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Intensidades

sísmicas
de terremotos:
formulação de
cenários sísmicos
no Brasil
Afonso Emidio de Vasconcelos Lopes
Luciana Cabral Nunes

AFONSO EMIDIO
DE VASCONCELOS
LOPES é professor de
Geofísica/Sismologia
do Instituto de
Astronomia,
Geofísica e Ciências
Atmosféricas da USP.

LUCIANA CABRAL
NUNES é consultora
independente em
geologia.
RESUMO

O nível de atividade sísmica no Brasil é classificado como baixo, com


ocorrência média de menos de dois sismos com magnitudes maiores
que 4 mb por ano, um sismo com magnitude maior que 5 mb a cada
seis anos, e um sismo de magnitude 6 mb a cada 45 anos. Mesmo com
frequência muito baixa, não é impossível a ocorrência de sismos com
magnitudes de até 7,5 mb, sendo que, nesse caso, o período de recor-
rência desse tipo de evento no Brasil é em torno de 885 anos. Neste
trabalho iremos explorar a elaboração de cenários sísmicos considerando
eventos com magnitudes comuns (m ≤ 5), moderadas (5 < m ≤ 6) e
grandes (6 < m ≤ 7,5). Para satisfazer a curiosidade das pessoas e ajudar
a entender a grandeza dos eventos sísmicos, também serão mostrados
cenários sísmicos para eventos com magnitudes improváveis e extre-
mas (maiores que 8 MW) sobre regiões densamente povoadas e com
um grande número de obras importantes, como usinas hidrelétricas,
nucleares e grandes fábricas.

Palavras-chave: terremotos, cenários sísmicos, Brasil.

ABSTRACT

The level of seismic activity in Brazil is classified as low, and it has been
calculated that the average recurrences are: less that 2 seismic events of
over 4 mb magnitude every year, one seismic event of over 5.0 mb mag-
nitude every six years, and one seismic event of 6.0 magnitude every 45
years. Despite the very low recurrence, seismic events of magnitudes up
to 7.6 mb are possible, and in that case, their recurrence interval in Brazil
is of around 885 years. In this work we will explore the elaboration of seis-
mic scenarios, taking into account events with light magnitudes (m ≤ 5),
moderate (5 < m ≤ 6) and strong (6 < m ≤ 7.5). To satisfy people’s curiosity
and help them understand the extent of seismic events, we will also show
seismic scenarios for events with extreme and improbable magnitudes
(over 8 MW) in highly populated regions with a big number of important
buildings, such as dams, nuclear plants and big factories.

Keywords: earthquakes, seismic scenarios, Brazil.


C
om a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e

dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados

no Brasil, a Defesa Civil Nacional e as defesas

civis estaduais começaram a estudar os planos

de emergência para diferentes tipos de cenários

inesperados, como a ocorrência de problemas

meteorológicos, sociais, e até mesmo terremo-

tos. Uma das questões levantadas pela Defesa Civil do Estado de

São Paulo, por exemplo, é qual seria o cenário e o que fazer no

caso da ocorrência de um evento sísmico de magnitude moderada

na capital de São Paulo no momento em que estivesse ocorrendo

um jogo da Copa do Mundo. Trata-se de uma questão hipotética

improvável, mas que certamente deve ser considerada em um

bom planejamento estratégico.

Ao mesmo tempo, a população como um todo costuma ques-

tionar qual é a magnitude de um sismo que pode derrubar uma

casa, e o que ocorreria no Brasil se o país sofresse um terremoto

como o do Japão. No primeiro caso a pergunta é válida e deve

ser explorada, enquanto no segundo caso o cenário é impossível,

visto que não há falhas geológicas no Brasil com dimensões

suficientes para gerar um terremoto como o do Japão. Por outro

lado, mesmo sendo impossível a ocorrência de um sismo com

magnitude 8 MW no Brasil, é conveniente mostrar o cenário

sísmico correspondente, pois ajuda a população a ter uma ideia

da grandeza dos fenômenos sísmicos sobre a superfície.

Dentro dessa perspectiva, neste trabalho iremos explorar os

cenários sísmicos das mais diversas magnitudes e intensidades,

indo desde sismos com magnitudes comuns até com magnitudes

extremas, com foco na cidade de São Paulo e em estados das


regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde Neste trabalho iremos adotar a escala de
está concentrado o maior número de hidre- intensidade Mercalli Modificada (MM), que
létricas, fábricas de processamento e usinas é a mais utilizada nos países americanos,
nucleares do país. porém existem outras escalas, como a EMS-
A intensidade sísmica representa a for- 98 (European Macroseismic Scale), adotada
ma como um determinado tremor de terra pela União Europeia, e a JMA (Japan
é sentido na superfície, e é a maneira mais Meteorological Agency seismic intensity
antiga de se buscar informações sobre os scale), adotada no Japão e parte da Ásia.
terremotos. Trata-se de uma escala qua- As equações de atenuação das intensidades
litativa e bastante subjetiva que depende sísmicas mais adequadas a grande parte
muito das perguntas do entrevistador e do Brasil também são mostradas, e foram
da qualidade das observações anotadas. determinadas para regiões tectonicamente
Um dos problemas na determinação da estáveis (centro-leste dos Estados Unidos
intensidade sísmica é que o sismólogo deve e região central do Canadá).
sempre tentar remover o efeito das emoções
das pessoas que sentiram o evento sísmi-
co, e isso é feito com perguntas simples e
diretas como “Algum objeto sobre a mesa MAGNITUDE E INTENSIDADE
sofreu movimentação? Você viu o lustre
balançando? Você estava de pé ou deitado SÍSMICA
no momento do sismo?”.
A “força” dos terremotos é medida com
duas escalas distintas, que são as escalas de
FIGURA 1
magnitude e de intensidade. A magnitude de
Exemplificação de como varia o tamanho (círculos pretos) um tremor de terra é um valor que mostra o
e a energia liberada (círculos cinza) pelos terremotos para quanto um sismo é maior que outro. Para se
diferentes valores de magnitudes. A área referente ao sismo ter uma ideia, um sismo de magnitude 5 mb é
de magnitude 5 MW é igual nos dois casos, e as áreas dos dez vezes maior que um sismo de magnitude
4 mb e cem vezes maior que um sismo de
sismos de magnitudes 6, 7 e 8 MW são dadas em função da
magnitude 3 mb, ou seja, para cada aumento
área do sismo de magnitude 5 MW de uma unidade no valor da magnitude, o
tamanho do sismo (forma como ele vibra o
chão) aumenta em dez vezes. A magnitude
de um tremor de terra também pode ser
relacionada de forma empírica à energia
liberada pelo mesmo, mas, nesse caso, para
cada aumento de uma unidade no valor da
magnitude, a energia do sismo aumenta em 33
vezes. Dessa forma, um sismo de magnitude
5 mb libera mil vezes mais energia que um
sismo de magnitude 3 mb. A Figura 1 ilustra
na forma de áreas de círculos como ocorre
o crescimento do tamanho dos terremotos e
da energia sísmica liberada.
A intensidade sísmica é um parâmetro
que representa os efeitos e danos produzidos
pelos terremotos (veja Tabela 1) na superfí-
cie da Terra. Embora haja algumas escalas
de intensidades sísmicas, a mais comum no
Ocidente é a escala Mercalli Modificada
(MM), que é dada em algarismos romanos

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tabela 1
Escala de Intensidade Mercalli Modificada

Intensidade
Aceleração
Mercalli Mo- Descrição do nível de intensidade
(%g)
dificada
I Não sentido, exceto em condições extremamente favoráveis. Leves efeitos de período

[Imperceptível] longo de terremotos grandes e distantes. Registrado (“sentido”) apenas pelos sismógrafos.
II Sentido apenas por algumas pessoas, especialmente em prédios altos. Objetos leves
< 0,3
[Muito fraco] podem balançar.
Sentido por algumas pessoas em casa, especialmente em prédios altos. Alguns objetos
III
0,4 – 0,8 pendurados oscilam. Vibração parecida com a da passagem de um caminhão leve. Dura-
[Fraco]
ção estimada. Pode não ser reconhecido como um abalo sísmico.
Sentido em casa por muitas pessoas, e na rua por poucas pessoas durante o dia. À noite
algumas pessoas despertam. Pratos, janelas e portas vibram, e as paredes podem ranger.
IV
0,8 – 1,5 Os carros e motos parados balançam visivelmente. A vibração é semelhante à provocada
[Moderado]
pela passagem de veículos pesados ou à sensação de uma pancada de uma bola pesada
nas paredes.
Sentido por praticamente todas as pessoas; muitos despertam. As pessoas conseguem
V identificar a direção do movimento. Líquido em recipiente é perturbado. Objetos pe-
1,5 – 4
[Forte] quenos e instáveis são deslocados. Portas oscilam, fecham, abrem. Os movimentos de
pêndulos podem parar.
Sentido por todas as pessoas; muitos se amedrontam e saem às ruas. Pessoas andam sem
VI firmeza. Algumas mobílias pesadas podem se movimentar. Louças e alguns vidros de ja-
4–8
[Forte] nelas são quebrados. Objetos e livros caem de prateleiras. Observação de danos modera-
dos em estruturas civis de má qualidade. Pequenos sinos tocam em igrejas e escolas.
Efeitos sentidos por pessoas que estão dirigindo automóveis. Difícil manter-se de pé.
Móveis são quebrados. Danos pequenos em edifícios bem construídos, danos moderados
VII em casas bem construídas, e danos consideráveis em estruturas mal construídas. Algumas
8 – 15
[Muito Forte] chaminés sofrem colapso. Queda de reboco, ladrilhos e tijolos mal assentados. Ondas em
piscinas. Pequenos escorregamentos de barrancos arenosos. As águas dos açudes ficam
turvas com a movimentação do lodo. Grandes sinos tocam.
Danos em construções normais, com colapso parcial. Algum dano em construções refor-
çadas. Queda de estuque e alguns muros de alvenaria. Queda de chaminés, monumentos,
VIII
15 – 30 torres e caixas d’água. Galhos quebram-se das árvores. Trincas no chão. Afeta a condução
[Muito Forte]
dos automóveis. A mobília pesada sofre movimentações e pode virar. Mudanças nos
fluxos ou nas temperaturas das fontes e poços.
Pânico generalizado. Construções comuns bastante danificadas, às vezes colapso total.
IX Danos em construções reforçadas e em grandes edifícios, com colapso parcial. Alguns
30 – 60
[Muito Forte] edifícios são deslocados para fora de suas fundações. Tubulação subterrânea quebrada.
Rachaduras visíveis no solo.
Maioria das construções destruídas até nas fundações. Danos sérios a barragens e diques.
X
60 – 100 Grandes escorregamentos de terra. Água jogada nas margens de rios e canais. Trilhos
[Catastrófico]
levemente entortados.
Poucas estruturas de alvenaria não colapsam totalmente. Pontes são destruídas e os
XI
100 – 200 trilhos dos trens são completamente entortados. As tubulações subterrâneas são comple-
[Catastrófico]
tamente destruídas.
Destruição quase total. A paisagem é modificada com a topografia sendo distorcida. Gran-
XII
> 200 des blocos de rocha são deslocados. Objetos são jogados ao ar. Essa intensidade nunca foi
[Catastrófico]
observada no período histórico.

Fonte: adaptado de Assumpção & Dias Neto, 2000

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no intervalo de I a XII, sendo que I é a in- mesmos efeitos citados anteriormente;
tensidade dada aos locais em que o sismo 4) tipo de região tectônica e de suas rochas:
não foi sentido, e XII é a intensidade que a atenuação inelástica das ondas sísmicas
poderia ser dada a efeitos cataclísmicos, ocorre devido à transformação da energia
como mudança de topografia, desvio de elástica em calor. Isso ocorre por diferentes
cursos de rios, entre outros efeitos devas- motivos, indo desde as imperfeições dos
tadores. Em tempos históricos, nunca foi minerais das rochas até o calor e as tensões
observado um sismo que tenha provocado a que as rochas de uma determinada região
intensidade XII na superfície da Terra. estão submetidas. Junto ao processo de
A Escala de Intensidade Mercalli foi perda de energia elástica, também temos os
elaborada em 1902 pelo vulcanólogo e processos de atenuação elástica da energia
sismólogo italiano Giuseppe Mercalli, e sísmica, citada anteriormente. Sabe-se que
foi revisada em 1956 por Charles Richter regiões de borda de placas litosféricas, como
(daí, modificada). a Califórnia, nos Estados Unidos, atenuam
Embora a escala de intensidade seja mais a energia das ondas sísmicas do que
qualitativa e mais passível de erro do que regiões tectonicamente estáveis como o
a escala de magnitude, que é quantitativa, Brasil. Por isso, é aconselhado o uso de leis
ela é a forma mais antiga de se medir os de atenuação das ondas sísmicas apropriadas
terremotos. Trata-se de uma forma simples para cada tipo região de estudo;
de descrever os efeitos dos sismos sobre 5) a “qualidade” do terreno onde o tremor
pessoas (como as pessoas sentiram o abalo), de terra é sentido: casas e prédios locali-
em objetos e construções (barulho e queda zados sobre rocha dura, ou com alicerces
de objetos, trincas ou rachaduras em casas, nesse tipo de rocha, sofrem menos com as
etc.) e na natureza (movimento de água, vibrações produzidas pelos terremotos do
escorregamentos, liquefação de solos are- que casas e demais estruturas localizadas
nosos, mudanças na topografia, etc.). sobre solo. Uma pequena camada de solo
A intensidade sísmica depende simul- com poucas dezenas de metros de espessura
taneamente de pelo menos cinco fatores pode amplificar as vibrações produzidas
principais, que são: pelos terremotos em até três vezes, sendo
um fenômeno crítico na seleção dos locais
1) a magnitude do tremor de terra: eventos de obras importantes.
com magnitudes grandes (por exemplo, 7
MW) têm maior potencial de destruição do A estrutura da escala MM é linear, e o
que eventos com magnitudes pequenas (por intervalo de intensidade de I a V é pouco
exemplo, 3 MW); relevante em termos de risco sísmico. Em
2) a distância entre o evento e o local de torno de 90% de todos os danos provoca-
interesse, também chamada de distância dos por tremores de terra correspondem
epicentral: com o aumento da distância a áreas afetadas com intensidades VI,
epicentral os percursos das ondas sísmicas VII e VIII, que produzem acelerações
também aumentam, fazendo com que a horizontais entre 0,05g e 0,30g cm/seg.
energia dessas ondas seja diluída devido ao A grande variação de intensidades
espalhamento geométrico delas e parcial- observadas em bacias sedimentares mos-
mente perdida na forma de calor devido às tra que, além da magnitude, distância e
imperfeições dos minerais das rochas por profundidade do tremor de terra, a intensi-
onde as ondas se propagam; dade depende dos efeitos de amplificação
3) a profundidade do foco do sismo: com local, que depende exclusivamente da
o aumento da profundidade do foco, tam- geologia superficial no entorno do local
bém conhecida como profundidade focal, de interesse. Esse fator de amplificação
as ondas percorrem distâncias maiores local das vibrações sísmicas pode ser
até chegarem à superfície, acarretando medido com um sismógrafo usando as
diminuição da energia sísmica devido aos vibrações sísmicas ambientais, como

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demonstrado em estudos de microzonifi- De acordo com Bender e Perkins
cação sísmica de grandes cidades com o (1987), a incerteza nas equações de Toro
Método de Nakamura (Gutierrez & Singh, et al. (1997) pode subestimar os valores do
1992; Lanchet et al., 1996; Improta et al., risco sísmico, e por isso pode-se considerar
2005; Badrane et al., 2006; Fergany & adicionalmente um fator de correção de 1,5
Bonnefoy-Claudet, 2009). para os valores de PGA.
Embora não haja uma relação direta
e simples entre os vários parâmetros que
relacionam a intensidade sísmica à mag- PERIGO E RISCO SÍSMICO
nitude e distância hipocentral dos sismos,
Campbel (1982) e Toro et al. (1997) elabo- O perigo sísmico varia de região para
raram relações empíricas entre esses parâ- região da Terra, e representa o quanto uma
metros, denominadas “lei de atenuação de determinada área é perigosa do ponto de
intensidade sísmica”. No caso desses dois vista sismológico. Por outro lado, o risco
trabalhos citados, essas funções empíricas sísmico é um parâmetro definido pelo ho-
são válidas para as regiões central e leste mem, visto que o mesmo é dado de forma
dos Estados Unidos, e atualmente ainda geral pela equação abaixo:
são as melhores funções a serem usadas
no Brasil, visto a semelhança tectônica de Risco sísmico = perigo sísmico x vulnera-
ambas as regiões. bilidade sísmica.
Dessa forma, para calcular o nível de
aceleração que pode ser provocada nas O perigo sísmico depende das caracte-
partículas do terreno em um determinado rísticas sísmicas da região e do tempo de
local de interesse pelo sismo de projeto ou exposição, enquanto o risco sísmico depen-
outros sismos, pode-se utilizar as funções de do perigo sísmico e da vulnerabilidade
de atenuação da amplitude máxima da ace- das construções. Dessa forma, se todas
leração do chão (Peak Ground Acceleration, as hidrelétricas do mundo devem ter um
PGA) das vibrações sísmicas em função da risco sísmico dentro de valores aceitáveis,
distância epicentral e magnitude do evento. devemos alterar a vulnerabilidade sísmica
As equações citadas de Campbel (1982) de região para região. Com isso, em um
são: país com um grande perigo sísmico como
o Chile, as obras devem ser reforçadas para
IMM = 2mb - 0,3 - 0,0011D - 1,17(lnD) (1) diminuir a vulnerabilidade sísmica com o
ln (ah) = 1,05 – 0,158 mb + 0,63 IMM (2) objetivo de posicionar o risco dentro de
padrões aceitos mundialmente.
onde IMM é a intensidade na Escala Mercalli Como mostrado por Lopes (2010), a
Modificada, D é a distância epicentral em avaliação de risco sísmico no Brasil vem se
quilômetros, mb é a magnitude e ah é a tornando popular para grandes obras como
aceleração horizontal. hidrelétricas, barragens de rejeito e grandes
fábricas de nanotecnologia, principalmente
A equação de Toro et al. (1997) é dada devido à internacionalização do país e à
por: adequação das empresas brasileiras a pa-
drões internacionais. Embora o Brasil tenha
lnY = 2,07 + 1,2(m-6) - 1,28[ln(rm)] + uma norma sísmica relativamente adequada
0,05 max [ln(rm/100), 0] - 0,0018(rm) (3), (ABNT, 2006), ela não respeita os padrões
observados na sismicidade brasileira, tendo
em que Y é a máxima aceleração horizontal sido elaborada com base em um mapa de
(em unidades de g, com g = 9,8 m/s2), e: risco sísmico mundial.
A Figura 2 mostra a zonificação sísmica
rm = (r2 + 86,49)1/2 do Brasil segundo a norma ABNT NBR
r = distância epicentral em km (4). 15.421 (ABNT, 2006) sobreposta aos mapas

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FIGURA 2
Mapa de sismicidade do Brasil

a)

b)

Fonte: Boletim Sísmico Brasileiro, IAG-USP, 2010.

Os epicentros dos sismos são representados pelos círculos, e os limites sugeridos de


perigo sísmico pela norma brasileira ABNT NBR 15.421, pelas linhas laranja.
a) sismos rasos (profundidade menor que 30 km) com magnitude maior que 3 mb;
b) sismos rasos com magnitude maior que 4 mb.

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de sismicidade do país com os sismos de muitas estações sismográficas operando no
magnitudes maiores que 3 mb e 4 mb. Pela Brasil, temos condições de detectar apenas
norma da ABNT a Zona 0 tem o menor os eventos sísmicos mais fortes, em geral
perigo sísmico e a Zona 4, o maior perigo, com magnitudes maiores que 4 mb. Até o
porém, pode-se observar na Figura 2 que final de 2012 teremos uma rede sismográ-
os maiores sismos ocorridos no Brasil se fica nacional instalada, e a partir de então
encontram na Zona 0, enquanto o estado iremos conseguir detectar todos os sismos
do Acre, que é atingido principalmente com magnitude maior que 3,5 mb ocorridos
por sismos profundos pouco intensos na no Brasil, e a maior parte dos sismos com
superfície, está localizado na Zona 4, o magnitudes maiores que 3 mb. Quanto aos
que evidencia a falta de conhecimento sismos menores, iremos conseguir detectar
que ainda temos sobre o perigo sísmico no apenas uma pequena fração deles, princi-
Brasil. Isso deve mudar nos próximos cinco palmente se tivermos “sorte” de colocar
a dez anos, quando começarem a surgir os uma estação sismográfica próxima a uma
primeiros mapas de perigo sísmico para região epicentral.
algumas regiões do Brasil. Embora esses tremores de terra com
Para concluir, é importante destacar que magnitudes pequenas sejam pouco sentidos,
os estudos de perigo sísmico são realizados em alguns casos geram desconforto, como,
com métodos estatísticos que permitem por exemplo, na região de Bebedouro, SP
estimar qual a probabilidade de um evento (Assumpção et al., 2010), onde sismos com
sísmico de uma determinada magnitude magnitudes próximas de 1 mb são sentidos
atingir uma obra de engenharia durante como vibrações sutis acompanhadas de um
sua vida útil. Esse parâmetro é denominado forte “barulho” vindo do chão. Esse descon-
“sismo de projeto”. No caso do estudo do forto com sismos pequenos pode ocorrer
perigo sísmico com o método determinís- quando os eventos sísmicos são rasos, com
tico, posteriormente a essa primeira análise profundidades focais entre 100 e 500 metros.
estatística da atividade sísmica na região Além disso, mesmo os tremores de terra
de influência sísmica (região definida pela pequenos podem gerar muito desconforto
distância de 300 milhas do local de interes- em regiões pouco sísmicas como o Brasil.
se), a magnitude e as informações sobre o No caso de ocorrência de um sismo
sismo de projeto são aplicadas às equações pequeno em uma grande metrópole, como
(1), (2) e (3) para estimar qual é a máxima São Paulo, ele seria pouco sentido durante
aceleração sísmica que atingirá uma obra o dia, principalmente devido ao elevado
durante a sua vida útil. nível de vibrações artificiais existentes
nessas regiões (por exemplo, caminhões,
vibrações em estádios de futebol, passagem
de aviões, etc.).
CENÁRIOS SÍSMICOS

Tremores de terra de pequeno Tremores de terra com


impacto intensidades moderadas
Todos os dias ocorrem pequenos tre- Os tremores de terra classificados aqui
mores de terra no Brasil e no mundo. A como de intensidade moderada são eventos
maior parte desses tremores não é sentida com magnitudes próximas de 5 mb com in-
pelas pessoas e só é registrada por sismó- tensidades entre IV e V MM, referentes a um
grafos localizados muito próximos aos sismo de magnitude 5,2 mb, ocorrido a 100
epicentros desses eventos (distância em km de distância, ou um sismo de magnitude
geral menor que 50 km). Como não temos 6 mb, ocorrido a 300 km de distância. Esse

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tipo de evento produz vibrações que podem obra. Por outro lado, um evento “imprová-
chegar a 0,02 g de aceleração na componen- vel” não deve ser considerado “impossível”,
te horizontal e não representa perigo para pois existe uma pequena possibilidade de
barragens hidrelétricas (preparadas para ocorrer em qualquer região do país.
suportar vibrações de até 0,05 g) ou para No caso da ocorrência de um sismo
usinas nucleares (preparadas para suportar com magnitude 6 mb com epicentro na
vibrações de até 0,10 g no Brasil). cidade de São Paulo, podemos esperar o
Por outro lado, sismos de magnitudes colapso de muitas estruturas que suportam
moderadas podem ser sentidos a mais de acelerações sísmicas de até 0,02 g, como
100 km de distância com intensidades mo- casas, por exemplo. Além disso, pode-se
deradas, e podem gerar pânico em regiões esperar histeria generalizada e problemas
como o Brasil, onde a população não se de abastecimento temporário. Pode haver
encontra preparada para lidar com esse queda de energia elétrica pontual, sendo
tipo de evento. No caso de um evento de pequeno o risco de colapso da rede de gás,
intensidade entre IV e VI MM ser sentido o que poderia gerar incêndios espalhados
durante um jogo de futebol ou um show, pela cidade.
por exemplo, o cenário sísmico seria de Mesmo sendo um sismo com período de
confusão, porém sem risco de colapso de recorrência superior a 45 anos no Brasil, esse
estruturas importantes. Pode haver queda de evento deve ser considerado em planos de
objetos sobre pessoas em locais fechados e, emergência sísmica, pois não há obras no
eventualmente, atropelamentos de pessoas país capazes de suportar esse tipo de abalo
que corram diretamente para as ruas, como sísmico a pequenas distâncias epicentrais.
já observado no México em 2010. Trata-se de um evento raro, que não deve
necessariamente ser usado como sismo de
projeto para grandes obras, mas vale reforçar
Tremores de terra perigosos para que deve ser considerado na elaboração de
cenários sísmicos, incluindo estimativas de
grandes obras isossistas para determinação do tamanho
de área afetada e outros parâmetros im-
Eventos sísmicos com magnitudes portantes para o planejamento relacionado
próximas de 6 mb ocorridos a menos de à Defesa Civil.
50 km de distância de uma grande obra
têm potencial de destruição, gerando
intensidades próximas de VII MM para Terremotos de magnitudes
uma distância de 50 km e VIII MM para
uma distância de 25 km, correspondendo extremas
a acelerações horizontais médias de 0,07
g e 0,15 g, respectivamente. As barragens Pode-se afirmar sem sombra de dú-
hidrelétricas no Brasil são preparadas para vidas que é impossível ocorrer um sismo
suportar acelerações sísmicas de até 0,05 g, de magnitude maior que 8 no Brasil. Esse
e as usinas nucleares são preparadas para tipo de evento em geral ocorre nos limites
suportar vibrações de até 0,10 g. convergentes das placas litosféricas, como
Os dois maiores sismos ocorridos no no Japão e no Chile. Por outro lado, muitas
Brasil tiveram magnitudes próximas de pessoas curiosas e repórteres insistem em
6 (6,2 em Porto dos Gaúchos, em Mato perguntar o que ocorreria com determinada
Grosso, e 6,1 no Alto de Vitória Trindade, na obra se um sismo de magnitude extrema
porção oceânica perto do estado do Espírito ocorresse no Brasil.
Santo). Esse tipo de evento sísmico é raro Essa pergunta tem duas vertentes, uma
no Brasil, e, considerando-se as dimensões especulativa e sensacionalista e outra
do território brasileiro, é improvável que um educativa. A primeira vertente deve ser
sismo dessa magnitude afete uma grande combatida com a educação da população

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como um todo, a qual deve entender a
impossibilidade de se romper uma placa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
litosférica gigante em poucos dias. Para
termos um sismo de magnitude tão extre- O nível de atividade sísmica no Brasil é
ma, devemos ter uma falha geológica muito relativamente baixo, principalmente quando
grande (com centenas de quilômetros de comparado ao de países vizinhos, porém
extensão), ativa (que está gerando tremo- não deve ser negligenciado nos projetos
res de terra constantes), e que sofra uma de grandes obras de engenharia. O mapa
grande movimentação (muitos centímetros preliminar e regional do perigo sísmico
ou alguns metros). A segunda vertente, que no Brasil usado na norma brasileira ABNT
é a educativa, é importante e pode ajudar NBR 15.421 (ABNT, 2006) é pouco repre-
as pessoas a entenderem a dimensão desse sentativo da atividade do perigo sísmico
tipo de fenômeno, principalmente para real no Brasil, e deve ser usado de forma
compreender por que o mundo se mobiliza limitada para grandes obras, as quais devem
sempre que ocorre esse tipo de evento sís- elaborar estudo de risco sísmico específico
mico (por exemplo, Haiti, Chile e Japão). para o local da obra, e preferencialmente
Algumas pessoas ainda hoje questionam considerando-se o fator de amplificação
por que o governo brasileiro ajuda esses sísmica causado pela camada de solo.
países durante esse tipo de evento se aqui Os estudos de microzonificação sísmica,
também temos tantos problemas relaciona- que estão apenas começando no Brasil, são
dos a pobreza e falta de condições básicas, importantes para melhorar o conhecimento
como saneamento básico. dos efeitos sísmicos em diferentes regiões,
Utilizando as equações (1), (2) e (3) e podem ser usados para a realização de
mostradas anteriormente, podemos mon- estudos de cenários sísmicos mais realistas.
tar alguns cenários sísmicos, como, por Em grandes cidades como São Paulo e Rio
exemplo, “O que aconteceria se ocorresse de Janeiro, esse tipo de estudo pode ser muito
um sismo de magnitude 8 MW no sul de importante, principalmente em áreas onde
Minas Gerais?”. Para se ter uma ideia, um há grandes obras de engenharia e elevada
sismo de magnitude 8, com profundidade densidade populacional.
focal de 20 km, poderia gerar intensidades Com relação aos cenários sísmicos, o
de IX MM a 200 km de distância, e seria que se pode dizer com certeza hoje é que os
sentido por toda a população em um raio tremores de terra são imprevisíveis e podem
de 2.500 km de distância. Se um sismo ocorrer a qualquer momento e em qualquer
como esse ocorresse no centro do Brasil, lugar. A experiência de New Madrid, nos
quase toda a população brasileira o sentiria. Estados Unidos, mostra que regiões como o
Além disso, um tremor de magnitude 8 MW Brasil, com baixo nível de atividade sísmica,
(menor que o ocorrido no Japão recente- podem ser atingidas a qualquer momento
mente) afetaria/destruiria grande parte das por um sismo devastador com magnitude
barragens hidrelétricas e de rejeito em um maior que 7 MW. Por outro lado, é quase
raio maior que 400 km, o que, no Sudeste impossível uma região intraplaca como o
do Brasil, poderia representar dezenas de Brasil ter um sismo com magnitude maior
barragens. Pode-se dizer que um sismo que 8 MW, sendo esse cenário considerado
dessa magnitude afetaria quase todos os hipotético e de uso educativo para ilustrar
tipos de obra em um raio de 500 km, e que os efeitos de um grande terremoto como
nenhum governo ou país está preparado para os ocorridos no Japão ou no Chile recen-
um evento dessa magnitude em uma região temente.
intraplaca. A única coisa que podemos fazer A sismologia no Brasil vem ganhando
no caso de um desastre natural desse porte força nos últimos anos com o apoio da Petro-
é ser solidários e trabalhar para mitigar os bras e de empresas de energia elétrica, sendo
danos posteriores provocados por incêndios que a primeira vem realizando investimentos
e doenças. superiores a R$ 20 milhões para a instalação

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e manutenção da rede sismográfica nacional, lia (DF), Universidade Federal dos Pampas
dos quais R$ 8 milhões vêm sendo utilizados (RS), Universidade Federal de Pelotas (RS),
pelo Grupo de Sismologia do Instituto de As- Universidade Federal do Mato Grosso do
tronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Sul (MS), Universidade Estadual Paulista
da Universidade de São Paulo e parceiros (SP), Instituto de Pesquisas Tecnológicas
estratégicos como a Universidade de Brasí- (SP), entre outros.

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