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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2012 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
372.11 S713o
ISBN: 978-85-8377-008-4
CDD 372.11
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
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web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Gestão do Projeto Político-pedagógico. Rotinas de cuidado na educação. Orga-
nização de ambientes como recursos pedagógicos: espaços internos e externos.
Participação familiar. Avaliações. Inclusão de crianças com necessidades espe-
ciais. Formação continuada de professores. Adaptações: entrada, mudança de
turma e saída. Interações. Qualidade na educação infantil.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Você saberia dizer em que consiste a Organização do Trabalho
Pedagógico? Em que ela se baseia? Como podemos fazer a Organiza-
ção do Trabalho Pedagógico em nossa instituição? Essas são as per-
guntas que devem guiar o trabalho realizado em qualquer instituição.
Já mencionamos que o Trabalho Pedagógico aqui apresenta-
do é a organização do funcionamento institucional. Qualquer ação
dentro de uma instituição é Pedagógica, tendo em vista que ela
é um ato político (consciente ou não). A maneira como nos rela-
cionamos com as famílias, como organizamos os espaços para as
8 © Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil
Abordagem Geral
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estu-
dado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará
em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma
breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões
no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral
visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do
qual você possa construir um referencial teórico com base sólida
– científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profis-
são, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabi-
lidade social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação
das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este Caderno
de Referência de Conteúdo.
O Caderno de Referência de Conteúdo inicia com a Unidade
1, tratando do Projeto Político-Pedagógico (PPP) como instrumento
que precisa questionar as práticas educativas do presente por meio
de uma reflexão crítica para o futuro, avaliando suas consequências
na vida do aluno. Assim, ele deve levar a uma reflexão coletiva, de for-
ma a melhorar a ação educativa, na medida em que reflete individual
e coletivamente sobre ela.
Por isso, deve pautar-se no exercício do diálogo, pratican-
do constantemente o exercício da participação em todas as suas
dimensões: administrativas, financeiras e pedagógicas. Nessa
4. Objetivos gerais
5. Estrutura de organização da gestão:
5.1 Aspectos organizacionais;
5.2 Aspectos administrativos;
5.3 Aspectos financeiros (LIBÂNEO, 2008, p. 165).
6. Proposta curricular
6.1 Fundamentos sociológicos, psicológicos, culturais, episte-
mológicos, pedagógicos;
6.2 Organização curricular (a creche ou pré-escola, organização
das experiências das crianças); objetivos, conteúdos, desenvol-
vimento metodológico e avaliação da aprendizagem (LIBÂNEO,
2008, p. 165).
7. Formação de Professores.
8. Trabalho com pais e comunidade.
9. Formas de avaliação do Projeto.
Momento da Acolhida
É o momento do recebimento das crianças, que deveria ser
pensado não como um momento de espera, mas já um momento
de atividade. Uma possibilidade é deixar a sala organizada de for-
ma que as crianças vão chegando e se engajando em diferentes
atividades (livros, quebra-cabeças, vendo revistas, empilhando pe-
ças), até que a turma esteja completa.
Tempo de Planejamento
Apesar de parecer impossível, é viável a realização de plane-
jamento e reflexão ao longo do dia, enquanto o adulto acompanha
o grupo de crianças. Ao logo das atividades, o professor pode rea-
valiar as atividades e organizar os passos seguintes. Mas devemos
destacar que isso se torna possível quando as instituições respei-
tam a quantidade adequada de crianças por adulto.
Tempo de trabalho
Esse é um momento posterior ao planejamento, no qual se
desenvolve a atividade discutida e planejada. Segundo Lino (1998),
a criança deveria ter autonomia de escolher se vai trabalhar em
grupo ou sozinha, com ou sem o adulto.
Dependendo da organização da atividade, o adulto vai se posi-
cionar de uma ou de outra forma. O ideal é que não obrigue todas as
crianças a fazerem as mesmas atividades e respeite o tempo de rea-
lização de cada uma delas. Nesse sentido, é importante que lembre-
mos que cada ser humano tem um tempo de aprendizagem diferen-
te do outro, mesmo quando falamos em grupos de adultos, então,
imagine só a diferença que podemos encontrar entre as crianças.
Tempo de organizar
Refere-se ao tempo de recolher os materiais utilizados e os tra-
balhos finalizados, sendo que os que não foram concluídos devem ser
separados para serem terminados em um momento posterior.
© Caderno de Referência de Conteúdo 15
Tempo de revisão
Nesse momento, crianças e adultos reúnem-se para conversar
sobre o que foi realizado. É importante que isso seja feito mesmo com
as crianças que ainda não possuem a linguagem estruturada, pois se
trata de um ótimo momento para o desenvolvimento da linguagem
oral e organização do pensamento, afinal, a criança não desenvolverá
essas habilidades se não tiver oportunidade de praticá-las.
Tempo do lanche
Trata-se do lanche rápido, da manhã ou tarde, no qual os adultos
também poderiam fazer o seu lanche e não somente servir as crianças.
Seria interessante também que as crianças pudessem assumir ativida-
des, tais como entregar as canecas e ajudar no que for possível.
Tempo de roda
Trata-se de um momento de reunião em grande grupo, no
qual crianças e educador vão cantar canções, contar histórias,
dançar ao som de uma música e em diferentes ritmos, dramatizar
histórias, fazer imitação, planejar passeios e atividades etc.. Pode
durar em torno de 15 minutos ou mais, dependendo do nível de
envolvimento do grupo, dentro da sala de aula ou na área externa.
Nesse modelo High/Scope, também temos as chamadas ex-
periências-chave, que são classificadas em domínios – o desenvol-
vimento sócio-emocional, cognitivo e físico – "e descrevem como
comportamentos que as crianças realizam naturalmente entre os
dois anos e meio e os cinco e seis anos" (LINO, 1998, p. 196).
Essas experiências permitem ao professor compreender o
tipo de conhecimento que está sendo construído pela criança e
podem ser usadas para planejarem as atividades junto às crianças.
Vamos verificar quais são essas experiências e alguns dos
comportamentos que as crianças devem apresentar?
Representação
1) Reconhecer objetos pelo som, tato, gosto e odor.
2) Imitar ações e sons.
© Caderno de Referência de Conteúdo 17
Linguagem
1) Falar com outros sobre experiências pessoais significativas.
2) Descrever objetos, acontecimentos e relações.
Classificação
1) Pesquisar e rotular os atributos das coisas.
2) Observar e descrever semelhanças e diferenças.
Seriação
1) Comparar a mesma dimensão: mais longo/mais curto, mais áspero/mais su-
ave, etc.
2) Organizar diversas coisas seguindo a mesma dimensão e descrever as rela-
ções: o mais longo, o mais curto, etc.
Número
1) Comparar número e quantidade: mais/menos, mais coisas/menos coisas, a
mesma quantidade.
2) Organizar dois conjuntos de objetos por correspondência unívoca.
Espaço
1) Juntar coisas e separá-las.
2) Recompor e remodelar objetos (dobrar, torcer, esticar, empilhar) e observar
as mudanças.
Tempo
1) Começar e acabar uma ação diante de um sinal.
2) Vivenciar e descrever movimentos em diferentes velocidades.
Observação
Trata-se de um dos principais instrumentos para realizar a
formação do grupo de professores.
Para a realização da observação, é necessário ter uma me-
todologia, de forma que permita utilizar os dados da observação
para posterior análise. Assim, a observação possui características
específicas, tais como:
um foco claramente colocado para aquele que observa (uma crian-
ça, um grupo de crianças, uma situação no refeitório, um episódio
de roda de história etc.);
pode partir de uma ou mais perguntas, ou pode iluminar ampla-
mente uma situação para então gerar questões interessantes;
convida a um acompanhamento curioso e interessado do que se
passa na interação das crianças: seus movimentos corporais, falas,
expressões faciais, os objetos que manipulam e os locais que ocu-
pam, seu posicionamento isolado ou suas parcerias prediletas. Por
isso, se estende ao longo de certo tempo, não apenas de um episó-
dio esporádico (SÃO PAULO, 2007, p. 38).
Registro
Quando se realiza um bom registro da observação realizada,
temos a possibilidade de fazer uma boa análise do conteúdo. Na au-
sência dele, corre-se o risco de trabalhar com preconceitos e com in-
formações muito incompletas. Assim, a análise a partir dos registros
permite conhecer melhor as práticas educativas e as hipóteses do
professor, oferecendo possibilidade de abrir um diálogo e debates
construtivos em busca de um novo saber (SÃO PAULO, 2007).
O registro ocorre em função de várias questões, dentre elas
dos nossos conhecimentos anteriores, episódios marcantes, nossa
história de vida, etc. Mas deve-se estar atento para o fato de que a
memória não é suficiente, considerando que só registramos aquilo
que reconhecemos/identificamos, ou o que estamos acostumados
a enxergar e a que damos um significado (SÃO PAULO, 2007). As-
sim, transformar os registros de observação em uma boa docu-
mentação para análise é preciso:
ser feito, de preferência, simultaneamente à observação e informar
os nomes, idades, locais, horários, situações observadas e objetos
disponíveis.
descrever com detalhes o que as pessoas observadas fazem: seus
movimentos corporais, falas, expressões faciais: o que as pessoas
falam e para quem falam, os objetos que manipulam e os locais
onde se colocam (SÃO PAULO, 2007, p. 41 ).
Problematização
A problematização refere-se à necessidade de analisar o epi-
sódio e tomar consciência de suas dimensões pode ser uma impor-
tante estratégia de formação de professores, pois exige um esforço
para aprender a problematizar. Ao problematizarmos uma situação,
é importante que analisemos qual conceito de criança, educação,
desenvolvimento dentro da cultura orienta as ações dos professores
nas diferentes situações educativas observadas (SÃO PAULO, 2007).
No Tópico Relação com as Famílias, veremos os instrumen-
tos que poderão ajudar na formação dos professores.
Mudança de turma
A mudança de crianças para outras turmas deve ser feita
com muito cuidado, principalmente quando se trata de crianças
de 0-3 anos. O ideal seria realizar a mudança de turma, a cada ano,
tendo o cuidado de, nos últimos meses do ano anterior, iniciar um
processo de adaptação com o novo professor. Isso pode ser feito
organizando na rotina horários que promovam encontros entre
turmas mais jovens e mais velhas com seus educadores.
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados no Caderno de Referência de Con-
teúdo Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil.
Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Adaptação: 1 Ação ou efeito de adaptar. 2 Acomodação.
3 Biol Poder normal do olho de ajustar-se às variações da
© Caderno de Referência de Conteúdo 25
Organização do Trabalho
Pedagógico da educação infantil
Materiais
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las aos seus conhecimentos prévios ou informações ad-
quiridas junto aos colegas, pode ser uma forma de você avaliar o
seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões per-
tinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a ava-
liação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira
privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma for-
mação sólida para a sua prática profissional.
© Caderno de Referência de Conteúdo 31
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida
você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo
de emancipação do ser humano. É importante que você se atente
às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes
nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas
com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aqui-
2. CONTEÚDOS
• Definição de Projeto Político-pedagógico.
• Tópicos do Projeto Político-pedagógico.
• Papel dos gestores na construção do Projeto Político-pe-
dagógico.
34 © Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Iniciaremos, agora, uma jornada reflexiva sobre a atuação na
gestão do Projeto Político-pedagógico (PPP), tão falado e pouco
trabalhado na realidade das instituições de educação infantil.
Nesta unidade, estudaremos o conceito de Projeto Político-
-pedagógico e como pensar em colocá-lo em prática, pois muito se
diz sobre sua conceituação, mas pouco sobre sua operacionalização.
© U1 - A Gestão do Projeto Político-Pedagógico e sua Avaliação 35
5. O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO
Segundo Libâneo, o Projeto Político-pedagógico diz respeito
a um documento que:
[...] detalha objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a
ser desenvolvido na escola, expressando a síntese das exigências
sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e expectativas
da comunidade escolar (LIBÂNEO, 2008, p. 151).
12. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você estudou algumas questões relativas à
construção do Projeto Político-pedagógico, tão distantes da reali-
dade atual da educação infantil brasileira.
13. E-REFERÊNCIAS
ADRIÃO, T.; GARCIA, T.; BORGHI, R.; ARELARO, L. Uma modalidade peculiar de
privatização da educação pública: a aquisição de "sistemas de ensino" por municípios
paulistas. educação e sociedade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v30n108/
a0930108.pdf>. Acesso em: 3 de out. 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Indicadores de qualidade na educação infantil.
Secretaria de Educação Básica. Brasília: 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
dmdocuments/indic_qualit_educ_infantil.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2011.
______. Ministério da Educação. Parâmetros nacionais de qualidade para a educação
infantil. vol. 1. Secretaria de Educação Básica. Brasília: 2006. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2011.
______. Resolução CEB Nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Institui as diretrizes curriculares
nacionais para a educação infantil. Brasília. Câmara de Educação Básica, 2009. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12992:d
iretrizes-para-a-educacao-basica&catid=323:orgaos-vinculados>. Acesso em: 21 jul. 2011.
2
1. OBJETIVOS
• Conhecer e compreender o modelo High/Scope para or-
ganização da rotina.
• Compreender as experiências-chave importantes de se-
rem inseridas na rotina.
• Compreender a razão da indissociabilidade do cuidar e
educar.
• Compreender como realizar a organização do tempo jun-
to às atividades permanentes, os projetos de trabalho,
banho, escovação de dentes e troca.
• Entender a importância da formação continuada de pro-
fessores dentro da rotina.
• Compreender a importância dos momentos de formação
de professores, enquanto atividades que devem fazer
parte da rotina institucional.
76 © Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil
2. CONTEÚDOS
• O modelo High/Scope para organização da rotina.
• Experiências-chave importantes de serem inseridas na rotina.
• Pontos sobre a indissociabilidade do cuidar e educar.
• Organização do tempo e atividades permanentes, proje-
tos de trabalho, banho, escovação de dentes e troca.
• Formação continuada de professores dentro da rotina.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 1, você estudou algumas linhas gerais para a
construção do Projeto Político-pedagógico, bem como refletiu
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 77
Observações
A rotina possui os mesmos componentes todos os dias.
A rotina diária ocorre sempre na mesma sequência.
A rotina diária inclui o processo planejar-fazer-revisar.
A rotina diária inclui oportunidades para atividades individuais, atividades de
grande grupo e de pequeno grupo.
A rotina diária possibilita interações criança/criança, criança/adulto.
A rotina diária permite à criança expor suas intenções, colocá-las em prática e
realizar reflexões sobre as atividades desenvolvidas.
Um exemplo de horário em que são aplicadas as rotinas.
Manhã
9h às 9h20min – Acolhida
9h20min às 9h45min – Planejamento
9h45min às 10h30min – Trabalho individual
10h30min às 10h40min – Tempo de organizar
10h40min às 11h – Almoço – Tempo de revisão
11h às 11h20min – Recreio
11h20min às 11h40min – Trabalho em pequeno grupo
11h40min às 12h – Tempo de roda
Tarde
14h às 14h20min – Acolhida
14h20min às 14h45min – Planejamento
14h45min às 15h05min – Trabalho individual
15h05min às 15h15min – Tempo de organizar
15h15min às 15h30min – Merenda e Tempo de revisão
15h30min às 15h45min – Recreio
15h45min às 16h – Tempo de roda
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A rotina pode ser organizada para período integral ou parcial,
dependendo do tempo de atendimento realizado pela instituição.
Ela não deve ser feita somente para crianças pequenas (creche),
mas também para pré-escola em período parcial, pois nos ajuda
a refletir sobre o tempo que destinamos às diversas atividades,
e buscar um equilíbrio entre elas. O tempo destinado a cada ati-
vidade deve ser adequado às circunstâncias, tal como o número
de crianças, mas respeitando a sequência e o tempo de revisão e
planejamento.
A seguir, apresentaremos uma explicação para os itens apre-
sentados na estrutura da rotina.
Momento da Acolhida
Trata-se do momento do recebimento das crianças, no qual
o adulto deveria ficar na porta da sala, recebendo as crianças e
seus pais. Nesse acolhimento, as demais crianças que já chega-
ram, também, poderiam participar, recebendo os coleguinhas
juntamente com o educador. Outra possibilidade é deixar a sala
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 81
Tempo de trabalho
O tempo de trabalho é descrito por Lino (1998) como o momen-
to seguinte ao planejamento, em que se desenvolve a atividade que
foi discutida e planejada com as crianças, como mencionamos anterior-
mente. Para essa autora, a criança precisa ter autonomia para escolher
com o que e em qual grupo vai trabalhar. Isso significa também que
pode querer trabalhar sozinha, inclusive sem ajuda do adulto.
Essa autonomia para escolha de objetos, locais e grupos só
vai se efetivar em função de como o adulto organizou o espaço. O
Tempo de organizar
Esse momento merece especial atenção, pois refere-se ao
tempo de recolher os materiais utilizados e os trabalhos finaliza-
dos, destinando-os a um local correto, que posteriormente deve
estar acessível às crianças. Já os trabalhos não concluídos devem
ser separados para serem terminados num momento posterior,
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 87
Tempo de revisão
A revisão é um momento em que crianças e adultos podem
ser reunir para conversar sobre as diferentes atividades realizadas
no dia. Trata-se de uma tarefa fácil de ser desenvolvida com crianças
que já falam. Contudo, é importante que isso seja feito mesmo com
as crianças que ainda não possuem a linguagem estruturada. Nesse
sentido, é um ótimo momento para o desenvolvimento da lingua-
gem oral e para a organização do pensamento. O adulto pode iniciar
com perguntas que solicitem respostas como 'sim' e 'não', exigindo,
posteriormente, maior complexidade. É importante sempre ter em
mente que as crianças não vão desenvolver determinadas habilida-
des se não tiverem oportunidade de praticá-las.
Algumas estratégias podem ser as mesmas realizadas no pla-
nejamento, mas é fundamental que as crianças expressem o que foi
mais significativo e reflitam sobre o que foi feito, estimuladas pelas
perguntas realizadas pelo adulto. É possível também discutir me-
lhorias a serem realizadas nas atividades, de forma a torná-las mais
interessantes. Esse momento pode ser realizado juntamente com o
momento do lanche, dependendo dos objetivos do professor.
Tempo do lanche
Seja de manhã ou à tarde, o lanche costuma ser uma ativida-
de mais rápida. No entanto, podemos transformar esse momento,
muitas vezes tratado de forma mecânica, de uma maneira mais
educativa. As crianças poderiam assumir tarefas, tais como entre-
gar canecas, bolachas, pão etc. e os adultos também poderiam fa-
zer o seu lanche, alimentando-se com as crianças.
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 89
Tempo de roda
A roda é o momento de reunião do grande grupo, no qual
crianças e educador(a) vão contar suas histórias, cantar canções, ler
histórias, dançar ao som de uma música e em diferentes ritmos, dra-
matizar histórias, fazer imitação, planejar passeios e atividades etc.
O tempo de duração também será variável, pois dependerá do nível
de envolvimento do grupo, dentro da sala de aula ou na área exter-
na. É importante que o educador se preocupe em organizar um mo-
mento dinâmico, envolvente, que busque, cada vez mais, aumentar
o tempo de concentração das crianças em diferentes atividades.
É um momento no qual o adulto planeja atividades e apre-
senta-as às crianças, para que deem sugestões. Esse planejamento
deve ocorrer com base nas observações que ele realiza ao longo
do trabalho e, de preferência, que esteja articulado a algum traba-
lho/projeto que foi ou vem sendo desenvolvido.
Verifica-se então que, quando organizamos uma rotina com
horários sistematicamente organizados, atingimos alguns objeti-
vos importantes, tais como:
• proporcionar à criança a oportunidade de expor intenções, to-
mar decisões, concretizá-las e, mais adiante, realizar as suas ex-
periências com outras crianças e adultos;
• ajudar a criança a compreender o que é o tempo, através das
sequências de tempos que se repetem sistematicamente;
• ajudar a controlar o seu tempo, sem necessidade de que o adul-
to lhe diga o que deve fazer ao acabar uma atividade;
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 91
Representação
Reconhecer objetos pelo som, tanto, gosto e odor.
Imitar ações e sons.
Relacionar figuras, fotografias e modelos com lugares e coisas reais.
Representar, fazer graças ou imitar.
Fazer modelos com barro, blocos, etc.
Desenhar e pintar.
Linguagem
Falar com outros sobre experiências pessoais significativas.
Descrever objetos, acontecimentos e relações.
Divertir-se com a linguagem fazendo rimas, inventando histórias e coisas reais.
Escrever de várias formas (desenhando, fazendo garatujas, usando formas se-
melhantes a letras, inventando ortografia ou usando a escrita convencional).
Classificação
Pesquisar e rotular os atributos das coisas.
Observar e descrever semelhanças e diferenças.
Separar e agrupar objetos.
Utilizar e distribuir qualquer coisa de diversas formas.
Distinguir entre "alguns" e "todos".
Considerar mais de um atributo ao mesmo tempo.
Descrever as características que determinadas coisas não têm ou dizer a que
categoria elas pertencem.
Seriação
Comparar a mesma dimensão: mais longo/mais curto, mais áspero/mais suave, etc.
Organizar diversas coisas seguindo a mesma dimensão e descrever as relações:
o mais longo, o mais curto, etc.
Ajustar, por tentativa e erro, um conjunto organizado de objetos a outro.
Número.
Comparar número e quantidade: mais/menos, mais coisas/menos coisas, a mes-
ma quantidade.
Organizar dois conjuntos de objetos por correspondência unívoca.
Contar objetivo, contar de cor.
Espaço
Juntar coisas e separá-las.
Recompor e remodelar objetos (dobrar, torcer, esticar, empilhar) e observar as
mudanças.
Observar coisas e lugares a partir de diferentes perspectivas.
Vivenciar e descrever posições, direções e distâncias relativas.
Vivenciar e representar o próprio corpo.
Aprender a localizar as coisas na sala de aula, na escola, no bairro.
Interpretar representações de relações espaciais em desenhos e pinturas.
Distinguir e descrever formas.
Tempo
Começar e acabar uma ação diante de um sinal.
Vivenciar e descrever movimentos em diferentes velocidades.
Vivenciar e comparar intervalos de tempo.
Vivenciar e representar mudanças.
Lembrar e prever acontecimentos e representar a sua ordem.
Usar medidas de tempo convencionais e observar que os relógios e os calendá-
rios marcam a passagem do tempo.
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 95
Organização do tempo
A rotina representa a estrutura sobre a qual será organizado
o tempo didático - trabalho educativo realizado com as crianças,
além das atividades de cuidado, que também deverão carregar o
caráter educativo. Assim, deve envolver os cuidados, as brincadei-
ras e as situações de aprendizagens orientadas (BRASIL, 1998).
Para sua efetivação, a apresentação de novos conteúdos ne-
cessita das mais diferentes estratégias didáticas, tal como contar
uma nova história, apresentar uma técnica diferente de desenho
até situações mais elaboradas, como o desenvolvimento de um
projeto, que exige um planejamento sistemático com um encadea-
mento de ações que visam a desenvolver aprendizagens específi-
cas (BRASIL, 1998).
As diferentes estruturas didáticas apresentam múltiplas es-
tratégias organizadas em função das intenções educativas e, por
isso, devem ser expressas no projeto educativo (no Projeto Polí-
Atividades permanentes
Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 55), essas atividades per-
manentes respondem às necessidades básicas de cuidados, apren-
dizagem e de prazer para as crianças, e seus conteúdos necessitam
de uma constância. Será a escolha dos conteúdos que definirá o tipo
de atividade permanente a ser realizada com regularidade, diária
ou semanal. Consideram-se atividades permanentes, entre outras:
• brincadeiras no espaço interno e externo;
• roda de história;
• roda de conversas;
• ateliês ou oficinas de desenho, pintura, modelagem e música;
• atividades diversificadas ou ambientes organizados por temas
ou materiais à escolha da criança, incluindo momentos para
que as crianças possam ficar sozinhas se assim o desejarem;
• cuidados com o corpo.
Projetos de trabalho
Os projetos de trabalho também devem ter horário previsto
nas rotinas. Tratam-se de:
[...] conjuntos de atividades que trabalham com conhecimentos es-
pecíficos construídos a partir de um dos eixos de trabalho que se
organizam ao redor de um problema para resolver ou um produto
final que se quer obter. Possui uma duração que pode variar con-
forme o objetivo, o desenrolar das várias etapas, o desejo e o inte-
resse das crianças pelo assunto tratado (BRASIL, 1998, p. 56-57).
8. TEXTO COMPLEMENTAR
A seguir, você encontrará dois textos completos das seguin-
tes autoras: Maria Carmem Silveira Barbosa, professora da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Sandra Regina Simonis
Richter, professora da Universidade de Santa Cruz do Sul, e Zilma
Moraes Ramos de Oliveira, professora da Universidade de São Pau-
lo. Esses textos foram publicados, originalmente, no documento:
Salto para o Futuro, Educação de Crianças em Creches, produzido
pela TV Escola, Secretaria de Educação a Distância e Ministério da
Educação, que se encontram disponíveis no link <http://tvbrasil.
org.br/fotos/salto/series/18165615Educriancascreches.pdf>. Nes-
se documento, você encontrará outros textos que poderão contri-
buir, e muito, para a sua formação profissional.
Tratam-se de textos que oferecem uma ótima oportunidade
para aprofundar a reflexão sobre a organização curricular na edu-
cação infantil e sobre as concepções subjacentes a ela.
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 103
Referências Bibliográficas
BACHELARD, Gaston. A terra e os devaneios da vontade. São Paulo: Martins
Fontes, 1991.
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutemberg a Diderot.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
GOODSON, Ivor. As políticas de currículo e de escolarização. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2008.
SILVA, Tomaz T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currí-
culo. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
SILVA, Tomaz T. O currículo como fetiche: a poética e a política do texto curricu-
lar. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Leia a seguir o texto da professora da Universidade de São
Paulo, Zilma de Moraes Ramos de Oliveira, no qual constam orien-
tações curriculares e propostas pedagógicas ao professor que irá
trabalhar com as crianças na educação infantil.
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Responda às questões a seguir que tratam da temática de-
senvolvida nesta unidade.
1) Após conhecer o modelo High/Scope, poderíamos dizer que ele privilegia o
planejamento na rotina? Ele alega ser viável? De que forma?
2) É importante que a criança tenha o direito de iniciar uma atividade que des-
perte o seu interesse, e que a desenvolva com o apoio dos demais colegas e
professor? Lino destaca que, para manter crianças interessadas e motivadas
nesse processo de planejamento, algumas estratégias podem ser utilizadas,
quais são elas?
3) Lino nos apontou que devemos ter clareza de que o tempo de trabalho deve
proporcionar:
a) divertimento e possibilidade de a criança colocar suas ideias em prática;
b) concentração como possibilidade de identificar, resolver problemas e
propor soluções;
c) relacionamento com outras crianças e adultos, sem que tenha que ficar
em silêncio;
d) movimento por meio do fazer, ver e falar;
e) realização das experiências-chave.
f) Para isso, a autora defende que o professor deve zelar para que seja um
momento em que seja possível criar certas condições ambientais. Quais
seriam elas?
4) Quando organizamos uma rotina com horários sistematicamente organizados,
atingimos alguns objetivos importantes junto às crianças, quais são eles?
10. CONSIDERAÇÕES
Observamos nesta unidade que a rotina na educação infan-
til pode facilitar ou cercear os processos de desenvolvimento e
aprendizagem. Precisamos ter ciência de que as rotinas rígidas e
inflexíveis desconsideram a criança e exigem que as crianças se
adaptem a elas. É necessário, então, considerar o número de horas
que a criança permanece na instituição e, consequentemente, a
amplitude dos cuidados que serão necessários, levando em conta
o atendimento, os ritmos individuais e a especificidade do traba-
lho pedagógico e o planejamento constante da rotina.
Você, também, pôde verificar que a organização do tempo de-
veria prever diversas possibilidades de atividades, inclusive para se-
rem realizadas simultaneamente. Além de atividades que solicitam
maior ou menor movimento, que sejam realizadas de formal indivi-
dual ou em grupo, com maior ou menor grau de concentração etc.
Por todas essas razões, pudemos constatar a necessidade de
construirmos uma rotina clara e compreensível para as crianças,
que possa orientar suas ações, assim como dos professores, de
forma a fazer que a transição entre as atividades seja mais fluidas e
que ocorra a antecipação das situações que irão acontecer. Assim,
© U2 - As Rotinas de Cuidado e Educação 113
11. E-REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. C. S.; RICHTER, S. R. S. Desenvolvimento de crianças de 0-3 anos: qual
currículo para crianças bem pequenas?. Salto para o Futuro: Educação de Crianças
em Creches. TV Escola. Secretaria de Educação a Distância e Ministério da Educação.
2009. p. 25-30. Disponível em: <http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/18165615-
Educriancascreches.pdf>. Acesso em: 09 fev. 2012.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Publicações. Educação infantil. Disponível em: < http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12579%3Aeducac
ao-infantil&Itemid=859>. Acesso em: 2 out. 2011.
OLIVEIRA, Z. M. R. Orientações Curriculares e Propostas Pedagógicas: Formação de
professores e apropriação de modos historicamente elaborados de pensar, sentir e agir
na educação infantil. Salto para o Futuro: Educação de crianças em creches. Tv Escola.
Secretaria de Educação a Distância e Ministério da Educação. 2009. p. 31-36 Disponível
em: <http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/18165615-Educriancascreches.pdf>.
Acesso em: 09 fev. 2012.
2. CONTEÚDOS
• Formação continuada de professores: observação, registro
e problematização.
• Importância do acolhimento e participação das famílias.
• Adaptações: entrada na instituição, mudança de turma,
saída para o ensino fundamental.
116 © Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Após ter estudado sobre a organização da rotina nas institui-
ções de educação infantil, você entrará em contato com dois aspectos
importantes: a organização da formação continuada de professores
e a relação com as famílias. Nesta unidade, você verá indicações e
orientações de como pensar na organização do trabalho pedagógico,
com vistas ao estabelecimento de um atendimento de qualidade.
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 117
Observação
A observação é um recurso fundamental para a atuação do
coordenador pedagógico, na condução do processo de formação
de professores. Mas observar não significa olhar como fazemos no
dia a dia com pessoas e objetos. Neste caso, a observação deve
ser um instrumento de pesquisa não para confirmação de ideias
preconcebidas, mas para investigar aquilo que não está explícito.
Desse modo, quem observa deve captar o que está acontecendo,
sem emitir juízos de valor. Assim, ao realizar uma observação bem
feita, é possível que outra pessoa compreenda por onde passou o
olhar do observador. Nesse sentido, quando o professor observa e
registra o coordenador pedagógico deve ser capaz de apreender
aquilo que foi observado, o mais detalhadamente possível, a fim
de que possa debater as diferentes situações junto ao professor.
Para fazermos uma observação, é preciso termos consciên-
cia de que precisamos de uma metodologia. Essa metodologia exi-
ge também um roteiro de observação, para que dê foco ao olhar
do observador e permita utilizar os dados da observação para pos-
terior análise junto ao coordenador ou coletivamente. Assim, a ob-
servação possui características específicas, tais como:
• um foco claramente colocado para aquele que observa (uma
criança, um grupo de crianças, uma situação no refeitório, um
episódio de roda de história etc.);
Registro
Um registro descritivo bem elaborado nos dá a possibilidade
de fazer uma boa análise da situação, em função do conteúdo re-
gistrado. Quando não temos o registro descritivo, corremos o risco
de trabalharmos com preconceitos ou informações incompletas.
Para que possamos conhecer melhor as práticas educativas e as
hipóteses do professor, precisamos analisar os registros escritos
(ou filmados), para que possamos, posteriormente, abrir para um
debate construtivo em busca do aperfeiçoamento dos nossos sa-
beres (SÃO PAULO, 2007).
A análise dos registros permite verificar as concepções pre-
sentes, tais como a de criança e seu desenvolvimento, compor-
tamento etc. Uma primeira forma de registro é contar com os
dados da memória, pois, de centenas de milhares de cenas que
observamos, só nos lembramos daquelas que ficaram registradas
na memória. A capacidade de realizar o registro ocorre em função
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 127
Problematização
Muitas vezes, os registros apresentam informações insufi-
cientes para que o leitor possa compreender a complexidade das
interações que ocorreram e dos demais elementos que interferem
nas situações educativas. Essas informações não aparecem por-
que, muito provavelmente, não chamaram a atenção do profes-
sor, não eram facilmente observáveis. Para isso, a melhor maneira
de aperfeiçoar o registro é aprofundar as observações, buscando
apresentar informações que tornem o registro mais claro e com-
pleto. Quando possível, é importante voltar a observar a situação e
a levantar perguntas a partir do que foi visto, de forma a contribuir
para a problematização e construção de uma visão mais precisa e
reflexiva do episódio (SÃO PAULO, 2007). Essa atitude de analisar
o episódio pode ser uma importante estratégia de formação de
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 129
6. RELAÇÃO INSTITUIÇÃO-FAMÍLIA
Ao considerarmos as características da faixa etária das crian-
ças da educação infantil, bem como as necessidades de construção
de uma sociedade que seja mais democrática e também pluralista,
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI
(BRASIL, 1998) destaca a importância de destinar uma especial
atenção à relação entre as instituições e as famílias.
O documento aponta que, em grande parte das instituições
infantis, essa relação é conflituosa, muitas vezes causada por uma
concepção equivocada de que as famílias atrapalham a aprendi-
zagem e socialização das crianças. Isso piora quando pensamos
nas famílias de baixa renda, pois, neste caso, constatamos que são
consideradas portadoras de carências de toda ordem e incapa-
zes de educar seus filhos. Com relação às famílias de maior poder
aquisitivo, as críticas voltam-se à relação afetiva – de má qualidade
- que estabelecem com as crianças. Todas essas ideias preconcebi-
7. ADAPTAÇÕES
Mudança de turma
Quando realizamos uma mudança de crianças para outras
turmas, precisamos ter muito cuidado, dando especial atenção às
crianças menores de três anos.
Caso seja possível, é recomendável que as mudanças sejam
realizadas a cada ano (e não no meio do ano), tendo cuidado para
iniciar uma adaptação com a nova turma, no final do ano ante-
rior à entrada no novo grupo. Essa adaptação poderá ser feita com
uma reorganização das rotinas, prevendo horários que possibili-
tem o encontro entre as turmas mais velhas, junto às crianças mais
novas, e seus educadores.
Deve-se evitar a mudança de uma criança sozinha, procu-
rando, pelo menos, realizar a transferência em pequenos grupos e
promovendo encontros anteriores com a nova professora. A inte-
gração com a nova turma precisa ser gradativa, incluindo o envol-
vimento do adulto com o qual as crianças já estão acostumadas.
Para essas crianças, mudanças especiais na rotina são necessárias,
incluindo visitas anteriores à sala da nova turma. Somente assim
vão sentir-se seguras para explorar o ambiente e para se relaciona-
rem com novas crianças.
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
Para complementar seus estudos acerca dos instrumentos
que podem ser utilizados na formação dos educadores, encontra-se
a seguir um texto que esclarece, de forma bem clara, o que é um
diário de campo do professor.
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 139
Pais na creche:
a arte do diálogo entre educadores e família–––––––––––––––
Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho
A obra Pais na creche: a arte do diálogo entre educadores e família evidencia
que a creche, na Itália – igualmente a outros serviços destinados às crianças de
zero a três anos – vem atravessando um dos momentos mais difíceis dos últimos
trinta anos, em virtude, basicamente, de sua fragilidade institucional perante o
enleamento da legislação. Acrescente-se, ainda, a proposta de antecipação do
ingresso das crianças para dois anos e meio à escola da infância, que coloca em
xeque diversos fatores, quer em relação ao significado cultural da creche, com
seus projetos pedagógicos e organizativos, quer no concernente às propostas
educativas destinadas às crianças e suas famílias. Contudo, dificilmente existe,
hoje, uma instituição que, como as creches, tenha sido capaz de, em tão pou-
co tempo e com tanta riqueza, fazer pesquisas, percursos pedagógico-culturais,
projetos educativos para crianças, bem como estratégias de apoio às famílias.
A obra, composta por seis capítulos, divide-se em duas partes. Na primeira, abor-
da o tema da família, sua identidade e representações, analisando temas como
o significado atual de tornar-se família, a representação da paternidade e da ma-
ternidade no imaginário coletivo e cinematográfico e o significado do nascimento
do bebê para a família. Na segunda parte, evidencia o crescimento da criança
para além do âmbito familiar, enfatizando a creche, a relação entre educadores e
família, bem como as perspectivas para essas duas instituições.
O olhar atento que a obra dirige à participação familiar no espaço educativo das
creches, em seus múltiplos aspectos, constitui excelente trabalho de reflexão aos
que, por diferentes motivos, ocupam-se da infância, em particular professores(as)
da Educação Infantil. Ser pai e ser mãe não é algo natural. Torna-se pai e mãe!
Este vir a ser implica um projeto de vida que, para além das alegrias e gratifica-
ções, implica novos enredos para e na vida do casal, enredos que, freqüente-
mente, impõem-se de forma imprevisível, dando lugar a novas experiências e,
desse modo, a novas respostas. Enredos, experiências e respostas constitutivos
quer da possibilidade da continuidade, quer da mudança de padrões de compor-
tamentos e das relações estabelecidas entre sujeitos e instituições envolvidos no
trato da criança.
Há muito, nas sociedades ocidentais contemporâneas, já não se reduz o conceito
de maternidade a um papel, anteriormente, inevitável para a mulher. O papel da
maternidade tem sido exercido mais conscientemente e em virtude das experiên-
cias de cada indivíduo (tanto homens, quanto mulheres) vai se reconfigurando.
Tornar-se pai e mãe é, também, um processo carregado de variadas emoções:
significa atravessar uma fase da vida, constituída por mudanças relevantes, pos-
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 141
sibilitando a construção de uma nova identidade: a de ser pai e mãe, o que repre-
senta uma dimensão diferente da vida adulta, na qual o pai e a mãe devem ativar
novos recursos, novos registros relacionais e cognitivos, novas modalidades de
organização. E como as identidades paternas e maternas são representadas nos
filmes e no imaginário coletivo? Esse tipo de análise é bastante extensa na obra,
tanto em relação aos filmes americanos, como italianos.
Nesta resenha, destacaremos apenas um filme, que julgamos como um divisor
de águas no que concerne à concepção dos papéis de pai e mãe na relação com
a criança. Trata-se de Kramer versus Kramer, interpretado por Dustin Hoffman,
que narra uma original história familiar, em que o marido, abandonado pela espo-
sa, vê-se às voltas com o cuidar do filho. Passado o momento inicial de angústia,
o pai se sente, perfeitamente gratificado nessa tarefa – aliás, mais do que no seu
trabalho – a ponto de recorrer ao tribunal para garantir a guarda do filho, quando
a mãe retorna em busca de reassumir seu papel de mãe.
Por que considera-se este filme como um divisor de águas? Porque, pela pri-
meira vez, o cinema propõe um novo modelo paterno, aquele que cria e educa o
filho. Um modelo, decididamente, fora dos cânones tradicionais.
A partir do final da década de 1970, a mulher ocidental começa a forjar sua nova
identidade. Reivindica autonomia na atividade profissional, declarando aberto
conflito à sociedade patriarcal e ao homem – não ao homem isolado, com quem
se relaciona, mas ao homem tomado na acepção emblemática de uma certa
configuração socioeconômica – estruturando sua consciência de gênero e cons-
truindo um "nós" coletivo, no interior do qual a mulher recusa-se a assumir o
único papel que, até então, lhe fora reservado: o de ser mãe. Dessa forma, ser
mãe torna-se apenas um dos horizontes da vida feminina. Estas transformações
possibilitam à mulher, cada vez mais, decidir ter ou não filhos ou filhas.
A obra destaca, ainda, as transformações em relação às figuras paterna e mater-
na ocorridas na atual configuração societal, evidenciando quão complexas são
as situações familiares e auxiliando a compreender de que modo o nascimento
de um filho, ainda que muito desejado e fruto de uma intensa relação afetiva,
pode colocar duras provas à estabilidade e à preservação do casal. O desconfor-
to ao voltar para casa, o impacto com a vida cotidiana, particularmente cansativa,
um sentimento de vazio, a ambivalência em relação ao apoio familiar disponível
são experiências que, freqüentemente, os dois membros do casal, ainda que
de forma diferente, enfrentam. Recorrer aos parentes, em particular aos avós,
é uma prática ligada à qualidade do relacionamento existente com a família de
origem: é difícil, não raras vezes, instituir uma distância justa que circunscreva
eventuais intromissões dos avós e estabeleça limites recíprocos.
Essa é uma vivência comum a todos e todas que estão às voltas com o nasci-
mento de uma criança. Todavia, torna-se necessário encontrar soluções e reen-
contrar o equilíbrio por meio de redes de apoio, sejam elas de ordem familiar ou
social. No que diz respeito a redes de apoio de natureza social, lugar importante
ocupam as creches e os serviços integrativos oferecidos aos bebês, que, no
contexto italiano, são de alta qualidade.
A introdução da criança na creche pode ser considerada um rito de passagem,
que marca a primeira verdadeira separação da criança de seu ambiente familiar
e sua entrada no universo social. Trata-se de um momento inicial de exercício da
autonomia para ela, que vai aprendendo a governar-se. Evidentemente, isso não
acontece repentinamente: é um processo de apego e separação. Alguns aspec-
tos, ainda, são importantes destacar no que concerne à vida na creche: a amiza-
de que nasce entre as crianças inicia um processo de disposição social, que está
na base da colaboração e da comunicação; esse novo relacionamento fornece
à criança a possibilidade de ela se conhecer e conhecer os outros e o mundo.
Estudos recentes nas creches confirmam que a interação entre pares – desen-
volvendo-se em uma relação de iguais – comporta, no plano cognitivo, uma di-
versidade de informações e conhecimentos, bem como, no plano afetivo, enfren-
tamentos e possibilidades de identificações diversas. Tais estudos, realizados
por meio de observações, demonstram que entre as crianças existe colaboração,
interesse pelos coetâneos, curiosidade intelectual e capacidade de compartilhar
a atenção.
As creches e os demais serviços integrados destinados aos três primeiros anos
de vida da criança, em virtude da grande experiência de relacionamento, podem
fornecer instrumentos importantes no sentido de interpretar a cotidianidade fami-
liar, pois trabalhadores e trabalhadoras das creches já elaboraram sofisticadas
competências, tornando-se hábeis no que temos chamado de "arte do diálogo"
com a família.
Qual é, contudo, o projeto político-pedagógico da creche? É importante indagar
que tipo de proposta pretendemos compartilhar com os pais em relação às crian-
ças? A partir de quais objetivos articula-se o projeto político-pedagógico? Qual
criança imaginamos? Para qual criança organizamos nossa intervenção educa-
tiva? A construção da identidade representa o fio condutor nucleador de todas
as atividades do projeto político-pedagógico da creche destinada a organizar na
criança uma troca permanente consigo mesma e entre si e os outros, adultos,
coetâneos e com a imagem de si transmitida por estes interlocutores. Tudo isso
deve estar inserido em um contexto maior que tenha como objetivo o bem-estar
da criança, ou melhor, "o estar bem no mundo". Isso tudo, ancorado na realidade,
referenciado no passado, permitindo a elaboração e vivência de instrumentos de
leitura e compreensão do presente e projeção de um futuro, que se paute em
princípios éticos diversos dos que têm regulado o habitus contemporâneo. Essa
perspectiva requer dos educadores, mediante processos formativos, um apro-
fundamento teórico que permita analisar, elaborar e traduzir, operacionalmente,
a partir de estratégias educativas e organizacionais, o conceito de identidade.
Qual o papel do ambiente (espaço e tempo), o papel das experiências, de adultos
e crianças, dos jogos, das atividades (os percursos cognitivos)? Qual o contexto
em que os(as) professores(as) da creche desenvolvem seu trabalho?
O contexto em que atua o profissional da creche é representado por um traba-
lho coletivo, uma comunidade educativa, um espaço predominantemente aberto,
que dirige a creche, pedagógica e administrativamente, mediante o conjunto de
diferentes figuras profissionais (educadores, pessoas de apoio e cozinheiras),
atuando em distintos trabalhos, requerendo paridade e colaboração nesse fa-
zer. E qual é a identidade do(a) professor(a) de creche? Importa frisar que, no
panorama italiano, é um profissional com características bastante anômalas e
que, muito embora possua uma riqueza de reflexões teóricas em torno da cre-
che, ressente-se, ainda, da falta de um perfil da profissão que lhe dê um caráter
homogêneo. Pode-se, porém, assegurar que este perfil não corresponde aos
modelos familiares ou escolares.
E qual a especificidade do trabalho do(a) professor(a) de creche? Este pode ser
resumido em duas palavras: cuidar e educar. O que significa cuidar? O trabalho
de cuidar, realizado pelo(a) professor(a) de creche, é complexo e requer habili-
dades de ordem psicológica, organizativa e estratégica. Requer rapidez de deci-
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 143
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade:
1) No início da unidade, discutimos a importância do coordenador pedagógico
na formação continuada de professores. No entanto, destacamos a necessi-
dade também da formação continuada dos coordenadores. Dessa maneira,
procure relembrar algumas questões que foram apresentadas, tais como:
a) Qual o problema de coordenadores pedagógicos contratados sem con-
curso?
b) Quais saberes devem ser desenvolvidos pelos coordenadores pedagó-
gicos, para apoiarem o professor?
4) Como fazer para que haja acolhimento das diferentes culturas, valores e
crenças sobre educação de crianças e inclusão do conhecimento familiar?
10. CONSIDERAÇÕES
Até o momento você teve a oportunidade de estudar: as
orientações para a construção do Projeto Político-pedagógico; a
rotina institucional, que coloca em prática as concepções presen-
tes no PPP; os aspectos da formação continuada de professores e
coordenadores pedagógicos; indicações sobre como se processam
a relação com as famílias e os diferentes processos de adaptação
que ocorrem na instituição. Esperamos que você esteja aprovei-
tando os ensinamentos deste Caderno de Referência de Conteúdo,
analisando criticamente a atual situação da educação infantil.
Na próxima unidade, trataremos da qualidade em educação
infantil e a organização dos espaços enquanto promotor do de-
senvolvimento infantil, por não ser somente um cenário, mas uma
espécie de agente que transforma e é transformado por todos
aqueles que frequentam o espaço educativo.
11. E-REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Publicações: educação infantil. Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12579%3Aeducac
ao-infantil&Itemid=859>. Acesso em: 2 out. 2011.
______. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a
educação infantil. vol. 1. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEB, 1988.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article
&id=12579%3Aeducacao-infantil&Itemid=859>. Acesso em: 2 out. 2011.
CARVALHO, A. M. O. T. Pais na creche: a arte do diálogo entre educadores e família. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v26n91/a20v2691.pdf>. Acesso em: 09 out. 2011.
OLIVEIRA, Z. M. R. Orientações curriculares e propostas pedagógicas. Formação de
professores e apropriação de modos historicamente elaborados de pensar, sentir e agir
© U3 - Formação Continuada de Professores, Relação com as Famílias e Adaptações 145
2. CONTEÚDOS
• Conceito de qualidade.
• Conceito de espaço e ambiente.
• Orientações para construção de instituições.
148 © Organização do Trabalho Pedagógico da Educação Infantil
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Quando se adota uma pedagogia voltada para a educação de
crianças de 0-6 anos, que garanta o direito à infância e a melho-
res condições de vida a todas (pobres, ricas, brancas, negras, indí-
genas, meninos, meninas, estrangeiras, brasileiras, portadoras de
necessidades especiais etc.), torna-se imprescindível considerar a
diversidade cultural; para isso, a organização do espaço deve ser
versátil e flexível (FARIA, 1998).
A qualidade de uma instituição é medida pela capacidade
que tem de atender a critérios estabelecidos pelos órgãos oficiais,
além daqueles estabelecidos pela instituição e pela família. Esses
critérios não podem ser construídos com os saberes do senso co-
mum, pelo menos não por parte de quem administra e trabalha na
instituição. Esses critérios devem estar baseados no conhecimento
© U4 - Qualidade em Educação Infantil: Organização do Ambiente como Recurso Pedagógico e
Promotor de Interações 149
7. ESPAÇOS INTERNOS
A literatura atual concebe as salas de atividades como es-
paços multiusos, devendo proporcionar atividades diferenciadas,
planejadas de acordo com o que coloca o Projeto Político-pedagó-
gico. Além disso, prevê a existência de cantos de leitura, brincadei-
ras, jogos etc., alternativa à biblioteca, sala de televisão, vídeo e
som (BRASIL, 2005a). Neste caso, as instituições, especialmente as
que possuem pouco espaço, deveriam privilegiar pequenas biblio-
tecas em cada sala, ao invés de reservar uma sala somente para
biblioteca. O mesmo ocorre com a sala de TV. Neste caso, o ideal é
que a TV tenha um móvel que permita levar a TV e o som para as
diferentes salas de atividades, e reservar uma sala somente para
os momentos de uso da TV.
Outro espaço que merece debate são as brinquedotecas. A
princípio, parecem interessantes, entretanto, na prática as brin-
quedotecas não cumprem a função que deveria. Em geral, ob-
serva-se que as brinquedotecas estão cheias de brinquedos, en-
quanto as salas de educação infantil estão vazias ou pobremente
organizadas e equipadas.
Na atualidade, ao observarmos as salas de crianças de
pré-escola, percebemos que os brinquedos estão desaparecen-
do, dando lugar a um modelo de organização igual ao do ensino
fundamental. As mesinhas quadradas, que comportavam quatro
crianças juntas, estão dando lugar para carteiras individualizadas,
privilegiando as atividades individuais. Isso revela a completa ig-
norância acerca das necessidades de desenvolvimento dessa faixa
etária, por parte de gestores e professores, importando o modelo
do ensino fundamental, que há tempos está considerado como ul-
trapassado.
Somente com uma formação continuada de qualidade - volta-
da aos gestores e professores – é que poderemos superar o modelo
de organização escolar, que vem invadindo a educação infantil.
© U4 - Qualidade em Educação Infantil: Organização do Ambiente como Recurso Pedagógico e
Promotor de Interações 169
8. ORGANIZAÇÃO DE MATERIAIS
Não podemos nos esquecer de que os objetos e os materiais
são importantes recursos para a criança explorar, interagir, além de
serem mediadores das diferentes interações. A sua variedade, tipo
e quantidade – brinquedos diversificados e em número suficiente,
livros, vestimentas – e a forma como eles estão organizados nos di-
ferentes ambientes pode auxiliar ou dificultar o desenvolvimento
da autonomia da criança na realização de suas ações e invenções.
Por exemplo, um livro em uma estante inacessível é invisível para a
criança pequena e objetos de difícil manuseio não permitem a sua
exploração e investigação (SÃO PAULO, 2006).
• tem local para as crianças poderem ficar entre elas, sem o adulto?
• tem local adequado para a criação de ambientes fictícios pelas crianças?
• a decoração e o mobiliário garantem um trabalho pedagógico de qualidade?
• as janelas estão na altura das crianças para que elas possam olhar o que
existe do outro lado?
• as maçanetas das portas estão na altura das crianças permitindo que movi-
mentem-se com independência?
• tem espelho na altura das crianças? Inclusive no trocador de fraldas?
• os cabides são suficientes? Estão na altura adequada à criança?
• tem armários suficientes?
• o varal para pendurar os desenhos está na altura adequada às crianças?
• os brinquedos estão guardados em altura que as crianças alcancem?
• tem livros de literatura infantil, sem e com palavras, colocados em locais aces-
síveis às crianças?
• tem casinha de bonecas?
• possui local específico para as professoras?
• tem espaço adequado para reunião com a comunidade?
• tem local para receber os pais e visitas?
• tem quadro de avisos em local visível?
• tem biblioteca ambientada adequadamente para os adultos?
• tem local para os adultos fazerem seus planejamentos, relatórios, reuniões,
cursos, educação continuada, oficinas, entrevistas com pais, etc., com mobili-
ário adequado?
• as pias e os bebedouros estão na altura da criança? E dos adultos?
• existem instalações sanitárias de uso exclusivo das crianças?
• tem água quente para os banhos?
• os banheiros e os vestiários são adequados e funcionais para crianças e adultos?
• os banheiros permitem que a criança tome banho sozinha? A altura da torneira
é adequada?
• existe berçário devidamente equipado?
• tem espaço (interno e externo) adequado para os bebês conviverem entre eles
e se movimentarem?
• possui local adequado para as mães amamentarem os bebês?
• possui cozinha devidamente equipada?
• os apetrechos da cozinha estão guardados em locais adequados (para serem/
não serem manipulados pelas crianças)?
• existe local adequado para as crianças se alimentarem?
• possui local e mobiliário adequado para os adultos se alimentarem?
• possui despensa adequadamente organizada e arejada?
• tem almoxarifado?
• existe local para guardar objetos e móveis quebrados enquanto aguardam con-
serto?
10) O que você entendeu sobre as críticas realizadas à decoração das institui-
ções, e quais as sugestões apresentadas?
12. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final de mais um Caderno de Referência de
Conteúdo. Nesta última unidade, vimos como podemos pensar em
uma organização do espaço, que respeite os direitos das crianças,
de modo a se tornarem espaços de vida, proporcionando um le-
que de experiências. Sabemos que as instituições não têm o poder
de resolver os problemas políticos e sociais, e não podem ser vis-
tas como a salvação da educação, pois estão ligadas com todos os
nós, ao tecido social, e sendo influenciadas por ele.
Entretanto, sabemos que as instituições de educação infantil
podem possibilitar melhores condições de vida para as crianças e
adultos quando bem organizadas e administradas. Por exemplo, a
instituição arejada, fresca, bem pintada, sem infiltrações, com um
número adequado de crianças melhora a vida de todos.
Precisamos, então, ter clareza das possibilidades de ação que
temos dentro da instituição, e também cobrar dos órgãos de ges-
tão o devido apoio para a melhoria das condições de atendimento
e trabalho. Assim, sabemos que muito pode ser feito dentro da
instituição; por essa razão, a formação do professor torna-se uma
arma importante no combate à precariedade em que se encontra
grande parte das instituições infantis no Brasil.
13. E-REFERÊNCIAS
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