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Escola de Belas Artes - CENEX / UFMG - julho 2017

Arte moderna e contemporânea - Professora Juliana Mafra


Isabela Cordeiro Lopes

Héctor Zamora: espaços que treinam o olhar

Preencher e sublinhar os espaços, adequando-se ao ambiente e ao público e


deixando que a obra tome vida própria: talvez essa seja a melhor tentativa de delimitar a arte
de Héctor Zamora que, contemporânea, busca extrapolar a própria noção de limites e de
fronteiras. É o que transparece, quase exageradamente, sua obra Paracaidista (2004), que
consiste em uma extrapolação das paredes de um museu com uma instalação, espécie de
inchaço, que, de forma parasitária e provisória, estabelece uma relação simbiótica e
essencialmente política com o espaço delimitado do museu da Cidade do México. Sobre esse
projeto, Zamora (2008) discorre: “pouco a pouco me dei conta de que até eu mesmo tinha que
ser flexível no que pudesse acontecer… trata-se de transformar o espaço, de fazê-lo flexível, de
maneira que possa terminar sendo uma coisa totalmente outra daquela que pensei.”
Nascido no México, o artista viveu em São Paulo e, mais recentemente, em Lisboa,
tendo realizado, ao longo de sua carreira ainda ativa, projetos artísticos ao redor do mundo.
Essa fluidez fronteiriça expressada por sua própria vida já nos aponta para o caminho que toma
no âmbito plástico, em que geografia, urbanidade e o próprio trânsito são recorrentemente
trabalhados, sempre aliados a uma incessante “investigação plástica sobre a onda conservadora
– e violenta – que varre o planeta” (Martí, 2016). Ainda pensando sobre seu forte teor político,
é interessante observarmos que esta atividade contestadora se dá, aqui, no estreitamento do
diálogo com o público, a rua, o espaço aberto, mais que naquilo que contém o museu ou a
galeria de arte. Para Zamora, é justamente aí que se insere o fazer artístico: em treinar o olhar
e os corpos a travar diálogo com as realidades palpáveis e possíveis. Aí se encontra, mais uma
vez, Paracaidista, cuja estetização de arquiteturas de assentamentos e de situações precárias de
um certo “hibridismo social”, “se não possui consequências sociais maiores, força nossos olhos
a reconsiderar o entorno” (Medina).
Em outra obra que brinca, bem humorada, com as expectativas do público e interpõe
a ficção na matéria cotidiana das pessoas, Zamora promove, por ocasião da 53ª Bienal de
Veneza, uma invasão de Zeppelins na cidade: um vídeo do céu repleto de dirigíveis foi postado
previamente no Youtube e projetado na exposição; cartazes, pinturas de rua, jornais e diversas
outras estratégias intermidiáticas prometiam uma inundação daqueles objetos voadores, todas
criando uma impressão inescapável de que a invasão de dirigíveis era iminente. O público
engajou-se neste ambiente, em expectativa e fascinação, capturado pela curiosidade imposta na
movimentação cotidiana, para, em seguida, ser surpreendido por uma montagem de um
Zeppelin esmagado entre paredes. Em um artigo a respeito desta obra, Zeppelin Swarm, Elvia
Pyburn-Wilk (2011) comenta, no que poderia, mais uma vez, ser uma tentativa muito acertada
de delimitar o trabalho do artista: “O trabalho de Héctor Zamora reside nos espaços familiares.
Entre escultura e arquitetura, entre conceitual e formal, entre real e imaginário, entre público e
privado. A oscilação entre estas categorias conhecidas nos deixa desconfortáveis, mas ainda
assim é emocionante encontrar algo crescendo lá, na fenda da calçada, onde pensávamos que
nada poderia sobreviver.”
Outras duas palavras que se detacam quando falamos de Zamora são a
intermidialidade e o diálogo. A primeira, por tratar-se de um trabalho que preza por ser
multifacetado, em geral partindo do computador para o meio em que se realiza, e conjugando
formas diversas de se construir. Daí, irreverência: a rua torna-se espaço para a arte atingir seus
anseios, enquanto o espaço dos museus e galerias é continuamente violado, em uma ruptura
necessariamente histórica e política, fortemente calcada no social. E isso nos leva à segunda
expressão: o diálogo travado por Zamora em suas obras é de teor, como foi dito, histórico,
político e social. Sério, mas por muitas vezes irônico e irreverente, Zamora aborda a latinidade,
a condição de colonizados, a violência e a pobreza, etc, por meio de uma estratégia que treina
os olhares e obriga-nos a, do incômodo, do susto ou da interrogação curiosa, nos deslocarmos
em direção a uma nova e remoldada leitura das coisas. É o que se passa em Paracaidista, em
que “é o agente de um reflexão de nossa atitude diante do mundo” (Medina), e também o que
vemos em Zeppelin Swarm, que, pelo riso, curiosidade e uma certa poesia, “testa a habilidade
da imaginação voar” (Pyburn-Wilk, 2011)
De produção intensa, com diversos projetos artísticos ao redor do mundo por ano,
as obras do artista apresentam uma gama de assuntos a serem abordados, estéticas a serem
revisitadas e, sobretudo, política e dinâmica a realizarem uma troca incessante. A tônica,
entretanto, se dá sempre pelo espaço, no arrancamento das ordens de público e privado e de
limites que se interpõe à criação ou à existência humana. Espaços sempre repensados e
radicalizados, polarizados, trocados uns por outros. Nas palavras de Zamora (2008): “Vejo cada
uma das peças como exercícios ou experimentos, tudo sempre relacionado com o espaço. Meu
trabalho é com o espaço, essa coisa que está aqui entre você e eu, e nós mesmos somos espaço.
Essa coisa que está aqui e que pode modificar, influenciar tudo o que está passando a nosso
redor.”
Referências

MARTÍ, Silas. Mexicano Héctor Zamora abre em São Paulo sua primeira retrospectiva. Folha
de São Paulo, São Paulo, 13 nov. 2016. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
ilustrada/2016/11/1831923-mexicano-hector-zamora-abre-em-sao-paulo-sua-primeira-
retrospectiva.shtml>.

[entrevista] Héctor Zamora - La calle como museo y el museo como zoológico. Revista
bifurcaciones, São Paulo, out. 2008. Disponível em:
<http://www.bifurcaciones.cl/008/Zamora.htm>

MEDINA, Cuauhtémoc. Casa temporal Héctor Zamora. Disponível em:


<http://www.lsd.com.mx/files/saber_ver.jpg>

PYBURN-WILK, Elvia. Sciame di Dirigibili, 2011. Disponível em: <universes-in-


universe.org/eng/magazine/articles/2011/hector_zamora>

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