Sei sulla pagina 1di 15

SIGILOSO

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


Procuradoria Regional da República da 1ª Região

EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO

Referência: Recurso Especial


Autos nº 0003125-58.2008.4.01.4000
Recorrente: Ministério Público Federal
Recorrido: Fundação de Apoio a Cultura e Educação – FUNACE
Recorrido: Jeanne Ribeiro de Souza Nunes
Recorrido: Francisco de Assis Carvalho Gonçalves
Relator: Des. Federal Ney Bello - 3ª Turma

Recurso Especial nº 65988/2019

1.- O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, com fundamento no artigo 105, III,


alínea a, da Constituição Federal, e 1.029 e seguintes do Código de Processo
Civil, bem como no Regimento Interno do C. Superior Tribunal de Justiça, em
seus artigos 13, IV, alínea a, e 255 a 257, vem, em tempo hábil, interpor o
presente RECURSO ESPECIAL, com o fim de obter a reforma do v. acórdão
de fls. 3.272/3.273, desse E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Demonstrará o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL que o v. acórdão recorrido,


com a devida vênia, contrariou o disposto no artigo 10, caput e incisos VII, IX e
X, e artigo 11, caput e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92, terminando por negar-
lhe vigência, consoante se expõe nas razões recursais que acompanham a
presente manifestação.

SAS quadra 5, bloco E, lote 8, Brasília/DF


CEP 70.070-911 - Fone (61) 3317-4500
www.mpf.mp.br/regiao1/
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

2.- Desta forma, satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, requer a


Vossa Excelência que receba o presente recurso especial, remetendo, após os
trâmites de praxe, as razões seguintes à instância superior.

Brasília, na data da assinatura

Assinado digitalmente
Adílson Paulo Prudente do Amaral Filho
Procurador Regional da República

2
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Referência: Recurso Especial


Autos nº 0003125-58.2008.4.01.4000
Recorrente: Ministério Público Federal
Recorrido: Fundação de Apoio a Cultura e Educação – FUNACE
Recorrido: Jeanne Ribeiro de Souza Nunes
Recorrido: Francisco de Assis Carvalho Gonçalves
Relator: Des. Federal Ney Bello - 3ª Turma

Ínclitos Julgadores,

1.- Do relatório

1.1.- Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO


FEDERAL em face da FUNDAÇÃO DE APOIO A CULTURA E EDUCAÇÃO –
FUNACE, de JEANNE RIBEIRO DE SOUZA NUNES e FRANCISCO DE
ASSIS CARVALHO GONÇALVES, na qual requereu a condenação dos ora
Apelados às sanções previstas na Lei nº 8.429/92, em razão do descumprimento
dos preceitos que regem o processo licitatório, consistente na contratação de
serviços terceirizados sem licitação.

Instruído o feito, sobreveio a r. sentença de fls. 3.058/3.072, havendo o


juiz sentenciante julgado parcialmente procedentes os pedidos formulados na
exordial.

1.2.- Contra essa r. decisão momnocrática foram interpostos recursos de


apelações pela FUNACE (fls. 3.122/3.138), por JEANNE RIBEIRO (fls.
3.141/3.154) e FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO GONÇALVES (fls.
3.160/3.180), providos pela C. 3ª Turma do E. Tribunal Regional Federal da 1ª

3
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

Região, em v. acórdão assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
LEI 8.429/92. VERBAS FEDERAIS ORIUNDAS DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE – SUS. CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
TERCEIRIZADOS. INOBSERVÂNCIA AOS PRECEITOS QUE
REGEM O PROCESSO LICITATÓRIO. EFETIVA EXECUÇÃO
DO CONTRATO. FALTA DE COMPROVAÇÃO DO DANO AO
ERÁRIO. MERAS IRREGULARIDADES. AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS INDICATIVOS DE DOLO. ATO ÍMPROBO NÃO
CONFIGURADO. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÕES
PROVIDAS.
1. O Ministério Público Federal objetiva a condenação dos requeridos
nas sanções previstas na Lei nº. 8.429/92, sob alegação de
descumprimento dos preceitos que regem o processo licitatório,
consistente na contratação de serviços terceirizados sem licitação.
2. Das provas juntadas aos autos, extrai-se a existência de
irregularidades formais ligadas à inabilidade dos requeridos no trato
com a coisa pública, em que pese a desatenção às normas atinentes
aos procedimentos licitatórios, não se têm comprovação do prejuízo
ao erário, ou que os requeridos tenham agido com o intuito deliberado
de ocultar atos ardilosos praticados na execução do contrato, nem que
tenham obtido qualquer proveito próprio ou em favor de terceiros no
manuseio dos recursos do Sistema Único de Saúde.
3. A mera ilegalidade do ato ou inabilidade do agente público que o
pratica nem sempre pode ser enquadrada como improbidade
administrativa. O ato ímprobo, além de ilegal, é pautado pela
desonestidade, deslealdade funcional e má-fé.
4. Não estando comprovada desonestidade, deslealdade funcional e
má-fé, tão menos o dano ao erário, deve a sentença ser integralmente
reformada, reconhecendo-se a improcedência de todos os pedidos
formulados pela parte autora.
5. Sentença reformada.
6. Apelações providas, para julgar improcedentes os pedidos
formulados na inicial.

1.3.- É contra esse r. julgado que é interposto o presente recurso especial,


em razão da flagrante violação ao disposto no artigo 10, caput e incisos VII, IX e
X, e artigo 11, caput e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92

Ademais, há divergência jurisprudencial entre o entendimento da Terceira

4
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

Turma do E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região com posicionamento da


Primeira Turma do C. Superior Tribunal de Justiça (AgInt nos EREsp
1512393/SP).

2.- Da tempestividade

2.1.- Verifica-se que o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL foi intimado do v.


acórdão recorrido em 10.set.2019, conforme carimbo a fl. 3.274vº.

Iniciando-se a contagem em 11.set.2019, o dies ad quem é 22.out.2019,


sendo portanto tempestivo o presente recurso, considerando-se que o prazo de
interposição é de 15 dias úteis, computado em dobro para o Ministério Público,
nos termos dos artigos 180 e 219 do Código de Processo Civil.

3.- Do prequestionamento

3.1.- A matéria de que trata o presente recurso foi devidamente enfrentada


no v. acórdão hostilizado, porquanto o E. Tribunal Regional Federal da 1ª Região
emitiu pronunciamento sobre as questões suscitadas no presente recurso especial,
fazendo, inclusive, referência expressa ao dispositivo legal que aqui se considera
violado.

3.2.- De outra parte, essa C. Corte Superior tem, reiteradamente, entendido


que o prequestionamento não demanda a menção expressa aos dispositivos de lei
considerados violados, exigindo apenas que seu conteúdo tenha sido levado em
consideração pelo tribunal de origem. A título elucidativo, pode-se citar o
seguinte precedente:

5
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

TRIBUTÁRIO – RECURSO ESPECIAL – ART. 535 DO CPC –


AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO – COISA JULGADA –
INEXISTÊNCIA – PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO –
ICMS – DIREITO CUJA NATUREZA E DE CREDITO FISCAL
– TRANSFERÊNCIA A TERCEIROS – POSSIBILIDADE –
IMPEDIMENTO LEGAL INEXISTENTE.
1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma
suficientemente fundamentada, não estando a Corte de origem
obrigada a emitir juízo de valor expresso a respeito de todas as teses e
dispositivos legais invocados pelas partes.
2. Nos termos da jurisprudência reiterada desta Corte Superior, o
prequestionamento não exige a expressa menção dos dispositivos tidos
por violados, bastando que a matéria por eles versada tenha sido
discutida pelo Tribunal de origem, hipótese ocorrente nos autos
consoante se verifica do acórdão recorrido.
[…]
9. Recurso especial provido.
(REsp 1215574/ES - 2ª Turma - Rel. Min. Eliana Calmon - j.
10.dez.2013 - DJe 18.dez.2013 - grifos apostos)

3.3.- Destaque-se, ainda, que o Código de Processo Civil consagrou a tese


do prequestionamento ficto em seu artigo 1.025, in verbis:

Art. 1.025 - Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o


embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os
embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o
tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade.

Encontra-se preenchido, portanto, o requisito atinente ao


prequestionamento dos dispositivos legais tido como violado.

4.- Da inaplicabilidade da Súmula STJ nº 7

4.1.- A matéria submetida a essa Corte Superior é exclusivamente de


direito, sem necessidade de revolvimento de elementos probatórios, não se

6
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

aplicando a Súmula STJ nº 7, que dispõe que “a pretensão de simples reexame de


prova não enseja recurso especial”, sendo de rigor o conhecimento do recurso.

Com efeito, não se pretende, aqui, um reexame de provas, via incursão nos
autos, o que seria inadmissível, mas sim de revaloração de fatos e prova já
estabelecidos pelo acórdão recorrido, o que é admitido por essa egrégia Corte.

4.2.- A Súmula nº 7 desse C. Superior Tribunal de Justiça não veda a


revaloração da prova para conferir nova qualificação jurídica a fato reconhecido
como existente no acórdão da Corte Regional e o que se busca, com a
interposição deste recurso especial, é justamente a qualificação jurídica correta
dos fatos acima articulados, cuja análise minudente se dará na fundamentação
dessas razões recursais. Tal pretensão, portanto, insere-se no âmbito de
competência dessa C. Corte.

5.- Do mérito recursal

5.1.- O r. acórdão recorrido reclama reforma, pois contraria o disposto no


artigo 10, caput e incisos VII, IX e X, e artigo 11, caput e inciso I, todos da Lei
nº 8.429/92.

Com efeito, compulsando-se o voto condutor, que levou à procedência das


apelações dos Recorridos, extraem-se os fundamentos que conduziram o Tribunal
de origem à negativa de ocorrência de ato de improbidade administrativa,
substancialmente, (a) ausência de dano ao erário e não comprovação do elemento
volitivo (dolo), com relação à conduta do artigo 10 da LIA e (b) não
comprovação do elemento volitivo (dolo), com relação à conduta do artigo 11 da
LIA.

7
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

Extrai-se do acórdão hostilizado:

[…] Adentrando no mérito, propriamente dito, ao meu sentir, a


sentença guerreada merece ser reformada, haja vista a inexistência de
dolo ou culpa; e de locupletamento ilícito pelos requeridos, ora
apelantes – FUNACE - Fundação de Apoio à Cultura e Educação,
Jeanne Ribeiro de Sousa Nunes e Francisco de Assis Carvalho
Gonçalves –, razão pela qual descabe falar em configuração de ato
ímprobo, e, por conseguinte, inaplicável, à espécie, quaisquer das
sanções previstas no art. 12 da Lei 8.429/92.
A Lei de Improbidade Administrativa, que regulamentou o disposto no
art. 37, § 4º, da Constituição Federal de 1988, tem como finalidade
impor sanções aos agentes públicos incursos em atos de improbidade
nos casos em que: a) importem em enriquecimento ilícito (art. 9º); b)
causem prejuízo ao erário (art. 10); e c) atentem contra os princípios
da Administração Pública (art. 11), aqui também compreendida a lesão
à moralidade administrativa.
No caso vertente, segundo o Ministério Público Federal – autor da
presente ação –, estaria a prática ímproba da parte requerida, ora
apelante, prevista na Lei de Improbidade – artigos 10, VIII, IX e X, e
11, I –, consistente na aplicação irregular dos recursos oriundos do
SUS, que favoreceram indevidamente a empresa requerida –
FUNACE.
[…]
Compulsando o caderno processual, verifico que, efetivamente, não
restou comprovada a prática de atos ímprobos, quais sejam, (1)
contratação de empresa sem licitação, fora dos casos
excepcionalmente possíveis; (2) não observância dos aspectos
relativos à regularidade e qualificação técnica e econômico-financeira
da empresa contratada; (3) realização de despesa sem prévio empenho
ou em malferimento à lei ou regulamento; e (4) favorecimento de
terceiros, em face de contratação irregular de empresas prestadoras de
serviços.
Observo, ainda, que a Sentença de Primeiro Grau consigna a ausência
de locupletamento ilícito, e a inexistência de dolo de desvio de valores
públicos, o que deve ser levado em conta, para fins de se reconhecer a
inexistência de prática ilícita..
Nesse diapasão, verifico que, diversamente do entendimento firmado
na sentença a qua e acompanhado aqui nesta instância pela Relatora,
não restou comprovada a prática de burla à licitação e/ou
favorecimento a terceiros, tampouco a ocorrência de dano ao erário.
Explico:
Descabe falar na existência de elemento subjetivo – dolo ou culpar –,
não há nenhuma vinculação ao alegado prejuízo com a contratação de
terceirizados, também não houve nenhuma lesão comprovada

8
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

tampouco enriquecimento ilícito declarado, cuidando-se, no máximo,


de mera irregularidade.
Analisando detidamente a questão sob exame, s.m.j., verifico que à
época dos fatos, diante das dificuldades encontradas para a
manutenção da prestação de serviços à população, a melhor solução
foi a adotada pelos requeridos com a contratação de uma nova
empresa com valores menores ao anterior contrato, cujos serviços
contratados foram efetivamente executados a contento, respeitando,
assim o interesse público de continuidade dos serviços prestados na
sensível área de saúde.
Impende registrar o estado de emergência vivenciado pelo Estado do
Piauí, haja vista a necessidade de se administrar os hospitais públicos,
situação que ao me ver, encontra-se na esfera discricionária daquele
ente estadual, não cabendo ao judiciário exercer o controle sobre o
quantum aplicado pelo executivo na pasta da saúde, pelo que descabe
falar em responsabilidade a quem comandava a Secretaria de Saúde
Estadual.
Entendo, ainda, que descabe falar em prejuízo ao erário, o qual só
poderia ser aquilatado se o serviço contratado não fosse efetivamente
prestado, se houvesse uma queda na qualidade desses serviços e em
caso de pagamento a maior, situações inocorrentes na espécie, tanto é
assim que não consta nada disso na exordial acusatória.
Repiso que não há se falar em prejuízo aos cofres públicos ou lesão ao
erário, eis que, efetivamente, foram prestados os serviços contratados
com a comprovada atuação na gestão hospitalar, pelo que descabe
falar, também, em locupletamento ou enriquecimento ilícito.
Tecidas essas considerações, pedindo escusas ao Relator, entendo que
não restou configurada nenhuma das hipóteses de cometimento de ato
ímprobo previsto na Lei 8.429/92. Podendo, se tanto, considerar a
atuação dos agentes como meras irregularidades administrativas,
situação que não enseja a aplicação de qualquer das sanções previstas
no art. 12 do mesmo diploma legal.
É entendimento corrente que o fim buscado pela Lei de Improbidade
Administrativa é a punição dos atos de corrupção e desonestidade,
incompatíveis com a moralidade administrativa.
A configuração do ato de improbidade não pode acontecer com a
presença simples de uma das hipóteses elencadas nos artigos 9º, 10 e
11, da Lei de Improbidade. É imprescindível a demonstração do
elemento subjetivo, consubstanciado pelo dolo para os tipos previstos
nos artigos 9º e 11 e, ao menos, pela culpa grave, nas hipóteses do
artigo 10. Vale dizer: a improbidade administrativa não se caracteriza
por meio de responsabilização objetiva dos agentes públicos (STJ. MS
16.385/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, DJe de
13/06/2012).
A mera ilegalidade do ato ou inabilidade do agente público que o
pratica nem sempre pode ser enquadrada como improbidade
administrativa. O ato ímprobo, além de ilegal, é pautado pela
desonestidade, deslealdade funcional e má-fé.

9
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

Penso ser esta a interpretação mais consentânea com a estrutura de


tipos e sanções estabelecida pela Lei 8.429/92. A exegese deve ser
sistemática, de modo que a subsunção das condutas seja adequada aos
dispositivos e as sanções aplicadas sejam as mais justas a cada ato de
improbidade praticado. Entender de modo contrário – que o dano se
caracteriza in re ipsa –, dificulta o correto enquadramento dos atos de
improbidade e gera insegurança ao direito à ampla defesa; despreza as
expressões utilizadas pela norma – por exemplo, “danos ao
patrimônio” –; ignora que a norma criou tipologia situada em três
dispositivos diversos – se não houvesse distinção haveria apenas um
artigo –; e torna subjetiva – arbitrária – a atuação do julgador.

5.2.- Os Recorridos, conforme se extrai dos autos, em plena convergência


de esforços e vontades, agindo de forma dolosa e/ou culposa, praticaram atos de
improbidade administrativa que importaram em lesão ao erário, incidindo,
portanto, nas tipificações do no artigo 10, caput e incisos VII, IX e X, todos da
Lei nº 8.429/92, na medida em que os agentes públicos e pessoa privada supra
mencionados, por ação e omissão, dolosa e/ou culposamente, ensejaram perda
patrimonial a entidade mencionada no artigo 1º da Lei 8.429/92, notadamente ao
permitirem que o ente privado (FUNACE) utilizasse verbas integrantes do
patrimônio público, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
aplicáveis a espécie; e, ainda, em conluio, frustraram a licitude de processo
licitatório, dispensando e/ou inexigindo indevidamente processo licitatório;
autorizaram, ainda, os agentes públicos, a liberação de verbas públicas sem a
observância das normas pertinentes.

Também incidiram no artigo 11, caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92, na


medida que cometeram dolosamente (bastando o dolo genérico para a tipificação
da improbidade) ato de improbidade administrativa, que atentou contra os
princípios da administração pública, por ação e omissão, que violou os deveres
da administração pública de honestidade, imparcialidade, pessoalidade,
moralidade e legalidade, notadamente, praticando ato visando a fim proibido em

10
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

lei, qual seja, inexigindo ou dispensando ilegalmente licitação pública para a


contratação da recorrida FUNACE, bem como deixaram de praticar ato de
ofício, qual seja, o devido procedimento licitatório.

5.3.- Da simples leitura da petição inicial constatam-se as razões da


imputação, havendo narrativa clara da prática de atos ímprobos praticadas pela
Secretaria de Saúde do Estado do Piauí – SESAPI, consistentes, basicamente, em
contratação ilegal para fornecimento de mão de obra, utilizando verbas oriundas
do Fundo Nacional de Saúde – FNS, amparada em robusta prova documental
constante, entre outros, dos autos nos 1.01.004.000071/2008-45 e
1.01.004.000096/2008-49, conduzidos pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.

O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado segundo o


qual a dispensa indevida de licitação configura dano in re ipsa, permitindo a
configuração do ato de improbidade que causa prejuízo ao erário. Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DISPENSA INDEVIDA
DE LICITAÇÃO. DANO IN RE IPSA. CONFIGURAÇÃO.
PRECEDENTES.
1. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado
segundo o qual a dispensa indevida de licitação configura dano in re
ipsa, permitindo a configuração do ato de improbidade que causa
prejuízo ao erário. Precedentes: AgInt no REsp 1.604.421/MG, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 26/6/2018, DJe
2/8/2018; AgInt no REsp 1.584.362/PB, Rel. Ministro Francisco
Falcão, Segunda Turma, julgado em 19/6/2018, DJe 22/6/2018; AgInt
no REsp 1.422.805/SC, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda
Turma, julgado em 14/8/2018, DJe 17/8/2018.
2. In casu, o Tribunal de origem concluiu que "dúvida não há de que a
Lei 8.666/93 restou contrariada. Contudo, há que perquirir acerca da
existência de ato ímprobo em tal conduta. Compulsando os autos,
visualizo indícios veementes de que o procedimento licitatório foi
forjado, inclusive, com erros grosseiros que saltam aos olhos.(...) As
provas carreadas aos autos demonstram que os demandados
contribuíram para fraudar licitação de aquisição de material para

11
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

execução das obras objetos do Contrato de Repasse n. 2640. 0125308-


45/2001 (SIAFI 437253) e do Convênio n. 3.380/2001, que visou fim
proibido em lei, o que insofismavelmente acarretou a aplicação
indevida dos recursos federais" (fls. 2.293 e 2.305).
3. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1537057/RN - 1ª Turma - Rel. Min. Benedito
Gonçalves - j. 9.abr.2019 - DJe 20.mai.2019 - grifos apostos)

Com efeito, o prejuízo advindo da dispensa/favorecimento indevida(o) de


procedimento licitatório – fato incontroverso na presente demanda – é presumido
(in re ipsa), tendo em vista que retira da Administração Pública a possibilidade
de contratação da “melhor proposta”; vale dizer, a caracterização do ato de
improbidade administrativa, em casos tais, prescinde da comprovação de danos
de natureza econômica ao Erário (nos termos do artigo 10, VIII, da Lei n.
8.429/92) decorrentes da não realização da licitação.

Logo, o fundamento utilizado pelo aresto combatido (não comprovação do


prejuízo ao erário) resta prejudicado, pois em desacordo com o entendimento
consolidado do C. Superior Tribunal de Justiça, “a dispensa indevida de licitação
configura dano in re ipsa e permite a configuração do ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário”.

5.4.- A divergência jurisprudencial com fundamento na alínea c do


permissivo constitucional, nos termos do artigo 1.029, § 1º, do Código de
Processo Civil e do artigo 255, § 1º, do Regimento Interno do Superior Tribunal
de Justiça, exige comprovação e demonstração, com a transcrição dos trechos dos
arestos que configurem o dissídio, mencionando-se as circunstâncias que
identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, não sendo bastante a simples
transcrição de ementas sem o necessário cotejo analítico a evidenciar a similitude
fática entre os casos apontados e a divergência de interpretações.

12
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, ora recorrente, passa a comprovar e


demonstrar o dissídio jurisprudencial, mediante a análise das circunstancias que
assemelham os casos confrontados, que deram interpretação divergente ao artigo
10, caput e incisos VII, IX e X, e artigo 11, caput e inciso I, todos da Lei nº
8.429/92. Vejamos:

5.5.- O acórdão combatido, ao dar provimento ao agravo de instrumento,


para rechaçar a condenação por improbidade administrava, divergiu frontalmente
do decidido no AgInt nos EREsp 1.512.393/SP, cuja ementa ora se reproduz:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO


INTERNO NOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM
RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE
2015. APLICABILIDADE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DISPENSA INDEVIDA
DE LICITAÇÃO. DANO IN RE IPSA. CONFIGURAÇÃO.
PRECEDENTES DESTA CORTE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
N. 168/STJ. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. APLICAÇÃO DE
MULTA. ART. 1.021, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
DE 2015. DESCABIMENTO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada
em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da
publicação do provimento jurisdicional impugnado. In casu, aplica-se
o Código de Processo Civil de 2015 para o presente Agravo Interno,
embora os Embargos de Divergência estivessem sujeitos ao Código de
Processo Civil de 1973.
II - O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento consolidado
segundo o qual a dispensa indevida de licitação configura dano in re
ipsa, permitindo a configuração do ato de improbidade que causa
prejuízo ao erário.
III - Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do
tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão embargado, a teor da
Súmula n. 168/STJ.
IV - Não apresentação de argumentos suficientes para desconstituir a
decisão recorrida.
V - Em regra, descabe a imposição da multa, prevista no art. 1.021, §
4º, do Código de Processo Civil de 2015, em razão do mero
improvimento do Agravo Interno em votação unânime, sendo
necessária a configuração da manifesta inadmissibilidade ou

13
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

improcedência do recurso a autorizar sua aplicação, o que não ocorreu


no caso.
VI - Agravo Interno improvido.
(AgInt nos EREsp 1.512.393/SP - 1ª Seção - Rel. Min. Regina Helena
Costa - j. 28.nov.2018 - DJe 17.dez.2018 - grifos apostos)

Há inegável identidade fática entre os arestos. O acórdão combatido


consignou que das “provas juntadas aos autos, extrai-se a existência de
irregularidades formais ligadas à inabilidade dos requeridos no trato com a
coisa pública, em que pese a desatenção às normas atinentes aos procedimentos
licitatórios, não se têm comprovação do prejuízo ao erário, ou que os requeridos
tenham agido com o intuito deliberado de ocultar atos ardilosos praticados na
execução do contrato, nem que tenham obtido qualquer proveito próprio ou em
favor de terceiros no manuseio dos recursos do Sistema Único de Saúde”,
concluindo que a “mera ilegalidade do ato ou inabilidade do agente público que
o pratica nem sempre pode ser enquadrada como improbidade administrativa”.
Para o acórdão paradigma, por sua vez, a dispensa indevida de licitação configura
dano in re ipsa, permitindo a configuração do ato de improbidade que causa
prejuízo ao erário.

Com efeito, em que pese a idêntica situação fática, as conclusões dos


acórdãos são frontalmente divergentes, o que autoriza o manejo do recurso
especial, na forma do artigo 105, c, da Constituição Federal.

Assim, deve ser reformado o acórdão hostilizado, para o fim de


restabelecer a decisão de primeiro grau, que julgou parcialmente procedente a
ação, por presentes elementos que bastavam à comprovação dos atos ímprobos
descritos na inicial

6.- Do pedido

14
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Procuradoria Regional da República da 1ª Região

6.1.- Por todas essas razões, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL que
seja conhecido e provido o presente recurso especial.

Brasília, na data da assinatura


Assinado digitalmente
Adílson Paulo Prudente do Amaral Filho
Procurador Regional da República
APPAF/FSS

15

Potrebbero piacerti anche