Sei sulla pagina 1di 52
E RESPONDEREMOS As Tentagées de Jesus Criag&o ou Evolugaéo na Escola Publica? “Nao esta na Biblia!” “Grande Igreja. Grandes Negocios” (Eclésia) Carta ao Procurador Geral da Republica O Bem-aventurado Imperador Carlos | da Austria Por que as Torres de Nova York cairam? Fatima, Santuario de todas as religides? Eutanasia também para criangas “Anjos e DemGnios” (Dan Brown) Correspondéncia mitda A Histéria de Anouk PERGUNTE E RESPONDEREMOS FEVEREIRO 2005 Publicagao Mensal N°512 ——— ee Diretor _Responsavel SUMARIO Dom Estévio Bettencourt OSB As Tentagées de Jesus... 49 Autor e Redator de toda a matéria Reacende-se o debat publicada neste periddico Criagdo ou Evolugdo na Escola Pablica? 50 . Explicitando... Administrago e Distribuigao: ey eat amar’. * Edigdes Lumen Christ ee foo do noone Rua Com Gerardo, 40 - 6* andar-sala 501 Religifo a sorvico ao bem Tel: (OXX21) 2291-7122 - Ramal 327 fande \groja. Grandes Negécios” (Eclésia) 60 Fax (OXX21) 2516-9343 Carta ao Procurador Geral Enderego para Correspondéncl da Repoblica Ed, Lumen Christi Vocaggo a santidade: Rua Dom Gerardo, 40 - sala 501 0 Bom-aventurado Imperador Centro Carlos | da Austria.. 65 CEP 20090-030 - Rio de Janeiro ~ RJ Pergunta- Visite 0 MOSTEIRO DE SAO BENTO Forcup ae Toss: Ge Nova ai ¢“PERGUNTE E RESPONDEREMOS” Déatazsnasténulvooo! na INTERNET: www.lumenchristl.com.br —F4tima, Santuério de e-mail: lumen.christi@osb.org.br todas as religies? 7 CNPJ: 33.439.092/0003-24 NaHacnas: Eutandsia também para criangas 76 Romance polémico: impneesac “Anjos e Deménios" (Dan Brown)... 83 Correspondéncia mitida 868 Fy * A Histéria de Anouk.. 92 COM APROVAGAOECLESIASTICA ‘oudica angus sata NO PROXIMO NUMERO: “Permanece conosco, Senhor!”. - Paises protestantes mais prosperos do que paises catélicos? — Os Santos incomodam? — S4o Francisco de Assis foi padre? — Egresso da Igreja Universal. -“O Cédigo Da Vinci" (Pe. Zezinho). ~ Cientista descobriu a Atlantida? - Deus e a Ciéncia. PARA RENOVAGAQ QU NOVAASSINATURA (12 NUMEROS) . NUMERO AVULSO. © pagamento poderd ser 4 sua escolha: 1. Depdsito em qualquer agéncia do BANCO DO BRASIL, agéncia 0435-9 na C/C 31.304-1 do Mosteiro de Bento/RJ ou BANCO BRADESCO, agéncia 2579-8 na CIC 4453-9 das Edigées Lumen Christi, enviando em seguida por carta ou fax comprovante do depésito, para nosso controle. 2. Cartao de Crédito: VISA e MASTERCARD (favor informar n*, validade do cartao e codigo de seguranga). 3. Boleta Bancéria (favor entrar em contafo mencionando a op¢ao). Obs.: Correspondéncila pi Edigdes Lumen Christi Rua Dom Gerardo, 40 — sala 501 Centro CEP 20090-030 ~ Rio de Janeiro - RJ AS TENTACOES DE JESUS Todo ano no inicio da Quaresma a Igreja |é 0 Evangelho das tentagdes de Jesus (Mt 4, 1-11). Episédio estranho, mas na verdade altamente significa- Como podia Jesus ser tentado, Ele que era Deus? — Ele foi tentado como homem, obtendo-nos a graga de vencer nossas tentagdes e delas tirar proveito (cf. 1Cor 10, 13). O teor dessas tentacdes é muito expressivo. A primeira propée a Jesus que converta pedras em paes ou o messianismo da fartura. Jesus 0 rejeita, observando que nem sé de pao vive o homem. - Eis, porém, que a perspec- tiva de um Reino de Deus em fartura ou sem fome 6 muito tentadora também em nossos dias; onde Deus reina, poderé haver fome? — Jesus da a saber que esta “l6gica” humana ndo é a de Deus. Asegunda tentagao propée a Jesus um mundo sem acidentes, guarda- do pelos Anjos para que nele n&o ocorram desastres: seria o messianismo dos portentos continuos, Jesus o rejeitou, afirmando que o homem nao deve tentar a Deus, cometendo imprudéncias na expectativa de que Deus Ihes dé remédio. — Eis, porém, que este tipo de messianismo tenta ainda os cristéos de hoje: por que ha tantas desgracas no reino messianico? Onde Deus reina, Pode haver acidentes? Jesus mais uma vez faz notar que a “prudéncia” hu- mana no caso ndo coincide com a-de Deus. A terceira tentacao propde ao Senhor a predominancia do Reino de Deus sobre os reinos da terra. Ao que Jesus responde negativamente. — De Novo registramos que esta tentagdo também seduz muitos cristéos em nos- 80s tempos: gostariam de ver o Reino de Deus hegeménico, privilegiado, e nao perseguido como tem sido. ‘Todavia também neste caso a sabedoria de Deus no coincide com a do ser humano. Qual seria ent&o o messianismo de Jesus? Aresposta se acha em Hb 12, 2-4: “Corramos com os olhos fixos na- quele que, em vez da alegria que lhe era proposta, suportou a cruz, despre- zando a ignominia, e se assentou a direita do trono de Deus”. Como se vé, o messianismo de Jesus foi mais fundo do que os da sabedoria das criaturas: nao visa apenas ao bem-estar material do homem, mas tem em mira dar a vida etema... 6 isto mediante a mortificagdo das pai- x6es € a morte corporal, a fim de que seja recriado como nova criatura (cf. 2Cor 5, 17). Cristo 6 0 Precursor nessa corrida. Ele assume a morte mais ignominiosa para cobrir a morte de cada cristo e possibilitar-Ihe a ressurrei- g&o em um corpo glorioso. Ora a Quaresma é, por exceléncia, o tempo de reconsiderarmos estas verdades quica esquecidas, vivendo mais intensamente a metandla evangé- lica ou a mudanga de mente; o Messias veio-nos pedir renuincia a velha cria- tura com suas tendéncias pecaminosas para que vivamos uma vida nova, penetrada pelos valores definitivos e tendente a desabrochar mediante a fide- lidade mais consciente ao Senhor Jesus, Ele que, em vez da alegria suscita- da por concepgdes humanas, chegou a gloria abragando a loucura e o esc4n- dalo da cruz (1Cor 1, 23). EB. 49 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” Ano XLVI -— N° 512 Fevereiro de 2005 Reacende-se o debate: CRIAGAO OU EVOLUGAO NA ESCOLA PUBLICA? Em sintese: O segundo relato da criagéo do mundo e do homem (Gn 2, 4b-3,24) pe em confronto o homem e a muther para afirmar que compartilham a mesma natureza @ tém a mesma dignidade. Criagdo e evolugao néo se opdem entre si, desde que se admita que Deus criou a matéria inicial, dando-Ihe as leis de sua evolugao, € cria até hoje toda alma humana (que 6 espiritual). Nos Estados Unidos os protestantes fundamentalistas propuseram 0 dilema: Ou Criagdo (Fé e Biblia) ou Evolugao (Razao e Ciéncia); nas escolas publicas de alguns Estados norte-americanos seria preciso ensi- nar © criacionismo com a Biblia na m&o: Deus tera criado tudo o que existe, e 0 tera criado em sua forma definitiva. O debate transferiu-se para o Estado do Rio de Janeiro em 2004. Eis a noticia transmitida pela revista protestante ECLESIA, setem- bro 2004, p. 42: “O sistema ptiblico de educagao do Estado do Rio de Janeiro esia no meio de um debate que envolve fé religiosa, direito a informagao e uma boa dose de preconceito. No centro de tudo, arde a jé centendria polémica que coloca em trincheiras opostas evolucionistas - aqueles que defendem as teses enunciadas no século 19 pelo naturalista britanico Charles Darwin sobre a origem e a evolugdo de todos os seres vivos — @ criacionistas, para os quais tudo o que existe, inclusive o homem, é obra das m&os de Deus. E a maior protagonista do imbréglio é a governadora do Rio, Rosinha Matheus, uma crente presbiteriana que n&o abre mao de confessar sua fé. Desde margo deste ano, ela e os responsaveis pela 50 GRIAGAO OU EVOLUCAO NA ESCOLA PUBLICA? 3 area de educagéo vém sendo fustigados por setores cientificos e intelec- tuais, que denunciam uma suposta mistura entre religio e educagao pu- blica. Ha até quem diga que a intengdo das autoridades fluminenses seria uma espécie de aparelhamento evangélico do Estado. Em 2003, a Secretaria Estadual de Educagao (SEE) abriu concur- So ptiblico para a contratagdo de professores de educacao religiosa. Até af, nada de mais — o ensino religioso, previsto na Constituigao Federal e na Lei de Diretrizes e Bases da Educagao, é totalmente legal e reconhe- cido no pais. O Ministério da Educagéo apenas recomenda o carater ecuménico, ou seja, que as aulas versem sobre aspectos genéricos de religiosidade humana, abrangendo preceitos éticos e humanitérios pre- sentes em todos os credos, como a solidariedade, o respeito ao proximo € a honestidade. Acontece que o Estado do Rio inovou em um quesito: resolveu instituir a educagao confessional, dividindo as classes de ensi- no fundamental e médio de acordo com a orientacao religiosa de cada aluno. Entre os professores aprovados, 500 J& estdo em exercicio. Des- tes, 342 sao catélicos, 132 evangélicos e os demais séo adeptos do espi- ritismo e da Igreja Messianica”. Para elucidar o questionamento assim Proposto, analisaremos, a seguir, o relato de Gn 2, 4b-25, que descreve a origem do homem a partir do barro e a da mulher a partir da costela do homem. O leitor podera concluir que nao ha dilema entre criagdo e evolugao, mas as duas con- cepgdes se harmonizam numa sintese satisfatoria. Portanto nao se diga “Ou Criagdo ou Evolugao”, mas “Criagdo e Evolugao”. 1. O relato javista e a origem do homem Em Gn 2, 4b tem inicio uma narragao referente as origens, de esti- lo mais primitivo que a anterior: recorre a muitos antropomorfismos (Deus 6 oleiro, jardineiro, cirurgiao, alfaiate, em vez de criar com @ sua palavra apenas, como em Gn 1, 1-2, 4a); ndo menciona nem o mar com seus peixes nem os astros (0 que revela horizontes limitados). Data do século Xa.C, (fonte javista, J). Essa descrigao comega por notar que nao havia arbusto, nem chuva nem homem, mas apenas uma fonte de agua, que ocasionava a existéncia de barro. Para compreender a inteng&o do autor sagrado, examinemos, antes do mais, a dindmica do texto em pauta: Muito estranhamente, Deus cria em primeiro lugar o homem (2, 7). Depois planta um jardim ameno, onde 0 coloca (2, 8,15); verifica que o homem esta s6 (2, 18). Cria os animais terrestres (2, 19); mas o homem continua s6 (2, 20). Entéo Deus cria a mulher e a apresenta ao homem que exclama: “Esta sim! E osso dos meus ossos e carne da minha car- ne!" (2, 23). Este curso de idéias poderia ser assim reproduzido: 51 4 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 HOMEM “S~::: + MULHER [ plantas —> animais (o homem esta s6) (o homem esta 86) Vé-se, pois, que 0 relato nao tem em mira descrever a fenomenologia ou o aspecto cientifico da origem das criaturas, mas, sim, visa a responder uma pergunta: qual 0 relacionamento existente entre o homem e a mu- Iher? Qual o papel da mulher frente ao homem? — Estas quest6es de or- dem filos6fico-religiosa perpassam todo 0 relato. Para responder-lhes, 0 autor apresenta o homem (vardo) sozinho'; verifica duas vezes que ele esta sé, porque nenhuma planta e nenhum animal se Ihe equiparam; final- mente Deus tira matéria do proprio homem para com ela formar a mulher; assim se justifica a exclamagao: “Esta sim! E da minha dignidade!”. Desta forma, 0 texto sagrado nos diz que a mulher ndo é inferior ao homem, mas compartilha a natureza do homem; é o vis-a-vis do homem. Esta afirma- go é de enorme valor: ja no século X a.C. a S. Escritura propunha uma verdade que muitos povos hoje néo conseguem reconhecer e viver. 2. Evolucionismo e Criacionismo © autor sagrado apresenta origem distinta para 0 homem e para a mulher. Analisemos um e outro caso. 4, Origem do homem. Sera que o texto de Gn 2,7 quer dizer algo sobre o modo como apareceu o homem na face da terra? Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem do Deus-Oleiro, que era assaz frequente nas tradiges dos povos anti- gos. Com efeito; no poema babilénico de Gilgamesh conta-se que, para criar Atar-hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e sete mulheres, fez quatorze blocos de argila; com estes, suas auxiliares plas- maram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes tragos de individuos humanos e configurando-os a sua propria imagem. No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apre- sentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos res- pectivamente da rainha Hatshepsout e do Faraé Amenofis Ill; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglifico da vida ank, para que a respirassem e se tornassem seres vivos. Entre os Maoris da Nova Zelandia, conta-se 0 seguinte episédio: um certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tané, tomou argila vermelha @ margem de um rio, plasmou-a, misturando-Ihe o seu proprio sangue, e dela fez uma cépia exata da Divindade; depois, animou-a so- + E certo que o homem nao pode viver sem vegetagdo e animais. Todavia sabemos que o autor no escreve uma pagina de ciéncias naturais. 62 CRIAGAO OU EVOLUGAO NA ESCOLA PUBLICA? 5 prando-lhe na boca e nas narinas; ela entéo nasceu para a vida e espir- rou. O homem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto com este que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto é, imagem de Tiki. Compreende-se, pois, que o tema do Deus-Oleiro, ocorrente tam- bém na Biblia, nao passa de metafora. Quer dizer que, como 0 oleiro est para o barro, assim Deus esta para o homem. E como é que esta 0 oleiro para 0 barro? — Numa atitude de sabedoria, carinho, maestria, providén- cia... Assim também Deus esta para o homem, qualquer que tenha sido a modalidade de origem do ser humano. Nao se queira extrair desta pas- sagem alguma ligdo de teor cientifico. 2. Origem da mulher. Que significa a costela extraida de Addo para dar origem a mulher? — N&o implica que esta tenha tido principio diferente do homem. O tema da costela ha de ser entendido a partir das palavras finais de Addo: “Esta 6 osso dos meus ossos e came da minha carne” (Gn 2, 23); tal afirmagao é metaférica e significa: a mulher é da natureza ou da dignidade do proprio homem, em oposigéo aos demais seres (embora cercado destes, o autor enfatiza que o homem estava 86). Ora, para preparar e justificar esta assergao a respeito da dignidade da mulher, o autor descreve o proprio Deus a tirar came e osso (uma costela) do homem a fim de formar o corpo da mulher; a “extragao” da costela e a formagao da mulher, no caso, ndo tém sentido literal, mas vém a ser a ma- neira “plastica” de afirmar a iqualdade de natureza do homem e da mulher. E a luz desta verdade que se deve entender também o desfile de animais perante 0 homem e a imposigéo de nome a cada um deles (2, 19s). “Impor o nome’, para os antigos, significa “reconhecer a esséncia, a identidade do ser nomeado”. O autor sagrado imagina Addo a impor nomes aos animais para poder enfatizar de modo muito concreto que nenhum animal era adequado ao homem; notemos que, antes e depois do “desfile”, o texto verifica que o homem estava s6 (2, 18.20). Devemos, pois, concluir que tal cena nao tem sentido literal, mas visa apenas a fazer o contraste entre o homem e os animais inferiores e assim preparar © surto da mulher “feita da costela” ou participante da dignidade do homem. Nao se deve, pois, na base do texto biblico, atribuir 4 mulher ori- gem diversa da que tocou ao homem. 3. Resta, entao, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira como apareceu o ser humano? A Biblia no foi escrita para dirimir 0 dilema “criagdo ou evolugdo?”. Todavia, a partir de premissas filoséficas e teolégicas, 6 preciso dizer que o dilema nao existe. Vejamo-lo por partes. Quanto ao homem, a pergunta é colocada popularmente nestes ter- mas: “Vern do macaco ou nao?” — Responderemos distinguindo entre corpo 53 6 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 @ alma do homem. O corpo, sendo matéria, pode provir de matéria viva preexistente; nao proviria dos macacos hoje existentes, pois estes j& sao muito especializados e nao evoluem mais; proviria, porém, do primata ou do ancestral dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, nao teria ori- gem por evolugdo, mas por criagdo direta de Deus; sendo espiritual, ela nao provém da matéria em evolugdo (0 espirito nao é energia quantitativa nem fluido nem éter; por isto ndo pode originar-se da matéria). Assim se conelli- am criagdo e evolugdo no aparecimento do homem: pode-se admitir que, quando 0 corpo do primata estava suficientemente evoluido ou organizado, Deus Ihe infundiu a alma espiritual, diretamente criada para dar-lhe a vida de ser humano, Isto ter ocorrido tanto no surto do homem como no da mulher. Considerando agora 0 universo, podemos dizer que a matéria ini- cial, caética (nebulosa), donde tera procedido a evolugao, foi criada dire- tamente por Deus (nao é matéria etema). Deus the havera dado as leis de sua evolugaio de modo que dela tiveram origem os minerais, os vege- tais e os animais irracionais até o limiar do homem. Quando o Senhor Deus quis que este aparecesse na face da terra, realizou outro ato cria- dor, infundindo a alma espiritual no organismo do primata evoluido. Eo que se pode reproduzir no seguinte esquema: Alo criador Evolugao Ato “eer alma espiritual Matéria inicial —»> minerais —» vegetais —» animais —» organismo aperieicoado irracionais HM No tocante a origem da vida, é preciso distinguir vida vegetativa, vida sensitiva e vida intelectiva. As duas primeiras modalidades depen- dem de um principio vital material, que bem pode ter sido eduzido da matéria em evolugao. Ao contrario, a vida intelectiva depende de um prin- cipio vital (alma) espiritual, que s6 pode provir de um ato criador de Deus. 3. Monogenismo ou poligenismo? Pergunta-se: quantos individuos houve na origem do género hu- mano atual? E costume responder: um homem (Addo) e uma muther (Eva). Esta afirmag&o pode ser licitamente repensada em nossos dias. Aciéncia reconhece trés hipéteses referentes ao numero de indivi- duos primitivos: Polifiletismo: muitos troncos ou bergos do género humano (na Asia, na Africa, na Europa...). Monona poligenismo: um sé bergo com muitos casais; (um 86 tronco) | monogenismo: um sé bergo com um casal so. 84 CRIACAO OU EVOLUGAO NA ESCOLA PUBLICA? T Ora a primeira hipotese (polifiletismo) contraria a fé e as probabili- dades cientificas. Nao se diga que 0 género humano apareceu sobre a terra em localidades diversas simultaneamente. © monofiletismo monogenético (um casal 86) 6 a classica tese, aparentemente deduzida da Biblia. Todavia verifica-se, apés leitura aten- ta do texto sagrado, que nao € a unica hipdtese concilidvel com a fé. O poligenismo no se opée a esta. E por qué? Apalavra hebraica Adam significa homem; nao é nome préprio, mas substantivo comum. Por conseguinte, quando o autor sagrado diz que Deus fez Adam, quer dizer que fez o homem, o ser humano, sem tencionar espe- cificar 0 numero de individuos (um, dois ou mais...). Muito significativo 6 0 texto de Gn 1, 27: “Deus criou o homem (Adam) a sua imagem; a imagem de Deus Ele 0 criou; homem e mulher Ele os criou”, Neste versiculo verifica- se que a palavra Adam no designa um individuo, mas a espécie humana diversificada em homem e mulher. — O nome “Eva” também ndo é nome Préprio, mas significa em hebraico “mae dos vivos" (Gn 3, 20). Fica, pois, aberta ao fiel catdlico a possibilidade de admitir mais de um casal na origem do género humano. O que importa, em qualquer hipotese, é afirmar que os Primeiros pais (dois ou mais) foram elevados a filiagdo divina (justiga origi- nal) € que, submetidos a uma prova, nfo se mantiveram no estado de ami- zade com Deus (cometeram o pecado original). — Seria faiso, porém, dizer que Ado e Eva nunca existiram ou que so fabula ou alegoria: s&o tao reais quanto o género humano é real; o texto sagrado nos diz que Deus tratou com o homem nas suas origens, ... com o homem real, e néo com um ser ficticio. E a historia referente aos primeiros pais é hist6ria real, embora narra- da em linguagem figurada (serpente, arvore, fruta...). — De resto, é intitil in- sistir sobre a questo “poligenismo ou monogenismo?”, pois nao ha critérios cientificos para dirimi-ta (a ciéncia até hoje ndo tocou a estaca zero do género humano); apenas interessa notar que a hipdtese poligenista n&o contraria a fé. A origem das ragas nao exige 0 polifiletismo. Com efelto: o concei- to de “raga” é assaz flexivel; raga resulta de um conjunto de determina- dos elementos do ser humano (cor da pele, forma dos olhos, tipo de cabelo...). Todavia a mesclagem desses elementos é tao variegada so- bre a face da terra que haé uma gama continua de tipos entre o individuo branco, 0 negro, o amarelo... Em conseqléncia, a origem desses tipos raciais pode explicar-se a partir de um s6 Principio: devem-se nao so- mente 4s diversas condigées de clima, alimentagdo, trabalho... das po- pulagdes, mas também ao fenémeno do mutacionismo (mudangas brus- cas em individuos raros, que se transmitem estavelmente). S&o estes alguns comentarios que o texto de Gn sugere ao estudi- oso contemporaneo. 55 Explicitando... “NAO ESTA NA BIBLIA” Em sintese: A Revelacao Divina 6 como um gr&o de mostarda que se vai abrindo no decorrer do tempo, de modo a explicitar homoge- neamente o que se encontra implicito na Biblia. Os tedlogos e os Bispos vao aprofundando o significado das verdades seminalmente reveladas. Sao Paulo, aliés, falava da evolugdo do conhecimento infantil pare o da idade adulta; cf. 1Cor 13, 11s. wae No didlogo ecuménico ouve-se nao raro 0 irm&o protestante repli- car: “Nao esta na Biblia!”. Esta observagao parece pdr termo final ao dialogo. Tal é a tematica que estudaremos nas paginas seguintes. 4. Uma fonte e dois canals Anica fonte da fé catdlica é a Palavra de Deus. Deus quis revelar- se aos homens, e o fez mediante dois canais: a via oral (também dita “Tradigo ou Transmissdo divino-apostélica’) e a via escrita (chamada “Biblia’). A oral é anterior 4 escrita (j4 que escrever era outrora uma arte dificil) e a acompanha servindo de referencial para o entendimento corre- to da Biblia. O Senhor Jesus instituiu o magistério da Igreja, ao qual Ele assiste (cf. Mt 28, 18-20s) a fim de que seja o fiel porta-voz e intérprete da Palavra de Deus. E 0 que 0 Concilio do Vaticano |i ensina nestes termos: “9. A Sagrada Tradigdo e a Sagrada Escritura sao, portanto, intima- mente conexas e comunicantes enire si. Pois, derivando ambas da mes- ma fonte divina', fundem-se de algum modo numa sé coisa. De fato, a Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto redigida sob a inspira- Gao do Espirito Santo; a Sagrada Tradigao, por sua vez, transmite inte- gralmente aos sucessores dos Apdstolos a palavra de Deus confiade por Cristo Senhor e pelo Espirito Santo aos Apéstolos para que, sob a luz do Espirito da verdade, eles, por sua prega¢ao, fieilmente a conservem, a exponham e a difundam. Donde se segue que a igreja no tira sé da Sagrada Escritura sua certeze a respeito de tudo 0 que foi revelado. Por ' Antes do Concitio do Vaticano Hl (1962-65), perguntave-se: hé uma fonte da Reve- lagdo Divina (como dizem os protestantes, acenando para @ Biblia)? Ou hé duas fontes: a Biblia e a Tradigdo oral, como dizem muitos catdlicos? ‘Como se vé, o Concilio respondeu muito sabiamente apontando uma unica fonte e dois canais. 56 “NAO ESTA NA BIBLIA” 9 isso, ambas [Escritura e Tradigéo] devem ser recebidas e veneradas com igual sentimento de piedade e reveréncia” (Const. Dei Verbum n° 9). Observemos agora: Cresce, através dos tempos, o entendimento da Palavra de Deus; pois ela foi proposta pelos seus mensageiros em estilo pastoral, que pede aprofundamento e sistematizagao. Sao Paulo mesmo reconhece ter acon- tecido isto em sua vida: “Quando eu era crianga, falava como crianca, pensava como crian- ¢a, raciocinava como crianga. Depois que me tomei homem, fiz desapa- recer o que era proprio de crianga. Agora vemos em espetho e de manei- ra confusa, mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13, 118). No Evangetho a parabola do gro de mostarda propde a mesma concepgdo: o Reino dos céus esta sujeito a certa evolucao ou ao desabrochamento de virtualidades nele inseridas. © que importa, é que essa evolugao seja homogénea, como homo- génea é a evolugdo de uma semente. Como exemplo dessa evolugao homogénea, seja citada a doutrina referente a Maria SSma: os Evange- lhos a apresentam como Mée de Jesus, que é Deus e Homem; por con- seguinte é Mae de Deus. Para exercer a maternidade divina, recebendo em seu selo Deus Filho, Maria foi “cheia de graga” (Lc 1, 28) ou isenta de pecado ou ainda imaculada desde a sua concelgao; e, se jamais esteve Sob 0 jugo do pecado, jamais foi dominada pelo império da morte, ou seja, néo conheceu a deterioracdo do seu cadaver no sepulcro, mas foi elevada em corpo e alma a gléria do céu, uma vez terminado o seu curso de vida na terra. Tal concepgao 6 nitidamente apresentada por Sao Vicente de Lérins (t 435 aproximadamente). 2. A explanagao de Sao Vicente de Lérins Vicente nasceu na Gélia provavelmente em fins do século IV. Le- vou vida militar (dizem alguns; ... vida devassa). Apds 0 qué fez-se mon- ge e presbitero do Mosteiro de Lérins, no Sul da Galia. Dedicou-st estudo da Teologia, donde resultou famosa obra intitulada “Comonit Deste seja extraida a seguinte passagem, tirada da Exortag&o 23: “O desenvolvimento do dogma da religido crista. Nao haveré desenvolvimento algum da retigiao na Igreja de Cristo? Ha certamente e enorme. Pois que homem sera tao invejoso, com tanta averséo a Deus que Se esforce por impedi-lo? Todavia deveré ser um verdadeiro progresso 67 10 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 512/2005 da fé e nao uma alteragéo. Com efeito, ao progresso pertence o cresci- mento de uma coisa em si mesma. A alteragao, ao contrario, a mudanga de uma coisa em outra. E, portanto, necessario que, pelo passar das idades e dos séculos, “eresgam e progridam tanto em cada um como em todos, no individuo como na Igreja intéira, a compreenséo, a ciéncia, a sabedoria. Porém apenas no proprio género, a saber, no mesmo dogma o mesmo sentido e a mesma Significagéo. Imite a religiéo das almas o desenvolvimento dos corpos. No de- correr dos anos, véo-se estendendo e desenvolvendo suas partes e, no entanto, permanecem o que eram. Ha grande diferenca entre a flor da juventude e a madureza da velhice. Mas se tornam velhos aqueles mes- mos que foram adolescentes. E por mais que um homem mude de estado e de aspecio, continuardé a ter a mesma natureza, a ser a mesma pessoa. Membros pequeninos na criancinha, grandes nos jovens, sdo, con- tudo, os mesmos. Os meninos tém o mesmo numero de membros que os adultos. E, se no tempo de idade mais adiantada neles se manifestam outros, jé af se encontram em embrido. Desse modo, nada de novo existe nos velhos que nao esteja latente nas criangas. Por conseguinte, esta regra de desenvolvimento é legitima e corre- ta. Segura e belissima a lei do crescimento, se a perfeicao da idade com- pletar as partes e formas sempre maiores que a sabedoria do Criador pré-formou nos pequeninos. Mas, se um homem se mudar em outra figura, estranha a seu géne- ro, ou se se acrescentar ou diminuir a0.ntimero dos membros, sem duvi- da alguma todo o corpo morreré ou se tornaré um monstro ou, no minimo, se enfraqueceré. Assim também deve o dogma da religiao crist& seguir estas leis de crescimento, para que os anos o consolidem, se dilate com © fempo, eleve-se com as geragées. Nossos antepassados semearam outrora neste campo da Igreja as sementes do trigo da fé. Seré sumamente injusto e inconveniente que nos, os pésteros, em vez da verdade do trigo auténtico recothamos 0 erro da simulada cizénia. Bem ao contrério, 6 justo e coerente que, sem discrepancia entre os inicios e o término, ceifemos das desenvolvidas plantages de trigo a messe também de trigo do dogma. E se algo daquelas sementes origi- nais se desenvolver com 0 andar dos tempos, sefa isto agora motivo de alegria e de cultivo”. Como se pode apreciar, o texto 6 muito elucidativo. Vicente de Lérins viveu numa época conturbada pelas controvérsias sobre a graga eo livre 58 “NAO ESTA NA BIBLIA” "1 arbitrio, sendo debatedores, de um lado, os discipulos de S. Agostinho (t 430) e, de outro lado, os pelagianos e semipelagianos pessimistas aqueles; otimistas estes, em relagdo a natureza humana. Precisamente para combater as heresias (que, conforme a etimo- logia da palavra grega hairesis, so escolhas... de algumas verdades em detrimento de outras), Vicente formulou a norma sempre validas: “Na Igreja Catélica é preciso procurar que todos demos adesao de 4 aquilo que em toda parte, sempre e por todos foi professado (quod ubique, quod semper, quod ab omnibus...), pois isto é propria 6 verda- deiramente catélico, como deciara a forga e indole do vocéabulo, que abarca todas as coisas em geral” (Comonit6rio II 5). Muito sabiamente o autor insiste na continuidade da transmissao que parte dos Apéstolos, passa pelos Padres da Igreja e chega a época mais tardia. Disto difere a heresia, que 6 a escolha de certas verdades com menosprezo de outras. 3. Conclusdo De quanto foi dito, depreende-se que pode haver artigos de fé nado explicita, mas implicitamente incluidos na S. Escritura. Sabe-se que os autores sagrados nao intencionaram escrever uma Suma de Teologia, mas redigiram seus escritos ocasionalmente, a fim de atender @ ques- {es e problemas das comunidades destinatarias; conseqientemente fi- caram ditos e feitos de Jesus fora do Ambito biblico ou na Tradigao oral, como duas vezes observa Sao Jodo no fim do seu Evangelho (cf. 20, 30s € 21, 24). Este depdsito oral, projetando-se sobre o escrito, pde em evi- déncia 0 sentido profundo da Palavra escrita na Biblia. Além do qué, a propria raz4o humana penetra a Palavra da Biblia, analisando seu senti- do e concatenando-a em ordem sistematica. a eno INDICE GERAL DE PR (1957-2004) FINALMENTE ESTA A DISPOSIGAO DAS PESSOAS INTERESSADAS O INDICE GERAL DEPR (1957-2004), DEVE-SE A GENTIL OPEROSIDADEDA SRA. HELOISA FORTES DE OLIVEIRA, A QUEM PR AGRADECE VIVAMENTE. SAO 346 PAGINAS AO PRECO DE R$ 20,00 MAISA EVENTUAL TAXA DO CORREIO. FORMAS DE PAGAMENTO INDICADAS NA 2" CAPA DESTE CADERNO. PEDIDOS SEJAM DIRIGIDOS A EDITORA LUMEN CHRISTI, C. P, 2686, 20001-970 RIO (RJ) OU A ESCOLA “MATER ECCLESIAE”, C. P. 1362, 20001- 970; TELEFAX 0 XX 21 2242-4552 E E-MAIL WWW.MATERECCLESIAE.COM.BR QUEIRA DEUS ABENGOAR A QUANTOS ACOMPANHAM A LONGA CAMINHADA DE PR, ESTIMULANDO-A E ENRIQUECENDO-A COM A SUA VALIOSA COLABORACAO, 59 Religido a servigo do homem: “GRANDE IGREJA, GRANDES NEGOCIOS” (EGLESIA) Em sintese: A revista protestante ECLESIA publica uma reporta- gem sobre o culto divino na ‘Igreja Universal do Reino de Deus, em que a Solicitagdo de dinheiro é uma constante que chama a ateng&o, ludibrian- do os crentes, principalmente os das classes mais modestas. O empre- sério Faria Jr. foi vitima de sua generosidade para com a IURD. Arevista ECLESIA, agosto de 2004, publicou noticias a respeito do culto praticado na Igreja Universal do Reino de Deus. O testemunho é insuspeito, pois provém do préprio ambiente protestante. Eis o que se |é as paginas 34s do citado periédico: “GRANDE IGREJA, GRANDES NEGOCIOS Ex-fiel da Universal conta que foi tudibriado pela lideranga da igreja e cobra devolucdo de ofertas na Justiga “E impossivel a béngao nao acontecer”. Em uma noite de segunda- felra, no Templo da Fé, uma megaconstrugdo na zona sul de Sao Paulo, chega ao auge a pregacdo de um dos cultos mais concorridos da Igreja Universal do Reino de Deus (lurd). Na platéia, os crentes vao ao éxtase, cantando corinhos avivados e respondendo ao desafio de fé coma maior oferta que acreditam poderem dar: a financeira. A Reuniéo dos 318 Pas- tores, como é chamada, atrai todo tipo de fiel, dos empresarios aos de- sempregados, que buscam ali a prosperidade financelra. Os 318 em questao sao pastores e auxiliares que ajudam os bis- pos durante os cultos. O niimero vem da Biblia, na passagem em que Abrado é ajudado por 318 servos de sua confianga a resgatar seu sobri- nho L6, seqiiestrado por reis inimigos. A reuniéo comega com as “corren- tes da prosperidade”, em que os freqientadores atravessam um corredor humano e oram, empunhando carteiras de trabalho, cartes de crédito ou projetos empresariais. Logo apés, um bispo inicia os desafios. Eles comegam com R$ 10 mil reals, diminuindo progressivamente até chegar a meros 30 reais — uma ofer- ta “apenas para quem esta desempregado ou sem condigéo nenhuma’, expli- 60 “GRANDE IGREJA, GRANDES NEGOCIOS" 13 ——_— aan Seams NECOCIOS" 1 ca-se do pillpito. A certa altura, os pai ipantes recebem envelopes com uma fita preta dentro. Devem colocar os “dizimos do Progresso” no envelo- pe, escrever seus problemas num papel que sera amarrado pela fita e trazer tudo a frente. O dinheiro é recolhido A arca eo Papel amarrado sera queima- do, “assim como tudo que esta escrito nele", segundo promete o pregador. Para completar, o dirigente do culto manda que tragam uma cami- sa sua. Em seguida, desafia 33 pessoas a ofertarem mil reais cada e colocarem suas impressées digitais na pega de roupa, que sera pendura- da no ponto mais alto do templo, uma torre. A justificativa Para o ato esdrixulo 6 que o servo de Deus tem que estar por cima de tudo. Rituais como esses vém se repetindo nos templos da Universal e de outras de- nominagées neopentecostais que copiam seu modelo numa freqtiéncia cada vez maior. Eles permitem que as igrejas continuem crescendo, abocanhando um publico que desistiu de esperar 0 crescimento da eco- nomia para buscar solugdes magicas. Se no meio evangélico esse estilo tem causado polémica e uma avalanche de criticas por parte de igrejas que cobram dizimos e ofertas sem tanta énfase, fora dele pipocam escandalos, a maioria protagonizada pela prépria Universal. Em apenas 27 anos de existéncia, a igreja coleci- ona processos, acusada de charlatanismo, contrabando e estelionato. Um deles 6 movido pelo empresario Paulistano Waldemar Alves Faria Jr. Dizendo-se “um cristéo verdadeiramente arrependido’, ele conta ter en- tregado, em muitas e caras Prestag6es, uma fortuna avaliada em mais de R$ 40 milhdes nas maos do bispo Edir Macedo. “A lgreja Universal 6 um negécio. Nao adianta tapar o sol coma peneira. La dentro eu sempre ouvi isso. Os pastores tém metas a cum- prir’, acusa. Eleito deputado estadual em Sao Paulo em 1998, com o apoio da lurd e desfrutando de Prestigio junto & cupula da igreja, ele garante ter emprestado cerca de US$ 3,2 milhdes entre 1997 e 1998 Para que a igreja acertasse suas contas com 0 Ledo. “Destinava mensal- mente dizimos milionarios a igreja, chegando inclusive a doar um auto- movel BMW 5401, que passou a ser usado Por um dos bispos que atuam no Rio de Janeiro”, revela (ver entrevista). Descapitalizado — de sua empresa de 400 funcionarios, restaram apenas quatro —, o empresério viu sua carreira politica e suas relagdes com o comando da igreja ruirem. O arrependimento de Faria Jr. se trans- formou numa Acao de Revogagao de Doagdo por Ingratidao, acolhida Pelo juiz Wanderlei Sebastido Fernandes, titular da 39° Vara Civel de So Paulo. Procurada por ECLESIA, a lideranga da Igreja Universal e os responsaveis pelo Templo da Fé nao retornaram os contatos. A reporta- gem insistiu e marcou uma entrevista com 0 bispo Luiz Claudio — um dos dirigentes da Reuniado dos 318 Pastores ~, através de sua secretdria, 61 14 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” 512/2005 4 PERLE eee mas nao foi recebida por ele apés © culto, conforme o combinado, por duas vezes (Marcos Stefano). FALA O EX-FIEL Aseguir, trechos da entrevista exclusiva do empresério Faria Jr. & revista ECLESIA: ECLESIA - Por que o senhor fez doagées téo altas 4 Universal? FARIA JR — Em 1997, 0 bispo Manoel Alves me procurou € disse que 0 bispo Edir Macedo nao iria fechar os nuimeros dele na Receita Federal. Na época, havia rumores de que Macedo seria preso e que ha- veria outro escandalo. Fiz um empréstimo totalizando a quantia de US$ 3,2 milhdes para que o bispo conseguisse fechar as contas. Quando 4 papelada chegou, 0 contrato tratava a transagdo como uma doagao. As- sustado, liguei para pedir satisfagées e 0 Manoel disse que essa foi a melhor forma juridica encontrada. Como era sua relagdo com Edir Macedo? Eu freqiientava a casa dele e a dona Ester, sua esposa, me tratava como um filho. Depois, contudo, comecei a sentir um desprezo da parte deles. J& tinham me alertado que era assim mesmo, mas na época eu nao acreditava porque estava cego. As pessoas falavam: “E assim mes- mo, eles mascam vocé como um chiclete; quando nado tem mais agicar para tirarem, cospem fora’. Antes, eu era mostrado como empresario de sucesso, grande dizimista. Usavam minha imagem para atrair mais gen- te para a igreja e arrecadar mais dizimo. No fim de 2001, quando percebi que ndo receberia apoio para a reeleigdo [a deputado estadual], comecei a juntar minha documentagao, porque sabia que 1d na frente iria tomar um tombo. O bispo Rodrigues [deputado federal e coordenador politico da lurd\ mandou até tirar o meu nome do PL. O que o senhor espera do processo na Justiga? Primeiro, quero cancelar minha doagdo porque estou arrependido. Eu obedecia as ordens deles mais por uma questao espiritual, porque achava que eles eram homens de Deus e hoje tenho certeza de que ndo 40. O deus deles é 0 dinheiro. La, tudo é dinheiro. Em todas as igrejas deles, os pastores e os bispos tém metas. Se 0 pastor 6 bom para tomar dinheiro do povo, ele vai para a Catedral, vira estrela, vai para o radio e a TV, passa a morar em Alphaville [bairro nobre de Sao Paulo). Mas se néo consegue arrecadar muito, vai ser um pastorzinho entre os cinco, seis mil pastores que eles tém. Essa que éaverdade. Como funciona a lurd? O bispo [Honorilton] Gongalves cuida da Jojinha chamada Record. © Romualdo [Panceiro), da lojinha chamada Igreja Universal. O Marcelo 62 “GRANDE IGREJA, GRANDES NEGOcIOs" 15 Silva cuida da Jojinha chamada Line Records. O Manoel Alves cuidava da holding. Quer dizer, eles tratam a coisa como um negécio. Cada um tem uma /ojinha. E qual é a mae de todos? E a santa igreja, como eles cha- mam, que é onde 0 povo dao Sangue. A maioria das pessoas da o que Nao pode e a maioria nao tem retomno disso, nem espiritual, porque Deus nao quer o dinheiro da gente, mas o coragao, A igreja tem participagao nos negécios das empresas ligadas aela? A Igreja Universal & que preenche os buracos financeiros da Rede Record. A Record tem um Prejuizo de R$ 15 milhdes Por més. A lurd manda dinheiro para lé como anunciante. Se ndo fosse isso, a Record ja teria falido ha muito tempo. A Universal esta para a Record, assim como a Tele-sena e Bad estdo para o SBT. (H.GF)’. A bem da verdade, escreveu um leitor de ECLESIA; setembro 2004, p. 8: ascensaéo meteérica no campo politico teve todo o plano de marketing desenvolvido pela Universal. Eram testemunhos longos dados nos Ppro- gramas da igreja pela TV Record; entrevistas em horario nobre nos jor- nais da casa; paginas inteiras do Jomal Folha Universal. O que o “inocen- te” Faria Jr. pensou — que isso ia ser de graga? Sidnei Pereira da Costa SANTOS (SP)" Os fatos aqui relatados e outras congéneros justificam a carta que se segue, CARTA AO PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA Sao Paulo, 8 de setembro de 2004 Exmo. Sr. Procurador Geral da Republica Claudio Lemos Fontelies Ref.: Denuncla Prezado senhor, A nossa Constituicdo assegura ao cidadao a liberdade de culto re- ligioso e de reuniao, e, contudo, é considerado crime pelo nosso eédigo penal valer-se da liberdade de culto religioso para explorar a ingenuida- de de pessoas simples e de Pouca instrugao para tirar-Ihes o Pouco que elas tem em beneficio Préprio em nome de Deus. Eu estou falando da 63 16. “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" §12/2005, Igreja Universal do Reino de Deus — IURD — inventada por Edir Macedo. Essa agremiagao foi inventada na década de setenta por Edir Macedo num suburbio carioca nos fundes de uma funeraria. De pobre, em pou- cos anos Edir Macedo se tornou milionario com templos por todo O pais eno exterior e é dono da TV Record. Enquanto um padre catélico estuda trés anos de filosofia e quatro de teologia, um pastor da JURD em apenas seis meses esta pronto para comandar um culto, onde aprendeu como se servir da Biblia para arrancar 0 que puder de pessoas humildes, de pouca instrugao, como éafreqiéncia da maioria de seus freqientadores, que se deixam levar facilmente com a promessa de que, dando a Deus tudo o que elas tem, receberao em dobro aquilo que doaram para a lURD, isto é, para os seus pastores “bispos”. Sem a menor ceriménia o pastor pede tudo aquilo que o crente possui com ameagas; se nao fizer aquilo, sera severamente castigado por Deus. Dizem que eles, pastores & bispo, foram escolhidos por Deus para devolver-Ines a salde e transforma-los de pobres em ricos € livra-los do “mau-olhado”. Os pastores € “bispos” se justificam afirmando: para que possam exercer bem as suas fungées, ‘como servidores de Deus, tém que morar bem, se vestir bem, comer do bom e do melhor, e possuir um bom carro. Sem a menor duvida, Edir Macedo, que é muito inteligente, precavido tratou de se cercar politica- mente transformando o Partido Liberal em seu partido, elegeu deputados federais, estaduais, prefeitos e vereadores. Agora pretende eleger 0 pas- tor ou ‘bispo” prefeito do Rio de Janeiro, o candidato Marcelo Crivella. Prevendo que um dia as suas falcatruas sejam descobertas pela Procu- radoria Geral da Republica, pelo Ministério Publico ou pela policia, Edir Macedo agora vive nababescamente em Miami. Os chamados “obreiros” so funcionarios da IURD que entre as suas atividades tém aquela de observar os novos freqiientadores para que 14 dentro do templo néo este- jam munidos de gravadores, cameras fotograficas ou filmadoras. Senhor Procurador Geral da Republica, a denuncia esta feita; para que seja comprovada a sua procedéncia, 86 resta as autoridades compe- tentes terem interesse em investigar sé é verdade ou nado. Atenciosamente José Carlos de Castro Rios - RG: 8509476-SP jctios@estado.com.br Rua Prof. Jodo Batista de Castro, 190 Sao Paulo - SP CEP: 043 225 257-68 Vocagao a santidade: O BEM-AVENTURADO IMPERADOR CARLOS DA AUSTRIA Em sintese: Aos 3/10/04 foi beatificado em Roma o Imperador Carlos da Austria (1888-1922) — 0 que mais uma vez evidencia que ha uma vocagao basica para a santidade, que se realizaem qualquer estado de vida onde a Providéncia Divina coloque a criatura. Todo cristéo é chamado a santidade... até mesmo os governantes dos povos em meio as muitas solicitudes que os atormentam. A confirma- Gao destes dizeres ocorreu mais uma vez aos 3 de outubro Pp., quando foi beatificado a Imperador Carlos da Austria. — Em Poucas palavras, eis 9 seu esbogo biografico: . O principe Carlos nasceu em 1888 na Austria, filho do arquiduque Otto e da arquiduquesa Maria Josefa. Em 1916 faleceu o Imperador Fran- cisco José da Austria; devia suceder-Ihe o arquiduque Francisco Ferdinando; todavia este foi assassinado em Sarajevo no ano de 1914 -— © que deu origem a primeira guerra mundial (1914-1918), tornando-se herdeiro do trono o principe Carlos. Este assumiu o governo do Império Austro-hingaro No ano de 1916 em plena guerra mundial. Era amigo da paz e cultor das virtudes cristas, ao mesmo tempo que ardoroso patriota. Sem demora o Imperador Carlos procurou chegar 4 paz com os aliados mediante conversagées secretas. Todavia encontrou resisténcia por parte da Franga. Foi-Ihe sugerido que renunciasse ao cargo — 0 que Carlos recusou. Finalmente teve que aceitar 0 exilio, onde morreu de pleurisia a 1°/04/1922, na idade de 34 anos. Deixava trés filhos, que tive- ra de seu casamento com a princesa Zita, de Bourbon-Parma. A sua fama de fiel catdlico, cumpridor dos deveres religiosos e ci- vis, inspirou a seus amigos ~ clérigos e leigos — uma investigagao dos documentos aptos a ilustrar sua personalidade. A pesquisa realizou-se na arquidiocese de Viena entre 1949 e 1954, O material assim recolhido foi enviado a Roma, onde teve inicio o processo de Beatificacéo. Este redundou primeiramente no reconhecimento das virtudes herdéicas de Carlos por parte de um jtiri de tedlogos aos 29/10/2002 — o que permitiu ao Papa Jo&o Paulo II conceder-Ihe 0 titulo de Veneravel aos 12/04/2003. Faltava entéo um milagre tido como sinal da parte de Deus para efetuar a 65 18 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 Beatificagdo. Este sinal ocorreu realmente, reconhecido pelos peritos meé- dicos e tedlogos, que manifestaram seu laudo positivo aos 15/01/2003. Por fim 0 Santo Padre aos 20/12/2003, exprimiu seu acordo com as con- clus6es dos peritos e a intengdo de proceder & Beatificagao do Impera- dor Carlos. Desejava assim, sobre sélidos fundamentos, lembrar ao mundo contemporaneo a possibilidade de chegar & santidade mesmo entre as preocupagées e os choques do mais elevado cargo do govemo de uma nagao. A Beatificagdo ocorreu aos 3 de outubro de 2004, como etapa para a Canonizagao, para a qual se espera que Deus permita mais um milagre ou sinal. APENDICE JOAO PAULO II E 0 IMPERADOR CARLOS O reporter Philippe Maxence entrevistou 0 historiador Jean Sévillia a respeito do relacionamento do Papa Jodo Paulo i com o Imperador Carlos, como se segue’. “Ph, M.: Carlos | morreu em 1922. Por que tanto tempo levou para ser beatificado? J. $.: Desde cedo tornou-se claro que 0 Imperador Carlos viveu como um Santo. Pouco apés a sua morte ja se percebia a possibilidade de levar sua Causa ao Vaticano. Em 1925 foi criada uma Liga de Ora- des pelo Imperador Carlos; ela se propagou nos pases do antigo Impé- tio austro-hiingaro. Em 1938 a anexdo da Austria 4 Alemanha deteve este movimento. Para evitar que seus membros caissem nas maos da GESTAPO, a Associagao destruiu o seu fichario, No fim da guerra, em 1945 a Liga foi restaurada e a Causa do Imperador foi oficialmente introduzida no Vaticano em 1949. Nesta data o Direito Canénico vigente exigia dois milagres para a Beatificagdo. O novo Codigo de Direito Canénico promulgado em 1983 reformulou as normas vigentes para a Beatificagao e a Canonizagao dos Santos - 0 que redundou em atrasar a Causa de Carlos |. Todavia doravante s6 seria exigido um milagre para a Bealificagdo. Sendo assim, o postulador da Causa de Carlos apresentou a cura portentosa da Irma Maria Zita Gradowska: paralitica por deficiente circu- lagdo do sangue, essa Religiosa polonesa que vivia no Brasil, invocou o imperador Carlos numa tarde de 1969, prometendo fazer uma novena para pedir a Beatificagéo dele. No dia seguinte levantou-se sem dificul- dade e sem dores. Este milagre foi examinado por médicos e acrescen- tado as 2.700 paginas do documentario que se encontrava em Roma. Tal * Traduzido do periddico francés L'HOMME NOUVEAU de 3/10/04, p. 12. 66 OQ BEM-AVENTURADO IMPERADOR CARLOS DA AUSTRIA 19 sinal foi reconhecido pela Igreja aos 20 de dezembro de 2003; eraa porta aberta para a Beatificagdo de Carlos |. Ph. M.: Joo Paulo I! atribui significado especial a essa Beatificagéo? J. S.: Ao assumir 0 pontificado, Joo Paulo encontrou essa Causa, que aguardava como muitas outras; em 1978 interessava-lhe que che- gasse a bom termo ainda durante os seus restantes anos de vida... Com efeito; o Papa tem especial ligagdo com Carlos |. Sim; traz 0 mesmo nome que ele (Carol, em polonés). E por qué? — O Papa nasceu na Polonia do Sul, regiéo que pertenceu ao império austro-hiingaro. O préprio paide Karo! Woityla era sub-oficial no 5° regimento de Infantaria do exército austro-hingaro € como tal combateu durante a guerra de 1914-18: tor- nou-se oficial e foi condecorado com a Cruz do Mérito. Ficou profunda- mente comovido ao ver a solicitude do Imperador pelo seu povo (milita- tes e civis); por isto em 1920 deu ao seu segundo filho o nome de Carlos, futuro Papa, Este, em 1984, ao receber em audiéncia a Imperatriz Zita, exclamou: “Eu muito desejei saudar a soberana de meu pai’. Ph. M.: Nao se pode crer que Jodo Paulo II beatificou Carlos | simplesmente em virtude de um relacionamento amigo? J. S.: N&o, de modo nenhum. Mesmo que esta Beatificagao Ihe fosse muito desejada, Jodo Paulo II quis pér em relevo a figura do Chefe de Estado que procura constantemente considerar seu governo a luz da fé. Tornou-se Imperador durante um conflito mundial. Preocupou-se con- tinuamente com os seus stditos e tudo fez para Ihes poupar a vida. Ja em 1916 sabia que seu império seria derrotado na guerra. Multiplicou as propostas para chegar a uma paz honrosa, como alias desejava o Papa “Bento XV. Alimentava a idéia fixa de tirar 0 seu Povo da guerra. Foi ho- mem de muita fé, extremamente simples, capaz de falar com toda gente. Deixou um modelo de pai de familia, cioso, antes do mais, de transmitir aos seus filhos uma auténtica educagao catdlica’. Aqui termina a entrevista. Aos dados biograficos acima podem-se acrescentar os seguintes: Como menino, Carlos recebeu sdlida formagao catélica acompa- nhada da pratica da oracao. Uma Religiosa estigmatizada the Ppredisse duros sofrimentos. Concebeu viva devogao a Eucaristia e ao Coracdo de Jesus. Em virtude do desmembramento do Império austro-htingaro, Carlos teve de partir para o exilio. Antes, quis responder a um desejo do Papa, que receava a implan- tag&o do comunismo na Europa Central, tentando duas vezes assumir 0 governo da Hungria. Nao insistiu para evitar uma guerra civil naquele pais. 67 20 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 © exilio teve lugar na ilha da Madeira, onde se viu reduzido a misé- ria, vivendo em alojamento pouco saudavel. Caiu gravemente enfermo e aceitou a doenga como sacrificio unido ao de Cristo em prol da paz dos povos. Perdoou a quantos Ihe fizeram mal. Morreu a 1° de abril de 1922 com 0 olhar voltado para o Santissimo Sacramento. No leito de morte repetiu a maxima que guiara toda a sua vida: “Eu me comprometo para sempre e em todas as coisas a procurar conhecer téo claramente quanto possivel a vontade de Deus ea observa- Ja, Isto eu o farei da maneira mais perfeita”. Palavras de Joo Paulo I] na homilia da Missa de Beatificago: “Sirva de modelo o Imperador Carlos a todos nés, especialmente aque- les que detém uma responsabilidade politica na Europa de nossos dias". Histéria de Israel, por Millon Schwantes. - Ed. Com Deus, Sé0 José dos Campos (SP) 2004, 140 x 210 mm, 144 pp. Esta obra corresponde as apostilas do curso de Historia de israel ministrado na Faculdade (luterana) de Teologia de Séo Leopoldo. Foi editada pela Renovacdo Carismatica Catélica por ser um manual simples e de orientagdo equilibrada. O autor reconhece os problemas que ocor- rem a quem procure definir com precisdo certos pontos da histéria de Israel, mas néo cai na posigéo extrema que nega a historicidade dos Patriarcas biblicos ou de Moisés. Eis um espécimen de como M. Schwantes trata a realidade dos Patriarcas: “A fome leva Abrao ao Egito (12, 10), lsaque a Gerar (26, 1), Jaco ao Egito (41, 538s; 43, 1; 47, 4; Dt 26, 5). Designamos tais deslocamen- tos através de grandes distancias de transmigragdes, cuja origem néo esté na transuméncia, mas em flagelos climaticos ou catastrofes politi- cas. Tanto a passagem dos patriarcas para o Egito quanto a vinda de Abr&o da Mesopotémia para Canaé (cf. 11.30?) cabem rios fenémenos de transmigragao. Portanto, pode-se localizar Abréo, Isaque e Jacé fa, seguinte con- texto vivencial: Vivem nas estepes entre a regido das matas e do deserto do centro (Jace) e do su! (Abrdo e Isaque) da Terra de Canaa. Vivem como pastores de ovelhas, isto 6, como semi-némades na periferia das cidades-estado. Néo séo nem cidadéos dos centros urba- nos nem camponeses das vilas” (p. 77). 68 Pergunta-se: POR QUE AS TORRES DE NOVA YORK CAiRAM? Em sintese: A sra. Anne Graham, filha do famoso pastor Billy Graham, deu uma entrevista a televiséo norte-americana em que aponta 0 arrefecimento da Fé no povo dos Estados Unidos como causa da queda das torres de Nova York, O arrazoado assim convida a um exame de consciéncia, mas ndo deve incutir a idéia de que Deus é policial que aguarda o réu para o punir na primeira ocasiéo. E o homem quem castiga @ si mesmo ao transgredir a lei de Deus. O Senhor néo quer impedir o homem de exercer sua liberdade para cometer o mal, porque tem recur- Sos para tirar do mal bens ainda maiores, como ensina S. Agostinho. Via internet a Redagao de PR recebeu o texto de uma entrevista concedida pela sra. Anne Graham, filha do pastor Billy Graham, a televi- so norte-americana; versa sobre a queda das torres de Nova York, indi- cando como causa do desastre o abandono da fé nos Estados Unidos. Vai o texto transcrito a seguir para ser brevemente comentado. A EXPULSAO DE DEUS “A expulsao de Deus — uma reflexao que vale a pena ler!!! Afilha de Billy Graham estava sendo entrevistada no Early Show e a apresentadora Jane Clayson perguntou a ela: “Como é que DEUS tera Permitido algo tao horroroso acontecer no dia 11 de setembro?” Anne Graham deu uma resposta extremamente profunda e sdbia. Ela disse: ‘Eu crelo que DEUS ficou profundamente triste com o que aconte- ceu, tanto quanto nés. Por muitos anos nés temos dito a DEUS que nao interfira em nossas escolhas, sala. do nosso governo e sala de nossas vidas. Sendo um cavalheiro como DEUS 6, eu creio que ele calmamente nos deixou. Como poderemos esperar que DEUS nos dé a sua bén¢do e sua protegdo, se nds exigimos que ele nao se envolva mais conosco? A vista dos acontecimentos recentes, ataque dos terroristas, tiroteio nas escolas, etc... Eu creio que tudo comegou desde que Madeline Murray O'Hare (que foi assassinada, sendo 0 seu corpo encontrado recentemente) se 69 22 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 queixou de que era imprdprio fazer oragdo nas escolas americanas como se fazia tradicionalmente, e nds concordamos com a sua opiniao. Depois disso, alguém disse que seria melhor também no ler mais a Biblia nas escolas... A Biblia que nos ensina que néo devemos matar, nao devemos roubar, e devemos amar 0 nosso préximo como a nds pré- prios. E nés concordamos. Logo depois, o Dr. Benjamin Spock disse que nao deveriamos re- preender nossos filhos quando eles se comportassem mal, porque suas. personalidades em formacao ficariam distorcidas e poderlamos prejudi- car sua auto-estima (0 filho do Dr. Spock cometeu suicidio). E nés dissemos: ‘Um perito nesse assunto deve saber 0 que esta dizendo, e concordamos com ele’. Depois alguém disse que os professores e os diretores das esco- las ndo deveriam disciplinar os nossos filhos quando eles se comportas- sem mal. Os administradores escolares entéo decidiram que nenhum professor em suas escolas deveria tocar em um aluno quando se com- portasse mal, porque nao queriam publicidade negativa e nao queriam ser processados (ha uma grande diferenga entre disciplinar e tocar, ba- ter, dar socos, humithar e chutar, etc). E nés concordamos com tudo. Ai alguém sugeriu que deveriamos deixar que nossas filhas fizes- sem aborto, se elas assim o quisessem, e que nem precisariam contar aos pais. E nés aceitamos essa sugestéo sem ao menos a questionar. m seguida algum membro da mesa administrativa escolar muito sabido disse que, como rapazes serao sempre rapazes, 6 como homens iriam acabar fazendo o inevitavel, entéo deveriamos dar aos nossos fi- lhos tantas camisinhas quantas eles quisessem, para que eles se pudes- sem divertir & vontade; nem precisarlamos de dizer aos seus pais que eles as tinham obtido na escola. E nés dissemos: ‘Esta bem’. Depois alguns dos nossos oficiais eleitos mais importantes disse- ram que no teria importancia alguma o que nés fizéssemos em nossa privacidade, desde que estivéssemos cumprindo com os nossos deve- res. Concordando com eles, dissemos que para nés ndo faria qualquer diferenca o que uma pessoa fizesse em particular, incluindo o nosso pre- sidente da Republica, desde que o nosso emprego fosse mantido e a nossa economia ficasse equilibrada. Ent&o alguém sugeriu que imprimissemos revistas com fotografias de mulheres nuas, e disséssemos que isto 6 uma coisa sadia, e uma apreciacdo natural da beleza do corpo feminino. E nés também concor- damos. 70 POR QUE AS TORRES DE NOVA YORK CAIRAM? 23 Depois uma outra pessoa levou isto um passo mais adiante e pu- blicou fotos de criangas nuas e foi mals além ainda, colocando-as a dis- posigdo na Internet. E nds dissemos: ‘Esté bem, isto € democracia, e eles tém direito de gozar da liberdade de se expressar e fazer isso’. Aindustria de entretenimento ent&o disse: ‘Vamos fazer shows de TV e filmes que promovam profanagao, violéncia e sexo explicito. Vamos gravar musica que estimule o estupro, drogas, assassinio, suicidio e te- mas satanicos’. . E nés dissemos: ‘Isto é apenas diverséo, € n@o produz qualquer efeito prejudicial. Ninguém leva isso a sério mesmo; entdo que fagam isso’! Agora nés estamos nos perguntando por que nossos filhos ndo tém | consciéncia, € por que ndo sabem distinguir entre o bem e o mal, o certo € 0 errado, por que n&o os incomoda matar pessoas estranhas ou seus préprios colegas de classe ou a si préprios... Provavelmente, se nds analisarmos tudo isto seriamente, iremos facilmente compreender que nds colhemos exatamente aquilo que se- meamos! Se uma menina escrevesse um bilhetinho para DEUS, dizendo: ‘Senhor, por que nao salvaste aquela crianga na escola?’, a resposta seria: ‘Querida crianga, nao me deixam entrar nas escolas! Do seu DEUS’. E triste como as pessoas simplesmente culpam DEUS e ndo en- tendem por que o mundo esta indo a passos largos para 0 caos. E triste como cremos em tudo que os jornais e a TV dizem, mas duvidamos do que a Biblia nos diz. E triste como todo mundo quer ir para o céu, desde que ndo preci- se de crer, nem pensar ou dizer qualquer coisa que a Biblia ensina. E triste como alguém diz: 'Eu creio em DEUS’, mas ainda assim segue a Satands, que por sinal, também ‘cré' em DEUS. € engragado como somos répidos para julgar, mas nado queremos ser julgados! Como podemos enviar centenas de piadas pelo e-mail a respeito de DEUS, as pessoas tém medo de compartilhar e reenvia-lo a outros! E triste ver como o material imoral, obsceno e vulgar corre livre- mente na Internet, mas uma discussdo publica a respeito de DEUS é suprimida rapidamente na escola e no trabalho. E triste ver como as pessoas ficam inflamadas a respeito de Cristo no domingo, mas depois se transformam em cristéos invisiveis pelo resto da semana. 71 24 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 Vocé esta achando graga? Vocé mesmo pode nao querer re-enviar esta mensagem a muitos da sua lista de enderegos porque vocé nao tem certeza a respeito de como a receberao, ou do que pensarao a seu res- peito, por Ihes ter enviado. Nao é verdade? Gozado que nés nos preocupamos mais com 0 que as outras pes- s0a8 pensam a nosso respeito do que com o que DEUS pensa... 2. REFLETINDO... Ser&o propostas duas consideragées. . 2.1. Plano inclinado Anne Graham descreve muito sabiamente o declinio da moralidade nos Estados Unidos (e alhures). Comega pela extingéo do costume de rezar em ptiblico, aos poucos chega a exploragao (comercial e no co- mercial) de criangas. Tudo acobertado por titulos aparentemente legiti- mos: democracia, direitos do cidad&o, uso da liberdade... Os incautos so assim reduzidos ao siléncio. Na verdade, existe a lei natural gravada no coragdo de todo ho- mem e anterior a qualquer norma democratica, lei natural que proibe matar o inocenté ou reduzi-lo a coisa ou mesmo a lixo. 2.2. Deus policial? Asra. Anne Graham insinua que Deus castigou o povo norte-ame- ricano permitindo a grave calamidade de 11/09. Esta afirmagao exige comentario. E verdade que conforme o relato do Génesis (3, 17-19) 0 sofrimento e a morte entraram no mundo por causa do pecado dos pri- meiros pais. Disto, porém, nado se segue que todo pecado posteriormen- te cometido tenha anexa uma sangdo da parte de Deus como se Este fosse um policial que espera o réu para puni-lo na primeira oportunidade. A Providéncia Divina quer a recuperagao do pecador e aplica os melho- Tes meios em cada caso, seja uma interveng&o drastica, seja o exercicio da paciéncia que por vias diversas chama a conversao. Quem castiga o homem é o préprio homem todas as vezes que ele se afasta de Deus, o Sumo Bem. “NOS PASSOS DE MARIA” Com o titulo acima foi publicado o livro do autor protestante Sergio Paim, comentado em PR de outubro 2004. Com o mesmo titu- lo foi editada a obra do Pe. Antonio Borgaz pelas Edigées Paulinas em 2003, merecendo o aprego dos leitores catélicos pela validade de suas afirmagées, 72 Desfazendo equivocos: FATIMA, SANTUARIO PARA TODAS AS RELIGIOES? Em sintese: Via internet e imprensa disseminou-se a noticia de que em Fatima se construiria um santuério para todas as religides. A aber- tura inter-religiosa Ja teria comegado, visto que aos 5 de maio 2004 um grupo de peregrinos hinduistas, dizem, celebrou um culto 4 deusa Devi na capela das aparigdes, Aos 29 de junho pp. Monsenhor Guerra, Reitor do santudrio, houve Por bem esclarecer que Fatima no se tomaria um centro de relativismo inter-religioso, ali nada ‘Se faré que contrarie as nor- mas da igreja ea mensagem das aparigées. . A respeito de Fatima difundiu-se uma noticia que deixou perplexos muitos leitores, Julgando que se descaracterizaria o santuario de tanta importancia para a piedade catdlica, pediram esclarecimentos ao Reitor do santuario, que respondeu dissipando a apreensdo, como se veré a seguir. 1. Assim disseram.., O mal-estar tem por base um fato singular ocorrido em Fatima. 1.1, Fato inédito em Fatima De 10 a 12 de outubro de 2003 reuniu-se em Fatima um Congres- 80 inter-religioso, ao qual compareceram fepresentantes do Islam, do ga cujas obras foram, mais de uma vez, censuradas pela Santa Sé. O tema do Congresso foi; “Presente do Homem, Futuro de Deus. oO lugar dos santuérios na relagao como Sagrado”. Mons. Guerra dectarou entao: “O futuro de Fatima deve passar, pela Criagdo'de um santuario no qual diferentes religides se Poder&o encon- trar cordialmente... O Santuatio de Fatima jé esta aberto a idéia de tornar- se um lugar de vocagao universal. 73 26 ERGUNTE E RESPONDEREMOS” §12/2005 . No fim do encontro determinaram os congressistas que 0S sant tios sejam atualizados de 25 em 25 anos “a fim de levarem consideragao as tendéncias e crengas contemporaneas”. 4.2. Peregrinos hinduistas ‘Aos § de maio de 2004 as deliberag6es do Congresso, como di- zem, comegaram a ser postas em pratica, Com efeito, um grupo de ses- senta hinduistas guiados por seu guru foi a Fatima. Na capela das apari- gées efetuaram um culto & deusa Devi, divindade da natureza cultuada na India. A seguir, foram levados a sala onde se acha a maquete da basilica que esta sendo construida, Cada peregrino foi acolhido pelo Bispo local; este foi revestido de um chale de oragées pelo guru presente. ‘ais noticias causaram surpresa ao publico... 2. Esclarecimento Por meio do periddico “f Voz de Fatima” datado de 29 de junho 2004, Mons. Luciano Guerra houve por bem prestar esclarecimentos 20 publico perplexo pelos acontecimentos atras citados. Eis o respectivo texto: “Visto que nos chegam pedidos de esclarecimento, procuramos uma forma rapida de responder 2 todos. Redigimos, pois, este comunicado. Supomos ser conhecidos os principios j@apresentados referentes a aco- Ihida de irméos de outras confissdes OU teligides, e nos deteremos sobre dois pontos que se tormaram essenciais. © grupo de hinduistas escreveu-nos dizendo que, como peregri- nos, desejavam reconstituir a visita efetuada pelo Sr. Murari Bapur, que precedeu a de Sua Santidade Jodo Paulo llem maio de 1982. Um sacerdote hinduista que acompanhava 0 grupo, @ um tradutor subiram para perto da imagem de Nossa Senhora, enquanto os outros participantes ficavam em baixo. Durante alguns minutos esse sacerdote cantou uma oragao. N&o fez gesto algum nem realizou algum ritual em cima ou fora do altar. O tradutor explicau que pediu “a mui Santa Mae queira dar aos governantes das nagdes a sabedoria e 0 discernimento para que no mundo haja paz, paz, paz”. Verificamos que este anseio de paz 6 geral; € 0 mesmo — pelo menos supome-lo — que traz ao santuario tantas outras personalidades nao catélicas, como, por exemplo, 0 Dalai-Lama, 0 Presidente da Repu- blica da Unido Indiana e as respectivas esposas dos Presidentes Clinton e Arafat. Os grupos de cristaos ndo catélicos virdo também com a Inten- 7” FATIMA, SANTUARIO PARA TODAS AS RELIGIOES? 27 ¢4o de pedir a unidade da Igreja. Embora nado com muita freqiiéncia, fecebemos também alguns altos representantes das Igrejas Ortodoxas. Recentemente algumas dezenas de ministros anglicanos acompanhados Por seu Bispo fizeram seu Retiro espiritual numa das casas do ‘Santuario. Apés a oracdo na capela das aparigdes, os Peregrinos hinduistas foram recebidos numa das salas da Reitoria pelo Bispo de Leiria-Fatima € pelo Reitor do Santuario, a0s quais disseram ter vindo “por devogdo & mui Santa Mae". Nao Propuseram semelhanca alguma ou transposigao deste titulo a alguma entidade da sua religiéo. Sendo assim, temos que reduzir a importancia das semelhangas apregoadas pelos meios de co- municagao; na verdade, sé tardiamente soubemos que desejavam vir tais peregrinos e, Por isto, nada pudemos Preparar, Quanto a igreja da SS. Trindade, perdura o desejo de denominé-la ‘templo ecuménico”, Todavia podemos dizer que este titulo, alids susce- Nossa Senhora, que fazem alusdes dramaticas 4 fung&o medianeira do Papa e dos Bispos em prol da unidade da Igreja e peta paz no mundo, Na esperanca de que todos os irm&os nos compreendam, desejem @ orem pela possivel unido de todos os cristaos, de todos os crentes e de todos os homens, elevernos nossa oragao a Nossa Senhora de Fatima, a fim de que ela fortalega nossa vontade de unir e nos livre de toda atitude de divisao polémica", Assim dissipam-se tumores sinistros ou o receio de relativismo re- ligioso. ooo O Nascimento do Cristianismo, por John Dominic Crossan. Tradu- 940 de Barbara Humbert, Ed. Paulinas, Sao Paulo, 150 x 220 mM, 701 pp. De acordo com o subtitulo da obra, o autor tenciona reconstituir oO que aconteceu nos anos que se seguiram a exeCUuGdo de Jesus”. Ele o faz citando numerosos textos antigos e recentes, propondo hipéteses e exercendo senso critico, de modo tal que o feitor ‘Pode sentir-se confuso Na Holanda: EUTANASIA TAMBEM PARA CRIANGAS Em sintese: Na Holanda ja é licito aplicar a eutanasia a criangas dos doze anos até a idade neonatal, mesmo sendo estes pacientes inca- pazes dé consentir em tal pratica. Embora a lei exija 0 parecer favoravel de autoridades médicas e judiciarias, 0 procedimento no deixa de ser uma expressdo da cultura da morte, alimentada pelo pragmatismo @ — quigé — por moftivagoes espurias. Os médicos catélicos, fazendo eco a0 juramento de Hipécrates, se pronunciaram avessos a nova determinagao judiciéria. A Clinica Universitaria de Groningen na Holanda e as autoridades judiciarias holandesas entraram em acordo para legitimar a eutanasia aplicada as criangas de doze anos até o periodo neonatal. O Dr. Edward Verhager, Diretor da mencionada Clinica, e seus assessores estipularam com grande rigor, passo apds passo, 0S procedimentos que os médicos devem seguir para libertar da dor as criangas; além do qué se requer para tanto o parecer de um juiz. A medida em foco contraria a lel natural, que preceitua: “N&o ma- tar’ nem mesmo a titulo de compaixdo. Por isto a Federagao Internacio- nal das Associagdes de Médicos Catélicos emitiu a propdsito uma Decla- ragdo, que vai, @ seguir, reproduzida e comentada. 4. A Declaracao dos Médicos Catdlicos “SOBRE A EUTANASIA PARA AS CRIANGAS AUTORIZADA NA HoLaNDA Arecente deciséo holandesa de consentir que a eutanasia seja praticada para as criangas de Idade inferior aos 12 anos constitui outra violenta dilaceragdo dos proprios fundamentos da nossa convivéncia ci- vil. Tendo surgido oficialmente para por fim aos ‘sofrimentos insuporta- veis’, a decisao holandesa permite de fato a morte de pessoas humanas gem 0 seu consentimento. Isto acontace numa sociedade, como @ holandesa, na qual, por admissdo de estudos oficiais, a eutanasia sobre oS adultos ja é praticada também em casos que podem ser tratados, como os doentes deprimi- dos, 6 nos quais € executada, segundo © parecer do médico, com pro- cedimentos ilegais, mas tolerados, também em doentes que nao sA0 cons- 76 EUTANASIA TAMBEM PARA CRIANCAS 29 cientes.'? Mais uma VézZ 6 proposta uma solucao de morte para situagdes que poderiam ser enfrentadas a nivel clinico, gtagas ao progresso das modernas curas paliativas. Além disso, ela faz Surgir a suspeita de um interesse financeiro das autoridades PUblicas, dado que alivia as estruturas de saude da despesa de uma assisténcia dispendiosa em Condi¢bes em que qualquer prolon- gamento da duragao de vida & considerado sem sentido. Ainda mais gra- ve 6 0 fato de se abrir a Porta, em escala nacional, 4 morte ‘piedosa’ de outras pessoas. mentalmente incapazes, Podendo elimind-las sem o seu consentimento, por razées fundadas sobre um juizo externo de falta de valor pela sua qualidade de vida. ficado por causas naturais, a Corte Suprema aprovou o Pedido do Estado. Os médicos catdélicos fazem apelo a todos os seus colegas, em nome do juramento de Hipécrates, para que sintama obrigacdo moral de Contrastar 0 ‘plano inclinado’ que, gradualmente esta a Permitir que as autoridades publicas tomem decisdes sobre as vidas que s&o dignas de Capacity Bill” sob exame do Parlamento Brit&nico* e @ tentativa das auto- tidades de modificar 0 Cédigo Deontolégice dos Médicos Belgas, para favorecer a eutandsia*. Os riscos de tais decisées, em termos de violén- Udine, 2 de setembro de 2004, Gian LUIGI GIGLI, MD Presidente da FIAMC” ——___ ‘B.D. Onwuteaka-Philipsen, et. Al. 362 Lancet (2003), 395-9. ? Rietiens JA, & Al, Annaes of internal Medicine, 141 (2004), 178-85. ® Parliament of the United Kingdom, The Mental Capacity Bill, http:// ‘www. publications. Parliament.uk/pa/cm20030420. htm. * Conseiho nacional da Ordem dos Médicos (Bélgica), hit/195.234.184.64/\we-Fr/ a100/a100006F.htm. 7 30 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS"” 12/2005 2. Comentando... Os trés seguintes pontos merecem consideragao. O Jornal LIOSSERVATORE ROMANO, ed. portuguesa de 18/09/ 04, p. 4-6 publicou um artigo de Mons. Elio Sgreccia que aborda o assun- to e do qual vao extraidos os topicos mais salientes. 2.4, Plano inclinado Nota-se que, desde que se permitiu eliminar a vida humana a de- terminado titulo, se tem multiplicado os casos em que se torna licito ex- tinguir a vida humana: “A lei, aprovada na Holanda pelo Parlamento no dia 1° de abril de 2002 ja previa a ajuda a morrer (‘suicidio assistido’) ndo s6 para os enfer- mos adultos que dela tivessem feito pedido ‘explicito, razoavel e repetido’ e para os jovens entre os 16 e os 18 anos que tivessem formulado 0 pedido escrito (art. 3, sec. 2 da lei), mas também para OS adolescentes capazes de consentimento, dos 12 40s 16 anos, sob condigao de que os proprios pais, ou quem deles tivesse a tuiela Juridica, apusessem O seu ‘consentimento ao pedido pessoal dos sujeitos atingidos por doengas ine curaveis ou por dor (art. 4, sec. 2). Agora, com este ultimo acordo médico-judiciério, na Holanda ultra- passa-se um limite até este momento proibido inclusivamente para 4 ex- perimentagao clinica, segundo os Cédigos de Helsinquia: consente-se a eutandsia - sempre segundo as noticias difundidas, que infelizmente sé devem considerar fundadas — também para as criangas com menos de doze anos, incluindo os de idade neonatal, para oS quais sem dtivida nao se pode falar de consentimento valido. Para esta idade, como foi mencionado, continua a ser proibida em todo 0 mundo a prépria experimentagao clinica pelo fato de ela incluir sempre um certo risco, mesmo se minimo, para o sujeito em questao, nem é possivel derrogar esta norma com oO consentimento dos pais ou dos tutores, exceto no caso em que esta experimentagao no seja para utilidade da vida ou da ‘sauide do sujeito sobre o qual é praticada. E facil prever também que © passo para 0 plano inclinado da eutana- sia continuaré nos proximos anos, até incluir os doentes adultos conside- rados incapazes de pedir o consentimento, como por exemplo os doentes mentais ou os sujeitos em coma persistente ou em estado vegelalivo.” 2.2. Principio ético A primeira abertura para a eutanasia apelava para O principio de autonomia da pessoa humana; dever-se-ia respeitar 0 desejo de morrer explicitado por um paciente gravemente enfermo. 78 EUTANASIA TAMBEM PARA CRIANCAS 31 Atualmente J4 ndo se pode vocar a autonomia do Sujeito, pois a eutanasia 6 praticada em Criangas inconscientes, S&o os adultos que avaliam a conveniéncia ou néo de que tal ou tal individuo viva: ‘Neste caso, sé néoéo Principio autonomia que esté em questéo, mas uma deciséo ‘externa’, o Sujeito beneficiario 6 ajudado a morrer in tencionaimente, como um ‘morto Assassinado’, Mas qua! autonomia e@ Sentido de piedade! Encontramo-nos face a um tipo de liberdade dos adultos considerada legitima também quando é praticada sobre quem nao tem autonomia. Oepois, para Justificar a Gutandsia, foi feito apelo também 4 fiberta- $40 da dor ‘nitir’ e do sofrimento. Mas de que sofrimento Se trata? A quem pertence esse Sofrimento? O sujeito crianga ou recém-nascido que, como dizem os Pediatras, sofre menos do que um adulto, néo é Capaz de avaliar ou definir como Insuportével o seu Sofrimento; quem avalia, segundo as normas holande- Sas, 6 0 Médico @ quem consente e decide So 0s parentes. Nao Se trata Porventura do sofrimento dele? Sabemos que a nossa época tornou qua- Se completamente ‘curavel' a dor; as curas Daliativas e as antalgesicas, Promovidas gracas a Deus em todo o mundo e invocadas pelos médicos & pelo campo de satide, conseguem manter e harmonizar a humanidade das curas © a serenidade da morte... E Possivel pensar seriamente no Provavef aparecimento de um darwinismo Social, que pretende facilitar a eliminagao dos seres Auma- NOS que suportam o Peso do sofrimento e de defeitos Para ‘anestesiar’ 100a a sociedade. Foi precisamente Darwin quem considerou um obsté- culo para a evolugdo humana a construgao dos manicémios, dos hospi- tais para enfermos e Para Os doentes bem como a elaboragéo de leis Para proteger os indigenas (cf. Damin, La descendence de homme et la sélection sexuelle, citado em JC, Guillebaud, Le Principe @humanité, Editions du Seuil, 2001, pag. 368), porque estas atitudes da sociedade impediriam ou adiariam a eliminagao natural dos sujeitos defeituosos. Nao foi por acaso que alguns comentadores, também Jeigos, nos jornais des- tes dias falaram de ‘eugenismo mascarado’, referindo-se a este ultimo Passo dado pela lef Aolandesa sobre a eutandsia”. 2.3. Interesses financeiros “Penso que nao seria contudo Incongruente Chamar a atengao so- bre a mentalidade utilitarista que Progressivamente esté a Penetrar a so- 32 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 51212005, nida ‘impossivel’, precisamente porque demasiado dispendiosa para a comunidade. Este utilitarismo, relacionado com O palango, considera pre- valecentes OS problemas relativos a0 incremento da riqueza e da produ- tividade ou da competitividade industrial, em relagao aos deveres do all- vio do sofrimento e a0 apoio que deve ser dado ao doente, sempre mais entregue 4 precariedade dos proprios recursos econémicos e sempre menos ajudado pelo Estado. Por conseguinte, estariamos longe néo s6 da ética da liberdade, mas também da ética da ‘solidariedade, estariamos sob 0 dominio da so- ciedade dos fortes @ sadios e dentro da légica da primazia da economia. Mas ainda estamos dentro da humanidede?”. 2.4. A posigao da Igreja: solidariedade ¢ nao exterminio “A posigéo da igreja sobre o tema da eutanasia é muito bem conhe- cida, constantemente recordada e confirmada; ela deve ser lida com 0 olhar dirigido para @ tutela da dignidade e da vida de cada homem: ‘Ago- ra, 6 necessério recordar com toda a determinagéo que nada e ninguém pode autorizar a morte de um ser humano inocente, seja efe feto ou em- brigo, crianga ou adulto, idoso, doente incurével ou agonizante. Alem dis- so, ninguém pode pedir este gesto homi ida para si proprio ou para outra pessoa confiada ‘4 sua responsabilidade, nem pode consenti-lo explicita ‘ou implicitamente. Nenhuma autoridade pode legitimamente impé-lo nem consenti-lo. De fato, trata-se de uma violagao da lei divina, de uma ofen- sa adignidade da pessoa humana, de crime contra & vida, de um atenta- do contra a humanidade’ (cf. Jura et Bona, pag. !!). Aenciclica Evangelium vitae de Jodo Paulo If, que recorda a con- denagdo moral da eutanasia como ‘grave violagdo da Lei de Deus, en- quanto morte deliberada moraimente inaceitavel de uma pessoa humana’ (cf. n. 64), insiste em Sugerir um caminho muito diferente, ‘o caminho do amore da verdadeira compaixao, que nos é imposto pela nossa comum humanidade que a@ {6 em Cristo Redentor, morto e ressuscitado, lumina com novas raz6es. A sdplica que brota do coragao do homem no confron- to supremo como ‘sofrimento e a morte, especialmente quando é tentado a fechar-se no desespero e como que a aniquilar-se nele, 6 sobretudo uma petigao de companhia, de solidariedade e de apoio na prova’(n. 67). Com o ensinamento, @ atividade e as estruturas proprias, @ Igreja coloca- se constantemente nesta perspectiva”. APENDICE TAMBEM NA INGLATERRA EUTANASIA PARA CRIANGA? O JORNAL DO BRASIL, em outubro 2004, publicou a seguinte noticia: 80 EUTANASIA TAMBEM PARA CRIANCAS, 33 “Juiz DECIDE POR MORTE DE BEBE DOENTE Pais vinham rejeitando recomendagao de médicos Lonores — Uma alta corte briténica decidiu ontem, em meio a uma batatha entre os médicos e a familia, que nao devem mais ser utilizados Procedimentos para manter vivo um bebé de 11 meses extremamente doente. A decis&o prevé que a crianga morra nos bragos da familia, em vez de ser submetida a agressivos tratamentos. Para decidir se era o methor para Charlotte Wyatt ser salva na pré- xima crise respiratoria, o juiz Justice Hedley disse ter avaliado além das evidéncias médicas, e ‘visto 0 corpo, a mente e o espirito expressados em uma forma humana de valor unico que é profundamente preciosa para seus pais’. Os pais nao achavam que a filha, reanimada cinco vezes, estava pronta para morrer e vinham se recusando a aceitar a recomendagao dos médicos. Charlotte, que completaré um ano em 10 dias, nasceu prematura de seis meses em um hospital em Portsmouth (Sul da Inglaterra), pesan- do meio quilo. Ela nunca deixou o lugar e seu cérebro esta profundamen- te prejudicado, além de ter problemas nos pulmGes e nos rins. Os médicos dizem que, embora possa sentir dor, nao responde a estimulos nem sabe o que acontece a sua volta. E alimentada com tubos @ permanece deitada com a cabeca apoiada numa caixa de vidro, que bombeia altos niveis de oxigénio, deteriorando seu pulméo. Eles alegam que seu tempo de vida é de meses e que inevitavel- mente sucumbiré 4 primeira infecgao viral que pegar. O hospital onde nasceu levou o caso a Alta Corte, sob a alegagaéo de que nao seria o melhor para o bebé ser reanimado novamente, apesar da insisténcia de seus pais de que 6 um ‘guerreiro’ que deve receber toda a assisténcia possivel”. A noticia causou surpresa e pede explicagdes. COMENTANDO... E de notar que o juiz, no caso, nao deu permisséo para se desferir um golpe mortal contra a crianga (o que seria eutanasia), mas autorizou 0 desligamento de aparelhagem da Unidade de Terapia Intensiva, visto que os resultados obtidos eram praticamente nulos; nao havia proporgao entre a parafernalia aplicada e os resultados colhidos. Este desligamento nao significa matar diretamente, mas, sim, deixar que a natureza siga seu curso normal, levando a morte natural o bebé, em vez de entreter artificialmente a vida da crianga. 81 4 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS"” 512/2005 Tal procedimento se chama ortotanasla, a diferenca da eutanasia (morte provocada) e distandsia (morte diferida por obstinagao terapéuti- ca, que faz o paciente sofrer inutilmente). Esté claro que, se os genitores ou os responsaveis do paciente querem manter ligada a aparelhagem da UTI, podem fazé-lo, lutando obstinadamente contra a morte. AMoral catélica aceita plenamente a tese proposta, ou seja, o des- ligamento da aparelhagem do CTI, quando se verifica, por parte de peri- tos abalizados, que nao ha proporgdo entre a aparelhagem aplicada e os resultados colhidos. Ver a propésito PR 252/1980, pp. 516ss; 350/1991, pp. 330ss; 374/1993, pp. 317ss. Autodominio. Elogio da Temperanga. por Francisco Faus. — Ed. Quadrante, Sao Paulo 2004, 110 x 150 mm, 83 pp. O autor aborda a moderagdo dos impulsos naturais da gula e da luxdria, propondo as cléssicas normas da Ascética catdlica, das quais sé pode citar o seguinte segmento: “A guarda atenta dos sentidos. Ja falamos da vista; poderiamos recordar a importancia de guardar também 0 ouvido, pequeno bueiro onde $&0 despejadas diariamente mil gracinhas sujas; e o tato, para nao cair em familiaridades e manifestagées de afeto pegajosas, bastante ‘suspei- tas’, especialmente com pessoas do outro sexo, que muita vez equivalem (desculpe-me a crueza) a catar sorrateiramente miseraveis migalhas de sexo, enquanto se finge ser amavel e cordial; e ainda o controle, impor tantissimo, dos chamados ‘sentidos internos’, a imaginagao e a memoria. Reconhegamos que noventa por cento dos desvarios sexuais pro- cedem do descontrole destes dois sentidos internos. Deixar a imagina- ¢o 4 solta — alimentada muitas vezes pelas recordagdes de pecados cometidos, de conversas, de filmes, de leituras, de imagens mais pro- curadas — 6 a mesma coisa que escancarar as janelas da alma a uma série de tentagdes, constantes e progressivas, que entram como uma revoada de cupins; 6 a mesma coisa que acender uma caldeira de apren- diz de bruxo, de onde podem sair todas as torpezas, abusos e anomalias; é alimentar uma veia psicética, que pode vir a tornar-se doenga mental (transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo). Quem é dono da imagi- nagdo, tem noventa por cento ganho para ser dono e senhor dos seus imputsos sexuais e dos seus sentimentos. Este autodominio do pensa- mento 6 a chamada ‘mortificagao interior’, tio - ou mais - importante para o senhorio da vontade como a ‘mortificagdo dos sentidos’ (pp. 80s). O livro 6 valioso no plano doutrinario. 82 Romance polémico: “ANJOS E DEMONIOS” por Dan Brown Em sintese: O autor, j4 conhecido por seu best seller “O Cédigo da Vinci’, apresenta mais um romance ainda hostil 2 Igreja. Esta é tida como inimiga da ciéncia; opde-se-the entéo uma sociedade secreta dita dos ituminati (iluminados), que procura destruir a Cidade do Vaticano durante um conclave destinado a eleger novo Papa. O simbologista Roberto Langdon e a pesquisadora Vittoria Vetra tentam evitar que isto acontega, procurando a sede dos Iluminados em Roma; passam por ex- periéncias sinistras, mas conseguem isentar de destruigéo o Vaticano. Da parte da Igreja, faz-se ouvir uma voz de conciliagéo com a ciéncia. O romance termina mencionando uma série de portentos, que no condi- zem com o resto do fivro, redigido em tom racionalista e relativista. Dan Brown tornou-se famoso pelo romance "O Cédigo da Vinci", em que se mostrou hostil a Igreja. Volta a publico com mais uma obra ou romance que agride a Igreja. A seguir, sera exposto sumariamente o con- teUdo de “Anjos e Demnios”, ao que se seguira breve comentério. 1. O contetido do livro A tese posta em discussdo no livro é a pretensa incompatibilidade entre ciéncia e fé. A igreja seria inimiga dita progresso cientifico e, por isto, combatida por uma sociedade secreta dita “dos Illuminati’, que trama um plano para destruir a Cidade do Vaticano por ocasiao de um conclave: os “Illuminati” ter&io produzido a antimatéria, substancia altamente explosiva @ a terao escondido na basilica de S40 Pedro. Dois cientistas - Roberto Langdon e Vittoria Vetra - se empenham por descobrir 0 explosivo antes da meia-noite (hora prevista para a explos4o); apds duras peripécias, con- seguem evitar o desastre. O romance termina referindo varios portentos, que na condizem com o tom racionalista e relativista do livro. Para tempe- rar 0 rigor do conflito, Dan Brown apresenta, no decorrer da obra, vozes de Personagens da Igreja amigas da ciéncia e do progresso; entre estas, acha- se a voz do camerlengo do conclave, figura de padre reto e austero. Robert e Vittoria, que procuram desmascarar a sociedade secreta, nao s&o cristaos, mas panteistas, como sugere o didlogo abaixo: ““Aciéncla me diz que Deus tem de existir. Minha mente me diz que nunca vou compreender Deus. e meu coragéo me diz que néo fui feita para isto’, afirma Viltoria. ‘Isto é que é conciséo’, pensou ele (Robert). 83 36 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS"” 512/2005 ‘Ent&o, acredita que Deus é fato, mas que nunca o compreende- remos’... Langdon deu uma risadinha. — ‘A Mae Terra. - Gaea, O planeta é um organismo. Todos nés somos células com diferentes finalidades. No entanto, somos entrelagados. Servindo uns aos outros. Servindo ao todo” (p. 100). Quanto aos lluminados. Dan Brown assim concebe a sua origem: “ Desde 0 comego da histéria - explicou Langdon —, sempre exis- tiu uma profunda brecha entre ciéncia e religiao. Cientistas como Copérnico, que no tinham papas na lingua... —Foram assassinados — interrompeu Kohler. — Assassinados pela lgreja por revelar verdades cientificas. A religiéo sempre perseguiu a ciéncia. — Sim, mas porvolta de 1500, um grupo de homens em Roma revidou e lutou contra a Igreja. Alguns dos homens mais esclarecidos da Itélia — fisicos, matematicos, astronomos — comegaram a promover encontros secretos para discutir suas preocupagdes sobre os ensinamentos erra- dos difundidos pela Igreja. Temiam que o monopélio da “verdade” pela Igreja ameagasse a difusdo dos conhecimentos académicos pelo mundo afora. Fundaram o primeiro thin tank cientifico do mundo, chamando a si mesmos de “os esclarecidos”. — Os flluminati. ~ Evidentemente, os Illuminati eram cagados impiedosamente pela Igreja Catélica. Somente através de ritos extremamente sigilosos € que os cientistas se mantinham seguros. Os rumores se espatharam pelo submundo académico e a fratemnidade dos illuminati cresceu, incluindo cientistas de toda a Europa. Eles encontravam-se regularmente em Roma em um refugio ultra-secreto a que chamavam de “Igreja da Iluminagao’. Kohler tossiu e remexeu-se na cadeira. — Muitos dos iMluminati — Langdon prosseguiu — queriam combater a tirania da Igreja com atos de violéncia, mas seu membro mais reveren- ciado persuadiu-os a nao agir assim. Era um pacifista e um dos mais famosos cientistas da Historia’. Langdon estava certo de que Kohler reconheceria 0 nome. Até os que nao pertenciam ao mundo cientifico conheciam o malfadado astr6- nomo que fora preso e quase executado pela Igreja por ter deciarado que © Sol, e néo a Terra, era o centro do sistema solar. Embora seus dados fossem irrefutaveis, 0 asirénomo fora severamente punido por insinuar que Deus nao instalara a humanidade no centro de seu universo. 84 “ANJOS E DEMONIOS” 37 —$—————___AosE DEMONIOS” — Seu nome era Galileu Galilei - disse Langdon” (pp. 36s). ‘~ Os Illuminati eram sobreviventes. Quando fugiram de Roma, via- Jaram por toda a Europa procurando um jugar seguro para se reagruparem. Foram acolhidos por uma outra sociedade Secreta, uma fraternidade de ‘icos pedreiros bavaros chamados franco-magons. — Os magons? — espantou-se Kohler” (p. 40). A respeito da problematica assim abordada, tenha-se em vista a enciclica “Fé e Raz&o” de Jodo Paulo Il, Pergunta-se agora: 2. Que dizer? Consideraremos os trés seguintes pontos: 2.1. Os lluminados Os historiadores ignoram uma sociedade secreta que, a partir de aproximadamente 1500, tenha combatido a Igreja em nome da ciéncia e com 0 titulo de “Iluminados”. O que conhecem é uma sociedade homénima fundada no século XVIII por Adam Weishaupt (1748-1830). Educado em escola de jesultas, mas influenciado por seu av6, livre pensador, Weishaupt se impregnou de concepgées racionalistas, que o levaram a magconaria. In- satisfeito com o que ai encontrou, resolveu fundar sua sociedade secreta prépria em ingolstadt (Baviera) a 1° de maio de 1776; seria mais audaciosa do que a Magonaria na procura de reforma moral e politica dos seus mem- bros e da sociedade; foi o que valeu, para os associados, o titulo de “Perfectiveis", posteriormente trocado pelo de Ordem dos Iluminados. Mais claramente falando, 0 objetivo da Ordem era destruir a autori- dade legitima, tanto a do pai de familia como a do Estado. Pode-se crer que Weishaupt tinha em mira substituir a Igreja. O processo de recruta- mento era severo; como professor que era, Weishaupt exigia dos candi- datos dissertagées filoséficas e os compelia a uma confissdo completa da sua vida passada; cada novato recebia um patrono escolhido entre os grandes pensadores do passado. A iniciagéo compreendia trés etapas: a dos novicos ou pequenos iluminados, a dos cavaleiros escoceses e a dos pertencentes aos grandes mistérios. Em 1777 Weishaupt ingressou na Maconaria com a intengéo de submeté-la ao programa da Ordem dos Iluminados. As pretensdes de Weishaupt irritaram 0 governo bavaro dirigido Pelo chanceler Knigge. Em 1785 Weishaupt foi deposto da cétedra uni- versitaria que ocupava. Um dos seus discipulos chamado Lanz morreu fulminado por um raio; em seus bolsos encontraram-se documentos que comprometiam o portador e seus confrades. Outros documentos foram 85 38. “PERGUNTE & RESPONDEREMOS” 512/2005 ainda descobertos que depunham contra o patriotismo dos lluminados, de modo que Weishaupt teve de abandonar a Baviera. A Ordem assim abandonada no tardou a se extinguir; o governante Carlos Teodoro da Baviera decretou o fechamento da mesma aos 22 de junho de 1784. Ainda no século XVIII houve tentativas de restaura-la, mas sem resultado. Ora Dan Brown transpée para o século XVI a sociedade secreta fundada na Baviera e simpatizante com a Magonaria no século XVII. O leitor desavisado poderé crer que 0 escritor alude a fatos histéricos sem mais — o que seria um mal-entendido. Ver (con)fusao as pp. 21 e 91. E falsa outrossim ou destituida de toda documentagao basica a seguinte noticia propagada por D. Brown ap. 38 do seu livro: A lgreja teré capturado e interrogado quatro cientistas iluminados; té-los-4 marcado a fogo no peito com o simbolo da cruz. Em seguida, os seus corpos terao sido brutalmente assassinados e langados os seus cadaveres as ruas de Roma como adverténcia a quem pensasse em candidatar-se 4 Ordem dos Iluminados. O leitor saberé que versa ai em pleno romance e no em historiografia séria. 2.2. Fé e Razaéo Dan Brown atribui ao padre camerlengo validas consideragdes so- bre o binédmio acima, pondo em foco a superagao do problema ou da antitese entre fé e razdo: ““ Aciéncia pode ter aliviado os sofrimentos das doengas e dos traba- Jhos enfadonhos e fatigantes, pode ter proporcionado uma série de apare- thos engenhosos para nossa convivéncia e distragao, mas deixou-nos em um mundo sem deslumbramenio. Nossos crepusculos foram reduzidos a comprimentos de ondas e freqliéncias. As complexidades do universo foram desmembradas em equagées matematicas. Até 0 nosso amor-prérpio de eres humanos foi destruido. A ciéncia proclama que o planeta Terra e seus habitantes so um cisco insignificante no grande plano. Um acidente cosmi- co—e aquio cameriengo fez uma pausa, — Até a tecnologia que promete nos unir, ao contrario, sé nos divide. Cada um de nds esta hoje eletronicamente conectado ao globo inieiro e, entretanto, todos nos sentimos sés. Somos bombardeados pela violéncia, pela divisdo, pela desintegragéo e pela trai- ¢&o. O ceticismo passou a ser uma virtude. O cinismo e a exigéncia de pro- vas para tudo converteram-se em pensamento esclarecido. Alguém ainda se admira que as pessoas hoje se sintam mais deprimidas e derrotadas do que em qualquer outra ocasiao da histéria do homem? Seré que existe algu- ma coisa que a ciéncia considere sagrada? A ciéncia procura respostas usan- do fetos nao-nascidos como material de pesquisa. A ciéncia até se atreve a reorganizar nosso DNA. Despedaga o mundo de Deus em parcelas cada vez menores em busca de significados e sé encontra mais perguntas. 86 “ANJOS E DEMONIOS” 39 OOOO See A veiha guerra entre a ciéncia e a religiGo esta encerrada - disse 0 cameriengo. — Vocés venceram. Mas nado venceram honestamente. Nao venceram fornecendo respostas. Venceram redirecionando nossa socie- dade de modo téo radical que as verdades que outrora viamos como diretrizes agora parecem inaplicévels. A religiéo nao tem Capacidade para acompanhar isto. O crescimento cientifico é exponencial. Alimenta-se de simesmo como um virus. Cada novo avango abre caminho para outros Novos avangos. A humanidade levou milhares de anos para evoluir de foda para o carro. E apenas décadas do carro para 0 espaco. Atuaimen- te, calculamos por semana o progresso cientifico, Estamos girando fora de controte. O abismo entre nds Se aprofunda sem parar e, a medida que 4 religiao vai ficando para tras, as pessoas se véem em um vazio espiritu- al. Imploramos pelo sentido das coisas. Vemos OVNis; freqiientamos médiuns, buscamos contato com os espiritos. Experiéncias extracorpdreas, @ uso do poder mental, Todas estas idéias excéntricas tm um verniz cientifico, mas so desceradamente irracionais. So grito desesperado da alma modema Solitéria e atormentada, deformada por seu proprio esclarecimento e Por sua incapacidade de aceitar que haja sentido em qualquer coisa que seja estranha a tecnologia” (pp. 315ss). 2.3. Igreja A Igreja é tida como mestra de dogmas supersticiosos, recebidos do Paganismo na época de Constantino Imperador (+ 337). Os Cardeais que morrem durante o conclave séo despojados de seus trajes e marcados a fogo Sobre a pele; cada um desses Prelados é assinalado no peito com o nome de um dos quatro elementos “constitutivos de toda a realidade: Ar, Fogo, Agua, Terra’, Seria esta caracterizag&o uma forma de atribuir ignorancia a Igreja. Na verdade, a Igreja nao é contraria a0 progresso da ciéncia. Ela teve e tem entre os seus clérigos e leigos grandes cultores da cié: ° que importa a Igreja é que a ciéncia nao se desligue da consciéncia ética: esteja a servico do homem e nao ponha o homem a seu servico. Chama a atengao o final do romance; salva-se de uma explosao a basilica de Sao Pedro; salvam-se da morte os Protagonistas do romance (os cientis- tas Robert e Vittoria, o padre camerlengo) em uma série de episddios Portentosos (gragas de Deus), que destoam da Indole racionalista e telativista do romance. Mais ainda: 0 livro tem como ultima cena um Convite ao “amor’ feito Por Vittoria Vetra a Roberto Langdon. Isto fica longe do fio condutor do romance e deixa 0 leitor um tanto desapontado; seria para desejar que a tematica central do livro fosse abordada de maneira concisa é lticida. Em suma, “Anjos e Deménios” é mais um romance Policial de leitu- ra atraente cheia de suspenses, mas é também um ataque gratuito e caricatural a figura da Igreja, Mae e Mestra benemérita. 87 40 “PERGUNTE & RESPONDEREMOS” 512/2005 CORRESPONDENCIA MIUDA Sob este titulo vém reunidas respostas dadas a questées simples, mas atuais, Tratarao de confissdo dos pecados, anencefalia, anticoncep- cionais, aparigées de Nossa Senhora, Halloween, nomenclatura de do- cumentos pontificios € modalidades de gula. CONFISSAO DOS PECADOS Por que os fiéis ndo podem confessar os pecados somente a Deus? =Todo pecado tem repercussao comunitaria. Estamos inseridos na comunhdo dos santos, de modo que ninguém vive s6 para si. Praticamos 0 bem nao somente em nosso proveito individual, mas também em proveito da comunidade; uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro. “A esta lei da elevagdo corresponds infelizmente a lei da descida, de tal modo que se pode falar de uma comunhdo no pecado, em razao da qual uma alma que se rebaixa pelo pecado, arrasta consigo a Igreja e, de certa maneira, 0 mundo inteiro” (Jodo Paulo Il, Reconciliagéo e Peniténcia 16). Sendo as- sim, o perddo dos pecados nos vem através da Igreja, a quem Jesus quis confiar o ministério da reconciliagao, quando, ressuscitado, comunicou 0 Espirito Santo aos Apostolos com as palavras: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, serao perdoados; Aqueles a quem os retiverdes serdo retidos” (Jo 20, 23). O Cristianismo é essencialmente a religiao do Verbo Encarma- do: o corpo fisico de Cristo, o Corpo Mistico e os sete ritos sacramentais perfazem o Ambito sacramental no qual Deus se dé ao homem. ADIGNIDADE DO ANENCEFALO Enquanto, na contra-mao da civilizago, o Conselho Federal de Medicina (CFM) de nosso pais declarou que 0 recém-nascido anencéfalo pode ter seus 6rgaos arrancados para fins de transplante, embora ain- da esteja respirando, movendo-se, reagindo a estimulos nervosos (por ser considerado um “natimorto cerebral’), ha muito tempo, em 21de junho de 1996, 0 Comité Nacional de Bioética do Govern Italiano langou um extenso documento reconhecendo a dignidade humana do recém-nascido anencéfalo e repudiando o uso de seu corpo como se fosse um cadaver, enquanto o tronco cerebral esté em funcionamento. O nome do documento 6 “O RECEM-NASCIDO ANENCEFALO E A DOA- GAO DE ORGAOS". 88 4 —SSSSS—(—COsC—C—s— Alguns pontos importantes do documento: 1) E quase impossivel uma definigéo exata de anencefalia. Ela apresenta numerosos graus, e freqdentemente esta associada a outras mas-formagées. 2) Deve-se descartar a idéia de que é certo que o anencéfalo néo tem consciéncia nem pode sofrer dor. 3) O critério da morte encefalica, utilizado para fins de transplante, inclui a cessagao do funcionamento do tronco cerebral (e néo apenas do cértex). Enquanto o tronco estiver funcionando, o anencéfalo é vivo, e, como tal, sujeito de direitos. 4) O anencéfalo é um auténtico ser humano. Sua mé-formagao n&o diminui sua dignidade. No é licito dispor de seu corpo, ainda que com a boa intengdo de salvar outro ser humano. Confira os pontos acima em http:/Awww. providaanapolis.org.br/cnbport.htm Original italiano em: http://www. providaanapolis.org.br/cnbital.pdf Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz Presidente do Prdé-Vida de Andpolis ICQ 17389564 Telefax: 55+62+3210900 Caixa Postal 456 75001-970 Anapolis - GO http://www. providaanapolis.org.br APILULA ANTICONCEPCIONAL Todo anticoncepcional é condenavel néo s6 por parte da Igreja Catdlica, mas também pela lei natural, impresso em todo ser humano anteriormente a qualquer crenga religiosa. Com efeito, a natureza huma- na 6 dotada de fungées muito sdbias, que tém sua finalidade propria cada uma: a fungao respiratoria, destinada a purificar o sangue; a fungao digestiva, destinada a alimentar o individuo; a fungao genital (sexual), que tem por objetivo conservar a estirpe humana. Cada qual dessas fun- ges tem um prazer anexo, que 6 um estimulante. Donde vemos que, se alguém exclui a finalidade reprodutiva para ficar sé com o prazer, esta invertendo a ordem das coisas e violando a lei natural que @ a lei de Deus. E comparavel aquele individuo que come sem necessidade, so- mente pelo prazer de comer; é geralmente chamado glutdo. A Moral ca- 89 42 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” 512/2005 tolica aceita o planejamento familiar; recomenda, porém, os métodos naturals, dos quais o mais seguro é o de Billings ou do muco cervical. E método sadio, ao passo que a pilula é um produto farmacéutico colocado num organismo que funciona bem para que nao funcione bem. Ora isto n&o pode deixar de fazer mal. QUAL E A POSIGAO DA IGREJA FRENTE AS APARIGOES DE NOSSA SENHORA? Algreja no pode reconhecer oficialmente alguma revelagao parti- cular, pois a revelag4o divina publica se encerrou com a geragao dos Apostolos. Quando acontece algum fenémeno desse tipo, a Igreja man- da examind-lo por peritos. Em alguns casos, 0 laudo dai resultante 6 negativo, pois se verifica doenca mental ou algum fator que fere a Moral, ou ainda algum erro doutrinario na mensagem. Em outros casos n&éo aparece por que condenar os fenémenos; em tais circunstancias, a Igreja ndo se pronuncia, mas permite o culto prestado a Nossa Senhora no lugar dito “das aparigdes’, tendo em vista o aspecto pastoral ou as gragas (curas, conversdes, solugdes de problemas financeiros...) obtidas por pe- regrinos que vao rezar no respectivo santudrio, E 0 que acontece na maioria dos casos, inclusive no Brasil; entre nds o culto 4 Senhora Aparecida nao somente é permitido, mas é favorecido pela Igreja, visto . que se trata da padroeira da nagéo. Em Belo Horizonte o vidente Raymundo Lopes foi desaprovado pelo Sr. Arcebispo. O grande numero de aparigSes falsas ou duvidosas no Brasil e no mundo inteiro se explica pelo fato de que vivemos numa época de crise, em que muita gente espera solugdes extraordinérias € fatos raros, chegando a projeta-los em sua mente. E LICITO AUM CATOLICO PARTICIPAR DA FESTA DOS HALLOWEEN? Afesta dos Halloween tem inspiragao e origem no druidismo ou na religiao dos sacerdotes celtas, que muito marcaram os povos da Irlanda, da Escécia e de regides da Inglaterra. Supunha que os mortos vinham a Terra visitar seus familiares na noite de 31/10 para 1°/11; em conseqlién- cia homens e mulheres se vestiam com trajes fantasiosos a fim de nao ser reconhecidos e arrebatados pelos visitantes do além. A estas con- cepgdes se associava o festival de fim do ano celta celebrado a 31/10 com presentes é orgias. Este fundo de idéias e praticas pagas foi, tanto quanto posstvel, cristlanizado pela Igreja, que instituiu a festa de Todos os Santos a 1°/11 e a comemoracéo de Finados a 2/11. No Brasil a festa dos Halloween toma a feigao de um pequeno Carnaval, em que as crian- 90 CORRESPONDENCIA MIUDA 43 gas trajam suas fantasias e recebem Presentes num clima que nao con- diz com o de uma festa crista. = PODERIA EXPLICAR A NOMENCLATURA Dos DOCUMENTOS PONTIFICIOS? Os documentos pontificios podem aparecer sob diversas modali- dades. Carta enciclica é uma Circular, que aborda algum ponto doutrina- rio ou exaita a figura de algum Santo. Bula é um documento mais solene a0 qual se prende um pequeno globo de metal no qual est4 gravado o nome do Papa; comeca pela expressao N.N., servo dos servos de Deus. Breve é um documento mais curto do que uma Bula; geralmente trata de assuntos de indole privada (dispensas, concessées, .). Motu proprio é, como diz 0 nome, o documento que por iniciativa do proprio Pontifice Procede, sem a prévia interpelagao de alguém. Rescrito é a resposta a alguma solicitagao de favor ou Privilégio. Constituigao é documento de grande autoridade, que pode versar sobre os mais diversos temas. Exor- tagao Apostdlica é o documento que promulga consideracées e estu- dos realizados num Sinodo Mundial de Bispos. Todos os documentos papais merecem o respeito correspondente ao teor de suas palavras. O Papa pode dizer: “Definimos...” ou “Recomendamos...” ou “Nao convém...”, expresses estas que tém peso diferente. GULA: CINCO MODALIDADES Um amigo ouviu dizer que Os antigos distinguiam cinco modalida- des de guia. E pergunta quais sao. — Eis a resposta: Alguém pode pecar por gula: 1) PRAEPROPERE: Precipitadamente ou n&o observando a hora convencional das refeigées, “beliscando” antecipadamente; 2) LAUTE: procurando alimentos tequintados, caros ¢ raros; 3) NIMIS: comendo em demasia, sem necessidade, apenas pelo prazer de comer; 4) ARDENTER: com avidez excessiva, sem observar a devida eti- queta ou os bons modos; 5) STUDIOSE: detendo-se exageradamente na Preparacao dos all- mentos em prejuizo de outras ocupacgées, Veja o leitor se isto the diz alguma coisa. Estévao Bettencourt 0.S.B. a1 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 51 2/2005 44 AHISTORIA DE ANOUK’ 18 de julho de 2000 — 149 de julho de 2000 {a histéria de uma menina anencéfala, que viveu treze horas apds 0 nascimento, narrada por sua mae, Monika Jaquier, da Suiga) Em 18 de julho de 2000, nasceu nossa quarta filha, Anouk. Treze horas mais tarde ela veio a falecer. Hoje, tentarei descrever o que tive- mos que passar com ela. Tudo estava normal até a 20° semana de gravidez. Porém, quando fui submetida ao exame principal, o ginecologista observou um fibroma em meu utero, que poderia ser perigoso durante o parto. Como ele nao se estava sentindo seguro, encaminhou-me a um especialista no hospi- tal CHUV. Fora o fibroma, estava tudo bem. Tudo, exceto a cabega da crianga, péde ser examinado pelo ginecologista, mas eu sabia que eles podiam examiné-la no CHUV. Assim, nado me preocupel. Duas semanas mais tarde fui visitar o especialista em ultra- sonografia, Dr. Vial. Embora ele ndo tivesse mencionado um fibroma, 0 exame foi mais longo do que 0 habitual. “Estou seriamente preocupado com a cabega”, disse-me ele. “Seu bebé sofre de ma-formagdo muito grave chamada anencefalia. Isso significa que estao faltando a calota craniana e a pele. O liquido ‘amniético danificou o cérebro; assim, o teci- do celular esta descoberto. Uma crianga nessas condigdes nao pode vi- ver e, conseqlentemente, morreré pouco depois do nascimento’. Ele esté convencido de seu diagndéstico e néo da esperanga de recuperagao. “E agora?" Ele explica que eu ainda podia abortar se assim o desejasse. “Nao, nem pensar’. Embora eu ndo possa compreender as conseqUéncias dessas palavras, estou certa de que n&o posso decidir sobre a vida ou morte, mas somente Deus pode. Além disso, Ele é Jodo- Poderoso e pode operar milagres sempre que Ele quiser. Ao ouvir minha resposta determinada, 0 médico responde, “Cabe a senhora decidir’. O restante da gravidez e parto deveria ser OK. O tnico problema seria uma produgdo excessiva de liquido amnidtico, mas facil de ser controlada paralisada. Tenho outras perguntas a fazer. Nao sei 0 que esta aconte- cendo comigo, se realmente estou vivendo essa situagdo ou se é sim- plesmente um pesadelo. Como é que posso fazer uma pergunta numa hora dessas? O médico diz também que posso telefonar para ele a qual- quer momento e que posso fazer os outros exames no seu consult6rio. ' Mensagem recebida do Comité Prd-Vida de Anépolis. 92 AHISTORIA DE ANOUK 45 Ao chegar & casa, debulhei-me em lagrimas nos bragos do meu marido, Christophe. Primeiramente, ele se reconfortou por néo haver nada de errado comigo, porque, ao contrario de mim, ele ficou preocupado com a minha prdpria satide. Ao mesmo tempo, as noticias também séo um choque, sem duvida, para ele; temos que manter o bebé. Assim, deci- dimos de imediato nado perguntar a Deus os motives dessa situagao. Prova- velmente, Ele nunca nos responderé e néo queremos ficar amargurados. Nossa filha mais velha, Anais, compreende rapidamente que algo esta errado. Tento explicar para meus filhos que este bebé morrera logo apés 0 nascimento. “Vamos rezar e Jesus ira curar o bebé". Certamente, € isso que geralmente Ihes ensinamos a fazer, mas neste caso nao estou certa de que Jesus quer fazer isso. Anoite, liguei para um de meus tios, que é médico, para obter mais explicagdes. Ele néo me péde dar mais detalhes, mas me disse que uma crianga anencéfala nao pode viver. Entretanto, ele me encorajou a dar- lhe os mesmos direitos de qualquer outro bebé, e viver da maneira mais normal possivel. Essas palavras me sacodem, uma vez que uma das. minhas perguntas mais importantes apés 0 diagnéstico era como eu po- deria viver os quatro meses e meio que restavam da gravidez com um ser humano ja condenado & morte. A noite seguinte foi a pior da minha vida. Nao podia dormir e pen- sava continuamente na situagdo. Isso explica por que acordei tao depri- mida de manha para cuidar dos meus filhos Anais (seis anos e meio), Max (cinco) ¢ Tabea (trés). Nosso pastor e sua esposa visitaram-nos e juntos rezamos para que Deus nos ajudasse e consolasse. Contudo, nao pedimos a cura, porque nem eu nem ele pensamos que esse fosse o caminho certo a seguir. Também telefonei para a parteira, e, assim como o meu tio, ela me encorajou a continuar vivendo normalmente e dar a esse bebé tudo o que daria a uma crianga saudavel; ele tinha os mesmos direitos de rece- ber amor e cuidados como qualquer outra crianga. Deveriamos também aproveitar o tempo restante da gestacdo para nos preparar para o parto, para que tudo acontecesse como desejava. Ela me indicou um endereco na Internet sobre anencefalia (www.asthelp.com ). Pela primeira vez pude ver fotos de recém-nascidos com anencefalia e os testemunhos dos pais afetados. Isso me ajuda a saber que ndo estou sozinha durante os dias subseqtentes. Pessoas que passaram pela mes- ma experiéncia, e nado é uma maluquice total manter o bebé. Se o mundo nado pode compreender a nossa decisdo, Deus pode. A leitura didria de passagens biblicas, que me tocam profundamente, me da coragem e me ajuda concretamente. Uma certa manha li o seguinte versiculo: 93 46 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS"” 512/2005 "Pois 6 necessério que aquilo que 6 corruptivel se revista de incorruptibilidade, e aquifo que é mortal se revista de imortalidade. Quan- do, porém, o que é corruptivel se revestir de incorruptibilidade, e o que 6 mortal, de imortalidade, ent&o se cumpriré a palavra que esta escrita: “A morte foi tragada pela vitéria, Onde esté, 6 morte, a tua vitoria? Onde esté, 6 morte, o teu aguilhdo?” O aguilhao da morte é o pecado, e a forga do pecado é a lei, Mas gragas a Deus, que nos dé a vitéria por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Corintios 15:53-57). Estas palavras me ajudam a encontrar esperangas e fortaleza. Uma vez que creio nessas palavras, serel capaz de enfrentar os meses se- guintes com confianga. Nao é a expectativa de um milagre que me ajuda a enfrentar tudo, mas a certeza da ressurreigo e vida eterna do bebé. O que sao oitenta anos de vida (se ela vivesse © curso médio da vida de uma pessoa) comparados a eternidade? Para darmos ao nosso bebé um nome e desfrutarmos do tempo restante da melhor maneira possivel, queriamos saber o sexo do bebé. No exame seguinte, o ginecologista me informa que estou esperando uma menininha. Decidimos que o seu nome sera Anouk. Fora isso, a consulta é fraca. Tive a impressdo de que o médico realmente nao me ouviu. Ele sé quer dar a sua propria opinido e nao quer admitir que ja decidimos conservar 0 nosso bebé. Na opinido dele “pessoas normais” nado podem pensar desse jeito. Decido que essa sera a minha ultima consulta. Definitivamente iremos ao Dr. Vial, que é confidvel e que aceita totalmente a nossa decisao. Escolhemos Anouk porque gostamos desse nome. No principio, nao procuramos o seu significado. Mais tarde, descobrimos que Anouk deriva de Ann, que significa “graga”. Graga 6 algo que nado merecemos, que nado fizemos nada para merecer, mas que recebemos de qualquer maneira. Anais, 0 nome de nossa filha mais velha, tem a mesma raiz. Depois de ter sofrido dois abortos espontaneos, ela foi um presente pre- cioso para nés. Mas agora sera que 6 o mesmo presente? Sim, certa- mente 6, mas de outra maneira. Deus nos deu algo especial e precioso: a Sua paz. Mesmo que tudo parega conspirar contra nds, estou bem. Os ultimos dias antes do parto s&o bastante dificels. Cada hora parece uma eternidade e quase n&o posso pensar em algo que néo seja © nascimento. Estou téo preocupada com ele que anseio estar sozinha numa ilha deserta. Além disso, as pessoas ao meu redor estdo-me dan- do nos nervos, apesar de serem muito cordiais, perguntando como estou e sendo muito gentis comigo. Porém, gostaria de estar sozinha. Isso ex- plica por que meu humor muda o tempo todo, passando de uma imensa alegria a profundos sentimentos de tristeza. Assim, sinto-me fisicamente bem e nao ha dor pré-natal. Ao invés disso, ha paz. No nivel espiritual, ha 94 AHISTORIA DE ANOUK 47 uma luta permanente: estou preocupada e temerosa do que ha por vir. Um parto normal nem sempre é agradavel, mais nesse caso também ha a inseguranga do que vai acontecer em seguida. De repente, tenho a impress&o de que entendo como Jesus esta sendo desencorajado e as- sustado no Getsémani. Assim, Deus esta aqui e, embora nem sempre Ele nos permita evitar provagées, Ele nos ajuda a suporta-las. “Nao vos inquieteis com nada. Mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oracdo e pela suplica, em agdo de gracas. Entéo a paz de Deus, que ultrapassa toda compreens&o, guardaré os vossos coragées e pensamentos, em Cristo Jesus”. (Filipenses 4:6-7), Um dia antes da data devida, pedi 4 indugdo do parto ao Dr. Vial. Continuei esperando que o nascimento comegasse por si mesmo, mas néo posso esperar mais: é muito duro, Ao chegarmos ao hospital, em 18 de julho, um calendario biblico nos da as boas-vindas com o seguinte versiculo: “Mas eu sei também que aos que temem a Deus acontece o bem, porque eles o temem” (Eclesiastes 8:12). Que promessa! Todos os meus temores se desvanecem e, em lu- gar disso, uma paz profunda, que ira permanecer. E Deus responde as nossas preces: Anouk nasce as 17h21min apds um parto normal, breve e direto. A parteira apenas coloca um gorrinho em sua cabega e finalmente posso seguré-la em meus bragos. Ela esta viva! Sera que ela vai come- gar a respirar? O mundo a minha volta para e a coisa mais importante é a minha filha. Cada segundo com ela € tao precioso e somos tao gratos. Embora eu saiba claramente que ela vai morrer, estou tdo feliz. A sala se enche de alegria ao nosso redor; alegria e paz. Anouk comega a respirar suavemente: incerteza no inicio, mas ent&o de maneira mais e mais re- gular. Agora olho para ela mais atentamente. Ela 6 tao pequenina, princi- palmente sua cabe¢a. O gorro que tentei tricotar o menor possivel ainda é bastante largo. Nao quero olhar por baixo do gorro. Tento olhar para o resto de seu corpo. Vejo a minha filha, um bebé com uma terrivel defor- magao, mas acima de tudo minha filha. Ela se parece com os trés outros no nascimento. Poderiamos facilmente confundi-los com Anouk. E entaéo eles chegam; Anais, Max e Tabea vieram encontrar sua irmazinha. Eles estao intimidados pela sala com todas as maquinas e se sentem inseguros porque a mamae esta deitada nesta cama branca e ndo pode levantar-se para sauda-los. Eles olham para Anouk cheios de curiosidade, fazem muitas perguntas, mas nenhum deles quer segura-la. Ela parece téo estranha com a sua pele rosada. Tiramos muitas fotos para nos ajudar a lembrar dela mais tarde. “Sua filha tem muita sorte por ser bem-vinda em sua familia’, diz a parteira para mim. Ela nos agradece por ter permitido que ela estivesse 95 48 “PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 512/2005 presente no parto. O pediatra nos diz como a nossa atitude e decisao o impressiona. Sem testemunhar Deus, todos podem sentir a sua presen- ga. Ele guiou tudo perfeitamente. Apés a visita de nossos pais, permanego a sés com Anouk. Ela 6 surda e, mesmo se ela abrir seus olhos azuls, ela é cega. Mas ela pode reagir ao amor que Ihe comunicamos e sua reagao é totalmente visivel, uma vez que o amor é dado e recebido com o corag&o e nao é preciso ter um cérebro para isso. Agora, estou pronta para dar uma olhada debaixo do gorro manchado de sangue. A ferida é horrivel, mas pertence a Anouk e nao me choca. A sala esta t&o calma e estou to feliz por Anouk estar viva, mas devo confessar que ficarei aliviada quando ela morrer. Certa- mente ela n&o pode viver. ‘ Mais ou menos as 2 h da manha, ela comega a chorar e mai pode respirar. Chamo o pediatra, que limpa suas vias respiratérias. Entdo, ela se acalma, mas respira com crescente dificuldade e mais devagar do que antes. Pouco tempo antes das 6h30min da manha, Christophe e eu tezamos juntos e colocamos a vida dela nas maos de Deus. ela respira mais uma vez e depois falece. Nao preciso de um médico para saber que nao ha mais vida. Estou segurando um invélucro vazio em minhas méos. Choro e choro, em parte porque estou triste, mas, principalmente, porque estou feliz de saber com certeza que a alma de Anouk agora esté com Deus. Christophe chora também e isso me faz bem. Antes de banhar e vestir Anouk, tiramos suas impressdes das maos e dos pés, porque é importante para mim ter tantas lembrangas quantas possivel. Mais tarde, sempre serei capaz de joga-las fora, mas essa é a minha unica oportunidade de recolhé-las. Depois disso, nada nos reteém no hospital e nossos filhos precisam de néds em casa. Sabemos que nao podemos fazer nada mais por Anouk. Choro ao sair do hospital. Continuo chorando no carro e, ao chegar a casa, quando Tabea nos pergunta onde esta Anouk, comeco a chorar novamente. Passo o resto do dia na cama com uma calxa de lengos de papel. Mas apesar disso, nao posso parar de agradecer a Deus. Nao ha amargura nem lamentacao e nao me arrependo por um segundo nos ultimos meses. Fico feliz apesar da minha tristeza porque “a morte foi tragada pela vitoria”. “Onde esta, 6 morte, a tua vitoria? Onde esta, 6 morte o teu aguilhdo?”. “O aguilhéo da morte é 0 pecado, ea forga do pecado é a lei. Mas gragas a Deus que nos da a vitéria por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Agora posso compreender 0 significado da seguinte frase que uma senhora escreveu para mim durante a minha gra- videz “Viver o amor nunca sera um problema, mas sim 0 que tiramos dele". Demos todo 0 nosso amor a Anouk e agora podemos deixé-a partir. Monika Jaquier. NOVIDADE Dom Bernardo Bonowitz, OCSO Senhor, Abri os meus [dbios 216 pp - formato: 24 x 21em ISBN 85-88711-06-0 RS 25,00 Temos aqui mais um livro reunindo homilias do Prior do Mosteiro trapista de Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente, Parana. O primeiro, A alegria que vem da Trapa, também foi editado pela Lumen Christi. “Com imaginacio e fantasia movidas pela f¢ ardente ¢ aquecidas por oragio constante, Dom Bernardo analisa com realismo as verdades bisicas da nossa crenga. A fé que brota de sua vida contemplativa apresenta-se sem sentimentalismos, plena de alegria, resultando numa visio original... estuante de vida e graga”. (Da Apresentagiio por Mariana S. Camargo da Sociedade dos Amigos Fraternos de'Thomas Merton) NOVIDADE Hélio Albuquerque A relacdo judaico-crist# nas otigens ¢ hoje 206 pp. R$ 25,00 A obra abordaa interrelagao fudaico- crista, a partir de suas origens e deseja con- tribuir para odidlogo entre as duas religides, incrementada depois do Concttio Vaticano I. Oautor procura estudar a questao, levantan- doos dados teolégicos, cristolégicos ¢ histri- cos pertinentes para poder analisar como o tema se apresenta na atualidade e poder iden- titicar algumas linhas prospectivas que se possam abrir. A obra se destina nao somente aos estudantes de teologia e de ciéncias da religito, como também a todos aqueles que se interes- sam por compreender o vinculo existente entre judeus ecristios. Oautor éum leigo licenciado em matemitica e posteriormente graduado em Teologia pelo hoje Instituto Teolégico do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, onde, alids, 6 professor. Leciona tainbém no Instituto Superior de Ciéncias Religiosas da Arquidiocese do Rio de Janei~ ro. Edoutorem Teologia pela PUC-Rio. Integratite da Fraternidade Cristd-Judaica do Rio de Janeiro, tem participado ha alguns anos de encontros inter-religiosos. Seu livro tem apresentagao de Dom Anselino Chagas de Paiva, OSB e preticiode Dom Estévao Bettencourt, OSB. RENOVE O QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR RENOVAGAO! OU NOVA ASSINATURA (ANO DE 2005 - DE JANEIRO A DEZEMBRO) NUMERO AVULSO... PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANO 2003 E 2004 Encadernado em percalina, 590 pags., com indice. (Numero limitado de exemplares) wv... FS 70,00 cada

Potrebbero piacerti anche