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Dicionário Transgênero
De certa forma - e não sem motivos justificáveis - cada pessoa transgênera se sente única e
inteiramente original em seus desejos, motivações e comportamentos.
Talvez, por isso mesmo, haja uma forte resistência no nosso meio contra as tentativas de se
descrever o mundo transgênero de forma menos pessoal e casuística, ou seja, de forma mais
homogênea, geral e uniforme. Na opinião de muitas pessoas trans, o trabalho de "concei-
tuar", "descrever" e "classificar" serve apenas para criar mais rótulos", dentro de novas (e
inúteis) "categorias teóricas", sem nenhum significado ou alcance prático.
Pode ser que palavras como "conceito", "categoria" e "classificação" sejam realmente muito
fortes para um universo tão amplo, diversificado, ambíguo e instável como é o nosso. En-
tretanto, mesmo as pessoas transgêneras mais desinteressadas em se aprofundar no conhe-
cimento de si próprias necessitam, vez por outra, de um mínimo de informações consisten-
tes e atualizadas a respeito de "quem são" e "onde se encontram", dentro da ordem socio-
política e cultural em que vivemos.
A sociedade pensa, age e se comunica através de conceitos, normas e valores. Assim, por
mais limitados que sejam, precisamos de estabelecer os nossos próprios marcos conceituais
a respeito do que é a transgeneridade, seja para defender nossos direitos diante de tercei-
ros, quando interpeladas a respeito da nossa conduta socialmente não-conforme, seja para
inteirar-nos das nossas próprias possibilidades e limitações.
Mesmo sabendo que se tratam apenas de definições incompletas e pouco precisas quando
aplicadas à realidade específica de cada uma de nós, os conceitos e descrições a seguir têm
sido uma importante referência para eu avaliar quem eu sou e onde eu me encontro dentro
da população transgênera, tendo como pano de fundo as circunstâncias históricas, biológi-
cas, psicológicas, políticas e socioculturais desse fenômeno.
O material aqui apresentado não pretende nem se destina a constituir "verdade absoluta",
como tampouco a comprovar ou rejeitar qualquer tese acadêmica a respeito de transiden-
tidades. Trata-se tão somente de uma síntese de termos, conceitos e definições elaborada
com base nas inúmeras leituras, estudos e pesquisas que venho realizando há muitos anos,
assim como nas minhas próprias ideias e conclusões observando a mim mesma e a outras
pessoas transgêneras de diversas identidades de gênero do meu círculo de relações.
Meu desejo é que essa coletânea a que dei o nome de “Dicionário Transgênero” seja um
ponto de partida para o estabelecimento de um referencial comum, capaz de contemplar as
variáveis e as questões mais importantes que afetam indistintamente a todas as pessoas
transgêneras, independentemente da sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Como obra aberta, esse dicionário está permanentemente aberto a todo tipo de contribui-
ção, crítica, discussão e revisão que possa incorporar alguma abordagem mais atual, mais
precisa e/ou mais consistente a respeito de qualquer um dos temas e conceitos apresenta-
dos.
Letícia Lanz
junho de 2008
A
Ponham abaixo, de uma vez por todas, as portas dos armários,
levantem-se e comecem a lutar.
Harvey Milk, ativista LGBT
B
Nem pagando ponho óculos escuros!
Óculos escuros é coisa de bicha.
Eu sou um roqueiro macho.
Nelson Gonçalves
BAJUBÁ (ou pajubá) – língua baseada em diversas idiomas e dialetos africanos (nagô, ioruba, quimbundo,
kikongo, umbundo, egbá, ewe e fon), usada inicialmente em terreiros de candomblé e posteriormente adotada
como forma de comunicação entre travestis de rua, que acabou se estendendo a todo o universo LGBT no Brasil.
BERDACHES (ou, em inglês, two spirit people= pessoa de dois espíritos) – datam de 1530 os primeiros relatos
de colonizadores europeus dando conta da existência de gêneros alternativos na maioria dos povos nativos
norte-americanos. Embora as inúmeras variantes e peculiaridades dos gêneros alternativos identificados pelos
europeus, seus representantes foram genericamente denominados de berdaches, vocábulo provavelmente
derivado de bardaj, termo utilizado na Pérsia para designar homens afeminados e parceiros sexuais passivos.
Sociologicamente o berdache poderia ser descrito como uma solução elegante e generosa para acolher
indivíduos desadaptados à dualidade masculino/ feminino. Contudo, muito além de solução respeitosa para o
possível impasse institucional criado por homens considerados “covardes”, relativamente aos padrões de
gênero vigentes na tribo, os berdaches constituíram um segmento de pessoas tidas como abençoadas pelos
deuses. Por serem, ao mesmo tempo, homem e mulher e, portanto, estarem mais completos e equilibrados do
que um homem ou uma mulher isoladamente, os nativos norte-americanos acreditavam (e seus remanescente
ainda acreditam) que a identidade berdache fosse o resultado da intervenção de forças sobrenaturais, de onde
viriam seus “poderes especiais”, mito sancionado pela mitologia tribal, que os tornou conhecidos como
“possuidores de dois espíritos”. Os berdaches sobreviveram até hoje em muitas comunidades nativas norte-
americanas devido à sua importância dentro da tribo, onde sempre desempenharam, dentre outros, os papéis
de aconselhadores espirituais, médicos, adivinhos e xamãs. Embora isso já não seja mais tão comum hoje em dia,
no passado os berdaches masculinos podiam também desempenhar papéis dentro do grupo familiar, atuando
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C
Crossdressing não é algo que a gente é, mas algo que a gente faz,
e faz motivadas pelas mais diversas razões.
Virginia Prince
D
A diversidade é a característica mais universal da natureza.
Montaigne
E
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F
As crianças aprendem a falar como macho ou como fêmea
da mesma forma que aprendem a falar inglês ou francês.
Jeffrey Eugenides
FA’AFAFINE – o terceiro-gênero nas ilhas Samoa. Significa literalmente “o caminho da mulher” na língua local.
Veja este texto autobiográfico, escrito por uma fa’afafine: Memoirs of a Samoan, Catholic, and Fa’afafine, por
Vanessa (autora).
FÊMEA (fêmea genética; inglês: female) – o membro dotado de vagina e capacidade de gestação entre as espécies
sexuadas. Na espécie humana, constatada a existência de uma vagina, e, independentemente de qualquer outro
fator, o bebê é automaticamente enquadrado como mulher ou no gênero feminino. Entretanto, ser fêmea, isto é,
ter uma vagina, não assegura de maneira nenhuma que a pessoa está automaticamente habilitada a
desempenhar papéis sociais considerados como femininos. Um longo treinamento sociopsico-cultural é
requerido para que isso aconteça (“ninguém nasce mulher: aprende a ser” - Simone de Beauvoir, em O Segundo
Sexo). Um macho pode perfeitamente se sentir mais confortável e sair-se melhor do que uma fêmea no
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H
Se Deus é homofóbico, como dizem, eu jamais o veneraria.
Bispo Desmond Tutu
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L
LADYBOY – (veja kathoey).
LÉSBICA – fêmea que sente atração sexual e/ou romântica por outras fêmeas. O termo também tem sido
aplicado a pessoas transgêneras MtF (macho para fêmea) ou “mulheres não genéticas” que sentem atração por
mulheres, inclusive por outras mulheres não genéticas.
MACHO (macho biológico ou macho genético) – nas espécies sexuadas, o indivíduo que nasce com pênis. Embora
ser macho, ou seja, ter um pênis, não assegure de maneira nenhuma que a pessoa será capaz de desempenhar
papéis sociais dito masculinos, constatada a existência desse órgão, e independentemente de qualquer outro
critério ou fator, a pessoa é automaticamente enquadrada no gênero (sexo social) masculino. Ainda que um
macho possa se sentir muito mais confortável e se sair muito melhor do que uma fêmea no desempenho de
papéis sociais reservados à mulher, seu acesso ao gênero feminino é culturalmente interditado. A sociedade
simplesmente não reconhece legitimidade ao exercício do gênero feminino por um macho biológico, resultando
daí todos os conflitos de transgeneridade. (inglês: male).
MACHISMO – doutrina ou código de comportamento que advoga a superioridade do macho sobre a fêmea que,
por isso mesmo, deve ser submissa e aceitar passivamente a dominação. Apresenta-se na prática como um
exagerado orgulho pela masculinidade. Uma masculinidade exagerada, por assim dizer, defendendo
abertamente a virilidade, a força física e até mesmo a violência e a agressividade na subjugação das mulheres. O
machismo acompanha-se habitualmente de uma elevada dose de homofobia, uma vez que nele há uma suprema
valoração das características culturalmente associadas à masculinidade, paralela ao desprezo e desqualificação
de todas as características associadas à feminilidade. Em muitas culturas, como a latino-americana, o machismo
não é apenas socialmente aceitável como até desejável como conduta adequada para o gênero masculino. Em
países católicos como a Espanha, Itália, Portugal e em toda a América Latina, machismo ou chauvinismo
masculino é a crença de que os homens são superiores às mulheres. A palavra “chauvinista” foi originalmente
usada para descrever alguém fanaticamente leal ao seu país, mas a partir do movimento de libertação da mulher,
na década de 1960, passou a ser usada para descrever os homens que mantêm a crença na inferioridade da
mulher, especialmente nos países de língua inglesa. Nos países de língua portuguesa, a expressão “macho
chauvinista” (ou, simplesmente, “chauvinista”) também é utilizada, mas “machista” é muito mais comum. O
machismo tende a ser apresentado como um corpo de crenças, valores e comportamentos em oposição ao
feminismo. Contudo, o feminismo é uma corrente de pensamento muito mais recente do que o machismo
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NÃO PASSÁVEL – o contrário de passável e uma das coisas mais temidas pelas pessoas transgêneras, especialmente
pelas que vivem ou passam a maior parte do tempo no armário. Não ser passável significa que as outras pessoas
conseguem identificar facilmente que o gênero real da pessoa não corresponde ao gênero que ela está tentando
expressar, através do uso de roupas, sapatos, adereços e atitudes que apresenta publicamente, num dado momento
e lugar. Não passar é também a situação mais comum vivida pelos crossdressers, a despeito da crença, de muitos, de
serem capazes de realizar montagens tão perfeitas que conseguem passar completamente despercebidos em público.
NECA (do bajubá) – pênis.
NEWHALF – apesar de ser grafada em inglês, newhalf (ニューハーフ) é uma palavra de origem japonesa, usada para
designar um homem que realizou uma transição mental e/ou física para tornar-se mulher. A rigor, poderia ser usada
como sinônimo de transexual (operada ou não operada).
O
Nenhum tipo de orientação sexual
pode ser considerado maior ou menor do que qualquer outro.
Jasmine Guy
ORIENTAÇÃO SEXUAL – desejo e/ou atração muito forte que leva o indivíduo a escolher sempre o(s) mesmo(s)
tipo(s) específico(s) de pessoa(s) na hora de manter relações sexuais. Oficialmente, a sociedade reconhece a
existência de apenas dois tipos de orientação: 1) heterossexual - em que um macho se sente atraído por uma
fêmea ou vice-versa e 2) homossexual - em que um macho se sente atraído por outro macho ou uma fêmea se
sente atraída por outra fêmea. Entretanto, somente a orientação heterossexual é plenamente legitimada por
todas as sociedades contemporâneas (veja heteronormatividade), apesar dos grandes avanços nos direitos das
populações homo e bissexuais. No final da década de 1940, o cientista e pesquisador americano Alfred P. Kinsey
mostrou que o leque de escolhas individuais por parceiros sexuais vai muito além do binômio hétero/homo. No
famoso relatório que leva o seu nome, mostrou que a condição hétero e a condição homo são apenas as duas
extremidades de uma distribuição contínua em que são possíveis muitos outros tipos de escolhas sexuais. Na
escala criada por Kinsey existem oito pontos correspondentes aos oito tipos de orientação sexual que ele
observou nas suas pesquisas de campo:
1. Heterossexual - faz sexo exclusivamente com parceiros do sexo oposto.
2. Predominantemente Heterossexual - faz sexo com parceiros do sexo oposto a maior parte do tempo, mas,
incidentalmente, pode fazer amor com parceiros do mesmo sexo.
3. Basicamente Heterossexual - faz sexo com parceiros do sexo oposto a maior parte do tempo e
eventualmente com parceiros do mesmo sexo.
4. Bissexual - faz sexo indistintamente com parceiros do sexo oposto e do mesmo sexo.
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P
Poder andar na rua, sem que estranhos reconheçam você como uma
pessoa transgênera, é questão de sobrevivência.
Nós somos alvos permanentes para a violência.
Laverne Cox, a respeito de passabilidade.
Q
The queer movement was anti institutional with a critique to normalization:
- that you don't have to get normal to become legitimate.
Judith Butler, The Desire for Philosophy.
Interview with Judith Butler in Lola Press, May, 2001.
QUEER – palavra em inglês que originalmente significa anormal, devasso, tarado, depravado. Considerado até
recentemente como ofensiva e difamatória, a palavra queer tornou-se representativa e passou a designar toda
uma corrente de pensamento e pesquisa acadêmica que luta contra a heterossexualidade compulsória e faz
oposição sistemática aos binarismos fáceis homem-mulher, por exemplo. Queer também tem sido usado como
um rótulo para identificar discursos, ideologias e estilos de vida que tipificam o universo LGBT dominante. (veja
bicha, transviado).
QUEER, TEORIA (queer theory) – postura intelectual nascida do pós-estruturalismo, que ganhou força a partir
do final da década de 1980 nas universidades americanas e de lá se difundiu para o resto do mundo. A Teoria
Queer representa antes de tudo um posicionamento claro contra todas as classificações e hierarquias sexuais e
de gênero. Ela está fundada em um conjunto de ideias e conceitos construídos a partir da ideia central de que as
identidades, sexuais e de gênero, não são instituições fixas e nem determinam quem nós somos. A Teoria Queer
afirma não fazer sentido falar generalizadamente sobre “mulheres” ou sobre qualquer outro grupo, uma vez que
as identidades de gênero são compostas por tantos elementos que se torna inútil, além de completamente
errado, fazer afirmações de natureza coletiva com base em uma simples característica compartilhada pelo grupo.
Em lugar disso, a Teoria Queer propõe que sejam desafiadas todas as noções de identidade de gênero como
atributos fixos e imutáveis. A Teoria Queer está baseada, em parte, no trabalho de Judith Butler, especialmente
na obra Gender Trouble (1990), já publicado em português. Ao questionar a própria estrutura das identidades
de gênero, a Teoria Queer propõe um novo enfoque e um novo alcance, não apenas para esses estudos, mas para
diversas outras áreas da sociologia e da antropologia cultural: não é certo considerá-la como apenas um outro
nome para os estudos relacionados a gays, lésbicas e transgêneros. Levando às últimas consequências o
pensamento de Simone de Beauvoir (“ninguém nasce mulher: aprende a ser” e, por extensão, ninguém nasce
homem: aprende a ser) os defensores da Teoria Queer sustentam que gênero, assim como o que a sociedade
rotula como sexo, têm um caráter essencialmente performático, derivado muito mais de parâmetros político-
econômico-culturais do que de determinações biológicas. Por outro lado, tendo as ideias de Michel Foucault
como ponto de partida e o desconstrutivismo de Jules Deleuze como método de análise, os “queeristas”
sustentam que a existência de papéis sexuais e papéis de gênero servem apenas para manter uma estratificação
social totalmente arbitrária entre os indivíduos, como forma de assegurar o poder dos estratos dominantes, já
que os seres humanos, por todo o condicionamento educacional que recebem, estão profundamente
determinados e ficam circunscritos à classificação de gênero que recebem ao nascer. O dispositivo binário de
gênero molda e controla a condição humana, fazendo-nos ver o mundo por categorias binárias. A classificação
de gênero impõe limites à nossa capacidade da comunicação e compreensão intersubjetiva. A Teoria Queer
emerge como marco histórico do conflito entre parâmetros históricos de organização da sociedade, baseados no
dispositivo binário de gênero e os pressupostos de igualdade da revolução feminista e dos movimentos de
afirmação LGBT.
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REAL – diz-se da condição do crossdresser que passa a se apresentar no mundo real, em carne e osso, em sapo
e/ou en femme, deixando, portanto, de ter a existência apenas ilusória ou artificial que caracteriza a maioria dos
crossdressers, cuja vida é virtual, ou seja, existem apenas na internet.
RECALQUE – mecanismo de defesa da psique cuja função é impedir que desejos reprimidos passem do campo
do inconsciente para o campo da consciência, evitando assim que o sujeito entre em choque com exigências e
limitações contrárias à sua realização no mundo real e, consequentemente, venha a sofrer com isso, tendo que
enfrentá-las ou acomodar-se a elas.
REJEIÇÃO – processo psicológico caracterizado por dor emocional e sofrimento intensos, resultantes do
sentimento de abandono e desamparo que alguém experimenta ao sentir-se não querido, não amado, não aceito,
preterido, discriminado e/ou humilhado por outra pessoa, grupo ou comunidade. A rejeição pode ser real ou
imaginária, mas em ambos os casos a dor é real.
REPRESSÃO – um dos mecanismos de defesa do ego que consiste em inibir ou suprimir um afeto, ideia, ato, etc.,
potencialmente produtor de mal-estar e desprazer no indivíduo, afastando-o do campo da consciência para o do
inconsciente.
REPOSIÇÃO HORMONAL, TRATAMENTO OU TERAPIA DE - procedimento clínico que consiste na
administração de hormônios femininos e de substâncias supressoras de hormônios masculinos, a fim de
promover a feminização ou afeminar um indivíduo macho, de modo que ele possa assumir mais
confortavelmente (e convincentemente) o papel de mulher na sociedade (e vice-versa, no caso da fêmea).
Apenas como registro informativo:
Estrógeno e progesterona (hormônios sexuais femininos) para todas as transexuais M2F, que deverão utilizá-
los durante toda a vida, mesmo após a cirurgia de reaparelhamento genital, e também muitos transgêneros M2F,
que os utilizam para desenvolver características genitais femininas secundárias, como seios).
Testosterona (hormônio sexual masculino) para transexuais F2M.
Alguns pontos devem ser sempre enfaticamente ressaltados no tratamento de reposição hormonal:
1) Hormônios são substâncias muito poderosas e não devem ser usadas sem supervisão médica.
2) Como cada organismo humano em particular tem as suas próprias características e necessidades específicas,
tanto o tipo de hormônio (no caso do estrógeno, por exemplo, existem diversos tipos) quanto a sua dosagem
deverão ser cuidadosamente avaliados de pessoa para pessoa. Caso contrário, os efeitos desejados jamais
aparecerão e, em lugar deles, todas as complicações possíveis e imagináveis.
3) Pelas duas razões anteriores, a maneira como os hormônios atuam e repercutem em cada organismo humano
varia impressionantemente de pessoa para pessoa. Assim, o tipo e dosagem que propiciou excelentes resultados
em uma, pode ser um enorme desastre para outra.
4) Muitos efeitos dos hormônios não são reversíveis (como seios, em pessoas MtF, ou barba, em FtM) e os efeitos
colaterais de longo prazo incluem esterilidade e impotência, no caso de machos genéticos.
RESOLVIDA – diz-se da pessoa transgênera que assumiu integralmente a sua transgeneridade, enfrentando
todos os seus medos e inibições e superando seus conflitos pessoais e interpessoais que funcionavam como
obstáculo à livre expressão da sua identidade de gênero. Trata-se de um mito muito comum dentro do gueto
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S
É quase impossível conciliar as exigências do sexo com as da civilização.
Sigmund Freud
SAPO – no meio crossdresser, designa um indivíduo CD quando não está montado, ou seja, na sua figura
masculina: o sapo de fulana vai se encontrar com o sapo de beltrana. Ao contrário do conto de fadas, aqui o sapo
não se transforma em príncipe no final da história, permanecendo triste e amargurado no armário-lagoa, na
condição de patrocinador anônimo de todas as compras e aventuras da princesa.
SEXO (genital ou biológico) – conjunto das características corporais que diferenciam, nas espécies sexuadas, os
machos e as fêmeas e que lhes permitem reproduzir-se. O sexo é herdado biologicamente através do par de
cromossomas X e Y, que conduzem as informações genéticas do indivíduo. Até o momento, na espécie humana,
foram cientificamente reconhecidos apenas 4 tipos de sexo, resultantes da combinação de X e Y, que são: o
macho, a fêmea, o intersexuado e o assexuado ou nulo, sendo essas duas últimas categorias de ocorrência
estatisticamente muito pequena, a última inexpressiva. Entretanto, com o avanço das pesquisas na área da
genética humana, muitas outras modalidades de sexo passaram a ser cogitadas, falando-se atualmente em
combinações cromossômicas como XXY ou XYX. Até o momento, trata-se de meros estudos em andamento, sem
comprovação cabal e definitiva. Uma das crenças mais arraigadas a respeito de sexo biológico é que ele, por si
mesmo, determina de forma categórica o comportamento social das pessoas, o que constitui uma tremenda
farsa. Ao contrário de todas as outras espécies animais desse planeta, o comportamento humano não é herdado
geneticamente, mas aprendido, através de um lento e complexo processo de socialização. Portanto, não é o sexo
macho que determina o comportamento masculino de uma pessoa, mas o aprendizado social do que é ser
homem, numa dada sociedade, época e lugar.
SEXUALIDADE – o conceito de sexualidade abarca muito mais coisas do que a simples atração física entre
indivíduos ou o aparelho genital de cada um e o seu engajamento no intercurso sexual com outra pessoa. No ser
humano, a sexualidade possui componentes físicos, afetivos, intelectuais e socioculturais que o distanciam
inteiramente de qualquer outro tipo de manifestação sexual dentro do reino animal. Uma vez que cada pessoa
humana é absolutamente única, não é possível afirmar categoricamente que exista uma sexualidade, ou mesmo
uma atividade sexual, que possa ser considerada normal, em detrimento de todas as outras formas existentes.
Inúmeros fatores biológicos, sociais, políticos e psicológicos influem diretamente na formação e no
direcionamento da nossa sexualidade, com destaque para o gênero, orientação sexual, níveis de hormônio no
organismo, idade e perspectiva de vida, bem como as visões que os indivíduos possuem de sexo, baseadas em
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t
Transgênero não é uma identidade de gênero, mas a circunstância sociopolítica e cultural que estabelece como
transgressão e desvio de conduta a não conformidade de um indivíduo com as normas de conduta de gênero.
Letícia Lanz
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U
URGE (do verbo urgir=realizar-se ou resolver-se sem demora, através do inglês “urge”, que significa a mesma
coisa, uma vez que têm a mesma origem no latim) – necessidade premente de se travestir de que são acometidas
as pessoas transgêneras, em especial crossdressers, levando-as a estados de extrema ansiedade e angústia
existencial, sobretudo quando não dispõem de nenhum espaço, apoio ou condição para se “montar”. Em estado
de “urge”, muitos CDs cometem grandes loucuras, como comprar peças e mais peças de vestuário feminino, que
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V
VIADO (e não “veado”) - termo com o qual no Brasil são largamente designados machos homossexuais e, por
extensão, transgêneros em geral, como CDs, travestis, transformistas, dragqueens e transexuais, dentre outros.
O termo pode ter se originado da redução da palavra “transviado” (que ou aquele que se transviou), de uso
comum no Brasil, na década de 1950, para designar um jovem transgressor de costumes e normas de conduta
social (ver bicha).
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