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Aspectos matemáticos em sistemas


não lineares na mecânica quântica e
mecânica clássica modernas

Aurino Ribeiro Filho


PhD in Theoretical Physics (University of Essex-UK), Prof. Adjunto IV do
DFES/IF/Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia (ribfilho@ufba.br).

Dionicarlos Soares de Vasconcelos


Doutor em Física (CBPF-RJ), Prof. Adjunto IV do DFES/IF/Universidade
Federal da Bahia, Salvador, Bahia (dioni@ufba.br).

Resumo. Este trabalho apresenta Abstract: In this work we present a


uma breve discussão em torno da brief account about some
matematização que envolve alguns mathematical approaches involving
sistemas não lineares que surgem nonlinear systems in quantum and
nas Mecânicas Quântica e Clássica. classical mechanics.
Palavras chaves: mecânica quântica Keys-words: quantum mechanics –
– mecânica clássica – sistemas não classical mechanics – nonlinear
lineares. systems.
RIBEIRO FILHO, Aurino; VASCONCELOS, Dionicarlos Soares de

INTRODUÇÃO

A utilização da Matemática como uma possível linguagem,


adequada para expressar as leis da natureza, surgiu com grande
ênfase no século XVII, com Galilei. Apesar de seu inqüestionável
êxito em atingir tal objetivo, distintos autores têm buscado esclare-
cer o papel de -tal matematização. Giles (1984, p. 15) enfatiza que
nesta linha de raciocínio (ou crença): “temos uma representação
correta da natureza quando o modelo expresso pela linguagem sim-
bólica da Matemática se mostra de acordo com os fatos públicos,
comprovados pela experimentação”. Com referência ao menciona-
do período da história, Paty (1995, p. 234) relembra que, àquela
época, a Matemática era “concebida como um conhecimento que
permitia uma leitura direta da natureza, da qual, precisamente, era
a língua”. É importante salientar que Galilei se reportava, basica-
mente, à Geometria como sendo essa “língua”. Para o célebre físico
e filósofo italiano, o mais interessante “era apenas ordens de gran-
deza” envolvidas no acordo numérico com os fatos experimentais.
Segundo Paty (1995), com o desenvolvimento da Física-Matemáti-
ca surgiria a substituição dessa “tradução matemática” da nature-
za por uma “elaboração explícita de conceitos físicos pensados
matematicamente: sendo a matematização concebida como inerente
aos conceitos, constitutiva desses, que serve para construí-los”
Vale ressaltar que a bem sucedida interação entre as duas ciên-
cias (Matemática e Física) não tem sido alvo de suaves referências,
por parte de alguns atores históricos. Paty (1995, p. 235) relembra
as palavras escritas por René Descartes (1641, 1647) sobre a Mate-
mática, enfatizando que tal ciência “só trata de coisas muito sim-
ples e muito gerais, sem se preocupar muito se elas estão ou não na
natureza”. No mesmo livro encontramos a frase do matemático e
pensador francês Henri Poincaré sobre o mesmo tema: “o que ela
(Matemática) ganhou em rigor, perdeu em objetividade. Foi dis-
tanciando-se da realidade que ela adquiriu essa pureza perfeita”.

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Apesar de tais asserções, é importante ratificarmos que há distin-


tas maneiras de se trabalhar, matematicamente, os diferentes siste-
mas físicos, desde o modelo fenomenológico, interligado fortemente
a dados empíricos, até o estágio mais sofisticado em que se formu-
la a axiomatização da teoria. Esses estudos visam enfatizar o rigor
no raciocínio matemático aplicado à Física. Infelizmente, tendo em
vista as diferentes correntes do pensamento matemático (logicismo,
intuicionismo e formalismo), o mencionado rigor não se livra, com
facilidade, de uma notória desconfiança (GILES, 1984).
No presente trabalho discutimos alguns aspectos matemáticos
interligados aos denominados sistemas não lineares, que se apre-
sentam na natureza, em particular aqueles estudados de maneira
intensa, nas últimas décadas, por físicos e matemáticos. Tais siste-
mas, em vista de suas peculiaridades intrínsecas, têm despertado
um misto de curiosidade e estranheza. Estas características induzi-
ram, durante um certo período, à crença sobre a impossibilidade
prática de se efetivar a busca em torno de um melhor entendimen-
to sobre a física subjacente aos citados sistemas.
Historicamente, é importante relembrar o papel desempenha-
do pelo método matemático de “perturbações” aplicado a alguns
sistemas não lineares. Durante décadas foi o mesmo o principal
instrumento analítico disponível (a físicos ou matemáticos) a fim
de estudar as distintas propriedades físicas (e matemáticas) de tais
sistemas.
Apesar de sua (quase) respeitabilidade, o método de perturba-
ções apresentava limitações e dificuldades que induziram distintos
pesquisadores a apresentar resultados nem sempre muito
esclarecedores do problema tratado. Com o fito de ratificar o ex-
posto acima, é interessante relembrar os problemas enfrentados por
Delaunay (1816-1872)1 no célebre trabalho em torno do estudo da
trajetória da Lua, empreendido em meados do século XIX (1842),
em que o citado autor, ao utilizar uma aproximação (no método de
perturbações) de sétima ordem, a fim de equacionar o trajeto lunar,

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fê-lo através de uma equação final, cuja expressão necessitou de


cento e setenta páginas impressas para a sua completa leitura.
Hagedorn (1984, p. 2), ao relembrar tão hercúleo trabalho desen-
volvido pelo físico e astrônomo francês, diria: “Graças a Deus aque-
les são tempos passados! Hoje, os métodos analíticos de aproxima-
ção têm um significado diferente do daquele tempo, anterior aos
computadores eletrônicos”. Esta frase, em síntese, explicita, de
maneira razoável, as expectativas (e vicissitudes) que envolviam
alguns estudiosos, em torno da Física dos sistemas não lineares, até
o final do século XIX. Somente com o surgimento dos trabalhos
(precursores) de Henri Poincaré, e de outros pesquisadores, em
Mecânica neo-qualitativa (a chamada Mecânica Clássica moderna)
e na Matemática (não linear), é que uma nova série de trabalhos
seminais viria justificar a respeitabilidade desta (antiga) área da
Física.

2. SÓLITONS E A NÃO LINEARIDADE

A descoberta de ondas solitárias2 pelo físico e engenheiro esco-


cês John Russell, e a sua matematização posterior empreendida
pelos matemáticos holandeses Korteweg e de Vries marcaria,
irreversivelmente, os estudos não lineares na Hidrodinâmica clás-
sica (Russell, 1844; Novikov, 1994, Korteweg e De Vries, 1895). Fermi,
Pasta e Ulam (1955) estudaram osciladores não lineares e mostra-
ram que as não linearidades introduzidas no sistema não implica-
vam, necessariamente, na equipartição da energia do sistema cita-
do. Perring e Skyrme (1962) obtiveram, numericamente, soluções
solitônicas da equação de seno-Gordon (ou equação do pêndulo
matemático),

∂2Ψ/∂x2 - ∂2Ψ/∂t2 = senΨ

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as quais mantêm, antes e após uma colisão, a mesma forma e velo-


cidades. Zabusky e Kruskal (1965), estudando a equação de
Korteweg-de Vries (ou KdV), 3 introduziram a denominação
“sóliton” para essas soluções solitárias que se apresentam estáveis
após colisões (TORRIANI, 1986; PERRING; SKYRME, 1962).

3. MECÂNICA QUÂNTICA, MECÂNICA CLÁSSICA E A


NÃO LINEARIDADE

A partir dos anos setenta, do século XX, surgiram inúmeros


estudos em torno de propriedades das ondas solitárias não linea-
res (a exemplo de sólitons), em distintos sistemas físicos, na Física
da Matéria Condensada, implicando no aparecimento de diferen-
tes métodos matemáticos a fim de solucionar as principais equa-
ções. Dentre esses métodos estava o método do espalhamento in-
verso, através do qual muitas equações da Física-Matemática não
linear obtiveram soluções analíticas, tornando possível um grande
avanço em diferentes ramos do conhecimento, a exemplo daqueles
ligados à Biologia, à Química, às Engenharias, à Geologia, além de
distintas áreas da Física, a exemplo de: Óptica não linear,
Cosmologia e Gravitação, Teoria da Relatividade Geral, Mecânica
Clássica, Mecânica Quântica, dentre outras. Nos casos particulares
da Mecânica Clássica Moderna (MCM) e da Mecânica Quântica em
Sistemas não Lineares (MQNL), novas questões básicas surgiriam
e viriam demonstrar a necessidade de intensos estudos em torno
da não linearidade intrínseca a alguns fenômenos estudados nes-
tas disciplinas. Na presente discussão em torno de aspectos mate-
máticos da Física não Linear, na atualidade, enfatizamos o estudo
de alguns tópicos das duas mencionadas áreas da Física (MCM e
MQNL). É importante ressaltarmos que não tentaremos abordar
muitas questões, mas algumas que consideramos fundamentais e
que demonstram a influência da matematização de fenômenos da

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natureza e as possíveis generalizações advindas da abordagem não


linear e que estenderam, ou quase completaram, o entendimento
de certos aspectos teóricos discutidos dentro dos limites da Física
(denominada) linear.
Foi sempre muito enfatizado o caráter simplificador que en-
volve o estudo de modelos para os chamados sistemas dinâmicos
lineares, aqueles que apresentam “uma razão constante entre a sa-
ída e a entrada, ou entre a resposta e a excitação” a partir de objetos
analíticos e numéricos da denominada Matemática linear (SPEYER,
1995, p. 244). Além de uma notória simplicidade, tais modelos são
possuidores de um certo aspecto estético que envolve as distintas
teorias abordadas. Apesar de tais características, graças ao desen-
volvimento científico-tecnológico, surgiu nas últimas décadas a
busca de extensões não lineares em diferentes tópicos das MCM e
MQNL, respectivamente, que se tornaram necessárias e fundamen-
tais ao pleno conhecimento de certas propriedades intrínsecas a
sistemas estudados nas citadas áreas da Física.
No que concerne aos diferentes cálculos envolvendo os siste-
mas não lineares na Física (e por extensão na Química, na Biologia
e nas Engenharias), os mesmos, ao contrário dos sistemas lineares,
nem sempre se apresentam com simplicidade, fato este que talvez
explique a notória lentidão, nos resultados obtidos, por parte da
comunidade dos físicos, em torno de tais formulações de modelos
matemáticos. Felizmente, como diria Hagedorn (1984, p. 2), para a
determinação de condições iniciais e de outros parâmetros mate-
máticos, as equações diferenciais ordinárias podem ser integradas,
por via numérica, “com velocidade consideravelmente maior e com
exatidão apenas possível há poucas décadas”. Ainda com referên-
cia ao mencionado acima, vale enfatizar que uma das motivações
concernentes à presente discussão advém do trabalho apresentado
por Bagchi (1980), em palestra proferida em Lecce (Itália), num
Encontro internacional realizado entre 23 e 29 de junho de 1979,
cujo tema era “Nonlinear Evolution Equations and Dynamical Systems”,

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em homenagem ao centenário de nascimento do físico Albert


Einstein. Naquele evento, o citado autor salientou que, apesar de
alguns cientistas, àquela época, acreditarem que a Física era gover-
nada, essencialmente, por equações matemáticas não lineares e que
quaisquer medições implicavam uma interação não linear, inúme-
ros físicos continuavam preocupados com o formalismo linear da
Mecânica Quântica.
Werner Heisenberg (1967), um dos pais da chamada Mecânica
Quântica moderna (ou Mecânica das matrizes), durante os seus
últimos anos de vida, discutiu e publicou em torno da natureza
deste ramo da Física. Para o citado autor, a teoria quântica, na sua
forma convencional, é linear, pois apesar de as equações envolven-
do os operadores serem não lineares, a linearidade pode ser carac-
terizada ao se resolver a equação de Schrödinger

ih/2π (∂Ψ/∂t) = HΨ

em que h é a constante de Planck, H é o operador Hamiltoniano e Y


é a função de onda do sistema físico. Esta equação pode ser soluci-
onada através de certas transformações matriciais. Para Heisenberg,
a linearidade, na teoria quântica, apresenta uma razão mais pro-
funda (quase filosófica) e não está conectada com alguma aproxi-
mação. De acordo com o mesmo autor, a teoria quântica não trata
com fatos e sim com possibilidades, de tal maneira que o quadrado
da norma do vetor de estado, ⎥⎪Ψ⎥⎪ 2 , descreve o caráter
probabilístico do movimento em torno da partícula, enquanto o
princípio da Superposição (linear) da função de onda é essencial à
citada teoria. Seguindo os seus passos, outros físicos, a exemplo de
Weinberg (1984), Jones (1984) e outros continuaram a discutir a
possibilidade de se estudar sistemas não lineares através da Física
Quântica.
Nesta discussão tentamos relembrar algumas questões
introduzidas por alguns dos autores citados, e que à época em que

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foram postas, ainda não se tinha atingido o estágio atual de desen-


volvimento de métodos matemáticos, nem se contava ainda com
as evidências experimentais obtidas nos últimos anos. Por outro
lado, é possível observar-se, nos tempos modernos, o surgimento
de generalizações e novos dispositivos teóricos, a exemplo do prin-
cípio da Incerteza generalizado, método de Hirota, transformação
de Backlund (na MCM), transformação de Fourier não linear, prin-
cípio da superposição não linear (na MQNR), que têm demonstra-
do o impacto de novos métodos matemáticos aplicados aos fenô-
menos da natureza (XIAO-FENG; YUAN-PING, 2003). É interes-
sante constatar que a MCM inclui fortemente os estudos da Dinâ-
mica não linear e a Teoria do caos, os quais influenciaram no
surgimento de diferentes métodos de solução das equações dife-
renciais ordinárias e parciais. A partir dos citados tópicos, é possí-
vel verificar a necessidade de estudo da Geometria Diferencial, da
Geometria Tensorial e da Topologia como áreas de interesse, além
da Análise Matemática ordinária. No que concerne à MQNL, deve-
mos destacar, nesta discussão, algumas questões básicas
introduzidas por outros autores (HIROTA, 1971; CROCA, 2003)
sobre a necessidade de se construir uma teoria quântica para siste-
mas não lineares. Alguns experimentos em materiais
supercondutores, superfluidos (hélio líquido), ferromagnéticos e
outros indicam a presença de fenômenos quânticos não lineares
incluindo alguns efeitos quânticos ditos macroscópicos,4 além de
sólitons, os quais necessitam, para a sua análise, do uso da teoria
de sólidos quânticos e da teoria de sistemas não lineares. Com tal
preocupação, eles discutem quais os fundamentos basilares para a
teoria; o que influencia a dualidade onda-corpúsculo de partículas
na teoria; bem como as relações que interligam a teoria quântica
linear à teoria quântica ligada aos sistemas não lineares, dentre
outros. É importante relembrar o trabalho do príncipe Louis de
Broglie (1960) que, através de seu livro “Nonlinear Wave Mechanics:
a Causal Interpretation”, introduziu o conceito de não linearidade na

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Mecânica Quântica ortodoxa (linear). Apesar de seu interesse his-


tórico, é importante enfatizarmos que o citado autor enfrentou di-
ficuldades a fim de superar alguns problemas da teoria quântica
em sistemas não lineares, visto que o seu tratamento matemático
era fortemente ligado à teoria quântica estabelecida. Em decorrên-
cia deste fato, a discussão aqui apresentada se concentra em torno
de uma metodologia mais recente, introduzida por Xian-Feng e
Yuan-Ping (2005), a fim de estudar a MQNL.
Esses autores consideram a MQNL como uma resultante ine-
vitável ao desenvolvimento da Mecânica Quântica Linear (MQL),
em que os efeitos quânticos microscópicos são adequadamente es-
tudados. Para eles, a MQNL é uma teoria completa e inteira, visto
que a mesma discute as propriedades e os estados das partículas
microscópicas, em distintos sistemas e sob várias condições, onde
se inclui a dualidade onda-corpúsculo, a qual apesar de confirma-
da experimentalmente não obteve, segundo esses autores, uma ex-
plicação sem controvérsia através da MQL. Essa mesma extensão
não linear da MQL consegue apresentar as leis universais de movi-
mento de corpúsculos na natureza, a exemplo das leis de conserva-
ção da energia, de momentum e de massa, o que assegura uma boa
descrição de tais partículas microscópicas. Na versão linear, a teo-
ria quântica, via Escola ortodoxa de Copenhague, pode ser estuda-
da a partir de alguns postulados (RIBEIRO FILHO, 2002), ou seja:
[#i] O estado quântico de um sistema físico em três dimensões
é descrito por uma função de onda (função psi), complexa, Ψ(x,y,z,t),
a qual é denominada de amplitude de probabilidade. Ela é a solu-
ção da equação Schrödinger dependente do tempo e contém todas
as informações sobre o estado do sistema em qualquer instante de
tempo.
[#ii] Cada variável dinâmica é representada na Mecânica
Quântica por um operador linear hermitiano.
[#iii] Ao realizar-se um grande número de medidas de uma
variável dinâmica num sistema, que é preparado para estar num

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estado quântico Ψ antes de cada medida, o que se constata é que os


resultados de cada medida individual serão em geral diferentes,
mas a média (valor esperado ou valor médio ou esperança mate-
mática) de todos os valores observados é dado por uma grandeza
representada através do símbolo < D >Ψ que representa o valor es-
perado de uma grandeza D.
[#iv] Em todo estado descrito pela função de onda Ψ, a espe-
rança matemática ou valor esperado da observável O é dado pela
expressão <O> = ∫Ψ* O Ψ dr / ∫Ψ* Ψ dr.
[#v] Para todo sistema físico existe um operador linear
hermitiano H chamado operador Hamiltoniano, o qual tem as se-
guintes propriedades: (*i) Este operador corresponde à observável
Energia total do sistema. Portanto, H possui um conjunto comple-
to de autofunções Ψi ( ou autovetores) e um conjunto de autovalores
(ou valores próprios) Ei, tal que HΨi = Ei Ψi ; (*ii). O operador H
determina a evolução temporal da função de onda do sistema me-
diante a equação diferencial parcial de primeira ordem no tempo e
de segunda ordem nas coordenadas espaciais denominada equa-
ção de Schrödinger.
Na extensão não linear introduzida pelos citados autores chi-
neses (Xiao-Feng e Yuan-Ping, 2005) são apresentados apenas dois
princípios básicos para a MQNL : [#a] As partículas microscópicas
em um sistema quântico não linear são descritas por uma função
de onda

Ψ(r,t) = Ψ(r,t) exp[iθ (r,t)]

em que a amplitude (Ψ) e a fase (θ) são funções do espaço e do


tempo; [#b] A função de onda Ψ(r,t) satisfaz à equação de
Schrödinger não linear, isto é,

i(h/2π)∂Ψ/∂t = -(h2/8π2m) ∇2Ψ ± b|Ψ|2Ψ + V(r,t)Ψ + A(Ψ)

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em que V é um campo potencial externo, A é uma função de Ψ e b é


um coeficiente indicador da intensidade da interação não linear. Es-
tas são as duas únicas hipóteses básicas para a MQNL, as quais po-
dem ser estendidas ao caso de inclusão de fenômenos relativísticos
(em que a Ψ(r,t) satisfaz à equação de Klein-Gordon não linear e, por
decorrência, à equação de seno-Gordon não linear e à equação do
campo-Ψ4). Apesar da economia de princípios, as equações dinâmi-
cas deste approach não linear são generalizações das conhecidas equa-
ções de Schrödinger e de Klein-Gordon lineares.
A partir desses princípios, segundo Xiao-Feng e Yuan-Ping
(2005), a MQNL se distingue da MQL nos seguintes aspectos: a Ψ(r,t)
representa um sóliton ou onda solitária que, em geral, é não linear e
não dispersiva. O conceito de operador permanece na teoria não
linear, entretanto o mesmo é agora não linear. O quadrado absolu-
to da função de onda |Ψ(r,t)|2 = |Ψ(r,t)|2 = ρ(r,t) está ligado à den-
sidade de massa da partícula microscópica em cada ponto do espa-
ço, e não ao conceito de probabilidade que, neste caso, não é
enfatizado. Apesar da similaridade na forma da função de onda
nas duas teorias (MQL e MQNL), no caso não linear surge o signi-
ficado que Ψ(r,t) denota o envelope da partícula, enquanto
exp[iθ(r,t)] é uma carrier wave de Ψ(r,t).

4. CONCLUSÃO

As equações dinâmicas na MQNL são utilizadas no estudo de


movimento de elétrons em sistemas supercondutores, em átomos
de hélio em estado de superfluidez, dentre outros. Tais êxitos im-
plicaram em outros cálculos, em vista da teoria comportar novos
objetos analíticos, a exemplo de: o denominado princípio de
superposição não linear, a teoria de transformadas de Fourier não
lineares, além de métodos de quantização e de perturbação que
podem ser aplicados a sistemas não lineares, os quais não discuti-

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remos aqui. De fato, alguns dos pilares da MQL ortodoxa tiveram


de ser abandonados neste tratamento da MQNL. Apesar de tais
dificuldades, é importante verificar que estes novos caminhos tri-
lhados na busca da matematização de fenômenos da natureza têm
expandido cada vez mais os horizontes da Física. Tais avanços teó-
ricos, na MCM, quando se estuda alguns sistemas caóticos, impli-
cou na possibilidade de se definir um possível “princípio de incer-
teza generalizado” que, em síntese, enfatiza o fato de nenhuma
variável física poder ser medida precisamente, cujas implicações
não discutiremos no presente trabalho.

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Recebido em: abril de 2006


Aprovado em: junho de 2006

NOTAS
1
DELAUNAY, Charles-Eugène, matemático e astrônomo francês, nasceu em Lusigny-sur-Barse,
em 09/04/1816 e faleceu próximo a Cherbourg em 05/08/1872. Estudou na Sorbonne (Pa-
ris) entre 1841 e 1848, sob a orientação de Jean-Baptiste Biot, e foi professor na École
Polytechnique a partir de 1850 e, mais tarde, na École de Mines, na capital francesa. Ele é
autor dos dois volumes do La Théorie du Mouvement de la Lune publicados em 1860 e 1867,

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resultante da pesquisa durante vinte anos em torno da teoria do movimento lunar.


2
A teoria de sólitons (ondas solitárias) estuda a propagação de ondas não lineares em meios
contínuos.
3
A equação diferencial parcial não linear de Korteweg-de Vries (KdV), expressa por ∂υ/∂t + α
∂u/∂x +∂3u/∂x3 = 0, apresenta soluções tipo ondas solitárias, em que a é uma constante real
não nula, e os outros termos são derivadas temporal e espaciais. A solução desta equação
envolve funções hiperbólicas (do tipo sech2) ou funções elípticas jacobianas (do tipo cn2)
também denominadas de ondas cnoidais.
4
Os efeitos quânticos macroscópicos resultam do movimento coletivo de sistemas de mui-
tas partículas sob certas condições, a exemplo de temperatura extremamente baixa, alta
pressão e alta densidade.

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Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.
v. 9, n.16, jul./dez., 2006, p. 397-410.

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