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Para aqueles que ainda não viram o CinePsiquiatria #1 sobre o filme Clube da Luta, CLIQUE
AQUI.
E aqui vai o CinePsiquiatria #2, no qual tentarei, na visão da psiquiatria, analisar uma
das grandes obras do cinema ocidental, o filme de 2010, do gênio diretor Martin Scorsese:
Ilha do Medo (Shutter Island).
AVISO DE SPOILER! SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME, É RECOMENDADO VOLTAR APÓS
O TÉRMINO DA PELÍCULA!
“O que poderia ser pior? Viver como um monstro ou morrer como um homem bom?”
- Andrew Daniels
Ilha do Medo foi, e ainda é, um filme com boa avaliação da crítica especializada, e que
sempre está presente nas discussões de cinema e psiquiatria por todo mundo. O filme foi
lançado em 2010 com um orçamento de 90 milhões de dólares e teve uma receita estimada
em 295 milhões de dólares, ou seja, foi sucesso desde seu lançamento.
Shutter Island foi estrelado por um elenco de peso: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e Ben
Kingsley, e dirigido pelo premiado diretor Martin Scorsese.
O filme é repleto de metáforas, mistérios e detalhes que o diretor deixou para o público e
seu final pode ter várias interpretações; além de que o cinema é uma maravilhosa forma de
arte, e pode ter diversas explicações para o mesmo conteúdo. Tentarei aqui avaliar o caso
pela visão da psiquiatria e chegar ao quadro aproximado do personagem que, apesar dos
detalhes, a análise carece de alguns dados psicopatológicos.
1/5
O que é delírio?
O célebre autor Karl Jaspers (1883-1969) (1979), cita as idéias delirantes, ou delírio, como
juízos patologicamente falsos. Segundo o livro de psicopatologia do professor Paulo
Dalgalarrondo (Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais), obra categórica que
todo médico residente em Psiquiatria deve ter na cabeceira da cama: "o delírio é um erro do
ajuizar que tem origem na doença mental. Sua base é mórbida, pois é motivado por fatores
patológicos. Idéias delirantes típicas são observadas na prática clínica, por exemplo: “Tenho
certeza de que meus pais (ou os vizinhos) querem me envenenar”; ou seja, o delírio nada mais é
que uma falsa crença, tal crença não se abala mesmo com os melhores argumentos.
Agora que entendemos um pouco sobre os delírios vamos falar um pouco sobre uma
interpretação bem comum do filme, ao qual não será meu foco, pois quero tentar
categorizar o personagem à luz dos transtornos mentais. Em suas diversas explicações o
filme pode ser interpretado da maneira em que o personagem de Leonardo
DiCaprio estava de fato sendo vítima de uma rede de mentiras desde o momento em que
foi indicado para investigar o desaparecimento de Rachel Solando, tornando-se assim um
alvo de toda a trama que ali estava sendo elaborada e que o levou a ser lobotomizado por
ter encontrado a verdade: que o hospital era palco de experimentos com seres humanos.
Assim, prefere ser lobotomizado e esquecer tudo.
Se você tem outras teorias, diferentes das apresentadas aqui, compartilhe conosco.
Será um prazer ter a participação dos leitores.
2/5
“O paciente é inteligente: um veterano de guerra condecorado e delirante; presente na
libertação de Dachau. Ex-delegado federal. Tem propensão à violência; não tem remorso
pelos seus crimes, pois nega que eles aconteceram. Altamente desenvolvido, com narrativas
fantásticas, o que impede que ele veja a verdade de suas ações.” - descrição de paciente tirado
do prontuário do personagem Andrew Daniels.
Analisando sob a luz da psiquiatria temos o personagem de Leonardo DiCaprio com sinais
evidentes delirantes, de difícil argumento, pois seu "parceiro" tenta por meio de
psicodrama mostrar a realidade e o mesmo continua com sua percepção cheia de delírios,
quadro que nos leva a pensar em um transtorno psicótico, mais propriamente dito
Esquizofrenia.
A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de
tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos
um deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado.
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico.
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia).
3/5
B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de
funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho,
relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado
antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de
atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional).
C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse
período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados
com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode
incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos
prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por
sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma
forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns).
E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga
de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.
Como já relatei aqui, o personagem não fecha todos os critérios diagnósticos, pois não
temos como argumentar sobre o critério E, porém, com relação aos outros critérios
conseguimos supor que fica bem aproximado. O personagem apresenta claramente
sintomas de alucinações auditivas e visuais, bem como o seus delírios persistentes no longa
todo, apesar de mostrar cognitivo preservado e ser bastante inteligente, notamos que
Andrew teve prejuízo no seu trabalho e vida, pois entendemos que, neste caso, ele é o
paciente e seu parceiro nada mais é que seu psiquiatra usando da estratégia do psicodrama
para tentar contextualizá-lo do ocorrido e do seu diagnóstico. Vale a pena ler um pouco
sobre psicodrama, uma forma interessante e importante de psicoterapia.
4/5
CURIOSIDADE: Na época que a Paramount Pictures passou a trabalhar em Ilha do Medo, a
intenção era que David Fincher (Diretor de Clube da Luta - o filme que abriu o projeto
CinePsiquiatria) fosse o diretor e Brad Pitt (também atuou em Clube da Luta) o protagonista.
Todavia ambos deixaram o projeto devido a outros compromissos.
Espero que tenham gostado da análise. Deixe nos comentários o que você achou do projeto
e sugestões de filmes para os próximos #CinePsiquiatria.
Aguarde que nos próximos dias vai começar a votação para o CinePsiquiatria #3.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Clique aqui para seguir o Dr. Eduardo Alcantara na Academia Médica e para acompanhar
o projeto #CinePsiquiatria e os próximos artigos sobre psiquiatria.
5/5