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Serviço Social – Conhecimentos Específicos - EBSERH

Aula 05 Pesquisa social. Elaboração de projetos, métodos e


técnicas qualitativas e quantitativas.

Serviço Social – Conhecimentos Específicos - EBSERH

Aula 05

Pesquisa social. Elaboração de projetos, métodos e técnicas qualitativas


e quantitativas.

Professora Conceição Costa

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Aula 05 Pesquisa social. Elaboração de projetos, métodos e
técnicas qualitativas e quantitativas.

SUMÁRIO

PESQUISA: A PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. A DIMENSÃO INVESTIGATIVA E


A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE
PESQUISA. METODOLOGIAS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS NA PESQUISA
SOCIAL ................................................................................................... 3
1- A PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL E SUAS PARTICULARIDADES: TEMPOS DE
RESISTÊNCIA. .......................................................................................... 3
2-A DIMENSÃO INVESTIGATIVA E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ....... 14
2.1- A PESQUISA DA REALIDADE: CONHECER E INTERVIR ....................................... 16
2.2- A BUSCA DA DIALÉTICA ........................................................................ 17
2.3- A PESQUISA E O SERVIÇO SOCIAL ........................................................... 18
2.4- RUMO À CONSOLIDAÇÃO DA MAIORIDADE ACADÊMICA E PROFISSIONAL ................. 20
3-O PROJETO DE PESQUISA ..................................................................... 23
3.1- O QUE É PESQUISA? .......................................................................... 23
3.2- POR QUE SE FAZ PESQUISA? .................................................................. 23
3.3- O QUE É NECESSÁRIO PARA FAZER PESQUISA? ............................................. 24
3.4- POR QUE ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA? ........................................... 25
3.5- ELEMENTOS DE UM PROJETO DE PESQUISA ................................................. 26
4- A PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA. ........................................ 29
4.1- DIFERENCIAÇÕES ENTRE A PESQUISA QUALITATIVA E A PESQUISA QUANTITATIVA .... 29
4.2- A PESQUISA QUALITATIVA .................................................................... 39
4.3- PESQUISA QUALITATIVA – RESULTADO COM BASE NO CONHECIMENTO COGNITIVO .... 42
QUESTÕES DE PROVAS ........................................................................... 45
QUESTÕES DE PROVAS EBSERH ............................................................... 52
GABARITO ............................................................................................. 60
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................................................61

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Aula 05 Pesquisa social. Elaboração de projetos, métodos e
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Pesquisa: A pesquisa em Serviço Social. A dimensão


investigativa e a construção do conhecimento. A construção
do projeto de pesquisa. Metodologias quantitativas e
qualitativas na pesquisa social

1- A pesquisa em Serviço Social e suas particularidades: tempos de


resistência.

Inicialmente, é oportuno ressaltar que fazer pesquisa/ciência significa


dispor-se a conhecer a partir de investigações mais aprofundadas algum
“complexo social” (LUKÁCS, 2012) e efetivar tal intenção como ato consciente
(teleologia-finalidade-causalidade). Trata-se, então, de reconstruir mentalmente
uma dinâmica que não se encontra na cabeça de quem realiza o estudo (por mais
brilhante que seja), o que não significa, em absoluto, desvalorizar o exercício da
razão crítica, mas por suas forças na direção da lógica do próprio ser.

O início de qualquer ciência é a própria realidade (o verdadeiro ponto de


partida) que estimula, indaga, impõe necessidades vinculadas à reprodução
material do ser (social). A razão ontológica materialista se realiza a partir dessa
base insuprimível, ineliminável, ainda que imediatamente não apareça como o
verdadeiro ponto de partida. Por outro lado, sem o exercício da razão objetiva
que desconstrói a dureza imediata do real, a pesquisa e a produção do
conhecimento não se realizam e as forças sociais dos sujeitos relativos não são
postas em movimento. Ora, estamos diante de outra relação entre razão e
realidade, como razão objetiva, comprometida com a “lógica da coisa” (MARX,
2005a, p. 39), voltada aos problemas genuinamente humanos, seguramente
intencionais, mas a partir das determinações do ser, de sua existência (onde
efetivamente se encontram as categorias de análise da pesquisa).
A gnosiologia, própria da produção do conhecimento, não se confunde com
a ontologia (as determinações do próprio ser), ainda que ambas sejam
absolutamente essenciais para qualquer investigação científica. A prioridade é

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sempre ontológica pelo simples fato de que a existência do ser é anterior ao


pensamento sobre o próprio ser. Mais ainda, a dimensão ontológica funciona
como “momento predominante”, assim como a “economia política marxiana”
(LUKÁCS, 2012; 2013) que, em absoluto, explicam a razão como um simples
espelhamento mecânico da própria realidade ou atribui à economia um papel de
“moldar” as demais dimensões da vida social. O processo desantropomorfizador
(de busca da coisa como ela é e não como o pesquisador deseja que ela seja),
típico do “espelhamento” promovido pela ciência, não elimina o papel da razão
ou a subestima; somente não atribui a ela uma lógica que é da própria realidade;
não vê nela o início do processo científico. Sobre essa base é possível falar em
práxis social e compreender a centralidade do trabalho (útil-concreto) como
práxis primeira, guardando as particularidades da ciência como determinada
forma de espelhamento da realidade. Sobre o método na teoria social, Marx
destaca, em um trecho da “Introdução à crítica da economia política”

O concreto é concreto, porque é a concentração de


muitas determinações, isto é, unidade do diverso. Por
isso, o concreto aparece no pensamento como o processo
de concentração, como resultado, não como ponto de
partida e, portanto, o ponto de partida também da
intuição e da representação. No primeiro caminho a
representação plena volatiliza-se na determinação
abstrata; no segundo, as determinações abstratas
conduzem à reprodução do concreto por meio do
pensamento. ‘Assim é que Hegel chegou à ilusão de
conceber o real como resultado do pensamento que se
concentra, que se aprofunda em si mesmo e se apreende
a partir de si mesmo como pensamento móvel’; enquanto
que o método que consiste em elevar-se do abstrato ao
concreto não é senão a maneira de proceder do
pensamento para se apropriar do concreto, para

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reproduzi-lo espiritualmente como coisa concreta (MARX,


1989, p. 410).

Obviamente que a universidade operacional e a “produção de


conhecimento” por ela estimulada não funcionam sobre essa base. Aqui a
pesquisa científica e suas metodologias se submetem à concepção burguesa de
ciência, potencializando o desenvolvimento do conhecimento segundo a lógica do
capital.
Assim, o conhecimento está voltado para interesses produtivistas, centrado
unicamente na face imediata do real, absolutamente parcial (embora se diga
neutra), tornando limitada a relação do saber com o “mundo dos homens”. Isso
significa que o conhecimento está fragmentado, centrado em um diálogo formal
e superficial (quando muito, sistêmico) entre as diferentes áreas do
conhecimento, inviabilizando por completo qualquer perspectiva explicativa do
real e de seu movimento objetivamente dado.
A concepção burguesa de ciência submeteu as Ciências Sociais à pura
fragmentação. Nos termos postulados por Lara (2007, p. 74), não supera a mera
“especialização mesquinha” (como método) e reproduz, nos termos lukacsianos,
uma clara decadência ideológica. Nessa mesma perspectiva Lukács (2010)
destaca:

[...] uma ontologia do ser social deve, portanto, se não


quiser falsear os nexos ontológicos, tentar apreender
exatamente seus traços específicos em seu originário ser-
propriamente-assim. E para o ser social é profunda e
decisivamente característico que todos os processos
dinâmicos dos complexos da práxis humana, só nele
constituídos e só nele possíveis, sejam quanto à sua
gênese fundados no respectivo modo de desenvolvimento
da sociedade, em sua economia, e que sejam por ela
determinados até as suas características específicas; em

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sua dinâmica imediata, ao contrário, podem reclamar


para si uma muito ampla vida própria, um desdobramento
dinâmico próprio, tanto em termos formais como em
termos de conteúdo [...]. Um dos motivos principais da
vulgarização do marxismo, que tanto colaborou para que
ele perdesse sua influência como teoria universal do
desenvolvimento da humanidade, foi exatamente a
concepção mecanicista de toda ideologia como mero
‘produto naturalmente necessário’ das respectivas
relações econômicas (LUKÁCS, 2010, p. 100 e 113).

Assim, a inegável fragmentação da ciência moderna pautada na lógica


produtivista impõe desafios às ciências humanas e sociais quanto a dar respostas
efetivas aos problemas genuinamente humanos. A sua forma específica de
produzir conhecimento não apenas é questionada e subalternizada na relação
com as demais “áreas do conhecimento”, mas engessada por estímulos
“educativos” puramente descritivos, a-históricos e descomprometidos com a
razão objetiva, frequentemente inspirados em procedimentos das ciências
naturais e de suas variações.
Nascem, aqui, estudos puramente comparativos, baseados em dados
quantitativos e qualitativos sustentados no espelhamento imediato do real, o
que justifica o ceticismo da ciência burguesa em relação a determinado tipo de
produção realizada nas Ciências Humanas e Sociais (particularmente as de perfil
claramente crítico-ontológico-material), bem como o estímulo dado, no limite,
para estudos subsidiários e descritivos elaborados por essas áreas do
conhecimento (vistos como de menor relevância e prioridade).
Nesse cenário, percebe-se que o conhecimento está fragmentado pelas
condições materiais das instituições de pesquisa, entre elas a universidade,
responsáveis pela sistematização do saber dentro da divisão social do trabalho.
Assim, o conhecimento moderno fragmentado favorece as justificativas
ideológicas conservadoras, legitimando as relações sob a lógica burguesa. Dessa
forma, percebe-se o crescimento das ciências naturais, cujas pesquisas

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potencializam o desenvolvimento industrial, tecnológico e as ramificações do


desenvolvimento do capital. Nas ciências sociais, por sua vez, são estimulados
estudos “despidos de posicionamento crítico” (tratados como “ideológicos”),
“sistêmicos”, frequentemente fragmentados, descritivos, sem economia política
crítica, enciclopédicos e politicamente comportados. Uma importante categoria
que constitui a dinâmica do real é absolutamente abandonada no processo então
denominado como “produção de conhecimento”: a categoria da totalidade. Sem
uma ciência genuinamente humana guiada pela ontologia materialista do ser
social, vinculada à Teoria Social de Marx na sua totalidade (crítica à teoria valor-
trabalho, método dialético e perspectiva da revolução), o estudo da “lógica da
coisa” inviabiliza-se por completo.
Cumpre resgatar que o Serviço Social se constituiu, no Brasil, vinculado ao
surgimento da sociedade denominada moderna, isto é, capitalista, já em sua fase
monopolista, que inaugura e legitima o conhecimento científico (ou “erudito”),
possibilitando condições específicas para a formação de profissionais com
autoridade para apreender e explicar os complexos sociais (ainda que seja
necessário reconhecer traços antimodernos presentes na gênese da profissão –
SILVA, J. F. S., 2015). É nesse contexto que o Serviço Social se legitima
socialmente para intervir nas “expressões da questão social” (IAMAMOTO, 2007),
suas refrações, vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho, decorrente das

[...] expressões do processo de formação e


desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no
cenário político da sociedade, exigindo o seu
reconhecimento como classe por parte do empresariado
e do Estado (KAMEYAMA, 1998, p.33).

No caso específico do Brasil, a configuração da “questão social” no bojo da


economia capitalista “deu-se a partir de 1930, refletindo o avanço da divisão

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social do trabalho, vinculando-se, portanto, à emergência do trabalho


assalariado” (KAMEYAMA, 1998, p. 34). É no contexto da década de 1930, isto é,
na era varguista, que foram criadas as primeiras escolas de Serviço Social em
São Paulo (1936) e Rio de Janeiro (1937), cuja formação profissional, dado seu
caráter interventivo, privilegiou principalmente o aspecto técnico-operativo em
detrimento da produção do conhecimento. Como salientado anteriormente, a
pesquisa em Serviço Social iniciou-se efetivamente a partir da década de 1970,
quando foram criados os primeiros cursos de pós-graduação na área de Ciências
Humanas e Sociais e no Serviço Social.
Todavia, atribuir relevância à ação investigativa não significa, em
hipótese alguma, desconsiderar a importância da dimensão interventiva
presente no trabalho profissional. Foi com esse entendimento que o Serviço
Social inseriu a pesquisa como matéria já no primeiro currículo mínimo
determinado pela Lei n° 1.889, de 13 de junho de 1953, tendo sido reafirmado
no segundo currículo em 1962. Já no terceiro currículo, em 1970, a pesquisa não
aparece nas disciplinas obrigatórias, por “estar implícita no espírito integrador
ensino-pesquisa da Reforma Universitária” (SETUBAL, 2007, p.68).

Ampliou-se a produção de conhecimento no Serviço Social com o


expressivo aumento da produção bibliográfica, alimentada pelas dissertações de
mestrado e teses de doutorado.
Contudo, foi a partir dos anos 1980 que o Serviço Social obteve
reconhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) como área de pesquisa, contemplando as seguintes
áreas de investigação: “Fundamentos do Serviço Social Aplicado”,
“Serviço Social do Trabalho”, “Serviço Social da Educação”, “Serviço
Social do Menor”, “Serviço Social da Saúde” e “Serviço Social da
Habitação”.
A pesquisa em Serviço Social vem se desenvolvendo na relação com as
perspectivas teóricas que têm orientado a profissão nas últimas décadas. A

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renovação do Serviço Social brasileiro vivida no interior do processo de


reconceituação latino-americano permitiu uma aproximação com tendências de
investigação orientadas pelo positivismo, pela fenomenologia e pelo
marxismo (embora não sejam essas as únicas referências), considerando,
seguramente, as diversas perspectivas inseridas no interior dessas orientações
teórico-metodológicas e o tipo de apropriação que o Serviço Social vem
construindo sobre as tendências supracitadas. Foi, no entanto, o adensamento
do debate com a tradição marxista e, mais tarde, com o próprio Marx, que orienta
debates no campo da emancipação social, ainda que seja necessário reconhecer
as diferentes leituras e apropriações aí existentes. Analisar essas tendências no
âmbito da pesquisa em Serviço Social, dentro ou fora do campo marxiano
marxista, é de grande importância para qualificar o debate na profissão e iluminar
os problemas que se colocam ontologicamente no âmbito do trabalho profissional
e para além dele. Sob essa perspectiva, adverte Paulo Netto (1989):

Sem Marx, e a tradição marxista, o Serviço Social tende


a empobrecer-se [...]. Sem considerar as práticas dos
assistentes sociais, a tradição marxista pode deixar
escapar elementos significativos da vida social [...]. Por
mais que seja rigorosa, intensa e extensa a interlocução
com a tradição marxista, não se constituirá um Serviço
Social “marxista” (NETTO, 1989, p. 101).

Dessa forma, trata-se de uma perspectiva comprometida com a


reconstrução do movimento do real enquanto “concreto pensado” (MARX, 1989),
repleto de múltiplas determinações e de complexos sociais particulares (LUKÁCS,
1978) que interagem e definem (não de forma determinística) a inserção dos
assistentes sociais em determinada historicidade e a partir de determinado
legado sócio histórico. É nesse contexto que se insere o Serviço Social como
particularidade histórica e o trabalho profissional do assistente social é realizado
em determinadas condições objetivamente dadas e subjetivamente potenciadas
por sujeitos profissionais possíveis. A pesquisa, então, orientada por uma razão

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ontológica (nos termos aqui tratados), é componente importantíssimo da


formação profissional. Como processo ontológico-material científico,
essencialmente desantropomorfizador, ou seja, comprometido com a
reconstrução da realidade, sua racionalidade, esclarece Lukács (1978):

A ciência autêntica extrai da própria realidade as


condições estruturais e suas transformações históricas e,
se formula leis, estas abraçam a universalidade do
processo, mas de modo tal que deste conjunto de leis
pode-se retornar – ainda que frequentemente através de
muitas mediações – aos fatos singulares da vida. É
precisamente esta dialética concretamente realizada de
universal, particular e singular (LUKÁCS, 1978, p. 88).

Ou nas palavras do próprio a Marx (2002):

A investigação tem de apoderar-se da matéria, em


seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de
desenvolvimento e de perquirir a conexão íntima que há
entre elas. Só depois de concluído esse trabalho é que se
pode descrever, adequadamente, o movimento real. Se
isso se consegue, ficará espelhada, no plano ideal, a vida
da realidade pesquisada (MARX, 2002, p. 21).

No seio da categoria há um debate fecundo sobre a necessidade de


redimensionar a formação e o trabalho em Serviço Social. A visão empirista da
profissão vem sendo lentamente superada, mas em seu lugar têm surgido
alternativas heterogêneas que buscam a “teoria necessária à prática” (que
reedita o empirismo sobre outras bases). O sincretismo (um traço objetivo da
profissão presente desde sua gênese) e o ecletismo continuam vigentes, ainda
que o primeiro seja insuprimível nas condições propiciadas pela sociedade do
capital. Há se de reconhecer, ainda, vários limites objetivos que têm afetado as

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relações trabalhistas e a própria subjetividade do assistente social como


trabalhador. Essa realidade, enriquecida pelo complexo contexto vivido no campo
da formação profissional e das universidades (como destacado pontualmente no
item anterior), tem golpeado duramente o legado crítico construído e acumulado
nas últimas três décadas pela profissão. Seguramente a pesquisa e a produção
de conhecimentos têm sido severamente afetadas. Embora isso não invalide ou
descaracterize o projeto profissional em curso (ao contrário), inegavelmente
impõe necessidades objetivas aos que o reconhecem como importante referência
no interior da profissão. Valorizar esse fato é condição sem a qual não será
possível resistir e reverter essa realidade.

Nesse sentido, reconhecendo os avanços enormes do Serviço Social


brasileiro nas últimas décadas e seus atuais limites, é preciso destacar alguns
pontos importantes para o estímulo de uma pesquisa ontológica e fiel à
tradição responsável pelo adensamento crítico da profissão. Esse destaque deve
ser feito em um duplo sentido:
 Por um lado, o reconhecimento de que tendências neoconservadoras sempre
existiram e continuam se revigorando no seio da profissão, seja no âmbito da
pesquisa ou do trabalho profissional (é importante não subestimar este fato);
 Por outro lado, é necessário reafirmar e aprofundar a direção social existente
no projeto ético-político do Serviço Social brasileiro, tendo Marx e parte de
sua tradição mais densa como referências insubstituíveis (embora não únicas).
Para tanto é importante que as pesquisas na área de Serviço Social
considerem:
a) a crítica às tendências pós-modernas em curso que insistem em
reeditar formas de “neutralidade” e de procedimentos forjados por meio
de teorias do conhecimento abstratas que tendem a violentar o
movimento do real impondo-lhe “a coisa da lógica” ao invés de captar a
“lógica da coisa” e alimentar a práxis profissional e social. Requenta-se,
aqui, a ciência abstrata, absolutamente avessa à realidade (antiontológica),

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comprometida com a especulação teórica cujo objetivo principal é apanhar e


reorganizar um conjunto heterogêneo e eclético de teorias e conhecimentos e
apresentá-los à profissão como alternativas às “fechadas”, “desatualizadas” e
“ultrapassadas” matrizes teóricas construídas pela modernidade. A crítica radical
a essas tendências, também presentes no Serviço Social brasileiro, latino-
americano e mundial, é uma empreitada essencial. Subestimar esse cenário,
também no âmbito da pesquisa, será fatal para o estímulo de estudos
comprometidos com os problemas genuinamente humanos. Mais do que isso,
criará “intelectuais” “pouco comportados intelectualmente” (como utilitaristas
pós-modernos conscientes), adequada política e praticamente comprometidos
com a descrição miúda, “letrada”, disfarçada de pesquisa e ciência (SILVA, J. F.
S., 2015);
b) o estímulo a orientações investigativas claramente fincadas no ponto
de vista daqueles que “vivem da venda da força de trabalho” (o que não
significa, em absoluto, não realizar investigações que revelem a
dinâmica interna da classe dominante e de suas frações). Esse
procedimento deve estar comprometido com a centralidade do trabalho concreto,
útil, criativo e humanizador (esse, sim, categoria ontológica central) e avesso
(radicalmente crítico) à sua forma histórica assumida na sociedade do capital: o
trabalho abstrato, estranhado-alienado. Nesse contexto um aspecto é relevante:
o resultado desses estudos precisa ser socializado com os trabalhadores
assistentes sociais (nas suas diferentes inserções na divisão social do trabalho –
dentro e fora do Brasil), com os demais trabalhadores, com as entidades de
defesa destes movimentos sociais, sindicatos e demais segmentos
comprometidos, em tese, com a defesa dos que vendem sua força de trabalho
(na sua diversidade);
c) a preocupação de valorizar, no âmbito da formação e do trabalho
profissional, o ponto de vista da totalidade social, negadora de qualquer
espécie de endogenia profissional e fragmentação teórico-prática, mas
comprometida em explicar a particularidade do Serviço Social no atual
processo de produção e reprodução ampliada do capital. Nisso,
certamente, as necessárias mediações com a profissão e seus limites objetivos,

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bem como a articulação do Serviço Social com a economia política e as


determinações impostas pelo capital e pela sociedade que permitem sua
acumulação: o capitalismo. É a partir destes parâmetros que os chamados “temas
transversais” devem ser estudados – intra e extramuros das universidades – pois
enriquecerem a formação e o trabalho profissional (diga-se de passagem, “temas
transversais” não menos importantes e não determinados mecanicamente pela
infraestrutura vinculada à produção e reprodução do ser social);
d) a necessidade de as pesquisas explicarem as particularidades do
Brasil e da América Latina, as formas como a ordem mundialmente em
curso se objetiva nas condições desta região do globo e seus respectivos
países. Para tanto, é impossível desconsiderar o caráter não apenas
monopolista, imperialista e financeiro do capitalismo em curso, mas
também sua via colonial, dependente e hipertardia. Ademais, as
particularidades das resistências em curso no continente latino-americano, suas
diferenças, qualidades e seus traços sócio liberais e neodesenvolvimentistas
certamente limitadores (CASTELO, 2012; GONÇALVES, 2012; SAMPAIO, JR,
2015);
e) é preciso, ainda, tratar de outro assunto velho-novo: a negação,
simultânea, de formas atuais pelas quais o militantismo e o fatalismo se
reeditam (IAMAMOTO, 1994). Certamente profissão não é e nunca será, por
exemplo, partido. Todavia, as profissões não podem se despolitizar ou
simplesmente descartar “por decreto” sua relação com a economia política (como
se isso fosse possível). Trata-se, portanto, de um processo que deve unificar,
sem identificar, profissões, partidos, movimentos sociais, entre outros, bem como
revelar as estratégias a serem utilizadas pelos profissionais-militantes em
diferentes espaços e condições que ora exigem mais do profissional do que o
militante (ou vice-versa). Em outras palavras, saber de onde se fala e onde se
atua, não significa abdicar do profissional ou do militante (separando-os
totalmente), mas, sim, deixar claro que o profissional-militante precisa
considerar o seu espaço concreto de atuação, seus limites objetivos e
potencialidades possíveis.

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2-A dimensão investigativa e a construção do conhecimento

Partindo do suposto de que o significado que o trabalho profissional do


assistente social adquire no processo de produção e reprodução das relações
sociais só pode ser interpretado e compreendido na relação entre as necessidades
das classes sociais que polarizam sua intervenção, os distintos sujeitos sociais e
os interesses antagônicos que o demandam, os espaços ocupacionais, as
competências e atribuições profissionais, cabe situar a importância da produção
de conhecimento para o Serviço Social. A profissão ao longo dos seus 70 anos
vem buscando definir claramente e consolidar suas atribuições e competências,
as quais se encontram, desde 1962, reconhecidas e regulamentadas (ainda que
sua primeira formulação tenha sido em 1957). O cumprimento delas, segundo a
Lei n. 8662/1993, exige de o assistente social tornar a pesquisa um elemento
constitutivo do seu trabalho profissional, como precondição do exercício
profissional competente e qualificado.
Assim é que, no cumprimento das atribuições e competências sócio
profissionais, há que se realizar permanentemente a pesquisa das condições e
relações sob as quais o exercício profissional se realiza, dos objetos de
intervenção, das condições e relações de vida, trabalho e resistência dos sujeitos
sociais que recebem os serviços. Faz-se necessário não apenas coordenar e
executar políticas sociais, projetos e programas, mas também avaliá-los,
coordenar pesquisas, realizar vistorias, perícias e laudos, emitir parecer técnico,
formar assistentes sociais. Aqui se reconhece e se enfatiza a natureza
investigativa das competências profissionais. Mais do que uma postura, o caráter
investigativo é constitutivo de grande parte das competências/atribuições
profissionais.
Para atender as competências profissionais, ressaltam-se as
possibilidades da pesquisa, tendo em vista, de um lado, a apreensão das reais
condições de trabalho dos assistentes sociais como elemento fundamental para
o exercício profissional qualificado, visando alcançar os objetivos e metas

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pretendidos, e, de outro, a apropriação dos objetos de intervenção – as diversas


sequelas que a exploração da força de trabalho no capitalismo causa na vida da
classe trabalhadora –, suas condições de vida e formas de enfrentamento.

Aqui, há que se considerar a profissão no contexto de reprodução da


sociedade capitalista, seus fundamentos, modos de ser e de se reproduzir. O
pressuposto é o de que a profissão e seus objetos só se explicam em relação e a
partir dessas relações.
Nesta sociedade, as sequelas da relação de exploração de uma classe sobre
a outra recebem a denominação de “questão social”. Não obstante, resultado da
exploração do capital sobre o trabalho, a questão social é decorrência da luta de
classes: “mantivessem-se os pauperizados na condição cordata de vítimas do
destino, revelassem eles a resignação que Comte considerava a grande virtude
cívica e a história subsequente haveria sido outra” (NETTO, 2001, p. 43). Foi a
partir dos protestos, dos conflitos e da possibilidade de “reversão da ordem
burguesa que o pauperismo se designou como “questão Social”” (idem).
Por essa razão, a chamada “questão social”, se não considerada à luz de
seus fundamentos constitutivos, da lógica que a gerou (a acumulação capitalista),
mais obscurece a realidade do que a explica. Ao assistente social, no âmbito da
sua inserção na divisão social e técnica do trabalho, cabe captar como as diversas
expressões da questão social se particularizam em cada espaço sócio ocupacional
e chegam como demandas que dependem de sua intervenção profissional.
Assim, entendemos que a clareza acerca de como concebemos a “questão
social”, ou seja, a partir de que pressupostos teóricos; a percepção que temos de
suas expressões, tais como: desemprego, fome, doenças, violência, falta de
acesso aos bens e serviços sociais (moradia, creches, escolas, hospitais, etc.),
bem como dos valores que orientam tais concepções, são mediações que incidem
sobre os meios e modos de responder às demandas profissionais.
Aqui nos interessa chamar a atenção para a possibilidade contida nas
competências e habilidades de “compreender o significado da profissão”, para o

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redimensionamento dos espaços profissionais, das demandas e respostas, do que


depende, essencialmente, mas não exclusivamente, da escolha dos aportes
teórico-metodológicos aliada à capacidade política de estabelecer estratégias
sócio profissionais adequadas. Explicita-se, então, a dimensão investigativa da
prática como constitutiva do exercício profissional bem como se reconhece e se
enfatiza a natureza investigativa de grande parte das competências profissionais.
Na relação dialética entre investigar e intervir, desvelando as possibilidades de
ação contidas na realidade, os conhecimentos teórico-metodológicos, os saberes
interventivos e procedimentais (SANTOS, 2006) constituem-se componentes
fundamentais.

2.1- A pesquisa da realidade: conhecer e intervir

A pesquisa, na qual se faz necessário o “mergulho na realidade


social” (IAMAMOTO, 1998, p. 55), é, portanto, um processo sistemático
de ações, visando investigar/interpretar, desvelar um objeto que pode
ser um processo social, histórico, um acervo teórico ou documental.
Para bem conhecer, é necessário um trabalho intelectual: preparo,
formação, habilidades e competência. A pesquisa científica exige rigor, métodos
e técnicas apropriadas e não pode ser identificada como mera sistematização de
dados, de modo que há que se desenvolver determinados conhecimento que são
procedimentais (sobre a necessidade deles no exercício profissional ver Santos,
2006). Nosso ranço empirista nos leva muitas vezes a identificar elaboração
teórica com sistematização da prática. Afirmamos que ambas são importantes,
mas sua distinção deve ser feita, em nome do rigor teórico-metodológico.
A sistematização de dados é, sem dúvida, um passo preliminar e
necessário, um momento do processo do conhecimento. Os procedimentos de
sistematização que se realizam sobre o material empírico são da maior relevância
para a construção teórica (para o momento de síntese que se dá como reprodução
do movimento da realidade no pensamento do sujeito).

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Para o Serviço Social, o processo de sistematização da prática


permite: identificar e problematizar as condições do exercício profissional, os
fenômenos existentes, selecioná-los e classificá-los, identificar suas
características, as dificuldades, lacunas, a necessidade de aprofundamento
teórico para melhor compreendê-los e a da adoção de determinado referencial-
teórico que permita interpretá-los, funcionando como um momento pré-teórico
da maior relevância (sobre isso ver Netto, 1989, p. 151). O processo de
sistematização nos indica a necessidade de elaboração do projeto de
intervenção e as lacunas no nosso conhecimento para resolvermos determinados
problemas. Nele, os procedimentos do entendimento são não apenas suficientes,
mas adequados. Aqui, a investigação da realidade se situa como exigência do
exercício profissional. É importante notar que a suposta e equivocada concepção
sobre a teorização do Serviço Social (ou seja, a formulação de uma história e de
uma metodologia próprias) foi conduzida pela identificação também equivocada
entre sistematização e elaboração teórica.

2.2- A busca da dialética

A ação do sujeito social sobre uma realidade (instituição, por exemplo)


tende a selecionar alguns momentos da realidade que são considerados
essenciais. O sujeito separa o essencial do acessório (secundário), para atingir
determinados objetivos. Aqui o pensamento do sujeito faz recortes na realidade,
debruça-se sobre ela, estuda-a, avalia-a, arrisca-se a explicá-la através de
conceitos que conhece, busca novos conceitos para tal, e organiza respostas à
realidade com base nos estudos realizados. Não obstante, no nosso dia-a-dia
estamos sempre trabalhando com totalidades, mais ou menos amplas e

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complexas. Em toda realidade social, manifestam-se características de âmbito


universal, particular e singular.
Totalidade indica, pois, que as três dimensões que compõem uma
realidade, universal, particular e singular, são partes constitutivas de um
mesmo objeto, são sempre articuladas entre si, se auto implicam e se auto
explicam, e a interpretação do objeto (instituição) tem em vista captá-las.
A síntese é a visão de conjunto que permite ao homem
descobrir a estrutura significativa da realidade com que
se defronta em uma situação dada. E é a estrutura
significativa - que a visão de conjunto proporciona - que
é chamada de totalidade (KONDER, 1983, p. 37).

2.3- A Pesquisa e o Serviço Social

A pesquisa para o Serviço Social fornece subsídios à análise do processo


de produção e reprodução da vida social sob o capitalismo, no âmbito do qual o
Serviço Social se situa, visando a instrumentalização do assistente para a
elaboração de projetos de intervenção e para a intervenção propriamente dita.
Mas, mais do que isso: a investigação é inerente à natureza de grande parte
das competências profissionais: compreender o significado social da profissão e
de seu desenvolvimento sócio histórico, identificar as demandas presentes na
sociedade, realizar pesquisas que subsidiem a formulação de políticas e ações
profissionais, realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres
sobre matéria de Serviço Social, identificar recursos. Essas competências
referem-se diretamente ao ato de investigar, de modo que, de postura a ser
construída pela via da formação e capacitação profissional permanente (cuja
importância é inquestionável), a investigação para o Serviço Social ganha o
estatuto de elemento constitutivo da própria intervenção profissional.
O assistente social lida com essas múltiplas expressões das relações sociais
da vida cotidiana, o que permite dispor de um acervo privilegiado de dados e

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informações sobre as várias formas de manifestação das desigualdades e da


exclusão social em sua vivência pelos sujeitos, de modo que a ele é facultado
conhecer a realidade de maneira direta: a partir da sua intervenção na realidade,
das investigações que realiza, visando responder a esta realidade. Mas é possível
também conhecer através das experiências indiretas, através do que já foi
produzido por outras pesquisas e/ou teoricamente. Também aqui, para o
assistente social, se exige um investimento na investigação, posto que, ao testar
o conhecimento derivado indiretamente, tem-se como resultado uma avaliação
sobre o mesmo.

Quando realizamos entrevistas, estamos exercitando a dimensão


investigativa da profissão, por meio de informações extraídas diretamente da
realidade, mas a sua preparação, em grande medida, dependeu de
conhecimentos indiretos sobre vários temas que nos habilitaram a realizá-la.
Na realização de estudo social, laudos, pareceres, buscamos
informações nos documentos da instituição, na vizinhança e/ou no trabalho sobre
algum sujeito social. Estes são momentos nos quais estamos exercitando nossa
dimensão investigativa.
O conhecimento indireto é aquele obtido na bibliografia, nas pesquisas já
existentes sobre o objeto. Este conhecimento é uma mediação que se interpõe
entre o sujeito e a realidade a ser conhecida. Ele é testado: validado ou não na
realidade.
Daí que a postura investigativa do profissional se explicita na realização das
suas competências como um todo: nas fases de planejamento, implementação,
avaliação e revisão crítica do processo. A dimensão investigativa está
intrinsecamente relacionada com a dimensão interventiva, e a qualidade de uma
implica a plena realização da outra.

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2.4- Rumo à consolidação da maioridade acadêmica e profissional

No Brasil, como resultado da pesquisa científica e do seu reconhecimento


pelas agências de fomento como área de produção do conhecimento, desde o
final dos anos 1980, temos uma produção científica e bibliográfica própria,
expandida cada vez mais para outros países da América Latina, por eles
reconhecida não apenas pela sua qualidade, mas pelo seu vetor radicalmente
crítico da ordem social, que vem estabelecendo diálogo com importantes teóricos
e intelectuais do país e fora dele. Se foi a recorrência às Ciências Sociais e à
tradição marxista que possibilitou os avanços da pesquisa e da produção do
conhecimento na área, coube a essa última fertilizar todas as polêmicas
relevante: das questões pertinentes à natureza e significado da profissão e de
suas técnicas, às questões sobre o Estado, o significado das políticas sociais, o
papel dos movimentos sociais e sua organização, os processos de efetivação da
democracia e da cidadania (entre outros). Além disso, a recorrência ao referencial
marxista contribui com a própria valorização da pesquisa para a profissão (seus
influxos são claros no atual projeto de formação profissional), credenciando seus
intelectuais como interlocutores qualificados, cuja contribuição se espraia para
várias áreas de conhecimento.
Ao longo de pouco mais de 20 anos de existência, a pesquisa no Serviço
Social vem enfrentando dificuldades de monta, as quais fogem aos objetivos
deste artigo. Não obstante, vemos que ela detém todas as possibilidades que a
habilitam a alcançar sua maturidade intelectual, já que seu debate vem sendo
balizado por dois princípios que lhe dão a direção: rigor teórico-metodológico e
pluralismo.

Registra-se, também, que, na sua trajetória, o exercício sistemático da


pesquisa científica expresso nas produções mais significativas da área e o seu
reconhecimento pela comunidade acadêmica e profissional têm demonstrado a
atualidade e fecundidade da tradição marxista na apreensão das transformações
em curso. Disto deriva algo extremamente relevante que nem sempre se

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evidencia no debate da categoria: se não se separa referencial teórico-analítico


de estratégias sociopolíticas e profissionais, a legitimidade da direção estratégica
é inquestionável, posto que a recorrência da nossa e de outras categorias
profissionais pelas análises macroscópicas e totalizadoras oriundas do
referencial marxiano, é notável.
Temos visto que a pesquisa crítica e criativa faculta-nos enriquecer os
elementos da cultura profissional: princípios, valores, objetivos, referencial
teórico-metodológico, racionalidades, instrumental técnico-operativo, estratégias
e posturas, com novas determinações. Aqui se coloca um dos desafios da
formação profissional: criar uma cultura profissional que valorize a dimensão
investigativa.
Quanto às exigências imediatas, a pesquisa do mercado de trabalho
permite a análise crítica sobre os espaços sócio ocupacionais do assistente social,
sobre as demandas liberais/conservadoras que lhe chegam, sobre as
competências e respostas profissionais, visando a construção de maneiras
alternativas de responder a elas.
Aqui se coloca a dimensão investigativa: ela é a dimensão do novo –
questiona, problematiza, testa as hipóteses, permite revê-las, mexe com os
preconceitos, estereótipos, crenças, superstições, supera a mera aparência, por
questionar a “positividade do real”. Permite construir novas posturas visando a
uma instrumentalidade de novo tipo: mais qualificada, o que equivale a dizer:
eficiente e eficaz, competente e compromissada com os princípios da profissão.
Se nosso objetivo foi alcançado, fica claro que a pesquisa possibilita
desenvolver competências profissionais em três níveis.
No âmbito das nossas competências teórico-metodológicas, através da
pesquisa sólida e rigorosa, desenvolve-se a capacidade de o assistente social
compreender seu papel profissional no contexto das relações sociais, como foi
dito, numa perspectiva de totalidade social.
No âmbito das nossas competências políticas, a pesquisa permite que se
apreenda a sociedade como um espaço de contradições, os interesses sociais e
econômicos subjacentes aos projetos societários, partidários e profissionais. Ela
indica os protagonistas da cena política, suas articulações e alianças e possibilita

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identificar aliados. Do mesmo modo, permite compreender o significado social e


político das demandas e respostas profissionais. E não nos permite descuidar do
estabelecimento de estratégias sociopolíticas e profissionais.
Por fim, mas não menos importante, no nível das competências técnico-
operativas, a pesquisa desenvolve nossa capacidade de investigar as instituições,
seus usuários, as demandas profissionais, os recursos institucionais, as agências
financiadoras, o orçamento. Permite preparar respostas qualificadas às
demandas institucionais, organizacionais ou dos movimentos sociais,
vislumbradas no projeto de intervenção profissional. Pela via da pesquisa é
facultado ao profissional formular respostas que não apenas atendam às
demandas, mas que, compreendendo o conteúdo político delas e o contemplando,
ele possa reconstruí-las criticamente.

O resultado é a sua legitimidade junto às classes subalternizadas.


Aqui se colocam dois desafios à profissão:
1) investir na pesquisa qualificada que responda às requisições dos sujeitos
coletivos que demandam a profissão (e não apenas as do mercado de trabalho)
cujo resultado seja o investimento na organização de tais setores. Neste âmbito,
o assistente social pode buscar as mediações e/ou sistemas de mediações
capazes de desencadear possibilidades de acesso deles aos canais institucionais;
2) investir em uma política nacional de pesquisa socialmente
compromissada, que trate de aspectos relevantes para a sociedade brasileira,
especialmente para a classe trabalhadora e suas formas de organização.
Se o conhecimento crítico é um dos caminhos para a liberdade, autonomia,
competência e compromisso, não se compreende os novos cenários, não se
enfrenta a barbárie social, não se combate a ofensiva neoliberal, não se
estabelece alianças com a sociedade civil organizada, não se alcança novas
legitimidades profissionais, não se efetiva os princípios e valores do projeto
profissional, não se forma profissionais críticos e competentes, sem a pesquisa
científica.

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3-O Projeto de Pesquisa

3.1- O Que é Pesquisa?

Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que


tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A
pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para
responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra
em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao
problema. A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos conhecimentos
disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos
científicos. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que
envolve inúmeras fases, desde a adequada formulação do problema até a
satisfatória apresentação dos resultados.

3.2- Por que se faz Pesquisa?

Há muitas razões que determinam a realização de uma pesquisa. Podem,


no entanto, ser classificadas em dois grandes grupos: razões de ordem intelectual
e razões de ordem prática. As primeiras decorrem do desejo de conhecer pela
própria satisfação de conhecer. As últimas decorrem do desejo de conhecer com
vistas a fazer algo de maneira mais eficiente ou eficaz. Tem sido comum designar
as pesquisas decorrentes desses dois grupos de questões como "puras" e
"aplicadas" e discuti-las como se fossem mutuamente exclusivas. Essa postura é
inadequada, pois a ciência objetiva tanto o conhecimento em si mesmo quanto
as contribuições práticas decorrentes desse conhecimento.

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Uma pesquisa sobre problemas práticos pode conduzir à descoberta de


princípios científicos. Da mesma forma, uma pesquisa pura pode fornecer
conhecimentos passíveis de aplicação prática imediata.

3.3- O que é necessário para fazer pesquisa?

Qualidades pessoais do pesquisador


O êxito de uma pesquisa depende fundamentalmente de certas qualidades
intelectuais e sociais do pesquisador, entre as quais são:
a) conhecimento do assunto a ser pesquisado;
b) curiosidade;
c) criatividade;
d) integridade intelectual;
e) atitude autocorretiva;
f) sensibilidade social;
g) imaginação disciplinada;
h) perseverança e paciência;
i) confiança na experiência.

Recursos humanos, materiais e financeiros

É muito difundida a visão romântica de ciência que procura associar as


invenções e descobertas exclusivamente à genialidade do cientista. Não há como
deixar de considerar o papel capital das qualidades pessoais do pesquisador no
processo de criação científica, mas é também muito importante o papel
desempenhado pelos recursos de que dispõe o pesquisador no desenvolvimento
e na qualidade dos resultados da pesquisa. Ninguém duvida de que uma
organização com amplos recursos tem maior probabilidade de ser bem-sucedida
num empreendimento de pesquisa que outra cujos recursos sejam deficientes.
Por essa razão, qualquer empreendimento de pesquisa, para ser bem-sucedido,

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deverá levar em consideração o problema dos recursos disponíveis. O


pesquisador deve ter noção do tempo a ser utilizado na pesquisa e valorizá-lo em
termos pecuniários. Deve prover-se dos equipamentos e materiais necessários
ao desenvolvimento da pesquisa. Deve estar também atento aos gastos
decorrentes da remuneração dos serviços prestados por outras pessoas.
Em outras palavras, isso significa que qualquer empreendimento de
pesquisa deve considerar os recursos humanos, materiais e financeiros
necessários à sua efetivação. Para fazer frente a essas necessidades, o
pesquisador precisa elaborar um orçamento adequado. De certa forma, isso
implica atribuir ao pesquisador certas funções administrativas. Pode ser que isso
cause certo constrangimento a alguns pesquisadores. No entanto, a consideração
destes aspectos "extra científicos" é fundamental para que o trabalho de pesquisa
não sofra solução de continuidade.

3.4- Por que elaborar um projeto de Pesquisa?

Como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações


desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De
modo geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que
envolve a formulação do problema, a especificação de seus objetivos, a
construção de hipóteses, a operacionalização dos conceitos etc. Em virtude das
implicações extra científicas da pesquisa, consideradas na seção anterior, o
planejamento deve envolver também os aspectos referentes ao tempo a ser
despendido na pesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e
financeiros necessários à sua efetivação.
A moderna concepção de planejamento, apoiada na Teoria Geral dos
Sistemas, envolve quatro elementos necessários à sua compreensão: processo,
eficiência, prazos e metas. Assim, nessa concepção, o planejamento da pesquisa
pode ser definido como o processo sistematizado mediante o qual se pode conferir
maior eficiência à investigação para em determinado prazo alcançar o conjunto
das metas estabelecidas.

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O planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaboração de


um projeto, que é o documento explicitador das ações a serem desenvolvidas
ao longo do processo de pesquisa. O projeto deve, portanto, especificar os
objetivos da pesquisa, apresentar a justificativa de sua realização, definir a
modalidade de pesquisa e determinar os procedimentos de coleta e análise de
dados. Deve, ainda, esclarecer acerca do cronograma a ser seguido no
desenvolvimento da pesquisa e proporcionar a indicação dos recursos humanos,
financeiros e materiais necessários para assegurar o êxito da pesquisa.
O projeto interessa sobretudo ao pesquisador e a sua equipe, já que
apresenta o roteiro das ações a serem desenvolvidas ao longo da pesquisa.
Interessa também a muitos outros agentes. Para quem contrata os serviços de
pesquisa, o projeto constitui documento fundamental, posto que esclarece acerca
do que será pesquisado e apresenta a estimativa dos custos. Quando se espera
que determinada entidade financie uma pesquisa, o projeto é o documento
requerido, pois permite saber se o empreendimento se ajusta aos critérios por
ela definidos, ao mesmo tempo em que possibilita uma estimativa da relação
custo/benefício. Também se poderiam arrolar entre os interessados no projeto os
potenciais beneficiários de seus efeitos e os pesquisadores da mesma área.
Alguns pesquisadores possivelmente consideram que a elaboração de um
projeto, com relações minuciosas de resultados aferíveis e de atividades
correlatas específicas, poderá limitar a pesquisa, tornando-a um processo mais
mecanizado e menos criativo. Entretanto, a elaboração de um projeto é que
possibilita, em muitos casos, esquematizar os tipos de atividades e experiências
criativas.

3.5- Elementos de um Projeto de Pesquisa

Não há, evidentemente, regras fixas acerca da elaboração de um projeto.


Sua estrutura é determinada pelo tipo de problema a ser pesquisado e também
pelo estilo de seus autores. É necessário que o projeto esclareça como se

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processará a pesquisa, quais as etapas que serão desenvolvidas e quais os


recursos que devem ser alocados para atingir seus objetivos.
É necessário, também, que o projeto seja suficientemente detalhado para
proporcionar a avaliação do processo de pesquisa.

Os elementos habitualmente requeridos num projeto são os


seguintes:

a) formulação do problema;
b) construção de hipóteses ou especificação dos objetivos;
c) identificação do tipo de pesquisa;
d) operacionalização das variáveis;
e) seleção da amostra;
f) elaboração dos instrumentos e determinação da estratégia de coleta de dados;
g) determinação do plano de análise dos dados;
h) previsão da forma de apresentação dos resultados;
i) cronograma da execução da pesquisa;
j) definição dos recursos humanos, materiais e financeiros a serem alocados.
A elaboração de um projeto depende de inúmeros fatores; o primeiro e
mais importante deles refere-se à natureza do problema. Por exemplo, para uma
pesquisa que tem por objetivo verificar intenções de voto em determinado
momento, a elaboração do projeto é bastante simples. Nesse caso, é possível
determinar com bastante precisão as ações que se farão necessárias, bem como
seus custos. Já para uma pesquisa que visa conhecer os fatores que determinam
os níveis de participação política de uma população, a elaboração do projeto
constitui algo bastante complexo, tornando-se muito difícil determinar com
precisão os procedimentos que serão adotados para a obtenção de respostas
significativas. É previsível, nesse caso, que de imediato não seja possível elaborar
um projeto. Talvez se possa definir um plano bastante amplo, ou um anteprojeto,

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que deverá passar por alterações significativas até chegar à elaboração definitiva
do projeto.
Rigorosamente, um projeto só pode ser definitivamente elaborado quando
se tem o problema claramente formulado, os objetivos bem determinados, assim
como o plano de coleta e análise dos dados.
Como já foi lembrado, a elaboração de um projeto é feita mediante a
consideração das etapas necessárias ao desenvolvimento da pesquisa. Para
facilitar o acompanhamento das ações correspondentes a cada uma dessas
etapas, é usual a apresentação do fluxo da pesquisa sob a forma de diagrama,
conforme a Figura 1.1.
É conveniente lembrar que a ordem dessas etapas não é absolutamente
rígida. Em muitos casos, é possível simplificá-la ou modificá-la. Essa é uma
decisão que cabe ao pesquisador, que poderá adaptar o esquema às situações
específicas.

Figura 1.1 – Diagramação da Pesquisa.

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4- A Pesquisa Qualitativa e Quantitativa.

4.1- Diferenciações entre a Pesquisa Qualitativa e a Pesquisa Quantitativa

Ao revisar a literatura sobre a pesquisa qualitativa, o que chama atenção


imediata é o fato de que, frequentemente, a pesquisa qualitativa não está sendo
definida por si só, mas em contraponto a pesquisa quantitativa.
Apresentaremos alguns destes contrastes e comparações. Para organizar
as diferenças e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa, consideramos:
a) características da pesquisa qualitativa;
b) postura do pesquisador;
c) estratégias de coleta de dados;
d) estudo de caso;
e) papel do sujeito e
f) aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa.

Características da pesquisa qualitativa

A clássica afirmação de Dilthey “explicamos a natureza, compreendemos a


vida mental” (citado por Hofstätter, 1957, p. 315) pode ser vista como o ponto
de partida para as diferenças entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa.
A primazia do “compreender a vida mental” reaparece em todas as
discussões sobre a natureza da pesquisa qualitativa. Qual, então, a natureza

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da pesquisa qualitativa? Quais alguns dos pressupostos desta


abordagem?
Flick, von Kardorff e Steinke (2000), apresentam quatro bases
teóricas:
a) a realidade social é vista como construção e atribuição social de significados;
b) a ênfase no caráter processual e na reflexão;
c) as condições “objetivas” de vida tornam-se relevantes por meio de significados
subjetivos;
d) o caráter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo
de construção das realidades sociais torne-se ponto de partida da pesquisa.
Subsequentemente, estes autores “traduzem” estas bases teóricas em 12
características da pesquisa qualitativa. Mayring (2002), por outro lado, apresenta
13 alicerces da pesquisa qualitativa.

Agregando estes dois conjuntos, chegamos a cinco grupos de atributos da


pesquisa qualitativa:
a) características gerais;
b) coleta de dados;
c) objeto de estudo;
d) interpretação dos resultados;
e) generalização.

Características gerais

Seguindo o pensamento de Dilthey citado acima, Flick e cols. (2000)


apontam a primazia da compreensão como princípio do conhecimento, que
prefere estudar relações complexas ao invés de explicá-las por meio do
isolamento de variáveis. Uma segunda característica geral é a construção da
realidade. A pesquisa é percebida como um ato subjetivo de construção. Os

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autores afirmam que a descoberta e a construção de teorias são objetos de


estudo desta abordagem.
Um quarto aspecto geral da pesquisa qualitativa, conforme estes autores,
é que apesar da crescente importância de material visual, a pesquisa qualitativa
é uma ciência baseada em textos, ou seja, a coleta de dados produz textos que
nas diferentes técnicas analíticas são interpretados hermeneuticamente.
Cabe alertar ao leitor que a primeira destas quatro características pode ser
considerada um contraponto artificial.
Dificilmente um pesquisador adjetivado como quantitativo exclui o
interesse em compreender as relações complexas. O que tal pesquisador defende
é que a maneira de chegar a tal compreensão é por meio de explicações ou
compreensões das relações entre variáveis. Segundo, sem dúvida, pode-se
conceber as múltiplas atividades que compõem o processo de pesquisa
como um ato social de construção de conhecimento. A questão não
respondida, porém é, “qual a correspondência entre o conhecimento socialmente
construído e a realidade alheia? ” – Supondo, obviamente, que ela exista
independentemente do pesquisador.
A descoberta e a construção de teorias simplesmente constituem o cerne
de qualquer ciência. Uma preferência por material textual é uma legitima opção
de procedimento, desde que não se contraponha aos princípios elencados no
próximo parágrafo.

Coleta de dados

Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) consideram o


estudo de caso como o ponto de partida ou elemento essencial da
pesquisa qualitativa. Em ambas as publicações se ressaltam o princípio da
abertura. Tal postura vai além da formulação de perguntas abertas. Nas palavras
de Mayring (p. 28), “nem estruturações teóricas e hipóteses, nem procedimentos
metodológicos devem impedir a visão de aspectos essenciais do objeto [de

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pesquisa]”. Ao mesmo tempo, enfatiza, que “apesar da abertura exigida, os


métodos são sujeitos a um controle contínuo (...) Os passos da pesquisa
precisam ser explicitados, ser documentados e seguir regras
fundamentadas” (p. 29). O princípio da abertura se traduz para Flick e cols.
(2000) no fato da pesquisa qualitativa ser caracterizada por um espectro de
métodos e técnicas, adaptados ao caso específico, ao invés de um método
padronizado único. Ressaltam, assim, que o método deve se adequar ao objeto
de estudo. Pode-se argumentar que não somente o controle
metodológico, mas também as demais características mencionadas
acima, aplicam-se a qualquer tipo de pesquisa.
A questão subjacente que se coloca é a seguinte: a partir de que
momento do processo de pesquisa vai-se de um caso específico,
deixando-se portas abertas para agregar dados não esperados, não se
restringindo a um único método padronizado?
Ao conceber o processo de pesquisa como um mosaico que descreve um
fenômeno complexo a ser compreendido é fácil entender que as peças individuais
representem um espectro de métodos e técnicas, que precisam estar abertas a
novas ideias, perguntas e dados. Ao mesmo tempo, a diversidade nas peças deste
mosaico inclui perguntas fechadas e abertas, implica em passos predeterminados
e abertos, utiliza procedimentos qualitativos e quantitativos.

Objeto de estudo

Para Mayring (2002) a ênfase na totalidade do indivíduo como objeto de


estudo é essencial para a pesquisa qualitativa, isto é, o princípio da Gestalt. Além
do mais, a concepção do objeto de estudo qualitativo sempre é visto na sua
historicidade, no que diz respeito ao processo desenvolvimental do indivíduo e no
contexto dentro do qual o indivíduo se formou.
Tanto Mayring quanto Flick e cols. (2000) sublinham que o ponto de partida
de um estudo seja centrado num problema, pois a diferenciação entre pesquisa

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básica e aplicada não é frutífera. Flick e cols. salientam, ainda, que as


perspectivas de todos os participantes da pesquisa são relevantes e não apenas
a do pesquisador. A questão do objeto de estudo na pesquisa qualitativa nos leva
de volta às controvérsias entre a posição da Gestalt e dos experimentalistas. A
afirmação “o todo é maior do que a soma das suas partes” não significa que não
possa ser conveniente, concentrar-se “apenas” numa parte do processo da
pesquisa.

Interpretação dos resultados

Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) apontam acontecimentos


e conhecimentos cotidianos como elementos da interpretação de dados.
Os acontecimentos no âmbito do processo de pesquisa não são
desvinculados da vida fora do mesmo. Isto leva, ainda, a contextualidade como
fio condutor de qualquer análise em contraste com uma abstração nos resultados
para que sejam facilmente generalizáveis. Implica, ainda, num processo de
reflexão contínua sobre o seu comportamento enquanto pesquisador e,
finalmente, numa interação dinâmica entre este e seu objeto de estudo. Uma
distinção mais acentuada entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa
diz respeito à interação dinâmica entre o pesquisador e o objeto de estudo. No
caso da pesquisa quantitativa, dificilmente se escuta o participante após a coleta
de dados. Uma inclusão de acontecimentos e conhecimentos cotidianos na
interpretação de dados depende, no caso da pesquisa quantitativa, da audiência
e do meio de divulgação. Ao mesmo tempo em que um nível maior de abstração
pode impedir a inclusão do cotidiano, qualquer passo na direção de uma aplicação
de resultados necessariamente inclui o dia-a-dia. O mesmo se aplica para a
questão do contexto. A reflexão contínua, obviamente, não é específica da
pesquisa qualitativa; deve acontecer em qualquer pesquisa científica.

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Generalização de resultados

A generalização de resultados da pesquisa qualitativa passa por quatro


dimensões. Mayring (2002) introduz o conceito da generalização
argumentativa. À medida que os achados na pesquisa qualitativa se apoiem em
estudo de caso, estes dependem de uma argumentação explícita apontando quais
generalizações seriam factíveis para circunstâncias específicas.
No caso da pesquisa quantitativa, uma amostra representativa asseguraria
a possibilidade de uma generalização dos resultados. Relaciona-se a isto a ênfase
no processo indutivo, partindo de elementos individuais para chegar a hipóteses
e generalizações. Entretanto, este processo deve seguir regras, que não são
uniformes, mas específicas a cada circunstância. Desta maneira, é de suma
importância que as regras sejam explicitadas para permitir uma eventual
generalização. Finalmente, Mayring não exclui a quantificação, mas enfatiza que
a função importante da abordagem qualitativa é a de permitir uma quantificação
com propósito. Desta maneira, poder-se-ia chegar a generalizações mais
consubstanciadas.

Postura pessoal do pesquisador

Uma primeira distinção entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa


quantitativa refere-se ao fato de que na pesquisa qualitativa há aceitação
explícita da influência de crenças e valores sobre a teoria, sobre a escolha de
tópicos de pesquisa, sobre o método e sobre a interpretação de resultados. Já na
pesquisa quantitativa, crenças e valores pessoais não são consideradas fontes de
influência no processo científicas.

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Será mesmo? Considerando que um tema importante da psicologia social


é o estudo de atitudes, crenças e valores, a questão não é se valores influenciam
comportamentos e estados subjetivos, inclusive os valores do cientista. O que se
coloca é como lidar com esta influência no contexto da pesquisa – seja ela
qualitativa ou quantitativa. Além da influência de valores no processo de
pesquisa, há de se constatar um envolvimento emocional do pesquisador com o
seu tema de investigação. A aceitação de tal envolvimento caracterizaria a
pesquisa qualitativa. Já a intenção de controlá-lo, ou sua negação,
caracterizariam a pesquisa quantitativa. Da mesma maneira que os valores fazem
parte da vida humana, o estudo das emoções é assunto importante da psicologia
clínica e da personalidade, razão pela qual, mais uma vez, volta-se à questão
mais relevante: como lidar com esta influência no contexto da pesquisa?

Estratégias de coleta de dados

Uma resposta ao problema de como lidar com os valores e o envolvimento


emocional do pesquisador com o seu objeto é por meio do controle das variáveis
do estudo. O contraponto feito entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa é o de estudar um determinado fenômeno no seu contexto natural
versus estudá-lo no laboratório.

A primeira estratégia – da pesquisa qualitativa – implica em relativa


falta de controle de variáveis estranhas ou, ainda, a constatação de que não
existem variáveis interferentes e irrelevantes. Todas as variáveis do contexto são
consideradas como importantes.
Na segunda estratégia – da pesquisa quantitativa – tenta-se obter
um controle máximo sobre o contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais
com o objetivo de reduzir ou eliminar a interferência de variáveis interferentes e
irrelevantes.

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Entre as variáveis irrelevantes e potencialmente interferentes, incluem-se


tanto atributos do pesquisador, por exemplo, seus valores, quanto variáveis
contextuais ou atributos do objeto de estudo que “não interessam” naquele
momento da pesquisa. Antes de tudo, consideramos essa classificação de
variáveis em relevantes e interferentes uma questão estratégica no processo de
pesquisa. Em princípio, qualquer variável pode explicar uma parte, mesmo que
infinitésima, da variabilidade do fenômeno sob estudo. Entretanto, existem
variáveis que por razões teóricos e/ou de experiência prévia são mais
promissoras do que outras. Além do mais, por razões práticas, há de se limitar
as variáveis estudadas num mesmo tempo a um número manejável, seja em
termos de recursos – de tempo e dinheiro – por parte do pesquisador, seja da
disponibilidade dos participantes da pesquisa. Desta maneira, limitar o número
de variáveis estudadas numa determinada pesquisa não implica que as demais
variáveis sejam necessariamente consideradas improcedentes – uma boa
pesquisa sempre está aberta ao surgimento de novas variáveis e a
explicações alternativas do cenário considerado no início da
investigação.
O fato de se levar em conta mais explicitamente os valores e os demais
atributos do pesquisador requerem, por parte da pesquisa qualitativa, maior
detalhamento dos pressupostos teóricos subjacentes, bem como do contexto da
pesquisa. Por outro lado, a estandardização dos procedimentos na pesquisa
quantitativa pode indicar avanço no estabelecimento de um maior grau de
intersubjetividade entre pesquisadores que usam um determinado procedimento.

Estudo de caso

O chamado paradoxo da psicologia coloca em confronto o estudo


aprofundado de um evento individual, objeto de interesse da Psicologia por
excelência com a necessidade do estabelecimento de parâmetros para os

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atributos destes eventos. Por exemplo, médias constituem parâmetros para


descrever eventos individuais, mas, tais parâmetros são obtidos somente em
estudos que ignoram a individualidade dos eventos. Assim, ao descrever a
individualidade de uma pessoa como agradável, está implícita a resposta à
pergunta “em termos de que referencial? ” Este referencial pode ser qualitativo:
“mais agradável do que fulano” ou pode ser quantitativo: “sete pontos numa
escala de 0 a 10”. Seja como for, tais parâmetros referenciais somente são
obtidos por meio de investigações mais complexas do que de estudos de
caso. Observa-se, assim, que abordagens qualitativas, que tendem a serem
associadas a estudos de caso, dependem de estudos quantitativos, que visem
gerar resultados generalizáveis, isto é, parâmetros. Desta maneira dilui-se a
controvérsia entre o estudo de caso, isto é, uma investigação aprofundada de
uma instância de algum fenômeno, e o estudo envolvendo um número
estatisticamente significativo de instâncias de um mesmo fenômeno, a partir do
qual seria possível generalizar para outras instâncias. Além do mais, num
estudo de caso é possível utilizar tanto procedimentos qualitativos
quanto quantitativos. Papel do sujeito mencionou-se, acima, a questão do
envolvimento emocional e valorativo do pesquisador com a temática do seu
estudo. Deve-se indagar, também, sobre o grau de passividade dos participantes
de uma pesquisa.
Até que ponto os sujeitos de um estudo são envolvidos na
concepção, realização e interpretação de resultados de uma pesquisa?
A associação feita é de que um participante ativo supõe uma pesquisa
qualitativa, já um participante passivo, é “sujeito” de uma pesquisa quantitativa.
Embora a pesquisa-ação seja uma abordagem que permite um papel mais ativo
do participante, há de se ressaltar que no desenvolvimento original da pesquisa-
ação por parte de Lewin (1982), qualquer abordagem – observacional,
experimental, survey, qualitativa, quantitativa – poderia ser utilizada, como
demonstrado por Sommer e Amick (1984/2003).

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Aplicabilidade e uso da pesquisa

Existe uma longa controvérsia sobre o valor relativo da natureza da ciência


básica versus aplicada. A argumentação compreende desde “pesquisa sem
aplicação é um desperdício” até “gerar conhecimento é um fim em si, qualquer
utilidade é secundária” (Günther, 1986). Por alguma razão pouco clara, a posição
da primazia da pesquisa aplicada é associada à pesquisa qualitativa e da
pesquisa básica à pesquisa quantitativa. Esta associação pode estar
relacionada ao processo de “tradução” da questão inicialmente qualitativa em
estratégias de coleta de dados quantitativos e à (re) tradução dos resultados
quantitativos para uma resposta qualitativa. Subjacente à discussão em torno da
pesquisa básica versus pesquisa aplicada está a questão da finalidade do
conhecimento. Uma postura ativista, conforme a qual a finalidade da ciência
seria a de ajudar as pessoas (participantes da pesquisa) a obter
autodeterminação seria mais característica da pesquisa qualitativa. Por outro
lado, a ciência que “somente” contribui para com o avanço do conhecimento
aplicável a todas as pessoas – podendo ou não manter o status quo – seria
postulado pela pesquisa quantitativa. Não surpreende que essa associação seja
mais contestada pelos cientistas naturais, vide, por exemplo, a palestra do físico
Res Jost (1970/1995) sobre o conto de fada da torre de marfim. Sem dúvida, o
próprio fato de existirem estas associações indica que pesquisas, de qualquer
natureza, não são atividades desvinculadas das características do pesquisador,
nem do contexto sociocultural dentro do qual são realizadas. Por outro lado,
temos sérias dúvidas quanto à procedência das respectivas associações com a
pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. A postura do pesquisador diante
do seu objeto de estudo pode levar a estratégias de pesquisa diferentes, mas não
significa que um, ou outro, atribua maior valor ao contexto sociocultural da
pesquisa. O ato de se abordar indivíduos para que participem em pesquisa
demonstra o reconhecimento da sua expertise. Da mesma maneira que é difícil

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defender a participação de todos os participantes de uma pesquisa em todas as


fases da mesma (por exemplo, crianças de cinco anos sendo observadas num
playground), o pesquisador deve solicitar e utilizar os comentários dos seus
sujeitos sobre a sua pesquisa.
O fato de considerar a distinção entre pesquisa aplicada versus básica
pouca vantajosa no contexto do avanço do conhecimento, torna uma eventual
associação destas duas vertentes a pesquisa qualitativa e a pesquisa
quantitativa, respectivamente, ainda menos relevante. Em resumo, os pontos
listados acima constituem (devem constituir) preocupações de qualquer
pesquisador.

4.2- A Pesquisa Qualitativa

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis.
Não existe um "continuum" entre "qualitativo-quantitativo", em que o
primeiro termo seria o lugar da "intuição", da "exploração" e do "subjetivismo";
e o segundo representaria o espaço do científico, porque traduzido
"objetivamente" e em "dados matemáticos".
A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto
cientistas sociais que trabalham com estatística apreendem dos fenômenos
apenas a região "visível, ecológica, morfológica e concreta", a abordagem
qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações

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humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e


estatísticas.
O conjunto de dados quantitativos e qualitativos, porém, não se opõem. Ao
contrário, se complementam, pois, a realidade abrangida por eles interage
dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia.
Essas afirmações aqui colocadas, no entanto, não são pacíficas. Elas
correspondem a uma postura teórica e se opõem a outras correntes de
pensamento como, por exemplo, a positivista.
A principal influência do Positivismo nas ciências sociais foi a utilização dos
termos de tipo matemático para a compreensão da realidade. Sua consequência
é a apropriação da linguagem de variáveis para especificar atributos e qualidades
do objeto de investigação.

Os fundamentos da pesquisa quantitativa nas ciências sociais são os


próprios princípios clássicos utilizados nas ciências da natureza:
a) o mundo social opera de acordo com leis causais;
b) o alicerce da ciência é a observação sensorial;
c) a realidade consiste em estruturas e instituições identificáveis enquanto dados
brutos por um lado e crenças e valores por outro. Estas duas ordens se
correlacionam para fornecer generalizações e regularidades;
d) o que é real são os dados brutos; valores e crenças são dados subjetivos que
só podem ser compreendidos através dos primeiros.
No cerne da defesa do método quantitativo enquanto suficiente para
explicarmos a realidade social está a questão da objetividade. Para os
positivistas, a análise social seria objetiva se fosse realizada por instrumentos
padronizados, pretensamente neutros. A linguagem das variáveis ofereceria a
possibilidade de expressar generalizações com precisão e objetividade. Os
positivistas atribuem à imaturidade das ciências sociais sua incapacidade de
prever e determinar a ação humana. Em oposição ao Positivismo, a
Sociologia Compreensiva responde de forma diferente à questão sobre o

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qualitativo. Essa corrente teórica, como o próprio nome indica, coloca como tarefa
central das ciências sociais a compreensão da realidade humana vivida
socialmente. Em suas diferentes manifestações, como na Fenomenologia, na
Etnometodologia, no Interacionismo Simbólico, o significado é o conceito central
de investigação.
Num embate frontal com o Positivismo, a Sociologia Compreensiva propõe
a subjetividade como o fundamento do sentido da vida social e defende-a como
constitutiva do social e inerente à construção da objetividade nas ciências sociais.
Os autores que seguem tal corrente não se preocupam em quantificar, mas,
sim, em compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez,
são depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a
vivência, com a experiência, com a cotidianeidade e também com a compreensão
das estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada. Ou
seja, desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis.
Várias críticas têm sido feitas às teorias acima colocadas. Ao Positivismo se
lhe contesta, sobretudo, a postura e a prática de restringir o conhecimento da
realidade social ao que pode ser observado e quantificado e de transferir para a
utilização do método a questão da objetividade. Aos adeptos da Sociologia
Compreensiva as críticas enfatizam o empirismo e o subjetivismo dos
investigadores que confundem o que percebem e a fala que ouvem com a verdade
científica e o envolvimento emocional do pesquisador com seu campo de trabalho.

A abordagem da Dialética faria um desempate nas correntes colocadas


anteriormente. Ela se propõe a abarcar o sistema de relações que constrói, o
modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações
sociais que traduzem o mundo dos significados.
A Dialética pensa a relação da quantidade como uma das qualidades
dos fatos e fenômenos. Busca encontrar, na parte, a compreensão e a
relação com o todo; e a interioridade e a exterioridade como
constitutivas dos fenômenos.

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Desta forma, considera que o fenômeno ou processo social tem que ser
entendido nas suas determinações e transformações dadas pelos sujeitos.
Compreende uma relação intrínseca de oposição e complementaridade entre o
mundo natural e social, entre o pensamento e a base material. Advoga também
a necessidade de se trabalhar com a complexidade, com a especificidade e com
as diferenciações que os problemas e/ou "objetos sociais" apresentam.

4.3- Pesquisa qualitativa – Resultado com base no conhecimento cognitivo

Segundo o Dicionário HOUAISS (2001) validade é definido como qualidade


e diferentes percepções serão agrupadas em três blocos:
1. Formulação (VALIDADE PRÉVIA)
2. Desenvolvimento (VALIDADE INTERNA)
3. Resultado (VALIDADE EXTERNA)
A pesquisa qualitativa tem caráter amplo e pormenorizado, compreensão
direta do que deve ser medido e também interpretativista. Ljungberg (2010)
conclui que a validade em pesquisas qualitativas está relacionada com a
responsabilidade no tratamento das informações obtidas e nas decisões do
pesquisador, envolvendo preocupação ética.
Hartmut (2006) apresenta uma lista de diversas perguntas que orientariam
a avaliação da validade interna de pesquisas qualitativas:
1. As perguntas da pesquisa estão claramente formuladas?
2. O delineamento da pesquisa é consistente com seu objetivo e com suas
perguntas?
3. Os paradigmas e os construtos analíticos foram bem explicados?
4. A posição teórica e as expectativas do pesquisador foram evidenciadas?
5. Adotaram-se regras explícitas nos procedimentos metodológicos e analíticos?
6. Os procedimentos metodológicos e analíticos estão bem documentados?
7. Os dados foram coletados em todos os contextos, tempos e pessoas sugeridos
pelo delineamento?

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8. O detalhamento da análise leva em conta resultados não esperados e


contrários aos esperados?
9. A discussão dos resultados leva em conta possíveis alternativas de
interpretação?
10. Os resultados são congruentes com as expectativas teóricas?
11. Explicitou-se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada em outros
contextos?
12. Os resultados são acessíveis para a comunidade acadêmica e para os
usuários no campo?
13. Os resultados estimulam ações – básicas e aplicadas- futuras?
Na formulação dos registros de pesquisas, apoiado na teoria de GUNTHER
(2006) usa-se a triangulação (formulação + desenvolvimento +
resultado), pois auxiliam nas abordagens múltiplas a fim de evitar distorções
devido a um método, uma teoria ou um pesquisador, possibilitando inclusive o
acompanhamento de cada fase.
Ainda Lisa Guion (2002) define cinco tipos de triangulação:
1. Dados
2. Pesquisadores
3. Teorias
4. Metodologia
5. Ambiental
Há um segundo tipo:
1. Entrevista
2. Observação
3. Estudo de caso
4. Grupos focais

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Por que se faz pesquisa qualitativa?


1. Os pesquisadores estão interessados nas experiências, interações e documento
em seu contexto original;
2. Transformar as situações sociais em texto é uma preocupação central;
3. A pesquisa qualitativa se abstém de conceitos bem definidos que possam ser
testados. Os conceitos são desenvolvidos e refinados no processo da pesquisa;
4. A pesquisa qualitativa leva a sério o contexto;
5. Parte da ideia de que teoria e métodos devem se ajustar um ao outro;
6. Os pesquisadores são uma parte importante o processo de pesquisa.

Pesquisa qualitativa como discurso moral e como disciplina acadêmica


1. A pesquisa qualitativa envolve a busca de respostas para transformar o mundo.
2. Portanto, a pesquisa qualitativa é política, no sentido de que os pesquisadores
de certo modo, definem de que lado está.
3. Mas é também uma ferramenta da pesquisa social para entender o mundo e
produzir conhecimento sobre ele.

Perspectivas de pesquisa qualitativa


De uma maneira muito geral e introdutória, as perspectivas de pesquisa
qualitativa podem ser:
1. Abordagens dos pontos de vista subjetivos, como o Interacionismo simbólico
e a fenomenologia.
2. Descrição da formação das situações sociais, como a Etnometodologia e o
construcionismo.
3. Análise hermenêutica das estruturas subjacentes, como a psicanálise e o
estruturalismo.

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QUESTÕES DE PROVAS

1-(CESPE/STJ/2015). No que diz respeito a fundamentos, instrumentos


e técnicas de pesquisa social, julgue o item subsequente.
Na investigação social, a criatividade do pesquisador corresponde a sua
capacidade pessoal de análise e de síntese teórica, bem como a seu nível de
comprometimento com o objeto.
Certo / Errado
Gabarito: Certo
Comentários: Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática
exercida na abordagem da realidade. Ou seja, a metodologia inclui
simultaneamente a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de
operacionalização do conhecimento (as técnicas) e a criatividade do pesquisador
(sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade). A metodologia
ocupa lugar central no interior das teorias e está referida a elas. (MINAYO,
2007:14).

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2- (CESPE/MPOGP/2015). Em relação a fundamentos, instrumentos e


técnicas de pesquisa social, julgue o item subsecutivo.
A coleta de dados, para uma avaliação de processo, deve ser realizada por meio
de abordagens qualitativas, nas quais se incluem técnicas como grupos focais e
observações, além da possibilidade de se incluir abordagens quantitativas, como
inquéritos sobre aceitabilidade e percepção sobre necessidades e serviços.
Certo / Errado
Gabarito: Certo
Comentários: Em geral, os pesquisadores consideram que os indicadores
constituem parâmetros quantificados ou qualitativos que servem para detalhar
se os objetivos de uma proposta estão sendo bem conduzidos (avaliação de
processo) ou foram alcançados (avaliação de resultados). Fonte: Maria Cecília de
Souza Minayo. Indicadores de Avaliação para Mudança, 2009.

3- (CESPE/MPOG2015) . Em relação a fundamentos, instrumentos e


técnicas de pesquisa social, julgue o item subsecutivo.
O reconhecimento da singularidade do sujeito constitui um dos pressupostos que
fundamentam o uso de metodologias qualitativas de pesquisa.
Certo / Errado
Gabarito: Certo
Comentários: "A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela
se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis". (Minayo, 2001). Dessa forma, a pesquisa
qualitativa: traz à tona o que os participantes pensam a respeito do que está
sendo pesquisado. Possibilita, em maior nível de profundidade, o entendimento
das particularidades do comportamento do indivíduo, reconhecendo a
singularidade do sujeito.

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4- (FCC/SABESP/2014). O conhecimento da realidade social tem


importância fundamental na prática do assistente social. Em uma
situação de apreensão dessa realidade, sobretudo, quando se necessita
da realização de um parecer profissional é importante considerar:
I. Uma abordagem que trabalhe com dados quantitativos e qualitativos, pois
ambos não são excludentes.
II. Que os dados devem representar conceitos e categorias, além de adotar
abordagens que respondam à necessidade de compreensão do conteúdo.
III. A complexidade da vida em sociedade e o acelerado processo de
transformação exigem atualmente a superação de posturas reducionistas em
termos técnicos e operacionais.
Está correto o que se afirma em
a- I, apenas.
b- II, apenas.
c- I e II, apenas.
d- II e III, apenas.
e- I, II e III.
Gabarito: Letra E

5- (FCC/TRT5ª Região/ 2013). A ação investigativa própria do trabalho


do Assistente Social deve pautar-se por
a- voltar totalmente ao senso comum, pois o intelectualismo fundamentado na
metodologia científica não permite avançar no conhecimento.
b- usar, para o caso da pesquisa social, apenas dados da realidade atual, pois o
passado pode impedir os processos de transformação da realidade atual.
c- atrelar as responsabilidades de pesquisador e intelectual ao futuro, sobretudo
às contradições que o autor reconhece como tumultos.
d- participar ativamente da realidade social e atentar para os dilemas que
atingem a coletividade, buscando um processo permanente de renovação.
e- manter vigilante sobretudo à história das políticas sociais, pois estas permitem
reconstruir as histórias individuais dos sujeitos atendidos nos serviços sociais.
Gabarito: Letra D

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6- (FCC/TRF2ªREGIÃO/2012). Na área social utilizam-se, com


frequência, a pesquisa qualitativa. Dentre as possibilidades de escolha
metodológica, encontram-se o “estudo de caso”, a respeito do qual é
correto afirmar:
a- Essa escolha metodológica é a-teórica porque se baseia em interpretações do
senso comum e suas conclusões não figuram no campo das ciências.
b- Deve ser rejeitado como instrumento de investigação, pois sua base teórica
é imprecisa e, em função da tendência de tratar com superficialidade os
fenômenos históricos, não são frequentemente utilizados nos grandes institutos
de pesquisa.
c- Só pode congregar o ponto de vista do pesquisador e, com isso, não dispõe
de senso de completude.
d- É definido como estratégia de pesquisa que envolve uma investigação
empírica de um fenômeno particular, de um contexto da vida real, usando
múltiplos métodos de coleta de dados.
Gabarito: Letra D

7- (FUNCAB-S01/SEDES- TO/2014). A pesquisa faz parte do processo de


trabalho do assistente social. Dentre suas várias etapas, a definição do
objeto de pesquisa pode ser a mais difícil, porém, a razão de existência
do projeto. Na definição do problema há de se considerar que o problema
social:
A) é um dado, logo, um problema científico.
B) se configura em um objeto de pesquisa, por si só.
C) não é o mesmo que um problema científico.
D) é sinônimo de objeto de pesquisa.
Gabarito: letra C

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8- (FUNCAB-S06/CÂMARA MUNICIPAL-ES/2014). O campo de produção


e de pesquisa do Serviço Social se configura como produtor de um
conhecimento contra hegemônico, pois que:
A) as discussões contidas nas produções teóricas do Serviço Social são diferentes
e divergentes das relacionadas ao campo das chamadas “Ciências Duras”, que
estão sintonizadas com as tendências pós-modernas.
B) a essência dos debates e das análises do Serviço Social se encontra subsidiada
no campo da tradição marxista hegemonicamente, enquanto que nas Ciências
Sociais tal perspectiva atravessa uma crise de paradigmas.
C) ele se guia pelas heterogeneidades, desigualdades e adquire o caráter de
conhecimento-movimento dirigido a um novo formato de relações e poderes e
dedica-se a desvendar os invisíveis, os sem voz, os sem teto, os sem-cidadania.
D) as pesquisas nele desenvolvidas analisam a prática profissional dos assistentes
sociais nos diversos espaços sócio ocupacionais e apontam uma tendência desta
à empiria, na medida que expressa uma preocupação com o campo do fazer
profissional.

Gabarito: Letra D

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9- (FUNCAB-S04/SEDES-T0/2014). Considerando a dimensão


investigativa da profissão, o processo de produção de conhecimento
através da realização da pesquisa, não se remete única e exclusivamente
ao universo acadêmico. Portanto, a atitude investigativa do assistente
social na sua prática profissional contribui para:
A) o exercício da capacidade intelectiva que desvenda os fenômenos sociais na
sua essência através de um olhar holístico, da totalidade, potencializando a
elaboração de um conjunto de respostas às demandas institucionais e dos
usuários.
B) o conhecimento real das demandas institucionais, dos usuários e dos
profissionais a partir de uma análise do papel que cada indivíduo possui na
sociedade, para que desta forma, se contribua para um movimento de
transformação da realidade.
C) a ultrapassagem do aparente, evidenciando a essência dos fenômenos nos
seus nexos e conexões subsidiada em uma referência teórico-metodológica que
possibilita a construção de estratégias para o exercício profissional de forma
crítica.
D) um processo de conscientização acerca do desvelamento da aparência dos
fenômenos sociais, partindo de sua capacidade analítica, crítica e propositiva que
permita a elaboração de conhecimentos e propostas que transforme não só a
realidade institucional, mas, sobretudo, a realidade social.

Gabarito: Letra C

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10- (FUNCAB/CAERD-RO/2013). A pesquisa, além de possibilitar uma


contribuição às diversas áreas do conhecimento, permite nos
conectarmos às demandas das classes trabalhadoras por meio de:
A) entrevistas.
B) escuta.
C) múltiplas mediações.
D) estudo social.
Gabarito: Letra C

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QUESTÕES DE PROVAS EBSERH

1-EBSERH/HU-UFG/AOCP/2015. Preencha as lacunas e assinale a alternativa


correta. Percebe-se no Serviço Social, nos últimos anos, uma valorização das
pesquisas _______________, dos estudos de casos, dos instrumentos e técnicas
de entrevistas, principalmente entrevistas semiestruturadas, da
_________________ e de discurso.

(A) exploratórias / análise de conteúdo


(B) quantitativas / análise quantitativa
(C) exploratórias / participação popular
(D) online / participação popular
(E) via telefone / análise de conteúdo

Gabarito: Letra A

2-EBSERH/HE-UFSCAR/AOCP/2015. A pesquisa nas ciências sociais pauta


seu trabalho na reflexão sobre
(A) o contexto conceitual, histórico e social .
(B) o cotidiano, o grupo e a comunidade.
(C) a teoria, os problemas e o sentido individual da vida.
(D) a pesquisa, o conceito e a aceitação.
(E) o conhecimento teórico do pesquisado, os objetivos e
os resultados.
Gabarito: Letra A

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3-EBSERH/HE-UFSCAR/AOCP/2015. Nas pesquisas sociais, pode ser


utilizado qual procedimento sistemático, que descreve a complexidade de
determinado problema, analisa a interação de certas variáveis, compreende e
classifica processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribui no processo
de mudança de determinado grupo e possibilita, em maior nível de profundidade,
o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos?

(A) O método quantitativo.


(B) O método indutivo.
(C) O método exploratório.
(D) O método bibliográfico.
(E) O método qualitativo.

Gabarito: letra E

4-EBSERH/HU-UFJF/AOCP/2015. Os conhecimentos que foram construídos


cientificamente sobre determinado assunto, por outros estudiosos que o
abordaram antes de nós e lançam luz sobre nossa pesquisa, são chamados

(A) proposições.
(B) conceitos.
(C) observações.
(D) teorias.
(E) hipóteses.

Gabarito: letra D

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5- EBSERH/HU-UFJF/AOCP/2015. Dentre os diversos conceitos envolvidos na


pesquisa, temos as proposições. Sobre elas, é INCORRETO afirmar que
(A) as proposições são declarações afirmativas.
(B) as proposições são hipóteses comprovadas sobre fenômenos.
(C) um conjunto de proposições faz uma teoria.
(D) as proposições que compõem uma teoria devem ser claras e inteligíveis.
(E) as proposições são afirmações provisórias ou uma solução colocado em
estudo.

Gabarito: Letra E

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6-EBSERH/HU-FURG/IBFC/2016. Batista (1999) nos coloca que temos


abordagens qualitativas para a realização de pesquisas e para a produção de
conhecimento. Considerando as colocações da autora, julgue os itens abaixo:
I. A abordagem calcada em técnicas quantitativas de pesquisa se caracteriza pela
adoção de uma estratégia de pesquisa modelada nas ciências naturais e baseada
em observações empíricas.
II. As pesquisas quantitativas são desenvolvidas por meio de metodologias como
história de vida, história oral e observação participante.
III. Os dados de uma pesquisa quantitativa se dão em um contexto fluente de
relações e são colhidos interativamente em um processo de ida e vinda e de
interação com os sujeitos.
IV. As pesquisas quantitativas utilizam experimentação, que é uma criação
artificial cuja operacionalização faz uso de uma lógica hipotético-dedutiva.
V. Nas pesquisas quantitativas os dados são vistos como coisas isoladas,
acontecimentos físicos captados em um instante de observação.
Podemos concluir que estão corretas:
a) I, IV e V
b) I, II e IV
c) I, II e III
d) III, IV e V
e) II, III e V

Gabarito: Letra a

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7- EBSERH/CHC-UFPR/IBFC/2015. SETUBAL (2011). Analisando a pesquisa


social em Serviço social somaria determinados aspectos negativos presentes na
pesquisa social em outras áreas do conhecimento e que comprometem a
produção de conhecimento na área específica do Serviço Social. Dentre tais
aspectos podemos citar:
a) As pesquisas sociais na atualidade não alcançam a cientificidade necessária
porque transitam entre utopia e realidade.
b) Grande parte das pesquisas sociais não possui o embasamento crítico dialético
pelo fato de não estarem respaldadas pela corrente teórica marxiana.
c) Há ausência de embasamento teórico que sustente os dados que são obtidos
por meio dos estudos empíricos, também conhecidos pela terminologia “ de
campo”.
d) Há muitas pesquisas que se voltam para elaboração do conhecimento apenas
como conhecimento, isto é, um conhecimento que vagueia pela realidade sem
contudo dar conta do concretismo da sua história.
e) Há muitas pesquisas, mas a grande totalidade delas não explora o caráter
interdisciplinar, fundamental a sustentação de uma análise crítica.

Gabarito: Letra d

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8- EBSERH/HU-UNIVASF/IBFC/2014. Martinelli (1999), ao discutir a


pesquisa qualitativa em serviço social, assevera que é basal a observação de
determinados pressupostos, dentre os quais:
I. Reconhecimento da singularidade do sujeito
II. Considerar o caráter inovador da pesquisa.
III. Apreender a pesquisa qualitativa e a quantitativa como métodos em oposição.
IV. Importância de se conhecer a experiência social do sujeito.
V. reconhecer o modo de vida do sujeito.
Referem-se aos pressupostos observados na pesquisa qualitativa apenas os
indicados nas afirmativas:
a) II, III e IV
b) I, II e III
c) II, III e V
d) I, IV e V
e) I, II e IV

Gabarito: Letra d

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9- EBSERH/HU-UFMA/IBFC/2013. “A pesquisa é um instrumento estratégico


na atuação profissional do Assistente Social, pois seu exercício busca desvendar
a realidade em análise”. Essa afirmação foi referenciada pelo profissional de
Serviço Social numa reunião de equipe na área da saúde hospitalar para
demonstrar a importância do exercício desse instrumento para benefício de uma
prática mais qualificada. O Assistente Social deve exercitar esse instrumento com
a) Um olhar rigoroso, crítico e atento.
b) Um olhar acrítico, pois o órgão empregador não permite ir além dos muros
institucionais
c) Um olhar flexível quanto ao rigor metodológico, porém atento.
d) Um olhar imediatista e atento.
e) Um olhar crítico somente nos indicadores que tratam de questões voltadas a
saúde.

Gabarito: Letra a

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10- EBSERH/MEAC-UFC-HUWC-UFC/AOCP/2014. Sobre os objetivos da


pesquisa, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta a (s) correta
(s).
I. Com a definição dos objetivos, você não responderá as questões “para que”?
E “para quem” a pesquisa será realizada?
I. Os objetivos devem exprimir com clareza, precisão e sem ambiguidades a
finalidade da pesquisa, o que se pretende alcançar com sua realização.
III. Você precisa definir os objetivos específicos, que dão conta da visão a
relaciona-se diretamente ao problema.
IV. Aponte também o objetivo geral, que se refere a questões secundárias.

(A) Apenas I.
(B) Apenas I, II e III.
(C) Apenas I, III e IV.
(D) Apenas I e III.
(E) Apenas I e IV.

Gabarito: Letra C

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GABARITO

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

CERTO CERTO CERTO E D D C D C C

GABARITO EBESERH

1A 2A 3E 4D 5E

6A 7D 8D 9A 10C

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BIBLIOGRAFIA

FRAGA, Cristina Kologeski. A atitude investigativa no trabalho do assistente


social. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 101, p. 40-64, jan./mar. 2010. Acesse:
http://bit.ly/1TWQZjG

GIL, Antônio Carlos, 1946- Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São
Paulo: Atlas, 2002. Acesse: http://bit.ly/1swwi8J

Guerra, Yolanda. A dimensão investigativa no exercício profissional. Acesse:


http://bit.ly/2d2NYWI

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e


criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001. Acesse: http://bit.ly/203CpLX

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Indicadores de Avaliação para Mudança, 2009.

SILVA, José Fernando Siqueira. SILVA, Maria Izabel. Pesquisa e Serviço Social:
contribuições à crítica. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 14, n. 2, p. 238 -
252, ago./dez. 2015. Acesse: http://bit.ly/1XyaS6C

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