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Marina de Ulhôa Flosi Mendes

Psicóloga - CRP 06 / 21482-4


Contato: O11-991378411/ fax: 011-30712510/ e-mail: marinaufm@hotmail.com.br

Bowlby, John. Cuidados Maternos e Saúde Mental, S. Paulo, Martins Fontes, 1988.

Ideia que perpassa o livro:

Crianças não são lousas das quais o passado pode ser


apagado com uma esponja, e sim seres humanos, que carregam
consigo suas experiências anteriores e cujo comportamento presente
é profundamente influenciado por tudo que se passa antes.
O significado emocional da relação pai-filho não pode ser
rompida por uma simples separação física.
Para o autor, a privação materna provoca deformação de
personalidade que provavelmente produzira mais crianças de sua
espécie. O autor busca provas cientificas de que a privação afetiva
conduz ao desajustamento e a delinquência.
A capacidade de um adulto para a parentalidade depende, em alto grau, dos
cuidados que recebeu de seus pais em sua infância.

“Uma criança precisa sentir que é objeto de prazer e de orgulho para a sua
mãe, assim como uma mãe necessita sentir uma expressão de sua própria
personalidade na personalidade de seu filho. Ambos precisam se sentir
profundamente identificados um com o outro. Os cuidados maternos com uma
criança não se prestam a um rodízio: trata-se de uma relação humana viva, que
altera tanto a personalidade da mãe como a do filho”

CUIDADOS MATERNOS E SAUDE MENTAL

Em 1950, a OMS solicitou a Bowlby que fizesse um relatório sobre problemas


relacionados à saúde mental de crianças, em especial, daquelas sem lar. Ele
participou de discussões, fez visitas a vários países e estudou a literatura existente
sobre as necessidades e aspectos relacionados à saúde mental de crianças
sem lar.

Nas discussões percebeu concordância quanto aos princípios básicos de saúde


mental infantil e quanto as formas praticas pelas quais esta pode ser percebida.

1
E estudo redundou neste livro que trata do filho não desejado, da preparação
das mulheres para serem mães, etc., sendo que Bowlby ampliou o tema do relatório
inicial para algo que dizia respeito ao bem estar de toda a sociedade.

Houve uma 2. edição do livro em 1964, quando foram acrescentados ao livro


dois capítulos. Bowlby acentua que percebeu um reconhecimento cada vez maior
da necessidade de garantir assistência e afeto as crianças, o que seria
necessário para seu desenvolvimento sadio.

As vantagens dos cuidados maternos e os perigos da privação estavam


universalmente aceitos, mas havia controversas sobre os efeitos adversos. Seriam
específicos? Os danos seriam permanentes? O que os provoca? Com estas questões,
os novos capítulos surgiram, sendo que no ultimo, Mary Ainsworth examina as
colocações de outros colaboradores e apresenta levantamento sobre o tema.

Parte 1

Efeitos Prejudiciais da Privação da mãe

Cap. 1
Algumas causas da doença mental

Quais são as causas da doença mental?

A saúde mental do bebe dependera das relações emocionais que ele


tenha oportunidade de desenvolver.

É considerada “mãe”, não necessariamente aquela que tem uma relação


biológica com a criança, mas sim que desempenhe, regular e
continuamente, o papel de mãe entendido como de cuidados amorosos. A
relação complexa, rica e compensadora com a mãe, nos primeiros anos, pode ser
enriquecida de inúmeras maneiras pelas relações com o pai e com os irmãos, e está
na base do desenvolvimento da personalidade e da saúde mental (p.13).

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Com relação aos pais, seu papel seria o de dar condições materiais (cuidados
indiretos) para que suas esposas possam dedicar-se sem restrições aos cuidados do
bebê (cuidados diretos); e, com seu amor e companheirismo, dar apoio emocional
à mãe, ajudando a manter um clima de harmonia e satisfação no qual o bebê ira se
desenvolver (p.15).

“A qualidade dos cuidados parentais que uma criança recebe em


seus primeiros três anos de vida é de importância vital para a sua saúde
mental futura” (p. 13, Ed. 3a) e devem ser contínuos; esta comprovação foi
significante para o avanço da psiquiatria.
É essencial à saúde mental que o bebê e a criança pequena “tenham a
vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua com a mãe (ou mãe
substituta permanente), na qual ambos encontrem satisfação e prazer”
(p.13). Experiências emocionais em determinados estágios da vida mental, muito
precoces e especiais, podem produzir efeitos vitais e duradouros.

“Privação da mãe” (expressão ampla que abrange um grande numero


de situações diferentes) - (p.78):

-“privação parcial” - a criança vive com a mãe (ou uma substituta permanente),
não encontrando os cuidados amorosos que necessita, seja por ser
afastada de sua mãe, ou porque, vivendo em sua casa, esta é incapaz de
proporcioná-los, não tendo atitudes satisfatórias para com ela.
Essa privação é atenuada se a criança passar a ser criada por uma pessoa a
quem já aprendeu a confiar e a quem já conhece, se sente segura; mas é
acentuada se a “mãe substituta”, embora amorosa, for uma estranha.

Tem-se desde mães que deixam o filho chorando por horas porque o livro sobre
bebe o recomenda, ate mães que rejeitam o filho totalmente (desde ignorância ate
hostilidade inconsciente da mãe, com origem em suas próprias experiências infantis).
Privação parcial da ainda à criança alguma satisfação. Opõem-se à “privação quase
total”, bastante comum nas instituições, onde freqüentemente uma criança não

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dispõe de uma determinada pessoa que cuide dela de forma pessoal e com quem ela
possa sentir-se segura (p.14).

Efeitos perniciosos da privação parcial: traz consigo angustia, exagerada


necessidade de amor, fortes sentimentos de vingança e, conseqüente culpa e
depressão (p.14); e, uma criança pequena, ainda imatura de mente e corpo, não
pode lidar bem com todas essas emoções e impulsos – pode reagir e resultar em
distúrbios nervosos e personalidade instável.

Constitui a maioria dos casos que chegam a aqueles que trabalham com orientação
infantil, cujo trabalho é de auxiliar a mãe a perceber seus verdadeiros
sentimentos pelo filho e as origens, em sua própria infância, destes
sentimentos.

-“privação total”: a criança perdeu a mãe por morte, doença ou abandono e não
existem parentes para cuidar dela; e/ou é retirada da mãe e entregue a estranhos
pela Justiça; para as crianças que sofrem privação total, falta exatamente o tipo de
cuidados que uma mãe dá sem pensar (expressão de afeto). “Estas crianças
foram privadas de todas as carícias e brincadeiras, da intimidade da
amamentação através da qual a criança conhece o conforto do corpo
materno, dos rituais do banho e do vestir com os quais, através do orgulho
e carinho materno, do toque, o bebê apreende seu próprio valor. O amor e o
prazer que a mãe tem com ele representam seu alimento espiritual”.

Efeitos perniciosos: de alcance ainda maior sobre o desenvolvimento da


personalidade, pode deixa-la instável e com distúrbios nervosos, e pode mutilar sua
capacidade de estabelecer relações com outras pessoas (p.14); as angustias
provocadas por relações insatisfatórias na primeira infância predispõe as crianças a
reagirem, mais tarde, de forma antissocial diante das tensões.

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Bowlby recomenda que, de forma alguma, a criança deveria ser deixada com
pessoas que não conhece e, sim, se deveria dar preferência a parentes e vizinhos (p.
17 -18).

A maioria dos casos de privação é consequência da dissolução das famílias e/ou de


situações na qual se considera que houve fracasso no lar.

Além da privação, existem outras formas, decorrentes da separação ou


de uma rejeição total, pelas quais as relações pai-filho podem tornar-se
pouco saudáveis:
a) uma atitude inconscientemente rejeitadora, subseqüente a uma atitude
amorosa;
b) necessidade excessiva, por parte da mãe, de manifestação e
confirmação de amor;
c) prazer inconsciente da mãe com um comportamento da criança, ao
mesmo tempo em que julga condená-lo (p.15).

Para o autor, experiências emocionais - quanto mais precoces acontecerem


em termos de estágios da vida mental do bebê e da criança - podem produzir efeitos
vitais e duradouros (p.17).

A mãe normal pode confiar na força de seus instintos, na certeza de que a


ternura que sente é aquilo que o bebê deseja. ‘E a mãe quem alimenta e limpa a
criança, quem a mantem aquecida e quem a conforta. ‘E a ela que recorre quando se
sente aflita.

Cap. 2
Como estudar os danos produzidos pela privação:

Observou-se bebes e crianças pequenas e se concluiu:

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- “Quando uma criança é privada dos cuidados maternos, o seu
desenvolvimento físico, intelectual e social é quase sempre retardado e podem
aparecer sintomas de doença física e mental”; todas as crianças com menos de sete
anos, desde a primeira semana de vida do bebe, estão sujeitas a sofrer efeitos
perniciosos; entretanto, um bom numero de crianças entre cinco e sete/oito anos são
incapazes de se adaptar satisfatoriamente a separações, especialmente se forem
repetitivas e sem preparo, e não são emocionalmente autossuficientes; a saudade de
casa é predominante e ocorre um declínio na capacidade de concentração; há
aumento de enurese noturna, sintomas nervosos e delinquência.
- Algumas crianças sofrem danos graves e permanentes (p.22), dependendo de com
que idade ela perdeu os cuidados maternos, do tempo que ficou privada dos
cuidados e do grau de privação.
- Os efeitos perniciosos da separação da mãe podem ser observados desde as
primeiras semanas de vida de muitos bebês. “O desenvolvimento da criança que vive
em instituições está abaixo da média desde a mais tenra idade” (p. 23), como por
exemplo, vocaliza menos do que as cuidadas na família, desde dois meses de idade.
- A criança “separada” típica é indiferente, parada, infeliz, não reage a
um sorriso ou a um murmúrio (forma de depressão). O tom emocional é de
apreensão e tristeza. A criança se afasta de tudo a seu redor, não há qualquer
tentativa de contato com um estranho, e nenhuma reação positiva se esse estranho
a toca. Há um atraso nas atividades, a falta de sono é comum e todos têm falta de
apetite. A criança perde peso e apanha infecções facilmente. Isso é
característico de bebês que tiveram um bom relacionamento com suas
mães até os nove meses e, então, subitamente, são separados delas sem
que lhes seja proporcionada uma substituta adequada. Após recuperar a
mãe: começam a desaparecer os sintomas, a criança fica mais animada e
ativa, o peso aumenta e a cor melhora.

Alguns observadores acreditam:


 depois de três meses de privação - ocorre uma mudança
qualitativa cuja recuperação dificilmente é completa; Mesmo

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recuperadas, podem ficar feridas na psique que, mais tarde, podem
reabrir-se.
 criança com dois ou três anos de idade, separada da mãe - pode
regredir a comportamentos de bebê; em geral, as mães
substitutas são completamente rejeitadas, ficando a criança
inconsolável por vários dias.
 crianças de cinco a oito anos, ao contrário do que acontece com
grupos mais jovens, quanto melhor tiver sido a relação delas com
a mãe, melhor será sua tolerância à separação. A criança
insegura, que tem dúvidas sobre o amor da mãe por ela, fica
extremamente angustiada. A crença de que foi mandada embora
por sua maldade conduz à angústia e ao ódio.

As crianças que foram criadas em instituições e não tiveram uma


figura materna permanente não apresentam nenhuma reação desse tipo,
pelo fato de sua vida emocional já ter sido prejudicada. Os estudos sugerem
que é normal uma reação violenta e que a resignação apática é um sinal de
desenvolvimento pouco saudável. Crianças que se mostram adaptáveis e
acomodadas na situação grupal podem tornar-se, de súbito, insuportavelmente
exigentes e pouco razoáveis quando é oferecida a elas uma mãe
substituta. Seu ciúme e possessividade podem ser ilimitados e a criança fica muito
mais dependente.
Se o comportamento imaturo ansioso da criança ao voltar para casa
for tratado com impaciência, desenvolve-se um círculo vicioso na relação
da criança com a mãe. O mau comportamento, sendo castigado com repreensão e
punições, por sua vez, provoca novos comportamentos imaturos, novas exigências e
novas birras. Assim, desenvolve-se uma personalidade neurótica e instável, incapaz
de estabelecer relações afetivas e leais com outras pessoas (p.31).
Crianças que tiveram um bom relacionamento com a mãe até seis ou nove meses e
foram separadas dela, mostraram sofrimento e respostas de depressão à separação,
o mesmo já acontecendo aos três meses de idade (p.27); estudos sugerem que é
normal uma reação violenta a separação materna e que a resignação apática é sinal

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de desenvolvimento pouco saudável (p.28). Este quadro pode ser modificado com a
presença de uma mãe substituta (p.30).
- Cuidados substitutos, embora não totalmente adequados, são indispensáveis e
sempre deveriam ser proporcionados (p.27).
- Crianças entre dois e três anos de idade, principalmente as que tiveram relação
mais intima e satisfatória com suas mães, rejeitam inicialmente as mães substitutas,
ficando inconsoláveis, gritando, gemendo ou agitadas, por vários dias ou semanas;
posteriormente, tornam-se apáticas até se interessar pelo novo ambiente.
- Podem apresentar regressão a comportamentos de bebê; entretanto, as criadas em
instituições, sem uma figura significativa de cuidados, podem não apresentar
nenhuma reação deste tipo (p.31).
- Embora a recuperação seja rápida se a criança retorna a mãe, não pode ser
descartada a possibilidade de que tenham ficado algumas feridas na psique, que
mais tarde podem reabrir; alguns observadores acreditam que, depois de três meses
de privação, ocorre uma mudança qualitativa após a qual a recuperação dificilmente
é completa.
- “A dificuldade para, no futuro, se tornarem bons pais é, talvez, para as crianças, o
feito mais prejudicial da privação” (p.32).

Quanto melhor tiver sido a relação das crianças mais velhas com a mãe,
melhor sua tolerância a separação. Uma criança feliz, segura do amor da mãe, não
fica extremamente angustiada. A crença de que foi mandada embora por causa de
sua maldade conduz a angustia e ao ódio, e estes criam um circulo vicioso nas
relações da criança com seus pais (p.33).

Cap. 3 e 4:
Como estudar os danos produzidos pela privação/ o que a
observação demonstrou
Observando crianças mais velhas que sofreram privação quando
pequenas

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“As crianças que cometeram diversos crimes, que pareciam não ter qualquer
sentimento por ninguém, que mostravam incapacidade para dar ou receber afeto, e
com as quais era muito difícil lidar, tinham tido relacionamento profundamente
perturbado com suas mães nos primeiros anos de vida” (p.35).
Características típicas de crianças mais velhas que sofreram cisão na relação
mãe-filho (p.36):
 Relacionamento superficial; incapacidade para receber e dar afeto;
 Nenhum sentimento verdadeiro; nenhuma capacidade de se interessar
pelas pessoas ou de fazer amizades profundas;
 Inacessibilidade exasperante para os que tentam ajuda-la;
 Nenhuma reação emocional em situações em que isto seria normal –
uma estranha falta de preocupação;
 Falsidade e evasivas, frequentemente sem motivos;
 Furtos; mentiras;
 Falta de concentração na escola;
 Agressividade e sexualidade precoce;
 Hiperatividade, tremores e ecoprese.

“Quanto mais completa a privação nos primeiros anos de vida, mais


indiferente a sociedade e mais isolada uma criança se torna, enquanto que, quanto
mais sua privação for intercalada por momentos de satisfação, mais ela se volta
contra à sociedade e padece de sentimentos conflitantes de amor e ódio pelas
mesmas pessoas” (p. 43).

Estudos sugerem que experiências emocionais na primeira infância podem


produzir crianças delinquentes e com personalidade incapaz de afeição. (p. 52):
a) falta de qualquer oportunidade para estabelecer ligação com a figura
materna nos primeiros três anos de vida.
b) Privação por tempo limitado – mínimo de três e provavelmente mais de seis
meses nos primeiros três ou quatro anos.
c) mudanças de figura materna para outra durante o mesmo período.

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Estudos constataram que crianças que cometeram diversos crimes, que
pareciam não ter qualquer sentimento por ninguém e com as quais era
muito difícil lidar, tinham tido um relacionamento muito perturbado com
suas mães nos primeiros anos de vida. O roubo contumaz, a violência, o
egoísmo e a má conduta sexual são algumas de suas características menos
agradáveis. Quanto mais completa a privação nos primeiros anos, mais
indiferente à sociedade e mais isolada uma criança se torna, enquanto que,
quanto mais intercalada a sua privação por momentos de satisfação, mais ela se
volta contra a sociedade e padece de sentimentos conflitantes de amor e ódio pelas
mesmas pessoas.

Rogerio Raduan

A incapacidade da criança para estabelecer relações é a


característica central da qual se originam todos os demais distúrbios, tendo
como causa uma história de longas passagens por instituições ou situações em que a
criança passa de uma mãe substituta para outra, ou seja, falta de oportunidade de
estabelecer uma relação amorosa na primeira infância (p. 38).
Pesquisas com adultos mostram que, quando criados em instituições, estes
têm um ajustamento significativamente pior do que os que ficaram em suas casas
durante seus cinco primeiros anos de vida.
Segundo o autor, um grande número de casos em que as crianças foram
passadas de uma figura materna para outra, durante o seu terceiro e quarto
anos de vida, desenvolveram personalidades antissociais e tornaram-se
incapazes de estabelecer relações satisfatórias com outras pessoas.
Portanto, mesmo nessa idade, os efeitos podem ser muito negativos (p.52).
Entretanto, diz o autor que todos os que trabalham com o tema concordam
que a criança corre um perigo especial no primeiro ano de vida, em especial, entre
três e seis meses (p.52).
Os efeitos da privação precoce podem ser grandemente reduzidos
desde que voltem a receber, em tempo, cuidados maternos de boa
qualidade. Mas o fato de ser possível reverter os efeitos prejudiciais da privação

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nos primeiros meses não pode servir de desculpa para se permitir que ela ocorra
(p.53).
“Os efeitos da privação podem ser percebidos em casos de adultos cuja
vida social consiste uma série de relacionamentos com pessoas mais velhas,
que são sempre uma mãe substituta....necessita estar constantemente em contato
com uma pessoa da qual exige aquilo que lhe foi negado em sua experiência original
com a mãe...são feitas exigências excessivas à pessoa escolhida, para satisfazer as
privações do inicio da vida ...como exigências excessivas de alimentos, dinheiro e
privilégios” (p.54).
A única medida de sucesso consiste em colocar a criança morando por muito
tempo com um adulto que tenha um insight do problema, seja competente para lidar
com ele e disponha de tempo ilimitado para dedicar-se a criança.

Cap. 5 - Problemas teóricos

À medida que nossa personalidade se desenvolve, ficamos cada vez menos


a mercê do meio e das formas que este pode nos afetar. Tornamo-nos cada vez
mais aptos a escolher, a criar nosso ambiente, e a planejar, as vezes com
antecedência, para conseguir o que queremos. Temos que aprender a pensar
abstratamente, a exercitar nossa imaginação e levar em consideração outras coisas
que não apenas nossas sensações e desejos imediatos (p.57). “Este é o processo
pelo qual o individuo se liberta da escravidão de seus instintos e da ânsia pelo prazer
imediato, desenvolvendo processos mentais mais adequados as exigências do meio
ambiente” (p. 58).
Um dos desejos do adulto é manter uma relação de amizade e cooperação
com outras pessoas; é a partir do reconhecimento das coisas que agradam ou
desagradam as pessoas, isto é, do outro, que surgem os rudimentos da consciência.
Quanto ao bebê, é a mãe que vai agir pela criança. Ela é, na verdade, sua
personalidade e sua consciência. O desabrochar da personalidade e da consciência
da criança só pode se dar satisfatoriamente se suas primeiras relações humanas
forem constantes e positivas (p.58).

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Para que o desenvolvimento mental se dê regularmente, parece ser
necessário que a mente em formação seja exposta, por um determinado
período crítico, à influência de um organizador psíquico – a mãe que assim
age por sua simples presença e ternura, funcionando como sua personalidade e
consciência (p. 59 -61).

Fases mais importantes:


a) crianças aos cinco ou seis meses - o bebê está a caminho de
estabelecer um relacionamento com uma pessoa que identifica claramente -
sua mãe; nesta fase ele necessita da presença constante da mãe;
b) após três ou quatro anos – a separação da criança não tem
os mesmos efeitos destrutivos sobre o desenvolvimento da personalidade;
porém, pode resultar em necessidade excessiva de afeto e exagerados
impulsos de vingança, que provocam conflito interno, infelicidade e até
atitudes sociais muito negativas;
c) por volta de quatro ou cinco anos - a criança, por pouco
tempo, começa a ser capaz de manter a relação com a mãe mesmo quando
ela está ausente;
d) fator que dificulta o período de separação entre mãe e filho - a
noção bastante restrita de tempo que a criança tem; é incapaz de imaginar
em quanto tempo sua mãe voltará o que lhe provoca sensação de desamparo,
de angústia e desespero;
e) após os sete ou oito anos, a criança mantem relação com a
mãe ausente, por um período mais longo;

Entretanto, autores afirmam que a espécie e o grau do distúrbio psicológico,


consequente da privação, depende mais da fase de desenvolvimento em que se acha
a criança, do que de sua idade cronológica.
Criança que se vê afastada da mãe repentinamente se sente apavorada e é
comum que capacidades já adquiridas se percam, regredindo a formas mais infantis
de pensar e de se comportar.

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A criança quer se sentir segura e amada. Se a atitude do cuidador não é
compatível com estes desejos, gera graves conflitos íntimos, angustia e depressão, o
que é um obstáculo a sua aprendizagem social futura.
Outro principio da teoria da aprendizagem é que o individuo só pode adquirir
uma capacidade se sentir alguma amizade por seu professor e puder identificar-se
com este. Nas crianças que sofrem privação, esta atitude positiva em relação a mãe
ou esta ausente ou se acha misturada com um profundo ressentimento por terem
sido abandonadas. Os pais tornaram-se pessoas odiadas, o que é manifestado em
forma de birra e de fantasias de violência e, em crianças mais velhas, em palavras.

Rogerio Raduan

Crianças institucionalizadas:

 criança em instituição que não teve a mãe, não pôde completar a


primeira fase do desenvolvimento, pois não lhe proporcionaram
continuidade no tempo, que faz parte da essência da personalidade.
 aquelas que sofreram grave privação têm comportamento impulsivo e
descontrolado, são incapazes de ter objetivos em longo prazo, todos os
desejos são iguais e devem ser igualmente realizados;
 são incapazes de aprender com a experiência, devido à incapacidade
grave e especifica para o raciocínio abstrato (p.61);
 quando afastada repentinamente, é comum que capacidades já
adquiridas sejam perdidas, assim como é freqüente, portanto, a
regressão a formas mais infantis de pensar e de se comportar, e
dificuldade para crescer novamente;
 a criança pode ter sofrido tanto com o fato de estabelecer relações e
perdê-las, que tem medo de se relacionar novamente e se machucar,
ou machucar a quem ama, por despejar sua raiva; longe de idealizar os
pais e querer tornar-se como eles, odeia-os e deseja evitar qualquer
ligação com eles; por este motivo, afasta-se do contato humano,

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fechando-se em si, para evitar maiores frustrações (p.63); pode levar,
em ultima analise, ao suicídio como alternativa ao assassinato dos pais.
 a perda da capacidade de estabelecer relações afetivas e de considerar
outras pessoas, e o desejo reprimido de amor persistindo, resulta em
comportamentos como relações sexuais promíscuas e furtos.

Numa família, a criança pequena é encorajada a se expressar, e sua família


já aprendeu a respeitar os seus desejos. Ela vai aprendendo a conseguir o que quer
através das pessoas ao redor, isto é, está aprendendo a mudar o seu ambiente
social, de modo a torná-lo mais adequado para si.
No contexto institucional, muito, ou isto tudo, é perdido. A criança não é
encorajada à atividade individual, pois é mais fácil se ela ficar aonde foi
colocada.
Algumas crianças acreditam que estão sendo separadas de suas mães como
castigo por terem sido más, o que deve ser esclarecido. Outras mantêm uma ligação
profunda com os seus pais, mesmo que eles sejam terrivelmente maus e tenham lhe
dado pouco afeto, o que deve ser respeitado. Caso contrario, a criança se mantém
agarrada a um passado insatisfatório, tentando excessivamente encontrar a sua mãe
e se recusando a se adaptar à nova situação e tirar proveito dela. Isso resulta em
uma personalidade inquieta, insatisfeita, incapaz de ser feliz e de fazer alguém feliz.

Cap. 6 – Métodos de pesquisa

Os cuidados maternos nos 1os. anos de vida são essenciais para a saúde
mental. Medidas de caráter sociais, preventivas, quanto ao desenvolvimento da
personalidade, podem ser tomadas e são importantes para o futuro. Para serem bem
planejadas precisamos conhecer o que ‘e essencial e o que não ‘e (p.65).
O desenvolvimento da personalidade ‘e resultante de uma interação entre o
organismo em crescimento e outros seres humanos. O individuo assimila seu meio

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ambiente social e assim vai assemelhar-se a ele ao crescer, embora permaneça
sendo ele próprio (p.65).

Segunda parte: A prevenção da privação.


Cap. 7 - A finalidade da família

Finalidade da família: preservar a arte da parentalidade, para que não entre


em extinção uma função que é fundamental para a preservação da sociedade, tanto
quanto à produção de alimentos (p.75).
“Uma criança precisa sentir que é objeto de prazer e de orgulho para a sua
mãe, assim como uma mãe necessita sentir uma expressão de sua própria
personalidade na personalidade de seu filho. Ambos precisam se sentir
profundamente identificados um com o outro. Os cuidados maternos com uma
criança não se prestam a um rodízio: trata-se de uma relação humana viva, que
altera tanto a personalidade da mãe como a do filho” (p.73). A provisão dos cuidados
maternos não pode ser considerada em termos do número de horas por dia, e sim,
em termos do prazer que a mãe e a criança obtêm da companhia um do
outro. Essa profunda identificação de sentimentos que acontece entre mãe e filho só
é possível se o relacionamento for contínuo. Só assim ambos, mãe e filho, podem se
desenvolver (p.73). Tanto o bebe precisa sentir que pertence a sua mãe, como esta
tem necessidade de sentir que pertence a seu filho; somente quando este
sentimento é satisfeito, é que pode se dedicar ao filho.

“Não se deve esquecer que mesmo maus pais, que negligenciaram seus
filhos, estarão proporcionando-lhes muita coisa: excetuando-se os piores
casos, eles fornecem alimentação e abrigo, confortando-os na angústia, ensinando-
lhes pequenas coisas e, acima de tudo, proporcionam a continuidade nos cuidados
humanos, indispensável para que uma criança se sinta segura (a não ser que os
pais a rejeitem totalmente); sabe que tem algum valor para alguém que se
empenhará em cuidar dela, mesmo que inadequadamente, até que ela consiga se
arranjar por si mesma” (p.74).

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A partir daí, pode-se compreender por que as crianças se desenvolvem melhor
em maus lares do que em instituições e estabelecem uma forte ligação com maus
pais (p.74).
1/3 dos indivíduos que passaram cinco ou mais anos em instituições se
tornaram socialmente incapacitados na vida adulta, sendo que uma das principais
funções sociais de um adulto ‘e a de pai e mãe. Inúmeros indivíduos devem ter tido
filhos e muitas destas crianças devem ter sofrido negligencia e privação. Circulo
vicioso: fica evidente que as crianças que sofreram privação afetiva tornam-
se pais incapazes de cuidar de seus filhos (p.75).
A conclusão a que se chega é de que pode existir algo pior que um
lar insatisfatório: a inexistência de um lar.

“As crianças sentem que suas raízes estão na sua família de origem, onde
talvez tenham sido negligenciadas e maltratadas, mostrando-se ressentidas diante de
criticas a seus pais. As tentativas para se “salvar” uma criança de um ambiente ruim,
oferecendo-lhe novos padrões, freqüentemente são inúteis, pois bem ou mal, é a
seus pais que ela dá valor e é com eles que se identifica. Apesar de toda a
negligência, um dos pais quase sempre e de muitas formas, foi bom para a criança
desde o seu nascimento e, para ela existem muitas razões para se sentir grata. De
alguma forma, sua mãe cuidou dela toda sua vida, e até que outra pessoa se mostre
tão ou mais confiável, a criança não poderá confiar nessa pessoa” (p. 74).

Como a privação pode ser evitada para que as crianças possam se


desenvolver mentalmente sadias?

Tem se dado pouca atenção às condições que favorecem o sucesso ou


fracasso da vida familiar, o que permitiria melhorar as condições familiares para que
permanecessem unidas. As crianças devem ser retiradas de seus lares como
último recurso, a ser utilizado somente quando for absolutamente
impossível tornar o lar adequado à criança (p. 77).

16
Cap. 8
Por que as famílias fracassam?

Hyani

Nas comunidades ocidentais considera-se que a vida familiar normal é


composta por pai e mãe de uma criança (“grupo familiar natural” da criança). Se por
algum motivo o grupo familiar natural fracassa, os parentes próximos assumem a
responsabilidade pela criança. Em alguns casos, as pessoas vivem em grandes
grupos familiares, abrangendo pessoas de três ou quatro gerações; assim, parentes
próximos e familiares estão sempre à mão para desempenhar o papel de mãe numa
urgência, o que propicia um sistema de seguro social de grande valor. Nas
comunidades onde esse grupo familiar mais amplo deixou de existir, coloca-se sobre
o pai e a mãe uma responsabilidade muito maior pelos cuidados com as crianças.
Além de não oferecer substitutos, pode também, ao depositar uma carga tão grande
sobre os pais, destruir uma família que, em circunstancias melhores, poderia
permanecer unida. Em qualquer analise das causas da privação infantil, deve-se
levar em conta não só as razoes pelas quais o grupo familiar natural fracassou, mas
também por que os parentes deixaram de atuar como substitutos. Nesses casos,
encontra-se em grau mais elevado o problema da criança que sofre privação. (p.79).
Várias são as razões para parentes deixarem de substituir os pais:
a. parentes mortos, idosos ou doentes;
b. parentes que moram longe;
c. parentes com dificuldades econômicas: uma ajuda material bem orientada
possibilitaria, em muitos casos, a manutenção da criança dentro do seu
grupo familiar;
d. parentes que não querem ajudar: muitas vezes, em decorrência do
relacionamento conturbado que mantinham com os pais, por causa da
instabilidade emocional e incapacidade dos pais para estabelecerem
relacionamentos familiares efetivos;

17
e. os pais nunca tiveram parentes, ou perderam o contato com suas famílias
ou porque foram criados numa série de lares substitutos ou instituições
desde os primeiros anos. (p.89-90).

Aqueles que pertencem a famílias numerosas e unidas têm sensação de


certeza de que, caso venham a falecer de repente, existirão parentes dispostos a
cuidar de seus filhos. (p.90).

Hyani

As causas do fracasso do grupo familiar em cuidar de uma criança podem


ser agrupadas em três categorias:
1. grupo familiar natural não estabelecido – ilegitimidade;
2. grupo intacto, mas sem funcionar eficazmente: condições econômicas,
doença crônica ou incapacidade um dos pais; instabilidade ou
desequilíbrio mental de um dos pais;
3. grupo dissolvido e, portanto, não funcionando: morte de um dos pais,
prisão de um dos pais, ou hospitalização; abandono; separação ou
divórcio; pai trabalhando em outra localidade; mãe trabalhando em
horário integral. (p.80-81).
Crianças impossibilitadas de terem uma vida familiar normal se
transformam em pais incapazes de oferecerem uma vida familiar normal
para seus filhos, dando origem a uma outra geração de adultos incapazes
de fazer o mesmo por seus filhos (p.91).
Qualquer família que se apresente com uma ou mais destas condições
pode ser considerada como uma possível fonte de crianças com privação. Se a
criança vai ou não realmente sofrer privação, depende dos seguintes fatores:
a. se ambos os pais, ou apenas um deles, foi afetado;
b. se o outro recebe ou não auxilio;
c. se os parentes ou vizinhos podem e desejam atuar como substitutos.
(p.81).

18
As forças atuantes no fracasso ou sucesso da família são:
o fator econômico – inclui possibilidades ou impossibilidades de a família se
sustentar adequadamente;
o fator social – maior ou menor amparo do sistema social em que o
indivíduo está inserido;
o fator médico-saúde física e mental dos pais, que determinará o uso que
será feito das oportunidades oferecidas. (p.83).
Distúrbios psiquiátricos que conduzem à dissolução do grupo familiar
natural ou que impedem o seu funcionamento efetivo, contribuem para o
aparecimento de diversas condições adversas:
- negligência: se refere não só aos cuidados físicos, causada com
freqüência por fatores econômicos, enfermidade da mãe ou ignorância,
mas também ao aspecto emocional (emocionalmente famintas),
resultante da instabilidade e da doença emocional dos pais; deficiência
mental pode contribuir para ambos os casos (p.84).
É bastante comum, em um dos pais ou ambos (frequentemente a mãe),
certa instabilidade de temperamento que se expressa através da
inconstância, irresponsabilidade, imprevidência e desordem no lar. Os
problemas emocionais dos pais são a principal causa da necessidade de
assistência ‘a infância. A incapacidade básica de levar em conta qualquer
coisa que não esteja relacionada com o momento presente contribui para
que estes pais não reajam à educação e a outras medidas destinadas a
ajudá-los. O âmago da questão é a personalidade desajustada e
incorrigível (p.86).
Além destas desordens irreversíveis de personalidade que podem conduzir
a uma total negligência, encontram-se os estados passageiros de
ansiedade e depressão que, quando presentes na mãe, podem levá-la a se
desinteressar pelos afazeres domésticos. Seu amor pelos filhos pode
desaparecer ou ficar mesclado com impaciência e severidade. A privação e
a infelicidade sofridas pelos pais em sua própria infância seriam a causa de
seus problemas atuais (adulto incapaz de afeição) (p.84-87).

19
- Crueldade: a crueldade física é rara e não existem estudos sobre a
personalidade e infância dos pais acusados; crianças cruéis com animais e
outras crianças são profundamente desajustadas, quase sempre como
resultado de intensa privação ou rejeição. É um traço característico, apesar
de incomum, do delinqüente incapaz de afeto. Algumas formas de doença
mental têm como característica a ocorrência de explosões ocasionais de
crueldade sem sentido e aparece como resultado de privação ou rejeição
durante a infância (p.88).
- enfermidade prolongada de um dos pais: a doença mental, mais do
que a doença física, é um fator que leva à existência de crianças que
necessitam de atendimento, pois a enfermidade psicológica da mãe é,
muitas vezes, a causa subjacente de muitos casos de crianças
negligenciadas (p.88).
- ausência de controle parental (= a desajustamento): o processo legal
pode retirar as crianças de seus pais neste estado, com ou sem o
consentimento deles.
- casamento infeliz, abandono do lar, separação ou divorcio: para que os
filhos sejam bem cuidados na família, é preciso um casamento feliz e
estável, que depende de três fatores: felicidade dos pais do casal, infância
feliz e ausência de conflitos com a mãe. De todas as condições relativas à
infância dos sujeitos, a mais relevante para a felicidade de seus
casamentos é a felicidade ou infelicidade do casamento de seus pais.
Crianças que sofrem privação e são infelizes, tornam-se maus pais.

Deve-se observar, quanto ao auxílio financeiro, antes de gastar mais


dinheiro na assistência às crianças fora de seus lares, se já foi feito todo o possível,
financeiramente, para ajudar os pais a cuidarem dos filhos em seus próprios lares.
(p.96).

Cap. 9
A prevenção do fracasso familiar

20
Como o método básico para evitar que uma criança sofra privação da mãe
é garantir que ela receba os cuidados de sua própria família, deve-se estimular todas
as medidas que contribuem para isto (legislação). As medidas, em geral, consistem
numa assistência ativa aos pais em termos econômicos, sociais e médicos. Se uma
comunidade da valor a suas crianças, ela deve proteger seus pais.
Quanto ao auxílio médico-social, embora o auxilio econômico seja, com
frequência, essencial, muitas vezes ‘e inútil se não houver a ajuda quanto aos
conflitos no lar, a enfermidade física ou mental decorrendo em uma personalidade
desajustada. Muito se pode ajudar as mães no estabelecimento de um
relacionamento de confiança e afeição mutua, do qual dependera a saúde mental
futura da criança. Os conflitos no lar, freqüentemente, são decorrentes de problemas
infantis não resolvidos que influem na relação entre os parceiros. Os distúrbios de
personalidade são os fatores mais freqüentes e que mais contribuem para os
desajustes no casamento. Não só os sintomas devem ser tratados, mas também as
causas que estão por trás dos problemas. As mesmas considerações se aplicam à
situação na qual existe um conflito entre pais e filhos, que constitui, com freqüência,
uma causa do afastamento da criança de casa. (p.97).
Os problemas que se mostram insolúveis aos treze anos podem ser
trabalhados rápida e eficazmente aos três anos porque os problemas dos
adolescentes muitas vezes são apenas ecos de conflitos que comunicaram nos
primeiros anos. (p.99).
Nos casos de crianças mais velhas - 8 anos ou mais - se a criança for
desajustada, a internação em algum colégio pode ser válida, pois poderá ser positivo
para ela permanecer parte do ano longe das tensões que provocaram seus
problemas. O colégio interno tem a vantagem de preservar todos os laços familiares
importantes para a criança; como o colégio interno faz parte da estrutura social
comum, a criança que vai para o internato não se sente diferente das outras.
Aliviando os pais durante parte do ano da responsabilidade pelo filho, o programa da
a possibilidade de desenvolverem atitudes mais favoráveis em relação as crianças no
tempo restante (p.99).
Como resultado dos auxílios prestados, podemos dividir as famílias-
problema em três grupos:

21
a. ao receberem auxílio-médico e econômico, podem se tornar,
novamente, unidades sociais afetivas;
b. embora necessitem, em certo nível, de um auxilio permanente,
estão aptas a reagir favoravelmente;
c. todas as medidas sociais comuns são inúteis. (p.99-100).

Por isso, é fundamental saber discernir os tipos de família para que não se
perca tempo e energia com famílias em que a ajuda é impossível com relação ao
auxílio à saúde, os pais e, em particular, as mães de crianças pequenas, devem
receber prioridade se é que se pretende evitar o fracasso familiar. Desta forma, faz-
se um programa preventivo de higiene mental. (p.100).
Compreende-se que a principal dificuldade das pessoas que sofrem de
alguma doença mental é a sua incapacidade de estabelecer e manter relações
humanas de confiança, amizade e cooperação com os outros. O desenvolvimento
desta capacidade é determinado pela qualidade da relação da criança com seus pais,
principalmente nos primeiros anos de vida. Considera-se o programa de higiene
mental em longo prazo como sendo, predominantemente, a assistência psiquiátrica
individual às crianças e aos pais e auxilio as famílias que se encontram com
dificuldades, evitando o afastamento das crianças do lar. Assim, talvez, se consiga
que as crianças se tornem homens e mulheres com saúde e segurança econômica,
capazes de proporcionar uma vida familiar estável e satisfatória para seus filhos.
Desta forma, podemos esperar promover a saúde mental e, ao mesmo tempo,
acabar com muitos dos fatores responsáveis, atualmente, pela privação da mãe.
(p.102-103).

Cap. 10
Ilegitimidade e privação
Crianças socialmente rejeitadas em função da ilegitimidade

22
Hyani

Pesquisas mostram que uma jovem que tem o filho ilegítimo não aceito
socialmente, frequentemente possui antecedentes familiares insatisfatórios, tendo
desenvolvido uma personalidade neurótica. O filho constitui um sintoma de sua
pouca saúde psíquica. Muitas apresentam um forte desejo inconsciente de
engravidar, por vezes motivado pela necessidade de ter um objeto de amor que
nunca tenham tido e, por vezes, pelo desejo de usar a vergonha de ter um filho
ilegítimo como uma arma contra pais dominadores, assim como contra si mesmas,
por um desejo de autopunição enraizado e profundo. (p.106).
Assim acontece, também, com a promiscuidade, cujos casos se referem a
pessoas imaturas emocional, sexual e socialmente, que necessitam e buscam afeto,
e que vêm de lares desfeitos. (p.107).
Foi concluído de pesquisa com 30 mães solteiras que tomariam uma
decisão final quanto a delegar o poder familiar ou não de seus filhos
institucionalizados (NY), que era possível prever que a mãe só iria manter seu filho
ilegítimo consigo se pelo menos quatro das condições a seguir estiverem presentes:
- se a mãe tinha uma personalidade estável;
- se tinha uma atitude sensata em relação ao seu problema;
- se amasse e aceitasse seu filho;
- que tinha, de fato, se envolvido afetivamente com o suposto pai da criança; se
tinha uma família que não insistia que ela abrisse mão de seu filho. (p.111).
Sobre a indecisão das mães que não desistem e não assumem a
responsabilidade pelos filhos, uma assistente social fala que “a criança fica sem
dono”. “Sua mãe a visita ocasionalmente. Pode lhe trazer presentes. Quando alguém
lhe pergunta sobre seus planos em relação ao filho, ela sempre repete que algum dia
o levará para casa, mas esse dia parece nunca chegar. Quando a sociedade se
convence da necessidade de forçar a entrega da criança, esta provavelmente já está
crescida demais para será adotada com facilidade”. (p.112).
Os profissionais devem evitar sentimentalismo e avaliar o que é melhor
para a criança e para a mãe, elaborando um plano: “muitas vezes, a criança era

23
tomada de sua mãe solteira como uma forma de castigo por seus pecados; em
outras, era obrigada a assumir a responsabilidade de cuidar daquilo que ela, tão
irresponsavelmente, produziu. O problema deve ser analisado sem preconceitos”
(p.113).

Cap. 11
Famílias substitutas
I – Adoção
Cadastro
“O paradoxo central do trabalho com crianças que sofrem privação da
mãe é que existem milhares de lares sem filhos, clamando por uma criança, e
centenas de estabelecimentos cheios de crianças que necessitam de uma vida
familiar”. (p.115).
O processo de adoção envolve três tipos de pessoas: a mãe, o bebê e os
próprios pais adotivos. Deve ser feito um trabalho especializado com cada um deles,
tarefa bastante difícil:
- a mãe: precisa de auxilio para ser capaz de chegar a uma decisão segura o
que requer habilidade por parte do profissional para estabelecer uma relação de
confiança com ela, para compreender sua personalidade e sua situação social, e para
ajuda-la a enfrentar os fatos desagradáveis de uma maneira construtiva;
- o bebe: o profissional deve ter capacidade para avaliar seu provável
desenvolvimento, sobre a qual existem crenças infundadas;
- os pais adotivos: É preciso saber prever o modo como um casal irá cuidar da
criança, não havendo, em geral, qualquer indicação direta sobre as capacidades do
mesmo, e ajuda-los durante o período inicial de adaptação; quanto mais nova for a
criança, mais a sentirão como sendo deles e mais fácil lhes será identificar-se com
sua personalidade. (p.115-116).
Tudo deve ser resolvido o mais rapidamente, tanto para a criança e sua saúde
mental, logo após o nascimento, como para os pais adotivos. Caso o bebê
permaneça com a mãe, é possível que ela o rejeite e negligencie; se for colocado em
alguma creche ou lar substituto, seu desenvolvimento poderá ser prejudicado de
alguma forma (p.116).

24
Os argumentos contra uma adoção muito precoce são:
- é preciso que a mãe se decida, pelo certo, muito rapidamente (é o que mais pesa):
ela deve estar convicta de ter feito a melhor escolha e isso pode levar algum tempo;
além disso, a menos que haja uma certeza razoável de que esta mãe poderá vir a
cuidar de seu filho, ela não deve se apegar, pois a separação será, então, muito mais
dolorosa; fatores importantes que podem ser observados antes do nascimento da
criança: estabilidade de personalidade, atitude da mãe diante do problema e com
relação ao pai da criança – se forem negativos não se transformarão com o
nascimento da criança e é pouco provável que a mãe consiga cuidar bem de seu
filho); há mães que preferem não ver o filho o que deve ser respeitado.
- o bebê não poderá ser amamentado no seio: mães não desejam amamentar seu
filho, este fator não faz diferença.
- as chances de avaliar o provável desenvolvimento do bebê (argumento mais fraco
de todos): os vários testes de desenvolvimento não podem, realmente, prever o
futuro desenvolvimento mental da criança e a institucionalização pode vir a impedir o
desenvolvimento do bebe; sua saúde mental dependera das relações emocionais que
ele tenha oportunidade de desenvolver. (p.116-117).
Do ponto de vista psiquiátrico e social, a adoção nos dois primeiros anos de
vida deveria se tornar uma norma, embora deva existir sempre alguma flexibilidade
para que a mãe possa chegar a uma decisão satisfatória. (p.118).

Cadastro de Adoção

Como se pode prever como os candidatos a pais adotivos irão se sair com a
criança? Como se darão as relações emocionais da criança com os pais adotivos?
Bowlby sugere que para prevê-las seria necessário ter um bom conhecimento de
psicologia da personalidade e habilidade para fazer entrevistas.

Avaliação dos futuros pais adotivos depende de conhecimento especifico. O


que avaliar:

25
- Motivação: pais adotivos estão buscando amor ou uma forma diferente de amor,
o que não é negativo; o mais importante é que tipo de exigência fazem, o que
geralmente são irracionais; muitas motivações insatisfatórias podem estar por trás do
desejo de adotar uma criança; avalia-se outros motivos, reais, que estão por trás do
desejo da mãe de adotar um bebê (quase sempre é a mãe e não o pai quem
arquiteta o plano); estes motivos , em geral, não são o que aparentam e sua
verdadeira natureza pode ser, em grande parte, ignorada pela própria candidata;
que tipo de exigências que eles fazem a respeito da criança desejada (solicitações
inflexíveis e egoístas? Ser tudo o que ele gostaria de ter sido?) (p.119).
Como descobrir as verdadeiras motivações do casal? Pergunta-se como começaram a
pensar em adotar um bebe e procura-se saber mais sobre eles como pessoas, qual
sua capacidade de estabelecer relações afetivas com os outros (como falam de
outras pessoas, principalmente parentes; como tratam um ao outro; como tratam o
profissional); eles não devem se ressentir com as perguntas do entrevistador.
Pergunta-se como tem sido seu casamento.
As pessoas que adotam atitudes rígidas o fazem por motivos relacionados a seus
próprios conflitos emocionais, originados na infância. Nestes casos, não se necessita
da criança por ela mesma, mas sim como uma solução para os problemas
particulares de um pai ou uma mãe, que continuam sem solução. Uma mulher que
sempre se sentiu pouco amada e que procura no bebe amor e companhia, não
desejara que ele cresça, faca amigos e case. Se os motivos de uma pessoa são bons,
muita coisa pode ser revelada (p.120).
“As famílias que se mostraram ressentidas com o interesse do entrevistador
por suas vidas intimas, ou que achavam que as suas referencias, sua posição ou sua
necessidade intensa de parentalidade lhes davam o direito de receber uma criança
sem mais perguntas, em geral refletiam problemas subjacentes muito relacionados
com a capacidade destas pessoas enquanto pais. Da mesma maneira, em geral, as
famílias que estabeleciam facilmente um bom relacionamento com o profissional, que
reconheciam ser necessário que a agencia escolhesse bons pais para as crianças e
admitiam ter receios, problemas e imperfeições humanas, estavam revelando possuir
profundas qualificações para a parentalidade” (p.120-121).

26
- Elaboração da infertilidade e capacidade de lidar com a frustração: como
reagiriam a uma decepção, e se poderiam, ainda assim, funcionar como pais
afetuosos, satisfeitos com a parentalidade. “A capacidade de enfrentar dificuldades
com coragem e de refletir com sensatez sobre a melhor maneira de lidar com elas é
indispensável aos pais adotivos, pois é essencial, para eles, a capacidade de assumir
alguns riscos”; avaliar se poderiam, ainda que frustrados, funcionar como pais
afetuosos, satisfeitos em sua parentalidade.

- Revelação: É vital que os pais estejam preparados para aceitar uma criança e
sejam capazes de admitir a realidade e não precisem agarrar-se, por razões
pessoais, à fantasia de que geraram aquela criança; não haverá maiores problemas,
quer ela possa ou não atender às suas expectativas e desejos. Flexibilidade e
capacidade de encarar a verdade são qualidades nitidamente desejáveis para que os
pais possam falar à criança sobre sua adoção; mais cedo ou mais tarde a criança
descobrira a verdade. O casal, portanto, precisa ter elaborado a sua incapacidade de
ter seu próprio filho e aceitar definitivamente o fato doloroso de que não poderá tê-
lo, o que se concretiza com a presença da criança e o que pode vir a influir
negativamente sobre os sentimentos dos pais em relação ao filho. (p.120). Diz
Bowlby que surgirão problemas se os pais verdadeiros e os adotivos se conhecerem,
pois a adoção pode correr riscos (p.121).
É preciso que o profissional tenha conhecimentos e habilidades para dizer a
candidatos a pais que eles não são adequados para adotar uma criança. Seu objetivo
deve ser de ajuda-lo a encarar a realidade por si mesmos

Cap. 12
Famílias substitutas
II – Lares substitutos
Alef e Lusimar

Deve se explorar e esgotar as medidas para prevenir o fracasso da família ou


para arranjar adoções permanentes, antes de se pensar em outro tipo de lar

27
substituto que somente deve ser buscado quando se necessita de cuidados de
emergência (morte, enfermidade súbita da mãe, ou necessidade de hospitalização da
mesma para dar a luz por exemplo, o que é diferente de situações que envolvem
brigas na família, delinquência ou negligencia, o que é de difícil solução). Não se
recomenda grandes centros de recepção (p.125) para se enviar crianças com esse
tipo de problema. E sim, é aceitável a existência de um pequeno centro de recepção,
restrito a crianças acima de cinco anos que, inesperadamente, necessitam de um
abrigo imediato. A permanência dessas crianças deveria se limitar apenas há alguns
dias (p.126).
Os grupos de atendimento em pequenos centros também são recomendáveis
para crianças acima de seis ou sete anos, especialmente adolescentes. Podem tomar
conta de si mesmo, por um curto período, e é melhor do que terem que estabelecer
relações com pessoas desconhecidas, membros do lar substituto, por pouco tempo, o
que causa tensão.
Com relação à necessidade de prestar assistência a bebês e crianças
pequenas, estas são incapazes de se adaptar as condições grupais. Deveria haver
um registro de mães substitutas qualificadas, que desejem proporcionar cuidados por
breves períodos. Devem receber uma quantia para que estejam sempre disponíveis.
(p.127).
Entretanto, talvez uma solução ainda melhor para todos os grupos de idade
seja a de recorrer à ajuda de parentes e vizinhos. Com relação aos parentes, deve-se
observar que eles não sejam totalmente estranhos à criança, porque seu valor fica
reduzido; e se o casal - ou um dos pais – não se opõe, para que a criança não seja a
causa de conflitos na nova família. Como fator positivo é grande a possibilidade de
que parentes próximos e familiares à criança tenham, para com ela, um sentimento
de obrigação maior do que teriam pessoas estranhas. (p.127).
Pela mesma razão, os vizinhos podem ser valiosos como pais substitutos
temporários e devem ser incentivados com certo orgulho a tomar conta destas
crianças por algum tempo. Assim, a criança permanece entre pessoas conhecidas,
em um lugar familiar no qual conhecem seus pais, e, provavelmente as receberão
com maior calor e segurança do que o fariam pessoas desconhecidas (p.127). Os
pais deveriam ser ajudados a compreender que seria de seu próprio interesse

28
participar de um acordo comum pelo qual os vizinhos se ajudem mutuamente nas
emergências. Este tipo de assistência evita que a criança seja deixada para cuidados
temporários por tempo indefinido. Muitas crianças vão ficando por meses e anos, e,
pais menos responsáveis ficam satisfeitos em deixar os filhos, adaptando sua
maneira de viver a ausência das crianças, dificultando o retorno das mesmas,
especialmente quando a criança vem de um lar onde existem brigas ou negligencia e
falta de vontade por parte dos pais de assumir suas responsabilidades (p.128-129).
Estejam com pais substitutos ou em instituições, devem retornar a seus lares
o mais cedo possível; para que isto possa ser feito, um trabalho de assistência ao
menor deve ser realizado com os pais. (p.128).

Alguns princípios de assistência a criança (p.129):

- as instituições devem evitar uma ruptura total entre a criança e seu lar - é um erro
achar que criança afastada de casa, esquece tudo e começa de novo; instituições
proíbem que pais e filhos se vejam por acreditarem que as crianças estarão melhor
assim; mas, pesquisas demonstraram que crianças que permaneceram totalmente
afastadas de qualquer contato com seus lares anteriores eram mais inseguras e
difíceis e isso acontece porque, embora possa ser muito distorcida, a relação pais-
filho tem profundo significado emocional. (p.129-130).
- nem as instituições, nem os lares substitutos, podem proporcionar as crianças a
segurança e o afeto de que elas necessitam; para a criança, estes estabelecimentos
tem caráter provisório.
- os arranjos que mudam a cada dia criam insegurança na criança e insatisfação na
mãe substituta; é fundamental que se elaborem bons planos, em longo prazo, para
que a criança não sofra.

A nova concepção sobre assistência a criança surgiu da compreensão de que


uma criança institucionalizada vive em dois mundos: o lar substituto/instituição e o
seu próprio lar, cuja imagem não se apaga. (p.130). Por melhor que seja a mãe
substituta ou “mãe da casa”, a criança a tomara como substituta deficiente de sua
própria mãe, e que deve ser abandonada o quanto antes. Criança afastada antes dos

29
dois anos tem probabilidade de se sentir de outra maneira. O profissional deve estar
apto a ajudar a mãe substituta a compreender e a adaptar-se a situação,
entendendo que a criança sofre e que os sentimentos de insegurança podem leva-la
a fechar-se em si mesma P. 130).

Trabalho de orientação com os pais

Instituições aceitam filhos de “maus” pais, temporariamente, sem nenhum


plano para seu futuro, o que desencoraja o relacionamento parental e ignora a
necessidade da criança de ser profundamente amada e de possuir vínculos
enraizados numa família. A decisão a respeito dos filhos não pode ser adiada
indefinidamente, ao mesmo tempo em que alivia os pais da assistência imediata à
criança, os deixam desestimulados e enfraquece seu senso de responsabilidade que
já é frágil.
As organizações devem auxiliar os pais a reconhecerem as origens do
problema e a estabelecerem um plano sólido para o futuro, ao invés de contribuírem
inconscientemente para a irresponsabilidade dos pais diante do futuro da criança.
Deve prestar um auxílio condicional – sob a condição de que os pais permaneçam
responsáveis pelo futuro de seus filhos. Esse processo deve se iniciar logo no
primeiro momento do contato, quando a necessidade dos pais faz com que eles
estejam preparados para encarar algumas verdades desagradáveis. (p.130-131).
Muitas organizações trabalham numa fantasia sentimental de salvar crianças
negligenciadas de seus pais perversos, agindo com impulsividade e tirando a
responsabilidade dos pais. Assim, transmitem a eles a crença de que a criança estará
muito melhor ao cuidado de terceiros (p.131).
Ao contrário, devem mostrar que os pais são fundamentais na vida da criança
e que devem participar do planejamento futuro, respeitando até mesmo os maus
pais e contrapor, para eles, as considerações de longo prazo, menos evidentes, às
necessidades imediatas manifestas; estimulam, assim, a participação dos pais,
optando por cuidar novamente da criança no lar, ou permitindo que ela seja colocada
permanentemente em algum outro lugar (p.131). Pais excluídos jogarão toda a

30
responsabilidade sobre a organização e desaparecerão da vida da criança, ou
interferem de forma imprevisível.
Existem pais que não facilitam ao filho se adaptarem a um lar substituto;
sentem ciúme dos pais substitutos e criam problemas, ou ficam com raiva e se
recusam a visitar a criança. Estas vivem, então, um forte conflito de lealdade
(p.132).
Os pais precisam lidar com motivações contraditórias e inconscientes, e só
quando houverem desenvolvido esta habilidade, esses pais neuróticos colaborarão
com a organização, fazendo do período de afastamento do filho, produtivo e não
prejudicial (p.133).

Trabalho de orientação com pais substitutos

“Este é a chave do sucesso e é frequentemente negligenciado. É importante


que sejam selecionados pais substitutos adequados e que se conheçam tanto os pais
substitutos quanto as crianças, para que eles possam ser bem combinados. Além
disso, é necessário que os pais substitutos sejam preparados, sem sentimentalismo,
para o comportamento que a criança selecionada provavelmente apresentará. O
orientador precisa ter relação de confiança com os pais substitutos, falando-lhes
sobre a criança e seus pais, sobre a necessidade de os pais a visitarem e seu
comportamento provável, para que estes não se decepcionem e não peçam a
remoção da criança. Não devem esperar que a criança se comporte como se fosse
um filho seu” (p.133).
Muitas vezes, isso é evitado, devido à dificuldade de se encontrarem pais
substitutos e à relutância em se desencorajar as pessoas que pareçam adequadas.
Desta forma, os pais substitutos não se comportarão responsavelmente em relação à
organização se esta não fez o mesmo em relação a eles. (p.133).
Os pais substitutos devem ser tratados como parceiros de uma complexa
tarefa profissional.

Trabalho de orientação com crianças colocadas

31
Com relação à criança, esta é tratada frequentemente como um objeto
inanimado que é remetido de um lugar para outro, sem consequências. No entanto,
a probabilidade de sucesso na colocação da criança em algum lugar será tanto maior
quanto mais ativamente ela puder participar dos planos que lhe dizem respeito e
puder ser ajudada a entender o que significa, sua duração e o porquê. (p.135).
Para resolver esse impasse, podem ser feitas discussões em entrevistas
conjuntas com os pais e a criança para reduzir as tensões familiares; isso também dá
à criança a oportunidade de saber alguma coisa sobre seus pais substitutos antes
que a mudança seja feita, assim como eles tiveram a oportunidade de saber um
pouco sobre ela. Para crianças pequenas, um período de apresentações mútuas é
ainda mais valioso e necessário, pois nada assusta mais uma criança pequena do ser
deixada com estranhos. (p.135). Informações podem ser dadas por meio de
conversas e de visitas pessoais, incluindo fins de semana em que a criança fica com
os pais substitutos.

Alef

É difícil realizar um bom trabalho de colocação nos casos em que as crianças


são retiradas de suas casas pela justiça, por negligência, não a tempo de prepara-las
e ajuda-las a compreender porque estão sendo retiradas. Elas podem ficar
ressentidas e, certamente, não estarão prontas para aceitar os pais substitutos e
nem desejosa de fazê-lo (p.135). Estes fatos merecem atenção por parte dos
responsáveis pelas decisões judiciais.
Como o sucesso ou fracasso do processo de colocação depende da atitude da
criança, os profissionais dedicam mais tempo e atenção a discussão com ela de sua
situação atual e planos futuros. O profissional mostra que é neutro, realizando
entrevistas conjuntas com os pais e a criança e analisam toda a situação e plano
comum.
Para a criança, a separação e a colocação num novo lar acham-se
sobrecarregadas por emoções como medo, apreensão, raiva, desespero e culpa, o
que pode ser expresso sob tantas formas quantos forem seus mecanismos de
defesa. Para ajuda-la, precisa colocar seus sentimentos em palavras e elaborá-los,

32
para que possa realmente aceitar a situação, e a nova moradia. Precisa-se de muita
habilidade para lidar com o estado de confusão das crianças que tentam camuflar os
sentimentos (p.136). O desejo de voltar para casa pode encobrir o receio da volta,
uma calma exterior pode esconder um coração partido.
Uma separação mais lenta pode ocasionar uma dor mais visível, porém é
menos prejudicial porque dá tempo para que a criança acompanhe os
acontecimentos com as suas reações, elabore seus sentimentos por muitas e muitas
vezes, encontre maneiras de exteriorizar seus estados de espírito. As lágrimas que se
renovam a cada visita dos pais sempre afligem muito os adultos, que
freqüentemente pensam que é melhor proteger a criança destes acontecimentos
perturbadores. No entanto, é tão importante para elas, quanto para os adultos,
poderem chorar por alguma perda (p.137).

O filho de pais psicopatas

Este requer trabalho especial. Só quando alguém puder conversar com a


criança sobre seus pais sem julgá-los explícita ou implicitamente é que poderá ajudá-
la a pensar sobre o problema e a compreendê-lo. Uma das principais causas dos
conflitos da criança é a sua determinação em ver os pais como figuras boas e sua
correspondente relutância em admitir que os padrões das outras pessoas são
melhores. Só quando esse senso de lealdade é respeitado e compreendido, as
crianças podem se afastar gradualmente deles, quando eles representam más
influências (p.139).
De início, a criança não consegue admitir nenhum defeito em seus pais;
posteriormente, começa a oscilar entre a defesa e crítica, talvez com explosões de
sentimentos muito amargos. Mais tarde, a criança é capaz de assumir um ponto de
vista menos preconceituoso, vendo os pais como pessoas com limitações e também
com virtudes, podendo mesmo compreendê-los como pessoas infelizes, que
fracassaram na vida e tiveram uma infância difícil que nem a sua (p.140).
Ao elaborar seus sentimentos contraditórios e violentos, a criança deixa de ser
uma vítima e torna-se capaz de se ajustar à realidade brutal de que seus pais não
são bons para ela e que precisa buscar afeto e segurança em outra parte (p.140).

33
Por seu lado, os pais devem ser encorajados a compreender que eles detêm,
querendo ou não, devido à natureza dos sentimentos das crianças por eles, um
enorme poder sobre a felicidade dos filhos e não podem livrar-se deste poder
(p.140).
Os pais substitutos também precisam de ajuda para reconhecer os laços que
prendem as crianças a pais relapsos e para tolerar a fria ingratidão com a qual as
crianças reagem às suas gentilezas. (p.141).
As crianças, portanto, devem ser encorajadas a expressar sua afeição pelos
pais e sua raiva por terem sido negligenciadas, embora estas emoções pareçam
irracionais e contraditórias. (p.141). Os seres humanos nutrem muitas emoções
terríveis de assustadoras e tendem a desejar coisas exorbitantes; no contrapondo,
tem uma incrível capacidade para o bem. A natureza humana é capaz de superar os
fatos mais perturbadores e as adversidades mais apavorantes, se receber auxilio
adequado para encarar a verdade de frente (p.141).

A criança e o lar substituto

O fator isolado mais importante a ser considerado na seleção de pais


substitutos temporários é sua motivação, que deverá ser diferente na encontrada em
pais adotivos. Na colocação temporária, a criança deve manter contato com os
próprios pais que serão estimulados a visita-la. Em geral, casais sem filhos não são
muito indicados por terem maior probabilidade de se tornarem excessivamente
possessivos. Da certo com casais cujos filhos estão começando a crescer. Casais
mais jovens tem maior probabilidade de sucesso do que casais com mais de 60 anos.
Alem de selecionar o lar substituto temporário, é importante escolher a criança
e os pais adequados um para o outro.
Holanda: 20% das crianças preparadas e colocadas em lares preparados
apresentaram dificuldade de adaptação a nova família (crianças que não
tiveram contato com as próprias famílias ou relação profunda com a mãe –
sofreram privação severa) (p.143).

Condições favoráveis em lares substitutos:

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 presença de outras crianças no lar, principalmente irmãos; é importante que
meninas acima de 12 anos, sejam colocadas com outras crianças;
 diferença igual ou superior a quatro anos (a mais ou a menos) entre a criança
a ser encaminhada e os filhos ( do mesmo sexo) dos pais substitutos a
presença de criança do sexo oposto, porem da mesma idade, junto com a
criança encaminhada para um lar substituto.
 Crianças nervosas e ansiosas ficam melhor em lares tranquilos e
convencionais; crianças ativas e agressivas ficam melhor em lares mais livres
e abertos, onde exista companheirismo (são as mais difíceis em qualquer
lugar) (p.142); crianças introvertidas adaptam-se melhor (p.143).

Lusimar

Condições desfavoráveis que devem ser evitados:


 quanto mais velha for a criança, menos indicado envia-la para um lar
substituto, especialmente adolescentes com mais de 13 anos: não
dependem mais de cuidados pessoais diários e que não aceitam
prontamente pessoas estranhas no papel de pais;
 crianças com menos de 10 anos não se adaptam bem a pais substitutos
mais velhos, com mais de 45 anos;
 crianças da mesma idade e do mesmo sexo dos filhos dos pais substitutos
pode ser prejudicial; ela é desejada por ser útil como companhia para a
outra, e pouco desejada por si mesmo; da margem a atritos e é mais
provável que surjam situações de ciúmes e rivalidade;
 diferenças muito marcantes entre o padrão de vida e a classe social da
família substituta e os da verdadeira família constituem um peso para a
criança e provocam ressentimento ou ciúmes nos pais verdadeiros;
 criança seriamente desajustada deve ser quase recuperada antes de ser
colocada em lar substituto, pois se mostram incapazes de estabelecer uma
relação verdadeira com os pais substitutos; os casos fracassam quando as
crianças expressam sua ansiedade sob a forma de brutalidade e
agressividade.

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Crianças que não tiveram, em seus primeiros anos de vida, contato com as
próprias famílias ou uma relação profunda com a mãe apresentam dificuldades
maiores de adaptação à nova família. Como resultado, é provável que venha a
ocorrer uma trágica sucessão de transferências de um lar substituto para outro. As
mães substitutas não podem cuidar, indefinidamente, com carinho e amor, de uma
criança que não consegue, de maneira alguma, corresponder-lhes (p.144).
Essa inadequação de determinadas crianças para os lares substitutos torna
necessária a assistência em grupo (p.144).

Cap. 13
Atendimento em grupo

Existe uma concordância geral sobre o valor de pequenas instituições


especializadas em relação a aquelas que atendem um grupo numeroso de crianças.
Instituições são mais indicadas para os seguintes tipos de crianças:
a. crianças seriamente desajustadas que se mostram incapazes - ate
que melhorem – de estabelecer uma relação verdadeira com os pais
substitutos.
b. Adolescentes que não dependem mais de cuidados pessoais diários
e que não aceitam prontamente pessoas estranhas no papel de
pais, em parte porque podem facilmente manter uma relação
emocional com os próprios pais, mesmo quando estes estão
ausentes. Exceção: adolescente que esta terminando seus estudos
e começando a trabalhar e que pode adaptar-se a um lar substituto
como parte do processo de crescer e ganhar o próprio sustento.
c. crianças com mais de seis ou sete anos que precisam de assistência
em curto prazo.
d. crianças cujos pais se sentem ameaçados pela relação entre o seu
filho e os pais substitutos e que podem necessitar de um intervalo
antes de decidir se levam os filhos de volta para casa ou não.

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e. grupos numerosos de irmãos e irmãs que seriam, de outra forma,
divididos entre vários lares substitutos, com exceção aos bebes e
crianças pequenas que nestas instituições não podem receber os
cuidados individuais que necessitam. (p.145-146).
As instituições devem ser pequenas a fim de que se possam evitar as regras e
os regulamentos, inevitáveis num grande estabelecimento, e a fim de possibilitar que
as crianças estudem nas escolas locais e tomem parte em outros aspectos da
comunidade. As crianças devem ser divididas em pequenos grupos “familiares”, com
variação de idade e sexo, ficando cada grupo sob a responsabilidade de uma figura
materna (a mãe da casa) e, de preferência, também de uma figura paterna (o pai da
casa). Isso favorece o desenvolvimento da atmosfera emocional de uma família e
permite que os irmãos permaneçam juntos para que possam dar apoio e conforto
uns aos outros. Separar os irmãos por idade e sexo é trágico e destrói sua saúde
mental. Os grupos “familiares” devem permanecer pequenos, sendo indicado de 8 a
12 crianças, para que possa haver uma disciplina informal e individual, baseada nas
relações pessoais e não em regras impessoais. É possível que se percam a
flexibilidade e tolerância as diferenças individuais e que as crianças tenham pouca
chance de participar de criação de suas próprias condições de vida. Minar a iniciativa
e a eliminação da responsabilidade é uma influência muito negativa da vida em
instituições, o que pode ser evitado em grupos pequenos (p.146). Tenta-se fazer
com que as diferenças em relação a aquelas que estão em suas famílias sejam
menores possíveis.
Os “pais” da casa não devem tentar ser os donos das crianças e devem
incentivar os pais verdadeiros a fazerem visitas, promovendo as relações pais-filhos.
A mãe nestes lares precisam de treinamento e seu trabalho, considerado profissional
(p.147).
Crianças institucionalizadas que permanecem muito boazinhas e comportadas,
que obedecem passivamente as autoridades, tinham medo de contatos pessoais
íntimos e pareciam preferir viver num vácuo emocional. Evitavam tomar decisões e
faziam exigências materiais excessivas, o que só apareceu depois que deixaram a
instituição. As crianças desenvolvem dois padrões de moral: uma obediência externa
aos regulamentos e um padrão interno, que pode ser totalmente delinqüente, e que

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só se revela mais tarde. São crianças com personalidades doentes e incapazes de
afeto, embora pareçam normais. Foram crianças criadas em instituições desde muito
novas (p147-148).

Creches residenciais

É de extrema importância para o desenvolvimento social e intelectual das


crianças que participem ativamente na vida diária do grupo. Se uma mãe tem um
número muito grande de crianças para cuidar, torna-se muito exaustivo para ela
permitir que estas as “ajudem” a lavar, vestir, limpar, etc; é quase inevitável que
elas sejam excluídas das atividades e que se pretenda que elas fiquem quietas e
obedientes (p.150). Crianças institucionalizadas não podem participar do ciclo diário
da vida familiar e não tem nenhuma interação social continua com os adultos. Isto
pode levar a criança ficar frustrada e mostrar reações alternativas de apatia e
agressões violentas.
A fim de evitar as conseqüências mais graves, as crianças devem ter seus
próprios aposentos – para dormir, comer e brincar. Devem ser fornecidos muitos
brinquedos, dando às crianças oportunidades para guardarem alguns. (p.150).

Estabelecimentos para estudo ou centros de observação

Avalia-se a capacidade da criança para estabelecer relações com pais adotivos


e de se fazer uma previsão do seu desenvolvimento. Os profissionais devem
conhecer profundamente a criança para que possam tomar medidas adequadas em
relação a ela.
É essencial que exista sempre uma absoluta franqueza com a criança sobre
sua situação e seu futuro (p.153). Crianças com grande perturbação emocional
evidente estarão melhor num centro de tratamento psiquiátrico para elas. Aquelas
que são consideradas pela justiça como necessitadas de cuidado e proteção, podem
ser melhor observadas enquanto estiverem em seus lares. É pouco provável que
permanecer uma a duas semanas na condição insatisfatória faca diferença no futuro,

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a menos que os pais sejam vingativos. Uma transferência tranquila e bem planejada
facilitara o sucesso da outra colocação.
As crianças que ficam em centros de observação vivem um período de
insegurança e ansiedade. Os laços familiares e o senso de responsabilidade não são
incentivados através da remoção da criança (p.153).
Para a grande maioria das crianças os centros de observação são
desnecessários e constituem um perigo (p.154). Para crianças com menos de 5 anos
que não possuem nenhum lar ou cuja historia de vida é impossível de ser obtida, os
lares substitutos temporários podem ser uteis para se fazer uma avaliação seria da
capacidade da criança para estabelecer relações com pais substitutos e se fazer uma
previsão do seu desenvolvimento.
Os centros de observação provavelmente só são necessários de fato para
adolescentes delinquentes e que representam um perigo tanto para si mesmos
quanto para os outros.
A assistência grupal em creches residenciais sempre deve ser evitada para
crianças ate 6 anos aproximadamente; é mais adequada a crianças entre 6 e 12
anos, por períodos breves; serve para adolescentes, por períodos curtos e para
crianças desajustadas.

Cap. 14
Assistência às crianças desajustadas e doentes

Assistência às crianças desajustadas

Existem três grupos de crianças que vivem longe de seus lares e que
necessitam de assistência psiquiátrica especial:
(a) Aquelas que estão sofrendo de distúrbios psiquiátricos e que são
removidas de seus lares por agentes da lei, médicos ou assistentes sociais, para
tratamento ou para evitar que prejudiquem outras pessoas (desajustamento da
criança). Estes distúrbios podem ou não ser resultantes de más condições familiares.

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(b) Aquelas que sofrem distúrbios psiquiátricos causados por sua experiência
em instituições e lares substitutos.
(c) Aquelas cujos distúrbios resultam de experiências desagradáveis em seus
próprios lares, que foram a causa da sua necessidade de assistência – por exemplo,
crueldade e negligência afetiva (inadequação do lar).
Só pode se admitir que a criança seja removida do lar como ultimo recurso e
como reconhecimento do fracasso, pois a remoção em si jamais pode solucionar o
conflito emocional básico. O problema real fica mascarado e se cria novos,
retornando a criança as mesmas condições de onde veio. Só se pode admitir que a
criança será removida para seu próprio bem, se os profissionais envolvidos tiverem
um plano viável em longo prazo para ela. Sem um plano desta natureza, sua
remoção produzirá simplesmente mais uma criança sofrendo privação.
Os casos de personalidade mais agressivas e delinqüentes precisam, em
primeiro lugar, receber auxílio para conseguirem um melhor ajustamento social.
As crianças devem ser divididas em pequenos grupos, cada qual com uma
pessoa responsável que faça o papel de mãe ou de pai. Quanto menores forem as
crianças, menores devem ser os grupos.
Nenhum profissional da área recomenda que se agrupem mais de dezesseis
crianças numa casa, mesmo no caso de adolescentes.
Como no caso das crianças normais, as desajustadas devem continuar em
contato com seus pais, recebendo visitas e visitando-os nos feriados.
Quanto aos profissionais, como sua tarefa consiste em estabelecer
relacionamentos humanos adequados com crianças, cuja capacidade para se
relacionar está imensamente prejudicada, torna-se evidente a necessidade de um
treinamento em psicologia do desenvolvimento e psicologia das relações humanas
(tanto no sentido prático quanto teórico) para aqueles que irão cuidar.
Com essa formação, fica facilitado aos profissionais que suportem os três
sintomas que é preciso compreender na criança - a hostilidade, o luto e o
comportamento regressivo – e que possam lidar com os mesmos.
Os “pais” devem ter o direito de aceitar ou recusar uma criança, pois não se
pode conseguir um relacionamento pessoal caloroso, com tolerância a
comportamentos muito difíceis, mediante uma simples ordem (p.158).

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Os métodos de disciplina em centros de tratamento psiquiátrico devem ser
informais, relativamente flexíveis e baseados essencialmente em relações pessoais
íntimas entre adultos e crianças, ao invés de regras e punições (p.159).

O tratamento

Existem três aspectos a considerar:


(a) O uso de todo o grupo social para curar as crianças – as outras
crianças podem, com seu comportamento, ajudar uma recém chegada a
tomar consciência de sua conduta e de suas fantasias – a experiência real
com o grupo, pode promover seu restabelecimento;
(b) O desenvolvimento de uma relação especial entre a criança em
um membro da equipe de trabalho; a relação com o adulto pesa no
tratamento.
(c) O fornecimento de psicoterapia ou aconselhamento individual –
que pode ser feito com o profissional que lidou com o caso desde o inicio, que
estabeleceu relação tanto com a criança como com seus pais e pode ter inicio
antes dela sair de casa e continuar depois do retorno, sendo que a
continuidade é de fundamental importância (p.159).

A relação da criança com a pessoa que trata dela e com a “mãe da casa” pode
passar por todo o tipo de comportamentos desajustados – alheamento e recusa de
contato, hostilidade, comportamento excessivamente infantil e dependente, e uma
mistura de todos eles. Destes três, o básico, que foi reprimido devido à frustração, é
o de receber cuidados maternos. Uma vez que a criança tenha sido capaz de confiar
suficientemente numa figura materna a ponto de se permitir expressar este desejo e
regredir a um relacionamento infantil, foi dado um grande passo, embora, o
comportamento da criança possa parecer deplorável (p.160).
Elas precisavam não tanto de substitutos para os seus próprios lares, mas de
experiências familiares primárias satisfatórias – na qual o meio se adapta às
necessidades especiais do bebê ou da criança pequena e sem a qual não se
formarão as estruturas básicas para a saúde mental. Se não houver uma pessoa a

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quem amar e odiar, o bebê não poderá vir a descobrir que ama e odeia a mesma
pessoa, e assim, não irá descobrir o seu sentimento de culpa e o desejo de reparar e
reconstruir (p.161).
Se não houver um meio ambiente físico e humano limitado que possa
reconhecer, o bebê não poderá descobrir até que ponto suas idéias agressivas não
conseguem, de fato, destruir nada e, conseqüentemente, não poderá aprender a
diferença entre fantasia e realidade. Sem um pai e uma mãe que estejam juntos e
assumam, conjuntamente, a responsabilidade por ela, a criança não poderá descobrir
e manifestar o seu desejo de separá-los e nem experimentar o alívio por não
consegui-lo. O desenvolvimento emocional dos primeiros anos é complexo e não
pode ser ignorado. Todo bebê precisa intensamente de um ambiente até certo ponto
favorável para que possa se sair bem nos primeiros estágios essenciais de seu
desenvolvimento (p.161).

Assistência a crianças doentes

Os princípios de prevenção contra a privação infantil aplicam-se as crianças


fisicamente doentes como as sadias. Sr. James Spencer trata do isolamento, da
desesperança e da insegurança das crianças que permanecem em hospitais por
muito tempo.
Em casos de crianças que necessitem de cuidados especiais com a saúde,
como sempre, a primeira solução deve ser manter a criança em seu lar sempre que
possível.
Nos casos em que as crianças precisam ir para o hospital, muita coisa pode
ser feita para diminuir o choque emocional. No que se refere às crianças com menos
de três anos, Sir James considera que a mãe deveria ser internada junto com a
criança, sempre que possível (p.164).
Permanecer no lar, é uma vantagem tanto para a criança, como para a mãe,
pois ao passar por essa experiência e sentir que foi responsável pela recuperação de

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seu próprio filho, ela estabelece uma relação com este e uma confiança em si mesma
que constitui um prognóstico favorável para o futuro (p.164).

Cap. 15
A administração dos serviços de assistência a criança e problemas a
serem resolvidos

A administração dos serviços de assistência a infância

Um serviço de assistência à criança deve ser, em primeiro lugar, um serviço


que ofereça auxílio profissional aos pais, inclusive aos pais-problema, de forma a dar-
lhes condições de proporcionarem uma vida familiar estável e feliz com seus filhos
(p.168). Deve também cuidar da mãe solteira e ajuda-la a criar um lar para seu filho
ou a decidir por sua adoção, deve ajudar a conseguir parentes ou vizinhos que
possam substituir os pais em uma emergência e providenciar locais permanentes
para as crianças quando tudo ou mais falhar (p.169). São necessários especialistas
em recuperar as famílias-problema, em adoção, em assistência em longo prazo e
profissionais gerais, todos ocupados com o mesmo problema, realizando a união
entre teoria e pratica e associados com os serviços de saúde mental.

Pesquisas sobre os efeitos prejudiciais da privação (Mary Ainsworth)

Cap. 16
Pontos controversos

São 8 os pontos controversos:


- o problema da definição do que seja privação de mãe ou dos pais (p.179)
todas as experiências de separação tendem a ser perturbadoras para uma
criança que tenha idade suficiente para discriminar entre sua mãe e outras pessoas,
e que tenha estabelecido uma ligação com ela; é possível distinguir uma relação
descontinuada, de uma insuficiente. As descontinuidades nas ligações podem ter
efeitos prejudiciais sobre o desenvolvimento, mas estes efeitos não são

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necessariamente iguais aos efeitos da insuficiência. Contudo, surgiu alguma confusão
porque freqüentemente a descontinuidade e a insuficiência ocorrem juntas, e
também porque repetidas rupturas dos vínculos com figuras maternas podem
resultar em efeitos negativos aparentemente bastante similares, em sua natureza e
amplitude, aos efeitos resultantes da insuficiência rigorosa e prolongada da
interação.
O termo “privação da mãe” é empregado, por vezes, para fazer referência,
também, a quase todos os outros tipos de interação entre mãe e filho que, acredita-
se, possam ter efeitos negativos, tais como: rejeição, hostilidade, crueldade,
indulgência excessiva, controle repressivo, falta de afeto.
A complexidade das condições para o termo “privação da mãe” tem sido fonte
de confusão para muitos. Para que se possa evitar essa confusão e a consequente
controvérsia improdutiva, deve-se manter, daqui por diante, a distinção entre (a)
insuficiência de interação implícita a noção de privação; (b) relações distorcidas, sem
referência à quantidade de interação presente; e (c) descontinuidade de relações
provocada pela separação.
Como a criança reage a privação depende de sua idade no momento da
separação; da natureza de suas experiências (inclusive de suas experiências com a
mãe) antes da separação; da duração da separação; da medida em que figuras
maternas substitutas estão presentes para interagir com a criança; da presença de
circunstâncias traumáticas, quer em torno da própria separação, quer complicando a
experiência da criança, uma vez terminado o período de separação.

Cap. 17
Conclusões de pesquisas recentes

É feito um levantamento de inúmeras pesquisas que tratam de separação e


perdas da figura materna.
Não só crianças institucionalizadas sofrem privação materna. O grau de
privação que a criança sofreu na sua própria casa, antes da separação, pode ter
conseqüências profundas sobre o grau de desajustamento que ela apresenta apos
ser separada dos pais.

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Concluindo-se, as crianças que sofrem privação, quer em seus próprios lares,
quer fora deles, são uma fonte de contaminação social tão real e grave quanto os
portadores de difteria ou febre tifóide. E, da mesma forma que as medidas
preventivas reduziram tais doenças a dimensões mínimas, uma ação objetiva pode
reduzir grandemente o número de crianças com privação em nosso meio e,
conseqüentemente, o desenvolvimento de adultos que poderão reproduzi-las.

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