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“A ‘pequena política’ poderia ser facilmente identificada com a práxis manipulatória, passiva, que sofre

o determinismo em vez de enfrenta-lo, enquanto a ‘grande política’ – que, como aquela proposta por
Maquiavel, ‘pretende criar novas relações de força e, por isso, não pode deixar de se ocupar com o
‘dever-ser’, não entendido evidentemente em sentido moralista’ – é o momento da afirmação da
teleologia, da liberdade”. (p. 104)

“Ainda nesse terreno das relações entre política e economia, parece-me ser possível indicar em Gramsci
uma outra importante contribuição à ontologia do ser social e, mais especificamente, à ‘ciência política’
do marxismo. Como se sabe, Marx insistiu sobre o fato de que o processo de socialização da produção,
ao gerar uma diminuição do tempo de trabalho socialmente necessário, implica ao mesmo tempo um
‘recuo das barreiras naturais’, ou seja, uma ampliação do âmbito da liberdade humana em face das
inelimináveis (apesar de tudo) determinações naturais. Pode-se também dizer que a socialização da
produção, ao reduzir a jornada de trabalho e ao agrupar grandes aglomerados humanos, está na base
dos processos de socialização da participação política, ou seja, da criação de um grande número de
sujeitos políticos coletivos, processos que constituem precisamente a base material daquilo que Gramsci
chamou de ‘sociedade civil’. Isso significa que, se ao processo de socialização do trabalho e da produção
econômica corresponde um tendencial ‘recuo das barreiras naturais’, ou seja, uma maior autonomia da
práxis humana em face da coerção das leis naturais, decorre por sua vez da socialização da política o
que poderíamos chamar, por analogia, de ‘recuo das barreiras econômicas’, ou seja, ampliação da
autonomia e da influência da política (do conjunto das superestruturas) sobre a totalidade da vida social.
Quanto mais se amplia a socialização da política, tanto mais se desenvolve, em consequência, a
sociedade civil, o que significa que os processos sociais serão cada vez mais determinados pela
teleologia (pela ‘vontade coletiva’) e será cada vez menos coercitiva a causalidade automática da
economia”. (p. 111)

“O predomínio de uma ou outra forma de ação política, ou seja, da ‘pequena’ ou ‘grande’ política, é um
elemento decisivo para determinar que classe ou grupo de classes exerce a dominação ou hegemonia
em uma ‘situação’ concreta e de que modo o faz”. (p. 118).

“Se recordarmos o conceito gramsciano de ‘catarse’, podemos dizer que só a ‘grande política’ realiza o
‘momento catártico’, ou seja, a passagem do particular ao universal, do momento econômico-corporativo
ao ético-político, da necessidade à liberdade. Mas não devemos esquecer que Gramsci nos recorda que
‘é grande política tentar excluir a grande política do âmbito interno da vida estatal e reduzir tudo a
pequena política’. Em outras palavras: se para as classes subalternas o predomínio da pequena política
é sempre sinal de derrota, esse predomínio pode ser – e quase sempre o é efetivamente – a condição
da supremacia das classes dominantes”. (p. 118).

O político não cria a partir do nada, toma, ao contrário, como ponto de partida a realidade efetiva. “Mas
o que é essa realidade efetiva? Será algo estático e imóvel ou, ao contrário, uma relação de forças em
contínuo movimento e mudança de equilíbrio?” (Cadernos do Cárcere, 3, 34).

“E, precisamente porque quem fala em relação de forças fala também e ao mesmo tempo de uma
realidade histórica e mutável, Gramsci pode concluir: ‘Portanto, o ‘dever-ser’ é algo concreto, ou melhor,
somente ele é interpretação realista e historicista da realidade, somente ele é história em ato e filosofia
em ato, somente ele é política’”. (p. 121)

“a observação mais importante a ser feita sobre qualquer análise concreta das relações de força é a
seguinte: tais análises não podem e não devem ser fins em si mesmas (a não ser que se trate de
escrever um capítulo da história do passado), mas só adquirem um significado se servem para justificar
uma atividade prática, uma iniciativa de vontade”. (Cadernos do Cárcere, 3, 45).

“Identificando na catarse ‘a passagem do momento meramente econômico (ou egoístico-passional) ao


momento ético-político, isto é, a elaboração superior da estrutura em superestrutura na consciência dos
homens’, ele recorda que essa elaboração é o ‘ponto de partida de toda a filosofia da práxis’”. (p. 122).

Como analisar as situações com base no conceito de relações de força: 1. base causal, objetiva; 2.
Avaliação do grau de homogeneidade, autoconsciência e organização dos grupos sociais; 3. (p. 123).
“Com efeito, o conceito de vontade geral ou universal tem um importante papel na reflexão hegeliana,
mas aqui com uma ênfase diversa daquela de Rousseau. Enquanto para o pensador genebrino a
vontade geral resulta do esforço ético dos cidadãos para pôr o interesse geral acima do interesse
particular, o que Hegel chama de ‘die objektive Will’ é o resultado um pouco fatalista do próprio
movimento do Espírito. Tanto é assim que Hegel diz – e cito-o explicitamente – que ‘a vontade objetiva
é o que é em si racional no seu conceito, seja ele reconhecido ou não, querido ou não, pelo capricho do
singular’. Creio que Gramsci propõe nos Cadernos uma posição que supera dialeticamente tanto o
subjetivismo de Rousseau quanto o objetivismo de Hegel”. (p. 127)

“O moderno Príncipe deve ter uma parte dedicada ao jacobinismo (no significado integral que essa noção
teve historicamente e deve ter conceitualmente), como exemplificação do modo pelo qual se formou
concretamente e atuou uma vontade coletiva que, pelo menos em alguns aspectos, foi a criação ex
novo, original. E é preciso também definir a vontade coletiva e a vontade política em geral no sentido
moderno, a vontade como consciência da operosa necessidade histórica, como protagonista de um
drama histórico real e efetivo”. (Cadernos do Cárcere, 3, 16-7).

“Portanto, só ‘em alguns aspectos’ a vontade coletiva é ‘criação ex novo’, já que é também, e ao mesmo
tempo, ‘consciência operosa da necessidade histórica’. Temos aqui a articulação entre teleologia e
causalidade, entre os momentos subjetivos e objetivos da práxis humana, da qual a vontade é um
elemento ineliminável. A vontade coletiva que se torna ‘protagonista de um drama histórico real e efetivo’
– ou seja, que se torna um momento ontologicamente constitutivo do ser social – é aquela caracterizada
por essa dupla determinação, subjetiva e objetiva. É aqui que Gramsci me parece superar dialeticamente
– no sentido de conservar, mas também de levar a um nível superior – as concepções de vontade geral
tanto de Rousseau como de Hegel, marcadas, respectivamente, por uma unilateralidade subjetivista e
objetivista. Essa superação passa, decerto, pela assimilação por Gramsci da herança de Marx”. (p. 129)

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