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O texto que segue é trabalho dos estudos realizados pelo Grupo de Estudos em
Psicologia Histórico-Cultural do Laboratório de Psicologia Histórico-Cultural -
LAPSIHC, da Universidade Estadual de Maringá. O grupo, formado por alunos de
graduação e pós-gradução do curso de Psicologia, principalmente, e de outros cursos,
em seis anos de existência, busca centrar suas atividades em leituras sistemáticas e
discussões a partir de textos clássicos dessa vertente da psicologia. Objetiva-se com
essas atividades o aprofundamento dos pressupostos teóricos da teoria, bem como dos
fundamentos metodológicos de pesquisa adotados pelos autores. As discussões
realizadas em grupo buscam para além da teoria, investigar as possíveis implicações na
atividade profissional e na prática dos profissionais de educação dos fundamentos
estudados e analisados. Durante o ano de 2013, os textos estudados concentram-se no
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Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá e membra do LAPSIHC-UEM
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Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá; bolsista PIBIC/CNPq-FA-UEM e
membra do LAPSIHC-UEM
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Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá; bolsista PIBIC / Cnpq-FA-UEM e
membra do LAPSIHC-UEM
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Graduação em Psicologia; bolsista PIBIC / Cnpq-FA-UEM e membra do LAPSIHC-UEM
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Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá e membra do LAPSIHC-UEM
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Mestrandra em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá e membra do LAPSIHC-UEM
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Doutora em Educação Escolar pela UNESP-Araraquara/SP; Prof. adjunta do DPI-UEM e Coordenadora
do LAPSIHC-UEM
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Graduanda em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá; bolsista PIBIC / CNPq-FA-UEM e
membra do LAPSIHC-UEM
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Knox (1996) introduz no prefácio a ideia central a respeito do salto do homem atual
comparado ao homem primitivo:
processo análogo. Os experimentos realizados por Luria (1992, p. 66) com grupos de
sujeitos iletrados e de baixa escolarização em aldeias e assentamentos do Uzbequistão
complementam a tese de que as atividades sociais determinam o desenvolvimento das
funções psicológicas e também o comportamento. A partir disso, o autor conclui que
discrepâncias e variações nos níveis culturais operam mudanças na organização da
atividade cognitiva dos indivíduos, fato este que se relaciona às mudanças na
organização social do trabalho e de suas vidas. O autor cita vários exemplos de pessoas
iletradas que só viam a realidade de acordo com a sua vida prática imediata, de acordo
com sua experiência, sendo assim, dotadas de uma organização distinta de pensamento
em relação ao do homem cultural. Luria (1992, p.72) concluiu com esses experimentos
a especificidade desse tipo de pensamento primitivo, uma vez que apresenta-se como
gráfico funcional ou concreto, o que indica que esses homens pensam imitando sua
atividade concreta de trabalho e não teorizando a respeito dela de forma lógica e calcada
num sistema linguístico-conceitual, como pensa o homem cultural. Trata-se, então, do
que Vygotsky chamou de uma consciência relativa dependente ao modo de vida. Com
esta pesquisa os autores demonstraram que o domínio de uma habilidade cultural
complexa como a linguagem escrita revoluciona as funções psicológicas, elevando-as a
patamares superiores, propiciando àqueles que dela se apropriam a condição de
raciocinar para além da experiência imediata ou da experiência vivida, podendo
raciocinar e criar a partir da experiência de outras pessoas desconhecidas, registrada e
condensada dos materiais escritos.
De acordo com o autor, “novas experiências e novas ideias mudam o modo pelo
qual as pessoas usam a linguagem, de maneira que as palavras se tornem o principal
agente de abstração e generalização.” (LURIA, 1992, p. 78). Isso aponta que em
condições de vida e sociedade menos complexas, uma forma de pensamento mais
"funcional" pode ser suficiente para a reprodução da existência humana, fato que não se
reproduz numa sociedade altamente complexa como a industrial. Nesse contexto, essa
forma de pensamento impediria a compreensão e a possibilidade de domínio das
relações de produção existentes em sua complexidade.
Nesse sentido, ao passo que o homem atinge um nível superior de compreensão
das leis naturais e de controle sobre a natureza por meio do trabalho, sua vida social e
sua atividade concreta passam a exigir novos requisitos, mais necessários e elevados
para o controle de sua conduta. Nesse curso, o desenvolvimento da linguagem, do
cálculo, a escrita e outros recursos técnicos e conhecimentos da cultura permitem que o
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homem ascenda a um nível superior no que diz respeito ao seu comportamento, a uma
dimensão totalmente cultural de sua conduta (LURIA; VYGOTSKY, 1996, p. 142).
Assim, é necessário ressaltar que o desenvolvimento cultural se expressa por
meio de um desenvolvimento diferenciado que vai além do processo de maturação
biológica e da simples assimilação mecânica de hábitos externos, possuindo, assim suas
próprias leis e níveis. Além disso, tem-se que a idade cultural do homem não
corresponde a idade intelectual e nem à idade cronológica; desse modo, dois indivíduos
com a mesma idade cronológica e intelectual podem possuir idades culturais distintas,
assim como, um adulto e uma criança podem apresentar a mesma idade cultural
(VYGOTSKY, 1996, p. 220).
O exposto vai ao encontro do que é desenvolvido por Leontiev (2004, p. 95) em
sua obra O desenvolvimento do psiquismo em que trata do desenvolvimento histórico da
consciência. Como já dito, a tese compartilhada pelos autores da escola Histórico-
Cultural da Psicologia é a de que a consciência não é imutável, biologicamente
determinada, mas possui traços característicos em dadas condições históricas e
concretas. Nessa perspectiva, o desenvolvimento do psiquismo, logo, do
comportamento, ao longo da história, é dependente de um processo de transformações
qualitativas.
A partir disso, Leontiev (2004, p. 108) propõe que um traço característico de um
estágio primitivo da consciência, a qual se relaciona com as primeiras etapas do
desenvolvimento coletivo dos homens, é que nessa fase o “consciente é estritamente
limitado” à percepção. Isso quer dizer que os homens nesse estágio ainda têm pouca
compreensão de sua relação com a coletividade, de que vivem em sociedade. Segundo o
autor, esse estágio corresponde à unidade entre duas esferas da vida do homem
primitivo: trata-se da coincidência entre a esfera das “significações linguísticas”, isto é,
das relações socialmente mediatizadas que o homem mantém com a natureza, e a esfera
das relações instintivas, dos comportamentos biológicos que mantém com a natureza. O
salto qualitativo que permite ao homem romper com essa unidade, como posto
anteriormente, é justamente o aparecimento e o desenvolvimento do trabalho, bem
como sua divisão social dentro da vida coletiva, tornando possível o aparecimento de
uma nova consciência de acordo com as novas relações sócio-econômicas estabelecidas
(LEONTIEV, 2004, p. 122). Nesse sentido, segundo o autor, isolam-se duas atividades
do trabalho, a espiritual e a manual:
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O mais essencial exposto pelo autor acima e que está de acordo com o que foi
desenvolvido ao longo deste texto, é que não se pode considerar a consciência como
produto de um processo individual, descolado de seu desenvolvimento social. O
processo de desenvolvimento da consciência descrito, pelo contrário, só se faz a partir
da apropriação pelos homens das significações, conhecimentos e representações
elaboradas social e historicamente por outros homens. “A sua consciência individual só
pode existir nas condições de uma consciência coletiva [...]” (LEONTIEV, 2004, p.
139). Uma vez que os homens se deparam com condições concretas que lhes permitem
controlar não somente os fenômenos da natureza, a partir de suas atividades práticas,
mas também o próprio comportamento, passam a dominar as leis sócio-históricas, as
significações construídas socialmente, apropriando-se ao mesmo tempo, do sistema de
ideias e conhecimentos que nelas resguardam. Esse processo reflete e é influenciado
pelo comportamento do homem, pela sua conduta social; são essas relações sociais
objetivas que criam todas as particularidades inerentes ao comportamento e à
consciência do homem, desde seu caráter mais anterior e primitivo até sua ascendência à
qualidade de cultural. “Assim se caracteriza o psiquismo humano na sua verdadeira
essência social”, conclui Leontiev (2004, p. 147).
A natureza social do psiquismo humano, do desenvolvimento histórico do
comportamento do homem é explicada pela lei da internalização, desenvolvida por
Vygotsky (2007, p. 55). Esse processo aponta para a série de transformações que o uso
dos signos provoca na natureza do homem, um vez que constitui um meio de orientação
interna, ou seja, da atividade interna dirigida para o controle do próprio indivíduo.
Tendo como pressuposto que o processo de internalização refere-se a uma reconstrução
interna de operações externas, essa lei é de suma importância para a compreensão do
curso do desenvolvimento das funções psicológicas superiores, decorrente da utilização
dos signos. Além da mudança de curso, da inserção de um novo elemento produzido
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que essa relação resguarda a possibilidade de construção de uma nova configuração das
relações sociais de produção que possibilite o desenvolvimento pleno das capacidades
intelectuais de todos os homens, a ascensão ao que há de mais desenvolvido pelo gênero
humano. Nas palavras de Vygotsky (1930/2004, p. 09), "uma mudança fundamental do
sistema global destas relações, das quais o homem é uma parte, também conduzirá
inevitavelmente a uma mudança de consciência, uma mudança completa no
comportamento do homem". Esta mudança citada pelo autor, não podemos esquecer, só
pode ser realizada pelos próprios homens social e coletivamente organizados.
Concluímos com a assertiva irrefutável e compartilhada por aqueles que tomam
como base para o seu trabalho como psicólogo, como educador, como estudante ou
pesquisador, os estudos da vertente histórico-cultural: de que a educação assume papel
central na transformação do homem, no que tange o desenvolvimento do domínio
artificial dos comportamentos naturais. Entendemos, pois, que o ser humano não nasce
humanizado, mas se humaniza nas e pelas relações sociais, pois o processo de sua
constituição é regido pela lei já descrita da internalização. Do exposto, fica evidente que
a luta por condições concretas que garantam a todos a possibilidade de apropriação dos
produtos (concretos e espirituais, artefatos e conhecimento) é luta pela superação da
reprodução de seres humanos históricos inconscientemente alienados, na direção da
formação de seres humanos historicamente conscientes de seu papel.
REFERÊNCIAS