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XXI Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2015 1

A LITERATURA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NO ENSINO DE


MECÂNICA QUÂNTICA PARA O ENSINO MÉDIO

Luís Gomes de Lima1, Elio Carlos Ricardo2


1 Universidade de São Paulo/Programa Interunidades Ensino de Ciências/luís.gomes.lima@usp.br
2 Universidade de São Paulo/Programa Interunidades Ensino de Ciências/elioricardo@usp.br

Resumo

O presente trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado e trata de uma pesquisa


ação realizada com alunos de 3º ano de Ensino Médio. Verificamos como a literatura e seus
recursos, as metáforas, analogias e leituras, podem contribuir para o surgimento de
pseudoconceitos nos alunos, os quais tratados didaticamente fomentam a construção de
conceitos científicos genuínos sobre Mecânica Quântica (MC). Foram utilizados os três
primeiros capítulos do livro Alice no País do Quantum, que tratam de conceitos de Física
Moderna e Contemporânea (FMC) e de MQ. Após as leituras efetuadas e as aulas sobre os
conteúdos, os alunos demonstraram ter criado símbolos primeiros – os pseudoconceitos –
que levaram ao entendimento a respeito da MQ. A conversão semiótica de Duval foi
utilizada como guia de análise entre os conceitos entendidos pelos alunos em suas leituras
e as aulas. A literatura utilizada com ferramenta de ensino em física mostrou sua eficácia ao
permitir um primeiro entendimento do assunto, facilitando a conversão conceitual mediada
pelo professor, além de ter proporcionado maior interesse sobre a física nos alunos, se
comparada essa metodologia com uma aula tradicional onde, em geral, só se decoram
expressões matemáticas e o ensino ocorre por repetição de exercícios desarticulados de
contextos culturais mais amplos. Os alunos responderam a um questionário aberto,
abordando a articulação entre física e literatura em seu ensino e realizaram uma prova com
conteúdos específicos de FMC e MQ, suas respostas e nossa análise destas, confirmaram a
literatura como ferramenta didática no ensino de física.

Palavras-chave: Física e Literatura; Física Moderna e Contemporânea;


Mecânica Quântica.

Introdução

A articulação entre a física e outras formas de cultura, entre elas a literatura


pode proporcionar aos estudantes uma compreensão de visões de mundos
complementares a simples descrição matemática de fenômenos físicos, os quais são
tão presentes na maioria dos livros didáticos, ou apostilas, e estudados em salas de
aula do Ensino Médio (EM), podendo fornecer uma formação cultural mais ampla e
um acesso ao conhecimento científico de forma mais suave, compreensível e melhor
aceito, ou mais “tragável” pelos alunos, onde possa aparecer a história da física, a
filosofia da ciência, suas relações com a sociedade e com a cultura, garantindo uma
melhor compreensão da física enquanto atividade humana.
Mas como utilizar a literatura como ferramenta de ensino? Para responder a
essa primeira indagação se faz necessário compreender o que se entende por
literatura. De acordo com Coutinho (1978): “A literatura, como toda arte, é uma
transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e
retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros e com os quais
ela toma corpo e nova realidade” (COUTINHO, 1978, p. 9-10).

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Ainda, conforme Wellek e Warren (1962), em sua teoria da literatura, há uma


diferença nítida entre a literatura e o estudo da literatura, enquanto aquela é
considerada como arte e criação, essa, embora não seja uma ciência, já é
concebida como uma área do conhecer ou do aprender (ZILBERMAN, 2012). A
literatura compreendida e utilizada como arte e criação, pode permitir a utilização de
vários recursos ao ensino de física, tais como leituras de textos históricos e
filosóficos da física; utilização de metáforas e analogias e; interpretação textual de
leituras utilizadas como símbolos semióticos a serem tratados didaticamente pelo
professor ao ensino de determinado conteúdo específico de física.
Uma inserção no ensino de física, nesse contexto, serviria também para
colaborar numa compreensão melhor da disciplina, evitando que se confunda física
com matemática, ou que os alunos sejam levados a pensar que a física é uma
matemática mais elaborada. Em uma pesquisa a respeito da concepção da física por
alunos de Ensino Médio, Ricardo e Freire (2007) esclarecem que para os alunos não
há basicamente distinção entre física e matemática, muitos confundem as duas
disciplinas quando questionados sobre suas diferenças, como ilustrado na resposta
de um aluno do 3º EM: “Nenhuma porque tudo acaba em cálculo” (RICARDO;
FREIRE, 2007, p. 255). Na pesquisa os autores alertam para importância da
compreensão do papel da matemática na construção do pensamento físico, sendo
que a diferença entre matemática e física não é clara, inclusive para os professores.
Tal confusão pode estar estabelecida pela falta de abordagens histórico-
filosóficas no ensino de física, pela ausência de inserção de leituras, textos e
literaturas próprias, como textos científicos originais. Uma possibilidade que possa
dissolver tal confusão é possível, mediante a convergência entre física e literatura,
que pode se dar através da história da física, onde há a influências de grandes
escritores, desde o inicio da física clássica no século XVI e grandes cientistas como
Galileu, Kepler, Newton e Einstein (ZANETIC, 1996).
Sobre a defesa da inserção da filosofia e história da física, no ensino de
física, Ricardo (2012, p. 8-9) apresenta uma enorme e variada lista de autores que
estudam e propõem abordagens distintas sobre a questão, os quais discutem
diversas possibilidades de aproximação entre a história e a filosofia da ciência/física
no ensino de ciência/física. Sobre essas aproximações, apesar de grande o número
de pesquisas, Ricardo (2012) recorda que, no entanto, é relevante considerar ao
menos dois aspectos: o primeiro, é que a história e a filosofia da física ainda não se
consolidaram como objeto de ensino. Ou seja, conteúdos de história e da filosofia da
física ainda não passaram a compor os programas escolares com o mesmo status
que tem, por exemplo, a mecânica, ainda que haja algumas iniciativas nesse
sentido, mas são localizadas (RICARDO, 2012, p.10).
Apesar das colocações, algumas perguntas podem ser realizadas a fim de
melhor compreender como se poderia abordar o ensino de física mediado pela
literatura, pela história e pela filosofia. Ou seja, que tipos de história, de filosofia e de
literatura da física podem ser contemplados no ensino de física? Zanetic (2006)
apresenta algumas respostas, apontando para uma história que contemple a
evolução conceitual e metodológica da física; uma filosofia que trate a epistemologia
de Gaston Bachelard, Thomas Khun e Paul Feyerabend e; uma literatura com
escritores de veia científica e cientistas com veia literária (ZANETIC, 2006, p.43)
Um ensino que focasse os aspectos histórico-filosóficos da física contribuiria,
também, para aumentar o hábito e o gosto pela leitura, por parte dos estudantes,

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bem como aumentaria suas habilidades de interpretação e análise textuais, além de


promover uma visão da ciência como entidade também cultural. Esse conjunto de
benefícios representa importantes elementos constituintes na formação dos
estudantes de EM, o que pode ser possível de se estruturar mediante uma ligação
articulada entre física e literatura, como a apresentada em Lima (2014), onde o autor
apresenta uma extensa revisão bibliográfica a respeito de física e literatura. Uma
articulação nesse sentido pode ser encontrada em Lima (2012) onde há uma
proposta de ensino de física, mediada pela leitura do Diálogo de Galileu Galilei, onde
se verificou, além de uma compreensão maior dos conceitos físicos abordados, um
prazer maior por parte dos estudantes participantes da pesquisa, que foram
aproximados ao mesmo tempo, da história da física, da literatura e da própria física,
proporcionando uma formação cultural mais ampla em sua trajetória escolar. Tal
aproximação entre essas duas culturas, física e literatura, se apresenta, aos alunos,
mais prazerosa e atraente do que atividades repetitivas de exercícios matemáticos
presentes nos livros/apostilamentos didáticos escolares (LIMA, 2012, p. 29).
Verifica-se, inclusive, que a maioria dos alunos não gosta de física,
justamente por causa da desarticulação e incompreensão, entre os conceitos físicos
e os cálculos matemáticos, e que os alunos de 3º EM, sentem uma aversão maior à
física, do que os do 1º EM, pois foram os anos estudando física que, justamente,
criaram a aversão à disciplina (D’AGOSTIN, et al., 2006).
Tal verificação denota que os alunos, em seu primeiro contato com a física
possuem certa expectativa, muitos têm curiosidades, das mais diversas sobre as
ciências em geral, e em especial sobre a física, que poderiam facilmente ser
respondidas por meio de uma articulação entre física e literatura, com a ficção
científica, mas acabam sendo podados em seus anseios, expectativas e
curiosidades, pois logo se veem obrigados a realização de repetições maçantes de
exercícios descontextualizados.
Há necessidade de uma mudança metodológica no ensino de física, que
promova uma forma mais atraente e prazerosa, por meio de elementos que
promovam um complemento à forma tradicional de se ensinar física, nesse contexto,
Nory e Zanetic (2005), propõe um ensino de física atraente aos alunos e critica o
ensino corrente de física nas salas de aula, alertando que o ensino de física
dominante em nossas escolas ainda é algo totalmente distante de todas as
propostas inovadoras produzidas pela área de pesquisa em ensino de física, bem
como das recomendações que constam dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN), constituindo um ensino totalmente desacoplado da realidade.
A fim de responder a esses questionamentos, angustias e reflexões, nosso
estudo aponta a literatura como uma possível ferramenta ao ensino de física, com
potenciais didáticos que não podem ser menosprezados. A escolha do livro Alice no
País do Quantum, para introdução do ensino de Física Moderna e Contemporânea
(FMC) e dos elementos de Mecânica Quântica (MC) aos alunos de 3º EM, teve por
mote a alusão ao livro Alice no País das Maravilhas, o qual os alunos já leram, ou
assistiram a um desenho, ou um filme, ou seja, havia uma aproximação para
introdução, um canal de entrada, ou via primeira, por onde se pudesse ter uma
aceitação dos alunos a respeito dos conceitos de FMC e MQ pretendidos. Além do
que, entre várias sugestões de obras literárias que possam ser utilizadas no ensino
de física, Carvalho e Zanetic (2004), sugerem Alice no País do Quantum. E, no XX
Simpósio Nacional de Ensino de Física (XX SNEF), Pereira e Londero (2013),

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utilizaram Alice no País do Quantum, para ensinar física de partículas aos seus
alunos, mediante o Capítulo Baile dos Massacarados.
O ensino de FMC no EM se encontra, geralmente, presente no programa de
conteúdos de muitos livros e apostilas de física de forma fragmentada, além de
aparecer apenas no final do programa. Em suma, são dirigidos para os estudantes
de 3º EM, no final do ano, quando os alunos já se encontram saturados e
pressionados pelos exames vestibulares, o que os leva a quererem se dedicar mais
às revisões da física clássica, ainda dominantes nas cobranças destes exames. Tal
pragmatismo histórico e institucionalizado gera, de início, uma recusa por parte dos
alunos a se dedicarem aos estudos de FMC, além do que, em uma breve análise
dos materiais didáticos disponíveis, percebe-se que tais assuntos se reduzem, em
sua maioria, a breves apresentações. Os estudos sobre essas e outras
problemáticas a respeito da inserção da FMC são abrangentes e buscam entender o
motivo dessa física não ser apresentada, de fato, aos nossos alunos, além de
proporem soluções para sua aplicação, o que se verifica em vários trabalhos como
Lucas (2012) ou Melhorato e Nicole (2012), entre outros.
Com o intuito de apresentar e ensinar a FMC e, principalmente a MQ no EM,
propomos uma atividade diversificada, buscando uma abordagem mais intuitiva e
menos matemática como caminho possível, como indicada por Pessoa Junior
(2003), realizada através da leitura dos três capítulos iniciais do livro Alice no País
do Quantum (GILMORE, 1998), como ferramenta alternativa ao ensino de FMC e da
MQ, que por sua vez, é ainda mais escassa no ensino de física do EM.
Metodologia
Dado nosso problema de pesquisa, adotamos como método realizar uma
pesquisa na forma qualitativa etnográfica, conhecida em uma de suas
denominações como pesquisa-ação (BARBIER, 1985), com enfoque crítico-
participativo, na linha do materialismo dialético, por perceber que essa escolha nos
fornecerá uma dialética da realidade (contexto) em que vivem os alunos
participantes do estudo, sendo necessário, como apontado por Triviños (1987):
“conhecer (através de percepções, reflexões e intuições) a realidade para
transformá-la em processos contextuais e dinâmicos complexos”. A opção em se
adotar a pesquisa qualitativa etnográfica se deve, como descrito por Triviños (1987)
e Lüdke e Menga (1986), em considerar a descrição dos fenômenos estudados (seu
contexto) e seus significados culturais pelo grupo composto pelo professor
(pesquisador) e pelos alunos participes do estudo.
A visão interacionista de Vygotsky (2008), em especial sua pesquisa a
respeito da formação de conceitos científicos, presente em seu livro Pensamento e
Linguagem (2008), nos parece estabelecer uma boa compreensão das etapas que
levam aos conceitos científicos e sua formação, através da abstração das leituras
usadas na sala de aula com os alunos de 3º ano do EM. Vygotsky (2008) determina
a formação de conceitos científicos pela análise aprofundada das etapas
denominadas: sincretismo, como a tentativa e erro; complexos, como os
pseudoconceitos; conceito potencial, verificada através de treinos; abstração,
principal responsável pela formação de conceitos e, finalmente, conceito científico
genuíno. Aprofundando nossa interpretação a respeito da formação de conceitos
físicos por meio da literatura e importância da palavra, utilizamos o referencial
teórico proporcionado por Duval (2005) a respeito dos registros de representação
semiótica e funcionamento cognitivo.

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A importância das representações semióticas se estabelece no fato de que


um mesmo objeto físico possa ser interpretado por vários outros sistemas
semióticos. Para Duval (1993), as representações semióticas “são produções
constituídas pelo emprego de signos pertencentes a um sistema de representação
os quais têm suas dificuldades próprias de significado e de funcionamento”. Na
física, em particular, a linguagem científica torna-se para o aluno o obstáculo quanto
ao entendimento e significado sobre seus signos. De acordo com Duval (1993),
essas representações semióticas, que são externas, desenvolvem a comunicação e
a cognição, sendo por meio dessas representações semióticas que o aluno
exterioriza, comunica e objetiva seu pensamento sobre um ente mais abstrato, o que
leva a uma compreensão primeira sobre o objeto em estudo. Essa compreensão
primeira, esse primeiro símbolo, constitui o pseudoconceito sobre os conteúdos de
FMC e MQ gerado no aluno por meio das leituras, que mediados pelo professor, se
convertem em outra representação semiótica. A conversão (DUVAL, 2005) permite
analisar os registros produzidos pelos alunos, de forma a mostrar as principais
dificuldades encontradas por eles na passagem da língua natural, em nosso caso
específico, através da leitura e literatura, para a linguagem física, isto é, a
compreensão dos conceitos físicos pretendidos.
Essas etapas da construção de conceitos físicos sobre FMC, em especial,
MQ, foram observadas na aplicação desse estudo aos alunos de 3º EM de uma
escola católica e privada da zona Sul de São Paulo. Preliminarmente, a fim de
constituir uma base inicial à introdução dos tópicos sobre FMC, foi realizada a leitura
do capítulo XVIII do Era dos Extremos de Hobsbawn (1995), formando um pequeno
entendimento filosófico, histórico e social sobre o nascimento dessa física. Em
seguida os alunos foram apresentados ao livro Alice no País do Quantum, onde
leram os três primeiros capítulos, identificando todas as palavras desconhecidas
para eles, bem como termos científicos ou conceitos não compreendidos numa
leitura primeira. Não era esperado que a leitura possibilitasse, diretamente, a
compreensão de fenômenos físicos próprios e tão específicos quanto os presentes
na FMC, contudo, verificamos que, pelo contexto da leitura, os alunos acabaram
criando pseudoconceitos sobre os fenômenos descritos no livro, que tratados
didaticamente em sala de aula, serviu-lhes como apoio para desenvolver a
abstração desses fenômenos e tratá-los dentro de um formalismo adequado.
Ao final dessa construção conceitual por meio da literatura como ferramenta
ao ensino de física, e analise da conversão (DUVAL, 2005), os alunos responderam
a um questionário aberto, com 10 perguntas, tratando de aspectos como: a história e
filosofia da física; a articulação entre física e literatura; o papel da imaginação na
literatura e na física; os caracteres abstratos existentes na física e na literatura; a
aceitação da literatura como ferramenta ao ensino de física; o papel de modelos na
ciência e das metáforas na literatura; o surgimento de pseudoconceitos e a
abstração desenvolvida pela leitura como facilitadora ao aprendizado dos conceitos
de MQ.
Como instrumento de avaliação foram propostas questões articulando as
leituras realizadas, bem como os conceitos físicos sobre FMC e MQ abordados por
essas leituras. As questões trataram dos seguintes aspectos: dualidade onda-
partícula; tópicos históricos e introdutórios ao estudo da FMC; o papel dos
experimentos para determinação do caráter ondulatório ou corpuscular da luz e da
matéria; hipótese de De Broglie e a natureza dual da matéria; princípio da incerteza

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de Heisenberg; teoria quântica; colapso da função de onda e papel do observador e;


superposição de estados quânticos.
Resultados
Os resultados apontaram para um entendimento conceitual da FMC,
principalmente, da MQ, além da leitura utilizada ter sido bem aceita pelos
estudantes. As respostas do questionário demonstraram que os alunos converteram
a leitura de Alice no País do Quantum, nos conceitos físicos estudados, sendo os
pseudoconceitos convertidos em conceitos físicos, o que nos permitiu avaliar a
literatura como ferramenta promissora no ensino de física. Dentre as várias
respostas dadas, alguns alunos chegaram a comentar que gostariam que esse
método tivesse sido utilizado desde o começo de seus estudos em física, no
primeiro ano do EM, como aponta o lamento da aluna: “Nunca havia tentado esse
método. É proveitoso não apenas na física quântica. Queria poder ter usado o
método em física clássica”.
Outros alunos comentaram sobre o prazer em ter estudado física, inclusive
alertando para o surgimento desse interesse maior pela primeira vez, desde o seu
primeiro ano no EM, quando tiveram o primeiro contato com a física, como ilustra a
resposta de um aluno: “O uso de narrativas literárias ajudam por transformar uma
leitura cansativa (obrigatória) em prazerosa”, e outro aluno comenta sobre o melhor
entendimento da disciplina: “facilitou para entender a matéria e me aproximou dos
conceitos físicos por me fazer a ter mais interesse e me ajudou a compreender e a
entender os conceitos, fazendo com que nós imaginemos os acontecimentos”.
Os conteúdos propriamente ditos a respeito da FMC e MQ também foram
ressaltados, como na fala de uma aluna: “É possível mesclar a física com a
literatura. Em Alice no País do Quantum são explicadas as teorias da física moderna
através de alegorias e modelos, assim facilitando o entendimento básico dos
modelos e teorias da física moderna, como a superposição de estados quânticos”.
Outros ressaltaram a questão da imaginação: “A imaginação é fundamental para
escrever qualquer tipo de história. No caso da física é necessária muita imaginação
para conseguir abstrair os conceitos e tornar isso mais fácil de visualizar a teoria”.
Sendo que perceberam inclusive a distinção entre a imaginação literária e a
científica como ilustra a resposta de um aluno: “Creio que a imaginação científica
seja mais árdua e complexa, o que não desvaloriza a relevância da imaginação
poética, porém a ciência é mais difícil por necessitar de mais criatividade”.
As respostas dadas pelos alunos, tanto ao questionário aberto, quanto à
avaliação, e nossa avaliação destas, nos permitem avaliar que a literatura é uma
ferramenta possível ao ensino de física, com enormes potenciais didáticos.
Considerações Finais
A articulação entre física e literatura é possível desde que o professor
assuma seu papel de mediador e esteja interessado em diversificar suas aulas,
apresentando inovações curriculares e metodológicas no ensino e aprendizagem de
física para alunos do EM, que em sua grande maioria, principalmente aqueles no
final do EM, não suportam mais estudar física de forma tradicional, por repetições
vazias de exercícios e listas e mais listas, que visam apenas decorar aspectos
técnicos de resolução de exercícios de livros ou apostilas.
As leituras dos três capítulos de Alice no País do Quantum foram suficientes
para fomentar o desejo desses alunos em aprender a FMC e a MQ, tanto que muitos
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continuaram por conta a leitura de todo o livro e posterior vieram comentar e sanar
diversas dúvidas conceituais, que extrapolariam o tempo que tínhamos para o
estudo do tema, como por exemplo, o paradoxo EPR.
Com nossa proposta de trabalho conseguimos despertar um interesse maior
pela física por parte dos alunos e novas pesquisas se fazem necessárias para que
novos recursos metodológicos que articulem a física com a literatura possam ser
mais frequentes nos demais conteúdos de física de EM, inclusive na física clássica.
Pesquisas teóricas também são necessárias e urgentes, para se estudar o real
papel que a leitura pode desempenhar em relação ao desenvolvimento da abstração
científica. O déficit de pesquisas teóricas no ensino de física denota que os
pesquisadores estão apenas repetindo o mesmo do mesmo, assim como grande
parte dos professores em sala de aula, ensinando a física por repetição de
exercícios. Sobre a necessidade de estudos teóricos vale ressaltar a pesquisa de
Rezende, Ostermann e Ferraz (2009), ao realizarem uma introspecção no estado da
arte referente ao ensino de física nacional, nos anos de 2000 a 2007. Essas autoras
apontam para estudos basicamente realizados sobre os aspectos cognitivos do
ensino-aprendizagem baseadas em apenas três eixos: desenvolvimento de
experimentos para laboratórios didáticos; propostas metodológicas e estratégias de
ensino com elaboração de recursos didáticos, constatando a necessidade de
pesquisas teóricas que levem a produção de conhecimento.

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