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Necropolítica. Achille Mbembe.

O Devir Sujeito:

“Na estrutura politico-jurídica do campo, o estado de exceção deixa de ser uma


suspensão temporal do estado de direito. De acordo com Agamben, ele adquire um arranjo
espacial permanente, que se mantém continuamente fora do estado normal da lei” (MBEMBE,
2018, p.8)

Pela mobilização do conceito de razão: “A política, portanto, é definida duplamente: um


projeto de autonomia e a realização de acordo em uma coletividade mediante comunicação e
reconhecimento. É isso, dizem-nos, que a diferencia da guerra. (...). Nesse paradigma, a razão é
a verdade do sujeito, e a política é o exercício da razão na esfera pública. O exercício da razão
equivale ao exercício da liberdade, em elemento-chave para autonomia individual. Nesse caso,
o romance da soberania baseia-se na crença de que o sujeito é o principal autor controlador de
seu próprio significado. ” (MBEMBE, 2018, p.9)

O projeto de Mbembe desloca a questão de seu caráter racional para assumir categorias
mais materiais, nomeadamente a vida e a morte (p.11). Nesse caso são mobilizados os conceitos
de Hegel e Bataille sobre o devir sujeito. De forma resumida o primeiro reconhece que a política
se dá na consciência constante da morte, não sua negação, mas o trabalho histórico ininterrupto
para lidar com ela. Com Bataille o conceito é deslocado para um espectro de positividade, a
morte torna-se o domínio da soberania pelo controle da lei – ou costumes. Segundo Mbembe:
“A política só pode ser traçada como uma transgressão em espiral, como aquela diferença que
desorienta a própria ideia do limite. Mais especificamente, a política e a diferença colocada em
jogo pela violação de um tabu” (MBEMBE, 2018, p.16) Assumindo aspectos da critica “pós-
colonial” o controle sobre a vida será o objeto central do texto de Mbembe, em especial sobre
os corpos do “outro”, carregado de estigmas, desprovido de fala e passivo de morte.

A imagem do colonizado e as descriminações raciais são a base da reflexão de Mbembe,


aspectos de descriminação que de forma recorrente são figurados no conto de Luís Bernardo
Honwana: “O Cão Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum, mas eram
enormes e estavam sempre cheios de lagrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo
aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer
dizer nada. ” (HONWANA, 2017, p.11)

Biopoder:

“Operando com base em uma divisão entre os vivos e os mortos, tal poder se define em
relação a um campo biológico – do qual toma controle e no qual se inscreve Esse controle
pressupõe a distribuição da espécie humana em grupos, a subdivisão da população em
subgrupos e o estabelecimento de uma cesura biológica entre uns e outros. (...) Com efeito, em
termos foucaultianos, racismo é acima de tudo uma tecnologia destinada a permitir o exercício
do biopoder” (MBEMBE, 2018, p.17) Tecnologia presente, segundo Foucault, em todo Estado
moderno.

O Estado nazista se torna arquétipo da fusão de guerra e política ao sobrepor o racismo


com as práticas de homicídio e suicídio. (p.19) Nesse caso, os modos de execução do Outro –
tido como ameaça a própria sobrevivência do sujeito – assumem seu caráter mais “racional”,
mecanizado. Mbembe correlaciona assim, modernidade e terror. (p.21) A arquivologia dos
processos de execução e impessoalidade fica marcada pela análise dos processos que se iniciam
na revolução francesa, a guilhotina figura como elemento democrático de poder sobre a vida.
(P.23). Mas como política na margem da lei, é no sistema de plantation e no apartheid que
Mbembe reconhece as bases das tecnologias do terror.

A partir disso, a relação do sujeito submetido ao biopoder é deslocada da fundação do


Estado moderno para o sistema mais mercadológico da exploração na plantation. “Qualquer
relato histórico do surgimento do terror moderno precisa tratar a escravidão, que pode ser
considerada uma das primeiras manifestações da experimentação biopolítica. ” (MBEMBE,
2018, p.27). Assim a relação entre vida e morte assumem seu caráter mais radical, o sujeito
escravizado é aquele que tem a própria humanidade negada, tornando-se propriedade de outro.

O poder sobre a vida do colonizado se torna presente na liberdade de lhe decretar a


morte: “Depois continuaram a jogar a sueca e o senhor Administrador e o parceiro levaram uma
limpa-quatro-bolas. Eu estava a olhar para ele quando ele disse ao Doutor da Veterinária, que
se estava a rir por lhe ter dado a limpa-quatro-bolas. (...) olhou para mim e zangou-se. Ele sabia
que eu sabia que ele estava a perder. Olhou para mim e para o Cão Tinhoso sem saber com qual
de nós os dois havia de correr primeiro. Enquanto pensava para resolver isso cuspiu para nos os
dois, isto é, para um sitio entre nós os dois. Está-se mesmo a ver que o cuspe tanto era para mim
como para o Cão Tinhoso. ” (HONWANA, 2017, p.20) A partir de um capricho decreta-se a morte
do cão, a partir desse momento o banal da violência colonial se torna explícito pela execução,
não realizada pelo Administrador, mas delegada para aqueles que ocupavam posições distintas
na maquina colonial.

Percebemos então a contradição que a análise pretende sustentar entre o sentido


racional do terror no Estado moderno, e a real violência que se torna inerente a essa “civilidade”.
Como figuração espacial, as colônias assumem o lugar de margem do Estado. Essa marginalidade
rompe os preceitos políticos de igualdade no sistema colonial. A violência condenada entre
Estados “civilizados” não se aplica nessas espacialidades. A guerra então torna-se a norma, o
processo pelo qual se aniquila o inimigo, o “selvagem”. Assim reconhecemos um constante
estado de exceção. “Por todas essas razões, o direito soberano de matar não está sujeito a
qualquer regra nas colônias. La, o soberano pode matar a qualquer momento ou de qualquer
maneira. A guerra colonial não está sujeita a normas legais e institucionais. Não é uma atividade
codificada legalmente. Em vez disso, o terror colonial se entrelaça constantemente com um
imaginário colonialista, caracterizado por terras selvagens, morte e ficções que criam o efeito
de verdade” (MBEMBE, 2018, p. 36). Temos a concatenação entre biopoder, estado de exceção
e estado de sitio. (p.31)

Formas de resistência: “Tratado como se não existisse, exceto como mera ferramenta e
instrumento de produção, o escravo, apesar disso, é capaz de extrair de quase qualquer objeto,
instrumento, linguagem ou gesto uma representação, e estiliza-la. Rompendo com sua condição
de expatriado e com o puro mundo das coisas, do qual ele ou ela nada mais é que um fragmento,
o escravo é capaz de demonstrar as capacidades polimorfas das relações humanas por meio da
música e do próprio corpo, que supostamente pertencia a um outro. ” (MBEMBE, 2018, p.30)

O peso da execução recai sobre aqueles colonizados como o cão, o ato que dilacera
também o colonizado que pratica a violência: “A mola ia cedendo aos poucos e cada vez estava
mais pesada. A tensão iria aumentar até o cão saltar e perfurar a bala. Então não haveria mais
resistência e o gatilho viria até o fim, com o estouro do cartucho na câmara e o ligeiro coice da
coronha. ” (HONWANA, 2017, p.40). Em uma última representação de resistência, a narrativa
agrega ação ao sujeito colonizado no ato do cão perfurar a bala.
Necropoder:

Depois de delimitar os aspectos históricos da dominação colonial enquanto política do


terror, Mbembe aponta na soberania da dominação colonial tardia os aspectos heterogêneos
da dominação espacial que caracterizaria a necropolítica.

“A ‘ocupação colonial’ em si era uma questão de apreensão, demarcação, e afirmação


do controle físico e geográfico – inscrever sobre o terreno em novo conjunto de relações sociais
e espaciais. Essa inscrição de novas relações espaciais (‘territorialização’) foi, enfim, equivalente
a produção de fronteiras e hierarquias, zonas e enclaves; a subversão dos regimes de
propriedade existentes; a classificação das pessoas de acordo com diferentes categorias;
extração de recursos; e, finalmente, a produção de uma ampla reserva de imaginários culturais.”
(MBEMBE, 2018, p.39)

Ao trazer o espaço colonial enquanto definido por Frantz Fanon, Mbembe detalha as
formas acirradas de segregação e controle do corpo e da mente dos colonizados pela
configuração espacial. Enquanto a definição de Fanon preza pela dicotomia das relações
espaciais, Mbembe estende sua análise para Estado colonial tardio, diferente da ocupação
colonial moderna “particularmente em sua combinação entre o disciplinar, a biopolítica e a
necropolítica” (p.41). Sendo a ocupação colonial da Palestina seu exemplo principal. Nesse
sentido, a representação abandona o caráter dicotômico para assumir características mais
heterogênea, o espaço deixa e ser uma cisão dupla para assumir um arranjo fragmentado. “Aqui,
o Estado colonial tira sua pretensão fundamental de soberania e legitimidade da autoridade de
seu próprio relato da história e da identidade. Essa narrativa é reforçada pela ideia de que o
Estado tem o direito divino de existir; e entre em competição com outra narrativa pelo mesmo
espaço sagrado. ” (p.42)

A demarcação espacial já fica clara no princípio do conto de Honwana: “Houve um dia


que ele ficou o tempo todo no portão da Escola a ver os outros cães a brincar no capim do outro
lado da estrada, a correr, a correr, a cheirar debaixo do rabo uns aos outros. (...) Os outros cães
as vezes deixavam de brincar e ficavam a olhar para o Cão Tinhoso. Depois zangavam-se e
punham-se a ladrar, mas como ele não dissesse nada e só ficasse para ali a olhar, viravam-lhe as
costas e voltavam a cheirar debaixo do rabo uns aos outros e a correr. ” (HONWANA, 2017,
p.12). Mais que uma relação dicotômica, o conto apresenta a multiplicidade de papeis
empregados na necropolítica colonial, da marginalização, ao próprio ato da execução. Dessa
forma, a literatura trabalha tanto para retratar a materialidade da violência colonial quanto a
inquietação presente na mente no colonizado.

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