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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUISA FILHO”

Instituto de Biociências, Letras e Ciências exatas – São José do Rio Preto

A tradução comentada de Il avait plu tout le dimanche, de Philippe Delerm:


traduzindo à luz de Antoine Berman

Projeto destinado à realização de Mestrado, a


ser desenvolvido no Programa de Pós-
Graduação em Estudos Linguísticos. Área de
concentração: Linguística Aplicada. Linha de
Pesquisa: Estudos de Tradução –
UNESP/IBILCE

Agosto 2019
RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo realizar uma tradução comentada do romance Il
avait plut tout le dimanche (2000), do autor francês Philippe Delerm. Num primeiro
momento, realizaremos uma análise e uma interpretação do texto, que servirá como apoio
para a tradução. Num segundo momento, realizaremos a tradução propriamente dita. O
comentário crítico com a acompanhará terá como objetivo “desvendar” o processo do ato
tradutório e, ao mesmo tempo, buscar definir certos princípios de tradução do texto em
questão e da obra do autor como um todo, que poderão servir de apoio ao aperfeiçoamento da
tradução.

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Nascido em 27 de novembro de 1950, aos 68 anos, Delerm goza de uma reputação

louvável no cenário francês atual. Amante do atletismo — tendo inclusive comentado os

jogos olímpicos de Pequim na televisão francesa —, não teve início de carreira fácil. Filho de

professores, seguiu a profissão dos pais no ensino de letras. Começou a tentar publicar obras

em 1975, mas foi só em 1983 que conseguiu a publicação do romance La Cinquième Saison,

seu primeiro livro. Ainda instável, só foi obter sucesso em 1997 com La première gorgée de

bière. Em 2007, 10 anos depois do lançamento de seu best-seller, abandona a carreira de

professor para se dedicar à escrita em tempo integral. São mais de 50 títulos lançados,

reunindo os mais diversos gêneros literários como romances, poesias, ensaios etc.

O título de sua principal obra, La première gorgée de bière, já denuncia uma

influência de Marcel Proust: trata-se de uma referência ao primeiro gole da xícara de chá

retirado do episódio da Madeleine em À la recherche du temps perdu: du côté de chez Swann

(1913). Ao tratar dos pequenos prazeres do dia-a-dia, Delerm se vale das descrições

psicológicas do consagrado romancista. Mas cremos que talvez Delerm o tenha levado além

em certo sentido. Proust se demorava nas descrições das memórias e das lembranças. Delerm,

ao contrário, em textos minúsculos o faz de maneira muito sintética, imitando melhor a

fugacidade de nossos pensamentos. Graças a essa brevidade, seu estilo é chamado de

“instantâneo literário”.
Tal estilo é descrito também por minimalismo positivo, minimalismo por se tratar das

pequenas coisas diárias, positivo, porque rejeita o trágico, a morte, o triste, enfim, a

negatividade. Talvez possamos chamar Delerm de epicurista. Em muitos momentos, há um

verdadeiro prazer sensual – não no sentido sexual – em sua escrita. Tomemos por exemplo

seus textos “Un banana-split” e “Un couteau dans la poche”, retirados do livro La première

gorgée de bière. No primeiro, narra o literato: “Des milliers de gens sur terre meurent de

faim. Cette pensée est recevable à la rigueur devant un pavé au chocolate amer. Mais

comment l’affronter face au banana-split?” (p. 42)1. No segundo, confessa para si mesmo :“Ça

ne servira pas, on le sent bien. Le plaisir n’est pas là. Plaisir absolu d’égoïsme” (p. 9)2.

Mas seria tão supérflua a literatura de Delerm? À primeira vista, o autor pode parecer

bem hedonista, no entanto podemos encontrar algo a mais. Nascido depois da década de 50,

Delerm nascia numa França tentando se recuperar da guerra. Parte considerável da literatura

dessa época era marcada por um pessimismo feroz. Talvez o que melhor tenha descrito esse

momento tenha sido Samuel Beckett, irlandês que também escreveu em francês.

Consideramos que, em En attendant godot (1952), o dramaturgo tenha conseguido expor de

maneira eficaz a fragmentação do ser humano daquele momento histórico. Dois personagens

esperam um tal de Godot que ninguém sabe quem é, também não conhecemos nada desses

dois personagens. O diálogo entre eles não chega a nenhuma questão fundamental. Trata-se da

mais pura banalidade. É a personificação de uma humanidade sem perspectiva.

Enxergamos a atitude de Delerm como uma reação a esse movimento anterior. O autor

do minimalismo positivo tenta reestabelecer a ordem interior humana a partir das pequenas

coisas quotidianas. E, cabe acrescentar ainda que, no fundo, talvez Delerm não seja tão

1
Milhares de pessoas sobre a terra morrem de fome. Este pensamento é recebido com pesar diante de um pavê
de chocolate amargo. Mas como afrontá-lo na presença de uma banana split?
Todas as traduções dos excertos em francês são de nossa autoria, salvo indicação em contrário.
2
Isso não servirá para nada, sabe-se bem. O prazer não está ali. Prazer absoluto de egoísmo.
egoísta. Talvez sua obra tenha sido mais social que o movimento literário anterior. A

literatura do século XX parece ser, no geral, bastante intimista e individualista, isso desde já

os românticos, passando pelos simbolistas e chegando até mesmo aos existencialistas. São

experiências algumas vezes absolutamente herméticas. Aliás, os autores de vanguarda, de

fato, buscavam uma literatura incompreensível.

A partir do simples, Delerm fala de experiências comuns a todos os franceses e,

possivelmente, a toda humanidade contemporânea. Para exemplificar recorramos ao seu texto

“Le tour de France” em que o autor descreve uma experiência nacional. Seguem alguns

trechos: “On ne regarde pas le Tour de France. On regarde Les Tours de France. Oui, dans

chaque image du peloton lancé sur les routes d’Auvergne ou de Bigorre s’inscrivent en

filigrane tous les pelotons du passé” (p. 39)3. E ainda adiante: “Il y a toujours quequ’un pour

dire:—Moi, ce que j’aime dans le Tour, c’est les paysages!” (p. 40)4, e prossegue: “De fait, on

traverse une France surchaufée, festive, dont le peuple s’égrène au fil des plaines, des villes et

des cols” (p. 40)5. O aparente egoísmo logo se revela uma vivência compartilhada por toda

uma comunidade!

Gostaríamos ainda de destacar o objetivismo de Delerm. Numa espécie de reação ao

movimento literário anterior, pensamos haver também uma reação ao subjetivismo exagerado

dos autores anteriores. Delerm escreve sempre seus textos a partir da perspectiva de um

enigmático pronome “on” que pode significar tanto o nosso “nós” quanto um sujeito

indeterminado. Alguns veem nisso uma certa visão intimista em que o eu está incluído, ou

seja, entendem como “nós”. Mas o interpretamos de modo diverso, entendemos o “on” como

um afastamento do sujeito para que a experiência se manifeste em sua pureza objetiva. Ou

seja, entendemos o “on” como sujeito indeterminado.

3
Não se olha o Tour de France. Olha-se os Tours de France. Sim, em cada imagem do pelotão lançado sobre as
estradas de Auvergne ou de Bigorre se inscrevem em filigrana todos os pelotões do passado.
4
Há sempre alguém para dizer: Quanto a mim, o que eu amo no Tour, são as paisagens
5
De fato, atravessa-se uma França sobreaquecida, festiva, cujo povo se debulha ao longo das planícies, das
cidades e dos desfiladeiros.
La première gorgé de bière de Philippe Delerm já foi traduzido para o português de

Portugal na editora Gradiva (1998) e para o português brasileiro pela editora Rocco (2000),

sem contar a tradução que recebeu em dezenas de outros idiomas. Decidimos, então, para

expandir o repertório de Delerm, operar a tradução de um livro que ainda não foi traduzido

para o português: Il avait plu tout le dimanche, romance de 1998 que conta a história de

Arnold Spitzweg, empregado dos correios. A partir do olhar do contemplativo “Monsieur

Spitzweg”, Delerm faz suas típicas observações otimistas do quotidiano, representando-as

através da vida de sua personagem.

Esse romance também foi escolhido por ter uma tradução em espanhol e em italiano,

assim poderemos executar um projeto não só de tradução comentada, mas de tradução

comparada, avaliando as zonas bem-sucedidas e as zonas problemáticas dessas traduções

precedentes. Explicaremos mais detalhadamente na fundamentação teórica a importância

disso.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Partimos de Antoine Berman como o fio condutor de nossa pesquisa. Num primeiro

momento, nos dedicamos à leitura de sua obra A tradução e a letra ou o albergue do

longínquo (2007) em tradução de Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan e Andreia

Guerini. O autor elabora um projeto de tradução que visa uma reviravolta em relação à

abordagem clássica. Em vez de focar na tradução do sentido, visa antes de tudo a tradução da

“literalidade carnal” do texto. Essa literalidade não se confunde com a “tradução letra por

letra”, mas visa tentar reproduzir a estranheza do original, manifestando as suas experiências

em vez de simplesmente comunicar o seu sentido. Isso implica, para dar um exemplo, tentar

reproduzir a sonoridade do original escolhendo palavras com sons semelhantes. Conceito


difícil de precisar, Berman vai além da simples questão fonética. Sua noção de literalidade

implica tentar reproduzir as estruturas do original, seu esqueleto.

Nessa obra, Berman estuda alguns casos de traduções que considera exemplares e cita

algumas noções das quais nos valeremos em nosso trabalho. Uma delas é a de língua

mediadora na tradução. Segundo o autor:

Mas a tradução de Chateaubriand sugere algo de talvez mais importante para


nossa consciência ainda lacunar e trivial das dimensões do ato de traduzir:
que este não opera somente entre duas línguas, que sempre existem nele
(conforme modos diversos) uma terceira língua, sem a qual não poderia
existir. (p. 105, 2007)

Na passagem mencionada, o teórico se refere à tradução que Chateaubriand faz de The

Lost Paradise de John Milton, épico religioso. Tal língua mediadora seria o latim, pois em

muitos momentos o literato romântico teve que traduzir passagens bíblicas e usou a Vulgata

como referência para transpor do inglês ao francês.

Em outro momento, Berman ainda cita o caso da tradução da Eneida por Pierre

Klossowski. A língua mediadora seria o alemão, devido à própria especialidade de

Klossowski, mas também pela nação alemã ter trabalhado muito com traduções latinas e

gregas no século XIX.

Em nosso projeto de mestrado, também nós refaremos a tradução tendo em vista uma

terceira língua, ou melhor, terceiras línguas. No caso, usaremos a tradução espanhola Llóvio

todo el domingo lançada em 2002 pela editora Tusquets. Também nos valeremos da tradução

italiana Aveva piovuto tutta la domenica lançada em 2002 pela editora Frassinelli. A terceira

língua nos leva a outra noção de Berman, a retradução:

A retradução serve como original e contra as traduções existentes. E pode-se


observar que é neste espaço que geralmente a tradução produz suas obras-
primas. As primeiras traduções não são (e não podem ser) as maiores. Tudo
acontece como se a secundaridade do traduzir se desdobrasse com a
retradução, a "segunda tradução" (de certa forma, nunca há uma terceira,
mas outras "segundas"). Quero dizer com isto que a grande tradução é
duplamente segunda: em relação ao original, em relação à primeira tradução.
(p. 97, 2007)

Ainda acrescenta o filósofo francês “Para nós; isto significa: a tradução literal é

obrigatoriamente uma retradução, e vice-versa” (p.97, 2007).

Outro ponto importante da obra é a analítica da deformação, sendo uma análise em

sentido cartesiano e freudiano. O que será analisado é a “sistemática da deformação” em que

há forças que “desviam” a tradução de seu verdadeiro objetivo. Já que se trata de um mal a ser

extirpado, o autor, à freudiana, comenta que não basta só a consciência dessas forças na

tradução, mas é preciso uma verdadeira análise delas para que sejam neutralizadas e que

possamos fazer uma boa tradução segundo sua concepção. A sistemática da deformação será

estudada sobretudo na tradução literária, segundo o próprio Berman, pois é sua área de

experiência e também é um campo que considera injustiçado. A injustiça se deve ao fato de a

grande prosa abarcar toda a língua, ou seja, reúne vários dizeres, desde o culto até o popular, o

que alguns críticos tendem a ver como escrever mal e sem forma. Devido à extensão da prosa,

também há a tendência que algo escape ao autor. Berman ainda acrescenta que somente as

deformações na poesia foram bem-estudadas, as deformações na prosa são em grande parte

desprezadas.

A analítica do autor mostra as tendências que deformam a letra do original tendo por

finalidade uma suposta manutenção do sentido. Segundo o autor, são treze tendências: a

racionalização, a clarificação, o alongamento, o enobrecimento e a vulgarização, o

empobrecimento qualitativo, o empobrecimento quantitativo, a homogeneização, a destruição

dos ritmos, a destruição das redes significantes subjacentes, a destruição dos sistematismos

textuais, a destruição (ou a exotização) das redes de linguagens vernaculares, a destruição das

locuções e idiotismos, o apagamento das superposições de línguas. (cf. BERMAN, 2007, p.

45-62).
A primeira delas, a racionalização, atua na sintaxe e altera a “arborescência” do texto,

ou seja: repetições, proliferação em cascata das relativas e dos particípios, incisos, longas

frases, frases sem verbo etc. Ao apagar esses elementos, segundo o francês, a racionalização

faz com que se perca o elemento prosaico do original levando a uma sensação de menor

concretude no texto traduzido.

A clarificação nada mais é do que tornar claro o que era obscuro no original.

Em terceiro, temos o alongamento que é o aumento dos períodos. Segundo Berman,

este decorre dos dois anteriores e seria um aumento de extensão do texto desnecessário.

O quarto é o enobrecimento, que para Berman se trata apenas de um exercício de estilo

às custas do original. O avesso a essa prática seria o costume de tentar tornar o texto popular

demais através de pseudo-gírias.

Depois há o empobrecimento qualitativo que, segundo Berman, implica privilegiar a

designação às custas do icônico, pois não carregar a iconicidade da palavra original.

Em sexto, temos o empobrecimento qualitativo. Tal procedimento consiste em reduzir

as variações de significantes para um mesmo significado. Por exemplo, às vezes temos várias

palavras usadas na língua de partida para representar tanto rosto como cara, face, semblante,

etc. Contudo, o tradutor escolhe apenas uma palavra para traduzir essa riqueza abundante.

Logo após, Berman fala da homogeneização que não é apresentada muito claramente.

Apenas diz que a prosa possui uma heterogeneidade que tende a sumir na tradução.

Em seguida, comenta a destruição do ritmo que possui nome autoexplicativo. Berman

nos lembra que a prosa também é rítmica e que cada autor possui suas marcas próprias.

Em nono lugar, talvez o mais difícil de todas as tendências, o autor az referência à

destruição das redes significantes subjacentes. Cada obra constrói uma rede de significantes

ligados entre si, o que pode ser suprimido na tradução.


A seguir, comenta a destruição de sistematismos. Análogo ao caso anterior por se

tratar também de uma rede, é causado antes por repetições sintáticas do que por escolhas

lexicais.

A décima primeira é a destruição ou a exotização das redes de linguagens

vernaculares. Como mencionado acima a prosa lida com o vulgo e com o popular.

Frequentemente na tradução, segundo Berman, suprime-se essa rede ou tenta-se fazer uma má

imitação.

A décima segunda é a destruição de locuções. Aqui entra em jogo o famoso dilema

dos provérbios. Como traduzi-los? Berman recomenda que se tente traduzir sua letra e não

que se busque o que seria seu “equivalente dinâmico”, o que pode gerar absurdos em certos

casos (um inglês falando à francesa, por exemplo).

Por fim, temos o apagamento da superposição das línguas. Na prosa frequentemente

há tensão entre falares diferentes. Nem sempre a tradução os preserva.

Ao fim dessas tendências Berman afirma que a letra são todas as dimensões que o

sistema de deformação atinge e comenta que as teorias da tradução até aqui foram uma

iconoclastia, pois destroem a relação entre a letra e o sentido no original em busca de um

sentido mais puro. Pretendemos aplicar essa analítica às traduções já feitas de Il avai plut tout

le dimanche para então fazermos nossa retradução em português.

Outro empréstimo tomado do tradutólogo é a sua valorização da neologia, pois,

segundo o filósofo francês, toda grande tradução se distingue pela sua riqueza neológica.

Sendo assim, afirma Berman: “A literalidade não consiste somente em violentar a sintaxe

francesa [no nosso caso, a portuguesa] ou em neologizá-la: ela também mantém, no texto da

tradução, a obscuridade inerente ao original” (p. 101, 2007), destacando assim que a

literalidade não consiste apenas em romper com a sintaxe do idioma de chegada, mas também

em manter o claro-escuro do texto de partida. Para o autor, o neologismo tem esse poder de
trazer a estranheza própria do original, ou seja, trazer o outro até nós. É importante enfatizar

que os neologismos possuem o potencial de enriquecer o idioma e oferecer novas

possibilidades antes inexploradas da língua. O tradutor aqui pode desempenhar o papel de

renovador da língua.

Em O albergue do longínquo, o tradutólogo apresenta uma proposta de ética da

tradução que consiste na acolhida do estrangeiro em sua estranheza, critério que usaremos

para traduzir Delerm, acolhendo sua estrangeiridade no português.

3. METODOLOGIA

Sem ter estabelecido um método em sua obra já mencionada, Berman o faz em sua

obra póstuma lançada em 1995 Pour une critique de traductions: John Donne. O autor esboça

um método para nalisar traduções, o qual é descrito em seis etapas etapas: 1ª) Leitura da

tradução, 2ª) Leitura do original, 3ª) Estudo da visão de mundo do tradutor e de suas

traduções anteriores, 4ª) Confronto da tradução com o original, 5ª) Estudo da recepção da

tradução e 6ª) Identificação de princípios de tradução.

Inspiramo-nos nesse método sugerido, contudo, serão necessárias alterações, pois

nosso propósito é diferente. Berman em seu livro se propõe a analisar Going to bed de John

Donne e algumas traduções desse poema, fazendo uma crítica no intento de estimular futuras

traduções do poeta inglês. Quanto ao nosso trabalho, o crítico e o tradutor são os mesmos, ou

seja, temos um projeto de tradução e não apenas de análise. Além do mais, ainda temos um

projeto de tradução comparada de línguas diferentes.

Para tanto, faremos, então, algumas alterações nos procedimentos listados a seguir:

1ª) Leitura do original detectando marcas estilísticas de Delerm, 2ª) Primeira tradução do

texto, 3ª) Comparação com a tradução italiana do mesmo livro, 4ª) Confronto das traduções
com o original, 5ª) Identificação de princípios de tradução, 6ª) Estabelecimento de princípios

da nova tradução e retradução do original.

Cabe destacar ainda o modo de confrontação proposto por Berman na quarta etapa do

comentário. Segundo o filósofo, tal procedimento se dá de quatro maneiras: 1ª) Confrontação

de zonas significativas entre o original e a tradução, 2ª) Confrontação das zonas problemáticas

da tradução com seus respectivos trechos no original, 3ª) Confrontação da tradução com

outras traduções do mesmo texto. 4ª) A tradução com seus projetos.

Outro ponto-chave dessa obra de Berman, é a aproximação entre crítica literária e

tradução. Seu projeto trata justamente dessa convergência, devemos ler a tradução a partir da

crítica literária, e a tradução, por sua vez, de certa forma, pressupõe um projeto crítico. Por

isso o filósofo da tradução de maneira efusiva destaca a confrontação de zonas significativas.

O tradutor deve ter uma proposta estética para encontrar soluções tradutórias. Podemos ainda

unir a ideia apresentada em O Albergue do Longínquo com a proposta de Pour une critique

des traductions. Essa proposta estética deve acolher o estrangeiro em sua estranheza. Vale

também destacar a visão de crítica literária de Berman. Para o tradutólogo não se trata de

crítica em sentido negativo, destrutivo. A crítica literária tem um propósito positivo. Um deles

seria o de rejuvenescimento do texto criticado. A tradução, análoga à crítica, também teria

essa função trazendo à tona potencialidades presentes no original, mas que podem se perder

com o tempo.

4. OBJETIVOS

Os textos literários não são apenas um ato de comunicação; afirmar o contrário seria

atribuir lhes um sentido invariante, o que significaria um atrofiamento de sua manifestação

enquanto arte. Como afirma Walter Benjamin (2011, p.102), um poema, assim como qualquer

obra, não “diz” nada, ou diz muito pouco, a quem o compreende, pois o que ele possui de
essencial não é a comunicação. Da mesma forma, uma tradução literária que se preocupa

apenas em comunicar, ou seja, em transmitir uma suposta mensagem, transmitirá apenas algo

de inessencial. Nesse sentido, e Berman (1985, p.89) aponta como a finalidade principal da

tradução não a simples procura de palavra ou expressões equivalentes, mas o acolhimento da

literalidade da obra traduzida, ou seja, do jogo de significantes, da realidade “carnal, tangível,

vívida” (p. 89) da linguagem, que inclui o acolhimento da “originalidade” própria da obra e

da “estranheza” do outro, já que a tradução aponta para o desejo de trazer originalmente para

seu espaço linguístico o estrangeiro enquanto estrangeiro. Assim, ela se inscreve, para nós, no

objetivo ético do respeito a essa “estranheza” e a essa “originalidade”. Para que se possa fazer

uma tradução eticamente responsável pelo trabalho da “literalidade carnal” da obra, Berman

(1995) aponta como necessárias, em primeiro lugar, múltiplas leituras de outras obras do

autor e sobre o autor, em segundo lugar, trata-se de fazer uma análise textual que apresente a

sistematicidade própria da obra e que seja um apoio à tradução. A partir disso, este trabalho

tem como objetivo geral fazer uma tradução comentada do romance Il avait plu tout le

dimanche de 1998.

De maneira específica, tencionamos:

I – Fazer uma análise da obra em questão, buscando sistematizar os componentes formais que

regem os, textos, tendo em vista o trabalho sobre a letra (BERMAN, 1985, p.36). Além disso,

a análise levará a uma possível interpretação global da obra, levando em conta,

principalmente, os aspectos culturais e autobiográficos em jogo na escrita.

II – Elaborar um projeto de tradução comentada a partir dos resultados de (I).

III – Traduzir o livro escolhido, ou seja, Il avait plu tout le dimanche para o português

brasileiro.

IV – Fazer um comentário crítico sobre a tradução com base na metodologia de Berman

(1995) descrita em Pour une critique des traductions: John Donne (1995), visando a uma
crítica produtiva, ou seja, que procure articular certos princípios da tradução e, ao mesmo

tempo, servir de abertura a novos projetos de tradução do mesmo autor.

5. CRONOGRAMA

Para a execução de nosso trabalho, dois momentos se mostram essenciais: a) a leitura

sistemática de textos teóricos sobre tradução e sobre o autor; b) a tradução do romance e a

redação da dissertação.

No que concerne à primeira etapa, algumas leituras teóricas sobre o autor já foram

feitas e serão retomadas e aprofundadas. Dentre os textos teóricos referentes às problemáticas

que perpassam nosso trabalho, podemos destacar: 1) Livros autobiográficos de Delerm

explicando sua estética; 2) traduções de obras de Delerm; 3) ortuna crítica sobre a obra de

Philippe Delerm como ensaios, artigos, entrevistas, resenhas, etc.; e 4) livros teóricos sobre

questões de tradução.

Assim, a partir de uma compreensão mais ampla da linguagem do autor, passaremos à

segunda etapa, que se iniciará com a realização de um primeiro esboço de tradução e a análise

dos problemas e dificuldades encontrados durante o processo tradutório. Ao longo desta

etapa, utilizaremos, quando necessário, o recurso aos comentários de tradução, a fim de

explicarmos algum termo ou conceito desconhecido do público leitor brasileiro. Também

serão analisados aspectos linguísticos e estilísticos do texto que suscitem dificuldades de

tradução e suas respectivas soluções escolhidas pela tradução espanhola e italiana. Essa

análise poderá ser feita a partir de comentários, apresentados sob a forma de blocos temáticos,

tais como: expressões idiomáticas, sintaxe, semântica, ritmo, intertextualidade, etc. A redação

dessas notas e comentários possibilitará o retorno ao texto fonte com um novo olhar, a partir

do que a tradução poderá ser aperfeiçoada e enriquecida.


Levando em conta a metodologia e o plano de trabalho propostos, bem como o tempo

estimado para que a pesquisa seja cumprida, elaboramos o seguinte calendário:

Disciplinas 1ª Etapa 2ª Etapa Qualificação Defesa


1º Sem.
2020
2º Sem.
2020
1º Sem.
2021
2º Sem.
2021
1º Sem.
2022

6. REFERÊNCIAS
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