Iniciação à Educação Literária

Guião de Leitura
Aquela nuvem e outras
Eugénio de Andrade

Antes de ler / Pré-leitura

1. Exploração de elementos paratextuais a partir da observação da capa do livro. Será rele-

vante permitir igualmente aos alunos que folheiem o livro, com vista a identificarem o
género literário a partir da observação da mancha gráfica.
No caso concreto desta publicação, e atendendo à existência de um número considerá-
vel de edições, publicadas ao longo de várias décadas, pode fazer sentido, como ativi-
dade de pré-leitura com vista à criação de expectativas sobre o livro, à realização de
antecipações sobre o conteúdo (temas e género), mas também à expressão de prefe-
rências pessoais por determinado registo visual (cores, técnica, grafismo), a compara-
ção de várias edições do volume (ficam aqui algumas disponíveis em bibliotecas públi-
cas e da rede escolar). Caso o professor tenha dificuldade em encontrar edições
diferentes, pode projetar as imagens de capas diferentes.

A mesma atividade de comparação de edições diferentes e o diálogo sobre as

características dos diferentes volumes (e/ou capas) também pode ser feita como
pós-leitura. Nesse momento, os alunos conhecerão bastante bem os textos do livro
e poderão justificar a sua preferência por um determinado registo visual ou explicar
por que razão, em seu entender, uma determinada ilustração é mais adequada ao
texto. Para tal, terão de estabelecer relações entre texto e imagem a partir da leitura
feita, o que é uma forma interessante de apropriação pessoal do significado dos
textos.
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1.1. Identificação dos vários ilustradores e das várias editoras de cada volume com o qual
contactam, bem como a data de edição, percebendo que se trata sempre do mesmo
texto e do mesmo autor do texto.
1.2. Pesquisa de informações sobre o/a ilustrador/a preferido/a: Júlio Resende (1986); Jor-
ge Colombo (1989); Alfredo Martins (1999); Joana Quental (2005); Aurélie de Sousa
(2013); Cristina Valadas (2014).
2. Exploração do título do livro e realização de antecipações sobre o seu conteúdo. Liga-
ção do título do livro ao título de um poema (“Aquela Nuvem”, pág. 36, da edição Campo
das Letras).

Aquela Nuvem
– É tão bom ser nuvem,
ter um corpo leve,
e passar, passar.

– Leva-me contigo.
Quero ver Granada.
Quero ver o mar.

– Granada é longe,
o mar é distante,
não podes voar.

– Para que te serve

ser nuvem, se não
me podes levar?

– Serve para te ver.

E passar, passar.

3. 
Leitura e exploração da dedicatória e relação com os destinatários previstos (explicar o
que é uma dedicatória).

Ao Miguel,
para quem escrevi estes poemas
à medida que foi crescendo
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Relacionar a dedicatória com a estrutura do livro, em particular com a ordem pela qual sur-
gem os poemas. Para melhor compreender a origem do livro e a relação explícita que ele esta-
belece com um destinatário concreto, pode ser necessário que o professor realize a leitura em
voz alta do texto explicativo (que surge como posfácio ou paratexto na contracapa na maioria
das edições) do autor incluído no volume, um testemunho pessoal sobre a origem do livro e dos
textos e os objetivos da sua escrita/publicação.*
*(ver texto "À maneira de explicação se tal for necessário" que se encontra na contracapa da maioria das edições.)

4. Identificação do modo/género literário a partir da observação da mancha gráfica. Iden-

tificação de algumas características do texto lírico (poético), como a estrofe, o verso e
a rima.
5. Elaboração do índice do livro. Identificar, a partir da leitura dos títulos dos poemas, ele-
mentos recorrentes entre eles. Exemplo: poemas com animais; poemas sobre estações
do ano; poemas com nomes próprios; etc.

Leitura e interpretação

1. Aproveitar o facto de existirem versões musicadas dos textos para permitir a sua audi-
ção (a Casa da Música é responsável por uma edição que inclui as versões musicadas
dos textos, pelo Maestro Fernando Lopes-Graça).
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2. 
Selecionar e agrupar textos tendo em conta aspetos temáticos, a partir da leitura dos
títulos ou do índice elaborado pelos alunos, como, por exemplo, animais; natureza; es-
tações do ano; tipos de textos, etc.
2.1. 
Proceder à análise de um conjunto de poemas selecionado, tendo em conta um dos
critérios temáticos ou aspetos formais/estruturais.
Exemplos (não exaustivos):

“O Gato”; “O burro de Loulé”; “O lagarto”;

“Gatos”; “Canção da Joaninha”; “A formiga”;
“Andorinha”; “Cavalos”... [incluir poemas que não
tenham essa indicação no título, mas apenas no
Poemas sobre animais
próprio poema, como “Romance de D. João”;
“Verão”; Canção de Leonoreta”, por exemplo].
Procurar explicar a predominância deste universo
temático.
Poemas com estações “Verão”; “O Inverno”
do ano
Poemas sobre “A rosa e o mar”; “Aquela nuvem”; “Frutos”;
elementos da natureza “Rosa”…
Poemas de estrutura “A formiga”; “Andanças do Poeta”; “Romance de
narrativa D. João”…
Poemas com afinidades “Adivinha”; “O gato”; “1, 2, 3”; “Verão”; Canção
com rimas infantis da Joaninha”
“O gato”; “Verão”; “O pastor”; “Canção de
Poemas dialogados
Leonoreta”; “Faz de conta”; “Aquela nuvem”…

3. Identificar, nos textos que integram a coletânea elementos recorrentes que o professor
considere relevantes. Deixamos aqui algumas sugestões possíveis de elementos a
identificar:
• rimas • nomes de locais
• onomatopeias • nomes de pessoas
• repetições • nomes de frutas
• interjeições • nomes de alimentos
• momentos de diálogo • nomes de árvores
• perguntas • peças de roupa
• exclamações • profissões
• reticências • cores
• referências ao destinatário dos poemas • animais

4. 
Com vista a ajudar o professor no trabalho de análise textual de poemas específicos,
incluindo os aspetos microtextuais, oferece-se aqui o exemplo de análise possível de
três poemas da coletânea com características diferentes e que ilustram a variedade de
propostas poéticas aqui reunidas.
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4.1. Poema “Verão”:

1. Identificar os participantes no diálogo e as res-

petivas falas, sublinhando-as com cores dife-
Verão
rentes.
Caracol, caracol,
2. Identificar o tema da conversa.
onde vais com tanto sol?
Vou à loja do senhor Adão 3. Por que motivo queria o caracol comprar um
comprar um girassol;
com tanto sol guarda-sol?
ninguém aguenta o verão. 4. Situar a ação no tempo e no espaço.
Adeus, adeus, caracol,
tens razão, 5. Identificar a lengalenga tradicional que está na
sem guarda-sol
ninguém aguenta este sol.
base deste poema.
6. Identificar jogos de palavras presentes no poema.
7. Fazer o levantamento das palavras que rimam.

No caso deste poema de Eugénio de Andrade, encontramos uma simulação de

diálogo entre o sujeito poético e o caracol e o lamento deste em relação à força do
sol e à sua necessidade de proteção. No poema, estruturado como uma conversa
sobre o tempo quente e os seus efeitos, é particularmente relevante a questão dos
elementos sonoros, como as repetições, as rimas e os jogos com as palavras, como
girassol, guarda-sol e sol, por exemplo, para além da alusão mais ou menos implícita
à lengalenga “caracol, caracol, põe os corninhos ao sol”.

Aliás, pode ser interessante observar como o mesmo intertexto, a lengalenga infantil, e o
motivo do caracol surgem em textos de outros autores também destinados à infância:

Caracol
Já se vê o arrebol,
Caracol sai de casa, caracol,
A casa às costas põe os corninhos ao sol.
corninhos ao sol Em volta do velho pardal
sobe sobe caracol já vi outros, pequeninos,
Alto mora o girassol a debicar no quintal.
trepa trepa caracol Os meninos ainda dormem,
a casa às costas o gato ainda dormita
corninhos ao sol e o cão ressona ainda.
A casa às costas O jardineiro não veio
sobe sobe caracol e o galo preso ao poleiro
alto mora o girassol só o ouvi uma vez.
Papiniano Carlos, Caracol, caracol,
in Conto Estrelas em Ti (2000) O terreno ‘inda está livre,
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Põe os corninhos ao sol.

João Pedro Mésseder, in O g é um gato enroscado (2003)

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4.2. Poema “O Pastor”:

O Pastor 1. Identificar o cenário do poema. Justificar.

Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?
Vou àquela serra
buscar uma ovelha.
Porque vais sozinho,
pastor, pastorinho?
Não tenho ninguém
que me queira bem.
Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.
2. Identificar quem faz as perguntas e quem responde.
3. Identificar o assunto da conversa.
4. Identificar o adjetivo que surge duas vezes associado
ao pastor.
5. Explicar o sentido da última estrofe e qual a mensa-
gem que transmite.
6. Explicar o significado do uso de diminutivos.
7. Imaginar a continuação do diálogo entre as duas
personagens.

O universo rural e os seus protagonistas, frequentemente presentes na literatura tradicional,

também são revisitados com assiduidade pelas composições poéticas contemporâneas de
destinatário infantil. O poema de Eugénio de Andrade dá conta de um diálogo entre o sujeito
poético e um pastor que é interrogado diversas vezes. O jogo pergunta-resposta desenvolve a
ideia da construção de uma amizade entre os interlocutores, como forma de compensar a soli-
dão e o isolamento do pequeno/jovem pastor.

4.3. Poema “Romance de D. João”:

1. Identificar a personagem principal do

Romance de D. João
texto e a espécie a que pertence.
2. Identificar quem conta a história e que
Foi-se D. João, em pleno janeiro? relação tem com o protagonista.
foi à sua vida, Ou foi antes cão
3. Localizar a ação no tempo. Justificar
sem dificuldade que o filou primeiro?
com elementos do texto.
saltou pelo muro, Nada perguntei
não voltou senão por delicadeza, 4. Explicar o título do texto.
quando ao outro dia mas que fora coça, 5.  O protagonista viveu uma aventura. O que
já fazia escuro. da rija, da boa, lhe aconteceu? Que consequências teve?
Vinha enfarruscado, da que deixa mossa 6.  O narrador não tem a certeza sobre o
partida a viola, para a vida toda, que se passou realmente. Identificar ex-
o boné ao lado, isso bem se via. certos que confirmem esta ideia.
rasgado o calção Queria ajudá-lo,
7.  Identificar os motivos que levam o nar-
e a camisola. não só por carinho:
rador a querer ajudar D. João.
Fiz-lhe uma carícia, custa tanto vê-lo
não me respondeu, metido na fossa 8.  Explicar por que razão o sujeito poético
foi-se encafuar da melancolia! (narrador) pede segredo acerca da história
perto do borralho E para acabar que conta.
arrastando o pé. quase me atrevia 9.  Explicar o significado das expressões: “foi­
Percebi então a pedir que guardem ‑se encafuar perto do borralho”; “foi antes
que não vinha bem. muito bem guardado o cão que o filou primeiro”; “custa tanto
Que desgosto teve? tudo isto em segredo. vê-lo na fossa da melancolia”.
Com quem se bateu? E muito obrigado.
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10. Propor um título alternativo para o poe-

Disputas de gatos
ma e explicar a razão da escolha.

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Depois de ler / Pós-leitura

1. Pesquisa de palavras difíceis ou de significado desconhecido.

2. Escolher poemas para memorizar e recitar, tendo em conta o gosto pessoal.
3. Ilustrar poemas selecionados (ou elaborar outra capa ou guardas alternativas para o livro).
4. 
Construção de poemas a partir de sugestões de versos de Eugénio de Andrade (ou comple-
tar versões incompletas de poemas não analisados, por exemplo, com palavras que rimem
com as que surgem no texto). Exemplo:

Faz de conta Faz de conta

– Faz de conta que sou abelha. – Faz de conta que sou estrela.
– Eu serei a flor mais bela. – Eu serei .
– Faz de conta que sou cardo. – Faz de conta que sou sol.
– Eu serei somente orvalho. – Eu serei .
– Faz de conta que sou potro. – Faz de conta que sou jardim.
– Eu serei sombra em Agosto. – Eu serei .
– Faz de conta que sou choupo. – Faz de conta que sou mar.
– Eu serei pássaro louco, – Eu serei ,
pássaro voando e voando
sobre ti vezes sem conta. .
– Faz de conta, faz de conta. – Faz de conta, faz de conta.

5. 
Construir poemas a partir de ilustrações (usar imagens de uma edição diferente da usa-
da nas aulas com os alunos).
6. 
Construir a biografia do autor do texto, a partir da pesquisa de dados específicos solicitados
pelo professor.

Nome "verdadeiro" do escritor1

Nome literário

Data de nascimento e de morte

Nacionalidade

Local onde viveu a maior parte da vida

Obras mais importantes

Obras escritas a pensar no público infantil

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Distinções e Prémios recebidos

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Explicar aos alunos a diferença entre nome e pseudónimo. 107

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