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ERESPONDEREMOS A parabola da Copa do Mundo O Evangelho de Maria Madalena O Livro de Henoque e discos voadores Bilocagéo é possivel? “Executivos descobrem Jesus” (O GLOBO) Os Iluminados: Quem sé0? “O Deus, nao se esqueca que eu sou dizimista fiel” (‘bispo” Romualdo) “Os catdlicos sio pagaos?” “O perfil do padre” 6.000 esqueletos de recém-nascidos Biblia Sagrada na linguagem de hoje “A celebracdo da Eucaristia 6 agdo simbdlica” Participar da Eucaristia servindo ao Ministério de Musica PERGUNTE E RESPONDEREMOS Publicagdo Mensal Diretor Rosponsavel Estévéo Bettencour! OSB Autor e Redator de toda a matéria publicada neste periddica Administragio @ Distribuigio: Edigses Lumen Christi Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro Rua Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 601 Tel.: (OXX21) 2206-8283 e (OXX21) 2206-8327 Fax (OXX21) 2263-4420 Enderego para Correspondéncia: Ed. Lumen Christi Rua Dom Gerardo, 40 - sala 501 Centro CEP 20090-030 = Rio de Janeiro - RJ www.lumenchristl.com.br lumen.christi@osb.org.br JULHO 2006 N° 529 SUMAR A parabola da Copa do Mundo Escritos gnésticos: 0 de Marla Madalena Sensacionalismo: © Livro de Henoque o discos voadore: Que milagre? Bilocagao 6 possivol? Resposta ao ateu: “Executives descebrom Jesus” (0 GLOBO) .. Nos tempos modemos: Os lluminados: Quem si07... Nova religiosidade: 303 "@ Deus, nio se osqueca que ou sou dizimiste fiel” (“bispo” Romualdo)........... 309 Zelo polémico e inverdades: “Os catdlicos sia pagdos asi 312 Ficgao e realidade: “0 ‘perfil 324 Acusacéo pt 6.000 esquoletos de recém-nascidos 326 Biblia Sagrada na linguagem de hoje .... Simbolismo e Euceristia “A celebragao da Eu agao simbélica” Caso de conscién Buea Ista 6 Participar ja sarvindo 20 Ministério de Musica ai COMAPROVAGAO ECLESIASTICA NO PROXIMO NUMERO: “Viver para sempre”. - “Continuam a trair 0 Cristo”. - Maria Madalena nos Evangelhos e nos Apécrifos. - Ainda 0 Cédigo Da Vinci. - O Opus Dei se defende. — “E tudo fico” (revista GALILEU). - O Gnosticismo: Que €? - As Cruzadas: Luzes e sombras. — “Ora- gGes ndo ajudam cardiacos". — Pessoas religiosas tém vida mais longa. — “Erdtica - os sentidos na arte”. — O quinto mandamento da Igreja. - Quietismo: em que consiste? - Ainda os funerais de Jodo Paulo Il. PARA RENOVAGAO OU NOVAASSINATURA (12 NUMEROS) ... NUMEROAVULSO.. 0 . R$ 50,00, R$ 5,00. © pagamento podera ser a sua escolha: . Depdsito em qualquer agéncia do BANCO BRADESCO, agéncia 2579-8, CIC 840-0 em nome do Mosteiro de Sdo Bento/RJ, CNPJ 33.439.092/0001-60, enviando em seguida por carta, e-mail ou fax comprovante do depésito, para nosso controle. 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Ja nos tempos de Sao Paulo se verificava tal esforgo atlético em vista das Olimpiadas. Levando-o em conta, escrevia o Apostolo: “Os atletas se abstém de tudo; eles para ganhar uma coroa perecivel; nés, porém, para ganhar uma coroa imperecivel. Quanto a mim... pratico o pugilato nao como quem fere o ar, ao incerto. Trato duramente o meu corpo e 0 reduzo a servidao" (1Cor 9, 25-27). Ao considerar a conduta do atleta disciplinado, o cristéo se estimula a seguir com muito mais animo a sua vocacgao. Se o homem contemporaneo se entrega a ascese ou abstinéncia por motivos de satide, trabalho, peleja esportiva, vaidade,... quanto mais nao devera o discipulo de Cristo praticaro autocontrole, abstendo-se de tudo quanto seja incoerente com o chamado para o Prémio Eterno?! Seria vergonhoso, para um cristdo, ficar aquém da coragem dos artistas de novela e dos jogadores de futebol. Mas dira alguém: A coroa imperecivel é invisivel, ao passo que a pere- civel é visivel e, por isto, mais atraente. - Em resposta reconhecemos 0 que foi dito, mas acrescentamos-lhe um reparo: 0 Invisivel se faz perceptivel nado aos olhos humanos, mas a experiéncia de quem O procura sinceramente; 0 Deus oculto se torna manifesto aos seus fiéis, comunicando-Ihes desde ja um certo antegozo da vida eterna, de modo que a ascese — dever penoso — se converte em pratica espontanea, altamente compensada pela resposta divina. Importa muito, no caso, ter a fortaleza de dnimo para comegar ven- cendo as primeiras resisténcias; “Deus ama a quem da com alegria’, diz o Apéstolo (2Cor 9, 7). Magnanimidade ou grandeza de alma, ao invés de mesquinhez e pusilanimidade, é atitude indispensavel do bom cristao. Mais: se o Invisivel nao esta presente aos olhos fisicos, Ele se deixa atingir de outro modo, ainda mais valioso. Com efeito, escreve 0 mesmo Apostolo: “Trazemos um tesouro em vaso de argila" (2Cor 4, 7). O vaso de argila é nossa corporeidade fragil e mortal; nesse invdlucro vive Deus como. em seu templo, muitas vezes sem que o(a) dono(a) da argila tenha plena consciéncia disto; todavia quem se acostuma a dizer um Sim generoso a este Hospede interior, descobrira cada vez mais a sua gratificante presenca e gozaré das primicias da vida etema. Aparabola da Copa do Mundo me ensinou a nao ser menos corajoso @ aplicado do que os astros do esporte. EB. 289 PERGUNTE E RESPONDEREMOS Ano XLVII — N° 529 Julho de 2006 Escritos gnésticos: O EVANGELHO DE MARIA MADALENA Em sintese: As paginas seguintes reproduzem o chamado “Evan- getho de Maria Madalena’”; do qual sé existem fragmentos. O texto 6 muito significativo, pondo em relevo 0 dualismo gnéstico e o presumido retacio- namento de Maria Madalena com Jesus e os Apéstolos, refacionamento inspirado por tendéncias nao cristas. Existem duas categorias de apécrifos: os de origem crista, respei- tosos para com Jesus, e os de origem gnéstica. O gnosticismo foi uma corrente de pensamento dualista (a matéria seria ma, e 0 espirito bom); queria transmitir suas concepgées mediante escritos aparentemente bi- blicos, como seriam os Evangelhos. Na categoria dos apécrifos gnésticos encontra-se o Evangelho de Maria Madalena, que so nos foi conservado em fragmentos, O Pe. Lincoln Ramos preparou uma tradugdo portuguesa desses fragmentos acompa- nhada de notas explicativas*, que vai, a seguir, reproduzida apdés breve introdugdo na tematica. A importancia do apdcrifo esta no fato de que Maria Madalena esta muito em voga nos dias atuais sem que se tenha nocdo da origem espu- ria de quanto se diz a respeito dela. Introdugao O Evangelho de Maria Madalena chegou até nés em dois fragmen- tos: * Ver Fragmentos dos Evengelhos Apocritos, editados pelo Pe. Lincoln Ramos, Edi- tora Vozes, Petrépofis 2002 (7* edicéo) 212 pp. Ch. pp. 139-144. 290 © EVANGELHO DE MARIA MADALENA 3 - 0 primeiro fragmento esta redigido em lingua copta (idioma dos antigos egipcios) e se encontra em Berlim; — 0 outro fragmento é redigido em grego e deve datar do século Il, ao passo que 0 anterior é do século V. Acha-se na John Rylands Library de Manchester (Inglaterra). Eis os respectivos textos: 1. PAPIRO 8502 de BERLIM | PARTE 4. Depois de dizer isto,’ 0 Bem-aventurado? os saudou a todos, dizendo: “A paz? esteja convosco! Tende a minha paz! Ficai atentos para que ninguém vos iluda com palavras como estas: ‘Vede aqui!’ ou ‘Vede ali’! Na realidade, o filho do homem esté dentro de vos. Segui-o! Quem o procura® o encontra. 2, Ide, portanto, e pregai® o evangelho do reino. N4o acrescenteis nenhum preceito aquilo que vos ordenei; néo vos dei nenhuma outra lei, como um legislador, para que nao tenhais duvidas sobre 0 que vos ensi- nei”. Ditas estas patavras, retirou-se. 3. Eles ficaram tristes e choraram muito. Disseram: “Como pode- mos ir aos gentios’ e pregar-lhes o evangelho do reino do filho do ho- mem? Nunca foi anunciado entre eles. Devemos nés anuncia-lo?” 4. Levantou-se, entéo, Maria’, saudou a todos e disse-Ihes: “Nao choreis, irmaos, nao fiqueis tristes nem indecisos. A sua graga estara com todos vés e vos protegera. Louvemos antes a sua grandeza, por nos ter ensinado e nos ter enviado aos homens”. Falando deste modo, Maria os reanimou e eles comegaram a pre- parar-se para seguir as palavras do Salvador. ' Depois de dizer isto. Nao se conservou a parte inicial do papiro. Devia conter dou- trinas gnésticas atribuidas a Jesus. 2 Bem-aventurado. O nome de Jesus ndo aparece no texto. E substituido por “o Salvador” ou “o Bem-aventurado”. 3A paz, Cl. Jo 20, 19.21.26 + Ficai atentos... Vede aqui. Cf. Mt 24, 4.5.23; Mc 13, 5.6.21; Le 17, 21. 5 Quem o procura. Cf. Mt7, 7. ° Ide... pregai. Cf. Mt 28, 19. ? Aas gentios. Supunham que a salvacao fosse sé para os judeus. Tinham, portanto, dificuldade em compreender que a pregagao se estendesse a outros povos. © Maria. Maria Madalena. 291 4 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 i PARTE Aascensdo da alma presa na matéria e nas trevas para 0 reino da luz é detida por obstaculos (forgas), que sAo como que os fiscais da es- trada. 5. Disse a cobiga:® “Nao te vi? quando estavas la embaixo, agora te vejo, quando te diriges para o alto. Como te ocultaste, se tu me perten- ces?” Respondeu a alma: “Eu te vi, ao passo que nao me viste, nem me conheceste. Tu me serviste como uma veste, mas nao me reconheceste”. Dizendo isto, a alma se afastou alegre e exultante. 6. Aproximou-se a terceira poténcia que se chama ignorancia.” Per- guntou a alma: “Aonde vais? Estas presana maldade, mas estds presa’. Respondeu a alma: “Por que me vens julgar, ao passo que eu nao fiz qualquer julgamento? Estive presa, se bem que nao me considerasse presa. Nao fui reconhecida, mas reconheci que todas as coisas estao soltas, quer as terrestres, quer as celestes”. 7. Depois que deixou para tras a terceira poténcia, a alma elevou- se ao alto e viu a quarta poténcia. Tinha sete formas.'? A primeira é a obscuridade; a segunda, a cobica; a terceira, a ignorancia; a quarta, a co- mogao da morte; a quinta, o reino da carne; a sexta, a prudéncia insensata; € a sétima é a sabedoria irascivel. Estas sao as sete poténcias da ira. 8. Perguntaram & alma: “Donde vens, assassina’® dos homens? Para onde te diriges, vencedora dos espagos?”™ 9. A alma respondeu: “O que me prendia esta morto, o que me cer- cava foi afastado, minha cobiga esta aniquilada e minha ignorancia esta * Disse @ cobiga. A segunda parte expde doutrinas gnosticas sobre a natureza do homem e seu destino. A primeira forga ou poténcia é a obscuridade, como se vé no n° 7. As diversas poténcias pretendem reter a alma no caminho da luz. A alma, como centelha divina, se esquiva e se liberta do mundo material. "° Nao te vi. A cobiga argumenta que a alma pertence ao mundo e aqui deve perma- necer. A alma responde que a cobiga nao a conheceu, isto 6, ndo compreendeu sua natureza luminosa, ao passo que ela compreendeu a natureza material da cobiga. " Ignoréneia. A terceira forga argumenta que a alma, embora seja uma centelha divina, esta presa ao corpo. A alma responde que aquilo que é material se dissolve e, portanto, a forca material ndo tem poder sobre ela. * Sete formas. Pelo texto a quarta poténcia abrange as outras, que so apenas suas formas. Enuncia os nomes, mas néo esclarece o papel ou a natureza de cada uma. ” Assassina. Elevando-se, matou o homem terresire. “ Vencedora dos espagos. Porque conseguiu transpor os lugares ou espagos em que as poténcias tencionavam reté-la. 292 O EVANGELHO DE MARIA MADALENA = morta. De um mundo fui libertada por outro mundo; de uma imagem por outra imagem superior; da cadeia da incapacidade de conhecer aquilo cuja existéncia ¢ temporalmente limitada fui libertada pelo tempo no qual alcan- Garei em siléncio a quietude até o tempo do justo momento do eon”.'* 10. Dito isto, Maria calou-se. Até ai Ihe falara o Salvador. Mas André replicou e perguntou aos irmaos: “Que pensais de tudo o que ela disse? Eu, pelo menos, ndo creio que o Salvador tenha dito tais coisas. Esta doutrina é contraria aos seus ensinamentos”. 11. A propésito destas mesmas questées, também Pedro replicou, interrogando sobre a atitude do Salvador: “Porventura ele falou a uma mulher e em segredo, em vez de falar a nos e as claras? Devemos todos mudar de opinido e ouvi-la? Por acaso ele a preferiu a nos?” 12. Maria, chorando, disse a Pedro: “Pedro, meu irmao, em que pensas? Crés que isto é imaginagao minha ou que deturpei as palavras do Salvador?" 13. Levi disse a Pedro: “Tu és sempre impetuoso, 6 Pedro! Vejo que te voltas contra esta mulher, como se fosse inimiga. 14. Se 0 Salvador a julgou digna, quem és tu para despreza-la? E certo que o Salvador a conhece bem e que, por isso, a estimou mais do que a nos. Devemos antes envergonhar-nos, revestir-nos do homem per- feito, cumprir 0 que nos foi mandado e anunciar o evangelho sem tirar ou acrescentar qualquer outro mandamento, fora daquilo que nos disse 0 Salvador’.’* 15. Depois que Levi disse estas palavras, eles partiram para anun- ciar e pregar. Evangelho segundo Maria.'” |. FRAGMENTO P. RYLANDS Ill 463 1.... “0 restante do caminho, do momento justo, do tempo, do sécu- lo, do descanso em siléncio”. Depois de dizer isto, Maria? calou-se, como se 0 Salvador Ihe tives- se falado somente até ali. ** Eon. Na doutrina gnéstica os “eons” eram seres intermediarios entre Deus e a matéria, Em sentido geral, como aqui, pode designar a “duragéo da vida” ou a “eter- nidade’. “ André... Pedro... Maria... Levi. O autor apresenta (n° 10-14) as objegdes de André @ de Pedro. Maria responde entre lagrimas e Levi com veeméncia ” Evangelho segundo Maria. E 0 titulo da obra. Ver nota 5 a0 Papiro Rylands. ’ O resiante... em siféncio. Este final dos supostos ensinamentos de Jesus asseme- iha-se 4 conclusdo do que se encontra exposto na segunda parte do Papiro de Berlim. Deve representer clapas da vida, conforme o pensamento gndstico. ? Maria. Maria Madalena. No texto grego a forma é “Mariamme”. 293 6 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 5. Diz, entéo, André: “Irm&os, que vos parece do que foi dito? Eu, de minha parte, nao creio que o Salvador tenha dito estas coisas, pois parecem 10. n&o estar de acordo com seu pensamento”. Diz Pedro: “Sera que o Senhor, interrogado a respeito destas questées, iria falar a uma mulher ocultamente e ndo em puiblico para que 15, todos escutassemos? Por acaso quereria apresenta-la como mais digna do que ndés?"..... do Salvador? 20. Levi diz a Pedro: “Tens sempre, 6 Pedro, a célera a teu lado e, ainda agora, discutes com esta mulher, defrontando-te com ela. Se o Salvador a julgou digna, quem és tu para despreza-la? De qualquer modo, é certo que Ele Ihe dedicou afeigao, desde 25. que a viu. Envergonhemo-nos, pelo contrario e, revestidos do homem perfeito, cumpramos 0 que nos foi ordenado. Preguemos 0 30. evangelho sem restringir nem legislar*, mas exatamente como disse o Salvador", Depois de pronunciar estas palavras, Levi seguiu seu caminho e P6s-se a pregar. Evangelho segundo Maria.> CONCLUSAO Aleitura dos textos aqui transcritos evidencia que o intimo relacio- namento de Madalena com Jesus é os Apdstolos é de origem nao crista; nao corresponde as reminiscéncias que os cristdos tinham de Jesus, mas so derivados de premissas heterogéneas, de modo que néo podem ser tidos como noticias auténticas e fidedignas. 3. do Salvador. Hé uma facuna no texto grego. Pode ser preenchida com o que se Ié na verséo copta: ‘Maria, chorando, diz a Pedro: Pedro, meu irmao, em que pensas? Crés que tudo isto é imaginagao minha ou que delurpei as palavras do Salvador?" * Sem restringir nem fegistar. Sem suprimir nem acrescentar qualquer coisa. ° Evangelho segundo Maria. Desta expressao provém o titulo dado a estes fragmen- tos. Nao deve ser confundido com a lenda sobre o perfume de Maria Madalena, que se enconira no relato etiope de “Os Milagres de Jesus”. Santos Otero, seguindo Roberts, considera as palavras “o evangelho de Maria" como objeto direto e traduz: “pés-se a pregar o evangelho segundo Maria". E prefe- rivel, segundo Morali, considerar como titulo da obra. 294 Sensacionalismo: O LIVRO DE HENOQUE E DISCOS VOADORES Em sintese: Ha quem queira ver no apocrifo livro de Henoque ves- tigios de uma visita de extra-terrestres ao nosso planeta. Em conseqiién- cia vai, a seguir, explanado o que é propriamente o livro de Henoque. Alguns pesquisadores que admitem a existéncia de discos voado- res e seres inteligentes extra-terrestres, julgam poder encontrar no apocrifo livro de Henoque apoio para a sua tese. - Vamos, pois, apresentar o livro de Henoque e alguns de seus textos mais significativos. 41. 0 problema Eis como, via internet, chegou a PR a mensagem que sera, a se- guir, comentada: O tivro ve Enoque “O texto descoberto no século X pode ser o relato da visita de ex- traterrestres 4 Terra. Em seu livro, Enoch conta: ‘... recebi a visita de dois homens de grande cultura, como jamais havia visto na Terra. Seus rostos brilhavam como 0 Sol, seus olhos pareciam lampadas ardentes. O fogo era expeli- do por seus labios. Suas roupas pareciam plumas. Seus pés eram purpu- reos, seus ofhos brilhavam mais que a neve. Chamaram-me por meu nome...” Enoch visitou assim sete mundos diferentes do nosso. Viu neles criaturas aladas com cabeg¢as de crocodilo e pés de caudas de ledo. No sétimo mundo, encontrou pessoalmente o criador dos mundos que expli- cou a formacao da Terra e do Sistema Solar. Cientistas soviéticos especulam que talvez se trate do relato de uma visita extraterrestre. Enoch afirma que, para ele, a viagem durou poucos dias, mas, quando voltou para Terra, séculos haviam passado. Eoquea relatividade anuncia para uma viagem feita a velocidade da luz. Eo livro de Enoch, mesmo que n&o date do século X, mesmo que nao seja contempo- raneo da Biblia, foi publicado bem antes da descoberta da relatividade. Fontes: BERGIER, Jacques. Os Extraterrestres na Histéria. Editora Hemus, 1970. 295 8 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 Para avaliar corretamente a noticia atras, faz-se oportuno saber o que é propriamente o livro de Henoque. 2. Livro de Henoque: que 6? Além dos seus livros sagrados canGnicos, os judeus tinham a sua literatura apécrifa, literatura aparentemente inspirada por Deus, mas nao reconhecida pelos mestres em Israel. Essa bibliografia floresceu especi- almente nos Ultimos séculos antes de Cristo, quando nao havia Profeta em Israel; trata freqiientemente do juizo final e da sorte definitiva dos ho- mens em estilo fantasioso e com imagens apocalipticas. Sao livros uteis para se entender a mentalidade do povo israelita nos tempos de Cristo. Entre esses apécrifos esta o livro de Henoque, que deve datar do século || a.C. Vem a ser uma grande colet&nea de aparentes profecias e de exortagdes colocadas nos labios do patriarca Henoque. Em Gn 5, 18- 20 aparece Henoque, o sétimo apds Addo (como nota Jd 14); era muito considerado pelo povo judeu. Para explicar que ele tenha vivido menos que os demais Patriarcas (apenas 365 anos), diz 0 autor sagrado que ele desapareceu, pois Deus 0 arrebatou, frase esta que o texto grego dos LXX assim parafraseia: “Ele agradou a Deus e nao foi mais encontrado, porque Deus 0 levou para outro lugar’. Esta expressdo lacénica dos LXX deu ocasido a varias interpreta- gées: Henoque tera sido elevado aos céus, tera sido agraciado com im- portantes revelagdes que teve de comunicar aos homens. Em Eclo 44, 16 1é-se: “Henoque agradou ao Senhor e foi arrebatado, exemplo de con- verso para as geragées”. Henoque assim foi tido como modelo de fidelidade ao Senhor e como confidente ao qual Deus quis revelar seus segredos; donde 0 titulo: “Livro dos Segredos de Henoque”. O livro de Henoque compreende cinco coletaneas, cujo original foi provavelmente escrito em hebraico; este foi traduzido para o etiope; o livro faz parte do catalogo dos livros canénicos dos etiopes. Essa tradu- g4o etiope é geralmente tida como fidedigna. O texto apresenta Henoque transportado para diversos lugares, faz viagens de carro que Ihe parecem de pouca duragao, mas correspondem a séculos. Estas expressdes pertencem ao estilo apocaliptico e nao po- dem ser tomadas ao pé da letra. E gratuita a afirmagao de que o autor do livro se refere a discos voadores e extraterrestres. Estas idéias recentes estavam longe da mente dos antigos judeus. E aceitavel, aos olhos da raz&o e da fé, a hipdtese dos discos voadores pilotados por extraterres- tres, mas é anacr6nico querer descobrir essa hipdtese nos textos bibli- cos e apocrifos. 296 O LIVRO DE HENOQUE E DISCOS VOADORES a Para melhor evidenciar 0 que é 0 livro de Henoque, vamos, a se- guir, transcrever algumas de suas passagens mais significativas. 3. Textos seletos 3.1. VisGes de Henoque 1) As sete montanhas e a arvore maravilhosa “Miguel me disse: A alta montanha que tu vés e cujo topo é seme- Ihante ao trono de Senhor, é o seu trono. Sobre esse trono se sentara o Santo e o Grande Senhor da gléria, o Rei eterno, quando vier em visita & terra, para o bem, Essa planta odorifera, nenhuma criatura tem o poder de toca-la até o dia do Grande Julgamento, quando Deus ha de realizar a retribuigdo de tudo e dar a cada um a sua sorte eterna. Entao a arvore sera dada aos justos e aos humildes. Por meio dos seus frutos a vida sera comunicada aos eleitos. -A arvore entdo sera plantada em um lugar santo, por toda a morada do Senhor, o Rei eterno, os justos e os humildes gozarao de alegria e exultagdo! ... O perfume dessa arvore penetraré os ossos dos justos e humildes; viverao uma longa vida sobre a Terra, como a viveram os seus antepassados; em seus dias nao havera tristeza, sofrimento, tormento, castigo” (Livro |, cap. XXV). 2) A morada das almas dos mortos antes do Juizo Final “Fui levado a um outro lugar e 0 anjo me mostrou ao Ocidente uma grande e alta montanha assim como asperos rochedos. Havia ali quatro cavidades muito profundas e largas; trés delas eram muito escuras e uma era luminosa. No meio delas havia uma fonte de agua, e eu disse. Como sao profundas e tétricas essas cavernas! Entao Rafael, um dos sete anjos que estavam comigo, respondeu-me dizendo: 'Essas caver- nas foram feitas para que ai se reunam os espiritos das almas dos mor- tos... Ai ficarao até o Dia do Julgamento no tempo predefinido para elas’ Nesse momento elevei louvores ao Senhor da gloria e disse: ‘Bendito seja o meu Senhor, o Senhor da gloria, que reina pelos séculos!” 3.2. A cépula dos anjos com mulheres Quando os filhos dos homens se foram multiplicando, nasceram- ihes naqueles dias filhas belas e graciosas. Os anjos, filhos do céu, as viram e desejaram e disseram uns aos outros: “Vamos, escolhamos mu- Iheres descendentes dos homens e tenhamos filhos com elas!” (O anjo Semyana, responsével principal pela proposia, receava que nem todos os anjos executassem o projeto; ficaria ele ent&o acusado de 27 10 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 haver induzido seus semethantes a um grave pecado. Tendo comunica- do seu receio aos anjos, estes the responderam: Facgamos todos um jura- mento e pronunciemos a condenagao sobre todos os opositores. O jura- mento ocorreu como também a condenag¢ao). Entao os anjos (os vigias) desceram (eram duzentos) a Terra de Israel, no cume do monte Hermon, assim chamado porque ali haviam jurado e se tinham comprometido uns com os outros. Esses e todos os outros anjos que com eles se achavam, tomaram para si cada qual uma mulher de sua escolha e puseram-se a aproximar- se delas e com elas tiveram consorcio carnal; ensinaram-lhes as artes magicas, os encantamentos, a arte de corlar as raizes e a ciéncia das arvores. (As mulheres deram a luz gigantes, que devoram tudo e querem devorar também os homens). Comegaram a pecar contra os passaros, contra os animais, os rép- teis e os peixes; em suas refeigdes devoraram-lhes a carne e beberam- Ihes 0 sangue. Nesse momento a Terra protestou contra os violentos” (Livro |, capitulos VI e VII). Tal escrito esta subjacente aos dizeres de Gn 6, 1-4 na tradigao judaica, e de Jd 6; 2Pd 2, 11 na tradigao cristé (sem que jamais tenha sido proposto como artigo de fe). 3.3. Parabola de Henoque Eis uma das ditas “Parébolas de Henoque”. Tem por titulo: O sangue dos martires clama por retribuigao “Naqueles dias a oragdo e 0 sangue dos justos subiro da Terra até a presenga do Senhor dos espiritos. Naqueles dias os Santos que habitam no alto dos céus se unirdo em uma unica voz e suplicarao, pediro, glorificaraéo e bendiréo o nome do Senhor dos espiritos e em nome do sangue dos justos derramado,... a fim de que essa orag&o ndo seja indtil diante do Senhor dos espiritos, mas seja feita justiga aos martires sem demora". (Livro | cap. XLVII). Amesma idéia ocorre em Ap 6, 9-11: os martires no céu pedem a Deus que faca justi¢a sobre a Terra. 3.4. O Filho do Homem que fara justiga A expressao “Filho do Homem” (= Homem) é muito freqiiente na profecia de Ezequiel, significando simplesmente “homem”. Assume sig- 298 © LIVRO DE HENOQUE E DISCOS VOADORES Lh nificado messianico (= o Homem por exceléncia) em Dn 7, 9-14, e nos escritos de Henoque designa muito enfaticamente o Messias. Tenha-se em vista 0 seguinte texto: “Naquele momento o Filho do Homem foi chamado para ir ter junto ao Senhor dos espiritos e 0 seu nome foi pronunciado na presenga da Cabega dos Dias. Antes que o sol e as constelagées fossem criados, antes que as estrelas do céu existissem, 0 nome do Filho do homem foi pronunciado na presenga do Senhor dos espiritos. Ele seré como que um bastéo para os justos, a fim de que estes possam apoiar-se nele e ndo cair; ele sera a luz dos povos e a esperanga dos que sofrem em seus coragées. Todos aqueles que moram na Terra se prosirarao @ 0 adora- 140; bendiréo, glorificaréo e cantaréo hinos ao Senhor dos espiritos” (Li- vro de Henoque, Parébolas, capitulo XLVill). O texto n&o quer dizer que o Filho do Homem seja Deus (0 monoteismo de Israel ndo o permitia); mas atribui-Ihe predicados singu- lares, aos quais fazem eco os escritos de Isaias e do Novo Testamento. 4, Reflexdo final O apécrifo livro de Henoque é interessante nao porque aluda a discos voadores, mas porque constitui fecundo pano de fundo para se entender a evolugdo do pensamento judaico nas proximidades da era crist4. Em estilo cheio de imagens e repetig¢Ges aponta para certos tragos dos escritos do Novo Testamento. Testemunhos de Vida e Missao, pelo Missionario Sidinehwoster Veiga. - Ed. Redeel, Av. Casa Verde 455, Séo Paulo (SP) 02519-000, 128 pp. O autor do livro é um protestante convertido ao Catolicismo, que faz questao de se apresentar como “o pastor que aceitou Maria Santissima”. Narra as dificuldades que tem encontrado por parte dos ir- mos protestantes para exercer seu ministério de leigo missionario cato- lico e professa sue fidelidade plena a Cristo, ao Papa e & Santa Mae Igreja. E principaimente digna de nota a obra assistencial que fundow com o nome do PROJETO MARIA SANTISSIMA em Santa Isabel (PA). O livro vem a ser um valido informativo do trabalho evangelizador ocorrente no Brasil. 299 Que milagre? BILOCAGAO E POSSIVEL? Em sintese: A Filosofia ensina que a bilocacéo circunscritiva ou local e fisica é totalmente impossivel; seria a negagao da distingéo de SIM e NAO. No caso de Santo Antonio pode-se admitir outro tipo de mila- gre, ou seja, um fenémeno de retina; os irmaos terao visto 0 Santo a eles presente de maneira psicolégica ou mentalmente apenas. A historiografia atribui a Santo Anténio de Lisboa dois casos de bilocagao. Muitos leitores perguntam como tera sido possivel. A seguir, proporemos 0 relato do fendmeno, ao que se acrescentardo considera- ges filoséfico-teolégicas. 1. Falem os cronistas Eis os dois relatos que vém ao caso: “Entre os relatos extraordinarios da vida de Santo Anténio, existem referéncias a duas bilocagdes, ambas ocorridas no sul da Franca. A pri- meira foi registrada na noite de Quinta-feira Santa, quando ele pregava em uma igreja dedicada a Sdo Pedro. Na mesma hora, a comunidade dos irméos do convento onde frei Antonio residia celebrava um oficio religioso, no qual ele devia dirigir uma reflexéo & comunidade. Quando chegou o momento estabelecido, o santo se fez presente no meio dos irmaos e dirigiu-thes a palavra. Todos ficaram profundamen- te comovidos, porque sabiam que, naquele momento, frei Anténio estava na igreja de Sao Pedro. Segundo as biografias, enquanto dirigia as pala- vras aos irmdos, ele se manteve em siléncio diante do povo reunido na igreja de Séo Pedro. Ao término da reflexdo, ele desapareceu, deixando seus confrades aténitos. Algo semethante se deu em Montpellier. Na ocasiao, Santo Anténio pregava em uma festa solene, é qual estavam presentes diversos religio- sos e fiéis. Ao iniciar a homilia, ele se lembrou de que devia estar presen- te a celebragao comunitéria dos frades. Com efeito, era costume que, de acordo com a escala, os frades cantassem o Aleluia. Justamente naquele dia Santo Anténio fora designado para a tarefa. Enquanto lamentava o esquecimento, permaneceu em siléncio. Entéo abaixou a cabega e cobriu-a com o capuz. Nesse exato momento, 300 BILOCACAO E POSSIVEL? 13 efe apareceu no meio dos frades, cantando o Aleluia na celebragao conventual. Enquanto isso, em Montpellier, permaneceu silencioso perante o povo; em seguida, retomou 0 sermao interrompido, que concluiu de modo brilhante”. (Mensageiro de Santo Anténio, abril 2006, pp. 6s). 2. Que dizer? Proporemos trés observacgées: 2.1, Fatos historicos reais? Antes do mais, seria preciso averiguar se os dois relatos acima sao fidedignos ou tém fundamento real. Sabe-se que os antigos e os medie- vais se compraziam em ler faganhas portentosas atribuidas aos Santos. Acritica recente tem trazido a tona varios casos de fantasia elaboradora de relatos ficticios na Hagiografia. A averiguacao da historicidade dos relatos atrés narrados é de importancia fundamental. 2.2. Multilocagao fisica? A Filosofia ou a s4 razo ensina o seguinte: A multilocagao circunscritiva ou local é metafisicamente impossi. vel. Com outras palavras: um corpo nao pode estar, ao mesmo tempo, fisicamente presente em dois lugares diferentes. A raz&o disto 6 que nao se pode admitir que uma determinada superficie seja maior do que ela mesma; mas, no caso da multilocacao corporal, tal superficie deveria ser maior do que ela mesma, pois a localizagao circunscreve exatamente a superficie do corpo localizado; nada deste fica nao localizado. Para que estivesse simultaneamente localizado em outro ambiente, a Unica super- ficie externa desse corpo deveria ser dupla e nado tinica — o que 6 absur- do. A multilocagdo nao circunscritiva é possivel, pois ndo se faz por quantidade fisica, mas por aplicagdo de virtude ou de atividade. Assim Deus pode estar em toda parte, porque ndo ocupa lugar e exerce sua ago criadora e conservadora em relagdo a todos os demais seres. As- sim também 6é possivel a real presencga de Cristo em muitas héstias con- sagradas, pois Cristo se faz presente na Eucaristia pela substancia do seu corpo e do seu sangue, ficando intatos os acidentes do pao e do vinho; Cristo, por conseguinte, esta presente em todas as héstias consa- gradas mediante a quantidade e a localizagdo do pao e do vinho. Visto que a localizagao do pao e do vinho consagrados se multiplica, a presen- ga eucaristica de Cristo se multiplica, havendo entéo multilocagao nao circunscritiva. 301 14 PERGUNTE € RESPONDEREMOS 529/2006 2.3. Uma possivel explicagao Nao é necessario negar o milagre nos dois casos relatados. Deus pode ter interferido de tal modo que na retina dos frades respectivos se formau a imagem de Santo Anténio, imagem a qual atribuiram a locugdo mencionada pelo relator. - Sem divida, esta explicagao supde algo de muito extraordinario, mas é a unica plausivel para elucidar o fendmeno da “bilocagao” de Santo Anténio. — Dizendo isto, nao estamos cedendo ao racionalismo, pois admitimos milagres. Contudo a bilocagao, 0 circulo quadrado, © triangulo redondo, nao sao realidades milagrosas porque nem sdo realidades; sao conceitos contraditorios, que nao podem ter existéncia. Santo Anténio continua a ser um grande Santo mesmo sem o fené- meno da bilocagao. “JESUS CRISTO E AIGREJA SAO INSEPARAVEIS” (Bento XVI) O boletim “Mensage del Papa” de abril 2006 traz a seguinte noticia: O Santo Padre dissertou sobre o mistério da relacdo entre Jesus e a Igreja, que néo se opdem entre si; so inseparaveis, apesar dos peca- dos dos homens que compéem a Igreja. Portanto, explicou Sua Santida- de, "nao se pode conciliar com as intengdes de Cristo o chavao que, ha alguns anos, estava na moda: ‘Jesus, sim; a Igreja, nao”. O Pontifice meditou sobre o primeiro capitulo do Evangelho de Sao Marcos, que narra 0 chamado de Jesus aos doze Apéstolos. “A Igreja, disse, comegou a ser construida quando uns pescadores da Galiléia en- contraram Jesus e se deixaram conquistar por seu olhar, por sua voz, por seu convite candente e forte: ‘Vinde comigo, eu vos farei pescadores de homens”. Acrescentou: “O Jesus individualista é um Jesus de fantasia. Nao podemos encontrar Jesus sem a realidade que Ele criou e na qual Ele se comunica’, a Igreja. “Entre o Filho de Deus feito carne e sua Igreja existe uma continuidade profunda, inseparavel e misteriosa, em virtude da qual Cristo se faz presente hoje em meio ao seu povo”. Por este motivo “Jesus sempre € nosso contemporéneo, contemporaneo na Igreja construida sobre 0 fundamento dos Apéstolos”. “Esta presenca de Jesus na comuni- dade em que Ele mesmo sempre se da a nés, é 0 motivo da nossa ale- gria. Se Cristo esta entre nds, 0 Reino de Deus vem”, concluiu numa alocucao durante a qual, em varios momentos, deixou de lado os Papeis para melhor explicitar seu pensamento. 302 Em resposta ao ateu: “EXECUTIVOS DESCOBREM JESUS” (O GLOBO) Ojornal O GLOBO, edigao de 2 de abril pp., caderno BOA CHANCE, publicou uma reportagem, da qual vdo abaixo extraidos alguns tépicos relevantes para a figura de Jesus Cristo. Executivos bescosrem Jesus Quatro livros langados no pais dizem que exemplo de lideranga do fitho de Deus deve ser seguido nas empresas. Vendas superam expectativas. “Jesus virou moda entre os empresarios. Depois de 2006 anos de seu nascimento, o homem que mais influenciou a Humanidade é agora visto como exemplo de sucesso na administragao de recursos humanos e na obtengao de resultados pelas empresas. Em um més, foram langa- dos quatro livros que fazem a adaptagéo do tema para o mundo dos negocios. $6 ‘Como se tornar um lider servidor', do americano James C. Hunter — mesmo autor do best seller ‘O monge e 0 executivo’ —- vendeu cem mil exemplares em 20 dias. A reimpressdo de outros 60 mil ja foi encomendada. Um fenémeno, considerando-se que a Sextante, que edi- ta os livros dele no Brasil, faz tiragem média de trés mil copias das obras de ficgéo. Dez mil é investimento alto. O novo livro de Hunter trata da aplicagao do amor universal nas relagdes entre chefes e subordinados. Em entrevista a O GLOBO, o autor desconversa sobre a associa- ao direta com Jesus. Mas 0 capitulo 3 do livro (‘Sobre o desenvolvimen- to da autoridade’) trata s6 disso. Comega até com uma citagdo de Jesus, quando afirma que, ‘se vocé opta por liderar, deve servir’ (Mateus/Novo Testamento). ‘Jesus convenceu um tergo da humanidade’ Os outros livros sao ‘Jesus, o maior executivo que ja existiu’ (de Charles C. Mariz, langado pela Negocio Editora, brago da Campus/Elsevier e ‘Jesus, 0 maior psicdlogo que ja existiu’ (de Mark W. Baker). Além des- ses, foi relangado agora ‘Jesus, o maior lider que ja existiu’ (de Laurie Beth Jones), cujo titulo na edi¢gdo anterior era ‘Jesus, CEO’. Esses dois Ultimos séo da Sextante. 303 16 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 A raz&o da alusdo a figura divina é explicada na pagina 41 do livro de Hunter. Ele escreve: ‘Realmente. Hoje, um tergo da populagao do pla- neta, o equivalente a dois bilhdes de pessoas, identifica-se como cristao. QO islamismo, a segunda maior religido do mundo, tem a metade dos se- guidores do cristianismo'. E continua: ‘Até o general francés Napoleao Bonaparte se rendeu as evidéncias: ‘Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios, mas em que baseamos nossas criagées geniais? Na forga. Jesus Cristo fundou seu império baseado no amor e até hoje milhdes de pessoas morreriam por ele’. Hunter, que escreve sobre a habilidade de ser paciente, gentil, hu- milde, grandiloqiiente, respeitoso, altruista, honesto, compromissado e ainda perdoar (Corintios 1: 13), nao gosto de que suas idéias sejam clas- sificadas como tendéncia. (p. 1) Aautora Laurie Beth Jones afirma que os executivos de hoje tém de se apoiar no exemplo de Jesus, que ‘tinha uma equipe de 12 pessoas imperfeitas (os discipulos) e conseguiu coordena-las em prol de uma meta’. — Eles viraram o mundo do avesso. A questao que levanto é como esta pessoa andou pela Terra e fez de seus colegas gente tao motivada? Executivos estao procurando fazer isso com seus subordinados. Propo- nho que todos treinem a equipe do modo que Jesus fez. A produtividade ia aumentar, assim como a lealdade e a satisfagao no trabalho - disse Laurie a 0 GLOBO, por e-mail. Deus nao é subcampo dos negécios. Os negocios so subcampo de Deus.” (p. 3) COMENTANDO... Os autores dos depoimentos nao falam como pessoas religiosas, mas verificam o fato JESUS CRISTO, que “convenceu um tergo da hu- manidade’, ou seja, dois bilhdes de figis. A lideranga de Jesus Cristo dois mil anos apds sua morte é significativa para o observador, mesmo para quem no tem fé. Qual sera o mistério desse Jesus? — A resposta é dei- xada aos cuidados de cada leitor da histéria. NAO ESPERE A DOR PARA ACREDITAR NA ORAGAO... NAO ESPERE TER TEMPO PARA PODER SERVIR... NAO ESPERE A QUEDA PARA SE LEMBRAR DO CONSELHO... NAO ESPERE TER MUITO PARA COMPARTILHAR UM POUCO... NAO ESPERE SER AMADO PARA AMAR.. NAO ESPERE... PORQUE VOCE NAO SABE QUANTO TEMPO TEM. 304 Nos tempos modernos: OS ILUMINADOS: QUEM SAO? Em sintese: A Ordem dos fluminados da Baviera foi uma socieda- de secreta fundada por Johannes Adam Weishaupt (1748-1830) no ano de 1778 com o programa radical de destruir toda autoridade, inclusive a Igreja. Propagou-se rapidamente, mas dissolveu-se por desentendimen- to entre os dirigentes ainda em fins do século XVIII. Quanto aos misticos iluminados da Espanha dos séculos XVI/XVII nem sempre foram ortodo- ‘xOS. A palavra “iluminados” tanto pode sugerir uma sociedade secreta anticatélica do século XVIII como grupos de misticos espanhdis — os Alumbrados — do século XVI/XVII. A seguir, serao consideradas sucessi- vamente uma e outra entidade. 4. Os Iluminados da Baviera AOrdem dos Iluminados da Baviera foi fundada por Johannes Adam Weishaupt (1748-1830) no ano de 1778. O fundador foi aluno bolsista dos padres jesuitas e tornou-se pro- fessor de Direito Natural na Universidade de Ingolstadt (Baviera). Passou a conceber dédio por seus antigos educadores e benfeitores jesuitas, ao mesmo tempo que voltava sua atengao para as Sociedades secretas, que Ihe pareciam poderosas e influentes; todavia criticava a Magonaria por julga-la ainda insuficientemente atuante na sociedade. Em conse- qiiéncia resolveu fundar a sua Sociedade secreta, destinada a destruir toda autoridade, inclusive a Igreja, mediante o aperfeigoamento moral e politico dos seus membros. Por isto estes tomaram o nome de Perfectibiles (Aperfeigoaveis) e, posteriormente, o de Ordem dos Ilu- minados, decididos a esvaziar toda e qualquer autoridade desde a do pai de familia até a do Estado e a da Igreja. Os candidatos a essa socie- dade eram rigorosamente selecionados — tarefa esta que era facilitada pelo fato de ser Weishaupt professor universitario. Cada membro da Or- dem recebia um nome de guerra: Weishaupt, 0 de Spartanus; o seu principal discipulo, chamado Knigge, ficou sendo Philon. Weishaupt deu & Ordem uma estrutura de trés graus, cada qual com seu ritual préprio; os recrutas eram, a principio, muito convictos do programa que abracga- vam. Em 1777 Weishaupt pediu e obteve ser recebido na Maconaria; 305 18 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 tinha a intengdo de submeté-la aos seus ditames, tornando-a uma forma de Propedéutico para a Ordem dos Iluminados. No tocante 4 religiao, tencionava cultivar uma religiosidade natural, que suplantaria o Cristia- nismo. A Ordem propagou-se rapidamente pela Alemanha e a Holanda. Mas em breve se enfraqueceu por desentendimentos entre os seus diri- gentes. Autoridades civis e politicas, tomando consciéncia do programa da Ordem, puseram-se a combaté-la. Em 1785 Weishaupt foi deposto da sua catedra universitaria. Um dos seus discipulos chamado Lanz morreu na estrada fulminado por um raio; em seu bolso foram encontrados docu- mentos que comprometiam a Ordem no plano civil € politico. Outros do- cumentos comprometedores foram encontrados pela Policia em casa do bardo de Bassus e de outro discipulo. Weishaupt foi entao obrigado a deixar a Baviera € a Ordem entrou em franco declinio, acabando por desaparecer. No século XIX foram feitas tentativas para restaura-la, mas todas baldadas. A Ordem dos Iluminados foi formalmente dissolvida por decreto do Governador Carlos Teodoro da Baviera datado de 22 de junho de 1784. O Papa Pio VI reprovou a Ordem dos lluminados em duas cartas dirigidas ao Bispo de Freisingen respectivamente em 18 de junho e 20 de novem- bro de 1785. Foi preciso, porém, que ocorresse a Revolu¢ao Francesa em 1789 para que se extinguisse por completo a Ordem dos Iluminados. 2. Alumbrados (Iluminados Espanhois) Alumbrados é 0 nome dado ao movimento de falsa mistica espa- nhola nos séculos XVI e XVII. Tais misticos diziam-se especialmente ilu- minados pelo Espirito Santo; donde o respectivo nome, que aparece pela primeira vez em 1494 numa carta escrita pelo franciscano Anténio de Pastrono ao Cardeal Ximenes de Cisneros. A doutrina desses misticos ensina que o cristao, peregrino mesmo. na terra, pode chegar a visdo da esséncia de Deus, ou seja, pode ser elevado ao grau de perfeig¢éo maxima. Este, uma vez conquistado, ja- mais pode ser perdido. Cabe-ihe entdo dispensar-se dos meios de santificagéo em geral (sacramentos, pratica da caridade, sacrificios cor- porais). A mente do mistico mergulha no estado contemplativo, que une o orante a Deus, que o priva da propria liberdade e individualidade. Tal mistico é tido como impecavel. Paradoxalmente, muitos dos alumbrados, seguros de que no seriam acusados, se entregaram a um comporta- mento de orgias e graves abusos. Como se compreende, tais concepgdes foram rigidamente repro- vadas pela Inquisi¢éo, que, intervindo neste setor, preservou de graves 306 OS ILUMINADOS: QUEM SAO? 19 falhas a Mistica espanhola, presente em Santa Teresa de Avila, Sao Joao da Cruz, Santo Inacio de Loyola, $40 Pedro de Alcantara... Os Alumbrados contaram com a adeso nado sé de camadas da po- pulago simples, mas também de adeptos poderosos e de parte do clero. Aorigem de tais ideias esta na doutrina de certos misticos alemaes (Mestre Eckard, Mestre Tauler...) como também na Mistica muculmana, que atribui 4 contemplagao um papel quase exclusivo na santificagao do individuo, papel independente da ascese e do cumprimento dos deveres. Os que julgavam ter atingido o cume da vida espiritual, eram chamados “espirituais perfeitos ou abandonados (dejados)”. Eis alguns casos de fal- sa Mistica ocorrentes na Espanha e em Portugal dos séculos XVI/XVII €m Sevilha a Irma Catalina de Jesus, carmelita, declarava: “Che- guei a tal grau de perfeigao que ja nado rezo por mim, mas pelos outros”. Fazia a distribuigdo das reliquias de si mesma. Em 1627 0 Pe. De Villalpando, que a orientava, teve que proceder & abjuragéo de 279 pro- posiges heréticas; foi condenado a quatro anos de recluséo com proibi- a0 de pregar e ouvir confissdes. Em Cordova a Clarissa Ir. Madalena da Cruz confessou em 1546 que os seus pretensos estigmas eram falsos. Durante doze anos ela ha- via comido as ocultas para dar a entender que ela sé vivia do pao eucaristico. Fora eleita trés vezes abadessa de sua comunidade e duran- te 38 anos gozara de fama de santidade. Em Lisboa a dominicana Ir, Maria da Visitagdo foi durante muitos anos falsamente tida como estigmatizada e enganau 0 Veneravel Luis de Granada. £m Madri a Inquisigao condenou as Religiosas da Encarnagao de San Placido assim como 0 seu confessor. Em certos casos as suspeitas de heresia nado foram confirmadas pelo atento exame. Santo Inacio de Loyola foi submetido a um processo em Alcala no ano de 1526 e permaneceu encarcerado durante 42 dias. No ano seguin- te fol novamente detido em Salamanca e durante 22 dias teve os pés presos por ferros. Finalmente o livro dos Exercicios Espirituais foi reco- nhecido como isento de erros, € o Inquisidor Matias de Ocy teve que proclamar a inocéncia de Inacio. Nao obstante, em 1538 o Santo foi tido como suspeito de heresia em Veneza e em Roma. Em 1578 Santa Teresa de Avila foi acusada de Iluminismo, mas a Inquisigao recusou abrir um processo contra ela. Também foram acusa- dos $40 Jodo da Cruz e Sao José de Calasans. 307 20 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 SAo Francisco de Borja, terceiro Preposto Geral da Companhia de Jesus, escreveu 0 tratado das Obras do Cristao, que foi denunciado como livro do Iluminismo e posto no Indice de Livros Proibidos na Espanha em 1559 e 1583. Joao de Avila, cognominado “o Apdstolo da Andalusia”, ficou inter- nado durante varios dias num carcere de Sevilha. O ambiente do século XVI, tao marcado pela reviravolta protestan- te, fazia suspeitar de qualquer novidade mais saliente. A Mistica do lluminismo' protraiu-se nos séculos XVII/XVIII através do chamado “Quietismo”, de que trataremos em PR 530. (Continuagao da p. 327} ciou-se o Cardeal Polycarp Pengo, declarando: “Foi filho da Igreja e tera seu lugar no paraiso”. Seus restos mortais repousam em seu povoado natal, Butiama, perto do lago Vitéria. N&o cedeu a corrupgdo, t&o frequente nos ambientes politicos; pro- moveu a paz e a educagao entre os pobres, usando de regime um tanto autoritario, que foi discutido por economistas do mundo ocidental. Quan- do Nyerere renunciou ao poder, a Tanz4nia figurava entre os sete paises mais pobres do mundo. Como quer que seja, Malimu Julius Nyerere é considerado um dos “pais da patria” da Africa, dado o muito que fez em pro! da solidariedade das familias e dos compatriotas em geral; estimu- lou o modo de vida tradicional, baseado na cooperagdo comunitaria. O processo de Beatificagdo do Servo de Deus esta sob a diregado do Bispo da diocese de Musoma, sendo Postulador da Causa o Pe. Wojciech Koscieiniak. A honrada figura desse homem de Estado confir- ma 0 que outros ja demonstraram: nao ha incompatibilidade entre a poli- tica e a santidade de vida. Ser politico é fungdo de amor ao proximo, pois implica servic 4 populagdo, até mesmo com a rentincia aos interesses pessoais, se isto é exigido pelo bem comum. O processo teve inicio em Dar Assalaam, capital do pais, com a aprovacaéo da Congregagao para as Causas dos Santos datada de 13 de maio de 2005. Alias, ja esta concluido em nivel diocesano, devendo pas- sar para ulteriores instancias, na espera do sinal de Deus que é 0 mila- gre. ' A palavra “iluminismo" (Aufklarung em alemao) também designa a filosotia racionalista do século XVIll. Néo é neste sentido que a entendemos aqui, mas no decorrente que se diz especialmente inspiradas e iluminadas pelo Espirito Santo. 308 Nova religiosidade: “O, DEUS, NAO SE ESQUEGA QUE EU SOU DIZIMISTA FIEL” (Romualdo Panceiro) Em sintese: O artigo pée em foco um espécimen de nova religiosi- dade, que pretende comprar os favores de Deus. Na verdade, ninguém pode comprar de Deus, pois tudo o que a criatura possui the é dado pelo Criador; até a paga do dizimo é graga de Deus. Ver Sao Paulo, 1 Cor 4, 7. O jornal FOLHA UNIVERSAL da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), edigao de 19/3/06, publica um relato do “bispo” Romualdo Panceiro que merece reflexdo, pois é a expresso tipica de nova e estra- nha atitude religiosa. Eis o teor da crénica. “0, Deus! NAo SE ESQUEGA QUE EU SOU DIZIMISTA FIEL” TESTEMUNHO DO BIsPo RomuALDO Recentemente a Igreje Universal de Guayaquil, no Equador, rece- beu a visita do bispo Romualdo Panceiro, que esteve naquele pais para fazer reunides com o povo e os pastores. O bispo estava em um automo- vel conduzido pelo pastor Laurindo Pinheiro, responsavel pelo trabalho da IURD local. Ambos conversavam sobre a desenvoltura da obra de Deus quando, de repente, tocou o celular. O bispo atendeu e era o pastor Jailson de Oliveira com a seguinte noticia: ‘Bispo, eu e minha esposa estdvamos a naminho da reunido com 0 senhor e fomos abordados por um policial. S6 eu portava o passaporte, minha esposa o esqueceu em casa. O guarda néo quer considerar e estamos aqui detidos e ameagados de deportagao’, contou. Ao ouvir o relato do pastor, o bispo Romualdo respondeu apenas: ‘Ligue-me daqui a cinco minutos’, desligando em seguida. - ‘Imediatamente, como dizimista que sou, ergui 0 brago, em que uso a minha fita onde esta escrito: ‘O, Deus! Nao se esquega que eu sou dizimista fiel’, e me pus a reivindicar os meus direitos. Orei: ‘Meu Deus, envia um anjo la, agora, para resolver essa situagao, pois, como dizimista, eu exijo uma solugao. Amém’. Quando terminei a oragado, quase que ime- diatamente o pastor voltou a me ligar muito feliz e disse: ‘Bispo, aconte- ceu algo maravilhoso. Chegou aqui 0 superior do policia! que ..os abor- 309 22 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 dou. Ele é uma pessoa muito gentil, nos tratou bem, acolheu a nossa justificativa e nos liberou’, contou o pastor. Eu sei que, na verdade, isso foi a resposta de Deus ao meu clamor. Eu durmo com a minha fita de dizimista, tomo banho com ela e nao tiro para nada — concluiu o bispo Romualdo”. COMENTANDO... Proporemos seis observagées. 1. Antes do mais, pode-se perguntar se 0 relato em foco é fidedig- No ou merece crédito. E notério que os chefes da IURD recorrem, por vezes, a estérias e encenagées ficticias, teatrais para estimular a adesdo. do piblico. Dai ser licito interragar se o episédio apregoado é realmente histérico. 2. Considerando agora 0 contetido do relato, verifica-se que nao difere do caso do sécio de um clube ou de uma empresa que dissesse ao seu chefe: “Chefe, no esqueca que eu sou sécio e pago pontualmente a minha mensalidade! Assim tenho direitos adquiridos € exijo que sejam observados mediante uma imediata prestagdo de servicos!”. Na realida- de o dizimista da IURD julga ter direitos sobre Deus, direitos que ele reivindica e que Deus nao pode deixar sem atendimento. Ora tal concepgao é falsa. Deus nao pode ser coagido a tal ou tal intervengaéo; ninguém tem direitos sobre Deus, pois a propria paga dos dizimos €.dom do Senhor Deus. Diz Sao Paulo em 1Cor 4, 7. “Que 6 que possuis que nao tenhas recebido? E, se o recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se nao 0 livesses recebido?” Muito a propésito afirma S. Agostinho que é Deus que em nds co- toa seus dons. Como dito, o poder pagar o dizimo ja é dom gratuito de Deus. Ninguém se apodera de Deus. O sentido do dizimo nao é angariar favores de Deus, mas é a cola- boracdo do cristéo com a Igreja na obra de evangelizagao. 3. A verdadeira piedade nao julga que o valor da oragaéo depende do dinheiro que a acompanha, mas sim da fé e do amor do orante. A Oragao no pode pretender impor determinado comportamento a Deus, mas subordina seu pedido a vontade do Pai, como fazia Jesus no horto das Oliveiras: “Pai, se possivel, que o calice passe sem que eu 0 beba: faga-se, porém, a tua vontade e nao a minha” (Mt 26, 39). O cristéo nao é sécio de um clube ou de uma empresa, mas é& membro do Corpo de Cristo que é a Igreja. E este o fundamento de sua confianga no beneplacito do Pai. 310 “O DEUS, NAO SE ESQUEGA QUE EU SOU DIZIMISTA FIEL” 23 4. Afita de dizimista teria valor magico, profilatico, Deus precisaria vé-la dia e noite (até no banho) pendente do pescogo do seu cliente a fim de o atender melhor? Nao haveria ai uma forma de superstigado ou algo de nao cristéo? A IURD tem feito singular mistura de elementos cristéos com tragos religiosos afro-brasileiros. 5. O dizimo (a décima parte dos rendimentos) 6 frequentemente inculcado no Antigo Testamento. Tal pratica devia lembrar ao povo de Israel que o Senhor the havia dado a terra de Canad, separando-o dos outros poves; reconhecendo isto, os israelitas eram obrigados a evar a décima parte dos bens da terra ao Templo, onde o Senhor habitava. Era, pois, um dever ligado a um povo, uma geografia, uma nacao; ver Dt 14, 22s. Mais ainda: de trés em trés anos, 0 dizimo era dado aos pobres e aos levitas de Israel; ver Dt 14, 28-30; Nm 18, 21-32; Lv 27, 30-32. Eis ai outra razao circunstancial para explicar a obriga¢ao do dizimo: devia ser- vir aos pobres de Israel, a comegar pelos levitas, visto que a tribo de Levi, na partilha da terra de Cana, ficou sem porgao alguma para poder desincumbir-se mais livremente do culto do Senhor. Os levitas e os po- bres eram assim contemplados pela legislagao do dizimo. Os judeus que nado a observassem, desrespeitavam o designio de Deus e contribuiam para o mal-estar de seus semelhantes. E a luz destas verdades que se deve entender 0 texto de MI 3, 6- 12. Retornando do exilio babilénico, no século VI a.C., cada um dos re- patriados pensava téo somente em seus interesses ou em recuperar os bens que possuia antes do exilio, deixando assim de pagar o dizimo. N&o é um texto que possa ser aplicado aos cristéos como 0 era aos judeus; nao pode servir de ameaga ao nao pagante nem de marketing para angariar novos dizimistas. 6. Por ultimo, chama-nos a aten¢do a formulagado portuguesa da oragao em foco. Deveria ser: “Ndo se esquega de que sou dizimista fiel" ou “Nao esquega que sou dizimista fiel”. Blaise Pascal. Conversao e Apologética, por Henri Gouhier, Tra- dug&o de Ericka Marie Itokazu e Homero Santiago, Ed. Paulus e Discur- So Editorial, So Paulo 2006, 347 pp. Blaise Pascal 6 matematico e fildsofo francés do século XVII, que se envolveu na contenda jansenista, hostilizando especialmente os jesu- ftas, que os jansenistas tinham como laxistas. O autor apresenta textos de Pascal, que ele comenta, pondo em evidéncia o pensamento desse filésofo. A obra 6 para especialistas em Filosofia. 311 Zelo polémico e inverdades: “OS CATOLICOS SAO PAGAOS”? Em sintese: Uma apostila de pastor protestante injuria os caidli- cos na base de inverdades que tiram a autoridade do autor de fal escrito. Acusagées marcadas por contradigées n&o tém valor; antes depdem contra 0 acusador, com se vera a seguir. O pastor Joel Santana é professor de Teologia Sistematica, Histo- ria Eclesiastica e Heresiologia em varios Seminarios Teolégicos (Protes- tantes) no Rio de Janeiro. Publicou uma densa apostila (sem titulo) na qual em quinze capitulos profere as mais graves injurias contra o Catoli- cismo; no somente classifica os catélicos como pagaos, mas afirma que “a Igreja Catélica 6 um ninho de cobras, do qual saimos na Reforma Protestante do século XVI; mas as cobras continuaram lA e vém dando filhotes... Mantenha, pois, distancia. Nao se iluda pensando que estéo mudadas” (cap. 12, nao paginado). Para agredir, o autor recorre mesmo a inverdades, que revelam paixdo obsessiva e exagerado senso critico; falta-Ihe a serenidade indis- pensavel quando se quer fazer um trabalho cientifico merecedor da aten- ¢40 dos estudiosos. Como quer que seja, visto que o panfleto pode-se tornar pedra de tropego para muitos leitores, vamos, a seguir, analisar alguns poucos tragos que evidenciam que o pastor J. Santana nao tem conhecimento exato da realidade que ele julga e condena. 1. Sinopse Histérica No capitulo | (Histéria do Catolicismo) o autor apresenta o que cha- ma “Sinopse Histérica por ordem cronolégica”, sec¢ao que cataloga da- tas nas quais se foi deteriorando o Catolicismo, segundo parece ao autor (que, alias, ndo faz sendo transcrever o que muitos ja disseram com o mesmo desconhecimento de causa). Eis os topicos mais significativos da lista. I “Em 370 principia-se o uso de altares e velas. Por fim do século IV o culto dos Santos foi introduzido por Basilio de Cesaréia e Gregorio Nazianzeno. Também apareceu pela primeira vez o uso do incenso é€ turibulo na igreja por influéncia dos prosélitos vindos do paganismo”’ 32 “OS CATOLICOS SAO PAGAOS"? 25 Altar... Em resposta observamos que 0 uso do altar é biblico; por- tanto data do século I d.C., para nao dizer que vem do Antigo Testamen- to. Ver Hb 13, 10: “Temos um altar..." assim como Ap 6, 9: 8, 3. Culto dos Santos... Ja no Antigo Testamento a piedade judaica reconhecia a oragao dos justos no céu pelos irmdos peregrinos na terra: ef. 2Mc 15, 10-15. Ha uma comunhdo instituida pelo proprio Deus. entre os fiéis peregrinos e os consumados, comunhdo que a morte nao dissol- ve € que o Criador mantém, dando a saber aos justos no céu o teor de nossas preces. Velas... Basta lembrar a menorah ou o candelabro de sete bracos do Antigo Testamento para evidenciar que 0 uso de velas é herdado do povo judaico e ndo iniciado no século IV d.C. Incenso e turibulo... Ja eram do conhecimento dos cristéos do século |; ver Ap 8, 3s. Também sdo elementos provenientes do Antigo Testamento; cf. Ex 30, 1-3; SI 141, 2. I “Em 400 Paulino de Nola ordena que se reze pelos defuntos. Em 590 Gregorio o Grande origina o purgatorio”. Ha ai uma incoeréncia. Rezar pelos defuntos é rezar pelas almas do purgatorio de modo que ndo pode haver 0 hiato de 190 anos entre uma coisa e outra. Ademais Sao Paulino foi Bispo de Nola (Italia) a partir de 409 e nunca teve autoridade sobre a Igreja inteira; em 390 retirou-se para a solidao na Espanha e em 400 nem Bispo era. O purgatério ja era professado pelo povo de Deus do Antigo Testa- mento, conforme 2Mc 12, 38-45; ver também 1Cor 3, 10-15. “Em 609 0 cuilto & Virgem Maria é obra de Bonifacio 1V, e a invoca- ¢ao dos santos e anjos 6 posta como obrigagao e lei da Igreja’. € impressionante a “precisdo” das datas em que as coisas come- gam, segundo Santana; supde que tenham sido prescritas por decretos — © que é falso, Muitas praticas — liturgicas ou n&o — foram aparecendo espontaneamente ca ou la na Igreja e so aos poucos se tornaram prati- cas generalizadas, sem depender de alguma lei. E anacrénico imaginar datas exatas e decretos da autoridade eclesiastica em muitos casos. As- sim a devocao aos Santos no é preceituada por lei alguma. Quanto ao culto 4 Virgem Maria, é muito anterior a 649, pois ja no século Ill era praticado no Egito, como revela um papiro 14 encontrado 313 ple “alll C887 tod elaiBy ep sejuguiied seu 19] 10d Ojsod Joj OSUBoU) O GEZ WF, NA “Wepsooal seja anb sojues soe SBANE|91 OFS SEINbIje1 Sy ‘CUS OWJdSy Op soyUeUINASU| OWOD sepel -OU@A OBS Se ‘sepeJOpe OBS OBU ‘soJUeS Sop seinbI}es sz O}UeND, sopeayionig op jeuls un no ouace wn seuade ¢ ZmD y “WeWOY O18} SNeg eNb ‘opedyioniD 0 Sew ‘OYUS} OWOD ZNID e OBdSeIOPe Nade[Eqe}Se OBU OIINUCD O +,8o]ues sop seinbyjas sep a zruo ep 08d -Blope & epjoajaqe}se {0} B/B9IN ap O1J9U0D OpuNBas ou 497 WH, IA “Ud ap OBye opeyo ou OUeWUaWOD © EZ-1LZ ‘OZ OF “Jo ‘oyjaBueag oudoid ou webuo wa} sejnone ogssyuod e ‘selly “9]USUO Op SesoiBijoy SUePIC Se OBU a ‘OJUaWEJORS Op BloUeNbay e Wes -anowoud ‘nedouna ajueuquod ou Opuequa ‘sesapueL! sabuolW SE “sspoe ‘dd ‘L661 /0SE Yd O}lsodoud @ Je, “eoNgnd esa OBSesHes e a eYa19eS @19 sopeoad sop OgssjUCa @ soiNdes soled SON “OBSeYI9U0Dey ep ojUsweJORS Op eoeud e OyeNnb ebyue op} 9 JeIndINe OBSSYUOS Y ,81U80 op sesolByes suepio sejed iejnoune opssijucs & aS-BHO gg/ WI, A “OWSIUOIIeUR LUN SI@W ap a}UEIp WIISSe 2}S@ 10319] © ‘AL o1NDes OP (-“souejuouesoes ‘sougUo!de7) SOo!Buny] SOsAl] WA}SIXy “|EUEP!I9Q edoing gjed noyjedse es anb ‘o10e7 op onod op enBuyy e exe Wine] O Siod ‘g}sU9 ee ep sojnogs soslewud sou ef we| Wa eperqejso B18 essIW ¥ “OSHA JOd oBU a (729-259) OURIIENA OBS edey ojad epeusanob eo efei6) & 029 wd :8S-e]0U ‘s!ewW Op sajuy ,OEHA eded ojed ‘oAod 0 eved epow enBuy ‘essiut 2 je] wa as-eje} e edewoo O29 WF, A “(06 -a16 wa) ,"“"snag ap ee; ejueg ‘souei00e oBde}o/d BSSOA Vy, 08520 ep 9yWyjs-08} O GA as apuo ‘ssOgz “d ‘N0NZ/ZSP Ud J9 ‘eJUeWa]UEIeI 900Z/62S SOWSYSGNOdS3Y 3 FLNNOYSd 9% “OS CATOLICOS SAO PAGAOS"? 27 Pergunta-se: Joel Santana sabe onde esta essa lei? Ou ele fala sem saber 0 que diz? Na verdade tal lei nado existe. Alias, J. Santana afirmou, pouco atras, que o incenso foi introduzido no século IV; ver p. 312. vIn “Em 818 aparece pela primeira vez nos escritos de Pascasio Radberto a doutrina da transubstanciagao e a missa”. Estranho: pouco atras dizia J. Santana que se celebrava a Missa em latim no ano de 670. Parece té-lo esquecido, pois coloca o apareci- mento da Missa em 818. A transubstanciagao nada mais é do que a formula teologica que corresponde as palavras de Jesus na Ultima ceia: “Isto ¢ meu corpo... Isto é meu sangue”. A real presenca de Cristo na Eucaristia ndo comegou a ser professada no século IX, mas é documentada pelo proprio Evange- tho. “Transubstanciagdo" quer dizer que a realidade do pao e do vinho se converte na realidade do corpo e do sangue de Jesus. A nogdo de “Missa” como sacrificio de Cristo perpetuado através dos tempos depreende-se da Escritura mesma e da Tradigado, como se pode ver no Curso sobre os Sacramentos da Escola “Mater Ecclesiae". Pouco adiante se 1é: “Em 1200 0 Concilio do Latréo impée a transubstanciagao e a confissdo auricular”. $6 quem n&o conhece o assunto pode falar de “impor a transubstancia¢gao"; o que o Concilio (alias em 1215 nao em 1200) impés, foi a participagao dos fiéis na Comunhdo Eucaristica ao menos por oca- sido da Pascoa assim como a confissao sacramental uma vez por ano. ix “Em 998 é estabelecida a festa aos mortos, ‘dia de finados’ por Odilon. Em 1003 o Papa Jodo XVI aprova a festa das almas dos fiéis defuntos que Oditon criara primeiro”. E despropositado falar de “festa das almas dos fiéis defuntos”. Quem conhece o assunto, dira “Comemoragao de todos os fiéis defuntos”; nao para festeja-los, mas para os sufragar, é celebrada a S. Liturgia. Joel Santana vai percorrendo os séculos e aponta ca e la algum evento de histéria da Igreja que Ihe parece destoar do Evangelho. Ao fazé-lo, revela estar alheio aos temas abordados; repete como papagaio (queira desculpar) 0 que outros j4 repetiram, obcecados pelo ddio, que os impede de ler a historia com objetividade. O fato, porém, é que a apostila pode impressionar a quem a leia desprevenido. Dizia Voltaire: “Mintam, mintam, porque sempre ficara alguma coisa”. E necessario portanto di- 315 28 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 zer ao leitor que a apostila de Joel Santana é uma caricatura tendencio- $a, que nao pode ser tida como a verdadeira face da Igreja Catdlica. Ainda: em réplica poder-se-ia confeccionar uma “sinopse histérica” realmente histérica, em que se registrasse a data de origem de cada denominacgéo protestante. Essa lista encheria paginas e paginas e cons- tituiria verdadeiro motivo de vergonha para os irmdos protestantes, ver- gonha que os catdlicos ndo experimentam diante da lista apresentada por J. Santana; nao experimentam vergonha, mas dor, ... a dor de quem é mal entendido e caluniado por irm&os ~hcecados. Pode-se imaginar: Comunidade Luterana, C. Calvinista, C. Anghcana, C. Wesleyana, C. Edir Macedo, C. R. Soare: 2. A Mariologia Catélica J. Santana, entre outros pontos, ataca também a Mariologia Cato- lica. Faz um esbogo da mesma, que ele escamece. Eis o que diz: “Provamos neste capitulo que a Igreja Catélica prega que: 1) Jesus ndo é o Salvador, mas sim, Juiz; 2) O oficio de Jesus é julgar e punir, nado salvar; 3) © oficio de salvar o pecado pertence a Maria, nao a Cristo; 4) © coragdo de Maria é o caminho que nos conduz a Deus; 5) Maria é a Unica advogada dos pecadores; 6) Maria é a verdadeira mediadora entre Deus e os homens; 7) O pecador n&o deve recorrer a Cristo, mas, sim, a Maria; 8) Ninguém pode entrar no Céu sem passar pela porta que é Maria; 9) Maria morreu para nos salvar; 10) Maria ressuscitou dentre os mortos ao terceiro dia; 11) Maria esta no Céu em corpo e alma; 12) Maria é a Rainha do Universo; 13) Maria vai salvar a humanidade; 14) Jesus € 0 justo Juiz, e Maria, a advogada; 15)O Reinado da misericérdia pertence a Maria, e o Reinado da justiga pertence a Deus; 16) Maria 6 Mae de Deus; 17) Maria é Nossa Senhora; 18) Maria 6 a escada do Paraiso; 19) Quem nao é devoto de Maria esta perdido nas trevas; 20) Maria é digna de um culto especial, chamado Hiperdulia, isto é, super-culto; 21) Maria se manteve virgem por toda a sua vida; 22) Jesus € 0 unico filho de Maria; 23) As estatuas de Maria podem sangrar, chorar, sorrir, exalar fra- grancia e até falar; v6 “OS CATOLICOS SAO PAGAOS"? 29 24) Acasa na qual Maria vivia em Nazaré, foi transportada por an- jos para Loreto, Italia; 25) Maria é onividente; 26)Maria 6 toda poderosa junto a Deus; etc. Geralmente, os catdlicos carismaticos nao tém se demonstrado menos endeusadores de Maria do que os catdlicos tradicionais; pois nos livros e revistas desse movimento encontramos as seguintes heresias: 1) A morte veio por Eva, e a vida por Maria; 2) Maria é a Estrela da manha; 3) Maria 6 a porta do Céu; 4) Aleluia a Maria, etc. Como ja sabemos, ha, segundo 0 jornal O Globo, de 28/08/1998, um grupo formado por catélicos, pleiteando junto ao Vaticano que Maria seja reconhecida como a 4° (quarta) Pessoa da Divindade. A finalidade deste livro é a salvagéo de pessoas sinceras, poreém iludidas, vitimas do Catolicismo Romano”. QUE DIZER? Evidentemente 0 autor de tais dizeres apresenta uma imagem de- turpada. Vejamos 2.1, A auténtica Mariologia Catélica Existe um so Salvador e Mediador — Jesus Cristo ~, que por seu sangue derramado no Calvario realizou a Redengao do género humano. A salvagdo assim adquirida nao é imposta, mas oferecida a todos os homens; cada qual deve abrir-se para o dom de Deus, fazendo sua re- nuncia ao pecado e dizendo SIM a Cristo. Nessa tarefa é ajudado pela intercesso dos irmaos e, especialmente, pela da Mae Maria SSma. Esta, na qualidade de Mae do Redentor e dos homens, desenvolve um papel prdprio de advogada, sem porém acrescentar algo aos méritos de Cristo. Assim Jesus, unico Mediador, quer associar a si, para a salvacdo da hu- manidade, a mesma natureza humana que contribuiu para a perda do género humano. Maria ocupa o lugar de honra nessa obra. Ela nao nos salvou pela sua morte. Sabe-se que foi assumida aos céus. mas nao se pode dizer que ressuscitou ao terceiro dia. A sua funcdo de intercessora- medianeira é dom de Cristo. Este nada perde ao comunicar aos Santos uma participagao na obra salvifica da humanidade, como 0 professor que comunica sua sabedoria aos alunos nada perde e faz que se multipli- quem os sabios. Em sintese: Maria nao salva, mas recebe o dom de colaborar na salvagéo do género humano mediante suas preces muito valiosas, por- que preces de Mae. 317 30 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 2.2. A devogao a Maria Anoticia transmitida pela imprensa profana segundo a qual alguns grupos catdlicos desejam a proclamagao de Maria como a quarta Pes- soa da SSma. Trindade, esta mal formulada. O que alguns pleiteavam, era a definigaéo de Maria SSma. como Medianeira de todas as gragas — postulado este que foi posto de lado pelo Papa Joao Paulo II. Por mais incrivel que parega, a devo¢do a Maria brota do cristocentrismo da piedade crista. Com efeito; 0 ideal do cristao é confi- gurar-se a Cristo (cf. Rm 8, 29). Ora havia em Cristo dois sentimentos fundamentais: um olhar de amor ao Pai, de quem recebera na eternidade a sua natureza divina, e um olhar para Maria, de quem recebera a sua natureza humana sem o consércio do varao. Disto se segue que o confi- gurar-se a Cristo implica tambem dois olhares profundos do cristao: um olhar para o Pai do céu (a quem vamos mediante o Filho no Espirito Santo) e um olhar pra Maria, a Mae celestial do cristao. Assim entendida, a devocdo mariana torna-se conseqiiéncia natural do Batismo do cristo, nao ha como descarté-la, como se pode descartar a devogao a Santa Barbara ou a S&o Jerénimo. Quanto as aparigées marianas e os fenémenos anexos (sorriso ou pranto de imagens), s&o discutiveis, pois nao se impéem a fé. 3. O Perddo dos Pecados Muito veemente é 0 capitulo 5 da apostila intitulado “O falso perdao e 0 rentével purgatorio”. Em sintese diz o seguinte: “O perddo que Deus nos dé nao anula a nossa sentenga (condena- t6ria), mas tao somente diminui a nossa pena. Portanto para cada peca- do perdoado ha uma pena menor a ser cumprida. Se essa pena menor nao for cumprida aqui, sera cumprida apés a morte, no estado chamado purgatorio. Algreja Catélica néo prega o Evangetho, porque nao prega a tota- lidade e instantaneidade do perdéo. Nao prega o Evangetho, jé que este 6 a Boa-Nova de que Jesus pagou toda a nossa divida, sofrendo as con- seqtiéncias dos nossos pecados em nosso lugar’. QUE DIZER? J. Santana critica uma doutrina que os catélicos nao professam. Com efeito, ele imagina a Justiga Divina a semelhanga da justica hu na. Entre os homens, quando um juiz profere a absolvigéo de um réu, este pode ir-se tranqililamente, pois 0 caso esta encerrado; ele se vai absolvido, “perdoado”, mas portador das paixdes desregradas que 0 le- varam ao crime; esta inocente por fora, mas podre ou desordenado por 318 “OS CATOLICOS SAO PAGAOS”? 3 dentro. Ora os protestantes transferem essa realidade para o plano das relagdes do pecador com Deus: Jesus Cristo mereceu 0 perdao do Pai para todos os pecadores, de modo que, quando Deus absolve um peca- dor, nao ha mais que pensar no pecado absolvido. O cristao continua cheio de impulsos desregrados, mas Jesus 0 cobre com seu manto de santidade e o pecador assim recoberto entra na bem-aventuranga celes- te. Esta concepgao tem sua base na tese de Lutero segundo a qual 0 homem esta vendido ao pecado é nao pode livrar-se da desordem interi- or que the é congénita; por conseguinte no céu ha portadores de desor- dem interior que passam por justos porque acobertados por Cristo, que realiza a “justificagao forense ou meramente juridica": 0 pecador, como pecador crente, tem direito a ver Deus face-a-face porque “traja a capa de um justo”. Tal é a doutrina protestante, que conseqiientemente dis- pensa qualquer tentativa de erradicar o pecado seja nesta vida, seja no além (no purgatorio). Nao ha que pensar em purificar-se do que nao pode ser eliminado. Bem diversa é a doutrina catélica. O catdlico tem consciéncia de que, mesmo apés a absolvigao do pecado, Ihe ficam na alma as raizes do pecado ou a concupiscéncia desregrada. Ele é chamado a ver Deus face-a-face (cf. 1Jo 3, 1-3; 1Cor 13, 12), mas nao podera comparecer diante da face de Deus se trouxer consigo resquicios do pecado; dai a necessidade de purificagao apdés a absolvigdo. O perdao de Deus é ins- tantaneo e total; recai sobre a culpa, des-culpa totalmente, mas o amor desregrado da criatura continua inclinado a tornar ao pecado; fica a pro- pensdo a recair, propensao que deve ser erradicada pela ascese nesta vida ou por um reptidio radical no purgatério postumo. Anecessidade de tal purificagao é incutida pelo Apdstolo em varias passagens de suas cartas. “Nao sabeis que aqueles que correm no estadio, correm todos, mas um sé ganha o prémio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas se abstém de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecivel; nds, porém, para ganhar uma coroa imperecivel. Quanto a mim, é assim que corro, nao ao incerto, 6 assim que pratico o pugilato, nado como quem fere o ar. Trato duramente o meu corpo e o reduzo a servidao, a fim de que nao acontega que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser reprovado” (1Cor 9, 24-27). “Os que sao de Cristo Jesus, crucificaram a carne com suas pai- x6es e seus desejos” (Gi 5, 24). “O querer o bem esta ao meu aicance, ndo porém o pratica-lo. Com efeito, nao fago o bem que eu quero, mas pratico o mal que nado quero” (Rm 7, 19). 319 32 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 A purificagdo do coragao que 0 Apéstolo apregoa e que a igreja Catdlica proclama, nao é castigo, nao é multa devida ao pecado, mas é concessdo da misericérdia divina, que concede ao homem a ocasiao de sé preparar para a visdo de Deus face-a-face. O purgatério nao é puni- ¢&o graduada de acordo com a gravidade das faltas j4 absolvidas, mas é a antecémara do céu, em que espontaneamente a alma se livra dos res- quicios do pecado, repudiando-os cabalmente. A doutrina catélica, a di- ferenga da protestante, julga que tal purificagao 6 possivel por graga de Deus e que a criatura na visdo beatifica nao é um palhago revestido com o manto de um rei. Alias a doutrina do purgatério é patrimGnio do povo de Deus desde os tempos pré-cristéos; ver 2Mc 12, 38-45 e 1Cor 3, 10-15. 4. Conclusdo Em Ultima analise, a agressividade que J. Santana dirige contra a Igreja Catdlica, é dirigida contra Cristo, que tera negligenciado a sua lgreja, apesar da promessa de he assistir infalivelmente até o fim dos tempos (ver Mt 28, 18-20). Com efeito, Jesus fundou uma Igreja (“minha Igreja” em Mt 16, 18), que Ele confiou a Pedro e seus sucessores, prometendo- Ihes assisténcia até a consumagao da historia. Tera Jesus esquecido quanto prometeu? Tera falhado na preservagéo da sua obra, de modo que s6 no século XVI comegaram os cristaos a viver o auténtico Cristia- nismo? Quinze séculos decorreram no paganismo? — Quem ousaria acu- sar Jesus desta maneira? Seria blasfémia. Ele néo esqueceu a sua Igreja, mas permitiu que o inimigo nela disseminasse 0 joio sem detrimento para o trigo; este vai crescendo nor- malmente ao lado do joio. Quem procura o trigo de Deus, encontra-o na Igreja que Deus fundou e nao o vai buscar numa comunidade fundada por homens ditos “reformadores”, que se improvisam as centenas. A lgreja Catdlica é Santa Mae portadora de filhos sujeitos ao pecado, mas guarda incdlume o patriménio que Jesus Cristo Ihe legou. NAO ESPERE UM SORRISO PARA SER GENTIL; NAO ESPERE FICAR SOZINHO PARA RECONHECER O VALOR DE UM AMIGO; NAO ESPERE O MELHOR EMPREGO PARA COMEGAR A TRABALHAR; NAO ESPERE A MAGOA DO OUTRO PARA PEDIR PERDAO; NAO ESPERE... PORQUE VOCE NAO SABE QUANTO TEMPO TEM. 320 Ficgao x realidade: “O PERFIL DO PADRE” Em sintese: Ha quem procure enxovalhar a imagem do padre apon- tando um clero descrente cumprindo fungdes por interesse de status na sociedade ou de economia. - Bem diferente é a situagao dos padres no Brasil de acordo com uma investigacao objetiva e cientifica da realidade; é evidente que a grande maioria dos clérigos do Brasil vive fielmente a vocagao sacerdotal e esta devidamente integrada na Igreja. Acabamos de citar a apostila do pastor Joel Santana, que agride até mesmo caluniosamente a Igreja Catdlica, baseando-se em noticias falsas ou mal transmitidas. Mais um espécimen de quanto este autor nao merece crédito ¢ a seccao de sua apostila em que fala do clero. Propée auténtica ficgdo, destituida de todo fundamento, ... ficgao a qual se con- trapde um inquérito recente, do qual resulta a evidéncia de que o clero catélico esta intimamente identificado com sua vocagao. Aseguir, proporemos a imagem ficticia caluniosa e a imagem real dos padres no Brasil. 1. A ficgao tendenciosa Segundo Joe! Santana, ha quatro tipos de padre: 1°) Os que ja concluiram que o Catolicismo é falcatrua, mas néo 0 deixam, porque estao tirando proveito disso. Estes constituem a grande maioria, supomos nos. 2°) Os que ja concluiram em suas mentes que o Catolicismo é antibiblico e incoerente, e suspeitam da infalibilidade papal, mas também suspeitam da aulenticidade de suas conclusdes. Temem estar equivoca- dos e por isso preferem continuar submissos ao Vaticano. Preferem trair suas consciéncias a romperem com o Papa. Embora nao sejam a maio- ria, hé grande numero de padres assim. 3°) Os que créem piamente que a Igreja Catdlica é a unica Igreja de Cristo, que fora dela néo ha salvagao, que o protestantismo 6 herético, que o Papa é o sucessor do apéstolo Pedro, que portanto ele manda e nao pede, e que quem rejeitar o que o Papa prega iré para o inferno. Ha mithares de padres assim, porém s4o a minoria. Estes estdo dispostos a tudo. Eles realmente créem que obedecer ao Papa incondicionalmente é 321 34 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 o mesmo que obedecer a Deus. Eles créem no que pregam e estao dis- postos a tudo, tudo, tudo. Cuidado! Eles continuam tdo perigosos quanto os clérigos da famigerada “Santa Inquisicao”. 4°) Os que romperam com o Catolicismo, mas néo querem romper com a igreja Catdlica (isto é, sdo catélicos de direito, mas no o sdo de fato), por acreditarem que através do Evangelho auténtico que pregam podem levar outros catélicos 4 salvagdo em Cristo. Ha alé os que créem na possibilidade de conseguirem mudar a Igreja Catélica. Contudo, como bem dizia o ex-Padre Hipdlito Campos, “Roma sempre a mesma”, ou seja, essa “Igreja” 6 incorrigivel. O que os padres e leigos que descobrem a verdade, devem fazer, é abandonar essa “Igreja” 4s pressas. Como ja informamos, o ex-Padre Anibal também tentou mudar essa seita; porém, ap6s trés anos maihando em ferro frio, desistiu e se vinculou a uma igreja evangélica. Fagam o mesmo jé! Obedegam o que diz Apocalipse 18, 4: “..Sai dela povo meu...”. Fora dessa seita o argumento de vocés sera mais forte. Esta é a ficgdo. Vejamos agora a realidade. 2. A auténtica face da realidade Em 2005 foi publicado pela editora Loyola o resultado de uma pes- quisa realizada a propésito do clero no Brasil, aplicando-se os métodos mais recentes da investigagao cientifica. O trabalho foi organizado de maneira objetiva e destituida de preconceitos pela Dra. Katia Maria Cabral Medeiros, psicdloga, e pela Dra. Sonia Regina Alves Fernandes, socidlo- ga, sob 0 patrocinio do CERIS (Centro de Estatistica Religiosa e invest gagées Sociais), filiado 4 Conferéncia Nacional dos Bispos do Brasil. - Eis os principais dados assim colhidos: “Vivéncia e pratica religiosa A pesquisa procurou identificar os motivos que levaram os pesquisados a opgdo pela presbiterato e a sua avaliagdo atual dessa opgao, assim como mapear sua vivéncia e pratica religiosa a partir dos aspectos ligados a espiritualidade e a atuagdo pastoral. Opgao presbiteral Os padres foram solicitados a assinalar a principal motivagao que os levou & opgao sacerdotal, a partir de um rol de 13 opgées. A grande maioria assinalou a opgao “servico a Deus e aos irmaos” (58%). Todas as demais opgées tiveram indices abaixo de 10%, sendo a tinica com esse percentual a que aponta a “desordem ou a falta de estrutura familiar’. As opgées “amor aos pobres” e 0 “desejo de lutar contra as injustigas soci- ais” tiveram indices baixos, respectivamente 5% e 2%, o que demonstra que a “op¢ao preferencial pelos pobres", compromisso da Igreja concla- 322 “O PERFIL DO PADRE” 35 mado em Puebla (1979), ndo tem sido forga motriz para as vocacées. E interessante observar que duas op¢ées ndo foram escolhidas nem pelo clero diocesano nem pelo religioso, ou seja, “o desejo de viver uma vida santa” e a “possibilidade de ampliar seus conhecimentos”. Quase a totalidade do clero (94%) ao avaliar a propria op¢do, con- firmaria sua op¢ao presbiteral. O desejo de mudanga de op¢ao foi sinali- zado por 4% do clero diocesano, que optaria pelo servico a |greja como leigo (2%), ou como diacono (1%) ou, ainda, pelo casamento (1%); entre 0 clero religioso todas essas op¢ées receberam indicagéo de 1% do seu contingente, em cada uma delas. Espiritualidade Um trago caracteristico na opgao pela vida religiosa 6 0 compro- misso com a vivéncia da espiritualidade que deve servir de fundamento para a agdo evangelizadora. Nas Ultimas décadas, com o aumento populacional e o crescimento dos desafios pastorais, o ativismo e@ a so- brecarga de compromissos na vida dos sacerdotes muitas vezes tém sido apontados como obstaculos ao cultivo da espiritualidade. Aespiritualidade tem sido considerada como forga motriz para 57% do clero, sendo que 34% apontaram a necessidade de ser mais bem cultivada. Entre o clero diocesano e o religioso encontramos indices di- ferenciados quanto a avaliago da vivéncia da espiritualidade: os dados expressam que, enquanto 40% do clero diocesano acredita que a espiritualidade precisa de ser mais bem cultivada, a proporgdo dos que concordam com essa afirmagao cai para 27% entre os religiosos. A con- sideragao da espiritualidade como forga motriz é mais indicada entre os religiosos (67%) do que entre os diocesanos (52%). As celebragdes eucaristicas sao consideradas como um dos prin- cipais valores que animam a vida espiritual dos padres (67%). Outros valores que os padres consideram importantes sAo as atividades que exercem em seu ministéric (56%), assim como o ideal que os motivou para o ingresso no sacerdécio (46%). As oragées, meditagées e leituras individuais so assinaladas por 40%. Os trés primeiros valores que animam a vida espiritual dos sacer- dotes apontados acima so percentualmente semelhantes tanto no clero diocesano quanto no religioso. As diferengas de valoragao se encontram no que diz respeito as oragées, meditagées e leituras individuais que servem como impulso para a vida espiritual dos religiosos (51%) mais do que aos diocesanos (34%); as amizades dentro da comunidade paroqui- al sAo mais apontadas pelo clero diocesano (22%) do que pelo religioso ‘ Clero religioso é 0 que vive sob uma Regra conventual. 323 36. PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 (14%) assim como o relacionamento com o clero (diocesano, 16%, religi- oso, 4%). Ja a luta por justi¢a e igualdade social recebe uma valorizagéo percentuaimente semelhante entre os dois cleros (diocesanos e religio- sos, 25% e 22% respectivamente). Segundo Lorscheider o presbitero deve ser um “homem de oracao: interiorizar a Palavra de Deus dentro do contexto em que vive e exerce 0 seu ministério". De acordo com a pesquisa, a pratica da oracdo é vivenciada por 96% do clero, sendo que 2% dos padres diocesanos nao @ possuem e, entre os religiosos, 1%. As condicées que se tornam mais favoraveis para a pratica da oragao, segundo os presbiteros, sao as cele- bragédes eucaristicas (74% entre os diocesanos e 72% entre os religio- sos), a Liturgia das Horas (51% entre os diocesanos e 46% entre os reli- giosos), € os momentos comunitarios (37% entre os diocesanos e 41% entre os religiosos). Avivéncia diaria da espiritualidade entre os padres esta marcada principalmente pela missa (87%), Liturgia das Horas (64%), meditagdo (48%), leitura de cultivo espiritual (44%), oragdo do tergo (42%) e leitura orante da Palavra de Deus (41%). Atuagao pastoral Dos padres informantes, 70% estéo atuando em pastorais diver- sas, 22% esto envolvidos em atividades administrativas, 14% na prega- Gao ou diregdo espiritual e/ou em atividades missionarias e 13% em for- magao de seminaristas. A presenga dos padres nos movimentos sociais & muito pequena (8%), assim como s4o poucos os que trabalham como assessores (8%) e/ou estéo atuando como professores de colégios e universidades (7%) e/ou na pesquisa teolégica (4%). Encontramos maior presenga dos diocesanos nas atividades pas- torais (76%) do que da parte dos religiosos (60%); em atividades admi- nistrativas, sao 25% os diocesanos, enquanto a participagao dos religio- sos 6 de 17%; por outro lado, nas atividades missionarias os religiosos estao em maior ntimero (21%) do que os diocesanos (11%). Apenas no ambito eclesial Dos padres informantes, 66% tém como maior atividade no campo eclesial a atuagdo paroquial e aproximadamente 15% indicaram que atu- am em diversas atividades eclesiais de maneira igualitaria. Poucos sao os que atuam em CEBs (5%) e em outros movimentos (1%). A maioria dos padres diocesanos tem na paréquia sua atividade principal (71%), 11% deles atuam em varias atividades eclesiais de ma- neira igualitaria, e nao houve meng&o de atuagao no Movimento de Re- 324 “O PERFIL DO PADRE” 37 novagaéo Carismatica e/ou Conferéncia dos Religiosos do Brasil/Comis s&o Nacional do Clero. Entre os religiosos, 58% atuam em pardquia, sen- do que 22% informaram que trabalham em diversas atividades, tais como. movimentos, organismos diocesanos, arquidiocesano e regionais de ma- neira igualitaria, Vivéncia sacerdotal Realizagao pessoal ndo é algo que possa ser medido por nimeros @ indices. Entretanto, foi solicitado aos presbiteros que dessem uma nota para sua realizagao pessoal no sacerddcio a fim de servir como termé- metro & sua vivéncia pessoal da opgao presbiteral. A nota média dada pelo clero foi 8,2, sinalizando uma boa avaliagdo da vivéncia pessoal dos presbiteros, ainda que nao seja plena. Avaliando a motivagdo, a dedicagdo e o entusiasmo no ministério, 60% do clero sente-se motivado, 32% muito motivado e 5% pouco moti- vado. As opiniées sao semelhantes tanto para o clero religioso quanto para o diocesano” (pp. 22-25). 3. Concluséo Apos considerar o procedimento de J. Santana, que ataca na base de preconceitos e inverdades, pergunta-se: que autoridade tem ele para acusar a Igreja Catélica? E assim que se prega o Evangelho de Cristo, “o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6)? Seria necessario que Santana investigasse a veracidade das acusagées que ele formula, para evitar fazer o papel de papagaio, que repete cegamente o que dizem os igno- rantes. A “evangelizagao” na base da mentira nao é obra de Cristo, mas de Satanas, que é 0 pai da mentira (Jo 8, 44). A proibicdo de se fabricar idolos, pelo Pe. Cleodon Amaral de Lima. - Editora Rideel, Sao Paulo, 2006, 157 pp. O autor apresenta um estudo exaustivo de Ex 20, 1-6 e Dt 5, 5-10, @ conclui: “Levando-se em conta as nomenciaturas e seus significados, vemos que o decélogo proibe a confecgao de idolos: toda imagem que contenha um espirito e tenha poderes semelhantes aos de lahweh nao é mera imagem, mas um fdolo. O Antigo Testamento néo condena uma simples imagem, mas é extremamente contraério 4 confecgao de fdolos” (p. 144). Portanto ha que se distinguir entre imagem e idolo: este 6 proibido, ao passo que aquela é permitida. - O livro veio preencher uma grave facuna, e o fez satisfatoriamente. 326 Acusacao preconceituosa: 6.000 ESQUELETOS DE RECEM-NASCIDOS Em sintese: Verifica-se mais uma vez a falsidade de acusagées protestantes levantadas contra a Igreja Catélica. O mesmo pretenso episd- dio escandaloso é narrado de duas maneiras que néo combinam entre si. Num panfleto protestante lé-se o seguinte: “O papa Greg6rio VIH (1187) ordenou que se esvaziasse um gran- de aquario num convento de monjas em Roma. Foram ali enconirados aproximadamente seis mil esqueletos de recém-nascidos. Diante desse horror, o Papa Gregorio Vill aboliu o celibato, mas seus sucessores 0 reinstituiram”. Quem [é esta noticia, talvez fique impressionado por quanto ela tem de escandaloso. Todavia é de notar que o mesmo episédio é narrado em outra fonte protestante com dados que n&o se compatibilizam com o relato acima. Essa incoeréncia dos relatos é sinal de que a noticia é dis- cutivel ou mesmo falsa, Com efeito, numa crénica do comportamento de Lutero frente a Igreja Catdlica lé-se 0 seguinte: “Lutero ao final de 1520 fez uso de uma not6ria fabula atribuida ao bispo Ulrich de Augsburg publicando-a (a fabula) em Wiltemberg com seu prefacio. Essa publicagao pretendia ser uma efetiva arma contra o celibato dos padres e dos Religiosos. Nessa carta o santo bispo é repre- sentado narrando como cerca de 3000 (de acordo com outros, 6.000) cabegas de criangas foram descobertas num reservatério de agua do convento de freiras de Sdo Gregorio em Roma... Jéréme Emser desafiou Lutero a publicar essa questionavel carta, e ele respondeu que nao con- * fiava muito nela (Sic!). Todavia, gragas ao seu patrocinio, a fabula pode continuar sua destruidora carreira e foi zelosamente explorada’. A propésito notem-se as diferengas. Gregorio VIII governou a Igre- ja em 1187 durante 57 dias. A outra versdo coloca o pretenso episddio no século anterior, pois Ulrico de Augsburgo morreu em 973. Mais de cem anos separaram assim as duas versdes - o que evidencia a falta de fun- damento para o episddio. Além disto, os narradores da “fabula” néo sabiam exatamente o que fazer com o nome “Gregorio”. Uma versdo designa um Papa que 326 6,000 ESQUELETOS DE RECEM-NASCIDOS, 39 durou 57 dias, e outra versdo designa um convento de monjas, que nun- ca existiu, pois o mosteiro onde o abade Gregorio Magno viveu no monte Célio, é de monges e nao de monjas. Num pontificado de 57 dias pode ter acontecido tudo o que a créni- ca the atribui? Afinal foram encontradas, segundo as vers6es citadas, 3.000 ou 6.000 esqueletos (ou cabegas apenas?) de recém-nascidos? Lutero mesmo duvidava da realidade histérica do episédio em foco. Este é um espécimen, entre outros, de quanto sao frageis ou mes- mo inconsistentes muitos dos ataques protestantes contra a Igreja Caté- lica. Quem sai perdendo nesses ataques € 0 atacante, pois revela paixéo e ddio mais do que amor a Verdade. O tiro sai pela culatra! NA TANZANIA: UM POLITICO SANTO A Tanzania é um dos paises mais pobres do mundo. Resulta da fusdo dos povos de Tanganika e Zanzibar. A sua economia depende, em grande parte, da agricultura, que Ihe proporciona 58% do produto interno bruto (PIB); sustenta 85% das exportagées e da trabalho a 90% da mao de obra. A Unido Nacional de Tanganika (TANU) era dirigida por Julius Neyerere. Em 1964, quando se deu a fusao, originando a Tanzania, Nyerere tornou-se o primeiro Presidente da nova nagao, que ele gover- nou até 1995, estimulando a solidariedade dos seus compatriotas entre si. Uma das expressdes mais significativas de seu carater é a seguinte frase: “Desejaria acender uma vela e coloca-ia no topo do monte Kilimanjaro, para que iluminasse até mais além de nossas fronteiras, dando esperanca aos que est&o desesperangados, pondo amor onde ha édio e dignidade onde hé humithagéo”. Renunciou voluntariamente as suas fungdes politicas em 1995 e veio a falecer em 1999. Apés a sua morte em Londres, registraram-se diversas manifesta- Ges de homenagem ao falecido. Os seus funerais foram celebrados em Dar Assalaan, com a participagado de quatorze chefes de Estado e seten- ta representantes de alto nivel de outros paises. Em sua homilia pronun- (Continua na p. 308) 327 Ainda uma vez: BIBLIA SAGRADA Nova Tradugdo na Linguagem de Hoje Em sintese: O Pe. Ney Brasil Pereira, Mestre em Ciéncias Biblicas, apresenta sabia recensao da nova tradu¢éo da Biblia, menos severa do que aquela publicada em PR 523/2006, pp. 7-14. A Nova Tradugdo da Biblia na Linguagem de Hoje, j4 comentada em PR 523/2006, pp. 7-14, 6 apreciada pelo Pe. Ney Brasil Pereira, Mes- tre em Ciéncias Biblicas e Professor do Instituto de Teologia do Estado de Santa Catarina, a quem a Redagao de PR agradece cordialmente a colaboragao. O autor destas paginas é menos severo do que PR no caso em foco. Eis 0 seu texto: BIBLIA SAGRADA Nova Tradugao na Linguagem de Hoje S4o Paulo, Edigées Paulinas, 2005, 21cm x 13,5, 1472 p. Mais uma edic&o da Biblia aqui no Brasil. A novidade esta no sub- titulo, “Nova Tradugdo na Linguagem de Hoje” (NTLH), e também no fato de que a edigao é na realidade uma co-edi¢ao, de alcance ecuménico, de Edicgdes Paulinas, catdlica, com a Sociedade Biblica do Brasil, SBB, protestante. Os tradutores nao sao identificados nominalmente. Mas se informa que os Direitos Autorais, quanto aos “Textos canénicos do Antigo e do Novo Testamento, com as Introdugées, Notas e Auxilios ao Leitor’, s4o da SBB, desde 2000, cedidos em 2005, com Direitos Reservados, para Paulinas Editora. Informa-se também que os Direitos dos “Textos deuterocanénicos (Tobias, Judite, Adigdes a Ester, 1 e 2 Macabeus, Sa- bedoria, Eclesiastico, Baruque e Adigées a Daniel”, com as “!ntrodugdes e Notas”, sao das Sociedades Biblicas Unidas, SBU, desde 2003, cedi- dos em 2005, com Direitos Reservados, para Paulinas Editora. Aedigao conta com a Apresentacao de Dom Eugénio Rixen, Presi- dente da Comissao Episcopal Pastoral para a Administragao biblico- catequética, o qual, em data de 10-12-2004, assim conclui as suas pala- vras: “Ao recomendar esta edigdo aos fiéis catdlicos, desejamos que as Sagradas Escrituras sejam fonte de vida, de comunhao entre os cristéos, alimentem nossa vida de oragao e favoregam o dialogo entre as Igrejas 328 BIBLIA SAGRADA at cristas. Parabenizamos a Paulinas Editora pela publicagao da “Biblia Sagrada — Nova Tradugdo na Linguagem de Hoje”. Apreciamos 0 esfor¢o de traduzir a Sagrada Escritura em linguagem atual, acessivel ao leitor contemporaneo e a sua cultura”. No Prefacio, nao assinado, em data de janeiro de 2005, resume-se a historia da Nova Tradugado na Linguagem de Hoje. Recorda-se que o empreendimento comegou em 1973, com o langamento do Novo Testa- mento em Traducdo na Linguagem de Hoje (TLH). Quinze anos depois, em 1988, era langada toda a Biblia na Linguagem de Hoje (BLH), sem os deuterocanénicos. Doze anos depois, em 2000, apds cuidadosa revisao, foi langada a Nova Tradugao na Linguagem de Hoje, (NTLH), ainda sem os deuterocanénicos, embora também eles tivessem sido traduzidos. Como lembra o prefaciador, “os principios seguidos na NTLH, como ja na TLH, so os principios de tradugdo de ‘equivaléncia funcional’, em que se reproduz o sentido dos textos originais hebraico, aramaico e gre- go, expressando-o de maneira simples e natural, como fala a maioria da populagao”. O prefaciador apresenta também os recursos desta edigdo: 1) In- trodugao para cada livro, com dados relevantes sobre o seu autor e o contexto histérico em que surgiu, bem como a sua mensagem central; 2) Esquema do contetido, destacando os principais assuntos e divisées de cada livro; 3) Referéncias paralelas, no rodapé, possibilitando ao leitor a consulta de outras passagens biblicas relacionadas ao assunto; 4) Notas explicativas, no rodapé, com variantes textuais e tradugées alternativas; 5) Vocabulario, com esclarecimento de termos importantes; 6) Mapas, permitindo que o leitor situe geograficamente os acontecimentos narra- dos nas paginas da Biblia. Quanto aos deuterocandnicos, o prefaciador informa que, de 2002 a 2003, houve a colaboracao de peritos catdlicos, designados pela CNBB, para a sua revisdo, sendo os demais livros biblicos “igualmente aprecia- dos pela CNBB”. A recomendagao para o uso da NTLH foi oficializada em 25-3-2003 por Dom Francisco Javier Hernandes Amedo, entao Bispo responsavel pela dimensdo biblico-catequética da CNBB. Sao suas es- tas palavras: “Esta tradu¢ao, além de manter uma fidelidade irrestrita aos textos originais, representa um significativo esforgo por adequar-se a cultura e linguagem do homem contemporaneo, facilitando aos fiéis a compreen- s&o dos contetidos da Revelagéo de Deus e permitindo-thes maior fami- liaridade com a sua Palavra (cf. Dei Verbum, 25). Ao recomendar esta edigdo aos fiéis catdlicos de lingua portuguesa, no Brasil e na Africa, expressamos nosso singelo desejo de que as Sagradas Escrituras sejam 329 42 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 nao so fonie perene de espiritualidade para todos os cristéos, mas, tam- bém, um lugar privitegiado de encontro e dialogo entre as Igrejas cristas. E a Palavra de Deus que nos pode dar a todos a Sabedoria que leva 4 salvagao, pela fé em Cristo Jesus (cf. 2Tm 3, 15)". E 0 prefaciador conclui: ‘A Biblia, com o texto da NTLH, esta ai, portanto, para o uso comunitario e individual, familiar e geral, para a catequese, a liturgia e o estudo pessoal, trazendo os escritos biblicos na linguagem simples do povo". Biblia Sagrada - Edigao Pastoral Obra catélica similar a Biblia Sagrada, Nova Tradugao na Lingua- gem de Hoje, é a Biblia Sagrada, Edigao Pastoral. Langada em margo de 1990 pela Editora Paulus, encontra-se ja, no exemplar que tenho agora em maos, na 56? reimpressao. E um sucesso editorial inegavel. Recordo o furor que causaram, no langamento, suas Notas de rodapé, eé igual- mente o “Pequeno Vocabulario’, depois supresso, considerados esquer- distas demais. Quanto a Traducao, os editores observam 0 seguinte: “Con- servando a fidelidade aos textos originais, procuramos traduzi-los em lin- guagem corrente, evitando construgées rebuscadas e palavras de uso menos comum”. Quanto as Notas, alerta-se o seguinte: “Elas nao preten- dem esgotar o assunto, nem se apresentam como normas rigidas para a leitura do trecho: pelo contrario, s4o apenas inicio de reflexéo. Nasceram de exame minucioso do texto, a luz da recente literatura disponivel sobre o assunto tratado...". Ultima observagao dos editores, reimpressa até hoje: “No é nossa pretensdo ter realizado um trabalho completo e intocavel. Solicitamos, por isso, que os leitores nos enviem observagées e suges- tées, que serdo muito Uteis para aprimorar o trabalho até aqui realizado”. Problema atual, problema antigo Adificuldade de traduzir esta ha muito tempo expressa pelo aforisma italiano traduttore, traditore, segundo o qual o tradutor pode ser um trai- dor, isto é, ele muitas vezes “trai”, nao consegue ser fiel ao sentido do texto que traduz. Em relagdo ao texto biblico, temos na propria Biblia o testemunho de um tradutor do hebraico para 0 grego, no final do século I! antes de Cristo. Trata-se do neto de Ben Sira, o Siracida, que comenta sua prépria tradugao do livro do avé, o livro deuterocanénico posterior- mente chamado de “Eclesiastico”. Veja-se o que ele diz do seu trabalho (cito o texto da NTLH): “Fiz todo o possivel para traduzi-lo bem. Mas, mesmo assim, se parecer que ndo fui feliz na tradugdo de algumas pas- sagens, pego que me desculpem. € que as coisas escritas em hebraico nao tém exatamente o mesmo sentido quando sao traduzidas para outra lingua. Isso nao acontece somente com este livro que traduz: a propria Lei, os livros dos Profetas e os outros livros sao bem diferentes quando lidos na lingua em que foram escritos". 330 BIBLIA SAGRADA 43 Isto dizia o neto de Ben Sira comentando o proprio trabalho e refe- rindo-se a primeira tradugado da Biblia, realizada em Alexandria desde meados do século ili antes de Cristo, tradugado depois chamada de “Septuaginta’, ou seja, a tradugdo dos “Setenta”, segundo informagao da carta de Aristéias. Essa dificuldade, quase impossibilidade, as vezes, de traduzir, nao impediu que se continuasse traduzindo, dada a barreira lin- glistica entre o texto biblico e seus cada vez mais numerosos destinata- trios. Os rabinos helenistas do século II depois de Cristo, considerando tendenciosa a Septuaginta, ent&o apropriada pelos cristaos, produziram mais trés verses gregas. Surgiram as versGes latinas antigas e, depois, a Vulgata de Jer6nimo. Depois, no final da Idade Média, as primeiras vers6es nas linguas modernas. E hoje, com todos os recursos da lingilis- tica e da técnica, ndo se para de traduzir. Assim, também a CNBB produziu a sua tradugdo da Biblia, para uso oficial da Igreja Catdlica no Brasil. E a Biblia Sagrada — Tradugdo da CNBB. Langada em 2001, e numa segunda edicéo em 2002. ela conti- nua em processo de revisaéo. Como recomenda 0 Concilio Vaticano I (Dei Verbum, n. 22), a tradugdo da CNBB se baseia nos textos originais hebraicos, aramaicos e gregos, cotejados criteriosamente com a Nova Vulgata, ela mesma baseada nos documentos originais. A apresentagao desta segunda edig¢do recorda que ela “se destina a leitura proclamada, a formagao e a oracao, a citagao em documentos e a preparagao das edi- goes liturgicas e. gragas a dupla numeragdo de versiculos, ao uso ecuménico. Mantém a segunda pessoa tu/vés, que da maior clareza a proclamagao e implica os pronomes correspondentes (te/vos, teu/vos- $0). Conforme o principio de que o sentido literal seja compreendido, se possivel, na hora da leitura ou proclamagao, foram evitados certos ter- mos, mesmo tradicionais (como homem, quando se quer dizer o ser hu- mano em geral), que poderiam induzir uma compreensdo espontanea nao visada pelo original". A apresentagao conclui afirmando que “a tradu- cao sempre tera de respeitar, 0 mais possivel, o teor do texto original, deixando a explicagao e a atualizagdo para a homilia, a catequese e a formagdo permanente da fé” Conclusao Nao tive tempo para uma leitura mais abrangente de todo o texto da Biblia Sagrada — Nova Tradugdéo na Linguagem de Hoje. Mas penso que, no conjunto das tradugées atualmente publicadas no Brasil, ela apa- rece como o resultado de um trabalho cuidadoso, persistente, de uma equipe abalizada, que levou em conta semelhantes “traduc¢des na lingua- gem de hoje” em outras linguas, e agora oferece ao leitor cristao brasil ro, evangélico e catdlico, esta leitura que se pretende atualizada da eter- na Palavra de Deus. 331 44 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 Quanto a “atualizagao” da Palavra, pessoalmente fago grandes re- servas a certo tipo de atualizacao ou simplificagao. Sera que realmente contribui para o melhor entendimento a substituigao de principio por “co- mego", serpente por “cobra”, dleo por “azeite”, evangefho por “boa noti- cia’, justos e injustos por “bons e maus", mistério por “segredo", tomar por “pegar”, manto por “roupa” etc etc? Nao me parece valida, por exem- plo, por uma série de detalhes, a traducdo de Os 6, 6: Eu quero que vocés me amem e néo que me oferecam sacrificios; em vez de me trazer ofertas queimadas, eu prefiro que o meu povo me obede¢a... Onde fica- ram os conceitos de misericordia/solidariedade interumana (hebr. hesed) e 0 verdadeiro “conhecimento de Deus”, que leva a pratica da justi¢a (cf. Jr 22, 16)? Da mesma forma, a tradugéo das Bem-aventurangas em Mateus deixa muito a desejar: é um caso tipico em que uma interpreta- g&o determinada impede o leitor ou ouvinte de abrir-se para todas as implicag6es do original. Assim, néo me parece exato que os pobres no espirito (Mt 5, 3) sejam “os que sabem que sao espiritualmente pobres”. Da mesma forma, a fome e sede de justiga (Mt 5, 6) 6 muito mais do que “a fome e sede de fazer a vontade de Deus”... Repito. Haveria muita coisa a discutir nos detalhes, assim como também as ha, evidentemente, nas outras tradugdes. Jamais chegare- mos a uma tradu¢do perfeita. E neste sentido também n&o é perfeita esta Nova Tradugdo na Linguagem de Hoje. Mas é uma alternativa valiosa, preciosa, benvinda, que poderd vir a ser aperfeigoada, e que certamente faré muito bem. Neste sentido, alegro-me e congratulo-me com a Soci dade Biblica do Brasil e as Edig6es Paulinas por este significativo e opor- tuno trabalho de co-edigdo. e-mail: Ney.Brasil@itesc.org.br Cristo na Filosofia Contemporanea, vol. Il: o século XX, por Silvano Zucal (org.). Ed. Paulus, Sdo Paulo 2006, 928 pp. O autor percorre os expoentes filosdficos do século XX, procuran- do pér em relevo a maneira como cada pensador considerava o Cristo, pois, diz ele, “cedo ou tarde, o fildsofo 6 levado a interrogar-se sobre Jesus Cristo, a interrogar Jesus Cristo, ou porque a isto 6 conduzido pelo curso dos seus pensamentos ou porque, em todo caso, o Cristo 6 na historia um enigma irritante e fascinante” (orelha do livro). E obra de alta erudigéo, que consegue analisar o pensamento alheio, ilustrando-o com textos extraidos das respectivas obras. 332 Simbolismo e Eucaristia: “A CELEBRAGAO DA EUCARISTIA E ACAO SIMBOLICA” £m sintese: £ analisado o teor de um artigo propagado entre Mi- nistros Extraordinarios da Comunhdao Eucaristica, que deixou dividas na mente de varios leitores. Sob 0 titulo “A celebragdo da Eucaristia é agdo simbdlica’, tem-se propagado entre Ministros da Comunhéo Eucaristica um artigo de reda- ¢ao ambigua, que tem suscitado duvidas em muitos de seus leitores. A pedido de alguns destes, passamos a analisa-lo, comegando por trans- crever os trechos mais significativos. 4. “A Liturgia 6 toda simbdlica” Eis o que se |é no citado artigo: “O que é mesmo um simbolo? O simbolo, do grego: syn-ballein = juntar, unir, figar, é um objeto, um gesto, uma pessoa, uma palavra, um lugar, uma musica, uma a¢ao... uma realidade visivel que tem a for¢a de nos ligar, nos unir com outra realidade ausente ou invisivel, porém muito real. O simbolo é algo que toca nossos sentidos, nossa corporeidade, nos lembra, traz presente uma realidade escondida e cheia de significa- do para nos. Ele nos permite vivenciar e nos comprometer com esta rea- lidade invisivel, espiritual, que transcende nossa raz&o, como o amor, a amizade, o acolhimento, 0 carinho, a solidariedade, a fé, a comunhdo. Pela encarnagao do Verbo de Deus que tomou um corpo e habitou entre nés (cf. Jodo 1, 14), pessoas, lugares, gestos, objetos, e o proprio tempo... tornam-se simbolos, meios de comunicagao, de convivencia com © Senhor, de comunhao entre nés e Deus Pai. “Quem me viu, viu 0 Pai” diz Jesus (Jodo 14, 9). Ent&o, podemos dizer que a /iturgia é toda simbdlica. Tudo que fazemos nela se refere e nos liga a Jesus Cristo e seu Reino. Ele mesmo nos deixou a refeigdo, uma agdo simbélica, um rito para que realizemos sempre de novo, fazendo memoria dele. Reunir-se como irm&os, agradecer, comer e beber juntos e em seu Nome para partici- 333 46 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 par da doagao, da entrega de sua vida, morte e ressurreigdo até que seu Reino se estabeleca definitivamente entre nds. Esta € a celebra¢ao central de nossa vida crista: a Eucaristia, a Missa como costumamos dizer. Agradecendo, comendo e bebendo juntos, ficamos ligados a Jesus Cristo e vamos nos identificando com Ele, passando da morte para a vida @ nos comprometendo com seu projeto que é de vida abundante para todos (cf. Jodo 10, 10)". 2. Comentando... O artigo em pauta é falho por dois motivos: 1) Afirma que tudo na Liturgia 6 simbolo... Ora nem tudo é mero simbolo. Meros simbolos so 0 incenso, as flores, as cores... Mas os sacramentos nao sao meros simbolos; sao sinais que efetuam 0 que significam, sao sinais eficientes. Assim quando o padre diz: “Isto 6 o meu corpo”, 0 pao deixa de ser mero alimento corporal, pois se efetua a con- versdo da substancia do p4o no Corpo de Cristo. 2) A autora do artigo diz que synbafo grego (donde vem a palavra simbolo) significa uniao com os outros e com Cristo; seria uma uniao afetiva ou meramente psicolégica. - Na verdade, synballo em grego quer dizer “juntar, reunir..." Assim, por exemplo, 0 chamado “Simbolo da Fé” (Credo) é a reunido ou 0 compéndio das verdades da fé. Por conseguinte a derivagdo etimolégica esta falsa e da lugar a falsa conclusdo. Como dito, a Eucaristia 6 simbolo eficaz, que comunica a unido com Cristo, por sua propria realidade ou porque simboliza e transmite o atimento celestial, que é Cristo... Possam estas palavras servir de esclarecimento a quem as ler! ERRATA Sou assinante da revista “Pergunte e Responderemos”, desde o n° 01. Aredacdo da mesma é muito boa. Mas acontece que a CNBB, em um documento, estabeleceu que os ministros extraordinarios que distribuem a Comunhdo aos fiéis, sejam chamados de Ministros da Comunhdo, e nao Ministros da Euaristia, pois, de acordo com a Teologia, 0 ministro da Eucaristia € somente o presbitero. No n° 525, de marco deste ano, pagina 131, estes ministros ainda sao chamados de Ministros da Euca- ristia. Pe. José Macke Filho Em resposta: A expresso “ministros da Eucaristia" ocorre num folheto intitulado “Boas Maneiras na Igreja”, que PR nao redigiu, mas apenas transcreveu. 334 Caso de consciéncia: PARTICIPAR DA EUCARISTIA SERVINDO AO MINISTERIO DE MUSICA? A Redagdo de PR recebeu o pedido de resposta para 0 caso que vai abaixo relatado, Meu nome é... (48 a) e fui casada 22 anos, sendo que, em Novem- bro de 2005, me separei judicialmente, onde aguardo pela sentenga ho- mologada, direito de me divorciar no tempo de 1(um) ano da data da separacao. Parlicipo assiduamente de minha Paréquia, Nossa Senhora do Carmo de ..., e sou integrante de um Ministério de Musica onde parti- cipo dos Movimentos de evangelizag&o, Grupo de Oragao, e Missas, ja ha trés anos e meio. Anteriormente a este periodo ja participava também de outro ministério de Musica ha 9 anos, na Paréquia, ministrando a musica através do canto e tocando teclado. Hoje, separada tenho um relacionamento com uma pessoa (51 a), que também participa do mesmo Ministério de Musica da minha paré- quia, também separado, ha aproximadamente 7 meses. Ele participa na paréquia ha 20 anos, sempre se dedicando inteiramente a todos os mo- vimentos paroquianos, sendo pessoa que exerce cargo de responsabili- dade em varios segmentos e movimentos da paroquia. Pelo motivo do meu relacionamento com esta pessoa, nosso paro- CO NOs procurou para uma Conversa sobre nossa situagdo, onde esclare- cemos que nao vivemos juntos, que moramos separados, mas afirma- mos que temos um compromisso sério de muito respeito e muito amor, e, nao podendo evitar, decidimos assumir com toda a responsabilidade, perante nossos filhos, pois néo gostariamos que este relacionamento fosse escuso. Nosso paroco, bem como o Coordenador do Grupo de Oragao nos pediu que nos afastassemos do Ministério de Musica, alegando que nos- So relacionamento foi muito comentado pelos leigos, uma vez que se trata de um envolvimento um tanto precipitado por causa do tempo que estamos separados. Pediu-nos desta maneira que nao participassemos das Missas e do Grupo de Orag&o cantando e tocando. Pediu-nos também, para que nao particilpassemos mais da Euca- ristia. Por obediéncia, acatamos, e estamos afastados, mas ndo estamos de acordo com esta posi¢éo em que a Igreja nos coloca. 335 48 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 529/2006 Por isso tomei a liberdade de enviar este e-mail, para que V. Sa., pudesse tirar minhas dividas, quanto ao nao acolhimento da Pardquia, quanto a atitude de nosso Paroco em nos tirar do Ministério de Musica, pois vai contra 0 que Joao Paulo II nos diz: “Exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados procurando, com caridade solicita, que eles ndo se considerem separados da igreja, devendo, enquanto batizados, partici- par da sua vida” (Papa Jodo Paulo |i - FC n° 84). Gostaria de uma resposta de V. Sa., e agradego de coragao sua atengdo e disposigéo para poder tirar minhas dividas e acalmar meu coragéo. EM RESPOSTA Minha cara amiga, vocé, casada na |greja Catdlica, esta cedendo a uma pratica incompativel com seu casamento. O divércio civil nado desfaz © vinculo do sacramento do Matriméni Por isto sugiro-Ihe o seguinte: 1) acabe logo com o namoro para ter a consciéncia pura diante de Deus e 2) va procurar 0 tribunal eclesiastico de sua diocese para instaurar um processo que examine a validade ou ndo do seu casamento: Pode ser que, por ocasiao do contrato matrimoni- al, houvesse um impedimento que tornasse nulo o casamento. Isto sera investigado. Caso seja detectado esse impedimento, seu casamento sera declarado nulo e vocé podera casar-se na Igreja com uma pessoa soltei- ra, Caso, porém, ndo tenha havido algum impedimento, seu casamento ficara sendo valido e vocé tera que levar vida casta a s6s enquanto esti- ver vivo 0 seu marido. Seu companheiro faga o mesmo em relagdo ao casamento dele. Oministério de Musica é importante, pois mantém vocé em contato coma Igreja. Mas, se gera escandalo na comunidade paroquial, nao deve ser exercido. O Papa Jodo Paulo !I quer que as pessoas infelizes no seu casamento conservem a comunhdo com a Igreja. Nao poderéo comun- gar se estiverem unidas em unido ilegal, mas poderao trabalhar em seto-. res que ndo impliquem docéncia explicita (assim a Pastoral do Menor abandonado, a das Favelas, a da Sopa aos Pobres...). Seu paroco deve zelar pela comunidade, procurando atender aos legitimos anseios de uns e outros — 0 que nao é facil —. Fique em contato com ele. Lembre-se bem, minha cara amiga: Deus nunca impde um precei- to (no seu caso, para a castidade pés-conjugal), sem dar a graga neces- sdria para que o cumpramos. Obedecendo-lhe, fortalecemos nossa fide- lidade e mais nos santificamos. Ver 1Cor 10, 13. Estévao Bettencourt 0.S.B. 336 MEUS QUINZE ANOS Ritual e textos paraa Missa 18edigao, 1994 E igualmente um tiurete. dao mesmas dimensées e com @ mesmo. nimero de paginas que « anterior, igqualmente elabsrade por Dom Hitdebrands Martins, OSB, que criou alguns rites peculianes (entrega da Biblia, oracho des pais apds a homitia, antes da renavagais das premessas de batiome, seguindo-ce 0 compromiose do aniveroariante e no. final da misoa uma selene ace de gracas do jovem e de seus pais). Posoui teates adaptades de acolhida e ate penitencial e oragdée doo fitio. As woracées site de. Misoal, omitindo-ce a Oxasée Eucanistica a fim de pexmitir a escolha do teats mais adaptads. Hs leitura saa apropriadas: 1 Jo 4,7-12 Satme 118, 9-12 Mé22,35-40. ke Pregos especiais para paréquias e escolas catélicas, conforme a tabela abaixo: 1 exemplar: enviamos gratuitamente aos que solicitarem Prego unitério: até 10 exemplares: R$0,60 de 11 a20exemplares: R$0,50 de 2] a30exemplares: R$0,40 de 31.a40 exemplares: R$ 0,30 de 41 a50exemplares: R$0,20 mais de 50 exemplares, R$0,10 Para pedidos, veja nossos enderegos na 2* capa, onde estado indicadas igualmente as formas de pagamento. S)% GRANDE PROMOCAO § — PARA PAROQVIAS Cu’? E ESCOLAS CATOLICAS As Edigées Lumen Christi estiio vendendo a paréquias e escolas catélicas, numa grande promogdo de queima de estogue, a precos super reduzidos, dois livretos com Rituais: BODAS DE PRATA E DE OURO Ritual e textos paraa Missa 12%edigao, 1990 Oo casaio catdlices cootumam celebuarouas badao de pratae de oure.com uma Missa em agite. de guagas, Este lwrete especial (10,50 « 15,50cm) de 24 pp, foi clabonade fii udnios ance por Dom Hildelrande Maxtina, OS. presenta o nite. da missa, omitindo. apenas a oragiie eucaristica, com adaptagées na acathida e no rite penitencial eintroduz rites (née oficiaia ) de venevagde de compromises c binge dao aliancas, onasiie. deo fitio e béngia final. Us oragiee prépriae sits ae que constam do Missal Romane (Misoas para diversas cireunstanciacs) e as leituras sda apwpriadas:1 Jo4,7-12 Satmo127 Mt22,35-40. Continua na outracapa

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