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METODOLOGIA DE CÁLCULO DA TAXA DE
MORTALIDADE INFANTIL NA RIPSA 1
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de disponibilizar dados básicos e estudos de situação sobre as
condições de saúde no Brasil, o Ministério da Saúde, em cooperação com a
Representação da Opas/OMS no Brasil, desenvolveu e organizou uma Rede
Interagencial de Informações para a saúde (Ripsa), concebida com a finalidade de
articular as entidades representativas dos segmentos técnicos e científicos nacionais
envolvidos na produção e análises de dados, para viabilizar parcerias que propiciem
informações úteis ao conhecimento e à compreensão da realidade sanitária brasileira e
suas tendências 3 .
Formalizada por Portaria Ministerial de 1996, sua implementação foi feita mediante
acordo de cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Os marcos
de concepção e estruturação da Rede, bem como a matriz de indicadores, os produtos
prioritários e as instituições integrantes foram definidos em consulta com as instâncias
do Ministério da Saúde e com entidades de atuação destacada na produção, análise e
disseminação de informações 4 .
A matriz de indicadores foi estruturada em cinco campos, que qualificam os
indicadores segundo sua denominação, definição, método de cálculo, categorias de
desagregação e fontes de dados. Os indicadores se apresentam distribuídos em seis
subconjuntos temáticos: demográficos, socioeconômicos, mortalidade, morbidade e
fatores de risco, recursos e cobertura.
As entidades e órgãos integrantes da Rede estão articulados em Comitês de Gestão de
Indicadores (CGI), constituídos segundo necessidades da dinâmica de implementação
da Rede, com a finalidade de desenvolver tarefas específicas voltadas para o
aprimoramento e a formulação estratégica da área de saúde.
O CGI Natalidade e Mortalidade, criado sob a coordenação da Faculdade de Saúde
Pública da USP, tem por finalidade analisar questões metodológicas e operacionais
relativas às bases de dados de óbitos (SIM) e nascidos vivos (Sinasc), a serem
utilizadas na elaboração de indicadores e dados básicos.
1
Este documento constitui uma síntese das discussões ocorridas no Grupo de Trabalho ad hoc
da Ripsa e em documentos de trabalhos da Secretaria Técnica de Trabalho MS/Opas.
2
Analista de Projetos da Fundação Seade, Professor Titular da PUC-SP e Coordenador do GT
Mortalidade Infantil da Ripsa.
3
Esta iniciativa está em concordância com a Iniciativa Regional de Dados Básicos em Saúde
da Opas, instituída em 1995, com a finalidade de “apoiar esforços dos países membros em
reunir dados e informações para caracterizar a situação de saúde no continente, bem como
tornar esses dados disponíveis ao público em geral”.
4
Entre essas instituições: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; Ipea –
Instituto de Planejamento e Economia Aplicada; Fundação Seade; Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo e Abrasco – Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
2
No âmbito desse CGI e para estudar critérios alternativos para identificar os estados
que terão taxas de mortalidade infantil calculadas pelo método direto 5 , foi criado em
1999 um Grupo de Trabalho ad hoc, denominado GT – Mortalidade Infantil 6 . Nesse
sentido, o objetivo deste artigo é apresentar essa metodologia e como é calculada a
TMI para o Brasil e Grandes Regiões.
5
O cálculo direto da taxa de mortalidade infantil consiste em relacionar o número óbitos de
menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado
espaço geográfico, no ano considerado. Por sua vez, o procedimento indireto consiste na
utilização de técnicas demográficas especiais, baseadas em modelos demográficos que
utilizam informações obtidas de mulheres em idade fértil em relação aos filhos tidos nascidos
vivos e sobreviventes ao momento da pesquisa.
6
No momento de sua criação, faziam parte deste GT: Luis Patricio Ortiz (coordenador), da
Fundação Seade, Fábio Gomes, do Cenepi/MS, Antonio Tadeu Oliveira, do IBGE, Márcia
Furquim de Almeida, da Abrasco, e José Rubens Costa Lima, da Secretaria de Políticas de
Saúde do MS.
7
Considera-se, como medida do grau de cobertura de óbitos de menores de um ano, a
relação entre os óbitos informados pelo SIM e os óbitos derivados indiretamente pelo IBGE.
8
Para maiores detalhes sobre essas técnicas, ver por exemplo: Uniter Nations (1983).
9
Reconhecendo o mérito dessas estimativas, o Ministério da Saúde estimulou sua produção
para microrregiões e municípios com mais de 80 mil habitantes, com o fim de orientar a
implementação de ações de redução da mortalidade infantil. Ver Simões (1999).
10
Ver por exemplo: Ferreira, e Ortiz, L. P. (1998).
11
Esses estados foram: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
3
(•) as taxas de mortalidade infantis obtidas por métodos indiretos, para Rio Grande do
Sul, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, resultavam sistematicamente superiores às
calculadas diretamente dos sistemas SIM e Sinasc. Isso significaria a existência de
subenumeração de óbitos infantis, em magnitude não admitida pelas áreas estaduais
responsáveis pelo SIM, dadas as condições de operação do sistema;
(•) as estimativas de óbitos infantis derivadas de projeções demográficas, comparadas
às informações do SIM, sugerirem que a cobertura de óbitos infantis informados
nesses sistemas teria sofrido progressiva redução durante os anos 1990. Para os
responsáveis estaduais, essa tendência não condiz com a realidade observada;
(•) o número de nascidos vivos informados no Sinasc superava, em vários Estados, os
dados derivados de projeções demográficas. Isso poderia significar que as taxas de
natalidade em que se baseiam as projeções de nascimentos para esses Estados estavam
subestimadas, tendo como resultado uma sobrevalorização da mortalidade infantil.
Argumentos em contrário incluem o ritmo bem mais acelerado de implementação do
Sinasc em relação ao SIM, aumentando o valor do denominador da taxa e reduzindo,
por conseqüência, o quociente da fração;
(•) por não sofrer influências operacionais desse tipo, o método indireto presta-se
melhor à análise de situação. Ademais, os dados obtidos pelo método indireto eram
consistentes com resultados de outras fontes, tais como a Pesquisa Nacional de
Demografia e Saúde, realizada em 1996, que mostrava níveis de subnotificação de
óbitos infantis comparáveis aos estimados pelo método indireto. Esses níveis, por
sinal, guardam certa coerência com os indicadores socioeconômicos dos Estados.
Em síntese, podemos destacar que:
(•) as discrepâncias referidas nos valores das taxas de mortalidade infantil para os
Estados são inerentes à aplicação de dois métodos totalmente distintos, cada um com
suas próprias finalidades e limitações. Ressalte-se que ambos os procedimentos
indicam uma tendência de consistente declínio das taxas de mortalidade infantil no
Brasil, embora os patamares obtidos sejam diferentes;
(•) os sistemas de registro contínuo possibilitam o tratamento local e oportuno das
informações, mas estão sujeitos a intercorrências operacionais diversas, variáveis no
tempo e no espaço, que precisam ser reconhecidas e corrigidas. Por sua vez, as
estimativas suavizam os efeitos de fatores incidentais e sazonais, indicando tendências
e ressaltando desigualdades regionais, mas não se prestam a detectar alterações
recentes, como as derivadas da implementação de políticas públicas específicas, e
contêm margens de erro implícitas ao método utilizado;
(•) os dois métodos devem ser vistos como complementares: as estimativas
representam auxílio valioso para o desenvolvimento do SIM e do Sinasc, pois
oferecem parâmetros de comparação que podem indicar possíveis distorções do
registro contínuo, que merecem investigação mais acurada. Em contrapartida, as
informações do SIM e do Sinasc podem contribuir para o aperfeiçoamento da
metodologia de estimação indireta dos dados.
4
METODOLOGIA
5
A taxa de mortalidade infantil para as grandes regiões e Brasil será a média ponderada
das taxas dos Estados da região e de todos os Estados respectivamente.
Isto é:
TMI região = (∑NVi * TMI i) / ∑NVi onde i corresponde à UF da região.
TMI Brasil = (∑NVi * TMI i) / ∑NVi onde i corresponde a todas as UFs.
APLICAÇÃO
A aplicação desta metodologia é ilustrada com os cálculos realizados para obtenção
das taxas de mortalidade infantil correspondentes a 2006.
Observa-se que o sistema de nascidos vivos Sinasc é adequado nos Estados do Acre,
Amazonas, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, nos quais a
cobertura desse sistema no período 2000-2006 é maior ou igual a 90% (Tabela 1).
O índice de adequação dos óbitos infantis do período 2000-2006 supera os 80% em
Rondônia, Amazonas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo,
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul (Tabela 1). Nesses
Estados, a taxa de mortalidade infantil será calculada pelo método direto, com exceção
de Minas Gerais e Rondônia, onde o Sinasc apresenta cobertura insatisfatória para o
período 2000-2006. O Estado de Amazonas, embora cumpra os requisitos para o
cálculo direto, devido a que a taxa de mortalidade infantil obtida pelo método direto
(18,3 por mil) é muito distante da estimativa (22,1 por mil), o GT decidiu que esse
cálculo continuaria sendo indireto. Para redimir essa questão, a SVS/MS realizará,
durante o segundo semestre de 2009 busca ativa de óbitos e nascidos em municípios
selecionados das regiões Norte e Nordeste.
Assim, para todos os demais Estados, inclusive Rondônia, Amazonas e Minas Gerais,
serão adotadas as taxas de mortalidade infantil estimadas pela Ripsa. Nas duas últimas
colunas da Tabela 1, incluem-se as TMI para cada Estado, correspondentes a 2006
obtidas de acordo à metodologia descrita mais acima.
Para determinar as taxas de mortalidade infantil das grandes regiões e da média do
Brasil, para os Estados onde o cálculo da TMI é indireto, primeiramente derivam-se os
óbitos de menores de um ano para cada Estado multiplicando o valor da taxa pelo
número de nascidos vivos. No caso dos Estados onde o Sinasc é adequado, utilizam-se
as informações desse sistema; nos outros Estados os nascidos vivos correspondem às
projeções realizadas pelo IBGE (Tabela 2). Para os Estados onde o cálculo da TMI é
direto utilizam-se as informações dos sistemas SIM e Sinasc.
Em seguida, obtêm-se os totais de óbitos infantis e de nascidos vivos para o Brasil e
grandes regiões somando-se os dados estaduais de óbitos infantis e nascidos vivos
(diretos ou estimados) e, a partir desses totais, calculam-se as taxas de mortalidade
infantil correspondentes. A taxa de mortalidade infantil para a região Sul é a única
calculada pelo método direto (Tabela 2).
Em Anexo apresenta-se, no gráfico 1 a evolução das taxas de mortalidade infantil para
o Brasil e grandes regiões, correspondentes ao período 2000-2006; no gráfico 2,
encontram-se essas taxas para cada região, desagregadas por Estados. A Tabela 3,
6
mostra as taxas de mortalidade infantil para Brasil, grandes regiões e Estados, durante
o período 2000-2006.
As taxas de mortalidade na infância são calculadas pelo método direto para os mesmos
Estados da mortalidade infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia desenvolvida pela Ripsa, que permite identificar os Estados onde o
cálculo da taxa de mortalidade infantil e da infância é realizado pelo método direto,
possibilita a máxima utilização das informações coletadas pelos sistemas de nascidos
vivos (Sinasc) e de óbitos (SIM).
A divulgação destes resultados tem propiciado um amplo debate sobre o assunto, com
a participação de diferentes segmentos da comunidade científica, na busca de
metodologias que possibilitem estimar os níveis de mortalidade infantil que mais se
aproximem da nossa realidade 12 .
Estes resultados têm sido também a base de reuniões realizadas entre o Ministério da
Saúde, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Ripsa e as agências do
sistema de Nações Unidas interessadas em uniformizar as informações publicadas de
mortalidade infantil, da infância e mortes maternas. Nesse sentido, a recomendação
dessas agências é divulgar os dados da Ripsa, a partir de 2009.
Finalmente, deve-se mencionar que estes resultados motivaram a realização de
pesquisa específica no Distrito Federal para aprimorar os índices de cobertura de
nascidos vivos e óbitos infantis 13 , servindo de base para que, a partir das estatísticas de
2001 a TMI passa-se a ser calculada pelo método direto. Nessa linha, atualmente a
SVS/MS estão finalizando o planejamento para a realização de busca ativa de óbitos e
nascidos vivos nas regiões Norte e Nordeste. Espera-se que os resultados dessa
pesquisa proporcionem informações mais atualizadas sobre a cobertura dos sistemas
SIM e Sinasc, nessas regiões.
12
Ver, por exemplo, Szwarcwald et. al. (2000).
13
Ver, por exemplo, Lima e Vasconcelos (2003).
7
TABELA 1
Aplicação da metodologia para definir método de cálculo da TMI
2006
Sinasc SIM
Área TMI 2006
Cobertura Regularidade Cobertura (C) Índice de Adequação
2
Média R Média calculo
Unid.Federação A = R2 x 0,40 B = C x 0,60 A+B
2000 a 2006 2000 a 2006 2000 a 2006 direto indireto
Rondonia 84,8 97,7 78,1 39,1 46,8 85,9 20,5
Acre 97,1 35,1 71,3 14,0 42,8 56,8 28,7
Amazonas 90,5 86,4 84,4 34,5 50,7 85,2 (*) 22,1
Roraima 80,9 17,3 72,8 6,9 43,7 50,6 17,2
Pará 87,6 17,8 74,6 7,1 44,8 51,9 23,7
Amapá 85,8 16,6 80,0 6,6 48,0 54,6 21,3
Tocantins 89,9 91,9 69,3 36,8 41,6 78,3 22,0
Maranhão 79,1 28,1 42,2 11,3 25,3 36,5 31,2
Piauí 79,4 85,8 53,1 34,3 31,9 66,2 27,3
Ceará 82,4 76,7 59,5 30,7 35,7 66,4 25,6
Rio Grande do Norte 85,3 87,2 43,8 34,9 26,3 61,1 30,9
Paraíba 82,8 83,1 48,0 33,3 28,8 62,1 32,2
Pernambuco 92,2 96,4 66,9 38,6 40,1 78,7 30,1
Alagoas 77,0 90,8 42,1 36,3 25,3 61,6 42,7
Sergipe 85,3 88,1 64,7 35,2 38,8 74,1 30,9
Bahia 77,6 92,3 57,1 36,9 34,2 71,2 27,3
Minas Gerais 84,5 94,5 75,1 37,8 45,1 82,9 17,9
Espírito Santo 90,8 87,3 84,8 34,9 50,9 85,8 15,4
Rio de Janeiro 93,1 94,5 97,9 37,8 58,7 96,6 15,3
Säo Paulo 96,3 93,7 94,3 37,5 56,6 94,1 13,4
Paraná 93,6 95,1 82,0 38,0 49,2 87,3 14,0
Santa Catarina 92,7 96,3 78,8 38,5 47,3 85,8 12,6
Rio Grande do Sul 95,6 91,4 102,6 36,6 61,6 98,1 13,1
Mato Grosso do Sul 96,0 65,3 121,0 26,1 72,6 98,7 18,8
Mato Grosso 89,4 70,0 93,3 28,0 56,0 83,9 18,8
Goiás 87,7 62,3 70,8 24,9 42,5 67,4 17,4
Distrito Federal 105,3 70,3 90,9 28,1 54,6 82,7 12,8
Fonte: SIM-CGIAE/DASIS/SVS/MS.
R2 = o coeficiente de determinação da função exponencial dos óbitos infantis do SIM durante o período compreendido entre 2000 e 2006.
C = cobertura dos óbitos infantis do SIM no período 2000-2006
(*) Será realizado estudo específico para aprimorar a cobertura de nascidos vivos e óbitos infantis
8
TABELA 2
Cálculos para estimar as taxas de mortalidade infantil do Brasil e Grandes Regiões
Metodologia Ripsa
2006
9
REFERÊNCIAS
10
ANEXO
11
Taxas de Mortalidade Infantil
Brasil e Grandes Regiões
2000-2006
Taxas (Por mil NV)
45
40
35
Brasil
30 Região Norte
Região Nordeste
25
Região Sudeste
20
Região Sul
15
Região Centro-Oeste
10
0
Anos
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
12
Taxa de Mortalidade Infantil
Grandes Regiões e Ufs
2000-2006
Taxas (Por mil NV) Região Norte e UFs Taxas (Por mil NV) Região Nordeste e UFs
40 70
35
60
30
50
25
40
20
15 30
10 20
5 10
0
Anos 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Anos
Taxas (Por mil NV) Região Sudeste e UFs Taxas (Por mil NV) Região Sul e UFs
25 25
20 20
15 15
10
10
5
5
0
Anos 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Anos
25
20
15
10
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Anos
13
Tabela 3
Taxas de mortalidade infantil segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação
Metodologia Ripsa
2000-2006
Brasil, Grandes Regiões Taxas de Mortalidade Infantil (%o)
e Unidades da 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Brasil 27,4 26,3 25,0 24,2 23,2 21,6 20,6
Fonte dos dados básicos: IBGE. Censos demográficos de 1970-2000 e Pnads 2004, 2005 e 2006
14