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EXERCÍCIOS 4.53
BIBLIOGRAFIA 4.57
Precipitação
4 PRECIPITAÇÃO
4.1 INTRODUÇÃO
A camada gasosa que envolve a Terra, a atmosfera, tem uma enorme importância na
circulação da água, desde que se evapora até que precipita, determinando em conjunto com outros
factores a sua distribuição sobre a superfície dos continentes e dos oceanos. Ela é também, à escala
global, um dos mais importantes agentes da filtração e da redistribuição da energia proveniente do
Sol, a qual atinge a superfície do globo de modo não uniforme, quer no espaço quer no tempo.
A baixa atmosfera subdivide-se em duas camadas nas quais o gradiente térmico muda de
sinal. Na camada inferior, troposfera, que atinge altitudes de 18 km no equador e de 6 km nos pólos,
a temperatura decresce com a altitude tipicamente cerca de 6,5 °C km-1. Acima da troposfera e até
cerca de 50 km, em camada designada por estratosfera, a temperatura permanece constante nos
primeiros 15 km e volta depois a crescer até cerca de 0 °C. A região que separa a troposfera da
estratosfera, região onde o gradiente térmico se inverte ou inicialmente se anula, é designada por
tropopausa.
A troposfera, que compreende cerca de 75% da massa total da atmosfera, constitui a sua
porção mais dinâmica, sendo nela que se manifestam os fenómenos do tempo, objecto das previsões
meteorológicas e em média definidores do clima.
4.2
Precipitação
ozono. Os dois primeiros, pela sua capacidade para absorverem a radiação de grande comprimento
de onda emitida pela Terra, com o que contribuem para o chamado efeito de estufa, o último, pela
sua capacidade para absorver a radiação de pequeno comprimento de onda emitida pelo Sol, com o
que contribui para o aquecimento do ar na estratosfera e, principalmente, para a protecção dos
tecidos orgânicos à superfície do planeta.
Dois outros componentes, embora não gasosos, são também apresentados no referido quadro
pela sua importância: a água, nas formas líquida e sólida, e as poeiras em suspensão. Estes dois
elementos do quadro, em conjunto com o óxido de diazoto, são os únicos visíveis na atmosfera. A
cor azul do céu em dias claros deve-se à dispersão molecular na banda do violeta da radiação
emitida pelo sol.
Na análise termodinâmica dos processos atmosféricos é geralmente aceite que os gases que
compõem a atmosfera se comportam, com razoável aproximação, de acordo com a equação de
estado dos gases ideais:
pV = nRT ( 4.1 )
onde
p representa a pressão a que o gás está sujeito (Pa) 1 ,
V, o volume que ocupa (m3),
n, a quantidade de matéria nesse volume (mol),
T, a temperatura absoluta (K) e
R, a constante molar dos gases ideais (8,314 J mol-1 K-1).
Numa mistura de gases, a quantidade total de matéria é a soma das quantidades de matéria
de cada um dos gases:
n t = n1 + n 2 + n 3 + L = ∑ n i
i
1
As fórmulas que se apresentam são dimensionalmente homogéneas. Assim, as unidades que se sugerem poderão ser substituídas
pelas de outro sistema coerente de unidades.
4.3
Precipitação
então, se todos os gases se encontrarem à mesma temperatura e dado que eles ocupam o mesmo
volume, será
n t R T n1 R T n 2 R T n 3 R T RT
V
=
V
+
V
+
V
+L=
V i
∑ ni
p t = p1 + p 2 + p 3 + L = ∑ p i
i
ou seja, a pressão total exercida por uma mistura de gases à mesma temperatura e que ocupam um
determinado volume é igual à soma das pressões parciais de cada gás.
n
pi = i p t = x i p t
nt
pa = pd + p v
pa = pd + e ( 4.2 )
A equação de estado dos gases ideais, tendo em atenção que a quantidade de matéria (n) é a
razão entre a massa da substância (m) e a sua massa molar (M), pode escrever-se para cada um dos
componentes (i) do seguinte modo:
mi
p i Vi = RT
Mi
ou
pi vi = R i T ( 4.3 )
ou, ainda,
4.4
Precipitação
p i = ρi R i T ( 4.4 )
onde
Vi
vi = representa o volume mássico (m3 kg-1),
mi
m
ρ i = i , a massa volúmica (kg m-3) e
Vi
R
Ri = , a constante mássica dos gases desse componente (J kg-1 K-1).
Mi
Md = 0,02896 kg mol-1
Mv = 0,01802 kg mol-1
dp d = − ρ d g dz ( 4.5 )
onde
Substituíndo a massa volúmica pelo valor que se obtém da equação de estado, será
pd
dp d = − g dz ( 4.6 )
R dT
dT = − Γ dz ( 4.7 )
dp d g dT
= ( 4.8 )
pd Rd Γ T
4.5
Precipitação
g
⎛ T ⎞ Rd Γ
p d = p d0 ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ T0 ⎠
( 4.9 )
T = T0 − Γ (z − z 0 )
que permite a obtenção da pressão e da temperatura do ar seco a qualquer altitude, dentro da zona de
gradiente de temperatura constante, a partir de um ponto (pd0, T0, z0) conhecido.
⎡ g ⎤
pd = pd1 exp ⎢− (z − z1 )⎥ ( 4.10 )
⎣⎢ R d T1 ⎦⎥
z0 = 0 m
T0 = 288,15 K
p0 = 101325 Pa
4.6
Precipitação
Verifica-se pela referida figura as grandes variações que sofrem as variáveis com a altitude.
Considerando a passagem do nível do mar para uma altitude de 11 km, verifica-se que para esta
atmosfera, que representa condições padrão, a pressão diminui para cerca de um quarto do seu valor
e a temperatura para um valor de -56,5 °C. São estes factos que levam, por exemplo, a que as
cabinas dos aviões com propulsão a jacto das modernas carreiras de passageiros tenham de ser
pressurizadas e climatizadas. Sendo a pressão exterior menor do que a interior, se houver uma
ruptura da cabina desenvolver-se-ão fortes correntes de ar para o exterior. Se o sistema climatizador
se avariar e o avião se mantiver a essa altitude é certo que os passageiros, sem vestuário apropriado
perecerão de frio.
Para a mesma variação de altitude, a massa volúmica também se reduz a cerca de um terço
do seu valor ao nível do mar, implicando a redução pelo mesmo factor da sustentação do avião e da
resistência ao seu deslocamento, quando a velocidade se mantenha constante.
As massas de ar, como é óbvio, apresentam grande mobilidade estando raras vezes em
repouso. Assim, por efeito de gradientes térmicos e de pressão elas deslocam-se sofrendo expansões
e contracções de acordo com as pressões a que ficam sujeitas. Para analisar essas variações é
necessário recordar as leis da termodinâmica.
dQ = dE + dW
onde a energia da massa de gás (E) é a soma da sua energia interna (U) com a energia potencial
1
(mgz) e com a energia cinética ( mV 2 ):
2
1
E = U + mgz + m V2
2
dQ = dU + p dV
dq = du + p dv ( 4.11 )
onde as letras minúsculas designam as grandezas anteriores divididas pela massa do gás:
4.7
Precipitação
Q
q= , energia fornecida por unidade de massa (J kg-1) e
m
U
u = , energia interna mássica (J kg-1).
m
Nas condições admitidas para a equação ( 4.11 ), define-se capacidade térmica mássica a
volume constante (cv) por
⎡ dq ⎤ du
cv = ⎢ ⎥ = ( 4.12 )
⎣ dT ⎦ v = cte dT
⎡ dq ⎤
cp = ⎢ ⎥ ( 4.13 )
⎣ dT ⎦ p = cte
cp = cv + R ( 4.14 )
d (p v ) = p dv + v dp ( 4.15 )
obtém-se
dq = c v dT + d(pv) − v dp
= c v dT + R dT − v dp
⎡ dq ⎤
⎢⎣ dT ⎥⎦ = cp = cv + R
p = cte
Num processo adiabático, sem trocas de energia entre a massa de gás e o exterior (dq=0),
será
du + p dv = 0
ou
4.8
Precipitação
c v dT + p dv = 0
c p dT − v dp = 0
RT
c p dT − dp = 0
p
dT R dp
= ( 4.16 )
T cp p
k
⎛ T ⎞ ⎛ p ⎞
⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟ ( 4.17 )
⎝ T0 ⎠ ⎝ p 0 ⎠
R cv
com k = = 1− <1 .
cp cv + R
kd = 0,286
kv = 0,247
Designa-se por temperatura potencial (θ) a temperatura a que ficaria uma massa de gás,
inicialmente à pressão p e à temperatura T, depois de passar por um processo adiabático que a
levasse à pressão de 1000 hPa. Será
k
⎛ 100 000 ⎞
θ = T ⎜⎜ ⎟⎟ ( 4.18 )
⎝ p ⎠
c p dT − v dp = 0
d (p v )
cp − v dp = 0
R
c v v dp + c p p dv = 0
4.9
Precipitação
dp c p dv
=−
p cv v
e, integrando,
γ
p ⎛ v0 ⎞
=⎜ ⎟ ( 4.19 )
p0 ⎝ v ⎠
cp 1 R
com γ = = = 1+ > 1.
cv 1− k cv
γd = 1,400
γv = 1,328
Na Figura 4.2 apresenta-se em gráfico logarítmico a superfície fásica da água por recurso à
linha de saturação, com a forma de um V invertido, e a algumas isolinhas da temperatura (0 °C,
400 °C e 800 °C).
Entre os dois ramos da linha de saturação não se representa qualquer das fases da água.
Os estados duplos e triplo da água são representados pelas intersecções das linhas
horizontais a tracejado com cada um dos ramos da linha de saturação.
4.10
Precipitação
pc = 22,12 MPa
vc = 3,2x10-3 m3 kg-1
Tc = 374,16 °C
Acima da pressão crítica e à temperatura crítica não é possível distinguir a água líquida do
seu vapor. Em mudanças isobáricas de fase, abaixo da pressão crítica, existe descontinuidade no
volume mássico de cada fase, enquanto que, acima da pressão crítica, o volume mássico varia de
modo contínuo, sendo igual para as duas fases à temperatura crítica.
Nas fases sólida e líquida a água é praticamente incompressível. Assim, as porções das
isotérmicas correspondentes a essas fases saturadas, só água ou só gelo, ficariam representadas no
gráfico, devido às escalas adoptadas, por linhas praticamente verticais. Por tal motivo e para manter
a legibilidade do gráfico não se desenharam essas porções das isotérmicas. Pela última das razões
apontadas, manutenção da legibilidade, apenas se desenharam do lado do vapor as isotérmicas 0 °C,
400 °C e 800 °C, sendo fácil, por interposição, imaginar a posição das restantes isotérmicas.
De acordo com a regra das fases ou regra de Gibbs, o número de graus de liberdade de um
sistema (l) é igual à adição da diferença entre o número de componentes (c) e o número de fases (f)
presentes no sistema com 2:
l = c−f +2
Assim, durante os processos de mudança de fase da água onde estejam presentes duas fases
em equilíbrio (evaporação, condensação, fusão, congelação e sublimação) e um só componente (a
água) apenas há um grau de liberdade, ou seja, há apenas uma variável independente. Por exemplo,
escolhendo a temperatura de 50 °C para o equilíbrio entre a fase líquida e gasosa, obtém-se para
pressão de equilíbrio o valor de 12349 Pa e para os volumes mássicos os valores de 0,0010121 m3
kg-1 e de 12,032 m3 kg-1, respectivamente para a água líquida e para o seu vapor.
Quando a água se apresenta simultaneamente nas suas três fases, o número de graus de
liberdade é zero. Tal estado, designado triplo, verifica-se à pressão de 611,2 Pa e à temperatura de
0,01 °C. Nesse estado, o volume mássico do gelo é 0,001091 m3 kg-1, o da água é 0,0010002 m3 kg-1
e o do vapor é 206,48 m3 kg-1.
Designa-se por calor latente mássico (l12) a quantidade de calor que por unidade de massa é
necessário adicionar (l12>0) ou subtrair (l12<0) a uma substância para que em condições de equilí-
brio, isotérmico e isobárico, ela mude de uma dada fase, designada por 1, para outra fase, designada
por 2, ambas coexistindo simultaneamente. De acordo com a primeira lei da termodinâmica
( 4.11 ), será
2 2 2
l12 = ∫ dq = ∫ du + p ∫ dv
1 1 1
ou
4.11
Precipitação
l12 = u 2 − u1 + p (v 2 − v1 ) ( 4.20 )
h = u + pv
então, pode também definir-se calor latente mássico como sendo a diferença entre as entalpias
mássicas das duas fases
l12 = h 2 − h1
dq
ds =
T
pode escrever-se
2 2 dq
∫
l12 = dq = T
1 ∫1 T
= T (s 2 − s1 ) ( 4.21 )
u1 + p v1 − T s1 = u 2 + p v 2 − T s 2
onde cada um dos membros da igualdade representa a energia livre de Gibbs (g) da respectiva fase.
Então, se coexistem duas fases em equilíbrio isotérmico e isobárico as suas energias livres são
iguais:
g1 = g 2
O diferencial da energia livre para qualquer das fases será
d gi = du i + p dv i + v i dp − T ds i − s i dT
= dq i − T ds i + v i dp − s i dT
= v i dp − s i dT
Sendo iguais as energias livres de cada uma das fases em equilíbrio, então, as variações das
energias livres para outro ponto (p,T) de equilíbrio deverão também ser iguais:
v1 dp − s1 dT = v 2 dp − s 2 dT
dp l12
= ( 4.22 )
dT T (v 2 − v1 )
4.12
Precipitação
que permite, em conjunto com a equação ( 4.20 ) e a lei de estado, a definição da linha de saturação.
Assim, considere-se a passagem da água líquida para o vapor, vaporização. Então, em face
de vv, vw será desprezável. Derivando em relação à temperatura a equação ( 4.20 ), obtém-se
d l wv d
= (u v − u w + R v T)
dT dT
= c vv − c w + R v
= c pv − c w
l wv = l wv0 − (c w − c pv ) (T − T0 )
e, designando por esw a tensão de saturação do vapor em equilíbrio com a água líquida e substituindo
o resultado anterior na equação ( 4.22 ), obtém-se
de sw
[ ( )
= l wv0 − c w − c pv (T − T0 )
e sw
]
dT R v T2
⎛ e ⎞ ⎛1 1 ⎞ ⎛ T ⎞
ln ⎜⎜ sw ⎟⎟ = −α ⎜⎜ − ⎟⎟ − β ln ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ e sw 0 ⎠ ⎝ T T0 ⎠ ⎝ T0 ⎠
com
l wv0 + (c w − c pv ) T0
α=
Rv
c w − c pv
β=
Rv
A capacidade térmica da água a 15 °C é 4187 J kg-1 K-1 e a do gelo a -15 °C é 2000 J kg-1 K-1
e pouco variam com a temperatura na gama de valores existente na atmosfera.
4.13
Precipitação
⎛ 17,67 (T − 273,15) ⎞
e sw = 611,2 exp⎜ ⎟
⎝ T − 29,6 ⎠
2,66 ( 4.24 )
⎛ T ⎞
e si = e sw ⎜ ⎟
⎝ 273,15 ⎠
Como se referiu é usual decompor o ar em ar seco e vapor de água, existindo em função das
aplicações várias grandezas para exprimir o conteúdo em vapor de água do ar. Referem-se
seguidamente algumas dessas grandezas:
– Humidade absoluta (ρv), que se define pela relação entre a massa de vapor de água (mv) e o
volume de ar húmido (Va) que a contém:
mv e
ρv = =
Va R vT
– Humidade específica (qv), que se define pela relação entre as massas de vapor de água (mv) e
de ar húmido (ma)que existem em determinado volume de ar húmido:
mv ρv ρv
qv = = =
m a ρa ρd + ρ v
4.14
Precipitação
– Humidade relativa (U), que se define pela relação entre as massa de vapor de água (mv) que
existe em determinado volume de ar e a massa de vapor de água em equilíbrio com a água
líquida que saturaria esse volume à mesma temperatura (mvs):
mv ρ e
U= = v =
m vs ρ vs e sw
– Razão de mistura (w), que se define pela razão entre a massa de vapor de água que existe em
determinado volume de ar e a massa de ar seco que compartilha esse volume:
mv ρv e e
w= = =ε =ε
m d ρd pd pa − e
Rd
onde ε = = 0,622 representa a relação entre as constantes dos gases para o ar seco e
Rv
para o vapor.
Para determinar a constante dos gases para o ar húmido recorda-se a equação das pressões
parciais:
pa = pd + e ( 4.2 )
Será
pa = ρd R d T + ρ v R v T
⎛ w⎞
= ρ d R d T ⎜1 + ⎟
⎝ ε⎠
Sendo
ρa = ρd + ρ v
= (1 + w ) ρ d
p a = ρa R a T
com
w
1+
Ra = ε R ( 4.25 )
d
1+ w
Designa-se por temperatura virtual (Tv) a temperatura que deveria ter uma massa de ar seco
para que à mesma pressão (pa) que uma massa de ar húmido com a temperatura T tivesse a massa
volúmica desta. Será
4.15
Precipitação
pa R
Tv = = a T
R d ρa R d
e, considerando ( 4.25 ),
w
1+
Tv = ε T ( 4.26 )
1+ w
(ρ d + ρ v ) dq = ρ d c vd dT + ρ v c vv dT
e, dividindo por ρd e explicitando dq, obtém-se
c + w c vv
c va = vd ( 4.27 )
1+ w
c pa = c va + R a ( 4.28 )
Observa-se que as expressões ( 4.25 ), ( 4.27 ) e ( 4.28 ) podem reescrever-se como médias
ponderadas com a massa volúmica dos componentes, ar seco e vapor de água, das correspondentes
propriedades, Ri , cvi e cpi .
Quando a razão de mistura varia entre 0 e 0,04, valores que correspondem a ar seco e a ar
muito húmido, os intervalos de variação das relações entre os respectivos expoentes adiabáticos,
equações ( 4.17 ), ( 4.18 ) e ( 4.19 ), são os seguintes:
k
1 ≤ a ≤ 1,01
kd
γ
1 ≤ a ≤ 1,01
γd
ka = kd
( 4.29 )
γa = γd
4.16
Precipitação
m a = ρ a = (1 + w ) ρ d
dm a = dρ a = ρ d dw
Então, supondo o vapor em equilíbrio com a água líquida, a primeira lei da termodinâmica
permite escrever
− l wv ρ d dw = c pa (1 + w ) ρ d dT
ou
dw dT
− =
c pd + w c pv l wv
ww dw Tw dT
−∫ =∫
w0 c pd + w c pv T0 l
wv
onde
As equações ( 4.23 ), por serem lineares, indicam que lwv pode ser representado por
l wv = l wv0 − α wv (T − T0 )
l ⎡ c pv ⎤ 1 ⎡ α ⎤
ln ⎢1 + (w w − w 0 ) ⎥= ln ⎢1 + wv (T0 − Tw )⎥
c pv ⎣⎢ c pd ⎦⎥ α wv ⎣ l wv0 ⎦
w w − w 0 T0 − Tw
= ( 4.30 )
c pd l wv0
e s (Tw )
ww = ε ( 4.31 )
p a − e s (Tw )
4.17
Precipitação
c pd
w0 = ww − (T0 − Tw ) ( 4.32 )
l wv0
w 0 pa
e= ( 4.33 )
ε + w0
e
U= ( 4.34 )
esw (T0 )
c pd
Na Figura 4.4, desenhada com base nas expressões anteriores com a razão considerada
l wv0
constante e igual a 0,0004 K-1, ilustra-se de modo aproximado a relação que existe entre a humidade
relativa (U), a temperatura ambiente (T0) e a depressão térmica (T0-Tw).
Com maior rigor, quando a temperatura de fusão (Tf=273,15 K) se situasse no interior das
temperaturas inicial (T0) e final (Tw) dever-se-ia utilizar a seguinte equação
w w − w 0 T0 − Tf Tw − Tf
= −
c pd l wv0 livf
w w − w 0 T0 − Tw
=
c pd liv0
4.18
Precipitação
onde α, que se designa constante do psicrómetro, é indicada pelo fabricante de acordo com o tipo de
aparelho (0,0006≤α≤0,0012 K-1). Por vezes, utiliza-se a constante psicrométrica, γ, em vez de α pa
c pd p a
γ = αp a =
ε l wv
Designa-se por ponto de orvalho (Td) a temperatura a que seria necessário arrefecer o ar
húmido, a pressão e razão de mistura constantes, para que o vapor de água que contém ficasse
saturado:
e esw (Td )
w0 = ε =ε
pa − e pa − esw (Td )
−1
Td = esw (e) ( 4.36 )
e = esw (T0 ) U
⎛ e ⎞
x = ln ⎜ ⎟
⎝ 611,2 ⎠
29,66 x − 4827
Td =
x − 17,67
4.19
Precipitação
Agora, considere-se apenas que durante a expansão do ar todo o vapor que condense é
removido da massa de ar depois de lhe ter transmitido o calor latente de condensação. Designa-se
este processo por pseudo-adiabático.
dq = c pa dT − va dpa ( 4.37 )
4.20
Precipitação
Ra T
va =
pa
⎛ dT dp ⎞
dθ = θ ⎜⎜ − k a a ⎟⎟
⎝ T pa ⎠
será
dθ
dq = T c pa ( 4.38 )
θ
dθ
− l wv ρd dw s = (1 + w s ) ρd T cpa ( 4.39 )
θ
esw (T )
ws = ε ( 4.40 )
1
⎛ T ⎞k
100 000 ⎜ ⎟ − esw (T )
⎝θ⎠
e diferenciando
∂w s ∂w s
dw s = dT + dθ
∂T ∂θ
obtém-se
l wv ∂w s
dθ (1 + w s ) cpa T ∂T
=− ( 4.41 )
dT 1 l wv ∂w s
+
θ (1 + w s ) c pa T ∂θ
A equação anterior não se presta com facilidade a aplicações práticas. Assim, considerando
que
⎛w ⎞ 1 ⎛ ∂ ws ∂ ws ⎞ ws
d⎜ s ⎟ = ⎜ dT + dθ ⎟ − 2 dT
⎝ T ⎠ T ⎝ ∂T ∂θ ⎠ T
1
≈ dw s
T
4.21
Precipitação
l wv ⎛ w ⎞ dθ
− d⎜ s ⎟ =
c pd + w s c pv ⎝ T ⎠ θ
e, integrando com a fracção onde intervêm o calor latente e as capacidades térmicas considerada
constante, obtém-se a seguinte equação
⎛ l wv ⎞ ⎛ w s w s0 ⎞ ⎛ θ ⎞
−⎜ ⎟ ⎜
⎜ − ⎟⎟ = ln ⎜⎜ ⎟⎟ ( 4.42 )
⎜ c pd + w s c pv ⎟ ⎝ T T0 ⎠ ⎝ θ0 ⎠
⎝ ⎠0
A razão de mistura de saturação, equação ( 4.40 ), a pressão a que o ar está sujeito, expli-
citada da equação ( 4.18 ), e as linhas que representam os processos pseudo-adiabáticos, obtidas por
integração numérica da equação ( 4.41 ), podem ser representadas num gráfico semi-logarítmico
onde no eixo das abcissas se marcam as temperaturas do ar e no das ordenadas, em escala
logarítmica, a sua temperatura potencial. Apresenta-se tal gráfico, que se designa por diagrama
aerológico, na Figura 4.6.
As linhas de igual pressão do ar, isobáricas, são também aproximadamente rectas, fazem
com o eixo das temperaturas ângulos de cerca de 45° e estão cotadas em hPa sensivelmente a meio.
Entre parênteses indica-se também a altitude (km) que na atmosfera-padrão corresponderia a essa
4.22
Precipitação
pressão. Para que a altitude varie na vertical é usual rodar-se o diagrama até que as isobáricas fiquem
aproximadamente horizontais.
Convém notar que as quantidades de calor postas em jogo por unidade de massa no processo
de passagem de um ponto 1, com coordenadas (T1,θ1), para um ponto 2, com coordenadas (T2,θ2),
são calculadas pelo integral da equação ( 4.38 ),
2 dθ
q12 = ∫ T c pa
1 θ
que, sendo cpa pouco variável e aproximadamente igual a cpd, se pode escrever
2
q12 = c pd ∫1 T d(ln θ)
4.23
Precipitação
Considere-se uma massa de ar com uma temperatura de 19,5 °C, à pressão de 1000 hPa e
com uma razão de mistura de 9 g/kg (ponto a na Figura 4.8). De entre os vários processos que
existirão para se atingir uma razão de mistura de saturação destacam-se os seguintes:
Tc ≤ Td ≤ Tw ≈ Tsw ≤ Ta
Faz-se notar que cada linha pseudo-adiabática pode ser caracterizada pela temperatura que se
obteria conduzindo uma compressão pseudo-adiabática desde o ponto de condensação adiabática até
à pressão de 1000 hPa. Designa-se tal temperatura por pseudo-temperatura potencial do termómetro
4.24
Precipitação
molhado (θsw). Na Figura 4.8, a pseudo-adiabática que passa em c e sw seria caracterizada por θsw =
Tsw, visto que o ponto sw se encontra já na isobárica 1000 hPa.
Considere-se que a massa de ar referida no exemplo anterior (ponto a, Figura 4.9), se vai
elevar na atmosfera do nível correspondente à pressão de 1000 hPa até ao nível correspondente a
800 hPa, ou seja, cerca de 1800 m, e regressar ao nível inicial.
A temperatura mais baixa atingida pela massa de ar seria a correspondente à maior altitude,
ponto e, cerca de 5,6 °C.
4.25
Precipitação
entanto, se espalhassemos a água sobre uma superfície horizontal com uma área igual à da base do
cubo a altura atinjida seria apenas de cerca de 0,21 mm.
As nuvens são formadas por gotas de água e partículas de gelo com génese no vapor de água
da atmosfera. A observação mostra que a sua forma não é estável e que sofrem transformações mais
ou menos rápidas ao longo do tempo.
As mudanças de fase de que se tratou na secção anterior do texto dizem respeito à presença
simultânea das fases, as quais se consideravam separadas por superfícies planas. Se apenas uma das
fases estiver presente, tais mudanças só ocorrem espontaneamente, às temperaturas e pressões então
indicadas, no sentido da fase de maior desordem (gelo→água líquida→vapor), ou seja, de maior
entropia. Em sentido contrário, a experiência e a teoria mostram que é necessário valores muito
superiores da tensão do vapor em relação à de saturação de equilíbrio e valores muito inferiores da
temperatura da água em relação ao ponto de fusão.
Designa-se por vapor sobressaturado o vapor que se encontre para determinada temperatura
a tensões superiores às do equilíbrio sobre a água líquida com superfície interfacial plana a essa
temperatura (esw) e, por água sobrearrefecida ou sobrefundida a água líquida que se encontre para
determinada pressão a temperaturas inferiores à do ponto de fusão a essa pressão.
No entanto, na atmosfera formam-se gotas de água a partir do vapor logo que a tensão de
saturação (esw) seja ligeiramente excedida. Tal facto deve-se à presença de partículas higroscópicas
que funcionam como núcleos de condensação (heterogénea). Muitas destas partículas são
constituídas por sal proveniente do mar, poeiras geradas pelo vento à superfície dos continentes,
fogos florestais e produtos de combustão e outras operações industriais.
Logo que alguma condensação ocorra a tensão do vapor baixa e a condensação terminará se
o vapor não for substituído por vapor proveniente de outras camadas ou se o ar não se encontrar em
ascensão, fenómeno que justifica a saturação inicial, ficando portanto saturado a temperaturas
sucessivamente mais baixas e às quais correspondem menores tensões do vapor.
4.26
Precipitação
Devido à tensão superfícial (σ), cerca de 0,075 N m-1 para a gama de temperaturas da
atmosfera, a pressão da água líquida à superfície das gotas pequenas é superior à pressão da água à
superfície das gotas grandes, como atesta a fórmula de Laplace
⎛1 1 ⎞
pi − pa = σ ⎜ + ⎟
⎜ r1 r 2 ⎟
⎝ ⎠
onde
pa representa a pressão do ar no exterior da gota,
pi, a pressão no interior da gota e
r1 e r2, os raios principais de curvatura.
Assim, as gotas pequenas vaporizarão mais facilmente do que as gotas grandes, existindo um
tamanho de gota, designado por crítico, tal que as gotas mais pequenas que as desse tamanho
vaporizam e tendem a desaparecer e as gotas maiores crescem, à custa do vapor em excesso das
pequenas, tendendo a ficar cada vez maiores.
À medida que as gotas cresçam, a sua velocidade de queda (u) relativa à velocidade do ar
ascendente vai aumentando, como atesta a lei de Stokes para pequenos números de Reynolds
(Re<1), com um coeficiente de resistência inversamente proporcional ao referido número (Cd=24/Re)
2 g (ρ w − ρa ) 2
u= r
9 μ
onde
r representa o raio da gota, suposta esférica, e
μ, a viscosidade dinâmica do ar (≈ 1,83 x 10-5 N m-2 s)
ou, para grandes números de Reynolds (Re>105), com um coeficiente de resistência constante
(Cd=0,45),
1
u = 220 r 2
Enquanto o tamanho das gotas não for suficiente para que comecem a descer, as gotas
maiores subirão a menor velocidade que as mais pequenas que com aquelas podem colidir se a sua
inércia for suficiente para que a corrente ascendente ao contornar as gotas maiores não as desvie. Por
outro lado, quando as gotas maiores tiverem tamanho suficiente para descer colidirão com as que
sobem e com as que descem, mas a menores velocidades. Destas colisões podem resultar gotas
maiores por coalescência. Por exemplo, uma gota de água com um diâmetro de 1 mm pode resultar
de 105 colisões.
4.27
Precipitação
Se as gotas descendentes atingirem tamanho suficiente para não se evaporarem até ao solo,
então, ocorrerá precipitação à superfície. O tamanho das gotas da chuva, expresso como sendo o
diâmetro da esfera com o mesmo volume, varia em geral entre 0,1 mm e 6 mm. As gotas que
eventualmente atinjam tamanhos maiores sofrem processos de subdivisão ao longo da sua queda. A
moda dos tamanhos de gota cresce com a intensidade da precipitação.
O gelo forma-se nas núvens com base no congelamento das gotas líquidas sobrearrefecidas,
mas a temperaturas inferiores a 0°C. Tal facto indica que tal como na condensação também a
nucleação do gelo é heterogénea. Os núcleos de gelo na atmosfera, em número muito inferior ao dos
núcleos de condensação, são constituídos fundamentalmente por partículas de caulinite. Tais
partículas são capazes de iniciar o processo de congelamento das gotas de água a temperaturas da
ordem de -9 °C. No entanto, não é invulgar a ausência de gelo em nuvens com temperaturas até
cerca de -15 °C.
O crescimento dos cristais de gelo dá-se, numa primeira fase e tal como acontecia para as
gotas de água, a partir da deposição do vapor de água sobre a superfície do cristal. Como a tensão do
vapor saturante é menor sobre o gelo do que sobre a água líquida, à medida que aquele se vai
depositando sobre os cristais vai também evaporando das gotas que terão tendência a diminuir de
tamanho e, eventualmente, a desaparecer.
4.28
Precipitação
4.29
Precipitação
Designam-se por frentes as regiões de separação das duas massas de ar. No vértice da onda a
pressão baixa e o ar passa a convergir para essa região deprimida, adquirindo pelo efeito de Coriolis
um movimento de rotação que no hemisfério norte tem um sentido contrário ao dos ponteiros dos
relógios. Na frente que se designa por fria, o ar frio desloca-se por baixo do ar quente elevando-o
rapidamente, ao longo de uma superfície de separação com curvatura acentuada, e empurrando-o
contra a outra superfície de separação. Na frente que se designa por quente, o ar quente, empurrado
pela frente fria, desloca-se suavemente sobre o ar frio ao longo de uma superfície sem grande
curvatura e declive. A frente fria desloca-se com maior velocidade que a frente quente e, portanto, as
duas frentes acabam por unir-se, ficando o ar quente por cima do ar frio. Na frente fria, durante a
fase de maturidade do sistema, frentes fazendo aproximadamente um ângulo recto, a turbulência é
muito grande e as precipitações muito intensas. Os tornados, muito frequentes nos Estados Unidos,
têm a sua origem na extrema turbulência que por vezes se manifesta nas frentes frias.
4.30
Precipitação
Designa-se por água precipitável (W12) a quantidade de água existente numa coluna vertical
de ar com uma altura compreendida entre dois níveis atmosféricos, o nível 1 e o nível 2, por unidade
de área da base da coluna. Quando a água contida na coluna existir apenas na fase gasosa, será
z2
W12 = ∫ ρ v dz ( 4.43 )
z1
onde
W12 representa a água precipitável (kg m-2),
z1 e z2, os níveis entre os quais a coluna se denvolve (m),
ρv, a massa volúmica do vapor de água (kg m-3).
Faz-se notar que supondo que a água precipitável se encontra na fase líquida e que a sua
massa volúmica é 1000 kg m-3, então, distribuindo-a uniformemente sobre uma superfície horizontal
com área unitária obtém-se uma altura que é expressa em mm pelo mesmo valor com que é expressa
em kg m-2 e que nos estudos hidrológicos se adopta tradicionalmente a unidade de comprimento
(mm).
dp = −ρa g dz
p1 ρ v dp p1 q v
W12 = ∫ =∫ dp ( 4.44 )
p2 ρa g p2 g
onde
qv representa a humidade específica do ar (-) e pode ser considerado aproximadamente igual
à razão de mistura, w.
4.31
Precipitação
Figura 4.14 - Água precipitável entre 1000 hPa e a pressão indicada (ΔW = 5 mm)
⎡ ⎛ p ⎞ 0,19023 ⎤
z = 44308 ⎢1 − ⎜⎜ ⎟ ⎥ A água precipitável é uma grandeza fundamental nos
⎢ ⎝ 101325 ⎟⎠ ⎥
⎣ ⎦
modelos que seguidamente se vão analisar, como se verá.
R = b ⎛⎜ ∫ V ρ v dz − ∫ V ρ v dz ⎞⎟
z2 z4
( 4.45 )
⎝ z1 z3 ⎠
onde
R representa a massa de água precipitada (kg s-1),
V, a velocidade do vento (m s-1),
ρv, a humidade absoluta do ar saturado (kg m-3) e
b, a largura do volume de controlo (m).
4.32
Precipitação
onde
Vij representa a velocidade média do vento na face ij (m s-1) e
Wij, a água precipitável na face ij (kg m-2).
A relação entre as velocidades do vento nas duas faces do volume de controlo pode estimar-
-se pela aplicação do princípio anterior ao componente ar seco, supondo constante a sua massa no
interior do referido volume:
z2 z4
∫z1
V ρ d dz = ∫
z3
V ρ d dz
p1 p3
∫p 2
V dp = ∫
p4
V dp
ou
Δp12
V34 = V12 ( 4.47 )
Δp34
onde
Δpij representa a diferença de pressões entre os níveis i e j.
Substituíndo o valor de V34 dado pela equação anterior na equação ( 4.46 ) obtém-se
⎛ Δp ⎞
R = b V12 ⎜⎜ W12 − 12 W34 ⎟⎟ ( 4.48 )
⎝ Δp34 ⎠
4.33
Precipitação
camada intermédia, entre os níveis 2 e 3, o ar sobe na vertical, no interior de uma zona cilindrica de
raio r; na camada superior, entre os níveis 3 e 4, o ar diverge radialmente do eixo da tempestade.
⎛ Δp ⎞
R = 2π r V12 ⎜⎜ W12 − 12 W34 ⎟⎟ ( 4.49 )
⎝ Δp34 ⎠
R
I = 3 600 ( 4.50 )
A
onde A representa a área da superfície do terreno (m2) sobre a qual precipita a água (no segundo
modelo pode ser igualada à área da base do cilindro do controlo e, no primeiro, será inferior à área
do rectângulo onde se pode projectar horizontalmente o volume de controlo, Lb).
A medição da precipitação pode ser feita localmente ou por detecção remota. Na medição
local utilizam-se udómetros ou pluviómetros, que podem ser totalizadores ou registadores. Na
medição remota utilizam-se radares meteorológicos.
4.34
Precipitação
A – Funil receptor
C – Depósito
D – Flutuador
E – Sifão
F – Haste do flutuador
M – Aparo
R – Tambor de registo
S – Recipiente
acumulador
4.35
Precipitação
A, B – Reservatórios do
balanceiro
C – Íman
D – Interruptor
4.36
Precipitação
Pode mostrar-se que a potência média recebida no radar, Pr , de uma região atmosférica à
distância r da antena é definida por (Battan, 1973)
2
C K aI b
Pr = ( 4.51 )
r2
onde
C representa a constante do radar,
2
K , um parâmetro dependente do índice de refracção dos hidrometeoros, que se considera
ter um valor de 0,93 para a água líquida,
I, a intensidade da precipitação (mm/h) e
a e b , parâmetros de ajustamento ligados ao tipo de precipitação que se observa com o radar.
4.37
Precipitação
Na Figura 4.23, com eixos logarítmicos, e no Quadro 4.1 apresentam-se os valores máximos
da precipitação registados no Mundo em função da duração do intervalo de tempo em que ocorreu.
Na Figura 4.23 apresentam-se também os valores máximos registados em Portugal.
P = 50 t 0,5 ( 4.52 )
4.38
Precipitação
100000
10000
Precipitação (mm)
1000
Recorde Mundial
Recorde Português
1440; 292
2880; 299
360; 272
720; 276
100 Envolvente
60; 96
30; 59
5; 20
10
1
1
10
100
1000
10000
100000
1000000
10000000
Duração (min)
Por baixo das marcas que representam os recordes de precipitação em Portugal indica-se a
duração (min) e a precipitação (mm) separadas por ponto e vírgula.
A análise dos valores da precipitação ( Quadro 4.1 ) mostra que, embora esta seja crescente
com a duração, ao dobro duma dada duração corresponde um valor de precipitação que é inferior ao
dobro da precipitação com essa duração
P(2t ) ≤ 2 P( t ) ( 4.53 )
P
I= = 3000 t −0,5 ( 4.54 )
t
e mostra que a intensidade média da precipitação diminui com a duração, como a análise do Quadro
4.1 evidencia.
P ( t , T ) = a (T ) t n ( T ) ( 4.55 )
4.39
Precipitação
para representar a relação que existe entre a precipitação e a respectiva duração, para determinado
período de retorno, T, e local. Designam-se por linhas de possibilidade udométrica (Manzanares,
1947) as representações gráficas das funções que, como a anterior, representam tal relação.
0 < n ≤1 ( 4.56 )
A análise dos recordes portugueses de precipitação ( Figura 4.23 ) revela a existência perto
da duração de seis horas duma mudança de alinhamento nas marcas que os representam. Brandão et
al, 2001, sugerem que, no que diz respeito a Portugal Continental, deve considerar-se a existência de
4.40
Precipitação
três trechos no estabelecimento das linhas de possibilidade udométrica: um trecho para durações
inferiores a 30 min, outro para durações entre 30 min e 6 h e um último para durações superiores a 6
h.
Em gráficos com escalas logarítmicas para a duração e para a precipitação, a evidência das
mudanças de alinhamento dos pontos que representam a linha de possibilidade udométrica para
determinado período de retorno pode conduzir à utilização de outras funções. Exemplo de uma
dessas funções é a função de Wenzel, que se pode escrever
ct
P= e
( 4.57 )
t +f
onde c=c(T), e=e(T) e f=f(T) são parâmetros a determinar. Faz-se notar que a função ( 4.57 ) se
reduz à função monómia ( 4.55 ) quando f=0. Por vezes, considera-se que os parâmetros e e f são
constantes e que c é uma função monómia do período de retorno, T,
c = k Tm ( 4.58 )
Para representar a relação que existe entre a intensidade média da precipitação e a respectiva
duração para determinado período de retorno utilizam-se funções do tipo
I( t , T ) = a (T ) t b ( T ) ( 4.59 )
cujas representações gráficas se designam por curvas IDF (Intensidade, Duração, Frequência).
Evidentemente, será
b(T ) = n (T ) − 1 ( 4.60 )
e a(T) depende das unidades de I e de t. Se I for expresso nas unidades de P e de t, então, o valor de
a(T) é idêntico ao valor que tem em ( 4.55 ).
Na Figura 4.24 apresentam-se as curvas IDF de Maputo e de Lisboa (IGIDL) para o período
de retorno de 50 a.
160
140
120
100
I (mm/h)
80
60
40
20
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
t (min)
4.41
Precipitação
KA=1,0
KB=0,8
KC=1,2
4.42
Precipitação
KA=0,8
KB=1,2
KC=0,7
KD=1,5
Brandão et al, 2001, tendo considerado à entrada do volume de controlo apenas a água
precipitável entre os níveis 1000 hPa e 200 hPa, numa atmosfera saturada, Figura 4.14, sugerem que
em Portugal se poderá estimar a precipitação máxima provável como sendo cerda de 2,5 vezes a
precipitação com o período de retorno de 1000 anos. De acordo com a lei de Gumbel, este valor
corresponderá a um valor do factor de probabilidade (K) próximo de 15, valor que é globalmente
aceite neste contexto.
4.43
Precipitação
1
A ∫A
P= P( x , y) dA ( 4.61 )
onde P(x,y) representa a precipitação expressa em altura no ponto (x,y) da projecção da região e A, a
área da região medida em planta. Evidentemente, o volume da precipitação sobre a região é
representado na expressão anterior pelo integral de P(x,y) ao longo da área.
Pi = P( x i , y i ) ( 4.62 )
e o cálculo da equação ( 4.61 ) faz-se por ajustamento de uma função P(x,y) à precipitação medida
em vários postos.
1 N
P ( x , y) = P = ∑ Pi
N i =1
( 4.63 )
onde N representa o número de postos sobre e na vizinhança da área em estudo ( Figura 4.27 ). De (
4.61 ) obtém-se
P=P ( 4.64 )
4.6
1.6
6.2
4.1
4.5
9.1
4.1
9.7
1.3
5.0
8.2
4.44
Precipitação
1.6
6.2
4.1
4.5
9.1
4.1
9.7
1.3
5.0
8.2
Cada um dos segmentos de área é definido pelo lugar geométrico dos pontos da área que
estão mais próximo de um posto do que de qualquer outro posto e designa-se por área de influência
desse posto. Faz-se notar que o posto que define uma determinada área de influência pode estar
situado fora da área em análise.
A construção das áreas de influência de cada posto pode fazer-se com recurso a uma rede de
triângulos adjacentes com vértices coincidentes com os postos de medição. Deve procurar-se que a
circunferência circunscrita a cada triângulo da rede não contenha nenhum posto no seu interior, ou
seja, que a rede de triângulos seja uma rede de Delaunay. Os polígonos de Thiessen associados a um
determinado posto são constituídos pelas mediatrizes aos lados dos triângulos que têm esse posto
como vértice. A área de influência do posto resulta da intersecção da área em análise com o
respectivo polígono de Thiessen. No contexto de outras disciplinas, os polígonos de Thiessen são
por vezes designados por polígonos de Voronoi.
Ai
P=∑ Pi ( 4.65 )
i A
onde Ai representa a área de cada segmento e o somatório se estende a todos os postos com
influência na área em análise. Evidentemente será
∑ Ai = A ( 4.66 )
i
As equações ( 4.65 ) e ( 4.66 ) mostram que o método das áreas de influência corresponde a
atribuir à área em análise uma precipitação que é a média ponderada das precipitações em cada um
dos postos com influência sobre a área em análise. Os factores de ponderação são as razões entre as
áreas de influência e a área total.
No método das isoietas, linhas de igual precipitação, interpola-se entre postos com a
precipitação medida por forma a definir P(x,y) e, consequentemente, a permitir o traçado das linhas
de igual precipitação, P( x, y) = Pξ . A equação ( 4.61 ) pode então ser estimada através de
4.45
Precipitação
Pξ + Pξ+1
P=
1
A
∑ 2
A ξ − A ξ+1 ( ) ( 4.67 )
onde A ξ representa a área na qual a precipitação é superior a Pξ e onde Pξ+1 > Pξ . O processo
descrito é semelhante ao que se utiliza para determinar a altitude média na análise hipsométrica.
Na interpolação tradicional, também designada por bilinear, utiliza-se uma rede de triângulos
como a definida para o método das áreas de influência e interpola-se linearmente ao longo dos lados
de cada triângulo. As isoietas obtêm-se unindo os pontos interpolados de igual precipitação ( Figura
4.29 ) e podem posteriormente ser suavizadas ou arredondadas para obtenção de um melhor aspecto
visual.
4.6 4.6
1.6 1.6
6.2 6.2
4.1 4.1
4.5 4.5
9.1 9.1
4.1 4.1
9.7 9.7
1.3 1.3
5.0 5.0
8.2 8.2
N
∑ w i Pi
i =1
P ( x , y) = N
∑ wi ( 4.68 )
i =1
1
wi =
d iα
onde
N, representa o número de postos vizinhos de (x,y) a utilizar na interpolação,
wi, o factor de ponderação a utilizar no ponto (x,y) para o posto i com a precipitação Pi,
di, a distância entre o ponto (x,y) e o posto i,
α, um expoente a que se eleva a distância.
O valor que mais frequente de α é 2 e faz-se notar que se α=0, então, a interpolação reduz-se
à média aritmética das precipitações medidas nos N postos vizinhos.
4.46
Precipitação
Na Figura 4.30 ilustra-se essa variabilidade com diagramas de Tukey ( box plots ) para a
precipitação mensal em Lisboa, medida no Instituto Geofísico Infante D. Luís (IGIDL), no período
entre Outubro de 1900 e Setembro de 1994.
400
350
300
250
P (mm)
200
150
100
50
0
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
Cada diagrama mensal representa por traços horizontais, para a série de valores da
precipitação nesse mês, o mínimo, o primeiro quartil, a mediana, o terceiro quartil e o máximo e, por
uma marca cheia, a média.
Pode observar-se que a precipitação ocorre principalmente nos seis meses de Outono e de
Inverno do hemisfério Norte, com o máximo registado em Dezembro (383 mm). Nos meses do
Verão a precipitação é muito baixa, com valores médios de cerca de 4 mm em Julho e Agosto e com
uma mediana, nos mesmos meses, de cerca de 1 mm.
A variabilidade mensal num dado ano pode ser quantificada pelo coeficiente de variação da
precipitação mensal
12
(Pi − P )2
∑ 12
i =1
CVPM = ( 4.69 )
P
onde Pi representa a precipitação no mês i e P , a média das precipitações mensais nesse ano.
4.47
Precipitação
Designa-se por ano médio, em relação a uma grandeza hidrológica, um ano fictício durante o
qual o valor dessa grandeza em fracções sucessivas do ano é igual ao valor médio da grandeza
nesses períodos. Na Figura 4.30 o ano médio encontra-se representado pelas marcas cheias.
Verifica-se que o coeficiente de variação da precipitação mensal em ano médio é inferior ao valor
médio dos coeficientes de variação da precipitação mensal dos vários anos de registo, isto é, que o
ano médio apresenta uma variabilidade menor (regularidade maior) do que a média dos anos. Em
Lisboa, no período analisado, o coeficiente de variação da precipitação mensal em ano médio é 0,61
e a média dos coeficientes de variação da precipitação mensal é 0,96.
1400
1200
1000
Precipitação Anual (mm)
800
600
400
200
0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94
Ano
4.48
Precipitação
600
500
400
P (mm)
300
200
100
0
OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET
4.49
Precipitação
1800
1600
1400
P recip itação An u al (m m )
1200
1000
800
600
400
200
0
01 10
14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44 47 50 53 56 59 62 65 68 71 74 77 80 83 86 89 92 95 98 10 04
1 4
Ano
Nas Figura 4.34 e Figura 4.35 apresentam-se as distribuições da precipitação anual média em
Portugal Continental e em Moçambique. Em ambos os mapas é notório o efeito da orografia na
precipitação. Efectivamente, as elevações do terreno produzem um significativo aumento da
precipitação, efeito que é designado por acentuação orográfica da precipitação.
4.50
Precipitação
4.51
Precipitação
4.52
Precipitação
EXERCÍCIOS
4.1 Determine a massa volúmica do oxigénio ao nível do mar (1013,25 hPa e 15 ºC) e no
cume do monte Everest (317 hPa e -42 C), tomando como fracção molar do oxigénio
0,21.
De modo aproximado, refira também quantas vezes mais depressa do que ao nível do mar
teria um alpinista que respirar no referido cume.
4.2 Numa bomba para encher pneus de bicicleta, o ar seco é admitido da atmosfera à
temperatura de 15° C e a 1 atm. Considerando o processo de compressão adiabático,
determine a temperatura do ar à saída da bomba quando a pressão no pneu for de 2,5 bar.
4.3 Uma parcela de ar seco encontra-se à pressão de 800 hPa e à temperatura de 10° C.
Determine a sua temperatura potencial.
4.4 Num reservatório encontra-se 0,5 m3 de um gás comprimido a 4250 mbar e cujas
constante mássica (R) e capacidade térmica mássica a volume constante (cv) são
250 J kg-1 K-1 e 500 J kg-1 K-1. Mantendo a massa de gás constante e supondo um
processo adiabático, determine a que valor seria necessário reduzir a pressão para que o
volume ocupado pelo gás duplicasse. Qual seria a sua temperatura final, sabendo que a
inicial era 20° C ?
4.7 Determinada massa de ar húmido encontra-se à pressão de 1000 mbar, com uma
temperatura de 20 °C e a tensão do vapor de água que contém é de 1000 Pa.
Nessas condições determine:
4.8 Exprima humidade absoluta, ρv, e humidade específica, qv, em função da razão de
mistura do vapor de água, w, e, caso seja necessário, da pressão atmosférica e da
temperatura.
4.10 Num psicrómetro instalado ao nível do mar, com uma constante α=0,0006 K-1, obteve-se
uma depressão de 4 °C quando a temperatura no termómetro seco era 25 °C. Qual era a
razão de mistura do vapor de água no ar ?
4.53
Precipitação
4.11 Uma massa de ar com uma humidade relativa de 40% apresenta a temperatura de 25 °C.
Qual é o ponto de orvalho de tal massa de ar ?
4.12 Determinada parcela de ar, que se encontrava à pressão de 1000 mbar e à temperatura de
20 °C, com uma razão de mistura do vapor de água de cerca de 6 g kg-1, é elevada a um
nível correspondente à pressão de 600 hPa e, posteriormente, reposta à pressão inicial.
Determine também
Supondo que a massa de ar seco contido na parcela de ar húmido era de 2000 kg,
determine ainda
4.13 Sobre uma elevação do terreno com 4 km de altitude e situada junto à costa sopra um
vento saturado com uma velocidade média de 45 km h-1. Supondo que a temperatura do
ar na costa é de 27 ºC e que a 10 km de altitude a direcção do vento não é perturbada pela
elevação do terreno, estime a intensidade média da precipitação que ocorre sobre uma
área da encosta de barlavento que, projectada horizontalmente, tenha as dimensões de um
quadrado com 12x12 km2 e com um dos lados paralelo à direcção do vento.
4.14 Numa tempestade com um raio de 6 km o ar saturado converge para a sua periferia entre
os níveis de 900 mbar e 800 mbar com uma velocidade média de 30 km h-1. Sabendo que
a temperatura à superfície é de 25 °C e que o ar diverge da célula tempestuosa entre as
altitudes de 9 km e de 10 km, estime a intensidade da precipitação em mm h-1.
4.15 A figura abaixo representa um registo diário de um udógrafo de sifão. Sabendo que a
escala vertical corresponde a 10 mm de precipitação estime a precipitação nesse dia.
4.54
Precipitação
4.16 Na Figura abaixo representa-se em papel de probabilidade Normal uma série de máximos
anuais da precipitação diária e a lei Normal que lhe foi ajustada pelo método dos
momentos.
140.0
130.0
120.0
110.0
100.0
Precipitação (mm)
90.0
80.0
70.0
60.0
50.0
40.0
30.0
20.0
-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2
z (-)
6 ⎧⎪ ⎡ ⎛ T ⎞⎤ ⎫⎪
KG = − ⎨0,5772 + ln⎢ln⎜ ⎟⎥ ⎬
π ⎪⎩ ⎣ ⎝ T − 1⎠⎦ ⎪⎭
estime a precipitação máxima diária com um período de retorno de 100 a (se não
respondeu à alínea a), arbitre valores plausíveis da média e do desvio-padrão).
t (min) 0 10 20 30 40 50 60
P (mm) 0 15 35 41 45 47 47
4.55
Precipitação
a) Determine para esse período de retorno, pelo método do mínimo dos quadrados, os
parâmetros a e b da curva IDF.
b) Com base no resultado anterior, determine os parâmetros da linha de possibilidade
udométrica com P em mm e t em min.
4.19 Em três postos udométricos com áreas de influência de 10, 20 e 30 km2 sobre
determinada bacia hidrográfica registaram-se em dado período de tempo precipitações de
12, 18 e 23 mm, respectivamente. Estime pelo método de Thiessen a precipitação sobre a
bacia nesse período de tempo
2
4.20 Para estimar a precipitação sobre uma bacia hidrográfica, com a área de 23,5 km ,
traçaram-se as respectivas isoietas tendo-se obtido os resultados que se apresentam no
seguinte Quadro onde P representa a precipitação e A, a área de bacia hidrográfica onde a
precipitação foi superior a P.
4.21 Na Figura abaixo representam-se três estações udométricas e um ponto onde se pretende
saber a precipitação que ocorreu em determinado ano.
E1
E3
E2
M P Precipitação
(km) (km) (mm)
E1 12.6 12.4 1020
E2 9.0 4.4 752
E3 21.1 6.3 813
P 14.2 9.3 ?
a) Média aritmética.
b) Área de influência.
c) Interpolação bilinear.
d) Interpolação de Shepard com expoente α igual a 0, 1, 2 e 3.
4.56
Precipitação
BIBLIOGRAFIA
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Series, 1988.
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4.57