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Psicologia Social
Núcleo de Educação a Distância
www.unigranrio.com.br
Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160
25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ
Reitor
Arody Cordeiro Herdy
1ª Edição
Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Patricia Castro de
Oliveira e Silva
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Objetivo
Compreender a construção da Psicologia Social, correlacionando as
aproximações e diferenças entre o paradigma americano e europeu.
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1. A vida Coletiva como Vida Mental: a
Völkerpsychologie, de Wilhelm Wundt
A literatura aponta o surgimento da Psicologia como uma disciplina
específica na Alemanha, na segunda metade do século XIX, em especial
com o lançamento do livro-texto de Wundt, intitulado Fundamentos da
psicologia física (1873 apud FARR, 1999), com a inauguração do laboratório
de psicologia na cidade de Leipzig (Alemanha), em 1879, e o lançamento da
revista científica Philosophische Studien, em 1881 (FARR, 1999).
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Importante
O positivismo é um paradigma nas ciências que nasceu em meados do século XIX e
diz respeito ao movimento filosófico que teve início com a obra de Augusto Comte e se
consolidou em meados do século XX, no chamado positivismo lógico do Círculo de Viena e na
análise linguística. Auguste Comte apostava no progresso moral e científico da sociedade por
meio da ordem social e do desenvolvimento das ciências.
Em sua obra Apelo aos Conservadores (1855), Comte definiu a palavra “positivo” por meio
de sete concepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Ele sistematizou
o pensamento positivo em três etapas, sendo a primeira a etapa de pensamento teológico
(mítico, intuitivo, sensitivo, religioso), a segunda, já mais refinada e aprimorada, o
pensamento metafísico (pensamento filosófico, no entanto, sem métodos sistematizados
para comprovação da realidade) e a terceira etapa, o estágio positivo ou científico (no qual,
por meio do método científico, o pensamento positivista transforma uma leitura da realidade
em verdade) (JACQUES; STREY, 2013).
De acordo com Farr (1999, p.56), “para um positivista, a ciência substitui a metafísica”.
Positivistas não consideram crenças, superstições ou quaisquer outros tipos de conhecimento
que não possam ser comprovados empiricamente, por meio, fundamentalmente, de métodos
experimentais. Ademais, o positivismo está baseado em um ideal de progresso contínuo,
postulando a ordem social em uma marcha progressiva, que a humanidade tende a seguir a
caminho do progresso. A inscrição Ordem e Progresso na bandeira brasileira tem inspiração
claramente positivista.
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uma proposta alemã.
A exigência da língua alemã nesses cursos parece não ter suscitado o
efeito desejado, que parecia ser o de manter certa continuidade entre o que era
realizado por Wundt em Leipzig e o chamado Novo Mundo. É nessa perda de
vínculos com a proposta original alemã que se pode também perceber a não
compreensão e valorização do projeto social da psicologia wundtiana, bem
como uma sobrevalorização da psicologia experimental, o que contribuiu para
a apreensão da psicologia nascente como uma ciência natural. “Se a psicologia
se tornou primeiro uma ciência experimental na Alemanha, foi a psicologia
social que se tornou, depois, uma ciência experimental nos EUA” (FARR,
1999, p.59).
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controlada dos fenômenos) para o estudo da consciência. Na Psicologia dos
Povos, reconhece a ineficácia do método e a impossibilidade de compreender
fenômenos complexos, a mente coletiva, a partir apenas da proposição de
consciência individual. Assim, Wundt propôs a distinção entre a psicologia
experimental, responsável pelo estudo dos processos mentais básicos, e a
Psicologia dos Povos - Völkerpsychologie, voltada para o estudo dos processos
mentais superiores, em que o método de estudo seria o histórico-comparativo
(ÁLVARO; GARRIDO, 2006). Nessa perspectiva, conteúdos religiosos,
artísticos, linguísticos e socioeconômicos são analisados transversalmente.
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concepção de resultantes coletivos wundtiana. Resultantes coletivos, em
Wundt, dizem respeito ao fato de que “em todas as combinações psíquicas, o
produto não é a mera soma dos elementos que compõem tais combinações,
mas representa uma nova criação” (WUNDT, 1973 [1912], p.164 apud ABIB,
2009, p.198). Para ele, o fenômeno coletivo não é o mesmo que a soma
das partes que o compõem, é um fenômeno novo, coletivo, que precisa ser
estudado e entendido deste modo. Para Wundt, a cultura é algo que está além
da consciência individual, algo que as pessoas mantêm e reproduzem.
Curiosidade
A rejeição da afirmativa de Wundt sobre seu projeto científico para a Psicologia enquanto
ciência, no que diz respeito ao reconhecimento da limitação do método experimental para
o estudo dos fenômenos mentais superiores, resultou em um movimento na Academia,
que ficou conhecido como o “repúdio positivista de Wundt”, conforme postulado por
Danziger (apud FARR, 1999). As gerações seguintes a Wundt queriam provar que Wundt
estava errado e questionavam veementemente a afirmativa wundtiana de que apenas em
parte a Psicologia poderia ser compreendida como uma ciência natural, pois seria uma
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ciência que se encontrava entre as ciências da natureza e da cultura. Essa nova geração
de experimentalistas era repudiada por Wundt, assim como Wundt era repudiado pelos
positivistas (FARR, 1999).
Wilhelm Wundt estabeleceu três objetivos para sua carreira ao longo de sua vida, tendo
conseguido alcançar todos: 1) construção de uma psicologia experimental ou de construção
da psicologia como uma ciência independente; 2) construção de uma filosofia científica ou
metafísica científica; 3) criação de uma psicologia social. O que Dazinger (apud JACQUES;
STREY, 2013) aponta ao cunhar o termo “repúdio positivista a Wundt” diz respeito a um
processo de seleção enviesada da vasta obra de Wundt, feita por determinados historiadores
e fundamentada no positivismo e em uma perspectiva utilitarista, que relegou a um certo
obscurantismo a Psicologia dos Povos. Conforme Farr (1999) afirma, a influência da leitura
positivista da obra de Wundt teve efeito devastador na historiografia da Psicologia, em
especial na produção de língua inglesa.
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Nesse sentido, uma das obras referenciais para o estudo do nascimento
da Psicologia Social é o livro-texto de Robert Farr, As raízes da psicologia social
moderna (1999). Nessa obra, Farr critica as versões parciais da historiografia
dessa área do conhecimento, fazendo uma análise de obras tidas como
históricas, produzidas e editadas nos EUA. Farr (1999) busca delimitar as
origens e diferenças de uma Psicologia Social predominantemente psicológica
e marcar as diferenças dessa para a sociológica. Farr (1999) colocam ainda,
que, para compreender o “florescimento” dessa área do conhecimento nos
EUA com um fenômeno tipicamente americano, é preciso compreender
também suas “raízes” europeias com relação à influência que seus maiores
representantes tiveram ou não das ideias psicossociais nascidas na Europa em
fins do século XIX.
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que contribuiu muito para o estabelecimento da Psicologia Social moderna
como um fenômeno norte-americano. O fato de Lewin ser um psicólogo
alemão da área da Gestalt que se refugiou nos EUA fundamenta a afirmativa
de Robert Farr (1999, p.21) de que as raízes dessa disciplina “foram europeias,
embora a flor fosse caracteristicamente americana”.
Comentário
O Behaviorismo é uma linha teórica e metodológica da área da Psicologia que busca
estudar o comportamento humano de modo pragmático, com ênfase nos fatos objetivos
(estímulos e reações), sem fazer recurso à introspecção (método utilizado por Wundt em
sua psicologia experimental para estudo da consciência). Essa linha da Psicologia foi fundada
por John Watson (1878-1958), com base na crença de que os comportamentos podem ser
entendidos, mudados e treinados.
O marco inaugural dessa área pode ser identificado na publicação da obra A psicologia como
o behaviorista a vê (1913), de Watson. O autor acreditava que qualquer pessoa poderia
ter seu comportamento modificado a partir de um processo de condicionamento, que
demandaria condições controladas por meio do método experimental. Essa perspectiva não
levava em conta outras variáveis que constituíssem especificidades na vida da pessoa, ou
seja, não considerava contextos sócio-históricos e/ou culturais.
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Existem diferentes correntes behavioristas. A corrente inaugurada por Watson é
compreendida como o Behaviorismo Clássico, cujo projeto científico de orientação positivista
e método experimental localizava a Psicologia no âmbito das ciências naturais. Watson
estava preocupado com a compreensão e controle do comportamento observável, e não com
o estudo dos fenômenos mentais (sentimento e pensamento).
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Social moderna que floresce nos EUA entre as grandes guerras, mas
fundamentalmente, a partir da Segunda Guerra Mundial, tem um fazer
experimental, embasado na perspectiva positivista que, posteriormente, será
conhecido como a vertente psicológica.
Biografia
Floyd Henry Allport (1890-1979) foi um renomado psicólogo americano considerado
por muitos como um dos fundadores da Psicologia Social Experimental (posteriormente
conhecida como psicológica). Ele introduziu os princípios do behaviorismo na Psicologia
Social, tendo papel fundamental na legitimação da Psicologia Social como uma ciência do
comportamento. Para alguns autores, é considerado um behaviorista puro, para outros,
no entanto, é um behaviorista heterodoxo, que se opunha ao Behaviorismo Clássico de
Watson. Seu livro Social Psychology (1924) teve grande impacto sobre futuras publicações
do campo. Seus principais temas de pesquisa foram opinião pública, atitudes, moralidade,
rumores e comportamento, tendo como abordagem metodológica aos referidos fenômenos a
experimentação em laboratório e os surveys.
Biografia
William McDougall nasceu em 22 de junho de 1871, em Lancashire, Inglaterra. Seu
interesse primeiro no meio acadêmico foi pelas ciências naturais, de modo que, em 1894,
conquistou o diploma em ciências naturais da Universidade de Cambridge. Na mesma
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universidade, McDougall interessou-se fortemente pelo comportamento humano, de modo
que se dedicou, também, à medicina, à psicologia e à neurologia.
Na Psicologia Social, MacDougall propõe a existência de uma vida mental coletiva, que não
seria a soma da vida mental dos indivíduos. Para ele, o desafio da Psicologia seria mostrar
os princípios dessa vida mental não individual e irredutível ao indivíduo. Macdougall viveu por
24 anos nos EUA, tornando-se um dos destaques da escola americana de psicologia social.
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Sociologia. Diante disso, não cabe o entendimento de que a Psicologia Social
seria uma área que se constitui a partir de uma ou outra disciplina matriz, mas
uma disciplina-irmã (ÁLVARO; GARRIDO, 2017).
Biografia
George Herbert Mead (1863-1931) foi um filósofo americano da Escola de Chicago,
de grande importância no campo da Sociologia e da Psicologia Social. Entre os teóricos
mais relevantes para a sua formação está Wilhelm Wundt, com quem estudou em Berlim.
Mead foi o revisor dos primeiros quatro volumes da Völkerpsychologie - Psicologia dos
Povos, de Wundt.
Assim como Wundt, reconhecia a necessidade de pesquisas sobre linguagem para elaborar
o conhecimento sobre a mente. No entanto, para Mead, a mente era um produto da
linguagem, enquanto na obra de Wundt a linguagem seria um produto da mente. Mead foi
publicado apenas após a sua morte, por seu sucessor na Universidade de Chicago, Herbert
Blumer. Phylosophy of the Present (1932) foi a primeira publicação com base em seus
escritos, seguida por Mind, Self, and Society (1934), que é uma compilação das aulas dadas
em seu curso sobre Psicologia Social na Universidade de Chicago.
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dos indivíduos e pensando a constituição do indivíduo tão somente a partir
das relações entre as pessoas. Ao fazer isso, exercem uma força contrária a
que se tome o indivíduo como objeto de estudo da Psicologia. Ambas as
perspectivas tomam o indivíduo de maneira dicotômica, a partir de uma
perspectiva individualizante (como é o caso das correntes psicológicas), ou
como fruto do social.
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e dos sociólogos vinculados à chamada Escola de Chicago. A publicação
do livro de Edward Ross, em 1908, pode ser considerada um marco da
consolidação dessa vertente da Psicologia Social.
Importante
A Escola de Chicago diz respeito a um grupo de sociólogos americanos que integravam
o corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundado
pelo historiador e sociólogo Albion W. Small. Esses sociólogos se dedicavam, de maneira
pioneira, ao estudo dos fenômenos sociais urbanos. O surgimento dessa escola está
relacionado ao processo de expansão urbana e crescimento demográfico da cidade de
Chicago no início do século XX. Nesse momento, a cidade se deparou com problemas
sociais urbanos, como o crescimento da criminalidade, aumento da desigualdade social,
desemprego, imigração e surgimento dos chamados guetos. Em sua primeira fase, a
Escola de Chicago foi influenciada primordialmente por Émile Durkheim, embora não deixe
de citar as contribuições de Gabriel Tarde.
Muitas vertentes da Psicologia Social tiveram origem na Escola de Chicago, como o
Behaviorismo Social de George Mead, os estudos sobre atitudes sociais de William Thomas,
as técnicas para medição de valores sociais de Louis Leon Thurstone, o Interacionismo
Simbólico de Hebert Blumer e, na modernidade, a sociologia das relações interpessoais de
Gustav Ichheiser e “as formas dramatúrgicas de psicologia social de Goffman” (FARR, 1999,
p.161).
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Importante
O interacionismo simbólico tem seu início entre os anos de 1930 e 1940, consolidando-
se como área das ciências nas duas décadas seguintes. O nome dessa linha de pesquisa
psicossociológica foi dado por Herbert Blumer, em 1937. Nessa perspectiva, o significado
é “um dos mais importantes elementos na compreensão do comportamento humano, das
interações e dos processos” (CARVALHO; BORGES; REGO, 2010, p.153). Os interacionistas
propõem que, para se compreender plenamente os processos sociais, é necessário a
apreensão dos significados que são experienciados pelos indivíduos em um contexto
particular (JEON, 2004 apud CARVALHO; BORGES; REGO, 2010).
Blumer (1969/1982), apoiado na obra de George Mead, reafirma o significado como
produto social, como criação das atividades dos indivíduos à medida que estes interagem
(CARVALHO; BORGES; REGO, 2010). Para Blumer (1969), o interacionismo simbólico tem
como base a análise de três premissas:
A primeira é que o ser humano orienta seus atos em direção às coisas em função do
que estas significam para ele... A segunda é que o significado dessas coisas surge como
conseqUência da interação social que cada qual mantém com seu próximo. A terceira é
que os significados se manipulam e se modificam mediante um processo interpretativo
desenvolvido pela pessoa ao defrontar-se com as coisas que vai encontrando em seu
caminho. (BLUMER, 1969, p.2 apud CARVALHO; BORGES; REGO, 2010, p.153)
O tema central do Interacionismo Simbólico é a interação social, compreendida como ação
social orientada e recíproca, que é analisada em seu caráter simbólico – o significado.
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antirreducionista. Somente após a sua morte, com a retomada por Herbert
Blumer de sua obra, ele passou a ser concebido como um interacionista
simbólico, nome dado por Blumer, em referência à concepção de Mead
quanto aos processos de interação social, que ocorrem entre indivíduos ou
grupos mediados por relações simbólicas. Os sociólogos consideram Mead
o criador do interacionismo simbólico (FARR, 1999), mas desconsideram
suas proposições no campo da evolução da espécie, visto que Mead era um
darwiniano comprometido e coerente.
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Biografia
Serge Moscovici foi um psicólogo social romeno radicado na França. Trabalhou como director
do Laboratoire Européen de Psychologie Sociale, que ele cofundou em 1975, em Paris. O
psicólogo é autor de uma obra considerável, tão importante para a psicologia quanto para a
história e as ciências sociais. Seus trabalhos e sua Teoria das Representações Sociais (TRS)
têm influenciado, ao longo das últimas quatro décadas, pesquisadores tanto na Europa como
nas Américas, incluindo o Brasil. Outro campo de estudos inaugurado por Moscovici foi o da
influência social minoritária, cuja rápida consolidação na Psicologia Social parece se dever à
sua ampla difusão no âmbito acadêmico norte-americano.
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naturais fez com que essa parte da sua obra fosse ignorada. Assim, é possível
compreender que a Psicologia Social que floresce em solo americano, em
especial durante e após a Segunda Guerra Mundial, é fundamentada sob uma
perspectiva experimentalista.
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Referências
ABIB, J. A. D. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Scientiae
Studia. São Paulo, v.07, n.02, 2009.
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JACQUES, M. G. C.; STREY, M. N. Psicologia social contemporânea:
livro texto. 21 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
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