Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
A IMPORTÂNCIA DO TRANSPORTE
FLUVIAL PARA A UNIDADE
OPERACIONAL DA AMAZÔNIA
Luis Arthur Ferreira Pinto (PUC-Rio)
luisarthur@globo.com
Jun min Lee (PUC-Rio)
Junlee@petrobras.com.br
Julien Pierre C. B. Jonqua (PUC-Rio)
julien@petrobras.com.br
1. Introdução
Em menos de dois anos após a sanção da lei que estabelecia o monopólio estatal do petróleo e
criava a Petrobras, em 13 de março de 1955, jorrava óleo de alta qualidade no poço pioneiro
NO-1-AZ, de Nova Olinda (AM), situado no eixo da bacia sedimentar do Rio Amazonas,
entre os arcos de Purus e Gurupá. Contudo, no inicio dos anos 60, as perfurações na estrutura
de Nova Olinda foram interrompidas devido ao esgotamento dos poços e ao alto investimento
necessário para novas pesquisas (GARCIA, 2008).
Por conta da enorme malha hidrográfica existente na época da cheia, quando é possível contar
com até 80.000 km de vias navegáveis, a quase totalidade das operações de exploração de
petróleo foi realizada utilizando o transporte fluvial para locomoção de pessoas, equipamentos
e provisões. Nos primeiros dez anos de operações, todos os poços foram perfurados às
margens dos grandes rios.
No final da década de 70, o uso de helicópteros na movimentação de sondas permitiu
expandir as incursões exploratórias para regiões de mata fechada. O esforço de trabalhar em
condições extremas na Amazônia, agora não mais concentrado à beira dos rios, foi
recompensado. Conforme nos descreve Garcia (2008), em 1978 ocorreu a primeira descoberta
significativa na região: a Província de Gás do Juruá, em Caruari (AM), na Bacia do Solimões.
E finalmente, em outubro de 1986, a Petrobras descobriu petróleo leve e gás em quantidades
comerciais na área do rio Urucu, afluente do Solimões, a aproximadamente 280 km do
município de Coari e 650 km a sudoeste da cidade de Manaus, onde foi instalada a Base de
Operações Geólogo Pedro de Moura (BOGPM), unidade de produção pertencente a UO-AM
(Unidade de Operação da Amazônia), uma das maiores em produção comercial de óleo e gás
no Brasil.
Ainda hoje, quase todas as cargas (materiais, equipamentos, mantimentos e etc.) que chegam
à BOGPM, seguem de Manaus, via modal fluvial. Na Amazônia, segundo Carmo Filho et al.
(2006), o transporte fluvial tem particularidades distintas do restante do território brasileiro.
Devido às condições regionais, o subsistema hidroviário é bastante utilizado para a circulação
de pessoas e mercadorias entre povoados e cidades localizados às margens dos rios que
compõem a bacia amazônica, sendo fator essencial para a integração e o desenvolvimento
destas localidades.
O processo de ocupação da região seguiu originalmente a disposição da rede hidrográfica,
visto que o rio sempre foi o caminho natural, desde as explorações do período colonial. Além
de constituir um estímulo para atividades industriais, comerciais e turísticas, o transporte
fluvial incorpora novos aspectos sociais e ambientais, ao desempenhar um importante papel
para o desenvolvimento sustentável da região, preservando a identidade cultural e
fortalecendo a rede de socialização das comunidades e de seus povos (PATRÍCIO, 2007).
Neste trabalho, busca-se apresentar o transporte fluvial de cargas na Amazônia e sua
influência para a economia da região, com destaque para o trecho compreendido entre
Manaus e Urucu, no Município de Coari, e seus respectivos entornos. Na seção seguinte, uma
pesquisa sobre o tema é feita, apontando as características e os principais problemas deste tipo
de transporte. Na seção 3, como estudo de caso, é abordada a importância do modal fluvial
para a operação da Petrobras na Amazônia, ao ponto da viabilidade da produção de petróleo
estar subordinada às condições de navegação dos rios da região.
2
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
2. Revisão Bibliográfica
A expansão da fronteira norte durante o período colonial tinha como principais objetivos a
exploração econômica da região e a defesa do território. Núcleos urbanos foram
estrategicamente criados às margens do Rio Amazonas, na confluência de afluentes ou lagos
(Belém, Manaus, Santarém, Tefé, Coari,...), permitindo o controle da circulação fluvial, como
destaca Corrêa (1987 apud PATRÍCIO, 2007).
Carvalho (2002) descreve que, décadas após o declínio do ciclo da borracha (1910-20), essa
mesma lógica de ocupação e exploração foi adotada nas primeiras ações governamentais
direcionadas ao desenvolvimento amazônico, com foco no extrativismo. Somente nos anos
50, após a criação da Amazônia Legal, surgiram os fundamentos da indústria local, como as
instalações pioneiras de refino de petróleo da Companhia de Petróleo do Amazonas, seguida
pela indústria têxtil, de mineração, de cimento, entre outras.
Entretanto, um dos principais problemas encontrados para desenvolver a navegação fluvial
residia na baixa infraestrutura instalada de suporte à logística e transporte, com agudas
conseqüências sociais e econômicas para os habitantes da região. “O extrativismo, atividade
essencialmente predatória, sempre teve pouca ou nenhuma geração de infra-estrutura fixa para
serviços logísticos [...] a entrada e saída de bens e serviços e o transporte de pessoas sempre
foram executados através dos rios devido a sua abundância e distribuição formando uma
malha integradora.” (BONFIM, 2000).
Durante o período do regime militar, houve um maior empenho na ocupação produtiva da
Região Norte do país, incentivando sua integração ao sistema econômico mundial. O novo
modelo de desenvolvimento se deu através de vultosos investimentos por parte do governo
federal em infraestrutura, incluindo a abertura de grandes eixos de transporte, a produção de
energia, os sistemas de comunicações, aeroportos e instalações portuárias, culminando com a
instalação da Zona Franca de Manaus (CARVALHO, 2002).
Entretanto, apesar de sua grande extensão, nunca foi dada a devida importância à malha
hidrográfica. O foco dos investimentos sempre foi direcionado ao modal rodoviário. Foram
construídas estradas e rodovias, como a Belém-Brasília (BR-010), Perimetral Norte (BR-156),
Cuiabá-Porto Velho (BR-174), Transamazônica (BR-230), entre outras, para servir de vetores
da expansão da Amazônia. A cobertura rodoviária, contudo, é restrita: menos de 10% dos
municípios do estado do Amazonas têm acesso por estradas, por exemplo. Além disso, em sua
maioria, as rodovias operam até hoje precariamente durante o período das chuvas e em função
da falta de conservação.
Segundo Novaes (2004), o transporte aquaviário (ou hidroviário) diz respeito a todos os tipos
de transporte efetuado sobre a água. Estão incluídos o transporte fluvial (em rios) e lacustre
(em lagos), que são denominados de aquaviário interior, e o transporte marítimo. Este último
pode ser dividido em transporte marítimo de longo curso (internacional) e de cabotagem
(nacional). O transporte aquaviário tem um custo menor se comparado ao rodoviário;
reduzido consumo de combustível; grande capacidade de transporte; melhores condições de
segurança, gerando menores índices de avarias; e menor impacto ambiental (KEEDI &
MENDONÇA, 2000).
Ballou (2004) e Galvão (1996) afirmam que, quando comparadas às diversas modalidades de
transporte, o modal aquaviário é o mais recomendado para movimentação de cargas com alta
densidade de volume e/ou cargas por longas distâncias, pois geram baixo custo por unidade
transportada. Conforme ressalta Galvão (1996), para serem economicamente viáveis, as
hidrovias, assim como as ferrovias, devem transportar um grande volume de cargas nos dois
3
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
sentidos. As cargas adequadas para essas condições são os combustíveis líquidos, carvão,
cereais, minérios etc.
A Bacia Amazônica reúne as condições ideais para este tipo de transporte. Com um volume
de água que corresponde a 1/5 da disponibilidade mundial de água doce, a Amazônia possui
25.000 km de vias fluviais, sendo navegáveis cerca de 16.000 km, o que corresponde a 60%
da rede hidroviária nacional (são eles: o Negro, o Solimões, o Amazonas, o Branco, o Juruá, o
Madeira e o Purus). Os principais portos públicos são: Manaus, Belém, Porto Velho, Macapá
e Santarém (BNDES, 1998). A Figura 1 apresenta o mapa e as características dos rios das
Bacias Amazônica e Tocantins.
“O sistema hidrográfico é representado pela calha central – uma verdadeira avenida leste-
oeste de acesso ao Atlântico e ao coração do continente – aberto à navegação oceânica desde
Belém e Macapá, na foz, até Iquitos no Peru, num percurso de mais de 3.500 km, e pela
extensa rede de afluentes que penetram ao Sul e ao Norte da bacia, segundo um padrão quase
ortogonal, ou em forma de espinha-de-peixe..." (BENCHIMOL, 1977 apud CARVALHO,
2002).
A cidade de Manaus é o maior pólo gerador de transporte de carga geral da região amazônica
(BNDES, 1998). Devido às peculiaridades da região, o transporte é realizado na modalidade
rodo-fluvial, utilizando o sistema roll on/roll off nos terminais intermodais. Essa modalidade
responde por 82% de todo o transporte de carga geral da região para o restante do país.
4
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
Para Santana e Tachibana (2004), a maioria dos rios brasileiros precisa de melhorias para
obter navegação franca e de caráter comercial. O país possui a terceira rede hidroviária do
mundo, mas apenas 25% dessa malha são efetivamente utilizadas e o volume de cargas é
extremamente pequeno, principalmente se comparado às cargas movimentadas pelo modal
rodoviário. Na matriz de transportes brasileira, enquanto 60% das cargas são transportadas
pelo modal rodoviário, as hidrovias são responsáveis por apenas 7% (Oliva, 2008).
A pequena participação das hidrovias na matriz de transporte do país está associada à
concentração geográfica do transporte hidroviário na região Norte, que detém 90% da
movimentação de cargas por hidrovias, mas é responsável por apenas 4,6% do PIB nacional
(LACERDA, 2004).
Mas esse não é a principal razão, como ressalta Oliva (2008): “Apesar do potencial da malha
hidroviária brasileira, a ausência de um nível adequado de investimentos no setor tem
resultado prejuízos para a viabilidade econômica das vias navegáveis, concorrendo para o
desbalanceamento da matriz de transportes e para o agravamento das deficiências na
intermodalidade com os demais modais”.
Existem quatro elementos físicos básicos que compõem um projeto hidroviário: as vias, as
embarcações, as cargas e os terminais. Para cada um deles, aspectos ambientais e sócio-
econômicos devem ser considerados nas fases de planejamento, implantação ou operação de
da infraestrutura de transporte (SANTANA & TACHIBANA, 2004).
O aproveitamento adequado das vias navegáveis depende da realização de obras de
infraestrutura, tais como: dragagem; transposição de trechos não navegáveis, por meio de
eclusas e canais artificiais de transposição; derrocamentos de obstáculos naturais; e
balizamento e sinalização (OLIVA, 2008).
A maioria das pequenas cidades no interior da Amazônia não dispõe de instalações portuárias,
as operações de carga e descarga são realizadas em pequenos píeres ou nos barrancos das
margens, absolutamente sem estrutura (BONFIM, 2000).
Estudos da Administração das Hidrovias da Amazônia Ocidental (AHIMOC) revelam que os
principais pontos críticos que dificultam a navegabilidade no transporte de cargas e
passageiros no rio Solimões são (PETCON, 2002):
a) Erosão das margens dos rios;
b) Sedimentação no leito do rio;
c) Formação de bancos de areias;
d) Estreitamento do canal;
e) Diminuição da profundidade do canal decorrente da sedimentação;
f) Fechamento do canal em alguns trechos do rio;
g) Pedrais não sinalizados;
h) Presença de troncos de árvores dentro do canal.
Durante um período do ano, os rios da região oferecem algumas restrições à passagem das
embarcações utilizadas para o transporte fluvial de cargas. Devido ao clima particular da
região amazônica, no qual somente duas estações climáticas são bem definidas (verão e
inverno), ocorre um fenômeno conhecido como vazante, em que as chuvas diminuem
drasticamente, causando o rebaixamento do nível das águas, e conseqüentemente dificultando
o transporte fluvial no período de seca, que vai de julho a inicio de novembro. A Figura 2
apresenta um gráfico de acompanhamento do nível do rio Solimões ao longo da última
década, onde se percebe a variação que ocorre durante o período de vazante.
5
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
6
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
7
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
8
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
partir do Rio de Janeiro. Até então, a produção de gás natural era reinjetada no poço, por falta
de infraestrutura de transporte.
O transporte fluvial de cargas, realizado entre Manaus e BOGPM, é realizado em comboios
constituídos por uma ou mais balsas, rigidamente ligadas entre si, impulsionadas por um
barco chamado “empurrador” (Figura 4). Na UO-AM, essa modalidade é utilizada
exclusivamente para o transporte de cargas – equipamentos, materiais e mantimentos – para o
suprimento das necessidades da BOGPM e Portos Remotos (porto de apoio para atividades de
DTM de sondas ou campanhas de limpeza e reflorestamento).
De acordo com a Capitania dos Portos, o conjunto empurrador/balsa é considerado como uma
só embarcação, devendo respeitar as dimensões máximas previstas em norma: 210 m de
comprimento e 37 m de boca, devendo ser equipado com itens de segurança, tais como radar,
rádio VHF, ecobatímetro e material de combate a incêndio (BRASIL, 2006).
Atualmente a Unidade trabalha com os seguintes quantitativos de equipamentos para o
transporte fluvial:
i) 17 empurradores de 250 hp (calado de 70cm) e 10 empurradores de 350 hp (calado de 80
cm);
j) Balsas: 32 contratadas e 38 próprias, de várias capacidades (500, 200, 100 e 60 toneladas).
9
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
mas mantendo a fidelidade das proporções entre valor/unidade de carga (peso) transportada.
O transporte fluvial é terceirizado. O desembolso mensal pelo serviço de transporte de cargas
é linear durante quase todo o ano, contudo há uma elevação no período de vazante devido ao
uso intensivo dos equipamentos, conforme listado na Tabela 2. O volume de cargas varia
durante o período de cheia e vazante, elevando o custo de carga transportada por UC (unidade
de carga). A situação se agrava quando o rio fica sem condição de navegação, como foi o caso
deste ano (2010). Desde meados do mês de Setembro as cargas são levadas, via fluvial, até o
município de Tefé (rio navegável todo o ano) e de lá transportado via aérea – avião e
helicóptero – até a BOGPM. A distância entre as localidades é de 184 km (linha reta).
Além da elevação do custo de transporte fluvial e o acréscimo do uso de equipamentos aéreos,
há o custo de interromper, mesmo que temporariamente, projetos de exploração e produção,
pois dependendo das dimensões e peso das cargas, não há condições de realizar o transporte
destas por avião ou helicóptero.
A apuração das cargas transportadas na UO-AM não contempla a totalidade, pois os
embarques realizados nos Portos Remotos não são computados de forma sistemática. A
apuração contempla somente os carregamentos realizados nos portos Encontro das Águas
(PEA), Urucu (PUC), Evandro (PEV) e Solimões (TSOL). Dependendo dos projetos em
andamento pode haver vários portos de apoio em atividade. No inicio do ano de 2010, havia
cinco em operação. O gráfico da Figura 5 mostra os custos por UC transportada mês a mês
nos anos de 2009 e 2010.
10
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
histórico da região. Qual seria o custo financeiro de oportunidade (estoque parado), caso
houvesse a antecipação de cargas cujo volume/peso fosse bastante expressivo e seu valor não
fosse tão representativo pelo período em que a navegação apresentasse restrições. Podemos
destacar os materiais de uso sistemático (areia, cimento, seixo, etc.), desconsiderando os
materiais perecíveis, devido à impossibilidade de estocagem por períodos dilatados e uso de
equipamentos de valor mais elevado. Será que esse custo pela antecipação do estoque seria
superior ao valor que hoje é desembolsado adicionalmente, conforme demonstra a Figura 5.
O uso de equipamentos alternativos deve ser constantemente avaliado, pois novas tecnologias
são criadas a cada ano. Um exemplo que está em estudo, merecendo mais atenção e agilidade
nas conclusões, é o uso de aerodeslizadores (hovercrafts) – veículos que possuem
características que permitem navegar com o mínimo de calado sem perder sua capacidade
nominal de cargas. Tipicamente têm dois ou mais motores separados. Um dos deles é
responsável pelo levantamento do veículo ao empurrar o ar de alta pressão para o interior da
saia de borracha, chamado de hélice de sustentação ou impulsora. Um ou mais motores
adicionais são usados para proporcionar força propulsora para deslocar o barco na direção
desejada, chamadas de hélices propulsoras. A direção é determinada pelo uso de lemes.
Clements et al. (2005) apontam algumas vantagens no uso de veículos deste tipo no transporte
de cargas pelos rios europeus, como opção ao transporte rodo-ferroviário.
Outro veículo anfíbio, desenvolvido no Centro de Pesquisas da Petrobras, é o Robô Ambiental
Híbrido (REIS et al., 2009). Trata-se de um veículo não tripulado construído especialmente
para coleta de dados da região amazônica, em especial em áreas alagadas. O intuito nada tem
a ver com transporte, é a preservação do meio ambiente. Mas é um exemplo de que às vezes
basta dar a devida prioridade em solucionar um problema, para se obter resultados
extraordinários.
O percurso fluvial entre Manaus e Urucu não sofre nenhuma restrição em nenhum período do
ano até a sede do município de Coari, onde o rio Solimões permite navegação, dada a sua
profundidade. Contudo, uma limitação de calado é imposta para transpor o lago Coari e
trafegar no rio Urucu. Uma alternativa para minimizar o custo do transporte, portanto, poderia
ser criar um entreposto em Coari para armazenar materiais e equipamentos em períodos mais
críticos e se pudesse abastecer Urucu com uso de equipamentos menores e mais velozes.
Haveria ganho com a implantação desta estratégia? O investimento com a criação do
entreposto seria viável?
Há uma ausência de métodos científicos / informatizados que auxiliem os colaboradores dos
portos a melhorar o uso das balsas, no processo de embarque das cargas no período onde não
há nenhuma restrição de navegabilidade (limite de calado), considerando capacidade nominal,
peso e volume. Na Petrobras, existem iniciativas desta natureza em outras unidades, como por
exemplo, ferramentas otimizadoras para a roteirização de transporte de passageiros
(helicópteros) e cargas para plataformas marítimas, recentemente implantadas na área da
Bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro.
Este artigo não propõe uma solução definitiva para a questão, apenas estabelece algumas
prioridades e alternativas ao cenário atual. Resultados positivos poderão ser obtidos em
futuros trabalhos que desenvolverem este tema, pois um problema crítico, sem solução a curto
prazo.
4. Conclusões
Os rios são as estradas da Amazônia e os barcos representam os equipamentos para o
transporte de pessoas e as balsas, para o transporte de cargas. Apesar dessa via natural de
11
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
Referências Bibliográficas
BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos-Planejamento, Organização e Logística
Empresarial (4ª ed.). Editora Bookman, Porto Alegre, 2004.
BONFIM, P. R. A. Estruturação de Sistemas Logísticos Integrado para Exploração e Produção de Petróleo em
Área Remota. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2000
BRASIL, BNDES. Transporte na Região Amazônica. Cadernos de Infra-Estrutura n. 7, BNDES 114 p., Rio de
Janeiro, 1998. Disponível em:
<http://www.bndespar.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/cadern
os/aicad_07.pdf>, acesso em 09/10/2010.
BRASIL, Marinha do Brasil. Normas e Procedimentos da Capitania dos Portos da Amazônia Ocidental.
Manaus, 2006. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/cpaor/arquivos/NPCP/NPCP_CFAOC.pdf >, acesso em
11/10/2010.
CARVALHO, L. C. C. Logística de Abastecimento de Derivados de Petróleo na Região de Influência da
Refinaria instalada em Manaus: Estudo de Viabilidade. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.
CARMO FILHO, M. M.; ROCHA, A. C. B. & SOARES FILHO, A. Qualidade da Infra-estrutura de
12
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial
Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
Transporte Fluvial de Carga e sua Importância para os Pólos de Desenvolvimento. In: Aimberê Freitas e
Licínio da Silva Portugal. (Org.). Estudos de Transporte e Logística na Amazônia, 1ª ed., vol. 1, p.145-166,
Editora Novo Tempo, Manaus 2006.
CLEMENTS, R. J.; WILSON, P. A.; LEWTHWAITE, J. C.; MOLLAND, A. F. & Ivanov, P. The potential
for the use of a novel craft, PACSCAT (partial air cushion supported catamaran), in inland European
waterways. In, Proceedings of FAST 2005. Eighth International Conference on Fast Sea Transportation, The
Institute of Marine Engineering, Science and Technology, 1-7. St. Petersburg, 2005.
GALVÃO, O. J. Desenvolvimento dos Transportes e Integração Regional no Brasil – uma Perspectiva
Histórica. Planejamento e Políticas Públicas, n.13, p.183-213, jun.1996. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica
e Aplicada, Brasília, 1996.
GARCIA, E. A Petrobras na Amazônia – A história da Pesquisa de Combustíveis Fósseis. Editora Norma,
Manaus, 2008.
KEEDI, S. & MENDONÇA, P. C. C. Transporte e Seguros no Comercio Exterior, 2ª ed., Editora Aduaneiras,
São Paulo, 2000.
LACERDA, S. M. Evolução Recente do Transporte Hidroviário de Cargas. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n.
20, p.253-280, set. 2004.
MAIA, M. H. C. Amazônia Global? O Desflorestamento na Amazônia: uma Perspectiva de Internacionalização
da Maior Floresta do Mundo. ILSA Conference Brasil, Belo Horizonte, 2008.
NOVAES, A. G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2004.
OLIVA, J. A. B. (ANTAQ). Cenário Atual do Transporte Hidroviário Brasileiro. 5º Seminário Internacional
em Logística Agroindustrial. Piracicaba, 2008.
PATRÍCIO, J. C. S. O Transporte Fluvial Misto na Amazônia: Aspectos Sócio-Econômicos do Trecho Belém -
Acará. Tese de Mestrado em Economia, Universidade da Amazônia, Belém, 2007.
PETCON. Estudo de Transporte e Fluxo de Cargas do Rio Solimões. In: AHIMOC – Administração das
Hidrovias da Amazônia Ocidental. Relatório Final – Planejamento em Transporte e Consultoria Ltda. Brasília,
2002.
REIS, N. R. S.; SANTOS, A. V.; GÓES, E.; MIRANDA, F. P.; FERREIRA, R. C. Robô Ambiental Híbrido:
um novo conceito em locomoção e monitoramento de áreas inóspitas na floresta amazônica. In: 2º Simpósio de
Geotecnologias no Pantanal, 2009, Corumbá. Anais 2º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Embrapa
Informática Agropecuária/INPE, Vol. 1, p.279-289, 2009.
SANTANA, W. A. & TACHIBANA, T. Caracterização dos Elementos de um Projeto Hidroviário, Vantagens,
Aspectos e Impactos Ambientais para a Proposição de Metodologias Técnico-ambientais para o
Desenvolvimento do Transporte Comercial de Cargas nas Hidrovias Brasileiras. ENGEVISTA, Vol. 6, n.3,
p.75-85, Rio de Janeiro, 2004.
THERY, H. Situações da Amazônia no Brasil e no continente. Estudos Avançados, São Paulo, Vol. 19,
n.53, Abr. 2005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100003&lng=en&nrm=iso>,
acesso em 10/10/2010.
13