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Bowlby, John. Cuidados Maternos e Saúde Mental, S. Paulo, Martins Fontes, 1988.
“Uma criança precisa sentir que é objeto de prazer e de orgulho para a sua
mãe, assim como uma mãe necessita sentir uma expressão de sua própria
personalidade na personalidade de seu filho. Ambos precisam se sentir
profundamente identificados um com o outro. Os cuidados maternos com uma
criança não se prestam a um rodízio: trata-se de uma relação humana viva, que
altera tanto a personalidade da mãe como a do filho”
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E estudo redundou neste livro que trata do filho não desejado, da preparação
das mulheres para serem mães, etc., sendo que Bowlby ampliou o tema do relatório
inicial para algo que dizia respeito ao bem estar de toda a sociedade.
Parte 1
Cap. 1
Algumas causas da doença mental
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Com relação aos pais, seu papel seria o de dar condições materiais (cuidados
indiretos) para que suas esposas possam dedicar-se sem restrições aos cuidados do
bebê (cuidados diretos); e, com seu amor e companheirismo, dar apoio emocional
à mãe, ajudando a manter um clima de harmonia e satisfação no qual o bebê ira se
desenvolver (p.15).
-“privação parcial” - a criança vive com a mãe (ou uma substituta permanente),
não encontrando os cuidados amorosos que necessita, seja por ser
afastada de sua mãe, ou porque, vivendo em sua casa, esta é incapaz de
proporcioná-los, não tendo atitudes satisfatórias para com ela.
Essa privação é atenuada se a criança passar a ser criada por uma pessoa a
quem já aprendeu a confiar e a quem já conhece, se sente segura; mas é
acentuada se a “mãe substituta”, embora amorosa, for uma estranha.
Tem-se desde mães que deixam o filho chorando por horas porque o livro sobre
bebe o recomenda, ate mães que rejeitam o filho totalmente (desde ignorância ate
hostilidade inconsciente da mãe, com origem em suas próprias experiências infantis).
Privação parcial da ainda à criança alguma satisfação. Opõem-se à “privação quase
total”, bastante comum nas instituições, onde freqüentemente uma criança não
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dispõe de uma determinada pessoa que cuide dela de forma pessoal e com quem ela
possa sentir-se segura (p.14).
Constitui a maioria dos casos que chegam a aqueles que trabalham com orientação
infantil, cujo trabalho é de auxiliar a mãe a perceber seus verdadeiros
sentimentos pelo filho e as origens, em sua própria infância, destes
sentimentos.
-“privação total”: a criança perdeu a mãe por morte, doença ou abandono e não
existem parentes para cuidar dela; e/ou é retirada da mãe e entregue a estranhos
pela Justiça; para as crianças que sofrem privação total, falta exatamente o tipo de
cuidados que uma mãe dá sem pensar (expressão de afeto). “Estas crianças
foram privadas de todas as carícias e brincadeiras, da intimidade da
amamentação através da qual a criança conhece o conforto do corpo
materno, dos rituais do banho e do vestir com os quais, através do orgulho
e carinho materno, do toque, o bebê apreende seu próprio valor. O amor e o
prazer que a mãe tem com ele representam seu alimento espiritual”.
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Bowlby recomenda que, de forma alguma, a criança deveria ser deixada com
pessoas que não conhece e, sim, se deveria dar preferência a parentes e vizinhos (p.
17 -18).
Cap. 2
Como estudar os danos produzidos pela privação:
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- “Quando uma criança é privada dos cuidados maternos, o seu
desenvolvimento físico, intelectual e social é quase sempre retardado e podem
aparecer sintomas de doença física e mental”; todas as crianças com menos de sete
anos, desde a primeira semana de vida do bebe, estão sujeitas a sofrer efeitos
perniciosos; entretanto, um bom numero de crianças entre cinco e sete/oito anos são
incapazes de se adaptar satisfatoriamente a separações, especialmente se forem
repetitivas e sem preparo, e não são emocionalmente autossuficientes; a saudade de
casa é predominante e ocorre um declínio na capacidade de concentração; há
aumento de enurese noturna, sintomas nervosos e delinquência.
- Algumas crianças sofrem danos graves e permanentes (p.22), dependendo de com
que idade ela perdeu os cuidados maternos, do tempo que ficou privada dos
cuidados e do grau de privação.
- Os efeitos perniciosos da separação da mãe podem ser observados desde as
primeiras semanas de vida de muitos bebês. “O desenvolvimento da criança que vive
em instituições está abaixo da média desde a mais tenra idade” (p. 23), como por
exemplo, vocaliza menos do que as cuidadas na família, desde dois meses de idade.
- A criança “separada” típica é indiferente, parada, infeliz, não reage a
um sorriso ou a um murmúrio (forma de depressão). O tom emocional é de
apreensão e tristeza. A criança se afasta de tudo a seu redor, não há qualquer
tentativa de contato com um estranho, e nenhuma reação positiva se esse estranho
a toca. Há um atraso nas atividades, a falta de sono é comum e todos têm falta de
apetite. A criança perde peso e apanha infecções facilmente. Isso é
característico de bebês que tiveram um bom relacionamento com suas
mães até os nove meses e, então, subitamente, são separados delas sem
que lhes seja proporcionada uma substituta adequada. Após recuperar a
mãe: começam a desaparecer os sintomas, a criança fica mais animada e
ativa, o peso aumenta e a cor melhora.
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recuperadas, podem ficar feridas na psique que, mais tarde, podem
reabrir-se.
criança com dois ou três anos de idade, separada da mãe - pode
regredir a comportamentos de bebê; em geral, as mães
substitutas são completamente rejeitadas, ficando a criança
inconsolável por vários dias.
crianças de cinco a oito anos, ao contrário do que acontece com
grupos mais jovens, quanto melhor tiver sido a relação delas com
a mãe, melhor será sua tolerância à separação. A criança
insegura, que tem dúvidas sobre o amor da mãe por ela, fica
extremamente angustiada. A crença de que foi mandada embora
por sua maldade conduz à angústia e ao ódio.
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de desenvolvimento pouco saudável (p.28). Este quadro pode ser modificado com a
presença de uma mãe substituta (p.30).
- Cuidados substitutos, embora não totalmente adequados, são indispensáveis e
sempre deveriam ser proporcionados (p.27).
- Crianças entre dois e três anos de idade, principalmente as que tiveram relação
mais intima e satisfatória com suas mães, rejeitam inicialmente as mães substitutas,
ficando inconsoláveis, gritando, gemendo ou agitadas, por vários dias ou semanas;
posteriormente, tornam-se apáticas até se interessar pelo novo ambiente.
- Podem apresentar regressão a comportamentos de bebê; entretanto, as criadas em
instituições, sem uma figura significativa de cuidados, podem não apresentar
nenhuma reação deste tipo (p.31).
- Embora a recuperação seja rápida se a criança retorna a mãe, não pode ser
descartada a possibilidade de que tenham ficado algumas feridas na psique, que
mais tarde podem reabrir; alguns observadores acreditam que, depois de três meses
de privação, ocorre uma mudança qualitativa após a qual a recuperação dificilmente
é completa.
- “A dificuldade para, no futuro, se tornarem bons pais é, talvez, para as crianças, o
feito mais prejudicial da privação” (p.32).
Quanto melhor tiver sido a relação das crianças mais velhas com a mãe,
melhor sua tolerância a separação. Uma criança feliz, segura do amor da mãe, não
fica extremamente angustiada. A crença de que foi mandada embora por causa de
sua maldade conduz a angustia e ao ódio, e estes criam um circulo vicioso nas
relações da criança com seus pais (p.33).
Cap. 3 e 4:
Como estudar os danos produzidos pela privação/ o que a
observação demonstrou
Observando crianças mais velhas que sofreram privação quando
pequenas
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“As crianças que cometeram diversos crimes, que pareciam não ter qualquer
sentimento por ninguém, que mostravam incapacidade para dar ou receber afeto, e
com as quais era muito difícil lidar, tinham tido relacionamento profundamente
perturbado com suas mães nos primeiros anos de vida” (p.35).
Características típicas de crianças mais velhas que sofreram cisão na relação
mãe-filho (p.36):
Relacionamento superficial; incapacidade para receber e dar afeto;
Nenhum sentimento verdadeiro; nenhuma capacidade de se interessar
pelas pessoas ou de fazer amizades profundas;
Inacessibilidade exasperante para os que tentam ajuda-la;
Nenhuma reação emocional em situações em que isto seria normal –
uma estranha falta de preocupação;
Falsidade e evasivas, frequentemente sem motivos;
Furtos; mentiras;
Falta de concentração na escola;
Agressividade e sexualidade precoce;
Hiperatividade, tremores e ecoprese.
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Estudos constataram que crianças que cometeram diversos crimes, que
pareciam não ter qualquer sentimento por ninguém e com as quais era
muito difícil lidar, tinham tido um relacionamento muito perturbado com
suas mães nos primeiros anos de vida. O roubo contumaz, a violência, o
egoísmo e a má conduta sexual são algumas de suas características menos
agradáveis. Quanto mais completa a privação nos primeiros anos, mais
indiferente à sociedade e mais isolada uma criança se torna, enquanto que,
quanto mais intercalada a sua privação por momentos de satisfação, mais ela se
volta contra a sociedade e padece de sentimentos conflitantes de amor e ódio pelas
mesmas pessoas.
Rogerio Raduan
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nos primeiros meses não pode servir de desculpa para se permitir que ela ocorra
(p.53).
“Os efeitos da privação podem ser percebidos em casos de adultos cuja
vida social consiste uma série de relacionamentos com pessoas mais velhas,
que são sempre uma mãe substituta....necessita estar constantemente em contato
com uma pessoa da qual exige aquilo que lhe foi negado em sua experiência original
com a mãe...são feitas exigências excessivas à pessoa escolhida, para satisfazer as
privações do inicio da vida ...como exigências excessivas de alimentos, dinheiro e
privilégios” (p.54).
A única medida de sucesso consiste em colocar a criança morando por muito
tempo com um adulto que tenha um insight do problema, seja competente para lidar
com ele e disponha de tempo ilimitado para dedicar-se a criança.
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Para que o desenvolvimento mental se dê regularmente, parece ser
necessário que a mente em formação seja exposta, por um determinado
período crítico, à influência de um organizador psíquico – a mãe que assim
age por sua simples presença e ternura, funcionando como sua personalidade e
consciência (p. 59 -61).
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A criança quer se sentir segura e amada. Se a atitude do cuidador não é
compatível com estes desejos, gera graves conflitos íntimos, angustia e depressão, o
que é um obstáculo a sua aprendizagem social futura.
Outro principio da teoria da aprendizagem é que o individuo só pode adquirir
uma capacidade se sentir alguma amizade por seu professor e puder identificar-se
com este. Nas crianças que sofrem privação, esta atitude positiva em relação a mãe
ou esta ausente ou se acha misturada com um profundo ressentimento por terem
sido abandonadas. Os pais tornaram-se pessoas odiadas, o que é manifestado em
forma de birra e de fantasias de violência e, em crianças mais velhas, em palavras.
Rogerio Raduan
Crianças institucionalizadas:
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fechando-se em si, para evitar maiores frustrações (p.63); pode levar,
em ultima analise, ao suicídio como alternativa ao assassinato dos pais.
a perda da capacidade de estabelecer relações afetivas e de considerar
outras pessoas, e o desejo reprimido de amor persistindo, resulta em
comportamentos como relações sexuais promíscuas e furtos.
Os cuidados maternos nos 1os. anos de vida são essenciais para a saúde
mental. Medidas de caráter sociais, preventivas, quanto ao desenvolvimento da
personalidade, podem ser tomadas e são importantes para o futuro. Para serem bem
planejadas precisamos conhecer o que ‘e essencial e o que não ‘e (p.65).
O desenvolvimento da personalidade ‘e resultante de uma interação entre o
organismo em crescimento e outros seres humanos. O individuo assimila seu meio
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ambiente social e assim vai assemelhar-se a ele ao crescer, embora permaneça
sendo ele próprio (p.65).
“Não se deve esquecer que mesmo maus pais, que negligenciaram seus
filhos, estarão proporcionando-lhes muita coisa: excetuando-se os piores
casos, eles fornecem alimentação e abrigo, confortando-os na angústia, ensinando-
lhes pequenas coisas e, acima de tudo, proporcionam a continuidade nos cuidados
humanos, indispensável para que uma criança se sinta segura (a não ser que os
pais a rejeitem totalmente); sabe que tem algum valor para alguém que se
empenhará em cuidar dela, mesmo que inadequadamente, até que ela consiga se
arranjar por si mesma” (p.74).
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A partir daí, pode-se compreender por que as crianças se desenvolvem melhor
em maus lares do que em instituições e estabelecem uma forte ligação com maus
pais (p.74).
1/3 dos indivíduos que passaram cinco ou mais anos em instituições se
tornaram socialmente incapacitados na vida adulta, sendo que uma das principais
funções sociais de um adulto ‘e a de pai e mãe. Inúmeros indivíduos devem ter tido
filhos e muitas destas crianças devem ter sofrido negligencia e privação. Circulo
vicioso: fica evidente que as crianças que sofreram privação afetiva tornam-
se pais incapazes de cuidar de seus filhos (p.75).
A conclusão a que se chega é de que pode existir algo pior que um
lar insatisfatório: a inexistência de um lar.
“As crianças sentem que suas raízes estão na sua família de origem, onde
talvez tenham sido negligenciadas e maltratadas, mostrando-se ressentidas diante de
criticas a seus pais. As tentativas para se “salvar” uma criança de um ambiente ruim,
oferecendo-lhe novos padrões, freqüentemente são inúteis, pois bem ou mal, é a
seus pais que ela dá valor e é com eles que se identifica. Apesar de toda a
negligência, um dos pais quase sempre e de muitas formas, foi bom para a criança
desde o seu nascimento e, para ela existem muitas razões para se sentir grata. De
alguma forma, sua mãe cuidou dela toda sua vida, e até que outra pessoa se mostre
tão ou mais confiável, a criança não poderá confiar nessa pessoa” (p. 74).
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Cap. 8
Por que as famílias fracassam?
Hyani
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e. os pais nunca tiveram parentes, ou perderam o contato com suas famílias
ou porque foram criados numa série de lares substitutos ou instituições
desde os primeiros anos. (p.89-90).
Hyani
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As forças atuantes no fracasso ou sucesso da família são:
o fator econômico – inclui possibilidades ou impossibilidades de a família se
sustentar adequadamente;
o fator social – maior ou menor amparo do sistema social em que o
indivíduo está inserido;
o fator médico-saúde física e mental dos pais, que determinará o uso que
será feito das oportunidades oferecidas. (p.83).
Distúrbios psiquiátricos que conduzem à dissolução do grupo familiar
natural ou que impedem o seu funcionamento efetivo, contribuem para o
aparecimento de diversas condições adversas:
- negligência: se refere não só aos cuidados físicos, causada com
freqüência por fatores econômicos, enfermidade da mãe ou ignorância,
mas também ao aspecto emocional (emocionalmente famintas),
resultante da instabilidade e da doença emocional dos pais; deficiência
mental pode contribuir para ambos os casos (p.84).
É bastante comum, em um dos pais ou ambos (frequentemente a mãe),
certa instabilidade de temperamento que se expressa através da
inconstância, irresponsabilidade, imprevidência e desordem no lar. Os
problemas emocionais dos pais são a principal causa da necessidade de
assistência ‘a infância. A incapacidade básica de levar em conta qualquer
coisa que não esteja relacionada com o momento presente contribui para
que estes pais não reajam à educação e a outras medidas destinadas a
ajudá-los. O âmago da questão é a personalidade desajustada e
incorrigível (p.86).
Além destas desordens irreversíveis de personalidade que podem conduzir
a uma total negligência, encontram-se os estados passageiros de
ansiedade e depressão que, quando presentes na mãe, podem levá-la a se
desinteressar pelos afazeres domésticos. Seu amor pelos filhos pode
desaparecer ou ficar mesclado com impaciência e severidade. A privação e
a infelicidade sofridas pelos pais em sua própria infância seriam a causa de
seus problemas atuais (adulto incapaz de afeição) (p.84-87).
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- Crueldade: a crueldade física é rara e não existem estudos sobre a
personalidade e infância dos pais acusados; crianças cruéis com animais e
outras crianças são profundamente desajustadas, quase sempre como
resultado de intensa privação ou rejeição. É um traço característico, apesar
de incomum, do delinqüente incapaz de afeto. Algumas formas de doença
mental têm como característica a ocorrência de explosões ocasionais de
crueldade sem sentido e aparece como resultado de privação ou rejeição
durante a infância (p.88).
- enfermidade prolongada de um dos pais: a doença mental, mais do
que a doença física, é um fator que leva à existência de crianças que
necessitam de atendimento, pois a enfermidade psicológica da mãe é,
muitas vezes, a causa subjacente de muitos casos de crianças
negligenciadas (p.88).
- ausência de controle parental (= a desajustamento): o processo legal
pode retirar as crianças de seus pais neste estado, com ou sem o
consentimento deles.
- casamento infeliz, abandono do lar, separação ou divorcio: para que os
filhos sejam bem cuidados na família, é preciso um casamento feliz e
estável, que depende de três fatores: felicidade dos pais do casal, infância
feliz e ausência de conflitos com a mãe. De todas as condições relativas à
infância dos sujeitos, a mais relevante para a felicidade de seus
casamentos é a felicidade ou infelicidade do casamento de seus pais.
Crianças que sofrem privação e são infelizes, tornam-se maus pais.
Cap. 9
A prevenção do fracasso familiar
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Como o método básico para evitar que uma criança sofra privação da mãe
é garantir que ela receba os cuidados de sua própria família, deve-se estimular todas
as medidas que contribuem para isto (legislação). As medidas, em geral, consistem
numa assistência ativa aos pais em termos econômicos, sociais e médicos. Se uma
comunidade da valor a suas crianças, ela deve proteger seus pais.
Quanto ao auxílio médico-social, embora o auxilio econômico seja, com
frequência, essencial, muitas vezes ‘e inútil se não houver a ajuda quanto aos
conflitos no lar, a enfermidade física ou mental decorrendo em uma personalidade
desajustada. Muito se pode ajudar as mães no estabelecimento de um
relacionamento de confiança e afeição mutua, do qual dependera a saúde mental
futura da criança. Os conflitos no lar, freqüentemente, são decorrentes de problemas
infantis não resolvidos que influem na relação entre os parceiros. Os distúrbios de
personalidade são os fatores mais freqüentes e que mais contribuem para os
desajustes no casamento. Não só os sintomas devem ser tratados, mas também as
causas que estão por trás dos problemas. As mesmas considerações se aplicam à
situação na qual existe um conflito entre pais e filhos, que constitui, com freqüência,
uma causa do afastamento da criança de casa. (p.97).
Os problemas que se mostram insolúveis aos treze anos podem ser
trabalhados rápida e eficazmente aos três anos porque os problemas dos
adolescentes muitas vezes são apenas ecos de conflitos que comunicaram nos
primeiros anos. (p.99).
Nos casos de crianças mais velhas - 8 anos ou mais - se a criança for
desajustada, a internação em algum colégio pode ser válida, pois poderá ser positivo
para ela permanecer parte do ano longe das tensões que provocaram seus
problemas. O colégio interno tem a vantagem de preservar todos os laços familiares
importantes para a criança; como o colégio interno faz parte da estrutura social
comum, a criança que vai para o internato não se sente diferente das outras.
Aliviando os pais durante parte do ano da responsabilidade pelo filho, o programa da
a possibilidade de desenvolverem atitudes mais favoráveis em relação as crianças no
tempo restante (p.99).
Como resultado dos auxílios prestados, podemos dividir as famílias-
problema em três grupos:
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a. ao receberem auxílio-médico e econômico, podem se tornar,
novamente, unidades sociais afetivas;
b. embora necessitem, em certo nível, de um auxilio permanente,
estão aptas a reagir favoravelmente;
c. todas as medidas sociais comuns são inúteis. (p.99-100).
Por isso, é fundamental saber discernir os tipos de família para que não se
perca tempo e energia com famílias em que a ajuda é impossível com relação ao
auxílio à saúde, os pais e, em particular, as mães de crianças pequenas, devem
receber prioridade se é que se pretende evitar o fracasso familiar. Desta forma, faz-
se um programa preventivo de higiene mental. (p.100).
Compreende-se que a principal dificuldade das pessoas que sofrem de
alguma doença mental é a sua incapacidade de estabelecer e manter relações
humanas de confiança, amizade e cooperação com os outros. O desenvolvimento
desta capacidade é determinado pela qualidade da relação da criança com seus pais,
principalmente nos primeiros anos de vida. Considera-se o programa de higiene
mental em longo prazo como sendo, predominantemente, a assistência psiquiátrica
individual às crianças e aos pais e auxilio as famílias que se encontram com
dificuldades, evitando o afastamento das crianças do lar. Assim, talvez, se consiga
que as crianças se tornem homens e mulheres com saúde e segurança econômica,
capazes de proporcionar uma vida familiar estável e satisfatória para seus filhos.
Desta forma, podemos esperar promover a saúde mental e, ao mesmo tempo,
acabar com muitos dos fatores responsáveis, atualmente, pela privação da mãe.
(p.102-103).
Cap. 10
Ilegitimidade e privação
Crianças socialmente rejeitadas em função da ilegitimidade
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Hyani
Pesquisas mostram que uma jovem que tem o filho ilegítimo não aceito
socialmente, frequentemente possui antecedentes familiares insatisfatórios, tendo
desenvolvido uma personalidade neurótica. O filho constitui um sintoma de sua
pouca saúde psíquica. Muitas apresentam um forte desejo inconsciente de
engravidar, por vezes motivado pela necessidade de ter um objeto de amor que
nunca tenham tido e, por vezes, pelo desejo de usar a vergonha de ter um filho
ilegítimo como uma arma contra pais dominadores, assim como contra si mesmas,
por um desejo de autopunição enraizado e profundo. (p.106).
Assim acontece, também, com a promiscuidade, cujos casos se referem a
pessoas imaturas emocional, sexual e socialmente, que necessitam e buscam afeto,
e que vêm de lares desfeitos. (p.107).
Foi concluído de pesquisa com 30 mães solteiras que tomariam uma
decisão final quanto a delegar o poder familiar ou não de seus filhos
institucionalizados (NY), que era possível prever que a mãe só iria manter seu filho
ilegítimo consigo se pelo menos quatro das condições a seguir estiverem presentes:
- se a mãe tinha uma personalidade estável;
- se tinha uma atitude sensata em relação ao seu problema;
- se amasse e aceitasse seu filho;
- que tinha, de fato, se envolvido afetivamente com o suposto pai da criança; se
tinha uma família que não insistia que ela abrisse mão de seu filho. (p.111).
Sobre a indecisão das mães que não desistem e não assumem a
responsabilidade pelos filhos, uma assistente social fala que “a criança fica sem
dono”. “Sua mãe a visita ocasionalmente. Pode lhe trazer presentes. Quando alguém
lhe pergunta sobre seus planos em relação ao filho, ela sempre repete que algum dia
o levará para casa, mas esse dia parece nunca chegar. Quando a sociedade se
convence da necessidade de forçar a entrega da criança, esta provavelmente já está
crescida demais para será adotada com facilidade”. (p.112).
Os profissionais devem evitar sentimentalismo e avaliar o que é melhor
para a criança e para a mãe, elaborando um plano: “muitas vezes, a criança era
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tomada de sua mãe solteira como uma forma de castigo por seus pecados; em
outras, era obrigada a assumir a responsabilidade de cuidar daquilo que ela, tão
irresponsavelmente, produziu. O problema deve ser analisado sem preconceitos”
(p.113).
Cap. 11
Famílias substitutas
I – Adoção
Cadastro
“O paradoxo central do trabalho com crianças que sofrem privação da
mãe é que existem milhares de lares sem filhos, clamando por uma criança, e
centenas de estabelecimentos cheios de crianças que necessitam de uma vida
familiar”. (p.115).
O processo de adoção envolve três tipos de pessoas: a mãe, o bebê e os
próprios pais adotivos. Deve ser feito um trabalho especializado com cada um deles,
tarefa bastante difícil:
- a mãe: precisa de auxilio para ser capaz de chegar a uma decisão segura o
que requer habilidade por parte do profissional para estabelecer uma relação de
confiança com ela, para compreender sua personalidade e sua situação social, e para
ajuda-la a enfrentar os fatos desagradáveis de uma maneira construtiva;
- o bebe: o profissional deve ter capacidade para avaliar seu provável
desenvolvimento, sobre a qual existem crenças infundadas;
- os pais adotivos: É preciso saber prever o modo como um casal irá cuidar da
criança, não havendo, em geral, qualquer indicação direta sobre as capacidades do
mesmo, e ajuda-los durante o período inicial de adaptação; quanto mais nova for a
criança, mais a sentirão como sendo deles e mais fácil lhes será identificar-se com
sua personalidade. (p.115-116).
Tudo deve ser resolvido o mais rapidamente, tanto para a criança e sua saúde
mental, logo após o nascimento, como para os pais adotivos. Caso o bebê
permaneça com a mãe, é possível que ela o rejeite e negligencie; se for colocado em
alguma creche ou lar substituto, seu desenvolvimento poderá ser prejudicado de
alguma forma (p.116).
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Os argumentos contra uma adoção muito precoce são:
- é preciso que a mãe se decida, pelo certo, muito rapidamente (é o que mais pesa):
ela deve estar convicta de ter feito a melhor escolha e isso pode levar algum tempo;
além disso, a menos que haja uma certeza razoável de que esta mãe poderá vir a
cuidar de seu filho, ela não deve se apegar, pois a separação será, então, muito mais
dolorosa; fatores importantes que podem ser observados antes do nascimento da
criança: estabilidade de personalidade, atitude da mãe diante do problema e com
relação ao pai da criança – se forem negativos não se transformarão com o
nascimento da criança e é pouco provável que a mãe consiga cuidar bem de seu
filho); há mães que preferem não ver o filho o que deve ser respeitado.
- o bebê não poderá ser amamentado no seio: mães não desejam amamentar seu
filho, este fator não faz diferença.
- as chances de avaliar o provável desenvolvimento do bebê (argumento mais fraco
de todos): os vários testes de desenvolvimento não podem, realmente, prever o
futuro desenvolvimento mental da criança e a institucionalização pode vir a impedir o
desenvolvimento do bebe; sua saúde mental dependera das relações emocionais que
ele tenha oportunidade de desenvolver. (p.116-117).
Do ponto de vista psiquiátrico e social, a adoção nos dois primeiros anos de
vida deveria se tornar uma norma, embora deva existir sempre alguma flexibilidade
para que a mãe possa chegar a uma decisão satisfatória. (p.118).
Cadastro de Adoção
Como se pode prever como os candidatos a pais adotivos irão se sair com a
criança? Como se darão as relações emocionais da criança com os pais adotivos?
Bowlby sugere que para prevê-las seria necessário ter um bom conhecimento de
psicologia da personalidade e habilidade para fazer entrevistas.
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- Motivação: pais adotivos estão buscando amor ou uma forma diferente de amor,
o que não é negativo; o mais importante é que tipo de exigência fazem, o que
geralmente são irracionais; muitas motivações insatisfatórias podem estar por trás do
desejo de adotar uma criança; avalia-se outros motivos, reais, que estão por trás do
desejo da mãe de adotar um bebê (quase sempre é a mãe e não o pai quem
arquiteta o plano); estes motivos , em geral, não são o que aparentam e sua
verdadeira natureza pode ser, em grande parte, ignorada pela própria candidata;
que tipo de exigências que eles fazem a respeito da criança desejada (solicitações
inflexíveis e egoístas? Ser tudo o que ele gostaria de ter sido?) (p.119).
Como descobrir as verdadeiras motivações do casal? Pergunta-se como começaram a
pensar em adotar um bebe e procura-se saber mais sobre eles como pessoas, qual
sua capacidade de estabelecer relações afetivas com os outros (como falam de
outras pessoas, principalmente parentes; como tratam um ao outro; como tratam o
profissional); eles não devem se ressentir com as perguntas do entrevistador.
Pergunta-se como tem sido seu casamento.
As pessoas que adotam atitudes rígidas o fazem por motivos relacionados a seus
próprios conflitos emocionais, originados na infância. Nestes casos, não se necessita
da criança por ela mesma, mas sim como uma solução para os problemas
particulares de um pai ou uma mãe, que continuam sem solução. Uma mulher que
sempre se sentiu pouco amada e que procura no bebe amor e companhia, não
desejara que ele cresça, faca amigos e case. Se os motivos de uma pessoa são bons,
muita coisa pode ser revelada (p.120).
“As famílias que se mostraram ressentidas com o interesse do entrevistador
por suas vidas intimas, ou que achavam que as suas referencias, sua posição ou sua
necessidade intensa de parentalidade lhes davam o direito de receber uma criança
sem mais perguntas, em geral refletiam problemas subjacentes muito relacionados
com a capacidade destas pessoas enquanto pais. Da mesma maneira, em geral, as
famílias que estabeleciam facilmente um bom relacionamento com o profissional, que
reconheciam ser necessário que a agencia escolhesse bons pais para as crianças e
admitiam ter receios, problemas e imperfeições humanas, estavam revelando possuir
profundas qualificações para a parentalidade” (p.120-121).
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- Elaboração da infertilidade e capacidade de lidar com a frustração: como
reagiriam a uma decepção, e se poderiam, ainda assim, funcionar como pais
afetuosos, satisfeitos com a parentalidade. “A capacidade de enfrentar dificuldades
com coragem e de refletir com sensatez sobre a melhor maneira de lidar com elas é
indispensável aos pais adotivos, pois é essencial, para eles, a capacidade de assumir
alguns riscos”; avaliar se poderiam, ainda que frustrados, funcionar como pais
afetuosos, satisfeitos em sua parentalidade.
- Revelação: É vital que os pais estejam preparados para aceitar uma criança e
sejam capazes de admitir a realidade e não precisem agarrar-se, por razões
pessoais, à fantasia de que geraram aquela criança; não haverá maiores problemas,
quer ela possa ou não atender às suas expectativas e desejos. Flexibilidade e
capacidade de encarar a verdade são qualidades nitidamente desejáveis para que os
pais possam falar à criança sobre sua adoção; mais cedo ou mais tarde a criança
descobrira a verdade. O casal, portanto, precisa ter elaborado a sua incapacidade de
ter seu próprio filho e aceitar definitivamente o fato doloroso de que não poderá tê-
lo, o que se concretiza com a presença da criança e o que pode vir a influir
negativamente sobre os sentimentos dos pais em relação ao filho. (p.120). Diz
Bowlby que surgirão problemas se os pais verdadeiros e os adotivos se conhecerem,
pois a adoção pode correr riscos (p.121).
É preciso que o profissional tenha conhecimentos e habilidades para dizer a
candidatos a pais que eles não são adequados para adotar uma criança. Seu objetivo
deve ser de ajuda-lo a encarar a realidade por si mesmos
Cap. 12
Famílias substitutas
II – Lares substitutos
Alef e Lusimar
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substituto que somente deve ser buscado quando se necessita de cuidados de
emergência (morte, enfermidade súbita da mãe, ou necessidade de hospitalização da
mesma para dar a luz por exemplo, o que é diferente de situações que envolvem
brigas na família, delinquência ou negligencia, o que é de difícil solução). Não se
recomenda grandes centros de recepção (p.125) para se enviar crianças com esse
tipo de problema. E sim, é aceitável a existência de um pequeno centro de recepção,
restrito a crianças acima de cinco anos que, inesperadamente, necessitam de um
abrigo imediato. A permanência dessas crianças deveria se limitar apenas há alguns
dias (p.126).
Os grupos de atendimento em pequenos centros também são recomendáveis
para crianças acima de seis ou sete anos, especialmente adolescentes. Podem tomar
conta de si mesmo, por um curto período, e é melhor do que terem que estabelecer
relações com pessoas desconhecidas, membros do lar substituto, por pouco tempo, o
que causa tensão.
Com relação à necessidade de prestar assistência a bebês e crianças
pequenas, estas são incapazes de se adaptar as condições grupais. Deveria haver
um registro de mães substitutas qualificadas, que desejem proporcionar cuidados por
breves períodos. Devem receber uma quantia para que estejam sempre disponíveis.
(p.127).
Entretanto, talvez uma solução ainda melhor para todos os grupos de idade
seja a de recorrer à ajuda de parentes e vizinhos. Com relação aos parentes, deve-se
observar que eles não sejam totalmente estranhos à criança, porque seu valor fica
reduzido; e se o casal - ou um dos pais – não se opõe, para que a criança não seja a
causa de conflitos na nova família. Como fator positivo é grande a possibilidade de
que parentes próximos e familiares à criança tenham, para com ela, um sentimento
de obrigação maior do que teriam pessoas estranhas. (p.127).
Pela mesma razão, os vizinhos podem ser valiosos como pais substitutos
temporários e devem ser incentivados com certo orgulho a tomar conta destas
crianças por algum tempo. Assim, a criança permanece entre pessoas conhecidas,
em um lugar familiar no qual conhecem seus pais, e, provavelmente as receberão
com maior calor e segurança do que o fariam pessoas desconhecidas (p.127). Os
pais deveriam ser ajudados a compreender que seria de seu próprio interesse
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participar de um acordo comum pelo qual os vizinhos se ajudem mutuamente nas
emergências. Este tipo de assistência evita que a criança seja deixada para cuidados
temporários por tempo indefinido. Muitas crianças vão ficando por meses e anos, e,
pais menos responsáveis ficam satisfeitos em deixar os filhos, adaptando sua
maneira de viver a ausência das crianças, dificultando o retorno das mesmas,
especialmente quando a criança vem de um lar onde existem brigas ou negligencia e
falta de vontade por parte dos pais de assumir suas responsabilidades (p.128-129).
Estejam com pais substitutos ou em instituições, devem retornar a seus lares
o mais cedo possível; para que isto possa ser feito, um trabalho de assistência ao
menor deve ser realizado com os pais. (p.128).
- as instituições devem evitar uma ruptura total entre a criança e seu lar - é um erro
achar que criança afastada de casa, esquece tudo e começa de novo; instituições
proíbem que pais e filhos se vejam por acreditarem que as crianças estarão melhor
assim; mas, pesquisas demonstraram que crianças que permaneceram totalmente
afastadas de qualquer contato com seus lares anteriores eram mais inseguras e
difíceis e isso acontece porque, embora possa ser muito distorcida, a relação pais-
filho tem profundo significado emocional. (p.129-130).
- nem as instituições, nem os lares substitutos, podem proporcionar as crianças a
segurança e o afeto de que elas necessitam; para a criança, estes estabelecimentos
tem caráter provisório.
- os arranjos que mudam a cada dia criam insegurança na criança e insatisfação na
mãe substituta; é fundamental que se elaborem bons planos, em longo prazo, para
que a criança não sofra.
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dois anos tem probabilidade de se sentir de outra maneira. O profissional deve estar
apto a ajudar a mãe substituta a compreender e a adaptar-se a situação,
entendendo que a criança sofre e que os sentimentos de insegurança podem leva-la
a fechar-se em si mesma P. 130).
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responsabilidade sobre a organização e desaparecerão da vida da criança, ou
interferem de forma imprevisível.
Existem pais que não facilitam ao filho se adaptarem a um lar substituto;
sentem ciúme dos pais substitutos e criam problemas, ou ficam com raiva e se
recusam a visitar a criança. Estas vivem, então, um forte conflito de lealdade
(p.132).
Os pais precisam lidar com motivações contraditórias e inconscientes, e só
quando houverem desenvolvido esta habilidade, esses pais neuróticos colaborarão
com a organização, fazendo do período de afastamento do filho, produtivo e não
prejudicial (p.133).
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Com relação à criança, esta é tratada frequentemente como um objeto
inanimado que é remetido de um lugar para outro, sem consequências. No entanto,
a probabilidade de sucesso na colocação da criança em algum lugar será tanto maior
quanto mais ativamente ela puder participar dos planos que lhe dizem respeito e
puder ser ajudada a entender o que significa, sua duração e o porquê. (p.135).
Para resolver esse impasse, podem ser feitas discussões em entrevistas
conjuntas com os pais e a criança para reduzir as tensões familiares; isso também dá
à criança a oportunidade de saber alguma coisa sobre seus pais substitutos antes
que a mudança seja feita, assim como eles tiveram a oportunidade de saber um
pouco sobre ela. Para crianças pequenas, um período de apresentações mútuas é
ainda mais valioso e necessário, pois nada assusta mais uma criança pequena do ser
deixada com estranhos. (p.135). Informações podem ser dadas por meio de
conversas e de visitas pessoais, incluindo fins de semana em que a criança fica com
os pais substitutos.
Alef
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para que possa realmente aceitar a situação, e a nova moradia. Precisa-se de muita
habilidade para lidar com o estado de confusão das crianças que tentam camuflar os
sentimentos (p.136). O desejo de voltar para casa pode encobrir o receio da volta,
uma calma exterior pode esconder um coração partido.
Uma separação mais lenta pode ocasionar uma dor mais visível, porém é
menos prejudicial porque dá tempo para que a criança acompanhe os
acontecimentos com as suas reações, elabore seus sentimentos por muitas e muitas
vezes, encontre maneiras de exteriorizar seus estados de espírito. As lágrimas que se
renovam a cada visita dos pais sempre afligem muito os adultos, que
freqüentemente pensam que é melhor proteger a criança destes acontecimentos
perturbadores. No entanto, é tão importante para elas, quanto para os adultos,
poderem chorar por alguma perda (p.137).
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Por seu lado, os pais devem ser encorajados a compreender que eles detêm,
querendo ou não, devido à natureza dos sentimentos das crianças por eles, um
enorme poder sobre a felicidade dos filhos e não podem livrar-se deste poder
(p.140).
Os pais substitutos também precisam de ajuda para reconhecer os laços que
prendem as crianças a pais relapsos e para tolerar a fria ingratidão com a qual as
crianças reagem às suas gentilezas. (p.141).
As crianças, portanto, devem ser encorajadas a expressar sua afeição pelos
pais e sua raiva por terem sido negligenciadas, embora estas emoções pareçam
irracionais e contraditórias. (p.141). Os seres humanos nutrem muitas emoções
terríveis de assustadoras e tendem a desejar coisas exorbitantes; no contrapondo,
tem uma incrível capacidade para o bem. A natureza humana é capaz de superar os
fatos mais perturbadores e as adversidades mais apavorantes, se receber auxilio
adequado para encarar a verdade de frente (p.141).
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presença de outras crianças no lar, principalmente irmãos; é importante que
meninas acima de 12 anos, sejam colocadas com outras crianças;
diferença igual ou superior a quatro anos (a mais ou a menos) entre a criança
a ser encaminhada e os filhos ( do mesmo sexo) dos pais substitutos a
presença de criança do sexo oposto, porem da mesma idade, junto com a
criança encaminhada para um lar substituto.
Crianças nervosas e ansiosas ficam melhor em lares tranquilos e
convencionais; crianças ativas e agressivas ficam melhor em lares mais livres
e abertos, onde exista companheirismo (são as mais difíceis em qualquer
lugar) (p.142); crianças introvertidas adaptam-se melhor (p.143).
Lusimar
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Crianças que não tiveram, em seus primeiros anos de vida, contato com as
próprias famílias ou uma relação profunda com a mãe apresentam dificuldades
maiores de adaptação à nova família. Como resultado, é provável que venha a
ocorrer uma trágica sucessão de transferências de um lar substituto para outro. As
mães substitutas não podem cuidar, indefinidamente, com carinho e amor, de uma
criança que não consegue, de maneira alguma, corresponder-lhes (p.144).
Essa inadequação de determinadas crianças para os lares substitutos torna
necessária a assistência em grupo (p.144).
Cap. 13
Atendimento em grupo
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e. grupos numerosos de irmãos e irmãs que seriam, de outra forma,
divididos entre vários lares substitutos, com exceção aos bebes e
crianças pequenas que nestas instituições não podem receber os
cuidados individuais que necessitam. (p.145-146).
As instituições devem ser pequenas a fim de que se possam evitar as regras e
os regulamentos, inevitáveis num grande estabelecimento, e a fim de possibilitar que
as crianças estudem nas escolas locais e tomem parte em outros aspectos da
comunidade. As crianças devem ser divididas em pequenos grupos “familiares”, com
variação de idade e sexo, ficando cada grupo sob a responsabilidade de uma figura
materna (a mãe da casa) e, de preferência, também de uma figura paterna (o pai da
casa). Isso favorece o desenvolvimento da atmosfera emocional de uma família e
permite que os irmãos permaneçam juntos para que possam dar apoio e conforto
uns aos outros. Separar os irmãos por idade e sexo é trágico e destrói sua saúde
mental. Os grupos “familiares” devem permanecer pequenos, sendo indicado de 8 a
12 crianças, para que possa haver uma disciplina informal e individual, baseada nas
relações pessoais e não em regras impessoais. É possível que se percam a
flexibilidade e tolerância as diferenças individuais e que as crianças tenham pouca
chance de participar de criação de suas próprias condições de vida. Minar a iniciativa
e a eliminação da responsabilidade é uma influência muito negativa da vida em
instituições, o que pode ser evitado em grupos pequenos (p.146). Tenta-se fazer
com que as diferenças em relação a aquelas que estão em suas famílias sejam
menores possíveis.
Os “pais” da casa não devem tentar ser os donos das crianças e devem
incentivar os pais verdadeiros a fazerem visitas, promovendo as relações pais-filhos.
A mãe nestes lares precisam de treinamento e seu trabalho, considerado profissional
(p.147).
Crianças institucionalizadas que permanecem muito boazinhas e comportadas,
que obedecem passivamente as autoridades, tinham medo de contatos pessoais
íntimos e pareciam preferir viver num vácuo emocional. Evitavam tomar decisões e
faziam exigências materiais excessivas, o que só apareceu depois que deixaram a
instituição. As crianças desenvolvem dois padrões de moral: uma obediência externa
aos regulamentos e um padrão interno, que pode ser totalmente delinqüente, e que
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só se revela mais tarde. São crianças com personalidades doentes e incapazes de
afeto, embora pareçam normais. Foram crianças criadas em instituições desde muito
novas (p147-148).
Creches residenciais
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a menos que os pais sejam vingativos. Uma transferência tranquila e bem planejada
facilitara o sucesso da outra colocação.
As crianças que ficam em centros de observação vivem um período de
insegurança e ansiedade. Os laços familiares e o senso de responsabilidade não são
incentivados através da remoção da criança (p.153).
Para a grande maioria das crianças os centros de observação são
desnecessários e constituem um perigo (p.154). Para crianças com menos de 5 anos
que não possuem nenhum lar ou cuja historia de vida é impossível de ser obtida, os
lares substitutos temporários podem ser uteis para se fazer uma avaliação seria da
capacidade da criança para estabelecer relações com pais substitutos e se fazer uma
previsão do seu desenvolvimento.
Os centros de observação provavelmente só são necessários de fato para
adolescentes delinquentes e que representam um perigo tanto para si mesmos
quanto para os outros.
A assistência grupal em creches residenciais sempre deve ser evitada para
crianças ate 6 anos aproximadamente; é mais adequada a crianças entre 6 e 12
anos, por períodos breves; serve para adolescentes, por períodos curtos e para
crianças desajustadas.
Cap. 14
Assistência às crianças desajustadas e doentes
Existem três grupos de crianças que vivem longe de seus lares e que
necessitam de assistência psiquiátrica especial:
(a) Aquelas que estão sofrendo de distúrbios psiquiátricos e que são
removidas de seus lares por agentes da lei, médicos ou assistentes sociais, para
tratamento ou para evitar que prejudiquem outras pessoas (desajustamento da
criança). Estes distúrbios podem ou não ser resultantes de más condições familiares.
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(b) Aquelas que sofrem distúrbios psiquiátricos causados por sua experiência
em instituições e lares substitutos.
(c) Aquelas cujos distúrbios resultam de experiências desagradáveis em seus
próprios lares, que foram a causa da sua necessidade de assistência – por exemplo,
crueldade e negligência afetiva (inadequação do lar).
Só pode se admitir que a criança seja removida do lar como ultimo recurso e
como reconhecimento do fracasso, pois a remoção em si jamais pode solucionar o
conflito emocional básico. O problema real fica mascarado e se cria novos,
retornando a criança as mesmas condições de onde veio. Só se pode admitir que a
criança será removida para seu próprio bem, se os profissionais envolvidos tiverem
um plano viável em longo prazo para ela. Sem um plano desta natureza, sua
remoção produzirá simplesmente mais uma criança sofrendo privação.
Os casos de personalidade mais agressivas e delinqüentes precisam, em
primeiro lugar, receber auxílio para conseguirem um melhor ajustamento social.
As crianças devem ser divididas em pequenos grupos, cada qual com uma
pessoa responsável que faça o papel de mãe ou de pai. Quanto menores forem as
crianças, menores devem ser os grupos.
Nenhum profissional da área recomenda que se agrupem mais de dezesseis
crianças numa casa, mesmo no caso de adolescentes.
Como no caso das crianças normais, as desajustadas devem continuar em
contato com seus pais, recebendo visitas e visitando-os nos feriados.
Quanto aos profissionais, como sua tarefa consiste em estabelecer
relacionamentos humanos adequados com crianças, cuja capacidade para se
relacionar está imensamente prejudicada, torna-se evidente a necessidade de um
treinamento em psicologia do desenvolvimento e psicologia das relações humanas
(tanto no sentido prático quanto teórico) para aqueles que irão cuidar.
Com essa formação, fica facilitado aos profissionais que suportem os três
sintomas que é preciso compreender na criança - a hostilidade, o luto e o
comportamento regressivo – e que possam lidar com os mesmos.
Os “pais” devem ter o direito de aceitar ou recusar uma criança, pois não se
pode conseguir um relacionamento pessoal caloroso, com tolerância a
comportamentos muito difíceis, mediante uma simples ordem (p.158).
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Os métodos de disciplina em centros de tratamento psiquiátrico devem ser
informais, relativamente flexíveis e baseados essencialmente em relações pessoais
íntimas entre adultos e crianças, ao invés de regras e punições (p.159).
O tratamento
A relação da criança com a pessoa que trata dela e com a “mãe da casa” pode
passar por todo o tipo de comportamentos desajustados – alheamento e recusa de
contato, hostilidade, comportamento excessivamente infantil e dependente, e uma
mistura de todos eles. Destes três, o básico, que foi reprimido devido à frustração, é
o de receber cuidados maternos. Uma vez que a criança tenha sido capaz de confiar
suficientemente numa figura materna a ponto de se permitir expressar este desejo e
regredir a um relacionamento infantil, foi dado um grande passo, embora, o
comportamento da criança possa parecer deplorável (p.160).
Elas precisavam não tanto de substitutos para os seus próprios lares, mas de
experiências familiares primárias satisfatórias – na qual o meio se adapta às
necessidades especiais do bebê ou da criança pequena e sem a qual não se
formarão as estruturas básicas para a saúde mental. Se não houver uma pessoa a
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quem amar e odiar, o bebê não poderá vir a descobrir que ama e odeia a mesma
pessoa, e assim, não irá descobrir o seu sentimento de culpa e o desejo de reparar e
reconstruir (p.161).
Se não houver um meio ambiente físico e humano limitado que possa
reconhecer, o bebê não poderá descobrir até que ponto suas idéias agressivas não
conseguem, de fato, destruir nada e, conseqüentemente, não poderá aprender a
diferença entre fantasia e realidade. Sem um pai e uma mãe que estejam juntos e
assumam, conjuntamente, a responsabilidade por ela, a criança não poderá descobrir
e manifestar o seu desejo de separá-los e nem experimentar o alívio por não
consegui-lo. O desenvolvimento emocional dos primeiros anos é complexo e não
pode ser ignorado. Todo bebê precisa intensamente de um ambiente até certo ponto
favorável para que possa se sair bem nos primeiros estágios essenciais de seu
desenvolvimento (p.161).
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seu próprio filho, ela estabelece uma relação com este e uma confiança em si mesma
que constitui um prognóstico favorável para o futuro (p.164).
Cap. 15
A administração dos serviços de assistência a criança e problemas a
serem resolvidos
Cap. 16
Pontos controversos
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necessariamente iguais aos efeitos da insuficiência. Contudo, surgiu alguma confusão
porque freqüentemente a descontinuidade e a insuficiência ocorrem juntas, e
também porque repetidas rupturas dos vínculos com figuras maternas podem
resultar em efeitos negativos aparentemente bastante similares, em sua natureza e
amplitude, aos efeitos resultantes da insuficiência rigorosa e prolongada da
interação.
O termo “privação da mãe” é empregado, por vezes, para fazer referência,
também, a quase todos os outros tipos de interação entre mãe e filho que, acredita-
se, possam ter efeitos negativos, tais como: rejeição, hostilidade, crueldade,
indulgência excessiva, controle repressivo, falta de afeto.
A complexidade das condições para o termo “privação da mãe” tem sido fonte
de confusão para muitos. Para que se possa evitar essa confusão e a consequente
controvérsia improdutiva, deve-se manter, daqui por diante, a distinção entre (a)
insuficiência de interação implícita a noção de privação; (b) relações distorcidas, sem
referência à quantidade de interação presente; e (c) descontinuidade de relações
provocada pela separação.
Como a criança reage a privação depende de sua idade no momento da
separação; da natureza de suas experiências (inclusive de suas experiências com a
mãe) antes da separação; da duração da separação; da medida em que figuras
maternas substitutas estão presentes para interagir com a criança; da presença de
circunstâncias traumáticas, quer em torno da própria separação, quer complicando a
experiência da criança, uma vez terminado o período de separação.
Cap. 17
Conclusões de pesquisas recentes
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Concluindo-se, as crianças que sofrem privação, quer em seus próprios lares,
quer fora deles, são uma fonte de contaminação social tão real e grave quanto os
portadores de difteria ou febre tifóide. E, da mesma forma que as medidas
preventivas reduziram tais doenças a dimensões mínimas, uma ação objetiva pode
reduzir grandemente o número de crianças com privação em nosso meio e,
conseqüentemente, o desenvolvimento de adultos que poderão reproduzi-las.
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