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Parte II
Fontes renováveis
Outras Fontes
5
Atlas de Energia Elétrica do Brasil 75
Capítulo 5 | Outras fontes
Box 5
A energia verde
Constituído no final dos anos 90, o chamado “mercado da ener- sustentável e que permite a captura de CO2. Por convenção, uma
gia verde” está em expansão em vários países europeus. Ele é re- tonelada de CO2 corresponde a um crédito de carbono.
sultado do compromisso para redução das emissões de dióxido
de carbono (CO2) assumidos pelas nações desenvolvidas na assi- O setor elétrico pode participar do mercado de MDL com usinas
natura do Protocolo de Kyoto e ratificadas pelo Tratado em 2005. movimentadas por fontes renováveis e alternativas, com pro-
Favorece, portanto, a implementação de usinas abastecidas por gramas de eficiência e conservação de energia e projetos de re-
fontes renováveis que permitem a “captura” – ou, em outras pa- florestamento. Os compradores dos certificados são as compa-
lavras, reduzem as emissões – de dióxido de carbono (CO2) e ou- nhias situadas nos países desenvolvidos que podem utilizar os
tros gases causadores do efeito estufa na atmosfera. créditos adquiridos para diminuir os compromissos de redução
das emissões. Um exemplo de mercado voluntário de créditos
Segundo a Rede de Energias Renováveis para o Século XXI de carbono, ou MDL, é o Chicago Climate Exchange (Bolsa do
(REN21), em 2007 havia mais de 4 milhões de consumidores da Clima de Chicago).
energia produzida por usinas verdes na Europa, Estados Unidos,
Canadá, Austrália e Japão. Essa movimentação foi estimulada por O projeto piloto da Usina Verde, localizada na Ilha do Fundão,
uma combinação de fatores. Entre eles, programas oficiais de go- no Rio de Janeiro, e em operação desde 2004, é vendedor de
verno, participação da iniciativa privada, projetos desenvolvidos créditos de carbono no mercado internacional. Construída pela
pelas companhias de energia e aquisição compulsória de parte da iniciativa privada com parte da tecnologia desenvolvida pela
produção por órgãos públicos. A entidade informa, ainda, que os Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a usi-
três principais veículos para aquisição da energia verde são: pro- na obtém eletricidade a partir da incineração do lixo urbano.
gramas especiais de precificação; a existência de um mercado li- É considerada “limpa” porque destrói termicamente os gases
vre (desregulamentado), também chamado mercado verde, para poluentes produzidos no processo, liberando na atmosfera, sem
a comercialização de um terço da produção; e a negociação vo- causar danos ambientais, apenas vapor de água e CO2. Além dis-
luntária de certificados de energia renovável. Nos países da União so, utiliza como matéria-prima a biomassa em substituição aos
Européia, as permissões para emissões por parte das diferentes combustíveis fósseis.
indústrias podem ser livremente negociadas entre elas.
A Usina Verde recebe diariamente 30 toneladas de resíduos só-
Na maioria dos países analisados pela REN21, porém, a participa- lidos pré-tratados provenientes de aterro sanitário. O calor pro-
ção da energia verde no mercado total de eletricidade é pouco porcionado pela incineração da matéria orgânica é aproveitado
significativa. Representa menos que 5% das vendas totais, mes- para a geração térmica de eletricidade. A potência é de 0,7 MW.
mo em países em que o mercado é desregulamentado para os
Bobina a
clientes atendidos em baixa tensão, como Finlândia, Alemanha, vapor O gás é convertido para produtos
Suécia, Suíça e Reino Unido. A Holanda é o país que registra Tarrafa líquidos ou usado como combustível
Água alternativo em motores, caldeiras
maior número destes consumidores, em parte em função dos
Dejetos ou turbinas
altos impostos aplicados à eletricidade produzida a partir de orgânicos
fontes fósseis e em parte devido às isenções tarifárias especiais
Sistema de
Filtro de gás
Outras Fontes
5
5.1 INFORMAÇÕES GERAIS
Em 2008, muitos países – inclusive o Brasil – mantinham progra- entre outros. Em comum, elas têm o fato de serem renováveis
mas oficiais para expansão das chamadas fontes renováveis de e, portanto, corretas do ponto de vista ambiental. Permitem
energia, iniciados já há alguns anos. Mas, em boa parte deles, as não só a diversificação, mas também a “limpeza” da matriz
duas principais fontes – aproveitamentos hídricos e a biomassa – energética local, ao reduzir a dependência dos combustíveis
não apresentavam significativo potencial de expansão. Assim, as fósseis, como carvão e petróleo, cuja utilização é responsá-
pesquisas e aplicações acabaram por beneficiar o grupo chama- vel pela emissão de grande parte dos gases que provocam o
do “Outras Fontes” (ou “fontes alternativas”, termo que começa a efeito estufa. Além disso, também podem operar como fontes
cair em desuso) que, de 1973 a 2006, aumentou em 500% a sua complementares a grandes usinas hidrelétricas, cujos princi-
participação na matriz energética mundial, segundo a Key World pais potenciais já foram quase integralmente aproveitados
Energy Statistics da International Energy Agency (IEA), edição de nos países desenvolvidos (ver capítulo 3).
2008. Uma variação que só foi superada pelo parque nuclear,
que registrou expansão de 589% no período. Não é coincidência, portanto, que a evolução do parque insta-
lado tenha se concentrado na década de 90 e, particularmente,
No grupo chamado “Outras Fontes” estão abrigados o vento nos primeiros anos do século XXI, período em que se acentua-
(energia eólica), sol (energia solar), mar, geotérmica (calor ram as preocupações com a degeneração do meio ambiente,
existente no interior da Terra), esgoto, lixo e dejetos animais, com a volatilidade dos preços do petróleo e com o esgotamento
das reservas conhecidas dos combustíveis fósseis. Entre 2002 geotérmica, combustíveis renováveis e lixo produziu apenas
e 2006, a capacidade instalada das principais fontes enqua- 435 TWh (terawatts-hora) de uma oferta total de 18.930 TWh,
dradas na categoria “Outras” aumentou entre 20% e 60%, con- como mostra a Tabela 5.1 a seguir. Se considerada a matriz
forme o Gráfico 5.1 abaixo, extraído do estudo Renewables energética total, a presença foi ainda menor: de 0,1% em 1973
2007 – Global Status Report, produzido pela Rede de Ener- passou a 0,6% em 2006 – ou 70,4 milhões de toneladas equiva-
gias Renováveis para o Século XXI (REN21), em colaboração lentes de petróleo (tep), diante do total de 11,7 bilhões de tep
com o Worldwatch Institute. em 2006, conforme a Tabela 5.2 logo em seguida. É importante
observar que, embora a biomassa seja considerada uma fonte
Mas, apesar do crescimento verificado, essas fontes têm parti- primária importante no mundo (principalmente pelo uso da
cipação pouco expressiva na matriz elétrica mundial. Em 2006, lenha em países subdesenvolvidos), na produção de energia
ainda segundo a IEA, o conjunto composto por solar, eólica, elétrica é classificada como “Outras Fontes”.
Energia eólica
Calor geotérmico
Pequenas hidrelétricas
Grandes hidrelétricas
Energia da biomassa
Energia geotérmica
Calor da biomassa
0 10 20 30 40 50 60 70
%
Tabela 5.1 - Produção de energia elétrica no mundo em 2006 Tabela 5.2 - Oferta primária de energia em 1973 e 2006
1973 2006
% TWh
% Mtep % Mtep
Petróleo 5,80 1.097,94 Petróleo 46,1 2.819,01 34,4 4.038,90
Gás Natural 20,10 3.804,93 Gás Natural 16,0 978,40 20,5 2.406,91
Outras Fontes Renováveis 2,30 435,39 Hidráulica 1,8 110,07 2,2 258,30
A pequena produção é a terceira característica comum ao grupo entanto, do total inicialmente previsto, estão em operação co-
“Outras Fontes”, cujos integrantes ainda não têm presença forte o mercial 34 PCHs, 19 usinas a biomassa e 7 eólicas. O volume
suficiente para justificar a individualização em estatísticas de cará- inferior ao inicialmente estimado fez com que o governo anun-
ter mais geral, como é o caso da matriz energética mundial. Este ciasse, em 2008, revisão do programa de forma a estimular o
comportamento ocorre porque a tecnologia desenvolvida ainda aumento dos investimentos.
não apresenta custos compatíveis com a implantação em esca-
la comercial. Cada um dos integrantes do grupo “Outras Fontes” Segundo o Banco de Informações de Geração (BIG), da Agên-
está, portanto, em fase de pesquisa, projetos pilotos ou aplicações cia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em novembro de 2008,
muito localizadas a partir de instalações de pequeno porte. estão em operação no país 17 usinas eólicas, 320 PCHs, um em-
preendimento fotovoltaico e três usinas termelétricas abaste-
Neste último caso enquadram-se, por exemplo, as Filipinas, que cidas por biogás, cuja matéria-prima é a biomassa obtida em
obtém parcela significativa da energia elétrica local a partir de usi- aterros sanitários (lixões), como mostra o Anexo. Nas próximas
nas geotérmicas. Com capacidade instalada de 2,0 mil MW (mega- páginas, este capítulo apresenta o estágio de implantação de
watts) em 2007, segundo levantamento sobre fontes renováveis cada uma das principais integrantes do grupo chamado “Ou-
constante do estudo Statistical Review of World Energy publicado tras Fontes”, tanto no Brasil quanto no mercado internacional.
em junho de 2008 pela Beyond Petroleum (nova denominação
da companhia British Petroleum), as Filipinas detinham a segun-
da maior participação mundial nesta modalidade energética e só 5.2 ENERGIA EÓLICA
eram superadas pelos Estados Unidos (2,9 mil MW).
A capacidade instalada mundial da energia eólica aumentou
Em função do custo elevado de produção enquanto a tecnologia 1.155% entre 1997 e 2007, passando de 7,5 mil para 93,8 mil
ainda não está consolidada, a expansão do grupo “Outras Fon- MW, como registra a World Wind Energy Association (WWEA)
tes” é fruto, em grande parte, do apoio governamental por meio na Tabela 5.3 abaixo. Além disso, o ano de 2007 foi, também, o
de programas oficiais que abrangem variáveis como aquisição mais ativo da história da produção de energia elétrica a partir
compulsória por parte das empresas de energia elétrica locais, do movimento dos ventos, que teve início no final do século
subsídios, tarifas especiais, desoneração fiscal ou aporte direto de XIX. A expectativa, que se confirmou, era que a tendência se
recursos. Nos anos 90, países como Alemanha, Espanha e Dina- mantivesse em 2008.
marca, por exemplo, definiram metas para a expansão da energia
eólica, das quais constavam condições especiais para a venda da
energia produzida para as companhias de eletricidade. Tabela 5.3 - Potência instalada nos últimos dez anos (MW)
Potência (MW) Crescimento (%)
O Brasil, em 2003, implantou o Proinfa, maior programa nacional 1997 7.475 -
para estímulo à produção de energia elétrica por meio das fontes
1998 9.663 29,3
renováveis, com base na Lei no 10.438, de abril de 2002. O progra-
ma é gerenciado pela Eletrobrás, empresa constituída pelo Gover- 1999 13.696 41,7
no Federal em 1962 para investir na expansão do sistema elétrico 2000 18.039 31,7
nacional. Para a primeira fase do programa, previa-se a instalação 2001 24.320 34,8
de uma capacidade total de 3,3 mil MW. A energia produzida pelo
2002 31.164 28,1
Proinfa tem garantia de contratação por 20 anos pela Eletrobrás.
2003 39.290 26,1
Do total de potência instalada, 1,2 mil MW seriam correspon- 2004 47.693 21,4
dentes a 63 PCHs (pequenas centras hidrelétricas), 1,4 mil MW 2005 59.033 23,8
a 54 usinas eólicas e 685 MW a 27 usinas de pequeno porte à
2006 74.153 25,6
base de biomassa. Para a segunda fase do programa, a ser ini-
2007 93.849 26,6
ciada logo após a conclusão da primeira e encerrada em 2022,
a meta é que as três fontes eleitas tenham participação de 10% Crescimento total 1.155,5
na matriz da energia elétrica nacional. Em outubro de 2008, no Fonte: WWEA, 2008.
Os grandes argumentos favoráveis à fonte eólica são, além da re- O estudo da WWEA também aponta o conjunto de 10 paí-
novabilidade, perenidade, grande disponibilidade, independên- ses com maior expansão em 2007 e que, juntos, agregaram
cia de importações e custo zero para obtenção de suprimento (ao mais 19 mil MW de potência instalada ao total mundial. Este
contrário do que ocorre com as fontes fósseis). O principal argu- ranking é liderado pelos Estados Unidos, com 26,4% do to-
mento contrário é o custo que, embora seja decrescente, ainda é tal, imediatamente seguidos pela Espanha (17,8%) e China
elevado na comparação com outras fontes. Apenas como exem- (16,8%). Na seqüência aparecem Índia, Alemanha e França. As
plo, em 2008, no Brasil, considerando-se também os impostos em- regiões que mais têm se destacado no setor são, pela ordem,
butidos, era de cerca de R$ 230,00 por MWh, enquanto o custo da Europa, América do Norte e Ásia.
energia hidrelétrica estava em torno dos R$ 100,00 por MWh.
A energia eólica é, basicamente, aquela obtida da energia ci- O Brasil é favorecido em termos de ventos, que se caracterizam por
nética (do movimento) gerada pela migração das massas de uma presença duas vezes superior à média mundial e pela volati-
ar provocada pelas diferenças de temperatura existentes na lidade de 5% (oscilação da velocidade), o que dá maior previsibi-
superfície do planeta. Não existem informações precisas sobre lidade ao volume a ser produzido. Além disso, como a velocidade
o período em que ela começou a ser aplicada, visto que des- costuma ser maior em períodos de estiagem, é possível operar as
de a Antigüidade dá origem à energia mecânica utilizada na usinas eólicas em sistema complementar com as usinas hidrelétri-
movimentação dos barcos e em atividades econômicas básicas cas, de forma a preservar a água dos reservatórios em períodos de
como bombeamento de água e moagem de grãos. poucas chuvas. Sua operação permitiria, portanto, a “estocagem”
da energia elétrica. Finalmente, estimativas constantes do Atlas
A geração eólica ocorre pelo contato do vento com as pás do Potencial Eólico de 2001 (último estudo realizado a respeito)
do cata-vento, elementos integrantes da usina. Ao girar, es- apontam para um potencial de geração de energia eólica de 143
sas pás dão origem à energia mecânica que aciona o rotor mil MW no Brasil, volume superior à potência instalada total no
do aerogerador, que produz a eletricidade. A quantidade de país, de 105 mil MW em novembro de 2008.
energia mecânica transferida – e, portanto, o potencial de
energia elétrica a ser produzida – está diretamente relaciona- A Figura 5.1 abaixo mostra que as regiões com maior poten-
da à densidade do ar, à área coberta pela rotação das pás e à cial medido são Nordeste, principalmente no litoral (75 GW);
velocidade do vento. Sudeste, particularmente no Vale do Jequitinhonha (29,7 GW);
e Sul (22,8 GW), região em que está instalado o maior parque
A evolução da tecnologia permitiu o desenvolvimento de eólico do país, o de Osório, no Rio Grande do Sul, com 150
equipamentos mais potentes. Em 1985, por exemplo, o diâ- MW de potência. Mas, no país, o vento é utilizado principal-
metro das turbinas era de 20 metros, o que acarretava uma mente para produzir energia mecânica utilizada no bombea-
potência média de 50 kW (quilowatts). Hoje, esses diâmetros mento de água na irrigação. De acordo com o BIG, da Aneel,
chegam a superar 100 metros, o que permite a obtenção, em
uma única turbina, de 5 mil kW. Além disso a altura das torres,
inicialmente de 10 metros aproximadamente, hoje supera os
50 metros. No entanto, a densidade do ar, a intensidade, dire-
ção e velocidade do vento relacionam-se a aspectos geográ-
ficos naturais como relevo, vegetação e interações térmicas 12,8 GW
entre a superfície da terra e a atmosfera. 26,4 TWh/ano
75,0 GW
Assim, a exemplo do que ocorre com outras fontes, como 144,3 TWh/ano
a hidráulica, a obtenção da energia eólica também pres-
supõe a existência de condições naturais específicas e fa- 3,1 GW
5,4 TWh/ano
voráveis. A avaliação destas condições – ou do potencial
eólico de determinada região – requer trabalhos sistemá-
ticos de coleta e análise de dados sobre a velocidade e o 29,7 GW
regime dos ventos. 54,9 TWh/ano
as 17 usinas eólicas em operação em novembro de 2008 apre- Em 2007, também, a oferta interna de energia eólica aumentou
sentavam capacidade instalada de 273 MW. Este quadro é re- de 236 GWh para 559 GWh, uma variação de 136,9%, segundo
sultado tanto da forma como esses parques se desenvolve- os dados do Balanço Energético Nacional, produzido pela Em-
ram quanto da adesão do país à tendência de expansão das presa de Pesquisa Energética (EPE). Além disso, em novembro
eólicas. Até a construção das três plantas de Osório, todos os de 2008, o BIG da Aneel registrava a existência de 22 projetos
projetos implementados foram de pequeno porte. No entan- em construção a partir da energia eólica, com potência total de
to, nos últimos anos, tem sido crescente o interesse pelas usi- 463 MW. Além deles, outros 50, com potência total de 2,4 mil
nas, conforme pode ser observado a partir das informações MW, estavam registrados como outorgados, porém sem que as
registradas no BIG da Aneel. obras tivessem sido iniciadas.
Os Parques Eólicos Osório, Sangradouro e dos Índios, que com- Tanto em um quanto em outro grupo, as potências previstas
põem o empreendimento de Osório, possuem, individualmente, por algumas centrais já eram bastante superiores àquelas veri-
25 turbinas com potência de 2 MW (o que totaliza a potência de ficadas nos parques construídos nos anos 90. A usina de Praia
50 MW por parque), 70 metros de diâmetro e 100 de altura. Os Formosa, em construção no Ceará, por exemplo, terá potência
projetos construídos anteriormente foram, no entanto, todos de instalada de 104 MW. A de Redonda, também no Ceará, e ape-
pequeno porte e experimentais. nas outorgada, tem potência prevista de 300 MW.
Eram centrais como estas que, em 2003, compunham a potên- O Gráfico 5.2 na página seguinte mostra a evolução da potên-
cia eólica total instalada no país, de 22 MW. Esse total era 11 cia solar instalada no mundo de 1992 a 2007 para produção de
vezes inferior aos 273 MW registrados em 2008, o que significa eletricidade. Logo a seguir, como mostra a Tabela 5.5, há a par-
que o crescimento verificado nos últimos cinco anos ocorreu ticipação relativa dos países. Assim como ocorreu no segmen-
a uma taxa média anual de 65%. Além disso, não foi só o nú- to da energia eólica, também na energia solar a Alemanha é a
mero de unidades que aumentou mas, também, o seu porte e, maior produtora, com 49% da potência total instalada. Além
em conseqüência, a potência. O que funcionou como trava à disso, juntos, Alemanha, Japão, Estados Unidos, e Espanha con-
expansão foi, de um lado, a alta dependência das importações centraram, em 2007, 84% da capacidade mundial. Todos são
de equipamentos para montagem das unidades e, de outro, países com programas fortes de diversificação e simultânea
a exigência do Proinfa para que os projetos inseridos no pro- “limpeza” da matriz energética local.
grama tivessem índice de nacionalização de 60%. De qualquer
maneira, no segundo semestre de 2008 o Ministério de Minas De certa forma eles se constituem, no entanto, em exceção.
e Energia anunciava a intenção de rever as regras do Proinfa No geral, os projetos já implementados para produção de ele-
para solucionar o impasse, ao mesmo tempo em que anuncia- tricidade a partir da energia solar ainda são restritos e destina-
va, para 2009, a realização de leilões da energia a ser produzi- dos a abastecer localidades isoladas – embora, nos projetos de
da pelos futuros empreendimentos eólicos – instrumento que expansão da fonte, este quadro esteja se alterando. Em 2007,
funciona como sinalizador ao investidor, por permitir a contra- por exemplo, entrou em operação a Central Solar Fotovoltaica
tação presente da energia que será produzida. de Serpa, situada no Alentejo, em Portugal. À época, foi a maior
9.000
8.000
7.000
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 5.2 – Potência instalada de células fotovoltaicas no mundo (MW).
Fonte: IEA, 2007.
Ao passar pela atmosfera terrestre, a maior parte da ener- Já no sistema fotovoltaico, a transformação da radiação so-
gia solar manifesta-se sob a forma de luz visível de raios in- lar em eletricidade é direta. Para tanto, é necessário adaptar
fravermelhos e de raios ultravioleta. É possível captar essa um material semicondutor (geralmente o silício) para que,
luz e transformá-la em alguma forma de energia utilizada na medida em que é estimulado pela radiação, permita o
pelo homem: térmica ou elétrica. São os equipamentos uti- fluxo eletrônico (partículas positivas e negativas). Segundo
lizados nessa captação que determinam qual será o tipo de o Plano Nacional 2030, todas as células fotovoltaicas têm,
energia a ser obtida. pelo menos, duas camadas de semicondutores: uma posi-
tivamente carregada e outra negativamente carregada, for-
Se for utilizada uma superfície escura para a captação, a ener- mando uma junção eletrônica. Quando a luz do sol atinge
gia solar será transformada em calor. Se utilizadas células foto- o semicondutor na região dessa junção, o campo elétrico
voltaicas (painéis fotovoltaicos), o resultado será a eletricidade. existente permite o estabelecimento do fluxo eletrônico,
Os equipamentos necessários à produção do calor são chama- antes bloqueado, e dá início ao fluxo de energia na forma de
dos de coletores e concentradores – pois, além de coletar, às corrente contínua. Quanto maior a intensidade de luz, maior
vezes é necessário concentrar a radiação em um só ponto. Este o fluxo de energia elétrica. Um sistema fotovoltaico não pre-
é o princípio de muitos aquecedores solares de água. cisa do brilho do sol para operar. Ele também pode gerar
eletricidade em dias nublados.
Para a produção de energia elétrica existem dois sistemas:
o heliotérmico e o fotovoltaico. No primeiro, a irradiação Segundo a REN21, os sistemas fotovoltaicos conectados à
solar é convertida em calor que é utilizado em usinas ter- rede continuaram a ser, em 2006 e 2007, a tecnologia de ge-
melétricas para a produção de eletricidade. O processo ração com maior crescimento no mundo. Conforme mostra o
completo compreende quatro fases: coleta da irradiação, Gráfico 5.3 abaixo, boa parte das unidades construídas têm
conversão em calor, transporte e armazenamento e, final- sido conectadas à rede de distribuição de eletricidade, um fe-
mente, conversão em eletricidade. Para o aproveitamento nômeno diferente do tradicional, quando os empreendimen-
da energia heliotérmica é necessário um local com alta in- tos eram destinados, na maioria das vezes, ao atendimento
cidência de irradiação solar direta, o que implica em pou- em regiões isoladas. Finalmente, à medida que sua aplicação
ca intensidade de nuvens e baixos índices pluviométricos, é mais disseminada, o custo é menor. Este comportamento
como ocorre no semi-árido brasileiro. pode ser observado no Gráfico 5.4 na página seguinte.
12.000
Total
10.000
Conectados à rede
Desconectados da rede
8.000
Megawatts
6.000
4.000
2.000
0
1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007
9,0
8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
no Estado de Rondônia, com potência instalada de 20,48 kW. geração mundial de eletricidade, o biogás é incluído no gru-
O BIG não registra qualquer outro empreendimento fotovoltai- po “Outras Fontes”, cuja participação foi de 2,3% da produ-
co em construção ou já outorgado. O que existe no país são ção total em 2006 (verificar Tabela 6.1 deste capítulo).
pesquisas e implantação de projetos pilotos da tecnologia. Um
deles é o projeto Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares, da Uni- Já o estudo Renewables 2007 Global Status Report, da
versidade de São Paulo (USP), que instalou 19 sistemas fotovol- REN21, informa que, apesar de pequena, a aplicação comer-
taicos na comunidade de São Francisco de Aiuca, localizada na cial de usinas a biogás nos últimos anos tem apresentado
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamiruá, no Amazo- significativo crescimento nos países em desenvolvimen-
nas, com produção de 13 kWh (quilowatts-hora) mensais. to, particularmente na China e Índia. Países desenvolvidos,
como Estados Unidos, também têm utilizado o lixo urbano e
A expectativa é que a expansão do número de usinas solares industrial para a produção de energia.
ocorra exatamente na zona rural, como integrante de projetos
de universalização do atendimento focados em comunidades Na verdade, existem três rotas tecnológicas para a utilização
mais pobres e localizadas a grande distância das redes de dis- do lixo como energético. Uma delas, a mais simples e disse-
tribuição. O Programa Luz para Todos, lançado em 2003 pelo minada, é a combustão direta dos resíduos sólidos. Outra é a
Ministério de Minas e Energia, instalou diversos sistemas foto- gaseificação por meio da termoquímica (produção de calor
voltaicos no Estado da Bahia. Com o objetivo de levar energia por meio de reações químicas). Finalmente, a terceira (mais
elétrica a uma população superior a 10 milhões de pessoas que utilizada para a produção do biogás) é a reprodução artificial
residem no interior do país, ele contempla o atendimento das do processo natural em que a ação de microorganismos em
demandas do meio rural através de três tipos de iniciativas: ex- um ambiente anaeróbico produz a decomposição da maté-
tensão da rede das distribuidoras, sistemas de geração descen- ria orgânica e, em conseqüência, a emissão do biogás.
tralizada com redes isoladas e sistemas de geração individuais.
De acordo com dados da IEA, em 2005 o lixo urbano deu ori-
gem a uma produção mundial de 870.578 terajoules (TJ), o
5.4 BIOGÁS industrial a 428.645 TJ e o biogás a 520.918 TJ. Na produção
de energia elétrica, a participação de cada um deles foi de,
Das fontes para produção de energia, o biogás é uma das respectivamente, 50,9 TWh, 13,3 TWh e 21,8 TWh. Estes vo-
mais favoráveis ao meio ambiente. Sua aplicação permite a lumes só não foram inferiores ao da energia produzida por
redução dos gases causadores do efeito estufa e contribui outras novas fontes renováveis, como solar e dos oceanos.
com o combate à poluição do solo e dos lençóis freáticos.
Isto porque o biogás é obtido da biomassa contida em deje-
tos (urbanos, industriais e agropecuários) e em esgotos.
5.5 GEOTÉRMICA Nos últimos anos, no esforço para diversificar a matriz, al-
guns países, como México, Japão, Filipinas, Quênia e Islân-
A energia geotérmica é aquela obtida pelo calor que existe no dia procuraram expandir o parque geotérmico. Nos Estados
interior da Terra. Neste caso, os principais recursos são os gêise- Unidos também há iniciativas neste sentido. De acordo com
res (fontes de vapor no interior da Terra que apresentam erup- os dados sobre energias renováveis constantes do BP Statis-
ções periódicas) e, em localidades onde eles não estão presen- tical Review of World Energy de 2008, a capacidade mundial
tes, o calor existente no interior das rochas para o aquecimento total instalada em 2007 era de 9.720 MW. A maior parte des-
da água. A partir desta água aquecida é produzido o vapor uti- ta potência concentrava-se nos Estados Unidos (2.936 MW),
lizado em usinas termelétricas, como ilustrado pela Figura 5.3 a Filipinas (1.978 MW) e México (959 MW) que, juntos, respon-
seguir. Outra possibilidade é a utilização de vapor quente seco diam por 60% da capacidade instalada total, como mostra a
para movimentar as turbinas. Esta última tecnologia é pouco Tabela 5.6 na página seguinte.
aplicada, mas pode ser encontrada na Itália e no México.
Ao contrário do que ocorreu com outras fontes renováveis,
Embora conhecida desde 1904 – ano da construção da primei- como eólica, solar, biomassa (incluindo biogás), o parque ins-
ra usina, logo depois destruída por um acidente –, a evolução talado não passou por expansão significativa entre os anos de
deste segmento foi lenta e se caracterizou pela construção de 2006 e 2007. Apenas na Islândia e Estados Unidos registrou
pequeno número de unidades em poucos países. No Brasil, por índices de crescimento de, respectivamente, 8,1% (atingindo
exemplo, não há nenhuma unidade em operação, nem sob a 456 MW) e 3,7%. Na Austrália recuou 46,7% para 0,1 MW.
5.6 MAR
O potencial de geração de energia elétrica a partir do mar inclui competitivos frente às demais fontes. Um dos países que se desta-
o aproveitamento das marés, correntes marítimas, ondas, ener- ca nestas pesquisas é Portugal, que tem diversos projetos pilotos.
gia térmica e gradientes de salinidade, segundo o estudo sobre
Fontes Alternativas inserido no Plano Nacional de Energia 2030. Segundo registra a EPE, o total estimado para a energia poten-
A eletricidade pode ser obtida a partir da energia cinética (do mo- cial da maré é de 22 mil TWh por ano, dos quais 200 TWh se-
vimento) produzida pelo movimento das águas (Figura 5.4 na pá- riam aproveitáveis. Em 2008, menos de 0,6 TWh, ou 0,3%, eram
gina seguinte) ou pela energia derivada da diferença do nível do convertidos em energia elétrica.
mar entre as marés alta e baixa.
Baseado em estimativas de organismos internacionais, o tra-
Ainda segundo o estudo, produzido em 2008, todas as tecnolo- balho informa que não haverá aplicação em escala das tecno-
gias estão em fase de desenvolvimento, com exceção do aprovei- logias marítimas para produção de energia no curto e médio
tamento da energia potencial em usina maremotriz (contida no prazos. Mas, a partir de 2025, a expansão poderá ocorrer de
movimento das águas). Nenhuma, portanto, apresenta custos forma acentuada, como mostra o Gráfico 5.5 abaixo.
2002-2010
300.000
2011-2025
2026-2050
200.000
100.000
0
Solar PV Eólica na terra Eólica no mar Onda Maré
Os principais locais para aproveitamento das marés são Argen- O movimento das ondas As ondas retornam e sugam o ar,
tina, Austrália, Canadá, Índia, Coréia do Sul, México, Reino Uni- pressiona o mar fazendo a turbina se movimentar
movendo a turbina no sentido contrário
do, Estados Unidos e Rússia. Entre os países com projetos pilo-
to para aproveitamento das marés ou das ondas estão Estados
Unidos, Canadá, França e Rússia.
REFERÊNCIAS
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – disponível em www. Ministério de Minas e Energia (MME) – disponível em www.mme.gov.br
aneel.gov.br
REN21 (Renewable Energy Policy Network for the 21st Century). Re-
BP Global – disponível em www.bp.com newables 2007 – Global Status Report, disponível em www.ren21.net
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) – disponível em www.epe.gov.br World Wind Energy Association (WWEA) – disponível em www.win-
dea.org
International Energy Agency (IEA) – disponível em www.iea.org