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Neste artigo, serão abordadas algumas das relações com o mundo celeste.
A religião egípcia foi considerada por muitos como a religião estelar. As alusões
astronômicas e astrológicas são freqüentes. Desde os primórdios, nos chamados textos
das pirâmides, o destino e a boa ventura do Faraó foram identificados com as estrelas,
em especial com as ihmu-sek, as estrelas circumpolares, ou seja, aquelas que nunca são
destruídas porque permanecem sempre visíveis.
Suas roupas pontilhadas a relacionam com as estrelas e também com sua função solar,
de forma similar às do sacerdote Sem, que também portava uma vestimenta parecida na
cerimônia de abertura dos centros sagrados, mais conhecida como “a abertura da boca”.
Da Câmara da rainha também partem dois condutos, o que aponta para o norte
indicando a estrela Kochab, na Ursa Menor, e outro que aponta para o sul indicando
Sírio.
Como foi possível a determinação quase exata da orientação das pirâmides? Tomando
um só exemplo, o lado leste da grande pirâmide se desvia somente 3 minutos de arco do
norte verdadeiro. Tem-se discutido muito sobre isso com distintas soluções propostas,
cada uma com seu próprio inconveniente. A mais aceita nos últimos tempos foi
formulada em novembro de 2000 por Kate Spence, uma egiptóloga da Universidade de
Cambridge, que publicou um trabalho na revista Nature, em que sugere um método pelo
qual os construtores de pirâmides poderiam ter fixado a direção norte-sul. O método
proposto pela egiptóloga consistia em escolher duas estrelas situadas em lados
contrários com referência ao pólo celeste. Tentou várias alternativas, dado que o pólo
varia em sua posição com a passagem dos milênios, até determinar que as estrelas
chamadas Mizar e Zeta Osa Mayor pareciam ser as mais adequadas de acordo com o
tempo geralmente admitido para a construção da grande pirâmide. Seus raios de rotação
ao redor do centro polar eram quase iguais e estavam situados em lados opostos, de tal
maneira que uma linha que as unisse passaria quase exatamente pelo centro polar.
Quando ambas as estrelas estivessem alinhadas verticalmente, o que ocorreria a cada
seis meses, bastaria deixar cair um prumo seguindo a linha vertical entre as duas estrela
para determinar assim, sobre o solo, a direção norte.
RA-STAU
O Livro dos Mortos começa com uma primeira imagem, nela se pode ver Osíris
representado como um pilar. Sobre ele mesmo aparece a cruz da vida eterna, que
sustenta com seus braços um sol que surge ascendendo. O pilar foi ladeado por Isis e
Neftis, as duas deusas protetoras e acompanhantes de Osíris.
Poder-se-ia dizer que essa imagem inaugural é uma síntese que precede todo o
acontecimento do livro dos mortos, ou seja, o processo de osirificação, por meio do qual
o Maajeru, ou homem de voz reta, ou seja, o defunto depois de ser defendido no famoso
julgamento ou psicostasia do coração, passa através de uma série de obstáculos que tem
que transpor para poder se converter em um Osíris, um homem semelhante ao rei dos
mortos, ou um iniciado, alguém que já ultrapassou os limites humanos, que morreu
como homem e nasceu como um novo ser divinizado.
Isso é precisamente o que mostra essa imagem, pois Osíris, tal como o Livro dos
Mortos, diz que não é mais que o irmão gêmeo do Sol na Terra. Osíris, após superar as
provas, se converte no próprio Ra. Por isso, dele surge a imagem do Sol, que representa
a sua essência solar divina. É como se o Sol, enterrado no interior do homem carnal e
mortal, finalmente, após vencer as provas e ser osirificado, terminasse por se manifestar
livre de amarras e triunfante. O osirificado se converte assim em um Neter, ou seja, um
ser divino. O Livro dos Mortos diz que o lugar onde os homens se convertem em Neteru
(plural de Neter) é o Ra-Stau. Esse hieróglifo tem duas possíveis traduções:
Ra: boca, abertura, entrada; Stau: corredores, subterrâneos, covas ocultas. Em outras
palavras, seria o lugar de entrada ao mundo secreto dos corredores onde se faziam as
cerimônias que convertiam os homens em deuses.
Ra: o deus Ra (ainda que normalmente não se consiga usar esse hieróglifo, mas um
disco solar); Stau: extrair, secar, tirar para fora. Ou seja, o lugar onde se extrai, onde se
libera Ra de sua prisão, quer dizer, a essência espiritual solar e divina.
Onde estava situado o Ra-Stau? Talvez pudessem ter existido múltiplos lugares onde se
realizavam cerimoniais iniciáticos especiais, porém o mesmo Livro dos Mortos Egípcio
e os estudos arqueológicos demonstram que houve ao menos dois mais importantes: um
ao sul, em Abydos, e outro ao norte, no “grande túmulo de Osíris”, que está
precisamente na área de Gizé, e que era chamado pelos antigos egípcios pr wsir nb
rstaw, ou “a casa de Osiris, senhor de Ra-Stau”. Recentes corredores descobertos na
metade do caminho da passagem que une a segunda pirâmide, ou pirâmide de Jafra,
com o templo da esfinge, mostram vários níveis que alcançam até cerca de 30 metros de
profundidade e datam ao menos de 1550 a.C. Poderiam estar relacionados, segundo os
egiptólogos, com a alusão a corredores e câmaras subterrâneas que a palavra Ra-Stau
contém.
O CALENDÁRIO DE DENDERAH
Construído por volta de 200 a.C., se pode considerar como fortemente influenciado pela
astrologia grega. Contudo, sua concepção geral, as chaves fundamentais, e inclusive os
símbolos utilizados para o sistema de decanos, são de raízes puramente egípcia, não
encontrando paralelo nos zodíacos gregos ou babilônicos.
Quer dizer que no começo do caminho estão presentes Osíris e Sírio, e no final
aparecem outra vez, porém com significados distintos. As constelações representadas ao
sul correspondem ao Osíris que inicia seu caminho acompanhado por Sírio, ou ao
candidato, enquanto que as que aparecem ao Norte (no centro do zodíaco de Denderah)
representam o Osíris perfeito e acabado: a constelação da coxa assim indica, haja vista
que em muitas outras representações funerárias e no próprio Livro dos Mortos se pode
ver como uma coxa é oferecida ao “defunto” (morto para os homens, e nascido de novo
para os deuses) com um texto adjunto parecido com o seguinte: “aqui te trago em
oferenda o olho de Hórus, o olho espiritual ao qual se faz equivalente a coxa de Osíris”.
Esse vértice superior tem também como imagem o reflexo invertido na parte inferior,
outro vértice constituído pelo triângulo formado pelos dois pares de condutos norte e sul
e que tem como centro a câmara do rei.