Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
V í d e o s
i v r o s e
i g o s , L
A r t
www.inead.com.br
Selecionamos para você uma série de artigos, vídeos e livros que servirão como material
complementar para seus estudos e poderão ser encontradas as referências necessárias
para a realização de seu curso.
ARTIGOS
BULLYING - A CAUSA
Link: https://youtu.be/Y_6Ku-v6UBw
BULLYING
Link: https://youtu.be/ZQ0St8VyV1c
BULLYING - DOCUMENTÁRIO
Link: https://youtu.be/3xdQprk_InI
LIVROS
BRINCADEIRAS QUE FAZEM CHORAR!
Carolina Giannoni Camargo – Editora All Print – Brasil
É uma obra prática que permite aos pais e professores conhecerem de forma bem completa o que é o
bullying, como identificar vítimas e agressores e como ajudar os envolvidos nesta violência. Traz ainda
uma reflexão sobre a educação de nossos filhos ou alunos frente ao complexo mundo em que vivemos e
também sobre nosso papel, como educadores, na diminuição dos casos de bullying.
FENÔMENO BULLYING
Cleo Fante – Editora Verus – Brasil
O livro tem como objetivo despertar autoridades educacionais, educadores, pais, alunos e a sociedade
em geral para o assunto, muitas vezes encoberto nas escolas. Embora ofereça um panorama mundial
sobre o problema, a autora destaca a realidade vivida hoje no Brasil e apresenta um programa inédito e
extremamente prático a ser aplicado nas escolas, que já vem sendo desenvolvido em alguns
estabelecimentos de ensino, com sucesso.
Com o objetivo de discutir e apresentar alternativas para enfrentar o problema do bullying, esta obra
reúne conhecimento psicológico e experiência educacional, oferecendo uma abordagem bem-sucedida
para se lidar com um amplo leque de problemas comportamentais. O texto é complementado com
inúmeras atividades e estratégias de fácil implementação, acompanhadas de programas apropriados para
o trabalho nas escolas.
Em um dos poucos títulos a explorar o bullying, da infância à idade adulta, as autoras deste livro oferecem
uma valiosa ajuda: usam estudos de caso sobre os bullies e suas vítimas para chegar ao centro do
problema, examinando os aspectos de hostilidade explícita e proporcionando um plano para dar um fim
a ele.
Bullying é um tipo de comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica e vem sendo
estudado na Europa há dez anos, logo após ter sido evidenciada sua correlação com o suicídio de
adolescentes. A comunicação e a afetividade são os únicos instrumentos eficazes para a aproximação
entre adultos e adolescentes e devem ser usados para enfrentar e prevenir um fenômeno em expansão
entre jovens de todo o mundo. Com este livro, Alessandro Costantini orienta pais e professores naquilo
que mais os assusta e preocupa: uma adolescência problemática.
Este livro procura desvendar as causas e origens do fenômeno chamado bullying, partindo da
conceituação. Faz uma análise das relações entre os seres humanos, dá exemplos concretos, propõe
atitudes para prevenção, sugere atividades e subsídios para estudo e debate sobre o assunto.
BULLYING ESCOLAR - PERGUNTAS E RESPOSTAS
Cleo Fante e José Augusto Pedra – Editora Artmed - 2008 – Brasil
O bullying é uma das formas de violência que mais cresce no mundo e é causa de grande sofrimento.
Como conseqüências, encontram-se o comprometimento da saúde emocional, da qualidade das relações
interpessoais, da construção da cidadania e, principalmente, da ruptura no processo educacional,
podendo ser apontado como uma das causas dos elevados índices de evasão e retenção escolar no país.
Dante é novo na escola. Vem de um bairro mais pobre, gosta de ler A divina comédia, de Dante Alighieri,
e alimenta uma paixão secreta. Logo a aparência dele e sua classe social viram combustível para o riso
dos colegas. A perseguição se torna sistemática e ganha força no ciberespaço, onde, no confortável
anonimato de uma comunidade na internet, inúmeros jovens ridicularizam e hostilizam Dante. O que era
para ser apenas 'brincadeira' de adolescentes ganha dimensões trágicas, extravasa o âmbito virtual e se
instala como ameaça concreta. As conseqüências serão devastadoras.
Todos evitam sentar perto de Bradley Chlakers na sala de aula. Ele é brigão, faz brincadeiras de mau gosto
e ameaça bater até nas meninas! Nem mesmo sua professora agüenta mais seu péssimo comportamento.
Ele não faz dever de casa, só tira notas baixas, já repetiu de série e tem uma imaginação muito fértil para
contar mentiras. Quando um novo aluno entra na escola e se oferece para ser seu amigo, Bradley não
consegue acreditar que alguém possa gostar dele. Mas, em pouco tempo, seu comportamento hostil
acaba por afastar seu novo amigo, o que só acaba diminuindo sua auto-estima. Seu desempenho nas aulas
também acaba levando-o para a sala da nova orientadora da escola, uma jovem dinâmica, carinhosa,
competente e engraçada. Ela acha Bradley um menino inteligente e generoso e sabe que ele poderia
mudar se ao menos não tivesse medo de tentar. Algumas vezes, o mais difícil é acreditar em si mesmo...
FILMES
A CLASSE (Klass, Estônia 2007):
Joosep é um adolescente tímido e sensível que virou saco de pancadas do valentão Anders e sua turma.
Diariamente, Joosep é submetido a longas sessões de tortura física e psicológica. A situação piora
quando Kaspar, um dos moleques que marcava posição contra Joosep, muda sua conduta e passa a
protegê-lo. Sentindo sua liderança ameaçada, Anders decide tornar Kaspar vítima tambem das mesmas
atrocidades. Produzido num país sem muita tradição cinematográfica, o filme é um verdadeiro soco no
estômago, feito propositadamente para chocar. A princípio, pode soar sensacionalista, mas está mais
para um ALERTA e dificilmente vai deixar indiferente quem o assistir.
Cansado de ser humilhado pelos garotos da escola, Alf decide tomar medidas contra aqueles que o
atormentam. Alia-se a outro colega também vítima de bullying e, juntos, inspirados nas lutas de Niccolo,
herói de uma revista em quadrinhos, firmam um pacto secreto para se vingar dos valentões da turma.
Tudo parece ir de acordo com o plano, até que Alf percebe que virar a mesa contra seus algozes, tem
suas consequências. Impactante e triste filme dinamarquês que nos faz refletir sobre nossos atos e este
mundo tão cruel.
Numa escola secundária de Porland, estado do Oregon, a maior parte dos estudantes está engajada em
atividades cotidianas. Enquanto isso, dois alunos esperam, em casa, a chegada de uma metralhadora
semi-automática com altíssimo poder de fogo. Munidos de várias armas que vinham colecionando,
partem para a escola, onde serão protagonistas de um verdadeiro banho de sangue. Inspirado no triste
ocorrido em abril de 1999, quando dois adolescentes mataram 14 estudantes e um professor na
Columbine High School.
Órfão de pai, Jordi é um jovem educado, bom aluno e talentoso jogador de basquete que, ao se mudar
para uma nova escola em Barcelona, desperta raiva e inveja de um bullie e seu grupo. Humilhações e
espancamentos tornam-se parte de sua vida. Jordi guarda silêncio enquanto a violência se intensifica,
envolvendo-se cada vez mais no perigoso e sádico jogo psicológico do seu agressor. Um longa
angustiante que mostra de maneira severa e chocante a realidade dos que sofrem Bullying e a
importância de se denunciar essa prática
Bobby (Nick Stahl) é um valentão que vive abusando fisicamente dos colegas da escola. Cansados de sua
atitude, eles se juntam e decidem lhe dar uma lição, atraindo-o até um pântano e espancando-o até a
morte. O ocorrido provoca reações distintas na comunidade em que vivem, que vão do choque pela
brutalidade do assassinato até mesmo a sensação de que Bobby recebeu o que merecia. Baseado em
fatos verídicos, trata-se de um filme chocante, dirigido pelo polêmico Larry Clark (Kids), especializado
em retratar o ócio e a banalidade da violência na juventude americana.
Diagnosticado com Síndrome de Asperger (um Autismo mais leve), Ben é um adolescente com extrema
dificuldade de socialização e comunicação. Para escapar da agressão dos colegas de classe, ele refugia-
se em Archlord, um game jogado por milhares de pessoas online, cada qual operando um personagem
num mundo virtual. A partir do momento em que a opressão leva Ben ao limite, a linha entre a fantasia
e a realidade começa a se tornar perigosamente escorregadia. Um filme tocante e inovador,
supostamente baseado em um episódio real.
EVIL, RAÍZES DO MAL (Ondskan, Suécia 2003):
Problemático jovem de 16 anos, acostumado a tratar todos com brutalidade, devido aos maus tratos de
seu padastro, acaba expulso da escola pública e transferido para um prestigiado colégio privado, onde
sabe que terá sua última oportunidade. O adolescente pretende mudar de vida, porém se defronta com
muitas situações de injustiças e humilhações por parte dos alunos veteranos que ultrapassam os limites
da ética e do bom-senso. Submeter-se ou revidar os maus tratos? Ambientado nos anos 1950, um obra
perturbadora e inquietante que também fala de impunidade.
BANG, BANG! VOCÊ MORREU (Bang, Bang! You’re Dead, EUA 2002).
Ben Foster, então com 21 anos, faz um estudante exemplar que, cansado de ser constantemente
humilhado por um dos jogadores do time de futebol da escola, ameaça explodir o prédio durante o
período de aulas; porém usa uma bomba de mentira. Depois do falso atentado, ele começa a ser visto
com desconfiança pelos colegas, e passa a arquitetar algo realmente violento. Ao falar de preconceito, o
longa mostra claramente do que um jovem é capaz quando o que se espera dele invade os preceitos
morais de um grupo determinado ou de toda uma sociedade.
Ronny Culkin faz um delicado adolescente continuamente atormentado pelo valentão da escola.
Incentivado pelo irmão mais velho, decide se vingar, atraindo o moleque para uma viagem de barco
onde pretende humilhá-lo. Durante o passeio, passa a enxergar seu algoz sob outra perspectiva – a de
um garoto solitário que só quer um pouco de atenção – e decide cancelar o plano. Mas as coisas dão
errado com consequências trágicas. Um filme instigante, repleto de sarcasmo, sensível e com ótimas
atuações.
Carrie (Sissy Spacek) é uma jovem tímida que não faz amigos por conta da mãe desequilibrada, uma
fanática religiosa. Ao aceitar ir ao baile do colégio, ela cai numa armadilha preparada para ridicularizá-la
em público. O que ninguém imagina é que a jovem possui poderes telecinéticos e pretende usá-los para
se vingar. Este clássico dirigido por Brian De Palma fala de preconceito e bullying numa época em que a
vida colegial só inspirava comédias ou romances. Engraçado perceber que o título nacional acrescentou
um adjetivo que é, por si só, uma expressão de segregação!
0021-7557/05/81-05-Supl/S164
Jornal de Pediatria
Copyright © 2005 by Sociedade Brasileira de Pediatria
ARTIGO DE REVISÃO
Resumo Abstract
Objetivo: Alertar os pediatras sobre a alta prevalência da prática Objective: To warn pediatricians about the high prevalence of
de bullying entre estudantes, conscientizando-os da importância de sua bullying among students, to raise their awareness about the
atuação na prevenção, diagnóstico e tratamento dos possíveis danos à importance of their action in the prevention, diagnosis, and treatment
saúde e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, além da of possible damage to childrens health and development, and about
necessidade em orientar as famílias e a sociedade para o enfrentamento the necessity to instruct families and society on how to face the most
da forma mais freqüente de violência juvenil. frequent form of youth violence.
Fonte de dados: Foram acessados bancos de dados bibliográficos Source of data: Bibliographic databases and relevant Internet
e páginas de relevância na Internet, identificando-se artigos e textos sites were searched for recent articles and texts about the theme.
recentes sobre o tema. Summary of the findings: Aggressive behavior among students
Síntese dos dados: O comportamento agressivo entre estudantes is a universal problem, tradivionally accepted as natural and usually
é um problema universal, tradicionalmente admitido como natural e disregarded or not given proper attention by adults. Studies carried
freqüentemente ignorado ou não valorizado pelos adultos. Estudos out during the past two decades showed that bullying can have
realizados nas 2 últimas décadas demonstraram que a sua prática pode immediate and late negative outcomes for children and adolescents
ter conseqüências negativas imediatas e tardias para todas as crianças who are directly or indirectly involved. The adoption of continued
e adolescentes direta ou indiretamente envolvidos. A adoção de preventive programs in grade schools and in junior high schools has
programas preventivos continuados em escolas de educação infantil e demonstrated to be one of the most effective measures for the
de ensino fundamental tem demonstrado ser uma das medidas mais prevention of alcohol and drug consumption and for the reduction of
efetivas na prevenção do consumo de álcool e drogas e na redução da social violence.
violência social. Conclusion: The prevention of bullying among students
Conclusão: A prevenção do bullying entre estudantes constitui-se represents an essential public health measure that may allow for total
em uma necessária medida de saúde pública, capaz de possibilitar o childrens development, qualifying them for a healthy and safe social
pleno desenvolvimento de crianças e adolescentes, habilitando-os a coexistence.
uma convivência social sadia e segura.
J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S164-S172: Violência escolar, J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S164-S172: School violence,
violência juvenil. juvenile violence.
Introdução
A violência é um problema de saúde pública importante buem para respostas violentas mudados. Segundo De-
e crescente no mundo, com sérias conseqüências individu- barbieux & Blaya 6 , não se trata de uma questão de fé, mas
ais e sociais1-4, particularmente para os jovens, que apare- de uma afirmação baseada em evidências. Exemplos bem
cem nas estatísticas como os que mais morrem e os que sucedidos podem ser encontrados em todo o mundo,
mais matam5. desde trabalhos individuais e comunitários em pequena
Hoje em dia, é consenso que a violência pode ser escala, até políticas nacionais e iniciativas legislativas.
evitada, seu impacto minimizado e os fatores que contri- Uma das formas mais visíveis da violência na sociedade
é a chamada violência juvenil, assim denominada por ser
cometida por pessoas com idades entre 10 e 21 anos7,8.
* Sócio Fundador Associação da Brasileira Multiprofissional de Proteção Grupos em que o comportamento violento é percebido antes
à Infância e à Adolescência (ABRAPIA). Coordenador do Programa de
da puberdade tendem a adotar atitudes cada vez mais
Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Diretor da
Diretoria dos Direitos da Criança da SOPERJ. Médico da Prefeitura da agressivas, culminando em graves ações na adolescência e
Cidade do Rio de Janeiro. na persistência da violência na fase adulta4,7,9,10.
Como citar este artigo: Lopes Neto AA. Bullying – comportamento Quando abordamos a violência contra crianças e ado-
agressivo entre estudantes. J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S164-
S172. lescentes e a vinculamos aos ambientes onde ela ocorre,
S164
Bullying Lopes Neto AA Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(Supl), 2005 S165
a escola surge como um espaço ainda pouco explorado, assimetria de poder associada ao bullying pode ser con-
principalmente com relação ao comportamento agressivo seqüente da diferença de idade, tamanho, desenvolvi-
existente entre os próprios estudantes. A violência nas mento físico ou emocional, ou do maior apoio dos demais
escolas é um problema social grave e complexo e, prova- estudantes3,11,17 .
velmente, o tipo mais freqüente e visível da violência
Trata-se de comportamentos agressivos que ocorrem
juvenil9,11-13 .
nas escolas e que são tradicionalmente admitidos como
O termo violência escolar diz respeito a todos os naturais, sendo habitualmente ignorados ou não valoriza-
comportamentos agressivos e anti-sociais, incluindo os dos, tanto por professores quanto pelos pais.
conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos crimino-
A adoção universal do termo bullying foi decorrente da
sos, etc. Muitas dessas situações dependem de fatores
dificuldade em traduzi-lo para diversas línguas. Durante a
externos, cujas intervenções podem estar além da compe-
realização da Conferência Internacional Online School
tência e capacidade das entidades de ensino e de seus
Bullying and Violence, de maio a junho de 2005, ficou
funcionários. Porém, para um sem número delas, a solução
caracterizado que o amplo conceito dado à palavra bullying
possível pode ser obtida no próprio ambiente escolar.
dificulta a identificação de um termo nativo correspondente
O comportamento violento, que causa tanta preocupa- em países como Alemanha, França, Espanha, Portugal e
ção e temor, resulta da interação entre o desenvolvimento Brasil, entre outros18.
individual e os contextos sociais, como a família, a escola e
As pesquisas sobre bullying são recentes e ganharam
a comunidade. Infelizmente, o modelo do mundo exterior é
destaque a partir dos anos 1990, principalmente com
reproduzido nas escolas, fazendo com que essas institui-
Olweus, 1993; Smith & Sharp, 1994; Ross, 1996; Rigby,
ções deixem de ser ambientes seguros, modulados pela
1996 3 . Estudos indicam que a prevalência de estudantes
disciplina, amizade e cooperação3, e se transformem em
vitimizados varia de 8 a 46%, e de agressores, de 5 a
espaços onde há violência, sofrimento e medo.
30% 3,19 .
A escola é vista, tradicionalmente, como um local de
Bullying aprendizado, avaliando-se o desempenho dos alunos com
Estudos sobre as influências do ambiente escolar e base nas notas dos testes de conhecimento e no cumpri-
dos sistemas educacionais sobre o desenvolvimento aca- mento de tarefas acadêmicas. No entanto, três documentos
dêmico do jovem já vêm sendo realizados, mas é neces- legais formam a base de entendimento com relação ao
sário também que tais influências sejam observadas pela desenvolvimento e educação de crianças e adolescentes: a
ótica da saúde. Constituição da República Federativa do Brasil, o Estatuto
da Criança e do Adolescente e a Convenção sobre os Direitos
A escola é de grande significância para as crianças e
da Criança da Organização das Nações Unidas. Em todos
adolescentes, e os que não gostam dela têm maior proba-
esses documentos, estão previstos os direitos ao respeito e
bilidade de apresentar desempenhos insatisfatórios, com-
à dignidade, sendo a educação entendida como um meio de
prometimentos físicos e emocionais à sua saúde ou senti-
prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo
mentos de insatisfação com a vida. Os relacionamentos
para o exercício da cidadania.
interpessoais positivos e o desenvolvimento acadêmico
estabelecem uma relação direta, onde os estudantes que Todos desejamos que as escolas sejam ambientes segu-
perceberem esse apoio terão maiores possibilidades de ros e saudáveis, onde crianças e adolescentes possam
alcançar um melhor nível de aprendizado14. Portanto, a desenvolver, ao máximo, os seus potenciais intelectuais e
aceitação pelos companheiros é fundamental para o desen- sociais. Portanto, não se pode admitir que sofram violências
volvimento da saúde de crianças e adolescentes, aprimo- que lhes tragam danos físicos e/ou psicológicos, que teste-
rando suas habilidades sociais e fortalecendo a capacidade munhem tais fatos e se calem para que não sejam também
de reação diante de situações de tensão15. agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior ainda, que
diante da omissão e tolerância dos adultos, adotem compor-
A agressividade nas escolas é um problema universal3,9.
tamentos agressivos.
O bullying e a vitimização representam diferentes tipos de
envolvimento em situações de violência durante a infância A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à
e adolescência. O bullying diz respeito a uma forma de Infância e à Adolescência (ABRAPIA) desenvolveu o Progra-
afirmação de poder interpessoal através da agressão. A ma de Redução do Comportamento Agressivo entre Estu-
vitimização ocorre quando uma pessoa é feita de receptor dantes, objetivando investigar as características desses
do comportamento agressivo de uma outra mais poderosa. atos entre 5.500 alunos de quinta à oitava série do ensino
Tanto o bullying como a vitimização têm conseqüências fundamental e sistematizar estratégias de intervenção
negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: capazes de prevenir a sua ocorrência.
agressores, vítimas e observadores16. Apesar de o estudo ter sido realizado em pouco mais
Por definição, bullying compreende todas as atitudes de 1 ano, de setembro de 2002 a outubro de 2003, foi
agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem possível reduzir a agressividade entre os estudantes,
motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante favorecendo o ambiente escolar, o nível de aprendizado,
contra outro(s), causando dor e angústia, sendo executa- a preservação do patrimônio e, principalmente, as rela-
das dentro de uma relação desigual de poder3,11 . Essa ções humanas (Tabela 1 e 2).
S166 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005 Bullying Lopes Neto AA
Tabela 1 - Percepção dos estudantes quanto à prática de bullying Uma nova forma de bullying, conhecida como cyber-
nas escolas bullying, tem sido observada com uma freqüência cada vez
Dados da pesquisa inicial da ABRAPIA maior no mundo. Segundo Bill Belsey, trata-se do uso da
tecnologia da informação e comunicação (e-mails, telefo-
40,5% dos alunos admitiram estar diretamente envolvidos em
nes celulares, mensagens por pagers ou celulares, fotos
atos de bullying, sendo 16,9% como alvos, 12,7% como
digitais, sites pessoais difamatórios, ações difamatórias
autores e 10,9% ora como alvos, ora como autores;
online) como recurso para a adoção de comportamentos
60,2% dos alunos afirmaram que o bullying ocorre mais
freqüentemente dentro das salas de aula; deliberados, repetidos e hostis, de um indivíduo ou grupo,
80% dos estudantes manifestaram sentimentos contrários aos que pretende causar danos a outro(s)22. A vitimização
atos de bullying, como medo, pena, tristeza, etc. através de telefones celulares foi admitida por 14 a 23% dos
41,6% dos que admitiram ser alvos de bullying disseram não adolescentes entrevistados em três pesquisas23-25.
ter solicitado ajuda aos colegas, professores ou família;
entre aqueles que pediram auxílio para reduzir ou cessar seu
sofrimento, o objetivo só foi atingido em 23,7% dos casos; Fatores de risco
69,3% dos jovens admitiram não saber as razões que levam à Fatores econômicos, sociais e culturais, aspectos inatos
ocorrência de bullying ou acreditam tratar-se de uma forma de de temperamento e influências familiares, de amigos, da
brincadeira; escola e da comunidade, constituem riscos para a manifes-
entre os alunos autores de bullying, 51,8% afirmaram que não tação do bullying e causam impacto na saúde e desenvolvi-
receberam nenhum tipo de orientação ou advertência quanto mento de crianças e adolescentes9,21.
à incorreção de seus atos.
O bullying é mais prevalente entre alunos com idades
entre 11 e 13 anos, sendo menos freqüente na educação
infantil e ensino médio14,17,26.
Tabela 2 - Percepção dos estudantes quanto à prática de bullying Entre os agressores, observa-se um predomínio do
nas escolas sexo masculino, enquanto que, no papel de vítima, não há
diferenças entre gêneros. O fato de os meninos envolve-
Alterações detectadas na avaliação final
do projeto da ABRAPIA rem-se em atos de bullying mais comumente não indica
necessariamente que sejam mais agressivos, mas sim
79,9% dos alunos admitem saber o que é bullying; que têm maior possibilidade de adotar esse tipo de
redução de 6,6% de alunos alvos; comportamento. Já a dificuldade em identificar-se o
redução de 12,3% de alunos autores de bullying; bullying entre as meninas pode estar relacionada ao uso
a indicação da sala de aula como local de maior incidência de de formas mais sutis 3,14 .
atos de bullying caiu de 60,2% para 39,3%, representando
Considerando-se que a maioria dos atos de bullying
uma queda de 24,7%;
ocorre fora da visão dos adultos, que grande parte das
o número de alunos que admitia gostar de ver o colega sofrer
bullying reduziu-se em 46,1%; vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida 22 ,
entre os alunos alvos que buscaram ajuda, o sucesso das
pode-se entender por que professores e pais têm pouca
intervenções para a redução ou cessação do bullying teve um percepção do bullying, subestimam a sua prevalência e
crescimento de 75,9%; atuam de forma insuficiente para a redução e interrupção
o desconhecimento sobre o entendimento das razões que dessas situações 19,27. A ABRAPIA identificou que 51,8%
levam à prática de bullying reduziu-se em 49,1%; dos autores de bullying admitiram não terem sido adver-
aqueles que admitiram o bullying como um ato de maldade tidos3 . A aparente aceitação dos adultos e a conseqüente
passou de 4,4% para 25,2% das respostas, representando um sensação de impunidade favorecem a perpetuação do
aumento de 472,7%;
comportamento agressivo.
o número de alunos autores de bullying que admitiu ter
recebido orientações e advertências quanto à incorreção de
A redução dos fatores de risco pode prevenir o compor-
seus atos passou de 45,6% para 68%, representando um tamento agressivo entre crianças e adolescentes. Os esfor-
crescimento de 33,4%. ços devem ser direcionados para a diminuição da exposição
à violência no ambiente escolar, doméstico e comunitário,
além daquela divulgada pela mídia28.
Classificação
Formas de envolvimento dos estudantes
O bullying é classificado como direto, quando as vítimas
são atacadas diretamente, ou indireto, quando estão au- As crianças e adolescentes podem ser identificados
sentes. São considerados bullying direto os apelidos, agres- como vítimas, agressores ou testemunhas de acordo com
sões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expres- sua atitude diante de situações de bullying. Não há
sões e gestos que geram mal estar aos alvos. São atos evidências que permitam prever qual papel adotará cada
utilizados com uma freqüência quatro vezes maior entre os aluno, uma vez que pode ser alterado de acordo com as
meninos. O bullying indireto compreende atitudes de indi- circunstâncias 27 .
ferença, isolamento, difamação e negação aos desejos, A forma de classificação utilizada pela ABRAPIA teve o
sendo mais adotados pelas meninas3,11,19-21. cuidado de não rotular os estudantes, evitando que estes
Bullying Lopes Neto AA Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(Supl), 2005 S167
fossem estigmatizados pela comunidade escolar. Adota- É pouco comum que a vítima revele espontaneamente o
ram-se, então, os termos autor de bullying (agressor), alvo bullying sofrido, seja por vergonha, por temer retaliações,
de bullying (vítima), alvo/autor de bullying (agressor/ por descrer nas atitudes favoráveis da escola ou por recear
vítima) e testemunha de bullying3,29. possíveis críticas. Na pesquisa da ABRAPIA, 41,6% dos
alunos alvos admitiram não ter falado a ninguém sobre seu
sofrimento3. O silêncio só é rompido quando os alvos
Alvos de bullying sentem que serão ouvidos, respeitados e valorizados. Cons-
Considera-se alvo o aluno exposto, de forma repetida e cientizar as crianças e adolescentes que o bullying é inacei-
durante algum tempo, às ações negativas perpetradas por tável e que não será tolerado permite o enfrentamento do
um ou mais alunos. Entende-se por ações negativas as problema com mais firmeza, transparência e liberdade11.
situações em que alguém, de forma intencional e repetida,
causa dano, fere ou incomoda outra pessoa.
Autores de bullying
Em geral, não dispõe de recursos, status ou habilidade
Algumas condições familiares adversas parecem favo-
para reagir ou cessar o bullying. Geralmente, é pouco
recer o desenvolvimento da agressividade nas crianças.
sociável, inseguro e desesperançado quanto à possibilidade
Pode-se identificar a desestruturação familiar, o relaciona-
de adequação ao grupo. Sua baixa auto-estima é agravada
mento afetivo pobre, o excesso de tolerância ou de permis-
por críticas dos adultos sobre a sua vida ou comportamento,
sividade e a prática de maus-tratos físicos ou explosões
dificultando a possibilidade de ajuda. Tem poucos amigos,
emocionais como forma de afirmação de poder dos
é passivo, retraído, infeliz e sofre com a vergonha, medo,
pais3,8,21,26,27 .
depressão e ansiedade. Sua auto-estima pode estar tão
Fatores individuais também influem na adoção de com-
comprometida que acredita ser merecedor dos maus-tratos
portamentos agressivos: hiperatividade, impulsividade, dis-
sofridos3,9,11,14,22,27,30.
túrbios comportamentais, dificuldades de atenção, baixa
O tempo e a regularidade das agressões contribuem
inteligência e desempenho escolar deficiente.
fortemente para o agravamento dos efeitos. O medo, a
O autor de bullying é tipicamente popular; tende a
tensão e a preocupação com sua imagem podem compro-
envolver-se em uma variedade de comportamentos anti-
meter o desenvolvimento acadêmico, além de aumentar a
sociais; pode mostrar-se agressivo inclusive com os adul-
ansiedade, insegurança e o conceito negativo de si mesmo 8.
tos; é impulsivo; vê sua agressividade como qualidade; tem
Pode evitar a escola e o convívio social, prevenindo-se
opiniões positivas sobre si mesmo; é geralmente mais forte
contra novas agressões. Mais raramente, pode apresentar
que seu alvo; sente prazer e satisfação em dominar,
atitudes de autodestruição ou intenções suicidas ou se
controlar e causar danos e sofrimentos a outros. Além disso,
sentir compelido a adotar medidas drásticas, como atos de
pode existir um componente benefício em sua conduta,
vingança, reações violentas, portar armas ou cometer
como ganhos sociais e materiais11,21,29,34. São menos
suicídio25,27,31.
satisfeitos com a escola e a família, mais propensos ao
Algumas características físicas, comportamentais ou
absenteísmo e à evasão escolar e têm uma tendência maior
emocionais podem torná-lo mais vulnerável às ações dos
para apresentarem comportamentos de risco (consumir
autores e dificultar a sua aceitação pelo grupo. A rejeição às
tabaco, álcool ou outras drogas, portar armas, brigar,
diferenças é um fato descrito como de grande importância
etc)3,8,35-37. As possibilidades são maiores em crianças ou
na ocorrência de bullying. No entanto, é provável que os
adolescentes que adotam atitudes anti-sociais antes da
autores escolham e utilizem possíveis diferenças como
puberdade e por longo tempo9,27,37.
motivação para as agressões, sem que elas sejam, efetiva-
Pode manter um pequeno grupo em torno de si, que
mente, as causas do assédio26,29,32,33.
atua como auxiliar em suas agressões ou é indicado para
Embora não haja estudos precisos sobre métodos
agredir o alvo. Dessa forma, o autor dilui a responsabili-
educativos familiares que incitem ao desenvolvimento de
dade por todos ou a transfere para os seus liderados.
alvos de bullying, alguns deles são identificados como
Esses alunos, identificados como assistentes ou seguido-
facilitadores: proteção excessiva, gerando dificuldades
res, raramente tomam a iniciativa da agressão, são
para enfrentar os desafios e para se defender; tratamento
inseguros ou ansiosos e se subordinam à liderança do
infantilizado, causando desenvolvimento psíquico e emo-
autor para se proteger ou pelo prazer de pertencer ao
cional aquém do aceito pelo grupo; e o papel de bode
grupo dominante 11 .
expiatório da família, sofrendo críticas sistemáticas e
sendo responsabilizado pelas frustrações dos pais.
Nos casos em que alunos armados invadiram as Testemunhas de bullying
escolas e atiraram contra colegas e professores, cerca de A maioria dos alunos não se envolve diretamente em
dois terços desses jovens eram vítimas de bullying e atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a
recorreram às armas para combater o poder que os próxima vítima, por não saberem como agir e por descre-
sucumbia. As agressões não tiveram alvos específicos, rem nas atitudes da escola. Esse clima de silêncio pode ser
sugerindo que o desejo era o de matar a Escola, local interpretado pelos autores como afirmação de seu poder, o
onde diariamente todos os viam sofrer e nada faziam para que ajuda a acobertar a prevalência desses atos, transmi-
protegê-los3 . tindo uma falsa tranqüilidade aos adultos3,27.
S168 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005 Bullying Lopes Neto AA
Grande parte das testemunhas sente simpatia pelos Prejuízos financeiros e sociais causados pelo bullying
alvos, tende a não culpá-los pelo ocorrido, condena o atingem também as famílias, as escolas e a sociedade em
comportamento dos autores e deseja que os professores geral. As crianças e adolescentes que sofrem e/ou praticam
intervenham mais efetivamente38,39. Cerca de 80% dos bullying podem vir a necessitar de múltiplos serviços, como
alunos não aprovam os atos de bullying3. saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação
A forma como reagem ao bullying permite classificá-los especial e programas sociais.
como auxiliares (participam ativamente da agressão), in- O comportamento dos pais dos alunos alvo pode variar
centivadores (incitam e estimulam o autor), observadores da descrença ou indiferença a reações de ira ou inconformis-
(só observam ou se afastam) ou defensores (protegem o mo contra si mesmos e a escola. O sentimento de culpa e
alvo ou chamam um adulto para interromper a agressão)19. incapacidade para debelar o bullying contra seus filhos
Muitas testemunhas acabam acreditando que o uso de passa a ser a preocupação principal em suas vidas, surgindo
comportamentos agressivos contra os colegas é o melhor sintomas depressivos e influenciando seu desempenho no
caminho para alcançarem a popularidade e o poder e, por trabalho e nas relações pessoais. A negação ou indiferença
isso, tornam-se autores de bullying19. Outros podem apre- da direção e professores pode gerar desestímulo e a
sentar prejuízo no aprendizado; receiam ser relacionados à sensação de que não há preocupação pela segurança dos
figura do alvo, perdendo seu status e tornando-se alvos alunos42.
também; ou aderem ao bullying por pressão dos colegas9. A relação familiar também pode ser seriamente compro-
Quando as testemunhas interferem e tentam cessar o metida. A criança ou adolescente pode sentir-se traído, caso
bullying, essas ações são efetivas na maioria dos casos. entenda que seus pais não estejam acreditando em seus
Portanto, é importante incentivar o uso desse poder advindo relatos ou quando suas ações não se mostram efetivas43 .
do grupo, fazendo com que os autores se sintam sem o apoio
social necessário3,8.
O papel do pediatra
Os efeitos do bullying são raramente evidentes, sendo
Alvos/autores de bullying pouco provável que a criança ou adolescente procure o
Aproximadamente 20% dos alunos autores também pediatra com a clara compreensão de ser ele autor ou alvo
sofrem bullying, sendo denominados alvos/autores. A de bullying. No entanto, é possível identificar os pacientes
combinação da baixa auto-estima e atitudes agressivas e de risco, aconselhar as famílias, rastrear possíveis altera-
provocativas é indicativa de uma criança ou adolescente ções psiquiátricas e incentivar a implantação de programas
que tem, como razão para a prática de bullying, prováveis anti-bullying nas escolas17.
alterações psicológicas, devendo merecer atenção espe-
Sofrer bullying pode ser um fator predisponente impor-
cial. Podem ser depressivos, inseguros e inoportunos,
tante para a instalação e manutenção de sinais e sintomas
procurando humilhar os colegas para encobrir suas limi-
clínicos (Tabela 3). A identificação de algumas dessas
tações. Diferenciam-se dos alvos típicos por serem impo-
queixas pode ser indicativo de maus-tratos perpetrados por
pulares e pelo alto índice de rejeição entre seus colegas
colegas, demonstrando a necessária atenção dos profissio-
e, por vezes, pela turma toda11,17,21 . Sintomas depressi-
nais de saúde3,17,19,24,28.
vos, pensamentos suicidas e distúrbios psiquiátricos são
Existem dúvidas se os danos à saúde precedem o
mais freqüentes nesse grupo40,41 .
bullying ou se são esses atos que afetam a saúde dos alvos.
O estresse causado pela vitimização poderia levar ao surgi-
Conseqüências mento de patologias, mas as crianças e adolescentes com
Alvos, autores e testemunhas enfrentam conseqüências problemas como depressão ou ansiedade podem se tornar
físicas e emocionais de curto e longo prazo8, as quais podem alvos de bullying. Poucos estudos investigaram essa rela-
causar dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e le- ção, mas as duas hipóteses contam com forte apoio19. A
gais12,17. Evidentemente, as crianças e adolescentes não intervenção precoce, tanto com relação aos alvos quanto
são acometidas de maneira uniforme, mas existe uma aos autores, pode reduzir os riscos de danos emocionais
relação direta com a freqüência, duração e severidade dos tardios29,43 .
atos de bullying14. Em casos suspeitos, os fatores de risco devem ser
Pessoas que sofrem bullying quando crianças são mais sempre investigados e abordados. São eles: características
propensas a sofrerem depressão e baixa auto-estima pessoais, influências familiares e comunitárias e problemas
quando adultos. Da mesma forma, quanto mais jovem for escolares21,40.
a criança freqüentemente agressiva, maior será o risco de Não há métodos diagnósticos que indiquem a existência
apresentar problemas associados a comportamentos anti- do comportamento agressivo como fator predisponente a
sociais em adultos e à perda de oportunidades, como a alguma alteração comportamental ou psicossomática. Cabe
instabilidade no trabalho e relacionamentos afetivos pou- ao pediatra buscar informações sobre o processo de evolu-
co duradouros14,22,35. ção escolar de seus pacientes, não só avaliando sua capa-
O simples testemunho de atos de bullying já é suficiente cidade de aprender, como também o desenvolvimento de
para causar descontentamento com a escola e comprome- habilidades relacionadas ao convívio social. Para isso, tor-
timento do desenvolvimento acadêmico e social11. na-se necessário perguntar diretamente à criança ou ao
Bullying Lopes Neto AA Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(Supl), 2005 S169
adolescente se ele se sente bem na escola, se tem amigos, seus colegas merecem atenção, tanto quanto os que são
se testemunha ou se é alvo e/ou autor de agressões físicas por eles agredidos 40 .
ou morais17,27. Os identificados como alvos/autores apresentam maior
A avaliação psiquiátrica e/ou psicológica pode ser ne- probabilidade de desenvolverem doença mental, devendo
cessária e deve ser garantida nos casos em que crianças ou ser considerados como de maior risco. Manifestações como
adolescentes apresentem alterações de personalidade, in- hiperatividade, déficit de atenção, desordem de conduta,
tensa agressividade, distúrbios de conduta ou se mante- depressão, dificuldades de aprendizado, agressividade, além
nham, por longo período, na figura de alvo, autor ou alvo/ de todas as demais já citadas, podem ser encontradas 17,39.
autor11,17,22,29,44. As famílias, tanto dos alvos como dos autores, devem
A prevenção de futuros incidentes pode ser obtida com ser ajudadas a entender o problema, expondo a elas todas
orientações sobre medidas de proteção a serem adotadas: as possíveis conseqüências advindas do bullying. Os pais
ignorar os apelidos, fazer amizade com colegas não agres- devem ser orientados para que busquem a parceria da
sivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor ou escola, conversando com um gestor ou um professor que
funcionário sobre o bullying sofrido17,27. lhes pareça mais sensível e receptivo ao problema17,28,29.
Entre os autores, as alterações de comportamento, os Como consultores em escolas, atuando nos departa-
comportamentos de risco e o consumo de álcool e drogas mentos de segurança pública ou em associações comunitá-
são vistos com mais freqüência17. Outros fatores que rias, os pediatras devem esclarecer sobre o impacto que o
contribuem para a agressividade e o desenvolvimento de bullying pode provocar sobre as crianças, adolescentes e
desordens de conduta são as lesões cerebrais pós-trauma, escolas e indicar a importância de criar ambientes onde
maus-tratos, vulnerabilidade genética, falência escolar, sejam valorizados a amizade, solidariedade e o respeito à
experiências traumáticas, etc.41. diversidade17.
O tratamento indicado para o autor de bullying deve
ser o de habilitá-lo para que controle sua irritabilidade,
expresse sua raiva e frustração de forma apropriada, seja Medidas preventivas
responsável por suas ações e aceite as conseqüências de Avaliar o bom desempenho dos estudantes pelas notas
seus atos. Portanto, aqueles pacientes que relatarem dos testes e cumprimento das tarefas não é suficiente.
situações em que protagonizam ações agressivas contra Perceber e monitorar as habilidades ou possíveis dificulda-
des que possam ter os jovens em seu convívio social com os
colegas passa a ser atitude obrigatória daqueles que assu-
miram a responsabilidade pela educação, saúde e seguran-
Tabela 3 - Sinais e sintomas possíveis de serem observados em ça de seus alunos, pacientes e filhos.
alunos alvos de bullying
Todos os programas anti-bullying devem ver as escolas
Enurese noturna como sistemas dinâmicos e complexos, não podendo tratá-
Alterações do sono las de maneira uniforme. Em cada uma delas, as estratégias
Cefaléia a serem desenvolvidas devem considerar sempre as carac-
Dor epigástrica terísticas sociais, econômicas e culturais de sua população.
Desmaios
O envolvimento de professores, funcionários, pais e
Vômitos
alunos é fundamental para a implementação de projetos de
Dores em extremidades
redução do bullying. A participação de todos visa estabele-
Paralisias
Hiperventilação cer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem
Queixas visuais priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de
Síndrome do intestino irritável bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a consci-
Anorexia entização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e
Bulimia a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro.
Isolamento
O fenômeno bullying é complexo e de difícil solução,
Tentativas de suicídio
portanto é preciso que o trabalho seja continuado. As ações
Irritabilidade
são relativamente simples e de baixo custo1,3, podendo ser
Agressividade
Ansiedade
incluídas no cotidiano das escolas, inserindo-as como temas
Perda de memória transversais em todos os momentos da vida escolar.
Histeria Deve-se encorajar os alunos a participarem ativamente
Depressão da supervisão e intervenção dos atos de bullying, pois o
Pânico enfrentamento da situação pelas testemunhas demonstra
Relatos de medo aos autores que eles não terão o apoio do grupo. Treinamen-
Resistência em ir à escola
tos através de técnicas de dramatização podem ser úteis
Demonstrações de tristeza
para que adquiram habilidade para lidar de diferentes
Insegurança por estar na escola
formas. Uma outra estratégia é a formação de grupos de
Mau rendimento escolar
Atos deliberados de auto-agressão
apoio, que protegem os alvos e auxiliam na solução das
situações de bullying19.
S170 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005 Bullying Lopes Neto AA
Os professores devem lidar e resolver efetivamente os Reduzir a prevalência de bullying nas escolas pode ser
casos de bullying, enquanto as escolas devem aperfeiçoar uma medida de saúde pública altamente efetiva para o
suas técnicas de intervenção e buscar a cooperação de século XXI. A sua prevalência e gravidade compelem os
outras instituições, como os centros de saúde, conselhos pesquisadores a investigar os riscos e os fatores de prote-
tutelares e redes de apoio social19. ção, associados com a iniciação, manutenção e interrupção
Aos alunos autores, devem ser dadas condições para desse tipo de comportamento agressivo. Os conhecimentos
que desenvolvam comportamentos mais amigáveis e sadi- adquiridos com os estudos devem ser utilizados como
os, evitando o uso de ações puramente punitivas, como fundamentação para orientar e direcionar a formulação de
castigos, suspensões ou exclusão do ambiente escolar, que políticas públicas e para delinear as técnicas multidisciplina-
acabam por marginalizá-los. res de intervenção que possam reduzir esse problema de
forma eficaz.
Em um país como o Brasil, onde o incentivo à melhoria
Efetividade do programa da educação de seu povo se tornou um instrumento socia-
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os lizador e de desenvolvimento, onde grande parte das
programas que enfatizam as capacidades sociais e a aqui- políticas sociais é voltada para a inclusão escolar, as escolas
sição de competências parecem estar entre as estratégias passaram a ser o espaço próprio e mais adequado para a
mais eficazes para a prevenção da violência juvenil, sendo construção coletiva e permanente das condições favoráveis
mais efetivos em escolas da educação infantil e do ensino para o pleno exercício da cidadania.
fundamental. Um exemplo de programa de desenvolvimen- As instituições de saúde e educação, assim como seus
to social que utiliza técnicas comportamentais em sala de profissionais, devem reconhecer a extensão e o impacto
aula é aquele implantado para evitar o comportamento gerado pela prática de bullying entre estudantes e desen-
prepotente agressivo (bullying)45. volver medidas para reduzi-la rapidamente. Aos profissi-
O Programa de Prevenção do Bullying criado por Dan onais de saúde, particularmente aos pediatras, é reco-
Olweus é considerado como o mais bem documentado e mendável que sejam competentes para prevenir, investi-
mais efetivo na redução do bullying, na diminuição signifi- gar, diagnosticar e adotar as condutas adequadas diante
cativa de comportamentos anti-sociais e em melhorias de situações de violências que envolvam crianças e
importantes no clima social entre crianças e adolescentes, adolescentes, tanto na figura de autor, como na de alvo
com a adoção de relacionamentos sociais positivos e maior ou testemunha.
participação nas atividades escolares14,19,21. Mesmo admitindo que os atos agressivos derivem de
Nas escolas onde estudantes tiveram participação ativa influências sociais e afetivas, construídas historicamente e
nas decisões e organização, observou-se redução dos níveis justificadas por questões familiares e/ou comunitárias, é
de vandalismo e de problemas disciplinares e maior satis- possível considerar a possibilidade infinita de pessoas des-
fação de alunos e professores com a escola15. No projeto da cobrirem formas de vida mais felizes, produtivas e seguras.
ABRAPIA, 63,5% dos alunos participaram ativamente de Todas as crianças e adolescentes têm, individual e coletiva-
seu desenvolvimento3. mente, uma prerrogativa humana de mudança, de transfor-
Os melhores resultados são obtidos por meio de inter- mação e de reconstrução, ainda que em situações muito
venções precoces que envolvam pais, alunos e educadores. adversas, podendo vir a protagonizar uma vida apoiada na
O diálogo, a criação de pactos de convivência, o apoio e o paz, na segurança possível e na felicidade. Mas esse desafio
estabelecimento de elos de confiança e informação são não é simples e, em geral, depende de uma intervenção
instrumentos eficazes, não devendo ser admitidas, em interdisciplinar firme e competente, principalmente pelos
hipótese alguma, ações violentas4,13,15,46. profissionais das áreas de educação e saúde.
O bullying pode ser entendido como um balizador para
o nível de tolerância da sociedade com relação à violência.
Conclusão Portanto, enquanto a sociedade não estiver preparada
As conseqüências geradas pelo bullying são tão graves para lidar com o bullying, serão mínimas as chances de
que crianças norte-americanas, com idades entre 8 e 15 reduzir as outras formas de comportamentos agressivos
anos, identificam esse tipo de violência como um problema e destrutivos 11 .
maior que o racismo e as pressões para fazer sexo ou
consumir álcool e drogas47.
A inexistência de políticas públicas que indiquem a
necessidade de priorização das ações de prevenção ao Referências
bullying nas escolas, objetivando a garantia da saúde e da 1. Krug EG, Dahlberg LL, Mercy JA, Zwi AB, Lozano R. Introduction.
World report on violence and health. Geneva: WHO; 2002:ixx-
qualidade da educação, significa que inúmeras crianças e xxii.
adolescentes estão expostos ao risco de sofrerem abusos 2. Conselho Nacional de Saúde. Política Nacional de Redução da
regulares de seus pares. Além disso, aqueles mais agres- Morbimortalidade por Acidentes e Violência. 2001 Maio 18.
Ministério da Saúde. http://conselho.saude.gov.br/comissao/
sivos não estão recebendo o apoio necessário para demo- acidentes_violencias2.htm.
vê-los de caminhos que possam vir a causar danos por 3. Neto AA, Saavedra LH. Diga NÃO para o Bullying. Rio de Janeiro:
toda a vida. ABRAPI; 2004.
Bullying Lopes Neto AA Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(Supl), 2005 S171
4. Health Link - Medical College of Wisconsin. Understanding and 25. NCH.org. Putting U in the picture Mobile bullying survey 2005.
preventing youth violence. http://healthlink.mcw.edu/article/ www.nch.org.uk/uploads/documents/Mobile_bullying_
984090068.html. Acesso: 09/09/2005. %20report.pdf. Acesso: 09/09/2005.
5. United States Department of Health and Human Services. Youth 26. Eslea M, Rees J. At what age are children most likely to be bullied
violence: A report of the Surgeon General. www.surgeongeneral. at school?. Aggr. Behav. 2001;27:419-29.
gov/library/youthviolence/report.html. Acesso: 09/09/2005. 27. Dawkins J. Bullying in school: doctors responsibilities. BMJ
6. Debarbieux E, Blaya C. Violência nas escolas e políticas públicas. 1995;310:274-5.
Brasília: UNESCO; 2002. 28. American Academy of Child & Adolescent Psychiatry.
7. American Academy of Pediatrics. Task Force on Violence. The Understanding violent behavior in children and adolescents.
Role of the Pediatrician in Youth Violence Prevention in Clinical Washington DC. American Academy of Child & Adolescent
Practice and at the Community Level. Pediatrics. 1999;103: Psychiatry; AACAP Facts for Families nº 55. www.aacap.org/
173-81. publications/factsfam/behavior.htm. Acesso: 09/09/2005.
8. American Medical Association. Commission for the prevention of 29. Chesson R. Bullying: the need for an interagency response
youth violence. Youth and violence. www.ama-assn.org/ama/ bullying is a social as well as an individual problem. BMJ. 1999
upload/mm/386/fullreport.pdf. Aug 7;319:330-31. bmj.com/cgi/content/full/319/7206/330.
Acesso: 09/09/2005.
9. LD Online. Bullying: Peer abuse in schools. Source: Preventing
Bullying - A Manual for Schools and Communities US Department 30. Smith PK, Talamelli L, Cowie H, Naylor P, Chauhan P. Profiles of
of Education 11/3/1998. www.ldonline.org/ld_indepth/ non-victims, escaped victims, continuing victims and new victims
social_skills/preventing_bullying.html. of school bullying. Br J Educ Psychol. 2004 Dec;74:565-581.
www.ingentaconnect.com/content/bpsoc/bjep/2004/00000074/
10. Kids Health. Medical Research News for Parents. Addressing
00000004/art00005. Acesso: 09/09/2005.
aggression in early childhood. www.kidshealth.org/research/
aggression_childhood.html. Acesso: 09/09/2005. 31. Anderson M, Kaufman J, Simon TR, Barrios L, Paulozzi L, Ryan
G, et al. School-Associated Violent Deaths in the United States,
11. Pearce JB, Thompson AC. Practical approaches to reduce the
1994-1999. JAMA. 2001;286:2695-702.
impact of bullying. Arch Dis Child. 1998;79:528-31.
32. Salmivalli C, Karhunen J, Lagerspetz KMJ. How do the victims
12. Medem, Inc. News from AMA: Report finds young patients often respond to bullying? Aggr Behav. 1998 Dec 6;22:99-109.
have no one to confide in when they are being bullied. www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/abstract/64138/
www.medem.com/medlb/article_detaillb.cfm?article_ID ABSTRACT. Acesso: 09/09/2005.
=ZZZY56ZBP2D&sub_cat=609. Acesso: 09/09/2005.
33. Substance Abuse and Mental Health Services Administration;
13. Elinoff MJ, Chafouleas SM, Sassu KA. Bullying: considerations US Department of Health and Human Services, Center for
for defining and intervening in school settings. Psychol Sch. Mental Health Services. Bullying is not a Fact of Life, 2003.
2004;41:887-897. Washington DC .Center for Mental Health Services (CMHS).
14. Ravens-Sieberer U, Kökönyei G, Thomas C. School and health. 34. KidsHealth. Dealing with bullies. www.kidshealth.org/kid/feeling/
In: Currie C, Roberts C, Morgan A, Smith R, Settertobulte W, emotion/bullies.html. Acesso: 09/09/2005.
Samdal O, et al. (editors). Young peoples health in context.
35. Due EP, Holstein BE, Jorgesen OS. Bullying as health hazard
Health Behavior in School-aged Children (HBSC) study:
among school children. Ugeskr Laeger. 1999;161:2201-6
international report from the 2001/2002 survey. Health Policy
for Children and Adolescents; N° 4. World Health Organization. 36. Sudermann M, Jaffe PG, Schieck E. Bullying: information for
2004. p. 184-195. parents and teachers. Center for Children and Families in the
Justice System. 1996. www.lfcc.on.ca/bully.htm.
15. Samdal O, Dür W, Freeman J. School. In: Currie C, Roberts C,
Morgan A, Smith R, Settertobulte W, Samdal O, et al. (editors). 37. National Institutes of Health, National Institute of Child Health
Young peoples health in context. Health Behavior in School- and Human Development. Bullies, victims at risk for violence
aged Children (HBSC) study: international report from the and other problem behaviors. NIH News Release. April 14, 2003.
2001/2002 survey. Health Policy for Children and Adolescents; www.nichd.nih.gov/new/releases/bullies.cfm. Acesso: 12/09/
N° 4. World Health Organization. 2004. p. 42-51. 2005.
16. Craig WM, Harel Y. Bullying, physical fighting and victimization. 38. Menesini E, Eslea M, Smith PK, Genta ML, Giannetti E, Fonzi A,
In: Currie C, Roberts C, Morgan A, Smith R, Settertobulte W, Costabile A. Cross-national comparison of childrens attitudes
Samdal O, et al. (editors). Young peoples health in context. towards bully/victim problems in school. Aggr Behav. 1998 Dec
Health Behavior in School-aged Children (HBSC) study: 6;23. www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/fulltext/46367/
international report from the 2001/2002 survey. Health Policy PDFSTART. Acesso: 12/09/2005.
for Children and Adolescents; N° 4. World Health Organization. 39. Baldry AC. What about bullying? An experimental field study to
2004. p. 133-144. understand students attitudes towards bullying and victimization
17. Lyznicki JM, McCaffree MA, Rabinowitz CB, American Medical in Italian middle schools. Br J Educ Psychol. 2004;74(Pt 4):583-
Association, Chicago, Illinois. Childhood bullying: implications 98. www.ingentaconnect.com/search/article?title=bullying&
for physicians. Am Fam Physician. 2004;70:1723-8. title_type=tka&year_from=1997&year_to=2004&database
=1&pageSize=20&index=44.
18. Visionary-.net. School Bullying and violence. 2005 may 4 jun
40. Kaltiala-Heino R, Rimpelä M, Marttunen M, Rimpelä A, Rantanen
3. www.conference.bullying-in-school.info.
P. Bullying, depression, and suicidal ideation in Finnish
19. Fekkes M, Pijpers FI, Verloove-Vanhorick SP. Bullying: who adolescents: school survey. BMJ. 1999 Aug;319(7206). http:/
does what, when and where? Involvement of children, teachers /bmj.bmjjournals.com/cgi/content/full/319/7206/348. Acesso:
and parents in bullying behavior. Health Educ Res. 2005;20: 12/09/2005.
81-91.
41. Kumpulainen K, Räsänen E, Puura K. Psychiatric disorders and
20. Kidscape. You can beat bullying A guide for young people, the use of mental health services among children involved in
2005. www.kidscape.org.uk/assets/downloads/ bullying. Aggr Behav. 2001 Mar 30;27. www3.interscience.
ksbeatbullying.pdf. wiley.com/cgi-bin/fulltext/78504095/PDFSTART. Acesso: 12/
21. University of Colorado. Center of Study and Prevention of 09/2005.
Violence Institute of Behavioral Science at University of 42. Anonyme Foreldre Av Mobbeofre. Dag Oulie psychiatrist.
Colorado at Bouder. Blueprints for violence prevention Training www.afam.no/cgi/nyheter.pl?id=37&lang=1. Acesso: 12/09/
and technical assistance. www.colorado.edu/cspv/blueprints/ 2005.
model/programs/BPP.html.
43. American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. Bullying.
22. Shroff Pendley JS. Bullying and your child. www.kidshealth.org/ AACAP facts for families nº 80; c. 2004. www.aacap.org/
parent/emotions/behavior/bullies.html. Acesso: 09/09/2005. publications/factsfam/80.htm. Acesso: 12/09/2005.
23. NetSafe.org. The text generation Mobile phones and New 44. American Academy of Child & Adolescent Psychiatry. Conduct
Zealand youth. A report of results from the Internet Safety disorder. AACAP Facts for Families nº 33; c. 2004.
Groups survey of teenage mobile phone use. www.aacap.org/publications/factsfam/conduct.htm. Acesso: 12/
www.netsafe.org.nz/Doc_Library/publications/ 09/2005.
text_generation_v2.pdf. Acesso: 09/09/2005. 45. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. A Cultura da Paz em
24. BBC News. Warning over bullying by mobile. BBC News. 2005 Resposta à Violência. Suplemento Rio Estudos. Diário Oficial do
Jun 7. news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/education/4614515.stm. Município, 2001 Aug 13.
S172 Jornal de Pediatria - Vol. 81, Nº5(supl), 2005 Bullying Lopes Neto AA
RESUMO - O presente trabalho apresenta reflexões acadêmicas sobre a violência, trazendo nas primeiras
seções um panorama parcial, definições e considerações sobre a temática, enfocando nas seções que se
seguem, a violência nos espaços escolares, suas contextualizações e possíveis soluções coletivas. O
Bullying é apresentado como um problema social que invadiu a escola, ocasionando vários problemas de
ordem estrutural, política e pedagógica. Reflexões são feitas com o objetivo de se conhecer o problema, as
suas implicações no processo de desenvolvimento da criança e do adolescente; caracterizando o bullying, o
mobbing, o cyberbullying e o comportamento dos bullies. Apresenta algumas considerações em relação às
estratégias que possam contribuir na prevenção e na intervenção do bullying na escola, que passa pela
capacitação dos professores, orientação dos alunos, políticas de prevenção e educação para a paz.
Palavras-chave: Bullying; Violência Escolar; Violência Social.
ABSTRACT - This article presents academic reflections on violence, bringing in the first sections a partial
overview, definitions and considerations on the subject, focusing on the sections that follow, violence in
school spaces, its contextualization and possible collective solutions. The Bullying is presented as a social
problem that has invaded the school, occasionally several structural problems, political and pedagogical.
Reflections are made with the objective of discovering the problem, its implications for the development of
child and adolescent; characterizing bullying, mobbing, cyberbullying and the behavior of bullies. Presents
some considerations related to strategies that may assist in prevention and intervention of bullying at
school, passing through teacher training, mentoring of students, policies for prevention and peace
education.
Palavras-chave: Bullying; School Violencia; Violencia.Social.
1
Mestranda em Educação pela PUCRS; Especialista em Educação a Distância-SENAC/EAD; Professora Estadual do Ensino
Profissional e Médio e Tutora no Curso de Pós Graduação em Mídias na Educação-UFSM.
2
Mestranda em Educação pela PUCRS; Especialista em Psicopedagogia Clínica e Instituicional pela FEEVALE, Licenciada
em Letras Língua Inglesa e literaturas da língua inglesa pela FACOS/Osório.
adolescentes tiram fotos com seus celulares Mas, então o que se pode fazer para
modernos de cenas constrangedoras, muitas prevenir e/ou amenizar os problemas de bullying
vezes em festas em que estão todos juntos e na escola? Em primeiro lugar, reconhecer que o
colocam em sites como Orkut e Youtube, com bullying é um problema social e que não é só um
legendas ainda mais vexatórias. Fante (2008, p. problema da escola. Como problema social,
10) coloca que: insere-se na escola naturalmente acarretando
vários outros problemas, acontecendo em todas
O bullying interfere no processo de aprendizagem
e no desenvolvimento cognitivo, sensorial e as escolas, não só nas escolas públicas de
emocional. Favorece um clima escolar de medo e periferia, mas também em escolas privadas com
insegurança, tanto para aqueles que são alvos
como para os que assistem calados às mais um bom nível social e econômico. O bullying
variadas formas de ataques. O baixo nível de
aproveitamento, a dificuldade de integração sempre existiu, não é um fenômeno psicossocial
social, o desenvolvimento ou agravamento das
síndromes de aprendizagem, os altos índices de novo, mas só foi nomeado há pouco tempo e a
reprovação e evasão escolar têm o bullying como partir desta nomeação e conceituação, é que se
uma de suas causas.
começou a discutir sobre o assunto.
Este problema tem permeado as É fundamental que as escolas realizem
discussões nas escolas, com o objetivo de pensar formação para capacitar os professores e demais
estratégias de prevenção e de intervenção. Não é profissionais da educação, com o objetivo de
uma discussão muito fácil, pois a maior parte dos entender os prejuízos para o desenvolvimento
educadores não consegue perceber também a global tanto dos bullies, quanto das vítimas em
vitimez do bully, até porque muitas vezes o si. A capacitação dos profissionais possibilita
próprio professor é vítima dos bullies. uma melhor observação nas relações
A tendência nas discussões é de querer interpessoais, a identificação, o que leva a
punir, expulsar do grupo. Como se esta fosse a atitudes mais acertadas em momentos delicados.
alternativa mais acertada. Sabe-se que estas A escola precisa articular políticas de
atitudes não resolvem o problema, pois, se prevenção e de intervenção de uma forma
expulsássemos todos os alunos que praticam ou consciente, responsável e democrática, para que
que são coniventes, teríamos poucos alunos na quando ocorram casos graves de bullying na
escola. Moz e Zawadski (2007 p.88) colocam escola, todos estejam preparados para atuar com
que: responsabilidade social e de forma segura.
Também é de extrema importância
Muitas escolas tentaram gerar mais segurança discutir o assunto com os alunos, principalmente
estabelecendo políticas antibullying, que punem o
autor por seu comportamento. Essa estratégia os adolescentes. Quando se discute o tema,
para tratar o problema mostrou-se ineficaz.
Muitas crianças que praticam o bullying grave se percebe-se que praticamente todos já foram
Referências
BORGES, Edson; MEDEIROS, Carlos Alberto;
D‟ADESKY, Jacques. Racismo, preconceito e
AQUINO, Julio Groppa. A violência escolar e a intolerância. São Paulo: Atual, 2002.
crise da autoridade docente. Cadernos Cedes,
ano XIX, nº 47, Dez. 1998, p. 7-19.
58
Revista de Educação Física - No 139 – Dezembro de 2007 59
could be the elaboration and utilization, in physical of it, it is necessary that teachers of physical education
education classes, of print materials, like books to children develop strategies of prevention during all basic education,
and teenagers, comic strips, cordel literature, which discuss since elementary school till the last year of high school.
bullying critically. There are no Brazilian educational
programs, in physical education area, related to the Key words: Bullying, Violence, Aggression, Strategies
identification, prevention and control of bullying. Because of Intervention, Physical Education in School.
Recentes livros, na área da educação física, abordam Além disso, foi utilizado o apoio da pesquisa
questões sobre a necessidade de uma cultura voltada para bibliográfica, que diz respeito ao conjunto de
a paz (Beltrão, Macário e Barbosa, 2006;Tubino e Maynard, conhecimentos humanos reunidos nas obras e tem por
2006). No entanto, quando analisados, não incluem o base fundamental a de conduzir o leitor a determinado
problema do bullying como uma preocupação do professor assunto, tema, produção, coleção, armazenamento,
de educação física. Oliveira e Votre (2006: 173) confirmam reprodução, utilização e comunicação das informações
a incipiência do tema quando mencionam que “[...] na coletadas para o desempenho da pesquisa (Fachin, 2001).
educação física ainda não se encontra quase nada a
respeito [...]”. REVISÃO DA LITERATURA
FIGURA 1
ALVO DE BULLYING
(Fante, 2005)
FIGURA 2
ALVO/AUTOR DE BULLYING.
FIGURA 3
AUTOR DE BULLYING.
(Ballone, 2005)
FIGURA 4
TESTEMUNHAS DE BULLYING.
Admite-se que os alunos que praticam o bullying têm Casos de bullying relacionados à educação física e ao
grande probabilidade de se tornarem adultos com horário do recreio
comportamentos anti-sociais e violentos (por exemplo,
Além do caso apresentado na introdução deste trabalho,
brigas freqüentes e lesões relacionadas a estas, porte de
são descritos outros não menos importantes:
armas), podendo vir a adotar, inclusive, atitudes
delinqüentes e/ou criminosas (Lopes Neto e Saavedra, Aluna da 6ª série, 12 anos:
2003). “Minha vida escolar não é a melhor. Gosto muito dos
professores, mas de umas semanas para cá andam
_ Testemunhas me difamando por causa de um trabalho escolar. Estou
Apesar de não sofrerem as agressões, diretamente, sendo rejeitada por algumas pessoas da minha classe.
Na aula de educação física, dizem que sou baixa e
muitos alunos podem se sentir incomodados com o que
frágil, então não sirvo para nada...” (Fante, 2005: 35).
vêem e inseguros sobre o que fazer. Alguns reagem
negativamente diante da violação de seu direito a aprender Dois meninos, Marcos e Paulo (nomes fictícios),
em um ambiente seguro, solidário e sem temores. Tudo portadores de deficiência mental leve, inseridos em uma
isso pode influenciar negativamente sua capacidade de turma de classe comum do ensino regular:
progredir acadêmica e socialmente (Lopes Neto e “Marcos começou a fazer aula normalmente em uma
Saavedra, 2003). turma com alunos da idade dele. Ele é da classe
66 Revista de Educação Física - No 139 – Dezembro de 2007
FIGURA 5
BULLYING ENTRE MENINOS.
(Ballone, 2005)
especial da escola; os demais alunos da turma, ditos interessou-se pelo jogo, do qual tentava participar
normais, já o conheciam, pois ele é irmão de uma das ativamente. Mas a situação de normalidade no jogo
alunas da turma.A aula de educação física iniciou bem, durou pouco, porque assim que o time percebeu que
mesmo porque fiz questão de dizer a todos que na aula Paulo era diferente e que, durante o jogo, não conseguia
daquele dia havia dois colegas da classe especial que respeitar as regras, constatou que ele é portador de
iriam fazer aula junto com a turma. Aconteceu que o deficiência mental. Os alunos começaram a rir dele e
Marcos não fez questão de participar das atividades chacoteá-lo e, como no time em que ele estava jogando
junto com os outros da turma. No momento em que os colegas estavam perdendo e não conseguiam jogar,
propus um jogo para a turma, vi que todos jogaram, começaram a provocar-me, sem esconder a rejeição e
menos Marcos, que não quis jogar. Vi, também, que o preconceito, dizendo: - a senhora trouxe um maluco
sua irmã parou de jogar e resolveu brincar de corda para cá? Põe o maluco pra fora! A aula não é para
com ele e mais uma colega. Paulo, por outro lado, maluco. Foi então que Paulo, que tem um grau de
Revista de Educação Física - No 139 – Dezembro de 2007 67
FIGURA 6
BULLYING ENTRE MENINAS.
(Ballone, 2005)
deficiência quase imperceptível, veio queixar-se a mim, Veja o exemplo de uma aluna da 5ª série, 11 anos:
dizendo que eles, longe das professoras, só o “Minha vida na escola é muito triste porque meus
chamavam pelos termos maluco e doidinho” (Oliveira e colegas me colocam apelidos de que não gosto. Me
Votre, 2006: 192-193). chamam de ‘sarnenta’, ‘feia’, ‘piolhenta’ e outras coisas.
Outro ponto em que o professor de Educação Física Gostaria que parassem com isso, não agüento mais
tanta humilhação...” (Fante, 2005: 35).
deverá ter atenção é para a manifestação verbal de
bullying. Outro momento no interior da escola em que há
manifestações de bullying é o horário do recreio. Sabe-se
“A título de ilustração do caráter criativo e imagético do
que este é um período em que ocorrem os seguintes
bullying, citamos o caso de uma menina, de boca acima
do tamanho normal, que é chamada de vaso sanitário;
problemas: não há supervisão dos professores; há um
de um garoto orelhudo, chamado de fusquinha de acúmulo de várias turmas e, conseqüentemente, alunos
portas abertas; do garoto narigudo, que é o tromba de de diferentes idades dividem o mesmo espaço; quando há
elefante; do menino portador de olheira funda, que é inspetor de supervisão, normalmente estão em número
chamado de morreu; dos garotos com trejeitos reduzido para o contingente de alunos; em muitas escolas,
afeminados, que são chamados de pit bitoca; das não há atividades orientadas durante o recreio; e há jogos
meninas com alguns traços masculinos, que são com bola na quadra (futebol é o mais comum) sem nenhum
apelidadas de sapata, além dos apelidos clássicos, tipo de supervisão. Com isso, ocorrem diversas
como Maria João” (Oliveira e Votre, 2006: 175). manifestações de agressão, sendo o bullying uma delas.
Para completar a lista acima, citamos o menino que Veja o caso de uma aluna da 3ª série, nove anos:
tem um nariz acima do tamanho normal, caracterizado “Meu dia na escola é dez, mas, quando vou brincar no
como ladrão de oxigênio; a menina com boca acima do recreio, sempre sou ameaçada por vários meninos e
normal, chamada de boca de caçapa; e o garoto orelhudo, não posso brincar. E, se eu contar para algum dos
apelidado de Dumbo. Crianças que tenham a cabeça funcionários, apanho dos meninos. Por isso, tenho muito
medo. Mesmo quando não sou ameaçada por ninguém,
grande ou até com problemas genéticos (por exemplo,
eu sinto muito medo por todos os lados que passo.
hidrocefalia) são apelidadas de cabeça de nós todos, e as Chego até a passar mal quando sou ameaçada pelos
que têm excesso de peso, são alcunhadas de Casas da meninos e meninas...” (Fante, 2005: 34-35).
Banha (nome de antiga rede de supermercados). Sabe-se
que estes apelidos pejorativos são criados baseando-se Estratégias didáticas de intervenção da educação
em aspectos culturais e são circunscritos a determinadas física
épocas e regiões. O que fazer com os casos de bullying descritos?
68 Revista de Educação Física - No 139 – Dezembro de 2007
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BALLONE GJ. Maldade da infância e adolescência: bullying. PsiqWeb 2005. Disponível em: <http://
virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=372&sec=20>. Acesso em: 20 jan 2007.
BEAUDOIN MN, TAYLOR M. Bullying e desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. Porto Alegre: Artmed,
2006.
BELTRÃO FB, MACÁRIO NM, BARBOSA LLS. Motricidade e educação para paz. Rio de Janeiro: Shape/Selo CONFEF,
2006.
BESSA M. Discutindo a agressão nos colégios: entrevista com Aramis Lopes Neto - 2004. Disponível em:
<http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materia.asp?seq=176>. Acesso em: 26 fev 2007.
CATINI N. Problematizando o bullying para a realidade brasileira. Tese de Doutorado em Psicologia. Campinas:
PUC-Campinas, 2004.
CAVALCANTI M. Como lidar com brincadeiras que machucam a alma. Revista Nova Escola 2004;178:58-61.
70 Revista de Educação Física - No 139 – Dezembro de 2007
CHAVES WM. Fenômeno bullying e a educação física escolar. Anais do 10º Encontro Fluminense de Educação Física
Escolar. Niterói: UFF, Departamento de Educação e Desportos, 2006: 149-54.
CONSTANTINI A. Bullying: como combatê-lo? Prevenir e enfrentar a violência entre os jovens. São Paulo: Itália Nova
Editora, 2004.
FANTE C. Fenômeno bullying: como prevenir a violência e educar para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
FARIA JUNIOR AG, FARIA EJC. Didática de educação física. In: FARIA JUNIOR AG et al., organizadores. Uma introdução
à educação física. Niterói: Corpus, 1999; 341-83.
FIGUEIRA IS. Bullying: o problema do abuso de poder e vitimização de alunos em escolas públicas do Rio de Janeiro.
Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento da Criança. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de
Motricidade Humana, 2002.
LOPES NETO AA, SAAVEDRA LH. Diga não para o bullying – programa de redução do comportamento agressivo entre
estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.
MARQUES AR, FERREIRA NETO CA, PEREIRA B, ÂNGULO JC. Bullying no contexto escolar: jogo e estratégias de
intervenção. Cinergis 2005; 6(1):81-95.
OLIVEIRA FF, VOTRE SJ. Bullying nas aulas de educação física. Movimento 2006;12(2):173-97.
PUIG JM. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
RODRIGUES A, ASSMAR EML, JABLONSKI B. Psicologia social. 19ª ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
SIMMONS R. Garota fora do jogo: a cultura oculta da agressão nas meninas. São Paulo: Rocco, 2004.
TRIVIÑOS ANS. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
TUBINO MJG, MAYNARD K. Esporte e cultura de paz. Rio de Janeiro: Shape/Selo CONFEF, 2006.
WEBSTER’S. New Collegiate Dictionary: a Merriam-Webster. Springfield, Estados Unidos: G. & C. Merriam, 1973.
ARTIGO DE REVISÃO
Resumo Abstract
na primeira infância ou são características próprias, substituindo as clássicas paredes dos banheiros
tendo ainda o reforço das circunstâncias ambientais escolares, onde se colocavam agressões a alunos
intra-familiar, extra-familiar e intra-escolar. Atos e professores, de uma forma tão avassaladora
delinqüentes sofrem influência do ambiente seja como nunca vista antes.4 No Orkut, identificam-se
por frustração, seja por ofertas de oportunidade comunidades virtuais que incentivam a constituição
para cometer o delito.8 de redes de proteção e apoio aos alvos de bullying,
A agressividade pode está condicionada a como também, se encontram comunidades
fatores como: distúrbio de personalidade, transtorno incentivadoras a redes de agressão.11
de relacionamento, influência de amigos e família; Os alunos, em algumas escolas americanas são
estrutura escolar e seus métodos pedagógicos; proibidos de levar telefone celular, sendo este um
fatores políticos, econômicos e sociais, ou seja, a meio atualmente usado para divulgação de fotos
violência na escola está ligada ao contexto social, de estudantes nuas em vestuários por meio de
familiar e escolar.9 torpedos e internet.4
Em 2005, houve uma conferência internacional
Moobing - a agressão no trabalho on-line sobre cyber-bullying, na qual participaram
trinta e quatro especialistas de dezessete países não
Os termos mobbing, bullying, assédio moral, chegando à conclusão efetiva sobre as suas formas
assédio psicológico ou terror psicológico no de prevenção.4
trabalho são fenômenos para definir a violência Não existe uma legislação especifica que
pessoal, moral e psicológica, vertical (ascendente trate dos crimes na internet. Estes devem ser
ou descendente) ou horizontal no ambiente de enquadrados no artigo 186 do código civil que
trabalho. O termo mobbing refere-se a adultos no refere a dano moral, no entanto há uma grande
contexto ocupacional, sendo esta uma forma de dificuldade para provar a autoria, pois usa-se a
violência psicológica, já o termo bullying deve justificativa que outra pessoa fez usando seu nome
se referir a crianças e adolescentes no contexto ao cometer o delito. Na internet o agressor se
escolar, sendo preferencialmente uma forma de esconde no anonimato, diferente do bullying físico
violência física.10 que é identificável e tem a característica do forte
contra o fraco.4,12
Tipos de bullying Trata-se de um tema extremamente preocupante
para o qual juristas e outros profissionais da área
A pratica do bullying pode ser2: dos Direitos Humanos e da própria Informática,
devem abraçar, refletir e propor intervenções
a) Direta: ameaçar; bater, implicar, roubar coibitivas e preventivas.
pertences, chamar apelidos pejorativos.
b) Indireta: espalhar boatos maldosos, isolar Personagens e suas características
socialmente a vítima.
Os personagens do bullying diferenciam-
No bullying de prática direta as vítimas são se pelo tipo de relacionamento psicossocial
atacadas diretamente, sendo quatro vezes mais inadequado, comparado aos não envolvidos,
utilizados pelos meninos. Na prática indireta as havendo diferenças significativas entre suas
vítimas estão ausentes, são atos mais adotados por características comportamentais e sociais. Os
meninas.6 envolvidos no bullying são classificados em2:
a) Ativos (“bullies”): demonstram pouca
Cyber-Bullying empatia com as vítimas, tem necessidade
de poder e dominar situações,
Os cyber-bullying têm sido observados como são contestadores, desobedientes a
uma nova forma de bullying que usa tecnologia da regulamentos escolares, possuem auto-
informação e comunicação tipo: e-mails, telefones, estima reforçada. São filhos de pais
celulares, mensagens por pagers e celulares, violentos, sem afeto e sofrem de violência
fotos digitais, sites pessoais difamatórios, ações física;
difamatórias on-line.6 b) Passivos (“victims”): possuem auto-estima
Sites como Orkut e seus similares estão baixa, ansiedade, insegurança, infelicidade,
insônia, sentimento de tristeza ou infelicidade, cinco escolas no interior de São Paulo, analisando
enurese, anorexia e distúrbios escolares.2,11 o comportamento de 2000 estudantes, revelou que
Observa-se que pais e professores têm pouca 49% deles estavam envolvidos com o bullying,
percepção quanto à ocorrência do bullying, em dentre os quais 22% eram vítimas, 15% eram
razão das vítimas não se defenderem ou não falarem agressores e 12% desempenhavam ambos os
do assunto e a maioria desses atos ocorrerem sem papéis.4
a presença de um adulto. A revelação pela criança Já no Rio de Janeiro, ente 2002 e 2003, estudos
quanto à ocorrência de maus tratos é raro por ter com 5.875 alunos, evidenciou 40,5% envolvidos
vergonha e medo de sofrer represália.3,6 com o bullying, sendo 16,9% alvos, 12,7% autores
Alguns indicadores da criança podem estar e 10,96% alvos/autores.7
sendo alvo do bullying, entre os quais: No Brasil, 40% dos estudantes estão envolvidos
• Falta de vontade e medo de ir à escola; na prática de bullying. A incidência de bullying é
• Sentir-se mal ao sair para escola e não quere maior entre 11 e 14 anos e tende a diminuir com a
ir sozinho; idade.9,14
• Mudar o caminho da escola;
• Chegar sempre da escola com roupas e livros Efeito/Conseqüência
rasgados e manchados;
• Calado, arredio, angustiado, ansioso, deprimido; Os efeitos negativos do bullying podem ocorrer
• Baixa auto-estima; tanto a curto ou em longo prazo. Em curto prazo,
• Ter pesadelos freqüentes; nas vítimas, estão relacionados os distúrbios físicos e
• Perder repetidamente pertences e dinheiro; psicológicos, queixas clínicas repetidas e mal definidas
• Não falar sobre o assunto. como: cefaléia, dor abdominal e de garganta, náuseas,
vômitos, anorexia, enurese, distúrbios escolares,
Incidência tristeza e insônia.2
Com relação aos efeitos em longo prazo,
No mundo moderno o bullying se tornou uma são escassos os estudos que afirmam que estas
epidemia social de ampla variabilidade, de 15% crianças serão mais violentas e cometerão crimes,
até 70% entre os países. A incidência é maior nas mas parece haver forte correlação identificada em
séries iniciais do ensino fundamental, atingindo alguns trabalhos. Um deles afirma que 60% dos
porcentagem menor ao término do ensino médio alunos que exerciam o bullying ativo no ensino
e em geral costuma envolver mais meninos que médio sofreram no mínimo uma condenação penal
meninas.2 aos 24 anos. Em outro trabalho há um relato que
A maior pesquisa sobre bullying foi realizada as crianças envolvidas com bullying, tiveram
na Grã-Bretanha e registra o sofrimento por quatro vezes mais riscos de apresentar atitude
bullying pelo menos uma vez por semana em 37% criminosa aos 20 anos de idade, e a maioria dos
dos alunos do primeiro grau e 10% dos de segundo que praticaram bullying como ativos tinha pelo
grau.7 menos uma condenação por crime.2
Um estudo da British Medical Association – Adolescentes com dificuldades de interação
Medical Students Committe revelou: um terço dos social são rejeitados pelos colegas, são tímidos,
estudantes entrevistados sofreram bullying; um em são trancados. Revelam reduzida habilidade
cada quatro foram vitimados por um(a) médico(a), social e muitas vezes são motivo de chacota dos
e um em cada seis por enfermeiro(a). Os tipos de companheiros.8
bullying compreenderam desde discriminação Há uma série de efeitos que o fenômeno
racial e sexual a humilhações na frente de pacientes, bullying persistente ocasiona no indivíduo e no
não excluindo as que ocorreram em salas de ambiente onde ocorre5:
cirurgia. No Brasil, Rego obteve depoimentos de • Efeitos sobre o indivíduo: depressão
estudantes que apontavam esta prática no cotidiano reativa, estresse de desordem, tornar-se
das escolas, como o de que “existem professores agressor, ansiedade, distúrbio gástrico,
que gostam de sacanear os alunos” e “existem dores idiopáticas, perda de auto-estima,
professores que são grosseiros e não respeitam os medo de expressar emoções; problemas de
alunos”.11 relacionamento, abuso de drogas e álcool,
Entre 2000 a 2003, pesquisa realizada em auto-mutilação, bullycídio (suicídio).
• Efeitos na escola: Evasão escolar elevada, alta preconceituoso sendo considerado um fator de
rotatividade do quadro de pessoal, desrespeito risco em particular.5
aos professores, faltas sem motivos, porte de
armas por crianças, ações judiciais contra Participação da família
escola e autoridade responsável e contra a
família do agressor. Os autores de bullying geralmente são de
famílias que tem a violência como forma de poder,
• Efeitos sobre a organização (Ex.: local com pouco afeto. As crianças com adversidade
de trabalho): perda de moral, faltas por familiar têm mais probabilidade de ser agressiva.
depressão, ansiedade e dor nas costas, baixa O contexto urbano e familiar está associado à
produtividade e lucro, alta rotatividade de violência vivida nas escolas.3,15,16
pessoa, perda de clientes; má reputação, Os jovens de família e segmentos com
repercussão negativa da mídia, ações judiciais condições sócio-econômicas desfavoráveis podem
contra a organização por injúria pessoal ter amadurecimento psicossocial mais rápido do
e contra organização e agressor (leis anti- que os que apresentam melhores recursos.17
discriminais). É importante que pais e educadores não
entrem em paranóia de coibir qualquer brincadeira.
Estudos longitudinais demonstram que as Algumas brincadeiras são inevitáveis, como
crianças alvo de bullying quando adultas têm maior apelidos, sendo esta, às vezes, uma questão de
dificuldades para se adaptar ao trabalho, podendo brincar e interagir. Com isso a prioridade seria
até sofrer bullying no ambiente de trabalho e avaliar se esses apelidos são maldosos, irreais ou
dificuldade em se relacionar socialmente. Com pesarosos para a criança. A colocação de apelidos
relação aos autores há tendência a comportamento muitas vezes é encarada por pediatras e professores
de risco na adolescência: dirigir sem cinto, usar como normal, sendo este um comportamento
drogas, alcoolismo dentre outros, podem se tornar agressivo que pode levar a repercussão na auto-
adultos agressivos em casa e no trabalho. Existem estima. O uso da agressão física também deve ser
também outros atos como: não respeitar sinais de motivo de preocupação, principalmente quando faz
trânsito, “furar” fila e se considerar acima de tudo uso de arma de fogo usada por alunos com baixa
e de todos.15 auto-estima que procuram ser notados.18,19
A prática do bullying tem conseqüências
negativas imediatas e tardias sobre seus envolvidos: Participação da escola
agressores, vítimas e observadores. Admite-se
para os praticantes de bullying a probabilidade de Os fatores relacionados ao desenvolvimento
serem adultos com comportamento anti-social e/ escolar envolvem as características sociais:
ou violento que podem adotar atitudes violentas ou estrutura familiar, cultura, educação; características
criminosas. Já os alvos de bullying passam a ter individuais: inteligência, atitude, personalidade;
baixo desempenho escolar, recusa a ir à escola com características da escola: estrutura física,
simulação de doença. Os jovens com depressão administração, professor, aluno.14,20
tentam ou cometem suicídio. Com relação às A escola é muito importante no desenvolvimento
testemunhas, estas podem sofrer influência negativa das crianças e adolescentes, sendo este insatisfatório
sobre sua capacidade de progredir acadêmica e aos que não gostam dela, com comprometimentos
socialmente.6,7 físicos e emocionais à sua saúde ou sentimentos
de insatisfação com a vida. Os que apresentam
Fatores de risco relacionamentos inter-pessoal e desenvolvimento
acadêmico positivo terão maior possibilidade
Os riscos da manifestação do bullying estão de alcançar um melhor nível de aprendizado. A
relacionados a fatores sócio-econômicos e culturais, aceitação no grupo é fundamental, aprimora suas
bem como aspectos inatos de temperamento habilidades socais e fortalece a capacidade de reação
e influência familiar, de amigo, da escola e da diante de situações de tensão.6
comunidade.6 A agressividade está presente em todas as
O déficit de habilidades sociais dos escolas, sendo baixa a percepção de sua ocorrência
subordinados do bullying é um ponto de vista pela escola, pelos pais e pela sociedade. A
violência nas escolas é um problema social visível, orientar as formas de prevenção e conduta aos
resultante da interação entre o desenvolvimento pais, crianças e docentes; quando necessário
individual e os contextos sociais, como a família, encaminhar ao psicólogo ou psicanalista; atuar
a escola e a comunidade. A violência na escola na prevenção da violência escolar defendendo os
representa uma ameaça aos quatros pilares da direitos da criança.
educação, caracterizada no Relatório Delors, em O trabalho do pediatra também está na escola,
1998, como aprender a conhecer/aprender a fazer/ seja com ações assistenciais, prevenção e promoção,
aprender a viver juntos/aprender a ser. Interfere na seja com grupos de discussão e capacitando
aprendizagem e também na qualidade de ensino.3,6 professores, objetivando a implantação de escolas
O comportamento agressivo sempre ocorreu promotoras de saúde.19
nas escolas, sendo que com o aumento dos padrões O pediatra nesse contexto é pressionado a
estéticos de normalidade houve aumentos do cumprir suas rotinas de consulta inerente ao
comportamento agressivo.4 crescimento e desenvolvimento infantil saudável
bem como a acrescentar orientações sobre
Participação do pediatra ou do médico de família prevenção de injúrias, mantendo sua percepção
aguçada quanto aos vínculos familiares, auto-
O pediatra se confronta com diversos fatores estima e sentimentos de pertencimento, exigindo
de morbidade relacionada a fatores sócio- tempo maior na consulta. O trabalho do pediatra
culturais como: distúrbio do humor e ansiedade é amplo e cheio de possibilidades, desde a atuação
em crianças e jovens, atividade sexual insegura, no consultório/ambulatório, no ambiente escolar,
gravidez na adolescência, obesidade e taxas no bairro, ou nas campanhas educativas.19
desproporcionalmente elevadas de injúrias - É responsabilidade precípua de todo pediatra
violência na escola, atropelamentos, armas de fogo cuidar da criança e do jovem na sua integralidade,
nos domicílios, abuso de álcool e outras drogas, na de sua família e de sua cultura, devendo reforçar
exposição à violência nos meios de comunicação e o relacionamento com as famílias, aproveitando
a substâncias tóxicas no meio ambiente.19 as oportunidades de intervenção construtiva,
Freqüentemente eles se deparam com pais promovendo uma terapêutica baseada na confiança
queixando de dificuldades escolares, já referidas e encaminhando os problemas difíceis a outros
pelo professor. Contudo os pediatras nem sempre profissionais.22
estão habilitados a resolver o problema, quer seja por
falta de formação, desconhecimento do assunto ou Programas de apoio
falta de costume de resolver problemas interagindo
com equipe multiprofissional e interdisciplinar.21 Em artigos internacionais está descrito que
A identificação da ocorrência do bullying a taxa de bullying nas escolas reduz até 80%
pelo pediatra é transcendental, em virtude das quando se implanta o programa antiviolência com
conseqüências imediatas e em longo prazo das a participação de pais, alunos e escola, dispondo
alterações patológicas.2 de ações continuadas com finalidade comum em
Durante a consulta de uma criança com combater a violência, proteção e assistência às
dificuldades escolares, na anamnese o médico vítimas e agressores.3
deve pormenorizar a vida da criança, ter dados da A Associação Brasileira Multiprofissional de
dinâmica, condições familiares, situação sócio- Proteção a Infância e a Adolescência (ABRAPIA),
econômica e cultural. Fazer perguntas de origem desenvolveu o Programa de Redução do
psicológica como timidez, agressividade, ansiedade, Comportamento Agressivo entre Estudantes, onde
fobias, é importante. Sempre afastar causas no período de setembro de 2002 a outubro de
orgânicas para o problema, tais como: alteração 2003, foi possível reduzir a agressividade entre os
da visão, audição, fala, anemias, desnutrição, má estudantes, favorecendo o ambiente escolar, o nível
higiene do sono, alimentação inadequada.21 de aprendizado, a preservação do patrimônio e,
Nas consultas médicas no dia-a-dia passam principalmente às relações humanas. Nesse estudo
pelos médicos pediatras várias crianças e foi revelado que 40,5% dos alunos entrevistados
adolescentes que estão envolvidas com o bullying.2 admitiram relação direta com atos de bullying.6,7
Cabe a esses a responsabilidade de atuar em quatro Em São José do Rio Preto existe o “Programa
aspectos primordiais: reconhecer o problema; Educar para a Paz” que conseguiu reduzir o
percentual de vítimas de 22% para 4%, através educação e saúde cabe a implantação de políticas que
da sistematização de estratégias psicopedagógicas garantam proteção e assistência necessária.3
fundamentada na solidariedade, tolerância e Dicas para os educadores incluem: avisar
respeito às diferenças nas escolas. No Rio de Janeiro quanto à intolerância ao bullying; comunicar a
houve o desenvolvimento de medidas preventivas direção sempre que ocorre; promover debate sobre
através de palestras para alunos, professores e o bullying nas salas; incentivar a pesquisa do tema
pais, atividades artísticas, criação de contato de e apresentar o resultado a todos os alunos.14
convivência entre os alunos e grupo de fiscalização Com relação ao bullying é como um câncer que
que vigiavam o comportamento agressivo entre os se alastra às entranhas do organismo social, falta-
colegas.4 nos a oportunidade de difundir a sua existência,
identifica-lo e, principalmente, estabelecer as
Existem caminhos? formas indispensáveis à orientação dos alunos,
dos pais e dos professores no sentido de prevenir
Para o combate eficaz e seguro do bullying é e combater.2
primordial a participação conjunta de médico, pais
e professores.2 Fazem-se necessário a interação Considerações finais
do pediatra com o professor da criança para
saber seu comportamento na escola, as condições O bullying é um problema de saúde publica
psicopedagógicas e ambiente físico da escola.21 que precisa ser identificado e combatido através de
As crianças e os adolescentes devem possuir ações interligadas entre pais, educadores, pediatras
boa relação com seus colegas de escola, caso e médicos de família. É imperioso quando indicado,
contrário, poderá desenvolver sérios riscos à saúde propiciar alterações no ambiente familiar, na
e ao desenvolvimento social, já que o estresse escola e durante a consulta médica, visando sua
psicossocial está envolvido na saúde do indivíduo. estruturação adequada para propiciar apoio a todos
A criança deve ser encorajada a lidar com o os envolvidos com o bullying, independente do
problema, fazer amizades com os não envolvidos personagem que desempenhe a ação.
em bullying e sempre comunicar a alguém caso Existem formas de identificar sua ocorrência
sofra alguma agressão.2,3 precocemente através da observação pelos pais,
Os professores precisam ser treinados a educadores, pediatras e médicos de família, das
conhecer o problema e saber como lidar com os mudanças atípicas no comportamento da criança
alunos envolvidos no processo.2 ou adolescente que chame atenção. Alguns
Durante a especialização, o pediatra deveria estudos demonstram que essas alterações do
aprender a identificar a ocorrência de bullying em comportamento não se restringem apenas a essa
seus pacientes e como manejar adequadamente a fase da vida, persistindo também na vida adulta
situação. Os valores morais não devem ser apenas para todos os envolvidos no bullying de uma forma
voltados à relação médico-paciente, é preciso que a geral, trazendo graves conseqüências.
formação moral seja de fato uma preocupação com A implantação de programas voltados
implementação de políticas com tolerância zero a políticas anti-bullying têm apresentado
com o bullying.2,11 resultados satisfatórios na redução da incidência e
O dever do pediatra é perguntar diretamente prevalência dos casos. Com o intuito de manejá-
a criança se ela sofre algum tipo de agressão, se a los adequadamente a família tem que estar atenta a
criança confirmar é importante elogiar sua atitude mudanças de personalidade do filho, os educadores
de relatar o fato. Os pais devem ser comunicados têm que saber reconhecer o problema e saber
e o assunto precisa ser discutido com o professor e intervir adequadamente e o pediatra e médico de
diretor da escola.3 família devem aprender a identificar, durante a
Cabem as escolas reconhecer e reduzir o problema, consulta, a ocorrência de bullying através de uma
aos profissionais de saúde diagnosticar e adotar anamnese bem dirigida para obter informações
conduta adequada e quanto aos órgãos normativos de que os possibilite agir por meios adequados.
Resumo: Buscou-se no presente trabalho apresentar uma revisão bibliográfica sobre a ocorrência do
fenômeno bullying no âmbito escolar, verificando os efeitos que ele pode causar na vida do indivíduo.
Partindo do pressuposto de que a escola é uma instituição de ensino e deve zelar para que o ensino
possa ser transmitido em um ambiente seguro e saudável, ela tem a obrigação de afastar todos os
tipos de agressões, sejam físicas ou verbais que ocorram em seu espaço físico. A metodologia usada
foi a coleta de dados em livros e artigos para assim, dar uma visão panorâmica da evolução histórica
do fenômeno, definir o termo, relacionar os tipos, apresentar os protagonistas, identificar os
envolvidos, identificar as características, as causas, as consequências e culminar com a implicação
dos aspectos legais.
Palavras-chave: Bullying; Violência Escolar; Vítima; Agressor; Espectador.
Introdução
A escola, vista como uma instituição de ensino deve zelar e estar comprometida com a aprendizagem e
o bem estar da criança. Todavia, esse ambiente que deveria ser agradável e sadio tem sido palco de
atitudes frequentes, que envolvem atos de violência entre os alunos, ficando evidente, dessa forma, a
conduta bullying.
O bullying caracteriza-se por ser um problema mundial encontrado em todas as escolas, sejam elas
privadas ou públicas, o que vem se expandindo nos últimos anos. A conduta bullying nas instituições de
ensino tem sido um sério problema, pois gera um aumento significativo da propagação da violência
entre os alunos.
A prática desse tipo de violência é vista pelos os autores dedicados a esse assunto como “Fenômeno
bullying”. Tal fenômeno apresenta-se de forma velada, intencional e repetitiva, dentro de uma relação
desigual de poder, por um longo período de tempo contra uma mesma vítima, sem motivos evidentes,
adotando comportamentos cruéis, humilhantes e intimidadores, gerando consequências irreparáveis,
sejam elas físicas, psíquicas, emocionais ou comportamentais.
Entre crianças e adolescentes, levando em conta a faixa etária em que se encontram, a prática do
bullying é causada pela necessidade que o sujeito tem de se impor sobre o outro, tanto para
demonstração de poder, quanto para satisfação pessoal. Percebe-se que há uma necessidade de se
auto-afirmarem a todo instante, perante si mesmos e em relação aos outros e para que isso ocorra,
normalmente, o agressor se impõe sobre a vítima, considerada a parte mais frágil da relação e por ter a
certeza de que ela não irá apresentar meios de defesa para reverter a situação.
Por outro lado, as consequências provocadas pelo bullying geram, por vezes, danos e traumas
irreparáveis na vida da criança, podendo refletir desde logo, como por exemplo, baixa auto-estima,
estresse, depressão, queda no rendimento escolar, pensamentos de vingança para com o agressor e
até mesmo suicídio. A longo prazo, isto é, na constituição da família, na criação dos filhos e
dificuldades de se relacionar com os colegas de serviço.
Isto posto, fica claro que essa forma de violência é difícil de ser identificada, uma vez que a vítima teme
delatar os seus agressores, seja pela vergonha que irá passar diante dos demais amigos de classe, por
medo de sofrer represálias, seja por acreditar que os professores ou seus próprios pais não lhe darão o
devido crédito. Outro aspecto interessante é o fato de alguns professores acreditarem que tais
agressões são apenas brincadeiras de crianças e que irão passar com o tempo, atitude essa que faz
crescer mais ainda a violência nas escolas e banaliza o sofrimento da vítima.
A partir do exposto acima, o interesse pelo tema “O fenômeno bullying no ambiente escolar” ocorreu
quando pode-se presenciar várias cenas, em local de trabalho, de alunos figurando como agressores e
vítimas de tal fenômeno. Diante disso, a professora da série em que estavam ocorrendo às agressões
resolveu desenvolver um projeto que trabalhasse os aspectos de forma geral da conduta bullying, para
que os alunos entendessem melhor esse tipo de agressão. A professora, tendo conhecimento de que
éramos professora de Informática, nos convidou para participar desse projeto, no que tange a parte de
pesquisa na internet. Com isso, tivemos que pesquisar sobre o assunto e este nos interessou bastante,
fazendo com que esse tema fosse escolhido como pesquisa para este artigo.
Com o tema definido, passou-se para a elaboração do problema e decidiu-se investigar que efeito o
bullying poderia causar na vida do indivíduo, o que desencadeou a elaboração do objetivo geral, qual
seja, desenvolver o assunto de forma clara e explicativa para que os acadêmicos de Pedagogia tomem
ciência da importância do fenômeno bullying nas relações entre crianças e adolescentes, como
estimulador de agressões físicas ou verbais.
Para o êxito dos questionamentos já mencionados, foi necessária a consulta a diversos livros e artigos,
havendo, posteriormente, a construção da definição do termo bullying, sua evolução histórica, os tipos,
os protagonistas, a identificação dos envolvidos, as características, as causas, as consequências e os
aspectos legais – embasados na Constituição da República Federativa do Brasil, Declaração dos
Direitos Humanos, Código Penal Brasileiro, Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código de
Defesa do Consumidor.
Por fim, acredita-se que a relevância deste trabalho é estimular a reflexão acerca do tema estudado,
para que, tanto pais quanto professores e demais agentes que atuam com jovens e crianças, saibam
lidar com a situação e combatê-la ou preveni-la de forma menos traumática e mais eficaz, a fim de que
sejam evitadas as nefastas consequências dessa prática.
Evolução histórica
O bullying é um fenômeno mundial muito antigo, entretanto passou a ser objeto de investigação e
preocupação a partir da década de 1970. 1 A partir daí foram realizadas, na Suécia, as primeiras
1 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus,
investigações sobre bullying, uma vez que foram percebidos problemas de violência entre agressor e
vítima.
Em 1982, na Noruega, um jornal publicou o suicídio de 3 (três) crianças, com idades entre 10 e 14
anos, que foi provocado por situações graves de bullying. Esse fato gerou grande repercussão nos
meios de comunicação, fazendo com que em 1983, o Ministério da Educação da Noruega criasse uma
Campanha em escala nacional contra os problemas de violência entre agressores e vítimas.
Fante2 citou Dan Olweus como sendo um dos primeiros professores a realizar estudos sobre violência
no ambiente escolar. Tais estudos foram feitos de forma mais específica, e tinha por objetivo diferenciar
a prática do bullying de possíveis brincadeiras de crianças, tais como, gozações ou relações de
brincadeiras entre iguais.
O professor ora mencionado, tendo como base um questionário composto de 25 (vinte e cinco)
questões entrevistou 84 mil (oitenta e quatro mil) estudantes em diversos níveis e períodos escolares,
400 (quatrocentos) professores e 1.000 (Um mil) pais. Com a realização das entrevistas, Dan Olweus
pôde perceber a natureza do bullying, suas possíveis origens, ocorrências, formas de manifestação,
extensão e características.
Esses estudos, como aponta Fante, verificaram que a cada grupo de 7 (sete) alunos, 1 (um) estava
envolvido em situações de bullying. Essa situação gerou uma Campanha Nacional, que de acordo com
relatos, diminuiu em 50% (cinquenta por cento) os casos de bullying ocorridos nas escolas daquele
país. Vale dizer que a criação dessa Campanha fez com que alguns países, como o Reino Unido,
Espanha, Itália, Canadá, Portugal, Alemanha, Grécia, Estados Unidos e Grã-Bretanha também
promovessem Campanhas contra o bullying.
Conforme consta na obra de Gabriel Chalita 4, através de pesquisas, estima-se que na Grã-Bretanha,
por volta do ano de 1990, 37% (trinta e sete) dos alunos do ensino fundamental e 10% (dez) do ensino
médio afirmavam serem vítimas de bullying. Já em Portugal, dos 7 (sete) mil estudantes pesquisados,
22% (vinte e dois) – 1 (um) em cada 5 (cinco) alunos – tinham sofrido bullying. Na Espanha, foi
detectado que 15% a 20% dos alunos eram vítimas de bullying. Com a comprovação dessas
pesquisas, a Europa aprovou uma legislação específica e ações integradas para resolverem tais
problemas.
2005, p. 44.
2 Idem, p. 45.
3 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas, SP:
Verus, 2005. p. 45.
4 CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade. Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Gente,
2008, p. 104.
Em consonância com a referida obra já mencionada, nos Estados Unidos, o bullying é considerado um
fenômeno global, pois os índices da prática desse fenômeno é crescente. Através de pesquisas, houve
a constatação que, das crianças entre 6 (seis) e 10 (dez) anos de idade, 11% (onze por cento) diziam
ser vítimas e 13% (treze por cento) mencionavam casos de bullying. Acrescenta-se ainda que o Centro
Médico Infantil Nacional Bear Facts, nos Estados Unidos, coletou dados de que 5.700.00 (cinco
milhões e setecentos mil) meninas e meninos estavam envolvidos com casos de bullying, quer seja,
como autores, vítimas ou autores-vítimas. Atualmente, pesquisas e programas de intervenção anti-
bullying vêm sendo criados na Europa e nos Estados Unidos. 5
No Brasil, como Fante6 afirma, o bullying é pouco estudado, por isso não é possível comparar os
índices da prática de bullying no âmbito escolar com outros países. A falta de estudos e pesquisas em
relação ao fenômeno mencionado faz com que o Brasil apresente 15 (quinze) anos de atraso em
relação à Europa.
Em 1997, no Brasil, foram realizadas diversas pesquisas. A primeira foi pela professora Marta Canfield
e seus colaboradores; a segunda pelos professores Israel Figueira e Carlos Neto em 2000-2001; e a
terceira pesquisa “foi desenvolvida pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e
Adolescência”7. Os dados coletados revelaram que 40,5% dos alunos entrevistados disseram estar
envolvidos em episódios de violência. A pesquisa também “demonstrou que o bullying em nossas
escolas se encontra com um índice mais elevado do que os apresentados em países europeus” 8.
O termo bullying é derivado de uma palavra inglesa – bully, que traduzida significa valentão, tirano.
Esse termo, normalmente, ocorre nas relações interpessoais, em que há uma relação desigual de
poder, uma vez que, um lado da relação será caracterizado por alguém que está em condições de
exercer o seu poder, através da intimidação, humilhação, atitudes agressivas sobre outra pessoa ou
até mesmo um grupo mais fraco.
Esse desequilíbrio de poder que há entre os protagonistas do bullying se dá pelo fato do agressor
possuir algumas características, tais como, “idade superior a da vítima, estrutura física ou emocional
mais equilibrada, ter apoio dos demais amigos de classe, ser sociável entre os demais grupos da
classe, tamanho superior”.9; tais atributos fazem com que a vítima se sinta inferior, não tendo condições
de se defender diante das ofensas, sejam elas verbais ou físicas. Esses aspectos permitem dizer que,
por definição, a expressão bullying:
[...] é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem
motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor,
5 CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade. Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Gente, 2008,
p. 105.
6 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus,
2005, p. 46.
7 ABRAPIA, apud FANTE. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed.
Campinas: Verus, 2005, p. 47.
8 FANTE,Op cit, p. 47.
9 LOPES NETO, A. A. “Bullying: comportamento agressivo entre estudantes”. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/jped/v81n5s0/v81n5Sa06.pdf>. Acesso em: 8 abr. 2010.
Tognetta11 afirma que, diante dessa situação de causadores e vítimas de bullying, ambos precisam de
ajuda, a saber:
Por um lado, as vítimas sofrem uma deterioração da sua auto-estima, e do conceito que
tem de si, por outro, os agressores também precisam de auxílio, visto que sofrem grave
deterioração de sua escala de valores e, portanto, de seu desenvolvimento afetivo e moral.
O fenômeno bullying não tem um alvo específico, independentemente de classe social ou econômica,
pode ocorrer em diversos ambientes, desde que exista relação entre os sujeitos, como, nas escolas,
nos locais de trabalho, nas famílias, nas prisões e nos clubes.
A prática do bullying considerada muitas vezes pelos pais e professores como brincadeiras de criança,
briguinhas que envolvem xingamentos e ofensas, mas que passam e, em alguns momentos são
desvalorizadas e a até ignoradas, está longe de ser um comportamento normal e aceito em um
ambiente escolar.
O bullying, ao contrário, caracteriza- se por ser uma agressão que se apresenta de forma velada,
causando dor e angústia à pessoa que está sendo vitimada, podendo levá-la à depressão, isolamento,
baixa auto-estima, queda no rendimento escolar, e até ao suicídio.
As vítimas, muitas vezes, sofrem caladas, carregando o trauma das situações de constrangimento que
vivenciaram para o resto de suas vidas, gerando consequências na fase adulta como problemas de
interação e relacionamento com outros sujeitos.
Oportuno mencionar que o comportamento agressivo por parte do autor do fenômeno em questão
geralmente ocorre pela falta da presença da família no dia-a-dia da criança e até mesmo pela ausência
de limites. Dessa forma, destaca Fante:
É oportuno que os pais façam uma reflexão profunda sobre as suas próprias condutas em
relação aos filhos e sobre o modelo de educação familiar, predominante em casa, que vem
sendo aplicado. Nem sempre os pais se dão conta de que certos comportamentos que o
filho manifesta são aprendidos em casa, como resultado do tipo de interação entre os
familiares que é percebida por ele; muito menos procuram checar e refletir se o que o filho
está realmente aprendendo tem relação com aquilo que “eles pensam” que está sendo
ensinado.12
Os pais então, devem elogiar constantemente as qualidades e capacidades de seus filhos, para que a
auto-estima dos mesmos não seja prejudicada. Outro aspecto importante a ser mencionado é que “os
10 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus,
2005, p. 28.
11 TOGNETTA, L. R. P. “Um estudo sobre Bullying entre escolas do ensino fundamental”. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 79722009000200005&Ing=pt&nrm=iso>. Acesso em: 8 abr.
2010.
12 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus,
2005, p. 76.
pais devem estar atentos para não se precipitarem ao considerar seus filhos vítimas de bullying”.13
Tipos de bullying
O bullying, de acordo com Gabriel Chalita 14, pode ser dividido de forma direta ou indireta. A forma direta
é utilizada com maior frequência entre agressores meninos. E as atitudes mais usadas pelos bullies
são os insultos, xingamentos, apelidos ofensivos por um período prolongado, comentários racistas,
agressões físicas – empurrões, tapas, chutes – roubo, extorsão de dinheiro, estragar objetos dos
colegas e obrigar a realização de atividades servis.
A indireta, por sua vez, é mais comum entre o sexo feminino, tendo como características atitudes que
levam a vítima ao isolamento social, podendo acarretar maiores prejuízos, visto que pode gerar
traumas irreversíveis ao agredido. O bullying indireto compreende atitudes de difamações, realização
de fofocas e boatos cruéis, intrigas, rumores degradantes sobre a vítima e seus familiares e atitudes de
indiferença.
Importante salientar que quando se trata da forma indireta do bullying, os meios de comunicação têm
grande relevância como forma mais rápida de propagação de comentários cruéis e maliciosos sobre
determinada pessoa pública. Esse modo de intimidação, ora mencionado, chama-se de “ cyberbullying,
pois trata-se da utilização dos meios de comunicação, tais como mensagens de correio eletrônico,
blogs, torpedos, fotoblogs e sites de relacionamento”.15; desde que sejam anônimos, para adoção de
comportamentos produzidos de forma repetitiva, por um período prolongado de tempo, de um indivíduo
ou grupo contra uma mesma vítima, com a intenção de causar danos.
Protagonistas do bullying
Fante prevê que os protagonistas envolvidos na prática do bullying podem ser divididos da seguinte
maneira: Agressor, Vítima e Espectador.16
Agressores ou Bullies: são os ditos populares; vitimizam os mais fracos, conseguindo, muitas vezes, o
auxílio dos demais alunos para se auto-afirmarem. Vale dizer que tais alunos que contribuem
juntamente com o agressor para a prática de violência, também são considerados bullies.
Para manter a sua popularidade acabam humilhando, ridicularizando e hostilizando a vítima sem
motivos evidentes, sendo considerados por tais comportamentos como valentões. A conduta do
agressor, normalmente, caracteriza-se pela dominação e imposição mediante o poder e a ameaça para
conseguir aquilo que almeja. Pertence a famílias, por vezes, em que há ausência de carinho, diálogo,
Os bullies, geralmente, se envolvem em situações anti-sociais e de risco, quais sejam: roubo, drogas,
álcool, tabaco, vandalismo e brigas.
Importante mencionar que tais autores sentem dificuldades em aceitar as normas que lhe são
impostas; não aceitam ser contrariados; não toleram atrasos; são maus- caráter; têm como
característica a impulsividade, a irritabilidade e baixa resistência a frustrações.
Em relação à Vítima, Silva17 aponta 3 (três) tipos, que serão mencionado à seguir:
Vítima Típica:
é pouco sociável, sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos
de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora deficiente, extrema
sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa auto-estima, alguma
dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-
se ao grupo, tanto física quanto verbalmente.
Vítima Provocadora:
refere-se àquela que atrai e provoca reações agressivas contra as quais não consegue lidar.
Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados.
Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, tola, imatura, de
costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente em que
se encontra.
Vítima Agressora:
reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma de compensação procura uma outra vítima
mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na escola, ou em casa,
transformando o bullying em um ciclo vicioso.
Espectadores ou Testemunhas: também figuram como personagens de tal fenômeno, entretanto, são
assim chamados por apenas assistirem à prática da violência e não se manifestarem, quer seja, para
interferir na defesa da vítima ou para denunciar o feito. Simplesmente se mantêm inertes. Esse
posicionamento, normalmente, é adotado por medo de serem a próxima vítima.
De acordo com Chalita, os espectadores “[...] aprendem a ser omissos e passivos para se defender
[...]”18. O medo em delatar o agressor ou defender a vítima, pode transformá-los na vida adulta em
cidadãos egoístas, que aceitam e até mesmo legitimam as injustiças sociais.
Identificando os envolvidos
Considerando que uma das características de maior relevância da conduta bullying é a violência
17 SILVA, G. J. “Bullying: quando a escola não é um paraíso”. 2006. Disponível em: <http://www.mundo
jovem.com.br/bullying.php>. Acesso em: 18 abr. 2010.
18 CHALITA, Gabriel. Pedagogia da amizade. Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. São Paulo: Gente,
2008, p. 89.
velada, faz-se necessário, tanto por parte da escola quanto dos pais estarem atentos a qualquer
modificação, por menor que seja, em relação ao comportamento da criança.
Em consonância, o pesquisador Dan Olweus citado na obra de Cléo Fante 19 elenca alguns
comportamentos que devem ser observados para que a vítima e o agressor sejam identificados, tais
como:
- na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro e
ansioso.
- regressa da escola com as roupas rasgadas ou sujas e com o material escolar danificado.
- raramente possui amigos, ou possui ao menos um amigo para compartilhar seu tempo
livre.
19 FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed. Campinas: Verus,
2005, p. 75.
20 OLWEUS apud, FANTE. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed.
Campinas: Verus, 2005, p. 75.
- coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas, de forma malsoante;
insulta, menospreza, ridiculariza, difama.
- faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga. Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá
socos, pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e
desentendimentos.
- pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem o
consentimento.22
- apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com os pais e irmãos, chegando a ponto
de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença de força física.
Características do bullying
A caracterização da conduta bullying pode ser observada a partir de alguns aspectos entre os alunos
que são a seguir mencionados:
- comportamentos deliberados e danosos, produzidos de forma repetitiva num período
prolongado de tempo contra uma mesma vítima.
- acontece de forma direta, por meio de agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e
verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger).
21 OLWEUS apud, FANTE. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2.ed.
Campinas: Verus, 2005, p. 77.
22 OLWEUS apud, FANTE. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2.ed.
Campinas: Verus, 2005, p. 75.
23 OLWEUS apud FANTE. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2.ed.
Campinas: Verus, 2005, p. 77.
Causas
Cumpre mencionar, conforme destaca Chalita, algumas causas que propiciam o cometimento da
conduta dos bullies, dentre elas:
- um ambiente familiar superprotetor também pode desencadear o cometimento do bullying, visto que a
criança se tornará dependente de outros, buscando a atenção e aprovação de suas atitudes pelos pais.
- relação negativa com os pais, uma vez que os mesmos não demonstram interesse pelo filho.
- influência de colegas.
Consequências
Crianças que são vítimas de bullying podem apresentar “explosões de cólera e episódios transitórios
de paranóia ou psicose, comprometendo a regulagem da emoção e da memória”. 26
Vale dizer que o fato de a criança não conseguir superar os traumas obtidos pelas agressões sofridas
pode “acarretar problemas no desenvolvimento psíquico e comportamento, gerando insegurança e
dificuldade em se relacionar com o outro”.28
E por fim, os expectadores ou testemunhas, caracterizados, como já mencionado, por aqueles que
assistem à prática das agressões e não se manifestam, também sofrem com as consequências,
mesmo que indiretamente, pois a prática do bullying no ambiente escolar “faz com que o aluno não
tenha o direito a uma escola segura, solidária e saudável, o que irá prejudicar o desenvolvimento sócio-
educacional”.31
Aspectos legais
Faz-se notório que a violência e a agressividade entre aluno X aluno é uma realidade no âmbito escolar
e cresce de forma veloz. Diante dessa situação, os indivíduos podem se valer de mecanismos legais,
como a Constituição Federal, Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Código Penal Brasileiro, o
Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor, para que seus direitos
possam ser preservados.
Constituição federal
A Constituição Federal Brasileira32 elenca como um de seus objetivos fundamentais e que deve ser
respeitado o seguinte, in verbis:
Art. 3º, inc. IV, CF: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação”.
Prevê ainda, os direitos e garantias fundamentais que devem ser resguardados a todos, in verbis:
28 FANTE, Cleo. “O Bullying: problema individual e social que invade as escolas brasileiras”. Disponível em:
<http://prtalliteral.terra.com.br/artigos/o-bullying-problemaindividualesocialqueinvadeasescolasbrasileiras>. Acesso em: 27
abr. 2010.
29 Idem.
30 FANTE, Op cit. p. 81.
31Idem, p. 81.
32 BRASIL. Constituição federal. São Paulo: Rideel, 1988.
Art. 5º, caput, CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes”.
Art. 5º, inc. III, CF: “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
Art. 5º, inc. X, CF: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Art. 5º, inc. XLI, CF: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”.
Por outro lado, tem-se a proteção do direito social, no que diz respeito à Infância, in verbis:
Art. 6º, CF: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
A Declaração dos Direitos Humanos33, por sua vez, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da
Assembléia Geral das Nações Unidas é desrespeitada quando a escola permite a existência do
bullying no ambiente escolar, ou seja, entre os alunos, uma vez que a mencionada Declaração prevê
em seu Preâmbulo que “os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o
homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão”.
Acrescenta-se, ademais, que em seus diversos artigos, a Declaração dos Direitos Humanos ratifica a
garantia de tais direitos, como por exemplo, “toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento,
ou qualquer outra condição” – (art. II).
Outra violação à Declaração dos Direitos Humanos que pode ser mencionada ocorre quando há, por
parte do agressor em relação à vítima, espécies de humilhações e agressões, fazendo com que a
suposta vítima se sinta torturada diante de tal situação – (art. V).
Código penal
O bullying pode estar associado a diversas causas e não se confunde com o ato praticado. O
fenômeno ultrapassa os limites da percepção isolada da ação que pode receber um tratamento penal
33 DECLARAÇÂO. Declaração universal dos direitos humanos. 1948. Disponível em:
<http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 12 mai. 2010.
como é o caso da lesão corporal, da injúria, do dano, que pode ser percebido no Código Penal
Brasileiro.34
Lesão Corporal – Art. 129, CP: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”:
Maus-tratos – Art. 136, CP: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim
de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina”:
§ 2º - Se resulta a morte:
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei
nº 8.069, de 1990)
Calúnia – Art. 138, CP: “Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime”:
Difamação – Art. 139, CP: “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação”:
Constrangimento ilegal – Art. 146, CP: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
manda”:
Ameaça – Art. 147, CP: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe
mal injusto e grave”:
Por outro lado, o Estatuto da Criança e do Adolescente 35 tem por finalidade proteger integralmente os
direitos da criança e do adolescente, além de ser um manual de medidas sócio-educativas, visto que
pode ser usado como um guia de orientação para que tais direitos sejam resguardados e devidamente
seguidos, como serão abordados a seguir:
Art. 15, ECA: “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”.
Art. 17, ECA: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais”.
Art. 18, ECA: “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.
Art. 232, ECA: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”:
Art. 245, ECA: “Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento,
envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente”:
Pena – multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
À luz do Código de Defesa do Consumidor 36, a escola, como prestadora de serviços, é responsável
pelos atos de violência que ocorrem contra os alunos dentro do estabelecimento de ensino, uma vez
que ela deve zelar pelo bem-estar e segurança das crianças.
A partir do momento que uma escola particular recebe um estudante, ela torna-se responsável pela
preservação da integridade física e psíquica do aluno, independentemente de culpa ou não, visto que a
responsabilidade neste caso é objetiva, assim, ela irá responder pelos danos causados, ou seja, as
Considerações finais
Em um primeiro momento, buscamos evidenciar com maior clareza o conceito do termo bullying, para
que assim se tivesse a certeza de o distinguir das brincadeiras de crianças, como é vista por alguns
professores e pais, reafirmando que a conduta bullying seriam todas atitudes agressivas, intencionais e
repetitivas, que ocorrem sem motivação evidente, de um indivíduo mais forte para com um que não
apresenta meios de defesa.
Observa-se que a escola, ao invés de ser vista como um local de aprendizagem e das primeiras
interações com o outro, tem sido palco para o desenrolar da violência, gerando, muitas vezes, graves
consequências no âmbito emocional, psíquico e comportamental das crianças. Pode-se dizer ainda
que, a não superação dos traumas obtidos em decorrência dos atos de violência podem gerar diversos
resultados, tais como, baixa auto-estima, dificuldades de relacionamento e auto-expressão, déficit de
concentração e de aprendizagem e reprovação.
Todos os envolvidos - agressores, vítimas e espectadores - na prática do bullying sofrem diante dessa
situação. Por um lado, o agressor pode se valer dessa atitude agressiva para descontar no outro o que
está vivendo em casa ou até mesmo por não ter a atenção e carinho que gostaria de receber dos seus
genitores. A vítima, na maioria das vezes, sofre em silêncio, por medo de demonstrar covardia perante
os outros amigos ou por temer represália. E por último, os espectadores não se manifestam, por medo
de serem as próximas vítimas.
Diante dessa situação, podemos visualizar que todos sofrem, entretanto de formas diferentes, sem que
a escola ou a família lhe dêem o apoio necessário. Percebe-se que há um descaso em relação às
agressões que tem ocorrido no ambiente escolar e, isso pode criar, no futuro, indivíduos, inseguros,
apáticos, sem poder de decisão.
Outro aspecto importante que foi explanado e corroborado no transcorrer do presente artigo, é a
parceria da escola juntamente com os pais, uma vez que a família é impulsionadora, através da
educação que transmite para os filhos, das atitudes agressivas dos mesmos, quer seja porque são
criados em um ambiente super protetor ou em um ambiente autoritário, fazendo com que os filhos-
agressores, sejam considerados como vítimas também, pois apenas estariam refletindo em outras
crianças as situações vivenciadas em seus lares.
Vale mencionar que, a escola deve propiciar aos alunos um ambiente seguro, sadio e saudável, onde o
mesmo possa desenvolver suas habilidades intelectuais de forma prazerosa e eficaz. A escola, em
consonância com as individualidades e histórico familiar de cada aluno, deve estar atenta para a
adoção de estratégias mais adequadas em relação ao combate ou à prevenção da prática da violência
em seu espaço físico. Caso contrário, os alunos, desde a mais tenra idade, carregarão marcas
irreversíveis provocadas pelas humilhações, rejeições gozações, perseguições a que foram submetidas
em um dado momento de suas vidas.
Assim, para que a escola seja vista como um ambiente em que a violência ocorra em pequenas
proporções, deve-se ensinar as crianças a lidarem com sua emoções, para que assim propaguem
comportamentos anti-violentos, ou seja, propagadores da paz.
Por fim, este artigo deixa como legado para a experiência dos pesquisadores e como motivação para
outros estudos, a percepção de que a violência nas escolas independe de classe social, cor, sexo ou
religião. Em uma sociedade complexa como a atual, em que os valores ficam meio turvos e as
referências para os jovens ficam difusas, a violência é uma das formas que a juventude tem para
descarregar suas frustrações. Nesse contexto, é necessário que pais, professores e todos os
profissionais responsáveis pela formação das crianças e jovens, bem como o Estado, estejam
preparados para lidar com os conflitos e atuem em conjunto para minimizá-los. Para isso, é necessário
que cada um cumpra, com responsabilidade, o seu papel.
Temas dessa natureza, então, devem ser colocados em debate com frequência, para que se construa
uma massa crítica que conduza a reflexões sérias sobre a importância do acolhimento das crianças e
jovens no meio social.
Referências:
CHALITA, Gabriel. Bullying: o sofrimento das vítimas e dos agressores. ______. Pedagogia da
amizade. São Paulo: Gente, 2008.
FANTE, Cleo. Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2. ed.
Campinas: Verus, 2005.
______. “O Bullying: problema individual e social que invade as escolas brasileiras”. Disponível em:
<http://prtalliteral.terra.com.br/artigos/o-bullying-
problemaindividualesocialqueinvadeasescolasbrasileiras>. Acesso em: 10 out. 2009.
TOGNETTA, L. R. P. “Um estudo sobre Bullying entre escolares do ensino fundamental”. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
79722009000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 set. 2009.
RESUMO. O bullying tem sido foco de pesquisas e intervenções de pesquisadores, educadores e profissionais da saúde do mundo todo,
por ser um fenômeno relacional comumente observado em grupos, sobretudo em escolas, caracterizado pela presença de comportamentos
agressivos, cruéis, intencionais e repetitivos adotados por uma ou mais pessoas contra outras, sem motivação evidente. Com vista ao
enriquecimento das discussões acerca do conceito de bullying, fez-se uma descrição relacional sistêmica desse fenômeno. Para tanto,
procedeu-se ao estabelecimento de uma correlação do bullying com os pressupostos de complexidade, instabilidade e intersubjetividade
que embasam a compreensão desse fenômeno e com a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano. Os achados dessa
compreensão sugerem que o fenômeno e as intervenções não podem reduzir-se apenas às características individuais dos sujeitos
implicados, tampouco a uma interação entre autor e alvo que ignore a diversidade de pessoas e sistemas envolvidos e a teia complexa de
relações compreendidas para de sua manutenção.
Palavras-chave: Bullying; violência escolar; epistemologia sistêmica.
ABSTRACT. Bullying has been the subject of study and interventions for researchers, educators and health professionals
around the world because it is a relational phenomenon commonly observed in groups, especially schools. It is characterized
by the presence of aggressive, brutal, deliberate and repetitive behaviors adopted by one or more persons against another, with
no obvious motivation. Aiming to enrich the discussions about the concept of bullying, this phenomenon was described in this
article using systemic relational approach. For both we related bullying with the assumptions of complexity, instability and
intersubjectivity that underpin this understanding, as well as with the Bioecologica Theory of Human Development. The
findings suggest that understanding and intervention cannot be reduced solely to the individual characteristics of the
individuals involved, nor to an author-target interaction that ignores the diversity of people and systems and the complex web
of relationships involved in its maintenance.
Key words: Bullying; school violence; systemic epistemology.
*
Professora de Ensino Superior e Psicóloga responsável pelo Serviço de Atendimento ao Aluno.Psicóloga Clínica. Graduação na
UFSC em 2003. Mestre em Processos Psicossociais, Saúde e Desenvolvimento Psicológico pela UFSC em 2006. Formação em
Terapia Relacional Sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico em 2006.
#
Especialista em Psicologia Clínica, Especialista em Psicoterapia Psicodinâmica pelo CEP e em Terapia Relacional Sistêmica.
Sócia Fundadora, professora e supervisora do Curso de Especialização em Terapia Relacional Sistêmica do Familiare Instituto
Sistêmico em Florianópolis.
¶
Psicóloga clínica com Especialização em Terapia Relacional Sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico. Consultora do Ciranda
- Consultoria Relacional Sistêmica em Escolas.
æ
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Curso de
Graduação em Psicologia da SETREM - Sociedade Educacional Três de Maio. Psicóloga Pediátrica da Prefeitura Municipal de
Cerro Largo. Especialização em Terapia Relacional Sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico. Consultora do Ciranda -
Consultoria Relacional Sistêmica em Escolas.
Φ
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da Universidade de Maryland - College Park. Psicóloga e mestre
em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Especialização em Terapia Relacional Sistêmica pelo Familiare
Instituto Sistêmico.
θ
Psicóloga clínica com Especialização em Terapia Relacional Sistêmica pelo Familiare Instituto Sistêmico.
Consultora do Ciranda - Consultoria Relacional Sistêmica em Escolas.
RESUMEN. El bullying ha sido foco de investigaciones e intervenciones de investigadores, educadores y profesionales de la salud de
todo el mundo ya que es un fenómeno relacional comúnmente observado en grupos, especialmente en las escuelas, que se caracteriza
por la presencia de conductas agresivas, crueles, intencionales y repetitivas adoptadas por una o más personas contra otra, sin
motivación obvia. Con el objetivo de enriquecer las discusiones sobre el concepto de bullying se llevó a cabo una descripción
sistémica relacional de lo mismo, relacionándolo con los presupuestos de complejidad, inestabilidad e intersubjetividad, así como con
la Teoría Bioecológica de Desarrollo Humano. Los hallazgos sugieren que la comprensión no debe reducir el fenómeno y las
intervenciones apenas a las características individuales de los sujetos implicados, ni a una interacción autor albo que ignore la
diversidad de personas y sistemas implicados, tampoco la red compleja de relaciones involucradas en la manutención del mismo.
Palabras-clave: Bullying; violencia escolar; epistemología sistémica.
Em 2008 a Associação Brasileira caráter físico (bater, chutar, beliscar), verbal (apelidar,
Multiprofissional de Proteção à Infância e à xingar, zoar, insultar), moral (difamar, caluniar,
Adolescência (Abrapia) revelou que 28% das crianças discriminar), sexual (abusar, assediar, insinuar),
brasileiras já foram vítimas de bullying nas escolas e psicológico (intimidar, ameaçar, perseguir), material
15% sofrem agressões semanalmente. Dados do (furtar, roubar, destroçar pertences) e virtual (zoar,
Observatório da Infância sobre o Bullying Escolar discriminar, difamar, por meio da internet e celular).
(2008) indicam que, dentre os estudantes do Ensino O bullying virtual é também chamado de
Fundamental do País, 45% já foram vítimas ou cyberbullying e constitui-se no ataque pessoal por
agressores ou ao mesmo tempo vítimas e agressores. meio de tecnologias interativas, como e-mails,
A partir desses dados é possível constatar que o telefones celulares, blogs, chats, mensagens de texto e
bullying é uma realidade para quase metade das outros dispositivos eletrônicos. No cyberbullying
crianças e adolescentes das escolas brasileiras, recorre-se à tecnologia para ameaçar, humilhar ou
ocorrendo principalmente em sala de aula. Para Fante intimidar alguém por meio da multiplicidade de
(2005), isto pode ser um indicador de que os ferramentas da nova era digital. Embora ocorra
professores não conseguem distinguir violência e virtualmente, em geral o cyberbullying leva a conflitos
brincadeiras próprias da idade entre os escolares, o físicos reais, assim como a sentimentos de depressão,
que contribui para que os casos de bullying não sejam desespero e perda.
identificados e acarreta um falso diagnóstico da Almeida (2008) afirma que é de fundamental
realidade escolar, que por sua vez concorre para que importância distinguir o bullying de comportamentos
esse tipo de violência se perpetue nas escolas. indesejados presentes no convívio escolar. De acordo
Acredita-se que as escolas que não admitem a com a autora, deve-se diferenciar bullying de
ocorrência de bullying entre seus alunos brincadeiras turbulentas, nas quais se verificam sinais
possivelmente desconhecem o problema ou se negam de prazer e diversão em todos os envolvidos, bem
a enfrentá-lo. Segundo Monteiro (2008), a escola que como de atos de indisciplina ou insubordinação, de
afirma não ocorrer o bullying é provavelmente aquela agressividade e de comportamentos antissocias, pois
onde há mais incidência dessa prática, pois nada é estes não envolvem atitudes persistentes de
feito para preveni-la e reprimi-la. Alguns alunos intimidação, controle e domínio contra uma vítima
testemunhas de Bullying, quando percebem que o incapaz de defender-se das ameaças e, ao contrário do
comportamento agressivo não acarreta nenhuma que se verifica em situações de bullying, podem ter
consequência a quem o pratica, poderão também um caráter explosivo, impulsivo e emocional.
passar a adotá-lo. Ainda segundo a mesma autora, as formas diretas
Esses dados parecem ser confirmados pela de ameaça são mais empregadas por meninos e são
pesquisa “Bullying no Ambiente Escolar”, realizada transmitidas ao alvo de forma clara. As indiretas, que
em 2009 pelo Centro de Empreendedorismo Social e se manifestam através de exclusão deliberada, de
Administração em Terceiro Setor (CEATS) e difamação e impropérios propagados anonimamente,
Fundação Instituto de Administração (FIA), a qual são mais comumente empregadas pelas meninas e são
demonstra que a ocorrência do bullying emerge em um ainda mais difíceis de detectar e de solucionar.
clima generalizado de violência no ambiente escolar,
uma vez que 70% da amostra de 5.168 estudantes de
cinco escolas de cada uma das cinco regiões A EPISTEMOLOGIA SISTÊMICA E O BULLYING
geográficas do Brasil responderam ter presenciado
cenas de agressão entre colegas, enquanto 30% deles Com o intuito de enriquecer as discussões sobre o
declararam ter vivenciado ao menos uma situação conceito bullying procura-se neste trabalho fazer uma
violenta no mesmo período (Centro de descrição relacional sistêmica desse fenômeno. Esta
Empreendedorismo Social e Administração em compreensão está pautada no paradigma sistêmico,
Terceiro Setor (CEATS), 2010). que, para Vasconcellos (2002), se fundamenta nos
pressupostos complexidade, instabilidade e
intersujetividade.
AS FORMAS DE BULLYING E SUAS A complexidade refere-se à pluralidade de fatores
IMPLICAÇÕES envolvidos e à necessidade de contextualização dos
fenômenos, assim como à causalidade recursiva ou
Entre as principais formas de maus-tratos ou circular, contrária à causalidade linear de causa-efeito.
intimação mencionadas por Fante (2005) e pelo Relaciona-se a este pressuposto o princípio da
Observatório da Infância (2008) citam-se aquelas de totalidade, segundo o qual se considera que uma
mudança ocorrida em uma parte/membro do sistema cultura. Recomendam os autores que não se culpe a
repercute em alterações em todo o sistema. cultura ou os indivíduos isoladamente (sejam estes
A instabilidade diz respeito à constante agressores, vítimas, pais ou professores), mas se
transformação do mundo, reconhecendo-se a considere a interação entre os muitos fatores que
indeterminação, imprevisibilidade e incontrolabilidade contribuem para essa problemática (ainda que
de alguns fenômenos, uma vez que a modificação em involuntariamente) e como esses fatores são sentidos
uma das partes gera modificações - por vezes no contexto da vida dos alunos.
imprevisíveis - no todo, que, por sua vez, afeta o curso Tendo-se em vista estas considerações, é
de um sistema. necessário levar em conta a imprevisibilidade das
Intersubjetividade significa que não há uma situações de bullying, devido à complexidade do
realidade neutra, independente do observador. fenômeno e à intersubjetividade que ele envolve.
Partindo do exposto acima, uma análise sistêmica
do bullying precisa considerar a complexidade das
relações entre os vários sistemas envolvidos na BULLYING E O DESENVOLVIMENTO HUMANO
situação emergente: o alvo, o autor, as testemunhas, À LUZ DA COMPREENSÃO SISTÊMICA
a(s) turma(s) envolvida(s), o/a(s) professor/a(s), a
escola, as famílias dos envolvidos, a comunidade à Urie Bronfenbrenner, autor da Teoria
qual pertence a escola, a cultura na qual estão Bioecológica do Desenvolvimento Humano, que é
inseridos, as regras, os valores e outros fatores. utilizada para se compreender o desenvolvimento na
A complexidade do fenômeno e a consideração de Abordagem Sistêmica, propõe que o desenvolvimento
que a intervenção em um fator repercute em todos os de uma pessoa ocorre a partir de intercâmbios cada
demais faz com que todos os fatores acima citados vez mais complexos entre seus aspectos
estejam implicados não só com a ocorrência do biopsicológicos e os outros indivíduos, objetos e
bullying, mas também com a sua prevenção e símbolos do contexto (Bronfenbrenner, 2011; 1999).
resolução. Ora, como esses episódios geralmente Isso acontece pela interação dinâmica de quatro
ocorrem no contexto escolar, é principalmente à núcleos multidirecionais e inter-relacionados: o
própria escola que cabe tomar providências no sentido processo, a pessoa, o contexto e o tempo (PPCT)
de resolver esse problema. Isso não significa que se (Bronfenbrenner & Morris, 1998):
outros sistemas devam se eximir, mas se considera que 1. Processo são as conexões entre os diferentes
a escola deve ser o contexto de discussão das níveis, papéis e atividades diárias da pessoa em
dificuldades apresentadas (Curonici & McCulloch, desenvolvimento. Para se desenvolver intelectual,
1999). emocional, social e moralmente um ser humano
Ante a diversidade de pessoas e sistemas precisa da participação ativa em interações
envolvidos e suas múltiplas interações, não se pode progressivamente mais complexas e recíprocas
reduzir o bullying apenas às características individuais com pessoas, objetos e símbolos no ambiente
dos sujeitos em questão, tampouco a uma interação imediato. Para ser efetiva, a interação tem que
entre autor e alvo que ignore a teia complexa de ocorrer em uma base bastante regular e em
relações implicadas na manutenção do fenômeno. períodos estendidos de tempo. Os processos
Ademais, é necessário investigar as condições e proximais, considerados os motores do
implicações do sujeito ao se colocar nas posições de desenvolvimento, são aqueles em que há
alvo, autor e/ou testemunha dos episódios de maus- participação efetiva, face a face, constante,
tratos. Por fim, deve-se levar em conta a história e a recíproca e progressivamente mais complexa.
cultura de cada sujeito participante, bem como a 2. o núcleo pessoa diz respeito às características
história de cada relação existente no contexto pessoais que podem influenciar a maneira de os
estabelecido (Catini, 2004). outros interagirem com o sujeito em
Importa ainda atentar para o fato de existirem desenvolvimento. Existem três características da
tantas versões para os episódios de bullying quantos pessoa que influenciam e moldam o curso do
subsistemas (neste caso grupos, turmas, “panelinhas”) desenvolvimento humano: a) disposições - que
estiverem envolvidos. Todas elas precisam ser podem inibir ou colocar os processos proximais
consideradas na compreensão do fenômeno. Beaudoin em movimento e continuar sustentando a sua
e Taylor (2006) afirmam ser incongruente no estudo operação; b) recursos - habilidades, experiências e
do bullying centrar-se apenas em atos isolados de cada conhecimento para que os processos proximais
indivíduo, em fatores isolados ou em determinada sejam efetivos ou não em determinada fase de
recursos, podem ser considerados tanto como bons • Os microssistemas compreendem: escolas muito
alunos quanto possuidores de alguma dificuldade de permissivas, sem regras claras ou não preocupadas
aprender, de impor-se ao grupo, dificuldade motora, com o cumprimento de regras, onde impera a
de visão ou de audição. Com relação às demandas, crença de que episódios de bullying não passam de
com frequência falam com sotaque diferente, têm a brincadeiras e/ou que problemas de mau
pele de outra cor, vestem-se de modo pouco usual, comportamento são de responsabilidade da família,
estão acima do peso ou muito abaixo, entre outras etc.; famílias com dificuldades em colocar limites,
características. De modo geral, são considerados pelos pouco participantes da vida dos filhos, podendo
demais como pertencentes a um status social inferior e chegar à negligência, com padrões de
ser transformados em objeto de diversão e prazer por relacionamento que, no caso dos autores, incluem
meio de “brincadeiras” maldosas e intimidadoras desrespeito, agressividade ou violência, etc.;
realizadas por um indivíduo ou grupo (Observatório vizinhança e comunidade pouco participativa ou
da Infância, 2008). ativa na vida/comportamento das crianças e
Eles podem ser reconhecidos por apresentar, com adolescentes, com alta tolerância para com o
frequência, desculpas para faltar às aulas ou desrespeito, agressividade e violência e outros
indisposições como dor de cabeça ou de estômago, comportamentos. Costantini (2004) alega que
diarreia e vômitos antes do horário de ir para a escola, contextos com pouca possibilidade de troca e
solicitação para mudar de sala ou de escola sem ineficazes em construir relações de negociação
apresentar motivos convincentes; desmotivação com entre os seus membros são espaços propícios para
os estudos, queda do rendimento escolar ou a ocorrência de bullying.
dificuldades de concentração e de aprendizagem; • Mesossistemas: podem contribuir com bullying
regresso da escola com humor irritado ou triste, quando há pouca ou nenhuma inter-relação entre
machucado, com as roupas ou materiais escolares os microssistemas ou a comunicação entre eles é
sujos ou danificados; aspecto contrariado, deprimido e falha, tais como pouca ou nenhuma participação
aflito ou medo de voltar sozinho da escola; das famílias no contexto escolar ou conflitos entre
dificuldades de se relacionar com os colegas, de fazer família e escola.
amizades; isolamento, sem querer contato com outras • Exossistemas: incluem os ambientes de trabalho,
pessoas que não sejam os familiares, etc. lazer e hobbies das pessoas significativas
(Observatório da infância, 2008). envolvidas com bullying, nos quais há alta
As pessoas que presenciam e convivem com as tolerância em relação a atitudes de desrespeito,
situações de violência e intimidação perpetradas agressividade e violência, o que por sua vez,
contra o alvo são denominadas como testemunhas. contribui para naturalizar a violência e,
Quando adotam a lei do silêncio testemunham tudo, consequentemente, o bullying. Estes subsistemas
mas nada fazem por medo de ser a próxima vítima. podem exigir em demasia a presença e atenção, por
Também nesse grupo estão alguns alunos que não exemplo, dos pais/professores/coordenadores, o
participam dos ataques, mas manifestam apoio ao que os torna pouco disponíveis para atentar para os
agressor. As principais características das testemunhas comportamentos e sentimentos dos filhos/alunos
referem-se a disposições como ausência de iniciativa e envolvidos em episódios de bullying; podem
de senso de autoeficácia, que os impede tanto de incluir também os ambientes onde são traçadas as
defender o alvo quanto de solicitar ajuda ou praticar os políticas públicas e educacionais que não
ataques. conhecem, nada fazem ou ainda, que não
Disto podemos deduzir que o bullying não é trabalham com vista à prevenção e diminuição do
maléfico apenas para o desenvolvimento dos alvos, bullying.
mas também para o dos autores e das testemunhas. • Macrossistema: inclui todo o sistema educacional e
Esse entendimento permite que se rompa com a a cultura do país/continente, bem como a
dicotomia agressor-vítima, pois se consideram as subcultura regional. Beaudoin e Taylor (2006)
percepções dos diferentes sujeitos envolvidos e se dá ressaltam as especificações da cultura ocidental,
voz aos diversos sofrimentos implicados nos episódios tais como o patriarcado, o capitalismo, o
de bullying (Oliboni, 2008). individualismo, o racismo, a competitividade e o
Os subsistemas comumente envolvidos neste adultismo como incentivadoras e promotoras de
fenômeno são os microssistemas, os mesossistemas, os bullying. O patriarcado contribui com concepções
exossistemas e os macrossistema. socialmente transmitidas a respeito das diferenças
de gênero, as quais atribuem maior valor e poder conjunto, pais, a comunidade e a escola devem criar e
aos indivíduos de sexo masculino do que ao manter regras claras contra o bullying e planejar
feminino. Estas concepções influenciam na estratégias de prevenção e tratamento, pois se sabe que
educação de meninas, tornando-as mais atentas às a falta de intervenções efetivas contra esse fenômeno
necessidades alheias e tendentes a sacrificar-se leva o ambiente escolar a tornar-se totalmente
pelos demais, a desenvolver empatia, ao passo que contaminado por sentimentos de ansiedade e medo
levam meninos a serem durões, pouco afetivos, que acabam por afetar todo o processo de convívio e
pouco sensíveis e protetores e muito independentes aprendizagem.
(Ravazzola, 1997). O sistema capitalista e o A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento
individualismo da sociedade ocidental Humano enfatiza a necessidade de compreender o
contemporânea nos têm levado a conceber como bullying como um fenômeno relacional influenciado
naturais o sucesso pessoal e os processos por vários indivíduos e sistemas. Sob esse enfoque não
competitivos concentrados na aquisição de bens é possível reduzi-lo à dualidade agressor/vítima.
materiais e financeiros, privilegiando necessidades Por tratar-se de situações repetidas de violência
e direitos individuais em detrimento da nem sempre identificadas e reconhecidas como tal, é
coletividade. Os discursos racistas fomentam o fundamental a realização de investigações que
surgimento de julgamentos preconceituosos e nos possibilitem o diagnóstico, a fim de caracterizar a
levam a hierarquizar as relações e ao sectarismo incidência e abrangência do problema em cada
social. Finalmente, o adultismo, compreendido instituição de ensino.
como valoração exclusiva do saber e poder adulto, Após este primeiro passo, faz-se necessário o
contribui para o desrespeito às crianças e engajamento de toda a comunidade escolar.
adolescentes, uma vez que os considera incapazes Inicialmente devem ser promovidos meios de informá-
de emitir opinião e de participar das decisões que la sobre em que o bullying se constitui, como se
os afetam. manifesta e quais são as consequências a curto, médio
e longo prazo para cada um dos envolvidos. Por tratar-
Os processos e o tempo referentes ao bullying
se de um fenômeno relacional, qualquer estratégia,
caracterizam-se por episódios constantes, recorrentes e
para ser bem-sucedida, deve trabalhar com base nas
progressivamente complexos, os quais iniciam com relações e abranger os diferentes subsistemas da
pequenas zombarias e intimidações e chegam, em comunidade escolar: alunos, funcionários, educadores,
muitos casos, a atos de violência de fato. As crianças pais e as demais pessoas comprometidas com o
que sofrem bullying, dependendo de suas desenvolvimento das crianças e adolescentes.
características individuais e de suas relações com os
meios em que vivem, especialmente do meio familiar,
poderão não superar, parcial ou totalmente, os traumas REFERÊNCIAS
sofridos na escola. Poderão crescer com uma
autoimagem negativa, baixa autoestima e depressão, e Almeida, A. M. T. (2008). Bullying: teoria, investigação e
desenvolver sérios problemas de relacionamento, programas de intervenção. Trabalho apresentado no
Curso de Bullying: teoria, investigação e programas de
marcados pela desconfiança e insegurança no tocante intervenção, Florianópolis.
a vínculos. Podem vir a assumir também um
Beaudoin, M. N., & Taylor, M. (2006). Bullying e
comportamento agressivo, podendo em seu futuro vir desrespeito: como acabar com essa cultura na escola.
a sofrer ou a praticar o bullying no trabalho. Em casos Porto Alegre: Artmed.
extremos, alguns deles podem tentar ou vir a cometer Bronfenbrenner, U. (1999). Environments in developmental
suicídio. perspective: theoretical and operational models. In S. L.
Friedman, & T. D. Wachs, Measuring environment
across the life span: Emerging methods and concepts
CONSIDERAÇÕES FINAIS (Cap. 1, pp. 3-28). Washington, D.C.: American
Psychological Association Press.
Os estudos sobre bullying que vêm sendo Bronfenbrenner, U. (2011). Bioecologia do
realizados nas duas últimas décadas por pesquisadores desenvolvimento humano: tornando os seres humanos
mais humanos. Porto Alegre: Artmed.
de vários países têm demonstrado que este fenômeno
Bronfenbrenner, U., & Morris, P. (1998). The ecology of
está presente no cotidiano das instituições de ensino,
developmental processes. In: W. Damon. (Org.),
constituindo-se num problema real e grave para quase Handbook of child psychology (Vol. 1, p. 993-1027).
a metade das crianças e adolescentes. Em esforço New York: John Wiley & Sons.
Catini, N. (2004). Problematizando o bullying para a Observatório da Infância. (2008). Bullying - O que todos
realidade brasileira. Tese de doutorado em Psicologia precisam saber sobre bullying. Recuperado em 17
Não-publicada, Pontifícia Universidade Católica de outubro, 2008, de
Campinas, Campinas. Recuperado em 24 outubro, 2008, http://www.observatoriodainfancia.com.br/rubrique.php
de http://www.bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br. 3?id_rubrique=19.
Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Oliboni, S. P. (2008). O bullying como violência velada a
Terceiro Setor (CEATS). (2010). Bullying Escolar no percepção e a ação dos professores. Dissertação de
Brasil: relatório final. São Paulo: Fundação Instituto de mestrado Não-Publicada, Universidade Federal do Rio
Administração (FIA). Recuperado em 17 outubro, Grande, Rio Grande, RS.
2008, de Olweus, D. (1993). Bullying at school. Oxford, UK:
http://www.undime.org.br/htdocs/index.php?acao=bibli Blackwell Publishing.
oteca&publicacaoID=1327
Ravazzola, M. C (1997). Histórias infames: Los maltratos
Costantini, A. (2004). Bullying como combatê-lo? (de E. V. em las relaciones. Buenos Aires: Paidós.
de Moraes, Trad.). São Paulo: Itália Nova.
U.S. Department of Health & Human Services. (2008).
Curonici, C., & McCulloch, P. (1999). Psicólogos & Substance abuse and mental health services
Professores: um ponto de vista sistêmico sobre as administration, center for mental healthservices.
dificuldades escolares. Bauru: EDUSC. Recuperado em 19 outubro, 2008, de www.samhsa.gov.
Duque, D. (2007). Bullying: a violência invisível. Revista Vasconcellos, M. J. E. (2002). Pensamento Sistêmico: o
Dimensão, 49, 24-25. novo paradigma da ciência. Campinas: Papirus.
Fante, C. (2005). Fenômeno Bullying: como prevenir a Weiszflog, W. (2008). Michaelis Dicionário Eletrônico
violência nas escolas e educar para a paz. Campinas, Inglês/Português. Programa UOL. Recuperado em 30
SP: Verus. outubro, 2008, de
Lopes Neto, A. A., Monteiro Filho, L., & Saavedra, L. H. http://michaelis.uol.com.br/moderno/ingles/index.php
(n.d.) Programa de Redução do Comportamento
Agressivo entre Estudantes – 2002/2003. Recuperado
em 10 outubro, 2008, de
http://www.observatoriodainfancia.com.br
Monteiro, L. (2008). Bullying: para combater é preciso
reconhecer que ele existe. Entrevista concedida à
jornalista danielle Bittencourt. Recuperado em 20
Recebido em 12/09/2010
outubro, 2008, de
http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3? Aceito em 06/06/2012
id_article=312&var_recherche=bullying
Endereço para correspondência: Naiane C W Schultz. Rua: Souza Naves, 540, casa 4, Centro, CEP 85301-190, Laranjeiras do
Sul-PR, Brasil. E-mail: naiwendt@hotmail.com.
NO AMBIENTE ESCOLAR
Resumo
1
-RA: 555555-5, Curso de Pedagogia EaD Universidade de Santo Amaro, Módulo XII Polo de Marataízes
2
- RA: 444444-4, Curso de Pedagogia, EaD Universidade de Santo Amaro, Módulo XII Polo de Marataízes
2
INTRODUÇÃO
MÉTODO
Participantes
A amostra foi composta por 30 professores do ensino fundamental (1ª a 4ª série) de
uma escola particular, localizada na região sul do Município de São Paulo. Os
profissionais tinham idade entre 22 e 35 anos. Todos eram do sexo feminino e
tinham formação em Pedagogia. Instrumento Os dados foram coletados por meio de
um questionário elaborado pelos pesquisadores responsáveis pelo estudo. O
questionário era composto por perguntas abertas e fechadas e tinha por objetivo
investigar a avaliação do professor quanto à presença de discriminação praticada
pelos alunos em sala de aula. Também se investigou: os principais tipos de
discriminação observados pelo professor, diferença entre o gênero e a prática de
discriminação, atitude do professor em relação ao aluno que praticava a
agressividade, posição dos pais em relação ao comportamento do filho (agressor) e
sugestões desses profissionais para alteração desse comportamento no contexto
escolar.
Procedimento
RESULTADOS E DISCUSSÃO
sua cor, raça, aparência física e deficiências físicas e/ou intelectual. Estes resultados
corroboram os encontrados por Teixeira (2006). O autor afirma que estes fatores,
bem como os valores religiosos, são frequentemente relacionados à prática de
discriminação de crianças em contextos escolares e sociais.
Quanto à atitude do professor ao presenciar atos de discriminação entre os alunos,
25% (n=30) dos profissionais relatam explicar a eles o prejuízo que pode causar na
outra criança aquele comportamento, bem co mo enfatizar as diferenças entre os
indivíduos; 16,7% (n=20) dos entrevistados responderam que conversam com os
pais das crianças envolvidas, 12,5% (n=15) pedem para os alunos se redimirem ao
colega que sofreu a discriminação e 10% (n=12) fazem seus alunos refletirem sobre
o que fizeram.
Segundo a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à
Adolescência (2008) a intervenção deve ser baseada em conscientizar os
profissionais da educação sobre o problema, suas causas e consequências; treino
de habilidades sociais e resolução de problema; treinar comportamentos
incompatíveis ao da agressividade; estimular a criação de regras entre o grupo, bem
como solução e modificação do ambiente que aumente os comportamentos
agressivos.
Teixeira (2006) propõe que a escola estimule a participação e integração da família
na resolução do problema por meio de encontros. Nesses encontros, os pais devem
ser estimulados a denunciar ou incentivar que os filhos façam a denúncia aos
responsáveis na escola. Quanto ao papel dos pais em relação às atitudes dos filhos,
80% (n=24) dos professores relatam que os pais têm algum conhecimento sobre os
comportamentos agressivos de seus filhos, mas que isso não impede que as
crianças continuem praticando discriminações na escola, e 20% (n=6) dizem que os
pais não têm conhecimentos sobre o comportamento dos filhos.
O conhecimento dos pais quanto à maneira que seus filhos se comportam na escola
está associada a uma identificação precoce de ameaças e agressões verbais e não-
verbais que possam estar sofrendo e/ ou praticando. É necessária uma orientação
mais específica aos pais, concomitantemente com a mudança do comportamento do
professores em sala de aula no momento em que a criança pratica a agressividade,
tem mostrado resultados mais efetivos na modificação do comportamento agressivo
da criança em sala de aula (Del Prette et al., 1998; Hubner & Marinoti, 2004;
Teixeira, 2006).
CONCLUSÃO
Com esta pesquisa foi possível mostrar que o fenômeno bullyng está presente nas
escolas. Adotar estratégias de prevenção, bem como detectar precocemente o
problema de agressividade (bullyng) parece ser a maneira mais adequada para
reduzir a chance de que este e outros problemas compor-tamentais, como, por
exemplo, as dificuldades de aprendizagem e os transtornos do humor sejam
desenvolvidos. A participação do professor, tanto na avaliação quanto no
planejamento da intervenção, parece ser a variável central relacionada à eficácia na
resolução do problema.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA
E À ADOLESCÊNCIA - ABRAPIA. (2008). Programa de redução de
comportamento agressivo em estudantes. Recuperado 12 ago. 2008, disponível
http://www.bullyng.com.br
AZZI, R. A análise do comportamento. São Paulo: Pedagógica e Universitária,
1974.
CABRAL, A. Identidade: Juventude e crise. Rio de Janeiro: Norton & Company.,
1987.
CATANIA, C. A. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição (4a ed.).
(Deisy das Graças de Souza Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. (Publicação
original 1973), 1999
DEL PRETTE, Z. A. P., DEL PRETTE, A, GARCIA, F. A., SILVA, A.T. B., PUNTEL,
L. P. . Habilidade social do professor em sala de aula: Um estudo de caso.
Psicologia: Relfexão e Crítica, 11(3), 112-120, 1998
FANTE, C. Fenômeno Bullyng: Como prevenir a violência nas escolas e educar
para a paz. São Paulo: Verus, 2005.
BULLYING NO AMBIENTE ESCOLAR
RESUMO
Este artigo foi proposto a partir de observações informais do cotidiano e, também, de discussões
intensas sobre o tema da agressividade e violência nas escolas. A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica por meio do estudo de autores, como: Amoretti (1992); Cardoso (1967); Fernandez
(1994); Maluf (2009); Ramos (2008). O texto foi desenvolvido através de análises sobre o que se diz
sobre bullying e agressividade, o papel da escola e da família diante dos comportamentos agressivos, e
ainda, quais as causas mais comuns de agressão no ambiente escolar, bem como, as influências que o
comportamento agressivo pode ter no processo ensino-aprendizagem. Todas estas análises foram
explicadas constatando o objetivo de nosso trabalho, que é possibilitar a compreensão e
esclarecimento do que é o bullying no ambiente escolar e as possíveis transformações de atitude
agressiva em atitudes de companheirismo e solidariedade, respeito e amizade. A partir destas análises
verifica-se a necessidade de desenvolvimento de ações de prevenção ao agressor e que a família e os
educadores estejam atentos a qualquer sinal de ação agressiva, pois se observa que não há métodos
diagnósticos prontos para se determinar o bullyinista, mas pode-se utilizar nas escolas o
desenvolvimento de ações preventivas que visam a conversão de ambientes violentos em espaços de
convivência amigável.
PALAVRAS-CHAVES: Bullying. Agressão. Violência. Escola. Família.
1
Trabalho apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de Licenciatura em pedagogia da
Faculdade Católica de Uberlândia.
*
Aluna do Curso de Graduação em Pedagogia na Faculdade Católica de Uberlândia. Sob a orientação da profª
Helenice Maria Tavares.
**
Orientadora deste trabalho. Professora da Faculdade Católica de Uberlândia.
Que ações a escola deve desenvolver diante dos comportamentos agressivos na instituição?
Qual o papel da família diante dos comportamentos agressivos? Quais as causas mais comuns
de agressão no ambiente escolar? Responderemos a estas perguntas considerando a sentença
profundamente significativa de Comte: “a violência gera a violência; só o amor constrói para
a eternidade” (CARDOSO, 1967, p. 39). Pois, segundo a autora, a agressividade pode ser uma
resposta do educando a várias questões que o incomodam, tais como: timidez, medo, cólera,
etc; dado que “o homem é, sobretudo um reflexo do ambiente em que passou sua infância;
este lhe imprimiu sua marca para toda a vida” (CARDOSO, 1967, p. 40).
Diante desta situação, este artigo possui como objetivo, conscientizar aos pais,
professores e demais profissionais da educação sobre a importância da construção de ações
preventivas, diagnósticas e de atuação à comportamentos de bullying nas escolas,
transformando atitudes agressivas em companheirismo e solidariedade, respeito e amizade.
Além de orientar os mesmos quanto ao enfrentamento a esta violência, habilitando os
agressores a uma convivência social sadia e segura.
Para concretizar este objetivo, apresenta-se como proposta metodológica a pesquisa
bibliográfica, a qual possibilita um amplo alcance de informações e permite a utilização de
dados na construção do texto. Segundo Gil:
específico, as escolas. Entretanto, esta violência pode ser mascarada pelas brincadeiras
(mesmo que de mau gosto) ou informadas pelos agressores como acidentes. Mas, o que se
presencia são cenas de terror e agressões graves exercidas sobre outros alunos e preocupa
educadores, pais e juristas.
O ato bullying “ocorre quando um ou mais alunos passam a perseguir, intimidar,
humilhar, chamar por apelidos cruéis, excluir, ridicularizar, demonstrar comportamento
racista e preconceituoso ou, por fim, agredir fisicamente, de forma sistemática, e sem razão
aparente, um outro aluno” (RAMOS, 2008, p. 1).
Diante desse conceito é necessário que pais e educadores não ignorem o bullying. À
justiça, “cabe intervir a fim de manter os princípios morais e sociais que todo cidadão tem
direito” (GUIMARÃES, 2009, s.p.), pois conforme descreve o artigo 5º da Constituição
Federal de 1988: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988, s.p.).
Todavia, é importante ressaltarmos que a cultura a qual pertencemos possui grande
influência em nosso comportamento, e portanto, pode influenciar nas agressões relatadas
pelas vítimas de bullying. Diante desta situação, coloque-se em evidência o entendimento do
que é cultura para Amoretti (1992, p. 122) e que se identifica com o ato bullying. A cultura
deve ser entendida:
Com este conceito entendemos que a cultura da violência pode ser empreendida em
uma sociedade ou em um grupo social que dissemine este tipo de comportamento. Este
conjunto que é disseminado pode ser crescente nas escolas provocando a prática violenta
caracterizada pelo bullying. Neste sentido, podemos atentar se as condutas exasperadas são de
ordem sociais, familiares ou outro problema de distúrbio de ordem psicológica por parte do
agressor.
Neste contexto, além dos fatores acima descritos, Maluf (2009, s.p.) descreve que a
cada dia que passa, as crianças estão se tornando mais agressivas e neste sentido, muitos
estudos mostram que há grande número de fatores que elevam o risco do aparecimento de
condutas violentas e de jovens envolvidos para que o bullying se desenvolva, como: ter vivido
cenas violentas ou sofrido violência, abuso sexual, físico, excessiva exposição à violência
através de jogos, televisão, uso de drogas e álcool, fatores sócio-econômicos prejudicados,
família desestruturada, problemas psiquiátricos, entre outros.
Assim, cabe aos pais ajudar seu filho independente se ele for agressor ou vítima. Já à
escola, enquanto forma de prevenir as práticas de bullying, deve ser capaz de:
Por isso, este apoio e incremento a ser realizado pela escola deve se colocar como
forma preventiva do bullying e como formadora de uma educação que gere nas crianças e
jovens comportamentos contrários à conduta no bullyinismo, pois formas agressivas de
controle á estes ataques não são eficazes, dado que a violência gera violência e tratar
pacificamente o ato de bullying é uma das melhores soluções à agressão.
É importante ressaltar que o tratamento preventivo do bullying pode ser uma ação
eficaz e importante, pois a sua vítima ao sofrer s agressão leva consigo por toda a sua vida a
agressão sofrida.
Para Silva (2006, s.p.), o bullying é um problema sério que pode levar desde o
suicídio, homicídio e dificuldades de aprendizado por parte da vítima. Ela sofre calada, tem
dificuldades de relacionamento, sente-se inferior diante dos outros, provoca fobia social,
psicoses, depressão e principalmente baixo rendimento escolar.
Não acostumados com esta situação de exposição e humilhação as vítimas de bullying
sofrem as agressões muitas vezes caladas e se recolhem em todas as atividades com medo de
serem expostos e ridicularizados. Assim, ações de:
Este comportamento de bullying por ser agressivo e desrespeitoso, bem como, anti
social inclui conflitos interpessoais e atos criminosos, cujas intervenções podem estar além da
competência e capacidade das escolas. Todavia, é neste ambiente (escola) que o bullying
ocorre e deve ser transformado de espaço violento em ambiente de disciplina, amizade e
cooperação, contrariamente de um ambiente de violência, sofrimento e medo.
Diante desta breve análise pergunta-se: por que tem havido um aumento do
número de agressividade no ambiente escolar por parte dos educandos? O que tem
acontecido no interior e exterior das escolas? O que tem impulsionado a
agressividade nesta instituição e quais as funções da escola, da família e da
sociedade para tentar diminuir a agressão no ambiente escolar?
É importante ressaltar que muitos comportamentos agressivos, baseiam-se nas
condições sócio-históricas das crianças. Além disso, estas reações agressivas e
violentas refletem sua base de formação e na relação dos educandos fora da escola.
Para tanto, baseamo-nos em fundamentos evidentes para o debate sobre o
bullying no ambiente escolar. Todavia, deve-se desfocar esta atitude agressiva, e
trabalhar a transformação do educando com base no respeito e na sensibilidade,
motivando-o a compartilhar e, além disso, ensinando-lhe habilidades sociais para que suas
atitudes violentas façam oposição ao equilíbrio e ao respeito.
O comportamento agressivo através do bullying, produz tristes conseqüências para a
aprendizagem do agressor e da vítima, bem como, transtornos psicológicos graves. Devido à
agressividade na escola ser um problema universal, não sendo apenas um problema da
instituição, mas também da família e da sociedade, ela deve compreender que o agressor e a
vítima de bullying pode ter conseqüências negativas imediatas ou tardias.
Portanto, torna-se necessário que a escola passe a enxergar o problema do bullying
como uma entidade separada e que trabalhe através de intervenções e projetos estimulando os
talentos e valores dos agressores; a fim de mudar o foco do mesmo, passando-o de aluno
problema para talento especial, como os demais. Isto seria uma nova forma de tratamento,
fazendo que se sinta importante como as demais crianças.
Este estímulo e a construção desse respeito, passa a reavivar a memória destas crianças
para a não agressão. Assim, destaca-se uma ação efetiva dos educadores no tratamento destes
alunos com integridade, demonstrando que as interações reproduzem respeito e transformam-
se em experiências vividas necessárias e importantes para toda a vida.
De tal modo, o objetivo do educador deve ser de construir nestas crianças idéias de
igualdade e cooperação, sob um aspecto transformador e justo, que demonstrem que bons atos
valem mais do que palavras.
Conseqüentemente, deseja-se que as escolas sejam ambientes seguros e saudáveis que
desenvolvam potenciais intelectuais e sociais, através de uma educação entendida como um
meio de prover o pleno desenvolvimento do educando e preparando-o para o pleno exercício
da cidadania.
De tal modo, principal contribuição é uma análise diária do educador em relação ao
educando, despertando nele os sentimentos de companheirismo, amor e atenção. Além disso,
incentivar sempre a família ao convívio na instituição, não apenas quando houver
comportamentos agressivos das crianças, mas também através de atividades destinadas aos
familiares. Este estímulo à família, deve ocorrer como medida preventiva em relação aos
comportamentos agressivos e como um estreitamento dos laços entre os educandos e a escola.
Portanto, é fundamental que as instituições invistam nestas formas de atrair os
familiares ou responsáveis para a escola, pois com esta parceria, há grande possibilidade de
transformação dos comportamentos agressivos e do ambiente escolar, além de uma (re)
orientação aos educandos.
É a partir destas interações e do trabalho social de exteriorização do problema da
violência que a escola passa a reconhecer que eles não são indicativos do que os alunos
desejam ser, mas conforme reporta Beaudoin; Taylor (2006) são reações das quais eles
procuram fugir e podem aprender a controlar.
Diante disso, é possível perceber que a escola tem a tarefa histórica de gerar um
pensamento e uma ação crítica e reflexiva sobre o processo da sociedade e da violência,
principalmente no ambiente escolar, se antecipando moral e pedagogicamente a fim de ajudar
na construção e valorização do homem como cidadão do seu tempo.
Por conseguinte, a escola tem a função de não manter a agressão, mas sim, tentar
reverter com o apoio da família e da sociedade a agressão em comportamento amigável,
através de intervenções e conversas, estruturando o problema da violência de forma que o ele
se situe na interação do conflito, e não nos agressores.
Portanto, a importância de ações interventivas de exteriorização dos problemas está
baseada no fato de que eles se desenvolvem inúmeras vezes, devido a uma série de
circunstâncias da vida; que devem ser observadas pela família, pela escola e pela sociedade, a
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bullying deve ser tratado com grande importância pela escola, família e sociedade
por ser um fator de violência que demonstra desigualdade e injustiça social, além de pressões
psicológicas ou físicas por parte do agressor, desacatando e degradando as diferenças, bem
como, conseqüências físicas e emocionais de curto e longo prazo, as quais podem causar
dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e legais.
Assim sendo, é necessário que se estabeleça ações a serem desenvolvidas objetivando
as ações do agressor e as conseqüências na vítima. É importante, que os educadores e família,
principalmente, estejam atentos a qualquer sinal de ação agressiva, pois não há métodos
diagnósticos prontos para se determinar o bullyinista é necessário que esteja todos cautelosos
às crianças mais propensas à agredirem ou à comportamentos anti-sociais, a fim de se
verificar qualquer prática de bullying.
REFERÊNCIAS
BEAUDION, M; THAYLOR, M. Bullying e Desrespeito: como acabar com essa cultura na escola. 1.
ed. Porto Alegre: Artmed. 2006. 232p.
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
SILVA. G. J. Bullying: quando a escola não é um paraíso. Jornal Mundo Jovem, ed. 364, p. 2-3,
março/2006. Disponível em: <http://www.mundojovem.pucrs.br/bullying.php>. Acesso em: 16 set.
2009.
TIERNO, B. Ajudar os filhos em seus problemas. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 1996. 222p.
RESUMO
Um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade atual é a violência. A escola vivencia o problema de
várias formas, envolvendo alunos, professores e funcionários. Uma das formas de violência do cotidiano
escolar é o bullying, que é caracterizado através de comportamentos agressivos e que tem gerado no corpo
docente um sentimento de impotência, medo e insegurança que afeta a pessoa do professor. Entre as
conseqüências do bullying, além de afetar o processo pedagógico de ensino e aprendizagem, gera
conseqüências psíquicas, com reflexos na esfera cível, envolvendo os pais e as instituições de ensino, no que
tange à responsabilidade civil.
PALAVRAS-CHAVES: violência escolar – bullying – responsabilidade civil
ABSTRACT
One of the biggest problems facing society today is violence. The school experiences the problem in several
ways, involving students, faculty and staff. One form of violence is the daily school bullying, which is
characterized by aggressive behavior and that the faculty has generated a feeling of powerlessness, fear and
insecurity that affects the person of the teacher. Among the consequences of bullying, affect the educational
process of teaching and learning, generates psychological consequences, reflected in the civil sphere,
involving parents and educational institutions, with regard to liability.
Introdução
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2812
II) Bullying na relação aluno-professor
O bullying é uma expressão em inglês e vem do verbo to bully que significa tratar de
forma grosseira, desumana e bully que se refere a uma pessoa grosseira, autoritária que ataca os mais
fracos (HIRIGOYEN, 2002: 78-79).
Diversos estudiosos denominam o fenômeno bullying de mobbing ou de assédio moral.
Todavia, como bem se posicionou a estudiosa do assunto, a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen,
as expressões podem ter afinidades, porém, não se confundem. Nesse sentido, apresenta em sua obra
“Mal-Estar no Trabalho-Redefinindo o Assédio Moral”, as seguintes distinções:
-O mobbing se refere a perseguições coletivas ou à violência das organizações, podendo eclodir em
violência física;
-O assédio moral se refere a agressões sutis, de natureza psicológica ou moral, cuja perseguição ou
agressão moral, dificilmente, são provadas;
-Já o bullying é mais amplo, refere-se a simples chacotas, piadas até abuso sexual e violência física;
manifesta-se através de ofensas individuais e não organizacional como nos outros dois casos.
(HIRIGOYEN, 2002: 85).
Feitas essas considerações, podemos definir bullying como sendo um comportamento
abusivo e agressivo, manifestado através de gestos, palavras, atitudes, comportamentos ou qualquer
outro meio, de forma intencional e repetitiva, que atenta contra a dignidade e integridade física e psíquica
de uma pessoa, causando-lhe medo, insegurança, dor, angústia e sofrimento, engendrando,
conseqüentemente, doenças psíquicas e físicas (psicossomáticas), desordem pessoal e profissional, além
de refletir na qualidade e finalidade do processo educativo, bem como na sociedade e na saúde pública.
O bullying na relação aluno-professor é denominado bullying ascendente, ou seja, parte
de baixo para cima, quando o aluno ignora a autoridade do professor e age com instinto de perversidade,
ou até mesmo identifica ato de insegurança e/ou inexperiência do professor, e procura desestabilizá-lo
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2813
e/ou excluí-lo da organização de ensino. A má qualidade do ensino, o tráfico na escola, professores mal
preparados e autoritários, professor que possui atributo pessoal que o diferencia de outros, como idade,
doença, etc, também conduz ao bullying ascendente.
O bullying pode ser confundido com uma simples brincadeira de criança ou fruto do
amadurecimento do jovem, mas, na verdade, o bullying deriva de fatores estruturais, culturais e
comportamentais, podendo nascer de uma simples brincadeira ou até mesmo de um comportamento
esporádico, evoluindo para a eclosão da violência escola através de agressão física ou violência psíquica ou
moral repetitiva e nem sempre declarada, hodiernamente, denominada de violência simbólica, que atinge a
dignidade e integridade física-psíquica da vítima.
O bullying se manifesta de várias formas:
-verbal: xingamentos, apelidos, insultos, insinuações;
-moral: atentado à honra, difamação, discriminação em razão do sexo, idade, opção sexual, deficiência física,
doença,etc;
-psicológico: perseguição, intimidação, chantagem, ameaça de morte, etc;
-físico: agressão através de empurrões, socos, chutes,etc;
-material: furto de material e pertences, dano a veículo; e
-virtual: divulgar imagens não autorizadas pelo professor, criar comunidades para depreciação da imagem do
professor, enviar mensagens invadindo a privacidade e intimidade do professor.
IV) O bullying como ato ilícito e violador da dignidade e dos direitos da personalidade
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2814
constitucional, que protege a dignidade de toda pessoa e os direitos da personalidade de todo cidadão.
A conclusão lógica, em matéria de proteção jurídica, é que o bullying viola a dignidade e
os direitos da personalidade do professor , e, como sanção a esse grande mal que afeta a dignidade e
integridade psíquica e/ou física do professor é o dever de reparar o dano moral e material causados pelo
cometimento de um ato ilícito, por força do nosso ordenamento jurídico: Código Civil, arts. 186 e 927.
A reparação do dano gerado pela prática do bullying no ambiente escolar e em face ao
professor, merece consideração especial, haja vista que a violência ou agressividade poderá partir de uma
criança ou adolescente ou de uma pessoa adulta, maior de 18 anos, com a plena capacidade civil e penal.
No caso do ato agressivo praticado por criança ou adolescente (VIDE ECA:RODAPÉ:
conceito criança e adolescente), é de se destacar que se tratando de menor de 16 anos de idade, os pais
responderão pelo dano, sem prejuízo da responsabilidade do Estado ou da IE; quando o adolescente tiver
entre 16 e 18 anos de idade, responderá de forma solidária com os pais, e, no caso do agressor maior de
18 anos, responderá de forma independente e por ato próprio, conforme será abordado adiante, no item
V que trata da responsabilidade civil.
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2815
preservação dos direitos da personalidade e, por conseguinte, com a preservação da dignidade humana da
pessoa.
Nesse compasso, quando o aluno xinga o professor, dirige-lhe palavra de baixo calão,
intimida-o, seja com ameaça de morte ou de outra forma, estará em cheio atingindo os direitos da
personalidade do professor, ou sejam, aqueles que integram a essência de toda pessoa, logo, constituem
direitos inerentes à pessoa humana e integram o rol dos direitos fundamentais de todo
cidadão.(ALKIMIN, 2008b: 50).
Os direitos da personalidade estão intimamente relacionados com o princípio da
dignidade humana, consagrado pela Constituição Federal como fundamento do Estado Democrático de
Direito, tendo recebido os direitos da personalidade atenção especial do legislador quando editou o
Código Civil de 2002 e que assim dispôs:
“Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
“Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.”
Depreende-se que o legislador buscou proteger a dignidade e personalidade de toda e
qualquer pessoa, impondo a todos o dever de não lesar por ato concreto ou por simples ameaça a
personalidade e dignidade de outrem, sob pena de ter o violador que reparar o dano moral e material que
a agressão ou lesão gerar à personalidade de outrem. Reforçando esse dever de observância foi que o
legislador constituinte assim dispôs no art.5o., inciso X da CF/88 (trata dos Direitos e Garantias
Fundamentais):
“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.”
Na relação com o aluno, o professor desempenha um papel relevante e de destaque, pois
é o condutor e mediador do processo ensino-aprendizado, em cujo processo detém o poder e autoridade
sobre a pessoa do aluno, que, necessariamente, implica no respeito, consideração e dever de obediência,
sendo certo que numa situação de bullying perpretada pelo aluno o poder e autoridade do professor
ficam ameaçados e até mesmo suprimidos, prevalecendo o medo, a insegurança e a inversão de papéis e
valores na relação aluno-professor.
Para intimidar, rebaixar, humilhar o professor, o aluno através do bullying busca uma
forma de atingir a pessoa do professor e depreciá-lo publicamente, sendo mais comum no ambiente
escolar a violência psicológica ou moral com comentários depreciativos, preconceituosos e indecorosos,
além de gestos que revelam descaso e indiferença; o bullying pode ser praticado de forma insidiosa ou
declarada, e, em muitos casos, o aluno costuma se valer da internet como ferramenta ou instrumento de
agressão, praticando a denominada “cyberviolência” contra o professor, lançando comentários
pejorativos e injuriosos, fotos sem autorização e até montagem visuais com a caricatura do professor.
Não pairam dúvidas que qualquer tipo de violência (psicológica ou física), atinge em
cheio a intimidade, a privacidade, a honra e a imagem do professor, além da sua integridade psíquica e
física, causando-lhe conseqüências danosas na esfera pessoal e profissional, com danos de natureza
psicológica que tendem a serem somatizados e desencadear danos físicos (distúrbios psicossomáticos),
como cefaléias, problemas digestivos, distúrbio hormonal, insônia, estresse, depressão, conduzindo ao
interesse pelo magistério[1].
O bullying como comportamento ilícito e antijurídico gera dano, ou seja, lesa, causa
prejuízos à vítima da agressão, cujo prejuízo ou dano, via de regra, é moral ou extrapatrimonial porque
fere a dignidade e personalidade da vítima- lesão à integridade física ou moral/psíquica- pois causa dor
sentimental, tristeza, angústia, revolta, enfim, sofrimento no foro íntimo da vítima, não sendo possível
aferir de forma certa e determina o valor do prejuízo moral/psíquico; além do dano material que se
caracteriza como sendo aquele que é matematicamente aferível, pois lesa patrimônio da vítima. Qualquer
que seja a natureza do dano (moral ou patrimonial) traz a correlata obrigação de reparar o mal causado.
A conseqüência imediata do bullying é o dano moral, ou seja, aquele que se traduz em
sofrimento humano em razão da lesão à dignidade e personalidade, cujo sofrimento não tem nenhuma
ligação com perda de patrimônio ou perda pecuniária, mas está relacionado à reputação da vítima, à
honra, à sua imagem e autoridade, ao pudor e amor-próprio, à saúde e integridade física e psíquica, bens
jurídicos que não possuem valor de mercado, todavia, valor subjetivo para cada indivíduo, posto que
relacionados a atributos pessoais e individuais com projeção na sociedade.
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2816
A obrigação de indenizar é a conseqüência jurídica do ato ilícito, ficando os bens do
agressor sujeito à reparação do dano (prejuízo) causado. Segundo Maria Helena Diniz
(2004:794/796): “O ato ilícito (CC, arts. 186 e 187) é o praticado em desacordo com a ordem jurídica,
violando direito subjetivo individual. Causa dano a outrem, criando o dever de reparar tal prejuízo (CC,
art. 927).
Sabemos que a dignidade e personalidade do professor vítima do bullying não tem preço,
e não é a indenização ou pagamento de certa soma em dinheiro que vai resgatar a autoridade e os valores
atingidos pelo comportamento violento através do bullying, ou seja, a indenização por dano moral não
terá o condão de ressarcir os prejuízos morais sofridos pela vítima como ocorre quando se indeniza ou
repara um dano material/patrimonial.
É crível que a indenização pelo dano moral não visa ressarcir os prejuízos morais e
psíquicos, visa, na verdade, compensar toda dor, sofrimento íntimo e angústia que atingem a vítima da
violência, assim como visa proporcionar para o autor da violência uma perda patrimonial como forma de
punição pelo ato ilícito cometido, impedindo que pratique novamente a conduta ilícita e antijurídica.
REFERÊNCIAS
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2818
ALKIMIN, Maria Aparecida. Violência na Relação de Trabalho e a Proteção à Personalidade do
Trabalhador. Curitiba: Juruá, 2008.
______________. Assédio Moral na Relação de Trabalho. 2a. edição. Curitiba: Juruá, 2008.
AQUINO, Julio Groppa. Do cotidiano escolar: ensaios sobre a ética e seus avessos. São Paulo: Summus,
2000.
ARENDT, Hannah. Da Violência. Tradução de Maria Claudia Drummond Trindade. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1985.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 18a ed. São Paulo: Saraiva, 1997.
CAHALI, Yussef Said (coord.); CRETELLA JÚNIOR, J., et al.. Responsabilidade Civil-Doutrina e
Jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 1994.
CAREN, Ruotti; ALVES, Renato; Cubas, Viviane de Oliveira. Violência na escola: um guia para pais e
professores. São Paulo: Andhep: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 3-Teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais de acordo com o novo Código Civil. 20a. ed. revista, aum. e atual. São Paulo: Saraiva,
2004.
__________________________. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 1-Teoria Geral do Direito Civil.
19a. ed. revista, aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002.
FERRARI, Ilka Franco. Agressividade e Violência. Psicologia Clínica-Temas em Psicanálise. [Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro]. Rio de Janeiro: Centro de Teologia e Ciências Humanas-
Departamento de Psicologia, v. 18, n. 2: 49-62, 2006.
GOMES, Candido Alberto; VALENZUELA, Cláudia, et al. A violência na ótica de alunos adolescentes do
Distrito Federal. Cadernos de Pesquisa-Revista quadrimestral. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, v.
36, n. 127: 11-34, jan./abr. 2006.
GONÇALVES, Maria Augusta Salin; PIOVESAN, Orene Maria, et al.Violência na Escola, Práticas
Educativas e Formação do Professor. Cadernos de Pesquisa-Revista quadrimestral. São Paulo: Fundação
Carlos Chagas, v. 35, n. 126: 635-657, set./dez. 2005.
[1] O professor vitimado pelo bullying tende a desenvolver aquilo que os especialistas em medicina do trabalho denominam de
Síndrome de Burnout, doença ligada a condições de vida e de trabalho degradantes. Gera afastamento do professor por motivo de
doença ou até mesmo medo e insegurança, mudança de ambiente escolar que acaba gerando a denominada rotatividade no meio
escolar, o que significa prejuízo para o processo ensino-aprendizagem.
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2819
Semeando Conhecimento