Sei sulla pagina 1di 3

CÉLIO GARCIA (org.

)
Política, partido, representação e sufrágio:
a polêmica entre Alain Badiou e Ronald Rocha. Belo
Horizonte, Projeto, 1995.
Sérgio Lessa (professor da Universidade Federal de Alagoas e
membro do Comitê Editorial da revista Crítica Marxista).

Política, partido, representação e segundo ele, a política é uma esfera


sufrágio: A polêmica entre Alain que possui seus fundamentos em si
Badiou e Ronald Rocha dificilmente própria, e como o desenvolvimento
poderia ser publicado em momento histórico não é portador de uma
mais oportuno. O conjunto de racionalidade imanente ("a história
conferências, artigos e entrevistas que não existe"), a representação é ne-
contém aborda uma questão decisiva cessariamente um processo de
para a complexa tarefa de constituição castração dos impulsos contestatórios
de uma práxis revolucionária neste e de reafirmação dos desígnios
final de século. Concebendo por conservadores da política dominante
praxis revolucionária aquela que (pp. 69-70). Tais concepções são os
acumule forças para a superação da fundamentos da tese de Badiou acerca
ordem - com todos os problemas de da necessidade da elaboração de um
uma tal concepção - Alain Badiou "pensamento" político que possibilite
(professor da Universidade Paris VIII) às subjetividades escapar das arapucas
e Ronald Rocha (sociólogo, membro institucional eleitorais e evitar que
do diretório nacional do PT, da sejam seduzidas pela lógica
Editora da Praxis e do Conselho de burocrático-administrativa que per-
Colaboradores da Crítica Marxista) passa a participação parlamentar. Uma
propõem-se a investigar os parâmetros "política livre [ ... ] tem que se
intelectuais para uma política destacar do Estado, distanciar-se" (p.
emancipatória na contemporaneidade. 33) e anunciar um projeto de ruptura
Para Alain Badiou, a condição não violento, centrado na idéia de que
sine qua non seria o reconhecimento "o Estado viria a desaparecer, mas que
de que o locus da praxis conservaria tal idéia organizando-a
revolucionária é completamente ex- diretamente, sem passar pela figura do
terno ao Estado: toda disputa próprio Estado" (p. 28).
institucional e, acima de tudo, as Ronald Rocha pondera que tais
eleições gerariam a domesticação dos concepções "acabam negando um dos
eventos transformadores, resultando principais instrumentos de que os
inevitavelmente no seu enqua- trabalhadores dispõem para enfrentar
dramento nos horizontes da ordem. a exploração e a opressão do capital:
Neste caso, para o autor francês, "a deixam o monopólio da partidarização
subordinação da política ao Estado é dos indivíduos nas mãos das forças
uma subordinação de princípio" (p. conservadoras" (p. 47). Este é o terre-
21). Por isso, a partir do momento em no escolhido por Ronald Rocha para
que a esquerda assumiu "os encargos contrapor-se ao pensador francês: ao
do Estado, a lógica própria do Estado afastar-se da luta, necessariamente
levou a melhor, de um jeito total, de política, pelo poder do Estado, Badiou
maneira absoluta" (p. 33). Os abandonaria à burguesia o terreno da
movimentos populares e a política disputa pelo poder,já que não há
emancipatória se amoldaram à ordem política fora da disputa contra e pelo
estatal vigente, pois "as eleições são Estado. "Retire-se o Estado da
um momento de organização da política, e o que sobraria? O Estado é
ordem que, afinal de contas, é a um órgão político par excellence. Não
ordem do Estado ... " (p. 67). o considerar como tal transparece um
A recusa por princípio à luta insti- preconceito em relação à disputa em
tucional se articula, em Badiou, com nível do poder. Trata-se da idéia de
uma crítica radical ao partido e à um fazer político, não independente
representação política. Como, do Estado, mas indiferente à sua

CRÍTICA MARXISTA . 169


realidade" (p. 53). seu senso comum, perdeu a
Ronald Rocha descarta a idéia - perspectiva da superação da ordem
por absurda- de que as eleições jamais burguesa. Como reverter esta situ-
poderiam ser taticamente abordadas ação? Badiou propõe um
através de uma estratégia "pensamento" que articule b cerco ao
revolucionária. Mas isto não o conduz Estado a partir do seu exterior, com
à tese segundo a qual seriam elas a sua dissolução sem a mediação da
única e exclusiva mediação da práxis praxis ou do próprio Estado. Rocha
revolucionária. Segundo ele, "o situa o problema no plano da
Estado é de fato um limite da elaboração de uma estratégia
emancipação política, mas um limite revolucionária. O problema não
político e não suprapolítico [ ... ]. O estaria simplesmente na participação
exercício do poder é sempre uma institucional em si, mesmo porque em
práxis política e desse 'sortilégio' não certas conjunturas a recusa ao sufrágio
há fuga possível, a não ser no se justifica, mas em realizar essa
abstencionismo" (p. 53). As participação à revelia de uma
concepções de Badiou conduzem, "estratégia revolucionária global" que
segundo Rocha, ao combate à a orientasse no sentido da construção
"partidarização da militância socialista de uma contra-hegemonia. As
e ao elogio ao abstencionismo nos diferenças práticas imediatas entre as
processos eleitorais, ambos como propostas dos dois autores não
dogmas" (p. 54). Se o poderiam ser maiores. Um dos méritos
institucionalismo conduz "à da polêmica é explicitá-las com uma
reprodução da hegemonia burguesa", honestidade exemplar e rara nestes
a alternativa revolucionária estaria na dias.
organização de "partidos socialistas" e Enquanto texto marcado pelos
no enfoque da "participação impasses práticos e teóricos que vive
parlamentar" como "um elemento o movimento revolucionário (tomado
político subordinado à estratégia aqui no sentido mais amplo e, por isso
revolucionária global" (p. 54), e não mesmo, impreciso), permeado pelo
no "abstencionismo". Geist de nossa época, ele é também
As sucessivas derrotas eleitorais um representante de rara qualidade do
da esquerda brasileira parecem hoje estágio em que nos encontramos nessa
conduzir a duas vertentes políticas área. Para aqueles que, de um modo
opostas. Por um lado, questiona-se a geral, aproximam-se das posições de
validade da participação nos processos Badiou, o "abstencionismo" a elas
eleitorais; por outro lado, descarta-se a inerente é uma faceta que demonstra a
possibilidade histórica de uma fragilidade e o formalismo de seus
mudança para além da sociabilidade pressupostos. Para aqueles que se
regida pelo capital. A primeira aproximam das posições de Ronald
conduz, de um reformismo arraigado a Rocha, resta o enorme desafio da
um esquerdismo ou a um descoberta de como, na ausência de
indiferentismo inconseqüente, num uma estratégia global revolucionária,
movimento pendular bastante e mesmo na impossibilidade de sua
conhecido. A segunda vertente elaboração a curto prazo, evitar que a
transforma o reformismo "radical" em participação institucional seja mera
"conservador", sob o argumento de mediação da "domesticação" dos
que as derrotas eleitorais teriam militantes socialistas à ordem
"demonstrado" a inviabilidade de burguesa.
projetos mais à esquerda. Enfim: um texto vivo, que não se
Nesse clima e nesse contexto, o esconde na (má) teoria para evitar as
debate entre Badiou e Rocha é um dificuldades em desvelar o real, que
subsídio da maior relevância. Ambos enfrenta as divergências sem
os autores possuem em comum uma complacência e que trata do nó górdio
profunda insatisfação com a forma que confronta os revolucionários neste
atual da militância política da esquer- final de século: como militar em
da, e ambos concordam que ela, no tempos de contra-revolução.

170 . RESENHAS
LESSA, Sérgio. Resenha de: GARCIA, Célio (org.). Política, partido, representação e
sufrágio: a polêmica entre Alain Badiou e Ronald Rocha. Belo Horizonte: Projeto, 1995.
Crítica Marxista, São Paulo, Brasiliense, v.1, n.3, 1996, p.169-170.

Palavras-chave: Política; Partido; Representação política; Alain Badiou; Ronald Rocha.

Potrebbero piacerti anche