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JESUS E NÓS

(capa)

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Retrato de Jesus

“Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existindo nos nossos tempos um
homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que pelo povo é
inculcado o profeta da verdade, e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador
do céu e da Terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em
verdade ó Cesar, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus: ressuscita os
mortos, cura os enfermos, em uma só palavra: É um homem de justa estatura e é muito
Belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que aqueles que o vêem são forçados a
amá-lo ou temê-lo. Tem os cabelos da cor de amêndoa bem madura, são distendidos até
as orelhas, e das orelhas até as espáduas, são da cor da terra, porém mais reluzentes .
Tem no meio da sua fronte uma linha separando os cabelos na forma em uso nos
nazarenos, o seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê
em sua face, de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis.
A barba é espessa, mas semelhante aos cabelos não muito longa, mas separada pelo
meio, seu olhar é muito afetuoso e grave; tem os olhos expressivos e claros o que
surpreende é que resplandecem no seu rosto como os raios do sol, porém ninguém pode
olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende , apavora, e quando ameniza , faz
chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade.
Diz-se que nunca ninguém o viu, rir, mas, antes chorar. Tem os braços e as mãos muito
belos; na palestra contenta muito, mas o faz raramente, e quando dele se aproxima,
verifica-se que é muito modesto na presença e na pessoa, é o mais belo homem que se
possa imaginar, muito semelhante à sua mãe, a qual é de uma rara beleza, não se tendo
jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela, porém se a Majestade Tua, ó Cezar,
deseja vê-lo, como no aviso passado me escreveste, dá-me ordens que não faltarei de
mandá-lo o mais depressa possível.
De letras faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe todas as ciências, e
nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma na cabeça. Muitos se
riem vendo-o assim, porém em sua presença falando com ele, tremem e o admiram.
Dizem que um tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me
dizem os hebreus, não se ouviram, jamais tais conselhos, de grande doutrina como
ensina esse Jesus; muitos judeus o tem como Divino, muito me querelam afirmando
contra a lei de Tua Majestade, eu sou grandemente molestado malignos hebreus.
Diz-se que este Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas ao contrário, aqueles que
o conhecem e com ele tem praticado, afirmam ter de dele recebido grandes benefícios e
saúde, porém a Tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua Majestade ordenar
será cumprido.
Vale, da majestade Tua, fidelíssimo e obrigadíssimo...Públio Lentúlo, presidente da
Judéia
L”indizione sétima, Luna seconda”.

Este documento foi encontrado no arquivo do Duque de Cesadini, em Roma . Esta carta onde
se faz o retrato físico e moral de \Jesus, foi mandada de Jerusalém ao Imperador Tibério Cesar,
em Roma , ao tempo de Jesus.

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Índice do livro para Estudo e Reflexão do Mestre Jesus

Jesus e Nós

- Retrato de Jesus 04
- Índice 05
- Evangelização, uma longa caminhada 08
- Reflexão sobre o Nascimento de Jesus 13
- Boa Nova 14
- O nascimento de Jesus 18
- Reflexão sobre o Mestre Jesus 22
- Explicação 23
- A família de Jesus 25
- Reflexão sobre a família de Jesus 25
- Jesus aos doze anos 26
- Reflexão de Jesus aos doze anos 26
- Vocação de Pedro, André, Tiago e João 29
- Reflexão sobre a “Vocação de Pedro, André, Tiago e João” 29
- Jesus come com os pecadores 31
- Reflexão sobre “Jesus come com os pecadores” 31
- O que torna impuro o homem 33
- Reflexão sobre “O que torna impuro o homem” 33
- João Batista 36
- Reflexão sobre “João Batista” 36
- Jesus apresenta João 38
- Reflexão sobre “Jesus apresenta João” 38
- Na prática da justiça 40
- Reflexão sobre “Na prática da Justiça” 40
- A multiplicação dos pães e dos peixes 42
- Reflexão sobre a “A multiplicação dos pães e dos peixes” 42
- Marta e Maria 44
- Reflexão sobre “Marta e Maria” 44
- O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir 46
- Reflexão sobre “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
Servir” 46
- As Bodas em Caná da Galileia 48
- Reflexão sobre “As Bodas de Caná da Galiléia” 48
- A tempestade 50
- Reflexão sobre a Tempestade 51
- A parábola do filho pródigo 50
- Reflexão sobre “A parábola do filho pródigo” 50
- O jugo e o fardo de Jesus
- Deixai que venham a mim as criancinhas
- A parábola do semeador

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- E vós, quem dizeis que eu sou?
- O moço rico
- A grande ceia
- Dai a Cesar o que é de Cesar
- A cura de dois cegos
- A parábola do trigo e do joio
- A parábola da figueira estéril
- Ai de vós fariseus
- Parábola do grão de mostarda
- A cura de um paralítico
- A parábola dos lavradores homicidas
- A parábola do servo vigilante
- A parábola dos trabalhadores da última hora
- A mulher adúltera
- A ressurreição de Lázaro
- O juízo temerário é proibido
- Como jejuar
- A parábola do festim das bodas
- A parábola do bom samaritano
- A parábola da ovelha extraviada
- Os falsos profetas
- A parábola do Rico Insensato
- Jesus, o bom pastor
- A retribuição
- Jesus e Nicodemos
- Vós sois o sal da terra
- Jesus e o centurião
- A parábola dos talentos
- A parábola dos dois fundamentos
- Um sinal do céu é pedido a Jesus
- Dificuldades
- Mistérios ocultos e aos prudentes
- O juramento
- O tesouro do coração
- Os endemoniados gerasenos
- A mulher Cananéia
- A parábola da candeia
- A parábola das dez virgens
- As duas estradas
- Não vim destruir a lei
- O homem da mão ressequida
- Árvore e seus frutos
- O credor incompassivo
- O profeta em sua terra
- Exultação de Jesus
- As cidades impenitentes
- A parábola dos dois filhos
- Parábola do Juiz Iníquo
- Admoestações
- Parábola do administrador infiel

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- Jesus põe a prova os que queriam seguí-lo
- O discípulo de Cristo deve levar a sua cruz
- Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração
- As bem-aventuranças
- Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus
- Bem–aventurados os que choram porque serão consolados
- Bem-aventurados os mansos e pacíficos porque eles herdarão a Terra
-Bem-aventurados os misericordiosos
-Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque eles serão fartos
- Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus
- Bem-aventurados os que forem perseguidos por causa da justiça
- Exultai e alegrai-vos porque é grande o vosso galardão no céu
- A ansiosa solicitude pela vida
- A parábola da dracma perdida
- Jesus prediz a sua morte
- A entrada de Jesus em Jerusalém
- Jesus lava os pés aos discípulos
- A traição e o suicídio de Judas
- A negação de Pedro
- Paixão de Jesus
- Barrabás
- Crucificação de Jesus
- Jesus na cruz
- A Aparição de Jesus
- Quarenta dias de Jesus e nós
- Estímulos
- Várias advertências de Jesus
- As compensações
- As recompensas
- Jesus

Apêndice ( ?)

Jesus e Nós

- A morte de Jesus
- O julgamento e a morte de Jesus
- Amor e perdão
- O justo e a justiça política

- Falando ao Brasil
- Poesia sobre a parábola do semeador

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EVANGELIZAÇÃO
Uma longa caminhada!...

Na rua onde viemos morar em 1964, surgiu uma casa espírita, Centro Espírita
Irmão Samaritano (CEIS). Naquele tempo, eu dizia-me católica.
Boas famílias formavam a vizinhança, havia crianças e adolescentes que
brincavam na rua ainda não asfaltada. O relacionamento entre eles era bom, com
momentos de fraterno entendimento e outros de altercação agressiva, naturais do ser
humano. Era o que precisavam para crescer saudavelmente.
O evangelho de Jesus se encarregaria de abrir novos rumos.
Ao final de uma longa história de buscas e insegurança religiosa, adentrei no
CEIS, tímida e completamente ignorante da Doutrina Espírita. Fui surpreendida, no
primeiro dia em que compareci, por manifestação espontânea, e daí comecei a
freqüentar e estudar o Espiritismo.
Tempos depois, vibrando na “alegria que o mundo não dá”, de quem sai da
escuridão para a luz, e observando as crianças da redondeza (inclusive as minhas), todas
cheias de encantadora energia, brincando na folga escolar, desejei falar-lhes de Jesus.
Revelei meu anseio à Nilva Salata da Silva, presidente da instituição, que me
permitiu, por seu carinho pelas crianças, reabrir um espaço na casa para que aquela
turminha pudesse ouvir o “Evangelho, segundo o Espiritismo”.
Não imaginei que aquele ingênuo convite se prolongaria por mais trinta anos!

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Na verdade, sinto que foram as crianças que me conduziram, por suas delicadas
mãos, a esta abençoada tarefa. Acredito que elas, as crianças, conduzirão adultos para a
construção de um mundo melhor... “Deixai que venham a mim as criancinhas; não as
impeçais.”
Começamos as reuniões (não simpatizo muito com aulas) com crianças de
idades que iam dos três aos quatorze anos; turma única e por isso mesmo mista.
Exploramos juntos o Evangelho, porém, sem experiência no ramo, meditei e
acrescentei uma história com ética moral antes da leitura evangélica e, de preferência,
que pudesse auxiliar na elucidação do texto.
Fui aprendendo com o trabalho e com as próprias crianças; estudei a doutrina
com um objetivo a mais e maior alegria. Procurava melhorar os encontros e aperfeiçoar
o método, então ocupei o tempo seguinte com lápis de cores, giz de cera e papéis para
obter dos recursos oferecidos, se possível, um retorno correspondente ao estudo através
da expressão artística de cada um.
Deu certo.
As crianças, em sua maioria, não eram de famílias espíritas; eram pontuais e
vivazes, queriam falar todas de uma só vez. A implantação do dedinho sinalizando “a
vez” para falar parecia inútil.
Havia um incorrigível burburinho da turma tagarela – ajudava e desajudava a
falta de cerimônia que havia entre nós, decorrente da intimidade – e eu não sabia o que
fazer quanto a isso.
A Espiritualidade, que me falava n’outras horas, nos meus embaraços fazia
silêncio.
Senti nitidamente que devia aprender com a experiência e que não queriam que o
encontro tivesse qualquer semelhança com a escola regulamentar, devendo eu
conquistar a disciplina da criança no meio, pelo amor; jamais por qualquer
admoestação.
Foram interessantíssimas as experiências com elas durante todo o tempo, embora
a ‘noviça’ sofresse muitas vezes pela inexperiência, sem o direito de ser ‘rebelde’.
Lembrei da música. Ela poderia ser uma solução.
Na hora da crise, eu procurei lembrar alguma música condizente com o
momento. Nada! Senti-me pobre! Desarticulada com o trabalho. De repente apelei para
as músicas de roda da minha infância (que quase não se ouvem mais): “Atirei o pau no

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gato”, “Ciranda, cirandinha”, “O cravo brigou com a rosa”, “O anel que tu me destes”...
Deu certo.
Mais tarde iria encontrar todos esses recursos nos alegres encontros de
preparação para evangelizadores. Que recursos!
Ao final do ano, a disciplina se fez notar. A compreensão dos textos evangélicos
foi feita com ótimo aproveitamento, e as diferenças religiosas das famílias não foram
embaraço para o desenvolvimento do trabalho e a assiduidade.
Alargando meu campo de conhecimento para fora da casa espírita, tive
informação dos cursos para evangelizadores da USEERJ e freqüentei muitos deles, me
beneficiando das orientações gratificantes de aprofundamento e da troca de experiência
com outros colegas.
O trabalho cresceria tempos depois, com a colaboração de novos companheiros.
Assim, durante cerca de vinte e cinco anos, utilizamos as preciosas aulas de
Evangelização criteriosamente elaboradas pela USEERJ, nos encontros semanais com
crianças em nossa casa espírita e, mais adiante, com a juventude.
Quantas turmas fizeram sua passagem naquele espaço! Quantos rostos queridos
sucederam outros! Quantas mães extremosas passaram por lá e conduziram seus filhos
para outras casas da imensa família espírita, levando e deixando saudades! Quantos
jovens casaram e trouxeram seus filhos à evangelização, onde tiveram participação
dinâmica! E outros, que cresceram e trabalham em algum departamento da grande Seara
do Cristo.
Quem acompanha a avaliação do trabalho da casa espírita, sabe da contribuição
dele em todas as áreas que abraça e desenvolve, com a eficiência de todos.
Hoje, alegra-nos voltar os olhos para a contemplação do caminho povoado de
incontáveis figuras que, atuantes, se movimentam alegres e operosas na construção do
porvir que se faz presente a cada realização. Como lembrar grandes e pequenos
empreiteiros do bem? Como formiguinhas aladas elevando a bandeira do esforço
próprio sem privilégio.
Certo dia pareceu-nos que alguma modificação deveria se operar nos trabalhos.
Não precisava o quê exatamente.
Tornando-se mais clara e mais forte a impressão: Jesus deve ficar à cabeceira
dos trabalhos. Foi uma proposta séria da Espiritualidade para o grupo.
Foi uma proposta, não uma imposição. .

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De minha parte, um grande e inigualável prazer em estudar Jesus. Porém, como
o evangelizador, habituado às aulas que facilitavam consideravelmente a tarefa de
evangelização, receberia o comprometimento totalmente novo de elaborarmos, nós
mesmos, a matéria para as nossas crianças?
Uma hora antes de iniciarmos a Evangelização, realizamos uma reunião com os
evangelizadores. Naquela tarde, a novidade causou, no primeiro momento, impacto,
suspense e insegurança.
Mas, em meio aos argumentos, a transparência do grupo se modificava e refletia
serenidade. Refeito o grupo, o questionamento.
- PARÁBOLAS DE JESUS?! Como poderá a criança interpretar a simbologia
das parábolas?
Parábolas de Jesus explicadas à luz da Doutrina Espírita. Não será duplamente
saudável, a criança que é levada pelo seus estudos formais à interpretação de livros, que
em
sua maioria somente lhe falam à inteligência, se direcionar para a literatura que lhes
pede um pouco mais ao preço de lhe falar ao espírito?
- E por que começar pelas parábolas?
As parábolas de Jesus têm um método objetivo próprio: forrar o coração com a
delícia de uma história que parece ser do outro, mas que é nossa; de registrar seu
conteúdo no endereço certo e de nos atrair para o contador de parábolas.
A postos para o desafio, nossos corações entraram em oração.
Correu o ano com tranqüilidade e mais unidos ficamos no grande mister.

No ano seguinte, havíamos vencido toda a timidez; a avaliação do trabalho fora


rica de dados positivos.

Constatada a facilidade que as crianças tinham de identificar as figuras


simbólicas, nos alegrou ainda mais vê-las, muitas vezes, apresentando um novo enfoque
sobre determinado fato, que nos surpreendia e ensinava.
Desta vez, com alguma experiência e confiantes, prosseguimos nas parábolas
que ocupavam dois sábados cada uma, e acrescentamos a biografia de personalidades
espíritas.

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No terceiro ano, entramos com o estudo sobre o MESTRE JESUS, o sábio autor
das famosas parábolas. Estudo sobre algumas das muitas PASSAGENS DE JESUS.
No quarto ano, durante o planejamento, a dúvida: E quando perguntarem qual o
tema a ser estudado este ano, diremos que são outra vez as passagens de Jesus? Não
perderão o interesse?
Mesmo em se tratando de estudos espirituais, há quem prefira variar que se
aprofundar.
A esta pergunta, respondemos : - Será O EVANGELHO DE JESUS.
Os que indagaram ficaram satisfeitos com a ‘novidade’, e mais satisfeitos com o
estudo sobre a PASSAGEM DE JESUS entre nós.

Foi muito gratificante a mudança. Os evangelizadores tiveram que se aprimorar


mais, pesquisar com maior freqüência, conhecer outros autores, meditar...

***

Ao final de 2001, pedimos à Mocidade que fizesse uma proposta de tema para o
ano seguinte, ao que responderam com unanimidade: as parábolas de Jesus! Alegaram
que haveria maior aprofundamento com os novos enfoques que viriam, de certo, com a
retomada dos estudos. Por coincidência, os freqüentadores da Reunião de Pais fizeram a
mesma escolha e apresentaram o mesmo argumento, colocadas ambas as turmas em
locais diferentes e no mesmo horário.

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REFLEXÃO SOBRE O NASCIMENTO DE JESUS

Como buscar no PRINCÍPIO os textos bíblicos para poder sentir o nascimento


de Jesus para o meu coração?!

Como perguntar ao meu coração o que é este nascimento para ele, se o meu
coração apressa-se em responder: “É TUDO!”.

E eu terminaria meu discurso diante disto porque me sentiria justificada e cheia


do Espírito Santo!

O que é estar cheio do Espírito Santo? Não será sentir-se em plenitude AINDA
QUE momentaneamente?

JESUS !!!

Toda magia das coisas perde a sua força depois dEle .

Só silêncio na alma tem vez!

Do nascimento de Jesus, o Presépio é referência visual e simbólica; porém da


festa espiritual o coração de cada um de nós sabe mais.

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O deslumbramento está no que cada um de nós sabe, consciente ou não; pois que
o Pai teria, de certo, a exemplo do “Senhor das Bodas”, enviado o comunicado celeste
primeiramente, aos filhos todos, bons e maus para o grande evento.

Conquanto poucos hajam se preparado para receber o divino enviado, a


comunicação transforma-se em convite individual, enterrado na terra ainda inculta da
maioria das consciências e brilha radiante e inalterável no transcurso dos milênios
aguardando ser descoberto pelos corações.

Therezinha
BOA NOVA

Os historiadores do Império Romano sempre observaram com espanto os


profundos contrastes da gloriosa época de Augusto.

Caio Julio Cesar Otávio chegara ao poder, não obstante o lustre de sua notável
ascendência por uma série de acontecimentos felizes. As mentalidades mais altas da
antiga República não acreditavam no seu triunfo. Aliando-se contra a usurpação de
Antônio com os próprios conjurados que haviam praticado o assassínio de seu pai
adotivo, suas pretensões foram sempre contrariadas por sombrias perspectivas.
Entretanto suas primeiras vitórias começaram com a instituição do triunvirato e, em
seguida, os desastres de Antônio no Oriente lhe abriram inesperados caminhos
.
Como se o mundo pressentisse uma abençoada renovação de valores no tempo,
em breve todas as legiões se entregavam, sem resistência, ao filho do soberano
assassinado.

Uma nova era principiara com aquele jovem energético e magnânimo. O grande
império do mundo, como que influenciado por um conjunto de forças estranhas,
descansava numa onda de harmonia e de júbilo, depois de guerras seculares e
tenebrosas.

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Por toda parte levantavam-se templos e monumentos preciosos. O hino de uma
paz duradoura começava em Roma para terminar na mais remota das suas províncias
acompanhado de amplas manifestações por parte da plebe anônima e sofredora.

A cidade dos Césares se povoava de artistas, de espíritos nobres e realizadores.


Em todos os recantos permanecia a sagrada emoção de segurança enquanto os
organismos das leis se renovavam distribuindo os bens da educação e da justiça.

No entanto o inesquecível imperador era franzino e doente. Os cronistas da


época referem-se, por mais de uma vez, às manchas que lhe cobriam a epiderme,
transformando-se de vez em quando, em dartros dolorosos. Otávio nunca foi senhor de
uma saúde completa. Suas pernas viviam sempre enroladas em faixas e sua caixa
torácica convenientemente resguardada contra os golpes de ar que lhe motivavam
incessantes resfriados. Com frequência queixava-se de enxaquecas que se faziam seguir
de singulares abatimentos.

Não somente nesse particular padecia o Imperador das extremas vicissitudes da


vida humana, ele que era o regenerador dos costumes, restaurador das tradições mais
puras da família, o maior reorganizador do império Romano, foi obrigado a humilhar
seus fundos delicados sentimentos de pai e de soberano, lavrando um decreto de
banimento de sua única filha, exilando-a na ilha de Pandatária, por efeito de sua vida de
condenáveis escândalos na corte, sendo compelido, mais tarde a tomar as mesmas
providências em relação a sua neta. Notou que a companheira amada de seus dias se
envolvia, na intimidade doméstica, em contínuas questões de envenenamento de seus
descendentes mais diretos, experimentando ele, assim, na família a mais angustiosa
ansiedade do coração.

Apesar de tudo seu nome foi dado ao século ilustre que o vira nascer.

Seus numerosos anos de governo se assinalaram por inolvidáveis iniciativas. A


alma coletiva do império nunca sentira tamanha impressão de estabilidade e alegria. A
paisagem gloriosa de Roma jamais reunira tão grande número de inteligências. É nessa
época que surgem Vergílio, Horácio, Ovídio, Salústio, Tito Lívio e Mecenas, como
favoritos dos Deuses.

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Em todos os lugares lavravam-se mármores soberbos esplendiam jardins
suntuosos, erigiam-se e palácios e santuários, protegia-se a inteligência, criavam-se leis
de harmonia e justiça, num oceano de paz inigualável. Os carros de triunfo esqueciam
por algum tempo as palmas de sangue e, o sorriso da Deusa Vitoria, não mais se abria
para os movimentos de destruição e morticínio.

O próprio imperador, muitas vezes em presidindo as grandes festas populares,


com o coração tomado de angústia pelos dissabores de sua vida íntima se surpreendeu
testemunhando o júbilo e a tranqüilidade geral do seu povo e, sem que conseguisse
explicar o mistério daquela onda interminável de harmonia, chorando de comoção
quando do alto de sua tribuna dourada, escutava a famosa composição de Horácio, onde
se destacavam estes versos de imorredoura beleza:

O sol fecundo,
Que com teu carro brilhante
Abres e fechas o dia!...
Que surges sempre novo e sempre igual!
Que nunca possas ver
Algo maior do que Roma

E que seus historiadores ainda não perceberam na chamada época de Augusto o


século do Evangelho ou o da Boa Nova. Esqueceram-se de que o nobre Otávio era
também homem e não conseguiram saber que, no seu reinado, a esfera do Cristo se
aproximava da Terra numa vibração profunda de Amor e de Beleza. Acercavam-se de
Roma e do mundo não mais espíritos belicosos, como Alexandre e Aníbal, porém outros
que se vestiriam dos andrajos dos pescadores para servirem de base indestrutível aos
eternos ensinos do Cordeiro. Imergiam nos fundos do planeta os que preparariam a
vinda do senhor e os que se transformariam em seguidores humildes e imortais dos seus
passos divinos.

É por esta razão que o ascendente místico da era de Augusto se traduzia na paz e
no júbilo do povo que, instintivamente se sentia no limiar de uma transformação
celestial.

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E a chegar a Terra o Sublime emissário. Sua lição de verdade e de luz ia
espalhar-se pelo mundo inteiro, como chuva de bênçãos magníficas e confortadoras. A
humanidade vivia, então, o século da Boa nova. A era a festa do Noivado, a que Jesus se
referiu no seu ensinamento imorredouro.

Depois destas festas dos corações, qual roteiro indelével para a concórdia dos
homens, ficaria o Evangelho como o livro mais vivaz e mais formoso do mundo,
constituindo a mensagem do céu. Entre as criaturas em trânsito pela Terra, o mapa das
abençoadas altitudes espirituais, o guia do caminho, o manual do amor da coragem e da
perene alegria.

E para estas características se conservassem entre os homens como expressão da


sua sabia vontade, Jesus recomendou a seus apóstolos que iniciassem o glorioso
testamento com hinos e perfumes da natureza, sob a claridade maravilhosa de uma
estrela a guiar reis e pastores à manjedoura rústica onde se entoavam as primeiras notas
de seu cântico de amor, e o terminassem com a luminosa visão da humanidade futura,
na posse das bênçãos de redenção. É por este motivo que o Evangelho de Jesus, sendo
o livro do Amor e da Alegria, começa com a descrição da gloriosa noite de Natal e
termina com a profunda visão da Jerusalém libertada, entrevista por João nas suas
divinas profecias do apocalipse.

Do livro Boa Nova


De Humberto de Campos

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O NASCIMENTO DE JESUS

No tempo de Herodes, o grande Rei dos injustos e cruel, havia um sacerdote de


nome Zacarias cuja mulher chamava-se Isabel, que eram irrepreensíveis diante de Deus,
idosos e não tinham filhos.

Segundo o costume sacerdotal coube a Zacarias, por sorte, entrar no Templo para
oferecer ao Senhor o incenso. Surge-lhe então à direita do altar um anjo. Zacarias se
assusta e o enviado lhe diz: “Zacarias não temas porque a tua oração foi ouvida e Izabel
dará a luz a um filho e o chamarás de João; terás prazer e grande alegria diante do
Senhor, e não beberás vinho nem bebida forte. Será cheio do Espírito Santo, já desde o
ventre de sua mãe. Converterá muitos dos filhos de Israel”. Refeito da perturbação
Zacarias comenta sem convicção sobre como poderia ser isso se eram ele e sua mulher
de idade avançada e ela estéril. Diante disso o anjo preveniu-lhe de que ficaria mudo
até que se cumprisse a palavra de Deus. E quando Zacarias voltou-se para o povo que
o aguardava, não pode pronunciar palavra alguma comunicando-se através de gestos, o
que fez entender a todos que tivera uma visão.

Seis meses depois, novo acontecimento de grande importância envolveu


encantadoramente os dois mundos, o material e o espiritual: Deus escolhe uma jovem na
doçura e pureza da adolescência, pouco se importando que fosse de família humilde. A
jovem se chamava de Maria, filha de Joaquim e Ana, vivia em Nazaré na Palestina,
onde o povo hebreu era chamado judeu, o que significava que era filho de Israel. O

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povo era orgulhoso e nobre, mas não era feliz debaixo do poderio de Roma. Durante
séculos esse povo lia sua Bíblia e esperava o Messias.

Maria estava prometida em casamento a José, o carpinteiro. O compromisso se


revestia de muita seriedade e se alongava por um ano, só se desfazendo por meio de
ação de divorcio judicial. Eis que surge diante dela um anjo de nome Gabriel que a
surpreende em dado momento saldando-a: “Salve! Bendita és tu entre as mulheres!”. E
perturbou-se a doce criatura sem entender o que significava aquela frase. “Não temas
Maria, porque achaste graça diante de Deus. Conceberás e darás luz a um filho que se
chamará Jesus!”. Disse Maria ao enviado: “Como se fará isso visto que não conheço o
varão?” Descerá sobre ti o espírito Santo, o que de ti há de nascer será chamado Filho
de Deus. Eis que também Isabel, tua prima concebeu um filho na sua velhice e este é o
sexto mês para aquela que era estéril, por que para Deus nada é impossível”. Disse
então Maria: eis me aqui, a serva do Senhor, cumpra-se em mim a sua palavra”.

José tomou conhecimento de que Maria estava grávida, concluiu que ela lhe
havia sido infiel. Decidiu desfazer o compromisso secretamente para não infamá-la.
Quando planejava, num sonho um Espírito do Senhor lhe comunicou quanto a natureza
da concepção, e que a criança seria o Salvador do seu povo, de seus pecados. Assim se
cumpriu aquilo que foi dito pelo profeta: “Eis que a virgem concebeu e dará a luz a um
filho, que chamá-lo-ão de Emanuel, que traduzido é : Deus conosco. E José recebeu-a
como esposa.

Maria foi apressada às montanhas, a uma cidade de Judá e entrando em casa de


Zacarias saldou a Isabel e aconteceu que a criança no ventre da prima, saltou-lhe no
ventre e a mãe ficou cheia do Espírito Santo exclamando: “Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! E donde me provém isto a mim, que venha
visitar-me a mãe do meu Salvador! Pois eis que, ao chegar aos meus ouvidos a voz da
tua saudação, a criancinha saltou de alegria no ventre! Bem-aventurada a que creu, pois
hão de cumprir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas!”. Maria ficou com
ela quase três meses.

O filho de Zacarias nasceu; os vizinhos foram visitá-los maravilhados pelo que


reconheceram a grande misericórdia de Deus para com eles e chamaram o menino pelo

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nome do pai. Isabel porém, quis chamá-lo de João; então como não tinha ninguém da
família com tal nome buscaram saber do pai que nome escolhia, e se surpreenderam
quando ele lhes respondeu escrevendo numa tabuinha: João. E voltou a voz de Zacarias
se enchendo ele do Espírito Santo e profetizando. (Lucas I, vers. 68 a 79)

Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto que todos se alistassem
e cada um deveria fazê-lo em sua terra natal. E subiu também José da cidade de Nazaré
para a Judéia, a cidade de David, chamada Belém (Beth-Lehm quer dizer casa do pão,
ou seja, celeiro do trigo). Maria ia montada numa zêmola, um animal dócil e paciente, e
o seu amoroso esposo à pé, exausto com o rosto empoeirado e suado, sofrendo de sede
buscando hospedagem . Não havia acomodação para todos os que pela mesma razão
chegaram àquela cidade. Finalmente encontraram pouso, e segundo São Justino, a
manjedoura se achava em uma gruta que funcionava como estábulo. Os entendidos
descrevem a casa oriental como sendo de um só compartimento e a área interior era
sempre elevada e precedida de uma série de degraus estreitos. Esta área acolhia os
animais em caso de mau tempo e muitas vezes possuía manjedouras construídas na
própria parede interna. Há quem pense que teria sido esta área que uma família ofereceu
a José e Maria; eles estariam ainda lá quando vieram os Reis Magos de visita. A
hospitalidade era um costume sagrado e as pessoas geralmente abriam suas portas a
amigos e estranhos.

O nascimento de Jesus foi assinalado com aparecimento de uma estrela de raro e


surpreendente esplendor, que durante vários dias cintilou nos céus de Belém. Essa luz
que dizem alguns estudiosos ser o cometa Haley, que no ano XII aC pôde ser observado
detalhadamente nos céus da China , outros dizem ser uma estrela nova que depois
desapareceu, ou uma conjunção tríplice de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes,
no ano VII dC . Enfim, encontramos de Amélia Rodrigues: “Seja qual for a hipótese
respeitável sobre a estrela de Belém, a união dos espíritos de Luz que tinham o
intercâmbio entre as duas Esferas formou um facho poderoso que indicava o lugar da
tradição, em que Ele deveria começar o ministério entre os homens.

...Pastores e Reis Magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes,


seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes proclamavam:
“Gloria a Deus nas alturas e paz na Terra entre os Homens de boa vontade!”

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Os Magos que ao que parece não eram Reis e sim astrônomos e conhecedores
das profecias, observaram e previram o cumprimento delas. Foram a Jerusalém e lá
perguntaram pelo menino que seria o rei dos Judeus, o que perturbou todo o povo e a
Herodes. Considerando o menino uma ameaça próxima, com astúcia mostrou-se
interessado de também adorá-lo tão logo os Magos localizassem a criança.

A estrela guiou-os até a gruta dizem os evangelistas e entrando lá, encontraram o


menino Jesus nos braços de Maria. Melchior, um dos Magos, o mais velho, ofereceu de
presente ouro , homenageando-o como Rei ; Baltazar que era de cor preta, levou de
presente Mirra, que simbolizava, a Mortificação;e Gaspar os mais moço, presenteou-o
com incenso porque viu na criança o verbo eterno, o Salvador. Reverentes o adoraram
de rosto no chão como era de costume. Antes que voltassem, os Magos foram avisados
em sonho que não tornassem a Herodes. O Rei perverso sentindo-se desconsiderado,
revoltado e ordenou que seus soldados matassem todos as crianças de até 2 anos e pelas
pesquisas mais aproximadas da verdade, cerca de 27 meninos desta idade foram
impiedosamente sacrificados para horror de suas indefesas mãezinhas.
Pequeno trecho sábio teólogo Fulton J. Sheen: “os pastores representavam ali no
presépio todas as almas simples que nada entendem das intrigas políticas do mundo, das
suas artes, das suas ciências, das suas literaturas. Nem um só dentre eles todos era capaz
de recitar um só verso de Virgílio de cujos poemas eram conhecidos de toda gente na
vastidão do Império Romano. Aos campos, onde pastoreavam, as suas ovelhas jamais
chegara o mais pequeno eco dos escândalos da voluptuosas corte Herodes ou das lições
do sábio Gamaliel. E por seu lado a opinião pública desconhecia até a própria existência
desses humilde e rudes pastores, que para elas ainda menos que grãos de pó, sem a
mínima importância para o progresso dos povos e das nações.
E, todavia esses humildes e simples pastores sabiam duas coisas
importantíssimas: que havia no céu um Deus e que havia na terra suas ovelhas. Nada
mais precisavam aquelas almas simples de saber que naquela noite que os céus se
iluminaram só para eles do esplendor dos anjos, foram eles que lhe ouviram o anúncio
de que havia nascido de pais pobres num pobre estábulo há beira do pobre povoado de
Belém aquele que deveria salvar os homens”.
E assim estudamos a respeito do mais importante nascimento que se tem
notícias. Ouvimos estudiosos e admiradores falarem dele; o que recomendamos aos que

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sofrem, aos que tem sede e fome de justiça – como Mestre Salvador, amigo de todas as
horas e a Ele entregamos os que nos são mais caros , sentimos que a alegria, e o
conforto nos invade a alma , quando lembramos-lhe o nome. Mas...quem é este Jesus?

REFLEXÃO SOBRE O MESTRE JESUS

“E disse Jesus: As raposas têm seus covis, as aves do céu têm seus ninhos, mas o
Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”.

Jesus quis fazer-nos avaliar nossa disposição de seguir-lhe os passos.

Seguir os ensinamentos de Jesus para nos aprimorarmos é trabalhar na


intimidade do coração, porém, seguir em trabalho e exemplificação é abdicar de si
mesmo de olhos fitos no Mestre. É curso superior.

Não é a ausência de travesseiros duros ou macios que Jesus se refere.

Mesmo em estado de angústia ou enfermidade, fadiga ou carência, o ser humano


repousa sua cabeça, na falta de justo conforto, sobre seu próprio braço.

A cabeça é o quartel general na luta; a sede central de uma empresa; o altar de


um templo. Ela guarda o pássaro invisível de cada um – o pensamento. Este, bem
orientado ou não, bom ou mal, sereno ou conturbado alcança níveis imprevisíveis e
capazes de transformação para si ou para o mundo; dar vida ou causar morte.

Mas o limite indica repouso.

22
Para Jesus na Terra, não há pouso que o suporte. A natureza de descanso não tem
similar na Terra!

Falava de certo que, o que o seguisse esvaziasse sua taça porque a mensagem do
alto deveria lhe bastar...

Jesus é tema para a eternidade!

Therezinha
EXPLICAÇÃO

A ideia de imprimir este trabalho inicialmente com as parábolas e depois a


passagem de Jesus entre nós, surgiu quase ao final de 1998, dois anos depois de lançado
como programa de Evangelização para crianças, jovens e pais, quando alguns dos
Evangelizadores que haviam estudado e trabalhado carinhosamente aquelas páginas
sugeriram aproveitá-las num livro como obra subsidiária para outros grupos de
evangelizadores.

Destacaram-se dois objetivos que se converteram em propósitos fundamentais: o


primeiro foi otimizar o relacionamento da criança com Jesus quando em reflexão com
Ele.
O segundo objetivo foi, acompanhando a nossa criança nessa primeira
experiência pessoal com Jesus, protegê-la do método do escapismo do adulto, de
atribuir a mensagem evangélica ao colega, ao irmão, ao vizinho, ao esposo, perdendo
assim preciosa oportunidade para si mesmo de autoconhecimento.

A idéia somou-se ao resultado gratificante.

Daí a programação receber o título de JESUS E NÓS, e hoje o título do livro.

O mérito de descobrir o recado velado da mensagem dentro da forma


cuidadosamente elaborada, das metáforas, pertencia a cada ume isto era interessante e
consistia num desafio para o entendimento na ação intelectual ou intuitiva espiritual do

23
conhecimento. As crianças amaram as parábolas e não tiveram dificuldades de
interpretação. Juntos refletíamos a essência dos conteúdos, livres da prisão da letra,
emocionando intimamente os nossos corações e edificando nossas almas. Mesmo os
mais jovens surpreendiam frequentemente com colocações espontâneas e profundas - a
visão diferenciada do outro enriquecida de boa argumentação acrescenta e provoca
estímulos novos de aprofundamento.

A figura espiritual de Jesus sobre nós possui tal poder de atração que em sintonia
com Ele, deixamo-nos arrebatar sem resistência fazendo a nossa entrega, ainda que
parcial - pelo menos – até o dia da totalidade. E como será bela essa experiência na
alminha infantil, pensamos!

Foi intenção nossa que as crianças e os jovens conhecessem as parábolas e se


inebriassem seus espíritos com o propósito da Verdade Divina no sabor das sábias
histórias do Evangelho para que despertasse-lhes o interesse de conhecer O maior
contador de histórias da Vida na Terra!

Daí então apresentá-lo ao vivo na sua passagem por esta mesma terra em que a
criança pisa, entre homens imperfeitos porém muito amados por Ele!

O Evangelho de Jesus é uma grandiosa Universidade para os pequeninos!

Therezinha

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“ A FAMÍLIA DE JESUS ”

Mateus 12: 46-50

46 Falava ainda Jesus ao povo, e eis que sua mãe e seus irmãos estavam do
lado de fora, procurando falar-lhe.
47 E alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te.
48 Porém ele respondeu ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem
são meus irmãos?
49 E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus
irmãos.
50 Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão,
irmã e mãe.

(Ver Marcos 3: 31-35 e Lucas 8: 19-21)

REFLEXÃO SOBRE “A FAMÍLIA DE JESUS ”

A família de Jesus!
Estranha emoção ouvir falar da família de Jesus! Por quê? De repente me sinto
excluída do seu coração... pequenina e só... acho que é isto!
Conheci Jesus como um gigante universal... que me envolvia e a todo mundo...
como parte dele, por vontade dele, pelo poder do amor dele... um parente dele, embora
muito... muito... muito pobre!

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E Jesus diz: Quem são meus irmãos... minha mãe?
Oh, Jesus, tão bem soam aos meus ouvidos tuas palavras!
Abre-se uma luminosa esperança em meu coração; no coração de todos nós!
Em verdade nunca pude te sentir meu irmão... és alto demais... mas se um dia eu
puder ser... uma caçula, por exemplo!...
Porém entendi, Senhor Jesus, o teu dizer... teu coração é como eu pensava...
grande, imenso... tudo o que aguardas é que também nós queiramos ser teu irmão, tua
irmã... tua família!
Te amamos! Por tudo isso, te amamos!
Haveremos de corresponder ao teu propósito de nos sentir ao teu lado, como os
“pintainhos” sob as asas da ave mãe, reunindo as forças em nós e iluminados pelos teus
ensinamentos!
Nossa reflexão se converteu em uma prece, Senhor! Uma rogativa à nossa
intimidade espiritual para que se sensibilize com as tuas palavras. Para que desperte
desse sono entorpecente, quando o alvorecer de novos tempos se faz sentir! E que
nossos ouvidos, ainda distantes da tua voz na acústica interna de nossas almas, se
permitam atender à vibração amorosa e verdadeira do teu chamamento.
“Um só rebanho para um só pastor”. “As minhas ovelhas conhecem a minha
voz”.
Familiariza-me, Senhor, com a Tua voz!

Therezinha

26
“JESUS AOS DOZE ANOS”

Lucas 2: 41-52

41 Ora, todos os anos iam à Jerusalém à festa da Páscoa.


42 E, tendo Ele já doze anos, subiram à Jerusalém segundo o costume do dia da
festa.
43 E, regressando eles, terminados aqueles dias ficou o menino Jesus em
Jerusalém, e não o submeteram seus pais.
44 Pensando, porém, que viria em companhia pelo caminho, andaram caminho
de um dia, e procuravam-no entre parentes e conhecidos.
45 E como não o encontravam, voltaram a Jerusalém em busca dele.
46 E aconteceu que passados três dias, o acharam no templo, assentado no
meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os.
47 E, todos admiravam a sua inteligência e respostas.
48 E, quando o viram maravilharam-se, e disse-lhe Sua mãe: Filho, porque
fizeste assim para conosco? Eis que Teu pai e eu ansiosos te procurávamos.
49 E Ele lhes disse: Porque é que me procuráveis? Não sabeis que me convém
tratar dos negócios de meu Pai?
50 E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.
51 E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E Sua mãe guardava
no seu coração todas estas coisas.
52 E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os
homens.

REFLEXÃO SOBRE “JESUS AOS DOZE ANOS”

A Páscoa era uma festa anual dos judeus que se realizava no 14º dia da primeira
lua do seu ano religioso, quando comemoravam a saída do Egito. Ora, grande devia ser

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a alegria dos que iam à Jerusalém com seus parentes, amigos, vizinhos e colegas, em
grupos afins, trocando expectativas, recordando a luta e as esperanças de seu povo tão
explorado, sofrido, e herdeiro de uma dolorosa história... Comentavam suas dificuldades
atuais ainda no campo social político e religioso, enquanto os jovens, como em todos os
tempos, iam ardentes, falantes, risonhos e sonhadores, não obstante as preocupações e
recomendações dos adultos. Deviam ser, contudo, a esperança daquela gente forte em
suas convicções e temperamento. Jesus ia no meio deles, com a permissão de seus pais,
participando da companhia daqueles que nem suspeitavam de tamanho privilégio.
Percebe-se aqui a confiança que merecia de seus pais pelo procedimento correto no lar,
diante da vida, do mundo e de Deus; daí regressarem em boas companhias contando que
o jovem Jesus viesse entre outros. À certa altura, quando deviam reunir-se a ele,
estranharam seu afastamento e voltaram, pensando achá-lo a qualquer momento. Não o
vendo em parte alguma, lembraram-se finalmente de procurá-lo no templo. Que emoção
silenciosa não terá invadido o coração de sua mãe, ela que tinha razões muito evidentes
para saber que aquele Espírito era incomum! Nenhuma poesia, nenhuma canção pode
traduzir o sentimento de uma mãe ao reencontrar o filho perdido! A felicidade da alma
de Maria ia mais longe: ele sabia que nunca o perderia, seu coração via para além da
forma! A presença de seu filho entre os doutores, falando “como quem tem autoridade”
fazia sorrir sua alma em prece de louvor ao Todo Poderoso.

Eis que indaga ela, como qualquer mãe o faria. Que suavidade e vibração
celestial havia naquela voz que seguia os moldes triviais da vida sem vulgarizá-los! Seu
vaso físico cansado supera as dificuldades naturais de sua condição atual e permite o
transbordamento do amor materno sobre aquele que lhe dava sobejos motivos de
alegria.

A resposta de Jesus não deixa margem de dúvidas de que a sua missão não era
segredo para seus pais, ainda que lhes fosse difícil compreendê-la. Que os pais o
procurassem não devia ser surpresa para ele, mas que se mostrassem admirados ou
maravilhados, como na colocação de Lucas. Longe também a impressão de falta de
atenção para com eles, pois conheciam sobre Jesus, as profecias, sendo seu dever para
com Ele, ajudá-lo a desempenhá-la.

“E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava
no seu coração todas estas coisas”

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Segundo a expressão de Lucas, Jesus acompanhou seus pais de volta, numa
posição compatível com os valores éticos que pregou e exemplificou, como enviado do
Altíssimo.

Da idade de doze anos até os trinta, não se tem notícia nos Evangelhos de como
viveu Jesus.

Therezinha

VOCAÇÃO DE PEDRO, ANDRÉ, TIAGO E JOÃO

Mateus, 4: 18-22

18 E Jesus, andando junto ao mar de Galiléia, viu a dois irmãos: Simão, chamado
Pedro, e André, os quais lançavam rede ao mar, porque eram pescadores;
19 E disse-lhes: vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
20 Então eles, deixando as redes, seguiram-no.
21 E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João,
seu irmão, num barco juntamente com seu pai Zebedeu, consertando as suas redes;
e chamou-os;
22 Eles deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no.

REFLEXÃO SOBRE “VOCAÇÃO DE PEDRO, ANDRÉ, TIAGO E JOÃO”

A vivência dos discípulos junto a Jesus e a posição deles frente ao amado Mestre
toca a todos que de alguma maneira buscam servir a Deus. Diante do desassombro,
da perseverança e firmeza de propósitos, da humildade e fidelidade àquele que
reconhecem como o seu Senhor e Modelo, nós nos sentimos pequeninos, sem que
isto nos abata; antes, nos reforça o ensejo de lutar e examinar a cada passo se lhe
estamos conseguindo imitar. Eis que, do modo como é escrita a sua história, mesmo
quando nos descobrimos fragilizados, encontramos suporte e consolação nos
quadros de fraqueza momentânea e ensinamento precioso de reavaliação,
estoicismo e redenção.
Suas vidas antes e depois do Cristo se diferenciam de modo absoluto.

29
Antes, ombreando com a maioria das criaturas simples da sua cidade. Trabalho
duro e dificuldades comuns a todos, com poucas esperanças de favores por parte
dos grandes da terra.
Depois... uma luz não completamente identificada a princípio. Uma alegria
profunda, diferente de tudo de que se tenha ouvido falar, mesclada de estranho
medo, que seria talvez de falhar para com alguma coisa de suma importância, de
valor inestimável, algo assim tão fecundo e abundante quão irresistível.
As roupas, o teto, os mesmos; a opressão, a mesma. Nas dificuldades diárias,
nenhuma mudança; nem o tempo nem o mar...
Mas, os corações... Estes batiam noutro compasso!
Não será assim também conosco?
Decerto sentiam no ar que a atmosfera – esta, sim – havia mudado.
Um perfume de céu à vista se envolvia com algumas lágrimas de dor e gotas de
suor para breve. Difícil suspeitar, em vigília, que papel teriam naquela história que
era escrita para todo mundo com a co-participação de suas “pequeninas forças”.
Em Terra, homens rudes, de vida normal, sem singularidades. Libertos da carne, em
sonho, quem seriam os eméritos personagens? Em que estações espirituais se
reuniam eles para aurirem o vigor das forças e trocarem poderosas energias de fé e
do magnetismo do Mestre, então mais próximos de seu coração?
Quantas vezes não teremos nos privado de gozos da alma em Cristo por
sucumbirmos por bagatelas triviais? Quantas vezes não teremos perdido o “salário
digno do trabalhador desinteressado” pelo assalto da vaidade em nós, tanto tempo
de tocais, na área da invigilância? E que dizer do comodismo, nos roubando o valor
da oportunidade de servir, e a intemperança a nos abater o espírito fraterno?
Pedro negou a Jesus, mas a grandeza de seu espírito se fez revelar na bravura com
que se redimiu, não tanto pelo gênero de morte que escolheu, mas pela luta pela
causa do Cristo. Outros o acompanharam, agasalhados pela fibra daquele que foi
verdadeiro, quando disse “Sim, Senhor, eu te amo!”
Judas de Iscariotes, de alma partida, não encontrou perdão para si mesmo, adiando
sua reconciliação com a consciência para mais tarde, quando pôde transformar sua
auto-agressão em coragem para se redimir, com muito valor.
E o Grande Consolador presente sempre, nunca ausente, nunca distante!

Therezinha

30
“JESUS COME COM OS PECADORES”
Mateus 9: 10-13

10 E, sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores


vieram e tomaram lugares com Jesus e seus discípulos.
11 Ora, vendo isto os fariseus, perguntavam aos discípulos: Por que come com
o vosso Mestre os publicanos e pecadores?
12 Mas Jesus, ouvindo, disse: Os sãos não precisam de médico, e, sim, os
doentes.
13 Ide, porém, e aprendei o que significa:
Misericórdia quero. Não vim chamar justos, e, sim, pecadores.

(Ver Marcos 2:015-17 e Lucas 5: 29-32)

REFLEXÃO SOBRE “JESUS COME COM OS PECADORES”

Jesus à mesa!
Á mesa de Zaqueu... à mesa de Levi... à mesa com os apóstolos... à mesa em
Emaús...
Jesus à mesa da humanidade...
Jesus à mesa dos que têm fome da Verdade...
Jesus à mesa dos que têm sede de Amor...
De justiça... de fraternidade... de Vida!
Antes era um altar; depois, uma mesa.

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O altar era para alguns; a mesa, para todos.
Temos um Jesus disponível!

E à sua mesa, nós, os fariseus, os publicanos, tomamos lugares...

Mas os fariseus e os publicanos indagavam dos discípulos acerca do


procedimento do seu Mestre, que apesar de sua evidência e fama, se permitia
acompanhar de pessoas sem nenhum prestígio.
Será que hoje fazemos discriminação, ainda estando nós à mesa com o Mestre?
A resposta de Jesus ante a questão preconceituosa que persiste em nosso tempo é
ruidosa em nosso íntimo ainda em reforma.
Jesus, o médico por excelência, trouxe para o ser humano a Terapia do Alto
como solução e cura de todas as nossas mazelas.
Trouxe o processo mais eminente de Educação.
O testemunho mais completo da existência, presença e amor de Deus.
A carta mais famosa do Pai Celestial para os seus filhos.
E não a teoria apenas, ou preceitos de bem viver, mas a exemplificação da
vivência evangélica do mais alto nível.
Nenhum dilema, nenhum problema, nenhuma questão existencial, de caráter
emocional, de relação ou espiritual fica sem resposta no pequeno-grande livro jamais
superado que é o Evangelho de Jesus.
Eis no Evangelho o código Divino de crescimento e libertação.

Therezinha

32
O QUE TORNA IMPURO O HOMEM

Mateus 15: 1-20

1 Então vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas, e perguntaram:


2 Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não
lavam as mãos, quando comem.
3 Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento
de Deus, por causa da vossa tradição?
4 Por que Deus ordenou:
Honra a teu pai e a tua mãe
e:
Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte.
5 Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor
aquilo que poderias aproveitar de mim;
6 esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E assim invalidastes a palavra de
Deus, por causa da vossa tradição.
7 Hipócritas! bem profetizou Isaías a vosso respeito dizendo:
8 Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
9 E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
10 E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei:
11 Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da
boca, isto sim, contamina o homem.
12 Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus,
ouvindo a tua palavra, se escandalizaram?
13 Ele, porém, respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será
arrancada.
14 Deixai-os: São cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego,
cairão ambos no barranco.
15 Então lhe disse Pedro: Explica-nos a parábola.
16 Jesus, porém, disse: Também vós não entendeis ainda?
17 Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre, e
depois é lançado em lugar escuso?
18 Mas o que sai da boca, vem do coração, e é isso que contamina o homem.
19 Porque do coração procedem os maus desígnios, homicídios, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.

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20 São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as
mãos, não o contamina.
(Ver Marcos 7: 1-23)

REFLEXÃO SOBRE “O QUE TORNA IMPURO O HOMEM”

“(...) pois que do coração vêm os maus pensamentos, os homicídios, os


adultérios, as fornicações, os roubos, os falsos testemunhos, as blasfêmias, as
maledicências”.

Uma vez mais percebe-se que, em se tratando do evangelho de Jesus, tudo tem a
ver com tudo.
As leis do Monte Sinai, decodificadas, articulam-se no tríplice mandamento de
Jesus (“Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”), são
sublimadas no Sermão do Monte e desfiam-se na Codificação... com extensão em toda a
Literatura Espírita.
O espírito que materializa a letra em uma única Mensagem Divina, que é o
Evangelho do Cristo, é fecundo e de uma versatilidade e dinâmica nunca imitadas,
compreendendo-se daí o porque do incomparável trabalho dos evangelistas.

Desde então, o mágico livro vem servindo à alma humana de modo sempre novo
e atual, tomando-lhe as mãos para mais alto; informando-lhe sobre a vida que continua
com tranqüila naturalidade; sobre penas e redenção com elucidações óbvias;
esclarecendo a necessidade da reencarnação como projeto de misericórdia do Pai e
Criador; falando da presença de Deus que vela por todos, não obstante a prerrogativa da
Lei de Causa e Efeito, que responsabiliza o ser pela opção que faça; prevenindo-a na
invigilância e fortalecendo-a nos bons propósitos; colocando o amor próprio como fator
de investigação, de autoconhecimento e valorização do ser; e amor ao próximo como
condição precípua de crescimento. Assim, o Evangelho inteira a criatura de sua grande
destinação e responsabilidade imediata para com o planeta que a hospeda e as
testemunhas invisíveis que compõem o mundo espiritual, com relativa liberdade de
comunicar-se, influenciar e acompanhar, beneficiando ou prejudicando sob a regência
de leis justas e de afinidade...
Daí todas as parábolas e passagens de Jesus terem o mesmo enfoque, porém com
extremo sabor de novidade.

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E a Doutrina Espírita vem como um singular botão de flores a se abrir em luz, no
desdobramento de suas pétalas conciliatórias entre os símbolos do Cristianismo puro e o
entendimento humano, já viciado nas superstições e crendices inconscientes.
Como gemas de valor inestimável, as mensagens do Alto, ditadas pelas falanges
de Espíritos amigos, enriquecem a mesa dos estudiosos à mãos cheias.
Todas estas considerações antecedem uma reflexão sobre o texto evangélico
acima e a nota que se evidencia é a linha de advertência sobre o tesouro do coração.
Jesus deixa mais uma vez clara a cisão que faz entre o interior e o exterior. É a
referência séria no trato do engrandecimento do ser; que Ele procura calcar como
registro importante na listagem de conduta da reforma íntima. Sua palavra que ilumina a
treva do humilde, desacoroçoa o indivíduo pseudo-sábio. Assim, alerta os discípulos
para o bom senso, concitando-os à permanente vigilância e entendimento. O discípulo
do Cristo vive – não dorme!
Olhos de ver... ouvidos de ouvir... tesouro do coração – são recursos materiais do
aparelho humano e símbolos especiais que o Senhor Jesus usa na linguagem cristã,
como que para associá-los ao mecanismo de elevação ou de perdição.

Therezinha

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JOÃO BATISTA

Mateus 3: 1-10

1 Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e dizia:


2 Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.
3 Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías:
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai
as suas veredas.
4 Usava João vestes de pêlos de camelo, e um cinto de couro: a sua alimentação
era gafanhotos e mel silvestre.
5 Então saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança
do Jordão;
6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.
7 Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-
lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?
8 Produzi, pois, fruto digno do arrependimento;
9 e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque eu
vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
10 Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não
produz bom fruto, é cortada e lançada ao fogo.

(Ver Marcos 1: 1-6 e Lucas 3: 1-9)

REFLEXÃO SOBRE JOÃO BATISTA

Vemos na história de João Batista vários aspectos muito interessantes, mas entre
eles há dois que nos dizem respeito diretamente. Um deles é a consciência da tarefa que
João assumira diante de Deus e de si mesmo. Sabemos que os compromissos que
aceitamos ou que nos são concedidos são pesados de acordo com nossas forças, embora
muitas vezes nos sintamos sem estrutura para o fardo que nos cabe. Meditemos, então:
Essa estrutura não se fará pela fé? E a fé não se estruturará na Verdade Divina que
adquirimos através do conhecimento? “A fé sem obras é morta”, e as obras começam
em nós, através do auto-amor, tendo consciência de que somos espíritos eternos e livres,
porém com responsabilidades definidas. Devemos trabalhar em nós o espírito de bem
servir, cultivando a humildade; assumir o lugar que ocupamos, guardando respeito pelo

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lugar alheio; preservar valores morais adquiridos e desenvolver outros para a harmonia
do conjunto. E, sem esperar louvores humanos, prosseguir firmes na estrada da
evolução, tendo o trabalho e a instrução como asas abençoadas.

O segundo aspecto são os princípios de justiça de João Batista, muito rígidos e


severos, que o levaram a escolher aquele gênero de desencarne tão violento. João
Batista, sendo Elias, tinha em sua consciência espiritual o gesto intempestivo de seu
temperamento anterior, que o levara a determinar a matança de um grupo grande de seus
irmãos. Decerto pretendeu apagar aqueles registros e usar para consigo próprio a mesma
penalidade, ficando assim justificada a sua posição altamente severa, que provavelmente
influenciou outras consciências. Encontramos na literatura espírita procedimento
semelhante, quando irmãos nossos, desnorteados pelo remorso ou desejosos de apagar
reminiscências pretéritas, escolhem atravessar os corredores da dor que prepararam para
outros, ainda que lhes sejam propostas outras alternativas. Compreende-se aqui a
liberdade de pensamento que o Pai nos facultou e respeita; e os diferentes
entendimentos da mente, que denotam a complexidade de sua natureza com o
comprometimento do passado e sua bagagem pregressa, num difícil processo de
pacificação interior.

Deus é justo mas é sobretudo Misericórdia.

Therezinha

37
JESUS APRESENTA JOÃO

Mateus 11: 7-19

7 Então, em partindo eles, passou Jesus a dizer ao povo a respeito de João: Que
saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?
8 Sim, que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que
vestem roupas finas assistem nos palácios reais.
9 Mas, para que saístes? Para ver um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais
do que profeta.
10 Este é de quem está escrito:
Eis aí eu envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o
teu caminho diante de ti.
11 Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior
do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.
12 Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por
esforço, e os que se esforçam se apoderaram dele.
13 Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
14 E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir.
15 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
16 Mas, a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que,
sentados nas praças, gritam aos companheiros:
17 Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não
pranteastes.
18 Pois, veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio.
19 Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e
bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por
suas obras.

REFLEXÃO SOBRE “JESUS APRESENTA JOÃO”

João pregava no deserto longe do luxo dos palácios, e do burburinho das


cidades. A palavra de Deus fluía do espírito austero e verdadeiro, plasmando o reino do
céu na consciência adormecida das gentes. João buscava imprimir a mensagem seleta
em lugar não identificado da orla da matéria, onde só Deus sopra para consolar, fala
para se fazer ouvir e faz progressão de ecos por trás dos montes da ignorância, como Pai
incansável e presente.
Um lugar que parece deserto.

38
Local como este só é buscado pelos que têm sede de justiça, carentes de amor e
enfermos das emoções, e entendem que só a Verdade pode libertar-lhe a alma cativa.
Entretanto, quem em tal clima estará distraído a contemplar um caniço agitado
pelo vento? Ou a se fixar na indumentária das aparências humanas?
Mas, ainda hoje, deixamos escapar preciosos momentos de enlevo espiritual,
lapso de tempo que poderia mudar nossa visão, pelo que a oratória vem de criaturas de
quem conhecemos os hábitos e dificuldades, como outrora “aquele de Nazaré... o filho
do carpinteiro!”.
E a estampa rude de João esconde um anjo. “Eis que envio, na tua frente o meu
anjo...”. E à essa revelação Jesus acrescenta uma outra: o progresso do espírito a nível
de eternidade: “...mas aquele que for menor no reino dos céus é maior que ele. Se
alguém há que se purificou mais que ele é maior que ele”.
E, da reencarnação fala de modo direto, pois sabiam a respeito de Elias e trazê-lo
de volta num momento histórico para toda a humanidade, era como uma bomba nas
mãos de grupos fechados escancarando conhecimento ao povo marginalizado das
estratégias religiosas.
A mudança das diretrizes doutrinárias foi radical com o Cristianismo. O reino
dos céus, que era violentado pelos religiosos, se abriria docemente quando conquistado
pelo amor.
Era difícil mudar isto. Jesus sabia.
As lutas eram inevitáveis. As guerras tiveram uma fisionomia mais impiedosa
pelo caráter religioso, o que agredia os seus fundamentos. Foi inevitável porque, em
verdade, ela era a transparência da rebelião que ocorria no mundo íntimo daqueles que
haviam se acomodado dentro do conforto de crer.
Sem compromisso com a reforma interior, e menos com o próximo, adequá-la
aos interesses pessoais era uma tarefa rendosa, e de projeção social, ainda que
constrangesse mais que consolasse, confundisse mais que instruísse.
Ali em meio à inocência e pureza das plantas silvestres, destacado na singela
beleza do firmamento, investido de sua missão excelsa, João é quem podia falar de
Jesus. Nele a autoridade, como uma imantação espiritual, atraía os que deviam dobrar a
esquina das mudanças.
Com que adjetivos poderíamos denominar aquele homem, depois da colocação
que Jesus fez a respeito dele? Apenas atentar para a meta pela qual se orientava o
espírito brilhante e humilde, e tomar para nós na cabeceira de nossas tarefas:

39
“É preciso que Ele cresça e eu desapareça.”

Therezinha

NA PRÁTICA DA JUSTIÇA

Mateus 6: 1-4

1 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de


serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.
2 Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os
hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens.
3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua esquerda o que faz a tua direita;
4 para que a tua esmola fique em secreto: e teu Pai que vê em secreto, te
recompensará.

REFLEXÃO SOBRE “NA PRÁTICA DA JUSTIÇA”

Pergunta 886: “Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como entendia Jesus?”
(Livro dos Espíritos)
Resposta: “Benevolência para com todos, indulgência para com a imperfeição dos
outros, perdão das ofensas.”

O espírito é como um foco de luz a irradiar energia, em busca da sua


identificação com o todo – enquanto o todo está manifestado na essência divina.

Experimenta o movimento da vida na plenitude de sua força, dimensionando os


valores internos a propósito de se capacitar na luta que o constrange a crescer.

Eis que lhe permeia o caminho um ser que se lhe assemelha em tudo – o outro.
O outro é o espelho que tem sido objeto de confronto; esse confronto, motivo de
dissenção, de alegrias, gratificação, repúdio, glória e complemento. Esse espelho tem
fomentado guerras e tem sido figurante de tristes dramas no palco da inferioridade
humana; também inspiração nas artes, nos gestos de heroísmo admirável e amor
desprendido...
Se lhe assemelha pela natureza divina, mas pede um laço de aproximação que
somente a sabedoria Divina poderia ter criado para a conciliação espiritual das
diferentes criaturas entre si até a reforma moral definitiva; e esse laço chama-se
Caridade.

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Caridade é Amor!
O amor é virtude que existe em nós por herança de Deus Pai, porém fadada ao
desenvolvimento tanto quanto as demais qualidades que se exercitam para a sublimação.
A Caridade é a condutora segura que acelera esse desenvolvimento e as demais
potencialidades que o amor encerra.
Esse laço na tecelagem humana pode correr muitos riscos. Importa lembrar que
como Lei de Amor, a um tempo que trabalha o que dela necessita, trabalha também
aquele que a secunda e viabiliza a caridade. E o Senhor Jesus, Mestre por excelência,
deixou o ensinamento máximo, e o alvará àquele que lhe ouve a voz: “Ignore a tua
esquerda o que faz a tua mão direita”.
O que não significa que se negue à caridade oportuna por respeito à opinião
alheia.

A mão esquerda corresponde ao lado do coração, que se prende em nossas


consciências ao tesouro dos sentimentos nobres, e que não prescindirá da direita para o
efeito final, encerrando-se num todo envolvido harmoniosa e conscientemente nas
malhas do ato de generosidade e amor.
Jesus quer advertir, como faz em toda a sua pregação, para a unidade do ser.
“Seja o teu sim, sim; o teu não, não”. Não haja divisão entre a tua direita e a tua
esquerda, mas que estando os teus sentimentos de acordo com o bem, todo o teu corpo
participe, todo o teu ser seja luz.
Assim era o Senhor Jesus!

Therezinha

41
A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES E DOS PEIXES

Mateus 14: 13-21

13 Jesus, ouvindo isto, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à
parte; sabendo-o as multidões, vieram das cidades seguindo-o por terra.
14 Desembarcando, viu Jesus uma grande multidão, compadeceu-se dela e
curou os seus enfermos.
15 Ao cair da tarde, vieram os discípulos a Jesus, e lhe disseram: O lugar é
deserto e vai adiantada a hora; despede, pois, as multidões para que, indo pelas
aldeias, comprem para si o que comer.
16 Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se, dai-lhes vós mesmos de
comer.
17 Mas eles responderam: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.
18 Então ele disse: Trazei-mos.
19 E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a relva, tomando os
cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou. Depois, tendo
partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões.
20 Todos comeram e se fartaram; e dos pedaços que sobejaram recolheram
ainda doze cestos cheios.
21 E os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e
crianças.

(Ver Marcos 6: 30-44 ; Lucas 9: 10-17 e João 6: 1-14)

REFLEXÃO SOBRE A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES E DOS PEIXES

Não é de estranhar que o Senhor Jesus buscasse se retirar, como escreve Lucas,
pois que de hábito buscava orar reservadamente ou reunir-se com os seus discípulos
para esclarecer-lhes as dúvidas; mas o povo chegara antes dele a pé. Compreende-se que
aquela gente costumava fazer longas caminhadas e por isso mesmo fosse habilitada a
extensos percursos, e que Jesus tivesse, segundo Marcos, acompanhado de seus
discípulos, feito de barco uma volta mais alongada, talvez até para incentivar o povo a
procurá-lo, ou provar-lhe a fé resultando disso encontrar a multidão já à sua espera.
Quantas vezes sentimos Jesus, o nosso Jesus, distante de nossa praia de aflição!
Tantas vezes seria o bastante uma decisão nossa de ir ao seu encontro!

42
Jesus, que se dispunha de braços abertos a receber o homem da mão ressequida,
a mulher hemorroíssa, o jovem indeciso, a mulher samaritana... Agora se dirigia para
um local ermo, em pleno dia! Aquele que disse “buscai trabalhar enquanto é dia”!
“Quando ele saltou em terra viu grande multidão, e compadeceu-se dela...”
Quando Jesus não está compadecido de nossas misérias?
Não significará que Jesus, em nos vendo confusos entre o que devemos e o que
podemos, perdidos entre o que temos e o que buscamos possuir, ou ainda entre o que
não somos e o que somos realmente, rodando como cegos e ignorantes em torno de nós
mesmos, iludidos e cansados, porque do lado de fora há muitos brilhos e acenos, quis
Ele buscar o nosso deserto onde há fartura de valores nunca esgotáveis?
Não estará Jesus sinalizando a direção do nosso Eu espiritual, tão esquecido na
sombra dos milênios?
Jesus quer nos ajudar a abrir caminhos. Trabalho sempre árduo e doloroso a
princípio. Tarefa de pigmeus que se propõem a crescer. Mas com Jesus nos faremos
gigantes!
Contemplar galhardamente sentados o céu e a vastidão estelar; a natureza
exuberante, com seus rios e mares insondáveis; a riqueza dos minerais; a força que
movimenta a terra; a energia em tudo presente; nos contentando com a idéia ingênua de
que uma palavra foi o bastante para que tudo surgisse por encanto e sem a virtude do
tempo, é voltar à infância e se satisfazer com a história da carochinha sem questionar, se
embalando na melodia da voz de quem narra e o deleite das imagens pueris criadas sem
esforço.
Deus é mais criativo!
E materializam-se pães e peixes em meio ao deserto!
E a fome de todos foi saciada!
E Jesus havia dito: “Vós podeis fazer o que eu faço e muito mais!”
E asseverou: “Vós sois deuses!”

43
Therezinha

MARTA E MARIA

Lucas 10: 38-42

38 E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa
mulher, chamada Marta, hospedou-o em sua casa.
39 Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do
Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.
40 Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então
se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tivesse
deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
41 Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com
muitas coisas.
42 Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria, pois,
escolheu a boa parte e esta não lhe será retirada.

REFLEXÃO SOBRE A PASSAGEM DE JESUS COM MARTA E MARIA

Esta passagem se identifica conosco em corpo e alma.

A alma, fazendo o que pode para desembaraçar-se dos pesados compromissos


assumidos com a matéria, sempre entregue à própria natureza com grandes apelos e em
altos brados. Por vezes, ganha a matéria. O Pai Celestial a tudo preside compassivo;
mas a madrasta física pactua com Ele no que lhe convém, impondo-se a seu modo sobre
as necessidades intrínsecas do espírito cativo.
Contudo, corpo e alma cumprem um desígnio superior.
Nesta dupla, quem sairá vencedor será o espírito, porém a duras penas. A manha
da carne é irresistível quase sempre. Além de suas astúcias e de seu fascínio, há também
suas bem disfarçadas fraquezas. Se cobre de escrúpulos e se trai nos apetites.
Todavia, é fantástica nos desígnios de Deus!
“Maria escolheu a melhor parte.”

Feliz do espírito que escolhe a melhor parte, porque não faltará com as outras!
Quantas vezes somos Marta, cheios de preocupação e carências.

44
Quantas vezes somos Maria e nos felicitamos por isso!
Quão bom será para nossas almas quando pudermos ouvir na intimidade de
nossos corações a defesa e a garantia do Divino Mestre: Você escolheu a melhor parte e
isto não lhe será tirado!
Então passará a terra, passará o céu, e estaremos em Jesus caminhando para
cantar com o grande Paulo, num certo dia, num certo momento: “Já não sou eu quem
vive, é Cristo que vive em mim.”
Para a nossa época, essa é uma passagem de Jesus de grande alcance.
A natureza é a mesma de todos os tempos, fecunda, rica e prodigiosa, seja nas
águas de qualquer procedência, seja na fauna, seja na aparência cariciosa dos
estampados multiformes ou na exuberância e opulência das exposições fantásticas que o
homem se apropria nem sempre consciente de seus atos; a alma de Deus a tudo dá vida
e renova, sempre com um voto de crédito de que no amanhã cada criatura fará melhor
para si e para os seus irmãos. E os séculos se seguem...
Falta para o homem a paz...
Na falta dela, o ser se perde em si mesmo. Arrasta atrás de si pesada carga. Se
estertora. Prefere não desatrelar-se de sua bagagem e ficar jungido ao passado que, de
experiência que ensina, torna-se corrente que aprisiona. Dispõe de um coração que é
imortal e lhe informa a cada passo que o amanhã é nova oportunidade de conquistar a si
próprio e prefere não ouvir porque o desconhecido o intimida. Caminha então como
pode. E o que pode é esperar que o mundo mude para se acomodar e ser feliz. Esse
esperar dos outros é sofrimento que oprime. Reclama e acusa. E o tempo segue o seu
curso...
Aquele que se diferencia buscando a melhor parte, aure nela a força interna para
respeitar o passado no lugar que lhe cabe, aproveitando-lhe as lições. Sabe apreciar o
futuro como vida abundante de oportunidades, que aguarda com zelo. Desobstrui os
ouvidos na acústica profunda da alma e se afirma em si mesmo. Trata as carências das
quais ainda padece com o substancial pão das verdades eternas e o amor que se lhe abre
do Alto como sustentação e reforço.
Escolher a melhor parte não significa eximir-se de suas responsabilidades
triviais, mas compreender que se atingiu maturidade bastante para discernir sobre os
deveres para com o próximo e para consigo mesmo, ganhando pelo esforço próprio a
arte de equacionar o tempo de forma progressiva e útil.

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Therezinha

O FILHO DO HOMEM NÃO VEIO PARA SER SERVIDO, MAS PARA SERVIR

Marcos 10: 45

45 Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos.

REFLEXÃO SOBRE “O FILHO DO HOMEM NÃO VEIO PARA SER


SERVIDO, MAS PARA SERVIR”

As prestações de serviço que não coadunam com as leis do Alto não servem ao
mundo que o homem tanto ama, senão como experimentação de sua personalidade em
liberdade de ação.
Aprende também com os próprios erros, se está fixo no engrandecimento
pessoal. O erro traz perdas, apreensões, danos pequeninos ou fatais, ganhos ilícitos ou
desprestígio, mas também lições valiosas.
O Mestre veio para servir e nele não havia erro algum.
Bem falou ele do “vir após mim”, porque com ele na vanguarda, o homem não
se perde nas luzes do mundo. E que fazer se O não tem como guia?
Servir é uma diretriz compulsória da Divina Misericórdia.
Se não queremos servir ao próximo mais próximo; ao vizinho e à coletividade
despretensiosamente, nem contribuir para a paz geral com as forças internas dos bons
sentimentos, estaremos servindo por conta da contingência humana, sem provar da
alegria inigualável do serviço com Deus.
Deus trabalha sempre, disse Jesus. E o Mestre, até hoje entre nós,
incansavelmente opera no coração do homem o bem, extirpando o mal inseminado pela
ignorância.
Abençoadas as mãos que, à luz das mãos do Cristo, dessedentam e alimentam a
carência física, afagam com ternura os cabelos encanecidos do desalentado ou
transfundem sua energia amorosa no irmão enfermo. Abençoado quem, com Jesus nos
lábios, socorre a dor moral de um companheiro e desperta a esperança no amanhecer do

46
futuro, quando os dias não têm cor para o espírito que se envolveu nas malhas da
depressão... Abençoados os pés ligeiros que agilizam uma ação edificante em favor de
outrem... Afinal, toda a peça física, por obscura que seja sua função, serve ao homem
por vinte, cinqüenta, noventa anos ou mais se preciso, e melhor servirá se obedecer à
sua finalidade precípua de servir ao espírito – que tem também, como meta divina,
servir-se dessa premissa em direção ao semelhante.
Também nós viemos para servir, pelo que temos sido servidos pelo Pai Celestial,
pelo amor do Cristo e pelos irmãos em humanidade, dentro do sábio plano de
conveniência e convivência.

Therezinha

47
AS BODAS EM CANÁ DA GALILÉIA

João 2: 1-12

1 Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a


mãe de Jesus.
2 Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento.
3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho.
4 Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a
minha hora.
5 Então ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser.
6 Estavam ali seis talhas de pedra que os judeus usavam para as purificações, e
cada uma levava duas ou três metretas.
7 Jesus lhes disse: Enchei d’água as talhas. E eles as encheram totalmente.
8 Então lhes determinou: Tirai agora e levai ao mestre-sala. Eles o fizeram.
9 Tendo o mestre-sala provado a água transformada em vinho, não sabendo
donde viera, se bem que o sabiam os serventes que haviam tirado a água, chamou o
noivo,
10 e lhe disse: Todos costumam por primeiro o bom vinho e, quando já beberam
fartamente, servem o inferior; tu, porém, guardaste o bom vinho até agora.
11 Com este deu Jesus princípio a seus sinais, em Caná da Galiléia; manifestou
a sua glória e os seus discípulos creram nele.
12 Depois disto desceu ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus
discípulos; e ficaram ali não muitos dias.

REFLEXÃO SOBRE AS BODAS EM CANÁ DA GALILÉIA

De modo singular nos toca essa passagem de Jesus.


Encontramos sempre o Mestre Jesus envolvido em momentos de serenidade
profunda entre a sublime missão de iluminar e a dor moral de conviver com o
sofrimento, a ignorância e a dureza do coração humano. Nessa narrativa de João,
parece-nos que o temos ao lado em íntima relação de afinidade meramente humana. Sua
presença por si só denuncia um ensinamento de inestimável valor prestes a acontecer.
Coisa alguma nele é fugaz. Não há inconveniência em nenhum de seus movimentos. A
força de seu amor e o seu magnetismo fazem a história divina. E nós por alguns
instantes dormimos embalados pela sua presença quase nivelados a ele, para

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despertarmos com a mensagem que nos visita a consciência no quadro das
identificações pessoais. É o Cristo. Só ele sabe cercar-nos mansamente e conduzir-nos
para a estreita estrada do aperfeiçoamento.
Jesus teria comentado com sua mãe que ainda não havia chegado a hora de
expor-se publicamente, provavelmente nos lembrando que a disciplina começa dentro
de nós. Mas, sua boa mãe conhecia-o bem e sabia que para ele “mau servo é aquele que
só cumpre com sua obrigação”, entendendo que a misericórdia é seu Dom especial.
Certa disso, ela oferece ajuda aos noivos através dos servos e mestre de cerimonial,
para alegria de todos.
Jesus sabia valorizar as oportunidades de trabalho como Mestre dos mestres que
é. A mente humana trabalha sem cessar; onde está uma, ali está a escola e a oficina.
Assim como a oficina e a escola requerem uma direção, a mente e a consciência
caminham a nível inconsciente em direção a Deus até a libertação. Não há como ser
diferente.

Nos planos divinos: a imensa família de espíritos; as grandes, as menores, os


lares! Ah! Os Lares! Jesus os abençoou naquela festa de núpcias como Deus Pai havia
abençoado o de José e Maria.
Sentido triplo se fazia ali, naquela noite. Um deles seria a instituição familiar. A
responsabilidade recíproca assumida por duas almas diante de Deus e do mundo, com
vistas aos encargos de família envolvendo outros espíritos no caminho da evolução
conjunta. Oportunidade de ressarcimento e eleição. Construção no campo do a mor e da
abnegação. Vitória sobre si mesmo e sobre o mal.
O outro é um recado explícito de Jesus para a sociedade, para os líderes
religiosos, para todos os grupos de responsabilidade na formação de idéias e
consciências, para os grupos empresariais, para a mídia e para os políticos e governantes
de todos os tempos. A família é a força de bem contra os desregramentos da moral.
Ninguém lhe faltará com o respeito sem se responsabilizar por isso.
O terceiro é um tanto profético: Os homens se compraziam com a embriaguez e
se regalavam com o vinho da terra, mas, tempo viria em que um vinho cuja procedência
não lhes era ainda permitido conhecer os levaria a Ter muitos sonhos!...

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Therezinha

A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

Lucas 15: 11-32

11 Disse-lhes mais: Certo homem tinha dois filhos;


12 o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte que me cabe dos bens. E
ele lhes repartiu os haveres.
13 Passados não muitos dias, o filho mais moço, juntando tudo o que era seu,
partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente.
14 Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele
começou a passar necessidade.
15 Então ele foi e se agregou a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou
para os seus campos a guardar porcos.
16 Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam; mas
ninguém lhe dava nada.
17 Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui morro de fome!
18 Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e
diante de ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus
trabalhadores.
20 E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o
avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.
21 E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno
de ser chamado teu filho.
22 O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; vesti-o,
ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés;
23 trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos,
24 porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E
começaram a regozijar-se.
25 Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-
se da casa, ouviu a música e as danças.
26 Chamou um dos criados e perguntou-lhe o que era aquilo.
27 E ele lhe informou: Veio teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho
cevado, porque o recuperou com saúde.
28 E ele se indignou e não queria entrar; saindo, porém, o pai procurava conciliá-
lo. 29 Mas ele respondeu a seu pai: há tantos anos que te sirvo sem jamais
transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com
meus amigos;
30 vindo porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu
mandaste matar para ele o novilho cevado.
31 Então lhe respondeu o pai: Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que é
meu é teu.
32 Entretanto, era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque
esse teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.

50
REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

Uma das parábolas mais ricas de Jesus, pela identificação com a nossa história –
a longa romagem que temos que fazer, desde o desprendimento como centelha divina
até a volta inevitável ao nosso criador.
O caminho da inocência, o mergulho nas trevas, as experiências pelas vias do
sofrimento e do aprendizado em variados estágios da matéria, nas múltiplas estações de
retorno e em idas e vindas aos diversos planos da convivência evolutiva: tudo isso
evidencia uma vontade de grande poder no cerne da centelha divina; vontade de ser a
construtora de sua própria felicidade, requerendo o gozo de liberdade absoluta de ação,
com todas as conseqüências de seus atos. Isto nos faz imaginar que, neste momento,
Deus lhe concede o livre arbítrio, do qual desde então começa a fazer uso relativo e
proporcional.
A centelha, em sua natureza divina, sente que deve expandir suas riquezas, as
quais nem avalia. Mas percebe que não pode conter a força de que é dotada, e a
determinação de seguir-lhe o impulso é poderosa e irresistível, ainda que neste
momento importe desconhecer de onde provém essa herança.
A sublime verdade deste conteúdo nos comove; nos dá a compreensão dos
padecimentos e dificuldades que todos encontramos na estrada que nos acolhe os
passos; entendimento do processo que nos mantém firmes nas lutas que muitas vezes
ameaçam nos abater e, não obstante, conseguimos superar, saindo mais fortalecidos e
desassombrados. O móvel divino que nos projetou para além das fronteiras do paraíso
prossegue intacto, invulnerável e imbatível. E permanece em vigor o grande projeto de
aperfeiçoamento, através de esforço próprio da alma que prossegue monte acima.
Na trajetória escolhida, vivenciada a ventura de extrair do exterior a felicidade
ideal, o equívoco promove a decepção sem alento. Somente a misericórdia do tempo se
faz recurso imprescindível para a reflexão que amadurece a alma, que se descobre em
solidão profunda e reconhece sua necessidade de algo que não se define com palavras e
não se encontra em qualquer espécie de materialidade.
Em meio a todo conforto, paz e segurança, ardia no peito daquele jovem o
desejo imperioso de realizar-se, administrando ele mesmo a sua herança.
Faltava-lhe maturidade. Ele não queria saber disso.
O pai reconhece-lhe a necessidade e permite que se vá. (Que é livre-arbítrio?)

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E o jovem fez uso de seus bens como julgou útil, segundo seus impulsos,
instinto e inocência – no sentido de ignorar.
Perdeu tudo que possuía e os amigos dentro de algum tempo.
Perdeu? O quê? A inocência? Ao desbaratar tudo que tinha, não houve troca? E a
experiência? E os amigos que “perdeu”? Seriam eles as fascinantes tentações pelas
quais se deixou levar? Os “amigos” seriam as expectativas de saciedade a qualquer
preço, que o alimentaram nos desvios e transgressões? Ou teriam sido as trevas que o
mantiveram cego até a derrocada final? E os bens, perderam-se? Não teriam sido
convertidos em experiência salvadora?
Exaurido. Abatido às entranhas; acata os primeiros pensamentos que lhe
iluminam a mente: “Meu pai... ele me receberia de volta?” Hesitou. “Não, eu não teria
coragem! Eu não mereço... Meu irmão... ele está bem... Eu também estava... E os servos
de meu pai... eles sempre estiveram bem... oh, como eu gostaria de me encontrar entre
eles... Se meu pai soubesse o que estou passando... Se lembrará ele de mim?... Fui tão
ingrato!... Como não?!... Ele é muito bom!... Eu pediria para ser admitido como um de
seus servos... seria um abuso depois do que lhe fiz? Mas, se meu pai permitir jamais o
decepcionarei.”
Uma força interna ascende consoante a uma nova postura interior e levanta-lhe a
carcaça combalida. No primeiro instante estremecem-lhe os joelhos; daí por diante
caminha como legítimo herdeiro real, arrojando-se estrada afora como se pisasse outras
terras; sabedor dos próximos desafios; preparado para vencer...
E quando parece que desce o pano com um final feliz para sempre, eis que surge
um personagem com o qual novamente a gente se identifica no atual estágio evolutivo,
até parece de propósito! Mas é de propósito. Nenhuma palavra sai da boca de Jesus que
não tenha a direção propícia de nos levar ao auto conhecimento. Essa busca, quando
despertada, começa com um questionamento interior, quando a primeira verdade que
nos interessa conhecer é a justiça, talvez porque estejamos sempre às voltas com as leis;
mormente as cósmicas.
E o irmão mais velho, voltando do campo, estranhou que sua casa estivesse em
festa e, tomando conhecimento do regresso de seu irmão, não se alegra com isso,
recusando-se a entrar.
Nos parece que ele, vivendo com seu boníssimo pai, gozava de tudo que lhe era
mais importante: proteção; carinho; liberdade relativa, com a qual se movimentava a seu
gosto; e da presença incomparável daquele que o tornava participante de todos os seus bens.

52
Considerando isto na visão espiritual: o filho mais velho seria a centelha divina
ainda não disposta a se lançar numa aventura para dentro de si mesma, a fim de usar
tudo quanto possuía latente. Pela narrativa, podemos avaliar que muito longo foi o
tempo em que o mais jovem esteve peregrinando, distante (?) das vistas paternas, e
encontra o irmão no mesmo lugar, com as mesmas disposições, mesmo quando o pai lhe
dissera que tudo o que lhe pertencia também era seu.
Não agiu o filho mais velho tal como nós que, envolvidos pelo ciúme, despeito
ou pela inveja quando algum irmão parece-nos mais favorecido do que nós pela “sorte”,
nos atrevemos a vestir uma toga de juiz e nos colocar contra Deus e sua Justiça? E nos
recusamos a enfrentar a consciência, onde as leis de amor, solidariedade e perdão têm
voz ativa e nos são extremamente inconvenientes?
Mas o pai vai ter com o filho “injuriado” para reafirmar seu amor. Também o Pai
Celestial, através dos seus mensageiros, não busca, incansavelmente, reafirmar o seu
amor e fazer-nos sentir herdeiros de tudo o que Ele possui?
O filho alega que sempre lhe fora fiel, enquanto o irmão, que gastara seus bens
com meretrizes, recebia presentes para se alegrar com seus amigos; coisa que ele nunca
tivera.
Claro fica que a posição do filho mais velho é de quem não foi batizado pela dor
com o seu cortejo de dificuldades e não conheceu a necessidade de avaliar-se, nem de
reconhecer os valores do coração amorável e sábio de seu extremado pai. Talvez
personifique o homem que coroa a si mesmo de qualidades, que sua vaidade lhe atribui
em detrimento dos demais; e não admite que quem não se lhe assemelhe ou não reze
pela sua cartilha possa também ser “salvo” e colocado lado a lado, no mesmo nível. Ou,
o que é pior, acha que já atingiu o conhecimento máximo, é detentor de poderes de tal
modo nobres que não precisa esforçar-se para evoluir mais, acomodando-se no interior
do seu castelo de jactância para despertar pasmo, com a decepção do confronto com
espíritos considerados de inferior categoria em posição de destaque.
Felizmente, para Deus, cada um de nós é único!

Therezinha

A TEMPESTADE

Mateus 14: 22-33

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22 Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar adiante dele
para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.
23 E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em
caindo a tarde, lá estava ele, só.
24 Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da terra, açoitado
pelas ondas; porque o vento era contrário.
25 Na quarta vigília da noite, foi Jesus Ter com eles, andando por sobre o mar.
26 E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram aterrados, e
exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram.
27 Mas Jesus imediatamente lhes falou: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!
28 Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor, manda-me ir Ter contigo,
por sobre as águas.
29 E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas e
foi Ter com Jesus.
30 Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir,
gritou: Salva-me, Senhor!
31 E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: Homem de
pequena fé, por que duvidaste?
32 Subindo ambos para o barco, cessou o vento.
33 E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho
de Deus!

(Ver Marcos 6: 45-52 e João 6: 15-21)

REFLEXÃO SOBRE A TEMPESTADE

Naquele dia de tanta movimentação entre as multidões e convívio com o amado


Mestre, cuja lida era ensinamento vivo de amor ao próximo, estava reservada uma
vivência exclusiva para o grupo ao cair da tarde.

Esta era uma fatia que lhes competia saborear como apuração pessoal de seu
mundo íntimo.
Serviam ao Mestre como se o conhecessem profundamente e qualquer
dificuldade, junto dele, não significaria ameaça.
Avançados nós no tempo, não participamos da mesma posição: tão cheios de fé e
otimismo quando tudo corre bem? Ou estamos deveras convencidos de que com Jesus
em qualquer circunstância estaremos seguros?
Quantas vezes queremos descansar a nossa cruz, um pouquinho só, nos ombros
dele e o achamos “dormindo”?

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A verdade é que os discípulos estavam aterrorizados. Homens bravos que eram,
testemunhas oculares dos “prodígios” da fé, estavam agora de pés vigorosamente
fincados na matéria e suspiravam desesperadamente por um socorro imediato e
maravilhoso.
Colhemos do livro “A Gênese” que, se há inteligências ocultas presidindo à ação
dos elementos, elas obedeceram ao comando de Jesus pela autoridade que ele tinha
sobre elas. Com a diretriz sensata de suas argumentações, deixa entrever ainda que, é
possível que conhecendo as forças da Natureza a que presidiu na formação do orbe,
Jesus sabia que não corriam perigo, pois logo viria a bonança, motivo esse de sua
serenidade. Essa possibilidade não pode ser descartada, uma vez que Jesus sempre
buscou operar em acordo com as leis. Se assim não nos parecer, lembremo-nos de que
não temos conhecimento de todas elas.
Acalmar as ondas, fazer cessar os ventos e aplacar a tempestade dos corações em
pânico através de seus poderes especiais não nos parece fantástico, vindo de Jesus.
Igualmente o horror diante das circunstâncias em que se encontravam aquelas criaturas
não é estranho, visto que, antes de tudo, trata-se de homens. Assim também considerou
Jesus a respeito deles, pois os conhecia bem. Contudo chama-os à realidade, que não é a
realidade da Terra – a realidade das fraquezas humanas – mas do espírito eterno; era
preciso calcar neles a confiança íntima no que buscavam, de modo a trabalhar em si
mesmos o Ser divino, consciente do que estava a doar e para que (quem), no processo
vital do autoconhecimento.
E o eco daquelas vozes, que começaram a fazer alarido surdo no peito de cada
um par depois clamarem pelo Mestre quase à insubordinação, atravessa o espaço e o
tempo para acordar-nos nos tempos atuais, derrubando todos os conceitos de
modernidade para buscarmos velhos moldes de bem viver e de soluções para os males
da alma.
Daí o processo agita a mente perplexa e conturbada: “Quem é este que repreende
os ventos e faz acalmar as ondas?” E o processo augusto do Cristo prossegue no auxílio
ao trabalho de transformação interior do espírito que se propõe a crescer...
E se o momento é de tormenta, sobre o céu em trevas e alvoroçado, um
firmamento atraente e sedutor fala de um idioma universal e de uma presença real no
macro e no micro cosmos, a repetir em linguagem lírica e decodificada apenas para o
coração.

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Há corações que atraem outros corações. Para eles, o Senhor tem sob sua direção
outra embarcação.

Therezinha

O JUGO E O FARDO DE JESUS

Mateus 11: 28-30


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28 Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei.
29 Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde
de coração; e achareis descanso para as vossas almas.
30 Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.

REFLEXÃO SOBRE “O JUGO E O FARDO DE JESUS”

“Vinde a mim todos vós que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei.”
Jesus.
E por que não vamos a ti, Senhor Jesus? Temos tão endurecido o coração? Por
que tememos tantas coisas? Por que escolhemos o jugo das paixões e o fardo das
imposições materiais? Por que abrimos guarda ao desconhecido e fechamos os
sentimentos à oferta do teu coração, tendo em mãos o testemunho dos teus propósitos e
a grandeza de tua doação? Por que reunimos as nossas fraquezas e tornamo-las uma
força para fazer frente às reivindicações do mundo, e não sabemos reunir as forças reais
de nossa essência divina para atender aos anseios legítimos de nossas almas? Por que
somos corajosos e inconseqüentes para permitir acesso livre à treva exterior, e frágeis e
dissimulados para aceitar a reforma íntima que um convite tão especial e singular em
suas conseqüências nos faz o Divino Amigo?
Por quê?
Responda, coração!
E prosseguimos nossa reflexão com Emmanuel através de nosso Francisco
Cândido Xavier, pelo livro “Chico Xavier à sombra do abacateiro”.
“Diz Emmanuel que, na vida primitiva, os seres humanos também primitivos
eram tão livres quanto as feras. O lobo se sentia em liberdade absoluta, o jaguar, o leão,
o tigre... Conseguiram, de certo modo, aceitar o jugo da civilização.”
“O Homem era livre e não sabia de que modo organizar a sua própria
alimentação, mas descobriu o fogo; o fogo só funcionava sob o jugo porque senão
devastava a floresta, devia ser limitado à utilidade. Depois os homens descobriram o
problema da construção; mas a construção exigia determinada disciplina dos
elementos... Depois uma série de descobertas: veio o vapor; mas o vapor só consegue
acionar a máquina sob jugo. A era do automóvel – mas só serve sob jugo. O motor
carece de ser disciplinado, se o dono não tem controle... Temos grandes represas para

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alimentar a força e a luz, mas as águas servem sob jugo. A eletricidade é uma força
maravilhosa que o homem consegue medir, mas ainda não descobrir a origem; só nos
serve sob jugo: são transformadores, tomadas, ligações... O avião se eleva a grandes
alturas debaixo da lei do jugo, sem isso, ele teria de voltar à terra ou se perderia no
espaço...”
“Nós estamos submetidos a determinadas leis sociais, leis do jugo... Quando
alteramos, vamos além daquilo que a lei nos permite e somos incursos na chamada
‘periculosidade’, somos punidos pela justiça que nos segrega na piedade, ou na
impiedade do cárcere... De modo que nós todos estamos sob leis do jugo”.
“Agora, a do Cristo, é a mais suave, pois só nos pede Amor e Caridade para que
sejamos felizes. É tão difícil praticar o mal... e depois entrar nas conseqüências (mas
preferimos). O bem não nos irá custar preço algum.”
“Gostamos de fulano, mas esse gostar tem uma limitação, pois não podemos
invadir a liberdade dele escolher o próprio caminho; para nós é uma espécie de jugo que
carecemos de respeitar sob pena de comprometer o destino” .
“O jugo de Jesus é o mais suave do mundo: é perdoar as ofensas, estender as
mãos. Quando o vizinho tenha dificuldades, deveremos ampará-lo; não é porque isso
seja virtude, mas por dever nosso!”.
“(...) Meditemos um pouco no jugo, no dever, na palavra obrigação...”

Therezinha

DEIXAI QUE VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS

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Mateus 19: 13-15

13 Trouxeram-lhe então algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos, e


orasse; mas os discípulos os repreendiam.
14 Jesus, porém disse: Deixai os pequeninos não os embaracei de vir a mim,
porque deles é o reino dos céus.
15 E, tendo-lhes imposto as mãos, retirou-se dali.

REFLEXÃO SOBRE “DEIXAI QUE VENHAM A MIM AS CRIANCINHAS”

Um dos mais doces mandamentos de Jesus!


Sim, extensivo aos adultos na carne; os que sofrem, os aflitos r sobrecarregados
na poeira do mundo. Confusos em seus espíritos, alheios à própria riqueza como
legítimos herdeiros dos bens do Pai, e às vezes até da existência e presença, dele. Parece
que podemos vê-lo de braços abertos para nós, caloroso de amor eterno, e sorrindo...
Jesus sorrindo? Retratam-no sempre tão sério! Se nunca o viram sorrindo é porque os
que o cercavam era “gente grande”, mas as crianças o vêm-no sorrindo, de um sorriso
lindo! – coisas que só as crianças podem...
E foi, e é para nós, os pais, os educadores, os responsáveis, os guias (não
podemos ser guias cegos) que Jesus repreendeu com firmeza quanto ao impedimento do
programa mais alto de vida, que não significa alimentar tão somente o físico, abrigar-se
das intempéries, vestir o corpo frágil e encaminhá-lo à escola. As crianças, como
espíritos eternos que são, com uma bagagem a fortalecer ou renovar; outra a ressarcir e
um modelo de vida à transformar, não estão despidas como nascem, de mãos vazias
como parecem; são homens e mulheres com experiências, não raro, à concluir. Elas
trazem a esperança nos que a recebem; e muitas delas, debilitadas na confiança em si
mesmas aguardam o momento de provar à própria fraqueza que hão de se superar e ver
despertadas as suas forças latentes de que lhes falam os seus protetores, seus espíritos
familiares e amigos no momento do reencarne como estímulo e coragem.
É preciso se deixar tocar o coração. É importante assumir o compromisso para
com elas, deixando de lado todo o comodismo entorpecente. Não é o expediente do
cotidiano obstáculo para o encaminhamento da alma para Deus, este bem pode ser um
recurso de proveito, pois Jesus trabalhou seus ensinamentos utilizando-se da vivência

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realística do homem, e ainda tendo-o nesta posição falou-lhe das coisas do reino do
céu.
É intuitiva a atração dos espírito da criança pelas coisas de Deus. Sua ligação é
natural e milenar. Não temos como nos desculpar dizendo ignorar como adaptar tão
profundas lições, e tão simbólicas parábolas a nível infantil e incorreremos no erro e
assombro de sermos esclarecidos por elas.
Afinal, porque crer que Jesus pode abrir nossos caminhos, aproximar-se de nós,
iluminar nosso entendimento, nos encher o coração de “alegrias que o mundo não dá” e
a nossa criança “feliz”, bem pode esperar que a dor e a idade venham Ter a misericórdia
que lhes negamos para levá-la aos braços de Jesus.
Jesus quer estar presente aos esforços dos pais e dos mestres, das instituições
religiosas, sobre as quais consta pesada cota de responsabilidade (os discípulos, por
equívoco que não cabe mais nos tempos modernos, pensaram impedir a proximidade
das criancinhas com Jesus) de cumprir o compromisso comum de trans formarmos este
mundo que está em concordância com a nossa escala de evolução, em um mundo
melhor.
Provavelmente Jesus quis dizer que se pudermos conservar a pureza de
propósitos, o afeto puro das criancinhas, a simplicidade que a caracteriza, a honestidade
que nos encanta e todas as demais virtudes que as tornam um pequeno grande modelo,
caminharão como portadoras de crédito facilitado na sublime empresa das conquistas
espirituais.

Therezinha

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A PARÁBOLA DO SEMEADOR

( Mateus 13: 1-9 )

1 Neste mesmo dia, Jesus, tendo saído de casa, sentou-se à beira do mar.
2 E juntou-se em volta dele uma grande multidão, de tal sorte que foi preciso
entrar numa barca, onde se sentou, e todo o povo permaneceu de pé sobre a praia.
3 Ele, falou-lhes muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu
a semear.
4 E quando semeava, uma parte das sementes caiu ao longo do caminho, e
vieram as aves do céu e comeram-na.
5 Outra parte (da semente) caiu em lugar pedregoso, onde não havia muita
terra; e logo nasceu, porque não tinha profundidade de terra.
6 Mas saindo o sol queimou-se, e, porque não tinha raiz, secou.
7 Outra (parte) caiu entre os espinhos, e cresceram os espinhos, e a sufocaram.
8 Outra (parte) enfim caiu em terra boa, e frutificou; (uns grãos renderam) cem
por um, outros sessenta e outros trinta.
9 Quem têm ouvidos para ouvir, ouça.

( Mateus 13: 18-23 )

18 Ouvi pois, vós, (o que significa) a parábola do semeador:


19 Todo aquele que ouve a palavra do reino (do evangelho), e não lhe presta
atenção, vem o (espírito) maligno e arrebata o que foi semeado em seu coração; este é
o que recebeu a semente ao longo da estrada.
20 O que recebeu a semente em lugar pedregoso, é aquele que ouve a palavra, e
logo a recebe com gosto;
21 Porém, não tem em si raiz, antes é de pouca duração; e, quando lhe
sobrevem tribulação e perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.
22 O que recebeu a semente entre espinhos, é aquele que ouve a palavra, porém,
os cuidados deste século e a sedução das riquezas sufocam a palavra e fica infrutuosa.
23 Mas o que recebeu a semente em boa terra, é aquele que ouve a palavra, e lhe

presta atenção, e dá fruto, e um dá cem, e outro sessenta e outro trinta por um.

REFLEXÃO SOBRE O SEMEADOR

O semeador da parábola é o agricultor que digno no seu trabalho espera lucro; o


semeador do evangelho aguarda que o Cristo colha os frutos.

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O agricultor investe recurso, lamenta e sofre se perde a colheita, naturalmente.
O semeador do evangelho nunca perde.
As sementes que caíram no caminho e as aves do seu as comeram serviram aos
pequenos seres da natureza. As sementes vivas do Cristo se não encontram as trabalhe
na intimidade do coração alimenta quem as semeia.
As sementes que caíram sobre as pedras morreram sem conseguirem descobrir a
virtude da fecundidade de que estavam possuídas; as sementes vivas do ensinamento do
Cristo que caem sobre as pedras duras do entendimento dormem temporariamente.
As sementes que caíram entre espinheiros e foram sufocadas não tiveram o
proveito desejado, mas em a natureza nada se perde. As sementes vivas do Cristo caindo
em um coração embrutecido e ferino têm adiado seu papel de redenção.

As sementes que caíram em terra fértil deram-se em colorido e beleza aos olhos
de quem as possa ver, desperta o apetite de quantos colham os seus frutos; saciam a
fome dos homens e atraem as aves do céu em harmonia com as leis da natureza e a
vontade de Deus.
As sementes vivas do Cristo tendo caindo no espírito de coração cioso do bem,
aprimorado no trabalho e de sentimentos elevados, se desenvolvem saudavelmente
forradas da “alegria que só Deus pode dar” sob a luz do conhecimento, semeando,
semeando...

Therezinha

OBS: Consultar Poesia sobre a Parábola do Semeador de Amélia Rodrigues.

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E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?

Mateus 16: 13-20

13 Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus


discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do homem?
14 E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros:
Jeremias, ou algum dos profetas.
15 Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou?
16 Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
17 Então Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não
foi carne e sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus.
18 Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
19 Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido
ligado nos céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus.
20 Então advertiu os discípulos de que a ninguém dissessem ser ele o Cristo.

(Ver Marcos 8: 27-30 e Lucas 9: 18-21)

REFLEXÃO SOBRE “E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?”

Jesus não indaga: “E vós, quem dizeis que eu fui?


Aqui ele atesta a reencarnação, e nos propõe uma reflexão delicada a respeito
do Eu Sou que repetidas vezes encontramos nos seus evangelhos.
Evidentemente Jesus proporcionou aos seus discípulos, de modo inusitado,
uma posição reveladora de quem, em verdade, Ele era. E conhecendo o potencial
mediúnico do apóstolo Pedro, sempre atilado e oportuno, Jesus lhe permite colher do
mais alto a confirmação de Sua identidade e procedência, para dar-lhe naquele instante a
consciência de responsabilidade e compromisso na continuidade à missão do Cristo na
Terra.
Parece-nos que foi um ato também altamente simbólico, que se estende a todo
aquele que, servindo em nome de Jesus, entenda a responsabilidade e comprometimento
com o Cristo na apropriação de seu nome. Servir em nome de Jesus não significa
representá-lo na Terra. Jesus, em servindo, exemplificou a mais encantadora vivência da
humildade em ação.
Tal representação na Terra sinaliza perigo e queda, frente à fraqueza humana
ante a inclinação para a adoração e manifestações de natureza exterior, totalmente

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descompromissadas com a fé esclarecida. Para tanto, o Senhor Jesus acena para a
diferença: “Porque não foram a carne nem o sangue que a isso te revelaram..." Não foi a
exaltação das emoções físicas, nem a excitação ou prurido nervoso por um motivo em
particular que levou-o a exteriorizar um conceito pessoal.
Quanto “ao ligar ou desligar que acionará mudanças no céu”, é referente à
história que continuaria sendo escrita com sangue e dor. Quantos atalhos seriam
necessários para guardar a pureza do Cristianismo da investida do poder das trevas?
Quanta estratégia na luta pela sobrevivência dos cristãos diante dos instintos selvagens,
prestando-se a romper com o encaminhamento traçado por Jesus?
Ainda aprendemos com o Mestre o vinco de confiança e apoio que ele passa
para seu querido apóstolo, como um compromisso sacramentado. Percebe-se que as
recomendações do Mestre amado eram um prenúncio de sua despedida... Entrega-lhe as
chaves do céu, o comando inicial; e as considerações de quem que confia a alguém o
que possui de mais caro ao seu coração. Nas entrelinhas, promete sua presença
permanente e adianta que vai voltar para o que é seu...
O espírito cresce ininterruptamente e cada momento é único; de modo que a
cada passo ganhamos novo jeito de ser. Assim como é da natureza do Pai o trabalho
incessante, também é da natureza do espírito; ainda que ele não se dê conta disso.
Esse trabalho que se processa na intimidade do ser espiritual e físico opera
transformações contínuas, aprendendo sempre...
Isso significa o que alguém observou: quando alguém bate à nossa porta, não
lhe indagamos quem é?
Para nós, este é o Mestre Jesus: O amigo! O nosso maior amigo!

“Nenhum amor é maior do que o daquele que dá a vida pelos seus amigos.”
(Jesus)

Therezinha

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O MOÇO RICO

Mateus 19: 16-22

16 E eis que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de


bom, para alcançar a vida eterna?
17 Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom, só
existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.
18 E ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás, não
adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho;
19 honra a teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
20 Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me falta ainda?
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me.
22 Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de
muitas propriedades.

(Ver Marcos 10: 17-22 e Lucas 18: 18-23)

REFLEXÃO SOBRE “O MOÇO RICO”

Quem será o moço rico senão a nossa alma? E o que é a nossa alma senão um
espírito envolvido na força irresistível de evoluir, buscando no próprio potencial a
virtude de expressão com o mundo exterior, a partir do envoltório complexo de
comunicação mais apropriado às suas necessidades, das mais elementares às mais
sublimes.

O desafio do caminho de volta para Deus – que significa caridade,


conhecimento, fé e reforma íntima – quase nos desalenta, por nossas dificuldades em
atender ao convite de ação e persistência. E as provações e os invernos da alma nos
intimidam os primeiros passos, ainda vacilantes.
Convém refletirmos o passado.
Ontem... muito longe... guardamos registros tão fortes que marcaram nossa
alma; e não voltamos para revê-los. Somos esse passado e não percebemos seus
legados de suma importância para o auto conhecimento que liberta.
Houve um tempo difícil, árduo, que pediu de nosso espírito esforço e dor. Houve
um caminho íngrime e escuro, em que o que nos movia eram as necessidades
gastronômicas – que nos levaram às de posse, que nos levaram às de poder, e depois às

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de supremacia. E tudo isto contando com o auxílio considerável da força que tem o
bonito nome de egocentrismo e, mais tarde, de egoísmo.
Na verdade era um tempo em que a solidão interior pesava na noite da
ignorância e a melhor companhia era então o próprio eu, aquele que podia entender a si
mesmo sem embargo. Foi o momento do aqui e agora – hoje tão discutido – e o futuro
significava o momento que se seguiria àquele e que se reflete hoje. O passado eram as
lições, a experiência aproveitada – não havia remorso. Hoje se estuda o perdão...
Quando a alvorada das primeiras linhas de raciocínio se delineou no horizonte
do pensamento, marcou uma nova era para a essência daquele ser que desconhecia
completamente a responsabilidade daquela promoção. Inconscientemente, ele percebeu
as primeiras fagulhas de energia superior a denunciar sua entrada noutra escala de
valores, dos quais nem suspeitava. Distanciava-se, porém, a consciência clara de seu
comprometimento com eles.
Todavia, uma lei firme e justa se fazia legível pouco a pouco, em lugar secreto e
intransferível do ser individual. Daí, a responsabilidade consigo próprio, com o próximo
e com a harmonia em geral, que desencadeou dores agudas, lutas fratricidas, conflitos
íntimos e exteriores em nome do amor, da cobiça, do ódio, da religião – enfim, da
ignorância.
O homem já não tinha motivos de sentir solidão. A intuição se fazia clara: falava
de um Deus. Contudo não se encontrava.
Presente em seus interesses, esquecido da gestação difícil das primeiras horas –
quando experimentara suas manifestações grosseiras no seio da própria natureza,
incompreensível e estranha – levantando coragem, passa a nascituro da vida e é
felicitado pela faculdade de raciocinar, aceito entre os que podem refletir e optar. Mas
não respeita a si mesmo, contrariando a voz que rege o universo de sua consciência e
transgride, incontinenti...
Mais dores se precipitariam sobre ele, indefinidamente, não fosse a misericórdia
do Pai.
E... vem JESUS!
O jovem não pensou que com tanto esforço para chegar onde estava valia a pena
dizer SIM!

Therezinha

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A GRANDE CEIA

Lucas 14: 15-24

15 Ao ouvir isso um dos que estavam com ele na mesa, disse-lhe: Bem-
aventurado aquele que comer o pão no Reino de Deus.
16 Jesus, porém lhe disse: Certo homem dava uma grande ceia e convidou a
muitos.
17 E a hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde porque
tudo já está preparado.
18 Mas todos começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e
irei vê-lo, rogo-te que me dês por escusado.
19 Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-los, rogo-te que
me dês por escusado.
20 Ainda outro disse: Casei-me, portanto não posso ir.
21 Voltou o seu servo e contou tudo isto a seu Senhor. Então o dono da casa
indignado disse a seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui
os aleijados, os cegos e os coxos.
22 Pois eu vos digo que nenhum daqueles convidados provará a minha ceia.
23 Depois disse o servo: Senhor, feito está como ordenais e ainda há lugar.
24 Respondeu o Senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados e obriga-os a
entrar para que minha casa se encha.

(Ver Marcos 22: 1-24)

REFLEXÃO SOBRE A GRANDE CEIA

O espírito vem de longínquas paragens preparando-se para diversas etapas nas


quais estagiaria temporariamente, adaptando-se gradativamente a novas situações, ou
mesmo quando reciclando, acrescentar conhecimentos com os quais se fortalece
preparando-se para experiências necessárias, com proveito imediato ou posterior. A
reencarnação é para ele um processo de valiosa contribuição junto ao acompanhamento
de irmãos de grau superior ao seu, em tudo fazendo presença silenciosa e consciente;
cooperando com o desenvolvimento de suas habilidades e inclinações intelectuais,
morais e emocionais, na medida que lhe permita a Sabedoria e a Vontade Divina.
Tentando imaginar - se possível - fosse que os nosso espíritos levaram
preencher as condições mínimas a fim de receber tão honroso convite, qual seja o de co-
participar com o Criador, quase compreendemos o quanto somos morosos na caminhada
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da evolução. E de sã consciência, não devemos nos mortificar por não conseguirmos dar
saltos, nem intentar tal bravata, mas buscarmos meditar com serenidade e
profundamente que o Senhor já espera de nós uma postura amadurecida, e isto deve nos
despertar do infindável sonho de só recebermos para a realidade rica de doação com
preciosas oportunidades de instrução prática se nos encorajarmos a dizer SIM ao convite
do Senhor.
Apreciando a parábola ao pé da letra, observa-se que Deus não faz distinção
entre ricos e pobres. Se buscou aqueles que tinham melhores recursos, foi porque
queria dar-lhes também uma oportunidade de crescimento e aliança, num trabalho
integrado onde bens materiais em parceria com bens espirituais faria parte do banquete
permanente, de benefício geral, unindo fraternalmente as diferentes classes sociais.
De certo, Deus, conhecedor de nossas almas, sabia que o convite estava
endereçado através de Seu Filho àquelas personalidades, seria recusado. Porém, a
resposta negativa teria de cair sobre elas mesmas, para que pudessem suas consciências
reconhecer a Justiça Divina em outra época.
No sentido simbólico, o Senhor Deus chamou os filhos mais conhecedores das
verdades eternas que acreditavam num Deus único, conheciam a Lei Mosaica e
ocupavam o cargo de orientadores espirituais do povo. Foram eles convidados em
primeiro lugar – como eles estariam esperando – mas eles não reconheceram o convite
de seu Senhor como uma dádiva, e, como se ombreassem com o Senhor, foram cuidar
de suas urgências.
O Senhor, então, colocou-se de frente para os aleijados, cegos e coxos.
Quem seriam os aleijados? Talvez nós, quando nos achamos incompetentes para
as tarefas no bem, e por isso ficamos tímidos, arrastando nosso aleijão, descida abaixo,
distantes da cura pelos nossos complexos de inferioridade, e deprimidos...
Quem são os cegos? Possivelmente nós, quando vivemos apaixonados e apesar
disso não nos falta saúde... sob a mágoa da decepção, da calúnia, da traição e de outras
mazelas humanas.
Quem são os coxos? Provavelmente nós, quando ficamos chorando nossas
mágoas no calor do leito, quando não nos falta saúde... sob a mágoa da decepção, da
calúnia, da traição e de outras mazelas humanas.
E o Filho, a pedido do amado Pai, e por seu amantíssimo coração, buscou dos
becos, das coletorias e das praças, uma Madalena, um Zaqueu, um Paulo... para a
grande luta íntima da qual saíram iluminados!

68
Parece que este particular da parábola é reflexão direta ao entendimento de
quantos queiram servir ao Senhor: o trabalho deve ser realizado ou executado de acordo
com a Sua Vontade e de modo que sempre haja lugar para mais... em nossos
corações.
O servo tinha conhecimento de que havia criaturas distanciadas e indiferentes;
almas que um convite amoroso não tinha o poder de sensibilizar. Umas pela desilusão
com religiosos. Outras, vítimas de inércia e tédio doentio; outras ainda, carregadas de
pesada bagagem do pretérito, enfermas da desesperança; outras tantas, envolvidas de
grosseiras cobertas, a tilintar de frio n’alma e sabe Deus, de quantas deformações mais;
e outras que apenas precisam de um impulso para se posicionarem de frente para o
socorro. Criaturas que se não fosse um processo mais forte para alavancar suas forças a
fim de que seu eu se imponha e sua auto-estima desperte, atravessariam até séculos
estacionadas.
E, então, compreendendo a informação de seu servo, no caso de Jesus, Modelo
de todos nós, o Senhor ordena que todos sejam levados à sua ceia, mesmo que usando
de recursos mais rigorosos, o que entendemos aqui como Sua Misericórdia em ação e
Sua presença incontestável.
O Senhor fala de becos, ruas, caminhos e valados, que bem podemos entender
como aspectos da mente, corredores que dão para a demência; vielas que dão às ruas
sem saída do remorso; valados de obsessão e abrigos de tendências ao suicídio; manias
e hábitos comprometedores.
Quão poderosa a mente humana para levar o ser às alturas; e como é triste a
internação do espírito nas esferas inferiores das sensações grosseiras e trevosas!
A piedade do Pai ocupa-se da dor e das lágrimas silenciosas, diligenciando
falanges socorristas dos ministérios do bem; revela pressa em libertar seus filhos de
sofrimentos desnecessários; movimenta fecunda operação salvacionista onde e como
não se imagina e prevalece Sua Divina Vontade sobre as hostes do mal.
Esse mesmo Pai, criterioso e doce é também austero. A severidade transparece
na afirmação de que “nenhum daqueles convidados provará a minha ceia”, que vem da
sabedoria do Criador Supremo que tem uma finalidade superior para as suas criaturas,
conhece-as bem e tem a eternidade a seu serviço.
Algum dia... depois de alguma ceia – aqueles faltosos estarão buscando outros
irmãos nos becos... nos valados... nos caminhos...
Therezinha

69
DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

Mateus 22: 15-22

15 Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam


nalguma palavra.
16 E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos dizendo: Mestre, bem
sabemos que és verdadeiro, e ensina o caminho de Deus segundo a verdade, e de
ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
17 Dize-nos, pois que te parece? É lícito pagar o tributo a César ou não?
18 Jesus, porém conhecendo a sua malícia, disse: Porque me experimentais,
hipócritas?
19 Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
20 E ele diz-lhe eles: De quem é esta efigie e esta inscrição?
21 Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes diz: Daí a César e a Deus o que é
de Deus.
22 E eles ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o se retiraram.

(Ver Lucas 20: 20-26 e


Marcos 12: 13-17)

REFLEXÃO SOBRE “DAI A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”

Quem proferiu tal mandamento? JESUS!


O Senhor Jesus demonstra nitidamente o objetivo superior de ensinar o homem a
viver bem, agindo acertadamente o seu passo onde pise, para que possa desenvolver o
bom senso, o discernimento, a cooperação em comunidade, em família, no trabalho, na
sociedade com seus desafios de convivência política e de vizinhança; de modo geral
com tudo que o cerca, sabendo definir bem a posição do semelhante com seus direitos,
compromissos e liberdade.
O Respeito é norma primária em qualquer regra de boa conduta e educação.
Aquele que sente em seu coração o seu dever de cidadão como substrato de seu
conceito de ética, devendo, portanto cumprir com seus deveres físicos, há de convir que
sua posição para com Deus igualmente precisa ser examinada ante os ensinamentos do
Cristo.

70
Quem estabelece esta lei é Jesus – o rei dos reis, o médico dos médicos, o
terapeuta dos terapeutas, o político dos políticos – pela implantação da lei de justiça, de
caridade e de harmonia na terra.
A interpretação dessa passagem oferece outros enfoques que nos encontra
pessoalmente desconectado com a Verdade do Cristo quando, por exemplo,
superestimamos os bens materiais e os colocamos acima das riquezas espirituais a ponto
de empobrecer os mais belos recursos íntimos, pelo que passa, pelo que é fugaz, e pelo
que é por natureza perecível, sacrificando os legítimos anseios do espírito eterno. Essa
troca muito frequentemente é responsável por um componente desarmonizador e
obsessivo qual seja o desejo incontido de posse.
Distancia-se o ensejo de Ser que prepara a alma para a felicidade e se instala a
avidez de ter e o medo de perder num processo doloroso de insatisfação permanente.
O Evangelho nos diz que aquela indagação era um ardil. Aqueles espíritos não
teriam ousado se conhecessem o Mestre; se pudessem perceber o seu poder de amar, a
sabedoria de suas palavras, a força de sua presença. Recuando no tempo nos
compadecemos deles... mas, e nós?
A Doutrina Espírita, a riquíssima literatura espírita, a mediunidade, as palavras
de abnegados companheiros, os periódicos conscientes, o trabalho de evangelização das
incontáveis instituições da nossa doutrina, os recursos confortáveis da televisão e o
testemunho anônimo de criaturas de boa vontade no atendimento a irmãos em Cristo
completamente desatadas de preconceito religioso. E que dizer atualmente, da
transcomunicação?
Desde quando e até quando o Senhor investirá em nós?
E nós quando aprenderemos a ciência e a arte de dar a Deus o que é de Deus?

Therezinha

71
A CURA DE DOIS CEGOS

Mateus 9: 27-31

27 Partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando: Tem compaixão de


nós, Filho de Davi!
28 Tendo ele entrado em casa, aproximaram-se os cegos, e Jesus lhes
perguntou: Sim, Senhor.
29 Então lhes tocou os olhos, dizendo: Faça-se-vos conforme a vossa fé.
30 E abriram-se-lhes os olhos. Jesus, porém, os advertiu severamente, dizendo:
Acautelai-vos de que ninguém o saiba.
31 Saindo eles, porém, divulgaram-lhe a fama por toda aquela terra.

REFLEXÃO SOBRE A CURA DE DOIS CEGOS

Tem misericórdia de nós, Filho de Davi!


Também nós, Senhor Jesus, trazemos tantas dificuldades a vencer: a trave, o
carma, as montanhas e o mar da vida em tempestade, o barco...
Os cegos afirmaram ter fé. A cura confirmou. Jesus, porém, os advertiu...
Que disse Jesus com “acautelai-vos de que ninguém o saiba”, Ele que se
expunha ante os mais ferrenhos opositores, e que obrava com liberdade de ação e de
expressão? Parece que Jesus, com sua visão profunda, costumava fazer acompanhar das
curas que realizava uma orientação particular ou uma advertência pessoal, mas a
propósito de quê recomendou sigilo? Teria a fé daqueles cegos uma carga de energia tal,
que diante da figura de extraordinário poder de quem tanto ouviram falar, processou um
milagre a nível de misericórdia; uma concessão, e não uma cura real? Uma cura real
pediria daqueles cegos uma postura a que não estavam prontos?
O fato de desconhecerem muitas coisas sobre curas e milagres que só com o
Advento do Espiritismo viriam a ser explicadas, levou-os a propagar o “milagre” que
tiveram a ventura de receber? A alegria exterior é de difícil contenção. A alegria
espiritual não tem necessidade de exteriorizar-se: basta a si mesma.

Therezinha

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A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO

Mateus 13: 24-30

24 Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um


homem que semeou boa semente em seu campo;
25 mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no
meio do trigo, e retirou-se.
26 E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio.
27 Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste
boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?
28 Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe
perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio?
29 Não! Replicou ele, para que ao separar o joio, não arranqueis também com
ele o trigo.
30 Deixai-os crescer juntos até a colheita, e, no tempo da colheita, direi aos
ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo,
recolhei-o no meu celeiro.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO

A Parábola do Trigo e do Joio, pode ser interpretada como os anjos do Senhor,


que são os Espíritos de Luz, encarregados da tarefa de seleção entre bons e maus, tendo
que, ao selecionar os maus, fazer também distinção dentre estes: os que o são por
ignorância ou influência maléfica dos que se compraziam no erro, malvados por
obstinação, recalcitrantes e rebeldes, insensíveis a qualquer sugestão do bem.

As almas ainda não aplicadas ao bem, mas que contudo não são de todo más,
precisariam nascer entre as almas mais adiantadas para despertarem e servirem de
exercício para as que projetam aperfeiçoar-se até o tempo da colheita; motivo bastante
forte para que se beneficiassem do mesmo terreno. Em sua misericórdia, o Senhor
oferece oportunidade de crescimento sem privilégios e no tempo justo: à cada um,
segundo a sua obra.
Os que tiverem vivido segundo os moldes evangélicos terão construído um
mundo melhor, no qual terão feito jus a morar, o que significa continuar trabalhando
pelo seu progresso, sofrendo ainda problemas naturais da caminhada, porém, num
ambiente de paz e regido pelos princípios do Cristo.

73
Entretanto, a misericórdia do Pai não faltará para os que tiverem sido exilados
para planeta inferior, com o compromisso expiatório de fazê-lo progredir.
O joio de que Jesus se utiliza como figura simbólica é uma gramínia da
Palestina, muito parecida com um pé de trigo; são espiguinhas escuras com grãos
pequeninos e nocivos à saúde; e o trigo produz espigas grandes e louras. Materialmente
não há como confundir ou querer mantê-las sem prejuízo para o trigo, nem reservar
aquela gramínia esperando que venha a converter-se em trigo mais tarde. De modo
figurado, porém, como propõe Jesus, a alma com o auxílio da lei do livre arbítrio,
concessão que goza para a sua felicidade ou sua desgraça, aliada ao fator eternidade, é
possível a transformação.

Um ângulo a ser considerado na reforma íntima é que, encorajados pela assertiva


de que podemos e devemos nos melhorar sentimental e moralmente, nos precipitemos a
arrancar a cizânia secular que nos enfeia o espírito e prejudica a nossa alma, sem a
escora da caridade que devemos observar nesse processo de desenvolvimento do mundo
íntimo que é um templo aberto ao Pai, cuja presença nos assegura a evolução tão
almejada.
A prudência, o discernimento e a meditação nos ajudarão na construção de nós
mesmos.

Therezinha

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A PARÁBOLA DA FIGUEIRA ESTÉRIL

Lucas 13: 6-9

6 Então Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira
plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou.
7 Pelo que disse ao vinicultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira,
e não acho; pode cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra?
8 Ele, porém, respondeu: Senhor, deixe-a ainda este ano, até que eu escave ao
redor dela e lhe ponha estrume.
9 Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DA FIGUEIRA ESTÉRIL

A figura de uma figueira estéril desagrada nossa imaginação tanto quanto nos é
agradável a de uma figueira vigorosa e carregadinha de frutos sazonados. Diante desta,
logo nossa imaginação se colore de expressiva mensagem e nossa gustação é
estimulada.

E Jesus nos apresenta a figura de mau aspecto, nela centralizando seu


ensinamento.

Que representará a figueira estéril?

Instintivamente tentamos nos defender de comparação nada lisonjeira. Mas é


forte a alusão.

Quando somos secos, isto é, enfermos espirituais, infecundos, mesquinhos de


calor humano, carcomidos de despeito e de orgulho, falidos nos compromissos
respeitáveis, e descuidados no respeito próprio e auto-amor, não nos afiguramos como
um espectro de árvore agonizante?

Contudo, não ocupamos nós um lugar na sociedade, na comunidade, no mundo,


afinal? Teremos requerido este espaço, para negar a nossa participação no
engrandecimento da vida? Ou, vazios de fé e de esperança, fincamos raízes imobilizadas
na inércia e na omissão, indiferentes ao valor do tempo? Quantas vezes não terá o Pai

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permitido seja embargada determinada posição de nossa preferência, que resultando em
inutilidade para nosso progresso, teve de ser adiada até que estivéssemos prontos?

Jesus, o jardineiro de corações por excelência, se dispõe, para nossa felicidade,


ao cultivo da “terra” que se demora no aproveitamento dos valores que abundam na
natureza do espírito.

E Deus concede tempo e recursos às mãos amorosas de Jesus, no trabalho que o


qualifica de redentor da humanidade. Urge, portanto, cooperarmos com ele, se
pudermos atinar com o elevado empreendimento que não se tornará realidade sem o
concurso individual e determinado de cada um de nós.

Será sulcando o solo heroicamente, assimilando o alimento que fortalece e a


água que hidrata, que a figueira poderá vir a contar entre as que produzem.

Assim também, a alma sem Vida que a represente e que desperta para o
crescimento espiritual precisa conscientizar-se de sua destinação gloriosa e assumir com
todo o vigor de suas forças a tarefa intransferível de reforma íntima, alegrando-se com o
Cristo pela oportunidade de tê-lo como amigo e modelo inconfundível na peregrinação
para Deus.

Encontramos no livro “Jesus Nazareno”, de Rohden, enfoque a respeito desta


parábola, muito interessante quando lembra que o povo de Israel foi por milênios tão
“cumulado de favores”. E deixa entrever que bem se pareceu com a figueira seca, pela
qual o Divino Mestre intercede junto a Deus. E Rohden lembra de Jesus tentando
acordá-los:

“Ai de vós, fariseus hipócritas! Não escapareis da ira de Deus...”

Em outro momento, Jesus, o Enviado Divino, expressa de uma forma tão


simples, como se falasse a crianças, a extensão de seu amor altamente transparente, na
figura de uma ave e sua ninhada:

“Jerusalém! Jerusalém! Quantas vezes tenho querido reunir seus filhos como a
ave recolhe debaixo de suas asas a sua ninhada; tu, porém, não quiseste.”

Therezinha

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AI DE VÓS, FARISEUS

Mateus 23: 1-12

1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos:


2 Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus.
3 Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas
suas obras; porque dizem e não fazem.
4 Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos
homens, entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los.
5 Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos pelos
homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas.
6 Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas,
7 as saudações nas praças, e o serem chamados mestres pelos homens.
8 Vós, porém, não sereis chamados mestres, porque um só é o vosso Mestre, e
vós todos sois irmãos.
9 A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele
que está no céu.
10 Nem sereis chamados guias, porque um só é vosso Guia, o Cristo.
11 Mas o maior dentre vós será vosso servo.
12 Quem a si mesmo se exaltar, será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar
será exaltado.

REFLEXÃO SOBRE “AI DE VÓS, FARISEUS”

“Na cadeira de Moisés se assentaram os escribas e os fariseus.”

Quem senta-se à cadeira do Centro Espírita?

– O espírita, nos apressamos a responder.

Quem é esse espírita?

– Um homem que se esforça para se melhorar à luz da Doutrina espírita –


respondemos, instantes depois de breve reflexão. Ele senta-se na cadeira que lhe designa
determinada função na casa espírita, a qual temporariamente lhe atribuiu
responsabilidade sobre o que ela representa, entendido que o assento não lhe pertence,
por isso mesmo se forrando de humildade e espírito de serviço sem apego... Qualquer

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pretensão em contrário ameaça a harmonia interna, atenta contra a segurança e pode
arruinar uma construção que é patrimônio sagrado.

De quem, a cadeira?

– De Jesus.

Os fariseus impunham a bandeira de Moisés, detentores de suas leis que eram;


guardadores privilegiados da Verdade. Para o povo o rigor, a continência; para eles o
conforto dos escolhidos, o prestígio.

Jesus recomenda ao povo que guarde e faça tudo quanto lhe digam, mas adverte,
e Paulo repete mais tarde: examinai tudo e retende o que for bom, e tudo posso, mas
nem tudo me convém...

Já no evangelho de Jesus estavam presentes revelações que posteriormente


seriam desenvolvidas em o Consolador: os tratados de auto-educação, segundo os quais
o espírito é o construtor de si mesmo e o responsável pela sua desdita ou sua ventura.

Ao falar dos “pontos fracos” daqueles religiosos, Jesus quis definir traços que
sinalizariam possíveis pruridos da alma de todos os tempos.

O objetivo da Doutrina Espírita previne a vaidade e outras tolices muito próprias


do ser humano ainda em processo de crescimento. A perseverança no estudo, o exame
sério e tranqüilo de seus conceitos, o trabalho inspirado na vontade de servir a causa do
Cristo, a solidariedade despertada pelos sentimentos, o exercício da caridade e todos os
ensaios no bem, acompanhados de reflexão e meditação, levam o espírito a situar-se na
seara, familiarizar-se com o arado e se fazer sentinela de suas emoções. A estrada de luz
fermenta o conhecimento que a vida terrena rica de propostas e desafios proporciona, e
como homem do mundo o ser se faz melhor, mais corajoso, mais prudente, melhor
cidadão, mais comedido e trabalhador. Como espírito, tem fé consciente pela liberdade
de raciocínio e investigação, torna-se mais fraterno, desembaraçado na vida terrena.
Sabedor de sua existência eterna, valoriza seus momentos, sua saúde mental, moral e
espiritual, se fortalecendo na esperança que a prece sustenta e se escora no amor do Pai
e sua suprema misericórdia. Finalmente, como homem do mundo e homem de bem em
formação, é candidato sério à transformação íntima a caminho da perfeição.

Mestre dos mestres, Jesus é Caminho, Verdade e Vida.

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Caminho porque “ninguém irá ao Pai se não por mim”. Se não por ele, porque
Jesus é o fiel intérprete da vontade de Deus.

Verdade porque é de Deus a sua Verdade. O espírito sendo criado simples e


ignorante, só com o tempo se capacita a assimilar a verdade de sua natureza espiritual,
herança de valores divinos e de sua destinação.

Vida. Jesus fala da vida plena, eterna, real, abundante e dinâmica. Vida que vive
na e da pulsação divina, estranha a toda forma de vida que expira, que se estua, que
padece...

De toda a palavra de Jesus, de todo o seu ensinamento e exemplificação; de toda


a história do jovem e meigo Nazareno, não cabe aceitar outro Mestre que não Jesus!

E pelo amor com que nos deu a vida e nos ampara; pela atração irresistível que
nos leva de volta ao Criador pelos caminhos da sabedoria, da iluminação, das estrelas...
o Pai não será outro, senão o Pai que está no Céu!

Therezinha

79
PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

Marcos 13: 31-34

31 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um


grão de mostarda que um homem tomou, e semeou no seu campo;
32 o qual é realmente a menor das hortaliças, e faz-se árvore de sorte que
vem as aves do céu, e se aninham nos ramos.
33 Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que
uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar levedado.
34 Todas estas coisas falou Jesus por parábolas, e sem parábolas nada lhes
falava.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

Jesus propunha – diz o evangelista.


Sente-se que a proposta de Jesus é um convite especial de empregarmos o ato
de pensar na dinâmica do estudo, da reflexão, na meditação e na interiorização que
resulta no diálogo com o inconsciente, cuja abordagem se faz rica pela repercussão
interna. Ele não impunha seus ensinamentos; é a linha de didática que a doutrina espírita
adotou.
Livre, o pensamento atinge vôos mais altos.
O grão de mostarda, menor em aparência concreta, é a palavra de Deus em
vestidura simbólica. Em espécie, porém, seu caráter tem tamanha dimensão que pede do
iniciado progresso moral e intelectual para assimilação básica.
Essa palavra, como a porção de fermento levedou toda a massa, também libera
sombras, acende candeias, insufla coragem, sinaliza caminhos...
Benditos grãos pequeninos, e augusto fermento para as nossas almas!
O reino dos céus é o celeiro sagrado de virtudes com que o gene divino dotou
a centelha, que pouco a pouco se revela na construção do ser, levando-o à consciência
de si mesmo e de sua natureza, cedendo ao longo do tempo ao apelo irresistível de
reencontro com o seu criador.

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“Se não podeis compreender coisas daqui da terra, como compreendereis as do
céu?” disse Jesus a Nicodemos. Como não usar parábolas para registrar seus
ensinamentos? O evangelho é rico de grãos de mostarda, a semear preciosas instruções
espirituais aos nossos corações, enquanto o intelecto soletra profundas verdades do
Cristo.

Therezinha

81
A CURA DE UM PARALÍTICO

Mateus 9: 1-8

1 Entrando Jesus num barco, passou para a outra banda, e foi para a sua
própria cidade.
2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé,
Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados.
3 Mas alguns escribas diziam consigo: Este blasfema.
4 Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que cogitais o mal
nos vossos corações?
5 Pois qual é mais fácil, dizer: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer:
Levanta-te, e anda?
6 Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra autoridade
para perdoar pecado - disse então ao paralítico: Levanta-te, toma o teu leito, e vai
para a tua casa.
7 E, levantando-se, partiu para a sua casa.
8 Vendo isto, as multidões, possuídas de temor, glorificaram a Deus, que dera
tal autoridade aos homens.

(Ver Marcos 2: 1-12 e Lucas 5: 17-26)

REFLEXÃO SOBRE “A CURA DE UM PARALÍTICO”

O valor da fraternidade entre os homens dá a esta passagem do evangelho um


sabor especial. A importância de fazer amigos; a construção de um elo que perpetue
uma amizade nascida da transparência do bem na relação, é tema empolgante para os
nossos corações. Encontramos comoventes exemplos disto nas diversas narrativas da
literatura espírita.

Nessa tarde, braços fortes somam esforços e superam dificuldades com o


propósito firme de proporcionar ao amigo em condição tão penosa, a oportunidade
imperdível de curar-se.
Pela fé vigorosa que os possuía, acharam no Senhor Jesus a mensagem
libertadora que de imediato não puderam entender. O Mestre, com sua dupla vista,
tornou útil aquela circunstância, revelando importante mecanismo de ação das leis
augustas do Pai, entre outras a Lei de Causa e Efeito.

82
Em verdade, o que quisera dizer hoje o faz “pelos telhados das casas”, através da
Doutrina Espírita: o reajuste cármico do enfermo chegara ao término, portanto já se
achava curado, a expiação ou prova estava cumprida. Entretanto, condicionado ao leito,
permanecia à espera de uma força externa que o encorajasse; provavelmente
mergulhado em seu oceano íntimo de impotência, devido ao abatimento moral a que a
enfermidade o sujeitara.
Quantas vezes se privará o homem de curar-se de enfermidades ainda não
visíveis aos olhos, por se achar fechado em si mesmo, a sós com seus nós?
O homem de hoje, não obstante as provocações do momento e os desafios
freqüentes, a força da mídia, os medos ainda intentando ganhar espaço, já cultiva o
discernimento, por entender que dele pode contar com segurança a pureza dos conceitos
lógicos para o seu aprimoramento.
A Doutrina do Consolador se oferece transparente e objetiva no seu propósito de
reforma íntima, permitindo ao ser o inteiro e sagrado direito de raciocinar com
liberdade, não inculcando idéias e dogmas não compatíveis com a Doutrina do Cristo.
Este episódio é não apenas belíssimo, mas também um capítulo que além de
pontuar a Sabedoria e Justiça Divina, realça a cumplicidade do espírito encarnado com a
sua evolução e o responsabiliza pelas dores ou alegrias, alertando-o para o estado de
dormência mental, quando é o primeiro a sofrê-la.

“A Caridade salva; o Conhecimento liberta.”

Therezinha

83
“A PARÁBOLA DOS LAVRADORES HOMICIDAS”

(Mateus 21: 33-40)

33 Ouvi ainda uma parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou
uma vinha e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, edificou uma torre, e
arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe.
34 E, chegando o tempo dos frutos, enviou seus servos aos lavradores, para
receber os seus frutos.
35 E os lavradores, apoderando-se dos servos, feriram um, mataram outro, e
apedrejaram outro.
36 Depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros: e eles
fizeram o mesmo.
37 E por último enviou-lhes o seu filho, dizendo: A meu filho respeitarão.
38 Mas os lavradores, vendo o seu filho, disseram entre si: Este é o herdeiro;
vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39 E lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha e o mataram.
40 Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?

(Ver Marcos 12: 1-12 e Lucas 20: 9-18)

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DOS LAVRADORES HOMICIDAS

No processo a que nossa essência espiritual deverá dar cumprimento para o


desenvolvimento de sua grandeza, o Pai Celestial não lhe oferece como recursos
ambiência, proteção, tempo largo, recados e advertências sem conta, como proveu a
vinha?

E que temos feito de tudo que Ele nos tem dado, senão ferirmos com agravos e
impropérios sua augusta vontade e refutarmos as mais puras diretrizes, indiferentes ao
alcance de suas ilações? Desdenhamos de suas leis justas e imparciais, malbaratando
valores reais no uso irresponsável de tempo útil, enquanto nos locupletamos na vaidade

84
de sermos detentores da prerrogativa de livre arbítrio- quando esta é uma carta de fé em
nosso potencial, como passaporte para galgar os mais altos estágios rumo à perfeição.

E, como os lavradores homicidas, decepcionamos os irmãos que nos entendem


as mãos nos sinalizando o caminho do bem. E matamos os ensejos mais ricos de
iluminação, sem considerar que são como a estrela de Belém em nós, a exemplo dos
servos que o pai de família da parábola envia para a colheita dos frutos a que tinha
direito.

Ainda que o “filho do pai de família”, no caso, o Senhor Jesus, se aproxime


mais, cerramo-lhe os ouvidos e o capturamos no primeiro movimento que nos pareça
inconveniente.

Assim são todas as parábolas de Jesus, no aspecto mais direto às nossas almas e
aberto a todos que queiram ver: pontilhando caminhos diferentes com o mesmo destino
para as estações diversas de nossa jornada; preparando nosso psiquismo oculto nas
confusas estradas das fugas voluntárias e enredando uma via desconhecida da memória
física para materializá-la na proporção de nossas forças mais sutis, prevenindo
prejuízos.

É essa fabulosa cartilha de sabedoria que forma nossa primeira faculdade de


soletrar o espírito da letra. E nesse fascinante código de conhecimento velado,
descobrimos o quanto nos resta aprender pelas verdades que se descortinam no infinito
de nossa ignorância.

No sentido histórico, essa parábola é uma profecia, pois está clara a revelação do
que farão ao Enviado de Deus, representado na figura do filho do pai de família. A
vinha, a torre, o valado, os lavradores, os servos e os frutos, a violência e o desrespeito,
tudo tem seu lugar na passagem dos precursores e na vinda de Jesus; e principalmente
no equívoco inominável do homem que incide nos mesmos erros.

Mas, o que fica verdadeiramente é, após o corpo na cruz, o Espírito redivivo que
gloriosamente expande sua luz por toda a Terra, como quem diz: “de mim não tirarão os
frutos!”

E a Doutrina dos Espíritos está aí colhendo as vozes do céu! É Jesus se


manifestando nos telhados das casas!

É o homem que procurou lhe tirar a vida, que clama: Vem, Senhor!

85
Therezinha

A PARÁBOLA DO SERVO VIGILANTE


Lucas 12: 35-48

35 Cingidos estejam os vossos corpos e acesas as vossas candeias.


36 Sêde vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele
das festas de casamento; para que, quando vier bater `a porta, logo lha abram.
37 Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor quando vier os encontre
vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e ,
aproximando-se, os servirá.
38 Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão
eles, se assim os achar.
39 Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir
o ladrão, [vigiaria e] não deixaria arrombar a sua casa.
40 Ficai também vós apercebidos, porque, à hora em que não cuidais, o Filho
do homem virá.
41 Então Pedro perguntou: Senhor, proferes esta parábola para nós ou também
para todos?
42 Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor
confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo?
43 Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo
assim.
44 Verdadeiramente vos digo que lhe confiará todos os seus bens.
45 Mas se aquele servo disser consigo mesmo: Meu senhor tarda em vir, e
passar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se,
46 virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não
sabe, e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os infiéis.
47 Aquele servo, porém, que conheceu a vontade de seu senhor e não se
aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites.
48 Aquele, porém, que não soube a vontade de seu senhor e fez coisas dignas de
reprovação, levará poucos açoites. Mas aquele a quem muito foi dado, muito lhe será
exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.

*REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO SERVO VIGILANTE

Eis mais uma parábola que amarra todas as outras, sem perder o núcleo
específico da mensagem do Cristo: a conduta íntima e determinada do indivíduo que
quer estar presente de corpo e alma, despertos, diante da verdade que definitiva e
sabiamente tomou para seu lema espiritual de viver.

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O servo vigilante antecipadamente goza de paz e segurança dos bem-
aventurados.

Fortalecido na disposição de que se acha imbuído, prepara-se com a indizível


alegria dos que tem à vista, inigualável festa para o coração. De sua veste transparece a
segurança da criança que aguarda com pura ansiedade a presença do pai querido, ou, do
conviva que reconhecido se coloca à mesa das bodas, à altura da oportunidade sublime
de participação.

Envolvidos neste mundo de provas e expiações, com um passado delituoso


dentre as aquisições felizes, convivendo com parceiros nas mesmas contingências, o
homem sempre em conflito consigo mesmo, entre o certo e o errado que não consegue
distinguir bem, segue vivendo como um errante de bússola nas mãos, que é a
consciência, sem se dar conta disso, se não quando da ventura de os preceitos cristãos o
alcançarem, e a maturidade já conquistada perceber-se em luz, procure conservá-la,
decididamente.

Conservar-se de candeia em punho, não obstante os embaraços que pupulam


perversos na estrada, e manter-se defensivo e vigilante na retaguarda, munido do
Evangelho, do perdão e da caridade; e, ativo e resoluto na caminhada, é efetivamente
merecedor de crédito diante do Senhor, como aqueles que multiplicaram os talentos, a
mulher que perseverou na busca de dracma, e, mereceu encontrá-la, o filho pródigo que
humilde desafiou o caminho de volta em busca do pai, até fitá-lo face à face, e a viúva
frente ao juiz iníquo... etc...

Ainda que soubéssemos a que horas virá o Senhor para que nos façamos
diligentes, que teríamos feito de fato, por nós mesmos, se não podemos nos transformar
de um momento para o outro, e a evolução pede tempo e madureza? De ordinário,
podemos iludir os homens, mas Deus quer mais que algumas moedas do tesouro de
nossos corações.

Todo o prejuízo vem da dor de conhecer perdida, ou seja, adiada para não se
sabe quando, a preciosa oportunidade de gozo não comparado a coisa alguma da terra, e
a mágoa íntima de não conseguir culpar senão a si mesmo, pela formidável felicidade
extraviada que para maior sofrimento seu, consegue avaliar.

É para se pensar com mais seriedade sobre o que nos adverte Jesus: “Orai e
Vigiai, para não cairdes em tentação!”

87
E o perigo da tentação é que está dentro de nós!

Therezinha

A PARÁBOLA DOS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA

Mateus 20: 1-16

1 Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de


madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2 E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os
para a vinha.
3 Saindo pela terceira hora viu, na praça, outros que estavam desocupados,
4 e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles
foram.
5 Tendo saído outra vez perto da hora Sexta e da nona, procedeu da mesma
forma,
6 e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam
desocupados, e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo?
7 Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então lhes disse ele: Ide
também vós para a vinha.
8 Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os
trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros.
9 Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário.
10 Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém, também
estes receberam um denário cada um.
11 Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa,
12 dizendo: Estes últimos trabalhadores apenas uma hora; contudo os igualaste
a nós que suportamos a fadiga e o calor do dia.
13 Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço
injustiça; não combinaste comigo um denário?
14 Toma o que é teu, e vai-te; pois quero dar a este último, tanto quanto a ti.
15 Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os
teus olhos porque eu sou bom?
16 Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos [porque
muitos são chamados, mas poucos escolhidos].

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DOS TRABALHADORES DA ÚLTIMA


HORA

É uma parábola singular, quando distoa do cântico divino que se identifica


sempre com a lei de justiça simples e clara na primeira impressão. Contudo, se
assemelha com o processo de estrutura lógica de outras parábolas, identificando o

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protagonista com o Senhor Deus e sua atuação ímpar na movimentação inusitada e reta,
totalmente adversa da filosofia humana. É mais uma proposta que desafia nossa
conceituação de valores e de justiça, completamente defasada da consciência divina.

Um enredo que surpreende nos leva a conclusão ainda mais surpreendente: uma
matemática que inova sem desajustar-se na operação de valores humanos e práticos,
concebendo operação magistralmente regida pela divina inteligência, de cuja sabedoria
ainda estamos à infinita distância.

Como outras parábolas, permite desdobrar-se em preciosas interpretações,


enfocando particularidades óbvias com a história do Cristianismo, ou com trabalhadores
modernos do advento do Espiritismo, até nossos dias.

Ou permite-nos apreciar outros aspectos, como, por exemplo, pondo de lado o


trabalhador que enfrentou a tarefa desde o primeiro momento e que encontrou as
dificuldades do terreno árido e do preparo do mesmo para uma estrutura resistente desde
os fundamentos, freqüentemente compondo um quadro reduzido de servidores,
resistindo a todos os óbices do caminho, abraçando a responsabilidade de ser fiel ao
compromisso e muitas vezes com o preço da própria vida. E o trabalhador contratado no
término da obra, que assumiu o acabamento, sempre muito difícil, exigindo
sensibilidade e delicadeza; aprimorando com a responsabilidade de valorizar a
edificação, corrigir imperfeições, limar arestas com desvelo e arte, conquistando espaço
em tempo ágil contra o imperativo da hora, e devendo reconhecer que a oportunidade
que lhe foi dada de desenvolver seus talentos, se assenta no sacrifício penoso de muitos.
Resta-nos ver o próprio trabalho. Sendo este, de cunho espiritual, conhecemo-lhe a
longa história, com seus período de treva densa, ceifando um número incalculável de
trabalhadores valorosos, a cuja audácia e amor à causa, muito devemos. Insistentes em
atravessar a cortina espessa da ignorância, penetraram eles com a luz que possuíam,
consolidando em companhia do Mestre, o templo do Amor Universal e do Deus Único.

É possível que Jesus, conhecendo o ser humano, tenha entre outras coisas,
procurado prevenir quanto à tendência seletiva de seu coração, ainda em processo de
aperfeiçoamento, cobrando remunerações com distinção de privilégios sobre seu irmão.

À semelhança do Filho Pródigo, incomoda-se com a bondade do Pai, a qual não


consegue compreender.

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Jesus quer mostrar-nos que a seara é una; há trabalho para todos; empregador é o
Pai, e sua lei trabalhista é justa e imparcial.

O compromisso de Deus para com a sua criatura é segundo o que ela obre pela
sua edificação em seu foro íntimo e pelo seu próximo.

E a boa vontade de servir deve ser acompanhada de humildade.

A parábola fala da hora do acerto de contas. Dívidas e dividendos. Momento de


júbilo ou de desagrado; de reconhecimento ou de mágoas para alguns.

A balança que opera a Justiça Divina é exata na tarefa de compensar o portador


de valor espiritual, o mínimo que seja. Quer o Senhor Deus que nada se perca. A
economia divina é perfeita; ela não dá prêmios, mas investe no que tem.

“Ao que tem, mais se lhe dará.” Jesus

Convém que “os trabalhadores da última hora” procurem conhecer o Seu Senhor
e a sua Justiça de Misericórdia, mas também o seu comando.

Daí, estar pronto para a luta. Nem tardar, nem recuar. Acenar com respeito para
os que nos precederam e caminhar para frente. Não importa quem será o maior no reino
dos céus ou quem deve sentar-se à direita de Jesus. O bom ladrão não desperdiçou o
momento de estar com Jesus. A hora é esta, o momento é agora.

(Leia o capítulo XX do Evangelho segundo o Espiritismo)

Lembremos aqui pequeno trecho do livro de Kardec, “Obras Póstumas”, quando


indaga aos Espíritos a respeito de seu sucessor, e eles respondem:

“Admira a sabedoria de Deus na escolha dos seus mandatários; tu tens as


qualidades requeridas para o encargo que te foi dado; mas não tens as que são precisas
ao teu sucessor. A ti é preciso a calma, a tranqüillidade do escritor que fecundou idéias
no remanso da meditação; a ele a força do capitão que comandava o navio, segundo as
regras da ciência. Desobrigado do trabalho da criação, a cujo peso o teu corpo
sucumbirá, ele será mais livre para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento
e à consolidação do edifício.”

Para todas as áreas do movimento humano, o Senhor Jesus tem lições preciosas.
Seja para o lavrador, para a dona de casa e o chefe de família; os chefes políticos ou
religiosos; os servos ou monarcas; o pobre e o rico; jovens e velhos; dirigentes de

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qualquer qualificação; enfim nenhuma atividade moral ou intelectual está descoberta
das lições evangélicas.

O Evangelho é código de vida para quem a prudência é norma de trabalho.

Therezinha

A MULHER ADÚLTERA

João 8: 1-11

1 Jesus, entretanto, foi para o Monte das Oliveiras.


2 De madrugada voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele;
e, assentado, os ensinava.
3 Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em
adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,
4 disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
5 E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois,
que dizeis?
6 Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus,
inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.
7 Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que
dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire a pedra.
8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9 Mas ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se
retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a
mulher no meio onde estava.
10 Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-
lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: Nem eu tão pouco te
condeno; vai, e não peques mais.

REFLEXÃO SOBRE A MULHER ADÚLTERA

Impressiona sempre esse Jesus de Nazaré!


Bendita impressão!

Como em “Dai a César o que é de César”, a resposta que se tornou famosa pela
força e agudeza de sua expressão, esta soará eterna dentro de nós com o timbre da voz
do Mestre, a se estender até que se avizinhe o nosso aperfeiçoamento.
“Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra.”

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Ainda sem condições de julgamento reto de nossa própria conduta,
freqüentemente carentes da misericórdia de Deus, como nos promovermos a juizes da
consciência alheia a ponto de violentarmos o direito à vida de outrem ou a que o Senhor
nos concede?
O adultério é contrário à Lei de amor pelo que representa: lembra rompimento
com dor ou prejuízo para o próximo.
Jesus amparou aquela mulher em difícil circunstância; mas a instruiu sobre as
leis de causa e efeito e livre arbítrio, quando advertiu que não permanecesse no erro.
Com o poder de sua figura altiva, Espírito puro que era, todo amor e piedade, se
permitiu abrandar a turba enfurecida. Quando na crucificação, a vibração de nível
inferior de espíritos comprometidos com um passado delituoso e movidos por interesses
imediatos contagiava a massa de criaturas desorientadas e vacilantes. Poucos o sentiram
como era: um enviado à altura de tão sublime missão de amor.
Muitos daqueles que se afastaram viram-se desnudados em sua intimidade.
Outros temeram que a sua permanência naquele local lhes fizesse cair as máscaras;
convinha se retirassem a tempo. Uma maioria de jovens se afastou porque não tinha
tanto motivo para a agressão que inflamava tanto os mais velhos, sempre muito rígidos
com os princípios religiosos, e também não estava tão segura de suas forças quanto às
tentações da mocidade.
E Jesus se dirigindo àquela mulher diz: “Nem eu tão pouco te condeno”. Doce
declaração de amor! Maior doçura é essa revelação, essa promessa, essa afirmação, essa
garantia de Jesus, ele não nos condena! Não importa que depois do erro haja um
passado a ser cobrado; triste cobrança se não temos Jesus!
Com Ele os Cristãos foram cantando para a arena!
Madalena para as grutas!
Paulo para os desafios!
Estêvão para o julgamento!
Pedro para a redenção!
Joanna D’arc para a fogueira!

Therezinha

92
A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

João 11: 1-46

1 Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e Marta, sua irmã.


2 Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava enfermo, era a mesma que ungiu com
bálsamo o Senhor e lhe enxugou os pés com os seus cabelos.
3 Mandaram, pois, as irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo
aquele a quem amas.
4 Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para a morte, e,
sim, para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado.
5 Ora, amava Jesus a Marta, e a sua irmã e a Lázaro.
6 Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no
lugar onde estava.
7 Depois disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia.
8 Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam
apedrejar-te, e voltas para lá?
9 Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não
tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 Isto dizia, e depois, lhes acrescentou: Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas
vou para despertá-lo.
12 Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo.
13 Jesus, porém, falara com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham
que tivesse falado do repouso do sono.
14 Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu;
15 e por vossa causa me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer;
mas vamos ter com ele.
16 Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos: Vamos também nós
para morrermos com ele.
17 Chegando Jesus, encontrou Lázaro já sepultado, havia quatro dias.
18 Ora, Betânia estava cerca de quinze estádios perto de Jerusalém.
19 Muitos dentre os judeus tinham vindo a Ter com Marta e Maria, para as
consolar, a respeito de seu irmão.
20 Marta, quando soube que vinha Jesus, saiu ao seu encontro; Maria, porém,
ficou sentada em casa.
21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui não teria morrido meu
irmão.
22 Mas também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus te
concederá.
23 Declarou-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir.
24 Eu sei, replicou Marta, que ele há de ressurgir na ressurreição, no último
dia.

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25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá;
26 e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês isto?
27 Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de
Deus que devia vir ao mundo.
28 Tendo dito isto, retirou-se e chamou Maria, sua irmã, e lhe disse em
particular: O Mestre chegou e te chama.
29 Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa e foi ter com ele;
30 pois Jesus ainda não tinha entrado na aldeia, mas permanecia onde Marta se
avistara com ele.
31 Os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a
levantar-se depressa e sair, seguiram-na, supondo que ela ia ao túmulo para chorar.
32 Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se-lhe
oas pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido.
33 Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-
se no espírito e comoveu-se.
34 E perguntou: Onde os sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem, e vê.
35 Jesus chorou.
36 Então disseram os judeus: Vêde quanto o amava!
37 Mas alguns objetaram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que
este não morresse?
38 Jesus, agitando-se novamente e si mesmo, encaminhou-se para o túmulo; era
este uma gruta, a cuja entrada tinham posto uma pedra.
39 Então ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor,
já cheira mal, porque já é de quatro dias.
40 Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que se creres verás a glória de Deus?
41 Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai,
graças te dou porque me ouviste.
42 Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão
presente, para que creiam que tu me enviaste.
43 E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora.
44 Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com
ataduras, e o rosto envolto num lenço. Então lhes ordenou Jesus: Desatai-o, e deixai-o
ir.
45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, vendo o que
fizera Jesus, creram nele.
46 Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos que
Jesus realizara.

REFLEXÃO SOBRE “A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO”

O Senhor Jesus buscou em toda a sua gloriosa missão, fortalecer o sentimento


afetivo da criatura humana, conjuntamente com a grande mensagem. Na moldura do
homem, o espírito eterno despertando a misericórdia divina do que traz de frágil e

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carente. A compaixão pontilha o caminho do Mestre entre a dor e a treva, como a luz e a
poesia do céu estrelada enriquecem a noite densa. Sublime significado, esse...

O amigo Lázaro está morto. Os corações inconsoláveis das duas irmãs esperam
do Mestre o milagre - o coração não se engana – porém, aguardar alcançá-lo seria tarde
demais? O Senhor Jesus, entretanto, não nos decepciona jamais. E vem, e chora com
elas...

É hora de profunda reflexão para quantos acompanham as cenas que se seguem.


O amor de Jesus se dilata em poder e comiseração. É a vitória do amor.

“Senhor, se tivesse estado aqui não teria morrido meu irmão”

“Se tivesse estado aqui...” A confiança das irmãs no Mestre é grande, bem se vê,
mas isso não é tudo que Jesus quis plantar no campo fértil do coração humano. Há que
se instruir de seus sentimentos e seguir-lhe os passos para que se não desfaça a crença
inconsistente. Há que progredir em fraternidade e desprendimento para que se lhe
alarguem os horizontes da alma. Há que ousar o exemplo d’Aquele que é o Amor a fim
de realizar a si mesmo rumo a eternidade.

“Eu sou a ressurreição e a vida: o que crê em mim, ainda que esteja morto
viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, nunca, jamais morrerá; crês nisto?”,
indaga Jesus à Maria.

“Todo aquele que vive...” Jesus fala de viver e crêr. Da vida que é um bem de
Deus; não o ato de existir. Para viver a vida a que se refere Jesus é preciso ter
consciência dela. Noção do valor que ela encerra. Conhecer o Pai como seu criador,
reconhecer o próximo como seu irmão e priorizar cada instante como oportunidade de
crescimento no respeito às leis sobre as quais deve se firmar.

“...e crê” diz Jesus. A vida por si mesma conduz o espírito a Deus; esta condução
porém, pode carregar lutas as mais dolorosas, sofrimentos desnecessários a tempo maior
de reclusão nas cadeias da ignorância, contando que bruxuleante chama de luz mortiça
nos alimenta a fé vacilante.

Podemos gozar da presença de Deus em nós conscientemente, se nos


inclinarmos a estudar as regras de bem viver nas linhas e entrelinhas do Evangelho,
mormente à luz da Doutrina Espírita.

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“Jesus gemendo em si mesmo...” A dor espiritual – do amor! Dor de quem sabe!
E o que sabe? Que a vida é abundante. Que o espírito é fecundo. Que a alma é herdeira
do espaço infinito. Que o coração é um tesouro. E que tudo depende do ser e que é
preciso dar tempo...

“...foi ao túmulo”. Quantas vezes fugimos de orar, de falar com Deus para que
ele não nos visite o túmulo de nossos questionamentos frívolos, desejos borolentos e
pensamentos menos escrupulosos... e ficamos como barcos à deriva.

Mas, felizes de nós quando nos descobrimos atados e enganados de falsa


liberdade, e nos apressamos a chamar o Mestre pelo pensamento que é poderoso, e Ele
nos libera das amarras e ordena: “VEM PARA FORA!”

Therezinha

96
O JUÍZO TEMERÁRIO É PROIBIDO

Mateus 7: 1-5

1 Não julgueis para que não sejais julgados.


2 Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida com
que tiverdes medido vos medirão também.
3 Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave
que está no teu próprio?
4 Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando
tens a trave no teu?
5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para
tirar o argueiro do olho de teu irmão.

(Ver Lucas 6: 37, 38, 41, 42)

REFLEXÃO SOBRE “O JUÍZO TEMERÁRIO É PROIBIDO”

No estágio em que nos encontramos, quando convivemos imperfeitamente com


irmãos que caminham no afã de acertar, cada um a seu modo investindo numa felicidade
sem endereço, como não se deixar fascinar por mesquinharias como o juízo temerário?
A mente, sempre ativa e criativa, movida por quesitos como a inveja, o recalque, a
malquerência e sua parentela de desdouros morais, se motiva para crucificar o próximo
com que muitas vezes se identifica sem perceber. Muitos de nós, comedidos ou afoitos,
ansiosos ou obstinados por atender nosso objetivo de vida no campo da competição nem
sempre saudável, ou na área das emoções razoáveis ou apaixonantes, descuramos dos
preceitos cristãos, nos permitindo até encontrar gozo nisto.

Como o riacho que despacha os detritos com a força que pode ou os acumula nos
obstáculos que lhe impedem a marcha, caminhamos muito frequentemente ritmados
pelas circunstâncias, sem medirmos as consequências. Encontrando dificuldades em nós
mesmos para vencer de forma paciente e honesta, respeitosa e disciplinada, vamos
prejudicando nosso campo vibratório tanto quanto o do próximo, colocando este à

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mercê de julgamentos precipitados ou mesmo maldosos, tornando assim nosso mundo
de relação desagradável e comprometido.
Ainda que atingidos também pelos malefícios da maledicência e do julgamento
alheio, por muito tempo consumiremos energia nessa viciação. O próprio Jesus
surpreendeu algumas vezes – naquele tempo – os pensamentos daqueles que, não o
podendo compreender, blasfemam em seu juízo temerário.
Priorizando a melhoria íntima sobre todos os exercícios em benefício da
personalidade, sobre a projeção da própria figuta e os cuidados com os aparatos que a
vida social exige, começaremos a aformosear nosso visual material e passageiro, de
valores eternos e intransferíveis pelo caminhar tranquilo de quem está aprendendo
devagarinho e firme a respeitar no outro o seu divino direito de ser.
Só o Evangelho de Jesus pode nos enfraquecer a trave e nos curar a alma
enferma desses hábitos ainda tão arraigados. O coração, feito templo para o amor,
acabará por envolver todas as criaturas como irmãs queridas, incondicional e
definitivamente. Então, não haverá espaço para qualquer menção com respeito a nosso
irmão senão para elevá-lo e louvar a Deus pela família universal, absolutamente
preciosa na expansão amorosa de nossos espíritos.

Therezinha

98
COMO JEJUAR

Mateus 6: 16-18

16 Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque


desfiguram o rosto com o fim de mostrar aos homens que jejuam. Em verdade vos digo
que já receberam a sua recompensa.
17 Tu, porém, quando jejuardes, unge a cabeça e lava o rosto;
18 com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e, sim, ao teu Pai, que vê
em secreto, te recompensará.

REFLEXÃO SOBRE “COMO JEJUAR”

Desfigurar o rosto para esconder algo ou esconder-se; tentar alterar o semblante


para impressionar bem ou mal, a fim de ter alguma vantagem no mundo exterior por
motivos simples ou complexos. O ser humano sempre se utilizou destes artifícios como
auto- afirmação, desdouro, cultura, vaidade e por uma infinita variedade de
justificativas; porém, em se tratando de recurso de aperfeiçoamento do espírito eterno, é
postura de flagrante desconhecimento da presença de Deus em nossos atos e
pensamentos.
O jejum tem início no coração e a repercussão fora dele é natural conseqüência.
A recompensa do Pai está no êxito do propósito que se forrou de autenticidade.
Os fariseus que indagaram de Jesus o porquê de os discípulos não jejuarem,
decerto identificavam o ‘jejum’ pela aparência então visível e superficial do praticante.
Jesus, porém, elegante e oportuno como sempre, responde com o brilho do noivo
que não podiam enxergar; com o amor a transbordar-lhe do coração por aqueles
“meninos” que ignoravam a mudança que viria após as núpcias...
Eles não entenderam.
Não entenderiam! O entendimento deveria aguardar roupa nova.
Os discípulos – não todos – eram odres novos, como preciosos vasos para
comportar o vinho da Vida Eterna!

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Eles desconheciam que o complexo mecanismo da alma, quando interage com
Deus, não ouve os ruídos externos nem se perturba com os brilhos das conveniências,
está no santuário do coração agindo e vivendo n’outras paragens.
Esta é a recompensa que Deus em secreto – secreto é um processo sigiloso do
Criador para sua criatura – concede ao servo fiel.
Jesus, respondendo que o noivo estava presente, revelava que os discípulos
comungavam com o Próprio através dele. Importava fortalecer-lhes o ânimo para os
dias de pesada solidão!
E daquele Jesus sublime, magnífico, cobravam explicações que para coisa
alguma lhes valia. “Cegos, guia de cegos!”

Therezinha

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PARÁBOLA DO FESTIM DAS BODAS

Mateus 22: 1-14

1 Então Jesus tornou a falar-lhes por parábolas, dizendo:


2 O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho.
3 Então enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; mas estes
não quiseram vir.
4 Enviou ainda outros servos, com este recado: “Dizei aos convidados: ‘Eis que
já preparei o meu banquete: os meus bois cevados já foram abatidos e tudo está pronto;
vinde para as bodas’.”
5 Eles, porém, não se importaram, e se foram, um para o seu campo, outro para
o seu negócio;
6 e os outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram.
7 O rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e
lhes incendiou a cidade
8 Então disse aos servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram
dignos.
9 Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a
quantos encontrardes.
10 E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram,
maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados.
11 Entretanto, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um
homem que não trazia veste nupcial,
12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele
emudeceu.
13 Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o para
fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.
14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO FESTIM DAS BODAS

Muitos estudiosos do Espiritismo concordam que a alegoria desta parábola


refere-se à Terceira Revelação, quando muitos mensageiros foram perseguidos e mortos
durante a missão divina de abrir e preparar caminho para o Cristo em meio à densa treva
na Terra.

101
Este capítulo tocante da evolução humana não surpreendeu nem embargou a
estratégia dos sábios e amorosos precursores que executaram o plano, fiéis aos
propósitos divinos.

O banquete tem a duração da eternidade.


Muitos foram os convidados. Muitos que recusaram o convite, o fizeram por
cegueira absoluta, cujo tratamento requeria tempo. Outros, obstinados pelo deleite da
carne e coisas materiais, trocaram as iguarias do céu pela sua insensatez.
Alguns perceberam que o convite era honroso e se tornaram tecelões e
pescadores.
Ainda outros reconheceram que chegara para suas almas pequeninas a
oportunidade tão esperada de saborearem os manjares do Reino do Céu.
Para uns a luz do grande salão, para outros as trevas exteriores com seu ranger
de dentes...
Para todos, contudo, o convite do Pai Altíssimo através das palavras redentoras
de um “vinde a mim...” ou “buscais e achareis...”, e consoladoras “Eu estarei convosco
todos os dias...”, e sábias “Eu venci o mundo”, e incisivas como “a ninguém chameis
Mestre - ...Eu sou o vosso MESTRE...” “o espírito sopra onde quer mas não sabeis de
onde vem... nem para onde vai...” E tantas outras em envelopes abertos e endereço certo
para todos os corações, pelas miríades de falanges infatigáveis, falantes, cantantes,
poéticas... num dado momento, quando cessam os ruídos do mundo, e se aquietam os
instintos, quando a rouca voz interior faz uma pausa, a presença sempre atenta semeia
de mansinho... convidando... convidando.
O livre arbítrio em pleno exercício, ensinando o Ser a escolher para ser
escolhido!

11 Entretanto, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um
homem que não trazia veste nupcial.

É preciso que haja em nós um mínimo de humildade, de bom senso e


maturidade.

12 e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele


emudeceu.

102
O Senhor não olha nossos defeitos – eles se modificarão – mas é necessário que
nós estejamos vestidos de compostura.
Emudecer diante do Pai é omitir-se!

13 Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o para
fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes.

Deus entende que é prematura a nossa penetração no Reino do Céu. Com a


autoridade da sua sabedoria, o Pai faz-nos retornar ao lugar que nos é próprio, até que
da zona interior da nossa intimidade tenhamos coragem e atitude para partilhar de tão
sublime festim.

Lembrete: Os nossos objetivos particulares neste trabalho serão sempre


evidenciar o amor, a misericórdia e a justiça de Deus brilhando sobre qualquer aspecto
de aspereza da forma.
E ressaltar de trás de toda a beleza das parábolas, a figura incomparável de
Jesus; observar as leis de causa e efeito e de livre arbítrio segundo as nossas obras, que a
Doutrina Espírita explica tão bem.

Therezinha

103
A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

Lucas 10: 25-37

25 E eis que certo homem, intérprete da lei, se levantou com o intuito de por
Jesus em provas, e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
26 Então Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas?
27 A isto ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu
próximo como a ti mesmo.
28 Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.
29 Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu
próximo?
30 Jesus prosseguiu dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, e
veio cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem
muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o semi-morto.
31 Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o,
passou de largo.
32 Semelhantemente um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também
passou de largo.
33 Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o,
compadeceu-se dele.
34 E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e,
colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele.
35 No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo:
Cuida deste homem e, se alguma cousa gastares a mais, eu te indenizarei quando
voltar.
36 Qual destes três te parece Ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos
dos salteadores?
37 Respondeu-lhe o intérprete da lei: O que usou de misericórdia para com ele.
Então lhe disse: Vai, e procede tu de igual modo.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

Interessante o diálogo que precede a narrativa da parábola.

Jesus devolve a maliciosa pergunta ao doutor da lei sem perturbar-se, forçando-o


a uma reflexão – em tempo – de seus conhecimentos reais; o momento enseja um

104
confronto pessoal do que intimamente sabe, por sabedoria intuitiva e lógica, do que
extraiu das teorias mal expressadas e convenientemente mal interpretadas. E Jesus,
como sempre, encerra ali o diálogo com admirável conclusão: FAZE ISTO E
VIVERÁS.
“E quem é o meu próximo?”, pergunta o doutor. Eis uma pergunta que ainda está
por ser respondida a Jesus, por todos nós. Não verbalmente, mas com o coração e ações.
Daí a parábola de Jesus enquanto tenhamos dúvidas!
Lembramos com isso uma passagem singular da Vida de Jesus, em quando é
procurado por seus parentes, estando no exercício de sua missão, faz uma pergunta e o
faz publicamente, em linguagem clara e firme, que é mais uma revelação do conceito
Divino de família universal: “Quem são meus irmãos e quem é minha mãe?”
E a parábola, que prima pela fraternidade, por si só responde a diversos
problemas de preconceitos. Problemas estes, que teriam solução simples se merecessem
por parte dos governantes, tão ilustrados quão distantes das verdades eternas, a
consideração de examiná-las.
Não vale valorizar tanto a atitude do Levita e do Sacerdote; eles representam
todos nós, ainda imaturos espiritualmente, tímidos no exercício da caridade ou egoístas,
orgulhosos, prepotentes, vaidosos e ambiciosos; trânsfugas do itinerário evolutivo, sem
medo aparente das conseqüências da irresponsabilidade.
A figura do Samaritano é um símbolo de caridade e de irmandade no sentido
mais puro dos ideais cristãos. É um modelo norteador sempre que sejamos assaltados –
ainda somos almas por se aprimorar – pelos preconceitos e outros embargos na estrada
imprevisível do crescimento espiritual.
“Mas, o Samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e moveu-se de íntima
compaixão.” Que será íntima, no caso? Teremos esquecido de que Jesus disse que
somos o Templo do Deus Vivo? E, não nos facilitará a reforma íntima, a convicção
sempre viva de que intimamente o somos?
Nós conseguiríamos ter Deus presente – oh que alegria! – definitivamente
presente em nós e viveríamos presos a Ele eternamente, se aproveitarmos revelações tão
vantajosas! Para usarmos um termo da moda: são dicas que, se transformarmos em
técnicas práticas, aproveitaremos atalhos preciosos na senda do auto-conhecimento e
transformação interior.
E o ensinamento de Jesus prosseguiu com o aspecto da caridade moral e
material, para que o enfoque da Caridade fosse completo. Ao atar as feridas, deitando-

105
lhes azeite e vinho, entendemos que o socorro material ali possa significar também, a
caridade verbal que prevê o aconselhamento ou o silêncio oportuno, o afeto respeitoso e
outras manifestações de entendimento às carências da alma.
Outro aspecto importante é se envolvemos outras pessoas quando a iniciativa da
caridade é de nossa responsabilidade, transferindo-lhes o compromisso assumido,
muitas vezes cobrando sua colaboração com severidade. O Samaritano colocou o ferido
sobre sua cavalgadura, isto é, viabilizou, ele mesmo, os recursos de que dispunha; e
pagou ao estalajadeiro, sem o comprometer.

Therezinha

QUEM É MEU PRÓXIMO?


AQUELE QUE ESTÁ DENTRO DO MEU LAR.
AQUELE PARENTE DIFÍCIL.
AQUELE QUE SOFRE.
AQUELE QUE ESTÁ MUITO FELIZ.
AQUELE QUE LUTA COM MUITO ESFORÇO.
AQUELE QUE AMA SEU SEMELHANTE.
AQUELE QUE É MATERIALISTA.
AQUELE QUE NOS PERDOOU.
AQUELE QUE NOS OFENDEU.
AQUELE QUE É RICO.
AQUELE QUE CUIDA DE NÓS.
AQUELE PARA QUEM SOMOS INDIFERENTES.
AQUELE QUE É RESPONSÁVEL.
AQUELE QUE É POBRE.
AQUELE QUE ABRAÇA OUTRA RELIGIÃO.

AQUELE... QUE ESTÁ SITUADO NA GRANDE

FAMÍLIA UNIVERSAL!

Therezinha

106
A PARÁBOLA DA OVELHA EXTRAVIADA

Mateus 18: 12-14

12 Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar,
não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou?
13 E, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá
por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram.
14 Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai que está nos céus que pereça um
só destes pequeninos.

(Ver Lucas 15: 3-7)

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DA OVELHA EXTRAVIADA

15 Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. Os


fariseus e os escribas murmuravam dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles. E
então ele lhes propôs esta parábola.
Lucas

Bastaria a constatação dos escribas e fariseus de que Jesus andava com pecadores e
gente de má reputação, para compreendermos que para ele, nenhuma alma deveria
perder-se. E isso se repete nas narrativas da vida de Jesus, quando por várias vezes
ele se acha em companhia de Madalena, cuja vida era dissoluta; ou com a mulher
de muitos maridos, que o encontra junto ao poço. Ainda em casa de Zaqueu, que
agia desonestamente junto ao povo já tão oprimido. Envolvendo Judas em sua
incomparável aura de amor, durante o tempo em que o teve perto, após o
desequilíbrio do companheiro, que se lançou no precipício de seu interior na
equivocada busca do não ser. Lembramos a delicada passagem em que Jesus
defende a mulher adúltera da multidão enfurecida que pretendia fazer “justiça”. E
que dizer do “bom ladrão”?
E Jesus conta uma parábola que sintetiza a imensa alegria do mundo espiritual
pela recuperação de um espírito que se achava perdido, usando figuras comuns do

107
cotidiano. Jesus toca de leve e profundo nos sentimentos em desenvolvimento,
comprovando assim a contribuição da experiência da alma no plano material das
formas, para a abertura da consciência cósmica.

E não pára aí o bom Mestre! Uma outra parábola oferece a mesma declaração de
seu amor por todas as criaturas indistintamente, que é a parábola da dracma perdida.

8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma dracma, não
acende a candeia, e não varre a casa, buscando com diligência até encontrá-la?
9 E achando-a, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo,
porque achei a dracma que eu havia perdido.
10 Assim, digo-vos, há alegria na presença dos anjos de Deus por um só
pecador que se arrepende.
Lucas

Assim, Jesus enfatiza que a criatura humana é muito preciosa para Deus, que de
nenhum modo a perderá. A grande alegria que todos podemos sentir por uma
importância que recuperamos, ou por um animalzinho que reencontramos depois de
havermos nos abatido profundamente ainda é uma pálida idéia da festa nos grupos
espirituais empenhados em salvar alguém da miséria moral!

Esta alegria de que falam as parábolas também pode servir de orientação


espiritual para quantos ensinam em nome de Jesus. Muitas vezes queremos perceber
transformação rápida nas almas que se confiam às nossas preleções, colhendo louros
que não são nossos. O trabalhador desinteressado terá, sim, seu momento de inenarrável
alegria pelas suas obras, porém quando não pense, quando não espere... um dia! A
edificação de um espírito, principalmente uma criatura obstinada no mal, se alcança
com muita luta, muita renúncia, paciência, devotamento e determinação por parte dos
que se empenham em resgatá-lo.

E aí... a alegria depois do trabalho!

“Fiz-me fraco para os fracos, para ganhar dos fracos. Fiz-me tudo para todos, por
todos os meios, para chegar a salvar algum.”

Paulo

108
Therezinha

OS FALSOS PROFETAS

Mateus 7: 15-23

15 Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em


ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores.
16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos
espinheiros ou figos dos abrolhos?
17 Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos
maus.
18 Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir
frutos bons.
19 Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.
21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! porventura, não
temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu
nome não fizemos muitos milagres?
23 Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os
que praticais a iniquidade.

REFLEXÃO SOBRE OS FALSOS PROFETAS

Como, porém, identificar “os falsos profetas”?


Eis o que Jesus fez e viveu junto a nós todo o tempo, anunciando a Boa Nova.
Seu recado é cunhado da Perfeição Divina. Contudo preveniu: cuidado com os
hipócritas, as cobras e as peles de ovelhas, os ladrões e os sepulcros caiados...
Se não podemos ser humildes o bastante para especular o montante e a qualidade
de nossos conhecimentos, retirando a trave do orgulho ou a ignorância que nos obstrui a
visão e ter ativo o discernimento e o bom senso na seleção das idéias e propostas
humanas e divinas; se a excelência das parábolas e a exemplificação de Jesus não
bastarem para definir nossa posição com acerto diante das proposições dissonantes bem
ou mal intencionadas, é sinal de que o nosso coração e a nossa mente precisam fazer
uma aliança firme com a humildade e o estudo.

109
A Verdade do Cristo é fecunda, e pelos frutos que produz identificamos a ação
de Deus, que jamais está inoperante ou ausente.
A Mentira aborta compulsoriamente frutos deformados e desnutridos, porque
não têm vitalidade divina. Não está no rol das realidades eternas; padece em si mesma.
Não será suficiente a escora do Evangelho para ter credenciais no momento
sagrado em que a consciência imponha sua fala. Nossa aflição apelará à justiça os
direitos sobre o emprego do tempo na empresa do Cristo, mas ela responderá que não
consta no quadro dos servidores da Verdade o nome por que nos fazemos conhecer.
Jesus falou que dirá: Nunca vos conheci. Em outras palavras: Nunca vos fizestes
de mim conhecido!
Saldo:
Tempo perdido.
Energias desviadas.
Recursos desbaratados.
Coração enfermo!

... E vai doer muito...

Therezinha

110
A PARÁBOLA DO RICO INSENSATO

Lucas 12: 13-21

13 Nesse ponto, um homem que estava no meio da multidão lhe falou: Mestre,
ordena a meu irmão que reparta comigo a herança.
14 Mas Jesus lhe respondeu: Homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre
vós?
15 Então lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer
avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele
possui.
16 E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico
produziu com abundância.
17 E arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei, pois não tenho onde
recolher os meus frutos?
18 E disse: Farei isto: Destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí
recolherei todo o meu produto e todos os meus bens.
19 Então direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos;
descansa, come e bebe, e regala-te.
20 Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens
preparado, para quem será?
21 Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO RICO INSENSATO

Nesta parábola, Jesus reafirma que não é juiz de nossas consciências e não veio
para julgar, mas para nos revelar que elas têm conhecimento das leis de Deus que,
embora veladas para que nos proporcionem condições de diretrizes próprias mediante o
amadurecimento que se fará na proporção que o tempo, as experiências e a iluminação
nos auxiliem na construção de nós mesmos, preservando o mérito que nos cabe. Sua
presença em nossas vidas é do amigo maior, da força que precisamos para o arremesso
da treva que faculta retardamento para Deus.
Os bens materiais como resultado do progresso que se adquire por ação da
inteligência e do esforço próprio, com honra, é meritório e abençoado, pois que Deus
não nos criou para vivermos miseravelmente. Tanto a pobreza como a riqueza são como

111
a dor, um recurso de aprendizado para o espírito conseguir através da experimentação o
equilíbrio tão importante na condução de seu crescimento.
A maior desdita daquele “rico insensato” foi de ser pobre e só. Pobre, porque
não sendo esclarecido das coisas do espírito, fez-se servo da fortuna da qual se achava
senhor. Só, porque possuído pela avareza não devia ter no seu mundo íntimo nem
sombra que pudesse partilhar. Sua prece foi dirigida para a própria alma; se cria na vida
após a morte, vivia como se não soubesse, como muitos de nós. Se não cria, sua alma
era o seu próprio corpo, seu personalismo, seus atributos; sua oração tão enfática, afinal,
mais não era que um atestado de ignorância e imprevidência que iria faze-lhe chorar
amargamente momentos depois, vindo a ser, talvez, uma auspiciosa abertura para novo
rumo.
Como na parábola das dez virgens, o azeite da fraternidade lhe faltou na hora
derradeira. Mais digno de compaixão pela cegueira, assemelha-se ao filho pródigo;
lembra os lavradores homicidas; os convidados que se recusaram a comparecer ao
grande banquete; parece-se com o convidado que silenciou ante o anfitrião que lhe
proporcionara tanta distinção. Mesquinho, esquecia de que tudo que conquistou fora sob
as vistas do seu Criador, porque nada existe fora dele.
Note-se que, não obstante as semelhanças entre as parábolas, há diferenças
distintas entre os personagens que figuram seres humanos, enquanto que de fácil
identificação são as que representam o Senhor Jesus e a figura sublime de nosso Pai,
pelo procedimento invariável de justiça, sabedoria e misericórdia.
Modelo de lição de vida para todos nós que vivemos num mundo de luta
competitiva pela sobrevivência, pelo status e supremacia financeira – que não tem a ver
com o direito ao conforto, que prevê um aproveitamento melhor das energias física e
mental, como também maior aproveitamento de tempo útil.
Jesus, como a porta, e Kardec como a chave, são a definição de nossos
propósitos como espíritas que somos. Verdadeiramente o mestre francês integrou-se na
universalidade dos ensinos do Cristo fazendo luz na letra “que mata”, na travessia da
estreita via da fechadura, e faz assim espraiar diante de nossos olhos espirituais as
belezas que nossos destinos farão jus.

Therezinha

112
“JESUS, O BOM PASTOR”

João 10: 1-18

1 Em verdade, em verdade vos digo: O que não entra pela porta no aprisco das
ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.
2 Aquele, porém, que entra pela porta, esse é pastor das ovelhas.
3 Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelos nomes
as suas próprias ovelhas e as conduz para fora.
4 Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o
seguem porque lhe reconhecem a voz;
5 mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele porque não
conhecem a voz dos estranhos.
6 Jesus lhes propôs esta parábola, mas eles não compreenderam o sentido
daquilo que lhes falava.
7 Jesus, pois, lhes afirmou de novo: Em verdade, em verdade, vos digo: Eu sou
a porta das ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim, são ladrões e salteadores; mas as ovelhas
não lhes deram ouvido.
9 Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e
achará pastagem.
10 O ladrão vem somente para roubar, matar, e destruir; eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância.
11 Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.
12 O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o
lobo, abandona as ovelhas e foge; então o lobo as arrebata e dispersa.
13 O mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a
mim,
15 assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha vida
pelas ovelhas.
16 Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-
las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um pastor.
17 Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
18 Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho
autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai.

REFLEXÃO SOBRE “JESUS, O BOM PASTOR”

“Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.”
Jesus

113
Palavras cheias de vigor espiritual!
O Pai me ama - afirmativa de extraordinário poder e beleza; capaz de acionar
forças imponderáveis da excelência Divina. Conhecer-se amado pelo Pai Supremo sem
margem de dúvida! Graça com força de tornar herói um tímido; sutil detalhe capaz de
transformar um desgraçado n’um venturoso; de inclinar o orgulho à humildade, de
promover a santificação de um coração de fé.
Depois, eu dou... o verbo “dar” nos lábios de Jesus é sinônimo de solene
autoridade. Autoridade de quem sabe o que dá, como dá, por que e para que dá. Dar na
linguagem de Jesus expressa-se numa tradução de dimensão incompreensível. Ainda
tateamos nessa conjugação e freqüentemente subtraindo a primeira pessoa.
...a minha vida. Para nós, a sua vida significa a porta do aprisco! Que nos
aguarda a partir dela?! Nosso coração se aperta de emoção!
Ainda não sabemos dispor de uma fração pequenina da nossa sem pensar no
retorno; ainda que inconscientemente e por enquanto...
...para a reassumir. Grande colocação, esta! A convicção que ainda nos falta
para ousar no bem; desassombrarmo-nos diante de nós mesmos, calçados do
conhecimento da vida além túmulo; aceitarmos de alma as notícias da Boa Nova, o
Cristo vivo e operante, na veracidade da comunicação dos espíritos; nas múltiplas
moradas do Pai e suas leis justas...
Aquele que ainda não descobriu o amor de Jesus e busca entrar de assalto
preceitua as verdades do Cristo segundo os seus interesses, e a exemplo das ovelhas que
se vêem abandonadas pelo pastor nos momentos de perigo, seus seguidores percebem-se
confusos e indefesos ante o lobo das paixões.

O que se sente amado por Jesus conhece-lhe a voz e entende caminhar em


direção à porta.
Jesus dá a vida pela humanidade pela qual se responsabilizou por muito amar,
significando isto que ele se dispõe com todo empenho à iluminação dela; e de tal modo
o faz que ainda se reserva para aqueles espíritos que não estão no rebanho que o segue,
mas no seu coração de condutor de almas para Deus.
Jesus tem a autoridade que lhe conferiu o Pai Supremo e pela qual fez juz; sua
comunhão com o Criador se tornou um estado permanente de vivência.

114
Em reassumindo sua vida após doá-la por seus “amigos”, Jesus indica o gênero
de morte que aceitou para culminar sua tarefa no mundo físico, deixando clara a
diferença da doação espiritual de sua missão.

Therezinha

A RETRIBUIÇÃO

Mateus 5: 38-42

38 Ouviste o que foi dito: Olho por olho, dente por dente.
39 Eu, porém, vos digo: Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir
na face direita, volta-lhe também a outra;
40 e ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a
capa.
41 Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas.
42 Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes.

(Ver Lucas 6: 27-31)

REFLEXÃO SOBRE A RETRIBUIÇÃO

“Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas qualquer que vos bater na
face direita, oferece-lhe também a outra.”

É tão sensível o homem a qualquer forma de agressão à sua pessoa, que mesmo
uma imagem sugerida como suposta realidade tem o poder de despertar algo semelhante
ao revide, acionando de improviso uma discreta reação muscular involuntária e
concitando as emoções à defesa – a legítima defesa.
Não há até aí nenhuma consideração reprovável. O ser encarnado é dotado de
sistema perfeito de defesa em função da vida, não obstante haja muito o que aprender a
respeito. Por isso mesmo, o Senhor Jesus levanta essa experiência tão familiar às
criaturas, a partir da deliciosa infância, onde não faltam essas ocorrências. Na infância
acontece a descoberta do amor próprio, machucando os brios. Quando na idade adulta, o
orgulho, o respeito à opinião alheia, o desafio...

115
E Jesus compreende a alma humana e suas razões; seu auto-amor ainda não
trabalhado nos moldes do Cristo, e a consciência de fraternidade atingida
grosseiramente ante a decepção ou a expectativa de “retribuição” à altura da infâmia
sofrida, constrangendo-a à cobrança e cedendo lugar à insensatez, às vezes até as
últimas conseqüências. Jesus, o doce Rabi da Galiléia, acode de modo ético-moral o
personagem humano, que periga complicar-se por desconhecer e não saber aceitar a
lição da face direita, que significa o uso do bom senso, cuja fórmula divina tem como
ingredientes a compreensão, a humildade e a sabedoria.
Sem dúvida é uma prática redentora, por meio da qual muitas criaturas puderam
mudar sua posição ou modo de ser mediante o gesto nobre do adversário que superou a
afronta; tendo ganho desse modo a si mesmo e o outro para Deus.
Igualmente temos recebido o Pai, em nossa estrada, nas circunstâncias mais
imprevistas, representado no conteúdo de um livro que nos alcança as mãos, ou na
pessoa que inopinadamente nos encontra e se faz socorro, ou numa outra forma de
providência com evidente identificação com a misericórdia divina; e nossa consciência
nos fala de faltas e irregularidades que não nos facultam o merecimento de qualquer
socorro.
Quanto ao orgulho que oprime, diz o Evangelho: “Aquele que ama a seu irmão
está na luz e nele não há escândalo.”(João, 2:16)

Therezinha

116
JESUS E NICODEMOS

João 3: 1-12

1 Havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.


2 este procurou Jesus à noite e indagou: Rabi, bem sabemos que és Mestre,
vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer sinais que tu fazes se Deus não
estiver com Ele.
3 Jesus respondeu: Em verdade, te digo que aquele que não nascer de novo, não
poderá ver o reino de Deus.
4 Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura
poderá tomar ao ventre de sua mãe e nascer?
5 Em verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no reino de Deus.
6 O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de ter ouvido: Necessário é nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem
para onde vai, assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 Nicodemos disse-lhe: Como pode ser isso?
10 Jesus respondeu: Tu és mestre em Israel e não sabes isso?
11 Em verdade, te digo, que nós dizemos do que sabemos e testificamos o que
vimos, e não aceitais nosso testemunho?
12 Se vos falei de coisas terrestres, e vos não crestes, como crereis, se vos falar
das celestiais?

REFLEXÃO SOBRE JESUS E NICODEMOS

Nicodemos é figura central de nossos primeiros sonhos de realização espiritual!


Ao nos reconhecermos cristãos, entendemos – melhor do que sentimos – que
estamos a imprevisível distância de Pedro, de Tiago, de João, de Mateus e de outros
personagens da maior cena histórica da ética moral e divina do planeta. E Nicodemos
vem instigar em nós um átimo de anseio n’alma com a sua sublime fuga ao encontro
com Jesus no cair da noite, a sós, representando o homem do futuro, faminto e sedento
das verdades eternas; envolvido com as coisas do mundo, porém, demente inquietada
pelas noções de eternidade mal definidas. Espírito angustiado, asfixiado pelo ar pesado

117
da ambiência política e religiosa, setores fechados e avessos à orfandade de povos
abertos e indefesos à toda sorte de injustiça e descalabro. Cegos indiferentes dirigindo
cegos indigentes.
Com o coração pulsando forte, os olhos ávidos, engolindo sôfrego a figura
imponente de Jesus para possuí-la de uma vez; bebendo a sua voz para nunca mais ter
sede; dilatando os ouvidos para ouvir e registrar magistralmente no coração e na mente
buscando o agasalho para sua nudez, abrindo-se definitivamente para a Sabedoria divina
onde o aguardavam o Caminho e a Vida!
Como não desejar o seu lugar no começo de nossa iniciação quando o
questionamento assoma proporções tão angustiantes quão deliciosas!
Saber o Caminho – é identificá-lo no Cristo.
Conhecer a Verdade é estar cônscio e seguro dela.
Vida, é penetrar na plenitude de Eu com Deus.

EU SOU A VERDADE, O CAMINHO E A VIDA.


E Jesus aviva, para uma reflexão, a questão dele, na excelsa lição: Se vos falei de
coisas terrestres, e não crereis, se vos falar dar celestiais?

Mas, Nicodemos teria muito tempo para responder...

E nós, com tanta informação nas prateleiras, nos áudios, nas tribunas espíritas,
nos periódicos e telhados das casas, quanto tempo ainda?

Therezinha

118
VÓS SÓIS O SAL DA TERRA

Mateus 5: 13

13 Vós sóis o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o
sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.

(Ver Marcos 9: 49, 50 e Lucas 14: 34, 35)

REFLEXÃO SOBRE “VÓS SÓIS O SAL DA TERRA”

Quando a criatura se determina a seguir Jesus pela reforma íntima que Ele lhe
propõe, como condição básica para garantir a força, coragem e disposição, significa que
ela examinou, auscultou, mediu e pesou; experimentou contrariá-lo e experenciou
acertar com Ele. Observou em si mesma e nos outros as conseqüências de seus
ensinamentos, depois de acalmada a paixão por Ele dos primeiros instantes.
Descobre então que O ama!
E, satisfeita a seriedade com que buscou a verdade no exame do Cristo e
fortalecida pela convicção bem fundamentada, libera o coração para amá-lo sem
restrições. Amar Jesus assim é amá-lo para a eternidade!...
Escuta, então, a sua voz: “Vós sois o sal da terra.”
Não se assusta.
E Jesus continua: “Se o sal se tornar insípido para nada servirá...”
A consciência se altera e reflete. Compreende. Questiona-se, perquire, avalia a
própria alma e sossega-a o amor do Cristo.

119
“...senão para ser pisado pelos outros”, conclui Jesus, olhando nos olhos daquele
que sente a força da sua presença ante a expectativa de um compromisso.
Não é a Sua figura amorosa e redentora que importa, mas a Mensagem do Pai
que não pode sofrer na pureza da VERDADE.
Esse colóquio entre Ele e os apóstolos, na relação da melhor excelência, ocorreu
há dois mil anos e se repete na cerimônia de cada aliança entre o homem e o Cristo.
Sublime aliança!
Uma sintonia profunda se estabelece entre Jesus e nós depois disso.
Uma introdução ao batismo de fogo!
A VERDADE É. O homem está por ser.
A VERDADE é LUZ...
Quando Pedro negou Jesus, faltou com a verdade. Quando quis reparar sua
fraqueza, reassumiu a VERDADE e penetrou na Luz do Cristo.
O Senhor sabe de nossa fragilidade, mas vai mais longe: perscruta a pureza de
propósitos. Se seus complacentes braços estão sempre abertos para receber sem reservas
a criatura que faliu tendo no coração disposições sérias, que dizer do Mestre para com o
discípulo que com VERDADE segue-lhe os passos?
Se a treva é ausência de luz, o Evangelho é luz na escuridão.
O sal serve a todos que lhe recebem o sabor. Uma pitada transforma um alimento
insosso em apetitoso reconforto para o organismo debilitado. O Evangelho em
pequenina porção salva uma alma faminta de Verdade ou sequiosa de Luz.
Quando a Verdade do Evangelho serve a interesses estranhos, tomando direções
contrárias ao pensamento Divino, é como se o sal pudesse se tornar insípido, não
servindo senão para ser desprestigiado, ninguém dele se beneficiando.
O discípulo fiel é servidor venturoso:
“Buscai a VERDADE e ela vos libertará.” (Jesus)

Therezinha

120
JESUS E O CENTURIÃO

Mateus 8: 5-13

5 Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião


implorando:
6 Senhor, o meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo
horrivelmente.
7 Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo.
8 Mas o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entreis em minha
casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado.
9 Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho soldados às minhas
ordens, e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze
isto, e ele o faz.
10 Ouvindo isto, admirou-se Jesus, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos
afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta.
11 Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à
mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.
12 Ao passo que os filhos do reino serão lançados para fora, nas trevas; ali
haverá choro e ranger de dentes.
13 Então disse Jesus ao centurião: Vai-te, e seja feito conforme a tua fé. E
naquela mesma hora o servo foi curado.

(Ver Lucas 7: 1-10)

REFLEXÃO SOBRE JESUS E O CENTURIÃO

Para compreendermos o gesto do centurião, será preciso refletir maduramente


sobre esta força que se chama fé e que se encontra revelada nas palavras de Jesus,
quando disse que “a fé transporta montanhas”. Revelada nas passagens do Evangelho,
quando a mulher hemorroísa se explica, quando outra mulher compara sua necessidade

121
das migalhas espirituais à dos cachorrinhos que comem as sobras da mesa das
criancinhas, os testemunhos dados por mártires e apóstolos.
Sua confiança excedia o padrão comum. E esta convicção era resultado de uma
vivência moral pautada nos bons sentimentos e de uma consciência reta, capaz de
perceber de imediato o caráter daquele de quem ouvira falar. A conduta do admirável
desconhecido denunciava valores acima dos humanos, em sua totalidade ainda tão
ingênuos. Seu espírito descobriu o Mestre incomparável pela linha de sintonia em que
procurava vibrar.

O centurião, comandante de uma tropa de cem homens, busca o Filho do


carpinteiro, isto é, mobiliza seus servos de confiança a levarem um pedido importante
em favor de terceiro. A comunicação é breve, correta e com considerável peso e energia,
capaz de tirar do Senhor Jesus imediato consentimento de cura.

Quantas vezes contribuímos para o bem estar do próximo com uma prece singela
na expressão e rica na fé, quando nos dispomos a incluir nosso irmão em nossas
orações? Ou somos aquinhoados em nossa saúde e decisões felizes pela rogativa
caridosa doada em nosso favor, e nem percebemos isso?

Às vezes, faz mais efeito interceder por uma alma rebelde e indiferente do que
forçá-la a fazer por si mesma.

A oração forma elos com o próximo e com Deus.

Há quem se recuse a ir em busca do Mestre por não se sentir digno e deixa de


receber um sim tão decisivo. Se trabalharmos em nós a humildade, não iremos buscá-lo
seja em que circunstâncias nos encontremos?

Há quem não busque o Maior Amigo que é Jesus porque acredita que Ele tudo
sabe e proverá se deve fazê-lo?

Os pais da terra buscam prover as necessidades de sues filhos, contudo não se


furtam de um colóquio com eles, a fim de fazê-los sentir que o seu amor é
desinteressado e profundo, transmitindo-lhes segurança.

Também o Pai do Céu tem abertas as portas do seu reino para todos os seus
filhos e indistintamente está a ouvi-los, incansável...

122
O centurião, ao formular seu pedido, o fez como uma criança que sabe que o Pai
pode. Recorrendo ao Grande Médico, sabia que seus fiéis servidores não o
decepcionariam.

Também nós confiamos?

Therezinha

A PARÁBOLA DOS TALENTOS

Mateus 25: 14 – 30

14 Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus


servos e lhes confiou os seus bens.
15 A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada um segundo a sua
própria capacidade; e então partiu.
16 O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e
ganhou outros cinco.
17 Do mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois.
18 Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do
seu senhor.
19 Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas
com eles.
20 Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco,
dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei.
21 Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o
muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor.
22 E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor, dois
talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei.
23Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o
muito te colocarei: entra no gozo do teu senhor.
24 Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és
homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde não espalhaste,
25 receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
26 Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo
onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
27 Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao
voltar, receberia com juros o que é meu.
28 Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez.
29 Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não
tem, até o que tem lhe será tirado.

123
30 E o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de
dentes.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DOS TALENTOS

Jesus em suas parábolas deixa em aberto o procedimento do Pai Celestial para


conosco, de forma clara e objetiva.

Utilizando o recurso da metáfora que encanta e ensina, explorando a eficiência


do raciocínio lógico, o Mestre deixa subentendido que a figura do personagem central
seja Deus, pela força de sua característica reta e por ser invariavelmente firme e justo,
sábio e misericordioso.
O personagem seguinte, mesmo em evidência na narrativa, revela sempre suas
variantes e através delas está espelhada a criatura humana daquele e de outros tempos.

No enredo das parábolas, está presente a proposta divina da reforma íntima


como absoluta condição de elevação espiritual e libertação de toda trama de
inferioridade, responsável pelo sofrimento do homem.

Nos cenários diversos, as particularidades evidentes do movimento trivial de


cada classe social e faixa do entendimento humano.

No espírito da forma, a elegância de quem tem autoridade e pode parafrasear


para edificar sem discriminar nem sucatear valores.

Com essa impressão registrada em nossos corações, só resta nos alegrarmos por
contar com tão preciosa coletânea de contos para o nosso enlevo espiritual, depois de
conferirmos nossa posição íntima com a lição em exame, até mesmo se ela nos desnuda
o coração e nos faz chorar.

Feliz aquele servo que trabalhou os cinco talentos. Venturoso o que duplicou os
dois. Que dizer do outro que sua própria história tenha escondido?

Decerto, muitos de nós passamos por isso. Há que vermos que a matemática do
Pai Celestial não sofre a manipulação dos conceitos humanos. O terceiro servo teve o
seu talento suspenso.

Quantas vezes não teremos que ver suspenso um talento a nós confiado por tê-lo
desconsiderado; talvez enterrando-o na treva da acomodação, quando pedia luz? Ou por
não termos confiança no Pai Altíssimo?

124
A confiança se estrutura no conhecimento; por isso a Doutrina Espírita Cristã
conclama o espírita, antes simpatizante, a estudar, para que não o “maravilhem” os
fenômenos e a palavra de Jesus, que há mais de dois mil anos encanta à entrada de
nossos corações...

De volta às “trevas e ranger de dentes” estamos, reincidentes que somos.

Mas não é esta a vontade do Pai que nos criou para sermos felizes herdeiros do
tesouro de talentos que ao espírito dispôs.

Therezinha

A PARÁBOLA DOS DOIS FUNDAMENTOS

Mateus 7: 24-29

24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica, será
comparado a um homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com
ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.
26 E todo aquele que ouve minhas palavras e não as pratica, será comparado a
um homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com
ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.
28 Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões
maravilhadas da sua doutrina;
29 porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas.

(Ver Lucas 6: 46-49)

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DOS DOIS FUNDAMENTOS

“Porque ensinava como quem tem autoridade”.


No mundo em que vivemos, sempre sobressaíram as aparências, o supérfluo, os
títulos honoríficos, o poder temporário e outras necessidades da carência humana que
podem ser falências sentimentais, morais ou passionais; escondidas na satisfação do
engano que se procura alimentar para estar bem consigo mesmo. Para isso, títulos são

125
negociados, honras concedidas e realizadas outras transações que insuflam vaidade,
orgulho e todo um cortejo de funestas ilusões e facilidades sem mérito.
Não se compra força moral.
A autoridade de Jesus transparecia na medida em que o homem podia suportar -
Ele podia dizer: EU SOU.
Ele sabia quem era. Nele não havia sombra.
Ao concluir Jesus este discurso, as multidões se maravilhavam da sua doutrina.
Ainda hoje as palavras de Jesus maravilham os nossos ouvidos.
Ainda hoje apreciamos histórias. E se as parábolas de Jesus não alcançarem
nosso coração, as novelas, os filmes e os teatros de mau gosto viciarão nossas emoções,
embotando-nos o livre pensamento e influenciando-nos o modo de ver a vida... e
continuaremos a (apenas) nos maravilhar com as palavras de Jesus.
Quanto discurso brilhante dos homens se há perdido no correr dos tempos!
Quanta moral vigorosa viu revelada a sua fragilidade quando posta à prova.
A força de Jesus é o amor; a sua verdade é de Deus.
Eis a razão da prudência de que fala a parábola, como condição essencial para a
assimilação de seus ensinamentos.
Uma construção de vida que se estrutura nesses dois fundamentos é garantida no
seu arcabouço. Vindo um inverno desafiador sobre a fé, a tempestade imprevista ou o
apelo escaldante dos instintos inferiores, a formação evangélica sustenta seus princípios
bem sedimentados ante a prova eminente.
Não basta a palavra do Mestre maravilhar, é prudente vivê-la.
Jesus que é um com o Pai; fez-se visível aos nossos olhos e diz: VEM!

Therezinha

126
UM SINAL DO CÉU É PEDIDO A JESUS

Marcos 8: 11-13

11 E, saindo os fariseus, puseram-se a discutir com ele; e, tentando-o, pediram-


lhe um sinal do céu.
12 Jesus, porém, arrancou do íntimo do seu espírito um gemido, e disse: Por
que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se lhe
dará sinal algum.
13 E, deixando-os, tornou a embarcar e foi para o outro lado.

(Ver Mateus 16: 1-4)

REFLEXÃO SOBRE “UM SINAL DO CÉU É PEDIDO A JESUS”

Que mensagem trazem para os dias de hoje, estes textos evangélicos?


Ainda esperamos sinais do Céu?
Muitos de nossos irmãos estão ainda presos no sangue e carne de Jesus em
doloroso martírio na cruz, curtindo e conservando grande dose de culpa, para encontrar
nela meios de redimir-se, apesar de conhecer de Jesus as palavras de profundo
significado para o mundo cristão: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.

127
Hoje, o sinal do Senhor Jesus é a Doutrina Espírita, onde o Mestre se revela em
cena como o Espírito da Verdade, cumprindo sua palavra: “Se derrubarem este templo
eu o levantarei em três dias”.
Não mais o fenômeno da ressurreição (Ora, vem, Senhor!), mas a volta real do
Mestre em glória e poder, dando cumprimento a tantas outras promessas
incompreendidas na época.
E, com a sua extraordinária luz e amor divino, retorna de braços abertos para o
seio daqueles que o Pai lhe confiou, levantando o véu da letra juntamente com os
falangeiros do bem, libertando a mente dos homens de acessórios religiosos que
funcionam como presilhas impiedosas.
O que desses textos nos enche o coração de alegre esperança é o sinal que O
Grande Pai espera de cada um de nós, como fruto de tão auspicioso evento da História
da Essência Divina no Planeta Terra! Quem a escreverá?
Não importa! O que brilhará em nossa história individual é o SIM à reforma
íntima com Jesus!
A pequenina essência, ignorada pela Física, pela Química, pela Ciência
convencional, enfim, levará os registros de tempos imemoriais das vias penosas nos
diversos reinos da Natureza; das lutas renhidas e corajosas do espírito com as sombras
do eu; o processo de seu desenvolvimento na direção da auto-afirmação no bem; o
encontro com a Verdade que liberta – o alcance da maioridade espiritual.
Eis que o Senhor, à moda do Pai que aguardou o “filho pródigo de mãos em
pala”, recepcionará com júbilo a “essência” feita espírito maduro, às portas da
perfeição.
Jesus é o Sinal do Pai em nós!

Therezinha

128
“DIFICULDADES ”

Mateus 10: 34-39

34 Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
35 Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e
entre a nora e sua sogra.
36 Assim os inimigos do homem serão os da sua própria casa.
37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim;
quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim;
38 e quem não toma a sua cruz, e vem após mim, não é digno de mim.
39 Quem acha a sua vida, perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa,
achá-la-á.

REFLEXÃO SOBRE “DIFICULDADES”

Nos parece que esse é um momento dos mais singulares em que Jesus atrai para
si, de maneira determinante, o discípulo que quer segui-lo.
Centraliza o indivíduo no seio da família, em meio aos seres que lhe são mais
caros e o convida a refletir profundamente sobre o que pretende e o que ama. Para o
iniciante, Jesus usa uma linguagem clara e firme; sabe que em espírito, mais que
racionalmente está sendo entendido.
129
Entre Ele e o os seus seguidores não deve haver nada encoberto. Estavam
deveras preparados, mas o Divino Mestre oferece-lhes a oportunidade de assumirem de
livre escolha a opção tão grandiosa quanto divina, tão pesada quanto humana. Isto é
lealdade e consciência de liderança, presente em todos os seus atos como Mestre, mais
do que líder... Observada a conduta do Senhor Jesus, em toda sua passagem pela Terra,
identificam-lhe o amor em ação, no mais alto grau que possamos conceber, e o Mestre
por excelência.
Aprender com Ele é modelar a alma para a angelitude.
Se o negamos diante dos homens, isto é por conveniência e interesse pessoal ou
grupal, com prejuízo para o semelhante e para a Verdade, distorcendo os seus
ensinamentos, o que significa negação à sua presença – o que por processo natural nos
ocorrerá, sem que coisa alguma se possa fazer.

Não há punição organizada: “O que o homem semear, isso mesmo terá de


colher!”
Como um tratado que deva ser firmado em bases seguras, de caráter sério e

definitivo, Jesus completa que o discípulo levará sua cruz, pois que esta lhe pertence

e é intransferível por absoluta exigência da Lei de Causa e Efeito. E seu seguidor não

gozará de privilégios especiais, senão o salário correspondente ao servo fiel e

desinteressado.

Salário vindo da parte de Deus... ó que salário! Nenhuma moeda pode se lhe
comparar!

Therezinha

130
MISTÉRIOS OCULTOS E AOS PRUDENTES

Mateus 11: 25-27

25 Por aquele tempo exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos
pequeninos.
26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
27 Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

(Ver Lucas 10: 21,22)

REFLEXÃO SOBRE MISTÉRIOS OCULTOS E AOS PRUDENTES

“Ainda que eu visse, não acreditaria porque sei que é impossível.” Não são
palavras de alguém que está sempre aberto para aprender. O sábio, o espírito humilde,
por exemplo, mesmo estando certo da impossibilidade daquela ocorrência ou daquele
fato, pela extravagância da informação, dificilmente se recusaria a considerar – temos
como exemplo dentro da história de nossa Doutrina a eminente figura de Allan Kardec
que, convidado, por várias vezes se negava pelos inúmeros compromissos, pois as

131
notícias que tivera sobre as mesas girantes eram de procedência jocosa, passatempo dos
finais de tarde e de semana a pretexto de divertimento numa roda de amigos.
Malba Tahan conta uma breve passagem da vida de religioso que era um
estudioso aplicado; passava as tardes envolvido nos seus livros e em profundas
reflexões. Havia no mosteiro um outro religioso, tipo brincalhão, que num momento de
descanso com alguns companheiros teve a idéia de surpreender o dedicado religioso.
Encontrando-o na mesa de trabalho, tomou uma atitude séria e convidou-o a
acompanhá-lo até o jardim para ver um boi voando. O feri, a contragosto, deixou seus
escritos e foi com o amigo olhar o céu, pondo a mão em pala, para tentar ver o animal
no firmamento. Não conseguindo, desiste, enquanto o companheiro, em grupo, ria a se
dobrar da ingenuidade do frei e lhe pergunta como pudera ele acreditar que fosse
possível um boi voar. Lhe responde o religioso, com tranqüilidade: “Preferi crer que um
boi pudesse voar a que um religioso mentisse”.
A liberdade de pensamento é de origem divina permanente, por isso não
podemos cerceá-la em nós ou embaraçá-la nos outros. Pelo pensamento, atingimos a
consciência e podemos torná-la pobre ou nobre. À serviço dessa liberdade de
consciência temos o livre arbítrio e ambos nos responsabilizam pelo que somos ou
fazemos. E pela liberdade de pensamento, de consciência e pelo livre arbítrio nós nos
fazemos melhores, se essa é a nossa vontade; nos tornaremos sábios e inevitavelmente
humildes. O espírito que tem certo grau de humildade já está adentrando na estrada da
sabedoria, porque a porta de Deus está definitivamente aberta para todos; porém os que
têm simples o coração são os que a têm acertado! Por isso, mui sabiamente a Doutrina
Espírita não recomenda fazer prosélitos, não impõe conceitos, não sujeita a criatura a
rituais, não proíbe coisa alguma. Pela distinção de sua colocação, o homem a ama e
estuda. Se tem dentro de si apenas penumbra e trevas, agora percebe a luz e a ama; se
traz fome e sede de justiça, eis que descobre uma mesa farta. Se a solidão o segregava
eis que descobre outros familiares que lhe oferecem ocupação e amor. É o Senhor Deus
distribuindo a mãos cheias as suas revelações através da vida do próprio indivíduo. Mas,
para tanto, o indivíduo deve estar despido de prepotência, medos e orgulho.
Em geral, é o sofrimento que conduz o homem à via do pensamento iluminado.
E quando o discernimento se faz presente em alguma esquina do caminho, a luz o
deslumbra e cai do cavalo em memorável expansão espiritual; ou uma bruxuleante luz o
acompanha como processo de cura de crônica cegueira.
Benditos recursos, dirão!

132
Therezinha

O JURAMENTO

Mateus 5: 33-37

33 Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás
rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos.
34 Eu, porém, vos digo: De modo algum jureis: Nem pelo céu, por ser o trono
de Deus;
35 nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser
cidade do grande Rei;
36 nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou
preto.
37 Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar, vem do
maligno.

REFLEXÃO SOBRE “O JURAMENTO”

“Nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar o teu cabelo preto ou
branco.”

Juramento se avizinha de uma parentela de afins: a mentira, o falso, a perfídia, o


engodo, a calúnia, o desrespeito inescrupuloso pelo outro e por si mesmo...

133
E, irremediavelmente, está distante da honestidade, do caráter, da compostura e
da verdade...
Jurar é se comprometer com a honra e a dignidade; e com a lei de verdade e
justiça, provavelmente.
A verdade, transparente ou oculta, é o espírito da realidade que cedo ou tarde se
impõe pura e despida de toda vilania.
Jesus era a Verdade. Sua permanência na Terra era uma exposição constante e
ousada, ante a política desorientada de homens responsáveis pela verdade que não
podiam suportar; suas bandeiras tremulavam entre o medo e a empáfia.
Impotentes para mudar, esforçavam-se para permanecer na aparência respeitável
que carregava a gravidade de traficar, com a mentira para não cair. Alimentavam-se a si
próprios da atmosfera perniciosa do sentimento de autoridade, quando diante de Jesus –
a figura singular de personificação da verdade, a pureza que não podiam compreender,
mas que incomodava – tinham que estremecer dadas as diferenças...
E em seus ensinamentos não poderia faltar a advertência para o perigo do sim-

não e do não-sim nas mãos das crianças espirituais que deveriam crescer...

Para seguir-lhe os passos, o discípulo tem que prezar a postura do Mestre.


“Seja o teu Sim, Sim. Seja o teu Não, Não!”
É o Senhor Jesus que diz!
E porque não o ouvimos, a história das sociedades, das religiões e dos povos, se
mescla de mentira e sangue.
Assumir a verdade como formação de caráter é trabalhar a auto-educação como
ajuda no combate às inclinações inferiores; é inclinar-se à fraternidade nos meandros da
consciência, enquanto exteriormente se renova hábitos e posição. Perseverar nesse
patamar arejado significa aspirar profundamente em clima de auto realização.

“O ser consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém sem vulgaridade;
é complacente, no entanto sem conivência; é bondoso, todavia sem anuência com o erro.
Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar
retribuição.”
Joanna de Ângelis

134
Therezinha

O TESOURO DO CORAÇÃO

Lucas 12: 32-34

32 Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos


o seu reino.
33 Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não
desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão nem a traça
consome,
34 porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.

(Ver Mateus 6: 25-34)

REFLEXÃO SOBRE O TESOURO DO CORAÇÃO

Viemos nós de uma trajetória difícil e belíssima pelas experiências acumuladas, desde o
desprendimento imemorial como essência divina, até nossos dias, numa marcha aparentemente
de extrema e dolorosa demora, impulsionados por uma força íntima e insuspeita de alcançar a
nível de intuição, o tesouro – não perdido, mas por achar – que acena para a nossa natureza
obsessiva de posse com proposta de elevado porte.
Atraídos por esse objetivo mais alto, que se oculta num código a ser decifrado muito
depois e cujo peso vale todos os esforços, traçamos diversas performances, nos complicamos e
estremunhamos pelas falhas e pela dor; temos visões e miragens sem contar; nos arrojamos e
135
nos contemos, nos escondemos na retaguarda; negociamos e tratamos ilegalmente; mentimos e
negamos nossos gritos de socorro nascidos do desalinho de nossa alma. Orgulhosos e
ingênuos, não queremos ouvir as vozes do bom senso, nem ver a luz que se arrisca a nos
orientar por entre brumas e treva densa. E lutamos com o apego e por ele, na busca do mapa da
mina.
Quando Jesus traz a revelação clara e sublime, “o tesouro sempre esteve em nós”, Ele é
um contador de fábulas!
O tesouro é todo o conteúdo de natureza espiritual que possuímos de nosso Pai, por
herança divina. É a essência simples e inocente que deve desenvolver-se por vontade própria e
de seu Criador, simbolizada pela figura simpática do coração.
Dar atenção em caráter especial aos valores eternos do espírito sobre os valores
perecíveis exteriores é o que Jesus quis reforçar dentre todos os seus ensinamentos – pois, para
encontrar Deus no templo do coração em toda a sua glória, temos de passar por nós,
notavelmente pelo exercício do auto-conhecimento. A entrada em nossa intimidade é o
caminho estreito. Nessa estrada interior, mais que coragem, precisamos de um Mestre. E eis
que Jesus afiança: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por
mim.”
Aquele que busca a si mesmo e não leva Jesus consigo, se confunde, se engana e
desanima.
Therezinha

136
OS ENDEMONIADOS GERASENOS

Lucas 8: 26-34

26 Então rumaram para a terra dos gerasenos, fronteira da Galiléia.


27 Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de
demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia
nos sepulcros.
28 E quando viu a Jesus, prostrou-se diante dele, exclamando, e disse em alta
voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me
atormentes.
29 Porque Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, pois muitas
vezes se apoderara dele. E embora procurassem conservá-lo preso com cadeias e
grilhões, tudo despedaçava e era impelido pelo demônio para o deserto.
30 Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque
tinham entrado nele muitos demônios.
31 Rogavam-lhe que não os mandasse sair para o abismo.
32 Ora, andava ali, pastando no monte, uma grande manada de porcos;
rogaram-lhe que lhes permitisse entrar naqueles porcos. E Jesus o permitiu.
33 Tendo os demônios saído do homem, entraram nos porcos, e a manada
precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do lago, e se afogou.
34 Os porqueiros, vendo o que acontecera, fugiram e foram anunciá-lo na
cidade e pelos campos.

(Ver Mateus 8: 28-33 e Marcos 5: 1-14)

REFLEXÃO SOBRE “OS ENDEMONINHADOS GERASENOS”

137
Era uma vez... – Começa assim, uma história que perdeu as cores do fantástico!
Do irreal! Do maravilhoso; para cair na força da realidade à prova da lógica, da ciência
espiritual, dos fatos – dois homens possuidores de uma estranha força que os
destacavam entre os demais, intimidando uma comunidade e impressionando pelas
atitudes e preferências extravagantes surgem dentre as sepulturas onde costumavam se
acomodar e encontram Jesus que acabara de chegar à Galiléia. O povo incomodado
tentava, em vão, acorrentá-los; de aparência desagradável, nus e malcheirosos, eram a
contragosto objeto de atenção de quantos queriam viver pacatamente.
Parece-nos um quadro deprimente.
Olhando, porém, a ocorrência sem os escrúpulos humanos – Jesus frente àquelas
criaturas infelicitadas pela grave obsessão; presas talvez por correntes muito mais
resistentes que as de ferro, no comprometimento com o passado, nosso coração se
sensibiliza particularmente pelo confronto entre a miséria humana e a grandeza real!
As entidades que se abrigavam e se serviam dos dois homens, enfermas da alma
e amedrontadas, clamam para que o Mestre não as jogue no abismo, longe de
identificarem a força do amor daquele que se fizera reconhecer. Era o momento de
decisão entre a vida e a morte... optaram pela morte!
Pareceu-lhes mais fácil correr do Cristo que ficar com ele!
E os porcos foram o veículo!
Decerto o precipício que temiam era o local onde suas consciências
encontrariam o preparo para a mudança e o ensejo de cura. Fugindo dele, nele
precipitaram-se por força da sintonia e da lei.
Ficaram livres os homens e quantos testemunharam o acontecimento se
admiraram.
Mas a história de final feliz pede daqueles homens outros capítulos...
Um deles teria se integrado na sociedade e modificado sua vida a fim de fazer
luz na sua casa?
O que solicitou de Jesus permissão para segui-lo terá levado para os seus o
recado de Jesus e trabalhado na sua transformação?
Verdade é que o momento de salvação chegou para aquele lugar, para aquelas
almas. Ele chega sempre; seja na forma de um livro, uma palestra, uma visita, uma
enfermidade, um trabalho...

138
Há os que dormem, os que estão surdos, os que são cegos de nascença, os que
são por opção... em conseqüência disso, a presença de Jesus às vezes incomoda.
A lamentação da comunidade não refletia solidariedade aos animais...

Therezinha

“ A MULHER CANANÉIA ”

Mateus 15: 21-28

21 Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom.


22 E eis que uma mulher cananéia, que viera daquelas regiões, clamava:
Senhor,
Filho de Davi, tem compaixão de mim! Minha filha está horrivelmente endemoniada.
23 Ele, porém, não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, aproximando-
se, rogaram-lhe: Despede-a, pois vem clamando atrás de nós.
24 Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de
Israel.
25 Ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!
26 Então, ele, respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo
aos cachorrinhos.
27 Ela, contudo, replicou: Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das
migalhas que caem da mesa dos seus donos.
28 Então lhe disse Jesus: Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como
queres. E desde aquele momento sua filha ficou sã.

(Ver Marcos 7: 24-30)

139
REFLEXÃO SOBRE A MULHER CANANÉIA

“Mas ele não lhe respondeu palavra.”


“E os seus discípulos disseram-lhe: Despede-a, que vem gritando atrás de nós.”

Teria Jesus se omitido ante a rogativa daquela mulher angustiada? Não era
aquela uma oração semelhante a
tantas que endereçamos ao seu coração?

Sem dúvida o Senhor Jesus registraria aquele pedido ainda que não fosse
coerente, no entanto, seguido de seus discípulos, aguardou que eles manifestassem
disposições íntimas, mas sem demora foram traídos pela acomodação em serviço.
A seguir, Jesus contempla seus discípulos com uma seqüência de atitudes que
são uma lição de Mestre.
Jesus atiça a mulher em sua fé; e a resposta que ele bem conhecia vem atirar-se
na face dos apóstolos do Cristo com um belíssimo quadro de doçura, humildade e
confiança irrestrita no amor misericordioso de Jesus.

O “Sim, Senhor,...” era a senha dela para uma abertura mais íntima com Jesus; e,
tomada de pura emoção, completa: “...também os cachorrinhos comem das migalhas
que caem da mesa de seus senhores!”. Uma força de fé irresistível transborda de seu
espírito e o elege...
E Jesus, o próprio, a atende. Que mulher venturosa!
Os discípulos perderam a oportunidade de intercessores do Senhor naquele
momento!
Jesus havia colocado que viera para as ovelhas desgarradas de Israel.
Para aqueles, com mais conhecimento, o chamamento aos compromissos, às
responsabilidades, ao aprofundamento...
Contudo, afirmara tantas vezes que os sãos não precisavam de remédio; por
conseguinte, viera para todos.
De tão singular banquete, coisa alguma se perderia; de seu rebanho nenhuma
ovelha; de suas palavras nenhum til...

Para o discípulo do Cristo, só uma coisa pode ser perdida: o tempo ocioso.
140
Therezinha

“A PARÁBOLA DA CANDEIA”

(Lucas 8: 16-18)

16 Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe


debaixo duma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que
entram vejam a luz.
17 Nada há oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido, que não
venha a ser conhecido e revelado.
18 Vêde, pois, como ouvis; e ao que não tiver, se lhe dará; e ao que não tiver,
até aquilo que julga ter lhe será tirado.

(Ver Marcos 4: 21-25)

REFLEXÃO SOBRE “A PARÁBOLA DA CANDEIA”

Como na parábola das virgens insensatas, nesta a candeia se nos afigura como
um símbolo de trabalho profundo com as forças íntimas de quem já despertou para a sua
necessidade de reforma interior e não vacila ante as dificuldades, construindo com
determinação e consciência seus objetivos.

141
“A candeia do corpo são os olhos”, revela aquele que advertiu muitas vezes –
“Veja quem tem olhos de ver”. Praticamente o sucesso e o fracasso de nossos atos e
empreendimentos tem como responsável nosso modo de ver as coisas. O ponto de vista
tem sentido amplo que sobrecarrega o termo de sensatez, discernimento, bondade, fé,
fraternidade e outros tantos valores ou não. Quanta coisa não está melhor porque a
“candeia do corpo” carece de nossa consciência sobre o assunto, por negligência ou
indiferença espiritual. A colocamos “debaixo da cama”, porque dormir na ignorância de
si mesmo é conveniente ou egoísticamente confortável.
Mas, “se teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso”, afirma o
Mestre. Ora, o que quererá dizer Ele com isto senão tudo que já falou, quando converteu
ensinamentos de profunda iniciação em breves histórias de simplicidade popular para
nos alertar que a luta é nossa e que inútil o escapismo, vale a pena a batalha com alegria.
Noutro momento adverte-nos que cuidemos que a nossa luz não seja trevas. Aí
está a Doutrina Espírita para clarear-nos o conhecimento, conduzindo dentro da
liberdade de pensamento, o amadurecimento em bases seguras, a Verdade do Cristo,
pontilhando o caminho para a iluminação do eu. E, sobre a medida com que medirmos
nos medirão e ainda se nos acrescentará; o que significa que, de acordo com as nossas
obras, e da maneira como buscarmos crescer, a bondade e a misericórdia divina nos
farão justiça e serão pródigas, ou teremos o retorno das conseqüências com acréscimo
para melhor registro da lição. Daí compreender-se com mais facilidade a equação divina
de soma e subtração, divisão e multiplicação, tão questionável ainda para o senso crítico
do ser humano, longe de aceitar essa movimentação de investimento arbitrário, até que
de modo prático o sinta na pele.
Sentimos nas palavras de Jesus e em todo o Deu Evangelho que Ele se refere
sempre a um caminho: o de cada um de nós. Todo um esforço para uma direção.
Quando, porém, fala de luz, em qualquer colocação, sente-se que revela um portal, uma
saída para a liberdade, um vôo para o ser, para a entrega, a chegada, o encontro com o
quê, com quem – não importa. Avistando essa luz, é o ponto final, é o começo de tudo, é
a entrada sem saída, sem volta, para ser feliz...

Therezinha

142
A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS

Mateus 25: 1-13

1 Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando suas
lâmpadas, saíram a encontrar-se com o noivo.
2 Cinco dentre elas eram néscias, e cinco prudentes.
3 As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo;
4 no entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas.
5 E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono, e adormeceram.
6 Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro.
7 Então se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas.
8 E as néscias disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas
lâmpadas estão se apagando.
9 Mas as prudentes responderam: Não! Para que não nos falte a nós e a vós
outras; ide antes aos que vendem, e comprai-o.
10 E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam apercebidas
entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta.
11 Mais tarde, chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor, senhor, abre-nos
a porta!
12 Mas ele respondeu: Em verdade vos digo que não vos conheço.
13 Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS

143
Por que virgens?

Parece-nos que virgem seria a figura perfeita para aquelas almas que estavam à
distância do mal, porém, havia cinco que, não se comprometendo com o mal, também
não faziam o bem. Fazer o bem sempre será em primeiro lugar a si mesmo.
O noivo viria para todas; ora, compreendendo-se que o noivo é Jesus, sabido está
que ele veio para todos.
Ocorreu que, como ainda acontece hoje, há espíritos prudentes e néscios, e
consequentemente as que estavam possuídas de real disposição de avistar-se com o
noivo, estiveram alertas, do que percebe-se que há muito estavam com ele em seus
corações; enquanto que as outras confundiram o grande momento com outros tantos
privilégios que a oferta do mundo esbanja, com proveito fugaz e irrisório, perdendo
assim um casamento de ideais sublimes e duradouro.
Como um colar de sábias advertências, esta parábola também está ligada às
demais parábolas, por elos sutis de identificação do espírito da mensagem do Cristo,
planificada de diversas formas para atender a todos os níveis da compreensão humana,
condições e colocações dos indivíduos, e de massa.
Doloroso é: reconhecer o tempo mal empregado, tendo como saldo negativo o
vazio de bens reais.
Divino é: as portas que são os braços amorosos de Jesus, se fechando às suas
costas, isto é, envolvendo-as, enquanto um panorama de espiritualidade se descortina
frente e dentro de você.
É o noivo com quem você antegozou, ainda na terra, o momento do grande
encontro!
Para as virgens que ficaram a bater à porta e da boca do noivo ouviram a
sentença: não vos conheço, a oportunidade se faz urgente; procurar, sem demora, o
azeite da sabedoria com o fornecedor do trabalho no bem e na intimidade do coração,
para que não se permita mais decepções e a treva não lhe complique os passos.

Aqui, uma história contada por Chico Xavier:


“Um aprendiz chegando perto de um pastor de ovelhas, perguntou:
- Se uma ovelha cair na fossa, o que você fará?
O pastor respondeu: - Eu a tiro e carrego.
- Mas, e se a ovelha se machucar, se estiver ferida? – tornou o aprendiz.
144
- Eu a curo, e mesmo se estiver sangrando eu a carrego – retrucou o pastor.
O aprendiz pensou demoradamente e indagou, por fim:
- Mas, e se a ovelha fugir para longe, léguas e léguas?
O pastor zeloso e experimentado, fitando o grande rebanho que estava no vale,
respondeu:
- Eu não posso ir atrás, porque eu não posso deixar todo o rebanho por causa de
uma rebelde... Eu mando o cão buscá-la...”

Therezinha

“AS DUAS ESTRADAS”

Mateus 7: 13 e 14

13 Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz
para a perdição e são muitos os que entram por ela),
14 porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são
poucos o que acertam com ela.

(Ver Lucas 13: 24)

REFLEXÃO SOBRE “AS DUAS ESTRADAS”

Todos gostamos de espaço. Todos viemos dele; todos andamos por ele!
E foi longo e largo o caminho que viemos desde a mônada! Principalmente
dentro de nossas cabecinhas infantis. Não parecia haver sinalização em todo o trajeto.
Tudo nos parecia permitido apesar da lei de retorno em pleno vigor. Éramos regidos
pelas leis e leis naturais as quais sequer suspeitávamos. Medida só quando nos
convinha. Peso só quando nos derrotasse ou favorecesse, então o “território é nosso” e o
mais forte e o mais astuto criava as leis que todos deveríamos reconhecer com forçosa

145
submissão. Se mais inteligente e mais belicoso então, mais extenso se fazia para aquele
o espaço sem embargo. Para os que não podiam confrontá-lo, muitas vezes também não
perdiam a oportunidade de se espalharem na área de seus direitos que se não podiam
impor pela força, o faziam pela ausência de pudor e uma ética que controlasse os
impulsos instintivos.
Eis que por muito tempo a estrada nos pareceu larga, e vimos percebendo com
muito vagar que se estreitava ao pé de nós. Derramamos muitas lágrimas e fizemos
sofrer muita gente.
Hoje, com o advento do Espiritismo, iluminado o nosso caminho, embora
pisando largo pelos hábitos antigos, seguramos o Evangelho confiantes de que os passos
já não desconhecem onde estão, tendo apenas que dar-se tempo útil.

Therezinha
“NÃO VIM DESTRUIR A LEI”

Mateus 5: 17-20

17 Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim
para cumprir.
18 Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um
til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.
19 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e
assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém,
que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus.
20 Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas
e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.

REFLEXÃO SOBRE “NÃO VIM DESTRUIR A LEI”

Hoje seria absurdo imaginar que o Mestre Jesus tivesse tencionado destruir a lei,
uma vez que a palavra do Cristo – já tão difundida dentro de uma história difícil e por
vezes sangrenta – se faz clara pelo processo de repetição, devassando um conteúdo
fechado e levantando véus.
“Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas: não os vim
destruir, mas cumpri-los.” Eis o que veio fazer.

146
Fecundas as leis, até nos dias de hoje não conseguimos desvendá-las todas e as
que podemos comprovar são testes para as nossas forças e desafios para nossa
prepotência. Para as que não queremos respeitar, não sobra a desculpa de ignorância; a
resposta é a lei de retorno, uma das quais também conhecemos.
A posição do Ser, hoje, é singular: assumir o auto-conhecimento à luz do
evangelho; adentrar nos postulados espíritas e viver o momento; carregar a cruz e
valorizar o tesouro do coração, consciente de que vive dentro do hálito divino, como
dele podendo aspirar toda a riqueza de amor de que precise.
Porque “porquanto, em verdade vos digo que o céu e a Terra não passarão, sem
que tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido, enquanto reste um jota e
um único ponto.”
As leis básicas são divinas na procedência e por isso mesmo imutáveis e justas.
Todavia, a sabedoria divina torna-as ricas no desdobramento e aplicação, pasmando a
nossa sensibilidade e expectativa sempre insegura e inocente, com sua misericórdia,
beleza e objetividade. A Misericórdia é a expansão do amor divino; mensagem
magnânima e oportuna, de tão eminente importância que ao encontro dela tudo se
transforma; toda expressão genial do pensamento se faz pueril, toda crítica maliciosa se
perde sem si mesma, só na comunhão pura do espírito para com o seu Criador pode
ocorrer a identificação com Ele e seus segredos, a alegria de perceber o bem, o bom e o
belo.
Suas leis, longe de serem uma ameaça de punição, são pontuações garantindo
estabilidade na estrada da evolução. Luminárias sérias para os distraídos. Código de
segurança para os prudentes. Regra de trânsito para a viagem de volta...

É o Pai que espera!

Therezinha

147
O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA

Lucas 6: 6-11

6 Sucedeu que, em outro Sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora,


achava-se ali um homem, cuja mão direita estava ressequida.
7Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria a cura no
Sábado, a fim de acharem de que o acusar.
8 Mas ele, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão
ressequida: Levanta-te, e vem para o meio; e ele, levantando-se, permaneceu de pé.
9 Então disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito no Sábado fazer o bem ou
mal? Salvar a vida ou deixá-la perecer?
10 E, fitando a todos ao redor, disse ao homem: Estende a mão. Ele assim o fez,
e a mão lhe foi restaurada.
11 Mas eles se encheram de furor e discutiam entre si quanto ao que fariam a
Jesus.

(Ver Mateus 12: 9-14 e Marcos 3: 1-6)

REFLEXÃO SOBRRE A PASSAGEM DE JESUS COM O HOMEM DA MÃO


RESSEQUIDA

148
Entendia Jesus que seu Ministério devia ser franco, claro, sem sofismas nem
mistérios, por isso agia como amigo leal de todos os homens e à altura d’Aquele que
disse em céu aberto “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo!” (Mateus,
cap3-17). É da vontade do Altíssimo que Sua Mensagem à Terra seja a Luz da Verdade
em toda a sua pureza. Eis porque Jesus chama o homem da mão mirrada para o centro
da sinagoga, onde a multidão se apertava. Ali, no meio daqueles que o ouviam de
ouvidos surdos e coração em trevas, que vendo-o não o viam, sendo alguns guias cegos,
tendo a mente cimentada por interesses escusos e presos de convicções vãs, produto da
ignorância, revelava a presença do Pai, que naquele momento se fazia presente entre os
homens na figura do Nazareno. Deus, o Senhor absoluto da Criação, das leis perfeitas e
justas, do tempo, do homem e do sábado!
“E eles silenciaram”, dizem Marcos e Mateus em seus evangelhos.
Diz um dito popular, quando convém, que “quem cala consente”. Ali, calar é
omissão.
O céu azul-noturno salpicado de estrelas esconde no seu silêncio extenso uma
voz, segredando coisas sublimes que o coração adivinha...
O alvorecer expande respeitoso um sussurro do Alto, a despertar em morna voz
os espíritos que retornam de longa escapada...
O dia declinando no ombro da noite faz declarações de amor, contando sua
história e confiando seu repouso...
No silêncio de Deus, vozes falam o idioma do amor!
Só o homem concebe perder as oportunidades privilegiadas do caminho, quando
a dor cede lugar às festas do Espírito!
Eles não conseguiram resistir ao desafio de suas paixões, ao negarem a
oportunidade ímpar de acompanhar o Cristo, para monologar consigo mesmos e selar
então um compromisso com o silêncio comprometedor.
Quantas lágrimas terão derramado por isso?
E continuam chorando...
Todos passamos por fases de natural perturbação, quando temos acidentes no
percurso da evolução. E de mãos ressequidas ou mirradas nos cura o Senhor com a
bênção do trabalho.
Todos silenciamos quando nos convém negar entendimento.
Todos gememos com o mesmo diapasão quando falimos com o mandamento de
amor ao próximo...

149
Jesus nos convida – quem opera é Ele – a participar de suas atividades, porém
respeita nossa decisão...

Therezinha

“ÁRVORES E SEUS FRUTOS ”

Mateus 12: 33-37

33 Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom, ou a árvore má e o seu fruto mau;
porque pelo fruto se conhece a árvore.
34 Raça de víboras, como podeis falar cousas boas, sendo maus? Porque a boca
fala do que está cheio o coração.
35 O homem bom tira do tesouro bom cousas boas; mas o homem mau do mau
tesouro tira cousas más.
36 Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão
conta no dia de juízo;
37 porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás
condenado.

(Ver Lucas 6: 43-45)

REFLEXÃO SOBRE “ÁRVORES E SEUS FRUTOS”

Jesus fala aos homens como às crianças; sua linguagem fluente e singela busca
atender às nossas necessidades mediante figuras do ambiente comum, movimentando-as
graciosamente como as crianças apreciam, dentro de um cenário peculiar a cada um,

150
com roteiro curto, culminância e final imprevisível. A interpretação ele deixa “por conta
do aprendiz”.
Nessa manobra inocente, o recado ...
E Jesus fala ao espírito como aos adultos.
Se os frutos de uma árvore são bons, evidentemente a árvore é boa.... Se são
maus, a árvore que as produziu não está bem.
Também o homem tem nessa construção de palavras o termômetro para
consultar sua temperatura comportamental. A ação decorre do consentimento da
vontade; se a vontade se compraz no mal, a saúde moral não vai bem e os atos de
qualidade reprovável denunciam enfermidade com maior ou menor gravidade. Em
conseqüência, está sob lei natural, que a seu tempo providenciará um tratamento
adequado para restaurar o equilíbrio do paciente.
A avaliação que faça dos próprios valores, resultado do auto conhecimento, leva
o indivíduo ao zelo de seu tesouro, resguardando-o dos salteadores pela vigilância,
enquanto investe no rendimento pelo trabalho.
Para segurança nossa, preveniu sobre os falsos profetas caracterizados de
ovelhas – de todos os tempos – que servem-se de nosso despreparo quanto à fé.
E o Senhor Jesus, frente aos fariseus, conhecendo-lhes bem o coração e o uso
que faziam da palavra de Deus, reprova a “palavra ociosa”, advertindo-os da cobrança
final, segundo os registros do tesouro de seus corações.
“Palavra ociosa”... teremos já refletido sobre isto?
A palavra que sai do coração sai com uma carga de responsabilidade. É disso
que Jesus fala?
O tesouro bem cultivado do coração é precioso no uso da própria palavra,
conquanto esta envolve em conforto e ternura um outro coração. O tesouro bem
cultivado se sublima na transparência do Cristo, segundo o “Vinde a mim” de Jesus.
A fidelidade aos ensinos de Jesus começa em nós.
A dificuldade da aplicação de seus ensinamentos na vivência se enfraquece na
meditação.
A fortaleza de bons propósitos é estruturada pela perseverança.
A convicção e a força da fé se agigantam no espaço da palavra do Cristo.

151
Therezinha

O CREDOR INCOMPASSIVO
Mateus, 18: 23 a 35

23 Por isso o reino dos céus é comparado um rei que quis tomar contas a seus
servos;
24 e tendo começado a toma-las, foi-lhes apresentado um que lhe devia dez mil
talentos;
25 Mas não tendo ele com que pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos,
ele, sua mulher, seus filhos, e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida.
26 Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, tem
paciência comigo, que tudo te pagarei.
27 O senhor daquele servo, pois movido de compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a
dívida.
28 Saindo, ´porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe
devia cem denários; e, segurando-o , o sufocava, dizendo: Paga o que me deves.
29 Então o seu companheiro, caindo-lhe aos pés, rogava-lhe dizendo:Tem
paciência comigo, que te pagarei!
30 Ele,porém, não quis, antes foi encerra-lo na prisão até que pagasse a dívida.
31 Vendo ,pois, os seus conservos o que acontecera, contristaram-se
grandemente, e foram revelar tudo isso ao seu senhor.
32 Então o seu senhor, chamando-o a sua presença, disse-lhe: Servo malvado,
perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste;
33 não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, assim como eu tive
compaixão de ti?
34 E, indignado , o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse o que
lhe devia.
35 Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a
seu irmão.

152
REFLEXÃO SOBRE O CREDOR INCOMPASSIVO

Se o reino dos céua é a VIDA abundante que existe dentro de nós, cabe-nos, pela
qual, como espíritos eternos, o sagrado respeito de reverenciá-la vigiando
nossas ações e atos.
Isso porque, nessa Vida, está tudo que de mais puro e elevado se encontra na
plenitude de sua essência. E que, por destino ou fatalidade divina, atingiremos algum
dia.

Oh, Grande dia! Final de toda treva e dores!

Vale a pena pensar nisso! Reconsiderar tudo quanto a esse respeito falou o
divino Mestre!

Nosso coração se apieda “do credor incompassivo “ quando tomado de surpresa


no acerto de contas em aflitiva circunstância, escorrega desastradamente a seguir, no
seu despreparo ético moral, deixando-se revelar a presença de todos, um espírito
endurecido indiferente e frio de sentimentos, perturbando-se entre o dever de gratidão
e o acesso de cólera inevitável. Um quadro que até conhecemos bem em nossa
caminhada como espíritos ainda frágeis e imprevidentes, assaltados pelo egoísmo e
esquecidos de - tão apreciados e não vividos - preceitos do Cristo, em momentos de
prova.

Não apenas teremos rubras as faces, de vergonha, e pudor, quando nos


sensibilizar o amoroso suspiro de Jesus banhado em sangue e espinhos após torturas e
humilhações, ingratidão e brutalidade inominável nos descobrirmos vestidos de
arrogante egoísmo, vaidade e prepotência contra nosso irmão, a uma distância sem
medida – de JESUS – que nos alivie a consciência.

“PAI PERDOA-LHES PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM!”

Reflitamos nós ao orarmos a prece que Jesus nos orientou elevar a Deus: “Pai,
perdoa-nos as nossas faltas assim como nós perdoamos o nosso semelhante”.

153
Therezinha

O PROFETA EM SUA TERRA

Mateus 13: 53-58

53 Tendo Jesus proferido estas parábolas, retirou-se dali.


54 E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se
maravilharam, e diziam: Donde lhe vem esta sabedoria e poderes miraculosos?
55 Não é este o filho do carpinteiro? não se chama sua mãe Maria, e seus irmão
Tiago, José, Simão e Judas?
56 Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto?
57 E escandalizavam-se nele. Jesus porém, lhes disse: Não há profeta sem
honra senão na sua terra e na sua casa.
58 E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.

(Ver Marcos 6: 1-6 e Lucas 4: 16-30)

REFLEXÃO SOBRE O PROFETA EM SUA TERRA

(...) por causa da incredulidade deles.

Que dizer da nossa, oh!, homem do Terceiro Milênio?


Homem que visita a estratosfera; que imerge nos segredos do cosmos; atira-se no
inconsciente profundo e devassa o passado; que desafia o tempo e domina o espaço, e
progride incessantemente em todas as áreas da ciência, cada vez mais ousado e
investigador dos mistérios que o cercam dentro da barreira de suas limitações.

154
Personagem brilhante rumo ao desconhecido... Porém, que o impede de investigar, de
verdade, o campo da Fé?
Todo avanço que temos tido conhecimento; tudo quanto temos realizado e visto
realizar, conscientemente é mérito humano, é produto da fé humana, isto é, a confiança
do homem na própria capacidade, a fé em si mesmo.
A nosso ver, o homem está crescendo inversamente: desenvolvendo mais na área
tecnológica, sem que, ao menos, paralelamente, tenha crescido moralmente, o que de
certo o expôs a enganos gravíssimos no uso indevido de suas faculdades intelectuais;
haja visto as conseqüências funestas pelo mau uso de muitas de suas conquistas.
Entretanto, sabe-se que o Pai a tudo está presente, e presente nas forças
espirituais que presidem este planeta; por conseguinte está tudo certo.
Compreendendo que a primeira inclinação natural do ser seria a familiarização
com a sua estrutura rude e o seu “habitat”, e que a reação das forças internas resultariam
nas manifestações mais grosseiras para fazer frente às necessidades de contato e
adequação, o Senhor Deus favoreceu quanto possível a sua criatura, concedendo-lhe
tempo e provisão, investindo mais, proporcionalmente ao seu desembaraço.
Acompanhado sempre de perto, nunca perdido das vistas do mais Alto em suas
experiências, o homem se permitiu experimentar a liberação de outras forças que a seu
tempo eclodiam, impulsionando-o para a frente. Foram para o espírito eterno etapas
longas e penosas, que, vestido no corpo de homem, de buril em punho, sem o saber
construía e preparava o templo de Deus na sua intimidade.
Quis o Pai, que atendessem ao amadurecimento do homem os recursos que se
fariam necessários para que a atuação do homem viabilize a grande demanda de tarefas
que o aguardavam ao amanhecer.
Inteirando-se de sua destinação superior, pós decepções e equívocos, surpreende-
se com tal importância e vacila, não obstante sinta que nova força trabalha no silêncio
de sua consciência divina. A fé se desenvolvendo em sagrada gestação...
Por tudo isto, Deus aguarda, em ação. Sabe do valor deste momento...
Jesus não pode fazer milagres para aquela gente por causa da sua incredulidade,
diz o texto. Mas que foi feito de suas pregações naquelas paragens? Por que ficou o
povo só na admiração? Que ficaria para a eternidade, suas palavras ou os milagres?
Aquela gente, afinal, tem um atenuante: o véu da letra. Hoje, a Doutrina Espírita está
despida de mistério, explicando e restaurando aquelas palavras...
Mas, que buscamos nas casas espíritas, os fenômenos ou os bonitos discursos?

155
Therezinha

EXULTAÇÃO DE JESUS

Mateus 11: 25-27

25 Por aquele tempo exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos
pequeninos.
26 Sim, ó pai, porque assim foi do teu agrado.
27 Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e
ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.

(Ver Lucas 10: 21,22)

REFLEXÃO SOBRE “EXULTAÇÃO DE JESUS”

Como nos sentiríamos – eu particularmente – sentados sob acolhedora árvore, de


olhos e alma fixos no Mestre; aquela imponente figura, poderosa de magnetismo, amada
por nossos corações? Elevando o pensamento ao Pai diante de nós, exultante de amor
para agradecer-lhe e louvar-lhe a sabedoria pelo que revela aos pequeninos e deixa
oculto aos grandes da terra, como lhes convém?
Que quadro poderíamos nós presenciar, que nos conscientizasse mais da
urgência da reforma íntima, com mais alegria e determinação?
Somos os grandes ou os pequenos da Terra?
Já podemos ver com “olhos de ver’?
Podemos ouvir, com “os ouvidos de ouvir”?

156
Como anda nosso trabalho com o orgulho que também chamamos “nosso”, com
muito orgulho?
E a vaidade, sempre tão faceira na abordagem ao nosso ego?
A sabedoria divina está disponível!
Nossa humildade também?
Jesus tem revelado o Pai aos servos fiéis!
O seu Evangelho é o edifício da revelação do Pai ao homem; este entrará com a
chave da Doutrina Espírita se fizer-se pequenino...

Therezinha

“ AS CIDADES IMPENITENTES ”

Mateus 11: 20-24

20 Passou, então, Jesus, a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos
milagres, pelo fato de não se terem arrependido.
21 Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidom se
tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam
arrependido com pano de saco e cinza.
22 E contudo vos digo: No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom,
do que para vós outros.
23 Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás até ao
inferno; porque se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram,
teria ela permanecido até ao dia de hoje.
24 Digo-vos, porém, que menos rigor haverá no dia do juízo para com a terra
de Sodoma, do que para contigo.

(Ver Lucas 10: 13-16)

REFLEXÃO SOBRE “ AS CIDADES IMPENITENTES ”

157
“Ai de ti...”
Aviso...ameaça...predição...dor?!
Ai de mim... Senhor!

Quantos séculos de dolorosa luta no tabernáculo da alma terão vivido, desde


então aquelas cidades que, cegas por opção, não viram a Grande Luz a seu pé!
A perda é imponderável! Consciências internadas nas trevas em convulsões
sentimentais estratificantes, corroídas de remorsos e inconformação estremunham sem
lembrar que para todos o Cristo tem abertos os braços redentores.

É possível passar os olhos de leve neste relato histórico e lamentar que, tendo
tido a oportunidade de estar frente a Jesus, vendo-o curar enfermos e endemoninhados,
ouvindo a sua voz poderosa e doce, aprendendo seus ensinamentos, tenham os
habitantes daquelas cidades virado as folhas de sua história, indiferentes e frios.
Coisa alguma consta no Evangelho de Jesus que não seja, para cada um de nós,
um recado com tinta forte e endereço certo.
No meu mundo íntimo, que cidades possuo? Qual a sua expansão, os seus
limites, os seus planos de ação? Sob que processo alcança-me o ser em evolução? Que
fazem lá a indiferença, o desânimo, a dureza, o desculpismo e a cupidez? Que sistema
de governo prevalece? De que perfil ético e recursos dispõem?
Como fortalecer no meu mundo as potências superiores, a fim de que, solidárias
àquelas, possam esprair suas experiências, sua vibração holística e sua unidade de ação,
fundamentadas no respeito a seu glorioso destino?
A Doutrina Espírita à luz do Evangelho de Jesus é o código de harmonização do
conjunto espiritual e perispiritual que responde pelo Ser integral, até que possamos ser
um com o Senhor Jesus.

Therezinha

158
A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS

Mateus 21: 28-32

28 Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, chegando-se ao


primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na vinha.
29 Ele respondeu: Sim, Senhor; mas não foi.
30 Chegando-se, então, ao segundo, falou-lhe de igual modo; respondeu-lhe
este: Não quero; mas, de pois, arrependendo-se, foi.
31 Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram eles: o segundo. Disse-lhes
Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no
Reino de Deus.
32 Pois João veio a vós no caminho da justiça, e não lhe destes crédito, mas os
publicanos deram e as meretrizes; vós, porém vendo isto, nem depois vos arrependestes
para crerdes nele.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS

Parece-nos que esta parábola, aparentemente tão simples, toca nossas almas
muito diretamente.
Um pai, dois filhos, um convite especial, um diálogo breve e uma situação tão
familiar... Mas, uma pergunta aguda mexe com a gente lá no departamento secreto do
coração!
Dissemos SIM para Jesus, mas estamos fazendo a vontade do Pai?
Oramos: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Temos
procurado entender a vontade de Deus? E porque não temos? Falta-nos coragem, como

159
faltou ao servo dos talentos? Medo de sua austeridade? Receamos assumir a veste
nupcial a rigor, como o convidado da festa das bodas?

Responderam eles: “o segundo”. Também nós concordamos, não foi o primeiro.


É sempre mais fácil vermos as falhas alheias.
E Jesus sabiamente nos responde: os publicanos e as meretrizes deram crédito à
bondade de Deus, não o temeram, não recuaram diante da sua austeridade, aceitaram o
convite das bodas com as imperfeições de que eram dotados e com humildade vestiram
a veste que fez brilhar a sua sinceridade e a pureza de sentimentos.
Que prever da história do primeiro, que já não saibamos? Decerto novos
chamados se fizeram, talvez depois de uma sede e uma fome espiritual tão grandes que
moveram as torrentes da água da vida e sensibilizaram os guardas fiéis da alimentação
dos escolhidos.
Que prever do final feliz daquele que atendeu ao Pai? Trabalho e um
envolvimento integrado com o pensamento de Deus; a consciência do bem; a paz que o
mundo não dá; a esperança que torna sereno o coração; o desapego às coisas perecíveis
sem desprezá-las. E, mais adiante, uma convivência plena com o Pai.
Sim e Não. Duas palavras pequeninas, que têm sido responsáveis por graves
acontecimentos que mudaram o curso de muitas vidas, o enredo de muitas histórias.
Palavras simples que carregam-se do poder de decisões, e feliz de nós quando, no
campo espiritual, a movimentação interior clama por um SIM!

Therezinha

160
“PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO”

Lucas 18: 1-8

1 Disse-lhes Jesus uma parábola, sobre o dever de orar sempre e nunca


esmorecer.
2 Havia em certa cidade um juiz, que não temia a Deus nem respeitava homem
algum.
3 Havia também naquela mesma cidade uma viúva, que vinha ter com ele,
dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário.
4 Ele por algum tempo não a quis atender; mas depois disse consigo: Bem que
eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum,
5 todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não
suceder que, por fim, venha a molestar-me.
6 Então disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo.
7 Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dis e noite,
embora pareça demorado em defendê-los?
8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do
homem, achará porventura fé na terra?

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO JUIZ INÍQUO

Bela parábola para nosso coração!

161
Três figuras distintas entre si nos revelam pontos igualmente bem distintos,
formando um símbolo de comunicação incisivo na questão de nos posicionarmos para
orar. Tímidos quanto ao nosso merecimento, e inseguros quanto à viabilidade da
comunicação, influenciamos nossas orações que afetas na convicção, logo esmorecem.
Se a fé está presente em todo empreendimento de sucesso, por que não estaria no
intercâmbio com o mundo espiritual, com o qual já vivemos interligados? Na terra, a
cada passo o progresso nos aproxima uns dos outros, através de modernos aparelhos que
simplificados na forma e no uso tornam-se acessíveis a qualquer pessoa, sem que se
faça necessário o conhecimento de eletrônica. Que pensar, pois, da sofisticada “máquina
do pensamento humano”, sensível ao mais leve toque do sentimento, com o fantástico
poder de influenciar o organismo físico, abatendo-o ou sustentando-lhe a saúde;
revolucionando todo um sistema nervoso, glandular ou circulatório, objeto ainda de
apurados estudos, carregando ou descarregando combustão energética para fulminar
toda uma estrutura minuciosamente fortificada em sua formação, com um arsenal de
defesa admirável, ou para reerguer um corpo desenganado pela ciência da terra,
causando perplexidade geral.

Que está por trás de tanta força?


Será alguma coisa parecida com FÉ?
Alguma coisa que “move montanhas”?

O Juiz acreditava em sua própria filosofia de vida e não buscava na reta diretriz
de Deus orientar-se. Não dava importância às súplicas humanas, ou guardava no
coração a linha dura da justiça em que aprendera a crer; verdade é que se mantinha
fechado à toda abordagem da mulher que insistia em recorrer.
A viúva, que parecia ter um caráter forte e decidido, estava consciente do que lhe
parecia de direito, cria firmemente que alcançaria o seu objetivo e não desanimou
jamais.
O Juiz de todas as causas, o Pai Celestial, aquele que guarda para seus filhos a
expansão do Universo com tudo que nele existe, para uma convivência com ele para a
eternidade, a pretexto de qual economia negará a um de seus filhos qualquer bem que
seja?
Por isso, Jesus sabiamente nos afiança: Ore, nunca desfalecendo.

162
Vers. 8. Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho
do homem, achará porventura fé na terra?
Essa pergunta sendo de Jesus, dói-nos lá dentro da alma, porque depois de tudo
que ele nos deixou, de tudo que demonstrou de seu amor, de sua sabedoria, de nos fazer
conhecer que o Pai enviaria após ele o Espírito de Verdade; a sua previsão clara a
respeito de nós, é de dúvida?

A resposta é nossa. E, se hoje podemos ver um pouco mais, a resposta é luta.


Não há mais tempo para respondermos com som labial. É o silêncio nas
entranhas do eu, e o compromisso com a resposta positiva no esforço de cada momento.
A cartilha foi há dois mil anos. Estivemos nos diversos cursos da vida multiplicando
conhecimentos gerais e experiência prática na privacidade da alma, pagando muitas
vezes preço alto à dor física e moral, enterrados nas trevas da ignorância que ensina sem
complacência ou sorvendo lenitivos do céu, muitas vezes alheios à infinita misericórdia
daqueles que se privam de sua plenitude de luz para nos confortar na caridade anônima.
É preciso ganharmos consciência disso. Valorizarmos o quinhão que temos em
mão. Não enterrá-lo como fez a figura do talento, que é uma caricatura nossa.
Procurarmos, como a mulher da drácma perdida, as sementinhas de amor e de
verdade que existem em nós, e como o semeador, acompanhar seu desenvolvimento,
regando-as no trabalho, oferecendo-lhes a luz da boa leitura, e aguando suas raízes
sedentas com a água do amor cristianizado, revolvendo a terra entumecida da ignorância
e do comodismo, para que na hora da colheita toda a “terra” do coração seja uma
realidade de florescência.
Empregarmos bem o tempo de que dispomos, com matérias saudáveis e
fecundas, a fim de que não tenhamos no caminho de volta, por contingência alheia a
nossa vontade, de nos alimentar da ração dos porcos, como desejou o “filho pródigo”
por não reconhecer de pronto outro meios.
Nem esperarmos a última hora, como se tivéssemos poder sobre o dia de
amanhã, porque em verdade já nos encontramos na derradeira. “Os trabalhadores da
última hora” foram inteligentes e dinâmicos.

“Não guardes o amanhã, nem postergues a ação para o futuro.


O seu momento começa agora. Depois será sempre mais difícil, estarás mais
combatido e mais temeroso.”

163
Joanna de Ângelis

E com a ajuda do Divino Mestre, chegaremos a ele em tempo de dizer-lhe: “eis


que me destes um talento e te devolvo mais estes...”

Therezinha

AS ADMOESTAÇÕES

Mateus 10: 16-23

16 Eis que eu vos envio como ovelha para o meio de lobos; sede, portanto,
prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.
17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos
açoitarão nas suas sinagogas;
18 por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para
lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios.
19 E, quando vos entregarem, não cuideis em como, ou o que haveis de falar,
porque naquela vos será concedido o que haveis de dizer;
20 visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala
em vós.
21 Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai ao filho; filhos haverá que
se levantarão contra os progenitores, e os matarão.
22 Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que
perseverar até ao fim, esse será salvo.
23 Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em
verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, até que venha o
Filho do homem.

REFLEXÃO SOBRE “AS ADMOESTAÇÕES”

164
Eis um código de vida que desafia gregos e troianos! Eis um desafio para os
educadores atuais, ante a perplexidade de que se acham possuídos frente aos resultados
da Educação “moderna” e a cobrança de Novos Tempos.

A voz do Cristo ainda ecoa com firmeza e vigor, desenrolando-se de uma carga
ardente de amor através dos séculos, chamando o espírito encarnado à luz.
É a voz do Educador por excelência!
Ele sabe que não deve deter o ser “debaixo de suas asas, como a ave agasalha
seus filhinhos”. O espírito foi criado para as alturas. O Cristo segue-o, mas ele deseja
ganhar o espaço. Por intuição profunda sabe o endereço final.
E o Cristo indica o roteiro seguro para a grande empreitada; sua voz deve soar
no imo da alma.
Lobos e cordeiros em campo. Todos em serviço.
O Pai permite. Por quê?
Estratégia Divina! O amor, sempre o amor, a pauta da história que terminará
bem por desígnios superiores.
Mas o Senhor Jesus adverte sobre o que se deva projetar sobre a auto-educação,
tendo como partida o auto conhecimento, inadiável então.
A missão exigia. Era preciso estar acordado, quis dizer Jesus.
Interessante: observemos que fica claro que para o trabalho de auto-educação é
necessário estar desperto, e estando alerta, ocorre uma necessidade acentuada de
trabalhar o auto conhecimento. Nisto precede sempre um certo amadurecimento.
O mergulho no eu é arrojo a que poucos se habilitam sem o escafandro do
Evangelho. E a educação espiritual de si mesmo é luz a crescer na alma.
A Perseverança brilha na mensagem de Jesus como uma meta que o seguidor do
Cristo tenha de abraçar para alcançar a vitória final.
Se hoje os que querem servir a Deus já não vão para as arenas, nem precisam dar
testemunhos vivos de fé ante os reis e governos sob pena de punição e morte, há ainda
discriminação e perseguição silenciosa entre os religiosos e até no meio de
correligionários que lêem a mesma cartilha, dentro de grupos bem constituídos e
respeitáveis, o que pede um esforço à parte de quem pelo bom nome da doutrina que
professa cala, ora e trabalha.
A lei de evolução é para todos, e lobos e ovelhas não fugirão a ela, entretanto se
uns andam nas trevas e se comprazem nela, outros lutam por emergir para a luz – para

165
estes, toda a ternura do Pai se desdobra e cobre de favores, enquanto aguarda os outros...
para quando?
Algum dia... certamente.

Therezinha

PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR INFIEL

Lucas 16: 1-13

1 Dizia Jesus também aos seus discípulos. Havia certo homem rico, que tinha
um administrador, e este foi acusado perante ele de estar dissipando os seus bens.
2 Chamou-o então e lhe disse: Que é isso? Que ouço de ti? Presta contas da
tua administração; porque já não podes mais ser meu administrador.
3 Disse pois o administrador consigo: Que hei de fazer já que o meu senhor
me tira a administração? Para cavar, não tenho forças; de mendigar tenho vergonha.
4 Agora sei o que vou fazer, para que, quando for desapossado da
administração recebam em suas casas.
5 E chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, perguntou ao
primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
6 Respondeu ele: Cem cados de azeite. Disse-lhe então: Toma a tua conta,
senta-te depressa e escreve cinqüenta.
7 Perguntou depois ao outro: E tu quanto deves? Respondeu ele: Cem coros
de trigo. E disse-lhe: Toma a tua conta e escreve oitenta.
8 E louvou aquele senhor ao injusto administrador por haver procedido com
sagacidade; porque os filhos deste mundo são mais sagazes para com a sua geração do
que os filhos da luz.
9 Eu vos digo ainda: Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça;
para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
10 Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; quem é injusto no pouco
também é injusto no muito.
11 Se pois no alheio não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
12 E se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?

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13 Nenhum servo pode servir a dois senhores; porque ou há de amar a um e
odiar ao outro; ou há de dedicar-se a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a
Deus e às riquezas.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR INFIEL

Quem nos acusará da dissipação dos bens do amoroso Pai?


A consciência, com certeza.
Em contra posição por ela, só advoga a ignorância. E por quanto tempo
apreciaremos os seus serviços?
E o senhor rico chama-o à sua presença – esperou por isto? – Acaso o Senhor
ignora a movimentação de seus servidores, ou lhes concede tempo para despertar?
A paz de consciência ao lhe pedir contas entra em colapso... percebe que já
não tem condições de olhar nos olhos de seu senhor.
Em meio ao revés, a angústia, a pausa que faltou para refletir sobre sua
insensatez.
Ante a sensação de perda, valoriza a oportunidade de progredir corretamente.
A consciência alteia a voz que se faz límpida e chama-o a si.
Está só.
Antes que desfaleça acolhe um aceno que lhe faz a mente como uma
alternativa de emergência.
Localiza onde e como a dissipação dos bens de seu senhor. Levanta-se e
reajusta contas com os devedores reconhecendo-lhes os prejuízos, abrindo mão de suas
vantagens indébitas angariando crédito e amizade para futuros empreendimentos.
Sabedor do procedimento do seu administrador, entende o Senhor daquele
servo que ele procedeu bem em causa própria.
Quantos de nós teremos dentro da oportunidade concedida por Jesus de falar
em seu nome, de trabalhar na seara do Cristo nos apropriado indevidamente das
verdades evangélicas para obter fundos lucrativos à custa de bolsos magros e rostos
pálidos com promessas de garantia de salvação forçados pelo medo da justiça divina.
Mas, Deus continua enviando os seus mensageiros a sussurrar no imo das
almas descuidadas de seus compromissos e responsabilidades que profetizam em nome
de seu amado filho dizendo o que ele não falou; e tão numerosos de modo que se
pudéssemos vê-los não haveria noites na Terra...

167
Que se não espere o momento do acerto e a suspensão da bela missão; não
obstante o Pai ofereça oportunidade de redenção o reparo com sofrimento é por nossa
conta.
“Não podemos servir a Deus e a Mamon.”
“Com Deus não se brinca: aquilo que semeamos, isto mesmo teremos de
colher.”
A riqueza de Deus é tudo que existe e tudo que existe é obra d’Ele e nada
existe sem Ele.

Therezinha

JESUS PÕE À PROVA OS QUE QUERIAM SEGUÍ-LO

Lucas 9: 57-62

57 Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que
fores.
58 Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis e as aves do céu,
ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
59 A outro disse Jesus: Segue-me. Ele, porém, respondeu: Permite-me ir
primeiro sepultar meu pai.
60 Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu,
porém, vai, e prega o reino de Deus.
61 Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me
dos de casa.
62 Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha
para trás, é apto para o reino de Deus.

(Ver Mateus 8: 18-22)

REFLEXÃO SOBRE JESUS PÕE À PROVA OS QUE QUERIAM SEGUÍ-LO

E houve os que quiseram segui-lo...


E foram?
Também nós queremos!
168
Mas...
Diante da assertiva do Senhor Jesus de que para segui-lo deve séria disposição e
real determinação conduzir o discípulo – o que não significou negativa por parte de
Jesus – fica clara uma proposta ajuizada de avaliação das forças internas.
Por vezes nos permitimos empolgar por figuras que nos impressionam pelo
carisma ou por alguma aventura que nos agradam as emoções...
Os ninhos são para os pequeninos indefesos; os covis são abrigo para as
criaturinhas que ainda não podem prescindir do conforto da matéria.
Aquele que descobriu em si a alegria em servir e saciou a sua sede e a sua fome
no amor do Cristo, dele não quer separar-se , e mais cedo ou mais tarde sem dificuldade
vai buscar acompanhá-lo ainda que devagar, mas resoluto.
Enquanto nos comprazemos com as iguarias perecíveis mais que com o Pão da
Vida, algemados pelas convenções da Terra, somos indecisos e tímidos por atavismo, ou
sensíveis ao prurido dos mexericos; ou como mariposas procurando luz sem
discernimento e bom senso, bem longe do conhecimento que liberta, não estamos aptos
a seguir as pegadas do Cristo com a força que o empreendimento requer.
O Senhor não prega a dissolução da família nem o desrespeito ao corpo querido
que está sob nossos cuidados. A palavra não compromete seus ensinos, antes consolida
o anseio da alma, que quer superar-se e realizar-se apesar de presa às preferências
terrenas. Uma vez consciente do direito pleno de “cuidar das coisas de meu Pai’, como
ele mesmo exemplificou, o espírito saberá cumprir seus deveres cívicos, sociais e
fraternos sem prejuízo dos compromissos espirituais.
Por isso, “a seara é grande e os trabalhadores são poucos”...

Therezinha

169
“O DISCÍPULO DE CRISTO DEVE LEVAR A SUA CRUZ ”

Lucas 9: 23-27

23 Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia
tome sua cruz e siga-me.
24 Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; quem perder a vida por
minha causa, esse a salvará.
25 Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se, ou a
causar dano a si mesmo?
26 Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se
envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos
anjos.
27 Verdadeiramente vos digo: Alguns há dos que aqui se encontram que de
maneira nenhuma passarão pela morte até que vejam o reino de Deus.

(Ver Mateus 16: 24-28 e Marcos 8: 34 ; 9: 1)

170
REFLEXÃO SOBRE “O DISCÍPULO DE CRISTO DEVE LEVAR A SUA CRUZ

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim...”


A proposta de Jesus não discrimina. A evidência de sua relação com todos é o
propósito de sua missão. A relação de cada um com ele é pessoal. Por isso,
naturalmente, ele esclarece aquele que deseja ir após ele.
“Negar a si mesmo” não significa anular-se. As pegadas do Mestre pedem o
discípulo inteiro, vivo, consciente.
“Negar a si mesmo” , interpretado ao pé da letra, seria invalidar o supremo
mandamento de Jesus: “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti
mesmo”. Colocando-nos em segundo lugar, esse mandamento amarra um trio de alta
singularidade, nos auto-responsabiliza e elege. E com o nosso próximo “à tiracolo”,
temos um compromisso ainda maior para com o nosso trato pessoal: a auto-educação
com a ética à luz da doutrina e sobretudo com a consciência.
Poderemos entender que renunciar ou negar a si mesmo seja desnudar-se?
Desnudar-se de tantos farrapos da veleidade humana. Permitir-se desligar das sombras
persistentes do homem velho, cheio de manias, cismático e inseguro? Estas coisas
deixadas no caminho da renovação não farão falta; antes terão sido substituídas por uma
leveza incomparável e gratificante. O processo de preparação para a jornada com o
Cristo é longo e lento, mas é possível – ele sabe!
Não obstante a Luz estar entre nós há tanto tempo, verdade é que também há
muito tempo viemos nos comprazendo com as trevas ou a penumbra, alheios à grandeza
espiritual embutida nas coisas mais simples e tentando refletir uma nesga de luz que
fosse, para nos despertar para um viver mais identificado com os nossos verdadeiros
destinos na carreira de construtor do eu.
Mas a gente vivia! Respondemos apressados. Certamente que sim. Essa
passagem pelos vales onde o sol do conhecimento e da libertação se atrevia visitar foi
sem dúvida experiência preciosa, enquanto o modelo de barro era pesado e necessária a
influência em nossa formação. Dolorosos períodos que identificávamos como vida, por
não precisar iguarias mais finas que aguçassem o paladar em outros níveis.
Passadas as primeiras fases, grassou a fome e a sede, cujo recurso salvador não
se encontrava nos rios nem nos campos da mãe Natureza. O alimento não parecia ser
sólido; a água não era aquela que um copo satisfaz. Onde buscar?... A fome parecia vir

171
de muito longe... a sede, de onde vinha? Eram as primeiras dores; aquelas que o mundo
não trata... não cura...
“Bem-aventurados os aflitos..., os que têm fome e sede...”
E de repente o Ser descobre que a fome e a sede vêm de dentro e se permite
buscar o alimento e a água que abundam no Cristo interno – grande descoberta! Eis a
VIDA de que Jesus fala!
A cruz gera a luz!

Therezinha

“APRENDEI DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE CORAÇÃO”

REFLEXÃO “APRENDEI DE MIM QUE SOU MANSO E HUMILDE DE


CORAÇÃO”

Jesus diz aprendei. Ele sabia o quanto isso nos custaria; quem sugere um
aprendizado sabe que pede um tempo.
Desde quando estamos na Terra aprendendo e aprendendo durante as vinte e
quatro horas do dia? Pode ser que não tenhamos consciência disso, mas a experiência
pode não ter logrado proveito imediato, porém, como uma semente valiosa que não
perde suas propriedades vai se acomodar no tempo à espera de fecundação.
A repetição progressiva da experiência parece no processo de aprendizado – às
vezes – inoperante, mas o resultado ainda que tardio é base sedimentada.
Jesus diz: aprendei de mim. Eleva-se o aprendizado: é curso de elevação.
A palavra de Jesus vem do Alto; é compromisso à vista!
Jesus, porém, nos tranqüiliza e encoraja oferecendo um curso de experiências
vivas dentro da paisagem humana onde foi o Mestre por excelência.
Seus ensinamentos não eram teóricos. As lições arrebataram corações cujas
terras do coração eram férteis e como redes tecidas de ternura e sabedoria retiram ainda
hoje, do mar de dificuldades, para as águas da vida eterna de paz e verdade o espírito
que almeja a libertação.

172
Todo detalhe de sua lições fazem parte de um mesmo objetivo que é atingir, o
espírito encarnado, a realização do Homem-Pleno ou o Homem Integral. Por isso, os
seus exemplos associados às suas parábolas têm um só enredo. Não foi importante uma
sequência, princípio, meio e fim tem o mesmo sabor, o mesmo espírito que vivifica e
diviniza.
Os ensinos de Jesus na Terra são para o espírito encarnado – para o homem.
Para o homem a peça insubstituível para o seu curso de elevação é o outro
homem. No relacionamento entre eles porém, o grande entrave.
E Jesus se coloca entre os homens como a solução.
“Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração.”

Therezinha
“AS BEM-AVENTURANÇAS”

Mateus 5: 1-12

1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse,


aproximaram-se os seus discípulos;
2 e ele passou a ensiná-los, dizendo:
3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
4 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
5 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.
6 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
7 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.
8 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
9 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus.
10 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos
perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós.
11 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois
assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.

173
(Ver Lucas 6: 20-23)

REFLEXÁO SOBRE AS BEM-AVENTURANÇAS

A idéia que a expressão BEM-AVENTURANÇAS nos passa é de felicidade real,


sobre o qual o “Evangelho segundo o Espiritismo” nos fala com muita propriedade.

Estar feliz não significa exatamente ser feliz. Um estado é temporário ou


circunstancial, outro é permanente. E nós podemos vivê-los integralmente, mediante o
estado evolutivo – que não precisa ser de perfeição, mas de interiorização e consciência.
O Reino dos Céus não é daquele que está sendo humilde, mas do que é; embora
aquele que apenas está sendo humilde possa beneficiar-se dele, pelo fato de gozar
eventualmente da sintonia de tão elevado estado.

Consolados serão os que sofrem suas fraquezas com sincero desejo de se


melhorar e esforço íntimo de reforma interior. Modelo de felicidade antecipada “aquela
que se busca para a eternidade.
A terra se dará àquele que a conquista pelos valores da mansuetude, trabalhados
no exercício da fraternidade, da paciência, do discernimento e da piedade.
Fartos e saciados serão os que tem fome e sede da Verdade, porque ela os fará
livres.
Misericórdia é amor em ação, e os que vivem em si mesmos já colaboram com
Deus na construção da felicidade.
Ver a Deus é condição de quem O procurou seguindo em direção a Ele,
higienizando a alma de toda impureza.
Filhos de Deus, isto é de Seu Coração, é o que não satisfeito em ser seu filho,
vive a sua mensagem de Paz dentro e fora do seu coração.
O Reino dos Céus é estado de Bem-aventurança permanente do espírito que,
procurando fazer brilhar a Verdade, persegue a Luz de Deus e sua Justiça.

174
Finalmente, grande é o galardão que goza por mérito próprio; aquele que tem
firme sua posição de obreiro do Senhor e só Dele ouve a voz.

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO PORQUE DELES É O


REINO DOS CÉUS”

Mateus 5: 3

3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.

REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO


PORQUE DELES É O REINO DOS CÉUS”

O materialista é como uma casa fechada ao sol, não obstante reconhecido o


brilho de luzes conquistadas por esforço próprio na intimidade intelectual, na expressão
verbalizada ou na frente de movimento idealista, político ou social; ou, ainda,

175
interagindo com eficiência nos grupos de proposta altruística – ou seja, pessoa dotada de
virtudes outras que engrandecem o ser humano.
O pobre de espírito pode não ser erudito nem versátil; não ter projeção social ou
ter destaque por suas qualidades intelectuais ou morais; ser, por exemplo, pessoa de
sucesso, mas são como casa aberta à luz que se projeta para além da alvenaria...
Em ambos os casos, na estrutura humana que ainda compõe a humanidade
terrena reside o orgulho, a vaidade, o ciúme e toda uma família de difícil acomodação.
Porém, para os membros da primeira família falta um modelo harmonizador...
A partir da premissa de que Deus não discrimina seus filhos, todos temos as
mesmas oportunidades de crescer, de prosperar material e espiritualmente; de estacionar
no sofrimento supérfluo, de caminhar com ou “sem” Ele...
Mas, a colheita é nossa...
O espírito veio há muito aprisionando tudo que lhe pareceu convir. Com o passar
do tempo, porém, descobriu que o cansaço é resultado de muita quinquilharia levada aos
ombros, que deixou que caísse aos poucos em troca de pequenas especiarias de real
valor...
E o espírito rico de materialidade foi ficando pobre... e bem-aventurado.

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM PORQUE SERÃO


CONSOLADOS”
Mateus 5: 4

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM PORQUE


SERÃO CONSOLADOS”

176
O verbo chorar denuncia emoção que pode ser agradável, breve, profunda,
nervosa, odienta ou amorosa, ligada a uma vitória ou um ganho feliz, ou a um fracasso
iminente e real; enfim, uma lágrima traduz prazer ou sofrimento.
Mas... Jesus diz: felizes os que choram.
Quando nós falamos de felicidade, falamos de símbolo identificável com as
alegrias imorredouras naturais ao Reino dos Céus.
No estágio evolutivo em que nos encontramos, isto transparece à nossa razão
como algo rudimentar, incompleto, fugaz ou distante.
Quando o Senhor Jesus fala de felicidade, refere-se à bem-aventurança ou
felicidade real – aquela que o mundo não dá. Logo, se é bem-aventurado o que chora é
porque a lágrima lhe vem da alma. Sendo tocado o espírito, significa que comoções
foram desencadeadas no sentido de promover renovação no solo da alma para novo
plantio. A terra improdutiva roga socorro.

Só o espírito pode se conectar com a ventura do Reino dos Céus que o possui.

Nós não possuímos o Reino do Céu, porque ele é e nós estamos por ser.

A criança pressente e convive com a pureza do Reino dos Céus, com o qual tem
temporária afinidade. Ela percebe que lhe pertence por natural procedência, mas não o
localiza. Aos poucos, se distancia rumo à materialidade.

A lágrima virá da saudade inconsciente daquele bem que ficou para trás e a dor
do desejo de retornar?

Verdade é que a ventura de que fala Jesus é aquela que a lágrima prenuncia: uma
abertura da alma para um colóquio amoroso com o Cristo, um despertar do
entendimento do espírito, indício de transformação...

Lembremos Maria chorando com o mais profundo sentimento de gratidão aos


pés de Jesus, enxugando-os de suas lágrimas com os próprios cabelos, enquanto os
perfumava com as melhores essências. Era como se ela quisesse demonstrar que
oferecia o que tinha de mais puro nos seus sentimentos àquele que a tinha feito
descobrir o amor-verdade. Sem magoá-la, Ele a fez ver o montante de pecados que a
impedia de olhar para dentro de si mesma e encontrar o seu Rabi...

As lágrimas de Pedro, quentes e dolorosas, se desprenderam dos olhos cansados


e amantes do Mestre querido; por um lapso de tempo, o fizeram mergulhar num

177
perigoso mar de amarguras indescritíveis de auto-reprovação, na noite memorável da
paixão...

E assim, uma legião incontável de almas que o tempo levou no silêncio do


anonimato, batizadas nas próprias lágrimas, foram santificadas por elas na glória das
bem-aventuranças...

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS MANSOS E PACÍFICOS PORQUE ELES


HERDARÃO A TERRA”

Mateus 5: 5

5 Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS MANSOS E PACÍFICOS


PORQUE ELES HERDARÃO A TERRA”

178
Herdeiros da Terra porque não estarão comprometidos com os desastres
ecológicos, nem serão fomentadores de guerras ou terão participação na violência
urbana, ou terão pacto com a violação da ordem e da disciplina. Terão decoro e respeito
próprio, sem necessidade de se impor pelo brandir de suas vozes. Entenderão de limites
e qualificação. Preservarão a postura correta no que lhes diz respeito sem agredir aos
circunstantes que não lhes queiram conferir valor. Terão a virtude de argumentar
adequada e acertadamente, pontuando as palavras e comedindo os movimentos. Poderão
parecer insossos e evasivos aos que preferem o rebuliço das discussões acaloradas,
iludindo-se pelo muito falar que esbanja força e razão.

É possível mesmo que percam diante dos homens a consideração que merecem e
recebam descrédito; o menosprezo, porém, de que sejam objeto para alguns, encarece
suas performances e os eleva.
Conceituarão normas e reformas, ainda que a longo prazo, pelo exemplo e
espírito de pacificação – mormente se pela conduta reta e clara assumida com
desassombro e sem presunção inferir no rumo das querelas.
Herdar a Terra não significa possuí-la. O amor legítimo por ela a tem para todos.
A amizade à Terra inspira reconhecimento à Natureza e emula o cultivo das virtudes
físicas e morais.
Conspirar contra a mãe-Terra retorna o homem à rudeza primitiva, alijando-o da
prosperidade real dos tempos modernos, quando o progresso favorece o
desenvolvimento e as descobertas da pesquisa e do trabalho sério.
Perturbar a ordem que a preço do sacrifício de muitos se instala em algum
departamento da movimentação humana, é imaturidade espiritual que requer impulsão
corretiva.
Investir na fragilidade do povo, alienando-o do contexto político naquilo que os
direitos de cidadão responsável e contribuinte do orçamento da União são legítimos, é
pecar contra Deus sem o menor pudor e pretender superá-lo na organização geral de
suas leis e menoscabo de seu governo.
O genocídio é permitido, apesar das leis superiores, porque há que se respeitar o
carma coletivo e individual que o mal uso do livre arbítrio creditou. Porém, ai daqueles
que o tenham por debitar.

179
De muitos males se livram os mansos e pacificadores. Enquanto os impostores
da Terra se ufanam de suas façanhas e ostentam brasões ordinários, não apercebidos de
que acumulam lições perdidas para provas próximas, os mansos e pacíficos caminham
serenos e firmes para promoções justas.
Como ser brando e pacífico, se não houver assimilado conteúdo para tanto?
Como proferir palavras harmoniosas, se dentro de mim estou aos gritos?
Como será de carinho a minha ajuda, se padeço de carência e injustiça?
Verdadeiramente não conseguirei.
Mas...
Jesus indicou esta receita para os que, como eu, precisam saber o valor da
brandura e da paz.
A paz enseja a brandura, e esta transparece nas boas maneiras; em conseqüência,
a brandura fala de mansuetude e pacifica.
A paz interior promove a afabilidade, a fraternidade; a brandura sugere
confiança, desperta a simpatia, tranqüiliza e equilibra.
Tudo isto é um estado d’alma. É o termômetro da temperatura íntima do ser.
Todas as coisas em torno são partícipes da vitalidade do espírito que assim vive. É
realmente uma bem-aventurança atingir esse patamar e nele permanecer.
A fala doce e pacificadora no trâmite social significa fazer uso – naturalmente –
da linguagem cristã, o que prevê certo amadurecimento do sentimento e das emoções.

Todavia, tão bela condição requer união de esforços determinantes para torná-la,
pouco a pouco, realidade. O Modelo já o temos; a teoria , nos dá o Evangelho; a Terra é
a Universidade que o Pai nos cede, com todo o material adequado à nossa
transformação pelo exercício persistente; e o objeto precioso para o trabalho pessoal é o
nosso próximo, a quem importa considerar mais que um companheiro em curso: é um
irmão a quem devemos respeito e amor.
É conquista do espírito que deseja promover a si mesmo pela reforma intima e
enriquecimento de novos valores.
Importa trabalhar a alegria de Deus em nosso espaçoso mundo íntimo.
Conhecemos da “natureza” do Criador o poder, a energia, a misericórdia, a justiça, a
firmeza, a bondade e a sabedoria... Mas também há a beleza, a afabilidade, a alegria e ...
o amor!
Agir em sintonia com Ele, eis uma proposta inteligente!

180
A Era Nova é a Era do Homem Inteligente da Terra.
Antes que fosse dito ao homem que ele for a feito à semelhança de Deus, o o
homem se alvoroçou em criar um Deus à sua semelhança, com todos os atributos a que
tinha direito: guerreiro, conquistador, orgulhoso, glutão, insaciável de sacrifícios e
rituais; intimidante pelo semblante aterrador e impiedoso – era o protótipo do ser
grosseiro que habitava o interior do homem das primeiras horas...

Therezinha

“BEM AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS”

Mateus 5: 7

7 Bem aventurados os misericordiosos porque alcançaram a misericórdia.

REFLEXÃO SOBRE “BEM AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS”

181
Preciosíssima virtude esta, da Misericórdia!

Quem a possui tem uma extraordinária sintonia com o Divino!

Usa-a, as vezes, inesperadamente até com risco da própria vida em favor do


próximo, seja este quem for, movido por um impulso fraterno que não questiona o ato e
se entrega seguro no êxito, da Fé que o possui, então!

Misericórdia é amor em ação. Amor comprometido com a pontual Providência


Divina!

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE JUSTIÇA, PORQUE


ELES SERÃO FARTOS”
Mateus 5: 6

6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.

182
REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS QUE TÊM FOME E SEDE DE
JUSTIÇA, PORQUE ELES SERÃO FARTOS”

A fome e a sede intensas e irremediáveis no corpo físico matam.


A fome e a sede de justiça na alma envilecem o ensejo de luta preconizado pela

filosofia que abraça, desorganizando o pensamento até que se comece a sorver o

alimento necessário. É tempo de dor, carreando muita dificuldade.

É também tempo de mudança; tempo de iluminação à vista...

Quando ouvimos falar de justiça, ocorrem na mente já viciada nas manchetes

grosseiras do panorama policial, político e social, a impunidade, a calúnia covarde, o

insulamento imposto ilegalmente, o abuso de poder, enfim; quadros da miséria humana

ainda mergulhada na animalidade dos instintos, com prejuízo do sentimento fraterno

que deveria liderar nossas ações.

Nisto, todos sabemos que forças desconhecidas e não transparentes encadeiam

circunstâncias que parecem meramente casuais, mas que, a exemplo da erva parasitária

e daninha colocada pelo inimigo no campo de nossos corações, se espraia e encontra

recepção simpática.

Não é a essa fome e sede de justiça imperfeita ou cega, sacramentada por

homens de boa fé ou equivocados, a que Jesus se refere.

É verdade que a soma desses sofrimentos naturais da ignorância das leis divinas,

no estágio evolutivo em que nos encontramos, e a conseqüente não observância delas,

têm seu papel importante na história de cada um. Só com o amadurecimento da

sensibilidade e desenvolvimento da inteligência virá o entendimento do bem e do mal,

acompanhando a experiência de vida rumo ao discernimento. Refletir, ao invés de se

conturbar com o fermento da lamentação, preserva energia saudável e predispõe à

183
solidariedade e à compaixão, enveredando o ser para o caminho de dentro, à procura de

um conceito de justiça transcendente...

Como numa operação matemática, Jesus acompanha as parcelas que se somam

às outras, tramando uma angústia semelhante à fome e sede implacáveis. Uma carência

profunda de justiça divina se levanta do fundo do coração a buscar socorro...

Diante do resultado auspicioso, o Mestre Jesus sussurra na acústica da alma:

Bem-aventurados és, filho do meu amor, porque serás farto!

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO PORQUE ELES VERÃO


A DEUS”

Mateus 5: 8

8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.

184
REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO
PORQUE ELES VERÃO A DEUS”

Quem verá a Deus?

“Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra!”

Quem tiver o coração limpo, se apresente!

Estamos nós – com boas exceções – ainda num patamar sob processo de
higienização na área dos pensamentos, que sofre pela pressão das emoções geradas por
vários fatores indesejáveis, impulsos espontâneos de revolta, revide e outras
manifestações.

Todavia, o Senhor Jesus nos acena que a visão de Deus se encontra ao final da
estrada estreita da auto-educação. E nos encoraja, com isto, a prosseguir na nobre tarefa
da esfera íntima.

Caminhar com a certeza de um final feliz é caminhar determinado ao sucesso.


Porém, quando sob a fiança do Cristo, o ganho se antecipa à vitória.

Ver a Deus significa ver a Sua face dentro de nós mesmos, no encontro áureo de
ser com o seu Criador, num estado de similitude relativa, porém ideal.

Buscar o reino dos céus incansavelmente é o programa primeiro do Cristão,


porque é o que Jesus teve como objetivo primordial quando veio até nós.

Complicar-se neste propósito é natural no processo de evolução – um novelo que


se destina a transformar-se em trança se embaraçará nas mãos do artista até que se
discipline no encaminhamento de cada fio, na ordem do modelo e em tempo mais ou
menos definido, desenvolvendo-se em etapas mais ou menos penosas.

Amar é a receita divina. O amor abre as portas de todas as virtudes.

E as delícias do reino de Deus é para todos os que buscam a força, a luz, a


verdade, a paz e o encontro com Deus.

“Chover no molhado” é uma expressão popular que pode ser colocada em nosso
entendimento quando se busca encontrar somente nas coisas materiais a solução para

185
todos os problemas. A alma tem sua peculiaridade; percebe suas necessidades materiais
e físicas e pressente as de ordem espiritual; deixa-se inclinar pelas primeiras por não
saber conjugar esforços, retardando as soluções e desequilibrando-se.

Limpar o coração é harmonizar-se com as leis de Deus; vigiar e orar como


asseverou nosso amado Mestre.

No mais, é observar o que diz “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo


XVII: “O homem no mundo”.

Therezinha

“BEM-AVENTURADOS OS QUE FOREM PERSEGUIDOS POR CAUSA DA


JUSTIÇA”
Mateus 5: 10

10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o

reino dos céus.

186
REFLEXÃO SOBRE “BEM-AVENTURADOS OS QUE FOREM
PERSEGUIDOS POR CAUSA DA JUSTIÇA”

A perseguição aos médiuns e à Doutrina Espírita ficou no passado. Hoje


divulgamos a mensagem espírita sem embargo, e atestamos nossa fé publicamente,
amparados pela lei.
Porém, resta-nos aprimorar o bom relacionamento dos trabalhadores dentro dos
grupos, conscientizando-os de suas responsabilidades para com a Doutrina e o outro.

A conscientização gera espontaneidade de comportamento e traça linha segura


de postura cristã.
O exercício da tolerância não se dá sem sofrimento, quando uma insatisfação
projeta em nós alguma sensação de repúdio, antipatia, mal-estar.
A prática do abraço é recurso altamente positivo se há verdade de sentimento, e
para que alcancemos esse estado de fraternidade nos permitimos ensaiar. Mas, não
atingiremos o objetivo sem esforço sincero de querer bem, de compreender, de ser
autêntico e ter o propósito de amar.
Entendendo a Terra como morada do Pai amoroso, justo e misericordioso e
vendo o próximo como nosso irmão, pequeno como nós porém herdeiro das graças que
também a nós enriquecem, temos credenciais para nos iniciarmos nas Verdades do
Cristo de alma bem-aventurada.
A bem-aventurança não está em ser perseguido; mas, em como estamos ao sê-lo.
Aquele que persegue, caminha na treva. Expiará até que a misericórdia o
alcance.
O perseguido, se anda na luz e prevaricar, entrará em perturbação em plena
claridade, o que o magoará muito... Se for fiel ver-se-á no reino do céu.
A treva persegue a luz porque sabe que não resistirá a ela indefinidamente.
A luz a suporta porque sabe que é questão de tempo...
Finalmente, para resistir à perseguição, precisamos nos esforçar para nos tornar
pobres de espírito; chorar sem murmurar, buscando consolação nas promessas do
Cristo; exercitar a mansidão que se espelha na humildade; continuar buscando saciar a
nossa fome e sede de justiça na sabedoria de Deus e sua Justiça; trabalhar os nossos
sentimentos de piedade e misericórdia no exemplo de Jesus, o Mestre; viver o “vigiai e
orai” para a saúde de nossa mente e pureza de nosso coração; sintonizar com a “paz que

187
o mundo não dá” e a distribuir para o nosso semelhante, sem distinção de homens ou
nações, credos ou raças... e então a alegria das Bem-aventuranças virá coroar o nosso
coração pelo mérito da perseverança, da iluminação e do cumprimento da vontade de
Deus.

Therezinha

“EXULTAI E ALEGRAI-VOS PORQUE É GRANDE O VOSSO GALARDÃO


NO CÉU”

Mateus 5: 12

12 Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois


assim perseguiram aos profetas que vieram antes de vós.

188
REFLEXÃO SOBRE “EXULTAI E ALEGRAI-VOS PORQUE É GRANDE O
VOSSO GALARDÃO NO CÉU”

Tais palavras vindas de Jesus são como que as portas abertas ao gozo da eterna

presença do Mestre amado. Mais que uma promessa ou recompensa é uma revelação do

estado de espírito em que nossa alma se encontrará perante si mesma, tendo vencido os

desafios à sua convicção e fortaleza de ânimo.

A cada dificuldade o espírito na carne se vê às voltas com as limitações da faixa


vibratória a que está submisso; compreende, muitas vezes, o papel que deve
desincumbir e hesita se lhe caem as forças; empreende esforços para manter-se fiel ao
que acredita até porque afirma que sabe e quem sabe tem em si mesmo o testemunho da
verdade. Ama a voz que o conduz do imo do coração e não pretende magoar os liames
que o liga. Percebe como do alto de um monte a extensão do erro que uma falha pode
fortalecer em prejuízo de muitos que vêm de pois dele... Aprecia o horizonte que se lhe
descortina após ditame auspicioso mas, aflige-se diante da sugestão das facilidades que
nesses momentos vêm em socorro das fraquezas numa bem urdida manobra inferior.
É difícil vencer as lutas íntimas com tantos contribuintes do mal e, que na
maioria das vezes, residem dentro de nós.
Sempre foi mais fácil adiar...
Por isso mesmo “aquele que perseverar até o fim” atinge a exultação e a alegria.

Therezinha

A ANSIOSA SOLICITUDE PELA VIDA

Mateus 6: 25-34

25 Por isso vos digo: Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que
haveis de comer ou de beber; nem pelo vosso corpo quanto haveis de vestir. Não é a
vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?
26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em
celeiros; contudo vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valei vós mais do que
as aves?

189
27 Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso
da vida?
28 Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam.
29 Eu, contudo vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu
como qualquer deles.
30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo que hoje existe e amanhã é
lançada ao forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé?
31 Porquanto não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos?
Ou: Com que nos vestiremos?
32 Porque os gentios é que procuram todas estas cousas; pois vosso Pai que
está no céu sabe que necessitais de todas elas.
33 Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça e todas estas
cousas vos serão acrescentadas.
34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os
seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.

Ver Lucas 11: 2-4

REFLEXÃO SOBRE “A ANSIOSA SOLICITUDE PELA VIDA”

Estaria o Senhor Jesus no momento em que proferiu tais palavras, nos


focalizando de modo especial, hoje, ouvindo nossos gemidos e vendo os nossos olhos
marejados de lágrimas? Pois que suas palavras tão sábias têm a gravidade de se ajustar à
situação atual: a fome estampada nos rostos esquálidos dos anciãos e mães infelizes; os
olhos esbugalhados das faces infantis de todos os recantos da Terra; a perplexidade das
sociedades de todos os povos diante da miséria física e moral; os espíritos sacudidos
pela insegurança e pela ameaça de um futuro de desventuras; a violência que intimida e
a inquietante problemática da educação, surpresa com os resultados adquiridos na
tentativa de acertar, no vôo cego da modernidade.

Em verdade, o espírito matriculado no orbe terrestre sempre soube que o curso


que lhe cabia fazer não lhe sairia barato. Sobre a matéria principal ele carecia de
conhecimento, que é “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo”. Como todas as coisas poderiam lhe ser acrescentadas se, fundamentalmente,
era leigo de tudo que lhe convinha saber? Por conseguinte, qualquer conquista deveria
ser de próprio esforço – e que esforço! Tanto maior lhe pareceria quanto maior o
bloqueio espiritual. Entretanto a ordem do Alto imprimira-lhe “crescei e multiplicai” ,

190
que não significava apenas reprodução, mas aprender a assimilar para tornar-se forte e
resoluto nas experiências que se seguiriam incontinenti.
Educar e crescer, entretanto, sugere que uma espinha dorsal se imponha na
direção correta do desenvolvimento. E educar sempre foi difícil. A educação sofreu no
domínio do homem desvios e equívocos; distorções e desencontros; muitos deles
assumindo proporções gravíssimas. Modelada ao sabor de divergentes correntes do
pensamento e níveis de cultura os mais avessos, a educação perdeu-se com a desculpa
de novos tempos, progresso e liberdade.
Hoje, há uma preocupação em avaliar a história da educação na viagem do
tempo, mas a avaliação foi muito postergada.
E começa-se a compreender que a educação de ser precisa partir de si mesmo.
Bravos! Os estudos em véspera de prova são mais penosos. As provas existenciais
apertam o cerco. A reflexão força a abertura da acomodação e o homem tem que parar
para perguntar-se: onde estou falhando? É a insinuação do auto-conhecimento, e uma
introdução para a auto-educação.
Neste capítulo do Evangelho de Jesus, sua palavra é um bálsamo para a nossa
angústia imediata e uma apreciação a mais para quem com o coração, observa Deus em
todos os movimentos da vida.
É uma lição altamente educativa. E a educação quando correta, acalma e
pacifica.
Sempre ouve interesse por parte de corações bem formados, de descobrir uma
receita mágica para o problema da educação, mas o que ainda não perceberam é que o
que há para ser descoberto é o Mestre.
O critério da Educação já se encontra entre nós há dois mil anos.

Therezinha

A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA

Lucas 15: 8-10

8 Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a
candeia, varre a casa e a procura diligentemente até encontrá-la?
9 E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo,
porque achei a dracma que eu tinha perdido.

191
10 Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um
pecador que se arrepende.

REFLEXÃO SOBRE A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA

Um capítulo que focaliza a emoção.

Um amor, um bom emprego, uma oportunidade única, um salário, um objeto de


estimação perdidos, por exemplo, que tipo de emoção provocará ao coração
desprevenido? Que forma de emoção invadirá o coração, se o houver recuperado?
Jesus traz ao cenário de sua história a nossa emoção identificada por alguma
vivência semelhante; e contracenamos com aquela mulher em suave e gostosa vibração.
Eis o Cristo! Eis o Mestre testemunhando na simplicidade de seus ensinamentos
o conhecimento profundo da alma humana.
Será a sede das emoções, o coração? O que representa no conjunto de nossa
organização a mente e o coração? Sem nos aprofundarmos na complexa máquina que
serve à vida, entendemos que o homem teve sempre como objetos importantes nas suas
emoções a parceria dessas duas figuras simbólicas que executam todos os atos,
conscientes ou não de suas responsabilidades e conseqüências...
Não estará a emoção humana também no rol das múltiplas variações de nossas
tendências, inclinações e dons, entre outras manifestações de nossa natureza como
objetivo sério de harmonização, dentro da proposta do autoconhecimento e da auto-
educação, sem o que nos distanciamos da perfeição?
A emoção eleva, dignifica, sublima, se invade o espírito com sentimento puro;
trabalhar o pensamento nessa conquista de harmonia é antegozar as carícias do céu
ainda nas limitações do eu pequenino. Que quadro maior em beleza e grandeza que
aquele que formamos em nossa emoção, de Jesus lamentando Jerusalém? Que lembra
Jesus rogando ao Pai, banhado em sangue, perdoando-lhes porque não sabem o que
fazem. Que mais encantadora emoção que Jesus encontrando sua mãe a caminho do
calvário, que Jesus no Horto das Oliveiras aguardando seu amado discípulo para traí-lo
e saber a conseqüência triste a que se expunha o amigo...
Evidentemente nós não podemos perceber a emoção sublime de um espírito
desse porte, mas já sofremos ou gozamos as nossas...

192
De certo a alegria de um espírito que se havia perdido e se recupera, repercute e
transcende no espaço cuja extensão nossa capacidade de avaliar não é capaz!
Com essa revelação Jesus levanta todos que , tendo caído, se julguem
marginalizados e definitivamente excluídos do Reino de Deus.

Therezinha

“ JESUS PREDIZ A SUA MORTE ”

Mateus 16: 21-23

193
21 Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe
era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas cousas dos anciãos, dos
principais sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitado no terceiro dia.
22 E Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem
compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá.
23 Mas Jesus, voltando-se disse a Pedro: Arreda! Satanás; tu és para mim
pedra de tropeço, porque não cogitas das cousas de Deus, e, sim, das dos homens.

(Ver Marcos 8: 31-33 e Lucas 9: 22)

REFLEXÃO SOBRE “ JESUS PREDIZ A SUA MORTE ”

Ainda que Pedro, caminhando ao lado do Mestre, guardasse em seu coração as


palavras, os gestos e as ações e absorvesse de seu amado Jesus o clima vibratório de
alvores celestiais, nem sempre conseguia interpretar atitudes particulares do Mestre
querido e se precipitou a ampará-lo ante iminente perigo, como faria qualquer bom
amigo. Porém, como pudemos perceber a seguir, o sofrimento humilhante a que o
Divino Jesus deveria se submeter era parte do plano de estratégia espiritual pela
redenção da humanidade.

“E eu, quando for levantado da terra, a todos atrairei a mim.” (João 12:32)
E Jesus reage altivo e sublime em sua colocação. Afinal, mais uma vez se
apresentava uma oportunidade de exemplificar determinação e fidelidade ao Pai. E
longe de menosprezar a dedicação do discípulo, compreende o temor ingênuo e as
emoções identificadas com a fragilidade humana; mas a hora é grave e o alcance do
episódio a se desenrolar foge, em verdade, do entendimento daqueles que gozavam do
consórcio com a boa nova, sem prever os capítulos de amargura que estavam por vir.
Mais do que se possa admitir, o Senhor Jesus sofria, não por si mesmo, mas
pelas dores que se anunciavam para os discípulos tão queridos ao seu coração: o
equívoco de Judas, com conseqüências trágicas; a negação de Pedro, carreando
momentos desesperadores de remorso e dor; o coração de sua estremosa mãe e
dedicadas mulheres do caminho; as perseguições, o medo, a queda de muitos...

194
Por isso mesmo, entendeu que nesses instantes de profunda fraqueza uma voz
forte devia ecoar e repercutir na acústica do coração de todos, despertando-os do sono
ou encantamento da sua presença amorosa, mas real em Espírito e Verdade.
E sacode Pedro e os demais discípulos, ainda não muito conscientes da grandeza
da missão que o Pai lhe confiara, insuflando coragem às fibras mais sensíveis de suas
estruturas físicas e espirituais para a batalha que não lhe pertencia apenas – mas a todos
desde então ocupassem a Terra, até que se cumprisse toda a previsão.
De certo, em contrapartida, a visão do futuro de bem-aventuranças enchia de
glória o coração do Senhor Jesus, para o qual não achamos adjetivo que lhe mereça... E
no Evangelho que o representaria na Terra estava o facho de luz que deixaria indicado o
caminho a seguir... Na promessa de enviar o Consolador, a esperança de expansão de
suas luzes em todo o orbe, as consolações de permeio com a Verdade no levantamento
dos véus que libertam da letra os símbolos...
Enfim a libertação dos discípulos fiéis...

Therezinha

A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM

Mateus 21: 1-11

195
1 Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, ao Monte das
Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes:
2 Ide à aldeia que aí está diante de vós e logo achareis presa uma jumenta, e
com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos.
3 E se alguém vos disser alguma cousa, respondei-lhe que o Senhor precisa
deles. E logo os enviará.
4 Ora, isto aconteceu, para se cumprir o que foi dito, por intermédio do profeta:
5 Dizei à filha de Sião: Eis aí te vem o teu Rei, humilde, montado em jumento,
num jumentinho, cria de animal de carga.
6 Indo os discípulos, e tendo feito como Jesus lhes ordenara,
7 trouxeram a jumenta e o jumentinho. Então puseram em cima deles as suas
vestes, e sobre elas Jesus montou.
8 E a maior parte da multidão estendeu as suas vestes pelo caminho, e outros
cortavam ramos de árvores, espalhando-os pela estrada.
9 E as multidões, tanto as que o precediam, como as que o seguiam, clamavam:
Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores
alturas!
10 E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, e perguntavam:
Quem é este?
11 E as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia.

(Ver Marcos 11: 1-11; Lucas 19: 28-40 e João 12: 12-19)

REFLEXÃO SOBRE “A ENTRADA DE JESUS EM JERUSALÉM”

Era dia de festa para o povo. Em todos os tempos, o povo mais simples se
alvoroça com as novidades locais e manifesta-se com muita propriedade: alaridos e
cores, cantigas e sons despertam sentimentos novos e motivadores, talvez porque suas
regalias são simples e esparsas.
Desta vez uma alegria interna, muito profunda e indefinível movia no espaço
uma força de natureza estranha, parecida com um anseio de libertação que só seria
compreendido muito, muito tempo mais tarde... Agora, essa alegria se vestia de grande
perspectiva de liberdade e, para tanto, mudança política e imediata é o que se
aguardava, revolução salvadora vinda do céu, modificando a história e banindo o
sofrimento e a opressão.
Jesus tornaria a Jerusalém.
Aliás, pela ternura de Jesus para com aquela cidade, ele jamais esteve distante
dela.

196
Difícil esquecer uma das frases mais comoventes das passagens de Jesus pelos
evangelistas:
“Jerusalém, Jerusalém, bem quisera afagar teus filhos junto a mim,
como fazem as galinhas com os seus pintainhos debaixo das asas!”
Onde mais bela declaração de amor que esta?
Que poema levanta maior e mais profunda emoção que este?
Quanta beleza e lições encerra seu desabafo?
Jesus, o nosso Jesus que faz!
E o mesmo povo que recebera muitas curas e vira os “milagres” de Jesus; o
mesmo povo que se impressionara, fazia pouco tempo, com a ressurreição de Lázaro, se
decepcionava, então, com o discurso de seu “herói” e seus discípulos, muito aquém de
suas expectativas imediatistas.
Os fariseus, oportunistas, se apressam em pedir que faça calar os discípulos, ao
que Jesus responde, revelando o que eles não podiam prever: a missão crística não está
sujeita a homens.
“Se eles se calarem, as próprias pedras clamarão.”
O espírito prossegue, enredado com visões do céu e da matéria, sem poder
distinguir uma da outra. Espera milagres e ora, permeando entre o poder do ritual e do
maravilhoso; poucas vezes se dando conta de que entre o céu e a terra há mais o que
saber.
Caminha para frente, fixando-se no passado. Trabalha para o futuro mas teme
chegar. E há de se embaraçar com o presente, enquanto não quiser se ver como peça
importante da engrenagem divina, rumo à evolução do sistema.
Aceitar ensinamentos de Jesus e nos reformarmos intimamente, serenos e
confiantes, é valorizarmos o passado na construção do presente, enquanto crescemos o
futuro com a alegria de quem sabe que está vivendo antecipadamente a presença
daquele que nos diz: “quero te amparar como a galinha faz com os seus pintainhos.”
E dizer com João Evangelista: “Ora, vem, Senhor Jesus!”

Therezinha

JESUS LAVA OS PÉS AOS DISCÍPULOS


João 13: 1-20

197
1 Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de
passara de deste mundo para o Pai e havendo amado os que estavam no mundo amou-
os até o fim.
2 Enquanto ceavam tendo o diabo posto já no coração de Judas, filho de Simão
Iscariotes, que o traísse.
3 Jesus sabendo que o pai lhe entregara tudo nas mãos e que viera de Deus e
para Deus voltava.
4 Levantou-se da ceia, tirou o manto e tomando uma toalha cingiu-se.
5 Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, e a
enxugá-los com a toalha que estava cingido.
6 Chegou, pois, a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu-lhe Jesus: O que seu faço tu não sabes agora, mas depois
entenderás.
8 Tornou-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Replicou-lhe Jesus: Se eu não te
lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor não somente os meus pés, mas também as
mãos e a cabeça.
10 Respondeu-lhe Jesus: Aquele que se banhou não necessita de lavar se não os
pés, vós estais limpos, mas não todos.
11 Pois Ele sabia quem o estava traindo; por isso disse: Nem todos estais
limpos.
12 Ora, depois de lhes ter lavado os pés, tomou o manto, tornou a reclinar-se à
mesa e perguntou-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu o Senhor e Mestre, vos laveis os pés, também vós deveis lavar os
pés uns dos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior que o seu senhor,
nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se a praticardes.
18 Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi; mas para que se
cumpra a escritura: O que comia do meu pão, levantou contra mim seu calcanhar.
19 Depois já vo-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, creiais
que eu sou.
20 Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber aquele que eu enviar, a
mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.

REFLEXÃO SOBRE JESUS LAVA OS PÉS AOS DISCÍPULOS

198
Aquela cena tão cara, agora tomava um aspecto de pesadelo. E nessa
temperatura de ânimo sobrevem a revelação desconcertante de traição entre amigos!
Instintivamente todos se entreolharam perplexos – quem!?
O traído, porém, com infinita piedade conclui se dirigindo a um deles: “O que
tendes de fazer, faze-o logo”.
Pobre Judas Iscariotes! Inflamado pelas convenções sociais e políticas
abeirando-se da revolução espiritual da transformação íntima, confunde-a com as
reformas do poder vigente e transitório adiando sua iluminação para mais longe e mais
dolorosa redenção.
Quem não recorda a meiga Maria de Magdala, tão frágil na carne quão forte no
espírito. Ela descobre a realeza do Mestre com alguns contatos faz a entrega de sua alma
pleiteando misericórdia e destaque entre os que quiseram seguí-lo através de seus
ensinamentos e de seu exemplo; troca a vida desregrada pela Vida que se eterniza no
bem e, se entrega à prática da caridade.
Judas porém, infelicitado pelo empreendimento equivocado atira-se contra o que
lhe era mais precioso, a vida. Seu mundo íntimo destroçado pela queda tomou
proporções alarmantes, impossível de amenizar sequer. A negação do eu em grau mais
absoluto; a carência do amor que lhe fora tão importante o qual julgava não mais
merecer; não lhe permitiriam perdoar-se, agravado ainda pela incompetência de
avaliação do perfil misericordioso do mestre amado.
Eis que se aprofunda nos centros abismais do inconsciente e precipita-se no nada
inexistente do espírito para despertar muito mais adiante combalido e edificado no
regaço do Mestre a lhe insuflar novas forças e confiança em si mesmo para a retomada
do caminho.
A lição da traição melhor se coloca como auto-traição. Nossos sentimentos,
nossos talentos, são valores inestimáveis incrustados em nossas almas pelo Pai que gera
filhos para a perfeição. Frustrar anseios divinos que se anunciam em busca de
desenvolvimento, relegar para depois a oportunidade de enriquecer-se, sufocar ensaios
de fraternidade legítima em hora oportuna, acalentar tendências perniciosas no trato
comum, permitir-se errar conscientemente contrariando a voz do coração é infringir a
lei de fidelidade aos princípios cristãos o que significa acostumar-se a pequenas auto-
traições às aspirações do Eu divino.

199
Therezinha

A TRAIÇÃO E O SUICÍDIO DE JUDAS

João 13: 21-27

200
21 Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em
verdade vos digo que um dentre vós me trairá.
22 Então os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se
referia.
23 Ora, ali estava aconchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem
ele amava;
24 a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere.
25 Então aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe:
Senhor, quem é?
26 Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou,
pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27 E, após o bocado, imediatamente entrou nele Satanás. Então disse Jesus: O
que pretendes fazer, faze-o depressa.

(ver: Mateus 27: 3-10)

REFLEXÃO SOBRE “A TRAIÇÃO E O SUICÍDIO DE JUDAS”

Eram tantas horas... horas solenes como jamais se repetiriam sobre a Terra.
Como estaria a atmosfera que envolvia o palco terráqueo, revestido de sombrio
ornamento para a dantesca encenação, onde representantes de todas as gerações futuras
tinham marcados os seus papéis? A natureza, se dobrando em si mesma, chorava em
nome do homem a dor da ingratidão, que só muito mais tarde começaria a sofrer.
Por alguns momentos a Terra estava enferma, e fremia de angústia pela história
de sangue e treva que devia representar. Cegos de espírito e de coração guiavam uns aos
outros para o espetáculo triunfante das conspirações sangrentas.
Jesus, entre os amados discípulos, encarnava o Cristo, mais resplandecente do
que nunca.
Isso eles não podiam ver!
Sua aura celeste abraçava com todo o esplendor a criatura onde estivesse – era a
despedida!
Dali às últimas palavras, “Está tudo consumado!”, distavam algumas horas.
Mas até os discípulos não O podiam entender. Internados em espessa nuvem de
inquietação e pressentimentos dolorosos; com o coração a lhes sussurrar a iminente
separação de seu Mestre querido, não conseguiam coordenar o pensamento, e a fé
confusa medrava as emoções.

201
O porte ereto de Jesus sentado à mesa, da maneira como sempre o fazia,
constrangia ainda mais o peito dos apóstolos, já oprimido pelas conjecturas a que não
podiam fugir. Aquela cena antes tão cara, agora tomava um aspecto de pesadelo. E nessa
temperatura de ânimo sobrevém a revelação desconcertante de traição entre amigos!
Instintivamente todos se entreolham perplexos – quem!?
O traído, porém, com infinita piedade conclui se dirigindo a um deles: “O que
tendes de fazer, faze-o logo.”
Pobre Judas de Iscariotes! Inflamado pelas convenções sociais e políticas,
abeirando-se da revolução espiritual da transformação íntima, confunde-a com as
reformas do poder vigente e transitório, adiando sua iluminação para mais longe e para
mais dolorosa redenção.
Quem não recorda a meiga Maria de Magdala, tão frágil na carne quão forte no
espírito? Ela descobre a realeza do Mestre e com alguns contatos faz a entrega de sua
alma, pleiteando misericórdia e destaque entre os que quiseram segui-lo através de seus
ensinamentos e de seu exemplo: troca a vida desregrada pela Vida que se eterniza no
bem e se entrega à prática da caridade.
Judas, porém, infelicitado pelo empreendimento equivocado, atenta contra o que
lhe era mais precioso, a vida. Seu mundo íntimo destroçado pela queda tomou
proporções alarmantes, impossíveis de amenizar sequer. A negação do eu em grau mais
absoluto e a carência do amor que lhe fora tão importante e o qual julgava não mais
merecer não lhe permitiam perdoar-se, o que foi agravado ainda pela incompetência de
avaliação do perfil misericordioso do Mestre amado.
Eis que se aprofunda nos centros abismais do inconsciente e precipita-se no nada
inexistente do espírito para despertar muito mais adiante, combalido e edificado, no
regaço do Mestre, a lhe insuflar novas forças e confiança em si mesmo para a retomada
do caminho.
A lição da traição melhor se coloca como auto-traição. Nossos sentimentos,
nossos talentos, são valores inestimáveis incrustados em nossas almas pelo Pai, que gera
filhos para a perfeição. Frustar anseios divinos que se anunciam em busca de
desenvolvimento, relegar para depois oportunidade de enriquecer-se, sufocar ensaios de
fraternidade legítima em honra oportuna, acalentar tendências perniciosas no trato
comum, permitir-se errar conscientemente, contrariando a voz do coração, é infringir a
lei de fidelidade aos princípios cristãos – o que significa acostumar-se a pequenas auto-
traições às aspirações do Eu divino.

202
Therezinha

A NEGAÇÃO DE PEDRO

Mateus 26: 69-75

203
69 Ora, estava Pedro assentado fora no pátio; e, aproximando-se uma criada,
lhe disse: Também tu estavas com Jesus, o galileu.
70 Ele, porém, o negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes.
71 E, saindo para o alpendre, foi ele visto por outra criada a qual disse aos que
ali estavam: Este também estava com Jesus, o Nazareno.
72 E ele negou outra vez, com juramento: Não conheço tal homem.
73 Logo depois, aproximando-se os que li estavam, disseram a Pedro:
Verdadeiramente és também um deles, porque o teu modo de falar o denuncia.
74 Então começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E
imediatamente cantou o galo.
75 Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que o galo
cante, tu me negarás três vezes. E, saindo dali, chorou amargamente.

(Ver Marcos 14: 66-72 ; Lucas 22: 55-62 e João 18: 15-18 , 25-27)

REFLEXÃO SOBRE A NEGAÇÃO DE PEDRO

Era um pouco mais de um terço do dia e os ânimos estavam em grande


temperatura. Não dava para se perceber uma brisa refrescante que passasse como
refrigério natural; o tempo estava fechado no coração da cidade, como o peito dos
apóstolos sob a carga de tensão que fechava o céu de suas esperanças mais sublimes.
Até então viver ao lado do Mestre amado era estar antegozando as delícias de um
paraíso bíblico aqui na terra, mesmo ante o quadro grosseiro das enfermidades, das
injustiças e da ignorância.

Pairavam no ar figuras grotescas do pensamento embrutecido, das confabulações


à meia voz, e formas famélicas de alimento deletério. Eram como nuvens de
desagradável teor fúnebre, centrifugando ilações execráveis de grupos afins para o
mesmo desiderato. Era uma malsinada forma de construção, que atrairia maldições ara
aquelas criaturas de deformação moral gravemente enfermas. No laboratório da alma,
manipulavam o amargo remédio que teriam de sorver a troco do reequilíbrio e saúde do
espírito eterno. Como personagens do maior espetáculo da Terra, estavam bem
colocados por vontade própria, deixando para a posteridade a consagração do perfil do
homem de então; caracterizando todas as épocas que se seguiram quando o sonho de
poder assanha a vaidade, o egoísmo, a luxúria, o orgulho e sufraga na derrocada da
ignorância, entorpecendo o coração.

204
Na paisagem espiritual, entretanto, falanges de todos os níveis e graus que
conheciam e contribuíram para o desempenho do divino evento vibravam com um amor
indescritível. Superiores e médios tarefeiros do bem, em uníssono, ligavam-se
permanentemente ao Pai em extremada comunhão e interagiam entre si, embalados
pelas orações trançadas de amor e fraternidade. Sua visão não se esquadrinhava na
limitada movimentação da Terra, mas nos altos propósitos do plano. Como que traçando
linhas de estratégia superior para o futuro, cantavam a vitória da luz sobre as trevas em
versos de poética conjugação de verbos; encantadoras estrofes de delicada rima as quais
as emoções dos homens da terra não poderiam experimentar. Lágrimas de júbilo eram
vertidas como pérolas celestiais, de conteúdo intraduzível para a nossa sensibilidade.
Nessa expectativa de deslumbrante alcance, o céu dos inconfundíveis
trabalhadores da seara divina se afinava em todas as concordâncias de sintonia com o
Supremo Regente do Universo. E, sob os ventos úmidos da madrugada e o frio que
enregelava as almas na Terra, se desenrolava devagarinho o pergaminho invisível que
registrava os derradeiros momentos que norteariam para sempre o caminho do homem...
E Pedro se permite entrar em cena mais uma vez naquela noite.
Desta vez, para esvaziar os resquícios de fragilidade que ainda somavam em seu
mundo íntimo.
Acossado pelo denso clima de violência e forças de baixa vibração, o espectro
do medo atingiu proporções incontroláveis. O conflito entre o que sabia a respeito do
Mestre e o que desconhecia, do que conhecia e o que lhe pareceu novo, aturdiu seu
interior de modo a prevaricar momentaneamente. Na verdade, não estava totalmente
preparado para a tarefa que pediria dele real determinação.
Verdade também que era corajoso, pois quando todos os demais discípulos se
afastaram, ele acompanhou Jesus à certa distância, como se esperasse ser útil ao Mestre
querido ou partilhar com ele até os últimos instantes, ou ainda, aguardasse que Jesus
revertesse aquela situação.
Uma emoção, sem dúvida a maior de todas, o esperava instantes depois de haver
negado o amantíssimo Mestre: o encontro com o olhar percuciente de Jesus,
devassando todo o mistério de sua alma penalizada pelo desalinho mental. O encontro
fatal com o eu fragilizado espelhou as palavras reveladoras daquele que o denunciara
momentos antes; e a dor foi no mais profundo do seu espírito, lavou toda a mácula de
culpa e preparou-o para a grandiosa missão.

205
Therezinha

PAIXÃO DE JESUS

Mateus 27: 17-21

206
17 Estando, pois, o povo reunido, perguntou-lhes Pilatos: A quem quereis que
eu vos solte, a Barrabás ou a Jesus, chamado Cristo?
18 Porque sabia que por inveja o tinham entregado.
19 E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas
com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito.
20 Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que pedisse
Barrabás e fizesse morrer Jesus.
21 De novo perguntou-lhes o governador: Qual dos dois quereis que eu vos
solte? Responderam eles: Barrabás.

REFLEXÃO SOBRE A PAIXÃO DE JESUS

Começa a via dolorosa do senhor Jesus. Era a dor no altar da perfeição. Sereno
da paz dos justos, dimensionado pela missão áurea e divina, ascendia todos os limites da
gleba humana e comungava com o Pai a suprema ventura de servir.

Comunicava-se com os infelizes da terra de modo incompreensível para estes: a


linguagem simbólica dos anjos. Repartia-se para todos como fizera com o pão, à mesa
das noites saudosas em companhia dos discípulos.
Arrastava-se o Tempo nos minutos chorosos de sua marcação. Em nenhum
momento fora tão sofrida a contagem regular dos grandes acontecimentos, aos quais
emprestava relevante importância. Seguia solene e timorato, reverente e respeitoso. O
preço de sua consagração subia as culminâncias do pesar.
Recrudescia o ânimo e o caracter das criaturas hipnotizadas pela loucura do
momento. As vibrações truculentas, incendiadas pela concupiscência do gozo
inconsciente dos bárbaros, estavam sem controle.
Jesus distava de tudo que compunha aquele quadro de indescritível
singularidade. E o cortejo de infâmias tinha o campo livre para negociar com as trevas.
Como um apêndice de luz, seguia de perto um grupo de fragilidade física e
beleza resplandescente, pelo amor e coragem sobre-humanas e com o coração de
joelhos, em oração: eram algumas mulheres, representando a presença feminina, sempre
anonimada pelo desprendimento de ser. Do mais alto, guirlandas perfumosas se
derramavam por sobre as suas frontes, insuflando esperança e alento, força e
consolação. A participação ativa da mulher no cenário do Cristo não foi casual. Nada foi
incidental na formulação da história da mensagem de Jesus na Terra. Importante papel

207
do espírito feminino salienta-se dali para sempre, descortinando um futuro de
responsabilidades maiores para seus espíritos, conscientes de seu papel no
engrandecimento da vida no aspecto familiar, social e espiritual, sem desculpismo
culposo de marginalização na senda da evolução.
Frente a Pilatos, Jesus é por ele avaliado e conturba o tribunal de justiça de sua
consciência, onde a promotoria se escuda na defesa da conveniência material e a defesa
estremece ante o temor da queda espiritual e suas conseqüências. Em meio ao conflito
inédito desse episódio, surge um agravante: a mensagem urgente e aflitiva da esposa de
Pilatos, advertindo-o da morte do inocente. Outra vez a alma feminina com suas
virtudes intuitivas aparece oportuna na história do evangelho, e desta vez na posição de
companheira e amiga, mulher de fé e médium responsável.
O momento de Pilatos é grave. Os céus vieram em seu favor, mas a decisão é de
foro íntimo. A falha era prevista e sua fraqueza bem conhecida pela Espiritualidade pois,
mesmo socorrendo-o com a inspiração da mulher, ele não se daria conta da vantagem de
trocar os favores do benefício imediato pelos bens imperecíveis do espírito.
Troca ainda hoje aceita por muitos, em momentos que incorporamos Pilatos na
encruzilhada do caminho.
No mínimo lavamos as mãos...

Therezinha

BARRABÁS

Lucas 23: 18-21

208
18 Toda a multidão, porém, gritava: Fora com este! Solta-nos Barrabás!
19 Barrabás estava no cárcere por causa de uma sedição na cidade, e também
por homicídio.
20 Desejando Pilatos soltar a Jesus, insistiu ainda.
21 Eles, porém, mais gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o!

REFLEXÃO SOBRE BARRABÁS

Quisera Barrabás ter caminhado lado a lado com Jesus!


“Ah, se o tempo voltasse! Se eu soubesse...”, diria ele.
Ser contemporâneo do Senhor Jesus; respirar o mesmo ar; ouvir falar dele
presente sob o mesmo teto azul do firmamento; saber-se envolvido em sua aura dilatada
ao infinito e não comer do mesmo pão, ainda que fosse das migalhas caídas de sua
mesa!
“Infortúnio! Maldição!”, pensaria...
A realidade é dura por vezes. E ter que adaptar-se a ela numa circunstância dessa
gravidade sem conseguir modificar, retomar, transformar, é cruel. Reunir todas as forças
naturais e espirituais – eis o recurso único de pacificação interior.
Aguardar a vitória sobre si mesmo, que virá no amanhecer, é dolorosa e
exaustiva expectativa, que pede da força que move montanhas a misericórdia do
tempo...
Barrabás representa nosso espírito em alguma época, desfigurado pelas
transgressões, enfermo e jungido no chão das idéias grosseiras; incapaz de discernir e
optar por mudança.
A mensagem de que Barrabás era portador repercutia no seio do povo como
esperança de uma mudança que ele não atinava qual.
O excelso mensageiro de Deus lhes pareceu um revolucionário despreparado e
não identificado com as questões atuais.
Quantas vezes nos esquivamos das informações de cunho espiritual, sempre
atuais e oportuníssimas, porque primamos por estar atualizados com as informações do
Mundo, que hoje são e amanhã estarão obsoletas.
Outras vezes, lutamos por privilégios que enalteçam nossa personalidade e
companhias honrosas cuja pretensa amizade nos promova sem mérito. Enquanto o doce

209
Nazareno se fez acompanhar de pessoas humildes socialmente; foi trocado por um
malfeitor e despediu-se da Terra entre dois ladrões.
Barrabás entra na história mais envolvente de que se tem notícias, como peça
importante na pesquisa profunda e minuciosa para os estudiosos do evangelho.
Colocado como um contrapeso na balança da consciência coletiva, inibe provável
acusação à Providência de falta de alternativa para a condenação sem causa.
Com isto, cresce nossa admiração e respeito à história da passagem de Jesus
na Terra sob a égide do Cristo e/ou o Plano de Redenção do homem.

Therezinha

A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS
Lucas 23: 33-49

33 Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem


como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda.

210
34 Contudo Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes.
35 O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e
diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é de fato o Cristo de Deus, o
escolhido.
36 Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe
vinagre, dizendo:
37 Se tu és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
38 Também sobre ele estava esta epígrafe [em letras gregas, romanas e
hebraicas]: ESTE É O REI DOS JUDEUS.
39 Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo,
salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!
40 Mas o outro o repreendeu: “Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no
mesmo suplício?
41 Para nós isto é justo:recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este
não fez mal algum.”
42 E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu
reino!”
43 Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no paraíso.”
44 Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até à hora nona.
45 Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se no meio.
46 Jesus deu então um grande brado e disse: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito.” E dizendo isto, expirou.
47 Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse: “Na verdade,
este homem era um justo.”
48 E toda a multidão dos que assistiam a este espetáculo e viam o que se
passava, voltou, batendo no peito.
49 Os amigos de Jesus como também as mulheres, que o tinham seguido desde a
Galiléia, conservavam-se a certa distância, e observaram estas coisas.

Mateus 27: 32-56


Marcos 15: 21-41
João 19: 17-37

REFLEXÃO SOBRE A CRUCIFICAÇÃO DE JESUS

211
Este é um episódio demasiado doloroso para as nossas lembranças tisnadas de
culpa por indução de diversas correntes religiosas cuja cegueira espiritual via nela um
princípio de domesticação para manobras políticas e vantagens de vanguarda.
E isto é grave!
Até quando precisaremos ver o sangue espirrando no madeiro, reconhecer o
sofrimento do Mestre todo amor, para que num momento de reflexão tracemos algumas
diretrizes em proveito de nossas almas com emoção de curta duração, tantas vezes já
experimentada!
Assim como o nascimento de Jesus está registrado para sempre em nossos
corações com cânticos do céu, a poesia do momento glorioso, a emoção da ocorrência, a
alegria da promessa, o colorido da esperança, a santificação da maternidade, a aliança
da lealdade na figura de José, a participação da natureza e dos corações simples,
também, estará para sempre estampada na nossa memória e em nossos corações o
espetáculo do Gólgota...
A personagem que encarnou Judas e a que trabalhou o apóstolo Pedro são a
sinalização que marca a referência de nossa decisão pessoal...
Caminhando ainda com os olhos embaciados e vidrados nas vitrinas do mundo
seremos por muito tempo espectadores de espetáculos sangrentos de alto custo e
apreciadores das telas preciosas de um Cristo cuja grandeza se resume num complexo
de pincéis e óleo em refinadas galerias de arte – fora de nós...
Em verdade a Missão de Jesus está em pleno cumprimento de realização –
enquanto uma só das ovelhas do Senhor Jesus desconhecer a voz do seu pastor, todo o
rebanho estará por cumprir o seu papel. Quando Jesus revela Deus como nosso Pai,
claro fica que nenhum de seus filhos se perderá.
Os dois malfeitores podem representar um de nós, quando presos da ignorância e
da materialidade, no primeiro momento não busca a luz do conhecimento espiritual,
preferindo cobrar da “sorte” seu infortúnio. E, mais adiante, no segundo momento, na
figura do “bom ladrão”, vencido pelo cansaço dos próprios erros e finalmente
crucificado pelo peso da bagagem pretérita, pode perceber que a grande luz ao lado, fora
do poço a que se lançou, é a salvação...
E o Senhor Jesus reúne as últimas forças para declarar mais uma vez o seu
imenso amor por nós: Ele sabia que enquanto o homem não compreendesse a Sua

212
mensagem Divina, muito lhe doeria a culpa do derramamento do seu sangue, sem
proveito.
Então em grande brado alivia nossas consciências: “PAI, PERDOA-LHES
PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM.”

E envia o CONSOLADOR.

Therezinha

JESUS NA CRUZ

Lucas 23: 33-38

33 Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem


como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda.

213
34 Contudo Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.
Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes.
35 O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e
diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é de fato o Cristo de Deus, o
escolhido.
36 Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe
vinagre, dizendo:
37 Se tu és o rei dos Judeus, salva-te a ti mesmo.
38 Também sobre ele estava esta epígrafe [em letras gregas, romanas e

hebraicas]: ESTE É O REI DOS JUDEUS.

João 19: 24-30

24 Disseram, pois, uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sorte sobre
ela para ver a quem caberá – para se cumprir a Escritura:
Repartiram entre si as minhas vestes
E sobre a minha túnica lançaram sortes.
Assim, pois, o fizeram os soldados.
25 E junto à cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã dela, e Maria, mulher de
Clopas, e Maria Madalena.
26 Vendo Jesus sua mãe, e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí o
teu filho.
27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. Dessa hora em diante o discípulo
a tomou para casa.
28 Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumada, para se cumprir a
Escritura, disse: Tenho sede!
29 Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e,
fixando-a num caniço de hissôpo, lha chegaram a boca.
30 Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando
a cabeça, rendeu o espírito.

REFLEXÃO SOBRE JESUS NA CRUZ

Entre maus tratos e desrespeito aos direitos humanos, Jesus retrata naquele
momento todo um porvir do comportamento do homem distante da lei de amor. O
quadro denuncia o caminho que o ser humano teria de correr ao sabor dos instintos
incontidos da animalidade primitiva de sua natureza, sabe-se lá por quanto tempo
sofrendo e fazendo sofrer por própria causa.

A noite desenrola sua jornada igual a todas as demais; porém, esta parece tão
pesada quão leve estivera em outros tempos sob luz da Divina harmonia.

214
E o meigo Rabi da Galiléia estremece no pesado madeiro. A morte se avizinha...
Que é a morte? Que significa desencarne?
Qual a diferença entre um termo e outro?
Outra pergunta: Que é vida? Vida e morte, tema universal para meditação!
Jesus se despede de seus amigos; de sua mãe; de seus discípulos...
E, os outros? Não terá ele vindo para os outros?
Jesus reparte o amor de sua mãe. Admite na sua família, na pessoa do “discípulo
amado”, a humanidade inteira. Com todos e sem ninguém, revela para cada um, o ser
integral que é com todos e com ninguém. O supremo direito de ser, de ser um com
Deus!
É o nosso caminho! A nossa realidade!
E, como na Grande História nada poderia faltar, ele eleva aos Céus a mais
comovente e ditosa oração para o homem na Terra: “Pai, perdoa-lhes porque não
sabem o que fazem!”
A maior mensagem de perdão já recebida!
Esta lição é endereçada a cada uma das criaturas, em particular. Recado que
alcança os mais profundos refolhos da mente para trabalhar os sentimentos no momento
oportuno da mágoa, da ofensa, do agravo e da vingança.
Em verdade eles não sabiam o que faziam. E Jesus de certo não fazia referência
a si mesmo, mas aos homens. E até os nossos dias ainda ignoramos a extensão dos
males que nos fazemos vítimas.
De evangelho entre as mãos, oramos para que nos faça entender o bendito
código de bem viver; buscamos interpretá-lo segundo a restrita bagagem de
experiências mal resolvidas ou que nos tenha marcado profundamente sem nos darmos
conta do infinito espaço vazio de obras valiosas para o nosso crescimento.
Chegamos a experimentar a luta da reforma íntima. Meditamos e ensaiamos o
auto descobrimento – ele nos intimida. Por vezes, trocamos informações e aprendemos
com a experiência alheia. As quedas entretanto nos surpreendem.
Levantamo-nos enfraquecidos e vacilantes; o trabalho volta a nos fortalecer e a
subida de repente nos parece íngreme... A luz de Jesus está sobre nós, mas não podemos
ainda fitá-la sem cochilarmos...

Therezinha

215
A APARIÇÃO DE JESUS
Lucas 24: 36-43

36 Falavam ainda estas cousas quando Jesus apareceu nomeio deles e lhes
disse: Paz seja convosco.

216
37 Eles, porém, surpresos e atemorizados acreditavam estarem vendo um
espírito.
38 Mas ele lhes disse: Por que estais perturbados? E por que sobem dívidas aos
vossos corações?
39 Vêde as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e
verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.
40 Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
41 E, por não acreditarem eles ainda, e estando admirados, Jesus lhes disse:
Tendes aqui alguma cousa que comer?
42 Então lhes apresentaram um pedaço de peixe assado e um favo de mel.
43 E ele comeu na presença deles.

(Ver João 20: 19-23)

REFLEXÃO SOBRE A APARIÇÃO DE JESUS

O recado havia sido passado. O Pai Eterno abriu, com a vinda de Jesus, uma
porta para o entendimento do ser que Ele criou para a felicidade real e se enveredava
por caminhos escuros, colecionando dificuldades para si mesmo.
A luz da eternidade estava na fronte de todos, mas os interesses primavam pela
florescência de coisas pequeninas e passageiras. A dor constrangia e criava o gemido
profundo da mágoa com a vida, se faltava explicação para os sofrimentos.
A chegada do Espírito ao final do caminho é fatal – isto se dará com ou sem o
auxílio do Mundo Maior – todavia, o extremado Pai deseja poupar seus filhos de dores
excedentes.
Para tanto, envia Seu Filho Amado com a missão de interpretar ao gosto do
homem, ainda embrutecido, a mensagem que espalha Luzes e Amor, Consolação e
Sabedoria divinas.
A Grandiosa Verdade escrita com a tinta da Terra, encorpando o espírito que
vivifica!
Essa Gloriosa Verdade não poderia ficar incompleta... e Jesus ressurge
desmentindo a morte e confundindo momentaneamente o homem.
A alegria recobrada eleva o ânimo dos discípulos. O coração de Maria de
Magdala ressuscita! Eis o que é ressurreição.
Sentir mortos a esperança, a segurança da fé, o conforto da presença querida, o
objeto da pacificação interior, a festa permanente o coração... e quando a desolação

217
tomou conta de tudo, esmagou flores fecundadas de ternura e frutos tenros por nascer,
ressurge dentro de si, como por encanto, a Veracidade da palavra do Mestre Amado,
vibrando alto por todas as vias da alma! O Mestre querido vive! Ele é Vida! É imortal!
Ele disse, ele disse!
De certo foram recolhidas da memória – então exaltada e prodigiosa – sob a
emoção do novo, as noites inesquecíveis ou as tardes e manhãs radiosas frente “às águas
azuis do mar ou ao verde das planícies, quando saboreavam as narrativas das parábolas
e se enriqueciam com a simbologia que elas se encerravam...
E tecer os retalhos das lembranças tão caras sem dúvida calcava os
ensinamentos, o que acrescido do trabalho da meditação preparava seus corações para
as nobilitantes tarefas.
Este espetáculo de sentimentos em ardoroso louvor e alegria indescritível ocorre
em todos nós, quando examinamos a Paixão de Jesus e a aparição aos seus discípulos!
A emoção afervora-nos a alma. Embora distantes da época e espaço geográfico sempre
muito sugestivos, o cenário vivido mentalmente pelos dados de que dispomos punge e
nos exalta ao mesmo tempo. O Senhor Jesus vivo em nossa consciência nos fortalece
tanto que nos faz gigantes no pequenino coração...

Therezinha

QUARENTA DIAS DE JESUS, e nós.

Lucas 24: 1-12; Marcos16: 1-20; Mateus 28: 1-20; João 20: 1-31

E tendo Jesus dito: “Pai entrego-me em Tuas mãos!, expirou.

218
Pouco depois um cidadão de nome José, natural da cidade de Arimatéia, um dos
judeus que não participou da trama e que também esperava o reino de Deus, chegando a
Pilatos pediu o corpo de Jesus. Com a permissão dele, retirou o corpo de Jesus,
envolveu-o num lençol e o deitou numa sepultura escavada numa penha nunca antes
ocupada.
As mulheres que tinham vindo com ele da Galiléia – Maria Madalena, Maria
mãe de Tiago, Joana, Salomé, compraram aromas para ungir o corpo de Jesus e foram
no amanhecer do primeiro dia da semana ao sepulcro comentando entre si: Quem nos
revolverá a pedra do sepulcro?
E, quando lá chegaram, viram que a pedra havia sido retirada – diz Mateus que
houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, como um relâmpago
descendo do céu e com vestes brancas como a neve, removeu a pedra e sentou-se sobre
ela, tendo os guardas ficado assombrados, possuídos de medo.
Mas, não encontrando o corpo de Jesus as mulheres ficaram perplexas.
Eis, então que dois varões com vestes resplandescentes lhes falaram: “Porque
buscais o que vive de entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos que
vos falou, estando ainda na Galiléia: Convém que o Filho do homem seja entregue nas
mãos dos homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite”. E elas
recordaram. “Ide, pois, imediatamente aos seus discípulos e anunciai que Ele já
ressuscitou dos mortos, e que vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis. Eis o que
tinha a vos dizer.”
E elas saindo dali pressurosas, com temor e grande alegria, correram a anuncia-
lo aos discípulos de Jesus, mas eles não lhe deram crédito. João e Pedro correram até o
sepulcro e viram que a grande pedra havia sido afastada. Pedro não satisfeito, entrou e
encontrou os lençóis no chão e o lenço em que haviam envolvido a cabeça de Jesus,
dobrado a um lugar à parte.
Ao que parece, Madalena voltou ao sepulcro, só, ou ainda lá se achava quando
os discípulos se foram, para chorar de saudades daquela figura singular que enchera de
alegrias e esperança o coração sequioso do verdadeiro amor. Amargurada pelo vazio que
lhe penetrava as entranhas da alma sensível, vê um jovem que lhe parece um hortelão e
trava rápido diálogo à procura ainda de notícias.
Mas, suprema alegria a eleva aos cimos dos gozos dos bem-aventurados.

219
Ressoam em todo o seu universo íntimo notas musicais, à semelhança de seu
nome com a celeste e familiar entonação. “MARIA!”, chama-a o doce e amado Jesus!
Aquele que a libertara de sete demônios!
- “RABONI! MESTRE!”, responde expandindo a emoção jamais
experimentada! “Aquela que muito amou” frente a frente com aquele que é puro amor!
– Disse-lhes Jesus: “Não me detenhas, porque ainda não subi para o meu Pai, mas dize
aos meus irmãos que eu subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
E quando haviam retornado os soldados para suas corporações, eis que alguns da
guarda, chegando à cidade anunciaram aos príncipes dos sacerdotes todas as coisas que
haviam acontecido. Agregados eles com os anciãos e tomando conselho entre si, deram
muito dinheiro aos soldados, dizendo: “Dizei: Vieram de noite os seus discípulos e,
dormindo nós, o furtaram. E se isto chegar a ser ouvido pelo presidente, nós o
persuadiremos e vos poremos em segurança.”
Os soldados, recebendo o dinheiro, fizeram como foram instruídos. E esta versão
foi divulgada entre os judeus como verdadeira.
No mesmo dia iam dois discípulos para uma aldeia distante de Jerusalém, cujo
nome era Emaus e falando entre si, de tudo que vinha acontecendo, estando Jesus
próximo deles.
Os olhos daqueles discípulos porém estavam como que fechados, para que não o
conhecessem.
“Que palavras são essas que trocais entre vós enquanto caminham e porque
estais tristes?”. “Tu és peregrino em Jerusalém e não sabes das coisas que nela tem
sucedido nestes últimos dias?”. Respondeu-lhes com uma pergunta um deles de nome
Cleofas: “Quais?”.E eles lhes disseram: “As que dizem respeito à Jesus de Nazaré,que
foi varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de deus e de todo o povo e como
os principais sacerdotes não o aceitaram, o condenaram a morte e o crucificaram”. “E
nós esperávamos que fosse Ele o que remisse Israel; mas agora cogitamos sobre tudo
isso, e já fazem três dias que estas coisas aconteceram”. “É verdade que algumas
mulheres dentre nós nos maravilharam afirmando que estiveram com Ele quando
visitaram a sepultura na manhã seguinte, embora a princípio tenha nos parecido
desvario”.
Quando chegaram à aldeia, Jesus fez como quem ia prosseguir caminho, mas os
discípulos o constrangeram a passar a noite com eles porque já se fazia tarde.

220
Aconteceu que, estando com eles à mesa, tomou o pão, abençoou-o e lhes
ofereceu, como fazia, outrora. Então abriram-se-lhes os olhos, e o reconheceram, e Ele
desapareceu-lhes. E comentaram os discípulos entre si: “Não é verdade que se abrasava
o nosso coração enquanto Ele nos falava e quando citava as Escrituras? ”
Voltaram a Jerusalém, contaram aos outros o que se passara naquela tarde a
caminho de Emaus e ouviram a notícia do aparecimento de Jesus às mulheres.
Enquanto falavam destas coisas, Jesus se fez visível aos olhos de todos, que
surpresos imaginaram que viam um espírito. Diz o Senhor Jesus: “Paz seja convosco!”
“Porque vos perturbais? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo.”
Dizendo isto mostrava-lhes os ferimentos. Lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e a
dureza de coração por não haverem crido no que haviam visto. E recomendou-lhes
pregar a Boa-Nova a todo o mundo, falarem sobre o arrependimento e a remissão dos
pecados em todas as nações a partir de Jerusalém; e os que fizessem isto, em crendo
Nele, expulsariam demônios, falariam novas línguas e, pondo as mãos sobre os
enfermos, os curariam. E se alegraram os discípulos vendo que era Ele, o Mestre amado,
que lhes falava.
Perguntou Jesus: “Tendes aqui alguma coisa que comer?” E comeu diante deles
peixe e favo de mel. E recordou com eles o que lhes havia revelado sobre as Escrituras,
no que convinha se cumprisse. Devia padecer, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro
dia. Falou a respeito d’Ele e da passagem na Terra. Com isso abriu-se-lhes o
entendimento.
Outras vezes apresentou-se Jesus aos discípulos.
“Paz seja convosco”, disse o Senhor Jesus surgindo à portas fechadas diante dos
discípulos ali reunidos, desta vez na presença de Tomé, também chamado Dídimo. Dito
isto, assoprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo.”
Ora, Tomé, que informado da ressurreição de Jesus e do aparecimento Dele aos
companheiros, não creu, dizendo que para tanto precisaria tocar-lhe as feridas que os
cravos lhe fizeram nas mãos e nos pés, assim como o ferimento pela lança do lado
direito do tórax; agora estava ali, maravilhado diante dos fatos. E Jesus fez uma
importantíssima colocação a Tomé e a quantos viriam após ele: “Porque viste Tomé,
creste. Bem-aventurados os que não viram e creram.”
E muitos outros sinais foram revelados a eles que não estão mencionados nos
escritos evangélicos.

221
Certa vez, quando Simão Pedro, Natanael da cidade de Caná da Galiléia, Tomé e
outros dois discípulos, filhos de Zebedeu estavam junto do mar de Tiberíades, Pedro
teve vontade de pescar e os outros quiseram ir com eles, mas naquela noite nada
apanharam.
Ao amanhecer Jesus se apresenta na praia e os discípulos não o reconhecem.
Perguntou Jesus a eles: “Filhos, tendes alguma coisa para comer?” “Não!”,
responderam.
E Ele lhes disse: “Lançai a rede para a banda direita do barco e achareis”.
E, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” E quando
Pedro ouviu isto, depressa cingiu-se (porque estava nu) e lançou-se ao mar.O barco foi
se aproximando da praia levando a rede cheia de peixes. Logo que chegaram viram um
peixe e um pão sobre as brasas. Disse-lhes Jesus: “Trazei os peixes que agora
apanhastes!”
Simão Pedro subiu e puxou a rede cheia de peixes para a terra. Havia cento e
cinqüenta e três grandes peixes e, sendo tantos, a rede não se rompeu.
Disse-lhes Jesus: “Vinde e jantai”. Nenhum de seus discípulos ousava perguntar-
lhe quem ele era. Sabendo que era o Senhor Jesus tomou do pão e do peixe e os serviu.
Depois da janta disse Jesus a Simão Pedro: “Simão, filho de Jonas, amas-me mais do
que estes?” “ Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe: “Apascenta os meus
cordeiros:” Jesus fez a pergunta pela segunda e pela terceira vez, e Pedro respondeu
entristecido, por ter sido interrogado mais de uma vez.
“Em verdade, em verdade te digo” disse Jesus a Pedro “ Que, quando eras mais
moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas quando já fores velho,
estenderás as tuas mãos; e outro te cingirá e te levarás para onde tu não queiras”. E disse
isto para sinalizar de como morreria glorificando a Deus. Dito isto, concluiu: “Segue-
me”.
Pedro voltando-se viu o discípulo que Jesus amava os seguindo e indagou a
Jesus: “Senhor, e deste que será?” “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que
importa a ti? Segue-me tu”.
Divulgou-se daí que João não morreria.
Estando reunidos os discípulos, apresenta-se Jesus dizendo: “Paz seja convosco”
“Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai. Ficai, porém em Jerusalém até
que do alto sejais revestidos de poder”.

222
Ele lhes dissera “E eis que eu vos mando e eis que estou convosco todos os dias
até a consumação dos séculos”. Levou-os para fora, até Betânia, e os abençoou
impondo-lhes as mãos. Neste momento se apartou deles e foi se elevando da Terra até
não poderem mais avistá-lo. Nesse clima de adoração, tornaram com grande júbilo para
Jerusalém, onde estavam sempre presentes louvando e bendizendo a Deus.

Therezinha (maio/2001)

ESTÍMULOS

Mateus 10: 24-33

223
24 O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo acima do seu senhor.
25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo como o seu senhor. Se
chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?
26 Portanto, não os temais: pois nada há encoberto, que não venha a ser
revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido.
27 O que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido,
proclamai-o dos eirados.
28 Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
29 Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra
sem conhecimento de vosso Pai.
30 E quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.
31 Não temais pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais.
32 Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o
confessarei diante de meu Pai que está nos céus;
33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de
meu Pai que está nos céus.

REFLEXÃO SOBRE “ESTÍMULOS”

Jesus indica uma regra de conduta que leva ao sucesso de um grupo, seja este
familiar, empresarial ou religioso. A consciência da responsabilidade que nos cabe
dentro do lugar que ocupamos, reconhecendo posições e guardando respeito pelo lugar e
valor alheios, nos ensejará crescer naturalmente, sem a pretensão de superar opositores
ou sobressair-nos sobre pessoas ou circunstâncias. Quando isto é negligenciado por
despreparo ou interesse pessoais, quedas e falências deploráveis são fatais.
O jovem que aperfeiçoou conhecimentos, se fez brilhante e não se eleva sobre o
pai que se sacrificou para fazê-lo crescer, reconhecendo-o como o mestre das primeiras
horas e inclinando-se sobre ele reverente, recordando que muitas vezes adormeceu
indefeso e frágil em seus braços cansados e ternos... O aluno que guarda carinho e
gratidão pela primeira professora, que o incentivou a soletrar as letras do alfabeto e com
paciência e dedicação descortinou um panorama inédito para sua formação e deleite...
são corações dotados de humildade e sabedoria!
“Basta ao discípulo ser como o seu mestre.” Já podemos ser?
Que dizer, se não queremos perdoar nem compreender?
Que dizer quando decidimos fazer justiça pelas nossas mãos?

224
Ou nos achamos intérpretes da Vontade do Pai, quando, observando as suas leis,
não somos capazes de reconhecer a retidão de Seu pensamento, torcendo Sua Verdade
às nossas conveniências, com pretensa autoridade de corrigir?
Nada, porém, se conserva oculto sem que em algum momento venha a ser
revelado. Assim, em alguma época, somos chamados a conferir nossos conhecimentos
com a evidência da Verdade e, se tivermos desenvolvido o espírito de humildade para
ver, veremos a própria face com novo perfil.
Jesus convida o homem moderno a desatrelar-se do passado obscuro e descobrir-
se como novo homem, a empunhar a bandeira do trabalho construtivo a partir de si
mesmo, sob a égide do Cristo, e caminhar confiante naquele que tem contados os nossos
cabelos, como testemunho de Sua presença integral em nossas vidas – porque nos quer
numa convivência consciente com Ele próprio.
Jesus não partiu e nos deixou sós – Ele foi na frente!

Therezinha

“VÁRIAS ADVERTÊNCIAS DE JESUS”

225
Mateus 23: 13-36

13 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais o reino dos céus


diante dos homens; pois, vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando.
14 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque devorais as casas da viúvas
e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso sofrereis juízo muito mais severo.
15 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque rodeais o mar e a terra
para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do filho do inferno duas vezes
mais do que vós.
16 Ai de vós, guias cegos! que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada;
mas se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou.
17 Insensatos e cegos! Pois, qual é maior: o ouro, ou o santuário que santifica o
ouro?
18 E dizeis: Quem jurar pelo altar, isso é nada; que, porém, jurar pela oferta
que está sobre o altar, fica obrigado pelo que jurou.
19 Cegos! Pois, qual é a maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta?
20 Portanto, quem jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está.
21 Quem jurar pelo santuário, jura por ele e por aquele que nele habita;
22 e quem jurar pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que no trono
está sentado.
23 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a
justiça, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas cousas, sem omitir aquelas.
24 Guias cegos! que coais o mosquito e engolis o camelo.
25 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque limpais o exterior do copo e
do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança.
26 Fariseu cego! limpa primeiro o interior do copo, para que também o seu
exterior fique limpo.
27 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos
sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de
ossos de mortos, e de toda imundícia.
28 Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro
estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
29 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque edificais os sepulcros dos
profetas, adornais os túmulos dos justos,
30 e dizeis: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus
cúmplices no sangue dos profetas.
31 Assim, contra vós mesmos, testificais que sois filhos dos que mataram os
profetas.
32 Enchei vós, pois, a medida de vossos pais.
33 Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?
34 Por isso eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e
crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em
cidade;
35 para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra,
desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Barraquias, a quem
matastes entre o santuário e o altar.
36 Em verdade vos digo que todas estas cousas hão de vir sobre a presente
geração.

226
REFLEXÃO SOBRE “VÁRIAS ADVERTÊNCIAS DE JESUS”

Quem adverte sobre a observância de uma lei pretende prevenir um mal.


Jesus, projetando sua visão para longínquas distâncias no tempo, modulou sua
voz até as gerações presentes e as ondas daquela vibração poderosa, pejadas de amor e
autoridade, firmeza e energia, alcançaram nossos espíritos ainda vacilantes e imperfeitos
numa reflexão séria e dolorosa. A consciência de nossa fragilidade nos apressa a
conferir posturas e mergulhar fundo em nossas emoções – dói muito não corresponder
ao amor e confiança do Cristo!

Assim, clara, está nossa implicação na lei, tão atual para nós, modernos
servidores da Lei Divina, quanto for para nossos irmãos fariseus e escribas que, menos
avisados, se comprometiam mais do que serviam.
Ainda caminhamos sem atentar para sutilezas que são verdadeiras preciosidades
dos ensinos de Jesus, como a distinção de valores de nossa apreciação como o da oferta
e o altar; o ouro do santuário; o dízimo da contribuição material que não substitui a
observância da lei, da justiça, da misericórdia e da fé.
O escrúpulo que excede o respeito às normas convencionais criadas por homens,
com prejuízo de terceiros, caindo no engano de engolir um camelo quando um mosquito
talvez pudesse contribuir com caridade no auxílio a outrem. Esta advertência faz
recordar os pães dos sacerdotes, que Davi faz servir aos seus seguidores famintos.
Eis que se faz oportuna a avaliação freqüente de nossa vida íntima, onde
registros diários se agravarão se não nos dermos conta de nossa responsabilidade de
servidores fiéis. Longe de nós a advertência: ai, de vós, espíritas!
Muito longe de nós ficaram aqueles fariseus e escribas insensatos; não lhes
enchemos as medidas, mas, antes, cuidemos de nossas taças...
Se algo devemos fazer sobre isto, é trabalhar o interior e o exterior do copo para
que possamos auxiliar na limpeza dos resíduos dessa geração.
É no muito amar, como inúmeros espíritos deram testemunho e outros ainda
encarnados nos envolvem e emocionam com sua abnegação e doçura, que entenderemos
a mensagem do Cristo plenamente.

227
Therezinha

AS COMPENSAÇÕES

Mateus 10: 40-42

228
40 Aquele que vos recebe a mim recebe; e aquele que me recebe, recebe o que
me enviou.
41 Aquele que recebe o profeta como profeta receberá a recompensa do profeta;
e aquele que recebe o justo na qualidade de justo, receberá a recompensa do justo.
42 E todo aquele que der de beber a um destes pequeninos, só por ser dos meus
discípulos, um copo d’água fria, em verdade vos digo, não perderá sua recompensa.

Mateus 11: 1

1 Logo que acabou de dar essas instruções a seus doze discípulos, Jesus partiu
a ensinar e pregar nas cidades vizinhas.

REFLEXÃO SOBRE “AS COMPENSAÇÕES”

O sentido e o alcance destas palavras, dirigidas por Jesus, como ensino, aos
homens de então e do futuro, se podem resumir da forma seguinte: aquele que deposita
fé em Deus e procede tendo em vista a vida eterna, tendo em vista cumprir a lei de amor
e de caridade, obterá a recompensa reservada ao fiel.
As palavras do versículo 40 eram endereçadas aos apóstolos: aquele que recebe
os vossos ensinamentos, recebe os meus; e quem recebe os meus ensinamentos, recebe
os Daquele que me enviou. As do versículo 41 são simbólicas: aquele que proceder com
louvável intuito, será recompensado pela sua intenção. Quantos às do versículo 42,
podem explicar-se como encerrando, para todos os homens, a seguinte lição: o bem que
fizerdes vos será contado, por menos importância que tenha o vosso ato e seja qual for a
dos irmãos que aliviardes ou socorrerdes.

Jesus partiria dentro em pouco e tinha à sua frente os discípulos amados sobre os
quais deixa a mais nobre tarefa que a humanidade assumiria consigo mesma: a reforma
íntima de cada indivíduo como ser eterno, filho de Deus. Como mensagem Divina,
Jesus devia desenvolver-se entre criaturas ignorantes de seu grandioso destino, a
princípio sob a responsabilidade de alguns homens simples, para quem a presença do
Mestre significava segurança, amparo... era Tudo!

229
As recomendações fluíam entre vibrações de esperança e receio. Mas, a presença
imponente do Mestre respondia. Os discípulos, de espíritos robustos pela força que lhes
era insuflada do Alto e determinação íntima de trabalho e sacrifício, a tudo
reverenciavam, circunspectos e sintonizados com as falanges elevadas do evento,
enquanto a ternura do Mestre os protegia das impertinências da fragilidade física. O
verbo firme e sábio imprimia-lhes coragem e heroísmo santificante. A vitória da luz
sobre as trevas era a fatalidade que custaria lutas e guerras até a transformação dos
costumes, a liberdade do pensamento e o nascimento do homem novo. E prosseguia
instruindo quanto os percalços da estrada.
No caminho, muitos lhes seriam indiferentes, mas os que os recebessem estariam
recebendo a Jesus – o que para nós vale como precioso lembrete, quando abordamos as
almas dos homens levando a palavra do Evangelho, esquecidos de nos fazermos
ausentes para que o Senhor Jesus se faça visível. Quem desse modo receber Jesus,
através de nós, receberá ao Pai que está nos Céus.
De modo que se alguém recebe em seu coração o entendimento e o profeta, por
força de identificação receberá como recompensa a sabedoria de profeta; ou um justo,
acatando sua justiça, se fará recompensado pelas noções de justiça que haja
acrescentado às próprias. Quem no trabalho solitário sirva sempre, até um copo d’água
que dessedente um irmão pequenino a Ele serve.
Jesus atesta assim que a palavra “recompensa”, na contadoria divina, tem outra
conotação: pela Lei de Ação e Reação, nós recebemos de acordo com a aplicação e o
rendimento associados à Lei de Afinidades.
A teoria de bem servir ao próximo resulta na aplicação de bens acumulados, com
tempo indeterminado de validade e correção, em um plano hábil, segurado no direito
adquirido.
É o amor abrindo caminho à consciência Crística.
É Jesus, Um com Deus.
É Deus conosco!

Therezinha

AS RECOMPENSAS

230
Mateus 10: 40-42 ; 11: 1

40 Quem vos recebe, a mim me recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me
enviou.
41 Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de
profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo.
42 E quem der a beber ainda que seja um copo de água fria, a um destes
pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum
perderá o seu galardão.

1 Ora, tendo acabado Jesus de dar estas instruções a seus doze discípulos,
partiu dali a ensinar e a pregar, nas cidades deles.

REFLEXÃO SOBRE AS RECOMPENSAS

Jesus partiria dentro em pouco e tinha à sua frente os discípulos amados, sobre
os quais deixava a mais nobre tarefa que a humanidade assumiria consigo mesma: a
reforma íntima de cada indivíduo como ser eterno, filho de um mesmo Pai; e, como
mensagem Divina esta tarefa devia desenvolver-se entre criaturas ignorantes de seu
grandioso destino, a princípio sob a responsabilidade de alguns homens simples para
quem a presença do Mestre significava segurança, amparo... era Tudo!

As recompensas fluíam entre vibrações de esperança e receio. Mas a presença


imponente do Mestre correspondia. Os discípulos, de espíritos robustos pela força que
lhes eram insufladas do Alto e determinação íntima de trabalho e sacrifício, a tudo
reverenciavam, circunspectos e sintonizados com as falanges elevadas do evento,
enquanto a ternura do Mestre os banhava das impertinências da fragilidade física. O
verbo firme e sábio imprimia-lhes coragem e heroísmo santificante. A vitória da luz
sobre as trevas era a fatalidade que custaria lutas e guerras até a transformação dos
costumes, a liberdade do pensamento e o nascimento do homem novo. E Jesus
prosseguia instruindo quanto aos percalços da estrada.

No caminho muitos lhes seriam indiferentes, mas aos que os recebessem , a


Jesus estariam recebendo; o que para nós vale como precioso lembrete quando
abordamos as almas dos homens levando a palavra do Evangelho, esquecidos de nos
fazermos ausentes para que o Senhor Jesus se faça visível. E quem, desse modo, receber
Jesus através de nós, receberá ao Pai que está nos Céus. De modo que se alguém recebe

231
em seu coração e entendimento o profeta, por força de identificação receberá como
recompensa a sabedoria de profeta; ou um justo, acatando sua justiça, se fará
recompensado pelas noções de justiça que haja acrescentado às próprias. E quem, no
trabalho solitário sirva sempre, até um copo d’água que dessedente um irmão pequenino
a Ele serve.
Jesus atenta, assim, que recompensa, na contadoria divina, tem outra conotação:
pela Lei de Ação e Reação, nós recebemos de acordo com a aplicação e o rendimento
associados.
A teoria de bem servir ao próximo resulta na aplicação de bens acumulados com
tempo indeterminado de validade e correção, por um plano hábil, segurado no direito
adquirido.
É o amor abrindo caminho à consciência Crística.
É Jesus, um com Deus.
É Deus conosco!

Therezinha

JESUS

232
Lucas 10: 20

20 Mas, não vos alegreis porque vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos antes por
estarem os vossos nomes escritos nos céus.

REFLEXÃO SOBRE JESUS

Uma vez mais Jesus fala de alegria. Sempre que o faz, atrai-nos para meditar a
respeito desta alegria de que fala, e da qual sabe bem.

Tendo nós, aqui na Terra, pontinhas de alegria que, efêmeras embora, muitas das
vezes bafejam a nossa alma de divina emoção, poderemos adentrar os pórticos do gozo
sagrado da alegria permanente?

Sem uma permissão mais alta, derivada de um propósito, não se submetem os


espíritos. Engano pensar que nós os temos sob nosso controle ou poder. Antes os
submetem leis augustas, que agem sutilmente sobre toda a ação do indivíduo, encarnado
ou não.

Na lida com os espíritos, a força moral, a caridade, o respeito, a generosidade e a


humildade, associados à oração sincera, fazem a batuta sublime que arrebata os
corações para regiões sensíveis do espírito em trânsito.

Desprendidos de qualquer forma compensatória e ou resquício de vaidade


gerada no personalismo, conseguiremos a alegria plena da auto realização, com vistas
para a distante perfeição.

Bem, presumimos que escrever o nome nos céus é trabalho que vem dos
primórdios dos tempos, que se perdem no silêncio de nossas consciências enquanto
prosseguimos a caminhada na escola do mundo. Cada dia é um traço a mais no precioso
desenho, que se descomplica à medida em que avançamos.

Nosso nome não será escolhido por nossos pais ou parentes. Cada um de nós
veio escrevendo letra a letra, na difícil arte de crescer sozinho, um verdadeiro código
com símbolos e cores belíssimos, com a ajuda de muitos mas sem a assinatura de
ninguém e sob as vistas de Deus... Todos sabemos disso, ao menos inconscientemente.

233
No grande painel do céu, brilham as mais belas obras de arte que pensam,
trabalham e criam felicidade. Elas são chamadas de anjos de Guarda, Querubins,
Serafins… De lá acenam para os homens e contam histórias de suas vidas e aventuras
de seus caminhos. De suas lágrimas, falam sorrindo; de suas alegrias, como se fossem
brincadeira de roda.

Dizem que, nos ensaios para escrever seus nomes no céu, sem que eles
suspeitassem, Deus lhes guiava as mãos... em sonhos... E que, depois de grandes, eles
guiam as nossas!

Therezinha

A Morte de Jesus

234
Esse email foi transmitido por um membro da ABU (Aliança Bíblica Universitária) . E é
muito, mas muito interessante seu conteúdo e nos dá a idéia da dimensão do amor do
senhor Jesus por nós, pois a nossa mente baseada na razão não alcança, não entende,
não discerne, e não vê benefício algum nesse ato mas nesse instante, ou no momento em
que você tiver alguns minutos livre. Leia com desprendimento, leia com sentimento,
permita que sua razão não interfira nesse momento de meditação (“...por que o espírito
luta contra a carne; o espírito é forte e a carne é fraca...”)
Vale a pena lê-lo até o fim.
Forte abraço.

Sou um cirurgião, e dou aulas há algum tempo. Por treze anos vivi em companhia de
cadáveres e durante a minha carreira estudei anatomia a fundo. Posso portanto escrever
sem presunção a respeito de morte como aquela.

Jesus entrou em agonia no Getsemani e seu suor tornou-se como gotas de sangue a
escorrer pela terra. O único evangelista que relata o fato é um médico, Lucas. E o faz
com a decisão de um clínico. O suar sangue, ou “hermatidrose”, é um fenômeno
raríssimo. É produzido em condições excepcionais. Para provocá-lo é necessário uma
fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma
profunda emoção, por um grande medo.

O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos


homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das
finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao
suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.

Conhecemos a farsa do processo preparado pelo Sinédrio hebraico, o envio de Jesus a


Pilatos e o desempate entre o procurador romano e Herodes. Pilatos cede, e então
ordena a flagelação de Jesus. Os soldados despojam Jesus e o rendem pelo pulso a uma
coluna do pátio. A flagelação se efetua com tiras de couro múltiplas sobre as quais são
fixadas bolinhas de chumbo e de pequenos ossos.

235
Os carrascos devem ter sido dois, um de cada lado, e de diferente estatura. Golpeiam
com chibatadas à pele, já alterada por milhões de microscópicas hemorragias do suor de
sangue. A pele se dilacera e se rompe; o sangue espirra. A cada golpe Jesus reage em um
sobressalto de dor.

As forças se esvaem; um suor frio lhe impregna a fronte, a cabeça gira em uma vertigem
de náusea, calafrios lhe correm ao longo das costas. Se não estivesse preso no alto pelos
pulsos, cairia em uma poça de sangue. Depois o escárnio da coroação. Com longos
espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e
o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o
sangrar(os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo).

Pilatos, depois de ter mostrado aquele homem dilacerado à multidão feroz, o entrega
para ser crucificado. Colocam sobre os ombros de Jesus o grande braço horizontal da
Cruz: pesa uns cinqüenta quilos. A estaca vertical está plantada sobre o Calvário. Jesus
caminha com os pés descalços pelas ruas de terreno irregular, cheias de pedregulhos. Os
soldados o puxam com as cordas. O percurso é de cerca de 600 metros. Jesus fatigado,
arrasta um pé após o outro, frequentemente cai sobre os joelhos. E os ombros de Jesus
estão cobertos de chagas.

Quando ele cai por terra, a viga lhe escapa, escorrega e lhe esfola o dorso. Sobre o
Calvário tem início a crucificação. Os carrascos despojam o condenado, mas a sua
túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de
gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne
viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto
pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor
provocar uma síncope, mas ainda não é o fim.

O sangue começa a escorrer. Jesus é deitado de costas, as suas chagas se incrustam de


pó e de pedregulhos. Depositam-no sobre o braço horizontal da cruz. Os algozes tomam
as medidas. Com uma broca é feito um furo na madeira para facilitar a penetração dos
pregos. Os carrascos pegam um prego (um longo prego pontudo e quadrado), apóiam-
no sobre o pulso de Jesus, com um golpe certeiro de martelo o plantam e o rebatem
sobre a madeira. Jesus deve ter contraído o rosto assustadoramente. O nervo mediano

236
foi lesado. Pode-se imaginar aquilo que Jesus deve ter provado; uma dor lancinante,
agudíssima, que se difundiu pelos dedos e espalhou-se pelos ombros, atingindo o
cérebro. A dor mais insuportável que um homem pode provar, ou seja, aquela produzida
pela lesão dos grandes troncos nervosos: provoca uma síncope e faz perder a
consciência.

Em Jesus não. O nervo é destruído só em parte: a lesão do tronco nervoso permanece


em contato com o prego: quando o corpo for suspenso na cruz, o nervo se esticará
fortemente como uma corda de violino esticada sobre a cravelha. A cada solavanco, a
cada movimento, vibrará despertando dores dilacerantes. Um suplício que durará três
horas.

O carrasco e seu ajudante empunham a extremidade da trava; elevam Jesus, colocando-


o primeiro sentado e depois em pé; consequentemente fazendo-o tombar para trás, o
encostam na estaca vertical. Depois rapidamente encaixam o braço horizontal da cruz
sobre a estaca vertical. Os ombros da vítima esfregam dolorosamente sobre a madeira
áspera.

As pontas cortantes da grande coroa de espinhos penetram o crânio. A cabeça de Jesus


inclina-se para frente, uma vez que o diâmetro da coroa o impede de apoiar-se na
madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudas de dor.

Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. Seu
corpo é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a
pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. Tem sede. Um soldado
lhe estende sobre a ponta de uma vara, uma esponja embebida em bebida ácida, em uso
entre os militares. Tudo aquilo é uma tortura atroz. Um estranho fenômeno se produz no
corpo de Jesus. Os músculos dos braços se enrijecem em uma contração que vai se
acentuando: os deltóides, os bíceps esticados e levantados, os dedos se curvam. É como
acontece a alguém ferido de tétano. A isto que os médicos chamam de tetania, quando
os sintomas se generalizam: os músculos do abdômem se enrijecem em ondas imóveis,
em seguida aqueles entre as costelas, os do pescoço e os respiratórios. A respiração se
faz, pouco a pouco, mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair.
Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena

237
crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num
violeta púrpuro e enfim em cianítico. Jesus é envolvido pela asfixia. Os pulmões cheios
de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora
de órbita.

Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus toma um ponto
de apoio sobre o prego dos pés. Esforça-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a
tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração torna-se mais ampla
e profunda. Os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. Por que este
esforço? Por que Jesus quer falar: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Logo em seguida o corpo começa afrouxar-se de novo, e a asfixia recomeça. Foram
transmitidas sete frases pronunciadas por ele na cruz: cada vez que quer falar, deverá
elevar-se tendo como apoio o prego dos pés.

Inimaginável.

Atraídas pelo sangue que ainda escorre e pelo coagulado, enxames de moscas zunem ao
redor do seu corpo, mas ele não pode enxotá-las. Pouco depois o céu escurece, o sol se
esconde: de repente a temperatura diminui. Logo serão três da tarde, depois de uma
tortura que dura três horas. Todas as suas dores, a sede, a cãibras, a asfixia, o latejar dos
nervos medianos, lhe arrancam um lamento: “Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonastes?”

Jesus grita: “Tudo está consumado!”

Em seguida num grande brado diz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.

E morre... Em meu lugar... e no seu!

“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”


Sl 133:1

O julgamento e a morte de Jesus


238
Semy Glanz*

Estamos no Rio de Janeiro, em pleno século XXI. Apesar de ser nosso país
aberto à todas as religiões, garantida pela Constituição a liberdade religiosa, predomina
ainda a cristã. Comemorou-se em abril a Páscoa, festa religiosa judaica, que celebra a
libertação dos escravos judeus no antigo Egito e que foram levados de volta à sua terra
de Israel. Jesus, antes de morrer, comemorou a Páscoa judaica com seus discípulos
judeus. Hoje temos também a Páscoa cristã. Durante vários anos, o Tribunal do Rio
entrava em recesso, a Semana Santa, ou seja, quinta e sexta-feira da Semana da Páscoa,
porque estes dias são feriados.

Ora, há mais 2000 anos, quando a religião era mais acentuada e o povo judeu
comemorava com tristeza a escravidão e com alegria a libertação - festejando a
Páscoa[1], pela ordem religiosa não deviam trabalhar durante a semana. Os tribunais de
então não funcionaram. Como iriam os judeus julgar alguém durante a festa?

Hoje, num país leigo, não há julgamento na Páscoa. Mas a terra de Israel estava
sob domínio romano. Os romanos eram politeístas e não aceitavam a religião judaica
nem a Páscoa. Não sendo feriado para eles, talvez quisessem julgar.

Nos últimos anos, têm sido publicadas várias obras sobre Jesus. No entanto, uma
das mais importantes, especialmente para quem estuda Direito, intitula-se O Julgamento
e a Morte de Jesus. Escrita por um jurista de alto nível, que chegou a ocupar a
presidência do Tribunal Supremo de seu país, o autor, Haim Cohn, estuda de maneira
impressionante os fatos históricos, apoiado em farta bibliografia, que, na tradução
brasileira, já na 2ª edição, ocupa quase vinte páginas. O livro, com 13 capítulos e mais
400 páginas, após analisar os relatos dos Evangelhos e fundado em fontes históricas e
jurídicas da época, traz indagações do autor:

“As incongruências desta história são tantas que não se lhe pode atribuir
qualquer historicidade. Foram todas assinaladas antes, mas que me seja permitido
enfatizar as seguintes:

239
Pilatos queria perdoar Jesus, ou a isso somos levados a acreditar; por que então
não o perdoou?

Presumindo que existia esse privilegium paschale de o povo poder perdoar um


prisioneiro, por que foi a escolha limitada a Jesus ou a Barrabás? Que dizer, por
exemplo, dos dois condenados que foram crucificados com Jesus?

E presumindo que o povo era realmente investido desse privilégio, eram as


“multidões” que estivessem ali presentes suas beneficiadas? A quem representavam?
Quais eram suas qualificações e credenciais?

Pilatos nada encontrara de errado em Jesus; por que não o absolveu? Por que
devia ele perdoá-lo? O curso que ele devia naturalmente seguir teria sido o de absolver e
libertar Jesus e depois perdoar Barrabás, se assim o desejava e também libertá-lo.

Barrabás não era apenas um insurreto e um zelota, mas também responsável por
um assassinato, cometido durante a insurreição que chefiara (Marcos 15,17; Lucas
23,19). Temos de acreditar que essa era a espécie de homem que Pilatos não teria
perdoado, mesmo a pedido do povo. Era um “notável” lutador da resistência que havia
acabado de mostrar o quanto podia ser perigoso. Podemos perfeitamente perguntar
como Pilatos teria justificado sua conduta, tanto para seus funcionários como para seus
oficiais romanos, e, mais importante ainda, em seu relatório ao imperador Tibério”.

Quando o governador viu que o povo vacilava quanto a quem perdoar e que era
necessária a intervenção e a persuasão dos principais sacerdotes e anciãos para ajudá-lo
a decidir-se, ele poderia ter tomado esta hesitação como indício suficiente de sua
inclinação verdadeira e instintiva, e perdoado Jesus por causa disso.

Não é razoável que o povo se deixasse “persuadir” pelos principais sacerdotes.


Sabemos, fora de qualquer dúvida, que não havia muita simpatia no coração das pessoas
pelos “principais sacerdotes” no poder, e a consciência política delas na época era tão
desenvolvida que qualquer conselho dado, para não falar em tentativa de persuasão,
pelos principais sacerdotes teria sido encarado por elas como extremamente suspeito,

240
especialmente se dirigido contra um deles e contra alguém tão amado quanto Jesus.
Nem persuasores nem persuadidos se adaptavam ao papel que lhes fora atribuído.

Não é menos improvável que tal persuasão possa ter sido exercida in loco, na
presença do governador. Ele certamente teria interferido par deter tão flagrante
ingerência. Se era a escolha do povo que ele queria, presumivelmente não iria querer a
escolha dos principais sacerdotes ou dos anciãos, ou uma proclamação pelo povo não da
sua própria seleção, mas a dos principais sacerdotes.

A não ser apenas pelos relatos do Evangelho, não temos registro ou


conhecimento da existência de qualquer privilegium paschale. Houvesse tal costume
existido e, a fortiori, tivesse existido qualquer lei romana ou judia que o estabelecesse
ou reconhecesse, teríamos em algum lugar encontrado o registro dele ou de sua
aplicação, em ano precedente ou subseqüente, e por algum governador mais suscetível à
misericórdia do que Pilatos. Foi dito que esse foi um gesto só de Pilatos, sem
precedentes e não emulado por qualquer outro governador, que ele havia introduzido
para cair nas boas graças do povo. Tal gesto, porém, destoaria inteiramente de tudo do
que sabemos sobre o caráter de Pilatos: nada, com efeito, estaria mais distante de suas
inclinações do que o desejo de angariar o favor de quem quer que fosse, muito menos
dos judeus; além disso, se tal gesto de propiciação tivesse sido praticado logo por
Pilatos entre todos os governadores não poderia ter passado despercebido e ignorado das
crônicas. Josefo, que “prestava especial atenção em registrar todos os privilégios que o
governo romano, em várias oportunidades, concedera aos judeus”, em nenhuma parte
menciona um privilégio tão notável e, enquanto relata todos os atos condenáveis de
Pilatos, cala sobre esse extraordinário ato de compaixão; se Josefo tivesse “por acaso
esquecido” de mencionar o privilégio como tal, é inexplicável que “através de sua longa
narrativa circunstancial” ele não tivesse registrado um só exemplo de um perdão pascal,
se jamais algum foi concedido”.

A verdade, diz Haim Cohn, com citação de autor, é que não existia tal costume e
que o privilegium paschale não passa de imaginação. O texto transcrito se encontra nas
ps 185 e seguinte de O julgamento e a morte de Jesus.

241
Mas não apenas este Cohn, que foi um grande jurista, nos leva a raciocinar com
elementos históricos e também do direito da época. Um autor cristão, o norte-americano
John Dominic Crossan, professor de estudos religiosos na Universidade DePaul, em
Chicago, também o faz, com menos fontes, buscando, porém, nos próprios Evangelhos
a explicação.

Este autor parte de conceitos, falando em “história relembrada” e


“profecia historicizada”, para mostrar que havia um interesse em convencer, mesmo
com deturpação de fatos históricos, pois o intuito era o proselitismo. Quanto ao
julgamento, diz: “Em resumo, ao contrário de Crime e Prisão, para os quais, concedida a
Execução, havia historicidade necessária, o Julgamento e, na minha melhor apreciação,
foi baseado inteiramente em profecia historicizada, e não em história relembrada. Não é
apenas o conteúdo do(s) julgamento(s), mas o próprio fato do(s) julgamento(s) que eu
considero não-histórico”.

 Desembargador

Texto retirado da Tribuna do Advogado

242
Amor e Perdão

A Madalena fora ao túmulo querido


Entre pedras de extremo desconforto...
Levava flores para o Mestre morto,
Tinha o peito magoado e enternecido.

O Sol reaparecia, resplendente,


A névoa da manhã fundia-se no ar,
Na dourada invasão das flamas do Nascente,
Maria estava ali, unicamente,
A fim de estar a sós, recolher-se e chorar.

A desfazer-se em pranto, ele arguía:


- “Por que, por que Senhor?
Tanta saudade e tanta dor!...
Toda felicidade que eu sentia
Jaz aqui sepultada...
Transformou-se-me a vida em sombra e nada
No ermo deste pouso derradeiro...”

Nisso, ela viu alguém... Seria um jardineiro?


Um zelador daquele campo santo?
Mas tomada de espanto,
Viu-se à frente do Mestre Nazareno,
O excelso benfeitor ressuscitado,
A envolver-lhe de paz o coração cansado...

Ela gritou: “Senhor!”


Ele disse: “Maria!”
Ela era a expressão da perfeita alegria,
Ele, o perfeito amor.

Madalena ajoelhou-se e quis beijar-lhe os pés...


-“Maria, por quem és” – explicou-se Jesus –
“Não me toques, porquanto
Não te esperava aqui neste recanto,
E ainda não fui ao Pai revestir-me de luz...”

Maria surpreendida,
Indagou em seguida:
-“Senhor, onde estiveste?
Em que jardim celeste
Encontraste o descanso necessário,
Que vem de Deus, nos dons da paz completa?
Perdoa-me, Senhor, a pergunta indiscreta,
Dói-me, porém, pensar na angústia do Calvário,
Revolto-me, padeço, mas não venço
A mágoa de lembrar-te o sacrifício imenso”
Mas Jesus respondeu:

243
-“Não, Maria, não fui ainda ao Alto,
Nem me elevei sequer um palmo à luz do firmamento
Quem ama não consegue achar o Céu de um salto...
Ao invés de subir aos Altos Resplendores,
Desci, mas desci muito aos reinos inferiores...
Despertando no túmulo, escutei
Os gritos de aflição de alguém que muito amei
E que muito amo ainda...
Embora visse Além, a Luz sempre mais linda,
Sentia nesse alguém um amado companheiro,
Em crises de tristeza e de loucura...
Fui à sombra abismal para a grande procura
E ao reencontrá-lo amargurado e louco,
A ponto de não mais me conhecer,
Demorei-me a afagá-lo e, pouco a pouco,
Consegui que ele, enfim, pudesse adormecer...

-“Senhor - interrogou a Madalena –


“Quem é o amigo que te fez descer,
Antes de procurar a luz do Pai?”
Mas Jesus replicou, em voz clara e serena:
-“Maria,
Um amigo não esquece a dor de outro amigo que cai
Antes de me altear à Celeste Alegria,
Ao sol do mesmo amor a Deus, em que te enlevas,
Vali-me, após a cruz, das grandes horas mudas,
E desci para as trevas,
A fim de aliviar a imensa dor de Judas.”

Maria

Psicografada por Francisco Cândido Xavier

Culto do Lar Espírita Cristão Francisco de Assis


Lembrança do 7º aniversário – 20/06/80

244
Em artigo publicado originalmente em 1899, mestre Rui Barbosa analisa sob a ótica
jurídica o processo de condenação de Jesus Cristo.

O justo e a justiça política

Para os que vivemos a pregar à República, o culto à justiça como supremo


elemento preservativo do regímen, a história da Paixão, que hoje se consuma , é como
que a interferência do testemunho de Deus no nosso curso de educação constitucional.
O quadro da ruína moral daquele mundo parece condensar-se no espetáculo da sua
justiça, degenerada, invadida pela política, joguete da multidão, escrava de César. Por
seis julgamentos passou Cristo, três às mãos dos judeus, três às dos romanos, e em
nenhum teve um juiz. Aos olhos dos seus julgadores refulgiu sucessivamente a
inocência divina, e nenhum ousou estender-lhe a proteção da toga. Não há tribunais, que
bastem, para abrigar o direito, quando o dever se ausenta da consciência dos
magistrados.

Grande era, entretanto, nas tradições hebraicas, a noção da divindade do papel da


magistratura. Ensinavam elas que uma sentença contrária à verdade afastava do seio de
Israel a presença do Senhor, mas que, sentenciado com inteireza, quando fosse apenas
por uma hora, obrava o juiz como se criasse o universo, porquanto era na função de
julgar que tinha a sua habitação entre os israelitas a majestade divina. Tão pouco valem,
porém, leis e livros sagrados, quando o homem lhes perde o sentimento, que exatamente
no processo do justo por excelência, daquele em cuja memória todas as gerações até
hoje adoram por excelência o justo, não houve no código de Israel norma, que escapasse
à prevaricação dos seus magistrados.

No julgamento instituído contra Jesus, desde a prisão, uma hora talvez antes de
meia-noite de quinta-feira, tudo quanto se fez até ao primeiro alvorecer da sexta-feira
subseqüente, foi tumultuário, extrajudicial, e atentatório dos preceitos hebraicos. A
terceira fase, a inquirição perante o sinedrim, foi o primeiro simulacro de forma judicial,
o primeiro ato judicatório, que apresentou alguma aparência de legalidade, porque ao
menos se praticou de dia. Desde então, por um exemplo que desafia a eternidade,
recebeu a maior das consagrações o dogma jurídico, tão facilmente violado pelos

245
despotismos, que faz da santidade das formas a garantia essencial da santidade do
direito.

O próprio Cristo delas não quis prescindir. Sem autoridade judicial o interroga
Anás, transgredindo as regras assim na competência, como na maneira de inquirir; e a
resignação de Jesus ao martírio não se resigna a justificar-se fora da lei: “Tenho falado
publicamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, a que afluem todos os
judeus, e nunca disse nada às ocultas. Por que me interrogas? Inquire dos que ouviam o
que lhes falei: esses sabem o que eu lhes houver dito”. Era apelo às instituições
hebraicas, que não admitiam tribunais singulares, nem testemunhas singulares. O
acusado tinha jus ao julgamento coletivo, e sem pluralidade nos depoimentos
criminadores não poderia haver condenação. O apostolado de Jesus era ao povo. Se sua
prédica incorria em crime, deviam pulular os testemunhos diretos. Esse era o terreno
jurídico. Mas, porque o filho de deus chamou a ele os seus juízes, logo o esbofetearam.
Era insolência responder assim ao pontífice. Sic respondes pontifici? Sim, revidou
Cristo, firmando-se no ponto de vista legal: “se mal falei, traze o testemunho do mal; se
bem, por que me bates?”

Anás, desorientado, remete o preso a Caifás. Este era o sumo sacerdote do ano.
Mas, ainda assim, não tinha a jurisdição, que era privativa do conselho supremo.
Perante este já muito antes descobrira o genro de Anás a sua perversidade política,
aconselhando a morte de Jesus, para salvar a nação. Cabe-lhe agora levar a efeito a sua
própria malignidade, “cujo resultado foi a perdição do povo, que ele figurava salvar, e a
salvação do mundo, em que jamais pensou”.

A ilegalidade do julgamento noturno, que o direito judaico não admitia nem nos
litígios civis, agrava-se então com o escândalo das testemunhas falsas, aliciadas pelo
próprio juiz, que, na jurisprudência daquele povo, era especialmente instituído como o
primeiro protetor do réu. Mas, por mais falsos testemunhos que promovessem, lhe não
acharam a culpa, que buscavam. Jesus calava. Jesus autem tacebat. Vão perder os juízes
prevaricadores a segunda partida, quando a astúcia do sumo sacerdote lhes sugere o
meio de abrir os lábios divinos do acusado. Adjura-o Caifás em nome de Deus vivo, a
cuja invocação o filho não podia resistir. E diante da verdade, provocada, intimada,
obrigada a se confessar, aquele, que não a renegara, vê-se declarar culpado de crime

246
capital: Reus est mortis. “Blasfemou! Que necessidade temos de testemunhas? Ouvistes
a blasfêmia”. Ao que clamaram os circunstantes: “É réu de morte”.

Repontava a manhã, quando a sua primeira claridade se congrega o sinedrim.


Era o plenário que ia se celebrar. Reunira-se o conselho inteiro. In universo concilio, diz
Marcos. Deste modo se dava a primeira satisfação às garantias judiciais. Com o raiar do
dia se observava a condição da publicidade. Com a deliberação da assembleia judicial, o
requisito da competência. Era essa a ocasião jurídica. Esses eram os juízes legais. Mas
juízes, que tinham comprado testemunhas contra o réu, não podiam representar senão
uma infame hipocrisia da justiça. Estavam mancomunados, para condenar, deixando ao
mundo o exemplo, tantas vezes depois imitado até hoje, desses tribunais, que se
conchavam de véspera nas trevas, para simular mais tarde, na assentada pública, a figura
oficial do julgamento.

Saía Cristo, pois, naturalmente condenado pela terceira vez. Mas o sinedrim não
tinha o jus sanguinis, não podia pronunciar a pena de morte. Era uma espécie de júri,
cujo veredictum, porém, antes opinião jurídica do que julgado, não obrigava os juízes
romanos. Pilatos estava, portanto, de mãos livres, para condenar ou absolver. “Que
acusação trazeis contra este homem?” Assim fala sua boca a justiça do povo, cuja
sabedoria jurídica ainda hoje rege a terra civilizada. “Se não fosse um malfeitor, não o
teríamos trazido”, foi a insolente resposta dos algozes togados. Pilatos, não querendo ser
executor num processo, de que não conhecera, pretende evitar a dificuldade,
entregando-lhes a vítima: “Tomai-o e julgai-o segundo a vossa lei”. Mas, replicam os
judeus, bem sabes que “nos não é lícito dar morte a ninguém”. O fim é a morte, e sem a
morte não se contenta a depravada justiça dos perseguidores.

Aqui já o libelo se trocou. Não é mais blasfêmia contra a lei sagrada que se trata,
senão de atentado contra a lei política. Jesus já não é o impostor que se inculca filho de
Deus: e o conspirador, que se coroa rei da Judéia. A resposta do Cristo frustra ainda uma
vez, porém, a manha dos caluniadores. Seu filho não era deste mundo. Não ameaçava,
pois, a segurança das instituições nacionais, nem a estabilidade da conquista romana.
“Ao mundo vim”, diz ele, “para dar testemunho da verdade. Todo aquele que for da
verdade, há de escutar a minha voz”. A verdade? Mas “que é a verdade?” pergunta,
definindo-se o cinismo de Pilatos. Não cria na verdade; mas a da inocência de Cristo

247
penetrava irresistivelmente até o fundo sinistro dessas almas, onde reina o poder
absoluto das trevas. “Não acho delito a este homem”, disse o procurador romano, saindo
outra vez ao meio dos judeus.

Devia estar salvo o inocente. Não estava. A opinião pública faz questão da sua
vítima. Jesus tinha agitado o povo, não ali só, no território de Pilatos, mas desde
Galiléia. Ora acontecia achar-se presente em Jerusalém o tetrarca da Galiléia, Heródes
Antipas, com quem estava de relações cortadas com o governador da Judéia. Excelente
ocasião para Pilatos, de lhe reaver a amizade, pondo-se, ao mesmo tempo, de boa
avença com a multidão inflamada pelos príncipes dos sacerdotes. Galiléia era o fórum
originis do Nazareno. Pilatos envia o réu a Heródes, lisonjeando-lhe com essa
homenagem a vaidade. Desde aquele dia um e outro se fizeram amigos, de inimigos que
eram. Et facti sunti amici Herodes et Pilatus in ipsa die; nam antea inimici erant ad
invicem. Assim se reconciliam os tiranos sobre os despojos da justiça.

Mas Heródes também não encontra, por onde condenar a Jesus, e o mártir volta
sem sentença de Herodes a Pilatos que reitera o povo o testemunho da intemerata pureza
do justo. Era a terceira vez que a magistratura romana a proclamava. Nullam causam
invenio in homine isto ex his, in quibus eum accusatis. O clamor da turba recrudesce.
Mas Pilatos não se desdiz. Da sua boca irrompe a quarta defesa de Jesus: “Que mal fez
ele? Quid enim Mali fecit iste?” Cresce o conflito, acastelam-se as ondas populares.
Então o procônsul lhes pergunta ainda: “Crucificais o vosso rei?” A resposta da
multidão em grita foi o raio, que desarmou as evasivas de Heródes: “Não conhecemos
outro rei, senão César”. A esta palavra o espectro de Tibério se ergueu no fundo da alma
do governador da província romana. O monstro de Cáprea, traído, consumido pela
febre, crivado de úlceras, gafado da lepra, entretinha em atrocidades os seus últimos
dias. Traí-lo era perder-se. Incorrer perante ele na simples suspeita de infidelidade era
morrer. O escravo de César, apavorado, cedeu, lavando as mãos em presença do povo:
“Sou inocente do sangue deste justo”.

E entregou-o aos crucificadores. Eis como procede a justiça, que se não


compromete. A história premiou dignamente esse modelo da suprema cobardia na
justiça. Foi justamente sobre a cabeça do pusilânime que recaiu antes de tudo em
perpétua infâmia o sangue do justo.

248
De Anás a Heródes, o julgamento do Cristo é o espelho de todas as deserções da
justiça, corrompida pelas facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a
sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continuam a crucificá-lo, ainda hoje, nos
impérios e nas repúblicas, cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica.
Foi como agitador do povo e subversor das instituições que se imolou Jesus. E, de cada
vez que há precisão de sacrificar um amigo do direito, um advogado de verdade, um
protetor dos indefesos, um apóstolo de ideias generosas, um confessor da lei, um
educador do povo, é esse, a ordem pública, o pretexto, que renasce, para exculpar as
transações dos juízes tíbios com os interesses do poder. Todos esses acreditam, coo
Pôncio, salvar-se, lavando as mãos do sangue, que vão derramar do atentado que vão
cometer. Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito
conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer te
chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão
salvou-se. Mas ainda há salvação para o juiz cobarde.

Obras completas de Rui Barbosa, “A Imprensa”, Vol. XX

249
FALANDO AO BRASIL

Fim do milênio. Anoitece.


No fulvo céu do Oriente,
A sombra avança envolvente,
Surgem sinistros bulcões;
No alto lampejam raios,
O ódio se descortina,
Lembrando cinza e ruína,
Tumultos... Gritos... Canhões...

Permanece o grande embate:


O Direito e a força bruta.
É Sócrates e a cicuta,
Jesus ante Barrabás...
Desde a Suméria distante,
De Ur ao fulgor do Egito
O mundo rola em conflito,
Ganha a guerra e perde a Paz.

Agora, porém, na Terra,


Sem a Fé, age a Ciência,
Nas grimpas da inteligência,
E apóia o estranho festim;
O cérebro, águia cativa,
Obedecendo ao mais forte,
Exalta o poder da Morte
E aperfeiçoa Caim.

No parque dos armamentos,


Bombas de vários matizas
Querem lauréis infelizes
Em máquina de terror;
Rente ao fogo que dormita,
Escuta-se, a cada hora,
A humanidade que chora,
Perante o abismo a transpor.

250
Por isso, Brasil, enquanto
Nas urzes do sofrimento,
Sopra o ciclone violento
Temor e desolação
Levanta o próprio futuro
No trio que te ilumina:
Justiça, Escola e Oficina,
Burilando o coração.

Falando aos nossos amigos,


Ante a grandeza das estampas,
Vozes suplicam das campas
Na benção do Eterno Pai:
- Bravos filhos do Cruzeiro,
O tempo não nos espera,
Ante o sol da Nova Era,
Uni-vos e trabalhai!...

Recordemos a epopéia
Dos antigos bandeirantes,
Conquistadores gigantes,
Plantando o País no chão,
E os nobres Inconfidentes,
Atormentados em bando,
Mortos-vivos, mas buscando
A paz da libertação.

Ide e criais vida nova!...


Onde o atrito sobrenade,
Mantende a fraternidade,
Que o vosso gênio produz
Dizendo a todos os povos,
Na luz que se vos descerra,
Que, em qualquer luta, na Terra,
O vencedor é Jesus.

Castro Alves

251
POESIA SOBRE A PARÁBOLA DO SEMEADOR
Amélia Rodrigues

“Ao campo, em manhã ridente,


Dirigiu-se o semeador
Caminhando indiferente
Pelos gramados em flor.

Do saco que à mão levava


Caíam os grãos à toa
Que ele nunca examinava
Se a terra era má, nem boa.

Ora em torrão pedregoso


Ora da estrada à beira
Ora em silvedo espinhoso,
Depois em fecunda leira.

E seguiu e foi andando


Pelos campos que encontrou
Sempre, sempre semeando,
Até que o saco esvaziou.

Que sucedeu a semente


Que entre pedras foi cair?
Nasceu, viveu curtamente
E secou sem produzir.

A que à beira do caminho


Desamparada ficou
Comeram-na os passarinhos
Nem ao menos germinou.

Cresceu fraquinha, enfezada,


A do meio do espinhal
Mas, das silvas apertada
Veio a morrer, afinal.

Só a última, a ditosa,
Que em bom terrreno caiu,]
Vingou bela, vigorosa,
E frutos bons produziu.”

252
ORELHA DO LIVRO

Ao Evangelizador

Mesmo que a vida te explore


Do coração as migalhas
Não te dê as migalhas
Apanha o melhor bocado
De resto o Senhor te doa.
Quem sacrifica o regaço
Sem ocupa-lo, sufoca
Todo o Bem que se desdobra
E não foi utilizado.
Na senda do Cristo, toma
As menores circunstâncias
Quem foge busca embaraço
Quem fica colhe esperanças.
Importa ames o trabalho,
E ame o pão que recebe
Disponhas no campo da obra
Teus talentos valiosos...
Porque Jesus que lh’os dá
Sabe porque os concede.
Se fosse para guardar,
Oculto houvera teu quinhão,
Desde que faça uso
Vê-los há multiplicar-se
Como o germe pejado enseje
Mil sementes fecundas.
Desperta a vontade sã
Em forma de cruz altiva
Cunhando um lado o Cristo
Em outra face o Amor
E deste modo então,
Vai vibrar levando a senha
Da vida espiritual
E quem não vai subir contente
Vendo tanto garbo assim:
Domando uma leva séria
Ao sopro de um querubim.

253

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