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A situação em Dahab era muito particular. Israel tinha uma paz precária
com o Egito, primeiro País Árabe a assinar um tratado de paz com Israel. A
Península do Sinai foi devolvida por Israel aos Egípcios, como parte desses
acordos de paz. Havia naturalmente, no entanto, alguma tensão na fronteira.
Em especial, na tensa Faixa de Gaza. Mas Israelenses como Dan haviam
vivido muito tempo do final de sua adolescência e início da juventude naquela
região, à qual se ligavam afetiva e culturalmente, e à qual conhecem
profundamente. Durante a ocupação, os Israelenses fizeram boas relações
com os Beduínos do Deserto, e são bem vindos por eles na região. De modo
que muitos Israelenses cruzam a fronteira e vêm veranear nesta região egípcia
do Sinai.
Dahab é uma pequena vila de Beduínos, de casas muito simples e
pobres, que vivem do mar. E que atrai mochileiros de todo o mundo. Por causa
de suas águas, nas margens do Deserto, por causa de suas “florestas” de
corais, bem próximas à borda do Mar Vermelho, por causa do fácil acesso à
riqueza da diversidade e da cor de seus peixes e seres marinhos, por causa do
deserto, pelos camelos, pelos Beduínos, e tamareiras, por suas montanhas
pedregosas e áridas, pelos tons alaranjados e rosáceos de seu pôr do sol, pela
proximidade com o Monte Sinai, pela sua paz alegre...
Tudo é muito simples. Os bares e restaurantes, na beira da praia, não
têm mesas com cadeiras. Quatro troncos de tamareiras formam um quadrado
na areia. Dentro do quadrado assim formado, o chão de areia é coberto por
tapetes, com inúmeras almofadas. Ao centro uma pequena e baixa mesa. Um
bar ou restaurante tem várias dessas unidades. Cada grupo ocupa uma destas.
As pessoas espicham-se nos tapetes e nas almofadas, enquanto comem,
bebem, conversam, “riem ou choram”... Frequentemente, a poucos passos da
orla do mar, entre palmeiras de tâmaras.
Como não há energia, com a chegada da noite acendem-se velas dentro
de garrafas plásticas cortadas, e tudo é iluminado à luz de velas. A orla fica
toda salpicada desses pequenos pontos de iluminação. As pessoas são
Beduínos, que são os donos do lugar, Israelenses que vêm veranear, e
mochileiros de todo o mundo, em particular Europeus. (Com certeza havia um
Sul Americano naquela passagem do Ano Novo Judaico de 5753).
De repente eu estava com eles. Era meio insólito, mas estritamente real.
De shorts e sandálias, nas margens do Mar Vermelho, como se estivéssemos
em qualquer praia do Nordeste do Brasil.
Passávamos os dias nos “bares”, na borda do mar. Alugávamos
equipamentos de snokering, e íamos nadar e mergulhar. O Mar Vermelho
nesta região é único no mundo. Depois de uma margem rasa e pedregosa, de
quatro ou cinco metros de extensão, precipita-se um abismo de cinquenta
metros, às vezes de duzentos metros. A vertigem do abismo é de cortar o
fôlego. As encostas são revestidas por uma incrível comunidade de corais,
muito vivos em muitas áreas, e de uma incrível e belíssima diversidade de
formas e de cores. Como se não fosse o bastante, há peixes e cardumes de
todas as formas, cores e tamanhos, convivendo com você, no impressionante
silêncio daquele submarino mundo azul. Há crustáceos e moluscos, há ouriços
com espinhos enormes e brancos...
Eu nadava, receoso no início, na superfície, com o equipamento de
snokering, mas rigorosamente fascinado. Perambulava por aquele mundo
fantástico.
Levantar os olhos da água faz-nos deparar com o relevo de pedra, ocre
e árido, das montanhas do Sinai. Mundos tão diferentes, o subaquático, e o do
deserto. Uma insólita conjugação.
O Mar Vermelho resulta da invasão de um vale do deserto pelo Oceano
Índico, no Golfo de Áden. De suas bordas, é impressionante pensar que
estamos na verdade na borda de uma montanha, e que, abaixo, precipitam-se
submersos os seus abismos, preenchidos pelo mar. Quanta beleza e mistério
não guardam... Na verdade, o Oceano Índico invadiu uma fenda geográfica que
se prolonga, ao Norte, até o ponto mais baixo da superfície terrestre, o Mar
Morto. A fenda prolonga-se ainda mais ao Norte, como o Vale do Rio Jordão.
Nadamos por ali, e em outros pontos perto de Dahab, conhecidos do
Dan e da Susana. Sempre a mesma e incrível beleza. Marinheiro de primeira
viagem naquele tipo de atividade, às vezes receoso, o Avner sempre me
orientava por onde ir e o que fazer.
Fomos a um local onde tínhamos que passar por uma barreira do
Exército Egípcio. Mas sem problemas. Havia três piscinas naturais. Fantásticos
mundos submarinos. Mais rasos do que nos locais de precipícios, de modo que
podíamos nadar mais horizontalmente, e passar de uma piscina para a outra,
através de incríveis passagens.
De volta à Vila, comíamos em um dos restaurantes, e voltávamos para a
pousada. O Dan pegava sempre o violão e tocava música brasileira. Aprendeu
no Brasil, em São Paulo, enquanto namorava a Susana. No final da tarde,
descansávamos e papeávamos, ou dormíamos. À noite voltávamos para os
bares da Vila, na beira do mar. Não havia bebidas alcoólicas, proibidas pelas
leis muçulmanas. Comíamos peixe e tomávamos um tipo de batida espessa e
quente, deliciosa e reanimadora. Voltávamos papeando para a pousada, e o
papo ainda rolava até tarde, enquanto o Dan tocava o violão.
Houve outros amanheceres, até que chegou o fim daquela semana
deliciosa.
Despedimo-nos à noite. No dia seguinte, eu sairia antes de amanhecer.
Tomaria um jipe até um povoado próximo, e de lá tomaria um ônibus que iria
para o Oeste, em direção à Cidade do Cairo. Onde tomaria, alguns dias depois,
um vôo para a Grécia. Eles seguiriam de carro para o Norte, em direção à
Telaviv.
Acordei de madrugada.
Depois do toalete, e de arrumar o que faltava de minha mochila, ainda
me despedí do Dan, que acordara. A Susana e as crianças continuavam
dormindo. Na Vila, tomei o jipe para o povoado, onde tomaria o ônibus para o
Cairo.
Mais uma vez, como a todo dia, o dia amanhecia. Como sempre, a brisa
fresca da manhã do deserto fazia-me um bem enorme... Feliz e leve, queimado
do sol do Deserto, e do Mar Vermelho, sentei na calçada, próximo do ponto,
enquanto esperava o ônibus. E para tomar um iogurte, que eu comprara na
véspera...
De lí ci a...
Voltei pelo meio do deserto, e de incríveis tempestades de areia, que eu
só vira em filmes. Diferentemente dos atores e dos povos do deserto,
entretanto, eu vivia aquela tempestade de dentro de um confortável ônibus,
todo fechado e com ar refrigerado. Quase que completamente confortável, não
fosse pelo som alto de um aparelho de TV à bordo, passando barulhentos
filmes de aventuras de espiões Egípcios, modernos...