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Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420


24 e 25 de setembro de 2013

A VIDA E A OBRA DE IGNÁCIO MARTÍN-BARÓ:


O PARADIGMA DA LIBERTAÇÃO
Lucian Borges de Oliveira Raquel Souza Lobo Guzzo
Faculdade de Psicologia Grupo de Pesquisa Avaliação e Intervenção
Centro de Ciências da Vida Psicossocial: Prevenção, Comunidade e Libertação
lucian.bo@puccampinas.edu.br rguzzo@puc-campinas.edu.br

Resumo: O estudo do Paradigma da Libertação na (Universidade Centro-Americana José Simeón


psicologia é importante para o enfrentamento à Cañas), em San Salvador. Em 1977 obteve o título
opressão presente na sociedade. Diante disso, este de mestre em Ciências Sociais e, 1979 o doutorado
trabalho pretendeu caracterizar a vida e a obra de em Psicologia Social e Organizacional, ao defender
Martín-Baró, importante precursor deste paradigma. sua tese na Universidade de Chicago, EUA, lugar
Os objetivos deste trabalho são: resgatar a obra de este conhecido pela sua importância para a
Martín-Baró, bem como analisar que fatores que psicologia social hegemônica1, positivista,
influíram na constituição de características do individualista e acrítica [5] conceitos estes que serão
paradigma da libertação. As etapas para isso ser tratados mais adiante neste trabalho. Ao voltar de
feito foram: a sistematização da história de vida de Chicago, assumiu o posto de vice-reitor da UCA e
Ignácio Martín-Baró e sua contribuição para a também muitos outros cargos, como o de chefe do
psicologia Latino-Americana e a identificação no Departamento de Psicologia e Educação e o
Brasil de categorias que caracterizam o paradigma Conselho Editorial da UCA e de sua principal revista
da libertação na psicologia. Compreende-se que, a ECA (Revista Estudios Centro-americanos).
para a elaboração de uma Psicologia da Libertação, Foi com a realidade de salvadorenha, uma realidade
foi necessário reconstruir a dimensão teórica e marcada pela desigualdade, injustiça, governos
prática, que são inseparáveis, e essa reconstrução autoritários, guerra civil e com más condições
carrega consigo a inerência de uma postura ética. materiais de realizações das aspirações da
Considera-se, a partir do estudo feito, que existe um população [9], que Martín-Baró realizou a maior parte
relevante número de obras de Martín-Baró de sua produção acadêmica, portanto longe da
disponível. tranquilidade e serenidade que se pressupõe em
Palavras-chave: Psicologia da Libertação, Ignácio uma vida acadêmica. [5] cita uma carta de 23 de
Martín-Baró, Psicologia Latino-Americana. agosto de 1989, que Martín-Baró agradecia o
Área do Conhecimento: Ciências humanas– conselho acadêmico da Escola de Psicologia da
Psicologia Social Costa Rica, pela solidariedade em relação à bomba
explodida em frente à UCA. Este trecho mostra uma
1. Introdução parcela das reais condições de sua produção,
através de seu compromisso com as maiorias
1.1 A trajetória populares:
Ignácio Martín-Baró nasceu em Valladolid, Espanha, “Las bombas contra nuestras instalaciones afctan
em 7 de novembro de 1942, lugar foi onde passou a muy gravemente nuestras ya difíciles finanzas, pero
maior parte de sua infância. Nesse mesmo local nos confirmam también que representamos una voz
também estudou no colégio jesuíta São José onde, significativa em el quehacer del país, y que nuestro
desde cedo esteve envolvido com as questões trabajo acadêmico em favor de lós interesses
religiosas que, o fizeram despertar a sua vocação. mayoritarios de nuestro pueblo sigue tiniendo un
Em 18 de setembro de 1959, aos 17, Ignácio impacto. Por ello, estén seguros que la UCA seguirá
ingressa na Companhia e Jesus [4]. firme em su trabajo universitário com el pueblo
Logo nos anos sessenta, Martín-Baró foi para a salvadoreño en favor um futuro más justo e
Colômbia com compromissos jesuítas, local este libre”(p.4).
onde ele obteve a licenciatura em Letras e Filosofia 1
e, em seguida se alocou em El Salvador, onde O uso dos termos Psicologia neste trabalho se remete
especificamente a Psicologia da Libertação e o termo
cursou licenciatura em Psicologia na UCA psicologias à demais abordagens.
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O trecho anterior exemplifica as condições objetivas das vezes apenas descrevendo o movimento
em que Martín-Baró produzia e agia, condições histórico, sem entender as múltiplas determinações
essas que o levaram à “criação”, por reconhecer a de que ele é fruto. Sendo assim, as ciências se
necessidade do povo salvadorenho, da Psicologia da tornam um instrumento ideológico justificador da
Libertação, que se coloca como uma concepção realidade, tomando como naturais os fenômenos
diferenciada dentro do campo teórico da Psicologia, históricos, e a psicologia cumpriu exatamente esse
pelo seu compromisso epistemológico, ético e trajeto, se tornando um instrumento ideológico e
político com as maiorias populares. Diferentemente ferramenta de dominação que presta serviço à
da Psicologia hegemônica2, que reafirma a lógica classe dominante.
neoliberal em suas praticas e em suas [13], aponta que a psicologia hegemônica tem
epistemologias, ou seja, uma psicologia contribuído pra justificar todo um sistema injusto,
individualista, acrítica e culpabilizadora do indivíduo opressivo e desigual, através dos seus esquemas
[10]. . teóricos e de sua prática. Teóricos a partir de suas
Toda essa trajetória de compromisso social ao lado bases epistemológicas e ontológicas. E práticas
dos setores populares oprimidos, de Martín-Baró lhe quando essa tem atuando na psicologização dos
custaria um preço muito caro, a vida. Na madrugada problemas que são de ordem social, a atribuição de
do dia 15 para o dia 16 de novembro de 1989 ele foi problemas unicamente aos indivíduos e a
assassinado. Uma ordem vinda dos altos setores culpabilização e patologização dos mesmos [10].
militares e dos assessores norte-americanos, para Portando, a necessidade de uma Psicologia da
que exterminassem os intelectuais, pois estes Libertação, é a de reverter este percurso que
estavam sendo acusados de apoiar as guerrilhas de psicologia tem percorrido, é de construir uma
resistência, e as acusações que os jesuítas eram psicologia que esteja comprometida com a libertação
comunistas-terroristas, fora lançada até uma dos povos latino-americanos, libertação das
campanha na radio, com difusão massiva dessas estruturas sociais opressoras, seguida da libertação
informações. Segundo [4], tudo aconteceu muito pessoal [14]. Esta psicologia tem que estar
rápido, os soldados patriotas invadiram a UCA na comprometida com as maiorias populares, parcela
madrugada, indo até a moradia dos jesuítas, sendo essa que a psicologia hegemônica tem sido cínica
que o reitor da UCA, Ignacio Ellacuría, e também para com ela. Para atuar na perspectiva da
jesuíta, recebeu juntamente com outros jesuítas, os Psicologia da Libertação é necessário um
soldados, num ato de resistência tentaram uma compromisso ético dos psicólogos, ou seja, um
resistência com palavras fortes, mas que não foi posicionamento ético-político e comprometimento
suficiente, pois, em meio a um clarão surgiu, uma com as maiorias populares [10].
rajada saída de um fuzil, que colocou fim a vida de
Ellacuría e seu irmão (religioso) Ignácio Martín-Baró. Partindo dos pressupostos apresentados até aqui,
Em seguida os soldados terminaram de invadir a [14] diz que para que a psicologia possa ajudar a
residências dos jesuítas terminando de cumprir sua contribuir para um processo de libertação dos povos
ordem, a de extinguir todos os que ali habitavam [4]. latino-americanos, é necessário que a psicologia
latino-americana se liberte da psicologia
1.2 A Necessidade de Uma Psicologia da hegemônica, e construa a sua própria identidade.
Libertação.
2. Objetivos
Sabemos que a Psicologia nasce em um tempo da
valorização da subjetividade privatizada, na 2.1 Resgatar e compilar a obra de Martín-Baró;
ascensão do liberalismo e do capitalismo e auge do 2.2 Analisar que fatores demográficos, pessoais,
movimento romântico alemão, portanto, surge sociais influíram em sua história de vida;
carregada desses princípios éticos e 2.3 Caracterizar o paradigma da Libertação na
epistemológicos, que são do individualismo, do psicologia.
egoísmo inerente ao ser humano, o hedonismo e a
liberdade individual a qualquer custo [17]. Assim 3. Método
como afirma [2], a ciência se não for dotada da 3.1Metodologia
capacidade crítica de perceber o movimento histórico Este trabalho consiste em uma pesquisa
da realidade, pode acabar, como acaba na maioria bibliográfica, que, segundo [8], caracteriza-se como
um procedimento metodológico importante na
2
Neste trabalho o conceito de hegemonia é tomado de Gramisci. produção do conhecimento científico capaz de gerar,
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especialmente em temas pouco explorados, a leitura dos textos e visto que os mesmo continham
postulação de hipóteses ou interpretações que elementos explícitos e mais ainda, implícitos, que
servirão de ponto de partida para outras pesquisas. poderiam ajudar a caracterizar o Paradigma da
3.2-Procedimentos Libertação na psicologia. Depois disso, foi realizada
uma releitura dos dois textos, que possibilitou pensar
A primeira etapa da recuperação das obras de três dimensões para tentar caracterizar o Paradigma
Ignácio Martín-Baró, começou com buscas em bases da Libertação na psicologia, que são: dimensão
de dados online, mas há pouco material disponível Teórico Conceitual, dimensão Práxica e dimensão
deste autor nessas fontes. Em seguida foi feito um Ética.
levantamento dentre o material que a orientadora do
presente trabalho conseguiu quando esteve na 4. As dimensões do Paradigma da Libertação na
Universidade Centroamericana (revistas científicas psicologia de Ignácio Martín-Baró
com obras de Martín-Baró e outros autores). Todo o 4.1 Das Dificuldades do Resgate da Obra
material que era deste autor foi separado e A recuperação e organização da obra de Matín-Baró
reservado juntamente com os arquivos encontrados culminaram em um processo difícil, devido à
nas bases online, BVSPsi, Scielo, PePSIC e google dispersão da obra e a pouca disponibilidade da
acadêmico, com as palavras chaves “Martín-Baró”, mesma no Brasil. O autor preocupou-se, na maior
“Psicologia da Libertação” e “Psicologia latino- parte de suas produções, em investigar a realidade
americana”. A última etapa desta fase de salvadorenha e latino-americana, isto pode se visto
recuperação a obra, consistiu na ida até a Fundação nas listas 1 (em anexo). Sendo assim, o autor tinha
Aniela e Tadeusz Ginsberg3 onde se encontra um um compromisso com a realidade dos povos
acervo de história da psicologia, sob o comando do salvadorenhos e latino-americanos e coma sua
grupo de pesquisa de História da Psicologia, liderado situação de injustiça e opressão. E, portanto, à
pela Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes4, da PUC ciência, no caso, a psicologia deveria preocupar-se
São Paulo. em propor um serviço eficaz para atender os
problemas das maiorias populares [14]. Sendo
A partir destas etapas, reuniu-se todo o material e foi assim, Martín-Baró se dedicou a publicar a maior
feita uma lista em ordem cronológica que continha 99 parte de sua obra em revistas salvadorenhas e em
publicações, sendo 78 títulos diferentes e os outros revistas de outros países latino-americanos. [3] diz
21 eram títulos repetidos que estavam publicados em que Martín-Baró queria colocar sua produção
mais de um lugar. intelectual a conhecimento do povo que se tratava.
Por último, foram escolhidas duas obras de Marín- Por estes fatos, apesar da dificuldade de recuperar e
Baró, para compor a análise das características do organizar a obra do autor, este processo resultou em
Paradigma da Libertação na Psicologia, juntamente uma amostra muito relevante de sua produção, o que
com as categorias propostas na tabela 1. Os textos possibilitou apontar como se manifestou o
escolhidos foram “Para uma Psicologia da Paradigma da Libertação na psicologia em resposta
Libertação” [14] e “La liberación como horizonte de la à psicologia social hegemônica de seu tempo - que
psicología” [12] A escolha dos dois textos se deu a em sua grande parte era importada dos EUA- e,
principio, pelo fato de conter a palavra portanto, não respondia aos problemas do povo
“libertação/liberación” no título. Após isso, foi feita a latino- americano que vivia em estado de
subdesenvolvimento [12]), e ainda vive até hoje.
3
Esta Instituição, criada por determinação - em testamento - tem 4.2 A Relevância Social da Psicologia Social no
como finalidade o apoio à estudantes de Psicologia carentes de Tempo de Martín-Baró e a Necessidade de Uma
recursos. Mantém também o acervo sobre a obra da Dra. Aniela Revolução Paradigmática
e um acervo de história da psicologia além de organizar Thomas Kuhn citado por [1] diz, que quando um
anualmente vários eventos e atividades de incentivo à pesquisa paradigma não é capaz de responder a maioria dos
em Psicologia.
problemas que persistem ao longo de anos e às
4
O Autor agradece à pesquisadora por ter compartilhado o vezes séculos, é gradualmente posto em cheque,
material, bem como ao seu orientando de doutorado Bruno pois começa a ser questionado se consiste mesmo
Carvalho que nos acompanhou até a Fundação e ficou lá como marco que contém as respostas ou deve ser
nos dando atenção enquanto fazíamos o levantamento das abandonado [1]. Era isso que acontecia com
obras. Psicologia Social em meados à década de 70, uma
crise paradigmática [16].
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Isso acontecia não só porque a psicologia social já na maiorias das temáticas de suas obras que tratam
havia envelhecido diante dos problemas presentes de acontecimentos da vida cotidiana das maiorias
na América Latina, mas sim porque de fato ela nunca populares.
respondeu às necessidades das maiorias populares Para[7], um paradigma sempre apresenta o interesse
deste continente. Seus modelos teóricos e suas de criar e reproduzir condições para ampliar o
práticas eram importados dos EUA, feitos para conhecimento, respondendo aos problemas que são
responder a realidade americana e não, das maiorias colocados pela sua época. Na verdade, as próprias
populares da América Latina. Está importação da definições dos problemas ou dos tipos de problemas
psicologia prestou-se a tentar dar uma credibilidade que a ciência deve resolver, fariam parte do
científica à psicologia latino-americana e teve como paradigma.
causa uma psicologia para os setores dominantes
destes países e, portanto, essa parcela fazia usa Talvez o grande número de obras acerca da
dessa psicologia como instrumento de dominação temáticas e torno da Psicologia latino-americana na
[11,12] Neste sentido, [3], citando o próprio Matín- produção de Martín-Baró, seja pelo fato da
Baró aponta que, quando uma teoria é aplicada num necessidade da construção dessa psicologia, mas
contexto muito distinto do de sua criação, ela é também o grande número de trabalhos que tratam do
irrelevantemente valida. Isto acontecia com a cotidiano do povo salvadorenho e de realidade
Psicologia Social hegemônica e importada. mostra o compromisso com a urgência de dar uma
resposta imediata aos problemas dos salvadorenhos
[7], afirma que, que o paradigma “em cheque” tende [3].
a resistir ferrenhamente ancorado em suas Tratamos paradigma aqui no sentido que [7] define o
pretensões monopolistas. Isso talvez ocorra não por paradigma – como conjunto de crenças, valores e
vontade do paradigma em si, até mesmo porque ele técnicas comuns a um grupo que pratica um mesmo
não é um ser com vida própria, mas sim por parte tipo de conhecimento. Tomado isso em conta nos
dos interesses daqueles que se beneficiam com próximos itens se discutira três dimensões que
determinado paradigma. Acerca disso, Orlando Fals abarcam o Paradigma da Libertação na Psicologia:
Borda citado por [12, p.334], discorre que “la ciencia dimensão teórica-conceitual, dimensão práxica e
no posse valor absoluto, como si fuera um fetiche dimensão ética.
com vida própria, sino que es um conocimento válido
y útil para determinados fines y que funciona com 4.3 O Paradigma da Libertação e Sua Dimensão
verdades relativas, al servicio de quienes la Teórico-Conceitual
producen y controlan”. Na interpretação do autor do Ao recapitular as duas obras de Martín-Baró, que
presente trabalho, era exatamente isso que tinha esse trabalho se propôs verificou-se que o autor
acontecido e, talvez, ocorra até hoje de forma mais propõe uma reformulação dos conceitos já existentes
tímida, tratando-se da Psicologia Social na América para elaboração de uma Psicologia da Libertação,
Latina. Os psicólogos latino-americanos limitaram-se não se trata de jogar deixar de lado tudo o que já foi
a servir às camadas dominantes, menos por produzido, mas refazer uma leitura crítica a partir da
indiferença e mais por ingenuidade científica, pois o perspectiva dos povos marginalizados, caso
paradigma predominante no tempo de produção de contrário seria uma presunçosa insensatez, como
Ignácio Martín-Baró, não dava conta de atender os aponta Martín-Baró [12].
problemas dos povos colonizados e oprimidos. Para exemplificar a dimensão teórica-conceitual da
Frente a esta situação, se fazia necessário uma resposta paradigmática elaborada por Martín-Baró,
resposta paradigmática, não tanto por questões elencou-se alguns fatores presentes em sua obra
pessoais e mais por questões sociais e que talvez deem conta de abarcar esta dimensão.
demográficas, que Martín-Baró lançou mão do Esses fatores são: perspectiva dialética,
Paradigma da Libertação na psicologia, com o compreensão da ação, o significado como ideologia
propósito de estruturar uma Psicologia da Libertação. e a dimensão histórica.
A partir disso, tornou-se necessária uma psicologia Perspectiva dialética: contra interpretações do
que estivesse comprometida com as questões das comportamento humano que separam individuo e
maiorias populares e respondesse a isso, não só na sociedade, e que alimentam explicações
forma de compreensão, mas também com o objetivo reducionistas que proporcionam reducionismos
de transformação de tal realidade injusta [12]. A psicológicos ou sociológicos, em vez disso a
preocupação de Martín-Baró acerca da realidade dos psicologia deve se aportar de um saber dialético [12],
salvadorenhos e de seus problemas pode ser visto
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não só no sentido epistemológico, mas também no Esta dimensão talvez seja a mais importante deste
sentido ontológico. Pois a Psicologia deve atender as trabalho, primeiro porque esta dimensão abarca as
relações entre a estrutura psicológica e estrutura duas apontadas anteriormente, no sentido, de que os
social, e vice-versa [3]. aspectos das duas dimensões anteriores foram
Compreensão da ação: O que caracteriza o elaborados por Matín-Baró para que rumassem no
fundamentalmente o ser humano, é a ação e não a sentido da libertação. Quando se fala em libertação,
conduta. Martín-Baró usa o conceito de “ação” no logo se remete a pergunta, libertar-se de que? Isto é,
sentido weberiano, que significa conduta dotada de libertar-se de algo negativo, que nos prejudica ou
significação e sentido [3]. [13], afirma que a noção prejudica os grupos [6] é libertar-se das condições de
de ação se põe em dois sentidos importantes, por opressão, da realidade de injustiça, de dominação e
um lado é o caráter propositivo da atividade humana, de subdesenvolvimento, às quais estão submetidos
intencional y motivada e vinculada ao mesmo tempo os povos latino-americanos. Sendo assim, isso
por outro lado, às estruturas sociais de significado. implica em tomar partido, escolher um lado de
acordo com seus valores. O lado que Martín-Baró
O significado como ideologia: Martín-Baró usa esse escolheu para teorizar para atuar foi o lado desses
termo no um pouco no sentido da sociologia povos e não o das camadas dominantes, lado que a
funcionalista, que consiste num conjunto de ideias e psicologia em geral e os psicólogos em sua maioria
valores que regulam a interação social em um dado estiveram, mais por ingenuidade de que por
sistema [3]. E usa muito mais no sentido marxista, indiferença. E a segunda coisa que suscita um
que adquire uma conotação negativa, uma debate nessa dimensão, é relacionada à primeira, é
característica de mascaramento das relações sociais que essa opção ética de Matín-Baró pode ter sido a
e de naturalização da mesma [2]. causa de seu assassinato. Pois, os jesuítas da UCA
A dimensão histórica: [13], afirma que a psicologia foram acusados pelo governo, anteriormente, em
tem tido uma característica de a-historicidade ao campanhas pelo radio de subversivos, comunistas-
longo de seu percurso. Sendo assim ele afirma que é terroristas, como apontou [5].
indispensável essa questão para uma Psicologia da Que psicologia é essa que pode levar a morte? Por
Libertção . que um pesquisador pode passar toda a sua vida
4.4 O Paradigma da Libertação e Sua Dimensão produzindo no reduto da academia, sem sequer
Práxica pensar na possibilidade de morrer por isso, e por que
A práxis deve estar ligada à relevância social da outros sofrem acusações, ameaças, perseguições e
psicologia, portanto, deve atender a quem tem ficado até mesmo a morte, como no caso de Ignácio Martín-
marginalizado do progresso social e do bem-estar Baró?
que a psicologia tem proposto ao longo de seu O próprio contexto histórico no qual surgiu o conceito
percurso. Só a partir da práxis é possível uma de Libertação, já se remete a uma opção ética. Esse
teorização [6]. conceito nasceu em uma situação da América Latina
de morte, de desespero, de subdesenvolvimento, de
Assim, para proporcionar um novo conhecimento doenças, de mortalidade infantil, no qual havia uma
psicológico, não basta situar na perspectiva do povo, situação de indignidade, que agride o ser humano
mas é necessária uma práxis transformadora, que [6].). Sendo assim, era preciso um enfrentamento por
permita conhecer as coisas, não apenas como elas parte de diferentes áreas do conhecimento e Martín-
são, mas como elas podem vir a ser [11], isto ocorre Baró fez isso pela Psicologia.
na medida em que se orienta para aquilo que se
deve ser. Então, Martín-Baró fez o seu posicionamento ético
que era estar do lado dos pobres e oprimidos. E no
Essa questão praxica deve se por a favor de momento em que alguém se solidariza e se engaja
encaminhar as maiorias para a conquista de um com os sofredores e oprimidos, se angaria inimigos
poder popular, um poder que proporcione aos povos automaticamente, entre os detentores do poder [6].
“tomarem as rédeas” de suas vidas nas próprias Portanto, é nesse sentido que aponto aqui, que a
mãos, como firma [11], realizar mudanças que sua opção ética pelos pobres, a sua práxis junto a
tornem as sociedades latino-americanas mais justas eles, talvez tenha sido uma das principais causas de
e humanas. seu assassinato. Pois, a Psicologia da Libertação
.5 O Paradigma da Libertação e Sua Dimensão propõe-se a balançar as estruturas [15], mexer nas
Ética relações de poder e de dominação, nas relações de
opressão e por fim transformá-las, proporcionando
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assim a libertação aos povos que estavam e estão [4]De La Corte, I. (2001). Memoria de um
nessas condições. compromisso: Lá psicología social de Ignácio Martín-
5. VIVER SEM CONHECER O PASSADO É COMO Baró. Bilbao, Espanha: Descleé
CAMINHAR NA ESCURIDÃO [5]Dobles, I. O. (2009). Ignácio Martín Baró y
Martín-Baró soube identificar os problemas da vida psicología de la liberación: um desafio vigente.
cotidiana dos povos latino-americanos e se deu :http://www.catedralibremartinbaro.org/pdfs/PCL_Dob
conta que a psicologia hegemônica de sua época lesI_UnDesafioVigente.pdf
não dava conta de responder a tais questões. A [6]Guareschi, P. (2011). Pressupostos
partir disso, transpôs o Paradigma da Libertação epistemológicos implícitos no conceito de libertação.
para a Psicologia, construindo então, a Psicologia da In: R. S. L. [7]Guzzo & F. Lacerda Jr, (Orgs).
Libertação. As dimensões dessa Psicologia aqui Psicologia Social para a América Latina: o resgate da
abordadas - teórica-conceitual, práxica e ética - Psicologia da Libertação. Campinas, SP: Editora
consistem em um propósito, e este é o da libertação Alínea.
dos povos latino-americanos de suas condições de [7]Kuhn, T. (1970) A estrutura das revoluções
opressão, subdesenvolvimento, injustiça e científicas. São Paulo, SP: Editora perspectivas.
desigualdade. [8]Lima, T. C. S. & Mioto, R. C. T. (2007).
Essa opção ética de Martín-Baró, pode ter lhe Procedimentos metodológicos na construção do
custado à vida, pois a sua ciência e a sua prática, conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica.
tinham como consequência abalar as estruturas de Revista Katál. Florianópolis 10 (esp), 37-45.
poder postas e superá-las. E por isso adquiriu [9]Martín-Baró, I. (1981). As aspiraciones del
inimigos, esses que eram donos do poder, a quem pequeño-burgués salvadoreño. Revista Estudios
não se interessava a libertação dos oprimidos. Centroamericanos, 35(377), 773-788.
[10]Martín-Baró, I (1996). O papel do Psicólogo.
Por isso, faz-se necessário o resgate da obra de
Estudos de Psicologia, 2(1),7-27.29.
Martín-Baró, considerando que a situação na
[11]Martín-Baró, I. (1998a). Hacia una psicología de
América Latina pouco mudou depois de sua morte.
la liberación . Boletín En A. Blanco (Ed.), Psicología
Sua teoria faz-se muito viva para a atuação dos
de la Liberación. Madrid: Editorial Trotta.
psicólogos comprometidos com as maiorias
[12]Martín-Baró, I. (1998b) La liberación como
populares nos dias de hoje.
horizonte de la psicología. En A. Blanco (Ed.),
O presente trabalho, também possibilitou uma Psicología de la Liberación. Madrid: Editorial Trotta.
indignação ao reavivar a memória, sobre a sangrenta [13]Martín-Baró, I. (2000). Acción y ideología:
noite do dia 15 de novembro para o dia 16 no ano de psicología social desde Centroamérica. San
1989, na qual os soldados a mando do governo Salvador: UCA Editores.
salvadorenho invadiram a UCA e bateram a porta da [14]Martín-Baró, I. (2011). Para uma Psicologia da
casa dos jesuítas. E quando Elacuría, seguido de Libertação. In: R. S. L. Guzzo & F. Lacerda Jr,
Martín-Baró, abriu a porta e com palavras fortes (Orgs). Psicologia Social para a América Latina: o
tentou deter a ação violenta e injusta dos soldados. resgate da Psicologia da Libertação. Campinas, SP:
Mas de nada adiantou, logo se viu o clarão da rajada Editora Alínea.
disparada da metralhadora que colocou fim a vida de [15]Osório, J. M. F. (2011). Ética e construção social
Ignácio Martín-Baró e de seus irmãos religiosos. da libertação latino-americana. In: R. S. L. Guzzo &
REFERÊNCIAS F. Lacerda Jr, (Orgs). Psicologia Social para a
[1]Barros, J. D (2010). Sobre a noção de Paradigma América Latina: o resgate da Psicologia da
e seu uso nas ciências humanas. Cad. de Pesq. Libertação. Campinas, SP: Editora Alínea.
Interdisc. em Ci-s. Hum-s., v.11, n.98, p. 426-444. [16]Roberttazi, M. (2005). Psicología social
[2]Cahuí, M. (1980). O que é ideologia: latinoameticana: uma resposta neoparadigmática.
http://pt.scribd.com/doc/12876624/Colecao- En: porte de autores argentinos a la Psicología
Primeiros-Passos-O-Que-e-IdeologiaMarilena-Chaui Social. El psicoanálisis en ámbitos colectivos.
[3]De La Corte, I. (2000). La psicología de Ignacio [17]Sloan, T. & Moreira, V. (2002) Personalidade,
Martín-Baró como psicología social crítica. Uma Ideologia e Psicopatologia Crítica. São Paulo, SP:
presentación de su obra. Revista de Psicología Geral Escuta.
y Aplicada. 53, 3, 437- 450.
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