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REVISÃO REVIEW 1525

Capital social e a agenda


de pesquisa em epidemiologia

Social capital and the research


agenda in epidemiology

Marcos Pascoal Pattussi 1,2


Samuel Jorge Moysés 2,3,4
José Roque Junges 1
Aubrey Sheiham 2

Abstract Introdução

1 Programa de Pós-graduação Social capital refers to those features of social Nos últimos anos, o conceito de “capital social”
em Saúde Coletiva,
organization that enable participants to act to- tem sido utilizado na literatura internacional
Universidade do Vale
do Rio dos Sinos, gether and more effectively pursue common em uma vasta gama de disciplinas entre as
São Leopoldo, Brasil. goals. A growing body of evidence suggests that quais: sociologia, antropologia, educação, eco-
2 The Royal Free and
societies with high levels of social capital have nomia, ciências políticas, criminologia e saúde
University College Medical
School, University College lower morbidity and mortality rates and higher pública. Trata-se de um conceito desafiador,
London, London, U.K. life expectancy and are less violent. The main pois incorpora o freqüentemente negligencia-
3 Pontifícia Universidade
goal of this article is to review the relationship do “social” com o onipotente “capital”. Capital
Católica do Paraná,
Curitiba, Brasil. between social capital and health. First, the social enfatiza o fato de que formas e relações
4 Universidade Federal
main concepts and criticisms of social capital não-monetárias podem ser importantes fontes
do Paraná, Curitiba, Brasil.
theory are discussed. Next, commonly used as- de poder e influência 1.
Correspondência sessment tools are elucidated. Then, the rela- Sua proeminência recente, na área da saú-
M. P. Pattussi tionship between social capital and health is de, é simultânea ao momento em que a epide-
Programa de Pós-graduação
em Saúde Coletiva,
analyzed. Finally, the article comments on the miologia está passando por uma profunda re-
Universidade do Vale theory’s application to Brazilian reality. If scien- visão crítica de suas próprias capacidades para
do Rio dos Sinos. tific rigor is applied to social capital research, capturar fenômenos sociais 2. A literatura cor-
Av. Unisinos 950, C. P. 275,
São Leopoldo, RS recognizing theoretical and methodological dif- rente também evidencia que, devido ao fato de
93022-000, Brasil. ficulties, it can expand the research agenda and o conceito ser entendido e avaliado de diferen-
mppattussi@unisinos.br
contribute to a better understanding of how to tes formas, muitas críticas têm sido feitas quan-
effectively deal with health inequalities. to ao seu uso 3,4.
No entanto, um grande e crescente número
Social Organization; Social Capital; Epidemiol- de pesquisas tem sugerido que capital social
ogy favorece a saúde das pessoas. Sociedades com
altos níveis de capital social parecem ser mais
igualitárias, as pessoas são mais envolvidas na
vida pública, vivem mais, são menos violentas
e avaliam melhor a sua própria saúde 5,6,7.
O principal objetivo deste artigo é revisar,
na literatura epidemiológica, a relação estabe-
lecida entre o conceito de capital social e o pro-

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cesso saúde-doença. Trata-se de um trabalho pos de indivíduos e a relacionamentos está-


com ênfase teórico-metodológica, dando sa- veis, sejam eles institucionalizados ou não. Es-
liência à conceituação corrente de capital so- tes relacionamentos permitem que indivíduos
cial e as dificuldades heurísticas com que auto- tenham acesso a recursos disponíveis a todos
res se defrontam ao utilizarem tal conceito em os membros de um determinado grupo, levan-
seus modelos explicativos. Igualmente, busca- do em consideração ainda a quantidade e qua-
se contribuir para uma maior precisão operati- lidade dos recursos que o grupo tem acesso 12.
va no uso de tal conceito em estudos devota- Coleman 13 foi um dos primeiros autores a po-
dos à compreensão de fatores envolvidos com pularizar o conceito, explorando sua impor-
a saúde de populações humanas. tância na aquisição de capital humano. De
Antes de prosseguir com esta problemática acordo com o autor, capital social é definido
central, é preciso apresentar uma visão geral pelas suas funções. Não é uma entidade única,
do conceito de capital social. A discussão que mas uma variedade de diferentes entidades
segue está dividida em quatro seções. Primei- com duas características em comum: consis-
ramente, capital social é conceituado e as críti- tem em algum aspecto da estrutura social e fa-
cas que têm sido feitas quanto ao seu uso são cilitam as ações dos indivíduos dentro daquela
discutidas. Em seguida são apresentados os estrutura.
principais instrumentos de aferição adotados. Há que se enfatizar o caráter do capital so-
Logo após são abordadas as dimensões teóri- cial em relação a outras formas de capital. En-
cas e comparados os principais estudos epide- quanto capital físico é completamente tangí-
miológicos publicados, discutindo o relaciona- vel, pois está alojado na forma material obser-
mento entre capital social e saúde. Na seção fi- vável, capital humano é menos tangível, pois
nal, considerações são feitas quanto ao seu po- está presente nas habilidades e conhecimentos
tencial uso na realidade brasileira. adquiridos por um indivíduo. Capital social é
ainda menos tangível, pois está alojado na re-
lação entre indivíduos e grupos de indivíduos.
Aspectos conceituais do capital social Do ponto de vista ideológico, capital social po-
de ser o “empoderamento” da cidadania, o plu-
Apesar de sua corrente popularidade, a noção ralismo e a democratização. Visto dessa pers-
de que o envolvimento e a participação em pectiva, capital social é um recurso complexo
grupos possui conseqüências positivas para as que oferece explicações sobre como os dilemas
pessoas não é nova. da ação coletiva podem ser superados 14.
Portes 1 lembra que a idéia de capital social Seguindo o trabalho de Coleman veio o
estava implícita na sociologia do século XIX muito citado trabalho de Putnam 15. Depois de
com os trabalhos de Durkheim, Marx e Sim- concluir um estudo de vinte anos sobre a des-
mel. Durkheim 8 argumentava que indivíduos centralização e desenvolvimento econômico
se completam através da participação e devo- na Itália, Putnam 15 argumenta que o capital
ção à vida em grupos. Esta devoção moral ao social de uma determinada área está associado
grupo por parte de seus membros constituiria com o sucesso ou a falência de projetos de de-
uma reserva para a coletividade e uma fonte senvolvimento dentro daquela área. Para o au-
poderosa de capital social. Na análise marxista, tor, capital social refere-se às características da
capital social seria criado como produto da organização social, tais como confiança, nor-
coesão interna dentro de grupos em resposta à mas e redes de relacionamentos que facilitam
exploração e discriminação externas enquanto ações conjuntas dos atores sociais e, por con-
a industrialização progredia 9. Para Simmel 10, seguinte, melhoram a eficácia e eficiência da
a vida social também seria composta por uma sociedade como um todo.
série de trocas interpessoais onde favores, in- A recente explosão de pesquisas sobre ca-
formações e outros recursos são compartilha- pital social coloca atitudes de confiança inter-
dos, criando assim uma rede de obrigações pessoal no centro da agenda de pesquisa de
mútuas as quais constituiriam capital social. várias disciplinas das ciências sociais. Con-
Bourdieu 11 (p. 249) define o conceito como fiança interpessoal é vista por essa literatura
“...a soma dos recursos reais ou virtuais que indi- como um componente básico de um padrão
víduos ou grupos de indivíduos adquirem devi- cultural que estimula a ativação política e a
do ao fato de possuírem redes duráveis de rela- mobilização de indivíduos, aumentando a res-
cionamentos sociais mais ou menos institucio- ponsabilidade pública do sistema político. Em
nalizados de reconhecimento e conhecimento resumo, sem confiança interpessoal as chan-
mútuos”. Esta complexa definição deixa claro ces de mobilização coletiva diminuem e, sem
que capital social se refere a indivíduos ou gru- participação política dos cidadãos, mais frágil

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CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1527

é a democracia e seus supostos benefícios pa- e qualquer propósito – não somente dos gru-
ra os cidadãos 16. pos – é facilitada 18.
O alto índice de participação em associa- O teorema é de que quanto mais a pessoa
ções cívicas no norte da Itália e a relativa au- participa de associações, maior a tendência a
sência dessa prática no sul seriam evidências solidificar um civismo público e, conseqüente-
de que há maior nível de confiança interpes- mente, o fortalecimento das virtudes capazes
soal no norte, justificando os melhores resulta- de conduzir a situações, coletivas ou indivi-
dos de bem-estar social e econômico nesta re- duais, mais saudáveis. Tais qualidades, tolerân-
gião italiana 15. Para Putnam 15 a confiança é cia e cooperação, somente geram confiança ge-
criada e reforçada pelas densas redes horizon- neralizada quando se orientam para a comuni-
tais ligadas à sociedade civil, constituindo-se dade como um todo, o que não é o caso de ban-
numa espécie de bem de valor variável que au- dos, a máfia, ou grupos fanáticos que podem
menta se é usado e diminui se é deixado sem produzir capital social personalizado, mas não
uso. Isto conduziria à criação de círculos vir- produzem capital social público, que é o que
tuosos ou viciosos de desenvolvimento na so- conta para o amadurecimento democrático de
ciedade, com a iteração de um comportamen- um país. Há necessidade de levar-se em consi-
to cooperativo em resposta a um comporta- deração o contexto histórico e cultural dentro
mento cooperativo e a retaliação quando não do qual o capital social é (ou não) gerado.
há cooperação, tal como sugerida pela teoria Recentemente, tem sido argumentado que
dos jogos e pelo dilema do prisioneiro 17. Con- qualquer concepção teórica do conceito deve-
tudo, nada pode ser dito acerca da validade e ria ser concebida de forma a incluir diferentes
confiabilidade da medida de confiança inter- formas de capital social, ou seja, “vínculos”
pessoal de Putnam 15, simplesmente porque a (bonding), “conexões” (bridging) e “ligações”
medida indireta usada para esse conceito – (linking) 19. “Vínculos” referem-se a relaciona-
participação em associações e desempenho mentos horizontais próximos entre indivíduos
institucional, sob o rótulo de “comunidade cí- ou grupos com características demográficas si-
vica” – não reflete a complexidade do mesmo. milares. Exemplos incluem relações entre
Na verdade, a polêmica e a controvérsia a membros da família e amigos próximos. “Vín-
respeito do significado do capital social têm-se culos” contribuem para a qualidade de vida
constituído uma fonte de estímulo à realização através da promoção do apoio e entendimento
de estudos e pesquisas, ao invés de marcar seu mútuo. “Conexões” referem-se a redes mais
declínio. Do ponto de vista teórico, por exem- amplas de relacionamentos com outros indiví-
plo, tenta-se construir conceitos intermediá- duos/comunidades. “Conexões” são vitais para
rios, dentro dos quais se incluem anomalias ligar indivíduos e comunidades a recursos ou
empíricas e analíticas que inevitavelmente sur- oportunidades que estão fora das suas redes de
gem da existência de redes e da confiança in- relacionamentos pessoais. Por último, “liga-
terpessoal. A questão mais problemática, tal- ções” referem-se às alianças com indivíduos
vez mais do que ausência de solidez teórica, re- em posições de poder, particularmente poder
side na forma ainda não resolvida de como se sobre recursos necessários para o desenvolvi-
mede a confiança e o capital social. Embora o mento social e econômico.
capital social seja fomentado por uma varieda- De um modo geral, a literatura sugere que
de ampla de interações formais e informais en- as principais características de capital social
tre os membros de uma comunidade, uma envolvem noções de que: (i) é um bem público
análise plena dessas interações não é observá- e assim visa o bem estar comum; (ii) encoraja
vel. O que se pode observar é a prevalência de confiança social, a qual leva à cooperação e vi-
filiação em organizações voluntárias em um ce-versa; (iii) facilita cooperação mútua, por
determinado contexto. Como resultado, ser meio das normas de reciprocidade e de expec-
membro de associações tem se tornado um tativas mútuas; (iv) encoraja interação e inter-
dos indicadores mais utilizados para examinar conexão das relações sociais, por meio da me-
a formação ou destruição de capital social. lhoria do fluxo de informação e a confiança en-
Acredita-se que, ao fazer parte de associa- tre indivíduos; (v) de modo oposto ao capital
ções, as pessoas desenvolvem interações entre físico, é durável e não deprecia com o uso – ao
si, aumentando a possibilidade do desenvolvi- contrário, quanto mais é usado, maior se torna –;
mento de confiança recíproca entre elas. A e (vi) pode ser criado como subproduto da so-
questão fundamental, entretanto, é saber se a ciedade civil organizada e dos movimentos po-
participação em grupos e associações também pulares 20,21.
contribui para o processo de construção de Tendo apresentado os principais conceitos
uma sociedade em que a cooperação para todo que suportam a teoria do capital social, torna-

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se necessário discutir as críticas que têm sido criminalidade e difusão da corrupção nas ins-
feitas ao conceito, tanto nas ciências sociais tituições públicas, incluindo aquelas encarre-
quanto na área da saúde. gadas de manter a ordem pública, estão asso-
ciadas com este declínio normativo. Em vez de
promover crescimento com justiça, as atuais
Revisão crítica do conceito políticas de mercado podem estar conduzindo
de capital social a um problema hobbesiano, com os indivíduos
lutando para sobreviver sob as mais duras con-
Observa-se que capital social vem sendo estu- dições sociais.
dado com base nos benefícios que incidiriam Embora admitindo que a situação latino-
sobre indivíduos, famílias ou comunidades em americana ainda não tenha alcançado este ní-
virtude dos laços de solidariedade e confiança vel de crise, a tendência é visível o bastante pa-
recíproca entre sujeitos sociais. Este entendi- ra que se busquem modos de reinstituição da
mento conduz a certas proposições sem maio- ordem normativa, criando laços que unam no-
res considerações críticas sobre as potenciali- vamente comunidades e instituições sociais. É
dades e insuficiências teórico-metodológicas neste contexto que floresce o conceito de capi-
do conceito. Torna-se, assim, um conceito-va- tal social, fortemente patrocinado por institui-
lise, sendo aplicado a problemas em diferentes ções como o Banco Mundial e o Banco Intera-
níveis de abstração e utilizado em teorias que mericano de Desenvolvimento.
envolvem diferentes unidades de análise. Também é neste contexto que as limitações
Outra crítica refere-se à etimologia e à do conceito são percebidas, quando interpre-
emersão do conceito de capital social nos Esta- tado como uma força causal capaz de transfor-
dos Unidos. Navarro 22 argumenta que uma mar comunidades ou nações. E mais, embora
mudança política importante ocorreu no final as redes sociais contribuam para iniciativas
dos anos 1970 e início dos anos 1980, com con- que busquem superar as dificuldades econô-
seqüências amplas para o mundo, incluindo as micas e políticas, especialmente de comunida-
instituições acadêmicas. Esta mudança possui des pobres, é muito difícil institucionalizar ou
o nome genérico de neoliberalismo, com a res- reproduzir tais forças pela via da “engenharia
pectiva dominância do discurso econômico social” 23.
neoliberal afetando as ciências sociais. Assim Esta perspectiva é adotada por Tonella 24 ao
sendo, tal discurso estabelece a necessidade de avaliar a iniciativa da CEPAL (Comisión Econó-
aumentar a quantidade de “capital” seja ele in- mica para América Latina y el Caribe), que or-
dividual ou coletivo (social). O termo “capital” ganizou no ano de 2001 a Conferência Hacia
refletiria o entendimento de que os indivíduos un Nuevo Paradigma: Capital Social y Reduc-
dependem dele para competir ou sobreviver ción de la Pobreza en América Latina y el Cari-
em um mundo competitivo. Com isso, o pro- be. Para a autora, há um imenso esforço no âm-
pósito de toda a ação social é reduzido funcio- bito desta iniciativa para definir o que seja ca-
nalmente à tarefa de acumulação de capital, pital social e a possibilidade de sua quantifica-
seja este físico, monetário, humano ou social, ção, ou seja, saber quando uma comunidade
como uma expressão da visão de mundo capi- teria mais ou menos capital social. Diante des-
talista. se esforço, surge uma infinidade de “tipos” de
É o propósito da solidariedade que define a capital social: individual e comunitário, formal
sua natureza e que faz diferir o “capital social” e informal, restrito e ampliado. Contudo, o te-
presente na máfia ou nos sindicatos de traba- ma capital social aparece desfocado do campo
lhadores 22. Portanto, a noção neoliberal de ca- da política, atribuindo-se a ele um significado
pital social não ajuda na compreensão de co- instrumental e reducionista. É atribuído à so-
mo as relações de poder entre as classes sociais ciedade civil o papel de executora de progra-
e suas expressões políticas produzem desigual- mas sociais moldados em diretrizes não-eman-
dades, sendo tais relações os reais determinan- cipatórias.
tes da saúde e qualidade de vida das popula- Os textos decorrentes da iniciativa cepalina
ções humanas. não trazem um conteúdo que apontem meca-
Em consonância com a abordagem ante- nismos econômicos e políticos que superem o
rior, Portes & Landolf 23 problematizam que a desajuste estrutural que perpassa todos os paí-
remoção de proteções estatais e a liberalização ses da América Latina e o Caribe, sendo tal de-
desenfreada das forças de mercado têm levado sajuste fortemente associado à situação de
a disparidades de renda crescentes e a um teci- saúde dos povos latino-americanos.
do social atomizado, marcado pela erosão de Existem várias razões para que os aspectos
controles normativos. Taxas ascendentes de negativos da teoria do capital social sejam es-

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CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1529

tudados. Primeiro, para evitar a falsa noção de ções de poder e políticas públicas de saúde 33.
apresentar idéias de redes comunitárias, con- Sugerem ainda se tratar de um recurso a ser
trole social e ações coletivas como entidades otimizado ao invés de maximizado 34. A próxi-
sem conflito ou na mais completa harmonia. ma seção discute como capital social tem sido
Segundo, para manter o tensionamento crítico aferido na literatura.
como parte de uma análise sociológica e de
saúde pública 1. E, terceiro, porque uma apli-
cação acrítica do conceito pode resultar em re- Aferição do capital social
ceitas ineficazes, causando desperdício de im-
portantes recursos públicos 12. Tendo isto em Muitos dos conceitos costumeiramente utiliza-
vista, a seguir são apresentados os principais dos em ciência são desenvolvidos num proces-
aspectos negativos da teoria do capital social. so interativo, onde a teoria auxilia o desenvol-
Primeiramente, os mesmos laços profun- vimento da mensuração e a mensuração leva
dos que ligam os membros participantes de ao conhecimento empírico que por sua vez é
determinados grupos sociais poderiam causar crucial para o desenvolvimento da teoria. Isto
exclusão de outros grupos. Ou seja, isto pode- se aplica às teorias de capital social. Na verda-
ria causar dominação de certos grupos levan- de, a complexidade e subjetividade dos blocos
do, assim, à exclusão de pessoas “de fora” ou fundamentais que compõem capital social,
recém-chegadas. Um exemplo claro são ações juntamente com a falta de precisão terminoló-
corporativistas ou mesmo monopolistas de de- gica e rigor teórico, têm levado ao uso de indi-
terminados grupos da sociedade que eficaz- cadores questionáveis do conceito 35. Pesqui-
mente se unem em benefício de suas catego- sadores na área da saúde, seduzidos por esta
rias ou seus grupos sociais com prejuízo evi- possibilidade investigativa, empregam uma
dente para outros grupos ou categorias. larga variedade de medidas, emprestadas de
Tem sido argumentado, ainda, que a conso- muitos campos científicos, com aparente falta
lidada existência de conceitos relativamente si- de consistência teórica e justificação empírica
milares na literatura internacional, tais como para seu uso em epidemiologia. Com isso as
desenvolvimento comunitário 25, “empodera- conclusões sobre o provável papel de capital
mento” 26, sociedade civil 27, senso de comuni- social na saúde da população podem ser exa-
dade 28,29, capacidade e competência comuni- geradas ou incorretas 5.
tária 25, coesão comunitária 30, entre outros, po- Em parte isto é explicado pelo fato de o
dem possuir um melhor desenvolvimento teó- conceito ter sido “emprestado” de outras disci-
rico do que o próprio termo capital social. Seria plinas, ao invés de ter sido desenvolvido espe-
algo como reinventar a roda ou mesmo colocar cificamente para o campo da saúde 36. Outro
vinho velho em garrafas novas 31. problema, constatado na literatura, é que a
Capital social pode aumentar o risco de al- maioria dos pesquisadores tem usado indica-
guns desfechos negativos em saúde. Por exem- dores unitários e, sendo capital social um con-
plo, redes profundas de amizade entre grupos ceito multidimensional, somente um ou pou-
de pessoas podem aumentar o risco de ações cos indicadores podem não ser suficientes pa-
coletivas de suicídio ou de consumo de drogas ra capturá-lo 35. Isto pode gerar resultados di-
lícitas ou ilícitas. Capital social pode ainda fa- ferentes, escolhendo-se pedaços distintos de
vorecer a criação de grupos indesejáveis e peri- evidência.
gosos para a sociedade, como os fortes laços Numa revisão da utilidade do conceito para
entre membros de organizações clandestinas as pesquisas em saúde 5 outros problemas com
ou do crime organizado 3,32. relação à mensuração de capital social foram
Por último, críticas têm sido feitas à não-in- detectados. O mais importante dos quais é que
corporação de relações de poder na formula- poucos instrumentos de mensuração têm sido
ção teórica de capital social. Deste modo, o submetidos a testes de validade e confiabilida-
conceito poderia ser usado para justificar polí- de, o que proporciona pouca sustentação para
ticas públicas contraditórias como “culpar a as justificativas da utilização de alguns indica-
comunidade por seus próprios problemas” ou dores em detrimento de outros. Além disso, a
reduzir o papel do Estado em políticas sociais e variedade das fontes de dados e indicadores
de redistribuição de renda 3,4. torna a avaliação difícil devido à falta de com-
Para resumir, as críticas que têm sido feitas parabilidade em termos dos desenhos de estu-
com relação ao uso do capital social sugerem do, amostra e elaboração das questões.
que o seu uso deve ser baseado no entendi- A vaga enumeração de atributos do capital
mento sólido e empírico da relação entre capi- social peca por admitir dentro dela fenômenos
tal social, desenvolvimento econômico, rela- de natureza fundamentalmente distinta: “con-

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fiança, normas e sistemas”. Ou seja, admite cupera o sentido original que foi atribuído ao
qualquer coisa sob o seu guarda-chuva. Mais conceito por seus formuladores iniciais, Pierre
precisamente, engloba simultaneamente tanto Bourdieu e James Coleman. Se isso é assim, en-
variáveis “estruturais” quanto “atitudinais” ou tão ganham relevância crucial, não apenas a
“relacionais”, formando uma caixa-preta con- identificação da presença ou ausência de redes
ceitual cujo significado teórico preciso para o interativas propiciadoras de capital social no
desempenho institucional torna-se difícil de interior de uma dada sociedade, mas, sobretu-
especificar 37. Dito de outra forma, capital so- do, sua tipificação e contextualização.
cial tem sido acusado pelo seu “estiramento A própria importância da confiança na de-
conceitual” 38. terminação do capital social tem sido contes-
A despeito das evidências empíricas encon- tada, havendo estudiosos que consideram ape-
tradas no estudo de Putnam na Itália 15, estu- nas as redes horizontais como fundamentais 40.
dos conduzidos em outras regiões, especial- Lundasen 40 conduziu um levantamento deta-
mente na América Latina, chegaram a resulta- lhado dos múltiplos significados que o termo
dos que contradizem as expectativas teóricas, confiança comporta. Identificou pelo menos
com ausência de uma relação estatística robus- 15 significados distintos para confiança inter-
ta, em um cenário multivariado, entre confian- pessoal, que podem ser sintetizados em três ní-
ça e participação democrática 16. veis fundamentais: “confiança generalizada”
Há pelo menos duas explicações para o de- (voltada para a “natureza humana”, a humani-
sempenho inconsistente do conceito de capital dade como um todo), “confiança relacional”
social em alguns modelos teóricos. A primeira (voltada para pessoas específicas, ou “conheci-
é que a teoria está errada e que confiança in- dos”) e “confiança na rede” (nível intermediá-
terpessoal não é relevante para os resultados rio, voltado para redes sociais ou familiares).
buscados. A segunda é que a falta de confirma- Porém, genericamente, as palavras-chave pa-
ção empírica se deve menos a problemas de recem ser redes horizontais, confiança genera-
construção teórica, e mais à limitada operacio- lizada e normas de reciprocidade.
nalização do conceito 16. A hipótese é que, pos- Um problema metodológico é que a forma
sivelmente, há estudos que ignoram a multidi- de investigar capital social vem priorizando
mensionalidade de capital social, levando a re- pesquisas quantitativas que buscam a confir-
sultados equivocados. Há na literatura apenas mação (ou não) de hipóteses pré-elaboradas.
uma diferenciação entre possíveis dimensões No entanto, quando o conceito é analisado
da confiança interpessoal. A primeira dimen- qualitativamente, do ponto de vista de como os
são, costumeiramente mensurada, reflete uma cidadãos experimentam-no, geralmente as teo-
visão sobre confiança interpessoal externa e é rias estabelecidas e os conceitos mostram-se
limitada a avaliações do ambiente externo on- estreitos e incompletos 14. Nesse sentido, a
de o indivíduo está inserido. A segunda dimen- abordagem qualitativa pode ser a mais indica-
são, freqüentemente ignorada, refere-se a sen- da para tentar captar como as pessoas cons-
timentos internamente construídos acerca da troem o significado do mundo político e sócio-
confiabilidade transmitida por outras pessoas. cultural, levando em conta que a teoria do ca-
As duas dimensões da confiança interpessoal pital social tem, no âmago de sua análise, o de-
não estão correlacionadas, ou seja, não apre- sempenho das instituições democráticas.
sentam colinearidade estatística, referindo-se, Lochner et al. 31 apresentam um resumo
portanto, a conceitos distintos e com capaci- dos indicadores que têm sido utilizados em
dades explicativas diferenciadas. conceitos similares, principalmente no campo
Há também a possibilidade de caracterizar da psicologia social. Porém alguns dos instru-
o capital social como uma disposição “atitudi- mentos apresentados são mais adequados a es-
nal”, individualmente identificável, ou como tudos de apoios e redes sociais e emocionais.
um atributo “sócio-estrutural” dependente do Ou seja, referem-se somente ao capital social
contexto 39. No primeiro caso, a confiança in- na forma de “vínculos”.
terpessoal vê-se promovida a um parâmetro De um modo geral a literatura sugere que
exógeno do sistema, constituindo-se em variá- os temas ou construtos mais comuns que têm
vel independente. Essa seria a versão propria- sido utilizados na aferição do capital social são:
mente “culturalista”, adotada por Putnam 15. (1) participação social, (2) nível de empodera-
No segundo caso, a confiança interpessoal se mento, (3) percepção da comunidade, (4) redes
torna endógena, passando a ser variável de- e apoios sociais (5) confiança social. O primei-
pendente do modelo. ro tema envolve ações como participação em
Essa é uma implicação de se adotar uma organizações, ação política, e engajamento cí-
concepção estrutural de capital social que re- vico. O segundo lida com satisfação na vida diá-

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CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1531

ria e percepção do controle que as pessoas têm de mortalidade, doenças cardiovasculares,


sobre as suas vidas. O terceiro está relacionado doenças do trato urinário, câncer, estresse e
com o nível de satisfação com relação à área de problemas mentais, acidentes e suicídios 44,45.
residência. O quarto foca as redes sociais, in- Os benefícios do capital social têm sido es-
cluindo contatos com amigos e família, siste- tudados em pelo menos oito áreas de conheci-
mas de suporte e a profundidade nos relacio- mento relacionadas direta ou indiretamente
namentos. Por último, o quinto concentra-se com a epidemiologia. Elas são: comportamen-
na confiança e reciprocidade em pessoas e em to juvenil e familiar 46, educação 13, vida comu-
instituições 41. As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam nitária 47, trabalho e organizações 48, ciências
as dimensões utilizadas em cada estudo. políticas 15,49, desenvolvimento econômico 27, 50,
Uma análise dos diversos estudos que têm criminologia 51,52 e saúde pública 5,7,34.
sido utilizados no campo da saúde, porém, re- Em função da relevância do assunto para a
vela uma falta de consistência considerável nos área epidemiológica, é realizada uma breve re-
nomes dados às dimensões que formam capi- visão dos principais estudos ligando capital so-
tal social. Em alguns casos, indicadores seme- cial à área referida. Esta não pretende ser uma
lhantes são incluídos em dimensões distintas e revisão completa, visto que novas evidências
em outros ocorre o inverso. Além disso, algu- aparecem rapidamente. Com relação à saúde
mas questões são direcionadas a determinadas vários níveis de análise têm sido propostos: (i)
realidades, como aos países industrializados, indivíduos ou domicílios 53,54,55,56,57,58,59,60,61,
não se aplicando a outros contextos, como por 62,63,64,65; (ii) vizinhança ou bairros 51,66,67,68,69,

exemplo, o hábito de ir ao teatro ou a concer- 70,71; (iii) regiões 72,73; (iv) Estados de um único

tos musicais clássicos, o qual é típico de países país 74,75,76,77,78,79,80,81,82,83,84,85,86,87,88,89,90,91; e


industrializados. (v) entre países 92,93.
Interessa a este artigo, particularmente, as Nestes estudos, capital social é investigado
conseqüências do uso do conceito de capital em relação a: mortalidade; violência; autoper-
social em epidemiologia. Neste sentido, cabem cepção em saúde; expectativa de vida; proble-
considerações sobre o uso do conceito no con- mas comportamentais; atividade física; saúde
texto das investigações epidemiológicas, sendo mental; gravidez na adolescência; comporta-
aconselhável: (i) obter medidas compreensivas mento sexual e doenças sexualmente transmis-
de capital social, que capturem empiricamente síveis; acesso a serviços de saúde e cáries den-
os desenvolvimentos teóricos recentes no tárias (Tabelas 1, 2 e 3).
campo; (ii) avançar de medidas no nível indivi- Visando exemplificar o argumento da im-
dual para medidas no nível ecológico; (iii) con- portância de capital social para a saúde huma-
siderar cuidadosamente fatores/variáveis de na, alguns exemplos clássicos são comentados
confusão, com especial atenção para validade abaixo.
e confiabilidade das medidas utilizadas 42. Wolf & Bruhn 94 compararam duas cidades
Apesar das inconsistências mencionadas vizinhas, durante o período de 1935 a 1984. Ro-
anteriormente, um extenso corpo de evidência seto, uma pequena comunidade na região leste
parece sugerir que capital social é um impor- da Pensilvânia, composta por imigrantes italia-
tante determinante da saúde das pessoas e, co- nos, era caracterizada por um forte espírito co-
mo tal, merece mais estudos. munitário e fortes laços familiares entre seus
habitantes, fato este que a diferenciava da co-
munidade vizinha, onde o estilo de vida ameri-
Relacionamento entre capital cano baseado em valores individuais era pre-
social e saúde dominante. Os autores constataram que a taxa
de doenças cardiovasculares era significativa-
Nesta seção são examinadas as hipóteses apre- mente menor em Roseto apesar das duas co-
sentadas na literatura epidemiológica que as- munidades apresentarem uma prevalência si-
sociam o conceito de capital social com desfe- milar dos fatores de risco comuns, tais como
chos em saúde. consumo de gordura animal, fumo, ausência
O primeiro trabalho importante, relacio- de exercícios físicos, hipertensão e diabetes.
nando capital social com saúde, foi conduzido Além disso, quando primeiramente estudada
por Durkheim 43. Em 1897, o autor já argumen- em 1966, a mortalidade por ataques cardíacos
tava que taxas aumentadas de suicídio tendiam em Roseto mostrava um gráfico singular. En-
a ocorrer nos grupos socialmente mais isola- quanto no nível nacional, nos Estados Unidos,
dos. Desde então, uma grande variedade de es- esta taxa aumentava com a idade, em Roseto,
tudos tem demonstrado que estes indivíduos ela ainda era praticamente zero para os ho-
isolados socialmente possuem um maior risco mens de 55 a 64 anos. Para homens acima de

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


1532 Pattussi MP et al.

Tabela 1

Estudos de capital social no nível individual ou do domicílio.

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Ziersch 2005 Austrália 2.400 Vários itens Autopercepção – “Path analysis” Contatos (conexões) na
et al. 56 representando: em saúde vizinhança e percepções
contatos na de segurança na
vizinhança, vizinhança estavam
confiança, positivamente associados
reciprocidade, com saúde mental
segurança e referida. Entretanto
ação social aspectos sócio-
no nível local econômicos estavam
mais fortemente
associados com
autopercepção em saúde

Harpham 2004 Colômbia 1.168 Índices de Saúde mental Aspectos Análise de Somente uma escala,
et al. 57 confiança, demográficos componentes confiança estava
coesão social, e violência principais associada com saúde
controle social, e regressão mental. Fatores sócio-
participação logística econômicos eram mais
cívica importantes do que
capital social

Pollack & 2004 Estados Estados Itens unitários Autopercepção Sexo, idade, Regressão Baixa reciprocidade
von dem Unidos e Unidos = de reciprocida- em saúde e escolaridade, logística estava associada com
Knesebeck 54 Alemanha 608, Alema- de, confiança depressão renda, tipo de pior autopercepção em
nha = 682 e participação residência, anos saúde e com depressão
em grupos na residência, em ambos países. Baixa
suporte emocional confiança associada com
e contatos sociais depressão nos Estados
Unidos. Baixa
participação social
associada com
autopercepção em
saúde e com depressão
na Alemanha

Lindström 2004 Suécia 13.604 Combinação Autopercepção Idade, país e Regressão Altos níveis de confiança
& Axen 53 de itens em saúde escolaridade logística e de participação
unitários de estavam positivamente
confiança e associados com
participação autopercepção em
em grupos saúde e saúde mental

Bolin et al. 59 2003 Suécia 3.800 Item unitário Autopercepção Idade, renda, Regressão Indivíduos com altos
de amizade em saúde emprego, linear níveis de capital social
escolaridade, eram mais saudáveis do
sexo e estrutura que aqueles com baixos
familiar níveis de capital social

Hyyppä & 2001 Ostrobothnia, N1 = 1.000 Itens unitários: Autopercepção Residência Regressão Enfatiza que (após o
Maki 60 Finlândia (controles), amizade, em saúde urbana, mi- logística controlar por vários
N2 = 1.000 confiança e gração, idade, fatores individuais)
(casos) envolvimento renda, Índice número de amigos
na vida social de Massa dispostos a ajudar e
Corporal, e participação em grupos
doenças crônicas religiosos estavam
significantemente e
independentemente
associados com
autopercepção em
saúde. Omitiu a falta de
associação de outros
indicadores de capital
social. Intervalos de
confiança largos e
incluindo a unidade

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1533

Tabela 1 (continuação)

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Veenstra 65 2000 Saskatchewan, N= 534 Índices de: Autopercepção Não claro Ordinal ou Não encontrou
Canadá participação em saúde regressão associação entre
cívica, confiança logística? autopercepção em
no governo, nos saúde e capital social.
vizinhos, em Pouca evidência foi
pessoas da encontrada para efeitos
comunidade da composição do
e nas pessoas capital social na saúde

Rose 64 2000 Rússia N1 = 1.904, Itens unitários Autopercepção Idade, sexo, Regressão Capital social estava
N2 = 191 de redes sociais, em saúde renda, escola- linear mais associado à saúde
suporte social, ridade e classe física e emocional do
confiança, social que capital humano.
participação Juntos eles aumentaram
em instituições a autopercepção em
saúde favorável

Locher 2005 Estados 1.000 Itens unitários Risco Etnia, idade, Regressão Indicadores de capital
et al. 55 Unidos de anos na nutricional escolaridade, linear social negativamente
residência, renda associados com risco
confiança, nutricional especialmente
religiosidade, em pessoas da raça negra
discriminação,
percepção de
segurança

Martin 2004 Estados 330 Índice compos- Risco Etnia, idade, Regressão Os resultados sugerem
et al. 58 Unidos to por itens nutricional escolaridade, logística que capital social está
representando, renda, emprego, associado com risco
confiança, tempo de nutricional diminuído
solidariedade, moradia, entre mesmo após o controle
valores, coo- outras por fatores sócio-
peração na econômicos
vizinhança

Lindström 2001 Suécia 11.837 Índice de Atividade Idade, naciona- Regressão Participação social era o
et al. 62 participação física lidade, doen- logística preditor mais forte para
social ças referidas, baixa atividade física e
sócio-econô- para a diferença sócio-
mico status econômica em termos
de baixa atividade física.
Diferenças sócio-
econômicas em termos
de atividade física eram
devidas às diferenças
em termos do capital
social nos grupos sócio-
econômicos

Wright 2001 Estados 1.725 Índice de Problemas Idade, etnia Regressão Efeitos do capital social
et al. 63 Unidos relações e de conduta e sexo linear no âmbito da família
estrutura estavam associados com
familiar uma redução significativa
no envolvimento em
atividades criminais e
desvio de comporta-
mento de adolescentes

Runyan 1998 Quatro N1 = 87, Índice de capital Bem estar Escolaridade, Regressão Caso controle. Uma
et al. 61 cidades dos N2 = 580 social na família, infantil renda, depres- logística unidade de aumento no
Estados apoio social, são materna índice de capital social
Unidos apoio da vizi- e serviços de aumentava a odds of
nhança, e saúde “doing well” em 29%
religiosidade (OR = 1,29; IC95%:
1,04-1,59)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


1534 Pattussi MP et al.

Tabela 2

Estudos de capital social no nível da vizinhança ou bairros.

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Lochner 2003 Chicago, N1 = 1.371, Itens unitários: Mortalidade Privação Multinível Após o controle por
et al. 70 Estados N2 = 343 reciprocidade, (linear) privação na vizinhança,
Unidos confiança e níveis elevados de
participação capital social estavam
em associações associados com baixas
voluntárias taxas de mortalidade

Veenstra 67 2002 Saskatchewan, 30 Índice de par- Mortalidade, Concentração Correlação, Não encontrou
Canadá ticipação em efetividade de renda, regressão evidência da associação
grupos, índi- governamental idade? Não linear entre capital social e
ce de envolvi- claro efetividade governa-
mento social, mental em secretarias
índice de distritais de saúde.
participação Capital social estava
eleitoral negativamente associado
com mortalidade,
porém, a associação
desapareceu com a
inclusão da concentração
de renda e vice-versa

Sampson 1997 Chicago, N1 = 8.782, Índice de Violência Índices de Multinível Eficácia coletiva
et al. 51 Estados N2 = 343 eficácia coletiva: desvantagem (linear) negativamente
Unidos controle social sócio-econômica relacionada com
(comporta- e de estabilida- violência
mento juvenil de moradia,
e melhoria na e imigração
vizinhança) e
coesão social

Lindström 2003 Malmö, N1 = 3.001, Item unitário Senso de Idade, sexo, Multinível A variância total
et al. 71 Suécia N2 = 68 de participação insegurança nacionalidade, (logística) explicada por fatores da
eleitoral escolaridade vizinhança foi de 7,2%.
e participação Este efeito foi marginal-
social mente reduzido com
a introdução de fatores
individuais e foi
reduzido em 70% com
a introdução da variável
capital social. Não
reporta o efeito do
capital social no desfecho

Lindström 2003 Malmö, N1 = 3.377, Item unitário Atividade física Idade, sexo Multinível Sugere que atividade
et al. 66 Suécia N2 = 74 de mobilidade nacionalidade, (logística) física é afetada
residencial escolaridade principalmente por
e participação fatores individuais.
social Principal limitação é o
uso de um indicador
indireto (proxy) do
capital social ignorando
uma medida mais válida
confiável (um índice com
13 itens de participação
social) utilizada no estudo

Caughy 2003 Baltimore, 200 Duas escalas Problemas Dois indica- Regressão A associação entre senso
et al. 69 Estados de senso de comporta- dores sócio- linear de comunidade e
Unidos comunidade mentais econômicos presença de problemas
(pobreza comportamentais
e riqueza) em crianças diferiu
dependendo do grau
de pobreza

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1535

Tabela 2 (continuação)

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Drukker 2003 Maastricht, N1 = 3.401, Índice de Qualidade de Ocupação, Multinível Maior privação sócio-
et al. 68 Holanda N2 = 36 eficácia coletiva: vida e proble- escolaridade, (linear) econômica e menos
controle social mas comporta- benefícios, pais capital social ambos
(comporta- mentais em solteiros e sexo não-especificamente
mento juvenil crianças prediziam autopercepção
e melhoria na em saúde precária e
vizinhança) e satisfação em crianças
coesão social

Pattussi 2001 Distrito 19 Taxa de Cáries Escolaridade, Regressão Indicadores de coesão


et al. 100 Federal, homicídios dentárias coeficiente Gini linear social não estavam
Brasil (número per estatisticamente
capita de associados com cáries
organizações dentárias. Porém existia
e participantes uma tendência de
em plenárias menores taxas de
do orçamento homicídios (indicador
participativo) indireto de coesão
social) em áreas com
baixos níveis de cáries
dentarias. Desigualdade
de renda, freqüentemente
associada com baixa
coesão social, estava
fortemente associada
com altos níveis de
cáries dentárias

Pattussi 102 2004 Distrito N1 = 1.302, Confiança e Cáries Idade, sexo, Regressão A prevalência de
Federal, N2 = 39 solidariedade, dentárias, classe social, logística traumatismo dentário
Brasil controle social saúde bucal e fatores multinível era significativamente
(melhoria do referida e biológicos menor em áreas com
comportamento traumatismo específicos para alto capital social
juvenil e área dentário cada desfecho especialmente para
de residência), adolescentes do sexo
percepção do masculino. Capital social
sistema político, e aspectos sócio-
ação social (“em- econômicos estavam
poderamento”) igualmente associados
e percepção da com autopercepção de
segurança na saúde oral. Uma sub-
área de residência escala do índice de
capital social (“empo-
deramento”) estava
associada com a
experiência de cáries
dentárias

Moyses 101 2000 Curitiba, N1 = 2.126, Laços de Cáries Idade, gênero, Modelo Comunidades com
Brasil N2 = 29 confiança e dentárias, dor renda familiar, multinível com maior nível de capital
associativismo dental e ocupação, meta-análise e social apresentaram
comunitário, traumatismo escolaridade, meta-regressão maior proporção de
participação dentário origem geo- indivíduos livres de cárie
política, gráfica, tempo e menor prevalência de
participação de residência dor dentária
comunitária em na comunidade,
conferências e utilização de
conselhos de serviços de
saúde saúde

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


1536 Pattussi MP et al.

Tabela 3

Estudos de capital social no nível de Estados, regiões ou países.

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Skrabski 2003 Hungria 20 Itens unitários Mortalidade Tabagismo, Regressão Taxas de mortalidade
et al. 78 de confiança, uso de álcool, linear estavam associadas
reciprocidade escolaridade, com níveis de não
e apoio social desemprego confiabilidade (mistrust).
e renda Mortalidade masculina
associada com falta de
ajuda de organizações
civis enquanto que
mortalidade feminina
mais associada com
percepções de
reciprocidade. Existiam
diferenças de gênero
com relação à morta-
lidade e capital social

Siahpush 1999 Austrália 7, Estados x Itens unitários Mortalidade Nenhuma Correlação Altos níveis de
& Singh 87 7 anos = 49 de integração e regressão integração social
social linear associados com baixas
taxas de mortalidade,
exceto com taxas
de sindicalização.
Investigações do
relacionamento entre
capital social e saúde
necessitam levar em
consideração o tipo e o
nível de integração social

Kawachi 1997 Estados N1 = 7.654, Confiança, Mortalidade Pobreza Regressão Ambos, confiança e
et al. 88 Unidos N2 = 39 honestidade: linear participação em grupos
cooperação, estavam associados com
participação mortalidade total bem
em grupos como com taxas de
mortalidade por do-
enças cardiovasculares,
neoplasmas e
mortalidade infantil.
Não encontrou
associações entre
acidentes (injuries) não
intencionais e capital
social. Concentração
de renda leva a um
aumento da mortalidade
via desinvestimento em
capital social

Kelleher 2002 Irlanda 22 Itens unitários Mortalidade, Nenhuma Correlação Padrão de votação
et al. 75 de participação autopercepção eleitoral pode ter uma
eleitoral em saúde influência nos desfechos
em saúde

Kennelly 2003 Entre países 19 Itens unitários Mortalidade, Numero de Regressão Pouca evidência
et al. 93 de confiança, expectativa médicos, linear estatística significativa
participação de vida coeficiente Gini, que capital social possui
em grupos e Produto Interno um efeito positivo na
trabalho Bruto, frutas e saúde. Relata ausência
voluntário vegetais, uso de associação porém
de álcool e tabelas demonstram
tabagismo associação entre capital
social e os desfechos
em saúde

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1537

Tabela 3 (continuação)

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Kennedy 1998 Rússia N1 = 8.868, Itens unitários Mortalidade, Renda e Regressão Indicadores de capital
et al. 86 N2 = 121 de coesão expectativa pobreza linear social estavam
social partici- de vida fortemente associados
pação eleitoral com mortalidade
e confiança no padronizada por idade,
governo expectativa de vida e
mortalidade por do-
enças cardiovasculares.
Taxas de crime utilizadas
como indicador indireto
(proxy) de capital social.
Resultados similares
para homens e mulheres

Subramanian 2002 Estados N1 = 26.230, Índice de Autopercepção Idade, sexo, Multinível Após o controle por
et al. 77 Unidos N2 = 40 confiança em saúde etnia, estado (logística) fatores individuais, altos
social civil, escolari- níveis de confiança
dade, renda, comunitária estavam
e percepção associados com baixos
individual de níveis de autopercepção
confiança precária. Porém, o efeito
protetor do capital social
pode variar de acordo
com níveis individuais
de confiança

Blakely 2001 Estados N1 = Itens de Autopercepção Idade, sexo, Multinível Após o controle por
et al. 82 Unidos 279.066, participação em saúde etnia, renda e (logística) fatores individuais as
N2 = 50 eleitoral concentração chances de relatar
de renda autopercepção de saúde
precária eram 27% mais
elevadas em estados
com grande desigual-
dade na participação
eleitoral quando
comparados com os
com baixa desigualdade
na participação eleitoral
(OR = 1,27; IC95%:
1,10-1,56)

Subramanian 2001 Estados N1 = Item unitário Autopercepção Idade, sexo, Multinível Capital social possuía
et al. 84 Unidos 144.692, de confiança em saúde etnia, trata- (logística) um efeito independente
N2 = 39 mento médico, de outras variáveis. A
check-ups, probabilidade de relatar
tabagismo, saúde precária aumentava
estado civil, significativamente em
renda e estado com alto compa-
concentração rado como os com baixos
de renda níveis de capital social.
Capital social parece
mediar os efeitos da
concentração de renda
na saúde das pessoas

Kawachi 1999 Estados N1 = Confiança, Autopercepção Idade, sexo, Multinível Odds ratio para saúde
et al. 91 Unidos 167.259, honestidade, em saúde etnia, renda, (logística) precária em Estados com
N2 = 39 cooperação, tabagismo, os níveis mais baixos de
participação obesidade, confiança era 1,41
em grupos seguro, (1,33-1,50) comparada
check-ups com Estados com altas
taxas de confiança;
1,48 (1,41-1,57) para
baixa comparada com
alta reciprocidade;
e 1,22 para baixa
comparada com alta
participação em grupos

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


1538 Pattussi MP et al.

Tabela 3 (continuação)

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Kawachi 1999 Estados N1 = 7.679, Confiança, Violência Análise de Taxas de crimes violentos
et al. 90 Unidos N2 = 39 estrutura componentes consistentemente
familiar, efi- principais associadas com baixa
cácia coletiva coesão social

Kennedy 1998 Estados N1 = 7.679, Confiança, Violência Pobreza e Correlação, Participação em grupos
et al. 89 Unidos N2 = 39 honestidade, disponibilidade regressão e baixa confiança social
cooperação, armas de fogo linear, “path associados com
participação analysis” homicídios por armas de
em grupos fogo. Efeitos se mantêm
após o controle por
pobreza e disponibilidade
de armas de fogo. Efeito
da concentração de
renda é mediado em
parte por capital social

Galea 2002 Estados 5 períodos Confiança, Violência Renda, Correlação, Confiança social
et al. 80 Unidos N1 = 2.277 honestidade, urbanização regressão fortemente associada
a 5.321, cooperação, e região linear, com violência. Após o
N2 = 32 participação “transitional controle por renda,
em grupos analysis” urbanização e região,
capital social possuía um
efeito independente nas
taxas de violência.
Efeitos bi-direcionais
podem existir e é
provável que exista um
impacto da violência nos
níveis de confiança nas
comunidades

Wilkinson 1998 Estados 39 Item unitário Violência Nenhum Correlação Taxas de crimes violentos
et al. 85 Unidos de confiança fortemente associadas
social com concentração de
renda, confiança social
e mortalidade

Hemenway 2001 Estados 48 Itens unitários Posse de armas Urbanização, Correlação Após o controle por
et al. 83 Unidos de confiança de fogo pobreza e e regressão urbanização, pobreza
mútua: partici- etnia linear e etnia, níveis mais
pação formal elevados de posse de
em grupos, armas de fogo estavam
suporte social, significativamente
honestidade associados com baixos
níveis de confiança
mútua e envolvimento
cívico. Quanto mais as
pessoas possuem acesso
a armas letais menor
a confiança mútua e
a interação social e
vice-versa

Gold et al. 81 2002 Estados N1 = 7.654, Itens unitários Gravidez juvenil Desigualdade Correlação Taxas de gravidez em
Unidos N2 = 39 de confiança e de renda e parcial adolescentes eram mais
participação pobreza elevadas em Estados
em grupos com pouca confiança
social (R = 0,50). Taxas
de gravidez em
adolescentes estavam
associadas com pobreza
e concentração de renda.
Porém, a associação
parece ser mediada pelo
capital social

(continua)

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1539

Tabela 3 (continuação)

Referência Ano Localização Amostra Aferição do Desfecho Outras Análise Resultados/Conclusões


capital social exposições estatística principais

Holtgrave & 2003 Estados 48 Índice de Doenças Nenhum, Correlação Capital social
Crosby 79 Unidos organização sexualmente pobreza e regressão negativamente associado
comunitária, transmissíveis linear com gonorréia, sífilis,
envolvimento clamídia e AIDS
em assuntos (R = -0,50; -0,67). Maior
públicos, capital social, menores
sociabilidade taxas de AIDS.
informal e Informações omitidas,
confiança social regressão stepwise
removeu pobreza

Crosby 2003 Estados 28 Índice de Comportamento Correlação Alto capital social


et al. 74 Unidos organização sexual associado com
comunitária, comportamento sexual
envolvimento protetor
em assuntos
públicos,
sociabilidade
informal e
confiança social

Hendryx 2002 Estados N1 = Índice de Acesso ao Vários predi- Multinível Embora a magnitude do
et al. 76 Unidos 19.672, confiança, serviço de tores indivi- linear efeito fosse modesta,
N2 = 22 participação saúde duais, de saúde capital social estava
em grupos, e sociais associado com melhor
participação acesso a serviços
eleitoral e de saúde
segurança
pessoal

Lynch 2001 Entre países 16 Itens unitários Vários Nenhum Correlação Confiança, controle, e
et al. 92 sobre confiança, participação em grupos
participação em não parecem ser os
organizações, fatores-chave para o
e voluntarismo entendimento das
desigualdades em
saúde entre os países
pesquisados

65 anos a taxa de mortalidade local era a meta- juntamente com a redução das desigualdades
de da média nacional. A pesquisa também an- sociais e políticas desenhadas para incentivar
tecipou um aumento da rejeição da vida em solidariedade e cooperação durante os perío-
comunidade pelas novas gerações, bem como dos de guerra seriam as explicações mais plau-
dos valores tradicionais. Esta mudança de ati- síveis para este aumento 95.
tude, ou seja, o rompimento da coesão social Somente recentemente, a primeira evidên-
em favor dos valores e aspirações individuais, cia quantitativa na relação entre coesão social
levou a população de Roseto a atingir níveis de e baixa mortalidade foi relatada 88. Analisando
mortalidade por doenças cardiovasculares si- dados ecológicos dos 39 estados dos Estados
milares às cidades vizinhas e ao nível nacional, Unidos, Kawachi et al. 88 demonstraram que os
nas décadas seguintes. estados onde a população possuía altos níveis
Wilkinson 95, além do “efeito Roseto”, forne- de desconfiança social também evidenciavam
ce uma grande quantidade de evidências a res- índices de mortalidade mais elevados. Os bai-
peito dos benefícios do capital social para a xos níveis de confiança social estavam associa-
saúde das populações. Por exemplo, na Grã- dos com as altas taxas da maioria das causas de
Bretanha, durante as duas grandes guerras morte, incluindo doenças cardíacas, neoplas-
mundiais, observou-se a mais rápida melhoria mas malignos, doenças cardiovasculares, le-
em níveis de expectativa de vida do século XX. sões acidentais e mortalidade infantil.
A expectativa de vida aumentou em seis anos Altos níveis de capital social também foram
para homens e em sete anos para mulheres. O associados com baixas taxas de mortalidade na
senso de união, frente a um inimigo comum, Austrália 87, Rússia 86, Hungria 78, Irlanda 75 e

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1525-1546, ago, 2006


1540 Pattussi MP et al.

Canadá 67. Elevada expectativa de vida tam- veis à saúde, promovendo maior acesso aos ser-
bém tem sido relacionada com altos níveis de viços de saúde devido a uma maior conscienti-
capital social, tanto na Rússia 86 como na Fin- zação da população sobre seus direitos e por
lândia 73. meio de processos psicossociais que promove-
Vários estudos, conduzidos em diversos riam um maior apoio emocional e atuariam co-
países, têm associado positivamente capital mo fonte de auto-estima e respeito mútuo.
social e autopercepção em saúde, um podero- Em nível de Estados, capital social atuaria
so indicador de mortalidade 96. Pessoas viven- via processos políticos. Por exemplo, existem
do em estados dos Estados Unidos com baixos evidências de que Estados socialmente coesos
níveis de confiança e participação em grupos produzem formas mais igualitárias de partici-
sociais avaliavam pior sua saúde, mesmo após pação política da população, resultando em
o controle de fatores de risco individuais como políticas públicas mais eficazes para os seus
renda, escolaridade, fumo, obesidade e acesso membros. Além disso, Estados com níveis mais
aos serviços de saúde 91. Outro estudo similar, elevados de capital social também são Estados
com mais de 270 mil pessoas 82, encontrou que com melhor distribuição de renda, ou seja, me-
pessoas morando em Estados com baixas taxas nor desigualdade social 34,95.
de participação cívica, um indicador indireto Embora a literatura pesquisada sugira que
(proxy) de capital social, também possuíam nas sociedades com altos níveis de capital so-
pior autopercepção em saúde quando compa- cial as pessoas vivam mais, sejam menos vio-
radas às que moravam em estados com altos lentas, possuam taxas mais baixas de mortali-
níveis de votação eleitoral. dade e morbidade, e avaliem melhor sua saú-
Com relação ao capital social e violência, de, urge cautela na interpretação desses resul-
Sampson et al. 51 avaliaram a “eficácia coleti- tados. Várias lacunas podem ser identificadas
va”, entendida como a voluntariedade dos resi- na literatura. Primeiro, a evidência até então se
dentes locais em intervirem para o bem co- restringe a estudos transversais, sendo que a
mum e contra a violência em bairros de Chica- maioria destes utiliza-se de dados secundários
go, Estados Unidos. Os autores concluíram que para avaliar esta relação. Segundo, poucos es-
altos níveis de eficácia coletiva estavam forte- tudos têm utilizado análises estatísticas ade-
mente relacionados às baixas taxas de violên- quadas, como por exemplo, análises multiní-
cia mesmo após o controle de características veis, as quais possibilitam detectar os efeitos
individuais como estrutura familiar, aspectos da composição individual e do contexto na po-
sócio-econômicos e estabilidade residencial. pulação estudada. Terceiro, como mencionado
Resultados similares entre capital social e vio- anteriormente, tanto a teoria quanto a mensu-
lência foram encontrados repetitivamente en- ração de capital social estão em processo ini-
tre estados dos Estados Unidos 80,83,85,89,90. Al- cial de desenvolvimento, fato este que leva a
tas taxas de suicídio também parecem estar as- erros de aferição e falta de comparabilidade
sociadas com fragmentação social e baixa reli- entre os resultados. Por último, a avaliação das
giosidade 72,97,98. instituições sociais e dos ambientes promoto-
Níveis mais elevados de capital social tam- res de capital social tem sido negligenciada 107.
bém têm sido associados com reduzida delin-
qüência juvenil 63, menores taxas de gravidez
em adolescentes 46,81, menor quantidade de Potencial uso do capital social
problemas emocionais e comportamentais 54,57, na realidade sanitária brasileira
61,62,66, uso adequado de serviços de saúde 76,99,

menor experiência de problemas bucais 100,101, Até o momento, poucos estudos brasileiros fi-
102 entre outros 7,74,79. zeram uso sistemático do conceito de capital
Os benefícios do capital social para a saúde social como modelo explicativo para padrões
das populações também têm sido demonstra- de saúde-doença. Particularmente na epide-
dos por meio de pesquisas qualitativas 56,103, miologia, tais estudos são raros.
104,105,106. A investigação de capital social varia entre
Mas como capital social exerceria seus efei- as sociedades. Evidências sugerem que o con-
tos sobre a saúde das populações? ceito tem sido mais difundido e mais sistema-
Os mecanismos pelos quais capital social ticamente estudado em países industrializa-
influenciaria a saúde das pessoas ainda estão dos. Essa constatação conduz-nos a questionar
para ser esclarecidos. Tem sido argumentado se os atributos de capital social, estudados em
que, em nível de bairros, capital social atuaria sociedades ricas, podem de fato explicar, ao
de três maneiras: influenciando e facilitando a menos, uma parte da variação em níveis de
formação e difusão de comportamentos favorá- saúde dentro e entre as regiões do mundo, es-

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CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1541

pecialmente em sociedades menos desenvolvi- sociais e saúde, ainda existe uma lacuna no que
das. Em última instância, leva a especular se o se refere ao desenvolvimento e avaliação de in-
conceito merece um lugar ao lado dos demais tervenções de promoção de saúde que incluam
determinantes e variáveis mais bem estabele- mecanismos que promovam a coesão social.
cidos em modelos epidemiológicos ou seria Acreditam que o conceito de capital social aju-
simplesmente o reflexo do ambiente político e da a promover uma reação individual e coletiva
econômico nas sociedades industrializadas. em direção a uma sociedade mais saudável.
No caso brasileiro, apesar de os dados não O conceito também tem sido avaliado co-
englobarem o conjunto do país, alguns autores mo portador de grande elasticidade e ambigüi-
inferem que não há uma tradição associativa dade, identificando-se uma tendência entre al-
que proporcione as bases de produção de capi- guns estudiosos de atribuir às associações co-
tal social público 14. Dessa forma, apesar da munitárias um lugar central na identificação
existência de centenas de associações infor- de capital social 110. Assim, como conseqüên-
mais e voluntárias que se organizam em torno cia desta visão e da forte representação destas
de objetivos comuns, elas parecem não gerar associações nos conselhos de saúde no Brasil,
redes associativas mais amplas, pois seus deveríamos esperar maior influência positiva
membros centram-se em questões casuísticas sobre o sistema de saúde onde tais conselhos
efêmeras. Para o caso do Brasil, quando se exa- estão mais organizados, traduzindo o nível de
mina qual a contribuição das instituições go- participação da comunidade. Contudo, para
vernamentais da democracia formal na produ- alguns autores, ao se analisar a constelação de
ção de capital social público, constata-se que, entidades participantes de conselhos, à luz dos
ao contrário do que se esperava, o que essas componentes de capital social, os resultados
instituições produzem não é capital social, mas não são muito alentadores 110.
fragmentação e apatia por parte dos cidadãos. Capital social não é simplesmente um atri-
No contexto brasileiro ganha irrecusável buto cultural, cujas raízes só podem ser finca-
saliência o tratamento que é dado à categoria das ao longo de muitas gerações. Ele pode ser
central “confiança” 37. De acordo com a Pesqui- criado – desde que haja organizações suficien-
sa Mundial sobre Valores (World Values Survey), temente fortes para sinalizar aos indivíduos al-
coordenada a partir da Universidade de Michi- ternativas aos seus comportamentos políticos.
gan, o Brasil é uma espécie de campeão mun- Neste sentido e ao contrário da visão cultura-
dial da desconfiança, com um consistente pa- lista adotada por Putnam 15, tem sido sugerida
drão de respostas em que mais de 90% da po- a adoção de uma visão neo-institucionalista,
pulação opta por responder que não se pode que enfatiza o papel decisivo da burocracia es-
confiar na maioria das pessoas 108. Nesta pes- tatal, na formação de capital social 111. A fun-
quisa há limitações próprias de um estudo ção do Estado passaria da ação reguladora da
transversal restrito a questões atitudinais, pois interação social para a de indutora e mobiliza-
ali a confiança é avaliada pelas respostas a uma dora do capital social, convocando cidadãos e
questão dicotômica em que o entrevistado op- as agências públicas a aumentarem a eficiên-
ta entre declarar de um modo geral se pode ou cia governamental, a partir de uma sinergia en-
não confiar na maioria das pessoas. tre o Estado e a sociedade civil. Como um con-
Contudo, o interesse decorre do fato de que junto de relações que ultrapassa a divisão das
há uma agenda de pesquisa certamente pro- esferas público-privadas, a idéia de redes de
missora para o Brasil neste campo, seja do engajamento cívico entre cidadãos sendo pro-
ponto de vista da operacionalização empírica movidas por agências públicas tem substancial
da teoria quanto da especificação analítica pre- relação com trabalhos sobre o “bom governo”,
cisa do significado de suas categorias centrais. tais como os desenvolvidos no Nordeste brasi-
Um dos poucos estudos que buscam explo- leiro 112.
rar a relação potencial entre capital social e Uma questão crucial na interpretação de
saúde de populações é o de Souza & Grundy 109, resultados sanitários, que deveria sempre ser
embora seu enfoque seja mais voltado para o levada em conta nos eventuais estudos que
campo da promoção da saúde do que propria- possam ser feitos no Brasil é a distinção básica
mente da epidemiologia. Os autores sugerem entre correlação e causalidade. A falácia co-
que elementos de capital social, tais como con- mum é concluir que capital social é causa para
fiança mútua, normas de reciprocidade ou soli- um ou mais desfechos em saúde, sem conside-
dariedade, e engajamento cívico poderão trazer rar a possibilidade de que tanto capital social
novas perspectivas ao campo da saúde coletiva quanto esses desfechos sejam determinados
e da epidemiologia. Afirmam, ainda, que embo- por causas externas comuns; ou seja, a possibi-
ra bem estabelecida a relação de fatores psicos- lidade que fatores estruturais de mais ampla

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determinação, e não capital social, possam de- redistribuição de renda. Neste sentido, faz-se
sempenhar o papel fundamental no processo necessário destacar que em nenhum momento
saúde-doença 23. Procurar resultados para uma foge ao entendimento dos autores deste artigo
situação particular, onde capital social se cor- a bem consolidada relação entre aspectos só-
relacione positivamente com os mesmos, pode cio-econômicos e saúde. Muito menos, tratan-
ser uma forma particularmente perniciosa de do-se da realidade brasileira onde o abismo
trabalhar as variáveis dependentes no campo que separa as classes sociais, e a própria exclu-
epidemiológico. são social em si, exercem efeitos devastadores
sobre a saúde de uma significativa parcela da
população. Formulações teóricas sobre desi-
Considerações finais gualdade e capital social não devem ser consi-
deradas concorrentes, mas sim complementa-
Este artigo se propôs a revisar o relacionamen- res, tanto nas pesquisas como na definição das
to entre capital social e saúde. A despeito de li- políticas públicas na área da saúde. Existem
mitações de natureza metodológica, já que o fortes evidências da associação entre capital
presente artigo não é uma revisão crítica siste- social e desigualdade de renda, onde a própria
mática, com o uso da meta-análise para produ- desigualdade social corrói os níveis de capital
zir sínteses quantitativas, o esforço de revisar social 95.
conceitualmente capital social representa um Capital social também não deve ser um no-
avanço em relação a publicações anteriores, já vo apanágio das relações sociais, visando subs-
que permite, ao menos preliminarmente, en- tituir práticas já existentes na sociedade civil
carar a relação entre capital social e saúde, seja organizada, nos movimentos populares ou na
internacionalmente, seja no caso brasileiro. legislação brasileira. Idéias como controle so-
Tendo em conta os resultados deste mapea- cial e cidadania não deixam de ser formas de
mento produzido, estudiosos podem legitima- capital social. Somente o refinamento teórico
mente debater se capital social teria um papel destas concepções frente à realidade brasileira
predominante em estudos comparados sobre permitirá estimar com maior rigor o impacto
saúde. De um lado, o impacto demonstrado que elas possuem nos indicadores de saúde.
por alguns estudos é digno de registro. Por ou- A visão que permeia este artigo é a de que
tro lado, quando se enxerga a totalidade de fa- capital social é um conceito útil para a pesqui-
tores que podem influenciar a saúde, e as dife- sa e o debate acadêmico, pois fornece pistas
renças conceituais reinantes, capital social pa- sobre como tornar os “menos poderosos” “mais
rece ter, na melhor das hipóteses, um impacto poderosos”, os “desorganizados” “mais organi-
apenas moderado. Em parte, isto se deve ao fa- zados”, os “menos favorecidos” “mais capazes”
to de que, tanto a teoria como os instrumentos e confiantes em suas capacidades para exerce-
de aferição, estão em fase de desenvolvimento. rem controle sobre suas próprias vidas 113,114 e
Porém, e apesar das limitações em termos do conseqüentemente sobre a sua própria saúde.
desenho e análise dos estudos, parecem existir Neste sentido, capital social oferece uma
evidências consideráveis de que capital social maneira nova e excitante de revitalizar as pes-
possa efetivamente beneficiar a saúde de indi- quisas em epidemiologia, pois fornece espaço
víduos e comunidades. para uma abordagem não-individualizada que
O fato da literatura sobre capital social es- rompe barreiras disciplinares. Oferece, ainda,
tar crescendo rapidamente tem levado alguns oportunidades para melhor entender porque
autores a considerá-lo uma grande panacéia, as desigualdades em saúde se manifestam e
ou o mais novo “modismo” da saúde coletiva como elas podem ser mais bem enfrentadas,
mundial, ou ainda uma boa desculpa para re- com justiça social e solidariedade.
duzir investimentos em políticas sociais e de

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CAPITAL SOCIAL E A AGENDA DE PESQUISA EM EPIDEMIOLOGIA 1543

Resumo Colaboradores

Capital social é definido como as características da or- M. P. Pattussi e S. J. Moysés contribuíram no planeja-
ganização social, tais como confiança interpessoal, mento do artigo, na revisão bibliográfica, conceitua-
normas de reciprocidade e redes solidárias, que capa- ção, interpretação e redação do artigo. J. R. Junges e
citam os participantes a agir coletivamente e mais efi- A. Sheiham colaboraram na conceituação, discussão
cientemente, na busca de objetivos e metas comuns. da literatura e orientação de pesquisa. Todos autores
Um número crescente de pesquisas, em sua maioria revisaram o manuscrito.
produzidas em países industrializados, sugere que so-
ciedades com altos níveis de capital social possuem ta-
xas mais baixas de mortalidade, maior expectativa de
vida, são menos violentas e avaliam melhor a sua saú- Agradecimentos
de. O principal objetivo deste artigo é revisar a relação
entre capital social e saúde. Primeiramente, capital so-
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ní-
cial é conceituado e as críticas que têm sido feitas
vel Superior (Processo BEX 1237/99-3), ao Conselho
quanto ao seu uso são discutidas. Em seguida, são
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
apresentados os principais instrumentos de aferição
co (Processo 478503/2004-0) e à Fundação de Am-
adotados. Logo após é descrito o relacionamento entre
paro à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Pro-
capital social e saúde e, por último, considerações são
cesso 0415621) pelo auxílio financeiro ao primeiro
feitas quanto ao seu uso na realidade brasileira. Capi-
autor.
tal social, se utilizado com maior rigor e atenção às di-
ficuldades teórico-metodológicas que apresenta, pode
ampliar a agenda de pesquisa em epidemiologia, con-
tribuindo para um melhor entendimento de como en-
frentar efetivamente as desigualdades em saúde.

Organização Social; Capital Social; Epidemiologia

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