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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Básica

PNLD 2012 - Dicionários

Com direito à palavra:


dicionários em
sala de aula

Brasília
2012
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Formulação de Conteúdos Educacionais
Coordenação Geral de Materiais Didáticos

Elaboração
Egon de Oliveira Rangel

Colaboração
Marcos Bagno
Orlene de Sabóia Carvalho

Equipe Técnico-pedagógica – COGEAM/SEB


Andrea Kluge Pereira
Cecília Correia Lima
Elizangela Carvalho dos Santos
Jane Cristina da Silva
José Ricardo Albernás Lima
Lucineide Bezerra Dantas
Lunalva da Conceição Gomes
Maria Marismene Gonzaga

Equipe de Apoio Administrativo – COGEAM/SEB


Gabriela Brito de Araújo
Gislenilson Silva de Matos
Neiliane Caixeta Guimarães
Paulo Roberto Gonçalves da Cunha

Iza Antunes Araujo - CRB1/079


____________________________________________________________________

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica


Com direito à palavra: dicionários em sala de aula / [elaboração Egon Rangel]. – Brasília : Ministério da Educação, Secre-
taria de Educação Básica, 2012.
148p. : il. – (PNLD 2012: Dicionários)

Inclui glossário.

ISBN: 978-85-7783-091-6

1. Dicionário – Ensino e uso. 2. Ensino fundamental. I. Rangel, Egon. II. Programa Nacional do Livro Didático. III. Título.

CDU: 371.67 (038)


CDD: 370.19
_____________________________________________________________________

Tiragem
1.660.000 exemplares

Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica
Esplanada dos Ministérios Bloco L, Quinto andar, sala 500
Brasília/DF – CEP: 70047-900
Tel: (61)2022-8320/ 2022-8419
http://www.mec.gov.br
PNLD 2012 — Dicionários

Caro(a) professor(a):

Além de dotar a rede pública de ensino básico com coleções didáticas de todas as áreas, assim como
de acervos complementares destinados ao letramento e à alfabetização iniciais, o MEC está enviando
a nossas escolas de ensino fundamental (EF) e médio (EM) quatro acervos de dicionários escolares.

Esses acervos resultaram da seleção de obras avaliadas pelo PNLD Dicionários 2012, num criterioso
processo coordenado pela Faculdade de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Cada um
deles reúne obras de um mesmo Tipo, destinadas a diferentes etapas de ensino:

Tipo 1 — para o 1º ano do EF;

Tipo 2 — para o período entre o 2º e o 5º ano do EF;

Tipo 3 — para o segundo segmento do EF;

Tipo 4 — para o EM.

Com direito à palavra: dicionários em sala de aula é uma publicação que acompanha cada acervo.
E tem como objetivo apresentar a você tanto o mundo dos dicionários quanto as características
gerais desses acervos, esperando que, assim, o uso desses materiais possa ser otimizado.

Ao fazer chegar este impresso até você, o MEC o faz com a convicção de que ele será um apoio
significativo para suas atividades em sala de aula.

Desejamos a todos um excelente trabalho!

Ministério da Educação
Sumário
Primeira parte
1. Dicionários: para quê?................................................................................................... 9

2. Para que servem os dicionários?................................................................................. 14

3. O que esperar de um dicionário de uso escolar?..................................................... 18

4. Novos dicionários estão chegando............................................................................ 19

5. Como são esses dicionários?........................................................................................ 21

6. Como usar esses dicionários?...................................................................................... 37

Segunda parte
I. As atividades e seus objetivos...................................................................................... 44

II. O livro e o gênero: (re)conhecendo o dicionário...................................................... 47

III. O vocabulário e o léxico: aprendendo com o dicionário...................................... 56

IV. Para saber mais: leituras recomendadas................................................................ 72

Bibliografia consultada
Anexos
O processo avaliatório...................................................................................................... 91

Para entender a terminologia básica............................................................................ 101

Acordo ortográfico – Decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008....................... 115


Primeira
parte
1. Dicionários: para quê?
2. Para que servem os dicionários?
3. O que esperar de um dicionário escolar?
4. Novos dicionários estão chegando...
5. Como são esses dicionários?
6. Como usar esses dicionários?
PNLD 2012 — Dicionários

1. Dicionários: para quê? O poder das palavras


Talvez possamos começar a dizer que um
Num país como o Brasil, os dicionários de dicionário é um produto legítimo dessa sede
língua portuguesa estão em toda parte. Sempre de saber que nos leva a formular perguntas do
que possível, as famílias dispõem de um: às vezes, tipo “o que é X?”, “para que serve X?” Tentando
herdado de pai para filho, já desatualizado, com responder a perguntas desse tipo, criaram-se, ao
grafia antiga; outras vezes, em edição recente e longo dos séculos,
revista, estalando de novo. Há quem carregue o § objetos de conhecimento — como o in-
seu, de pequeno formato, mas “com tudo o que é consciente, a linguagem e a vida em so-
essencial”, “no bolso”, porque... nunca se sabe, não ciedade, por exemplo;
é? Há quem mantenha sempre em casa aquele § disciplinas — a psicanálise, a linguística e
outro, “completo”, às vezes em mais de um volu- as ciências sociais, entre outras;
me, em uma bonita encadernação. Na empresa, § e as grandes áreas epistemológicas —
chefes, secretárias e todos aqueles que escrevem como as ciências humanas, as exatas e as
cartas, documentos, informes, orientações etc. re- naturais.
correm a algum dicionário, pelo menos de vez em
quando. Na escola, professores e alunos em geral Considerando-se esse panorama, podería-
podem dispor de mais de um título, na biblioteca mos dizer:
ou mesmo na sala de aula. E atualmente, onde § que o objeto de conhecimento visado pe-
quer que esteja, qualquer um pode ter acesso a um los dicionários é a palavra;
dicionário pela internet: muitos sites apresentam § que a disciplina a que ele está mais dire-
versões eletrônicas, de rápida e fácil consulta, de tamente associado é uma especialidade
dicionários “de bolso”ou “completos”. da linguística, a lexicografia;
Tão presentes estão os dicionários em nosso § e que, do ponto de vista epistemológico, a
cotidiano que raramente nos perguntamos: “O área em que nos situamos é a das ciências
que é um dicionário? Para que serve?” E a respos- humanas; afinal, nada é mais humano
ta parece tão óbvia que, se por acaso essa dúvida que a linguagem, ou o nosso desejo de
nos acomete, dificilmente sabemos responder conhecê-la e dominá-la cada vez melhor.
de imediato, com um discurso tão claro e bem
articulado quanto as próprias definições que Os dicionários, tais como os conhecemos
procuramos nos dicionários. Assim, antes de hoje, surgiram muito recentemente, na história
saber quais são e de discutir o que fazer com os da humanidade. Ainda que sua pré-história se
que o Ministério da Educação acaba de enviar a confunda com a invenção da escrita, portanto
nossas escolas públicas de ensino fundamental remonte às mais antigas civilizações letradas, os
e médio, por meio do Programa Nacional do primeiros dicionários teriam surgido, de acordo
Livro Didático (PNLD), vamos lembrar alguns com especialistas, por volta do final do século XV,
dados importantes sobre dicionários. Para isso, na Europa. E teriam sido elaborados com dois
teremos de recorrer, aqui e ali, a alguns termos tipos diferentes, mas associados, de objetivos.
técnicos. Mas todos eles serão destacados em Num primeiro caso, os propósitos eram emi-
negrito-itálico, e virão explicados no Anexo 2. nentemente didáticos: estabelecer equivalências

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entre palavras do latim (e, às vezes, do grego) e qualquer utilidade imediata. De acordo com
línguas modernas como o espanhol, o francês e pesquisadores, essas listas tinham, provavel-
o português. Era uma forma de facilitar o acesso mente, a função de agrupar palavras com algum
dos alunos aos textos clássicos estudados nas traço comum: nomes de árvores, pedras, deuses,
universidades. funcionários, pessoas, animais, objetos; ou pa-
O segundo objetivo era sistematizar, ao lado lavras de mesma raiz, de mesma origem, de ter-
das então recentes gramáticas de línguas mo- minação idêntica etc. Tudo leva a crer, portanto,
dernas, o conhecimento de línguas cujas nações que já nesses primeiros registros, as culturas
lançavam-se à conquista de outros povos. Nesse que dispunham de um sistema de escrita regis-
contexto, gramáticas e dicionários de línguas traram palavras por um duplo interesse:
europeias como o espanhol tornavam-se ver- § o “domínio” ou conhecimento de mundo
dadeiros símbolos nacionais; e serviam para que elas propiciariam;
propiciar e estabelecer uma espécie de consenso § o conhecimento relativo a sua origem, sua
sobre que variedade da língua seria imposta estrutura e seu funcionamento na língua.
e ensinada aos conquistados. Por outro lado,
esse saber linguístico poderia ser mobilizado É certo, portanto, que, por meio das palavras
para que os próprios europeus descrevessem e registradas nessas listas, nossos antepassados
aprendessem as línguas desses mesmos povos, pretendiam conhecer melhor tanto as coisas do
para tornar possível, entre outros empreendi- mundo quanto as próprias palavras — e, por-
mentos decorrentes da conquista, a catequese. tanto, também a linguagem — que utilizavam
Podemos dizer, entretanto, que a origem dos para designá-las.
dicionários remonta às célebres “listas”, carac- De alguma forma, esta ainda é a dupla
terísticas dos quinze primeiros séculos da his- orientação dos dicionários contemporâneos: o
tória da escrita. Na Mesopotâmia, por exemplo, primeiro caso é o da preocupação enciclopédica,
os sumérios elaboraram inúmeras delas, com que leva os dicionários a associar a cada palavra
diferentes funções: inventariar patrimônios, re- registrada o máximo possível de informações a
gistrar acontecimentos importantes, especificar respeito da coisa que ela designa; o segundo caso
oferendas aos deuses e assim por diante. Todas é o da orientação linguística, que procura revelar
elas, ao que parece, explicavam-se por interesses de que forma estão organizadas na língua as pa-
práticos da vida econômica, da administração, da lavras repertoriadas. Assim, uma palavra como
história da comunidade, da religião, etc. Tratava- abacaxi virá associada, num dicionário, a infor-
se, assim, de registrar, para salvar do esquecimen- mações tanto relativas à coisa (classificação botâ-
to, informações de grande importância para o nica, usos culinários, região de origem etc.) quan-
desenvolvimento de atividades essenciais no dia to ao vocábulo: substantivo masculino, origem
a dia dessas sociedades. E, provavelmente, faziam tupi, usado também como gíria, com o sentido de
parte de um esforço para conhecer e dominar a “coisa trabalhosa e complicada”. E é exatamente
realidade que repertoriavam. a orientação predominante para a coisa ou para
Já as famosas “listas de palavras” — ou o vocábulo que está na base da diferença entre
“listas lexicais” —, tão frequentes quanto as dicionários enciclopédicos, no primeiro caso, e lin-
demais, nesse mesmo período, não evidenciam guísticos, no segundo.

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Em qualquer dos casos, o que distingue o palavras. É essa experiência, ainda, que nos faz
dicionário de outros gêneros é exatamente essa perceber a distância que sempre se estabelece
dupla aposta no poder da palavra e no seu estrei- entre o vocabulário que conhecemos e domina-
to compromisso com o léxico, que ele pretende mos e as demais palavras que circulam na comu-
inventariar e descrever. Na qualidade de compo- nidade linguística de que fazemos parte.
nente de uma língua, o léxico pode ser definido, Podemos dizer, então, que o léxico, mesmo
inicialmente, como o conjunto de todos os vocá- considerado apenas em sua dimensão de “con-
bulos de que essa língua dispõe. De forma geral, é junto das palavras disponíveis em uma língua”,
nesses termos que ele vem definido em boa parte é, antes de mais nada, uma rede de funções e de
das gramáticas escolares, mas também em mui- relações de forma e de sentido entre vocábulos2,
tos manuais e dicionários de linguística1. e não uma simples lista de itens. Isso porque no
domínio do léxico nenhuma unidade está isola-
O léxico no dicionário da das demais. Pelo contrário: cada vocábulo se
Já nesse primeiro entendimento o léxico define por uma série de relações com os demais.
é uma abstração, ou melhor, uma reconstru- E essas relações podem ser:
ção teórica do mundo das palavras, com base § de sentido — como as que se estabelecem
em experiências concretas sempre limitadas. entre palavras que pertencem a um mes-
Ninguém se depara, no uso cotidiano de uma mo campo temático (pão, leite, manteiga,
língua, com todas as suas palavras. O que de fato café, biscoito...), que são sinônimas ou
testemunhamos, nas diferentes situações de antônimas entre si;
comunicação, é o vocabulário efetivamente em- § de forma — como acontece com vocábu-
pregado por cada usuário com que temos conta- los que são homônimos ou parônimos
to. Nesse vocabulário, há termos de uso comum, um do outro, ou que apresentam as mes-
que todos, em princípio, dominam; outros, são mas sílabas ou os mesmos fonemas, mas
usados e/ou conhecidos apenas em determina- dispostos em ordens diferentes, um cons-
das circunstâncias, ou predominantemente por tituindo um anagrama do outro, como
um tipo particular de pessoa (crianças, idosos, América e Iracema;
homens, mulheres), em determinadas camadas § de forma e de sentido — como acontece
sociais ou em certas regiões. com as séries de palavras que têm um
Assim, nenhum falante é capaz de empregar mesmo radical (famílias de palavras).
ou mesmo reconhecer e compreender todas as
palavras de sua língua, nem dominar todos os Além dessas relações, as palavras desempe-
recursos de comunicação e expressão de que elas nham, quando em uso, diferentes funções possí-
dispõem. Mas é essa experiência individualmen- veis. Algumas dessas funções se referem à própria
te limitada com os vocábulos que nos permite interação e comunicação entre os usuá­rios da
apreender sua natureza e estrutura e entender língua numa situação concreta. Há, por exemplo,
de que maneira funcionam, em nossa língua, os palavras do tipo eu, você, aqui e agora que ser-
mecanismos que nos permitem criar e utilizar vem para criar a própria cena de comunicação: o

1 Ver, a respeito, o Dicionário de lingüística, de


Mattoso Câmara Jr. 2 Cf. Marcuschi (2004), por exemplo.

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sujeito que fala (eu), aquele a quem ele se dirige Por outro lado, esse esforço cotidiano dos
(você), o lugar em que ambos se encontram (aqui) falantes da língua para usar a palavra certa na
e o tempo em que tudo isso acontece. Em outros hora certa leva a muitas inovações. Especial-
casos, as palavras funcionam para “azeitar as mente quando o termo mais adequado parece
relações” entre os interlocutores: estabelecendo faltar no repertório disponível, o falante pode
um nível de linguagem adequado (formal ou propor inovações vocabulares:
informal), dando ênfase ao que se diz (superla- § fazendo um novo uso de um velho termo
tivos e diminutivos, por exemplo), interpelando (o verbo baixar, em informática); ou pro-
diretamente o interlocutor (o caso dos vocativos), pondo um novo vocábulo, construído de
caracterizando o que um outro disse (ele disse, acordo com as regras da língua para a
gritou, vociferou, disparou ...), relacionando o que formação de palavras (a palavra imexível,
o falante diz com o que se acaba de dizer, etc. Há, por exemplo) — nesses casos, teremos
também, os vocábulos e as expressões fixas que um neologismo;
organizam o discurso, assinalando o seu início, § buscando a palavra mais adequada em
o seu desenvolvimento e a sua conclusão; ou, uma outra língua (abajur, araruta e
ainda, relacionando as diferentes partes de uma inúmeras outras) — teremos, então, o
fala ou texto umas com as outras. Finalmente, empréstimo.
há, também, as funções sintáticas que palavras
como as preposições e conjunções desempe- Por esses e por outros motivos, é sempre
nham na construção de frases e enunciados. possível acrescentar ou excluir algum item da
Assim, escolher “a palavra certa”, numa de- descrição que fazemos do léxico. E as relações que
terminada situação de comunicação, envolve reconhecemos entre os seus termos estão sem-
o conhecimento não apenas de uma lista de pre sujeitas a alterações, em decorrência de novas
termos possíveis e seus significados, mas, prin- demandas de expressão e comunicação. Aprovei-
cipalmente, das funções e relações que podem tando a oportunidade para um jogo de palavras
se estabelecer entre cada um deles e os demais, que ilustra bem essa realidade, podemos dizer
até porque seus significados resultam, em boa que, no léxico, um vocábulo não é isso ou aquilo,
medida, dessas relações e funções. Ao selecionar mas está, nesse ou naquele feixe de relações; por-
palavras do léxico, num contexto determinado, tanto, tal como acontece com a moeda, seu valor
o falante desenvolve, portanto, uma estratégia efetivo só se estabelece na hora do uso.
comunicativa particular, recorrendo aos seus co- Finalmente, vamos lembrar que o léxico, tan-
nhecimentos tanto do léxico quanto da própria to como abstração do falante leigo quanto como
situação em que se encontra. (re)construção do linguista ou do lexicógrafo,
Nesse sentido, podemos dizer que um dicio- é sempre um retrato possível da realidade da
nário será tão melhor, como inventário das pala- língua, e não a própria língua. E assim como é
vras de uma determinada língua e descrição de possível tirar retratos muito diferentes de uma
suas potencialidades, quanto maiores e mais per- mesma pessoa ou de uma mesma paisagem,
tinentes forem as informações reunidas sobre dependendo do enquadramento que dermos à
cada palavra, em suas funções e relações. Assim, objetiva, do ângulo com que captarmos a ima-
poderá municiar adequadamente o usuário. gem, do tratamento dado às cores e aos outros

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PNLD 2012 — Dicionários

recursos descritivos próprios da câmara, o léxico de palavras, glossários, vocabulários técnicos,


será retratado de formas muito diversas num textos literários e outras fontes. Constituem-se,
dicionário, em função da concepção de língua e assim, como um levantamento o mais exaustivo
de léxico que o dicionarista adota, de seu inte- possível desses vocábulos e suas acepções. Via de
resse maior ou menor pela língua atual ou pela regra, orientam-se por ideais linguísticos como
“de todos os tempos”, por sua decisão de privi- a norma padrão e os cânones literários, tomados
legiar ou não a norma culta, de favorecer ou não como exemplos de bons usos. Assim, por mais cri-
certa(s) variante(s) regional(is), de incluir ou não teriosos que sejam, seus registros assumem uma
gírias, neologismos e empréstimos recentes etc. perspectiva prescritiva, tendendo a traçar retra-
tos idealizados do léxico, algumas vezes bastante
O “dicionário padrão da língua” distantes da língua efetivamente em uso.
Dicionários são, portanto, descrições mais Seja como for, não só varia, a cada época, a obra
ou menos extensas, mais ou menos detalhadas, que é socialmente eleita “o dicionário padrão da
do léxico de um idioma. Resultam de crenças língua” como a própria concepção; a elaboração
teóricas distintas, quanto à natureza da língua e a organização de um dicionário desse porte e
e/ou do léxico, e podem organizar-se de formas desse alcance vêm passando por grandes trans-
bastante diversas, visando públicos e objetivos formações. Entre outros motivos, isso acontece
distintos, na forma de uma determinada pro- porque as modernas técnicas de registro e proces-
posta lexicográfica. samento de dados tornaram possível o trabalho
Tal diversidade, no entanto, não impede que, com grandes volumes de palavras e de informa-
no contexto de uma língua e de uma cultura, ções a elas associadas, permitindo que o trabalho
estabeleçam-se parâmetros capazes de definir o do lexicógrafo baseie-se num corpus, ou seja, num
que a lexicógrafa brasileira Maria Tereza Camar- conjunto de produções linguísticas – de fontes
go Biderman denominou como o dicionário pa- orais e/ou escritas – coletado com base em crité-
drão da língua. Trata-se de um tipo de dicionário rios rigorosos. Assim, o organizador de um dicio-
que, tanto do ponto de vista da cobertura que nário pode contar, na produção de sua obra, com
faz do léxico quanto das informações que forne- o testemunho vivo e direto dos usos das palavras.
ce a respeito é considerado, pela coletividade a Um recurso como esse liberta os dicionários
que se dirige, como aquele que melhor atende às tanto das eventuais arbitrariedades da compila-
demandas culturais por conhecimentos sobre o ção “artesanal” — que se via compelida a repetir
léxico. E por essa razão tende a se tornar, nessa registros anteriores, por mais distantes que pu-
mesma cultura, o exemplo mais bem acabado dessem parecer da língua atual — quanto dos
de dicionário. Foi o que se deu, segundo a mes- compromissos dessa tradição lexicográfica com
ma lexicógrafa, com o Petit Robert, na França, e as normas urbanas de prestígio e com os usos
com o Aurélio, no Brasil, em algum momento da literários. Em consequência, o léxico retratado
história de uma e outra cultura. por um dicionário baseado em um corpus é mais
Muitos desses dicionários padrão foram fiel à língua viva. E o trabalho do lexicógrafo que
elaborados, basicamente, pela compilação pa- o elabora se equipara ao do cientista — o botâ-
ciente de outros repertórios lexicais: dicionários nico ou o zoólogo, por exemplo — que descreve
mais antigos – gerais ou especializados – listas uma determinada espécie.

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2. Para que servem os dicionários?

autor: Dik Browne

Na medida em que pretendem elaborar uma Da mesma forma, todo e qualquer especialis-
descrição plausível do léxico de uma língua — ta, quando presta contas de suas atividades ao
ou de uma parte dele —, os dicionaristas, ao con- público em geral, se vê diante da mesma deman-
ceber e elaborar suas obras, devem atender não da. Os dicionários servem, então, para subsidiar o
apenas às suas convicções teóricas mas também usuário nessas situações, diminuindo a distância
às principais demandas práticas do falante às que separa o vocabulário e os recursos lexicais
voltas com as palavras de sua língua. que ele domina das possibilidades que o léxico
Tanto na linguagem oral quanto na escrita, de sua língua oferece. Por essa razão, nas ocasiões
os usuários de uma língua enfrentam, cotidia- em que o sentido das palavras está em questão,
namente, situações em que seu domínio, e mes- os dicionários são sempre bem-vindos. Quando
mo seu conhecimento, sobre as palavras, pode nada, servem para tripudiar com o adversário,
ser decisivo para a eficácia de uma ação. Um como na tirinha do Hagar que abre esta seção.
médico, por exemplo, ao usar um termo técnico
em sua interação com o paciente, precisa ter Um servidor de muitos patrões
segurança quanto ao que significa o vocábulo e Como procuram registrar o maior número
às diferenças que existem entre ele e as palavras possível de palavras da língua escrita e falada, e
empregadas no linguajar comum para falar a se esforçam por reunir a seu respeito o máximo
respeito. Só assim poderá certificar-se de que o de informações pertinentes, os dicionários são
paciente entendeu o diagnóstico e está em con- servidores de muitos patrões. Servem a todas e a
dições de seguir o tratamento. Por outro lado, ao cada uma das especialidades com que convive-
explicar e pôr em circulação a terminologia téc- mos; e assim, devem fidelidade ao cotidiano de
nica, pode beneficiar-se de relatos mais precisos, usuários muito diferentes. Por isso mesmo, re-
da parte de seus clientes. “Trocar em miúdos” a gistram e explicam o que significam e como fun-
terminologia que emprega e transpor a lingua- cionam — ou seja, o que valem — as palavras que
gem do paciente para o jargão especializado, designam as mais variadas coisas que existem
na hora do diagnóstico, fazem parte do exercício à nossa volta (palavras lexicais), assim como as
profissional do médico, e não são apenas uma que servem para pôr a língua em funcionamento,
gentileza ou uma habilidade pessoal. organizar o discurso e estabelecer relações entre

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suas partes (palavras gramaticais). Assim, não explica sobre a língua, não são produzidas pelo
é por acaso que os dicionários muitas vezes são dicionarista, mas recolhidas por ele na cultura
chamados de tesouros (ou thesaurus, em latim), de que todos participamos e traduzidas ou
palavra que significa ao mesmo tempo “lugar transpostas. E provêm, então, de:
onde se guardam coisas” e “grandes riquezas”. § saberes populares, ou seja, conhecimen-
Na medida em que guardam palavras tos não especializados mas compartilha-
como quem guarda riquezas, os dicionários dos e consensuais, numa determinada
empregam técnicas e métodos apropriados, cultura; é o caso da própria noção de pa-
elaborados ao longo de séculos pela lexicogra- lavra como um tipo de unidade da língua,
fia, e capazes de indicar para os eventuais in- ou mesmo da ideia de que o mundo se
teressados — com maior ou menor fidelidade, organiza em categorias e subcategorias
mais ou menos detalhes, maior ou menor pre- de “coisas” ou “seres”: animais, vegetais,
cisão e rigor — o valor de cada palavra. Assim, minerais etc.;
o usuário poderá, nesses verdadeiros arquivos, § saberes especializados sobre a língua e o
identificar com precisão o que procura. Porém, mundo, ou seja, conhecimentos científicos
as informações reunidas pelo dicionário, tanto de variada procedência: linguística, teoria
no que afirma sobre as coisas quanto no que literária, matemática, biologia, física etc.

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PNLD 2012 — Dicionários

Nesse sentido, os conhecimentos que o dicio- Proposta lexicográfica


nário põe à nossa disposição são “de segunda Fora ou dentro da escola, um dicionário pode
mão”, o que faz dele um gênero didático (e/ou prestar muitos e variados serviços, cada um
de divulgação) por excelência. Numa definição deles associado a um determinado aspecto da
de átomo, não vamos encontrar a definição dada descrição lexicográfica, ou seja, do conjunto de
por um físico, mas uma síntese, uma tradução explicações que ele fornece sobre cada uma das
de definições tecnicamente especializadas. Da palavras registradas. Vejamos os mais impor-
mesma forma, nos conhecimentos cultural- tantes desses serviços:
mente compartilhados, as explicações não são
as que obteríamos perguntando a respeito de § tirar dúvidas sobre a escrita de uma pala-
alguém na rua, mas uma versão mais formal e vra (ortografia);
sistematizada. Portanto, também por esse moti- § esclarecer os significados de termos des-
vo os dicionários não são sempre — nem devem conhecidos (definições, acepções);
pretender ser — a “última palavra” sobre os § precisar outros usos de uma palavra já
itens que registram. conhecida (definições, acepções);
Seja como for, ao cabo de uma consulta § desvendar relações de forma e de conteúdo
a um dicionário bem elaborado, portanto entre palavras (sinonímia, antonímia, ho-
“consciente” de suas possibilidades e limites, monímia etc.);
o usuário sai enriquecido da experiência. E um § informar a respeito das coisas designadas
desses enriquecimentos será a sua progressi- pelas palavras registradas (informações
va familiaridade com a organização própria sobre o inventor dos balões a gás e o con-
do dicionário, ou seja, o conhecimento que texto de época, num verbete como balão);
adquire sobre os tipos de informação que ali § indicar o domínio, ou seja, o campo do
se encontram, ou mesmo a rapidez crescente conhecimento ou a esfera de atividade a
com que localizará uma informação. Nesse que a palavra está mais intimamente re-
sentido, o uso consciente e crítico de um dicio- lacionada; essa informação é particular-
nário acaba desenvolvendo uma proficiência mente importante quando uma mesma
específica para a busca, o processamento e a palavra assume sentidos distintos (ou
compreensão das informações lexicográficas. acepções) em diferentes domínios, como
Esse conhecimento, por sua vez, será uma ex- planta, em biologia e em arquitetura;
celente ferramenta para o desenvolvimento da § dar informações sobre as funções grama-
competência leitora e do domínio do mundo ticais da palavra, como sua classificação e
da escrita. É exatamente por esse motivo que características morfossintáticas (descri-
o surgimento dos dicionários, numa língua ção gramatical);
determinada, assim como o seu uso efetivo nas § indicar os contextos mais típicos de uso
mais diferentes situações sociais, indiciam um do vocábulo e , portanto, os valores sociais
alto grau de letramento, seja da sociedade, seja e/ou afetivos a ele associados (níveis de
do usuário proficiente. linguagem; estilo);

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PNLD 2012 — Dicionários

§ assinalar, quando é o caso, o caráter regio- entram em contato com palavras típicas de
nal de uma palavra (informação dialeto- épocas passadas ou de outros países lusófonos,
lógica); um dicionário que cubra apenas o léxico do por-
§ descrever a pronúncia culta de termos tuguês contemporâneo do Brasil estará de bom
do português (ortoépia) e a pronúncia tamanho. Para aqueles que leem textos antigos
aproximada de empréstimos não aportu- e/ou de autores portugueses, moçambicanos e
guesados; angolanos, por exemplo, será necessário um di-
§ prestar informações sobre a história da cionário mais amplo. Da mesma maneira, para
palavra na língua (datação; indicação de usuários que não são profissionais da escrita,
arcaísmos e de expressões em desuso) uma descrição lexicográfica mais abreviada é
§ revelar a origem de um vocábulo (etimo- suficiente. Já para aqueles que precisam conhe-
logia). cer o máximo possível sobre os valores e o com-
portamento de uma palavra, para explorá-la
Quanto mais ampla for a seleção de vocábu- até o limite numa peça literária ou, ainda, num
los, maior será a cobertura que o dicionário faz texto que procura, pela reflexão, expandir os li-
do léxico; mais numerosa, portanto, será a sua mites do conhecimento estabelecido, o dicioná-
nomenclatura. E quanto mais detalhada e pre- rio adequado será aquele que recorrer a um rico
cisa for a descrição lexicográfica que se faça de aparato descritivo.
cada termo, mais rigorosa e mais aprofundada Assim, um dicionário prestará serviços tão
como conhecimento sobre a língua ela será. As- mais adequados quanto mais ajustados ao pú-
sim, em função dos objetivos que perseguem, os blico a que se dirige forem o seu zelo descritivo
dicionários podem diferir entre si em termos de e a representatividade de sua cobertura. Por
maior ou menor cobertura e de maior ou menor isso mesmo, todo e qualquer dicionário segue
profundidade, detalhamento e rigor descritivos. um plano próprio, orientado para uma situação
A esta altura, convém lembrar que o léxico de uso e um público determinados. O arranjo
é um componente dinâmico e aberto: novas particular de métodos e técnicas obedecido pelo
palavras surgem a todo o momento, para suprir dicionário é a sua proposta lexicográfica.
necessidades de expressão também novas; ao
mesmo tempo, outros vocábulos se despedem
da cena cotidiana para entrar na história da
língua (palavras em processo de desuso e arca-
ísmos consumados). Portanto, nenhum dicio-
nário, por mais exaustivo que se pretenda em
sua cobertura e descrição, atinge efetivamente
a completude. Mal é editado e publicado, e já o
léxico mudou, aqui ou ali.
Convém lembrar, também, que os níveis de
descrição e os graus de cobertura não interes-
sam igualmente a qualquer grupo de usuário.
Para adultos brasileiros que muito raramente

17
PNLD 2012 — Dicionários

3. O que esperar de um dicionário de uso escolar?


Por sua proposta lexicográfica, um dicioná- proposta lexicográfica não só se mostra compa-
rio pode ser um instrumento bastante valioso tível com essas atividades como é pensada para
para a aquisição de vocabulário e para o ensino propiciar o seu desenvolvimento; e, entre eles,
e a aprendizagem da leitura e da escrita; e isso, são ainda mais adequados os que foram conce-
para todas as áreas e para todas as horas, já que bidos e elaborados para atender a essas deman-
ler e escrever, dentro e fora da escola, fazem par- das específicas. Como uma dessas demandas
te de muitas outras atividades. é exatamente a da adaptação do que se quer
Além disso, para o caso particular de Língua ensinar/aprender ao nível de ensino e aprendi-
Portuguesa, um dicionário poderá dar subsídios zagem visado, podemos acreditar que os dicio-
importantes também para o estudo do léxico, nários orientados para faixas específicas serão
em seus diferentes aspectos. Na maior parte das mais eficazes em seus propósitos pedagógicos.
propostas curriculares estaduais e municipais, Na medida em que os dicionários escolares
um dos objetivos gerais da educação básica é disponíveis no mercado livreiro visam diferen-
desenvolver no aluno a capacidade de recorrer tes públicos, obedecem a diferentes propostas
de forma adequada a diferentes linguagens, e são realizados com graus variados de rigor, po-
comunicando-se com eficácia em diferentes dem se revelar mais ou menos adequados para a
situações sociais. Uma vez que o progressivo consecução dos objetivos pedagógicos visados.
domínio da linguagem escrita é central tanto No caso de obras que foram objeto de avaliação
para o sucesso dessa empreitada quanto para oficial, a questão é ainda mais candente:
o desenvolvimento da autonomia relativa do Considerando-se o conjunto de serviços que
aluno nos estudos, os dicionários certamente um dicionário pode prestar, quais dos títulos
têm uma contribuição efetiva a dar. Por outro disponíveis melhor atenderiam às demandas do
lado, a análise e a reflexão sobre a língua e a ensino e da aprendizagem? Com que rigor cada
linguagem — e, portanto, também sobre o léxi- uma dessas obras executa sua proposta lexico-
co — são parte do ensino de língua materna. E o gráfica? E com que qualidade editorial?
conhecimento sistematizado sobre o léxico que Partindo de questões desse gênero e toman-
o dicionário proporciona tem um papel relevan- do como referência:
te a desempenhar na (re)construção escolar do § os projetos a que os dicionários inscritos
conhecimento sobre a língua e a linguagem. obedecem;
Esse é o motivo pelo qual o dicionário, que é, § os padrões de rigor da descrição lexico-
afinal, um gênero de vocação didática, pode ser gráfica;
particularmente útil e mesmo imprescindível § os objetivos da educação básica em geral
ao cotidiano da escola. Mas na medida em que e de cada um de seus níveis de ensino;
professores e alunos, em consequência das ati-
vidades que desenvolvem, criam demandas de o MEC avaliou e selecionou, para as nossas es-
ensino e aprendizagem que não se confundem colas públicas, dicionários o mais possível ade-
com as de outros públicos, os dicionários mais quados ao uso escolar. Você pode conferir a lista
indicados para o uso escolar serão aqueles cuja completa dessas obras no Anexo 1.

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PNLD 2012 — Dicionários

4. Novos dicionários estão chegando...


Desde 2006, um dos objetivos do PNLD tem Para avaliar as possibilidades pedagógicas
sido o de equipar as escolas com um número dessas obras, no entanto, é preciso resgatar os
significativo de diferentes tipos e títulos de parâmetros estabelecidos para elas pelo PNLD3
dicionários. Com isso, as equipes docentes 2012. De acordo com o Edital correspondente,
dispõem de mais um recurso, não só para o en- um dicionário escolar deve caracterizar-se, an-
riquecimento de seu patrimônio cultural, mas, tes de tudo, pela etapa de ensino a que se desti-
ainda, para um diálogo proveitoso, em sala de ne e pelo seu porte, ou seja, pela quantidade de
aula, com os livros didáticos, os acervos comple- verbetes e de informações a respeito que reúna.
mentares destinados aos três primeiros anos Deve, ainda, configurar-se de acordo com um
do ensino fundamental, as obras disponíveis dos quatro tipos abaixo:
na biblioteca escolar ou na sala de leitura, peri-
ódicos e obras teórico-metodológicas destina-
das ao professor e os vídeos da TV Escola.

Tipos de dicionários Etapa de ensino Caracterização

§ Mínimo de 500 e máximo de 1.000 verbetes;


1º ano do Ensino
Dicionários de Tipo 1 § Proposta lexicográfica adequada às demandas
Fundamental
do processo de alfabetização inicial.
§ Mínimo de 3.000 e máximo de 15.000 verbetes;
§ Proposta lexicográfica adequada a alunos em
2º ao 5º ano do
Dicionários de Tipo 2 fase de consolidação do domínio tanto da es-
Ensino Fundamental
crita quanto da organização e da linguagem
típicas do gênero dicionário.
§ Mínimo de 19.000 e máximo de 35.000 verbetes;
§ Proposta lexicográfica orientada pelas caracte-
6º ao 9º ano do
Dicionários de Tipo 3 rísticas de um dicionário padrão de uso escolar,
Ensino Fundamental
porém adequada a alunos dos últimos anos do
ensino fundamental.
§ Mínimo de 40.000 e máximo de 100.000 ver-
betes;
1º ao 3º ano do § Proposta lexicográfica própria de um dicio-
Dicionário de Tipo 4
Ensino Médio nário padrão, porém adequada às demandas
escolares do ensino médio, inclusive o profis-
sionalizante.

3 Ver, a respeito, BRASIL. SEB. MEC. Edital do PNLD Dicionários 2012. Brasília: 2011.

19
Como é fácil perceber por esse quadro, os
dicionários de um determinado tipo diferem
dos demais não só pela quantidade e pelo tipo
de palavra que registram, mas, ainda, pelo tra-
tamento que dão às explicações de sentidos, à
estrutura do verbete e à organização geral do
volume. E essas diferenças de porte e organiza-
ção devem justificar-se pelas particularidades
do usuário visado.
Em consequência, mesmo no interior de
um mesmo tipo, cada título oferece ao aluno
da educação básica a que se dirige um acesso
particular a diferentes aspectos da cultura da
escrita, dos vocabulários e do léxico do portu-
guês. Enfim: o mundo das palavras — com todos
os outros mundos a que elas podem dar acesso
— é apresentado e descrito de forma diversa por
cada proposta lexicográfica.

20
PNLD 2012 — Dicionários

5. Como são esses dicionários?


Considerando-se em conjunto os tipos es- de sua formação linguística. De acordo com pes-
tabelecidos pelo PNLD, é possível traçar uma quisas sobre o processo individual de aquisição
clara linha divisória entre dois grupos de obras, de vocábulos, o usuário médio adulto — ou, para
correspondentes aos tipos 1 e 2, o primeiro, e 3 e o que nos interessa, o aluno que termina a edu-
4, o segundo. cação básica — dominaria cerca de 20.000 vocá-
Na medida em que têm como público-alvo bulos; já a criança de seis anos, estaria familiari-
alunos em processo de alfabetização e de aquisi- zada com aproximadamente 5.000 palavras.
ção da escrita, os tipos 1 e 2 têm um porte limita- Desse ponto de vista estritamente quantita-
do, o que os distancia bastante da seleção voca- tivo, a distância entre a criança de seis anos e o
bular — representativa de todo o léxico — pró- adulto — ou entre o aluno que entra no ensino
pria do dicionário padrão da língua. Nesse senti- fundamental e o que sai do ensino mé-
do, esses dois primeiros tipos não se constituem, dio — residiria em 15.000 palavras,
a rigor, como dicionários. São, antes, repertórios a serem aprendidas dentro e
de palavras organizados como tais, com o obje- fora da escola, ao longo
tivo de introduzir (Tipo 1) e familiarizar (Tipo 2) o de ao menos 12 anos.
aluno do primeiro segmento com esse gênero e Nesses termos, pode-
com o tipo de livro que, em sua versão impressa4, mos dizer que a fun-
o caracteriza. Via de regra, limitam as classes de ção básica do dicio-
palavras a substantivos, adjetivos e verbos (Tipo nário escolar é
1), raramente ampliando esse repertório (Tipo a de colaborar
2). Em contrapartida, os tipos 3 e 4, destinados significativa-
a (pré-)adolescentes, já se inserem, ao menos mente com os
no que diz respeito à nomenclatura —, e ainda processos de ensi-
que em diferentes graus —, em padrões bem no e aprendizado
estabelecidos de representatividade. E muito que se desenvol-
se aproximam de dois modelos culturalmente vem nesse perío-
muito difundidos: o minidicionário (Tipo 3) e o do, favorecendo,
dicionário padrão (Tipo 4). ainda, a con-
A mesma linha divisória se revela se tomar- quista da auto-
mos como referência, agora, um dos objetivos nomia do aluno
mais visados pela escola e, em especial, pelo no uso apropria-
ensino de leitura e escrita: o desenvolvimento do e bem-sucedido
da competência lexical, ou seja, o conjunto de dos dicionários de
diferentes saberes relativos às palavras que um referência de sua
falante domina, num determinado momento língua.

4 Convém lembrar, a esta altura, que o mercado editorial brasileiro já conta com muitas versões
eletrônicas de dicionários, o que faz prever para breve sua incorporação a acervos escolares.

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PNLD 2012 — Dicionários

Dicionários de Tipo 1 e 2 § têm como foco o vocabulário que seus au-


Do ponto de vista do nível de ensino a que se tores consideram básico;
destinam, os dicionários de Tipo 1 e 2 têm em co- § propiciam ao trabalho de sala de aula um
mum o fato de que devem atender a demandas primeiro acesso ao universo das palavras
pedagógicas dos cinco primeiros anos do ensino e dos dicionários;
fundamental. Como sabemos, esses são os anos § recorrem a ilustrações como estratégia
consagrados ao letramento e à alfabetização tanto de motivação da leitura (ilustrações
iniciais (três primeiros anos ou primeiro ciclo), fic cionais) quanto de explicitação de sen-
assim como à consolidação desse processo (dois tidos das palavras (funcionais);
últimos anos ou segundo ciclo). § trazem verbetes de estrutura simples,
Uma das principais responsabilidades do com um pequeno número de acepções
primeiro ciclo está na organização didática e informações linguístico-gramaticais
do processo de aquisição do sistema alfabé- reduzidas ao indispensável — quase sem-
tico de escrita. Afinal, esta é uma condição pre em linguagem informal e acessível,
essencial para o desenvolvimento de graus acompanhada de exemplos de uso.
crescentes de letramento e de proficiência
em leitura e escrita. Por isso mesmo, o pro- Distinguem-se, no entanto, não só pelo porte
fessor desse ciclo deve poder contar, em sala de suas respectivas nomenclaturas, mas ainda
de aula, com materiais didáticos que, cum- pela forma como se organizam para atingir seu
prindo a função de apresentar ao aluno gê- principal objetivo, de familiarizar o aluno com
neros textuais e tipos de impressos próprios o gênero e oferecer ao trabalho de sala de aula
do mundo da escrita, suponham diferentes subsídios para as primeiras explorações do vo-
graus de alfabetização e de autonomia em cabulário e do léxico.
leitura e escrita por parte das crianças. Nes-
se sentido, os dicionários de Tipo 1 são mais
compatíveis com um alunado ainda em pro-
cesso de compreensão e aquisição da escrita
alfabética; e os de Tipo 2 supõem alunos não
só já capazes de decodificar a escrita como,
ainda, de ler com alguma autonomia.
Tendo em vista que procuram atender a
demandas próprias desse nível de ensino e
aprendizagem, os títulos reunidos nesses dois
primeiros Tipos compartilham algumas carac-
terísticas:
§ recolhem, em sua nomenclatura, um
número limitado de verbetes, incapaz de
refletir a variedade dos tipos de palavras
e expressões que o léxico de uma língua
como o português brasileiro abriga;

22
PNLD 2012 — Dicionários

O Tipo 1 Cada um deles reúne cerca de 1.000 pala-


Nossas escolas estão recebendo três títulos vras, selecionadas dentro de campos temáticos
diferentes de dicionários do primeiro tipo5: relacionados com o cotidiano infantil, como
ambiente doméstico, escola, higiene e saúde,
1. Bechara, Evanildo. Dicionário infantil ilus- alimentos, divisões do tempo, brincadeiras
trado Evanildo Bechara. Rio de Janeiro: e jogos etc. Todos eles trazem, em apêndice,
Nova Fronteira, 2011. [1.000 verbetes] painéis que reúnem ilustrações legendadas, re-
2. Biderman, Maria Tereza Camargo & Carva- lativas a um mesmo domínio. São os “quadros
lho, Carmen Silvia. Meu primeiro livro de temáticos”, sobre assuntos tão diversos quanto
palavras; um dicionário ilustrado do por- frutas, cores, o corpo humano, insetos, “nossa
tuguês de A a Z. 3 ed. São Paulo: Ática, 2011. comida”, “lugares e posições”, esportes etc. Ve-
[999 verbetes] jamos três exemplos:
3. Geiger, Paulo (org.). Meu primeiro dicioná-
rio Caldas Aulete com a Turma do Cocoricó.
2 ed. São Paulo: Globo, 2011. [1.000 verbetes]

Biderman, Maria Tereza Camargo & Carvalho, Carmen Silvia. Meu


primeiro livro de palavras; um dicionário ilustrado do português de
A a Z. 3 ed. São Paulo: Ática, 2011. [999 verbetes]

1)

5 As referências ao número de verbetes reproduzem as informações disponíveis nas edições analisadas em 2012.

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PNLD 2012 — Dicionários

Bechara, Evanildo. Dicionário infantil ilustrado


Evanildo Bechara. Rio de Janeiro:

2) Nova Fronteira, 2011. [1.000 verbetes]

3)

Geiger, Paulo (org.).


Meu primeiro dicionário

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PNLD 2012 — Dicionários

Ainda que se destinem a crianças em fase alfabética, listas de vocábulos seguidas de suas
inicial de alfabetização, esses títulos pressu- respectivas ilustrações — e, algumas vezes, tam-
põem usuários que não só dominam o princípio bém de outros termos da mesma família. Neles,
alfabético da escrita, como já sabem identificar as ilustrações permitem que o aluno identifique
e decodificar palavras gráficas. Para ajudar os a palavra gráfica correspondente, funcionando,
alunos que não se encontrem nesse estágio, ainda, como definições.
será possível recorrer a um outro tipo de obra. Em dois dos dicionários de Tipo 1, persona-
Em qualquer um dos cinco diferentes acervos gens ficcionais, em ilustrações atraentes e bem-
complementares distribuídos às escolas em -humoradas, recebem o pequeno leitor “à porta”
2012, há, entre os livros da área de “Linguagens e do dicionário e o acompanham na visita aos
códigos”, alguns que podem prestar excelentes verbetes. No Caldas Aulete, esse papel é desem-
serviços para a reflexão que o aluno deve fazer penhado pela Turma do Cocoricó.
sobre a escrita, no processo de
apropriação do sistema alfabético.
São os “livros de palavras”. Todos
eles abrigam, dispostas em ordem

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PNLD 2012 — Dicionários

Já no Evanildo Bechara, cabe a Nildo, uma es-


pécie de avatar infantil do próprio autor, fazer
as honras da casa.

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PNLD 2012 — Dicionários

Para além das ilustrações e do recurso à Entre as definições oracionais, há algumas,


ficção, esses dicionários caracterizam-se pela denominadas “instanciativas”, que correspon-
predominância de definições de um tipo par- dem a um uso efetivo da palavra definida:
ticularmente produtivo para o processo de
ensino e aprendizagem. Trata-se das definições
oracionais, que, ao contrário das definições eclipse e-clip-se
clássicas ou analíticas, se organizam como um O eclipse ocorre quando um astro
pequeno enunciado expositivo ou narrativo, (estrela, planeta, etc.), ou parte dele,
em linguagem simples, coloquial e interativa, deixa de ser visto por um tempo por-
muito próxima da oralidade: que um outro astro se colocou na sua
frente. Quando ocorre o eclipse do Sol,
fica escuro durante o dia.
ambulância [Meu primeiro livro de palavras]
A ambulância é um carro especial
para levar pessoas doentes ou machu-
cadas para o hospital. Recorrendo a tais formulações, o enunciado,
[Meu primeiro dicionário Caldas Aulete infantil ao mesmo tempo que define, constitui-se como
ilustrado] um exemplo de uso do vocábulo e prepara a
criança para a compreensão futura de defini-
ções mais complexas e abstratas.
Como é possível perceber facilmente, As intenções didáticas desses dicionários não
esses enunciados muito se aproximam das se restringem, porém, ao tipo de definição. Os três
práticas com que os usuários mais experien- trazem, antes da lista alfabética de verbetes, pre-
tes e maduros esclarecem oralmente o sen- fácios dirigidos tanto aos pais e/ou professores
tido de palavras e expressões para crianças. quanto aos próprios alunos. São textos de apre-
Assim, não só cumprem adequadamente sentação da obra, com informações e linguagem
suas funções como evitam a complexidade ajustadas ao destinatário visado. No dicionário
e — considerando-se a faixa etária em jogo Evanildo Bechara, parte da apresentação cumpre,
— a artificialidade das definições analíticas, também, a função de um “guia do usuário”, exer-
típicas de um dicionário padrão: cida por seções específicas nos outros dois títulos.
Ao final do volume, todos apresentam os
quadros temáticos já referidos. Além deles,
ambulância am-bu-lân-ci-a Sf 1 veículo Evanildo Bechara inclui o mapa do Brasil, com
especialmente equipado para condu- as bandeiras dos estados e a divisão regional;
zir doentes e feridos 2 hospital móvel bandeiras dos países; tabela de números — ará-
para socorro de emergência. bicos, romanos, cardinais e ordinais; medidas do
[Dicionário Unesp do português tempo; linhas e formas; e o Hino Nacional Brasi-
contemporâneo] leiro. Meu primeiro livro de palavras, por sua vez,
oferece ao alfabetizando quadros informativos
sobre sinais da escrita (acentuação; pontuação

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PNLD 2012 — Dicionários

e outros sinais) e abreviaturas; números e medi- Sete títulos foram selecionados:


das; pessoas e posições; antônimos.
Nem todos os verbetes desses três dicionários 1. Biderman, Maria Tereza Camargo. Dicio-
vêm ilustrados. Seja como for, todas as páginas nário ilustrado de português. 2 ed. São
contam com desenhos que ora colaboram para Paulo: Ática, 2009. [5.900 verbetes]
a explicitação dos sentidos dessa ou daquela 2. Borba, Francisco S. Palavrinha viva; di-
acepção de um vocábulo, ora motivam a leitura, cionário ilustrado da língua portugue-
aproximando-a o mais possível de uma atividade sa. Curitiba: Piá, 2011. [7.456 verbetes]
lúdica. No primeiro caso, o desenho aparece no 3. Braga, Rita de Cássia Espechit & Maga-
mesmo campo visual do verbete; ou, quando vem lhães, Márcia A. Fernandes. Fala Brasil!;

deslocado, por força da diagramação, há recursos dicionário ilustrado da língua portu-


como setas ou linhas pontilhadas que se encar- guesa. Belo Horizonte: Dimensão, 2011.
regam de estabelecer as relações com o verbete [5.400 verbetes]
correspondente. No entanto, já que todos os títu- 4. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda.
los desse Tipo optaram por ilustrações que, inva- Dicionário Aurélio ilustrado. Curitiba:
riavelmente, remetem a universos imaginários, Positivo, 2008. [10.243 verbetes]
nem sempre há clareza na informação visual, 5. Geiger, Paulo (org.). Caldas Aulete – Di-
como podemos constatar em fronteira, no Meu cionário escolar da língua portuguesa;
primeiro livro de palavras, espalhar, em Evanildo ilustrado com a turma do Sítio do Pica-
Bechara, ou praça, no Caldas Aulete. -Pau Amarelo. 3 ed. São Paulo: Globo,
2011. [6.183 verbetes]
O Tipo 2 6. Mattos, Geraldo. Dicionário júnior da
Quanto aos dicionários do segundo tipo, des- língua portuguesa. 4 ed. São Paulo: FTD,
tinam-se aos anos finais do primeiro segmento 2011. [14.790 verbetes]
do ensino fundamental. O objetivo, aqui, é fami- 7. Saraiva, Kandy S. de Almeida & Oliveira,
liarizar o aluno com os dicionários padrão, ainda Rogério Carlos G. de. Saraiva Júnior;
que, em consequência das características do lei- dicionário da língua portuguesa ilus-
tor iniciante e das demandas próprias da escola, trado. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
essas obras atendam, sobretudo, a compromis- [7.040 verbetes]
sos didáticos. Nesse sentido, podem ser utiliza-
dos com proveito desde o primeiro ano, como
exemplos de obra de maior porte; ou mesmo nos Reunindo um número de verbetes que varia
primeiros anos do segundo segmento do ensino de 5.900 (Dicionário ilustrado de português) a
fundamental, como recurso complementar no 14.790 (Dicionário júnior da língua portuguesa), os
processo de familiarização dos alunos com os dicionários de Tipo 2 são bastante diversos, no que
dicionários de Tipo 3. diz respeito ao projeto gráfico e à estrutura dos
verbetes, configurando propostas lexicográficas
distintas. Do ponto de vista pedagógico, é possí-
vel enxergar, nessas obras, características que as
aproximam ora dos dicionários de Tipo 1, ora dos

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PNLD 2012 — Dicionários

de Tipo 3, como veremos. Isso deverá permitir ao


professor estratégias didáticas bastante variadas,
seja de ensino e aprendizagem do gênero, seja de
tratamento do vocabulário e do léxico.
Duas dessas obras — o Caldas Aulete e o Pa-
lavrinha viva — mantêm alguns dos traços dos
dicionários do Tipo 1, ao mesmo tempo em que
ampliam tanto a nomenclatura selecionada,
quanto as informações semânticas, gramaticais
e contextuais de cada verbete, assim como os
recursos gráficos correspondentes. No contexto
dos dicionários de Tipo 2, caracterizam-se pelo
diálogo que promovem seja com a literatura
infantil, seja com as ilustrações e o imaginário
que, em geral, a ela se associam.
Palavrinha viva aposta nos desenhos coloridos
e bem-humorados. Mas só explica o sentido das
rubricas que assinalam a descrição lexicográfica
de cada verbete na “Chave do dicionário” e na lista
de “Abreviaturas”. Já o Caldas Aulete, valendo-se
do universo fic cional do Sítio do Pica-Pau Amarelo
como recurso motivacional, indica, por meio de
rubricas sempre retomadas e desdobradas no
rodapé da página, estrangeirismos, subentradas,
locuções, sinônimos e antônimos etc. Ambas as
obras se valem de bons recursos gráficos para in-
dividualizar as seções alfabéticas, como as cores,
as separatrizes e o destaque dado, na margem das
páginas, à letra correspondente a cada seção.
Numa outra perspectiva, Saraiva Júnior e Fala
Brasil! seguem projetos gráfico-editoriais que os
aproximam dos almanaques infantis; o primeiro
deles, até pelo formato “de bolso”. Além disso, bo-
xes como “Você sabia?” e “Faça você mesmo” insti-
gam a curiosidade e a iniciativa do aluno:

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PNLD 2012 — Dicionários

Ao mesmo tempo, “Adivinha”, “Trava-lín-


gua” e “Provérbio” têm função predominante-
mente lúdica, mas envolvem gêneros de inte-
resse didático para esse nível de ensino.

Em ambos os dicionários, a preocupação com


o domínio da ordem alfabética pela criança se
faz presente. Entre outros aspectos, pela repro-
dução integral do alfabeto nas margens direita
(folhas ímpares) e esquerda (folhas pares), com a
letra de cada seção devidamente destacada.
No Fala Brasil!, seções como “Desafio”, “Você
sabia, sabiá?” e “Lupa na palavra”, ampliam as
informações de alguns verbetes; por sua vez, “Pa-
lavra cantada”, “O pio da piada”, “O que é, o que é”
e “Para brincar de... (adedanha; falar a língua do pê;
palavras embaralhadas; etc.)” expandem e contex-
tualizam os usos dos vocábulos a que se referem,
ao mesmo tempo em que têm caráter lúdico.

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PNLD 2012 — Dicionários

Esse mesmo dicionário traz um recurso Sem ilustração, mas com quadros temáticos
de busca bastante produtivo para alunos dos (“painéis ilustrados”) em suas páginas finais,
anos iniciais do ensino fundamental. Trata-se o Dicionário júnior da língua portuguesa é o
de um índice das expressões idiomáticas de- que mais se assemelha aos de Tipo 3, no que diz
finidas na obra, com a indicação dos verbetes respeito ao projeto gráfico (inclusive formato) e
em que constam. também ao porte da nomenclatura. No entanto,
Por sua vez, o Dicionário ilustrado de portu- assim como nos demais exemplos desse tipo, o
guês distingue-se dos anteriores por apostar caráter didático revela-se em aspectos como se-
num projeto gráfico-editorial que lembra as leção lexical dirigida ao seu público, nas defini-
enciclopédias infanto-juvenis. De modo geral, ções em linguagem simples e sempre seguidas
a obra procura cumprir o duplo desafio de de exemplos, nas informações agregadas a cada
motivar as crianças para o “fascinante mundo vocábulo, justificadas por demandas escolares.
das palavras” e de introduzi-las no universo
de um dicionário bastante semelhante, no
que diz respeito à organização do verbete e
às informações disponíveis, aos destinados a
adultos. Num formato semelhante ao de livros
didáticos e com muitas ilustrações, o dicioná-
rio investe numa seleção criteriosa dos vocá-
bulos, estabelecida com base em um corpus de
cerca de seis milhões de palavras, recolhidas
em diferentes situações de escrita e de fala. A
apresentação é bastante didática e adequada
ao aluno desse nível, enquanto as definições
recorrem a linguagem simples mas precisa.
Assim como a anterior, duas outras obras
procuram assemelhar-se aos dicionários de uso
geral. Neste caso, até mesmo por meio da signi-
ficativa ampliação da nomenclatura, se as com-
paramos com as demais desse Tipo.
Em função de seus propósitos didáticos, o
Dicionário Aurélio ilustrado apresenta-se como
uma versão menor da obra de referência a que
se vincula: nomenclatura definida em função
do aluno recém-alfabetizado, numerosas ilus-
trações coloridas, acepções mais frequentes e
definições simplificadas.

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PNLD 2012 — Dicionários

Dicionários de Tipo 3 e 4 Os títulos selecionados pela avaliação


Por seu porte, formato e objetivos, os dicioná- são os seguintes:
rios desses dois tipos muito se aproximam dos 1. Bechara, Evanildo (org.). Dicionário es-
que se dirigem ao público geral, embora tenham colar da Academia Brasileira de Letras.
como foco o aluno do segundo segmento do 3 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 2011.
ensino fundamental (Tipo 3) e do ensino médio [28.805 verbetes]
(Tipo 4). Por suas características, todos eles po- 2. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda.
dem, como veremos, prestar bons serviços ao Aurélio Júnior: dicionário escolar da
processo de ensino e aprendizagem. Mesmo o língua portuguesa. 2 ed. Curitiba: Posi-
professor poderá valer-se deles, para sanar dúvi- tivo, 2011. [30.373 verbetes]
das sobre certas palavras e expressões da língua. 3. Geiger, Paulo (org.). Caldas Aulete – mi-
nidicionário contemporâneo da língua
O Tipo 3 portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Lexi-
Os de Tipo 3, mesmo nos casos em que o proje- kon, 2011. [29.431 verbetes]
to gráfico-editorial está orientado para o público 4. R amos , Rogério de Araújo (ed. resp.).
jovem escolarizado, têm, quase todos, caracterís- Dicionário didático de língua por-
ticas típicas de minidicionários de uso geral: tuguesa. 2 ed. São Paulo: SM, 2011.
§ registram entre 19.000 e 30.000 palavras; [26.117 verbetes]
§ só se valem — quando é o caso — de ilustra- 5. Saraiva, Kandy S. de Almeida & Olivei-
ções funcionais, jamais recorrendo, portan- ra, Rogério Carlos G. de. Saraiva jo-

to, a universos ficcionais ou perseguindo vem; dicionário da língua portugue-


objetivos puramente motivacionais; sa ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2010.
§ configuram-se como representativos do [19.214 verbetes]
léxico do português brasileiro, incluindo
palavras de todas as classes e tipos; e, al- Considerando-se o nível de ensino a que se
gumas vezes, siglas, símbolos, afixos etc.; destinam, todos esses títulos demandam a me-
§ têm uma estrutura de verbete mais com- diação do professor. Para consultá-los, o aluno
plexa que os dicionários dos dois tipos deverá vencer a relativa distância que se esta-
anteriores; belece entre esse novo patamar lexicográfico e
§ trazem um maior número de informa- aquele dos dicionários de Tipo 1 e 2. Além disso,
ções linguísticas sobre as palavras regis- cada um deles apresenta suas informações de
tradas; uma forma diferente da dos demais, tanto no
§ usam, nas definições e explicações, uma que diz respeito aos itens contemplados, quan-
linguagem mais impessoal, às vezes mais to à linguagem empregada nas definições.
especializada ou técnica, nem sempre di- Para se ter uma ideia das diferenças em jogo,
retamente acessível para o aluno. basta comparar, em cinco desses dicionários, o
tratamento dado à palavra eclipse, de grande
interesse escolar:

32
PNLD 2012 — Dicionários

Dicionário da Língua
Portuguesa Evanil-
do Brechara; (cód.
32245L0000)

Considerando-se que, em casos como o que


acabamos de ver, a consulta em geral é motivada
pela leitura de textos didáticos ou de divulgação
Minidicionário
comtemporâneo da científica, são particularmente relevantes as ilus-
língua portuguesa trações elucidativas, as informações enciclopé-
dicas (no corpo do verbete ou em boxes) e as defi-
nições precisas, capazes de contribuir para uma
melhor assimilação do conhecimento visado.
A tradição lexicográfica está representada,
de diferentes formas, em dicionários como o da
Academia Brasileira de Letras, o Aurélio Júnior

33
PNLD 2012 — Dicionários

e o Caldas Aulete. O primeiro é de responsabili- § incluem ilustrações — no caso do Saraiva


dade da Comissão de Lexicologia e Lexicografia jovem, fotos em branco e preto; no Dicio-
da Academia; em terceira edição, representa nário didático..., desenhos em estilo “bico
oficialmente o ponto de vista dessa instituição de pena”, às vezes reunidos em quadros te-
a respeito do que deva ser um dicionário esco- máticos (árvores; habitação; insetos; etc.);
lar do português brasileiro. O segundo, como o § recorrem a charges, quadrinhos e letras de
título já indica, é uma versão “júnior” — ou seja, música da MPB (Saraiva jovem), na contex-
a mais “jovem” — de um dos mais tradicionais tualização dos usos de certas palavras.
dicionários brasileiros. Já o Caldas Aulete, filia-se Além disso, as acepções mais atuais e/ou ca-
a uma prestigiosa obra de origem portuguesa, racterísticas do português brasileiro antecedem
que teve importantes e renovadoras edições as demais, na organização do verbete.
brasileiras até a década de 1980. No entanto,
a sintonia com a atualidade e a preocupação
didática ultrapassam, nos três casos, as declara-
ções de intenções dos respectivos prefácios:
§ a seleção lexical é representativa do por-
tuguês brasileiro contemporâneo;
§ há guias de uso voltados para o jovem
consulente;
§ apêndices e informações complemen-
tares procuram suprir tradicionais de-
mandas escolares (minienciclopédia para
nomes próprios; tabelas de conjugação
verbal; resumos ortográficos e/ou gra-
maticais; boxes com informações enci-
clopédicas em verbetes como “Bíblia” ou
“natação” etc.).

Entre os três títulos, apenas o Caldas


Aulete traz ilustrações; na maioria dos
casos, em verbetes em que a informação
visual é bastante relevante para a elu-
cidação dos sentidos, como em “almo-
tolia” e “boleadeiras”.
Já o Saraiva jovem e o Dicionário didá-
tico de língua portuguesa obedecem a
projetos gráfico-editoriais mais marca-
damente escolares:

34
PNLD 2012 — Dicionários

Dicionários de Tipo 4 rigorosas de recolha e processamento de vo-


Ainda que se destinem prioritariamente ao cábulos; enquanto o Evanildo Bechara baseia
ensino médio, os dicionários de Tipo 4 podem sua seleção vocabular, segundo o Prefácio,
ser usados — com a devida mediação do pro- nas áreas do conhecimento e dos temas que
fessor — também nos dois segmentos do ensi- “estimulam a curiosidade intelectual dos
no fundamental, associados a obras de Tipo 1 e jovens e lhes agudizam o cabedal de cultura”.
2. E isso porque, do ponto de vista do seu porte Seja por esta perspectiva, seja por aquelas
e dos objetivos visados, todos eles procuram técnicas de construção prévia de um banco
aproximar-se do dicionário padrão, referência de dados capaz de funcionar como base tanto
inescapável para a compreensão dos gêneros para a seleção lexical quanto para a explici-
lexicográficos. tação dos sentidos possíveis de cada palavra,
todos esses dicionários reivindicam atuali-
dade e rigor lexicográficos.
Os títulos selecionados foram os seguintes: Como obras de referência, esses dicioná-
1. Bechara, Evanildo. Dicionário da língua rios reúnem grande número de informações
portuguesa Evanildo Bechara. Rio de sobre cada palavra registrada. Para além da
Janeiro: Nova Fronteira, 2011. [51.210 ortografia, da divisão silábica, da definição de
entradas (verbetes e locuções)] uma ou mais acepções e dos exemplos de uso,
2. Borba, Francisco S. Dicionário Unesp do presentes em obras dos quatro Tipos, os dicio-
português contemporâneo. Curitiba: nários de Tipo 4 registram o maior número
Piá, 2011. [58.237 verbetes] possível de acepções, associadas à classifica-
3. Geiger, Paulo (org.). Novíssimo Aulete ção gramatical correspondente. Em sua maio-
dicionário contemporâneo da língua ria, indicam sinônimos, antônimos e parôni-
portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon, mos. Também assinalam a pronúncia padrão
2011. [75.756 verbetes] de palavras que suscitem dúvidas, registram
4. Houaiss, Antônio (org.) & Villar, Mauro a classificação gramatical de cada uso de um
de Salles (ed. resp.). Dicionário Hou- vocábulo, apresentam as conjugações e a
aiss conciso. São Paulo: Moderna, 2011. transitividade dos verbos, anotam regências
[41.243 verbetes] nominais e verbais e informam, por meio de
rubricas ou marcas de uso, o domínio a que a
palavra entrada ou uma de suas acepções está
O padrão perseguido por essas obras afas- associada, assim como o nível de linguagem
ta-se, em maior ou menor grau, dos tradicio- envolvido: formal; informal; coloquial; pejora-
nais procedimentos de compilação a partir tivo; chulo... Vocábulos ou acepções regionais
de antigos repertórios lexicais e/ou dicioná- também são indicados.
rios consagrados. Por sua relativa novidade
na lexicografia brasileira, convém mencionar Não é curioso — e produtivo, do ponto de vis-
que o Dicionário Unesp, o Novíssimo Aulete e ta pedagógico — que os dicionários destinados
o Houaiss conciso recorrem a corpora de refe- ao uso escolar possam ser de Tipos tão variados,
rência e se organizam de acordo com técnicas no cumprimento da mesma tarefa de registrar,

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PNLD 2012 — Dicionários

descrever e explicar as palavras da língua para Seja como for, o que não se pode perder de
jovens aprendizes? Isso certamente nos remete vista é que, ao final de suas experiências com
às muitas formas diferentes de ensinar e apren- dicionários, os alunos devem ser capazes de
der, aos níveis de ensino e objetivos que podem reconhecer semelhanças e diferenças entre
estar em jogo e aos muitos usos que é possível dicionários de um mesmo tipo e de tipos dife-
fazer desse material. Remete-nos, ainda, ao fato rentes. Devem, ainda, sair do primeiro segmen-
de que muitos dos títulos dos Tipos 3 e 4 também to do ensino fundamental familiarizado com
estão de olho no usuário adulto, envolvido com o dicionários escolares de língua portuguesa e
uso profissional das palavras e com os conheci- em condições de aprender, ao longo do ensino
mentos especializados, inclusive aqueles sobre a médio, tanto a manusear obras do Tipo 3 e 4 com
língua e a linguagem. desembaraço quanto a entender e utilizar as in-
formações disponíveis em seus verbetes.

36
PNLD 2012 — Dicionários

6. Como usar esses dicionários?


Para que os dicionários de todos os Tipos Seguindo-se à parte central, as páginas pós-
prestem os seus melhores serviços a professores -textuais podem trazer tipos muito diversos de
e alunos, a primeira providência a tomar, em apêndice, como vimos:
qualquer nível de ensino, é a de (re)conhecer o § quadros temáticos (principalmente nos
gênero em questão, e, em consequência, domi- dicionários dos dois primeiros tipos);
nar as características do tipo de suporte de es- § ilustrações e/ou informações de caráter en-
crita a que ele está diretamente associado. Será ciclopédico, incluindo “minienciclopédias”.
preciso, então, identificar o dicionário como um § tabelas de conjugação verbal;
tipo particular de livro (ver, a respeito, as ativida- § listas de siglas e abreviaturas mais usa-
des da segunda parte). Para tanto, os dicionários das no dicionário;
enviados às escolas devem estar facilmente dis- § tabelas de coletivos, gentílicos, estrangei-
poníveis para o uso. rismos e outros;
Num primeiro exame, será possível explo- § informações sobre a origem das palavras;
rar aspectos fundamentais da estrutura desse § resumos gramaticais.
tipo de livro. Como vimos na descrição dos
quatro tipos, na seção anterior, todos eles têm Cada um desses apêndices pretende aten-
um núcleo — as seções alfabéticas com os vo- der a uma demanda específica, visando com-
cábulos selecionados — a que se acrescentam plementar as informações presentes na parte
diferentes tipos de apêndices. central. Reconhecer e entender todo esse apa-
Nas “páginas prefaciais”, assim chamadas rato, que faz parte do dicionário, é de grande
porque antecedem a parte central, podemos en- pertinência, seja para a assimilação do gênero,
contrar, inicialmente: seja para orientação do usuário quanto ao que e
§ prefácios do autor e/ou da editora; onde é possível pesquisar.
§ apresentações da obra, geralmente assi- Por outro lado, o manuseio de diferentes
nadas pelos autores; volumes, principalmente quando comparamos
§ guias do usuário, com explicações sobre a o tratamento dado a um mesmo conjunto de
organização do dicionário e as formas de palavras, permite perceber o que diferentes
consultá-lo. ­dicionários têm de comum e de particular. A títu-
lo de exemplo, o aluno literalmente verá que, seja
Nesse primeiro grupo de apêndices, aspectos qual for a obra que consulte, só encontrará como
centrais da proposta lexicográfica são anuncia- cabeça de verbete menino, mas não meninos, ou
dos: para que tipo de usuário a obra foi concebida, que os verbos são sempre registrados no infiniti-
com que critérios de seleção lexical, com que tipo vo. Verá, ainda, que, em alguns, há verbetes pró-
de descrição. Textos informativos sobre diferen- prios para expressões idiomáticas, enquanto ou-
tes aspectos da língua também podem figurar tros só as registram como subentradas, ou nem
nessas páginas. sequer as incluem. Convivendo com os diferentes
tipos e contando com a ajuda do professor, o alu-
no depreenderá gradativamente a organização

37
PNLD 2012 — Dicionários

interna de cada um deles e reconhecerá os prin- reproduzido na margem direita ou esquerda etc.
cipais traços de seu projeto, tanto lexicográfico O processo de ensino e aprendizagem da
quanto gráfico-editorial. E o mais importante: te- consulta a dicionários diferentes, especialmen-
rão acesso progressivo ao mundo do vocabulário, te quando do mesmo tipo, dará ensejo a uma
do léxico e da lexicografia. nova descoberta, por parte do aluno: ainda que
Convém, portanto, que esses dicionários — apresentem um número bastante próximo de
pensados para habitar permanentemente as verbetes, dois dicionários de porte semelhante
salas de aula — sejam deixados bem à vista (e à dificilmente apresentam a mesma nomencla-
mão) de todos. Mesmo os alunos mais letrados tura, ou seja, o mesmo conjunto de vocábulos.
e proficientes em leitura, inclusive os já fami- Nesse momento, será o caso de pôr em questão a
liarizados com dicionários, beneficiam-se desse seleção lexical operada por cada dicionário, para
convívio direto, podendo manifestar, em relação aprender um pouco mais sobre o que são e para
a esse universo, seus interesses e desinteresses, que são feitos os dicionários:
suas preferências pessoais, suas demandas e
possibilidades. E esses dados certamente serão Por que o dicionário A registra pala-
preciosos para o planejamento didático do pro- vras de baixo calão, mas o B, não? Por
fessor, que saberá quais dicionários foram mais que um traz gírias que o outro evita?
bem recebidos, quais os que se revelaram mais Que regionalismos é possível encon-
“amigáveis” em sua relação com os jovens leito- trar em cada um? Por quê?
res, quais os que provocaram antipatia, quais os
que despertaram interesse, mas se revelaram de Fazer essas perguntas é indagar-se a respeito
difícil compreensão etc. do projeto lexicográfico de cada obra e, portanto
Um outro momento desse convívio é, sem sobre os seus objetivos, limites e possibilidades
dúvida, o da consulta aos verbetes. Uma vez assi- —informações fundamentais para orientar o
milada a estruturação própria dos dicionários, a aluno em sua busca, colaborando para o desen-
consulta deve ser... ensinada. Sim, nenhum aluno volvimento de sua proficiência como usuário de
saberá consultar um dicionário se não aprender dicionários.
como é que se faz. E a chave para tanto é a ordem Já no campo do verbete, repete-se a neces-
alfabética, ao lado das técnicas que, sempre calca- sidade de reconhecer e “mapear” o território a
das nela, nos permitem a localização da palavra ser visitado. Junto com uma primeira leitura do
no volume. A esse respeito, a segunda parte deste verbete, será preciso indicar ao nosso “turista
Manual sugere algumas atividades que, com aprendiz” quais são os pontos de interesse, onde
eventuais adaptações a cada nível de ensino e estão. E isso começa pela identificação precisa
turma, podem ajudar bastante. Ainda no capí- do verbete procurado.
tulo da consulta, será preciso ajudar o aluno a Em alguns dicionários, os homônimos são
perceber e descobrir para que servem as separa- concebidos como palavras diferentes. Assim,
trizes e/ou as cores e outros recursos gráficos que vêm separados em verbetes numerados: man-
individualizam as seções alfabéticas, as palavras- ga 1 (a fruta) e manga 2 (a peça do vestuário);
-guia no alto das páginas, as dedeiras, a indicação banco 1 (tipo de assento) e banco 2 (instituição
da letra correspondente a uma seção, no alfabeto financeira), e assim por diante:

38
PNLD 2012 — Dicionários

homônimos numerados, para identificar qual


deles corresponde à procura. Depois, haverá
todo o espaço do verbete para percorrer e
explorar (veja, a respeito, o Anexo 1): orto-
grafia da palavra-entrada e divisão silábica,
acepções (separadas por numeração ou por
qualquer outro tipo de recurso gráfico), rubri-
cas gramaticais (classe de palavras, gênero...),
rubricas relativas ao uso (regional, figurado,
popular, informal etc.), subentradas, informa-
ções enciclopédicas e muitas outras informa-
ções, geralmente discriminadas em campos
próprios e assinaladas com recursos gráficos
Em outros casos, os homônimos vêm listados que as identificam.
num único verbete, como se banco1 e banco2, por A esse tipo de atividade seguem-se a lei-
exemplo, fossem duas acepções diferentes de tura e a compreensão dos enunciados defini-
uma mesma palavra: tórios. Tal como vimos nos exemplos acima, a
linguagem e os instrumentos descritivos com
que um dicionário explica os sentidos e os va-
lores de uma palavra podem ser muito varia-
dos. Considerando-se que os dicionários dos
quatro tipos são escolares, a maioria procura
empregar uma linguagem acessível e evitar
descrições excessivamente minuciosas e téc-
nicas. Além disso, convém lembrar que entre
os tipos de 1 a 4 há uma gradação de comple-
xidade, de tal forma que a compreensão dos
verbetes e da estrutura de uma obra do Tipo
1 ou 2 colabora significativamente para o de-
senvolvimento da proficiência em consulta e
leitura dos d­ icionários de Tipo 3 e 4.
Em qualquer dos tipos, há sempre alguma
distância entre a proficiência em leitura do
aluno e a linguagem dos enunciados defini-
tórios. Ajudar a criança ou o jovem a vencer
Uma primeira aprendizagem relativa à essa distância é um dos objetivos fundamen-
consulta estará justamente na rápida identi- tais do trabalho com dicionários em sala de
ficação do tratamento dado aos homônimos, aula. De uma maneira geral, vimos nos exem-
e, em caso de verbetes individualizados, numa plos anteriores que essa linguagem difere
leitura primeira e superficial do conjunto de por traços como:

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PNLD 2012 — Dicionários

§ impessoalidade ou pessoalidade; da escrita de um aluno do ensino fundamental.


§ formalidade ou informalidade; Mas nada impede que saiba o que esses termos
§ vocabulário mais erudito ou mais coloquial; significam, quando os lê numa bula de remédio,
§ frases em ordem direta ou em ordem por exemplo, ou quando escuta, na televisão, uma
indireta; campanha do governo para controle da pressão
§ etc. alta e de outros males endêmicos do coração. Nesse
sentido, faz parte da competência lexical de todo e
Além disso, os dicionários podem diferir qualquer falante da língua uma clara identificação
entre si pelo emprego de outros recursos de do que é preciso aprender “para saber” e do que é
explicação dos sentidos e dos valores de uma pa- possível aprender “para usar” — e em que circuns-
lavra: exemplos de uso, abonações, informações tâncias, contextos e tipos de discurso.
enciclopédicas, remissões a verbetes relaciona- Por fim, e embora o assunto não se esgote
dos e assim por diante. Portanto, para cada um aqui, convém tomar uma precaução geral no
dos ­tipos de obras selecionadas, será possível ensino de vocabulário e no uso de obras lexico-
explorar as diferentes estratégias que dicioná- gráficas de todos os tipos. Por todas as suas ca-
rios de um mesmo tipo — ou de tipos diversos racterísticas de obra de referência, portanto de
— podem utilizar para definir, classificar e ex- consulta, o dicionário não é apenas um gênero
plicitar características diversas de um vocábulo. didático, mas, em consequência, um instrumen-
Comparar definições diferentes de uma mesma to de normalização linguística, a tal ponto que,
palavra permitirá, por exemplo, que o aluno: para muitos falantes, as palavras que não estão
§ perceba as diferenças em jogo, com seus registradas nos melhores dicionários, simples-
limites e possibilidades; mente “não existem”. E é muito comum, em
§ identifique as obras adequadas ao seu situações que exigem do falante maior cuidado
grau de letramento atual; e atenção com o uso que faz das palavras, ele se
§ se familiarize com o gênero verbete; perguntar se um vocábulo que lhe ocorre “exis-
§ comece a compreender, por meio das de- te” ou não, se está “correto” ou não.
finições mais simples e acessíveis, as mais Diante de tais situações, professores e alu-
complexas, formais e impessoais. nos devem se lembrar, antes de mais nada, que
a língua viva e real — aquela que, independen-
O processo de ensino e aprendizagem do uso de temente das gramáticas e dos dicionários, é
dicionários só se completa quando as informações, efetivamente falada, escrita e compreendida
depois de devidamente identificadas e compreen- em nosso cotidiano — é sempre mais comple-
didas, são incorporadas ao vocabulário ativo e/ou xa, mais variada e, sobretudo, mais dinâmica
passivo do aluno. No primeiro caso, ele será capaz do que seus retratos nos verbetes. E é ela que
de reconhecer e entender a palavra em questão queremos conhecer. Por isso mesmo, a língua
quando utilizada por terceiros, na fala ou na escrita. real é que deve ser o parâmetro para uma aná-
Por seu grau de especialização, ou por seu vínculo lise da qualidade e da fidedignidade de um di-
com esferas de atividades mais ou menos exclu- cionário, e não o contrário. Se não consta no di-
sivas, termos como cardiopatia ou hipertensão, cionário, mas está nas ruas, uma palavra como
por exemplo, dificilmente farão parte da fala ou imexível, ou outra qualquer, existe de fato e de

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PNLD 2012 — Dicionários

direito, faz parte da língua, e, por isso mesmo,


é o que é, nem certa nem errada. Se o dicionário
não a inclui, a considera errada ou desaconse-
lha o seu uso, é porque, em nome de tais e tais
ideais ou critérios normativos, o dicionarista
enxerga a língua real segundo as crenças e
preconceitos sociais, políticos, linguísticos etc.
Saber disso é importante para que, além de
desenvolver a proficiência na consulta a dicio-
nários, o aluno aprenda a ser crítico na assimi-
lação das informações que recebe e a colocar a
seu serviço tanto o que diz o dicionário quanto
o que a sua experiência linguística ensina.

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PNLD 2012 — Dicionários

42
Segunda
parte
I. As atividades e seus objetivos
II. O livro e o gênero: (re)conhecendo o dicionário
III. O vocabulário e o léxico: aprendendo com o dicionário
IV. Para saber mais: leituras recomendadas
PNLD 2012 — Dicionários

autor: quino

“Para usar o dicionário temos que


ser ‘sabidos’! Na verdade, precisamos
ter uma série de conhecimentos para
poder ter acesso às informações ali
organizadas. Só à medida que vamos
nos tornando mais letrados podemos
usufruir adequadamente do que um
dicionário tem a nos oferecer.”
[Morais, Artur Gomes de.
Ortografia: ensinar e aprender.
São Paulo: Ática, 1998.]

I. As atividades e seus objetivos


Ao longo da primeira parte, vimos que o e o seu uso — e não apenas as palavras que ele
dicionário é, ao mesmo tempo, um tipo de li- guarda e descreve — devem ser objeto de ensino
vro — ou seja, um tipo particular de suporte da e aprendizagem na escola.
escrita — e um gênero de discurso. Trata-se, em Com o objetivo de subsidiar parcialmente
ambos os casos, de um artefato da cultura da esse trabalho pedagógico, o professor encon-
escrita com o qual é preciso conviver para co- trará, nesta segunda parte, atividades que ex-
nhecer de fato e para usar com proveito. Afinal, ploram os dois aspectos de um dicionário, e que
ninguém sequer se interessará por dicionários podem ser desenvolvidas em sala de aula.
se não tiver alguns por perto nem souber para Grosso modo, as atividades da seção II fo-
que servem, como se organizam e como podem ram pensadas para o trabalho com dicionários
ser usados. Por isso mesmo, o próprio dicionário de Tipo 1 e 2, sendo mais apropriadas para o

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PNLD 2012 — Dicionários

­ rimeiro segmento do ensino fundamental.


p Nessas situações de uso, determinadas demandas
As atividades destinam-se ao ensino e apren- linguísticas podem ser atendidas pelo dicionário:
dizagem do “uso do dicionário”: inicialmente, as diferentes acepções de uma palavra e suas defi-
procuram levar o aluno a (re)conhecer o que é nições; a sua grafia correta; a classificação grama-
um dicionário e para que serve; num segundo tical; a origem etc.
momento, desenvolvem a sua proficiência em Assim, as atividades aqui propostas — e
localizar a palavra procurada. quaisquer outras que requeiram o uso de dicio-
O segundo segmento está em foco na terceira se- nários — não devem reduzir-se a simples exercí-
ção, que envolve o Tipo 3 e explora a colaboração que cios, independentemente de qualquer contexto.
o dicionário pode trazer para o ensino e aprendiza- Devem, ao contrário, ser inseridas em situações
gem do vocabulário e do léxico,da leitura e da escrita. de ensino e aprendizagem que suscitem deman-
Já a quarta, mobiliza o Tipo 4. Visando ao alu- das típicas da linguagem em uso:
nado do ensino médio, as atividades propostas ou • Como se escreve a palavra deliquescente?
sugeridas procuram evidenciar diferentes formas • O que significa tartamudo?
de incorporar o uso do dicionário ao cotidiano, es- • Qual das palavras em que estou pen-
pecialmente em práticas de leitura e escrita. sando é a melhor para o texto que estou
Tal organização não significa que alunos escrevendo?
do segundo segmento do ensino fundamental • A palavra sintagma tem alguma coisa a
(ou mesmo do ensino médio), por exemplo, já ver com sintaxe?
estejam suficientemente familiarizados com • Que sinônimos (ou antônimos) tem essa
dicionários, nem que o ensino médio prescinda palavra?
dessas obras para desenvolver patamares supe- • Afinal, rapariga é ou não uma palavra
riores de proficiência em leitura e escrita. Igual- ofensiva?
mente, não há razão para privar os anos iniciais
da convivência com dicionários de maior porte, Demandas desse tipo são próprias de muitas
nem do recurso esporádico a eles. e variadas práticas letradas, o que significa dizer
Assim, será preciso que o professor identifique, que as situações de uso de dicionários se inse-
para cada turma, os tipos de atividade e os dicio- rem, sempre, em práticas de letramento as mais
nários mais indicados a cada passo, e que avalie a diversas. Por essa razão, o uso adequado de di-
adequação de umas e outras às turmas visadas. cionários tanto aumenta o grau de letramento
Nesse sentido, atividades de uma seção, se devi- dos sujeitos quanto aprofunda o funcionamen-
damente adaptadas, poderão funcionar bem em to social da escrita.
turmas de outro nível de ensino, ampliando as Por fim, convém lembrar que todas essas
possibilidades do trabalho em sala de aula. atividades são sugestões. E podem, portanto,
Em qualquer nível de ensino, um dicionário funcionar como um roteiro, seja para toda uma
só será efetivamente entendido como uma fer- aula, seja para um trabalho mais pontual. Podem,
ramenta se, além de saber que essa ferramenta ainda, funcionar apenas como um modelo ou
existe, para que serve e como “funciona”, o aluno referência para atividades elaboradas pelos pró-
se deparar com situações concretas em que o seu prios professores, com base em suas experiências
uso na escola ou em casa seria oportuno e útil. e no projeto pedagógico da escola em que atuam.

45
PNLD 2012 — Dicionários

Por isso mesmo, o ideal é que o professor, an-


tes de decidir-se sobre para que e como usará o
material, leia com os colegas o conjunto das pro-
postas e planeje o seu uso, considerando tam-
bém o grau de dificuldade de cada uma delas e
o nível dos alunos. Sempre que oportuno, o pro-
fessor poderá articular, nesse planejamento, as
atividades aqui sugeridas, as que vier a elaborar
e as que estiverem propostas no livro didático
de português adotado pela escola. E, assim, terá
em mãos uma proposta própria para o ensino e
aprendizagem do vocabulário e do léxico.
Nesse contexto, um bom ponto de partida
pode ser o levantamento, no livro didático, das
atividades que explorem o vocabulário e/ou
envolvam o uso de dicionários, refletindo-se a
respeito de que contribuições podem trazer ao
processo de ensino e aprendizagem da leitura e
da escrita. Isso permitirá ao professor elaborar
respostas consistentes para perguntas como:
• De que maneira as atividades aqui pro-
postas se diferenciam, complementam
ou expandem o trabalho proposto pelo
livro didático?
• Como e quando inserir o uso do dicioná-
rio nas atividades de sala de aula?
• Como e quando introduzir o próprio di-
cionário e a consulta lexicográfica como
objeto de estudo?

Seja como for, os conhecimentos construídos


por atividades do tipo das aqui propostas de-
vem ser oportunamente resgatados em outras
situações de uso. Dessa forma, poderão colabo-
rar para o desenvolvimento da proficiência do
aluno, em vez de se restringirem a aumentar o
seu conhecimento sobre a língua.

46
PNLD 2012 — Dicionários

II. Anos iniciais do ensino fundamental:


(re)conhecendo o dicionário
As atividades desta seção foram pensadas conduzido oralmente, com momentos em
para introduzir o aluno no universo do dicioná- que o professor faz na lousa e lê em voz alta
rio como livro e como gênero de discurso. Assim, os registros necessários. Com alunos mais
é nesse tipo de atividade que o aluno poderá for- letrados e já alfabetizados, é possível fazer a
mular, com ajuda do professor, respostas para atividade total ou parcialmente por escrito,
questões básicas e preliminares: Para que serve dependendo do grau de autonomia deles.
um dicionário? Como está organizado? Como • Na lousa, ou em um painel de papel kraft
podemos consultá-lo? preso na parede frontal da sala, faça um
Pensadas para alunos dos anos iniciais, devem quadro com duas colunas encimadas por
ser desenvolvidas com os dicionários dos dois pri- dois retângulos:
meiros tipos. Mas, a critério do professor, também
podem envolver obras dos outros tipos, já que, em
turmas em processo de alfabetização, boa parte
do trabalho é feita com base na leitura em voz
alta do professor, acompanhada pelos alunos.
Efetivando a leitura e mediando a compreensão, o
professor pode, eventualmente, permitir ao aluno
um acesso privilegiado ao mundo dos dicionários.
Essas atividades, no entanto, também po-
dem funcionar adequadamente em turmas
mais adiantadas, inclusive de 6º a 9º ano, que • Divida a classe em grupos de, no máximo,
tenham tido pouco ou nenhum contato com di- quatro alunos. Para cada grupo, distribua:
cionários. Nesse sentido, convém que o professor a) um dicionário do tipo 1, 2 ou 3, confor-
avalie o grau de letramento de seus alunos em me o nível da turma; b) dois livros de his-
relação ao dicionários, antes de iniciar o traba- tórias, como os distribuídos pelo PNBE e/
lho e recorra a propostas como as desta seção ou os disponíveis na sala de leitura.
sempre que necessário, com as devidas adapta- • Faça, oralmente, algumas perguntas que
ções ao público com que está lidando. despertem a curiosidade do aluno sobre
os livros que receberam: Já conhecem
esses tipos de livro? Sabem como se cha-
1. “Que livro é esse?”: (re)conhecendo mam? Onde já viram esses tipos de livro?
o dicionário Que tipos de pessoa vocês já viram lendo
objetivo: Levar os alunos a (re)conhecer o esses tipos de livro? Para quê?
dicionário como um tipo específico de livro. Feche essa etapa da atividade identifican-
• Esta atividade pode ser adaptada a di- do (ou referendando as indicações dos
ferentes grupos. Para alunos ainda não alunos) qual é o dicionário e quais são os
alfabetizados, todo o processo deve ser livros de história.

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PNLD 2012 — Dicionários

Em seguida, escreva a palavra dicioná- • Peça que cada grupo pense no que desco-
rio no retângulo que encima a coluna da briu a respeito do dicionário e elabore um
esquerda, e livro de histórias no da direi- texto [uma “definição”] com o objetivo de
ta. Peça, então, que os alunos abram uma informar os colegas da série anterior, do
página qualquer do dicionário e outra de melhor jeito possível, sobre “o que é esse
cada um dos livros de histórias. livro, o dicionário”. Registre as melhores de-
• Faça perguntas sobre o que o dicionário finições na lousa e leia-as em voz alta. Para
tem de diferente dos livros de histórias e as turmas não alfabetizadas, conduza oral-
registre (ou peça que registrem) as res- mente a etapa de elaboração das defini-
postas nas colunas correspondentes: O ções, funcionando como escriba do grupo.
que há nas páginas do dicionário? O que • Explique o que é e para que serve uma de-
há nas páginas dos outros livros? Têm fi- finição. Compare as definições. Explore as
guras? O que mostram essas figuras, e por diferenças e semelhanças entre elas. Dis-
quê? Para que serve o texto que se pode cuta com os alunos quais são as melhores.
ler num dicionário? Para que serve o texto Algumas coleções de português do PNLD
que se pode ler num livro de histórias? de 1º a 5º anos trabalham, em diferentes
• Para orientar os alunos, leia com eles, al- momentos, com definições extraídas de
ternadamente, alguns dos verbetes e dos dicionários. Se quiser, inspire-se nas boas
trechos dos livros. Induza-os a perceber atividades que encontrar.
que, nos livros, há trechos contínuos de • Entre as definições dos dicionários de
histórias ou histórias completas; e, no Tipo 1, há títulos como o Meu primeiro
dicionário, sequências de textos curtos dicionário Caldas Aulete com a Turma do
e individualizados, os verbetes. Explore Cocoricó que trazem definições de um
a sequência alfabética do dicionário, tipo particularmente produtivo para o
em oposição à progressão narrativa da aluno iniciante: as definições oracionais.
história. Para cada diferença pertinente Por suas características, essas definições
apontada e/ou reconhecida pelos alunos, (Ver o glossário do Anexo 2) se asseme-
registre as expressões ou palavras-chave lham às que as próprias crianças elabo-
correspondentes nos quadros, até que as ram, ou mesmo às que o adulto formula
palavras registradas permitam opor ade- para elas: usam uma linguagem mais
quadamente os dois tipos de livro: simples e informal e, frequentemente,
são “interativas”, parecendo conversar
com o leitor. Por isso mesmo, são assimila-
dicionário livro de histórias
das mais facilmente pelo aluno e podem
funcionar muito adequadamente como
texto em colunas texto corrido
introdução ao gênero da definição.
séries de verbetes histórias completas
A título de exemplo, confira três defini-
ordem alfabética enredo
ções oracionais diferentes de livro:
explica as palavras conta histórias
etc. etc.

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PNLD 2012 — Dicionários

3)
1)

Caldas Aulete com a turma


do Cocoricó; p. 107.

Meu primeiro livro de


palavras; p. 64.
Houaiss conciso; p. 789.

Identifique, no dicionário escolhido, algu-


mas dessas definições oracionais; e então,
leia e/ou reproduza as que escolher,para que
2) os alunos possam tomá-las como referência.
• Compare as definições dos alunos com
as que constam de alguns dicionários do
Tipo 1. Se quiser, mostre definições mais
complexas e formais, de dicionários de
Evanildo Bechara; p. 71.
Tipo 2 e 3, para que os alunos percebam
as diferenças. Pergunte quais as que eles
acharam mais fáceis de entender e diga
qual(quais) é(são) o(s) dicionário(s) em
que está(ão).

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PNLD 2012 — Dicionários

2. “Para que servem esses livros?”: con- consulta a um dicionário pode atender
vivendo com os dicionários e apren- (como o significado ou a grafia).
dendo a consultá-los • Anuncie que, para “saber mais sobre
objetivos: Levar alunos de primeiro ano essas palavras”, todos deverão consultar
— mas que já sabem reconhecer dicionários dicionários. E pergunte: “Como vamos en-
— a conviver com eles como obras de referên- contrar essas palavras nos dicionários?”
cia; desenvolver a prática da consulta e seu Divida a turma em grupos, cada um deles
princípio alfabético. com ao menos um dicionário do Tipo 1
O bs .: Para desenvolver as atividades aqui (se achar adequado, inclua também os
sugeridas, é fundamental que os dicionários de Tipo 2). E mostre para os grupos que a
estejam na sala de aula, em local de fácil aces- ordem das seções de verbetes é a mesma
so, para uso livre. É interessante que, antes de do alfabeto, considerando-se a letra da
desenvolver as atividades, os alunos possam palavra-entrada.
manusear à vontade os volumes disponíveis. Para evidenciar o paralelismo entre a se-
Nesse sentido, o professor poderia incluir os quência alfabética e a dos verbetes, recor-
dicionários entre os livros disponíveis para os ra ao alfabeto disponível na sala de aula
momentos de “leitura livre”. (em geral, fixado acima do quadro-negro),
• Selecione, para leitura em voz alta em ou a qualquer outra reprodução viável:
sala de aula, um texto curto e de interes- na lousa, em cartões individuais (ou por
se para os alunos, como uma fábula, por grupo), no caderno etc.
exemplo. Certifique-se, antes, de que to- • Selecione a primeira palavra da lista e
das as palavras que ali aparecem constam peça que cada grupo responda à pergun-
de dicionários do Tipo 1. ta: “Onde (na seção de que letra) vamos
• Faça a leitura com/para os alunos. Conver- achar a palavra X no dicionário?”
se, então, sobre as palavras de que eles mais • Depois de verificar as respostas e esta-
gostaram, ou que acharam esquisitas, ou belecer a informação correta, repita o
que não conheciam. Escreva na lousa todas procedimento para as demais palavras,
as palavras que forem sugeridas. fazendo aos alunos perguntas do tipo:
• Com a ajuda dos alunos, elabore uma “Qual palavra da lista vem primeiro no di-
pequena lista dessas palavras, “para cionário?”; “Qual vem por último?”; “Em
aprender um pouco mais sobre elas que ordem as palavras da lista vão apare-
e entender melhor o que significam”. cer no dicionário?”.
Circule as palavras escolhidas e apa- Em seguida, reorganize em forma de lista
gue as demais, sem qualquer preocu- alfabética, na lousa, as palavras anterior-
pação de reordenar alfabeticamente mente registradas.
as palavras circuladas. • Peça aos alunos que tomem a primeira
• Converse sobre essas palavras com os palavra da lista e localizem no dicionário
alunos: “O que gostariam de saber sobre a seção correspondente. Como a locali-
elas?” Ao lado das palavras selecionadas, zação das palavras numa mesma seção
registre algumas das demandas que a ainda precisará ser ensinada, peça que

50
PNLD 2012 — Dicionários

­ ercorram a seção até encontrar a pala-


p cada um desses tipos de informação está
vra procurada. Nesse momento, diga que graficamente marcado no verbete: números,
os desenhos podem ajudar: se houver negritos, itálicos, cores, diferentes tipos de
uma ilustração para a palavra, o verbete letra (fontes), sinais especiais etc. E sempre
estará acima, abaixo ou ao lado. Se acha- que possível, chame a atenção dos alunos
rem uma palavra bem parecida, a procu- para essas convenções, mostrando que cada
rada deve estar logo antes ou depois. dicionário tem uma forma própria de indicá-
Localizada a palavra, leia com eles o ver- -las. Como cada grupo estará com um dicio-
bete. Converse sobre o que aprenderam: nário diferente, será possível explorar essas
O que a palavra significa? Tem muitas diferenças e mostrar que os recursos usados
acepções diferentes? Como pode ser usa- facilitam a consulta, funcionando como “ga-
da, em cada acepção (leia em voz alta os vetinhas”ou “prateleiras”especializadas para
exemplos)? De que família ela faz parte guardar cada tipo de informação.
(quando houver a informação)? Tem plu-
ral? Tem forma feminina? Que sinônimos Se houver tempo e disponibilidade da turma,
poderíamos usar? Existe alguma palavra repita o procedimento com as demais palavras
que signifique o contrário dessa? Etc. da lista. Caso contrário, refaça esse tipo de ativi-
Consulte previamente o Guia do usuário de dade em outras situações de leitura e compre-
cada dicionário, para verificar o modo como ensão de textos.

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PNLD 2012 — Dicionários

3. Como são os dicionários? • Na lousa, faça a lista de todas as seções


objetivo: Levar os alunos a (re)conhecer as encontradas. Com a ajuda de um grupo
diferenças entre dicionários de um mesmo tipo. de cada vez, elabore respostas plausíveis
• Divida a classe em grupos de no máximo para perguntas como: O que é a seção X?
quatro alunos. Para cada grupo, distribua Para que serve? Quando posso usar?
dois ou três dicionários de um mesmo
tipo. Não esqueça de informar (ou lem- 4. Que dicionários vamos usar?
brar) aos alunos que um dicionário é um objetivo: Levar os alunos a identificar os
livro que registra palavras, com o objetivo dicionários mais adequados para o seu nível de
de explicar o que elas significam e como ensino e aprendizagem e para a tarefa pedida.
podem ser usadas. Diga, ainda, que os di- • Leia para a classe (ou peça que leiam
cionários costumam trazer muitos outros silenciosamente) um texto bastante mo-
tipos de informações interessantes sobre tivador — literário ou não — em que apa-
as palavras, em seções separadas. E que é reçam algumas palavras potencialmente
preciso descobrir o que é o que, para apro- “difíceis” ou desconhecidas dos alunos.
veitar melhor essas informações. • Converse com os alunos sobre o que enten-
• Peça que os alunos identifiquem onde deram do texto, garantindo previamente
começa e onde termina a parte central que o gênero tenha sido reconhecido e que
(as seções alfabéticas de A a Z) de cada as ideias centrais e os objetivos do texto te-
um deles. Em seguida, peça que des- nham sido bem apreendidas por todos.
crevam o que há antes e depois de cada • Em seguida, peça que os alunos identifi-
seção central. Se necessário, dê dicas a quem no texto algumas das palavras que
respeito do que podem encontrar (qua- não conheciam. Para isso, releia o texto
dros temáticos, famílias de palavras, em voz alta (ou peça que leiam silenciosa-
coletivos, gentílicos, radicais de origem mente), parando a cada trecho, parágrafo
grega ou latina etc.) e dos recursos que ou oração para que anotem (ou indiquem
podem ser usados para separar e para oralmente) as palavras desconhecidas. Faça
individua­l izar as diferentes seções: se- a lista das “palavras difíceis”na lousa.
paratrizes, cores, vinhetas etc. • Retome cada uma dessas palavras e o
• Tome cada uma das seções identificadas trecho em que aparecem. Considerando o
por eles e pergunte o que são e para que contexto de ocorrência e, eventualmente,
servem. Em turmas ainda não alfabetiza- a estrutura da palavra (quando derivada,
das, dê as pistas e dicas que forem neces- por exemplo), procure levar os alunos a
sárias para que eles formulem hipóteses formular hipóteses sobre o que signifi-
plausíveis. Informe que algumas dessas cam. Registre essas definições no quadro,
seções já podem ser úteis para eles; ou- à maneira de um verbete, ou peça que os
tras, só mais tarde. Nomeie oralmente alunos o façam.
cada seção identificada: apresentação, • Divida a classe em grupos de no máximo
guia do usuário, tabela de coletivos, esta- quatro alunos e distribua, para cada
dos e capitais etc. grupo, um dicionário de cada tipo. Caso

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PNLD 2012 — Dicionários

o número disponível em sala seja insufi- sentidos dicionarizados, corresponden-


ciente, recorra ao de outras salas (não se tes às acepções. Peça que reconheçam a
esqueça, então, de planejar o trabalho, acepção que está em jogo.
combinando previamente com os colegas • Releia essa definição e compare com a dos
o uso conjunto dos dicionários). alunos: o que há de semelhante e o que há de
• Caso os alunos já saibam localizar uma diferente? O dicionário ajudou a entender
palavra no dicionário, peça que o façam melhor o sentido da palavra? Por quê? Etc.
para a primeira palavra da lista das “di- • Junto com os alunos, compare os recursos
fíceis”. Caso contrário, aponte o verbete usados por cada dicionário: tem ilustra-
correspondente em cada obra, mostran- ção? Tem exemplos? É fácil localizar a
do para toda a turma onde está a palavra acepção procurada? A linguagem é fácil
em cada dicionário, ou mostrando que no de entender?
dicionário X não há a palavra procurada. • Depois de repetir esse percurso com ao
Aproveite, então, para esclarecer que nem menos três ou quatro palavras, peça aos
sempre os dicionários trazem a palavra alunos que escolham o dicionário mais
que procuramos, porque cada dicionário “maneiro” e registrem por escrito o seu
tem objetivos diferentes, e nenhum dá nome e digam por que o preferem, num
conta de tudo o que existe na língua. estilo bem informal: “O dicionário mais
• Leia (ou peça que leiam) as definições. maneiro que eu conheço é o _____, por-
Mostre que cada palavra pode ter vários que ____________”.

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PNLD 2012 — Dicionários

5. O que vem primeiro? C) Em que palavra do dicionário você procura-


objetivos: Ajudar os alunos a encontrar ria para encontrar o significado das seguin-
palavras em meio a grupos de palavras; cons- tes expressões?
cientizá-los sobre a apresentação de derivados, Antes de dar o comando acima, explore com
plurais e compostos nas entradas do dicionário. os alunos o significado de cada expressão. E expli-
A) Para cada lista, indique qual a palavra que que que essas expressões em geral vêm registra-
aparece primeiro no dicionário: das como subentradas, mas de formas às vezes di-
ferentes em diferentes dicionários. Tudo depende
1 peixe peixaria peixeiro de qual palavra o dicionarista considera núcleo
2 casa casal casamento da expressão. Em geral, a ordem de escolha da
3 nadar nado nadadeira palavra núcleo é: substantivo, verbo, adjetivo, ad-
4 rosa roseira rosa-dos-ventos vérbio, pronome, interjeição, partícula.
5 carta cartão cartaz
6 provavelmente provável prova 1 Você não sabe da missa um terço!
7 regra régua regular 2 Aquela vizinha não larga do meu pé.
8 caráter característica caracteres
3 Eu sempre tive o hábito de dormir
9 coisa cousa causa
com as galinhas.
10 botica butique bodega
4 Acho que chegou a hora de pendurar
as chuteiras.
B) As palavras abaixo aparecem como verbetes 5 Ela resolveu botar a boca no mundo.
em seu dicionário? Se não aparecem, como
você pode encontrá-las?
O objetivo específico desta atividade é mos-
trar que há certos derivados e compostos que
aparecem no dicionário, enquanto outros, como
os abaixo, nem sempre aparecem.

1 felicíssimo
2 explorável
3 cabeção
4 dramaticamente
5 escutou

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PNLD 2012 — Dicionários

6. Batendo os olhos e achando 7. Jogo do alfabeto


objetivos: Permitir a prática do “bater os objetivo: Familiarizar os alunos com o alfa-
olhos” e encontrar rapidamente; aumentar a fa- beto e a ordem alfabética
miliaridade com os termos do dicionário. • Escreva na lousa uma lista de vocábulos
Abra seu dicionário em qualquer página. recentemente trabalhados em classe.
Com que rapidez você consegue responder às Misture as palavras na lousa sem qual-
perguntas abaixo? quer ordem.
Na página aberta: • Explique que os alunos devem copiar
1 Quais são a primeira e a última as palavras em ordem alfabética o mais
palavra-entrada? depressa que puderem. Se gostarem da
2 Qual a palavra-entrada mais longa? ideia, pode ser um concurso.
3 Quantas palavras-entradas você • Em duplas, eles verificam as respostas,
já conhece? consultando o dicionário se houver dis-
4 Você consegue encontrar uma cordâncias.
palavra composta? • Outras possibilidades: pedir aos alunos
5 Qual palavra tem mais que organizem em ordem alfabética os
significados diferentes? nomes de todos os presentes na classe, ou
6 Pense em dois temas sobre os quais você de seus grupos musicais preferidos ou as
poderia conversar usando palavras-en- cidades que já visitaram...
tradas desta página.

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PNLD 2012 — Dicionários

III. O vocabulário e o léxico: desenvolvendo a leitura e a


escrita com os dicionários de Tipo 3 6

Nesta seção, o professor encontrará ativi- 1. Com certeza ou com dúvida?


dades que, tomando o dicionário como refe- objetivo: Sensibilizar os alunos para pro-
rência, trabalham com o vocabulário e o léxico. blemas ortográficos.
As situações de uso em que essas propostas • Prepare uma lista de 10-15 palavras
podem ser mobilizadas devem ser as do ensino normalmente mal grafadas em classe.
e aprendizagem de leitura e escrita, ou mesmo Podem ser palavras recolhidas de algum
de linguagem oral, quando pertinentes. Ainda trabalho de casa, ou palavras que você jul-
que em geral estejam mais voltadas para alunos gue necessário que os alunos conheçam
do segundo segmento (6º A 9º ano), as propos- para um trabalho futuro.
tas podem ser adaptadas para iniciantes que já • Peça a cada aluno que divida uma folha
leem autonomamente, especialmente dos dois de caderno em duas colunas, assim:
últimos anos do primeiro segmento. Com os
devidos cuidados e alterações, também podem com certeza com dúvida
funcionar bem com alunos do ensino médio. ___________________ ___________________
O foco específico de cada atividade está na ___________________ ___________________
identificação inicial de seus objetivos. Com base ___________________ ___________________
nessas indicações, o professor poderá:
• selecionar as que interessam para um
determinado momento de seu trabalho: • Diga-lhes que você vai ditar algumas pa-
ortografia, sinonímia, homonímia, ex- lavras e que eles têm que escrever cada
pressões idiomáticas, linguagem figura- palavra numa das colunas, dependendo
da, desenvolvimento de vocabulário etc.; se têm certeza ou não da grafia. Não
• combinar atividades que se articulem entre precisam se preocupar se sabem ou não
si, do ponto de vista dos conteúdos curri- a grafia correta, basta colocar na coluna
culares em questão e dos objetivos visados “com dúvida”.
pelo professor (atividades de sinonímia e/ • Dite sua lista de palavras, dando a cada
ou homonímia combinadas com desenvol- uma delas um número (os alunos devem
vimento de vocabulário, por exemplo); escrever o número também). Os proble-
• adaptar e complementar o material mas gráficos mais comuns estão relacio-
selecionado. nados com a acentuação gráfica, as con-
soantes mudas (“apto”, “afta”, “admitir”,
“atmosfera”, “acne”), e o uso das letras g/j,
x/s/ss/ç/z, h, l/u etc.

• Os alunos comparam suas respostas em


duplas. Se tiverem duas versões diferen-
tes da mesma palavra na coluna “com
6 As atividades desta seção, assim como as de 5 a 7
da seção anterior, foram elaboradas pelo Prof. Dr. certeza”, quem está certo?
Marcos Bagno (UnB).

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PNLD 2012 — Dicionários

• As duplas conferem as respostas no • Chame a atenção dos alunos para as dis-


dicionário. crepâncias que podem existir entre a co-
• Você pode usar esta atividade para apre- bertura dada pelos diferentes dicionários.
sentar o vocabulário-chave de um texto ou Com isso, eles começarão a perceber que
tema que vai ser estudado. Quando os alu- os dicionários não contemplam todas as
nos estiverem conferindo a grafia correta, palavras da língua, e que a seleção voca-
certifique-se de que também estão aten- bular de cada obra depende de critérios e
tando para o significado das palavras no- escolhas assumidas pelo(s) autor(es).
vas. Pergunte se eles adivinham a que tema
essas palavras estão vinculadas. Quando 3. Tem sempre uma novidade!
você entregar o texto, peça a eles que en- objetivo: Desenvolver o vocabulário.
contrem e sublinhem todas as palavras • Divida a turma em duplas e peça que
ditadas para, em seguida, conferir o sentido digam palavras bem simples que usem
que elas têm nesse contexto específico. frequentemente. Por exemplo:

2. Tapando buracos pegar escola branco livro


objetivos: Trazer à tona o vocabulário pas- dia ideia gente cabeça
sivo dos alunos; auxiliar na apreensão da ordem levar ponta céu conta
alfabética e da ortografia. boca papel bicho cara...
• Divida a classe em grupos e peça que
cada grupo responda à seguinte per- • Cada dupla escolhe duas palavras da lista
gunta: “Quantas palavras podem exis- e discute o que cada um sabe sobre as
tir entre aba e abusar?” Dê meia hora para palavras, quando e como as usam: é uma
responderem. coisa, um sentimento, uma ação? O que
• Escreva na lousa as listas obtidas por cada significa? Que outras palavras podem se
grupo. Vence o que tiver listado mais pa- combinar com essa palavra?, quando a
lavras. usaram por último, etc. Isso cria um perfil
• Faça uma lista comum, agrupando todas da palavra na mente das crianças.
as palavras encontradas. • Passado um instante, peça às duplas
• Distribua dicionários entre os grupos e que procurem suas palavras no dicioná-
peça que verifiquem as palavras que fica- rio para descobrir alguma coisa que não
ram de fora no exercício deles (e, também, conheciam antes sobre cada palavra:
as que eles listaram, mas não constam pode ser uma locução, uma expressão
dos dicionários disponíveis). idiomática, um fato gramatical — qual-
• Comente as palavras que ficaram de quer coisa! Vão precisar de alguns mi-
fora. Se forem pouco conhecidas, leia nutos, porque as coisas novas frequen-
os verbetes com os alunos e confira se temente estão “escondidas” no meio de
compreenderam a definição dada pelo(s) verbetes mais longos. Certifique-se de
dicionário(s). Se houver exemplos de uso que eles discutam o que descobriram e
das palavras, comente-os. que entendam a descoberta.

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PNLD 2012 — Dicionários

• Pergunte se todas as duplas consegui- 4. Sentindo os sentidos


ram encontrar alguma coisa nova sobre objetivos: Praticar a capacidade de locali-
suas palavras. Se ninguém conseguiu, zação das palavras no dicionário; ajudar os alu-
tome nota das palavras na lousa. Se todas nos a associar as palavras com os cinco sentidos;
tiverem encontrado, peça às duplas que exercitar a memória.
formem quartetos e compartilhem o que • Dê um dicionário para cada três alunos.
descobriram, referindo-se ao dicionário • Discuta com a turma sobre os cinco senti-
se necessário. dos (visão, tato, olfato, audição e paladar)
• As duplas circulam e trocam informações. e dê um exemplo de uma associação par-
• Faça a verificação: quais foram as maiores ticular para cada um. Por exemplo:
surpresas? A coisa nova é fácil de enten- mangas e o sentido do paladar
der, ou o sentido novo ou os exemplos são o mar e o sentido da audição
fáceis de usar? a lua cheia e o sentido da visão
• Se alguém não tiver conseguido encon- uma lata de lixo e o sentido do olfato
trar nada de novo, parabenize-o por saber cabelos e o sentido do tato etc.
todos os usos possíveis da palavra!
• As crianças frequentemente se espantam • Divida a turma em grupos de três, cada
com as descobertas a respeito de palavras grupo com um dicionário. Peça a cada
“comuns”, sobre as quais elas pensavam grupo que escolha uma letra do alfabeto.
saber tudo. É uma boa ideia você trazer Escreva na lousa: visão / tato / audição /
algumas “coisas novas” na manga, para paladar / olfato. Explique que para cada
se prevenir. Certifique-se de verificar no um dos cinco sentidos eles devem encon-
dicionário antes de começar a atividade. trar pelo menos quatro exemplos de pa-
Exemplos de coisas novas para palavras lavras que podem ser associadas com ele,
simples (como as listadas acima) são: todas começando com a letra escolhida.
Os alunos podem recorrer ao dicionário.
pegar bem fazer escola livro de cabeceira • Que grupo encontrou mais associações?
a céu aberto levar a mal gentinha... Algum dos sentidos foi particularmente
mais fácil ou mais difícil de encontrar?
• Você pode também apresentar essas Por quê? Frequentemente, isso refletirá
coisas novas numa folha e convidar os as preferências pessoais dos alunos e
alunos a descobrir o que elas significam. pode levar a descobertas interessantes.
• Faça novos grupos em que cada pessoa
venha de uma trinca anterior diferente.
Elas conseguem se lembrar das palavras
associadas com cada sentido? Este tam-
bém é um momento revelador: a memó-
ria tende a favorecer certas associações,
em geral as mais visuais, concretas. Foi
este o caso?

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PNLD 2012 — Dicionários

• Diga à turma que você repetirá a ativi- homônimos (B)


dade em outras ocasiões. Na segunda Procure estas palavras no dicionário e en-
rodada, a memória frequentemente fica contre pelo menos dois sentidos diferentes
mais aguçada. para cada uma.
• Variação: a turma inteira trabalha com a 1 vale 2 pasta 3 lima 4 peça
mesma letra — o desafio é ser o primeiro
grupo a associar todas as entradas da
página com os diferentes sentidos. Ao ter- • Depois do tempo necessário para a pes-
minar, os grupos comparam e justificam quisa dos alunos, copie as oito palavras
suas associações. na lousa e transcreva todos os sentidos
encontrados por eles, para ver as coinci-
5. Igual, mas diferente... dências e as diferenças.
OBJETIVO: Conscientizar sobre o fenômeno • Pergunte aos alunos se alguns dos sen-
da homonímia. tidos que foram encontrados represen-
• Faça uma cópia da folha “Homônimos” tam novidades para eles, se eles tinham
(modelo abaixo) para cada grupo de qua- ideia de que aquela palavra poderia ter
tro alunos. aquele sentido.
• Pergunte à classe o que significa a pala- • Em seguida, copie na lousa (ou distribua
vra cara . Faça emergir o maior número uma folha em que estejam impressas) as
possível de sentidos: “uma roupa cara”, seguintes frases:
“minha cara colega”, “quem é esse cara?”,
“que cara feia é essa?” etc. Explique o que HOMÔNIMOS (C)
são homônimos e diga que existem mui- 1. Não gosto do João, ele sempre manga
tos deles na língua. Peça aos alunos que muito de mim!
verifiquem as diversas entradas para cara 2. Adoro música, mas não canto muito bem.
no dicionário para ver quantos homô- 3. Marisa pena muito para cuidar de tan-
nimos são apresentados ali. Em muitos tos filhos sozinha!
dicionários, os homônimos costumam vir 4. O soldado vela pela segurança do palácio.
numerados: manga1, manga2, manga3, etc. 5. Acho que essa roupa não vale o preço
• Divida a turma em duplas e dê a cada que você pagou.
uma a folha de homônimos abaixo. 6. No alto do morro, uma vaca solitária
pasta no fim da tarde.
homônimos (A) 7. Enquanto você lima essas chapas, eu
Procure estas palavras no dicionário e en- aperto os parafusos.
contre pelo menos dois sentidos diferentes 8. Espero que o chefe não me peça outra
para cada uma. vez para ficar até mais tarde.
1 manga 2 canto 3 pena 4 vela

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PNLD 2012 — Dicionários

Pergunte aos alunos se estas palavras aos alunos que eles têm de encontrar
sublinhadas têm os mesmos sentidos que palavras que começam com aquela letra
eles encontraram em sua pesquisa (tal- associadas a cada tema. (Pode ser uma
vez apenas lima tenha uma relação mais palavra para cada tema, ou três, ou mais
próxima). O que elas significam agora? de quatro, a depender da turma.)
Explique a eles os sentidos de cada uma • Dê à turma 20-30 minutos para vascu-
das novas aparições das oito palavras e lhar nos dicionários. Não há problema
que é muito comum, em todas as línguas, se forem usados dicionários diferentes.
existirem palavras idênticas que apre- Circule pela classe e verifique as respostas
sentam muitos sentidos. Você pode até à medida que forem aparecendo.
apresentar o termo técnico homônimo, • Quando tiverem terminado, peça que
explicando que é uma palavra de origem comparem as respostas em grupos de
grega que significa “mesmo nome”. quatro. Qualquer palavra nova deve ser
OBS: Se já tiver sido feito algum trabalho explicada ao resto do grupo. Quantas
sobre as classes de palavras, o professor palavras novas eles conseguiram, ao todo,
pode mostrar que no dicionário apare- para cada tema?
cem os sentidos das oito palavras quando • Confira as respostas com toda a classe.
elas são nomes (ou substantivos). No caso Que temas foram os mais difíceis de
dos verbos, como nas frases da folha C, o ser preenchidos?
dicionário só registra os infinitivos.
animais transporte profissões
6. Tira-temas
comidas/
objetivos: Orientar a consulta; desenvolver construções atividades
bebidas
o vocabulário
• Prepare uma tabela com 9 ou 12 casas tamanhos
vestimentas cores
(ver exemplo abaixo). Decida os campos e formas
temáticos que você quer trabalhar com sentimen-
seus alunos ou permita que eles esco- música plantas
tos/emoções
lham os temas que lhes interessam (ou
ainda: escolha alguns e deixe que eles
escolham o resto).
• Faça uma cópia da tabela para cada aluno
ou peça a cada um que prepare a sua.
• Explique que os alunos vão procurar no
dicionário palavras associadas com de-
terminados temas. Distribua a tabela.
• Se você tiver deixado casas em branco,
convide os alunos a acrescentar campos
temáticos que são do interesse deles.
Escolha uma letra do alfabeto e diga

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PNLD 2012 — Dicionários

7. Lista-temas
objetivos: Organizar o vocabulário por nutos. Quando todos tiverem terminado,
campos temáticos; desenvolver o vocabulário. peça às duplas que circulem e comparem
• Copie a folha de trabalho abaixo ou pro- as respostas. Devem acrescentar todas as
duza uma, num nível de dificuldade ade- respostas novas às próprias listas.
quado à sua turma. • Que nome dariam a cada lista?
• Divida os alunos em duplas e dê uma có- • Esse é um método de desenvolvimento do
pia da folha de trabalho a cada uma. vocabulário que ajuda a ampliar a con-
• Cada dupla acrescenta uma palavra a pelos fiança dos alunos, bem como favorece o
menos duas das listas. Dê a eles alguns mi- trabalho em equipe.

temas
Procure estas palavras em seu dicionário. Em seguida, organize-as em cinco listas lógicas.

ocre colete brigadeiro atum carvalho


ipê traíra buriti grená sonho
suspiro malva casadinhos lambari bordô
jacarandá xale bomba saia quindim
atum carnaúba cação dourado carmim
Lista A Lista B Lista C Lista D Lista E

—————————————————————————————

1
2
3
4
5
6

Você consegue acrescentar duas outras palavras às listas?

Resposta: Lista A (cores: ocre, grená, malva, carmim, bordô); Lista B (peixes: atum, tilápia, lamba-
ri, cação, traíra, dourado); Lista C (roupas: colete, saia, xale); Lista D (árvores: carnaúba, jacarandá,
buriti, ipê, carvalho); Lista E (doces: sonho, bomba, suspiro, casadinhos, brigadeiro).

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8. Acolhendo os estrangeiros • Divida a turma em duplas e dê a cada uma


OBJETIVOS: Conscientizar os alunos da con- um dicionário. Atribua a cada dupla a tare-
tribuição de outras línguas ao léxico da língua fa de buscar numa letra do alfabeto o maior
materna; aprender a reconhecer os emprésti- número possível de palavras estrangeiras
mos nos dicionários. que estiverem contempladas na obra. Se o
• Leve para a aula algum texto em que dicionário utilizado contiver um número
apareçam palavras estrangeiras (anúncio muito grande dessas palavras, determine
publicitário, reportagem de jornal ou de antes quantas devem ser selecionadas.
revista, rótulo de produto comercial etc.). • Foi difícil encontrar os empréstimos?
• Chame a atenção dos alunos para os es- Como eles vêm assinalados nos dife-
trangeirismos presentes no texto. O que rentes dicionários (com um tipo de letra
significam? De que língua procedem? Os diferente, com cor diferente, com símbolo
alunos costumam usar essas palavras? específico)? Os dicionários indicam a pro-
• Explique que o léxico de qualquer lín- núncia dessas palavras?
gua humana tem uma boa parte cons- • Peça que cada dupla organize as palavras
tituída de termos que vieram de outras encontradas em campos temáticos (co-
línguas (são os chamados empréstimos midas, roupas, objetos, música etc.), com
lexicais). Com o passar do tempo, essas indicação da língua de origem. Quais os
palavras acabam se adaptando de tal campos temáticos mais contemplados?
modo ao português que passam a ser Qual a língua (ou as línguas) que mais
escritas segundo as regras da nossa or- empresta(m) palavras?
tografia e, muitas vezes, ninguém nem • Traga ao conhecimento de toda a turma
percebe mais que são estrangeirismos. os resultados de todas as duplas. Quais
Dê exemplos desse fenômeno: os campos temáticos mais contemplados
abajur (do francês: abat-jour) no total? Qual a língua que mais empres-
clube (do inglês: club) ta palavras? Discuta com os alunos os
espaguete (do italiano: spaghetti) motivos para aqueles campos temáticos
quibe (do árabe: kibbat) etc. específicos serem os mais contemplados
e para aquela língua ser a que mais em-
• A todo o momento, palavras novas, vindas presta palavras atualmente.
de outros idiomas, entram em circulação
na língua dos brasileiros. Qual é o trata- 9. PALAVRAS E SENTIMENTOS
mento dado a elas nos dicionários? (Os objetivos: Conscientizar os alunos das co-
bons dicionários costumam trazer os notações positivas e negativas; trabalhar com
estrangeirismos assinalados de modo a marcas de uso do tipo (pej.) (“pejorativo”).
diferenciá-los das outras palavras da lín- • Distribua a folha de trabalho (modelo
gua: tipo de letra diferente, cor diferente, abaixo) aos alunos e peça que trabalhem
símbolos — mas você não deve revelar em duplas ou em grupos pequenos.
isso aos alunos, para que eles descubram • Diga aos alunos que muitas palavras nos
sozinhos na atividade.) contam alguma coisa sobre a atitude do

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PNLD 2012 — Dicionários

falante em relação à pessoa ou ao obje- • Peça aos alunos que sugiram outras ca-
to que ele está descrevendo, bem como tegorias em que possam esperar encon-
sobre aquilo que está sendo descrito. Por trar descrições positivas e negativas. Por
exemplo, gordo pode soar negativamen- exemplo: belo/feio; rico/pobre; generoso/
te. Forte ou nutrido já têm um tom mais sovina; inteligente/ignorante; moderno/
positivo. Diga à metade da turma que antiquado. Como trabalho de casa, peça
estude a palavra gordo; à outra metade, a a cada um que produza uma folha seme-
palavra magro. lhante, que eles poderão comparar com a
• Os grupos têm dez minutos para decidir do parceiro na aula seguinte.
se as palavras na parte de baixo da folha
de trabalho são positivas ou negativas,
usando dicionários como referência. Al- 10. Força de expressão
gumas palavras podem gerar discussão, objetivos: Desenvolver o vocabulário;
que deve ser encorajada. conscientizar os alunos a respeito das locuções,
• Peça que as duplas ou grupos que traba- expressões e idiomatismos.
lharam a mesma palavra comparem as • Prepare as folhas de trabalho A e B (mode-
respostas e descartem as divergências. los abaixo).
• Peça aos grupos que verifiquem mutua- • Distribua a folha A aos alunos, agrupados
mente as respostas, e explique quaisquer em duplas. Peça a eles que encontrem
dificuldades. todas as combinações possíveis entre as
palavras da coluna I e as palavras da colu-
GORDO MAGRO na II, usando sempre a preposição de para
ligá-las — por exemplo: senso (de) humor.
Positivo Positivo
• Peça que verifiquem suas combinações
no dicionário. Quais delas aparecem no
dicionário
→ como entradas?
Negativo Negativo → como remissões?
→ como locuções?
→ como exemplos nos verbetes?

Isso vai variar de um dicionário para o


outro. Os alunos precisam aprender a
baleia balofo fuinha mirrado
banhudo cevado murcho chupado examinar os verbetes em busca de infor-
cheio corpulento delgado delicado mações relevantes. Vão descobrir que
farto forte grosso descarnado enxuto podem aprender muita coisa útil nas
nutrido obeso esbelto esguio
diferentes partes que constituem um ver-
rechonchudo guenzo esquálido
redondo volumoso esquelético seco bete. (Algumas das locuções podem tam-
bém não figurar em nenhum dicionário.
Isso servirá para mostrar aos alunos que

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PNLD 2012 — Dicionários

os dicionários não trazem “tudo” e que X de Y


muitas palavras e locuções, apesar de fre- Folha B
quentemente usadas, ainda não foram Complete as frases abaixo com as expres-
registradas pelos dicionaristas.) sões da Folha A:
• Distribua a folha B. Os alunos devem com- 1 É preciso mesmo ser _____ para gastar
pletar as frases com as locuções encontra- tanto dinheiro com joias e carros novos.
das na folha A. 2 Faz tempo que não tenho notícias do
• Sugira aos alunos que coletem, em suas João. Depois que ele se mudou para Bra-
leituras e exercícios, outras tantas locuções sília, nunca mais deu _____.
do mesmo tipo X (de) Y. No final da semana, 3 Não reclame tanto! Você vai ter _____
faça a coleta do que eles encontraram. para terminar essa tarefa.
4 Você não precisa sair do grupo. Para ficar
X de Y conosco, tudo o que queremos de você é
Folha A uma sincera _____.
Encontre expressões comuns juntando um 5 Dizer que o Pedro é um gênio já é ____.
nome da coluna I com um nome da coluna II, 6 Todos os nossos produtos passam por
usando a preposição de.Pode haver diversas com- um rigoroso _____.
binações possíveis para algumas das palavras. 7 É só uma _____ até ele decidir aceitar o
O primeiro exemplo já foi dado para você: emprego em Porto Alegre.
senso de humor. 8 Sempre achei o André bonito, mas hoje
Use o dicionário para conferir suas combi- na festa ele estava _____!
nações: 9 Só mesmo tendo _____ para ouvir tantos
I II desaforos sem perder a calma.
1 mudança sorte 10 Antes de comer o queijo, veja se ele ain-
2 sinal rico da está dentro do _____.
3 modo morrer 11 Só porque é mais tímido, o Henrique
4 força expressão sempre foi o _____ dos outros meninos
5 senso atitude da escola.
6 tempo dizer 12 Foi mesmo um _____ conseguir um táxi
7 controle humor àquela hora, debaixo de chuva.
8 questão palavra 13 Gosto de trabalhar com a Rita porque,
9 alvo validade mesmo nos momentos mais difíceis, ela
10 homem tempo não perde o _____.
11 prazo chacota 14 Temos de encontrar um _____ a verdade
12 golpe qualidade sem ferir os sentimentos dos outros.
13 sangue sobra 15 Antônio nunca deixou de cumprir suas
14 lindo vida promessas, sempre foi um _____.
15 podre barata

Respostas da Folha A: 1 mudança de atitude; 2 sinal de vida; 3 modo de Respostas da Folha B: 1 podre de rico; 2 sinal de vida; 3 tempo de
dizer; 4 força de expressão; 5 senso de humor; 6 tempo de sobra; 7 con- sobra; 4 mudança de atitude; 5 força de expressão; 6 controle de
trole de qualidade; 8 questão de tempo; 9 alvo de chacota; 10 homem qualidade; 7 questão de tempo; 8 lindo de morrer; 9 sangue de
de palavra; 11 prazo de validade; 12 golpe de sorte; 13 sangue de barata; barata; 10 prazo de validade; 11 alvo de chacota; 12 golpe de sorte; 13
14 lindo de morrer; 15 podre de rico. senso de humor; 14 modo de dizer; 15 homem de palavra.

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11. Na borda do campo lexical na borda do campo – b


objetivos: Auxiliar os alunos a fazer dis- Complete as frases abaixo com palavras
tinções entre palavras relacionadas; reavaliar a da folha A:
noção tradicional de “sinônimo”. 1 O célebre viajante Marco Polo fez uma
• Prepare as folhas de trabalho A e B e dis- viagem até os _____ do Oriente.
tribua cópias entre os alunos. O modelo 2 Este rio serve de _____ entre os estados
abaixo é apenas uma sugestão; você pode de São Paulo e Minas Gerais.
criar outro(s) mais adequado(s) para os 3 A prefeitura vai construir um calça-
seus alunos. dão para os turistas poderem passear
• Divida a turma em duplas e dê a cada aluno pela _____ da lagoa.
uma cópia da folha de trabalho A. Dê a eles 4 Uma nova lei vai dificultar a passa-
10-15 minutos para encontrarem todas as gem das pessoas pela _____ entre o
respostas, usando os dicionários. Deixe que Brasil e o Paraguai.
as duplas verifiquem conjuntamente se to- 5 Essa estrada é perigosa porque se aproxi-
das encontraram as palavras certas. ma muito da _____ de um despenhadeiro.
6 Minha avó, quando menina, costumava
na borda do campo – a ir lavar roupa na _____ do rio.
Todas as palavras abaixo estão relacio- 7 Nossa expedição pretende chegar até o
nadas entre si de algum modo. Use o dicio- _____ sul do continente.
nário para completar as palavras. 8 O governo vai instalar grandes placas
1 L I _ _T E 6 E XT _ _ M O de aviso para indicar os _____ do par-
2 B E I _ A 7 FRO____RA que nacional.
3 B__DA 8 MA_G__ 9 Pelo que ouvi dizer, essa empresa está à
4 DIVI__ 9 ORL_ _____ da falência.
5 CONF__S 10 _ _ M 10 Com o _____ da temporada de chuvas,
O que elas têm em comum? vamos poder retomar as obras da casa.
Qual a diferença entre elas?
Alguma das palavras pode ser usada
mais de uma vez?

Respostas da folha A: 1 limite, 2 beira, 3 borda, 4 divisa, 5 confins, 6 ex-


tremo, 7 fronteira, 8 margem, 9 orla, 10 fim.

Respostas da folha B: 1 confins, 2 divisa, 3 orla/margem/beira, 4 fronteira,


5 beira/borda, 6 margem/beira, 7 extremo, 8 limites, 9 beira, 10 fim.

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• Estimule as duplas a discutir o que as cunstância, episódio, imprevisto,


palavras têm em comum (a noção de incidente, lance etc.)
borda ou limite) e, mais importante, a → conhecimento (ciência, compreen-
verificar no dicionário quais as diferenças são, consciência, cultura, educação,
sugeridas entre as palavras. O dicionário entendimento, erudição, estudo,
estabelece alguma distinção que não está ilustração, informação, instrução,
muito clara? Incentive o debate. sabedoria, saber etc.)
• Depois que todos estiverem mais cientes → começo (abertura, aparecimento,
das diferenças entre as palavras, peça às aparição, berço, criação, estreia, iní-
duplas que trabalhem com a folha B e, em cio, origem, primórdio, princípio etc.)
seguida, que comparem suas respostas → pagamento (comissão, embolso,
com as das duplas vizinhas para ver se há emolumento, estipêndio, féria,
algum grau de concordância. gorjeta, honorários, jorna, jornal,
• Terminada a atividade, discuta nova- paga, pagamento, pro-labore, pro-
mente com os alunos as diferenças de uso pina, proventos, remuneração, ren-
entre as palavras, mesmo quando têm dimento, retribuição, salário, soldo,
significados próximos. Ninguém se refe- vencimentos etc.)
re normalmente às “fronteiras de uma
lagoa”, nem “às bordas entre o Brasil e o
Paraguai”, nem ao “limite da temporada 12. Linguagem do corpo
de chuvas”, nem diz que uma empresa objetivos: Explicitar o uso figurado que
está na “orla da falência”. As palavras ten- se pode fazer de termos concretos; desenvol-
dem a se combinar de maneira regular ver o vocabulário.
em contextos de uso específicos. Algumas • Distribua a folha de atividades “Lingua-
das palavras dessa atividade são também gem do corpo” (modelo abaixo) e peça aos
muito usadas em sentido figurado, como alunos que a preencham, em dupla.
“beira”, “margem” e “limite”, para se refe- • Discuta as respostas dadas. Resolva as dú-
rir a noções abstratas — “à beira da misé- vidas eventuais.
ria”, “no limite da paciência”, “à margem • Peça a cada dupla que consulte no di-
da vida” etc. — enquanto outras, como cionário o verbete referente a uma das
“orla”, “divisa” e “confins” são bem menos partes do corpo trabalhada na ativida-
empregadas dessa forma. de, de modo que todas as palavras usa-
• Outros campos que também podem ser das sejam pesquisadas.
explorados em atividades semelhantes: • Peça que coletem, no verbete, um ou mais
→ belo (bem-apanhado, bonito, boa- usos pouco conhecidos (ou totalmente des-
-pinta, formoso, garboso, gato, gra- conhecidos) da palavra em questão. Pode
cioso, lindo etc.) ser um uso especificamente técnico, como o
→ riqueza (abastança, abundância, nome de alguma peça de máquina pouco co-
fartura, fortuna, prosperidade etc.) nhecida. Faça com que cada dupla apresente
→ acidente (acontecimento, caso, cir- ao resto da turma seus achados inusitados.

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PNLD 2012 — Dicionários

• Peça, a seguir, que cada dupla verifique linguagem do corpo


em seu dicionário palavras compostas Cada uma das lacunas das frases abaixo
(escritas com hífen) que apresentam o deve ser preenchida com o nome de uma
nome da parte do corpo que ela pesqui- parte do corpo. Qual?
sou — por exemplo: pé-de-alferes, pé-de- 1 A pintura ainda não está pronta, só dei
-anjo, pé-de-boi, pé-de-cabra, pé-de-cana, até agora a primeira _____ de tinta.
pé-de-chinelo, pé-de-chumbo, pé-de-gali- 2 No quintal da minha casa tem um
nha, pé-de-moleque etc. _____ de amora.
→ Quantas dessas palavras os alunos co- 3 Essa ilha é formada por dois _____ do
nhecem ou usam? O que significam? mesmo rio.
→ Quantas delas são coisas (nomes 4 Essa carne fica mais gostosa se você
de plantas, animais, objetos etc.) e acrescentar dois _____ de alho cru.
quantas representam qualidades 5 Cercado por _____ de fogo, o cachorro
ou modos de ser? não sabia para onde fugir do incêndio.
→ Desses adjetivos, quais os que ex- 6 Peguei a Esmeralda espiando vocês
primem noções positivas e quais os pelo _____ da fechadura.
que exprimem noções negativas? 7 Li numa revista que estão construindo ro-
bôs menores que uma _____ de alfinete.
• De todas as partes do corpo investigadas, 8 Essa grande pirâmide ficou escondida
qual a que apresentou maior número de por muito tempo no _____ da floresta.
palavras compostas? Por quê? (Provavel- 9 Os raios do sol faiscavam na _____ lisa
mente aquelas que se referem a noções da montanha de ferro.
mais básicas como a cabeça [forma re- 10 A mesa balançava muito porque uma
donda], o olho [abertura], o pé [base]). das _____ estava mal encaixada.
• Discuta com os alunos as razões para o
uso tão frequente dos nomes das partes Respostas: 1 mão, 2 pé, 3 braços, 4 dentes, 5 línguas, 6 olho, 7 cabeça, 8
coração, 9 face, 10 pernas.
do corpo para designar objetos e circuns-
tâncias tão diferentes. É uma boa ocasião
para a introdução das noções de metáfo-
ra e sentido figurado.

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13. Figuras de animais achados. Que locuções ou expressões en-


objetivos: Desenvolver a consciência dos contraram? Quais as que eles conhecem
usos figurados das palavras; desenvolver o voca- e/ou costumam usar? Os sentidos figu-
bulário. rados correspondem ao comportamento
• Escreva na lousa a seguinte lista com no- real dos animais?
mes de animais: • Que outros animais poderiam entrar
nessa lista?
arara gambá grilo • Essa mesma atividade de localização de
baleia gato bode expressões idiomáticas pode ser feita com
boi onça tatu os nomes das partes do corpo estudados no
cachorro pato siri exercício anterior, “Linguagem corporal”.
camarão peixe urso
cobra raposa piranha 14. Ditos e ditados
galinha vaca veado objetivos: Familiarizar os alunos com ex-
galo zebra gorila pressões idiomáticas usuais; praticar a busca
dessas expressões nos dicionários.
• Prepare a folha de trabalho “Ditos e di-
• Pergunte aos alunos o que significa dizer tados” (modelo abaixo) e a distribua aos
que “uma pessoa é/ parece/fica igual a” um alunos, em duplas.
desses animais. Anote as respostas. Evite • Peça que cada dupla tente completar
reagir negativamente contra os sentidos (sem usar o dicionário) os provérbios ou
pejorativos, grosseiros ou chulos atribuídos as expressões idiomáticas do exercício.
a tais termos (como no caso de “vaca”, “pira- Para tanto, podem usar a “cola” na parte
nha”e “veado”, por exemplo). Esses sentidos inferior da página. Dê a eles 15-20 minu-
fazem parte da língua (estão inclusive di- tos para isso.
cionarizados) e devem ser objeto de análise • Passado esse tempo, peça às duplas que
e discussão em sala de aula. verifiquem no dicionário se deram as res-
• Convide os alunos a buscar no dicionário postas corretas. No caso de terem deixado
esses sentidos figurados que eles mesmos lacunas, peça que tentem preenchê-las
atribuíram aos nomes de animais. Quais agora usando o dicionário. (Com isso, os
deles estão contemplados? Quais não estão? alunos terão de decidir em que verbete
• Divida a turma em tantos grupos quan- procurar — a expressão em palpos de ara-
tos são os nomes de animais e peça a cada nha, por exemplo, deve estar em “palpo”
grupo que examine num dicionário a ou em “aranha”?) Dê entre 20 e 30 minu-
existência de locuções ou expressões idio- tos para essa atividade.
máticas em que aparecem esses nomes • Findo o tempo, verifique com toda a tur-
— por exemplo: chegou a hora da onça ma os resultados.
beber água, tem boi na linha, estar bêbado → Quantas duplas conseguiram
como um gambá, etc. Cada grupo deverá completar todas as lacunas?
apresentar ao resto da turma os seus → Quais as que ficaram em branco?

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→ Quais as expressões que não → Quais as expressões desse tipo


foram encontradas em nenhum que circulam em sua família e/ou
dicionário? comunidade? Quem as usa com
→ Em que seção do verbete apare- mais frequência?
cem as expressões? Nas definições,
nos exemplos, em lugar próprio • Como tarefa para casa, você pode pedir
para elas? aos alunos que produzam pequenos
→ O que significa cada uma dessas textos em que essas expressões se encai-
expressões? xariam ou que procurem, em algum texto
→ Quais as expressões que os alu- (jornal, revista, publicidade etc.), expres-
nos já conheciam? Quais as que sões semelhantes a essas.
representam novidade para eles?
→ Que outras expressões os alu-
nos conhecem e acham curiosas
ou engraçadas?

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ditos e ditados

Todas as frases abaixo contêm ditos, 12 O Ari mora muito longe, lá onde Judas
provérbios e expressões idiomáticas muito perdeu as _____.
comuns no português brasileiro. Complete as 13 Aqui todo mundo está muito irritado,
que você conhece. Tente completar as outras, por isso estou sempre _____ em ovos.
usando algumas das palavras que aparecem 14 Nessa cidade tem restaurante bom a
no rodapé desta folha. _____ com o pau.
1 Márcia vive repetindo que seu aparta- 15 Aqueles dois vizinhos vivem em _____
mento novo custou os _____ da cara. de guerra.
2 Você é mesmo um exagerado, vive fazen- 16 Ela foi acreditar em promessas falsas e
do _____ em copo d’água! acabou ficando a ver _____.
3 Pedro tentou levar vantagem naquele 17 O teatro estava lotado, com gente sain-
negócio, mas o tiro acabou saindo pela do pelo _____.
_____. 18 Nossa empresa está indo de vento em
4 Para enfrentar essa situação, vamos ter de _____.
fazer das _____ coração. 19 Ela anda falando mal de você a _____ e a
5 É aí que a _____ torce o rabo! direito.
6 Está na hora de esclarecer tudo e de pôr os 20 O Geraldo está sempre com a cabeça no
pingos nos _____. _____ da lua.
7 Poupe seus esforços nesse caso, porque de
nada vai adiantar dar _____ em ponta de mãos, tempestade, olho, rim, culatra, coro-
faca. nha, tripa, perna, avião, rua, calçada, navio,
8 Ninguém aqui me leva a sério... Bem que o bota, calcanhar, livro, caderno, pente, porca,
povo diz: _____ de casa não faz _____. pata, berro, murro, chaminé, casa, dado, anjo,
9 Eu sei como essa máquina funciona, não castelo, deus, santo, árvore, mar, diabo, pó,
venha querer _____ o padre-nosso ao pão, torto, fazer, ladrão, falar, ai, dar, conta,
_____. milagre, pé, joelho, ensinar, padre, vela,
10 Paulo gosta sempre de dizer que a vida começar, ser, vigário, horário , ladrão, terra,
dele é um _____ aberto. mundo, popa, pisar, céu, mundo, ver
11 Dizem que essa moça sofreu muito, coita-
Respostas: 1 olhos, 2 tempestade, 3 culatra, 4 tripas, 5 porca, 6 is, 7
da: comeu o _____ que o _____ amassou. murro, 8 santo/milagre, 9 ensinar/vigário, 10 livro, 11 pão/diabo, 12
botas, 13 pisando, 14 dar, 15 pé, 16 navios, 17 ladrão, 18 popa, 19 torto,
20 mundo.

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15. ESCREVENDO E APAGANDO vinhar de que tipo de texto vêm aquelas


objetivos: Desenvolver o vocabulário; prati- palavras? De que assunto ele trata?
car técnicas de preenchimento de lacunas; exer- • Cada grupo passa sua cópia do texto ori-
citar a memória. ginal com as palavras/expressões apaga-
• Procure dois textos um pouco acima do das para o grupo que recebeu sua lista de
nível de seus alunos e que contenham até palavras soltas.
10 palavras novas. As melhores fontes são • Os alunos leem o texto com lacunas para
os textos autênticos, como reportagens confirmar suas suposições sobre o tipo de
de jornal e revista, principalmente sobre texto. Em seguida, devem reconstruir os
negócios ou avanços tecnológicos, como textos originais preenchendo as lacunas
nas telecomunicações. Faça cópias sufi- com as palavras soltas e desordenadas da
cientes para que cada aluno tenha o texto folha de papel.
A ou o texto B. • Passados 15 minutos, os alunos con-
• Divida a classe em duas partes e dê a cada firmam suas hipóteses verificando na
metade duas cópias do texto A e duas có- cópia-matriz dos textos.
pias do texto B. Divida a turma em duplas
ou pequenos grupos e diga-lhes que você
quer que eles se tornem especialistas
no assunto do texto em dez minutos.
Podem ler o texto tantas vezes quantas
quiserem, consultando no dicionário as
palavras ou expressões novas. No entan-
to, toda vez que verificarem alguma coisa
no dicionário, eles devem apagá-la (com
líquido branco, por exemplo) de uma das
cópias do texto com que estão trabalhan-
do e escrever a palavra/expressão nova
numa folha de papel (funciona melhor
se as palavras ficarem desordenadas na
folha de papel). Uma cópia do texto é a
cópia-matriz e não deve ser alterada.
• Os grupos A e B trocam entre si as folhas
de papel com as palavras que foram con-
sultadas, de modo que todos os alunos
terão sob os olhos um vocabulário tirado
de um texto que não leram. Não devem
trocar entre si os textos originais. Dê cinco
minutos para que consultem quaisquer
palavras que eles não conhecerem e para
que discutam entre si. Conseguem adi-

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PNLD 2012 — Dicionários

IV. Conhecendo e usando dicionários de Tipo 4


Seguem-se dois blocos de atividades es-
treitamente articuladas entre si e pensadas
especificamente para o ensino médio. Também
elas podem ser tomadas como referência para
outras, elaboradas pelo próprio docente. Sem-
pre que os objetivos forem compatíveis, podem
revelar-se adequadas também para turmas do
segundo segmento do ensino fundamental.

1. Mas, afinal, o que é plebiscito?


Esta atividade se inicia com a leitura de um
breve conto de Artur Azevedo, mais conhecido
como comediógrafo e considerado um dos fun-
dadores do teatro brasileiro. “Plebiscito” é um de
seus textos mais célebres. E põe em cena um pai
de família que, questionado pelo filho de doze
anos a respeito do significado dessa palavra,
tem vergonha de confessar sua ignorância, aca-
bando por promover uma trapalhada.
Para mais informações a respeito do autor,
assim como para ler este e outros textos dele,
acesse o site da Academia Brasileira de Letras:
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgi-
lua.exe/sys/start.htm?infoid=262&sid=281

1.1 Primeira leitura


objetivo: promover uma leitura individual
do conto atenta aos sentidos de vocábulos e ex-
pressões.
Depois de situar o autor e sua obra, com base
nas informações que conseguir reunir, peça aos
alunos que façam a leitura silenciosa e indivi­
dual do conto, anotando termos e expressões
que desconhecerem ou acharem “estranhas”.

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PNLD 2012 — Dicionários

Plebiscito

A cena passa-se em 1890. – Ó senhora, o pequeno não sabe o que é


A família está toda reunida na sala de plebiscito!
jantar. — Não admira que ele não saiba, porque
O senhor Rodrigues palita os dentes, re- eu também não sei.
pimpado numa cadeira de balanço. Acabou – Que me diz?! Pois a senhora não sabe o
de comer como um abade. que é plebiscito?
Dona Bernardina, sua esposa, está muito – Nem eu, nem você; aqui em casa nin-
entretida a limpar a gaiola de um canário- guém sabe o que é plebiscito.
-belga. – Ninguém, alto lá! Creio que tenho dado
Os pequenos são dous, um menino e uma provas de não ser nenhum ignorante!
menina. Ela distrai-se a olhar para o canário. – A sua cara não me engana. Você é muito
Ele, encostado à mesa, os pés cruzados, lê com prosa. Vamos: se sabe, diga o que é plebiscito!
muita atenção uma das nossas folhas diárias. Então? A gente está esperando! Diga!...
Silêncio. – A senhora o que quer é enfezar-me!
De repente, o menino levanta a cabeça e – Mas, homem de Deus, para que você não
pergunta: há de confessar que não sabe? Não é nenhu-
– Papai, que é plebiscito? ma vergonha ignorar qualquer palavra. Já
O senhor Rodrigues fecha os olhos imedia- outro dia foi a mesma coisa quando Manduca
tamente para fingir que dorme. lhe perguntou o que era proletário. Você fa-
O pequeno insiste: lou, falou, falou, e o menino ficou sem saber!
– Papai? – Proletário – acudiu o senhor Rodrigues
Pausa: – é o cidadão pobre que vive do trabalho mal
– Papai? remunerado.
Dona Bernardina intervém: – Sim, agora sabe porque foi ao dicioná-
– Ó seu Rodrigues, Manduca está lhe cha- rio; mas dou-lhe um doce, se me disser o que
mando. Não durma depois do jantar, que lhe é plebiscito sem se arredar dessa cadeira!
faz mal. – Que gostinho tem a senhora em tornar-
O senhor Rodrigues não tem remédio se- -me ridículo na presença destas crianças!
não abrir os olhos. – Oh! ridículo é você mesmo quem se faz.
– Que é? que desejam vocês? Seria tão simples dizer: – Não sei, Manduca,
– Eu queria que papai me dissesse o que é não sei o que é plebiscito; vai buscar o dicioná-
plebiscito. rio, meu filho.
– Ora essa, rapaz! Então tu vais fazer doze O senhor Rodrigues ergue-se de um ímpe-
anos e não sabes ainda o que é plebiscito? to e brada:
– Se soubesse, não perguntava. – Mas se eu sei!
O senhor Rodrigues volta-se para dona – Pois se sabe, diga!
Bernardina, que continua muito ocupada – Não digo para me não humilhar diante
com a gaiola: de meus filhos! Não dou o braço a torcer!

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PNLD 2012 — Dicionários

­ uero conservar a força moral que devo ter


Q Dona Bernardina dá um beijo na filha, e
nesta casa! Vá para o diabo! vai bater à porta do quarto:
E o senhor Rodrigues, exasperadíssimo, – Seu Rodrigues, venha sentar-se; não vale
nervoso, deixa a sala de jantar e vai para o seu a pena zangar-se por tão pouco.
quarto, batendo violentamente a porta. O negociante esperava a deixa. A porta
No quarto havia o que ele mais precisava abre-se imediatamente. Ele entra, atravessa a
naquela ocasião: algumas gotas de água de casa, e vai sentar-se na cadeira de balanço.
flor de laranja e um dicionário... – É boa! – brada o senhor Rodrigues depois
A menina toma a palavra: de largo silêncio – é muito boa! Eu! eu ignorar
– Coitado de papai! Zangou-se logo de- a significação da palavra plebiscito! Eu!...
pois do jantar! Dizem que é tão perigoso! A mulher e os filhos aproximam-se dele.
– Não fosse tolo – observa dona Bernar- O homem continua num tom profunda-
dina – e confessasse francamente que não mente dogmático:
sabia o que é plebiscito! – Plebiscito...
– Pois sim – acode Manduca, muito pesa- E olha para todos os lados a ver se há ali
roso por ter sido o causador involuntário de mais alguém que possa aproveitar a lição.
toda aquela discussão – pois sim, mamãe; – Plebiscito é uma lei decretada pelo povo
chame papai e façam as pazes. romano, estabelecido em comícios.
– Sim! Sim! façam as pazes! – diz a meni- – Ah! – suspiram todos, aliviados.
na em tom meigo e suplicante. – Que tolice! – Uma lei romana, percebem? E querem in-
Duas pessoas que se estimam tanto zanga- troduzi-la no Brasil! É mais um estrangeirismo!..
rem-se por causa do plebiscito! [Azevedo, Artur de. Contos fora
de moda. Rio de Janeiro: 1894]

1.2 Nova(s) leitura(s) depois da primeira leitura, a ouvir a versão de


objetivo: aprofundar a experiência de lei- Abujamra, atentando para as interferências
tura do conto por meio da interpretação de um do ator no original e discutindo suas eventuais
ator profissional. motivações para tanto. Caso isso não seja possí-
A TV Cultura, emissora pública do governo vel, proponha uma rodada de conversas sobre a
do estado de São Paulo, gravou, para o programa leitura realizada:
“Contos da meia-noite”, uma versão falada de Ple- Que expectativas cada aluno teve
biscito, na interpretação de Antônio Abujamra: a respeito do conto, depois de ler
http://tvcultura.cmais.com.br/abujamra/ o título?
contos-da-meia-noite-o-plebiscito Como a história foi-se delineando,
Caso sua escola disponha da aparelhagem à medida que a leitura avançava?
necessária (um computador com acesso à inter- As expectativas iniciais foram
net e monitor de dimensões adequadas ou uma ou não sendo confirmadas? Que
TV acoplada a um DVD previamente gravado impacto isso teve na maneira de
com o programa), vale a pena levar os alunos, continuar a ler?

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PNLD 2012 — Dicionários

Todos os alunos conheciam o(s) sua autoridade de “chefe da família” ameaçada


sentido(s) da palavra plebiscito? Esse(s) pelo desconhecimento do sentido de uma pala-
sentido(s) coincide(m) com os que a vra e sua recusa em aceitar, diante de todos, que
personagem principal revela, ao final? a consulta a um bom dicionário seria a forma
(Ao indagar a respeito, diga aos alunos mais adequada para resolver o problema.
que essas perguntas são importantes d) Peça, então, que os alunos consultem um
para compreender uma parte impor- ou dois dicionários de Tipo 4, para conferir o(s)
tante do humor da história). sentido(s) de plebiscito:

PLEBISCITO ple-bis-ci-to sm con-


1.3 Discussão e compreensão do conto sulta sobre questão específica feita
objetivos: promover uma análise coletiva diretamente ao povo: A constituição
do conto e, por meio dela, sua compreensão; será submetida a plebiscito nacional.
conscientizar os alunos a respeito do papel Na Roma antiga, o termo designava
das palavras na (re)construção dos sentidos do decreto aprovado em comício em que
texto; revelar os valores culturais atribuídos ao tomavam parte os plebeus.
dicionário pelas personagens; chamar a atenção Dicionário Unesp do
do aluno para o uso adequado das informações português contemporâneo
disponíveis num verbete.
a) Por escrito ou oralmente, conduza os alu- plebiscito (ple-bis-ci-to) sm. 1 Consul-
nos a analisar o desenvolvimento da narrativa: ta sobre alguma questão específica, em
a cena inicial, o conflito que se estabelece com que o povo referenda sua posição res-
base na pergunta do garoto e o desfecho final. pondendo sim ou não [O plebiscito é um
Se achar conveniente, proponha que os alunos instrumento da democracia participati-
identifiquem e delimitem, no texto, cada uma va, que pressupõe a interferência direta
dessas partes. do povo nas decisões governamentais.
b) Leve os alunos a observar e identificar Caracteriza-se pela convocação dos ci-
certas marcas de época, nas cenas retratadas: dadãos a manifestarem sua opinião por
o ambiente doméstico, as ocupações de cada meio do voto (sim ou não) antes de uma
personagem, as relações entre eles, as formas lei ser elaborada, consistindo-se numa
de tratamento entre o marido e a esposa, os fase do procedimento para sua elabora-
vocábulos hoje pouco usados etc. Aproveite ção. Neste ponto o plebiscito diferencia-
para perguntar quais palavras e expressões eles -se do ‘referendo’, no qual os cidadãos
registraram como estranhas ou desconhecidas. são convocados a expressar sua opinião,
Peça, então, que consultem os dicionários dispo- que tem caráter deliberativo, após a lei
níveis para resolver suas dúvidas e comente os ter sido elaborada.] 2 Ant. Lei decretada
casos que considerar mais pertinentes. ou estabelecida pelo povo romano em
c) Com base nas observações efetuadas na comício [F.: do lat. Plebiscitum.]
etapa anterior, peça que os alunos explicitem o Novíssimo Aulete: dicionário con-
núcleo do conflito, ou seja, o temor do pai de ver temporâneo da língua portuguesa.

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PNLD 2012 — Dicionários

e) Com base nessas definições, é possível con- estudiosos como vocábulo português (arcaís-
cluir que, mesmo tendo consultado um dicioná- mo), não ultrapassa as 14.000 citações; muitas
rio, o pai se enganou, quanto ao(s) sentido(s) de delas, inclusive, com sentido completamente
plebiscito. E, com isso, induziu toda a família ao diverso do original, não se tratando, portanto, da
mesmo equívoco. mesma palavra.
Pergunte aos alunos por que e leve- Seguem, nas seções seguintes, algumas
-os a perceber que o personagem tomou sugestões para o trabalho com palavras que cor-
como apropriada e atual uma acepção rem o risco de serem dadas como “inexistentes”,
inadequada ao contexto. Para deixar isso mas que podem ser devidamente reconhecidas.
ainda mais claro, explicite que o Dicioná- E o melhor: por meio de atividades que convi-
rio Unesp sequer inclui o sentido de “lei dam os alunos a desempenhar o papel de apren-
romana” como uma acepção da palavra, dizes de lexicógrafos.
apresentando-a apenas como uma in-
formação enciclopédica: 2.1 Colecionadores de palavras
• Na Roma antiga, o termo desig- objetivos: levar os alunos a coletar o
nava decreto aprovado em comício em maior número possível de palavras de seu in-
que tomavam parte os plebeus. teresse; levá-los a descobrir quais, entre elas,
não estão dicionarizadas; ensiná-los a pesqui-
1.4 Moral da história sar informações lexicográficas a seu respeito
objetivo: promover a compreensão global e organizá-las em fichas.
do conto. Nas grandes e médias cidades, adolescentes
Finalmente, peça que os alunos, consideran- e jovens caracterizam-se, entre outras coisas,
do a atitude do pai diante da família, do conheci- por uma linguagem própria, estampada em
mento e do dicionário, formulem a “lição” a que fanzines, letras de rap, publicações dirigidas a
o conto conduz. esse público, programas de rádio e TV, rodas de
conversa entre pares. O componente dessa lin-
2. “Ser ou não ser: eis a questão” guagem que, em geral, mais chama a atenção
É muito comum ouvirmos — ou mesmo ler- de quem não faz parte dessa comunidade é o
mos — que uma palavra como pegue-te “não vocabulário, muitas vezes tachado de pobre ou
existe”. E o critério para tal julgamento é sempre incompreensível.
o mesmo: “não está dicionarizada”. Para valorizar essa variedade linguística,
De fato, no caso de peguete, nenhum dos proponha a seus alunos, organizados em gru-
dicionários do Tipo 4 a inclui. Emitido quase pos, uma pesquisa: uma “caça” às palavras que
automaticamente, esse “veredito” é um con- caracterizem a juventude, grupo social de que
trassenso: palavras que não existem não circu- eles mesmos fazem parte. Peça, então, que iden-
lam socialmente. No entanto, basta digitarmos tifiquem o maior e mais diversificado número
peguete em qualquer aplicativo de busca na possível de publicações produzidas por jovens
internet, para termos acesso a mais de 120.000 ou para jovens, assim como gravações e audiovi-
ocorrências. Muito mais, por exemplo, que bofé, suais nas quais essa linguagem esteja significa-
que, apesar de ser facilmente reconhecida por tivamente presente. Esse material constituirá o

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PNLD 2012 — Dicionários

corpus a ser considerado por todos; e para reuni- pre que possível, cotejá-las com outros jovens:
-lo num curto espaço de tempo talvez se possa como usuários dessa mesma variedade lin-
organizar uma grande gincana. guística, eles poderão ajudar os nossos caça-
Tomando esse corpus como base para a sua dores de palavras a (re)conhecer melhor suas
pesquisa, cada grupo poderá ficar encarregado presas. Os dados que forem considerados con-
de investigar um determinado tipo de material, fiáveis devem ser anotados no verso da ficha.
diante do qual poderá: Fissura
2.1.1 Levantar o maior número possível Sofreguidão.
de ocorrências que, por experiência própria, Subst. Fem. Usada em contextos co-
reconheçam como representativas do voca- loquiais. Recolhida de uma conversa.
bulário juvenil: Usada em todo o País. Segundo o pro-
• palavras pouco ou nada usuais em ou- fessor, é próprio de camadas populares.
tros contextos: azaração, peguete, fican- Etc.
te, tiriça (menina feia), zoar etc.
• acepções que certas palavras só assu-
mem na linguagem dos jovens: animal, 2.1.5 Verificar, então, quais dessas palavras
causar, ficar, fissura, massa etc. ou acepções constam de algum dos dicioná-
rios de Tipo 4. Para as que constam, avaliar as
2.1.2 Organizar, para cada palavra ou acep- definições propostas: parecem fiéis aos usos
ção levantada, uma ficha cartonada correspon- registrados? Se não, por quê?
dente: no anverso, deve constar, na parte su- 2.1.6 Propor, para os vocábulos não diciona-
perior direita, a palavra registrada; e, no corpo rizados, assim como para os definidos insatis-
da ficha, dois ou três enunciados do corpus em fatoriamente, formulações capazes de expli-
que ela apareça. O verso deve ser deixando em citar melhor os seus sentidos. Um critério para
branco, para preenchimento posterior. julgar se as definições propostas pelo grupo
2.1.3 Reunir o maior número possível de in- são ou não adequadas é o do julgamento dos
formações esclarecedoras, para cada vocábulo: pares, ou seja, de outros jovens, de preferência
O que quer dizer essa palavra? A que classe(s) não envolvidos no mesmo trabalho, para favo-
gramatical(is) pertence? Em que circunstâncias recer o distanciamento necessário.
ou tipos de atividade é utilizada? Foi registrada em
enunciados orais ou em publicações? Tem sentido 2.2 Lexicógrafo aprendiz
pejorativo? É de circulação nacional? Ou há fortes objetivo: organizar palavras e informações
indícios de que é própria da região ou mesmo da a elas associadas nos moldes de um dicionário.
localidade? É usada por jovens de todos os níveis A partir dos resultados obtidos na atividade
sociais ou parecem restritas a uma determinada anterior, os grupos podem organizar um pri-
camada? É possível fazer hipóteses bem fundadas meiro acervo de palavras, estruturado nos mol-
a respeito de como se formaram? des de um pequeno dicionário.
Na primeira parte deste livro, o professor
2.1.4 Discutir no grupo e com o(a) pro­ encontrará informações sobre o que é e como se
fessor(a) as informações levantadas. E, sem- estrutura um dicionário. Se julgar que a lingua-

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PNLD 2012 — Dicionários

gem é adequada para seus alunos, a leitura e a 2.2.2 Obtida a nomenclatura e disposta
discussão desse texto em sala de aula pode ser em ordem alfabética, é hora de planejar a
uma boa pedida. Caso contrário, será possível microestrutura. Quantos e quais tipos de
elaborar, com base naquelas seções, exposições informação sobre as palavras constarão dos
mais simples e sucintas, para que todos tenham verbetes? Haverá exemplos?
em mente a natureza do trabalho. Não se deve Como referência para a microestrutura,
perder de vista, entretanto, que o principal os alunos podem tomar a que vem explicada
objetivo dessa empreitada é aprender com os e comentada no Anexo 2 ou escolher a dos
dicionários, e não fazer uma obra tecnicamente verbetes do dicionário de Tipo 4 de sua prefe-
impecável. rência. Para que os alunos façam a sua esco-
2.2.1 Para organizar esse acervo lexical, o lha, você pode organizar uma atividade nos
primeiro passo será definir a nomenclatura moldes da atividade 4 (p. X), originalmente
ou macroestrutura da obra, ou seja, o conjun- pensada para o ensino fundamental.
to de palavras que constituirão entradas ou 2.2.3 Tomando o modelo de microestrutura
lemas de um verbete. Quantas e quais serão escolhido, é hora de elaborar um verbete o mais
selecionadas? As já dicionarizadas serão des- completo possível para cada entrada. Para
cartadas? Por quê? Que grupo ficará encarre- redigir os exemplos, os enunciados originais,
gado de quais palavras? Etc. anotados nas fichas, serão muito úteis.

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PNLD 2012 — Dicionários

Para Saber Mais: leituras recomendadas

O ensino do vocabulário e do léxico, assim elaborado do ponto de vista do desenvolvi-


como o mundo dos dicionários, é vasto e mul- mento da proficiência em leitura e escrita.
tifacetado. E embora a bibliografia em por-
tuguês ainda seja pequena, vários títulos se B asilio , Margarida. 2004. Formação e
destacam. Assim, dispondo de algum tempo classes de palavras no português do Bra-
para leituras semanais e organizando-se em sil. São Paulo: Contexto.
seminários, os professores poderão ampliar
seu conhecimento relativo às palavras, a seu Escrito para o aluno dos cursos de Letras —
papel na leitura e na escrita e ao seu ensino e portanto, em linguagem acessível ao professor
aprendizagem. de toda a educação básica — esse volume,
Seguem algumas sugestões de leitura resultante de pesquisas feitas pela autora nos
e estudo. últimos vinte anos, explica os mecanismos de
formação de palavras que atuam no português
Antunes, Irandé. 2012. Território das pala- contemporâneo do Brasil. E apresenta de forma
vras; estudo do léxico em sala de aula. São simples, mas rigorosa, a difícil questão das clas-
Paulo:Parábola.(Estratégias de Ensino,28) ses de palavras que, do ponto de vista da mor-
fossintaxe, organizam o nosso léxico.
Ao lado do artigo de Luís Antônio Marcuschi
Segundo as palavras da autora, este é comentado mais abaixo, e respeitadas as diferen-
um livro que se detém “nas questões rela- ças de abordagem teórica, o livro de Margarida
tivas ao léxico, ou mais especificamente, ao Basílio, professora da PUC-Rio, é um excelente
ensino do vocabulário com que construí- antídoto para a concepção de léxico como lista. É
mos nossas ações linguísticas”. uma boa ferramenta para quem quer entender
Voltado para o professor da educação de onde se originam, como se formam e como se
básica — em formação ou já em sala de aula consolidam as palavras, assim como seu papel na
—, o livro cumpre o que promete: apresenta organização da língua e no processo de constru-
o léxico como um componente da língua e ção de sentidos,no discurso e no texto.
aborda o vocabulário do ponto de vista de
suas funções discursivas e textuais. Assim, Carvalho, Nelly. 2011. Princípios básicos
há capítulos dedicados tanto à conexão entre de lexicologia. 2 ed. rev. Recife: Ed. Uni-
vocabulário e gramática, na construção dos versitária da UFPE.
sentidos de um texto, quanto ao papel da se-
leção lexical, seja para a eficácia da comunica- Uma das ciências diretamente envolvidas
ção, seja para a coerência e a coesão. na elaboração de dicionários é a lexicologia,
No penúltimo capítulo, “Perspectivas para que estuda a natureza e os processos de for-
o estudo do léxico”, o docente encontrará um mação das palavras, seus sentidos e usos, sua
oportuno “programa de estudo do léxico”, classificação morfossintática, origem etc.

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PNLD 2012 — Dicionários

Num livro introdutório e bastante didático, nários escolares: da redução à expansão


a profa. Nelly Carvalho expõe os princípios bá- lexical na compreensão de textos”. Inter-
sicos da lexicologia, permitindo ao professor disciplinar. 8(16): 30-45. Disponível em
— e mesmo ao aluno do ensino médio — uma http://200.17.141.110/periodicos/inter-
compreensão bastante clara e precisa do que é disciplinar/revistas/ARQ_INTER_16/
e do que se ocupa essa ciência. Em breves capí- INTER16_003.pdf
tulos, a autora aborda as diferenças entre léxico Acesso em 25/09/2012.
e gramática, a classificação das palavras, a(s)
origem(ns) do vocabulário da língua portugue- Como todos sabemos, muitos livros di-
sa, os empréstimos, as gírias e outros temas re- dáticos de português destinados ao ensino
levantes. Apesar dos inúmeros erros de revisão fundamental agregam aos seus textos de
e do descuido da editora com o texto original, a leitura glossários que explicitam o sentido
leitura é fluente e agradável. das palavras presumivelmente mais difíceis.
Neste artigo, publicado em revista eletrônica
Carvalho, Orlene Lúcia de Sabóia & Bagno, de fácil acesso pela internet, a autora analisa
Marcos (orgs.). 2011. Dicionários escolares; alguns deles. Revelando o quanto podem
políticas, formas e usos. São Paulo: Parábola. interferir negativamente no processo de lei-
(Estratégias de Ensino, 22) tura e compreensão do texto, a professora da
UnB aponta a improdutividade do recurso,
Com base na experiência de avaliação de do ponto de vista da aquisição e da expansão
dicionários escolares proporcionada pelo lexical. Ao anteciparem as palavras que se-
PNLD 2006, os autores desse livro – organizado riam desconhecidas do aluno, os glossários
por dois professores da Universidade de Bra- promovem uma seleção que, muitas vezes,
sília (UnB) – descrevem o processo avaliatório pouco corresponde a dúvidas efetivas do
(seus pressupostos políticos, teóricos e peda- discente. Além disso, tendem a ser excessiva-
gógicos) e refletem sobre a aquisição do léxico mente redutores em seu conteúdo, chegando
nas séries iniciais, a função dos dicionários a apresentar explicações pouco adequadas à
no ensino de língua materna e os diferentes compreensão do item lexical selecionado.
recursos por eles utilizados na descrição dos Para exorcizar esses riscos, a autora reco-
sentidos e do perfil linguístico-gramatical das menda o levantamento “ao vivo” de dúvidas
palavras. Refletem, ainda, sobre o tratamento efetivas, seguido de consultas aos dicionários
dado por essas obras a tópicos de interesse escolares disponíveis em sala de aula. Neles,
didático geral, como os termos técnicos das os alunos podem ter acesso a informações
diferentes especialidades, os neologismos e a variadas e precisas sobre a palavra procurada,
variação linguística. além de poder selecionar, entre as acepções
registradas no verbete, a mais apropriada ao
Carvalho, Orlene Lúcia de Sabóia. 2012. contexto sob análise. Assim, entenderá me-
“Glossários em livros didáticos e dicio- lhor o papel das palavras na construção dos

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PNLD 2012 — Dicionários

sentidos de um texto. E estará de fato expan- logia e a lexicografia. A primeira parte do texto
dindo seus conhecimentos lexicais. focaliza a lexicologia, ou seja, o estudo científico
da palavra, entendida como um tipo particular
Guimarães, Eduardo & Zoppi-Fontana, Mó- de unidade linguística. Por isso mesmo, o concei-
nica (orgs.). 2006. Introdução às ciências to central dessa parte é o de léxico, examinado
da linguagem — A palavra e a frase. em seu funcionamento próprio e em suas rela-
Campinas: Pontes. ções com os outros componentes da língua. Na
segunda parte, o autor aborda a concepção e as
Organizado por dois professores do Institu- técnicas próprias da elaboração de dicionários
to de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, (lexicografia), discutindo a relação desse tipo de
este livro reúne contribuições de diferentes obra com as demandas sociais que elas procu-
especialistas. Os artigos mais diretamente ram atender. Assim, o papel do dicionário nas
relacionados com o léxico e os dicionários são políticas linguísticas que criam demandas esco-
“Gramática e dicionário”, de Luiz Francisco lares específicas fica bastante claro.
Dias e Maria Auxiliadora Bezerra, e “Lexicolo-
gia e lexicografia”, de José Horta Nunes. Ilari, Rodolfo. “Aspectos do ensino do vo-
No primeiro deles, o professor encontrará cabulário”. 1985. In: ___. A linguística e o
uma bem traçada visão panorâmica de gramá- ensino da língua portuguesa. São Paulo:
ticas e dicionários. No bloco inicial, os autores dis- Martin Fontes.
cutem diferentes concepções de gramática e sua
constituição histórica. Examinando o quadro Originalmente escrito como parte dos
brasileiro e tomando o estudo do pronome como “Subsídios à Proposta Curricular” do Estado
eixo, Dias e Bezerra refazem o percurso histórico de São Paulo, em 1978, este artigo permanece
das gramáticas brasileiras, assim como suas ar- atual. Partindo de uma crítica às muitas li-
ticulações com o universo escolar. Já no segundo mitações das abordagens do vocabulário em
bloco, o mesmo movimento se faz em relação livros didáticos da época, Rodolfo Ilari, do Ins-
aos dicionários, procurando-se responder a per- tituto de Estudo da Linguagem da UNICAMP,
guntas como: Que tipo de saber sobre a língua discute os principais aspectos linguísticos
um dicionário reúne? Como se constituíram os e pedagógicos do ensino do vocabulário. E
dicionários, em termos históricos? Que relações aponta perspectivas para o trabalho escolar
mantêm com a escola? Em conjunto, o artigo per- relativo ao uso das palavras, à reflexão a seu
mite ao leitor uma boa percepção das estreitas respeito e à (re)construção do léxico, pela
relações que se estabelecem entre gramática e criança, como um componente da língua (ao
dicionário, como instrumentos de descrição e lado da fonologia e da sintaxe, por exemplo).
normalização da língua.
No segundo artigo, José Horta Nunes focaliza Ilari, Rodolfo. 2002. Introdução ao es-
diretamente as duas disciplinas em que a orga- tudo do léxico; brincando com as pala-
nização de dicionários se fundamenta: a lexico- vras. São Paulo: Contexto.

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PNLD 2012 — Dicionários

Esta é uma obra pensada diretamente Escrito para uma revista acadêmica de
para uso didático, ainda que não se vincule linguística, esse artigo examina o papel do
a uma série determinada, ou mesmo a um vocabulário na compreensão de textos na
ciclo. Dirigida ao professor do ensino fun- escola. Partindo do ensino do léxico proposto
damental, pode prestar bons serviços tam- por livros didáticos de português da época, a
bém no ensino médio. autora aponta e discute em profundidade os
O livro reúne 25 breves capítulos, cada problemas e as deficiências das abordagens
um deles consagrado a temas pertinentes que veem, no sentido do vocabulário, apenas
para o conhecimento do léxico: ambi- o efeito de uma propriedade da própria pa-
guidades, anglicismos, campos lexicais, lavra, e não o resultado de um processo mais
definições, estrangeirismos, etimologia, amplo e complexo de compreensão, em que
neologismos, formação de palavras, flexão os sentidos possíveis de um vocábulo são
nominal etc. Cada capítulo inicia-se defi- determinados e até transformados pelo uso
nindo o seu objetivo específico (“Objetivo”) que se faz dele. Depois dessa análise crítica,
e o(s) conceito(s) que procura(m) esclarecer Kleiman apresenta práticas alternativas de
(“Caracterização geral”). Seguem-se, então, exploração do vocabulário, em sintonia com
os “Exercícios”, que, partindo da leitura e uma concepção teoricamente mais adequa-
compreensão de textos, exploram esse(s) da da palavra, do vocabulário, do léxico e do
conceito(s), em aspectos diferentes e em- processo de leitura.
pregando estratégias variadas. Professora do IEL/UNICAMP, a autora
Redigido em linguagem ao mesmo tem- é nacionalmente conhecida por seu tra-
po simples e precisa, sem abusar da termi- balho voltado para o processo de ensino
nologia técnica, o texto pode tanto ajudar e aprendizagem, em especial o da leitura,
o professor a entender melhor cada um dos estreitamente relacionado com a explora-
conceitos selecionados quanto fornecer ção didática do vocabulário. E tem vários
atividades para o trabalho em sala de aula. títulos publicados nesse contexto. Entre
Assim, o docente poderá recorrer a esse li- eles, Texto e leitor: aspectos cognitivos da
vro para consulta, estudo, planejamento de leitura (Campinas, Pontes, 1999), Oficina de
aulas e ajuda na elaboração de exercícios leitura teoria e prática (Campinas, Pontes,
e atividades voltados para o aluno. Muitos 1993) e Leitura: ensino e pesquisa (Campi-
deles poderão, a juízo do professor, ser utili- nas, Pontes, 1989).
zados tais como figuram no livro.
Marcuschi, Luís Antônio. 2004. “O léxico:
Kleiman, Angela. 1987. “Aprendendo lista, rede ou cognição social?”. In: Negri,
palavras, fazendo sentido: o ensino Lígia; Foltran, Maria José; Oliveira, Rober-
de vocabulário nas primeiras séries”. ta Pires de (orgs.). Sentido e significa-
Trabalhos em Linguística Aplicada. (9): ção; em torno da obra de Rodolfo Ilari.
47-81. Campinas: IEL/UNICAMP. São Paulo: Contexto.

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PNLD 2012 — Dicionários

Ainda que não se destine ao leigo, o ar- O livro de Artur Gomes de Morais, da Fa-
tigo do Prof. Marcuschi, da UFPE, é claro e culdade de Educação da UFPE, é escrito direta-
bastante esclarecedor. Por isso mesmo, pode mente para o professor do ensino fundamen-
ser lido com proveito pelo professor do en- tal, especialmente o das séries iniciais. Está
sino fundamental ou médio. Combatendo dividido em duas partes: na primeira, o autor
a concepção tradicional do léxico como lista discute o que é e como se aprende a ortografia;
das palavras de uma língua, o texto aponta na segunda, é o ensino que está em questão.
para os mecanismos linguísticos que estão À luz do que discutiu na primeira parte,
associados às palavras e que conferem ao Gomes de Morais faz, no primeiro capítulo da
léxico um funcionamento particular. Depois segunda parte, uma análise crítica das prá-
de examinar as teorias tradicionais que ticas mais comuns de ensino de ortografia.
explicam o sentido de uma palavra como E no capítulo seguinte propõe e discute um
resultante da relação entre ela e a coisa que conjunto de princípios norteadores para prá-
ela nomeia (teorias referenciais do sentido), ticas de ensino mais adequadas. O volume se
o autor discute o papel do léxico no discurso, encerra com um capítulo que examina situa-
ou seja, na linguagem em uso. E desvenda ções de ensino e aprendizagem da ortografia,
as formas pelas quais as palavras mapeiam com destaque para o uso do dicionário em
a realidade e dão sentido às coisas que no- sala de aula desde as classes de alfabetização
meiam. Com base nesse exame, o professor e para a revisão das produções infantis.
fundamenta sua concepção de léxico como
rede de sentidos socialmente construída. Welker, Herbert Andreas. 2004. Dicioná-
Em português, é, provavelmente, o texto rios; uma pequena introdução à lexico-
mais indicado para o professor tomar conhe- grafia. Brasília: Thesaurus.
cimento das discussões mais recentes sobre
a natureza do léxico e o seu funcionamento Bastante didático, o livro do professor
na língua. Welker, da UnB, é uma introdução cuida-
dosa e panorâmica ao mundo dos dicio-
Morais, Artur Gomes de. 1998. Ortografia: nários, tanto os monolíngues quanto os
ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 1998. bilíngues. A obra aborda as principais di-
ficuldades enfrentadas pelo dicionarista,
Uma das funções mais conhecidas dos di- na definição e na execução de seu projeto
cionários é a de registrar a escrita ortográfi- lexicográfico. Para cada tópico, há sempre
ca dos vocábulos, constituindo-se como obra uma apresentação dos conceitos centrais e
de referência para as questões da área. Por do estado atual da discussão, com base nos
esse motivo, os dicionários são usados com principais autores e tendências da área
frequência para resolver dúvidas de grafia. E envolvida. O último capítulo apresenta re-
também para auxiliar o processo de ensino e sumidamente um bom número de pesqui-
aprendizagem de ortografia. sas sobre o uso de dicionários, com dados

83
PNLD 2012 — Dicionários

bastante pertinentes para o ensino e


aprendizagem. Uma bibliografia ampla
e criteriosa complementa o livro.

X atara , Cláudia; B evilacqua , Cleci


Regina; H umblé , Philippe (orgs.).
2011. Dicionários, na teoria e na
prática; como e para quem são
feitos. São Paulo: Parábola.

Esta é uma introdução ao mundo dos


dicionários ao mesmo tempo clara, didáti-
ca e promovida por quem é do ramo.
Coordenada por três pesquisadores da
área, a obra constitui-se como um conjun-
to de conversas entre esses organizadores
e dicionaristas, lexicógrafos e usuários.
Para cada tipo de interlocutor o livro re-
serva uma de suas três seções. E em cada
uma delas os entrevistados respondem a
perguntas que refletem dúvidas, curiosi-
dades e interesses de um amplo e diver-
sificado público: professores de língua(s),
estudantes, usuários em geral e até mes-
mo especialistas.
O terceiro capítulo da segunda parte,
assim como toda a terceira parte, é de espe-
cial interesse para os professores, porque
aborda, respectivamente, a lexicografia
pedagógica e as demandas dos usuários.
Em ambos os casos, o docente encontrará
informações, discussões e curiosidades
capazes de subsidiar o ensino do vocabulá-
rio e, em particular, o uso do dicionário em
sala de aula.

84
Bibliografia
consultada
PNLD 2012 — Dicionários

Alves, Ieda Maria. 1988. “Para utilizar o dicionário na Ibrahim, Amr Helmy (coord.). 1989. Lexiques. Paris,
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cal. São Paulo: Ática. (Princípios, 191). nificado das palavras”. In: ___ . Semântica. São
Befi-Lopes, Débora M. 2000. “Aquisição e desen- Paulo: Ática.
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Biderman, Maria Tereza Camargo. 1996. “Léxico e das Literárias de Passo Fundo: 20 anos de história
vocabulário fundamental”. Alfa. 40: 27-46. São — ensaios. Passo Fundo: UPF/Edelbra, 2001.
Paulo: Ed. da UNESP. Krieger, Maria da Graça. 2004. “Dicionários para o
Biderman, Maria Tereza Camargo. 2000. “Os di- ensino da língua materna: princípios e critérios
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xico: lexicologia, lexicografia, terminologia. 2 ed. Leffa, Vilson J. 2000. “Aspectos externos e inter-
Campo Grande: Ed. da UFMS, 2001. v. 1. nos da aquisição lexical”. In: ___. As palavras
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dicionários: uma introdução à lexicografia. São Pelotas: EDUCAT.
Paulo: Ed. da UNESP. Nascimento, Edna Maria F. S. 1994. “Paráfrases de-
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Dell’Isola, Regina Lúcia Péret. O sentido das pa- cida Negri (orgs.). 2001. As ciências do léxico: lexi-
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87
PNLD 2012 — Dicionários

Rosa, Maria Carlota Paixão. 2001. Avaliação de di-


cionários monolíngues de português para alunos
de 1ª a 4ª séries. Brasília: SEF/MEC.
Rosa, Maria Carlota (org.). 2003. Guia de livros
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Brasília: SEF/MEC.
Seabra, Maria Cândida Trindade Costa (org.). O
léxico em estudo. Belo Horizonte: Faculdade de
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Wright, Jon. 1998. Dictionaries. Oxford: Oxford
University Press. (Resource Books for Teachers)
Welker, Herbert Andreas. 2006. O uso de dicioná-
rios; panorama geral das pesquisas empíricas.
Brasília: Thesaurus.
Welker, Herbert Andreas. 2008. Panorama geral
da lexicografia pedagógica. Brasília: Thesaurus.

88
PNLD 2012 — Dicionários

Anexos

89
90
O processo
avaliatório
PNLD 2012 — Dicionários

92
PNLD 2012 — Dicionários

1. PRINCÍPIOS E CRITÉRIOS NORTEADORES DA AVALIAÇÃO DE DICIONÁRIOS


BRASILEIROS DE LÍNGUA PORTUGUESA — PNLD DICIONÁRIOS 2012

Considerando a destinação escolar das obras, demais tipos que incluam campos te-
assim como a coerência entre as suas caracterís- máticos como apêndices;
ticas e o Tipo em que se classifiquem, a Avaliação § os critérios adotados na estruturação
valeu-se de dois grupos de critérios: os de exclu- do verbete;
são e os classificatórios. § o número total de entradas;
§ o número total de ilustrações;
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO § o tamanho e o tipo de fonte empregada.
1. Os dicionários devem privilegiar o portu- Serão excluídas, portanto, as obras que não
guês contemporâneo do Brasil, tanto do explicitarem adequadamente sua pro-
ponto de vista dos vocábulos seleciona- posta lexicográfica.
dos quanto da linguagem empregada na
elucidação de seus sentidos e nos demais 3. Considerando-se o seu caráter peda-
textos descritivos e/ou explicativos, gógico, os dicionários devem trazer, em
inclusive a caracterização linguística e linguagem acessível para o aluno visado,
gramatical. Portanto, obras voltadas pre- um guia de uso capaz de explicitar clara e
dominantemente para o léxico de outra satisfatoriamente a organização geral da
variedade da língua portuguesa, ou mes- obra e os recursos de localização de infor-
mo escritas em outra variedade, serão mações de que disponha.
excluídas do PNLD Dicionários 2012.
4. Da mesma forma que os demais ma-
2. Todas as obras inscritas deverão conter teriais didáticos, os dicionários devem
uma descrição de sua proposta lexico- colaborar para a construção escolar da
gráfica, explicitando, para o professor, as ética necessária ao convívio republicano.
escolhas lexicográficas e editoriais que Assim, serão excluídos do PNLD Dicio-
consubstanciem sua destinação peda- nários 2012 as obras que apresentarem
gógica. Nessa descrição, deverão estar explicações, definições e/ou ilustrações
contemplados, entre outros, os seguintes preconceituosas ou estereotipadas.
aspectos:
§ o nível de escolaridade do aluno a que CRITÉRIOS CLASSIFICATÓRIOS
a obra se destina e, portanto, o Tipo Em sua adequação ao público visado, os
em que ela pretende enquadrar-se dicionários serão classificados de acordo com
(vide Item 3 – Da Caracterização dos dois blocos de critérios: os principais e os com-
Acervos); plementares.
§ o critério de seleção vocabular que
presidiu à organização da obra; Critérios principais
§ o critério de seleção de temas, tanto 1. Representatividade e adequação do voca-
em caso de obras dos tipos 1 ou 2 assim bulário selecionado
organizadas, quanto em obras dos Independentemente do tipo em que

93
PNLD 2012 — Dicionários

se classifiquem, os dicionários deverão (lexicais e gramaticais; simples e compos-


atender, em seus critérios de seleção vo- tas; expressões idiomáticas; neologismos;
cabular, a dois princípios distintos e opos- palavras de uso restrito; etc.), e para um
tos: de um lado, a representatividade do maior número de esferas públicas da
conjunto de entradas, tendo-se em vista comunicação, com destaque para a mí-
o léxico do português; de outro lado, a sua dia e as produções escritas destinadas ao
adequação ao nível de ensino e à faixa público infanto-juvenil, como os cadernos
etária do alunado visado. ou seções próprias para crianças e jovens
Nesse sentido, os dicionários de tipo 1 e 2 (em revistas e jornais de grande circula-
devem organizar-se de forma a propiciar ção), a literatura infanto-juvenil e os ma-
ao aprendiz, prioritariamente, teriais didáticos voltados para o ensino
§ um primeiro acesso ao “mundo das fundamental. A terminologia específica
palavras” (o léxico), em diferentes di- das diferentes áreas disciplinares curri-
mensões; culares do segundo segmento do ensino
§ um primeiro contato com o trata- fundamental deve fazer-se significativa-
mento que obras lexicográficas dão à mente presente.
apresentação gráfica das palavras e à Já os dicionários de Tipo 4 devem contem-
explicação de seus sentidos, por meio plar toda a diversidade e complexidade
de recursos diversos. do léxico, tanto em relação aos tipos de
Assim, a representatividade do conjunto lexia quanto no que diz respeito às esfe-
de vocábulos, nesses dois tipos de dicio- ras discursivas. Sem descuidar do voca-
nários, deve subordinar-se à pertinência bulário coberto pelos demais dicionários,
pedagógica da seleção. Ao lado da diversi- devem abranger o vocabulário da mídia,
dade de esferas de comunicação (do âm- em particular a impressa, e as áreas de co-
bito doméstico aos espaços públicos) e de nhecimento mais especializadas. Conside-
campos temáticos envolvidos (dos mais rando-se o alunado do ensino médio, de-
próximos aos mais distantes da experiên- vem dar especial atenção às palavras que
cia da criança), a seleção deve contemplar caracterizam as culturas juvenis, o mundo
diferentes graus de dificuldade, do ponto do trabalho e o campo da política. Os vo-
de vista da frequência maior ou menor, do cábulos pouco usados ou em processo de
significado concreto ou abstrato, da es- desuso, ou, ainda, que sejam característi-
trutura morfológica mais ou menos com- cos de uma dada região do País, devem ser
plexa, da extensão maior ou menor etc. assinalados como tais. Da mesma forma,
Especialmente nos dicionários de Tipo 1, a o caráter chulo e/ou pejorativo de termos
seleção lexical e a explicação dos sentidos tabu deve ser cuidadosamente indicado.
dos vocábulos devem ser adequados a
alunos em fase inicial de alfabetização. 2. Adequação da estrutura e da apresenta-
Os dicionários de Tipo 3 devem cobrir um ção gráfica do verbete
conjunto mais diverso e mais complexo Os vocábulos selecionados devem organi-
de lexias, estendendo a experiência do zar-se como verbetes, apresentando, por-
aluno para todos os tipos de palavras tanto, uma cabeça (a palavra selecionada

94
PNLD 2012 — Dicionários

como entrada) e um enunciado (o conjunto pregadas nas definições devem constar


de explicações relativas à entrada). No também como entradas, na obra.
enunciado, a complexidade da organização
interna, a linguagem empregada e a exten- 4. Grafia
são total devem estar adequadas ao Tipo de Os vocábulos deverão estar livres de
dicionário. Além disso, tanto a organização erros ortográficos, i.e., de troca, falta ou
geral do verbete quanto a do enunciado excesso de diacríticos (como acentos
devem estar evidenciadas por recursos no- e cedilha), troca, falta ou excesso de le-
tacionais e gráficos apropriados. tras, falta ou inclusão errônea de hifens,
No caso dos dicionários de Tipo 1, a obra ou de qualquer outro fator que afaste
poderá organizar-se em campos temáti- a(s) grafia(s) consignada(s) pela obra
cos ilustrados, — como “o corpo humano”, daquela(s) prescrita(s) pelo Vocabulário
“a casa”, “a escola”, “a cidade”, “os animais Ortográfico da Língua Portuguesa em sua
domésticos”, “os alimentos” etc. Esta op- mais recente edição.
ção, entretanto, não isentará o dicionário
de apresentar definições; e no interior 5. Contextualização
de cada campo, a sequência dos verbetes Será observada a presença, para cada
deve observar a ordem alfabética. Seja acepção, de exemplos ou abonações que
qual for o princípio adotado para a orga- auxiliem o aluno na compreensão dos
nização geral da obra, as ilustrações farão empregos possíveis para dado vocábulo.
parte, obrigatoriamente, da explicação
dos sentidos da palavra. 6. Informação linguística
Nos dicionários dos Tipos de 2 a 4 , a Os dicionários de Tipo 3 e 4 devem con-
organização dos verbetes será necessa- templar, a cada entrada, ao menos os se-
riamente a usual para obras do gênero, guintes itens: (a) a classe gramatical, cuja
podendo-se incluir complementarmente, terminologia técnica deverá ou pautar-se
no caso dos Tipos 2 e 3, quadros ilustrados pela Nomenclatura Gramatical Brasileira
consagrados a vocábulos de um mesmo ou orientar-se por critérios justificados e
campo temático de interesse escolar. claramente explicitados e definidos em
anexo próprio; (b) propriedades morfos-
3. Qualidade das definições (inclusive por sintáticas (a indicação de gênero dos no-
imagens) mes; a indicação completa da transitivi-
As definições apresentadas para os vo- dade dos verbos); (c) as irregularidades na
cábulos devem estar livres de erros. As flexão, tais como a existência de formas
ilustrações, quando utilizadas como supletivas, de defectividade ou de abun-
parte obrigatória e indissociável das de- dância nos paradigmas flexionais; (d)
finições (dicionários de Tipo 1 e 2), devem relações semânticas com outras palavras
ser pertinentes e corretas. Será observado (sinonímia, antonímia, hiperonímia, co-
também se as definições se fazem em letivos etc.); (e) dados relativos ao registro
linguagem acessível ao aluno visado. Nos (formal / informal), ao estilo, ao caráter
dicionários de Tipo 3 e 4, as palavras em- mais ou menos restrito do vocábulo etc.

95
PNLD 2012 — Dicionários

Informações complementares, que enri-


queçam a descrição linguística dos vocá-
bulos, também serão aferidas: separação
silábica, etimologia, estrutura morfológi-
ca, indicação da pronúncia culta etc.
Nos dicionários de Tipo 1 e 2, é obrigatória
a indicação da separação silábica. As de-
mais informações linguísticas, quando
presentes, devem restringir-se ao essen-
cial, em linguagem adequada ao alfabeti-
zando.

Critérios complementares
7. Aspecto material
A obra será avaliada no que toca à quali-
dade da impressão, que deve ser livre de
borrões, falhas, ou quaisquer problemas
que dificultem ou impeçam a leitura. O
papel deve permitir a leitura, sem dificul-
dade, de ambas as páginas de uma folha.
O tamanho da fonte, o espaçamento e a
diagramação deverão: a) ser adequados
ao Tipo; b) favorecer a rápida localização
de informações na obra, na página e no
verbete. A obra será também avaliada
quanto a sua resistência ao manuseio.
8. Qualidade e pertinência dos apêndices
Quaisquer que sejam, os apêndices de-
vem ser pertinentes, tanto do ponto de
vista do nível de ensino e aprendizado em
jogo quanto do gênero dicionário.

96
PNLD 2012 — Dicionários

2. Obras selecionadas

Com base nesses critérios, os dicionários 7. Saraiva, Kandy S. de Almeida & Oliveira, Ro-
inscritos foram analisados e avaliados, tendo-se gério Carlos G. de. Saraiva Júnior; dicioná-
selecionado os títulos abaixo. rio da língua portuguesa ilustrado. 3 ed.
São Paulo: Saraiva, 2009. [7.040 verbetes]
Tipo 1
1. Bechara, Evanildo. Dicionário infantil ilus- Tipo 3
trado Evanildo Bechara. Rio de Janeiro: 1. Bechara, Evanildo (org.). Dicionário escolar da
Nova Fronteira, 2011. [1.000 verbetes] Academia Brasileira de Letras. 3 ed. São Pau-
2. Biderman, Maria Tereza Camargo & Carva- lo: Cia. Ed. Nacional, 2011. [28.805 verbetes]
lho, Carmen Silvia. Meu primeiro livro de 2. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Au-
palavras; um dicionário ilustrado do por- rélio Júnior: dicionário escolar da língua
tuguês de A a Z. 3 ed. São Paulo: Ática, 2011. portuguesa. 2 ed. Curitiba: Positivo, 2011.
[999 verbetes] [30.373 verbetes]
3. Geiger, Paulo (org.). Meu primeiro dicioná- 3. Geiger, Paulo (org.). Caldas Aulete – mini-
rio Caldas Aulete com a Turma do Cocoricó. dicionário contemporâneo da língua por-
2 ed. São Paulo: Globo, 2011. [1.000 verbetes] tuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2011.
[29.431 verbetes]
Tipo 2 4. Ramos, Rogério de Araújo (ed. resp.). Dicio-
1. Biderman, Maria Tereza Camargo. Dicioná- nário didático de língua portuguesa. 2 ed.
rio ilustrado de português. 2 ed. São Paulo: São Paulo: SM, 2011. [26.117 verbetes]
Ática, 2009. [5.900 verbetes] 5. Saraiva, Kandy S. de Almeida & Oliveira,
2. Borba, Francisco S. Palavrinha viva; dicio- Rogério Carlos G. de. Saraiva jovem; dicio-
nário ilustrado da língua portuguesa. nário da língua portuguesa ilustrado. São
Curitiba: Piá, 2011. [7.456 verbetes] Paulo: Saraiva, 2010. [19.214 verbetes]
3. Braga, Rita de Cássia Espechit & Magalhães,
Márcia A. Fernandes. Fala Brasil!; dicionário Tipo 4
ilustrado da língua portuguesa. Belo Hori- 1. B echara , Evanildo. Dicionário da língua
zonte: Dimensão, 2011. [5.400 verbetes] portuguesa Evanildo Bechara. Rio de Ja-
4. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Di- neiro: Nova Fronteira, 2011. [51.210 entra-
cionário Aurélio ilustrado. Curitiba: Posi- das (verbetes e locuções)]
tivo, 2008. [10.243 verbetes] 2. B orba , Francisco S. Dicionário Unesp do
5. G eiger , Paulo (org.). Caldas Aulete – Di- português contemporâneo. Curitiba: Piá,
cionário escolar da língua portuguesa; 2011. [58.237 verbetes]
ilustrado com a turma do Sítio do Pica- 3. Geiger, Paulo (org.). Novíssimo Aulete dicioná-
-Pau Amarelo. 3 ed. São Paulo: Globo, 2011. rio contemporâneo da língua portuguesa.
[6.183 verbetes] Rio de Janeiro:Lexikon,2011. [75.756 verbetes]
6. Mattos, Geraldo. Dicionário Júnior da lín- 4. Houaiss, Antônio (org.) & Villar, Mauro de
gua portuguesa. 4 ed. São Paulo: FTD, 2011. Salles (ed. resp.). Dicionário Houaiss conciso.
[14.790 verbetes] São Paulo: Moderna, 2011. [41.243 verbetes]

97
PNLD 2012 — Dicionários

3. Equipe responsável pela avaliação

Comissão Técnica Alcides Fernandes de Lima (UFPA)


Orlene Lúcia de Sabóia Carvalho Ana Claudia Castiglioni (UFT)
Ana Lúcia Silva Souza (UFBA)
Coordenação-geral de área Ana Paula Mendes Alves de Carvalho (DO-UFMG)
Américo Venâncio Lopes Machado Filho (UFBA) Antônia Vieira dos Santos (UNEB)
Antônio Marcos da Silva Pereira (UFBA)
Coordenação institucional Auri Claudionei Matos Frübel (UFMS)
Edileise Mendes Oliveira Santos (UFBA) Bruno Oliveira Maroneze (UFGD)
Cláudia Graziano Paes de Barros (UFMT)
Coordenação adjunta Cleonice Cândida Gomes (UFMS)
Ana Maria de Carvalho Luz (UFBA) Dermeval da Hora Oliveira (UFPB)
Edna Pagliri Brun (UFMS)
Coordenações regionais Eduardo Tadeu Roque Amaral (UFMG)
Aparecida Negri Isquerdo (UFMS) Eliana Dias (UFU)
Conceição de Maria de Araújo Ramos (UFMA) Elisete Maria de Carvalho Mesquita (UFU)
Maria CândidaTrindade Costa de Seabra (UFMG) Elisabete Aparecida Marques (UFMS)
Tânia Conceição Freire Lobo (UFBA) Emília Helena Portella Monteiro de Souza (UFBA)
Evangelina Maria Brito de Faria (UFPB)
Consultoria pedagógica Éwerton Ávila dos Anjos Luna (UFRPE/DO-UFPB)
Egon de Oliveira Rangel (PUC/SP) Fabiana Poças Biondo (UFMS)
José de Ribamar Mendes Bezerra (UFMA)
Revisores Júlio Neves Pereira (UFBA)
Solange Mendes da Fonseca Lícia Maria Freire Beltrão (UFBA)
Helena Maria Reis Andrade Lindinalva Messias do Nascimento Chaves (UFAC)
Luiz CláudioValenteWalker de Medeiros (UFRJ)
Apoio Administrativo Luiza Helena Oliveira da Silva (UFTO)
Cláudia Santos de Jesus Marcela Moura Torres Paim (UFBA)
Leandro Salles Rocha Marcelo Alessandro Limeira dos Anjos
Lilian Santana da Silva (UFPI/DO-UFMG)
Rogério Luid Márcia Cristina de Brito Rumeu (UFMG)
Rodrigo vieira Márcia Regina Pavoni de Carvalho (UFMT)
Márcio Sales Santiago (DO-UFRGS)
Avaliadores Marco Antonio Martins (UFRN)
Abdelhak Razky (UFPA) Maria Auxiliadora da Fonseca Leal (UFMG)
Adair Vieira Gonçalves (UFGD) Maria Cecília de Lima (UFU)
Adelma das Neves Nunes Barros Mendes (UFAP) Maria Cristina Rigoni Costa (UNIRIO)
Aderlande Pereira Ferraz (UFMG) Maria Cristina Vieira de Figueiredo Silva (UFBA)
Alba Valéria Tinoco Alves Silva (UFBA) Maria da Aparecida Meireles de Pinilla (UFRJ)

98
Maria da Graça dos Santos Faria (UFMA)
Maria das Dores CapitãoVigário Marchi (UFGD)
Maria de Fátima Sopas Rocha (UFMA)
Maria do Socorro Silva de Aragão (UFPB/UFC)
Maria Helena de Paula (UFG/Catalão)
Maria José Bocorny Finatto (UFRGS)
Maria Thereza Indiani de Oliveira (UFRJ)
Marilúcia Barros de Oliveira (UFPA)
Marilze Tavares (UFGD)
Maura Alves de Freitas Rocha (UFU)
Michelle Machado de Oliveira (UnB)
Mônica Magalhães Cavalcante (UFC)
Noemi Pereira de Santana (UFBA)
Paula Godoi Arbex (UFU)
René Gottlieb Strehler (UnB)
Rute Izabel Simões Conceição (UFGD)
Sandra Dias Loguercio (UFRGS)
Siane Gois Cavalcanti Rodrigues (UFPE)
Sílvia Mara de Melo (UFGD)
Simone Bueno Borges da Silva (UFBA)
Sônia Bastos Borba Costa (UFBA)
Sônia Maria de Melo Queiroz (UFMG)
Sulemi Fabiano Campos (UFRN)
Thais Fernandes Sampaio (UFJF)
Vander Lúcio de Souza (UFMG)
Veraluce Lima dos Santos (UFMA)
Waldenice Moreira Cano (UFU)
Waldenor Barros Moraes Filho (UFU)

99
PNLD 2012 — Dicionários

100
Para Entender
a Terminologia
Básica
PNLD 2012 — Dicionários

102
PNLD 2012 — Dicionários

1. Terminologia: verbete e microestrutura

Em qualquer dicionário, o verbete é a uni- simples sequência “palavra entrada — definição”


dade básica. Estruturalmente, essa unidade que encontramos em dicionários para iniciantes.
consiste de uma sequência de dois termos: a
entrada ou cabeça de verbete — a palavra que
se quer definir e explicar —, e um enunciado
explicativo que:
§ enumera os diferentes sentidos ou acep-
ções em que o vocábulo pode ser usado;
§ associa a cada acepção uma explicitação
do sentido em questão e um conjunto
determinado de informações de natureza
diversa (gramatical, histórica, estilística
e enciclopédica), todas elas consideradas
pertinentes para o tipo de usuário visado.

É esse enunciado explicativo que, em seu


conjunto, desenvolve a descrição lexicográfica.
Faz isso de tal forma que, entre ele e a entrada,
se estabelece uma equivalência, como se o di-
cionário, a cada verbete, nos dissesse o seguinte:
“o vocábulo X assume, na língua portuguesa, os
aspectos e os valores descritos no enunciado Y”.
Em decorrência de sua proposta lexicográfi-
ca, cada dicionário decide quantas e quais acep-
ções abrigará. E seleciona um conjunto próprio Verbete “orelha” do Caldas Aulete; minidi-
de categorias por meio das quais fará a descri- cionário contemporâneo da língua portuguesa
ção dos vocábulos selecionados: classe e gênero, (32241; p. 632)
campo temático, irregularidades flexionais etc.
Por sua vez, o projeto editorial estabelecerá,
para cada um desses tipos de informação, uma
convenção própria. E os recursos gráficos serão Um verbete como esse é formado por uma
tão mais adequados quanto melhor e mais rapi- entrada — orelha — que se distingue tipografi-
damente permitirem uma apreensão visual da camente do restante do enunciado lexicográfico
própria descrição lexicográfica. pelo tipo de fonte empregado, pelo negrito e
Extraído de um dos dicionários de Tipo 3 sele- pelo recuo na margem. Entre colchetes, logo
cionados pela Avaliação, o exemplo abaixo nos após a entrada, o verbete esclarece uma dúvida
permite evidenciar a organização interna ou mi- possível do usuário a respeito da abertura ou
croestrutura de um verbete mais complexo que a fechamento da vogal tônica [ê].

103
PNLD 2012 — Dicionários

Seguem-se as diferentes acepções, nume- § uma série sinonímica (que definiria o


radas de 1 a 5. Antecedendo a numeração, uma substantivo orelha, na mesma acep-
rubrica informa a classe de palavras e o gênero ção e, por meio de um substantivo
do vocábulo (sf ou “substantivo feminino”, como “ ouvido”);
no caso) naquela acepção. Se não aparece ne- § uma combinação de ambas, quer num mes-
nhum sinal nesse lugar, subentende-se que mo verbete, quer pelo uso predominante de
vale, para a acepção em jogo, a mesma classifi- um tipo ou de outro,ao longo da obra.
cação da anterior, como é o caso neste verbete. O enunciado definitório pode remeter-nos
Logo após a numeração, uma rubrica informa explicitamente a outro verbete do dicionário.
o campo temático (Anat. = anatomia) ou o Em geral, essa remissão se faz por meio de uma
tipo de uso em que a palavra é entendida na- abreviatura — como q.v, v., cf. (queira ver; veja;
quele sentido (fig., poét., fam., chul. etc.). Entre confronte) — que induz o usuário a procurar, no
colchetes, anota-se uma achega, ou seja, uma verbete indicado, informações complementares
informação adicional, relativa a mudanças na e/ou relações que colaboram para a apreensão
terminologia anatômica. Exemplos elaborados dos sentidos do vocábulo de referência. A es-
pelo dicionarista ou abonações (exemplos re- trutura do artigo pode comportar informações
tirados de textos autorais) podem, a cada acep- complementares, como a etimologia (no caso: F.:
ção, colaborar para uma adequada explicitação Do lat. Auricula, ae.); ou, ainda, tipos de combi-
dos sentidos do vocábulo. Uma vez encerrada a nações em que a unidade pode figurar.
série de acepções, aparecem, quando é o caso, Finalmente, uma ilustração para a palavra en-
as entradas secundárias ou subentradas, que trada pode acompanhar o verbete; no caso em tela,
podem se constituir tanto de palavras deriva- com sinalização dos constituintes anatômicos da
das da entrada principal, quanto de vocábulos orelha e legendas correspondentes. Um boxe com
compostos e expressões idiomáticas. No caso informações enciclopédicas fecha a unidade.
acima ilustrado, registram-se três, com as res- Como recurso auxiliar para a localização
pectivas marcas de uso. de um verbete, aparecem, no cabeçalho das
Cada acepção se apresenta na forma de um páginas dos dicionários, as palavras-guia (orde-
enunciado definitório ou, mais simplesmente, nação/ordenar), indicadoras da primeira e da
de uma definição. Cada um desses enunciados última entrada de uma mesma página.
pode se apresentar como:
§ uma predicação;
Neste caso, trata-se de um enunciado que
associa à entrada, numa determinada
acepção, uma série de propriedades. Na
formulação desse enunciado, o núcleo
pertence à mesma classe gramatical da
entrada. Exemplo para a segunda acep-
ção de orelha:
“2 Anat: Órgão da audição responsável tam-
bém pela manutenção do equilíbrio (1).”;

104
PNLD 2012 — Dicionários

2. Glossário técnico: o dicionário e sua estrutura

Neste glossário, estão definidos os termos que se encontram destacados na primeira seção
deste manual, além de alguns termos comuns aos guias de uso dos dicionários escolares sele-
cionados nesta edição do PNLD-Dicionários.
Nas definições abaixo, os termos ou expressões em negrito correspondem a verbetes do pró-
prio glossário.
Elaborado pela Profa. Dra. Orlene Lúcia de Sabóia Carvalho (UnB).

abonação [confrontar com exemplo] É um tipo formas reduzidas. Alguns dicionários op-
de exemplificação que ilustra o emprego da tam pelo termo abreviação.
entrada por meio de fragmentos extraídos
de textos literários, jornalísticos, técnicos etc. acepção É um termo usado para se referir a cada
Na tradição lexicográfica, as abonações cos- um dos significados que a entrada pode ter
tumam ser de autores literários consagrados em diferentes contextos. Cada acepção é
e têm natureza prescritiva, enquanto na lexi- explicada por meio de uma definição. Em
cografia moderna, de modo geral, são extra- geral, as palavras ou expressões têm várias
ídas de um corpus, e têm caráter descritivo: acepções, que, nos verbetes, frequentemente
aparecem separadas por números:
debulhar (de.bu.lhar) v.td. 1 Tirar os grãos,
os bagos ou as sementes de (fruta, cereal garra gar.ra substantivo feminino 1. Unha
etc.). § “Debulhar o trigo,/Recolher cada de animais como o gato, o leão, o tigre, a
bago do trigo...” (Milton Nascimento/Chi- águi, etc.: Espantou o gato quando o viu
co Buarque, “O cio da terra”). (...) afiando as garras no sofá. 2. Entusiasmo,
Dicionário da Língua vontade: Nosso time só venceu porque jo-
Portuguesa Evanildo Bechara, gou com garra.
Evanildo Bechara, Nova Dicionário Aurélio ilustrado,
Fronteira, 2011 Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira, Positivo, 2008
abreviação Ver o verbete abreviatura.
achega Num verbete, achega é a informação
abreviatura É a forma reduzida de uma pa- que se acrescenta às de praxe, na explicita-
lavra. Nos dicionários, encontram-se abre- ção dos sentidos de uma palavra. Exemplo:
viadas as marcas de uso, as remissivas, a Orelha substituiu ouvido na nova termi-
informação gramatical da entrada etc. Os nologia anatômica.
dicionários escolares que fazem uso de Caldas Aulete — minidicionário
abreviaturas trazem a lista das utilizadas contemporâneo da língua portu-
na obra, no entanto, há aqueles que, por guesa, 3 ed., Lexikon, 2011
questões pedagógicas, preferem não usar

105
PNLD 2012 — Dicionários

antônimo Uma palavra é antônima de outra exemplos e/ou abonações. O plural de corpus
quando significa o contrário dela. A antoní- é corpora.
mia é uma relação de significado. Nos dicio-
nários, os antônimos da entrada estão após a definição [também denominada enunciado
acepção ou as acepções a que se referem, ou definitório] É o enunciado que explicita o
no final do verbete: sentido de uma palavra ou expressão. São
muitos os tipos de definições e, em um mes-
rápido (rá.pi.do) adj. 1. Que é ligeiro, veloz mo dicionário, é comum encontrarmos mais
(O guepardo é o mamífero mais rápido do de um tipo.
mundo, chegando a correr a 110 quilôme-
tros por hora.); 2. que dura pouco tempo; definição analítica [também denominada de-
efêmero, breve (Aproveitou a carona do finição aristotélica] Na definição analítica,
tio para fazer uma visita rápida aos avós.); o enunciado explicita o sentido da palavra
(...) Antôn na acep 1 moroso e vagaroso. ou expressão por meio de duas partes prin-
Saraiva Jovem: dicionário da cipais: um hiperônimo (a categoria a que a
língua portuguesa ilustrado, palavra pertence) e as diferenças específicas,
Saraiva, 2010 isto é, as características próprias daquilo que
está sendo definido. É a definição predomi-
artigo O mesmo que verbete. nante nos dicionários. No exemplo abaixo, o
hiperônimo jogo identifica a categoria a que
cabeça de verbete O mesmo que entrada. pertence futebol, seguindo-se as característi-
cas específicas que distinguem o futebol de
campo temático É um conjunto de palavras ou outros tipos de jogos:
expressões, organizado por tema, noção, es-
feras de atividades ou área de conhecimento futebol fu-te-bol O futebol é um jogo dis-
específicos. Vários dicionários incluem cam- putado com os pés entre duas equipes de
pos temáticos em sua organização, muitas onze jogadores. O objetivo é fazer com que
vezes dispostos didaticamente em quadros. a bola entre no gol do adversário. O futebol
Alguns exemplos de campos temáticos: ali- é o esporte mais popular entre os brasileiros.
mentos, escola, corpo humano, família, ins- — família: futebolista, futebolístico
trumentos musicais, mamíferos, divisões do Meu primeiro livro de palavras:
tempo, brincadeiras, jogos etc. um dicionário ilustrado do por-
tuguês de A a Z, Maria Tereza
corpus É uma coletânea de textos selecionados Biderman, Ática, 2011
e organizados de acordo com critérios espe-
cíficos (língua escrita, língua falada, gêneros definição aristotélica O mesmo que definição
textuais etc.), digitalizada, que serve de base analítica.
para trabalhos linguísticos, entre os quais a
elaboração de dicionários. Em vários dicio- definição circular Ocorre quando uma entrada
nários, o corpus é utilizado para a extração de é definida por um sinônimo, e vice-versa. O

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PNLD 2012 — Dicionários

sinônimo definidor, quando sob a forma de pronomes você/a gente, o que lhe confere um
entrada, tem seu sentido definido por aquela caráter dialógico:
palavra que ele próprio definiu. A ausência
de definição em qualquer dos verbetes rela- fumaça fu-ma-ça
cionados leva a um círculo vicioso, como em: Fumaça é o que nós vemos subir pelo ar
quando uma coisa queima, pega fogo. A
cas.ca.ta Cachoeira. fumaça é o vapor da água, misturado com
ca.cho.ei.ra Queda d’água. pedacinhos daquilo que pega fogo.
sal.to Queda d’água. Meu primeiro dicionário Caldas
que.da d’á.gua Cachoeira, salto. Aulete com a Turma do Cocoricó,
Globo, 2011
definição enciclopédica A definição enciclopé-
dica distingue-se da definição linguística por Algumas definições instanciativas constituem-
explicar o sentido da palavra-entrada por -se de pequenos textos descritivos:
meio de informações sobre aquilo que ela de-
signa (o referente). Nos dicionários de língua, o arco-íris (ar-co-í-ris), os arco-íris
o uso combinado dos dois tipos de definição Arco-íris é o arco de várias listras colori-
é bastante frequente: das que se forma no céu quando faz sol
durante a chuva ou logo depois dela. As
Burguesia s.f. 1. Grupo social que se forma cores do arco-íris são: vermelho, laranja,
no final da Idade Média com o desen- amarelo, verde, azul, anil e violeta. O arco-
volvimento do comércio e o surgimento -íris também se chama arco-celeste.
das cidades, passando a dominar a vida Dicionário infantil ilustrado
econômica, social e política da Europa. Evanildo Bechara, Evanildo Be-
2. Grupo social formado pelos grandes chara, Nova Fronteira, 2011
proprietários de terra, os industriais, os
banqueiros, os empresários e os grandes definição linguística Em contraposição à defi-
comerciantes. Bur.gue.si.a nição enciclopédica, a definição linguística
Dicionário Júnior da Língua Portu- explica o sentido da entrada por meio de
guesa,Geraldo Mattos,FTD,2011 informações sobre seu conteúdo semântico,
seus usos e interpretações.
definição instanciativa A definição instanciati-
va foi inicialmente proposta para dicionários definição oracional [confrontar com definição
direcionados para aprendizes de inglês como instanciativa] O que caracteriza a definição
língua estrangeira (Dicionários Cobuild) e oracional é o fato de ser formulada sob a
tem sido utilizada em dicionários escolares forma de oração em que a entrada faz parte
brasileiros. Entre suas principais caracterís- do enunciado definitório. Como se trata de
ticas, estão: elaboração sob a forma de oração classificação de natureza sintática, as possi-
– é um tipo de definição oracional – e o uso bilidades de formulação são muito variadas,
de verbos na primeira pessoa do plural e dos podendo ser tanto um contexto instancia-
tivo, quanto uma definição semelhante às

107
PNLD 2012 — Dicionários

tradicionais. Exemplo de semelhança entre a comunicação (rádio, televisão, cinema etc.)


definição tradicional e a oracional encontra- para veicular sua mensagens (...)
-se nos verbetes de ambulância. Ao confron- Novíssimo Aulete dicionário con-
tarmos os dois, constatamos que a principal temporâneo da língua portugue-
diferença entre a definição tradicional (a sa, Caldas Aulete, Lexikon, 2011
primeira) e a oracional (a segunda) está na
estrutura sintática, já que as informações definição sinonímica [também denominada
são praticamente as mesmas: pseudodefinição] Procedimento de explicação
do sentido de uma palavra ou expressão em
ambulância (am.bu.lân.cia) s.f. Veículo que não há propriamente um enunciado de-
especial para transportar feridos e doen- finitório, mas séries de palavras pertencentes
tes, ger. equipado para socorro imediato; à mesma classe gramatical e supostamente
assistência. ʘ [Do fr. ambulance] sinônimas da entrada:
Dicionário da língua portugue-
sa Evanildo Bechara, Evanildo exercer [z] (e.xer.cer) v. 1. Cumprir (função,
Bechara, Nova Fronteira, 2011 tarefa etc.); desempenhar; executar: Ele
exerce função administrativa. 2. Produzir,
ambulância am.bu.lân.ci:a s.f. Ambu- provocar, causar: O professor exercia uma
lância é um veículo preparado para grande influência sobre aluno. (...)
transportar doentes ou feridos e lhes Dicionário escolar da Academia Bra-
prestar os primeiros socorros. [Também sileira de Letras: língua portuguesa,
se diz assistência.] Companhia Editora Nacional, 2011
Caldas Aulete: dicionário escolar
da língua portuguesa: ilustrado Esse tipo de procedimento pode ser positivo, quan-
com a turma do Sítio do Pica- do não substitui o enunciado definitório, mas é
-pau Amarelo, Globo, 2011 problemático quando implica definição circular.

definição ostensiva [também denominada ex- domínio É o campo de conhecimento ou a esfe-


tensional] Em uma definição ostensiva, são ra de atividade em que uma palavra está in-
enumerados os objetos que compõem a en- serida. Nos dicionários, quando os domínios
trada. Muitas vezes vem junto com outro tipo específicos a que a entrada pertence apare-
de definição, como no verbete a seguir, em que cem no verbete, são denominados marcas
os elementos que compõem a mídia estão ex- de uso. É comum encontrarmos essas mar-
plicitados entre parênteses (acepção 1): cas abreviadas, em itálico e/ou entre parên-
teses, mas em alguns dicionários escolares
mídia (mí.di:a) s.f. 1 Bras. Comun. O con- aparecem por extenso:
junto dos meios de comunicação (jornal,
televisão, cinema, propaganda, página bacia (ba.ci.a) s.f. 1 Recipiente redondo e
impressa etc.) 2 Publ. Departamento de raso us. ger. para lavar roupas. 2 Anat. Re-
agência publicitária que seleciona meios de gião do corpo humano entre a coluna verte-

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PNLD 2012 — Dicionários

bral (na altura da cintura) e as pernas; pelve. graficamente as entradas secundárias, des-
3 Geog. Região banhada por um rio e seus tacando sua posição no verbete:
afluentes. (...)
Caldas Aulete Minidicionário colher co.lher (é) s.f. É um objeto que tem
Contemporâneo da Língua Por- cabo e uma concha rasa e que serve para
tuguesa, Lexikon, 2011 pôr a comida no prato, para comer e mexer
coisas líquidas ou pastosas.
empréstimo Denomina-se empréstimo lexical –— Dar uma colher de chá gíria É fazer
o fenômeno que ocorre na relação entre com que as coisas fiquem mais fáceis para
duas línguas: uma palavra ou expressão alguém. Meter a colher É dar palpites na
pertencente à língua A é incorporada ao lé- conversa dos outros.
xico da língua B. Os empréstimos costumam Caldas Aulete: dicionário escolar
sofrer adaptações fonológicas, ortográfi- da língua portuguesa: ilustrado
cas ou morfológicas ao sistema da língua com a turma do Sítio do Pica-
receptora, e, neste caso, com o passar do -pau Amarelo, Globo, 2011
tempo, deixam de ser identificados como
empréstimos pelos falantes da língua. Foi enunciado definitório O mesmo que definição.
o que ocorreu com palavras, como: abajur,
avião, balé, batom, boate, butique, clube, estrangeirismo [confrontar com empréstimo]
esnobe, estresse, futebol, garçom, golfe, ho- Estrangeirismos são palavras tomadas de
tel, iate, trem, túnel, restaurante etc. Mas uma língua estrangeira que não sofreram
há casos em que permanecem inalterados, adaptações ao sistema da língua em que foi
como a palavra know-how, do inglês, usada incorporada – às vezes, ocorrem apenas leves
em português. Neste caso, são chamados de adaptações de pronúncia. Como se trata de
estrangeirismos. palavra estranha ao sistema linguístico do
português – não houve alteração ortográfica
entrada [o mesmo que lema, cabeça de verbete, nem morfológica –, os dicionários costumam
palavra-entrada] É a palavra ou expressão fazer uso de recursos gráficos especiais para
que encabeça o verbete, o elemento a ser de- distingui-los e trazem a pronúncia. Alguns
finido ou explicado. De acordo com a tradição exemplos de estrangeirismos: backup, big
lexicográfica, há um padrão de registro para bang, download, drive-in, laptop, pizza, play-
as entradas de palavras morfologicamente back, shopping center, short, sho, etc.
variáveis: o verbo no infinitivo, o substantivo
e o adjetivo no singular masculino. etimologia Registro de informações sobre a ori-
gem da palavra. Alguns dicionários escolares
entrada secundária [o mesmo que subentrada] incluem esse tipo de informação como com-
Entrada secundária é uma parte integrante plemento do verbete:
do verbete, composta em geral dr locuções
ou expressões idiomáticas que contêm a pê.nal.ti s.m. desp em futebol, penalidade
entrada. Os dicionários costumam marcar máxima que consiste num tiro livre a 11

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PNLD 2012 — Dicionários

metros do gol, defendido apenas pelo go- noite toda. 2 conservar-se imóvel; ficar inati-
leiro [etim: ing. penalty ‘penalidade’, do lat. vo: A natureza dorme. 3 distrair-se: José dor-
poenalis, e ‘penal’] miu,perdeu o trem. (...) • d. de touca deixar-se
Dicionário Houaiss Conciso, enganar d. em pé estar muito cansado ou
Moderna, 2011 com muito sono d. no ponto deixar de tomar
providências: Lica dormiu no ponto, não
exemplo [confrontar com abonação] É um con- entregou os papéis. para boi d. para enganar:
texto criado pelo(s) autor(es) do dicionário Isso é conversa para boi dormir! (...)
ou adaptado de um corpus (ou de vários cor- Dicionário Unesp do português
pora), com o propósito de ilustrar o emprego contemporâneo, Francisco S.
da entrada: Borba, Piá, 2011

po.der verbo trans. dir. 1. Ter a faculdade, hiperônimo [confrontar com hipônimo] Uma
ou o direito, de: poder determinar algo. palavra é hiperônimo de outra quando tem
2. Ter força, ou energia para: Pode erguer um significado mais geral, abrangente, que
100 quilos. 3. Ter a possibilidade de, ou inclui a outra. A hiperonímia é uma relação
autorização para: Crianças não podem de significado. Por exemplo, doença é hiperô-
assistir a certos programas. 4. Estar arris- nimo de gripe, malária, câncer, entre outros
cado ou exposto a; ter probabilidade de: tipos de doença.
Quem não se cuida pode ficar doente. (...)
Aurélio Júnior:dicionário escolar da hipônimo [confrontar com hiperônimo] Uma
língua portuguesa,Positivo,2011 palavra é hipônimo de outra quando tem um
significado menos abrangente, mais específi-
expressão idiomática Uma expressão idio- co, que está incluído na outra. A hiperonímia é
mática caracteriza-se, principalmente, por uma relação de significado. As palavras gripe,
ser uma combinação fixa – não se podem malária, câncer são hipônimas de doença.
inserir palavras livremente entre seus com-
ponentes – e por significar algo que não cor- homônimo [confrontar com polissêmico] Duas
responde à soma do significado individual ou mais palavras distintas são homônimas
das palavras que a compõem. Exemplos de se tiverem a mesma pronúncia (homófo-
expressões idiomáticas: abrir os olhos de nas) ou a mesma grafia (homógrafas), mas
alguém ‘alertar’, dar o braço a torcer ‘voltar significados diferentes, sem relação entre si.
atrás’, estar de mãos atadas ‘não poder agir’, A homonímia é uma relação de forma. Nos
meter os pés pelas mãos ‘se atrapalhar’, com- dicionários, quando duas ou mais palavras
prar gato por lebre ‘ser enganado’. Em vários são consideradas homógrafas, constituem
dicionários, as expressões idiomáticas cons- entradas distintas. Não há, entretanto, uni-
tituem entradas secundárias: formidade no tratamento:

DORMIR dor-mir v.i. 1 passar ao estado de mangueira (man-guei-ra) s.f. 1. Tubo de


sono; adormecer: Estava cansado, dormi a couro, tecido, borracha ou plástico para a

110
PNLD 2012 — Dicionários

condução de ar ou água; 2. Árvore frutífera, macroestrutura O mesmo que nomenclatura.


de origem asiática,que produz manga.
Saraiva Júnior: dicionário da lín- marca de uso [também denominada rubrica] As
gua portuguesa, Saraiva, 2009 marcas de uso situam as palavras quanto a
áreas de conhecimento, ou domínios (Ecol =
mangueira1 s.fem. man-guei-ra. Árvore Ecologia; Mit = Mitologia), a características
frutífera de porte alto, copa e folhas gran- gramaticais (v.int. = verbo intransitivo; im-
des que produz a manga. As crianças se perat = imperativo), a áreas geográficas (CE
sentaram embaixo da mangueira para = Ceará), graus de (in)formalidade (coloq =
chupar manga. coloquial; gír = gíria) etc.
mangueira2 s.fem. man-guei-ra. Tubo de
vários tipos de material, usado para dei- microestrutura 1 A organização interna do ver-
xar passar água ou gás. bete. 2 O mesmo que verbete.
Maria Teresa Camargo Bider-
man, Dicionário ilustrado de neologismo É uma palavra de criação recente,
português, Ática, 2009 que foi formada de acordo com as regras da
própria língua, ou formada por itens de uma
lema O mesmo que entrada. outra língua, por meio de empréstimo. Quan-
do resulta de processos inerentes à própria
léxico De modo geral, o léxico é definido como o língua, o neologismo pode ser: semântico,
conjunto de palavras de uma língua. Há, en- i.e., um uso novo de uma palavra já existente
tretanto, diversas concepções teóricas acerca (salvar, que passou a ser usado na infor-
dos elementos que comporiam o léxico. mática, surfista ferroviário, trem da alegria,
aurélio etc.); ou morfossintático, gerando um
lexicografia Este termo tem dois significados: vocábulo novo (sambódromo, fumódromo,
a) arte e técnica de elaborar dicionários; b) diretas-já etc.).
conjunto de dicionários produzidos em um
país, em uma língua ou área; ou, ainda, de di- nomenclatura [o mesmo que macroestrutura]
cionários de um determinado tipo (infantis, Na lexicografia, nomenclatura refere-se ao
grandes, enciclopédicos, bilíngues etc.). conjunto de entradas de um dicionário.

locução Este termo tem aparecido em dicioná- palavra-entrada O mesmo que entrada.
rios escolares para designar a combinação
de duas ou mais palavras, em oposição a palavra gramatical As palavras gramaticais são
uma única palavra. As locuções podem ser: as que estabelecem relações entre as partes
composições nominais, termos de áreas es- constituintes do discurso, e seu significado
pecíficas, expressões idiomáticas etc: água depende do contexto em que se encontram.
com açúcar, açúcar mascavo, força de traba- Exemplos de palavras gramaticais em portu-
lho, mina de ouro, mulher de palavra, ser uma guês são as preposições e as conjunções.
mão na roda etc.

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PNLD 2012 — Dicionários

palavra-guia Na cabeça das páginas dos dicio- proposta lexicográfica A proposta lexicográfica
nários, como recurso auxiliar na localização consiste no plano de composição e organiza-
de um verbete, aparecem as palavras-guia, ção de um dicionário, incluindo informações
indicando a primeira e a última entrada de sobre o público-alvo a que se destina, os cri-
uma página específica. térios de levantamento e seleção vocabular,
a estrutura dos verbetes, as ilustrações etc.
palavra lexical As palavras lexicais designam coi- Nos dicionários escolares, essas informações
sas, pessoas, fenômenos, sentimentos, ações, costumam estar explicitadas nas primeiras
eventos etc., i.e., remetem-nos ao mundo em seções, denominadas “proposta lexicográfi-
nossa volta. Exemplos de palavras lexicais em ca”, “guia do usuário”, “chave do dicionário”,
português são verbos, substantivos, adjetivos “como é este dicionário” etc.
e alguns advérbios.
remissão O mesmo que remissiva.
parônimo Palavras parônimas são levemente
diferentes uma da outra, na pronúncia ou na remissiva [o mesmo que remissão] A remissiva
grafia. A paronímia é uma relação de forma. é uma indicação encontrada no verbete —
Nos dicionários, os parônimos da entrada vêm em geral, uma abreviatura, como q.v, v., cf.,
após a acepção ou as acepções a que se refe- cp. (queira ver; veja; confronte; compare)
rem, ou no final do verbete, indicadas por uma —, a qual remete o usuário a outro verbete.
abreviatura (frequentemente Cf. = confronte): Seu objetivo principal é induzir o usuário a
procurar, no verbete correspondente, infor-
diferir (di.fe.rir) v.int.tr. 1 Ser diferente; mações complementares e/ou relações que
distinguir-se.§ Diferimos muito deles. int. colaboram para a apreensão dos sentidos do
tr. 2 Divergir. § Sua ideia diverge da minha. vocábulo de referência:
(...) [Cf.: deferir] (...)
Dicionário da língua portugue- descrição des.cri.ção s.fem. apresentação
sa Evanildo Bechara, Evanildo das características; indicação dos deta-
Bechara, Nova Fronteira, 2011 lhes: Pela descrição que o mendigo fez, o
delegado identificou o local. µ Cp: discri-
polissêmico [confrontar com homônimo] Uma ção, em discreto.
palavra polissêmica tem vários significados. Palavrinha Viva: dicionário ilus-
Se consultarmos qualquer dicionário, vere- trado da língua portuguesa, Fran-
mos que praticamente todas as palavras são cisco da Silva Borba, Piá, 2011
polissêmicas. Quando uma palavra é consi-
derada polissêmica, seus variados significa- rubrica O mesmo que marcas de uso.
dos constituem apenas um verbete (com vá-
rias acepções). Se forem consideradas duas sinônimo Duas palavras são sinônimas se uma
palavras diferentes, recebem tratamento puder substituir a outra em um mesmo con-
homonímico e compõem dois verbetes. texto, sem que haja mudança de significado.
A sinonímia é uma relação de significado.

112
PNLD 2012 — Dicionários

Nos dicionários, os sinônimos tanto podem te compõe-se de uma entrada e uma sequ-
complementar a definição (como ilustra o ência padronizada de informações sobre a
primeiro verbete), quanto aparecer após a própria entrada.
acepção ou as acepções a que se referem (se-
gundo verbete): vocabulário Subconjunto do léxico geral de
uma língua, podendo ser o conjunto dos vo-
assolar v. Destruir o que existe em algum cábulos utilizados numa região, numa certa
lugar: arrasar, arruinar, devastar – A tem- época, numa profissão, ou por uma pessoa,
pestade assolou o acampamento. (...) num determinado discurso. Existem, porém,
Dicionário Júnior da língua diferentes concepções de vocabulário.
portuguesa, Geraldo Mattos,
FTD, 2011

ingresso (in.gres.so) s.m. 1. O ingresso em
uma coisa acontece quando se entra nela.
O ingresso à universidade costuma ser
feito através do exame vestibular. 2. Um
ingresso é um pedaço de papel que apre-
sentamos para entrar num espetáculo ou
em outros tipos de eventos. Aqui está o in-
gresso do cinema. Sinônimo (de 2): entrada.
Fala Brasil! Dicionário ilustra-
do da língua portuguesa, Rita
de Cássia E. Braga; Márcia A. F.
Magalhães; Lúcia Fulgêncio,
Dimensão, 2011

termo É uma palavra ou expressão que desig-


na um conceito específico de uma área de
conhecimento. Assim, existem os termos
da lexicografia, da biologia, da informática,
do direito etc. O conjunto de termos de uma
área compõe sua terminologia. Nos dicioná-
rios, os termos devem receber as marcas de
uso da área em que se inserem.

subentrada O mesmo que entrada secundária.

verbete [o mesmo que microestrutura] Unidade


básica de organização do dicionário, o verbe-

113
PNLD 2012 — Dicionários

114
Novo Acordo
Ortográfico da Língua
Portuguesa – Decreto
nº 6.583, de 29 de
setembro de 2008.
PNLD 2012 — Dicionários

116
PNLD 2012 — Dicionários

Promulga o Acordo Ortográfico da Língua Art. 3o São sujeitos à aprovação do Congres-


Portuguesa, assinado em Lisboa, so Nacional quaisquer atos que possam resultar
em 16 de dezembro de 1990. em revisão do referido Acordo, assim como
quaisquer ajustes complementares que, nos
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da termos do art. 49, inciso I, da Constituição, acar-
atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da retem encargos ou compromissos gravosos ao
Constituição, e patrimônio nacional. 
Considerando que o Congresso Nacional Art. 4o Este Decreto entra em vigor na data
aprovou, por meio do Decreto Legislativo no 54, de sua publicação. 
de 18 de abril de 1995, o Acordo Ortográfico da Brasília, 29 de setembro de 2008; 187o da In-
Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 dependência e 120o da República. 
de dezembro de 1990; LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Considerando que o Governo brasileiro Celso Luiz Nunes Amorim
depositou o instrumento de ratificação do
referido Acordo junto ao Ministério dos Ne- Considerando que o projeto de texto de or-
gócios Estrangeiros da República Portugue- tografia unificada de língua portuguesa apro-
sa, na qualidade de depositário do ato, em vado em Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela
24 de junho de 1996; Academia das Ciências de Lisboa, Academia
Considerando que o Acordo entrou em vigor Brasileira de Letras e delegações de Angola,
internacional em 1o de janeiro de 2007, inclusive Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São
para o Brasil, no plano jurídico externo;  Tomé e Príncipe, com a adesão da delegação
de observadores da Galiza, constitui um passo
DECRETA: importante para a defesa da unidade essen-
Art. 1 o  O Acordo Ortográfico da Língua cial da língua portuguesa e para o seu prestí-
Portuguesa, entre os Governos da República gio internacional, 
de Angola, da República Federativa do Brasil, Considerando que o texto do acordo que ora
da República de Cabo Verde, da República de se aprova resulta de um aprofundado debate
Guiné-Bissau, da República de Moçambique, nos Países signatários, 
da República Portuguesa e da República De- a República Popular de Angola,
mocrática de São Tomé e Príncipe, de 16 de a República Federativa do Brasil,
dezembro de 1990, apenso por cópia ao pre- a República de Cabo Verde,
sente Decreto, será executado e cumprido tão a República da Guiné-Bissau,
inteiramente como nele se contém. a República de Moçambique,
Art. 2o O referido Acordo produzirá efeitos a República Portuguesa, e
somente a partir de 1o de janeiro de 2009.  a República Democrática de SãoTomé e Príncipe,
Parágrafo único. A implementação do Acor- acordam no seguinte: 
do obedecerá ao período de transição de 1 o de
janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, duran- Artigo 1o
te o qual coexistirão a norma ortográfica atual- É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua
mente em vigor e a nova norma estabelecida.  Portuguesa, que consta como anexo I ao presente

117
PNLD 2012 — Dicionários

instrumento de aprovação, sob a designação PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE


de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa DAVID HOPFFER ALMADA
(1990) e vai acompanhado da respectiva nota Ministro da Informação, Cultura e Desportos 
explicativa, que consta como anexo II ao mes- PELA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
mo instrumento de aprovação, sob a designa- ALEXANDRE BRITO RIBEIRO FURTADO
ção de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico Secretário de Estado da Cultura 
da Língua Portuguesa (1990). PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
Artigo 2o LUIS BERNARDO HONWANA
Os Estados signatários tomarão, através Ministro da Cultura 
das instituições e órgãos competentes, as pro- PELA REPÚBLICA PORTUGUESA
vidências necessárias com vista à elaboração, PEDRO MIGUEL DE SANTANA LOPES
até 1 de janeiro de 1993, de um vocabulário Secretário de Estado da Cultura 
ortográfico comum da língua portuguesa, tão PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA
completo quanto desejável e tão normaliza- DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
dor quanto possível, no que se refere às termi- LÍGIA SILVA GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO COSTA
nologias científicas e técnicas.  Ministra da Educação e Cultura 
Artigo 3o 
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa ANEXO I 
entrará em vigor em 1o de janeiro de 1994, após ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
depositados os instrumentos de ratificação de (1990) 
todos os Estados junto do Governo da República
Portuguesa.  Base I
Artigo 4  
o
Do alfabeto e dos nomes próprios
Os Estados signatários adotarão as medi- estrangeiros e seus derivados 
das que entenderem adequadas ao efetivo 1o) O alfabeto da língua portuguesa é forma-
respeito da data da entrada em vigor estabe- do por vinte e seis letras, cada uma delas com
lecida no artigo 3o.  uma forma minúscula e outra maiúscula:
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamen-
te credenciados para o efeito, aprovam o presente a A (á) j J (jota) s S (esse)
acordo, redigido em língua portuguesa, em sete b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê)
exemplares, todos igualmente autênticos. 
c C (cê) l L (ele) u U (u)
Assinado em Lisboa,em 16 de dezembro de 1990.
d D (dê) m M (eme) v V (vê)

PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA e E (é) n N (ene) w W (dáblio)

JOSÉ MATEUS DE ADELINO PEIXOTO f F (efe) o O (ó) x X (xis)


Secretário de Estado da Cultura  g G (gê ou p P (pê) y Y (ípsilon)
PELA REPÚBLICA FEDERATIVA guê)
DO BRASIL
h H (agá) q Q (quê) z Z (zê)
CARLOS ALBERTO GOMES CHIARELLI
i I (i) r R (erre)      
Ministro da Educação 

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PNLD 2012 — Dicionários

Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê ce- em formas do mesmo tipo, é invariavelmente
dilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss mudo, elimina-se: José, Nazaré, em vez de Joseph,
(esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), Nazareth; e se algum deles, por força do uso, per-
gu (guê-u) e qu (quê-u). mite adaptação, substitui-se, recebendo uma
2. Os nomes das letras acima sugeridos não adição vocálica: Judite, em vez de Judith. 
excluem outras formas de as designar.  5º) As consoantes finais grafadas b, c, d, g e t
2º) As letras k, w e y usam-se nos seguintes mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas,
casos especiais:  nas formas onomásticas em que o uso as con-
a) Em antropónimos/antropônimos originá- sagrou, nomeadamente antropónimos/antro-
rios de outras línguas e seus derivados: Franklin, pônimos e topónimos/topônimos da tradição
frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwi- bíblica: Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog,
nismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Magog; Bensabat, Josafat. 
Taylor, taylorista;  Integram-se também nesta forma: Cid, em
b) Em topónimos/topônimos originários que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valha-
de outras línguas e seus derivados: Kwanza, dolid, em que o d ora é pronunciado, ora não; e
Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;  Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas
c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras mesmas condições. 
adotadas como unidades de medida de curso Nada impede, entretanto, que dos antropó-
internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), nimos/antopônimos em apreço sejam usados
W-oeste (West); kg-quilograma, km-quilómetro, sem a consoante final Jó, Davi e Jacó. 
kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.  6º) Recomenda-se que os topónimos/topô-
3º) Em congruência com o número anterior, nimos de línguas estrangeiras se substituam,
mantêm-se nos vocábulos derivados eru- tanto quanto possível, por formas vernáculas,
ditamente de nomes próprios estrangeiros quando estas sejam antigas e ainda vivas em
quaisquer combinações gráficas ou sinais português ou quando entrem, ou possam en-
diacríticos não peculiares à nossa escrita que trar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substi-
figurem nesses nomes: comtista, de Comte; tuído por Antuérpia; Cherbourg, por Cherburgo;
garrettiano, de Garrett; jeffersónia/jeffersô- Garonne, por Garona; Genève, por Genebra;
nia, de Jefferson; mülleriano, de Müller, shakes- Jutland, por Jutlândia; Milano, por Milão; Mün-
peariano, de Shakespeare.  chen, por Munique; Torino, por Turim; Zürich,
Os vocabulários autorizados registrarão gra- por Zurique, etc. 
fias alternativas admissíveis, em casos de divul-
gação de certas palavras de tal tipo de origem (a Base II
exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, buganví- Do h inicial e final 
lia/ buganvílea/ bougainvíllea).  1º) O h inicial emprega-se: 
4º) Os dígrafos finais de origem hebraica a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera,
ch, ph e th podem conservar-se em formas ono- hoje, hora, homem, humor. 
másticas da tradição bíblica, como Baruch, Loth, b) Em virtude de adoção convencional: hã?,
Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, hem?, hum!. 
Lot, Moloc, Zif. Se qualquer um destes dígrafos, 2º) O h inicial suprime-se: 

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PNLD 2012 — Dicionários

a) Quando, apesar da etimologia, a sua su- xer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez,
pressão está inteiramente consagrada pelo xarope, xenofobia, xerife, xícara. 
uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, 2º) Distinção gráfica entre g, com valor de
ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra,
herbanário, herboso, formas de origem erudita);  algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido,
b) Quando, por via de composição, passa a almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange,
interior e o elemento em que figura se aglu- ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, gerin-
tina ao precedente: biebdomadário, desar- gonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, here-
monia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, ge, relógio, sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar,
reabilitar, reaver;  ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie
3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quan- de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear,
do, numa palavra composta, pertence a um hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová,
elemento que está ligado ao anterior por meio jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jeri-
de hífen: anti-higiénico/anti-higiênico, contra- mum, Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró,
-haste; pré-história, sobre-humano. jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista,
4º) O h final emprega-se em interjeições:ah! oh!  majestade, majestoso, manjerico, manjerona,
mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito. 
Base III 3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç
Da homofonia de certos grafemas consonânticos e x, que representam sibilantes surdas: ânsia,
Dada a homofonia existente entre certos ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso,
grafemas consonânticos, torna-se necessário dife- farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda, man-
rençar os seus empregos, que fundamentalmente so, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã,
se regulam pela história das palavras. É certo que Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa,
a variedade das condições em que se fixam na es- tarso, terso, valsa; abadessa, acossar, amassar,
crita os grafemas consonânticos homófonos nem arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse,
sempre permite fácil diferenciação dos casos em Cassilda, codesso (identicamente Codessal ou Co-
que se deve empregar uma letra e daqueles em dassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso, devas-
que, diversamente, se deve empregar outra, ou sar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso,
outras, a representar o mesmo som.  molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso,
Nesta conformidade, importa notar, princi- remessa, sossegar; acém, acervo, alicerce, cebola,
palmente, os seguintes casos:  cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo,
1º) Distinção gráfica entre ch e x: achar, ar- obcecar, percevejo; açafate, açorda, açúcar, alma-
chote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, ço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça,
Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, dançar, Eça, enguiço, Gonçalves, inserção, lingui-
estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gan- ça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Mon-
cho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, ção, muçulmano, murça, negaça, pança, peça,
pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça
sachar, tacho; ameixa, anexim, baixel, baixo, (grafia que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e
bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano,
eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, me- Maximino, máximo, próximo, sintaxe. 

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PNLD 2012 — Dicionários

4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba co), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio,
(inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fó- ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa,
nico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa,
esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar, exemplo,
espremer, esquisito, estender, Estremadura, Es- exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável;
tremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraor- abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar,
dinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, bu-
capazmente, infelizmente, velozmente. De acor- zina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel,
do com esta distinção convém notar dois casos:  fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezí-
a) Em final de sílaba que não seja final de pa- ria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar, Veneza,
lavra, o x = s muda para s sempre que está prece- Vizela, Vouzela. 
dido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino
(cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, jux- Base IV
talinear, mixto, sixtina, Sixto.  Das seqüências consonânticas 
b) Só nos advérbios em –mente se admite 1º) O c, com valor de oclusiva velar, das se-
z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba qüências interiores cc (segundo c com valor de
seguida de outra consoante (cf. capazmente, sibilante), cç e ct, e o p das seqüências interiores
etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar de z: pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conser-
Biscaia, e não Bizcaia.  vam, ora se eliminam. 
5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e Assim: 
x e z com idêntico valor fónico/fônico: aguarrás, a) Conservam-se nos casos em que são inva-
aliás, anis, após atrás, através, Avis, Brás, Dinis, riavelmente proferidos nas pronúncias cultas
Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, da língua: compacto, convicção, convicto, ficção,
país, português, Queirós, quis, retrós, revés, To- friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico,
más, Valdés; cálix, Félix, Fénix, flux; assaz, arroz, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto. 
avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do b) Eliminam-se nos casos em que são inva-
verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, riavelmente mudos nas pronúncias cultas da
petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato,
propósito, deve observar-se que é inadmissível coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção;
z final equivalente a s em palavra não oxítona: adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo. 
Cádis, e não Cádiz.  c) Conservam-se ou eliminam-se, facultati-
6º) Distinção gráfica entre as letras interio- vamente, quando se proferem numa pronúncia
res s, x e z, que representam sibilantes sonoras: culta, quer geral, quer restritamente, ou então
aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, quando oscilam entre a prolação e o emudeci-
Baltasar, besouro, besuntar, blusa, brasa, brasão, mento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres
Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defe- e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e
sa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposen- setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, cor-
de, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, rupto e corruto, recepção e receção. 
jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, d) Quando, nas seqüências interiores mpc,
homónimo/homônimo de Luso, nome mitológi- mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o

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PNLD 2012 — Dicionários

determinado nos parágrafos precedentes, o m lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior, tige-
passa a n, escrevendo-se, respectivamente nc, nç la, tijolo, Vimieiro, Vimioso; 
e nt: assumpcionista e assuncionista; assumpção b) Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, bor-
e assunção; assumptível e assuntível; peremptó- boleta, cobiça, consoada, consoar, costume, díscolo,
rio e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptu- êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar,
osidade e suntuosidade.  farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela,
2º) Conservam-se ou eliminam-se, facultati- jocoso, mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pasco-
vamente, quando se proferem numa pronúncia al, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola,
culta, quer geral, quer restritamente, ou então tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir);
quando oscilam entre a prolação e o emude- açular, água, aluvião, arcuense, assumir, bulir,
cimento: o b da seqüência bd, em súbdito; o b camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir,
da seqüência bt, em subtil e seus derivados; o g fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua, jucundo, lé-
da seqüência gd, em amígdala, amigdalácea, gua, Luanda, lucubração, lugar, mangual, Manuel,
amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigda- míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabua-
lóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da da, tabuleta, trégua, virtualha. 
seqüência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, 2º) Sendo muito variadas as condições etimo-
indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipo- lógicas e histórico-fonéticas em que se fixam gra-
tente, omnisciente, etc.; o t, da seqüência tm, em ficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente
aritmética e aritmético.  que só a consulta dos vocabulários ou dicionários
pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e
Base V ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o
Das vogais átonas  uso dessas vogais pode ser facilmente sistematiza-
1º) O emprego do e e do i, assim como o do o e do. Convém fixar os seguintes: 
do u, em sílaba átona, regula-se fundamental- a) Escrevem-se com e, e não com i, antes da
mente pela etimologia e por particularidades sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos
da história das palavras. Assim se estabelecem que procedem de substantivos terminados em
variadíssimas grafias:  – eio e – eia, ou com eles estão em relação direta.
a) Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, Assim se regulam: aldeão, aldeola, aldeota por
arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (pre- aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia;
lado, ave planta; diferente de cardial = “relativo aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado por
à cárdia”), Ceará, côdea, enseada, enteado, Flo- cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e cente-
real, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor, eiro por centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia;
Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, correada e correame por correia. 
peanha, quase (em vez de quási), real, semear, b) Escrevem-se igualmente com e, antes de
semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os
amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial derivados de palavras que terminam em e acen-
(adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar, tuado (o qual pode representar um antigo hiato:
diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe ea, ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano,
(e identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial, de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de
giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, Guiné; poleame e poleeiro, de polé. 

122
PNLD 2012 — Dicionários

c) Escrevem-se com i, e não com e, antes da g) Os verbos em –oar distinguem-se pratica-


sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substanti- mente dos verbos em –uar pela sua conjugação
vos derivados em que entram os sufixos mistos nas formas rizotónicas/rizotônicas, que têm
de formação vernácula – iano e –iense, os quais sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o,
são o resultado da combinação dos sufixos como abençoo, abençoas, etc.; destoar, com o, como
–ano e –ense com um i de origem analógica destoo, destoas, etc.: mas acentuar, com u, como
(baseado em palavras onde –ano e –ense estão acentuo, acentuas, etc. 
precedidos de i pertencente ao tema: horacia-
no, italiano, duriense, flaviense, etc.): açoriano, Base VI
acriano (de Acre), camoniano, goisiano (relativo Das vogais nasais 
a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofoclia- Na representação das vogais nasais devem
no, torriano, torriense (de Torre(s)).  observar-se os seguintes preceitos: 
d) Uniformizam-se com as terminações –io 1º) Quando uma vogal nasal ocorre em fim
e –ia (átonas), em vez de –eo e –ea, os substanti- de palavra, ou em fim de elemento seguido
vos que constituem variações, obtidas por am- de hífen, representa-se a nasalidade pelo til,
pliação, de outros substantivos terminados em se essa vogal é de timbre a; por m, se possui
vogal: cúmio (popular), de cume; hástia, de haste; qualquer outro timbre e termina a palavra; e
réstia, do antigo reste; véstia, de veste.  por n, se é de timbre diverso de a e está seguida
e) Os verbos em –ear podem distinguir-se de s: afã, grã, Grã-Bretanha, lã, órfã, sã-braseiro
praticamente, grande número de vezes, dos ver- (forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de
bos em –iar, quer pela formação, quer pela con- S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum; flautins,
jugação e formação ao mesmo tempo. Estão no semitons, zunzuns. 
primeiro caso todos os verbos que se prendem 2º) Os vocábulos terminados em –ã transmi-
a substantivos em –eio ou –eia (sejam formados tem esta representação do a nasal aos advérbios
em português ou venham já do latim); assim se em –mente que deles se formem, assim como a
regulam: aldear, por aldeia; alhear, alheio; cear, derivados em que entrem sufixos iniciados por z:
por ceia; encadear, por cadeia; pear, por peia; etc. cristãmente, irmãmente, sãmente; lãzudo, maçã-
Estão no segundo caso todos os verbos que têm zita, manhãzinha, romãzeira. 
normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas
em –eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, fal- Base VII
sear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, Dos ditongos
etc. Existem, no entanto, verbos em –iar, ligados 1º) Os ditongos orais, que tanto podem ser
a substantivos com as terminações átonas –ia tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por
ou –io, que admitem variantes na conjugação: dois grupos gráficos principais, conforme o se-
negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou gundo elemento do ditongo é representado por
premio (cf. prémio/prêmio); etc.  i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote,
f) Não é lícito o emprego do u final átono em deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo,
palavras de origem latina. Escreve-se, por isso: goivar, lençóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar,
moto, em vez de mótu (por exemplo, na expres- cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheu-
são de moto próprio); tribo, em vez de tríbu.  zito), mediu, passou, regougar. 

123
PNLD 2012 — Dicionários

Obs: Admitem-se, todavia, excepcionalmente, 3º) Os ditongos nasais, que na sua maioria
à parte destes dois grupos, os ditongos grafados tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos,
ae(= âi ou ai) e ao (= âu ou au): o primeiro, re- pertencem graficamente a dois tipos funda-
presentado nos antropónimos/antropônimos mentais: ditongos representados por vogal com
Caetano e Caetana, assim como nos respectivos til e semivogal; ditongos representados por uma
derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indi-
etc.); o segundo, representado nas combinações da cação de uns e outros: 
preposição a com as formas masculinas do artigo a) Os ditongos representados por vogal
ou pronome demonstrativo o, ou seja, ao e aos.  com til e semivogal são quatro, considerando-
2º) Cumpre fixar, a propósito dos ditongos -se apenas a língua padrão contemporânea:
orais, os seguintes preceitos particulares:  ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados),
a) É o ditongo grafado ui, e não a seqüência ãi (usado em vocábulos anoxítonos e deriva-
vocálica grafada ue, que se emprega nas formas dos), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe,
de 2a e 3a pessoas do singular do presente do in- mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão,
dicativo e igualmente na da 2a pessoa do singu- mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão;
lar do imperativo dos verbos em – uir: constituis, Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões.
influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo,
formas com todos os casos de ditongo grafado ui colocar-se o ditongo i; mas este, embora se
de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guar- exemplifique numa forma popular como r i =
dafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfi- ruim, representa-se sem o til nas formas mui-
co-fonético com as formas de 2a e 3a pessoas do to e mui, por obediência à tradição. 
singular do presente do indicativo e de 2a pessoa b) Os ditongos representados por uma vogal
do singular do imperativo dos verbos em – air e seguida da consoante nasal m são dois: am e em.
em – oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói.  Divergem, porém, nos seus empregos: 
b) É o ditongo grafado ui que representa i) am (sempre átono) só se emprega em flexões
sempre, em palavras de origem latina, a união verbais: amam, deviam, escreveram, puseram;
de um u a um i átono seguinte. Não divergem, ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se
portanto, formas como fluido de formas como em palavras de categorias morfológicas diver-
gratuito. E isso não impede que nos derivados de sas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar
formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se variantes gráficas determinadas pela posição,
separem: fluídico, fluidez (u-i).  pela acentuação ou, simultaneamente, pela
c) Além, dos ditongos orais propriamente posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bem-
ditos, os quais são todos decrescentes, admite- posta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem;
-se, como é sabido, a existência de ditongos Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens,
crescentes. Podem considerar-se no número enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho,
deles as seqüências vocálicas pós-tónicas/ nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação de
pós-tônicas, tais as que se representam gra- ámen), armazém, convém, mantém, ninguém,
ficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: porém, Santarém, também; convêm, mantêm,
áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, têm (3as pessoas do plural); armazéns, desdéns,
míngua, ténue/tênue, tríduo.  convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho. 

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PNLD 2012 — Dicionários

Base VIII anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s),


Da acentuação gráfica das palavras oxítonas  ilhéu(s), véu(s); corrói (de corroer), herói(s), re-
1º) Acentuam-se com acento agudo:  mói (de remoer), sóis. 
a) As palavras oxítonas terminadas nas vogais 2º)Acentuam-se com acento circunflexo: 
tónicas/tônicas abertas grafadas –a, –e ou –o, se- a) As palavras oxítonas terminadas nas vo-
guidas ou não de –s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, gais tónicas/tônicas fechadas que se grafam –e
pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s).  ou –o, seguidas ou não de –s: cortês, dê, dês (de
Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxí- dar), lê, lês (de ler), português, você(s); avô(s), pôs
tonas terminadas em –e tónico/tônico, geral- (de pôr), robô(s). 
mente provenientes do francês, esta vogal, b) As formas verbais oxítonas, quando, con-
por ser articulada nas pronúncias cultas ora jugadas com os pronomes clíticos –lo(s) ou –la(s),
como aberta ora como fechada, admite tanto ficam a terminar nas vogais tónicas/tônicas
o acento agudo como o acento circunflexo: fechadas que se grafam –e ou –o, após a assimi-
bebé ou bebê; bidé ou bidê, canapé ou canapê, lação e perda das consoantes finais grafadas –r,
caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou –s ou –z: detê-lo(s) (de deter-lo(s)), fazê-la(s) (de
guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-lo(s)), vê-la(s) (de ver-
ou ponjê, puré ou purê, rapé ou rapê. -la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s)
O mesmo se verifica com formas como cocó e (de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s) ou pôs-la(s)). 
cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São igual- 3º)Prescinde-se de acento gráfico para distin-
mente admitidas formas como judô, a par de guir palavras oxítonas homógrafas, mas hetero-
judo, e metrô, a par de metro.  fónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substan-
b) As formas verbais oxítonas, quando, con- tivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê),
jugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s), verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma
ficam a terminar na vogal tónica/tônica aberta verbal pôr, para a distinguir da preposição por. 
grafada –a, após a assimilação e perda das con-
soantes finais grafadas –r, –s ou –z: adorá-lo(s) Base IX
(de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)- Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas 
-la(s)), fá-lo(s) (de faz-lo(s)), fá-lo(s)-ás (de far- 1º) As palavras paroxítona não são em geral
-lo(s)-ás), habitá-la(s)-iam (de habitar-la(s)-iam), acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem,
trá-la(s)-á (de trar-la(s)-á);  mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; aben-
c) As palavras oxítonas com mais de uma çoo, angolano, brasileiro; descobrimento, grafica-
sílaba terminadas no ditongo nasal grafado mente, moçambicano. 
–em (exceto as formas da 3a pessoa do plural do 2º) Recebem, no entanto, acento agudo: 
presente do indicativo dos compostos de ter e a) As palavras paroxítonas que apresen-
vir: retêm, sustêm; advêm, provêm; etc) ou –ens: tam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas
acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam
haréns, porém, provém, provéns, também;  em –l, –n, –r, –x e –ps, assim como, salvo raras
d) As palavras oxítonas com os ditongos exceções, as respectivas formas do plural, al-
abertos grafados –éi, –éu ou –ói, podendo gumas das quais passam a proparoxítonas:
estes dois últimos ser seguidos ou não de –s: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis),

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PNLD 2012 — Dicionários

dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. xo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis
réptéis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cárme- e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus,
nes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen tónus e tônus, Vénus e Vênus. 
(pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou 3º) Não se acentuam graficamente os ditongos
edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das
ou lumens); açúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em
almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou muitos casos entre o fechamento e a abertura na
carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como
(pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico,
pl. córtices), índex (pl. index; var. índice, pl. índi- onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo
ces), tórax, (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina,
toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípi- comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc.
tes), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).  (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, in-
Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com troito,jiboia,moina,paranoico,zoina. 
as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim 4º) É facultativo assinalar com acento agu-
de sílaba, seguidas das consoantes nasais gra- do as formas verbais de pretérito perfeito do
fadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as
pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, distinguir das correspondentes formas do pre-
também de acento gráfico (agudo ou circun- sente do indicativo (amamos, louvamos), já que
flexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fémur e o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naque-
fêmur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.  le caso em certas variantes do português. 
b) As palavras paroxítonas que apresentam, 5º) Recebem acento circunflexo: 
na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafa- a) As palavras paroxítonas que contêm, na
das a, e, o e ainda i ou u e que terminam em –ã(s), sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com
–ão(s), –ei(s), –i(s), –um, –uns ou –us: órfã (pl. ór- a grafia a, e, o e que terminam em –l, –n, –r ou
fãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), ór- –x, assim como as respectivas formas do plu-
gão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei ral, algumas das quais se tornam proparoxí-
(pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. tonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pênseis),
de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone, (pl. câ-
amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de nones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar,
fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares),
(sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris), oásis (sg. e Câncer, Tânger; bômbax (sg. e pl.), bômbix,
pl.); álbum (pl. álbuns), fórum (pl. fóruns); húmus var. bômbice, (pl. bômbices).
(sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).  b) As palavras paroxítonas que contêm, na
Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a
com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em grafia a, e, o e que terminam em –ão(s), –eis, –i(s)
fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais ou –us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); de-
grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre vêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis
nas pronúncias cultas da língua, o qual é assina- (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têx-
lado com acento agudo, se aberto, ou circunfle- teis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus. 

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c) As formas verbais têm e vêm, 3as pessoas fechada com a grafia o em palavras paroxítonas
do plural do presente do indicativo de ter e vir, como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, po-
que são foneticamente paroxítonas (respectiva- voo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão
mente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /t j/, /v j/ ou ainda de voar, etc. 
/t j j/, /v j j/; cf. as antigas grafias preteridas, 9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer
t em, v em), a fim de se distinguirem de tem e do circunflexo, para distinguir palavras paroxí-
vem, 3as pessoas do singular do presente do indi- tonas que, tendo respectivamente vogal tónica/
cativo ou 2as pessoas do singular do imperativo; tônica aberta ou fechada, são homógrafas de
e também as correspondentes formas compos- palavras proclíticas. Assim, deixam de se distin-
tas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. ad- guir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar,
vém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e fle-
desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detém), xão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s);
entretêm (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (ê), substantivo
mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substan-
(cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém). tivo, e polo(s), combinação antiga e popular de
Obs.: Também neste caso são preteridas as por e lo(s); etc. 
antigas grafias det em, interv em, mant em, 10º) Prescinde-se igualmente de acento grá-
prov em, etc.  fico para distinguir paroxítonas homógrafas he-
6º) Assinalam-se com acento circunflexo:  terofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê),
a) Obrigatoriamente, pôde (3a pessoa do sin- substantivo e acerto (é), flexão de acertar; acordo
gular do pretérito perfeito do indicativo), que se (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar;
distingue da correspondente forma do presente cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da
do indicativo (pode).  locução prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão
b) Facultativamente, dêmos (1a pessoa do plu- de cercar; coro (ô), substantivo, e coro (ó), flexão
ral do presente do conjuntivo), para se distinguir de corar; deste (ê), contracção da preposição de
da correspondente forma do pretérito perfeito com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de
do indicativo (demos); fôrma (substantivo), dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio,
distinta de forma (substantivo; 3a pessoa do sin- interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo,
gular do presente do indicativo ou 2a pessoa do e piloto (ó), flexão de pilotar, etc. 
singular do imperativo do verbo formar). 
7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas Base X
formas verbais paroxítonas que contêm um e Da acentuação das vogais tónicas/tônicas
tónico/tônico oral fechado em hiato com a ter- grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas 
minação –em da 3ª pessoa do plural do presente 1º) As vogais tóncias/tônicas grafadas i e
do indicativo ou do conjuntivo, conforme os u das palavras oxítonas e paroxítonas levam
casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem acento agudo quando antecedidas de uma
(conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, re- vogal com que não formam ditongo e desde
veem, tresleem, veem.  de que não constituam sílaba com a eventual
8º) Prescinde-se igualmente do acento cir- consoante seguinte, excetuando o caso de s:
cunflexo para assinalar a vogal tónica/tônica adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú,

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PNLD 2012 — Dicionários

caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, 7º) Os verbos arguir e redarguir prescindem
amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada
atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo,
egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de arguis, argui, arguem, argua, arguas, argua,
influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, re- arguam. Os verbos do tipo de aguar, apaniguar,
caída, ruína, saída, sanduíche, etc.  apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar,
2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferece-
das palavras oxítonas e paroxítonas não levam rem dois paradigmas, ou têm as formas rizotó-
acento agudo quando, antecedidas de vogal nicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u
com que não formam ditongo, constituem sí- mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo,
laba com a consoante seguinte, como é o caso averiguas, averigua, averiguam; averigue, averi-
de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, gues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas,
paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, consti- enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxa-
tuinte, oriundo, ruins, triunfo; at-rairn. demiuñr- gue, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delin-
go, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.  qui, delinquem; mas delinquimos, delinquís) ou
3º) Em conformidade com as regras ante- têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentu-
riores leva acento agudo a vogal tónica/tônica adas fónica/fônica e graficamente nas vogais a
grafada i das formas oxítonas terminadas em ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas,
r dos verbos em –air e –uir, quando estas se averígua, averíguam; averígue, averígues, ave-
combinam com as formas pronominais clíticas rígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua,
–lo(s), –la(s), que levam à assimilação e perda da- enxáguaim; enxágue, enxágues, enxágue, enxá-
quele –r: atraí-lo(s) (de atrair-lo(s)); atraí-lo(s)-ia guem; delínquo, delínques; delínque, delínquem;
(de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); delínqua, delínquas, delínqua, delinquám). 
possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s)-ia).  Obs.:  Em conexão com os casos acima referi-
4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais dos, registre-se que os verbos em –ingir (atingir,
tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paro- cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os ver-
xítonas, quando elas estão precedidas de diton- bos em –inguir sem prolação do u (distinguir, ex-
go: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho tinguir, etc.) têm grafias absolutamente regula-
(de cheio), saiinha (de saia).  res (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc; distingo,
5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tó- distinga, distingue, distinguimos, etc.) 
nicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas
de ditongo, pertencem as palavras oxítonas e es- Base XI
tão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas
teiús, tuiuiú, tuiuiús.  1º) Levam acento agudo: 
Obs.: Se, neste caso, a consoante final for a) As palavras proparoxítonas que apresentam
diferente de s, tais vogais dispensam o acento na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas
agudo: cauim.  a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por
6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido,
tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedi- exército, hidráulico, líquido, míope, músico, plástico,
dos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul). prosélito, público, rústico, tétrico, último; 

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b) As chamadas proparoxítonas aparen- Base XII


tes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/ Do emprego do acento grave 
tônica as vogais abertas grafadas a, e, o e 1º) Emprega-se o acento grave: 
ainda i, u ou ditongo oral começado por vo- a) Na contração da preposição a com as for-
gal aberta, e que terminam por seqüências mas femininas do artigo ou pronome demons-
vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas pratica- trativo o: à (de a + a), às (de a + as); 
mente consideradas como ditongos cres- b) Na contração da preposição a com os
centes (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aque-
álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, las e aquilo ou ainda da mesma preposição
glória; barbárie, série; lírio, prélio; mágoa, com os compostos aqueloutro e suas flexões:
nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.  àquele(s), àquela(s), àquilo; àqueloutro(s),
2º) Levam acento circunflexo:  àqueloutra(s); 
a) As palavras proparoxítonas que apre-
sentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada Base XIII
ou ditongo com a vogal básica fechada: ana- Da supressão dos acentos em palavras derivadas
creôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêra- 1º) Nos advérbios em –mente, derivados
mos (de dever), dinâmico, êmbolo, excêntrico, de adjetivos com acento agudo ou circun-
fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, flexo, estes são suprimidos: avidamente (de
lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade, ávido), debilmente (de débil), facilmente (de
sôfrego, sonâmbulo, trôpego;  fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente
b)As chamadas proparoxítonas aparen- (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), ma-
tes, isto é, que apresentam vogais fechadas mente (de má), somente (de só), unicamente
na sílaba tónica/tônica, e terminam por se- (de único), etc.; candidamente (de cândido),
qüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas cortesmente (de cortês), dinamicamente (de
praticamente consideradas como ditongos dinâmico), espontaneamente (de espontâ-
crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islân- neo), portuguesmente (de português), ro-
dia, Mântua, serôdio.  manticamente (de romântico).
3º) Levam acento agudo ou acento circun- 2º) Nas palavras derivadas que contêm
flexo as palavras proparoxítonas, reais ou apa- sufixos iniciados por z e cujas formas de
rentes, cujas vogais tónicas/tônicas grafadas base apresentam vogas tónica/tônica com
e ou o estão em final de sílaba e são seguidas acento agudo ou circunflexo, estes são su-
das consoantes nasais grafadas m ou n, con- primidos: aneizinhos (de anéis), avozinha
forme o seu timbre é, respectivamente, aberto (de avó), bebezito (de bebê), cafezada (de
ou fechado nas pronúncias cultas da língua: café), chapeuzinho (de chapéu), chazeiro (de
académico/acadêmico, anatómico/anatômico, chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu),
cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/fe- mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vin-
nômeno, género/gênero, topónimo/topônimo; tenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô),
Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfé- bençãozinha (de bênção), lampadazita (de
mia/blasfêmia, fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, lâmpada), pessegozito (de pêssego). 
génio/gênio, ténue/tênue. 

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Base XIV caide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno,


Do trema  mato-grossense, norte-americano, porto-
O trema, sinal de diérese, é inteiramente -alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-
suprimido em palavras portuguesas ou apor- -luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro,
tuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-
mesmo que haja separação de duas vogais que -infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé,
normalmente formam ditongo: saudade, e não guarda-chuva. 
saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não Obs.: Certos compostos, em relação aos quais
saüdar, ainda que trissílabo; etc.  se perdeu, em certa medida, a noção de compo-
Em virtude desta supressão, abstrai-se de sição, grafam-se aglutinadamente: girassol, ma-
sinal especial, quer para distinguir, em sílaba dressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas,
átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba an- paraquedista, etc. 
terior, quer para distinguir, também em sílaba 2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topô-
átona, um i ou um u de um ditongo precedente, nimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã,
quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou grão ou por forma verbal ou cujos elementos
átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-
arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, -Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Cos-
faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; tas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes;
abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, En-
aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilin- tre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes. 
gue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, Obs.:  Os outros topónimos/topônimos
equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.  compostos escrevem-se com os elementos sepa-
Obs.:  Conserva-se, no entanto, o trema, de rados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte,
acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à
de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau
Hübner, mülleriano, de Müller, etc.  é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso. 
3º) Emprega-se o hífen nas palavras compos-
Base XV tas que designam espécies botânicas e zoológi-
Do hífen em compostos, locuções e cas, estejam ou não ligadas por preposição ou
encadeamentos vocabulares  qualquer outro elemento: abóbora-menina, cou-
1º) Emprega-se o hífen nas palavras com- ve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus,
postas por justaposição que não contêm for- erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-iná-
mas de ligação e cujos elementos, de natureza cio; bem-me-quer (nome de planta que também
nominal, adjetival, numeral ou verbal, consti- se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-
tuem uma unidade sintagmática e semântica -grande, cobra-capelo, formiga-branca; andori-
e mantêm acento próprio, podendo dar-se o nha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha;
caso de o primeiro elemento estar reduzido: bem-te-vi (nome de um pássaro). 
ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, 4º) Emprega-se o hífen nos compostos com
és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, os advérbios bem e mal, quando estes formam
tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; al- com o elemento que se lhes segue uma unidade

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sintagmática e semântica e tal elemento come- e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima
ça por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquan-
ao contrário do mal, pode não se aglutinar com do de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por
palavras começadas por consoante. Eis alguns cima de, quanto a; 
exemplos das várias situações: bem-aventurado, f) Conjuncionais: a fim de que, ao passo que,
bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que. 
mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. mal- 7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou
criado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante mais palavras que ocasionalmente se combi-
(cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmanda- nam, formando, não propriamente vocábulos,
do), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa
(cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).  Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte
Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a
aparece aglutinado com o segundo elemento, ligação Angola-Moçambique), e bem assim nas
quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, combinações históricas ou ocasionais de topóni-
benfeito, benfeitor, benquerença, etc.  mos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-
5º) Emprega-se o hífen nos compostos com -Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.). 
os elementos além, aquém, recém e sem: além-
-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém- Base XVI
-mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nas- Do hífen nas formações por prefixação,
cido; sem-cerimônia, sem-número, sem-vergonha. recomposição e sufixação 
6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam 1º) Nas formações com prefixos  (como, por
elas substantivas, adjetivas, pronominais, ad- exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-,
verbiais, prepositivas ou conjuncionais, não extra-, hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-,
se emprega em geral o hífen, salvo algumas sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por
exceções já consagradas pelo uso (como é o caso recomposição, isto é, com elementos não autôno-
de água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais
mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à como: aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hi-
queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de em- dro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-,
prego sem hífen as seguintes locuções:  pan-, pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele-, etc.),
a) Substantivas: cão de guarda, fim de sema- só se emprega o hífen nos seguintes casos:
na, sala de jantar;  a) Nas formações em que o segundo elemen-
b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com to começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico,
leite, cor de vinho;  circum-hospitalar, co-herdeiro, contra-har-
c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mónico/contra-harmônico, extra-humano,
mesmos, quem quer que seja;  pré-história, sub-hepático, super-homem, ultra-
d) Adverbiais: à parte (note-se o substan- -hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro,
tivo aparte), à vontade, de mais (locução que geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-
se contrapõe a de menos; note-se demais, ad- -helenismo, semi-hospitalar. 
vérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em forma-
cima, por isso;  ções que contêm em geral os prefixos des- e in- e

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nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial: palavras deste tipo pertencentes aos domínios
desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.  científico e técnico. Assim: antirreligioso, antis-
b)Nas formações em que o prefixo ou pseu- semita, contrarregra, comtrassenha, cosseno,
doprefixo termina na mesma vogal com que extrarregular, infrassom, minissaia, tal como
se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, micros-
contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; sistema, microrradiografia. 
arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, b) Nas formações em que o prefixo ou pseudo-
micro-onda, semi-interno.  prefixo termina em vogal e o segundo elemento
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este começa por vogal diferente, prática esta em geral
aglutina-se em geral com o segundo elemento já adotada também para os termos técnicos e cien-
mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coo- tíficos. Assim: antiaéreo, coeducação, extraescolar;
cupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.  aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem,
c) Nas formações com os prefixos circum- e pan-, agroindustrial, hidroelétrico, plurianual. 
quando o segundo elemento começa por vogal, m 3º) Nas formações por sufixação apenas se em-
ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea prega o hífen nos vocábulos terminados por sufi-
a): circum-escolar, circum-murado, circum-navega- xos de origem tupi-guarani que representam for-
ção;pan-africano,pan-mágico,pan-negritude.  mas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando
d) Nas formações com os prefixos hiper-, o primeiro elemento acaba em vogal acentuada
inter- e super-, quando combinados com ele- graficamente ou quando a pronúncia exige a dis-
mentos iniciados por r: hiper-requintado, inter- tinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu,
-resistente, super-revista.  anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim. 
e) Nas formações com os prefixos ex- (com
o sentido de estado anterior ou cessamento), Base XVII
sota-, soto-, vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver
ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-minis- 1º) Emprega-se o hífen na ênclise e na tme-
tro, ex-rei; sota-piloto, soto-mestre, vice-presiden- se: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei,
te, vice-reitor, vizo-rei.  enviar-lhe-emos. 
f) Nas formações com os prefixos tónicos/ 2º) Não se emprega o hífen nas ligações da pre-
tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró- posição de às formas monossilábicas do presente do
quando o segundo elemento tem vida à parte (ao indicativo do verbo haver:hei de,hás de,hão de,etc.
contrário do que acontece com as corresponden- Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo
tes formas átonas que se aglutinam com o ele- uso as formas verbais quer e requer, dos verbos
mento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós- querer e requerer, em vez de quere e requere, es-
-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas tas últimas formas conservam-se, no entanto,
prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover). nos casos de ênclise: quere-o(s), requere-o(s).
2º) Não se emprega, pois, o hífen:  Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás)
a) Nas formações em que o prefixo ou falso qué-lo e requé-lo são pouco usadas.
prefixo termina em vogal e o segundo elemento 2. Usa-se também o hífen nas ligações de for-
começa por r ou s, devendo estas consoantes mas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-
duplicar-se, prática aliás já generalizada em -me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas

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pronominais do tipo no-lo, vo-las, quando em À semelhança das cisões indicadas, pode
próclise (por ex.: esperamos que no-lo comprem).  dissolver-se graficamente, posto que sem uso
do apóstrofo, uma combinação da preposição
Base XVIII a com uma forma pronominal realçada pela
Do apóstrofo  maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-
1º) São os seguintes os casos de emprego do -se que a dissolução gráfica nunca impede na
apóstrofo:  leitura a combinação fonética: a O = ao, a Aquela
a) Faz-se uso do apóstrofo para cindir gra- = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo
ficamente uma contração ou aglutinação pode; a Aquela que nos protege. 
vocabular, quando um elemento ou fração res- c) Emprega-se o apóstrofo nas ligações das
pectiva pertence propriamente a um conjunto formas santo e santa a nomes do hagiológio,
vocabular distinto: d’ Os Lusíadas, d’ Os Sertões; quando importa representar a elisão das vo-
n’ Os Lusíadas, n’ Os Sertões; pel’ Os Lusíadas, gais finais o e a: Sant’Ana, Sant’Iago, etc. É, pois,
pel’ Os Sertões. Nada obsta, contudo, a que estas correto escrever: Calçada de Sant’Ana, Rua de
escritas sejam substituídas por empregos de Sant’Ana; culto de Sant’Iago, Ordem de Sant’Iago.
preposições íntegras, se o exigir razão especial Mas, se as ligações deste gênero, como é o caso
de clareza, expressividade ou ênfase: de Os Lusí- destas mesmas Sant’Ana e Sant’Iago, se tornam
adas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc. perfeitas unidades mórficas, aglutinam-se os
As cisões indicadas são análogas às dissoluções dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu de San-
gráficas que se fazem, embora sem emprego do tana, Santana de Parnaíba; Fulano de Santiago,
apóstrofo, em combinações da preposição a com ilha de Santiago, Santiago do Cacém.
palavras pertencentes a conjuntos vocabulares Em paralelo com a grafia Sant’Ana e congê-
imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: neres, emprega-se também o apóstrofo nas liga-
importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os ções de duas formas antroponímicas, quando é
Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se necessário indicar que na primeira se elide um o
que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a final: Nun’Álvares, Pedr’Eanes.
combinação fonética: a A = à, a Os = aos, etc.  Note-se que nos casos referidos as escritas
b) Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma com apóstrofo, indicativas de elisão, não impe-
contração ou aglutinação vocabular, quando dem, de modo algum, as escritas sem apóstrofo:
um elemento ou fração respectiva é forma pro- Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc. 
nominal e se lhe quer dar realce com o uso de d) Emprega-se o apóstrofo para assinalar,
maiúscula: d’Ele, n’Ele, d’Aquele, n’Aquele, d’O, n’O, no interior de certos compostos, a elisão do e da
pel’O, m’O, t’O, lh’O, casos em que a segunda parte, preposição de, em combinação com substanti-
forma masculina, é aplicável a Deus, a Jesus, etc.; vos: borda-d’água, cobra-d’água, copo-d’água,
d’Ela, n’Ela, d’Aquela, d’A, n’A, pel’A, m’A, t’A, lh’A, estrela-d’alva, galinha-d’água, mãe-d’água,
casos em que a segunda parte, forma feminina, é pau-d’água, pau-d’alho, pau-d’arco, pau-d’óleo. 
aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exem- 2º) São os seguintes os casos em que não se
plos frásicos: confiamos n’O que nos salvou; esse usa o apóstrofo: 
milagre revelou-m’O; está n’Ela a nossa esperança; Não é admissível o uso do apóstrofo nas com-
pugnemos pel’A que é nossa padroeira. binações das preposições de e em com as formas

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do artigo definido, com formas pronominais Obs.: Quando a preposição de se combina


diversas e com formas adverbiais (excetuado o com as formas articulares ou pronominais o, a,
que se estabelece nas alíneas 1º) a) e 1º) b)). Tais os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios
combinações são representadas:  começados por vogal, mas acontece estarem
a) Por uma só forma vocabular, se consti- essas palavras integradas em construções de
tuem, de modo fixo, uniões perfeitas:  infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem
i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, se funde a preposição com a forma imediata,
desta, destes, destas, disto; desse, dessa, desses, escrevendo-se estas duas separadamente: a fim
dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daque- de ele compreender; apesar de o não ter visto; em
las, daquilo; destoutro, destoutra, destoutros, virtude de os nossos pais serem bondosos; o fato
destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, de o conhecer; por causa de aqui estares. 
dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daque-
loutros, daqueloutras; daqui; daí; dali; dacolá; Base XIX
donde; dantes (= antigamente);  Das minúsculas e maiúsculas 
ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; nes- 1º) A letra minúscula inicial é usada: 
te, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa, nesses, a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da
nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naque- língua nos usos correntes. 
las, naquilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, b) Nos nomes dos dias, meses, estações do
nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, ano: segunda-feira; outubro; primavera. 
nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naque- c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o
loutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas; primeiro elemento, que é com maiúscula, os
noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nal- demais vocábulos, podem ser escritos com
gum, nalguma, nalguns, nalgumas, nalguém.  minúscula, salvo nos nomes próprios nele
b) Por uma ou duas formas vocabulares, se contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de
não constituem, de modo fixo, uniões perfei- Ninães, O senhor do paço de Ninães, Menino de
tas (apesar de serem correntes com esta feição Engenho ou Menino de engenho, Árvore e Tam-
em algumas pronúncias): de um, de uma, de bor ou Árvore e tambor. 
uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano. 
algum, de alguma, de alguns, de algumas, de e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas
alguém, de algo, de algures, de alhures, ou dal- abreviaturas); norte, sul (mas: SW sudoeste). 
gum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/
dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, hagiônimos (opcionalmente, neste caso, tam-
de outros, de outras, de outrem, de outrora, bém com maiúscula): senhor doutor Joaquim da
ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo;
doutrora; de aquém ou daquém; de além ou santa Filomena (ou Santa Filomena). 
dalém; de entre ou dentre.  g) Nos nomes que designam domínios do sa-
De acordo com os exemplos deste último ber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também
tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial com maiúscula): português (ou Português), mate-
de ora avante como do advérbio que representa mática (ou Matemática); línguas e literaturas mo-
a contração dos seus três elementos: doravante.  dernas (ou Línguas e Literaturas Modernas). 

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2º) A letra maiúscula inicial é usada:  entidades científicas ou normalizadoras, reco-


a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou nhecidas internacionalmente. 
fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.
b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fic- Base XX
tícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro; Da divisão silábica 
Atlântida, Hespéria.  A divisão silábica, que em regra se faz pela
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho, lha-no, ma-
mitológicos: Adamastor; Neptuno / Netuno.  -lha, ma-nha, má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, tme-se),
d) Nos nomes que designam instituições: e na qual, por isso, se não tem de atender aos
Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previ- elementos constitutivos dos vocábulos segundo
dência Social.  a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vô, de-sa-pa-
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, -re-cer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hi-pe-ra-cú-sti-co,
Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.  i-ná-bil, o-bo-val, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do),
f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itá- obedece a vários preceitos particulares, que ri-
lico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo gorosamente cumpre seguir, quando se tem de
(ou S. Paulo).  fazer em fim de linha, mediante o emprego do
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, hífen, a partição de uma palavra: 
quando empregados absolutamente: Nordeste, 1º) São indivisíveis no interior da palavra, tal
por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Por- como inicialmente, e formam, portanto, sílaba
tugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros para a frente as sucessões de duas consoantes
países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com
por oriente asiático.  exceção apenas de vários compostos cujos pre-
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas inter- fixos terminam em b, ou d: ab- legação, ad- ligar,
nacionais ou nacionalmente reguladas com mai- sub- lunar, etc., em vez de a- blegação, a- dligar, su-
úsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em blunar, etc.) aquelas sucessões em que a primeira
maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O; Sr., V. Exa.  consoante é uma labial, uma velar, uma dental
i) Opcionalmente, em palavras usadas reve- ou uma labiodental e a segunda um l ou um r: a-
rencialmente, aulicamente ou hierarquicamen- blução, cele- brar, du- plicação, re- primir, a- clamar,
te, em início de versos, em categorizações de de- creto, de- glutição, re- grado; a- tlético, cáte- dra,
logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, períme- tro; a- fluir, a- fricano, ne- vrose. 
largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou 2º) São divisíveis no interior da palavra as
Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostola- sucessões de duas consoantes  que não cons-
do Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da tituem propriamente grupos e igualmente as
Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).  sucessões de m ou n, com valor de nasalidade,
Obs.: As disposições sobre os usos das mi- e uma consoante: ab- dicar, Ed- gardo, op- tar,
núsculas e maiúsculas não obstam a que obras sub- por, ab- soluto, ad- jetivo, af- ta, bet- samita,
especializadas observem regras próprias, pro- íp- silon, ob- viar, des- cer, dis- ciplina, flores- cer,
vindas de códigos ou normalizações específicas nas- cer, res- cisão; ac- ne, ad- mirável, Daf- ne,
(terminologias antropológica, geológica, biblio- diafrag- ma, drac- ma, ét- nico, rit- mo, sub- meter,
lógica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de am- nésico, interam- nense; bir- reme, cor- roer,

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PNLD 2012 — Dicionários

pror- rogar, as- segurar, bis- secular, sos- segar, bis- início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-
sex- to, contex- to, ex- citar, atroz- mente, capaz- -emos ou serená-los- -emos, vice- -almirante. 
mente, infeliz- mente; am- bição, desen- ganar,
en- xame, man- chu, Mân- lio, etc.  Base XXI
3º) As sucessões de mais de duas consoantes Das assinaturas e firmas
ou de m ou n, com o valor de nasalidade, e duas Para ressalva de direitos, cada qual poderá
ou mais consoantes são divisíveis por um de manter a escrita que, por costume ou registro
dois meios: se nelas entra um dos grupos que legal, adote na assinatura do seu nome. 
são indivisíveis (de acordo com o preceito 1º), Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia
esse grupo forma sílaba para diante, ficando original de quaisquer firmas comerciais, nomes
a consoante ou consoantes que o precedem de sociedades, marcas e títulos que estejam ins-
ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra critos em registro público. 
nenhum desses grupos, a divisão dá-se sempre
antes da última consoante. Exemplos dos dois ANEXO II 
casos: cam- braia, ec- tlipse, em- blema, ex- plicar, NOTA EXPLICATIVA DO ACORDO ORTOGRÁFICO
in- cluir, ins- crição, subs- crever, trans- gredir, abs- DA LÍNGUA PORTUGUESA
tenção, disp- neia, inters- telar, lamb- dacismo, (1990)
sols- ticial, Terp- sícore, tungs- tênio. 
4º) As vogais consecutivas que não perten- 1. Memória breve dos acordos ortográficos 
cem a ditongos decrescentes (as que perten- A existência de duas ortografias oficiais da
cem a ditongos deste tipo nunca se separam: língua portuguesa, a lusitana e a brasileira, tem
ai- roso, cadei- ra, insti- tui, ora- ção, sacris- tães, sido considerada como largamente prejudicial
traves- sões) podem, se a primeira delas não é u para a unidade intercontinental do português e
precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, para o seu prestígio no Mundo. 
separar-se na escrita: ala- úde, áre- as, ca- apeba, Tal situação remonta, como é sabido, a 1911,
co- ordenar, do- er, flu- idez, perdo- as, vo- os. O ano em que foi adotada em Portugal a primeira
mesmo se aplica aos casos de contiguidade de grande reforma ortográfica, mas que não foi ex-
ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e tensiva ao Brasil. 
vogais: cai- ais, cai- eis, ensai- os, flu- iu.  Por iniciativa da Academia Brasileira de
5º) Os digramas gu e qu, em que o u se não Letras, em consonância com a Academia das
pronuncia, nunca se separam da vogal ou diton- Ciências de Lisboa, com o objetivo de se mini-
go imediato (ne- gue, ne- guei; pe- que, pe- quei), mizarem os inconvenientes desta situação, foi
do mesmo modo que as combinações gu e qu em aprovado em 1931 o primeiro acordo ortográfico
que o u se pronuncia: á- gua, ambí- guo, averi- entre Portugal e o Brasil. Todavia, por razões que
gueis, longín-quos, lo- quaz, quais- quer.  não importa agora mencionar, este acordo não
6º) Na translineação de uma palavra com- produziu, afinal, a tão desejada unificação dos
posta ou de uma combinação de palavras em dois sistemas ortográficos, fato que levou mais
que há um hífen, ou mais, se a partição coincide tarde à convenção ortográfica de 1943. Perante
com o final de um dos elementos ou membros, as divergências persistentes nos Vocabulários
deve, por clareza gráfica, repetir-se o hífen no entretanto publicados pelas duas Academias,

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PNLD 2012 — Dicionários

que punham em evidência os parcos resultados colhe é a de que eles visavam impor uma unifi-
práticos do acordo de 1943, realizou-se, em 1945, cação ortográfica absoluta. 
em Lisboa, novo encontro entre representantes Em termos quantitativos e com base em estu-
daquelas duas agremiações, o qual conduziu dos desenvolvidos pela Academia das Ciências de
à chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasi- Lisboa, com base num corpus de cerca de 110.000
leira de 1945. Mais uma vez, porém, este acordo palavras, conclui-se que o Acordo de 1986 conse-
não produziu os almejados efeitos, já que ele foi guia a unificação ortográfica em cerca de 99,5%
adotado em Portugal, mas não no Brasil.  do vocabulário geral da língua. Mas conseguia-a
Em 1971, no Brasil, e em 1973, em Portugal, fo- sobretudo à custa da simplificação drástica do
ram promulgadas leis que reduziram substan- sistema de acentuação gráfica, pela supressão dos
cialmente as divergências ortográficas entre os acentos nas palavras proparoxítonas e paroxíto-
dois países. Apesar destas louváveis iniciativas, nas, o que não foi bem aceito por uma parte subs-
continuavam a persistir, porém, divergências tancial da opinião pública portuguesa. 
sérias entre os dois sistemas ortográficos.  Também o acordo de 1945 propunha uma
No sentido de as reduzir, a Academia das unificação ortográfica absoluta que rondava
Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de os 100% do vocabulário geral da língua. Mas tal
Letras elaboraram em 1975 um novo projeto de unificação assentava em dois princípios que se
acordo que não foi, no entanto, aprovado oficial- revelaram inaceitáveis para os brasileiros: 
mente por razões de ordem política, sobretudo a) Conservação das chamadas consoantes
vigentes em Portugal.  mudas ou não articuladas, o que correspondia a
E é neste contexto que surge o encontro do uma verdadeira restauração destas consoantes
Rio de Janeiro, em Maio de 1986, e no qual se en- no Brasil, uma vez que elas tinham há muito
contram, pela primeira vez na história da língua sido abolidas. 
portuguesa, representantes não apenas de Por- b) Resolução das divergências de acentuação
tugal e do Brasil mas também dos cinco novos das vogais tônicas e e o, seguidas das consoantes
países africanos lusófonos entretanto emergi- nasais m e n, das palavras proparoxítonas (ou
dos da descolonização portuguesa.  esdrúxulas) no sentido da prática portuguesa,
O Acordo Ortográfico de 1986, conseguido na que consistia em as grafar com acento agudo e
reunião do Rio de Janeiro, ficou, porém, inviabi- não circunflexo, conforme a prática brasileira. 
lizado pela reação polêmica contra ele movida Assim se procurava, pois, resolver a diver-
sobretudo em Portugal.  gência de acentuação gráfica de palavras como
António e Antônio, cómodo e cômodo, género
2. Razões do fracasso dos acordos ortográficos e gênero, oxigénio e oxigênio, etc., em favor da
Perante o fracasso sucessivo dos acordos or- generalização da acentuação com o diacrítico
tográficos entre Portugal e o Brasil, abrangendo agudo. Esta solução estipulava, contra toda a
o de 1986 também os países lusófonos de África, tradição ortográfica portuguesa, que o acento
importa refletir seriamente sobre as razões de agudo, nestes casos, apenas assinalava a tonici-
tal malogro.  dade da vogal e não o seu timbre, visando assim
Analisando sucintamente o conteúdo dos resolver as diferenças de pronúncia daquelas
acordos de 1945 e de 1986, a conclusão que se mesmas vogais. 

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PNLD 2012 — Dicionários

A inviabilização prática de tais soluções leva- ção gráfica, especialmente das esdrúxulas, e a
-nos à conclusão de que não é possível unificar hifenação. 
por via administrativa divergências que assen- Pode dizer-se ainda que, no que respeita às
tam em claras diferenças de pronúncia, um dos alterações de conteúdo, de entre os princípios em
critérios, aliás, em que se baseia o sistema orto- que assenta a ortografia portuguesa, se privile-
gráfico da língua portuguesa.  giou o critério fonético (ou da pronúncia) com um
Nestas condições, há que procurar uma certo detrimento para o critério etimológico. 
versão de unificação ortográfica que acautele É o critério da pronúncia que determina, ali-
mais o futuro do que o passado e que não receie ás, a supressão gráfica das consoantes mudas
sacrificar a simplificação também pretendida ou não articuladas, que se têm conservado na
em 1986, em favor da máxima unidade possível. ortografia lusitana essencialmente por razões
Com a emergência de cinco novos países lusó- de ordem etimológica. 
fonos, os fatores de desagregação da unidade É também o critério da pronúncia que nos
essencial da língua portuguesa far-se-ão sentir leva a manter um certo número de grafias du-
com mais acuidade e também no domínio orto- plas do tipo de caráter e carácter, facto e fato,
gráfico. Neste sentido importa, pois, consagrar sumptuoso e suntuoso, etc. 
uma versão de unificação ortográfica que fixe É ainda o critério da pronúncia que conduz
e delimite as diferenças atualmente existentes à manutenção da dupla acentuação gráfica do
e previna contra a desagregação ortográfica da tipo de económico e econômico, efémero e efê-
língua portuguesa.  mero, género e gênero, génio e gênio, ou de bónus
Foi, pois, tendo presentes estes objetivos, que e bônus, sémen e sêmen, ténis e tênis, ou ainda de
se fixou o novo texto de unificação ortográfica, o bebé e bebê, ou metro e metrô, etc. 
qual representa uma versão menos forte do que Explicitam-se em seguida as principais alte-
as que foram conseguidas em 1945 e 1986. Mas rações introduzidas no novo texto de unificação
ainda assim suficientemente forte para unificar ortográfica, assim como a respectiva justificação. 
ortograficamente cerca de 98% do vocabulário
geral da língua.  4. Conservação ou supressão das consoantes
c, p, b, g, m e t em certas seqüências consonânti-
3. Forma e substância do novo texto  cas (Base IV) 
O novo texto de unificação ortográfica agora
proposto contém alterações de forma (ou estru- 4.1. Estado da questão 
tura) e de conteúdo, relativamente aos anterio- Como é sabido, uma das principais dificul-
res. Pode dizer-se, simplificando, que em termos dades na unificação da ortografia da língua
de estrutura se aproxima mais do acordo de portuguesa reside na solução a adotar para a
1986, mas que em termos de conteúdo adota grafia das consoantes c e p, em certas seqüências
uma posição mais conforme com o projeto de consonânticas interiores, já que existem fortes
1975, atrás referido.  divergências na sua articulação. 
Em relação às alterações de conteúdo, elas Assim, umas vezes, estas consoantes são in-
afetam sobretudo o caso das consoantes mu- variavelmente proferidas em todo o espaço geo-
das ou não articuladas, o sistema de acentua- gráfico da língua portuguesa, conforme sucede

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em casos como compacto, ficção, pacto; adepto, e súdito, subtil e sutil, amígdala e amídala, am-
aptidão, núpcias; etc.  nistia e anistia, aritmética e arimética, nas quais
Neste caso, não existe qualquer problema a oscilação da pronúncia se verifica quanto às
ortográfico, já que tais consoantes não podem consoantes b, g, m e t (v. Base IV, 2º). 
deixar de grafar-se (v. Base IV, 1º a).  O número de palavras abrangidas pela dupla
Noutros casos, porém, dá-se a situação inver- grafia é de cerca de 0,5% do vocabulário geral
sa da anterior, ou seja, tais consoantes não são da língua, o que é pouco significativo (ou seja,
proferidas em nenhuma pronúncia culta da lín- pouco mais de 575 palavras em cerca de 110.000),
gua, como acontece em acção, afectivo, direcção; embora nele se incluam também alguns vocá-
adopção, exacto, óptimo; etc. Neste caso existe bulos de uso muito frequente. 
um problema. É que na norma gráfica brasileira
há muito estas consoantes foram abolidas, ao 4.2. Justificação da supressão de consoantes
contrário do que sucede na norma gráfica lusi- não articuladas (Base IV 1º b) 
tana, em que tais consoantes se conservam. A As razões que levaram à supressão das
solução que agora se adota (v. Base IV, 1º b) é a de consoantes mudas ou não articuladas em pa-
as suprimir, por uma questão de coerência e de lavras como ação (acção), ativo (activo), diretor
uniformização de critérios (vejam-se as razões (director), ótimo (óptimo) foram essencial-
de tal supressão adiante, em 4.2.).  mente as seguintes:
As palavras afectadas por tal supressão a) O argumento de que a manutenção de tais
representam 0,54% do vocabulário geral da consoantes se justifica por motivos de ordem
língua, o que é pouco significativo em termos etimológica, permitindo assinalar melhor a
quantitativos (pouco mais de 600 palavras em similaridade com as palavras congêneres das
cerca de 110.000). Este número é, no entanto, outras línguas românicas, não tem consistência.
qualitativamente importante, já que compre- Por outro lado, várias consoantes etimológicas
ende vocábulos de uso muito frequente (como, se foram perdendo na evolução das palavras ao
por ex., acção, actor, actual, colecção, colectivo, longo da história da língua portuguesa. Vários
correcção, direcção, director, electricidade, factor, são, por outro lado, os exemplos de palavras
factura, inspector, lectivo, óptimo, etc.).  deste tipo, pertencentes a diferentes línguas ro-
O terceiro caso que se verifica relativamente mânicas, que, embora provenientes do mesmo
às consoantes c e p diz respeito à oscilação de étimo latino, revelam incongruências quanto à
pronúncia, a qual ocorre umas vezes no interior conservação ou não das referidas consoantes. 
da mesma norma culta (cf. por ex., cacto ou cato, É o caso, por exemplo, da palavra objecto,
dicção ou dição, sector ou setor, etc.), outras vezes proveniente do latim objectu-, que até agora
entre normas cultas distintas (cf., por ex., facto, conservava o c, ao contrário do que sucede em
receção em Portugal, mas fato, recepção no Brasil).  francês (cf. objet), ou em espanhol (cf. objeto). Do
A solução que se propõe para estes casos, no mesmo modo projecto (de projectu-) mantinha
novo texto ortográfico, consagra a dupla grafia até agora a grafia com c, tal como acontece em
(v. Base IV, 1º c).  espanhol (cf. proyecto), mas não em francês (cf.
A estes casos de grafia dupla devem acres- projet). Nestes casos o italiano dobra a conso-
centar-se as poucas variantes do tipo de súbdito ante, por assimilação (cf. oggetto e progetto). A

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palavra vitória há muito se grafa sem c, apesar cepção, excepção, recepção, a consoante não arti-
do espanhol victoria, do francês victoire ou do culada é um p, ao passo que em vocábulos como
italiano vittoria. Muitos outros exemplos se po- correcção, direcção, objecção, tal consoante é um c? 
deriam citar. Aliás, não tem qualquer consistên- Só à custa de um enorme esforço de memori-
cia a ideia de que a similaridade do português zação que poderá ser vantajosamente canalizado
com as outras línguas românicas passa pela para outras áreas da aprendizagem da língua. 
manutenção de consoantes etimológicas do d) A divergência de grafias existente neste
tipo mencionado. Confrontem-se, por exemplo, domínio entre a norma lusitana, que teimo-
formas como as seguintes: port. acidente (do samente conserva consoantes que não se
lat. accidente-), esp. accidente, fr. accident, it. articulam em todo o domínio geográfico da
accidente; port. dicionário (do lat. dictionariu-), língua portuguesa, e a norma brasileira, que
esp. diccionario, fr. dictionnaire, it. dizionario; há muito suprimiu tais consoantes, é incom-
port. ditar (do lat. dictare), esp. dictar, fr. dicter, preensível para os lusitanistas estrangeiros,
it. dettare; port. estrutura (de structura-), esp. nomeadamente para professores e estudan-
estructura, fr. structure, it. struttura; etc.  tes de português, já que lhes cria dificuldades
Em conclusão, as divergências entre as lín- suplementares, nomeadamente na consulta
guas românicas, neste domínio, são evidentes, dos dicionários, uma vez que as palavras em
o que não impede, aliás, o imediato reconheci- causa vêm em lugares diferentes da ordem
mento da similaridade entre tais formas. Tais di- alfabética, conforme apresentam ou não a
vergências levantam dificuldades à memoriza- consoante muda. 
ção da norma gráfica, na aprendizagem destas e) Uma outra razão, esta de natureza psico-
línguas, mas não é com certeza a manutenção lógica, embora nem por isso menos importante,
de consoantes não articuladas em português consiste na convicção de que não haverá unifi-
que vai facilitar aquela tarefa.  cação ortográfica da língua portuguesa se tal
b) A justificação de que as ditas consoantes disparidade não for revolvida. 
mudas travam o fechamento da vogal prece- f)Tal disparidade ortográfica só se pode re-
dente também é de fraco valor, já que, por um solver suprimindo da escrita as consoantes não
lado, se mantêm na língua palavras com vogal articuladas, por uma questão de coerência, já que
pré-tónica aberta, sem a presença de qualquer a pronúncia as ignora, e não tentando impor a
sinal diacrítico, como em corar, padeiro, oblação, sua grafia àqueles que há muito as não escrevem,
pregar (= fazer uma prédica), etc., e, por outro, justamente por elas não se pronunciarem. 
a conservação de tais consoantes não impede
a tendência para o ensurdecimento da vogal 4.3. Incongruências aparentes 
anterior em casos como accionar, actual, actua- A aplicação do princípio, baseado no critério
lidade, exactidão, tactear, etc.  da pronúncia, de que as consoantes c e p em
c) É indiscutível que a supressão deste tipo certas sequências consonânticas se suprimem,
de consoantes vem facilitar a aprendizagem da quando não articuladas, conduz a algumas in-
grafia das palavras em que elas ocorriam.  congruências aparentes, conforme sucede em
De fato, como é que uma criança de 6-7 anos palavras como apocalítico ou Egito (sem p, já que
pode compreender que em palavras como con- este não se pronuncia), a par de apocalipse ou

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egipcio (visto que aqui o p se articula), noturno sumpção e assunção, peremptório e perentório,
(sem c, por este ser mudo), ao lado de noctívago sumptuoso e suntuoso; etc. 
(com c por este se pronunciar), etc.  De um modo geral pode dizer-se que, nestes
Tal incongruência é apenas aparente. De casos, o emudecimento da consoante (exceto em
fato, baseando-se a conservação ou supressão dicção, facto, sumptuoso e poucos mais) se verifica,
daquelas consoantes no critério da pronúncia, sobretudo, em Portugal e nos países africanos, en-
o que não faria sentido era mantê-las, em certos quanto no Brasil há oscilação entre a prolação e o
casos, por razões de parentesco lexical. Se se emudecimento da mesma consoante. 
abrisse tal exceção, o utente, ao ter que escrever Também os outros casos de dupla grafia (já
determinada palavra, teria que recordar previa- mencionados em 4.1.), do tipo de súbdito e súdi-
mente, para não cometer erros, se não haveria to, subtil e sutil, amígdala e amídala, omniscien-
outros vocábulos da mesma família que se es- te e onisciente, aritmética e arimética, muito me-
crevessem com este tipo de consoante.  nos relevantes em termos quantitativos do que
Aliás, divergências ortográficas do mesmo os anteriores, se verificam sobretudo no Brasil. 
tipo das que agora se propõem foram já aceites Trata-se, afinal, de formas divergentes, isto
nas Bases de 1945 (v. Base VI, último parágrafo), é, do mesmo étimo. As palavras sem consoante,
que consagraram grafias como assunção ao mais antigas e introduzidas na língua por via
lado de assumptivo, cativo, a par de captor e cap- popular, foram já usadas em Portugal e encon-
tura, dicionário, mas dicção, etc. A razão então tram-se nomeadamente em escritores dos sécu-
aduzida foi a de que tais palavras entraram e se los XVI e XVII. 
fixaram na língua em condições diferentes. A Os dicionários da língua portuguesa, que
justificação da grafia com base na pronúncia é passarão a registrar as duas formas, em todos os
tão nobre como aquela razão.  casos de dupla grafia, esclarecerão, tanto quan-
to possível, sobre o alcance geográfico e social
4.4. Casos de dupla grafia (Base IV, 1º c, d e 2º)  desta oscilação de pronúncia. 
Sendo a pronúncia um dos critérios em que
assenta a ortografia da língua portuguesa, é ine- 5. Sistema de acentuação gráfica
vitável que se aceitem grafias duplas naqueles (Bases VIII a XIII)
casos em que existem divergências de articula-
ção quanto às referidas consoantes c e p e ainda 5.1. Análise geral da questão 
em outros casos de menor significado. Torna-se, O sistema de acentuação gráfica do portu-
porém, praticamente impossível enunciar uma guês atualmente em vigor, extremamente com-
regra clara e abrangente dos casos em que há plexo e minucioso, remonta essencialmente à
oscilação entre o emudecimento e a prolação Reforma Ortográfica de 1911. 
daquelas consoantes, já que todas as sequências Tal sistema não se limita, em geral, a assi-
consonânticas enunciadas, qualquer que seja nalar apenas a tonicidade das vogais sobre as
a vogal precedente, admitem as duas alterna- quais recaem os acentos gráficos, mas distingue
tivas: cacto e cato, caracteres e carateres, dicção também o timbre destas. 
e dição, facto e fato, sector e setor; ceptro e cetro; Tendo em conta as diferenças de pronúncia
concepção e conceção, recepção e receção; as- entre o português europeu e o do Brasil, era natural

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PNLD 2012 — Dicionários

que surgissem divergências de acentuação grá- tísticos com o objetivo de se delimitarem melhor
fica entre as duas realizações da língua.  e quantificarem com precisão as divergências
Tais divergências têm sido um obstáculo à existentes nesta matéria. 
unificação ortográfica do português. 
É certo que em 1971, no Brasil, e em 1973, em 5.2. Casos de dupla acentuação 
Portugal, foram dados alguns passos significa-
tivos no sentido da unificação da acentuação 5.2.1. Nas proparoxítonas (Base XI) 
gráfica, como se disse atrás. Mas, mesmo assim, Verificou-se assim que as divergências, no
subsistem divergências importantes neste do- que respeita às proparoxítonas, se circunscre-
mínio, sobretudo no que respeita à acentuação vem praticamente, como já foi destacado atrás,
das paroxítonas.  ao caso das vogais tônicas e e o, seguidas das
Não tendo tido viabilidade prática a solução consoantes nasais m e n, com as quais aquelas
fixada na Convenção Ortográfica de 1945, con- não formam sílaba (v. Base XI, 3º). 
forme já foi referido, duas soluções eram possí- Estas vogais soam abertas em Portugal
veis para se procurar resolver esta questão. e nos países africanos recebendo, por isso,
Uma era conservar a dupla acentuação gráfi- acento agudo, mas são do timbre fechado
ca, o que constituía sempre um espinho contra a em grande parte do Brasil, grafando-se por
unificação da ortografia.  conseguinte com acento circunflexo: acadé-
Outra era abolir os acentos gráficos, solução mico/ acadêmico, cómodo/ cômodo, eféme-
adotada em 1986, no Encontro do Rio de Janeiro.  ro/ efêmero, fenómeno/ fenômeno, génio/
Esta solução, já preconizada no I Simpósio gênio, tónico/ tônico, etc. 
Luso-Brasileiro sobre a Língua Portuguesa Con- Existem uma ou outra exceção a esta regra,
temporânea, realizada em 1967 em Coimbra, como, por exemplo, cômoro e sêmola, mas estes
tinha sobretudo a justificá-la o fato de a língua casos não são significativos. 
oral preceder a língua escrita, o que leva mui- Costuma, por vezes, referir-se que o a tônico
tos utentes a não empregarem na prática os das proparoxítonas, quando seguido de m ou n
acentos gráficos, visto que não os consideram com que não forma sílaba, também está sujeito
indispensáveis à leitura e compreensão dos à referida divergência de acentuação gráfica.
textos escritos.  Mas tal não acontece, porém, já que o seu tim-
A abolição dos acentos gráficos nas palavras bre soa praticamente sempre fechado nas pro-
proparoxítonas e paroxítonas, preconizada no núncias cultas da língua, recebendo, por isso,
Acordo de 1986, foi, porém, contestada por uma acento circunflexo: âmago, ânimo, botânico,
larga parte da opinião pública portuguesa, câmara, dinâmico, gerânio, pânico, pirâmide. 
sobretudo por tal medida ir contra a tradição As únicas exceções a este princípio são os
ortográfica e não tanto por estar contra a práti- nomes próprios de origem grega Dánae/ Dânae
ca ortográfica.  e Dánao/ Dânao. 
A questão da acentuação gráfica tinha, pois, Note-se que se as vogais e e o, assim como
de ser repensada.  a, formam sílaba com as consoantes m ou n,
Neste sentido, desenvolveram-se alguns o seu timbre é sempre fechado em qualquer
estudos e fizeram-se vários levantamentos esta- pronúncia culta da língua, recebendo, por isso,

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PNLD 2012 — Dicionários

acento circunflexo: êmbolo, amêndoa, argên- 5.2.4. Avaliação estatística dos casos de du-
teo, excêntrico, têmpera; anacreôntico, côm- pla acentuação gráfica 
puto, recôndito, cânfora, Grândola, Islândia, Tendo em conta o levantamento estatístico
lâmpada, sonâmbulo, etc.  que se fez na Academia das Ciências de Lisboa, com
base no já referido corpus de cerca de 110.000 pa-
5.2.2. Nas paroxítonas (Base IX)  lavras do vocabulário geral da língua, verificou-se
Também nos casos especiais de acentuação que os citados casos de dupla acentuação gráfica
das paroxítonas ou graves (v. Base IX, 2º), algu- abrangiam aproximadamente 1,27% (cerca de
mas palavras que contêm as vogais tônicas e e o 1.400 palavras). Considerando que tais casos se en-
em final de sílaba, seguidas das consoantes na- contram perfeitamente delimitados, como se refe-
sais m e n, apresentam oscilação de timbre, nas riu atrás, sendo assim possível enunciar a regra de
pronúncias cultas da língua.  aplicação, optou-se por fixar a dupla acentuação
Tais palavras são assinaladas com acento gráfica como a solução menos onerosa para a uni-
agudo, se o timbre da vogal tônica é aberto, ou ficação ortográfica da língua portuguesa.
com acento circunflexo, se o timbre é fechado:
fémur ou fêmur, Fénix ou Fênix, ónix ou ônix, 5.3. Razões da manutenção dos acentos grá-
sémen ou sêmen, xénon ou xênon; bónus ou ficos nas proparoxítonas e paroxítonas 
bônus, ónus ou ônus, pónei ou pônei, ténis ou Resolvida a questão dos casos de dupla acen-
tênis, Vénus ou Vênus; etc. No total, estes são tuação gráfica, como se disse atrás, já não tinha
pouco mais de uma dúzia de casos.  relevância o principal motivo que levou em 1986
a abolir os acentos nas palavras proparoxítonas
5.2.3. Nas oxítonas (Base VIII)  e paroxítonas. 
Encontramos igualmente nas oxítonas Em favor da manutenção dos acentos gráfi-
(v. Base VIII, 1º a, Obs.) algumas divergências cos nestes casos, ponderaram-se, pois, essencial-
de timbre em palavras terminadas em e tô- mente as seguintes razões: 
nico, sobretudo provenientes do francês. Se a) Pouca representatividade (cerva de 1,27%)
esta vogal tônica soa aberta, recebe acento dos casos de dupla acentuação. 
agudo; se soa fechada, grafa-se com acento b) Eventual influência da língua escrita so-
circunflexo. Também aqui os exemplos pouco bre a língua oral, com a possibilidade de, sem
ultrapassam as duas dezenas: bebé ou bebê, acentos gráficos, se intensificar a tendência para
caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou a paroxitonia, ou seja, deslocação do acento tô-
guichê, matiné ou matinê, puré ou purê; etc. nico da antepenúltima para a penúltima sílaba,
Existe também um caso ou outro de oxítonas lugar mais frequente de colocação do acento
terminadas em o ora aberto ora fechado, como tônico em português. 
sucede em cocó ou cocô, ró ou rô.  c) Dificuldade em apreender corretamente a
A par de casos como este há formas oxí- pronúncia em termos de âmbito técnico e cien-
tonas terminadas em o fechado, às quais se tífico, muitas vezes adquiridos através da língua
opõem variantes paroxítonas, como acontece escrita (leitura). 
em judô e judo, metrô e metro, mas tais casos d) Dificuldades causadas, com a abolição dos
são muito raros.  acentos, à aprendizagem da língua, sobretudo

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quando esta se faz em condições precárias, As razões por que se suprime, nestes casos, o
como no caso dos países africanos, ou em situa- acento gráfico são as seguintes: 
ção de auto-aprendizagem.  a)Em primeiro lugar, por coerência com a
e) Alargamento, com a abolição dos acentos abolição do acento gráfico já consagrada pelo
gráficos, dos casos de homografia, do tipo de Acordo de 1945, em Portugal, e pela Lei nº 5.765,
análise(s)/ analise(v.), fábrica(s.)/ fabrica(v.), de 18/12/1971, no Brasil, em casos semelhantes,
secretária(s.)/ secretaria(s. ou v.), vária(s.)/ como, por exemplo: acerto (ê), substantivo, e
varia(v.), etc., casos que apesar de dirimíveis pelo acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô), subs-
contexto sintático, levantariam por vezes algu- tantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cor (ô),
mas dúvidas e constituiriam sempre problema substantivo, e cor (ó), elemento da locação de
para o tratamento informatizado do léxico.  cor; sede (ê) e sede (é), ambos substantivos; etc. 
f) Dificuldade em determinar as regras de b)Em segundo lugar, porque, tratando-se de
colocação do acento tônico em função da estru- pares cujos elementos pertencem a classes gra-
tura mórfica da palavra. Assim, as proparoxíto- maticais diferentes, o contexto sintático permi-
nas, segundo os resultados estatísticos obtidos te distinguir claramente tais homógrafas. 
da análise de um corpus de 25.000 palavras,
constituem 12%. Destes, 12%, cerca de 30% são 5.4.2. Em paroxítonas com os ditongos ei e oi
falsas esdrúxulas (cf. génio, água, etc.). Dos 70% na sílaba tônica (Base IX, 3º) 
restantes, que são as verdadeiras proparoxíto- O novo texto ortográfico propõe que não se
nas (cf. cômodo, gênero, etc.), aproximadamen- acentuem graficamente os ditongos ei e oi tô-
te 29% são palavras que terminam em –ico /– nicos das palavras paroxítonas. Assim, palavras
ica (cf. ártico, econômico, módico, prático, etc.). como assembleia, boleia, ideia, que na norma grá-
Os restantes 41% de verdadeiras esdrúxulas fica brasileira se escrevem com acento agudo, por
distribuem-se por cerca de duzentas termina- o ditongo soar aberto, passarão a escrever-se sem
ções diferentes, em geral de caráter erudito (cf. acento, tal como aldeia, baleia, cheia, etc. 
espírito, ínclito, púlpito; filólogo; filósofo; esófa- Do mesmo modo, palavras como comboio,
go; epíteto; pássaro; pêsames; facílimo; lindíssi- dezoito, estroina, etc., em que o timbre do di-
mo; parêntesis; etc.).  tongo oscila entre a abertura e o fechamento,
oscilação que se traduz na facultatividade do
5.4. Supressão de acentos gráficos em certas emprego do acento agudo no Brasil, passarão a
palavras oxítonas e paroxítonas (Bases VIII, IX e X)  grafar-se sem acento. 
A generalização da supressão do acento nes-
5.4.1. Em casos de homografia (Bases VIII, 3º e tes casos justifica-se não apenas por permitir
IX, 9º e 10º)  eliminar uma diferença entre a prática orto-
O novo texto ortográfico estabelece que gráfica brasileira e a lusitana, mas ainda pelas
deixem de se acentuar graficamente palavras seguintes razões: 
do tipo de para (á), flexão de parar, pelo (ê), subs- a) Tal supressão é coerente com a já consa-
tantivo, pelo (é), flexão de pelar, etc., as quais são grada eliminação do acento em casos de ho-
homógrafas, respectivamente, das proclíticas mografia heterofônica (v. Base IX, 10º, e, neste
para, preposição, pelo, contração de per e lo, etc.  texto atrás, 5.4.1.), como sucede, por exemplo,

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em acerto, substantivo, e acerto, flexão de 5.4.4. Em formas verbais com u e ui tônicos,


acertar, acordo, substantivo, e acordo, flexão precedidos de g e q  (Base X, 7º) 
de acordar, fora, flexão de ser e ir, e fora, ad- Não há justificação para se acentuarem
vérbio, etc.  graficamente palavras como apazigue, arguem,
b) No sistema ortográfico português não se etc., já que estas formas verbais são paroxítonas
assinala, em geral, o timbre das vogais tônicas e a vogal u é sempre articulada, qualquer que
a, e e o das palavras paroxítonas, já que a língua seja a flexão do verbo respectivo. 
portuguesa se caracteriza pela sua tendência No caso de formas verbais como argui, de-
para a paroxitonia. O sistema ortográfico não linquis, etc., também não há justificação para o
admite, pois, a distinção entre, por exemplo acento, pois se trata de oxítonas terminadas no
cada (â) e fada (á), para (â) e tara (á); espelho (ê) ditongo tónico ui, que como tal nunca é acentu-
e velho (é), janela (é) e janelo (ê), escrevera (ê), ado graficamente. 
flexão de escrever, e Primavera (é); moda (ó) e Tais formas só serão acentuadas se a seqüên-
toda (ô), virtuosa (ó) e virtuoso (ô); etc. cia ui não formar ditongo e a vogal tônica for i,
Então, se não se torna necessário, nestes ca- como, por exemplo, arguí (1a pessoa do singular
sos, distinguir pelo acento gráfico o timbre da do pretérito perfeito do indicativo). 
vogal tónica, por que se há-de usar o diacrítico
para assinalar a abertura dos ditongos ei e oi nas 6. Emprego do hífen (Bases XV a XVIII) 
paroxítonas, tendo em conta que o seu timbre
nem sempre é uniforme e a presença do acento 6.1. Estado da questão 
constituiria um elemento perturbador da unifi- No que respeita ao emprego do hífen, não
cação ortográfica?  há propriamente divergências assumidas en-
tre a norma ortográfica lusitana e a brasileira.
5.4.3. Em paroxítons do tipo de abençoo, en- Ao compulsarmos, porém, os dicionários por-
joo, voo, etc. (Base IX, 8º)  tugueses e brasileiros e ao lermos, por exem-
Por razões semelhantes às anteriores, o plo, jornais e revistas, deparam-se-nos muitas
novo texto ortográfico consagra também a oscilações e um largo número de formações
abolição do acento circunflexo, vigente no vocabulares com grafia dupla, ou seja, com
Brasil, em palavras paroxítonas como aben- hífen e sem hífen, o que aumenta desmesura-
çoo, flexão de abençoar, enjoo, substantivo e da e desnecessariamente as entradas lexicais
flexão de enjoar, moo, flexão de moer, povoo, dos dicionários. Estas oscilações verificam-se
flexão de povoar, voo, substantivo e flexão sobretudo nas formações por prefixação e na
de voar, etc.  chamada recomposição, ou seja, em formações
O uso do acento circunflexo não tem aqui com pseudoprefixos de origem grega ou latina. 
qualquer razão de ser, já que ele ocorre em pala- Eis alguns exemplos de tais oscilações: ante-
vras paroxítonas cuja vogal tônica apresenta a -rosto e anterrosto, co-educação e coeducação,
mesma pronúncia em todo o domínio da língua pré-frontal e prefrontal, sobre-saia e sobres-
portuguesa. Além de não ter, pois, qualquer van- saia, sobre-saltar e sobressaltar, aero-espacial
tagem nem justificação, constitui um fator que e aeroespacial, auto-aprendizagem e autoa-
perturba a unificação do sistema ortográfico.  prendizagem, agro-industrial e agroindustrial,

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agro-pecuária e agropecuária, alvéolo-dental muladas em termos contextuais, como sucede


e alveolodental, bolbo-raquidiano e bolbor- nos seguintes casos: 
raquidiano, geo-história e geoistória, micro- a) Emprega-se o hífen quando o segundo
-onda e microonda; etc.  elemento da formação começa por h ou pela
Estas oscilações são, sem dúvida, devidas mesma vogal ou consoante com que termina o
a uma certa ambiguidade e falta de sistema- prefixo ou pseudoprefixo (por ex. anti-higiênico,
tização das regras que sobre esta matéria contra-almirante, hiper-resistente). 
foram consagradas no texto de 1945. Tornava- b) Emprega-se o hífen quando o prefixo ou
-se, pois, necessário reformular tais regras de falso prefixo termina em m e o segundo ele-
modo mais claro, sistemático e simples. Foi o mento começa por vogal, m ou n (por ex. circum-
que se tentou fazer em 1986.  -murado, pan-africano). 
A simplificação e redução operadas nessa As restantes regras são formuladas em ter-
altura, nem sempre bem compreendidas, provo- mos de unidades lexicais, como acontece com
caram igualmente polêmica na opinião pública oito delas (ex-, sota- e soto-, vice- e vizo-; pós-,
portuguesa, não tanto por uma ou outra in- pré- e pró-). 
congruência resultante da aplicação das novas Noutros casos, porém, uniformiza-se o não
regras, mas sobretudo por alterarem bastante a emprego do hífen, do modo seguinte: 
prática ortográfica neste domínio.  a) Nos casos em que o prefixo ou o pseu-
A posição que agora se adota, muito embora doprefixo termina em vogal e o segundo
tenha tido em conta as críticas fundamentadas elemento começa por r ou s, estas consoantes
ao texto de 1986, resulta, sobretudo, do estudo dobram-se, como já acontece com os termos
do uso do hífen nos dicionários portugueses e técnicos e científicos (por ex. antirreligioso,
brasileiros, assim como em jornais e revistas.  microssistema). 
b) Nos casos em que o prefixo ou pseudopre-
6.2. O hífen nos compostos (Base XV)  fixo termina em vogal e o segundo elemento
Sintetizando, pode dizer-se que, quanto ao começa por vogal diferente daquela, as duas
emprego do hífen nos compostos, locuções e formas aglutinam-se, sem hífen, como já sucede
encadeamentos vocabulares, se mantém o que igualmente no vocabulário científico e técnico
foi estatuído em 1945, apenas se reformulando (por ex. antiaéreo, aeroespacial)
as regras de modo mais claro, sucinto e simples. 
De fato, neste domínio não se verificam prati- 6.4. O hífen na ênclise e tmese (Base XVII) 
camente divergências nem nos dicionários nem Quanto ao emprego do hífen na ênclise e na
na imprensa escrita.  tmese mantêm-se as regras de 1945, exceto no
caso das formas hei de, hás de, há de, etc., em que
6.3. O hífen nas formas derivadas (Base XVI)  passa a suprimir-se o hífen. Nestas formas ver-
Quanto ao emprego do hífen nas forma- bais o uso do hífen não tem justificação, já que a
ções por prefixação e também por recomposi- preposição de funciona ali como mero elemento
ção, isto é, nas formações com pseudoprefixos de ligação ao infinitivo com que se forma a perí-
de origem grega ou latina, apresenta-se algu- frase verbal (cf. hei de ler, etc.), na qual de é mais
ma inovação. Assim, algumas regras são for- proclítica do que apoclítica. 

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7. Outras alterações de conteúdo  mes próprios estrangeiros com trema (cf. mülle-
riano, de Müller, etc.). 
7.1. Inserção do alfabeto (Base I)  Generalizar a supressão do trema é eliminar
Uma inovação que o novo texto de unificação mais um fator que perturba a unificação da or-
ortográfica apresenta, logo na Base I, é a inclu- tografia portuguesa. 
são do alfabeto, acompanhado das designações
que usualmente são dadas às diferentes letras. 8. Estrutura e ortografia do novo texto 
No alfabeto português passam a incluir-se tam- Na organização do novo texto de unificação
bém as letras k, w e y, pelas seguintes razões:  ortográfica optou-se por conservar o modelo
a)Os dicionários da língua já registram estas de estrutura já adotado em 1986. Assim, houve
letras, pois existe um razoável número de pala- a preocupação de reunir, numa mesma base,
vras do léxico português iniciado por elas.  matéria afim, dispersa por diferentes bases de
b)Na aprendizagem do alfabeto é necessário textos anteriores, donde resultou a redução des-
fixar qual a ordem que aquelas letras ocupam.  tas a vinte e uma. 
c)Nos países africanos de língua oficial por- Através de um título sucinto, que antece-
tuguesa existem muitas palavras que se escre- de cada base, dá-se conta do conteúdo nela
vem com aquelas letras.  consagrado. Dentro de cada base adotou-se
Apesar da inclusão no alfabeto das letras um sistema de numeração (tradicional) que
k, w e y, mantiveram-se, no entanto, as regras permite uma melhor e mais clara arrumação
já fixadas anteriormente, quanto ao seu uso da matéria aí contida.
restritivo, pois existem outros grafemas com
o mesmo valor fônico daquelas. Se, de fato, se
abolisse o uso restritivo daquelas letras, intro-
duzir-se-ia no sistema ortográfico do portu-
guês mais um fator de perturbação, ou seja, a
possibilidade de representar, indiscriminada-
mente, por aquelas letras fonemas que já são
transcritos por outras. 

7.2. Abolição do trema (Base XIV) 


No Brasil, só com a Lei nº 5.765, de 18/12/1971,
o emprego do trema foi largamente restringido,
ficando apenas reservado às sequências gu e qu
seguidas de e ou i, nas quais u se pronuncia (cf.
aguentar, arguente, eloquente, equestre, etc.). 
O novo texto ortográfico propõe a supressão
completa do trema, já acolhida, aliás, no Acordo
de 1986, embora não figurasse explicitamente
nas respectivas bases. A única ressalva, neste
aspecto, diz respeito a palavras derivadas de no-

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