O termo Gestos Didáticos, em linhas gerais, remete a um conjunto de ações inerentes ao
trabalho do professor para transformar o objeto de ensino em objeto ensinado. Além disso, é um dos caminhos usados para se traçar um perfil do trabalho docente, no entanto, por se tratar, acima de tudo, de relações humanas, eles ganham cores e formas próprias a cada nova integração professor-aluno. Antes de compreender como se dá tais gestos didáticos, é necessário entender como ele pode ser um balizador do trabalho docente. Uma das maneiras para se definir as ações do professor em sala de aula, é encarar o ofício do docente como um trabalho, ou seja, valendo-se das concepções marxista de trabalho. O docente atua (ação do sujeito) sobre um objeto por meio de instrumentos, mas seu objeto também é um sujeito que reage à sua ação, uma vez que “o objeto de trabalho do docente são os processos psíquicos dos alunos; ou seja, aquilo sobre o que o professor trabalha são os modos de pensar, de falar e de agir...” (SCHNEUWLY, 2009B, PÁG. 31). Em outras palavras, o objeto de trabalho do professor são os modos de agir, pensar e falar dos alunos, seus instrumentos são os sistemas semióticos e os signos e seu produto é o resultado da transformação desses modos de pensar, falar e agir dos alunos. Diferente de outros tipos de trabalho, como um vendedor, um soldador ou um arquiteto, o trabalho do professor atua sobre processos de natureza humana e psíquica, de modo a convencer seus alunos. Logo, que método usar, uma vez que não se tem instrumentos concretos? Se fizermos uma analogia com a caixa de ferramentas de um marceneiro, onde ele provavelmente tem à sua disposição itens como martelo, pregos e alicates, o professor também pode ter sua “caixa de ferramentas”. Simbólica, é claro. O modo pelo qual o professor fará uso dessa caixa, via instrumentos, remetem aos gestos didáticos, pelos quais ele consegue tornar palpável seu objeto de ensino, ou seja, fazer com que o objeto de ensino se torne um objeto ensinado. Essas ações sobre o conhecimento se apresentam em forma de dois gestos didáticos fundadores: 1 – O gesto de presentificação: o processo pelo qual se familiariza o aluno com o objeto de conhecimento. Aqui, o aluno toma conhecimento do objeto, compreende sua história e o identifica em seu cotidiano. 2 – O gestão de topicalização: após tornar presente o conhecimento, é a vez de desdobrá-lo, compreender seus múltiplos pontos e decompô-lo. Além dos dois gestos fundamentais apontados acima, ainda é possível elencar outros quatro tipos: 1 – Emprego de instrumentos didáticos: Basicamente, os materiais que o professor usa para trabalhar o objeto ensinado com alunos, como o material didático, a lousa, o giz, filmes, entre outros; 2 – Regulação da aprendizagem: Ferramenta que o professor utiliza para acompanhar a compreensão e entendimento dos alunos com relação àquilo que foi apresentado do objeto. Provas, tarefas e observação do professor são exemplos; 3 – Memória Didática: A ideia é situar o aluno sobre o que foi ensinado e o que será, fazendo com que ele entenda em que ponto está em relação ao todo, ou seja, o professor retoma ou antecipa assunto para que o aluno tenha visão do processo como um todo e 4 – Institucionalização do conhecimento: Uma maneira de sintetizar o objeto já ensinado e de criar uma versão oficial do conteúdo, para evitar desigualdades na sala. Como exemplo, temos a revisão.
Referências bibliográficas
GOMES-SANTOS, S. N. O trabalho do professor e seus gestos didáticos. Na ponta do
lápis. São Paulo: Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, ano XII, no. 27, julho de 2016.
SCHNEUWLY, B. Le travail enseignant. In: SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J.(orgs.). Des
objets enseignés en classe de français – Le travail de l’enseignant sur la rédaction de texts argumentatifs et sur la subordonnée relative. Rennes, FR: Presses Universitaires de Rennes, 200, p. 29-43. Tradução Sandoval Nonato Gomes Santos. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2011 [Uso restrito].