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A PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES TOXICOPORNOGRÁFICAS NO

“CINEMÃO” MAJESTICK, EM FORTALEZA (CE).

Juliana Frota da Justa Coelho1

Resumo: Essa proposta de comunicação tem como objetivo principal a problematização da


produção de subjetividades toxicopornográficas no cinema pornô, também conhecido por
“cinemão”, Majestick, localizado no centro da capital cearense. A hipótese, portanto, é a de que o
regime farmacopornográfico que age especificamente no Cine Majestick produz essas
subjetividades a partir de práticas farmacopornográficas, entendendo-as como processos de
controle-estimulação e ocultação-desvelamento que viabilizam os agentes como astros, quebrando
as fronteiras entre artista pornô e público. A partir de uma etnografia embasada na participação
observante no referido “cinemão”, com ênfase nas sociabilidades borradas entre strippers, clientes,
michês e travestis, que se dão quando do show de sexo explícito, categorias tais quais pornografia,
sexualidade, gênero, corpo e subjetividade são interpeladas quanto aos seus pretensos estatutos
naturalizantes e essencialistas.

Palavras-chave: Psicologia. Sociologia. Regime Farmacopornográfico. Pornografia.

É comum escutar entre os fortalezenses: “é possível encontrar tudo no Centro da cidade!”.


Convém contextualizar essa famosa frase, quase um aforismo cearense. Na segunda metade do
século XIX, no intuito de aformosear a capital do Ceará aos moldes franceses e positivistas, pôs-se
em prática um processo de remodelação urbana, no qual o Centro foi um dos principais espaços a
ser revitalizado, deixando transparecer o desejo de políticos fortalezenses pela ordem e pelo
progresso.
O tratamento paisagístico dessa parte da cidade era uma das prioridades, já que o centro de
uma capital deveria mostrar organização, limpeza e riqueza. Um dos ícones arquitetônicos e
históricos da belle époque fortalezense (GONDIM 2007; PONTE, 2001) é o imponente Theatro
José de Alencar, além da praça do Ferreira e do pomposo Cine Theatro Majestic Palace, situado na
referida praça, em um elegante edifício de quatro andares, configurando-se como uma forma de
entretenimento elegante e familiar para a cidade do começo do século XX.
Do séc. XIX ao XXI, outras remodelações tiveram lugar no Centro, ressignificando-o no
imaginário da cidade. A intensa imigração do interior para a capital, a “fuga” das elites para outros
bairros, o crescente número de estabelecimentos comerciais, o boom da especulação imobiliária, a

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Bacharel em Psicologia e Mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará, Campus do Benfica, Fortaleza,
Ceará, Brasil.

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criação de shopping centers em outros bairros e a complexificação do tráfego contribuíram para que
hoje ele seja considerado caótico, comercial e lócus de entretenimentos diversos (bares, centros
culturais, teatros), entre eles aqueles considerados pornográficos, da “Fortaleza que se diverte com
sexo” (ROCHA, 2011).
Os cinemas-pornôs, conhecidos como “cinemões”, estão espalhados pelo Centro2, seja com
uma arquitetura mais “tradicional” (com tela de cinema e fileiras de poltronas), ou com arquiteturas
diferentes, em casas adaptadas para esse tipo de entretenimento e sociabilidade, visivelmente
menores, com televisores ao invés de telas, cadeiras de plástico, cabines improvisadas, paredes de
compensado, pouca climatização, entre outros elementos que os diferenciam. Esses últimos são
classificados por Vale (2000) de cine-vídeos pornôs por terem no videocassete (à época de sua
pesquisa, 1996, atualmente podemos falar no DVD) seu principal meio de exibição, além de
proporcionarem novas formas de interação devido a outras arquiteturas.
A proliferação de “cinemões” no Centro desde a década de 90 é chamada por Araújo (2011)
de “Multissex”, uma interessante comparação aos Multiplex (complexo de salas de cinema). Costa
(2011) faz alusão ao “Complexo da Assunção”, referindo-se aos inúmeros “cinemões” que se
situam na rua homônima, tais quais o Secret, Eros, Love House Night, Eclipse, entre tantos outros.
No entanto, esses estabelecimentos também estão em outras ruas vizinhas, como Clarindo de
Queiroz, Floriano Peixoto e Major Facundo, todas no Centro.3
É na rua Major Facundo, 866, que se situa o principal lócus de minha pesquisa, o Cine
Majestick (agora com “k”, há 16 anos em logradouro diferente do Cine Theatro Majestic, porém no
Centro), “cinemão” que dispõe de sala de cinema “tradicional” (tela e poltronas), bar, cabines e lan
house após subir as escadas, nos quais práticas sexuais, entre outras, encontram espaço para o
exercício de desejos considerados não tradicionais. O público é majoritariamente de clientes
homens e profissionais do sexo travestis e michês.
O estabelecimento funciona todos os dias, de 10h às 21h, com a exibição apenas de filmes
“hétero”. Shows de sexo explícito “hétero”, que ocorrem às sextas e sábados, às 15h, 17h e 19:30h,
também fazem parte de suas atrações, nos quais a plateia também sobe ao palco e interage
sexualmente com as strippers. Essas e outras formas de sociabilidade no Cine Majestick me fazem
perguntar por que esse estabelecimento é considerado pornográfico e associado, primordialmente, a

2
Também podem ser encontrados em outros lugares da cidade, mas atenho-me à delimitação daqueles que estão
localizados no bairro Centro.
3
Para um panorama das discussões nativas, ver a comunidade “Cinemões Fortaleza”, na rede social Orkut. Disponível
em: <http://www.orkut.com.br/Main#CommTopics?cmm=40606471>. Acesso em 3 ago. 2012.

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práticas homossexuais; se a “coroa” do estrelato pornô restringe-se a quem está sob os holofotes; se
ela também coroa quem está na penumbra, quem é responsável por escolher os filmes, que lá está
realizando pesquisa... Seríamos todos porn stars?
A presente comunicação situa-se no campo dos trabalhos sócioantropológicos que
problematiza sexualidades, desejos e subjetividades considerados pornográficos, obscenos,
desviantes. Justifica-se, portanto, por sua relevância no que diz respeito à discussão das hierarquias
das práticas sexuais no escopo das Ciências Sociais, cuja compreensão do social, conforme
Miskolci (2009), ainda permanece em grande parte naturalizada e essencializada a partir de um
conceito que perpassa a maioria de suas correntes: a normalidade. Ressalto, também, a importância
de pesquisas sobre esse tema serem realizadas por mulheres, algo quase inexistente na literatura
brasileira das Ciências Sociais. Portanto, inicio indagando: o que faz de um cinema “pornô”?
Ao falar de pornografia, é necessário situá-la historicamente. Lynn Hunt, em sua coletânea
de artigos historiográficos sobre a invenção da pornografia (1999), atenta para o fato de que esta
não é um fenômeno recente. Dos séculos XVI ao XVIII, um tipo de representação sexual obscena
circulava a partir de produções literárias, pictóricas e musicais com o principal intuito de criticar
politicamente instituições, tais como a igreja, a família, os militares, o governo. As obras do
Marquês de Sade, por exemplo, podem ser consideradas, junto a outros autores menos famosos e
muitas vezes anônimos (como o autor de Teresa Filósofa, no século XVIII), uma literatura libertina
ao mostrar práticas sexuais consideradas imorais para a época: prazeres conseguidos através de
orgias, mutilações, submissões e mortes, cujos protagonistas fazem partes das citadas instituições.
No entanto, o antropólogo Jorge Leite Júnior (2006, 2009) assinala que o que hoje
consideramos pornografia insere-se em outro registro: desde o último terço do século XIX, a
filosofia dá lugar ao consumo da obscenidade modernizada. Enquanto a scientia sexualis
(FOUCAULT, 1988, 2001, 2004) construía seus discursos hierarquizantes sobre as sexualidades,
diferenciação sexual e desejos normais e anormais, a pornografia, mediada pelo capitalismo e por
uma nova vertente de consumo nas urbes, não se preocupa em discutir as sexualidades como
questão moral, fisiológica, psíquica ou higienista - apesar de sempre esbarrar em todos estes
elementos - já que o foco é o entretenimento. Enquanto a psiquiatria, a pedagogia e a psicologia
ocupam-se em curar os desvios sexuais, a cultura do entretenimento mostra os mais variados
desejos sob a “ótica da folia” (LEITE JÚNIOR, 2009, p. 512), com corpos repletos de exuberância
sensual e práticas sexuais apresentadas como diversões.

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A folia, nem sempre reinante na pornografia, também é problematizada por Díaz-Benítez
(2010) em sua pesquisa antropológica sobre as produções fílmicas pornográficas. Para a autora, a
pornografia transita em um limiar entre o conservadorismo e a transgressão, pois nem sempre o
pornográfico, apesar de obsceno por mostrar aquilo que se pretendia interdito, rompe com padrões
de gênero, sexualidade e desejo propagados como “saudáveis”.
Minha primeira vez no Cine Majestick4 foi no dia 14 de maio de 2011, um sábado. Nessa
ocasião, fui “de casal” com um amigo. Antes de passarmos a roleta, observei a grande quantidade
de pôsteres de filmes pornôs nas paredes e uma certa perplexidade de alguns clientes por verem
uma mulher por lá. Logo, o bilheteiro (que também é o locutor dos shows de sexo explícito) disse:
“Vocês são casal, então ela não paga”. Ele pagou 5 reais e adentramos por volta de 19h.
Indaguei se mulheres podiam entrar sozinhas e tive como resposta que não havia proibição,
mas que era raríssimo. No entanto, a frequência de casais era mais comum, apesar de não ser tão
frequente. A filósofa Nancy Prada (2012), ao discutir a pornografia sob a ótica feminista (também
levo em consideração o sexismo presente na cultura brasileira e, no caso em questão, na cultura
nordestina), dialoga com a psicóloga americana Gail Petherson, a qual afirma que a clássica
dicotomia entre “mãe” e “puta” funciona como instrumento de controle sobre as mulheres que
desejam usufruir o que é considerado pornográfico. Porém, tanto Prada quanto Petherson ressaltam
que uma visão vitimizadora dessas mulheres não é profícua, pois descarta um importante aspecto
político das correntes porno-feministas5: a agência das mulheres. Uma das estratégias contra a
vitimização seria “la apropiación del estigma de manera consciente, com el propósito de cuestionar
a supremacía masculina” (PRADA, 2012, p. 141).
Logo ao passar pela sugestiva cortina vermelha, entramos nos fundos da sala de cinema, um
corredor escuro no qual pessoas permaneciam em pé - interagindo de formas que não conseguia ver,
mas ouvir e cheirar (susurros, cheiro de suor e “gala”) -, de onde podíamos ver as últimas fileiras de
poltronas, a tela de cinema à frente, envoltos no escurinho característico desses empreendimentos.

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Ressalto que a primeira vez que adentrei um “cinemão” aconteceu 5 anos antes, em 2007, à época do mestrado, porém
no Cine Lipstick, com uma turma de amigos homens. Na ocasião, nenhum de nós jamais havia frequentado esse tipo de
estabelecimento e não era essa a intenção a priori, pois estávamos nos divertindo pelos bares do centro e, sem grandes
explicações ou intencionalidades, resolvemos experimentar um “cinemão”. Lá, apesar da escuridão, observei que não
havia nenhuma mulher, porém também notei que, apesar das investidas já esperadas em um lugar de entretenimento
sexual, a “complexa coreografia de posturas e gestos” (BROWN, 2008, p. 918, tradução minha) de aceitação ou recusa
fazia parte das sociabilidades que lá tinham lugar, fazendo com que me questionasse, desde essa época, por que quase
não há mulheres em “cinemões”, por que esses são vistos como entretenimento gay e/ou como espaços de
promiscuidade.
5
Para as pornô-feministas, inspiradas, entre outras fontes, por Beatriz Preciado, a melhor forma contra a pornografia
dominante não é a censura, mas sim a produção de representações alternativas da sexualidade, feitas a partir de olhares
diferentes da mirada normativa (PRADA, 2012).

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Gemidos vindos da tela, da plateia... Os corredores, nas laterais, próximos às fileiras de poltronas,
também são espaços de uma interação táctil, curiosa, algumas palavras, muitos silêncios (que
“falam” em sua linguagem particular de gestos e olhares), fricções de corpos e de desejos.
Importante ressaltar que o Cine Majestick é considerado, dentro do contexto dos “cinemões”
do Centro da cidade, um local onde as travestis “reinam”, já que nos outros sua presença é
praticamente vetada. Com enormes saltos, leques, roupas curtas e provocantes, é praticamente
impossível não saltar aos olhos seu vai-e-vem constante entre o bar, os banheiros e as poltronas. À
primeira vista e com uma leitura rasa, poder-se-ia pensar que um estabelecimento no qual travestis
profissionais do sexo, strippers que também fazem programas (em número consideravelmente
menor) e michês fosse uma espécie de “Torre de Babel”, na qual a convivência e a comunicação
seria prioritariamente confusa. Fugindo de uma visão maniqueísta e simplista, sugiro que as
negociações tácitas e explícitas dão-se no decorrer das sociabilidades entre essas pessoas e clientes,
entre elas mesmas e o espaço físico e político do Cine Majestick, cujo leque de possibilidades não
se restringe simplesmente à “pegação”6.
A tela, na hora dos shows de sexo explícito, passa de uma das protagonistas à coadjuvante (é
desligada), dando espaço para um pole dance colocado à sua frente, um divã vermelho e às
strippers, praticamente as únicas “mulheres biológicas”7 (PRECIADO, 2008) que percebi no
recinto, além de mim e de mais duas que vieram “de casal”. A performance temática do dia evocava
um conhecido fetiche, o da autoridade (as strippers estavam vestidas de policiais, com direito a
cassetetes e quepes). O locutor-bilheteiro atiçava os clientes: “Não resista! Ela é autoridade!”8,
propagandeava as strippers, suas qualidades, além de comandar e controlar as performances no
palco, que conta com seguranças no lado esquerdo e direito, cuidando para que as posições no
referido palco deixem a penetração (apenas pênis-vagina) bem explícita para a plateia, impedindo,

6
“Pegação” pode ser considerado sinônimo de “catação”. Ambas englobam práticas que podem envolver flerte e
contatos corporais mais íntimos, podendo desembocar no ato sexual.
7
Beatriz Preciado afirma, em Testo Yonki (2008), que uma nova distinção ontológico-sexual entre homens e mulheres
“bio” ou “trans” surgiu no período da Guerra Fria, a partir do desenvolvimento de tecnologias hormonais e cirúrgicas
para o “tratamento” e “montagem” de pessoas transexuais e travestis. A autora enfatiza, entretanto, que ambos estatutos
de gênero são tecnicamente produzidos, dependem de métodos de reconhecimento visual, de produção performativa e
de controle morfológico comuns.
8
Essa frase chamou-me a atenção, pois, apesar da pornografia não ser considerada por muitos autores (GREGORI,
2012; HUNT, 1999; LEITE JR., 2006, 2009) como clandestina desde meados do século XIX, ela parece ser capaz de
mobilizar desejos considerados clandestinos. Prada afirma que o que mobiliza os militantes antipornô é o fato de que
esse fala diretamente ao próprio desejo, forçando o espectador a saber algo sobre si mesmo, algo que tenha decidido
calar ou ignorar. A autora, parafraseando Virginie Despentes, concorda que a pornografia “[...] golpea el ángulo muerto
de la razón. Se dirige diretamente al centro de las fantasías, sin pasar por la palavra, ni por la reflexión” (DESPENTES,
2007, p. 77 apud PRADA, 2012, p. 145-146).

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dessa forma, que um cliente ou stripper fique na frente de outro ou de costas para os clientes na
poltrona.
Dialogando com os estudos queer para pensar as performances no palco e na plateia (mais
adiante discutirei que essa dicotomia muitas vezes não faz sentido), inicialmente com Butler, esta
afirma que os “gêneros inteligíveis” da cultura do Ocidente são aqueles que estão de acordo com a
matriz heteronormativa. Essa divulga uma pretensa naturalização e essencialização dos padrões
binário de gênero, sexo e sexualidade. Aquelas pessoas cujos corpos não se “encaixam” na
heteronorma são consideradas abjetas (BUTLER, 2003, 2005a, 2005b), tendo sua própria
humanidade questionada. O inumano faria parte de um exterior constitutivo do território da
normalidade, essencial para o estabelecimento dos padrões binários de gênero e também de
sexualidade.
O gênero, ou o “corpo-gênero”, como relata Butler (2005a), é performativo. A
performatividade deve ser compreendida, portanto, não como um “ato” singular ou deliberado, mas,
ao invés disso, como a prática reiterativa pela qual o discurso produz os efeitos que ele nomeia. O
fato de o gênero ser marcado pelo caráter performativo sugere que ele não tem um status
ontológico. Pelo contrário, os atos relacionados ao gênero são performativos, pois a essência ou
identidade que pretendem expressar são fabricações manufaturadas e assentadas por signos
corpóreos e outros meios discursivos (PRECIADO, 2002).

Portanto, problematizar as performances que ocorrem no Cine Majestick, tendo Butler como
referencial, pressupõe problematiza-las como performatividades. As repetições parodísticas9, por
seu status fantasístico, possibilitam pensar as sociabilidades e produção de subjetividades nesse
“cinemão” além (porém não as descartando) das oposições engendradas de homo/hétero,
homem/mulher/travesti, pornográfico/erótico, pois denuncia sua pseudoessência.

Discordando de uma leitura deturpada da performatividade de Butler, que a considera


puramente discursiva ao discorrer sobre materialidade dos corpos, descreditando a possibilidade de
agência das práticas performativas, proponho pensá-la também a partir de um novo tipo de regime

9
Butler (2003, p. 211) afirma que: “A repetição parodística do gênero denuncia também a ilusão da identidade de
gênero como uma profundeza intratável e uma substância interna. Como efeito de uma performatividade sutil e
politicamente imposta, o gênero é um ato, por assim dizer, que está aberto a cisões, sujeito a paródias de si mesmo, a
autocríticas e àquelas exibições hiperbólicas do “natural” que, em seu exagero, revelam seu status fundamentalmente
fantasístico”.

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marcado por transformações recentes10 que apontam para a articulação de um conjunto de novos
dispositivos de controle de subjetividade, com novas plataformas técnicas biomoleculares e
midiáticas.
Estes são apenas alguns dos índices da aparição, assegura Preciado (2002, 2008, 2010), de
um regime pós-industrial, global e midiático que a autora nomeia, tomando como referência os
processos de governo biomolecular (farmaco) e semiótico-técnico (porno) da subjetividade sexual -
dos quais a pílula e a Playboy são paradigmáticos - de farmacopornográfico.
A sociedade contemporânea, portanto, estaria habitada por subjetividades
toxicopornográficas: subjetividades que se definem pela substância (ou substâncias) que domina
seus metabolismos, pelas próteses cibernéticas através das quais se tornam agentes, pelos tipos de
desejos farmacopornográficos que orientam suas ações. Assim, Beatriz Preciado fala de sujeitos
Prozac, sujeitos álcool, sujeitos silicone, sujeitos nicotina... Portanto, os filmes na tela do Majestick,
a penumbra, os perfumes fortes das travestis, as doses whisky e energéticos que alguns clientes
tomam para ter coragem de transar com as strippers no palco, fazer “pegação” nos corredores e
banheiros ou mesmo aquele cigarrinho fumado numa animada conversa entre amigos no bar ao som
de DVDs de forró, os olhares, as conversas ao celular ou na lan house, constituiriam práticas
performativas farmacopornográficas.
Dessa forma, procuro aliar a potência da performatividade em Butler (2003, 2005a, 2005b)
com o regime farmacopornográfico em Preciado (em suas semelhanças e diferenças) no intuito de
problematizar as sociabilidades e subjetividades no Cine Majestick.
Os desejos farmacopornográficos adquirem peculiaridades de acordo com o contexto onde
se apresentam, de modo que tais desejos podem se efetivar por práticas consideradas estabelecidas
ou marginais. No que diz respeito aos desejos marginais, no contexto urbano das metrópoles
brasileiras, o antropólogo argentino Nestor Perlongher (1987), em sua clássica obra “O négócio do
Michê: prostituição viril em São Paulo”, contribuiu para que a vertente de estudos sobre as
sexualidades “marginais” tivesse maior visibilidade no Brasil. Na referida pesquisa, criou o termo
“territorialidades marginais” para problematizar como os corpos se distribuem nos espaços urbanos.
Para tanto, observou que não era possível comparar o contexto da “michetagem” paulista
aos gay ghettos americanos estudados por sociólogos da Escola de Chicago, notoriamente por

10
Entre as aludidas transformações, estão a produção de toneladas de esteróides sintéticos e psicotrópicos, a difusão
global de imagens pornográficas, a disseminação por todo o planeta de uma arquitetura difusa, na qual megacidades
“convivem” com altas concentrações de miséria e de capital, além do tratamento informático de signos e de transmissão
numérica de comunicação (PRECIADO, 2008, 2010).

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Martin Levine. Para esse autor, o gueto subentenderia, entre outras características, uma fixitude
residencial e um apelo a uma identidade gay mais homogeneizada. Perlongher, por outro lado,
subverte essa concepção ao desterritorializá-la e ao problematizá-la em relação à constituição de
subjetividades.
Retomando o campo, em uma abafada sexta-feira, 8 de junho, cheguei ao Majestick quando
o último show de sexo explícito já estava em vias de começar. Enquanto as strippers dançavam
sensualmente, tocando-se e instigando a plateia, do lado direito do palco e rente às poltronas
observei que começava a se formar uma fila de homens, que geralmente já começam a se masturbar
ali mesmo, na penumbra. Em determinado momento da performance, com as strippers já
praticamente nuas, mas com algumas peças-fetiche11 (salto alto, chicote), os michês começam a
transar com elas. Eles, que logo se desnudam, e por vezes deixam algum acessório que os
identifique (óculos escuros, por exemplo), são “bem dotados” e chamados pelo locutor por curiosas
expressões nativas que fazem alusão à grandeza dos pênis e a animais típicos do Nordeste: nesse
dia, estavam em ação Big Jegue e Jumentinho. Eles, assim percebi, não têm o direito de falhar, pois
funcionam como “abre-alas” para excitar a plateia e animá-la para que tenha coragem e suba ao
palco, desnudando seus corpos (gordos, magros, baixos, altos, bem dotados ou não, carecas,
cabeludos, mais velhos ou mais novos), transando frente a uma plateia ansiosa pelas performances e
por seus desdobramentos.
Os desdobramentos são diversos, alguns saem da fila, outros, mesmo subindo, não
conseguem sustentar uma ereção e saem cabisbaixos, por vezes sob vaias dos que estão assistindo
nas poltronas ou em pé ao lado das mesmas; alguns gozam super rápido12... Em meio a toda a ação,
o locutor adverte para o uso da camisinha, que é uma das protagonistas do show de sexo explícito
naquele palco, pois sem ela, ele não acontece. Essa obrigatoriedade do sexo seguro no palco pode
ser problematizada como uma estratégia de biopoder (FOUCAULT, 1988), que visa à gestão da

11
Partindo de uma tradicional visão das Ciências Sociais (com Marx, por exemplo), o fetiche é uma relação social entre
pessoas mediatizada por coisas. O resultado é a aparência de uma relação direta entre as coisas e não entre as pessoas.
As pessoas agem como coisas e as coisas como pessoas. No livro do fotógrafo Chas Ray Krider, chamado
sugestivamente de Motel Fetish (2002), a seguinte frase precede um de seus ensaios “fetichistas”: “He couldn’t help
falling in love, but was it with her... or with what she was wearing?” (s/p). No entanto, para autor@s feministas e/ou
queer, como Donna Haraway, essas “peças-fetiche” são extensões de seus próprios corpos e desejos, desafiando as
noções tradicionais do humano. Haraway, em seu Manifesto Ciborque (2009, p. 36), afirma que “A ficção científica
contemporânea está cheia de ciborgues – criaturas que são simultaneamente animal e máquina, que habitam mundos
que são, de forma ambígua, tanto naturais quanto fabricados”.
12
Em conversa com um dos frequentadores, as pessoas que esperam na fila já ficam tão excitadas que, quando sobem
ao palco, gozam “rapidinho”. (Diário de campo, Cine Majestick, sábado, 24 de junho de 2011). Mais recentemente, um
dos michês que estava na fila “vacilou”, segundo o próprio, pois não conseguiu segurar seu gozo até o momento
“certo”: “Vixe, rapaz, gozei foi logo!”. (Diário de campo, Cine Majestick, sábado, 05 de setembro de 2012).

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vida e das populações por meio de técnicas numerosas e diversas com o intuito de tornar os corpos
dóceis, modificá-los, transformá-los, aperfeiçoá-los e, não obstante, produzir conhecimento para
melhor manejá-lo. Como bem ressaltou Braz (2010), esses espaços vistos como “desregrados” são
bastante regrados, ritualizados. No entanto, cabe ressaltar que essas regras não são de todo
impermeáveis, pois a maior vigilância se dá quanto aos shows de sexo explícito.
Nos outros espaços, a “vigilância da penumbra” se torna mais difusa, tanto por, literalmente,
não ser claramente vista (um “boquete” na penumbra da sala de cinema pode ser reconhecido, mas
não “claramente” codificado quanto à sua forma segura ou não), seja nos “banheirões”, cabines e
mesmo nas poltronas da sala de cinema.
A interação locutor-strippers-plateia dá-se por meio de regras e objetivos estabelecidos,
premiações (a camisinha gozada) e ovações ou vaias da plateia, que também é palco, tanto por ter a
legitimidade de subir e “comer” a stripper sob os holofotes ao seguir determinadas regras
(comportar-se e esperar sua vez sob os olhos do segurança e sempre usar camisinha), como por
fazer dos espaços geralmente atribuídos à plateia (poltronas, corredores) palco das
atrações/interações de seus desejos. Esses espaços são ressignificados pelo que Preciado (2010)
nomeia de arquiteturas masturbatórias (PRECIADO, 2010) - que não dizem respeito somente ao
espaço físico de um estabelecimento, mas também aos desejos e subjetividades -, que ocultam e
desvelam, “redesenham” corpos, palavras, gestos, afetos e espaços a partir de um controle
farmacopornográfico. A lógica masturbatória, portanto, move-se pela cadeia de excitação-
frustração, na qual se apoia, através de dispositivos de autovigilância e difusão ultrarrápida de
informações, um modo contínuo e sem repouso de desejar e de resistir, de consumir e descartar, de
desenvolver-se e autodestruir-se.
Essa estimulação-controle, típica do que Preciado (2002, 2008, 2010) nomeia de regime
farmacopornográfico, contribui para que as dicotomias estrela pornô/espectador,
heterossexual/homossexual, sexo seguro/vulnerabilidade sexual tornem-se difusas, borradas,
liminares13. O intenso fluxo de informações, trocas de imagens e vídeos pela internet, por exemplo,
torna-a uma importante tecnologia fármacopornográfica, assim como o cinema e a fotografia. A
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A liminaridade, na Antropologia, é típica das situações rituais de margem, borra as certezas por não estar nem aqui,
nem lá, podendo tornar-se perigosa e fascinante por ser indefinível. A fase liminar dos ritos de passagem de Van
Gennep exerceu grande influência na obra de Victor Turner. Em “O Processo Ritual” (1974), aprofunda sua
investigação na relação existente entre o estado (estrutura) e a transição (antiestrutura), enfatizando os atributos da
liminaridade. Os seres liminares, ou transitantes, são necessariamente ambíguos, já que escapam da rede de
classificações que normalmente determinam as posições e os estados em determinada estrutura social. Já Mary Douglas
(1976), ao contrário de alguns leitores de Van Gennep e Turner, que defenderam os estados liminares como desprovidos
de poder, defende que existem estados mais ou menos liminares e que nem tudo que está nas margens vive desprovido
de poder, hierarquia, em suma, de diferença.

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indústria pornô precisou se reinventar durante os séculos, mas a internet permitiu que sua difusão
transbordasse das rédeas de multinacionais, como a Playboy, Hotvideo e Hustler, para uma
produção pornográfica amateur (amadora), de fácil produção, bastando ter uma câmera fotográfica
com função “gravar”, ou uma webcam, e pessoas dispostas a adentrar as “redes do pornô”.14
Em uma quinta-feira, 28 de julho de 2011, fui novamente ao Cine Majestick, dessa feita com
um amigo que aqui passava férias. Surpreendi-me ao ver um rapaz de bermuda branca, camisa da
seleção argentina e um chapéu branco estilo vaqueiro. Estávamos no bar do “cinemão” e ele
aproximou-se para vender DVDs. Ao olhar o material e o vendedor, vi que se tratava de
Jumentinho, michê que vi em ação em meu début nesse “cinemão”. Por 5 reais, era possível
comprar um DVD pornô (JUMENTINHO, 2011), no qual ele e uma travesti eram as estrelas. Com
uma produção claramente amadora, Jumentinho não soube, ou não quis informar, sobre quem
produziu, mas enfatizou que se tratava um novo personagem seu: Jumentinho, o Cowboy Fudedor.
Voltando a atenção para o Cine Majestick, convém indagar: Quem é astro pornô? Quem é
plateia? Seria Jumentinho mais estrela do que os dois senhores que se masturbavam na terceira fila?
Do que as travestis com seus grandes leques subindo e descendo as escadas? Do que o rapaz
franzino que olha uma “pegação” pela porta entreaberta de uma cabine ocupada? E as pessoas que
vão a esse “cinemão” apenas para ver vídeos na lan house? E eu, frequentadora e pesquisadora?
Seríamos todos porn stars?

Referências

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14
A antropóloga Días-Benítez (2010, p. 13) utiliza esse termo para englobar os vários integrantes desse universo:
“atores, atrizes, criadores, produtores, diretores, assistentes, fornecedores, distribuidores; bem como motéis, boates,
revistas, sites, saunas, clubes e casas noturnas”.

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The production of toxicopornographic subjectivities at the "cinemão" Majestick in Fortaleza


(CE).
Abstract: This communication main goal is to problematize the production of toxicopornographic
subjectivities at the "cinemão" Majestick, located in the downtown of Fortaleza. The hypothesis
therefore is that the farmacopornographic regimen that acts specifically at Cine Majestick produces
these subjectivities from farmacopornographic practices, understanding them as control–stimulation
and occultation-disclosure processes that enable agents as pornstars, breaking the boundaries
between porn artist and audience. From an ethnography grounded in observant participation in that
"cinemão", with emphasis on the blurred sociability between strippers, customers, prostitutes and
transvestites, which occur during the explicit sex show, categories such as pornography, sexuality,
gender, body and subjectivity are challenged towards their alleged naturalizing and essentialist
statutes.
Keywords: Psychology. Sociology. Farmacopornographic Regimen. Pornography.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2013. ISSN 2179-510X

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