, boa
parte dos Líbanos. Se a terra do leste estava incluída na que manava leite e mel, não sabemos;
Deus sabe e sabia. Mas que esta nesga de terra é a coisa mais apetecível de toda a Palestina é
um fato.

Os reis dos amorítas, Siom e Ogue, que dominavam desde Aroer, bem ao sul do território
ocupado pelos amonitas oferecem-nos diversas dificuldades. Como podiam estes estados
conviver com os amonitas, não entendemos. As indicações são de que o território de Siom
pertenceria, de fato, aos amonitas, mas estes eram empurrados para leste, deixando grande
parte do seu território em mãos dos amoritas. Pela configuração geográfica é isto que parece
ter sido certo, embora não saibamos quando. Com a destruição destes reinos os rubenitas
ficaram vivendo conjuntamente com os amonitas.

As cidades compreendidas nestes velhos reinos estão sendo investigadas pela arqueologia e
quando elas disserem tudo o que têm a dizer então se compreenderá melhor o quinhão destes
três filhos de Jacó. Pelo que se sabe atualmente, havia cidades de mármore, com imensas
galerias, dando acesso à corrida de cavalos e outros desportos, indicando o alto grau de cultura
desta gente, talvez bem maior do que a dos novos ocupantes da terra. O que interessava era
uma situação nova, do ponto de vista moral e espiritual, e assim nos conformamos com a
derrocada de uma civilização, o orgulho daqueles antigos povos. Como já foi notado noutro
local, estes amoritas seriam um ramo do grande império do norte, conhecido como os
mitânios e que tanta influência exerceram até mesmo no Egito. Não estão bem definidos os
contornos dos impérios hiteus e amoritas, nem mesmo as suas ligações étnicas, mas pelo que
já se sabe, eram povos de alta cultura. Assim, os amoritas da Palestina, que se encontram
dispersos em diversos lugares, seriam partes desgarradas do grande centro, talvez em Hamate.
Se Moisés tivesse sido atendido em sua petição, de passar pelo território, em demanda à
Palestina do Oeste, teríamos uma outra história; estas contendas antigas porém,
determinaram sempre alterações geográficas e étnicas, que agora, só à custa da picareta,
podemos saber mais ou menos como eram em tempos antigos.

Com um olhar ao mapa desta região, teríamos a seguinte configuração: Bem ao sudoeste, os
edumeus, filhos de Ismael e Esaú, tanto que a sua terra era conhecida, ora pelo nome dos
ismaelitas, ora dos midianitas (esauítas). Veja o caso da venda de José, feita aos midianitas e
aos ismaelitas (Gên. 37). Um pouco mais para leste, ficavam os moabitas, filhos de Ló, a quem
Moisés não podia ofender. Entretanto, o seu rei, que, parece, era amorita, mandou buscar
Balaão, das bandas de Arã, para que amaldiçoasse os israelitas, invasores. A história está
registrada nos capítulos 22-24 de Números. Indo para o norte, encontramos então, os reis
amoritas, Siom e Ogue, de que temos tratado linhas atrás. Era uma área grandemente
povoada e que atualmente está ocupada pelos árabes.

Agradecemos à Bíblia os conhecimentos que temos desses povos, pois, não fora ela, nada se
saberia destas raças antigas e admiráveis. A arqueologia ainda tem muito a contar a respeito
de povos e nações com os quais os hebreus tiveram contato e lutas.

(1) Historical Geography of the Holy Land, Smith pp. 5-15. Veja A Bíblia e as Civilizações
Antigas, pp. 205-210.

(2) Em josué 13:25, diz-se que metade da terra dos amonitas faria parte da herança dos filhos
de Gade. Entretanto, as terras dos amonitas, moabitas e edomitas eram sagradas, porque eles
eram parentes dos hebreus. josué, entretanto, deu metade do território de Amom. Trezentos
anos depois, os amonitas reclamaram esta terra. Jefté contestou a exigência dos filhos de
Amom, alegando que por trezentos anos eles nada alegaram em seu favor, e como agora,
tanto tempo depois, vinham fazer tal reclamação? Ficamos, assim, sem saber quem tinha
razão. Parece que Jefté estava certo, pois, se efetivamente, os amonitas tivessem sido
prejudicados, teriam reclamado tempos depois. Esta divisão de terras oferece sempre
complicações (juí. 11:23-28; Deut. 2:19).
(3) Em Deuteronômio 3: 11 diz-se que Ogue, o rei de Bazã, tinha o seu leito de ferro em Rabã,
cidade amonita, cidade que Davi mais tarde teve que conquistar (II Sam. 10 e 11:1). Ogue era
rei amonita, mas reinava em Rabá, terra amonita. Talvez daí nasça a contradição nestes passos
bíblicos. As divisões internacionais daqueles dias eram um tanto precárias.
2. A Herança de Calebe (14:1-15)

Aos levitas, tem sido repetido em diversos passos bíblicos, não foi dada herança. Eles eram a
herança do Senhor. Destinados a servir ao culto, não podiam nem deviam ter que cuidar do
amanho das terras. Seriam distribuídos por todas as cidades de Israel, e lá mesmo receberiam
os dízimos do azeite, do vinho e de outros elementos necessários à sua subsistência. Essa
norma divina, de que os que "trabalham no culto, vivam do culto", tem de ser a única norma
válida. Entretanto, por motivos óbvios, até Paulo quebrou esta norma, e depois dele milhares
'de outros têm seguido o mesmo caminho. Na América do Norte, a regra tem sido respeitada,
de um modo geral. Em Portugal, nosso primeiro campo missionário, também os pastores
vivem do seu ministério. No Brasil, por motivos muito diversos, poucos pastores vivem do
pastorado, especialmente nas grandes cidades,

onde eles são recrutados para ocupar posições em instituições evangélicas e em educação. A
sua contribuição, a diversos setores, tem sido muito grande, mesmo à custo, por certo, de seus
pastorados, que têm de sentir a falta de um pastor inteiramente ocupado com eles.

Antes de proceder à divisão da terra por sortes, para evitar queixas, veio Calebe reclamar um
direito que não lhe podia ser negado. Quando da rebelião causada pelo relatório pessimista
dos dez espias, em Cades-Barnéia (Núm. 13 e Deut. 1:26-33), foi prometido a Calebe que a
terra pisada por seus pés lhe seria dada em herança (Núm. 14:24). Chegou a hora de ser
cumprida a promessa. A terra estava prestes a ser dividida e ele queria a sua parte,
independente do que coubesse à sua tribo. Pediu então a cidade de Hebrom, já em parte
dominada por Josué, na campanha do Sul. Os argumentos usados por este herói foram
convincentes. Quarenta anos depois da derrota do povo, estava tão forte e disposto como
antes. Hebrom era a cidade dos enaquins, que ainda lá estavam. O nome da cidade
anteriormente era Quiriate-Arba. Arba, o maior homem entre os enaquins. Noutro local
demos informações mais detalhadas a respeito desta raça de gigantes. Calebe teve de
expulsar da cidade os três filhos de Anaque: Sesai, Aimã e Talmal. Eram três chefes que não
podiam ficar na cidade, no governo de Calebe.
3. Lote da Tribo de Judá (15:1-63)

Judá era o quarto filho de Jacó com Lia. A sua situação no meio dos seus irmãos é muito
notável. Na bênção de Jacó a seus filhos (Gên. 49), Judá é exaltado e chamado de Leãozinho.
O cetro não se apartaria de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até vir Siló. Grandes
promessas foram profetizadas a este nobre varão. No episódio da venda de José aos
midianitas, foi Judá quem salvou da morte o irmão menor (Gên. 37:26-28). Judá estava
destinado a ser o leãozinho e por sua geração dar ao mundo o Leão de Judá.

A distribuição começou por Judá. Rúben, primogênito de Jacó, já tinha recebido sua herança a
leste do jordão. Parece também que nesta transação não prevaleceu o direito de
primogenitura. A bem da verdade, não se tratava de herança paterna, mas herança de Jeová,
e Judá estava destinado a ser alguma coisa notável no futuro dessa nação.

Seu território está descrito no capítulo 15:1-12. Ao todo, recebeu 106 cidades com as suas
aldeias. O texto faz menção dos jebuseus, que habitavam em Jerusalém e ali ficaram por todo
tempo, até que Davi tomou a cidade, séculos mais tarde. Os jebuseus eram um povo pacífico,
vivendo na sua terra sem se misturarem com os demais povos. O seu rei Adoni-Zedeque foi o
chefe da conspiração contra Josué, e foi morto junto com outros quatro reis. Quando o livro
de Josué foi escrito, ainda os jebuseus estavam de posse da sua montanha, pelo que a data do
livro deve estar entre Saul e Davi, talvez no meio do seu reinado. Depois de conquistada a
cidade, ficaram os jebuseus convivendo com os israelitas. O leitor pode descrever, numa f olha
de papel, o território ocupado por Judá. Uma linha quebrada, que parte do Mar Morto, passa
ao norte dos territórios dos edumeus até o território filistino. Deste território, a linha divisória
passa ao sul de Dá e vai terminar no extremo norte do Mar Morto. Incluía toda a Jerusalém,
que não tinha sido conquistada, mas veio a sê-lo mais tarde. Seria, portanto, a capital de Judá.
4. Lote da Tribo de Efraim (16:1-10)

Os dois filhos de José - Manassés e Efraim - tiveram sorte igual a dos filhos de Jacó. A meia
tribo de Manassés já tinha sido servida a leste, como vimos; restava dar terra à outra metade,
que ficou junto à de Efraim. O território desta tribo vai do Jordão, na altura de Jericó, rumo a
Betel, daí para Luz, passando pelos termos dos arqueus, faz uma curva, e vai até a Bete-Horom
de baixo até Gezer, terminando no Mediterrâneo.

5. Sorte de Manassés - meia tribo (17)

Confronta com os termos de Efraim, seu irmão, pelo sul, pelo leste com Jordão, e pelo norte,
em linha quase reta, vai até o mar. Algumas das suas cidades ficaram encravadas na tribo de
seu irmão Efraim, pelo que os termos geográficos são muito incertos. O Monte Ebal ficou no
seu território, enquanto Gerizim ficou com Efraim. Sendo dois irmãos, ficaram juntos e mesmo
que algumas cidades de um ficassem dentro do território do outro, tudo estava em família. A
descrição dada por Josué (cap. 17:1-18) é um pouco confusa, porque houve uma reclamação
das filhas de Manassés quanto ao lote que lhes havia caído, o que determinou uma
redistribuição. Pela linguagem de 17:15,16, verifica-se que muitas destas áreas estavam em
poder de povos cananeus, que dificilmente poderiam ser desapossados, porque tinham carros
ferrados. O problema não era fácil. Os grandes centros tinham sido destruídos, mas
numerosos grupos tinham ficado, especialmente nas montanhas, e esses grupos tinham de ser
subjugados, mas nunca o foram. Acabaram vivendo lado a lado, criando, como o resto da
história nos informa, sérios problemas religiosos para os hebreus. A linguagem também nos
diz que Manassés era muito numeroso e forte, cabendo-lhe dez quinhões, fora a terra de
Gileade e Basã, dada a outra metade. A extensão real do território desta tribo vai de Efraim ao
sul, Manassés ao norte, tocando em Aser, já no território da Filístia, e com Issacar a leste. É
uma geografia muito incerta e até nas tribos de Issacar e Aser tinha Manassés algumas
cidades. A tribo de Efraim tornou-se, no decurso do tempo, a líder do norte, enquanto Judá
era a líder do Sul. Manassés sempre acompanhou o seu irmão mais forte, do mesmo modo
que Simeão, ao - sul, sempre seguiu o seu irmão Judá. Na divisão do reino com Jeroboão,
Efraim era o limite do reino do norte, e era ele quem liderava os negócios nesta região. A
cidade de Betel ficou na tribo de Efraim e foi lá que Jeroboão construiu o altar aos bezerros,
para desafiar o altar de Judá. De lá partia toda a política rival a Judá. Parece até que o ciúme
com Judá teve sempre o seu centro em Efraim. As queixas, as recriminações quanto ao
desprezo que os judaítas votavam aos irmãos do norte tinham a sua raiz em Efraim.

Outra dificuldade que o estudante moderno encontra, nesta geografia, é que muitas cidades e
lugares desapareceram e não há meio agora de se determinar os verdadeiros termos de uma
tribo e da outra. Há uma certa acomodação geral, quanto a se fazer uma localização.
Tampouco isto atualmente interessa ao estudante. O que importa, de fato, é uma localização
geral, mesmo que seja impossível uma determinação particular.

O capítulo 17 termina com a distribuição das terras às duas casas dominantes, a de Judá e a de
José, pelos seus dois filhos. A impressão que o leitor tem é que tudo mais era secundário.
Temos mesmo dificuldade para saber a que titulo foram dadas as heranças aos filhos de José e
de Judá, porque a sorte ou distribuição não fora feita, e só o foi segundo o capítulo 18.

6. Novo Processo de Distribuição da Terra - Segunda distribuição (18)

O arraial parece que tinha mudado de Gilgal para Siló, um lugar não identificado, na terra de
Efraim, ao norte de Betel, na direção de Siquém. Devia ser uma cidade importante ao ponto
de Josué mudar para lá o centro das atividades gerais e mesmo estabelecer ali o centro de
culto, onde a arca foi depositada. Atualmente há um lugar conhecido como Selum, que se
acredita represente a cidade de Siló, mas não há certeza. Até o tempo dos Juizes (21:12) Siló
continuava a ser o centro da vida religiosa e política de Israel. Agora estabelecido o culto, e
descançado o povo, não havia preocupação com o resto. A terra estava dominada. Foi aí que
Josué verificou haver muita coisa a fazer. Preparou uma grande comissão, composta de três
homens de cada tribo ainda não contemplada com sua sorte, e mandou-os fazer o censo
geográfico do território conquistado e por conquistar. Os 21 homens partiram, a fim de fazer a
divisão do restante dos territórios em sete partes, porquanto Judá e José já estavam servidos.
Os homens da grande comissão foram e fizeram a distribuição por meio de um gráfico,
considerando as principais cidades. Então Josué lhes lançou as sortes em Siló, perante o
Senhor (18:10). Foram tiradas as sortes, e cada um recebeu o que lhe coube. Estas sortes
estavam determinadas nas profecias de Jacó antes de morrer.

7. Sorte de Benjamim (18)

Benjamim é justamente o último mencionado na profecia de Jacó (Gên. 49:27). José e


Benjamim foram os únicos filhos da amada Raquel, sendo este o último, nascido antes de a
mãe morrer. Era o muito amado de Jacó junto com José, pois eram os filhos que nós
chamaríamos legais, pois os demais vieram por meio de artimanhas domésticas.

Coube a Benjamim, o "lobo que despedaça e pela manhã devora a presa", um pedaço
pequeno, entravado dentre Efraim e Judá, tendo a leste o Jordão e a oeste Dá, com Judá ao sul
e Efraim ao norte. Pelo número de cidades que lhe couberam, inclusive Jericó, destruída, ao
todo 14, parece não ficou muito mal servido. Não havia grandes cidades neste território, e por
isso ou por outros motivos, a sua sorte esteve ligada à tribo de Judá. Na divisão do Reino, foi a
única tribo ao norte que ficou com Roboão. Todas as demais, lideradas por Efraim, ficaram
com Jeroboão.

8. Sorte de Simeão (19:1-9)

A sua herança ficou no meio dos filhos de Judá e por isso sempre foi uma tribo aliada a Judá,
chegando a desaparecer praticamente, absorvida por seu irmão mais forte. O seu território
partia de Berseba, muito ao sul. Devido ao fato de a parte de Judá ser muito grande e a de
Simeão muito pobre, mesmo que lhe fossem dadas 17 cidades, todas pobres e entravadas nos
desertos ao sul de Judá, ficou esta tribo condenada a não ter existência própria. Talvez a sua
má sorte se derive da profecia do pai em Gênesis 49:5. Isso devido à sua traição aos
siquemitas, por causa da irmã Diná (Gên. 34:25-31). Era irmão de Levi, sendo eles filhos de Lia
(Gên. 29:31-35).

9. Sorte de Zebulom

A área compreendida nesta divisão é pequena, mas muito rica. Perto do Mar da Galiléia, a
oeste, é uma região montanhosa. O número de cidades, doze ao todo, com suas aldeias, dá a
medida da pequenez do território. Segundo a profecia de Jacó, os seus termos atingiram a
Fenícia. Nunca chegaram a conquistar o território fenício, que ficava a oeste e teria sido a
grande meta da tribo. Assim, ficou perto do Mar da Galiléia, mas não nas suas praias.
Zebulom era o sexto filho de Lia, nascido perto da saída de Arã. Por motivos diversos, essa
tribo nunca teve preponderância nos destinos da nacionalidade. Os dois grandes centros eram
Efraim e Judá. Zebulom ficava muito ao norte sob a influência de outros povos, não podendo
influir muito nos destinos de seus irmãos do sul. O ponto mais saliente, no Novo Testamento,
é o Monte Tabor, que significa "montanha alta" e tanto pertence a Zebulom, como a Issacar.
Fica perto de Jizreel, três quilômetros distante de Nazaré. O nome atual é Jobel et Tur " e seu
ponto mais alto vai a 900 metros. Muitos pensam que foi neste monte que se verificou a
transfiguração do Senhor, mas a maioria pensa no Hermom. O acesso ao monte é difícil, pelo
que a transfiguração ali não parece proceder. Foi nesta região que Baraque reuniu as suas f
orças para combater Sísera (Jul. 4:6-14). Todo o norte continuou, por séculos, um reduto das
forças cananéias, que se alimentavam de elementos vindos do norte. Foi uma tribo muito
influenciada por cananeus e outros povos pequenos das redondezas.
10. Sorte de Issacar (19:17-23)

Era o oitavo filho de Jacó com Zilpa, serva de Lia, e tudo que Jacó diz dele é que o seu pão seria
abundante, e motivaria delícias reais (Gên. 49:20). Os intérpretes não atinam com o sentido
desta profecia, porque a tribo ficou entravada no território da Fenícia, vivendo mais sob a
influência de estranhos que a dos seus irmãos. Por isso, sua localização tem sido difícil para os
geógrafos. Ana, que vivia no templo, esperando a chegada do Messias, era dessa tribo, pelo
que se tem admitido fossem as palavras de Jacó uma das profecias messiânicas, embora quase
tudo contrarie essa posição. Parte rica do seu território encontra-se no Carmelo, até onde
chegam os seus termos sulinos. É uma nesga muito longa, partindo do extremo norte de Israel,
para atingir o Carmelo. Ao todo vinte e duas cidades eram a sua herança. Não se sabe se Tiro
e Sidom estavam incluídas, porque estas cidades estavam dentro do plano da conquista da
Palestina.

11. Sorte de Aser (19:24-31)

Aser foi o nono filho de Jacó e o quinto de Lia. Pouco ou quase nada se diz de Aser como
indivíduo. O que Jacó profetizou dele não se sabe como se cumpriu. "Jumento de fortes
ossos, de repouso entre os rebanhos de ovelhas" (Gên. 49:14). Seu território ficou entre
Manassés ao sul e Zebulom ao norte, tendo a leste o Jordão e a oeste uma nesga do território
de Zebulom. O famoso monte de Gilboa, onde Saul e seus filhos perderam a vida e a guerra
contra os filisteus, e o Monte Megido a oeste, são os pontos culminantes na história da tribo.
O vale de Jizreel é ainda hoje famoso como centro agrícola por sua vastidão. Suas dezesseis
cidades não são identificadas atualmente, a não ser por alguns lugares históricos. A moderna
estrada de Jerusalém a Tiberiades corta este território do sul a norte, com uma visão
panorâmica admirável.
12. Sorte de Naftali (19:32-39)

O sexto filho de Jacó e o segundo de Bila, criada de Raquel. Dele diz Jacó que "era uma gazela
solta a proferir palavras bonitas". O seu território, realmente invejável, ficava na Galiléia, a
leste de Aser e ao norte de Zebulom,. Foi a terra de Baraque, juiz de Israel (Jul. 4:10). Pouco
se sabe desta tribo. Foi no seu território que Jesus fez grande número de milagres nas
imediações do Mar da Galiléia. Como tribo muito ao norte, jamais teve parte nos destinos da
nacionalidade, cujos centros ficavam para o sul. Das cidades mencionadas em Josué poucas
são identificadas na geografia moderna. O seu território nunca foi totalmente dominado, pois
os cananeus estavam sempre à espreita de uma oportunidade de revanche dos estragos
sofridos à mão de Josué. Foi neste território que Josué teve uma das maiores vitórias contra
os reis cananeus, junto às águas do Merom. A região ainda hoje é muito encantadora. Foi
para esta região que Jesus se retirou, indo até às partes de Sidom, quando encontrou a viúva
de Sarepta.

13. Sétima Sorte de Dá (19:40-48)

Quinto filho de Jacó e primeiro de Bila, serva de Raquel. Era irmão de Naftali. O território que
coube a esta tribo ficava entravado no território filisteu, a oeste, território que a tribo deveria
tomar, mas nunca o fez. Foi sempre uma tribo pobre e por isso, durante o período dos Juizes,
procurara outro lugar para emigrar. A sua vitória encontra-se em Juizes 18. O lugar que
tomaram, bem ao norte, era uma cidade cananita chamada Laís. Passaram a chamar-lhe Dá,
pelo que a expressão de "Dá até Berseba" se tomou familiar. Foi a menor porção que coube a
uma tribo, entretanto, teve vantagens que outras não tiveram. Ficava junto de Benjamim e
Efraim, num pedaço dos mais ricos da Palestina. Uma das causas de sua emigração teria sido o
grande número de seus membros, pois, conforme Números 1:38, 39, foram contados 62.700
homens de guerra. Possivelmente também as suas fronteiras, tocando as dos filisteus, teriam
criado um estado de contínuos conflitos. O autor de Josué menciona a emigração referida em
Juizes 18. Isso corrobora o fato de que quem escreveu Josué escreveu Juizes, pois a história de
Juizes deve ter ocorrido muito depois da divisão da terra.

14. Herança de Josué (19:49-51)

Pertencia à tribo de Efraim e tinha nascido no Egito. Por sua lealdade e dedicação veio a
substituir o grande homem de Deus, Moisés. Agora que todos tinham recebido a sua parte da
terra, ele deveria receber a herança junto com seus irmãos efraimitas. Por sua posição em
Israel, sendo um dos doze que espiaram a terra e um dos dois que ficaram fiéis a Moisés, foi-
lhe dada uma porção especial, como havia sido dado a Calebe. Ele ficou em Timnate-Sera,
uma cidade de Efraim, sua gente, ma,9 com uma designação especial bem merecida.
Reedificou a cidade e morou nela até morrer.

Terminamos aqui a divisão da terra. Não tivemos a pretenção de identificar muita coisa que
não pode ser mesmo identificável. Tampouco pretendemos esgotar certos pormenores que, a
nosso ver, não tem muito valor para uma compreensão perfeita do livro de Josué.
Procuramos, isso sim, tornar o livro mais acessível ao leitor comum. Aos que podem manusear
comentários e enciclopédias, não pretendemos satisfazer. Tem sido sempre a preocupação do
autor destas notas escrever para o povo, deixando os grandes temas para os eruditos. Se
tivermos conseguido isso nesta obra, estamos compensados.

Há uma frase no fim do capitulo 19 que merece especial registro: 'a terra foi repartida em
herança perante o Senhor em Siló. Deus foi testemunha de todas as ocorrências, e teria sido
com satisfação que o Grande Deus assistiria à divisão da terra, prometida quase seiscentos
anos atrás. "Perante o Senhor" indica a sua presença pela arca, que ali estava a testemunhar a
lisura de todo o acontecimento. Se todas as coisas fossem sempre feitas "perante o Senhor" a
vida seria outra e os destinos do mundo também. Infelizmente não é assim.
Nota: Para um estudo complementar veja Biblícal Hístorg and Geogaraphy, de Kent, e Bíblical
Archeoloíy, de Bartom, pp. 319-330.
IX - AS CIDADES DE REFÚGIO

Em Números 34:9-15; Deuteronômio 4:41-43 e 19: 1-3, encontram-se as normas a serem


seguidas a respeito das cidades de refúgio. Pela legislação mosaica, deveriam ser separadas
seis cidades para refúgio do criminoso inculpado, três da banda oriental e três da banda
ocidental. Os artigos e parágrafos destas diversas leis merecem um estudo cuidadoso para se
ver até onde ia o zelo de Deus na preservação da vida. Numa sociedade simples, como seria a
hebraica, sem as complicações de um aglomerado moderno, parece até que seriam
dispensadas tais normas; para Deus, porém, nada há dispensável, em matéria de preservação
da vida e da religião. Assim foi que, a começar por Números 35, quando o povo se avizinhava
da terra prometida, foram logo dadas ordens terminantes quanto a essa particularidade social.
Ditas prescrições foram repetidas com algumas diferenças em Deuteronômio e elaboradas em
Josué, capitulo 20. Estas ordenanças levam-nos a conferir algumas considerações, que bem
podem ser elaboradas pelos que se interessarem por assuntos desta natureza.

Primeiro, haveria seis cidades, três de um lado e três do outro da terra a ser ocupada.
Aparentemente, deveria haver mais de três do lado ocidental, porque a área era muito maior,
porém não foi isso que Deus viu.

Estas cidades representavam, em linguagem jurídica moderna, um habes-corpus a favor do


criminoso não culpado, ou cujo crime não tivesse sido apurado devidamente. Tinham por fim
evitar injustiças, tão naturais em agrupamentos humanos. A vingança é um sentimento inato
no homem, e esta vingança poderia ser improcedente, pois o crime poderia ter sido
impensado. Se um homem fosse empurrado para um precipício, ou fosse ferido sem haver
inimizade, o culpado deveria ser julgado antes de morrer, pois a lei era olho por olho, dente
por dente (Lev. 24:20). E o assassino teria de morrer por seu pecado ou crime, caso fosse
apanhado pelo vingador de sangue.
Para evitar crimes de vingança indevidos, foram criadas as cidades de refúgio, para as quais
correria o criminoso e se agasalharia até ser averiguada a sua culpa. Uma vez refugiado na
cidade, estava a salvo da vingança do parente do morto ou de quem lhe fizesse as vezes. Não
poderia sair da cidade. Se o fizesse correria por sua conta o que ocorresse, pois o vingador o
apanharia, e não haveria apelo para ele.

O processo seria simples. O homicida involuntário seria levado aos juizes postados à porta da
cidade. Estes o examinariam e verificariam se antes do crime não havia inimizade entre o
morto e o assassino. Então ficaria recolhido à cidade, até que morresse o sumo sacerdote,
quando expiraria a pena e voltaria à sua cidade ou vila (Núm. 35:28).

As cidades seriam distribuídas pelo território de maneira a atender a todos os crimes. Em


casos especiais, também o criminoso que se agarrasse aos chifres do altar estaria a salvo do
"vingador do sangue" até que se apurasse a culpa. Ninguém poderia tocar nele (I Reis 1:50).
Nem Salomão pôde tocar em Adonias, seu irmão, que pretendia o trono.

Como se vê, tudo muito simples, mas muito significativo. O que Deus desejava era evitar
derramamento de sangue indevidamente. Enquanto para o criminoso involuntário havia todas
as possibilidades de segurança, para o criminoso voluntário a pena era de morte (Núm. 35:16-
21). Este não é o lugar para discutir diferenças de códigos penais de um pais para outro, mas,
segundo a legislação mosaica, o crime de morte só seria punido com a morte, e Deus sabia o
que estava fazendo. Alega-se que a pena de morte não diminui o crime, como parece foi o
caso da Inglaterra. É a vez de se pensar o que seria sem a pena de morte. No Brasil mata-se
um homem com a mesma facilidade com que se mata a mosca. Não há o menor respeito pela
vida humana. Não seria bom experimentar? Se o pecador soubesse que a sua falta seria
igualmente punida, o procedimento seria diferente.

Nós temos de admirar o procedimento em Israel. Numa sociedade incipiente, com


organização judiciária quase ausente, a vida era cercada de todas as garantias possíveis. Pelo
sentido do verso 4 do capítulo 20, havia uma espécie de tribunal popular semelhante ao que
ocorria em todas as grandes cidades daqueles tempos. Os juizes ficavam nas portas ou na
porta das cidades, onde eram apreciadas as causas civis e criminais. Foi o caso de Siló, que era
juiz em Sodoma (Gên. 19:1 e Rute 4:1). Os homens mais qualificados ficavam na porta das
cidades, onde atendiam aos casos mais simples; quanto aos mais graves, parece que havia uma
congregação de eleitos para decisões. Seja como for, Josué, Números e Deuteronômio nos
ensinam como se procedia há 3.400 anos.

As cidades, naturalmente, deveriam ficar em locais centrais, nas diversas regiões. Do lado
oriental designaram Bezer, no planalto de Rúben, no extremo sul do território ocupado, junto
ao Mar Morto; outra, em Ramote, no planalto de Gileade, uma cidade importante, bem
central; a terceira, em Basã, na tribo de Manassés, a bela cidade de Golã, que depois foi
também cidade levita. Algumas vezes estas cidades coincidiam com as dos levitas.

Ao ocidente, destinaram igualmente três cidades. A primeira, no extremo norte, no território


de Naftali, veio a ser conhecida como Quedes de Naftali. Atualmente, chama-se apenas
Quedes, e está a oeste do Lago Merom. É igualmente mencionada em Juizes 4:6, 9 e 11. Esta
mesma cidade foi dada depois aos levitas (Jos. 21:32). Era mesmo a praxe, sempre que isso
interessava, dar aos levitas as cidades de refúgio.

A segunda cidade foi a de Siquém, na região montanhosa de Efraim, bem no centro de Canaã,
junto aos montes Ebal e Gerizim. Com a divisão do reino entre Roboão e Jeroboão, este fez
sua capital em Siquém. No tempo dos romanos chamava-se Neápolis. É atualmente a boa
cidade de Nablus. Os samaritanos também tinham aqui o seu santuário. Foi a primeira cidade
visitada por Abraão, na sua chegada a Canaã, e ai foi sepultado José do Egito. Aqui estava o
poço de Jacó, onde Jesus se encontrou com a mulher samaritana. Foi ainda nesta cidade que
Jesus fez as suas despedidas ao povo antes de deixar o comando das hostes do Senhor. Como
se vê, é uma cidade com uma história. Acredita-se que Justino Mártir nasceu aqui.

A terceira cidade ficava no extremo sul, em Quiriate-Arba, a cidade de Arba, o gigante, e que
foi dada em herança a Calebe, bem conhecida de todos os estudantes da Bíblia como Hebrom.
Hoje, é um santuário reverenciado por judeus, maometanos e cristãos, por suas relações com
Abraão. A história da compra de Quiriate-Arba por Abraão encontra-se contada poeticamente
em Gênesis 23. É um capítulo histórico que honra tanto os hiteus, moradores do lugar, como
Abraão, que se julgava um estrangeiro no meio deles. Mais tarde, Abraão junta-se à sua
companheira, Sara, e os seus sepulcros lá estão, até que Cristo volte e eles se levantem da
terra (Gên. 25:7-11).

Estavam, pois, estabelecidos os seis tribunais supremos em Israel. O autor presta sua
homenagem a esta história e a escreve com reverência, por verificar como naqueles antigos
tempos, há quase 3.500 anos, a vida em ]Israel era uma coisa sagrada, sendo o crime punido e
o inocente poupado. Com todos os progressos da sociedade moderna, nada foi criado que
escureça estas sadias normas, reguladoras da vida humana.
X - AS CIDADES DOS LEVITAS

Essa é outra instituição hebraica que merece um estudo à parte, pois está destinada a
preservar a religião e a sociedade em Israel. A tribo de Levi origina-se do terceiro filho de Jacó
com Lia. Ele participou da traição junto com Simeão contra os siquemitas, a respeito de Diná
(Gên. 34:25-30). Não obstante a falta que a história não lhe poupa, foi ele escolhido para dar a
Israel o sacerdócio. Determinadas as funções de cada tribo em Israel, foi a de Levi que recebeu
a honra do sacerdócio. Sua origem remonta ao cativeiro egípcio, quando um levita se casou
com uma levita e nasceu o grancie líder israelita, Moisés. A história encontra-se em Êxodo 2:1-
10. Moisés e Arão eram levitas, e aos dois coube a ingente tarefa de organizar, para o tempo,
a estrutura da Teocracia, dando ao mundo leis e normas que jamais tiveram paralelo em
qualquer tribo ou nação. Muita gente não gosta dos judeus por causa disto ou daquilo, mas
ninguém lhes pode negar a contribuição que deram ao mundo com as suas leis, a sua religião e
as suas normas de conduta. Não há código civil ou penal, em qualquer nação civilizada, que
ignore estes dois vultos e as suas leis.

Na organização da nacionalidade, Deus separou o irmão de Moisés para chefiar a ordem do


culto. Arão foi o primeiro levita na ordem religiosa e dele provieram os sacerdotes e os levitas
propriamente ditos. Foi como se Deus dissesse que, sem uma religião pura e devidamente
tratada, não haveria possibilidade de nação organizada. Partiu então daí a organização levítica,
os serviçais do templo; os sacerdotes, que teriam o cuidado de oferecer os sacrifícios, e os
levitas, que eram os seus auxiliares. Sempre que grandes solenidades se realizavam, os
sacerdotes eram impotentes para esfolar tantos animais para os sacrifícios. Nestas condições
excepcionais, os levitas eram chamados a cooperar, como se vê em H Crônicas 29:34. Aos
levitas cabia, especificamente, o trabalho de limpeza do santuário; a música, dando os
cantores para o culto, os instrumentos e, finalmente, todos que tinham qualquer parcela de
responsabilidade. O grande organizador dos serviços do culto foi Davi e, depois, Salomão,
sendo posteriormente retomada esta posição, sempre que havia um avivamento em Israel.

Pela distribuição das cidades dos levitas, vê-se que estariam em contato com todo o povo. A
eles não coube terra. Apenas 11 tribos receberam a sua herança, porque a eles, os levitas, o
Senhor seria sua herança (Jos. 13:33). Estavam destinados a cuidar da religião e, por isso, não
podiam cuidar dos campos. Nas suas cidades recebiam o trigo, o azeite, o vinho e tudo mais a
que os sacerdotes tinham direito. Os dízimos eram deles, as primícias eram deles. Deus fez
provisão satisfatória para que eles só cuidassem da religião. Em tempos de degradação
religiosa, quando os dízimos não eram pagos, então eles se assalariavam para ganhar a vida,
visto como a religião tinha fracassado. Um estudo profundo do sistema levítico, que não se
pode fazer aqui, nos levaria a ver que andamos muito errados, em nossas igrejas, quando
deixamos para o ministério pastoral as migalhas das ofertas e dízimos. O autor não deseja e
não pode entrar no terreno da critica, porque o assunto é muito grave, mas não faz mal
chamar a atenção dos estudantes destas notas para o fato de que as igrejas andam muito
longe das normas bíblicas. Então, os pastores têm de fazer o que os levitas faziam em tempos
de crise religiosa:' lançar mão da enxada e cavar a terra dos outros (porque eles mesmos não a
tinham), para ganhar o seu pão e o de suas famílias. Um pastor ensinou que todos os dízimos
da Igreja eram seus e as ofertas seriam para as despesas comuns. Até onde teria ido esse
pastor?

A Distribuição das Cidades dos Levitas (21:1-45)

Depois da conquista da terra prometida, não sabemos de outro assunto mais grave que o da
distribuição dos levitas pelas cidades da Palestina. Era plano sábio de Deus. O povo teria
assistência religiosa pronta e eficiente, até nos mais remotos rincões do território entregue a
Israel; em nenhum faltaria tal assistência. Deus sabia que o povo facilmente serra influenciado
pelos cananeus que tinham ficado na terra. Em breve esse povo voltaria para os ídolos e
arruinaria o Concerto. Portanto, uma tribo inteira ficaria encarregada de ministrar o ensino e o
auxílio de que o povo, mal preparado, carecia. Eram três as famílias dos descendentes de Levi:
Gérson, Coate e Merari. Todos os homens dos gersonitas, de um mês para cima, foram sete
mil e quinhentos; dos coatitas, contados de um mês para cima, oito mil e seiscentos; dos filhos
de Merari, de um mês para cima, seis mil e duzentos. Ao todo eram vinte e dois mil e
trezentos homens (Números 31:1-39).

Aos filhos de Gérson cabia o cuidado com a tenda da congregação, as cortinas, os reposteiros,
as cordas, tudo que dizia respeito ao tabernáculo; aos filhos de Coate cabia o cuidado com a
arca, a mesa, os altares, o candelabro; aos filhos de Merari cabia o cuidado das tábuas do
tabernáculo, as suas travessas ou varais, as suas bases e todos os seus utensílios (Núm. 3; Êx.
6:14-19). Como se vê, esta função dos levitas era puramente religiosa. Depois, quando o
templo foi construído, as mesmas tarefas lhes couberam, por turno. Agora, enquanto o
templo não estava construído e a arca se encontrava em Siló, cabia-lhes a tarefa de vigiar e
cuidar do povo. O assunto, tratado em Josué 21, é um corolário de tudo que já vinha sendo
feito e restava fazer. Vamos ver a distribuição das tribos pelo território palestínico, e
verificaremos que não ficou região alguma descurada. Não sabemos quanto seriam agora os
levitas e suas famílias; mas compreenderiam a tribo e deveriam estar em mais de 200.000,
distribuídos por 48 cidades com seus arredores. Esta estatística não temos.

1) Aos coatitas coube, nas tribos de Judá, Simeão e Benjamim, treze cidades, mencionadas,
nominalmente, em Josué 21:4-19. Nas tribos de Efraim, Dá e na meia tribo de Manassés, mais
dez cidades. Ao todo vinte e três cidades, todas perto de Jerusalém.

2) Aos gersonitas, duas cidades além do Jordão, as cidades de refúgio, e a oeste, nas tribos de
Issacar, Aser e Naftali, mais onze cidades. Ao todo, treze cidades.

3) Aos meraritas, na tribo de Zebulom, ao norte, quatro cidades; nas tribos de Rúben e Gade, a
leste, oito cidades. Ao todo, doze cidades. Nenhuma tribo deixou de ser considerada. Em
muitos casos, as cidades de refúgio foram incluídas nas cidades levitas o que nos parece ter
sido uma sábia medida, pois ninguém mais capaz de administrar a justiça, senão os
encarregados do culto.
As quarenta e oito cidades (Jos. 21:41; Núm. 34) constituíam núcleos de sadia influência; e se
houve falhas, porque houve mesmo, não correram por conta da falta de administração. Os
altos e baixos da vida israelita foram sempre de grandes contrastes; e parece que outra coisa
não se poderia esperar de um povo sem cultura religiosa e sem tradições, senão as orais,
vindas desde Abraão, Isaque e Jacó; um povo sem instituições educativas; um povo que, quase
todo nascido no deserto nos últimos quarenta anos, não poderia cumprir tão nobres
finalidades como as que se esperavam deles. Ninguém pode culpar o Grande Capitão das
hostes de Jeová pelas faltas. Ele cumpriu tudo quanto havia prometido: "Nenhuma promessa
falhou, de todas as palavras que o Senhor falara à casa de Israel: tudo se cumpriu" (Jos. 21:45).

Um fato que o texto sagrado omite é a movimentação de toda esta gente, tanto dos levitas
como das demais tribos, na direção cada qual de sua nova moradia. Para nós, à distância como
estamos, temos a impressão de que a distribuição do povo, rumo às suas cidades, deveria
constituir um problema a que o livro de Josué não atende. Um deslocamento de quase
3.000.000 de almas, umas para o norte, outras para o oeste e outras para o centro, daria,
naturalmente, gigantescos problemas. Já não pensamos em dificuldades oriundas da situação,
quando uma tribo se julgaria prejudicada, porque o assunto foi tratado por meio de sortes e já
estava mesmo delineado desde 500 anos antes. Nada temos a ver com a situação de uma
tribo que ficou no centro, como a de Efraim, e com a de outra, que ficou no extremo norte,
metida dentro do território fenício. Se tudo foi aceito sem recriminações, como parece, a
multidão só merece os nossos maiores aplausos. Uma tribo, como a de Dá, que ficou metida
no território filisteu, não ficou bem servida como a de Benjamim. Isto é o que parece a quem
está acostumado a liderar povo. Preferências são sempre possíveis.

Uma coisa é certa: Josué deu o seu mandato por encerrado, e daqui a pouco fará as suas
despedidas. Deus mesmo cumpriu a Sua palavra em tudo que prometera. Agora, era trabalhar
para realizar o futuro da nacionalidade, cujos contornos estão muito diluídos nesta
oportunidade. Daqui até a constituição do reinado vão 350 anos, quase a idade do Brasil,
desde que foi descoberto. O que aconteceu durante tantos anos não sabemos, porque o único
relato é o que nos dá o livro de Juizes, umas quantas crônicas e nada mais; e a impressão que
fica ao historiador é que tudo terminou pior do que começou. Mas isso é sentimento que não
resiste a uma análise mais profunda, pois o povo, ao pedir um rei, parecia capacitado para as
obrigações da realeza.

Por igual, não somos capazes de avaliar a conduta dos levitas através de quase quatro séculos.
Na impressão que nos vem de algumas crônicas, de Juizes, eles falharam totalmente, tantos e
tais são os desacertos verificados no decurso do tempo. Aceitemos que a organização política
era quase ausente; quanto à judicial, nem se falará, porque a não ser os casos que se podiam
tratar à porta das cidades, muitos (a maioria) escapariam à alçada dos juizes levitas. Parece-
nos que a falta de um centro de culto, que aglutinasse o povo, teria sido uma lacuna bem
sensível. Verdade é que a arca do Concerto estava em Siló; e o povo não a tinha esquecido.
Vejamos o caso de Ana, mãe de Samuel, que veio lá dos confins de Zebulom e Aser fazer a sua
súplica a Jeová. Isto vale por uma afirmativa de que Siló exercia a sua influência em Israel, mas
o culto ali seria muito deficiente, no tocante a interessar toda a nação em vir adorar a seu
Deus. Os sacerdotes desertaram, em muitos casos, e os levitas tiveram de amanhar a terra,
que não possuíam, para viver. O caso de Eli, sacerdote em Siló, não diz tudo, mas é uma luz
bruxuleante no escuro daqueles dias. O historiador não deseja criar impressão diferente da
existente então, mas não pode passar por alto sobre um quadro que naturalmente estaria
presente. Não têm sido poucos os que apreciam, pejorativamente, esta quadra posterior à
divisão da terra e à locação das tribos. Os que acreditam, que o êxodo ocorreu no tempo de
Ramsés H, 1220 a.C., têm algumas vantagens para uma análise da situação. Nós não aceitamos
esta data, e a isso nos temos referido muitas vezes. A data aceita vale por um período muito
mais longo da história de Israel na terra da Promissão.

Vamos encerrar este capítulo sem maiores análises. Deixemos ao estudante fazer a sua
própria pesquisa e concluir se o povo, durante os 350 anos, provou ser capaz de sobreviver a
cruciantes situações ou não.

O restante do livro será apreciado com aquela maneira muito nossa de ver sempre claro onde
algumas vezes é escuro. A isto chamam alguns otimismo, mas nós preferimos nomeá-lo
realismo. O autor confessa que aprendeu muito ao fazer o presente estudo, e ficou-lhe, de
toda a análise, uma profunda convicção de que Deus, na vida de um povo, não resolve tudo
por causa das fraquezas humanas, mas é a única solução viável.
XI - AS ÚLTIMAS MEDIDAS DE JOSUÉ

1. Josué Devolve as Duas e Meia Tribos (22:1-5)

Estava acertado em Números 32 que as duas e meia tribos de Gade, Rúben e Manassés
ficariam a leste, na terra conquistada aos amoritas, mas continuariam ao lado dos seus outros
irmãos na conquista de Canaã. Houve até certo estremecimento entre a pretensão das duas e
meia tribos e Moisés (Núm. 32:6), pois pareceu a este que elas, agora servidas, e bem servidas,
de terra, não pretendiam passar a pelejar com as demais até o final da vitória. Elas se
explicaram, e prometeram seguir com seus irmãos até o final. Deixaram, então, suas
mulheres, seus filhos e seus gados na terra, a leste, e seguiram a passar o Jordão, armados e
valentes como de fato eram.

Agora, terminada a conquista da terra, Josué chamou os lideres das duas e meia tribos e disse-
lhes que era tempo de voltarem a seus pagos. Por quanto tempo ficaram com seus irmãos a
oeste, não sabemos exatamente, mas, perto de dez anos, tempo bastante para criar uma
profunda saudade dos seus lá do outro lado. E como naqueles tempos não havia correios
regulares, não se sabe como se teriam comunicado com os seus familiares. Afinal, era uma
tarefa comum que estava em jogo, e ninguém era livre para se cuidar, enquanto houvesse um
problema comum a resolver. Aqui temos uma admirável lição de cooperação que muito
ajudaria na solução de nossos problemas cooperativos. Havendo uma solução comum
pendente, não há interesses particulares ou exclusivistas.
2. Graves Recomendações (22:5)

Josué recomendou cuidado na guarda da Lei do Senhor. Não se tratava de duas facções do
povo, mas de uma só. A lei do Ocidente era igual para o Oriente. Assim diz Josué: "Tende
cuidado, porém, de guardar, com diligência, o mandamento e a lei que

Moisés, servo do Senhor, vos ordenou. Esta era a pedra de toque: "Guardar a lei do Senhor",
para que as promessas fossem válidas. Era uma recomendação para o tempo, e válida
também para o futuro. Josué sabia, como Moisés também, das influências que iriam
bombardear esta gente advinda do deserto, sem cultura nacionalista, sem cultura social, sem
umas tantas coisas que fazem as nações independentes. E, diante disso, o que tinham a fazer
era apelar para a guarda da lei do Senhor. À distância, por milênios e conhecendo a história,
sabemos que tanto Moisés como Josué tinham razão em manter este refrão. Da guarda da lei,
dependia a felicidade do povo no presente e no futuro.
3. Josué os Abençoou e os Despediu (22:6-9)

E eles se foram para as suas tendas. Nós gostaríamos de estar presentes a esta despedida.
Gostaríamos de ver os duzentos e cinqüenta mil guerreiros, armados e ricos em ouro, prata,
bronze e outras riquezas, partirem (22:8). Os despojos das nações vencidas, a oeste,
pertenceram a todos os conquistadores. Naturalmente, coube uma parte a estas duas e meia
tribos que, por sua vez, já estavam ricas com os despojos dos povos amoritas, a leste. A
linguagem "para as suas tendas" é uma configuração dos pensamentos da vida no deserto,
pois sabemos que no leste havia cidades, tais como Bezer, Quiriataim, Hesbom e muitas outras
cidades modernas para o tempo. Algumas estão sendo objeto de estudos arqueológicos, mas
de uma pelo menos já sabemos muita coisa. Era uma cidade opulenta e rica, com um estilo de
vida de causar inveja a muitas cidades do nosso século. Na mente de Josué estava o tempo
primitivo de morar em tendas. Nada disso seria necessário agora. Havia boas e grandes
cidades desapossadas e entregues aos invasores. Então, lá se vão para atravessar o Jordão, no
mesmo 'Lugar onde anos atrás atravessou o povo todo. Uma visita a estas paragens faria bem
a qualquer leitor. O vau do Jordão, onde passaram, é um lugar quieto e plano. Não sabemos
em que estação do ano estariam agora, mas, certamente, não seria abril ou maio. Talvez
outono, quando o Jordão está quase seco e seria fácil passar com as suas riquezas, sem carecer
de outro milagre. Da margem ocidental do Jordão até Siló, onde Josué esteve com o povo, era
viagem de dois dias ou até menos. Como seria recebida esta ,gente, por suas mulheres, seus
filhos e outros parentes ? Que festa, que alegria! Quantas perguntas sobre o sucedido do
outro lado do rio! Como Deus teria sido louvado por dar ao seu povo paz e descanço!
4. Solução de Outro Problema: O Altar (22:10-34)

Os leitores de Josué devem reconhecer que não temos uma cronologia das ocorrências
daqueles dias. Assim, temos de valer-nos da imaginação, para concatenar uns tantos fatos
que, a bem da verdade, nem dependem de datas. Alguns anos se passaram antes do incidente
narrado em Josué (22:10-34). Os meios de contato entre o leste e oeste seriam escassos. A
vida das duas e meia tribos, a leste, seguiria o seu curso, como as dez e meia do oeste. Aqui
estava o centro do culto, estavam os grandes lideres nacionais, como Josué e Calebe e outros.
Do lado de lá não havia esta gente. Os velhos, que conheciam a história e podiam a ajudar a
manter a vida religiosa em ordem, de acordo com as demandas de Josué e Moisés, estavam
morrendo. Dentro de duas gerações, poucos se lembrariam do que tinha havido tempos
antes. Nós mesmos sabemos, por nossa experiência, o que isso é. Pais que criam seus filhos na
igreja, estão sujeitos a vê-los esquecidos da religião e entrosados com as influências do seu dia.
Duas gerações bastam para esquecer tudo: tradições, igrejas, pais e mães. Foi isso que os mais
antigos do leste sentiram. Diriam entre si: "Daqui a pouco ninguém mais sabe de onde viemos
e o que Moisés e Josué fizeram por nós. Pensarão eles que seus antepassados nasceram aqui e
que tudo quanto temos é coisa das suas mãos." Não tinham livros, não tinham Bíblia, a não ser
alguns manuscritos, e quem sabe se até tinham alguns. "Então levantemos um -monumento,
mostrando aos nossos filhos uma história existente e uma relação entre nós daqui e nossos
irmãos do outro lado, de modo que, quando perguntarem o que significa este monumento,
seja dito como as coisas se passaram." Nós temos de admirar a inteligência e o cuidado dessa
gente. Construíram, então, um monumento, a que deram o nome de altar, grande e vistoso,
um monumento mesmo, diríamos nós. Não podiam erigir uma estátua a Moisés ou a qualquer
líder, porque isso era proibido. Um altar não.

A notícia da construção logo chegou ao outro lado do rio, e a angústia, e o desespero se


apossaram do povo: "Tão cedo se afastaram de Jeová, para erigirem um altar em
contraposição a tudo que está escrito?" Não podia haver mais de um centro de culto, para
evitar a idolatria. Assim, se o centro estava agora em Siló, ou que outro lugar fosse, não se
poderia erigir outro altar para oferecer sacrifícios a Jeová. Deve ter havido uma revolução em
Israel, e tudo foi preparado para destruir as duas e meia tribos do leste. Que coisa tremenda!
"Congregaram-se todos em Siló, para subirem a guerrear contra eles" (Jos. 22:12). O bom
senso evitou uma catástrofe. Foi nomeada uma grande comissão, sendo Finéias, filho do
sacerdote EIeazar, como presidente e mais um príncipe de cada tribo, onze ao todo, para irem
às duas e meia tribos de Gade e Rúben e Manassés, com a seguinte embaixada e com esta
mensagem: "Assim diz toda a congregação do Senhor: Que transgressão é esta que cometesses
contra o Deus de Israel, deixando hoje de seguir ao Senhor, edificando-vos um altar para vos
rebelardes hoje contra o Senhor? Acaso nos é pouca a iniqüidade de Peor, de que ainda até o
dia de hoje não nos temos purificado, apesar de ter vindo uma praga sobre a congregação do
Senhor?" (Jos. 22:16,17). Recordemos o que ocorreu em Peor, conforme Números 25. Balaão,
não tendo conseguido atender a Balaque, que desejava fosse o povo amaldiçoado, sugeriu que
se fizesse uma festa a Baal, e os filhos de Israel fossem convidados à festa, pois ali os homens e
as mulheres se confundiriam, e o que não fora possível fazer com a maldição de Balaão, seria
conseguido com este pecado. Uma traição inominável. Os homens caíram na farra e um teve
o desplante de trazer uma midianita para a sua tenda, o que levou a Finéias a -transpassá-lo
com a espada (Núm. 25:8). Uma praga irrompeu entre o povo e até que todos os cabeças de
Israel tivessem sido enforcados, em praça pública, a praga não parou. Ao todo morreram vinte
e quatro mil. Foi um opróbrio, uma vergonha. Então esta gente vinha para desapossar os
povos da terra, por causa das suas iniqüidades, e pratica-se uma baixeza destas? Pois bem,
este fato recente estava fresco na mente de todo o povo. Outros incidentes foram invocados,
tais como o pecado de Acã, que causou a sua destruição e de tudo que lhe pertencia.
Trouxeram mais uma alternativa, muito interessante, aliás: "Se é, porém, que a terra de vossa
possessão é imunda, passai para a terra da possessão do Senhor, onde habita o tabernáculo do
Senhor, e tomai possessão entre nós. . . " (22:19).

Como se vê, a Comissão trouxe uma mensagem de paz e união, mas de efetiva repulsa a
qualquer tentativa de desviar o povo da unidade nacional e do seu Deus. O autor presta a sua
homenagem ao critério e sabedoria desta gente antiga. Não tem sido sempre assim nos
tempos cultos e civilizados dos nossos dias. Quando há brigas ou desentendimentos, toca-se
fogo em lugar de se procurar resolver o problema pela persuasão e inteligência.

ordenou.
Os rubenitas, gaditas e manassitas responderam assim aos cabeças dos grupos de milhares de
Israel: O Poderoso Deus, o Senhor, ele o sabe, e Israel mesmo o saberá! Se foi em rebeldia ou
por transgressão contra o Senhor, não nos salve hoje (Jos. 22: 21,22). Explicaram à Grande
Comissão os motivos por que haviam erigido o altar, alegando que os seus descendentes em
breve se esqueceriam da unidade nacional, ao ponto de nem pensarem ser parte da nação que
estava do outro lado do rio. O argumento era eficaz. "Quando amanhã disserem assim a nós
ou 'as nossas gerações, então diremos..." (Jos. 22:28). Bela resposta, belo espírito e admirável
sentido de unidade e compreensão de um problema futuro.

Satisfeitos com as razões dadas pelas duas e meia tribos, Eleazar, o sacerdote, filho de Arão,
declarou que realmente o Senhor estava entre eles. Coisa admirável, resolver um problema
tão grave, reconhecendo que o Senhor estava no meio do negócio.

Assim, a Grande Comissão voltou a Siló e deu o seu relatório à congregação, que deveria estar
em suspenso. Em resposta, todos ficaram satisfeitos e voltaram às suas tendas. Os gaditas, os
rubenitas e os manassitas deram ao altar o nome: "Testemunho entre nós de que o Senhor é
Deus."
5. Josué Renova o Apelo de Fidelidade a Deus (23:1-10)

"Passados muitos dias, tendo o Senhor dado repouso a Israel. . . " (23: 1). Esta passagem leva-
nos a admitir que depois das últimas conquistas no Sul de Canaã, tendo cada tribo tomado
posse da sua herança, houve um largo período de sossego, que o sagrado texto não esclarece.
Muito naturalmente, depois de 50 anos, desde a saída do Egito, com uma norma de vida
ambulante, com toda a sorte de percalços e desentendimentos entre eles mesmos, depois da
conquista, era mais do que natural que Josué nem se preocupasse com novas medidas. Vale a
pena avaliar o que teria sido a viagem de cinqüenta anos, por uma terra madrasta, sem água,
sem sombra, a não ser a da nuvem; lutando com inimigos por todos os lados e consigo
mesmos, como não desejariam um descanso! Estamos muito longe de imaginar o que teria
sido tal viagem. Neste meio tempo, morreu toda uma geração e outra lhe tomou o lugar,
geração nova, que mal teria entendido o que se passara no Egito e de como tinham
atravessado o Mar a pé enxuto. Nós não podemos, mesmo à força de uma imaginação viril,
entender tudo, compreender o espírito desta gente, sempre propensa a rebeldias e
contradições. Se Deus se fatigasse, até ele mesmo estaria cansado, pois não foram poucas as
lutas para conter o povo em seus maus desígnios e conter os inimigos do caminho. Sim, agora
era tempo de descanso, de arrumar a casa, reconstruir as cidades tomadas, replantar as vinhas
e cultivar os campos. Cada um se teria atirado ao seu quinhão, sofregamente, no desejo de
tirar da terra o leite e o mel prometidos. Entrementes, Josué estava ficando velho. O grande
guerreiro estava cedendo à lei da vida: nascer, crescer e morrer. É, certo que não estava tão
velho assim, para o tempo, 110 anos (24:29), pois Moisés viveu muito mais, e Calebe tinha
dito, havia pouco, que estava agora tão forte como quando saíra do Egito. Todavia, Josué se
considerou velho e gasto. Coloque-se um dos leitores no lugar dele e se verá que as energias
físicas também se gastam.
6. Mirada ao Passado (23)

Então reuniu o povo por seus chefes e lhes fez uma prática, mais ou menos nos seguintes
termos:

1) Todos tinham visto o que havia acontecido aos povos conquistados. O Senhor Deus tinha
pelejado por eles e os tinha vencido. Era uma boa maneira de reforçar o ânimo do povo, e
levá-los a reconhecer que a vitória não foi tanto do povo, mas de Deus, o que lhe deveria valer
para uma reafirmarão de fidelidade, tão necessária para o futuro.

2) Todos tinham recebido a sua herança ou sorte, desde Aroer até Merom, de leste a oeste. Se
alguém estava mal servido, a culpa não cabia a Josué, porque a divisão obedeceu ao critério de
sortes, como havia sido determinado. Deus, que havia vencido as gentes da terra, continuaria
a obra, afastando os povos remanescentes, sem o que a posse seria precária (24:4,5).

3) O que convinha agora era manter a fidelidade a Deus e cumprir tudo que havia sido pedido,
tudo quanto estava escrito no livro da Lei de Moisés. Devia referir-se, especialmente, ao
Deuteronômio. Os que insistem em dizer que os israelitas não sabiam escrever, têm aqui uma
prova de que sabiam. Na descoberta das chamadas "Cartas de Laquis", 18 ao todo, ficou
evidente que os israelitas traziam consigo a arte de escrever, aprendida no deserto por Moisés.
As investigações arqueológicas modernas nos informam, com abundância de pormenores, que
a arte de escrever em letras é um invento muito antigo, talvez anterior a 1500 a.C. Já os
mineiros do Sinai usavam esta escrita muito antes de os israelitas chegarem ali. Portanto,
quando Deus manda Moisés escrever em um livro, e Josué agora se refere ao mesmo fato, está
retratando uma época longínqua, em que os caracteres cuneiformes foram substituídos pelo
alfabeto chamado "fenício". Na história do Velho Testamento, do autor, há um estudo mais ou
menos alongado sobre o problema da escrita alfabética, onde mostra que não foram os
fenícios, mas os hebreus, que inventaram o alfabeto. Chamaria a atenção do leitor para o livro
do Sr. Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, nas páginas 209-215, especialmente, onde
aparece até uma espécie de alfabeto usado no Sinai. Os hebreus não eram beduínos no estilo
de vida moderna; vinham de um país altamente civilizado e com capacidade artística e
literária, suficiente para lhes dar o lugar que merecem na história das artes e das letras.
Bastaria chamar ainda a atenção para a construção do tabernáculo, como se encontra em
Êxodo, de 25 em diante, onde se vê a que ponto as artes de fundição, de tecelagem, de
molduras foram usadas nesta construção. Basta de regressão. Voltemos ao ensino de Josué.

4) Esforçai-vos, pois, muito, disse Josué, para que não vos mistureis com as raças vencidas.
Elas seriam como laço ao redor do pescoço do povo. Estas raças, moldadas na idolatria, seriam
um constante perigo para o povo, que devia obediência unicamente a seu Deus. "Um só
homem dentre vós persegue a mil, pois o Senhor vosso Deus é quem peleja por vós" (23:10).
Tudo, pois, dependia da obediência a Deus. r,, assim ainda hoje. Obediência é melhor do que
sacrifício. O povo cristão não tem aprendido esta lição. Mistura-se com todas as gentes, seja
por meio dos chamados "casamentos mistos" (Esdras 10), seja por interesse de outra sorte. A
luta dos israelitas para não se misturarem com os outros povos é ainda uma lembrança das
lutas que sustentamos hoje. O problema católico romano no Brasil é muito sério. A idolatria
embrutece o povo de tal modo, que não cabe na cabeça de um católico, praticamente ou não,
a idéia de salvação pela graça. Tudo é na base de serviço prestado aos ídolos. O autor, como
professor de Sociologia em seminários, sempre se esforçou por mostrar que a idolatria é um
elemento embrutecedor da mente, uma perversão religiosa. AI está a luta para convencer o
povo brasileiro da salvação sem obras, sem méritos pessoais.

5) "Porque se de algum modo vos desviardes, e vos apegardes ao resto destas nações.. ."
(23:12,13). Havia um perigo iminente na face do povo: Deus não aceita compromissos com
ídolos. "Sabeis, certamente, que Deus não expulsará mais estas nações da vossa presença." A
terra tinha sido dominada, no que se poderia chamar politicamente, mas milhares de milhares
de povos tinham ficado por toda parte. Esta gente continuava com a sua vida de antes. Os
israelitas tinham o dever de fidelidade ao seu Deus, e ao mesmo tempo de dominar estas
gentes. Se, pelo contrário, fossem envolvidos em assuntos domésticos e religiosos, estariam
perdidos. O livro dos Juizes, que vem depois de Josué, é um retrato da situação lamentável em
que caíram os israelitas, unicamente por não terem ficado fiéis ao seu Deus. A luta da
conquista tinha de continuar, até que os povos fossem ou exterminados ou absorvidos no
meio israelita. Era um processo longo e doloroso, mas seguro. Há dois elementos que
enfraquecem qualquer povo: a moleza e a complacência para com outros costumes. Os
hebreus estavam cansados, é certo; desejavam descanso, mas tal descanso deveria ser ganho
com vigilância. Foi o que não aconteceu. Amoleceram no meio cananeu, corromperam os
bons costumes e ideais trazidos do deserto e confundiram-se com os povos que deveriam
destruir. A história do Velho Testamento é uma história triste. Mesmo durante os reinos ricos
e prósperos de Davi e Salomão, a idolatria fez os seus estragos. Depois dele, é o que o
estudante sabe. Um rei era feliz, outro não. Jeroboão, político aventureiro, inundou a terra
das mazelas religiosas dos cananeus, e o resultado foi a destruição da nacionalidade. Foram
necessários 1.000 anos, para que os israelitas se curassem da infecção idolátrica. Isso foi
doloroso, até para o próprio Deus, que se considerava farto de lutar com tal gente.

6) "Eis que vou hoje pelo caminho de toda a terra. . . (23:14). O caminho de todos nós, aliás.
Nem uma palavra, nem uma promessa havia caído de todas quantas Deus fizera. Ele ia passar
e depois dele, quem lhe tomaria o lugar? É um apelo tocante; mesmo que ele não o f aça,
deixa-o subentendido. Parece que unia nuvem de dúvida pairava em sua mente. Ele conhecia
bem a sua gente, e conhecia a sua volubilidade, a sua facilidade de mudar de mente, resultado
possível da incultura social, sobretudo religiosa. Quando um estrangeiro aporta nos Estados
Unidos, a primeira coisa que aprende é que tem de adaptar-se aos costumes da terra. Os que
apartam no Brasil, pensam ao contrário. Por que estas diferentes mentalidades? Lá há uma
cultura segura, um povo que sabe o que possui; aqui há uma mistura de gente considerada,
por tais, inferior. Assim, os que vêm ao Brasil querem impor as suas maneiras de vida e
costumes. Era o fenômeno em Israel. Os que estavam entrando na terra tinham de adaptar-se
aos costumes existentes, e isso conseguiram. Um rei Josias, por exemplo, grande e bom, teve
um filho, seu sucessor, que foi uma peste (II Reis 21:23). Esta tem sido a história de muitos
pais bons, que não conseguiram imprimir em seus filhos os sentimentos que os animaram e,
não raro, os pais são achados culpados da desobediência dos seus filhos. Nem sempre isso é
verdade. Bons pais podem ter maus filhos; o contrário também pode ser verdadeiro.

Ao escrevermos estas notas, não temos em mente unicamente esmiuçar os ensinos contidos
no Livro de Josué, mas também tirar lições que sirvam para nós e nossos filhos, nosso povo. O
livro de Josué é um grande livro de lições morais e religiosas.
XII - UMA DESPEDIDA TOCANTE

Nada mais restava a Josué, senão fazer as suas despedidas. Por 50 anos tinha ele, junto com o
seu Mestre Moisés, lutado por um ideal. Tinha-o conseguido. O povo estava de posse de sua
herança, cada qual em sua cidade e suas casas, enquanto ele, quase velho, esperava a hora da
partida. Felizes, os que podem ver realizado o seu ideal da vida. Josué pôde ver. Assim,
convocou o povo para um encontro, que se nos afigura tocante, e ali fez uma exortação à
fidelidade, nota sempre presente em todos os encontros. Havia uma nuvem na alma de Josué,
quanto à fidelidade do povo ao seu Senhor. Por isso, tantas e tão repetidas vezes ele fazia
apelos. Estamos, então, agora na grande cidade de Siquém.

Siquém era cidade levítica, na terra de Efraim, e também cidade de refúgio. Tem uma longa
história, que nem sempre é muito edificante. Foi lá que o aventureiro Jeroboão fez a sua
primeira capital, do Reino do Norte, depois da divisão do reino de Salomão. Por longos anos,
foi o centro do culto dos samaritanos. Os romanos chamavam à cidade, Neápolis, depois
mudado para Nablus. Alguns supõem ser a cidade Sicar a mesma de Siquém, mas não há
certeza (Jos. 4:5). Foi a primeira cidade da Palestina visitada por Abraão quando de sua
entrada na terra. Aqui foi sepultada a múmia de José, trazida do Egito. O poço de Jacó, que
ficava nas suas vizinhanças, foi cenário de um dos fatos mais tocantes do Ministério de nosso
Senhor: o seu encontro com a mulher samaritana. Foi a cidade natal de Justino Mártir (Gên.
33:18: 35:4; 37:12-14; Jos. 17:7; 20:7; 21:21... ). São algumas das Escrituras referidas a respeito
de Siquém. Era, pois, um grande centro, e só inferior a Siló, por ser este o lugar do santuário
de Israel.
1. Uma Resenha Histórica (24:1-13)

Feita a convocação a todos os cabeças de Israel, eles se apresentaram diante do Senhor. Deus
sempre tinha estado com Josué, como estivera com Moisés, de modo que, vir para junto de
Josué, era vir para junto de Deus. Então, começa a proclamação, revendo um largo capítulo da
história de Israel, que talvez bem poucos conhecessem. "Além do rio habitaram antigamente
vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, e serviram a outros deuses" (Jos. 24:2). A narrativa
continua, e é interessante confrontá-la, pois contém um resumo da história de Israel. Pelo
texto, Tera, como Abraão mesmo, foram idólatras. O culto de Ur era prestado ao deus
Teraqué, algumas vezes mencionado como Sim, e, tanto em Ur como em Harã, o culto era o
mesmo. O próprio Tera tinha o nome do deus lunar. A nossa grafia Tera aparece nos
documentos arqueológicos com Teraqué (Terak). Talvez convenha dar aqui algumas
informações a respeito, tanto de Tera como de Harã, onde eles pararam. Em recentes anos foi
levantada a hipótese de que a Harã de Abraão não poderia ser a Harã a nordeste da Assíria, e,
sim, a Harã perto de Damasco, a uns 130 quilômetros da Palestina, enquanto a outra Harã ou
Charam ou Padã-Arã (Arã plana) fica 550 quilômetros distante. Argumenta-se que, se o
destino da família era Canaã, como teriam ido parar lá, para o norte, tão distante do local
destinado. Há um texto em Isaías, que, traduzido literalmente, é: "A cabeça de Harã ou Arã é
Damasco." A palavra Harã ou Arã é invariavelmente traduzida por Siria, pois é o que ela
significa. Noutra passagem, Abraão é chamado de arameu ou sírio. Mas o argumento mais
decisivo é o que se refere à fuga de Jacó, depois de haver servido a Labão por vinte anos (Gén.
31:14), e que foi alcançado, depois de sete dias de jornada, nas montanhas de Gileade (Gên.
31:23). Ora, se Labão morasse na Harã do norte de Babilônia, não teria alcançado Jacó em
sete dias, pois a distância é de apenas 550 quilômetros. Logo, temos de procurar Harã noutro
local. Ainda o fato de Eliézer ter chegado de Berseba a Harã em tão pouco tempo indica
também que havia outra Harã, além de Padã-Arã. A maior dificuldade consiste em harmonizar
a palavra Mesopotâmia, universalmente aceita como a região entre os rios babilônicos; mas
alguns traduzem "Mesopotâmia" por "Arã-Naaraim", que significa "entre rios". Que rios
seriam esses, então, senão o Tigre e o Eufrates da Babilônia? A resposta é que os rios Abana e
Farfar, rios de Damasco, servem perfeitamente ao sentido do texto. Foram estes rios que o
general da Síria, Naamã, alegou serem superiores ao lodoso Jordão (II Reis 5:12). Como então
teria sido criado outro termo Harã além do oriental? Ora, acredita-se que tendo sido morto o
filho de Tera, por nome Harã, então o lugar onde eles pararam teria recebido o nome do filho
morto, em memória sua. Um lugar situado a 22 quilômetros de Damasco, uma área rica e
ampla teria recebido o nome do filho de Tera, morto em Ur. Há certa plausibilidade nesta
suposição.

2. Um Ponto Controvertido (24:2)

Por outro lado, há uma quase lenda de que Abraão foi governador de Damasco e de lá trouxe o
fiel Eliézer, seu mordomo. Flávio Josefo, em sua obra Antigüidade (I, 72), cita um historia. dor
por nome Nicolau, de Damasco, que no seu quarto livro assim diz: Abram reinou em Damasco:
era um estrangeiro, vindo com grande exército, de uma região acima de Babilônia por nome
Terra dos Caldeus; tempos depois, reuniu o seu povo e partiu para um País chamado terra de
Canaã. (1)

Numa tabuinha descoberta em Ras-Shanara, aparece Terak, o deus lunar, como um grande
guerreiro, que tinha ao seu serviço muitos mercenários. Na mesma tabuinha são mencionados
os filhos de Israel, Aser e Zebulom. Havia, pois, uma velha tradição ligada a Tera,
possivelmente o nosso Tera, que o dava como grande guerreiro, e foi ele, segundo Nicolau de
Damasco, quem conquistou Damasco e lá reinou por muitos anos, e lá teria ficado, quem sabe,
se Deus não voltasse a adverti-lo de que o lugar de morar era outro (Gên. 12). Todo o capitulo
12 é uma denúncia de que Arã, onde Abraão morava, era perto de Canaã, e não a distante
Harã da Mesopotâmia do norte. Que Abraão era um guerreiro, capaz de comandar um
exército, não temos dúvida. Quando os quatro reis caldeus, Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei
de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão e Tidal, rei de Goiim, invadiram a Palestina, venceram os
cinco reis da planície e levaram Ló cativo (Gên. 14), Abraão arregimentou a sua gente, 318
escolhidos, e de noite deu de surpresa em cima dos cinco grandes generais e os venceu e
libertou U. Isto mostra não apenas que Abraão tinha muita gente, mas sabia como usá-la.

Mais um argumento a favor de Harã, perto de Damasco. Labão, sobrinho de Abraão, teria
recebido o nome em louvor aos dois grandes Líbanos, o Líbano e o Anti-Líbano. Então, de
Líbano para Libando e dai para Labão vai um curto caminho.

Alguns comentadores admitem que Tera teria seguido o rio Eufrates e se acampado ao norte,
em Padã-Arã, e dali se teria mudado para o Ocidente, dando ao lugar da sua morada o nome
de Harã. Os sírios cultuam Abraão com a mesma reverência que nós os cristãos temos, e até
há uma cidade na Síria por nome Abraão. As descobertas do reino de Mari, a que o autor faz
referência no seu Estudo no Livro de Gênesis, lançam muita luz sobre o problema de Harã da
Síiia e Harã de Babilônia.

Voltemos a Josué, depois desta longa digressão. Deus está recordando que Abraão não era
nada. Era apenas um adorador de ídolos, como sabemos eram os seus parentes também (Gên.
31:30-32). Deus o trouxe à terra prometida, deu-lhe descendência, até que foram parar na
terra do Egito. Tirou-os dali e da maneira que todos conhecemos deu-lhes a terra rica que
manava leite e mel. Mandou VESPÕES adiante dos filhos de Israel, para desapossar os nativos
e entregar a terra, como havia prometido.

(1) Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, pp. 79,80.


3. Renova-se a Aliança (Jos. 24:14-25)

Antes de prosseguirmos e examinarmos a renovação da Aliança é bom nos determos neste


texto meio obscuro, a que também Deus se refere em Deut. 7:20. Que "vespões" seriam
estes? A vespa era um emblema do Faraó Totmés III e dos seus substitutos Amenofis II, III e IV.
Alguns comentadores têm visto nestas passagens uma ajuda formal dos faraós do Egito, ajuda
material até, de maneira que os filhos de Israel entrassem na sua terra sem que fossem
molestados. Até que ponto estes comentadores têm razão, não sabemos. No Egito, grandes
transformações tinham ocorrido depois da saída do povo. Já na História do Velho Testamento,
do autor, (1) fez ele referência ao fato de que, a rainha Thiy, esposa de Amenofis II, era de
origem mitânia. Igualmente, a esposa de Amenofis IV, o lkhenanton, era filha de Dushrata, rei
de Mitânia, e chamava-se Tadukiba, que os egípcios mudaram para Nefertiti. Então, estas
esposas dos Faraós não só mudaram a religião politeísta para o monoteísmo, mas teriam,
igualmente, interesse em que os israelitas, amigos monoteistas, não fossem molestados na sua
viagem e conquista. Constitui de fato um mistério a ausência do Egito na Palestina, a despeito
das muitas cartas conhecidas como de Tell-el-Amarna, enviadas pelos reis da Palestina,
pedindo socorro contra os invasores Habiri.

Deus teria usado Vespas ou Vespões, símbolos dos faraós do Egito, como uma espécie de ajuda
oficial. Não sabemos. Que estes insetos foram usados e teriam tido um êxito extraordinário,
não temos dúvidas. Os textos sagrados não descrevem os efeitos dos vespões, mas devem ter
sido uma coisa terrível. Como se vê, há muita coisa não explicada nestas campanhas, como as
pedras que caíram sobre os exércitos cananeus etc.

O fato de os israelitas serem tão perseguidos no Egito, e depois serem deixados à vontade nos
territórios egípcios não nos deve admirar, porque as condições políticas mudavam
rapidamente, como ainda hoje. Depois de Totmés IV, as condições subitamente mudaram no
Egito. Muito se pode ainda dizer a respeito do silêncio do Egito, durante a campanha de Josué,
mas isso será dito no Estudo sobre o Livro de Juizes.
(1) Povos e Nações do Mundo Antigo, do autor, e História do Velho Testamento, a sair, JUERP.

Na recordação feita por Deus, na despedida de Josué, há uma referência interessante a


respeito de Balaque, rei dos moabitas, e de Balaão, profeta feiticeiro. A respeito desse fato,
muito controvertido, diz Deus agora que não quis ouvir a Balaão no seu intento de amaldiçoar
o povo. ]Então, fica evidente que Balaão era um destes homens, entre muitos na antigüidade,
a quem Deus se manifestava; e Balaão e Balaque sabiam disso. Deus declara que não quis
ouvir Balaão (jos.. 24:10). É fato levantar questões a respeito de textos bíblicos mal conhecidos
e de fato menos conhecidos. O tempo se tem encarregado de elucidar muita coisa.

"Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-lo com integridade: deitai fora os deuses, aos quais
serviam vossos pais dalém do Eufrates." Temos aqui outra Escritura incompreensível para nós.
Então, os israelitas ainda tinham consigo os deuses que Naor, Abraão e outros descendentes
adoraram em séculos passados? Evidentemente tinham, e os teriam tido por todo o tempo
em que estiveram no Egito. Esses deuses, no pensamento de alguns comentadores, não eram
propriamente deuses no sentido politeísta, mas deuses domésticos, como tinham os romanos,
como deuses penates, isto é, deuses do lar. Ou fossem deuses no sentido vulgar ou apenas
deuses protetores do lar, o que vale pela mesma coisa, os israelitas foram intimados a botar
fora tais objetos. Afigura-se-nos coisa incrível que, depois de tantas manifestações visíveis da
presença de Deus entre o ' povo ainda houvesse algo que cheirasse à idolatria. De qualquer
forma, o fato aí está, e o povo foi intimado a limpar a casa antes de ser renovada a Aliança.

Josué oferece um desafio tremendo. "Porém vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a
quem sirvais: aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates, ou aos
deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.'
Era uma alternativa válida, que o povo devia escolher. O povo responde. "Longe de nós o
abandonarmos o Senhor, para servirmos a outros deuses." O povo reconheceu que Deus era o
seu Deus, e que foi Ele quem fez o mesmo povo sair do Egito e lhe tinha entregue, de "mão
beijada", aquela boa terra. A nós soa tudo isto muito estranho, que, depois de tantas
maravilhas manifestadas, seja necessário fazer tal proposta; mas o fato aí está e apenas
demonstra a volubilidade das gentes, que, em pouco tempo, esquecem os benefícios recebidos
e se viram para outros deuses.

Faltava apenas uma outra confissão, para que a Aliança fosse ratificada. "Não podeis servir ao
Senhor porque é Deus Santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão, nem os
vossos pecados..." Então, o povo reafirmou: "Não, antes serviremos ao Senhor." Pela terceira
vez, foi reafirmado que serviriam ao Senhor. Com esta tríplice afirmativa, Josué considerou
satisfatório o pronunciamento do povo, e, para selar solenemente o pacto feito, o pôs "por
estatuto e direito em Siquém".
4. A Pedra do Testemunho (24:26-28)

Para nós, crentes, parece um exagero tanta afirmativa a respeito de servir ou não a Deus, mas
a história veio confirmar que ainda era pouco. Logo nos primeiros anos, depois da morte de
Josué, o povo estava às voltas com os deuses dos cananeus, e com isso teria quebrado a sua
Lei, o testemunho dado, e as afirmativas resultaram em nada. Josué, querendo uma
demonstração material do pacto celebrado ali, dias antes da sua partida, tomou uma grande
pedra, e a erigiu ali debaixo do carvalho que estava em lugar santo ao Senhor (Jos. 24:26). A
pedra seria testemunha de tudo que haviam prometido diante de Deus e do Seu servo Josué.

"Então Josué despediu o povo, cada um para a sua herança."

Os cananeus tinham por costume adorar os seus ídolos debaixo dos carvalhos frondosos e nos
altos dos penhascos. Ali, debaixo do carvalho, era um lugar santo. Santo por quê? Porque ali,
na presença de Deus, tinham sido feitos juramentos de fidelidade ao mesmo Deus. Era, na
verdade, um lugar santo. Deus estava ali falando a Josué, e, onde Deus está, o lugar é santo.
Isso se viu em Êxodo cap. 3, quando Deus falou a Moisés, e ainda em Josué 5:14,15. Estava,
pois, selado o Concerto uma vez mais, e como testemunho lá estava a pedra, com uma
Escritura. "Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus." Tem-se discutido de mil
maneiras que o Pentateuco não poderia ter sido escrito por Moisés, porque no seu tempo não
se sabia escrever. Por mais de uma vez, o autor tem chamado a atenção dos leitores para esta
falsa afirmativa. Josué, agora, vem confirmar que ele também sabia escrever. O chamado
hebraíco arcaico foi largamente usado na Palestina durante e depois de Josué, e disso temos
provas muitas, até nas chamadas "cartas de Laquis", já referidas noutro lugar. (3) O que nós
não sabemos é em que parte da lei de Deus Josué colocou estas palavras. Talvez fossem as
últimas palavras de Deuteronômio 34, cujo capítulo, por certo, foi escrito por Josué, escriba de
Moisés. Talvez fossem colocadas junto aos livros sagrados e depois se perdessem, pois muita
coisa se perdeu nos séculos porvindouros.

(4) Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, pp. 234-250.


5. A Morte de Josué (24:29-33)

Depois de tantas lutas e tantos dissabores, uma grande vida teve fim. Já dois outros grandes
heróis tinham partido: Arão e Moisés. Agora era a vez de Josué. Perguntamos: Por que esta
gente não ficou aqui para sempre? Seria tão bom para nós! A escrita divina é outra. "Depois
destas coisas, Josué, filho de Num, servo do Senhor, morreu..." Um grande epitáfio: Servo do
Senhor. Faleceu com a idade de cento e dez anos. Diríamos, muito moço. Foi sepultado em
sua herdade, em Tinmate-Sera, nas montanhas de Efraim, e seu túmulo lá está até agora.
Desce assim o pano sobre uma grande vida e um grande capítulo da história hebraica. O nome
de Josué significa "salvador", e é desta raiz que se deriva o nome de Jesus. Um preparou o
povo para a conquista da terra prometida, o outro preparou um povo para conquista de outra
terra prometida. Assim, vai a história até que todos entremos na posse de nossa herança
celeste.

A múmia de José, que tinha sido trazida do Egito, foi também agora colocada no seu lugar
definitivo em Siquém, naquela parte do campo que Jacó comprara aos filhos de Hamor, pai de
Siquém, "por cem peças de prata" (Gên. 33:19). Siquém tinha sido, desde os tempos de Jacó,
um santuário da família, pois lá foi erigido um altar ao Deus que livrara o patriarca de todas as
aventuras em Arã. Na partilha da terra, esta parte coube aos filhos de José. Se o lugar Sicar,
encontrado em João 4:5, é o mesmo que Siquém, e não pode ser outro, pois o lugar era onde
Jacó cavou o poço que tem o seu nome, então Jesus se assentou num lugar muito querido, e
não seria por acaso que isso teria acontecido. Discute-se, se Sicar e Siquém são a mesma
coisa; os nomes dos lugares mudaram muito. Então, temos diversos eventos ligados à velha
cidade hivita, uma das mais antigas do mundo, calculando-se que tenha sido construída uns
4.000 anos antes de Cristo: o poço de Jacó, e despedida de Josué, o enterramento da múmia
de José e o encontro de Jesus com a samaritana. É ainda hoje um lugar muito reverenciado
pelos muçulmanos e pelos cristãos mesmos. O autor, quando de sua visita à Palestina, pediu
ao cicerone para passar com o ônibus por Nablus, mas, como ficava fora do rumo da caravana,
o pedido não foi atendido. Se ainda voltar à Palestina, Nablus será o primeiro lugar a ser
visitado.

Faleceu também Eleazar, sumo sacerdote, filho de Arão, e foi sepultado em Gibeá, na herdade
de Finéias, nosso bem conhecido herói, que salvou o povo da praga causada pelo pecado do
culto de Baal-Peor, do outro lado do Jordão.

Agora, veja-se o seguinte: morreu Moisés, morreu Josué, morreu o sumo sacerdote. Que
ficou? Um povo rebelde, procrastinador, idólatra, que tanto trabalho deu a Deus mesmo e aos
outros líderes que vieram. É como se dizia: A Causa é de Deus e Ele providencia os substitutos.
Amém!
APÊNDICE I

1 . Primórdios (1)

A Palestina, por sua configuração geográfica, nunca teve o que se poderia chamar vida própria.
Sempre esteve atrelada aos destinos de outras nações. Os primeiros colonizadores devem ter
chegado à Palestina antes de 4000 a.C. A pré-história do Egito perde-se nos tempos heróicos,
calculando-se que os primeiros agrupamentos tenham tido lugar ai pelos idos de 4500 a.C.
Naturalmente, esses povos, vindos do Oriente, teriam parado na Palestina antes de
prosseguirem viagem em seu rumo ao mundo desconhecido. Nenhum grande grupo visitou a
Palestina para ficar, a não ser que os dados, de que dispomos, não nos ajudem a certificar
estes fatos.

Tampouco há segurança nos dados históricos dos primeiros grupos caldaicos, onde, sem
dúvida, se desenvolveram os primeiros impérios. O primeiro que o Gênesis nos aponta foi o de
Ninrode; mas, até agora, não se descobriu qualquer documento que tra-a seu nome. As
cidades por ele fundadas estão atualmente identificadas como Babel, Calné, na terra de Sinar.
Igualmente, não tem sido possível encontrar elementos seguros a respeito da data do Dilúvio.
O nosso bem conhecido personagem Abraão podia dar-nos o ponto de partida, mas os
documentos que tem(is são insuficientes, e nem mesmo a cronologia bíblica resolve o
problema. Até o nascimento de Abraão, temos algarismos seguros, tirados de cálculos
astronômicos. Nasceu em 2160 a.C. Mais para trás, tudo é conjectura. Também isso não é
fundamental para o estudante de história bíblica. As primeiras migrações rumo ao Ocidente
teriam tido lugar nos tempos de Ninrode. A primeira dinastia de Ur teria sucedido em 4500
a.C. Heródoto, o pai da História, não conseguiu decifrar o problema das idades, mas deixou
muitas informações a respeito da dispersão; isso também nos dá o capítulo 10 de Gênesis, o
mais verídico documento que existe. A primeira migração, após o Dilúvio, vinda para o sul, foi
da raça de Sem; para sudoeste, a de Cão; para oeste, a de Jafé. Portanto, temos de procurar os
fundadores ou colonizadores da Palestina na descendência de Cão, e é isso justamente que o
livro de Gênesis, capitulo 10, faz. Os filhos de Cão foram Cuche, Mizrahn, Pute e Canaã.
Mizraim foi para o Egito e lá fundou o pais que traz o seu nome. Canaã gerou a Sidom, o
primogênito, a Hete e aos jebuseus, amorreus, girgaseus, heveus, arqueus e outros, que se
espalharam por Canaã (Gên. 10:15-18). Os limites dos cananeus são dados em Gênesis 10:19,
e isso está perfeitamente delineado na História. Portanto, temos de buscar os colonizadores
primitivos da Palestina entre os descendentes de Canaã. Quando teriam chegado ali, não se
sabe; mas se Mizraim, fundador do Egito, chegou lá antes de 4000 a.C., podemos concluir que
os cananeus chegaram à Palestina neste mesmo tempo. A onda migratória deve ter deixado a
Caldéia, talvez perseguida por Ninrode, cuja vida é misteriosa, apenas se sabendo que era
poderoso caçador diante de Jeová, o que pode traduzir-se por perseguidor. Viveu antes de
5000 a.C. Meier, em seu artigo na História Universal de Onken, diz que os camitas chegaram às
florestas da Germânia antes de 4500 a.C. Portanto, não estaríamos exagerando, se
disséssemos que os primeiros colonizadores da Palestina lá chegaram ao redor de 5000 a.C.

As mais antigas cidades da Palestina trazem a marca do período paleolítico, mesmo que estas
diferenças sejam muito precárias. Jericó foi fundada, segundo os melhores pesquisadores, lá
pelo ano 4000 a.C. Os mais antigos palácios de Gaza são de 4000 mais ou menos. Não há
certeza da data da fundação de Laquis, Siquém e outras cidades, porém deve andar por essa
mesma época.

Assim, vista de relance, a história do pais que estamos estudando, vemos que é das mais
antigas da terra. O Egito e a Palestina são os lugares primeiramente povoados, pouco se
sabendo dos outros povos ao norte, cuja história se perde em lendas sem base histórica.

(1) Era plano do autor dar uma extensa apreciação de alguns lugares e fatos que foram
superficialmente estudados, tais como as fortalezas de Laquis, Bete-Seã e outras,
incluindo um estudo pormenorizado das cartas de Tell-el-Amarna, mas o receio de
aumentar muito o volume e torná-lo inacessível aos leitores médios, fê-lo mudar de
plano. Reconhece que muita coisa importante ficou de fora, mas os leitores que se
interessarem pela História poderão valer-se da Bibliografia dada no fim do Estudo no
Livro de juizes e, assim, poderão suprir as lacunas encontradas nesta pequena obra.
2. Por Que a Palestina Não Deu uma Grande Civilização

A Babilônia nos deu os Impérios Sumério e Acádio e as primeiras civilizações. O Egito, o grande
Estado que encheu, a História por séculos. A Palestina ficou destinada a ser apenas um
aglomerado de tribos, sem homogeneidade Política. Qual a causa? Tendo sido povoada por
diversos descendentes de Cão, nunca houve um elemento capaz de aglutinar os outros e
formar um estado. Por outro lado, a sua geografia também concorreu para essa
fragmentação. Bem cedo, na história, caiu em poder dos babilônios, e não se tem notícia
desde quando. Sabemos que, quando Abraão entrou na Palestina, já esta era colônia de
Babilônia. O capítulo 14 de Gênesis dá-nos a história do caso. Os rei,-, palestinos eram
colonos dos reis caldeus. Por motivos que a história ignora, deixaram de pagar os seus
tributos. Então, os quatro reis caldeus, Anrafel (Hamurabi), rei de Sinar; Arioque, rei de Elasar;
Quedorlaomer, rei de Elão; e Tidal, rei do Goiim, vieram fazer guerra contra Bera, rei de
Sodoma; Birsa, rei de Gomorra: Sinabe, rei de Admá; Semober, rei de Zeboim; e contra o rei de
Belá, Zoar. Esta contenda, que deu muita dor de cabeça aos historiadores, está perfeitamente
acertada. Abraão entrou eri Canaã com 75 anos de idade, em 2085 a.C. Hamurabi subiu ao
poder em 2067 (da astronômica), portanto, um pouco depois de Abraão chegar. Logo que
subiu ao poder, verificou que os colonos palestinos estavam em atraso com os seus débitos.
Reuniu os demais monarcas e juntos vieram fazer guerra aos sodomitas, gomorritas e outros.
Desta contenda resultou que Ló, morador de Sodoma, foi levado cativo junto com outros,
obrigando Abraão a reunir o melhor do, seu povo e fazer guerra aos quatro reis caldeus, guerra
vitoriosa, voltando com grande despojo e Ló liberto. Noutros lugares, fizemos referência a
esta contenda, pelo que só nos ateremos ao fato na sua simplicidade. Quando a Palestina teria
caído em poder dos babilônios, não se sabe, mas deveria ter sido muitos anos artes. O tempo
que deixaram a Palestina livre também não se conhece, pois a sua língua cuneiforme foi usada
pelos cananeus até o tempo de Josué. Podas as cartas de Tell-el-Amarna estão escritas na
língua cuneiforme, e não parece ter sido esta a língua geral, pois o Egito tinha a sua língua
hieroglífica, e os povos do Norte tinham igualmente a sua língua bem diferente.
Com a formação dos grandes povos do norte, hititas e mitânios, a Palestina igualmente teve de
sentir a sua influência. Quando Abraão chegou à terra, encontrou os hiteus estabelecidos ali, e
como senhores dela. Sabemos que a Palestina não era a sede deste povo. Seriam guardas
avançados do grande povo do Norte.

Aí por 2000, ou pouco depois, um povo, até agora não identificado, invadiu o Egito e lá ficou
por séculos, o povo conhecido na história do Egito como os hicsos. O que eram não se sabe,
mas parece que eram semitas ou talvez hititas. Como conseqüência da expulsão dos hicsos, a
Palestina veio cair na mão dos egípcios, que a dominaram até tempos recentes, em relação
com a entrada dos hebreus na terra. Vê-se, por este conjunto de fatos, que a Palestina não
pôde construir um governo próprio, nem Desenvolver uma civilização sua, sendo, portanto,
resultado de culturas diferentes e contraditórias. A Palestina ficou depois entre dois fogos: de
um lado os egípcios; e do outro, os hititas, mitânios e outros do Norte. As conseqüências
foram: cada tribo foi vivendo a sua vida primitiva, construindo as suas fortalezas, para se
defender, até que chegaram outros grandes dominadores, nas pessoas dos reis assírios e
caldeus, muito nossos conhecidos.

Enquanto as tribos do centro palestino viviam uma vida desagregada, outros povos
construíram grandes civilizações, tais como os fenícios, e, no norte, os hiteus, mitânios e
outros. Com a entrada dos hebreus na terra, tiveram eles de vencer um grande número de
centros políticos, o que dificultou a dominação da terra, porquanto, ao se vencer um foco,
outro se levantava.

Talvez isso fosse providencial. Se houvesse uma civilização uniforme, um governo


centralizado, então haveria um problema político diferente. Por exemplo, quem poderia
vencer o governo de Davi e depois o de Salomão? Se governos houvesse assim quando os
hebreus entraram na terra, teriam vencido, porque o poder vinha de outra fonte, mas a
história seria diferente.
3. O Que Foi Conseguido

Ainda não se conhece, em toda profundidade, o progresso dos governos palestinos, porque
tudo depende da arqueologia, e esse trabalho, além de penoso, é fragmentário; e as muitas
mutações por que passou o território, com destruição e edificações sobre as anteriores,
tornam a verificação quase impossível.

A cidade de Gaza é a antiga Tel-el-Ajjul. A sua fundação não é conhecida, mas vai a milênios,
antes de Abraão chegar à Palestina. Não é sequer mencionada nos textos bíblicos. Entretanto,
consideram-na os arqueólogos igual a Ur dos Caldeus, ou superior. As casas tinham dois e três
andares. Foram descobertas ruínas de quatro ou cinco palácios, construídos a intervalos, e uns
superpostos aos outros. O mais antigo remonta a 3.500 anos a.C., com salas de banho,
escritórios, sanitários, salas de estar, dormitórios etc. Ao seu porto vinham os grandes navios
do tempo buscar trigo para os cretenses, de onde vieram os filisteus, e trazer mercadorias dos
estados do norte. Acredita-se que o porto de Gaza era uma espécie do de Nova Iorque nos
tempos antigos. A quem pertenceu esta civilização não se sabe, mas deveria ser caldaica, pois
foram os caldeus os primeiros a se estabelecerem na Palestina. Com a expulsão dos hicsos do
Egito, parece que eles se fixaram ali. Muitas das construções são do tipo hicso: as muralhas
inclinadas, os subterrâneos e coisas muito parecidas com as de Tel-Duweir, Laquis, mais para o
centro. De qualquer sorte, não era construção cananéia; tinha vindo de fora.

A propósito do trigo, que era a grande riqueza do lugar, há uma certa contradição nos textos,
quer bíblicos quer de outra natureza. Sabemos que os filisteus, provindos de Creta, tomaram
conta da costa, um pouco antes de os hebreus entrarem na Palestina, mas são mencionados
no texto de Gênesis em relação com Abraão. Como pode ser? Eram oriundos de Creta e
vinham a Gaza em busca de trigo, que a sua terra não produzia, e nessa qualidade foram
confundidos com os súditos de Abimeleque, rei dos filisteus (Gên. 26:2). Essa confusão parece
que resultou de contactos entre filisteus e abimelequianos, pois, segundo Deut. 2:23, eles
vieram de Caftor, um pouco antes de os hebreus entrarem na Palestina. Alguns modernos
historiadores dão essa gente como oriunda do Delta do Nilo, e, por isso, se misturaram com os
povos de Abimeleque. De qualquer modo, essa gente se tornou muito forte, especialmente,
pelo uso do ferro, que, segundo historiadores, eles roubaram ou compraram dos hiteus. A
cidade de Gaza era uma das cinco capitais dos filisteus.
APÊNDICE II

As Grandes Cidades

1. A Cidade de Jericó

Situada bem ao norte do Mar Morto, é, sem dúvida, uma das mais antigas da Palestina. A
Jericó dos hebreus era a terceira ,edificada no mesmo lugar, talvez edificada pelos reis
pastores hicsos. Alguns cronologistas dão-lhe a idade de 3.500 anos antes de Cristo. O autor
destas notas acha que deve ser mais antiga, talvez lima das primeiras cidades construídas em
Canaã. Quando tratamos da conquista da cidade, demos algumas informações quanto à sua
estratégia, sua fortaleza e outras. Por agora, apenas informações quanto à sua antigüidade.
Deve ser uma das mais ,antigas da terra, visto que ela foi edificada num lugar estratégico, para
a entrada na Palestina. Pelas conclusões da arqueologia houve diversas Jericós, uma
construída sobre a outra, como era, aliás, o costume antigo, de edificar cidades em planaltos,
para fina de segurança. A Jericó do N.T. é outra, milha e meia distante da velha cidade; e a
atual cidade, com este nome, fica a quilômetro e meio distante da antiga, e chama-se Er-Riá. A
fonte de Eliseu fica perto da velha cidade e foi sempre, até os dias de hoje, o ponto vital tanto
da velha como das novas cidades.

2. A Cidade de Laquis (1)

Também já fizemos referência a esta cidade, quando estudamos a sua tomada por Josué.
Agora, apenas algumas informações quanto à sua natureza, como cidade fortaleza e os seus
achados arqueológicos, inclusive as 18 cartas de Laquis. Colocada a 35 quilômetros do
Mediterrâneo, e 25 da cidade filistéia de Gaza, em uma fortaleza inexpugnável para os
belicosos filisteus. O nome moderno é Tell-el-Duweir, que em nada se parece com a fortaleza
aqui descrita. Quando as explorações arqueológicas começaram na Palestina, pensou-se que
Tell-Hesy era o lugar de Laquis, e os livros, que foram escritos antes de 1945, davam este lugar
como o da fortaleza. Depois de mais acuradas escavações verificou-se que as fundações não
correspondiam ao que se sabia sobre Laquis, a cidade que desafiou os grandes guerreiros da
antigüidade. Então mudaram as explorações para o outeiro de Tell-el-Duweir e, finalmente,
ficou assentado que esta elevação era justamente o local da velha cidade. Deve-se ao Dr.
Albright esta descoberta em muito dos seus estudos. Outros arqueólogos vieram depois, e a
exploração ainda não terminou. De Jerusalém a Iaquis gasta-se duas horas de automóvel, por
uma estrada irregular, pois se tem de dar a volta por Hebrom, para vir sair na planura onde
esteve a cidade. Pelo -relato de Josué, parece que se tratava de uma cidade de segunda
ordem; o que se deu, porém, foi que o rei já estava morto, e dentro da cidadela não havia
concordância quanto à resistência. Portanto, entregaram-se, mas a cidadela continuou a sua
vida como dantes, pois não era plano de Josué ocupar todas as cidades e garantir sua posse. A
cidade foi construída em cima de um barranco, com os flancos inclinados pelo mesmo. Para se
assaltar a cidade, era necessário um mecanismo especial, pois não havia, como agora,
máquinas de guerra para equilibrar-se dos lados.

A primeira fortificação deve ter ocorrido em 4000 a.C. ou antes; e, quando Abraão entrou na
Palestina, já a cidade era velha. As diversas tribos não se guerreavam, cada qual vivendo do
seu pastoreio e agricultura. Os tempos difíceis vieram depois. Quem foram os construtores
também não se sabe, mas devem ter sido os primitivos habitantes da Palestina, que nem
conheciam bem o que era a guerra dos tempos posteriores. Talvez fosse construída mais
como defesa natural contra as feras do que contra o homem.

Laquis aparece pela primeira vez na história, nos dias de Josué, quando o seu rei, por nome
Zinrida, apelou ao governo egípcio contra os habiri, que estavam desolando a terra. Pelo
relato de Josué, não se pode ter uma idéia do que era a fortaleza, porque o cerco durou
apenas dois dias, e, depois de submetida, os guerreiros de Josué foram adiante, atrás de outras
conquistas. Mas sabe-se agora que, se os reis residentes tivessem resistido, Josué não teria
sido capaz de tomar a cidade por meios normais. Acredita-se que depois que os hiteus
tomaram conta da Palestina a fortaleza foi ainda mais reforçada. O que Totmés III teria feito
para tomar a cidade, pois acredita-se que a tomou, não se sabe. Nem a Bíblia nem os relatos
egípcios dizem coisa alguma. Admite-se que se tenha apoderado da cidade, aumentado as
fortificações, porque, ao todo, houve três diferentes aumentos.

Depois de Josué, por séculos, nada se diz de Laquis. Só após Roboão ser proclamado rei é que
a cidade voltou a ser mencionada. Entre as 15 cidades que Roboão fortificou, incluiu-se Laquis
(H Crôn. 11:11). Esta febre de fortificações levantou o ânimo do Faraó do Egito, por nome
Sasaque (Senshoque), que veio à Palestina e obrigou Roboão a repartir a riqueza do templo
com ele.

Antes de Josué, Laquis teria sido lima, cidade central de correios sob o domínio egípcio. Os
carros eram muito comuns no Egito, e sabemos que Jacó desceu ao Egito em carros do Estado.

Só mais tarde, nos tempos de Senaqueribe, rei da Assíria, é que Laquis voltou a ser cidade
famosa, pela sua resistência ao grande conquistador. Ele mesmo se encarregou de contar, em
seus monumentos, o que Laquis tinha sido durante o cerco. Certamente exagerou, contando
as coisas a seu modo, porque pela História do Velho Testamento, o que sabemos é que não
conseguiu transpor as barreiras da fortaleza (II Crôn. 32:9-23). Pela história contada por ele,
conquistou todas as cidades de Judá, inclusive Laquis; mas, pelo Velho Testamento, Laquis fez
arruaças e nada mais, voltando derrotado para sua terra, para morrer à mão de seus dois
filhos. A história é muito longa e estas notas são apenas uma amostra do que foi a grande
fortaleza. De uma coisa sabemos: Senaqueribe, não podendo tomar a cidade, mandou cortar
as oliveiras e figueiras e amontoou os troncos junto às muralhas, para que o calor
decompusesse as pedras, que eram de calcário. Os arqueólogos encontraram montes de
cinzas ao lado das muralhas, que deviam pertencer a esse vandalismo. Mais tarde,
Nabucodonozor, ao sitiar a cidade, fez a mesma coisa, de maneira que a Palestina é hoje um
deserto, sem árvores de espécie alguma (Jer. 34:6,7). O texto sagrado não adianta muito,
quanto ao cerco de Laquis e outras cidades de Judá, mas a Arqueologia completa a história.
Foram encontrados caroços de azeitonas, queimados junto aos muros, por onde se podem ver
que a cidade foi cercada no verão, quando as oliveiras estavam carregadas de azeitonas,
cortadas que foram, junto com os seus frutos, tudo calcinado peco das muralhas. Jerusalém,
Laquis, Bete-Seã e tantas outras fortalezas conheceram o espírito vandálico destes guerreiros,
que, a mando do Senhor, fizeram a destruição. Depois disso, desce o pano sobre Jerusalém e
Laquis, para só séculos depois falar a Arqueologia. Esta, sim, nos dá um retrato de corpo
inteiro do que foi a cidade-fortaleza e do seu trágico fim. Hoje, podem os estudantes verificar
o que teria sido aquela monumental cidade, só inferior a Jerusalém, porque esta era o trono
do Senhor. Poderíamos escrever um livro (e quem sabe se não o faremos um dia) sobre os
destroços de Laquis, agora examinados à luz da picareta do arqueólogo. Por enquanto, apenas
ligeiras notas, e nada mais.

Nos destroços da cidade se encontram sinetas dos reis de Babilônia, do Egito, dos reis hicsos,
especialmente dos últimos, que dominaram a Palestina. Utensílios de mais de 5.000 anos
antes de Cristo foram encontrados, inclusive tonéis de cerveja, depósitos de azeite e cereais de
alta antigüidade. O Prof. Marston, em sua obra A Bíblia Disse a Verdade, dá informes
admiráveis sobre o que foi esta cidade. O Dr. Albright, seu companheiro de exploração
arqueológica, igualmente. De tudo que ali foi encontrado, nada sobreleva as cartas de Laquis,
que nos contam a história da cidade até os últimos dias dos reis de Judá. É uma história
comovente.

(1) Veja Charles Marston, A Bíblia Diam a Verdade, pp. 160.220.


3. A Fortaleza de Bete-Seã (Casa de segurança)

Ficava esta fortaleza, com o nome moderno de Beisam, a 18 quilômetros ao sul do Mar da
Galiléia, nas margens do Jordão, cidade que coube à meia tribo de Manassés. Estava em poder
dos cananeus, com carros ferrados, povo agressivo e belicoso. Além de ser uma cidade difícil
de conquistar, era uma cidade-chave, para quem quisesse dominar o norte e o centro da
Palestina. Acredita-se que, em tempos idos, tivesse sido um bastião hitita. Sabe-se que esteve
em poder dos hicsos antes de descerem ao Egito e depois de serem expulsos. Lá estes teriam
deixado as marcas da sua cultura e influência. Os egípcios construíram lá um dos seus pontos
fortificados, e não se sabe muito ao certo porque perderam esta posição-chave na Palestina,
junto com outras, perto do grande vale de Jizreel, onde infalivelmente seriam travadas todas
as batalhas pela posse da terra. O triângulo Acre, no litoral Inoã, Bete-Seã e Hamate eram
pontos-chaves para quem quisesse entrar na Palestina e ficar, porque dominavam grandes
áreas. Seti I, ao enviar à Palestina uma expedição, teve de tomar, em primeiro lugar, estes
pontos estratégicos. Merempta menciona esta cidade juntamente com outras, que ele diz
haver tomado. Com um mapa diante de nós, podemos ver a configuração geográfica desta
posição. Um exército que viesse do Egito pela estrada costeira, teria de contornar o monte
Carmelo e entrar no espaçoso vale de Jizreel, defrontando-se logo com Bete-Seã. Avançar para
o norte, deixando este bastião, era o mesmo que selar a sorte de qualquer exército
conquistador. Quem dominasse Laquis a oeste, no sul e Bete-Seã no norte e Jericó a leste
tinha na mão uma boa parte dos destinos da terra. Há muitas outras cidades importantes e
que exerceram notável influência nos destinos da Palestina, mas poucas como Jericó, Laquis e
Bete-Seã. Como já foi notado, por diversas vezes, os povos de Canaã estavam senhores de
fortes e grandes cidades, e, mesmo que não houvesse um governo central, cada qual se
defendendo como pudesse, ainda assim, estas cidades eram invencíveis para os israelitas.
Tinham razão em pensar que os cananeus moravam em cidades fortificadas, impossíveis de
serem tomadas, a não ser, como era a promessa, que Deus tomasse a frente. A Manassés
coube diversas cidades importantes, entre as que estamos estudando. Há uma não menos
importante, Megido, muito célebre em toda a história do Velho Testamento, e que deixamos
de estudar nestas notas para não alongarmos esta página. Vez por outra, foi feita referência a
estas cidades e ainda nos referiremos a eras, ao prosseguirmos em nosso estudo.

4. Bete-Semes (Casa do Sol)

É atualmente Aim-Semes. Acredita-se que o nome desta cidade esteja ligado ao culto do sol,
muito propagado nos antigos tempos. Ficava nas encostas das montanhas de Judá, apenas a
duas milhas distante dos filisteus. Se o nome de Shan-shum (Sansão) tem qualquer relação
com o nome desta cidade e com o culto do sol, não está ainda provado. Reminiscências de
velhos tempos e velhos cultos, que nem sempre nos são esclarecidos.

5. Cartas de Tell-el-Amarna (Egito) (2)

Trata-se de um grupo de 318 cartas atualmente encontradas, quase todas, no Museu Britânico,
em Londres, cartas escritas em caracteres cuneiformes dos babilônios pelos reis vassalos da
Palestina aos monarcas do Egito. Por muitos anos, quando a Arqueologia ainda estava na
infância, e as traduções dos textos eram muito imperfeitas, pôs-se em dúvida algumas das
suas mais notáveis afirmativas. Mencionavam um grupo a que davam o nome ora de Habiri,
ora de Habiru. Habiri é o plural e Habiru, o singular de uma palavra que, atualmente, se aceita
referindo-se aos hebreus. Ditas cartas foram encontradas por uma velha, escavando o seu
quintal em 1888, na vila de Tell-el-Amarna, e a princípio nem se imaginava o que diziam.
Foram dirigidas aos Faraós, Amenofis III e IV, este mais conhecido pelo nome de Akhenanton.
Datam de 1400 a 1360 a.C. A princípio não se podia admitir, que os Habiri ou Habiru, como
também se escreve, fossem os hebreus, pois era doutrina do tempo, que o Êxodo só teria tido
lugar depois de Ramsés R, visto como os israelitas construíram cidades-celeiros, tais como
Pitom e Ramassés (Êx. 1:11). Logo no tempo de Ramassés, que reinou de 1292-1225, eles
ainda deveriam estar no Egito. O autor recorda um debate havido, quando estudante nos
EE.LT-U., em que sustentava, contra todos os grandes mestres, que nesta era já os hebreus
estavam na Palestina, visto como Merempta, sucessor de Ramassés H (1225-1215), menciona
os israelitas em sua famosa Stela, na qual declara tê-los derrotado, não lhes "deixando nem
ramo nem raiz". Alegava-se que os Habiri das cartas de Tell-el-Amarna seriam elementos
foragidos do Egito, e que já estavam entrando na Palestina, como se o Egito não vigiasse suas
fronteiras. Isso foi nos idos de 1920, quando a Arqueologia estava ainda engatinhando. Já,
agora, recomposta a história do Egito, graças aos grandes egiptólogos Brughish e Breasted
entre outros, as coisas ficaram mais claras, e o autor sente certa vaidade por ter visto, como
estudante, um capitulo da história que só muitos anos depois foi esclarecido.

As ditas cartas, escritas em tabuinhas (tabletes) de barro cru, davam conta aos monarcas
egípcios de uma invasão que arrastava tudo por onde passava, invasão denominada HabirL
Eram nossos hebreus que vinham do Egito, sob a liderança de Moisés, e, de fato, por onde
passavam, nada deixavam de pé. As conquistas de leste, quando foram derrotados os reis
amoritas, Seom e Ogue, teriam mostrado, aos governadores da Palestina, o destino que os
aguardava, se reforços não fossem enviados. Depois dos cálculos astronômicos, feitos sobre
datas antigas, ficou provado que Jericó caiu, na primavera de 1400 a.C., exatamente, quando
reinava no Egito Amenofis IV, o herege Akhenanton, e a quem foram dirigidas muitas destas
cartas, tendo outras sido enviadas ao seu antecessor, Amenofis III.

Ficaram, assim, provadas diversas coisas. Primeiro, que efetivamente os hebreus estiveram no
Egito, pois, até isso foi negado no século 19; segundo, ficou acertado que éxodo teve lugar em
1440, ou, para ser mais exato, em 1444, quando reinava no Egito Totmés IV. Igualmente, ficou
certo que Jericó caiu em 1400 ou 1404. Usualmente, se despreza a fração de "4", para facilitar
o estudo. Teríamos, então, a seguinte cronologia, agora dada como final:

Tomada de Jericó, 1400

Saída do Egito, 1440

Duração do cativeiro, 430 anos (1440-1870)

Descida de Jacó ao Egito, 1870


Nascimento de Jacó, 2000

Nascimento de Isaque, 2060

Nascimento de Abraão, 2160 a.C.

Verificadas, assim, estas datas, conferidas com os cálculos astronômicos, especialmente feitos
para verificar a idade de Hamurabi, rei caldeu contemporâneo de Abraão, nós, estudantes da
Bíblia, sentimo-nos confortados com a verdade dos dados bíblicos, mesmo que, em tantos
outros casos, não seja possível esta verificação, como só aconteceu coma data do dilúvio.

O desejo do autor é que os estudantes mirem as maravilhas da divina providência, levando um


povo insignificante formado no Egito em condições, em grande parte, de todo desfavoráveis,
introduzindo-o numa terra de alta cultura, de cidades amuralhadas, de pequenos governos, é
certo, porém, mais fortes que os israelitas. Isso feito, damos graças ao Criador pela história
que nos legou.

(2) Veja Charles Marston, A Bíblia Disse a Verdade, pp. 142, 143.

Notas: A bibliografia correspondente ao período de Josué virá no fim do volume de Juizes e


compreenderá tanto o livro de Josué propriamente dito como o de Juizes.

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