Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
O Devir Sujeito:
O projeto de Mbembe desloca a questão de seu caráter racional para assumir categorias
mais materiais, nomeadamente a vida e a morte (p.11). Nesse caso são mobilizados os conceitos
de Hegel e Bataille sobre o devir sujeito. De forma resumida o primeiro reconhece que a política
se dá na consciência constante da morte, não sua negação, mas o trabalho histórico ininterrupto
para lidar com ela. Com Bataille o conceito é deslocado para um espectro de positividade, a
morte torna-se o domínio da soberania pelo controle da lei – ou costumes. Segundo Mbembe:
“A política só pode ser traçada como uma transgressão em espiral, como aquela diferença que
desorienta a própria ideia do limite. Mais especificamente, a política e a diferença colocada em
jogo pela violação de um tabu” (MBEMBE, 2018, p.16) Assumindo aspectos da critica “pós-
colonial” o controle sobre a vida será o objeto central do texto de Mbembe, em especial sobre
os corpos do “outro”, carregado de estigmas, desprovido de fala e passivo de morte.
Biopoder:
“Operando com base em uma divisão entre os vivos e os mortos, tal poder se define em
relação a um campo biológico – do qual toma controle e no qual se inscreve Esse controle
pressupõe a distribuição da espécie humana em grupos, a subdivisão da população em
subgrupos e o estabelecimento de uma cesura biológica entre uns e outros. (...) Com efeito, em
termos foucaultianos, racismo é acima de tudo uma tecnologia destinada a permitir o exercício
do biopoder” (MBEMBE, 2018, p.17) Tecnologia presente, segundo Foucault, em todo Estado
moderno.
Formas de resistência: “Tratado como se não existisse, exceto como mera ferramenta e
instrumento de produção, o escravo, apesar disso, é capaz de extrair de quase qualquer objeto,
instrumento, linguagem ou gesto uma representação, e estiliza-la. Rompendo com sua condição
de expatriado e com o puro mundo das coisas, do qual ele ou ela nada mais é que um fragmento,
o escravo é capaz de demonstrar as capacidades polimorfas das relações humanas por meio da
música e do próprio corpo, que supostamente pertencia a um outro. ” (MBEMBE, 2018, p.30)
O peso da execução recai sobre aqueles colonizados como o cão, o ato que dilacera
também o colonizado que pratica a violência: “A mola ia cedendo aos poucos e cada vez estava
mais pesada. A tensão iria aumentar até o cão saltar e perfurar a bala. Então não haveria mais
resistência e o gatilho viria até o fim, com o estouro do cartucho na câmara e o ligeiro coice da
coronha. ” (HONWANA, 2017, p.40). Em uma última representação de resistência, a narrativa
agrega ação ao sujeito colonizado no ato do cão perfurar a bala.
Necropoder:
Ao trazer o espaço colonial enquanto definido por Frantz Fanon, Mbembe detalha as
formas acirradas de segregação e controle do corpo e da mente dos colonizados pela
configuração espacial. Enquanto a definição de Fanon preza pela dicotomia das relações
espaciais, Mbembe estende sua análise para Estado colonial tardio, diferente da ocupação
colonial moderna “particularmente em sua combinação entre o disciplinar, a biopolítica e a
necropolítica” (p.41). Sendo a ocupação colonial da Palestina seu exemplo principal. Nesse
sentido, a representação abandona o caráter dicotômico para assumir características mais
heterogênea, o espaço deixa e ser uma cisão dupla para assumir um arranjo fragmentado. “Aqui,
o Estado colonial tira sua pretensão fundamental de soberania e legitimidade da autoridade de
seu próprio relato da história e da identidade. Essa narrativa é reforçada pela ideia de que o
Estado tem o direito divino de existir; e entre em competição com outra narrativa pelo mesmo
espaço sagrado. ” (p.42)