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Capítulo 5

Orientação Profissional Clínica


Uma Contribuição Metodológica
Maria Luiza Camargo Torres

Temos a intenção, neste capítulo, de divulgar nossa maneira de exercer a orientação Profissional Clínica. No início
de nossa prática, fomos subsidiados pelas ideias de Rodolfo Bohoslavsky, uma vez que ele foi o precursor desta modalidade
de trabalho, brindando-nos com a caracterização e a sistematização da orientação associada à investigação clínica. No
entanto, à medida que aumentamos nossas pesquisas na área da orientação clínica e também nos adentrando no estudo
da teoria psicanalítica, constatamos que essa passou verdadeiramente a servir-nos de referencial teórico para o exercício
das atividades na Orientação Profissional Clínica.
A partir de então, nosso trabalho foi tornando-se diferenciado do proposto por Bohoslavsky, justificando essa
diferença com base na distinção da fonte teórica, da metodologia e dos recursos técnicos. Enquanto Bohoslavsky usa mais
os conceitos psicanalíticos relacionados ao eu, ao self, e pretende fazer uma síntese (influenciado pela escola norte-
americana) recorrendo ao ecletismo, nós preferimos os conceitos relacionados com os fenômenos inconscientes e as
produções linguísticas (influência da escola europeia).
Bohoslavsky emprega vários recursos técnicos nas orientações individuais e em grupo (utilizando-se das ideias
desenvolvidas por Pichón Rivière). Preferimos, usualmente, abster-nos do uso dos testes psicológicos (exceto quando se
fazem necessários) e privilegiamos as entrevistas e o trabalho particularizado.
Tal diferenciação deveu-se principalmente a quatro fatores: à enorme identificação que tivemos com as ideias
desenvolvidas por Freud e alguns de seus seguidores; à necessidade de efetuar um trabalho compatível com o que nós já
vínhamos realizando, que é a clínica psicanalítica; à preferência pelos atendimentos individualizados, na medida em que
cremos que sua efetividade é maior; e à crença de que os testes psicológicos podem ser dispensados do processo da escolha
profissional, uma vez que os dados por eles coletados podem ser conseguidos através de uma série de entrevistas.
Para criar sua metodologia de trabalho, Bohoslavsky fez uso do método clínico, empregando entrevistas, diferentes
tipos de testes e informações ocupacionais. Para ele, o processo de escolha estava dividido em três momentos: seleção,
escolha e decisão. Constatamos que nossa prática nos levou ao desenvolvimento de uma metodologia própria e propusemos
que o trabalho da Orientação Profissional Clínica fosse desenvolvido e baseado em quatro recursos técnicos: entrevistas
abertas, elaboração de uma hipótese diagnóstica, elaboração de um prognóstico e informação ocupacional (Torres, 2001).
Os principais objetivos de nosso trabalho podem ser nomeados da seguinte maneira: a) compreensão da
problemática pessoal e profissional; b) favorecimento da construção de um projeto de vida mais compatível com os reais
interesses e potencialidades do orientando; e c) retificação, complementação e ampliação dos conhecimentos do orientado
relativos aos cursos oferecidos e às profissões exercidas no mercado de trabalho. Para viabilizar tais objetivos, trabalhamos
em função de uma investigação da personalidade do sujeito, para que possam ser identificadas a estrutura e as situações
de conflitos, assim como foram ou estão desenvolvidas as suas aptidões, os seus interesses e as suas capacidades. Além
disso, é preciso detectar as principais influências sofridas por ele na hora de fazer a escolha, proporcionando-lhe uma
reflexão mais profunda sobre si e sobre a realidade na qual vive.

AS ETAPAS DO PROCESSO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL CLÍNICA

Para atingir os objetivos da Orientação Clínica, dividimos o processo de orientação em seis etapas que nomeamos
como: Exploração, Estudo das possibilidades, Escolha das alternativas, Instrumentação, Escolha propriamente dita e
Integração (Torres,2001).
A divisão é compatível com os diferentes momentos do processo identificados por nós, na medida em que eles são
vividos pela maioria dos orientandos durante a orientação. Além disso, ela favorece ao profissional a leitura e o
acompanhamento dos passos dados pelo orientando, de maneira que possa ajudá-lo mais efetivamente. Vejamos, então,
como caracterizamos cada uma dessas etapas.
A exploração é o período de coleta dos dados referentes ao orientando, quando também fica definido o
funcionamento do trabalho a ser feito (enquadre). É tarefa do orientador, através das entrevistas, traçar um perfil sobre o
funcionamento geral da pessoa e elaborar uma hipótese diagnostica relativa à sua problemática. É durante essa etapa, que
se inicia a formação do vínculo entre o orientando e o profissional, sendo de fundamental importância para o bom
desenvolvimento do trabalho a ser feito.
Para conseguir isto, o psicólogo precisa:
a) buscar esclarecimentos sobre a dimensão temporal vivenciada pelo cliente, ou seja, como ele concebe e articula
o passado, o presente e as expectativas que tem sobre o futuro;
b) ter uma ideia ampla sobre as ansiedades que o orientando experimenta, que medos e conflitos o perturbam,
assim como detectar as principais fantasias presente
s no seu discurso;
c) investigar sobre a sua saúde, o uso de medicamentos, que vícios o cliente tem (bebida, droga, fumo, etc.);
d) pesquisar sobre o desempenho intelectual, as capacidades, as potencialidades, os interesses e as motivações e
também sobre como o cliente canaliza seus investimentos para os objetos que seleciona, sejam eles pessoas, coisas,
trabalho ou estudo. O termo objeto deve ser compreendido, aqui, conforme o referencial psicanalítico.
e) identificar as principais modalidades de entretenimento e como utiliza o tempo livre;
f) ter claro como o orientando lida com as diversas situações problemáticas que aparecem em sua vida, assim como
o que lhe gera conflitos;
g) detectar como o cliente mantém suas relações afetivas (vínculos amorosos) com a família, os amigos, os colegas,
os professores e, inclusive, com o orientador, através das manifestações transferenciais que vão surgindo. Tais indícios são
protótipos das identificações primárias;
h) pesquisar sobre as interferências e influências que sofre da família, dos amigos, dos colegas e dos conhecidos em
geral, no que se refere à escolha profissional;
i) investigar sobre a autoestima e o autoconceito do orientando, assim como as
principais defesas que utiliza;
j) identificar se o orientando possui algum núcleo neurótico que o impede de fazer escolha;
k) ficar atento para o registro de como o orientando funciona frente às situações problemáticas, de conflito ou
dúvidas. Isso pode ser observado através de relatos sobre como ele vivência provas, situações de estresse, rompimentos
amorosos, perdas significativas, etc.
Na verdade, todos os dados que possam ser úteis para traçar o panorama do funcionamento do orientando servirão
para a construção da hipótese diagnostica. É indispensável que ela seja formulada, porque nos dá condições de saber quem
é o cliente que nos procura e que tipo de problema nos traz. Assim, teremos capacidade para elaborar um prognóstico, que
nos indica sobre a condição e a possibilidade que o cliente tem de realizar uma escolha satisfatória, além de nos possibilitar
saber como conduziremos adequadamente o processo, na medida em que ele deve ser dirigido de modo específico, para
cada pessoa em particular.
Na etapa estudo das possibilidades, o orientando vai fazer o reconhecimento de suas possibilidades (capacidades,
habilidades, criatividade, potencial intelectual, etc.) a identificação de seus desejos (através de projeções, aspirações,
anseios, sonhos, etc.), e o enfrentamento com os possíveis limites de natureza material (recursos financeiros, distância em
relação à localização da escola ou trabalho, deslocamento que terá de fazer, etc.), mercadológica (saturação, carência,
exigências do mercado, etc.) ou de nível pessoal (deficiências físicas e de saúde, inabilidades, desconhecimento necessário,
etc.) que se apresentam.
É tarefa do profissional, nessa etapa, ajudar o jovem, para que ele possa abrir o leque de suas opções e vislumbrar
possibilidades até então não pensadas. Deve, também, favorecer e evidenciar o aparecimento das contradições em sua fala,
para que possa checá-las e fazer algumas confrontações, tendo sempre em vista o aclaramento de seus desejos e interesses.
É durante essa etapa que podemos observar, de maneira mais evidente, a influência das identificações
inconscientes feitas pelo orientando, ou seja, as interferências dos investimentos feitos em objetos amorosos que foram
anteriormente eleitos (Torres,2001).
Elas manifestam-se através das opções que ele traz para a orientação, pois, muitas vezes, várias das profissões que
ele nomeia como interessantes, na verdade não têm uma representação significativa para si, mas são valorizadas pelo
círculo familiar ou pelas amizades que as desempenham com sucesso.
Outro aspecto notável é com relação às manifestações transferenciais do orientando, pois percebemos que já
existe, nessa fase, um vínculo entre os dois. Tais manifestações do cliente podem ser percebidas através de seu
comprometimento com o trabalho - o cumprimento dos horários, da regularidade do pagamento, da disponibilidade para
realizar as tarefas propostas pelo orientador, a crença na ajuda efetiva desse profissional, etc. Podemos nos remeter aqui à
produção imaginária feita pelo orientando, parecida com o que sucede em um processo analítico, que é a construção do
Sujeito Suposto Saber, lugar onde ele coloca o profissional, justamente por considerar que esse último detém um saber
sobre ele, que nem mesmo ele sabe que tem.
Nesse período, também, o jovem começa a constatar algumas descobertas sobre si, que são geralmente
acompanhadas por satisfações e alegrias (por exemplo, quando ele percebe alguma habilidade que desconsiderava como
tal, ou um meio de lazer que pode ser convertido em um fazer profissional) ou experimenta algumas ansiedades e medos,
como o de equivocar-se e comprometer negativamente seu futuro, o achar que não tem condições para realizar uma escolha
satisfatória, ou que o tempo não vai ser suficiente para escolher antes da data de inscrição do vestibular, etc.
Para nós, escolher implica avaliar, passar por um processo de "metabolização" ou, ainda, averiguar as opções mais
pertinentes e condizentes com a realidade pessoal. E é justamente isso que o orientando deve fazer na etapa seguinte:
escolha das alternativas. Cabe ao orientador proporcionar ao seu cliente a análise dos prós e dos contras de cada alternativa
que ele tem, levando sempre em consideração seus referenciais internos (desejos, capacidades, aprendizagens, descobertas
feitas na própria orientação, etc.). Observamos que é comum a diminuição das opções que o orientando tinha quando
iniciou o trabalho, ou, se não trouxe nenhuma, nesta etapa já se esboçam algumas. Geralmente aqui, restam duas ou três
alternativas, com as quais ele permanece e diz ter dúvidas sobre elas. Percebemos que essas opções são as que mais se
aproximam das áreas de interesse do orientando, pois reúnem aspectos relevantes e próximos de seu modo de ser, pensar
e desempenhar papéis.
Antes de encaminhar-se para a próxima etapa, o cliente deve ter conseguido até aqui fazer elaborações um pouco
mais profundas sobre seus desejos e sua realidade, confrontar-se com o caráter sobredeterminado de sua escolha, na
medida em que ela está relacionada e sofre influência de vários fatores e pessoas, e diminuído o número das opções iniciais
ou, se não as tinha, que tenha agora esboçado uma área de interesse mais específico.
Após essa pré-seleção ou delineamento dos campos de interesse, as opções passarão por um novo critério de
avaliação, depois do período de Instrumentação, que é a etapa relativa à informação quando o psicólogo tem como função
ajudar o orientando a suprir sua carência de dados, a promover a ampliação e a correção das possíveis distorções dos
conhecimentos que ele possa ter em relação às profissões, aos cursos, ao mercado de trabalho, aos concursos, aos pisos
salariais, às tarefas desempenhadas pelos profissionais de cada área, às capacidades exigidas dos profissionais, aos locais
de trabalho e a uma série de outros dados relevantes.
A informação ocupacional pode ser feita através de catálogos de cursos, de folhetos explicativos, de dicionário das
profissões, de revistas e filmes especializados, de livros que contenham artigos sobre a escolha profissional, de reportagens
de jornais, assim como de conferências, feiras e mostras sobre as ocupações e o mercado de trabalho. Além disso, é
recomendável que o orientando faça visitas a profissionais do ramo, a locais de trabalho e escolas que estejam vinculadas
às áreas pleiteadas.
É nosso intuito incentivar o cliente a fazer também uma pesquisa por conta própria nos locais de trabalho e nas
escolas, pois acreditamos que é uma maneira de ele estar mais próximo da realidade que provavelmente enfrentará e,
também, de implica-lo ainda mais no seu processo de decisão. Isso o ajudará a reconhecer-se como centro do seu trabalho
e também a sentir-se responsável pela escolha que fará, além de favorecer a sua saída da passividade, daquele que espera
por uma resposta (supostamente a ser dada pelo orientador), para o lugar daquele que vai em busca de sua construção.
Talvez possa parecer estranho apresentarmos as informações depois da etapa seleção das alternativas. Mas, para
nós, isso obedece a uma lógica dentro da proposta
que apresentamos. Preferimos, em um primeiro momento, que o orientando investigue e detecte suas preferências, tenha
mais contato consigo mesmo e possa analisar, elaborar e diminuir o número de influências que recebe. Além disso, quando
as informações são apresentadas antes de um mapeamento das áreas de maior interesse, é comum o número de opções
aumentar, em vez de diminuir, porque as informações acabam funcionando como um estímulo ou uma influência a mais.
Do que trabalhamos, a informação fica canalizada para os campos eleitos e, por isso, podem ser melhor exploradas e
assimiladas, compatibilizando desejos, interesses, motivações e a consequente assimilação das informações.
Para que o cliente possa passar para a etapa seguinte, é preciso que ele consiga organizar adequadamente as
informações recebidas, pesquisadas e produzidas, canalizando-as para objetos compatíveis com seus interesses e que possa
detectar, de maneira mais evidente e proveitosa, seus diversos sentimentos em relação a sua futura identidade profissional.
Na etapa escolha propriamente dita, o orientando deve ser capaz de assumir a sua escolha. É quando, a partir do
instrumental informativo e das elaborações feitas durante o processo da orientação, o indivíduo:
a) se dá conta de suas preferências e vai em direção à solução de sua problemática profissional;
b) consegue escolher objetos em que pode fazer investimentos mais compatíveis com suas determinações internas
c) reúne os elementos que tinha disponíveis através das aprendizagens que fez durante o período da orientação em
direção ao seu futuro como profissional.
Neste momento, o cliente deve reconhecer-se capaz de construir um projeto para o futuro, incluindo nele todos os
aspectos de sua vida, ou seja, conseguir integrar, nesse plano, sua vida pessoal, afetiva, profissional, social, etc. A
continuação do orientador converge para que o orientando possa fazer também a elaboração de alguns lutos. Ao fazer uma
escolha, opta-se por algo, em detrimento de outras coisas. O que é descartado pode despertar sentimentos de culpa por
não haver sido escolhido. Um exemplo comum desse caso é quando o orientando não escolhe uma carreira sugerida pelo
pai ou pela mãe. Ele pode ficar com a sensação de que não fez a coisa acertada, em detrimento do peso que tem a palavra
dos pais. Ou, ainda, continuar experimentando sentimentos ambivalentes em relação a sua opção, quando ela faz parte de
uma construção antes imaginária e idealizada em alguma de suas fases infantis. O luto acontece na medida em que o
orientando precisa fazer confrontações e ampliar a sua leitura da realidade, incluindo elementos atuais e condizentes com
sua vida e a da sociedade, saindo, assim, de seu mundo infantil.
Essa etapa chega ao seu final, quando o indivíduo se dá conta de suas preferências e vai em direção à consolidação
da solução de sua problemática profissional, quando consegue selecionar objetos em que pode fazer investimentos mais
compatíveis com suas determinações internas, transformando-os em realidade ocupacional e reúne os elementos que tinha
disponíveis através das aprendizagens que fez no período da orientação em direção aos planos sobre seu futuro profissional.
Assim, ele já reúne as condições necessárias para alcançar a etapa seguinte. A última etapa da Orientação
Profissional Clínica, a integração, caracteriza-se pelo alcance feito pelo orientando quando: responde satisfatoriamente
algumas das principais perguntas feitas no início do trabalho sobre o seu rumo profissional; consolida o início da construção
de sua identidade ocupacional, integrando aspectos pessoais e o perfil da profissão escolhida; e consegue reconhecer o
fechamento e os ganhos alcançados no trabalho de Orientação Profissional Clínica. A identidade ocupacional tem uma
estreita relação com sua identidade, com a visão que a pessoa constituiu de si mesmo (autoestima e autoimagem), com as
identificações predominantes que fez e com as aspirações e projetos futuros que idealiza. Neste momento, o orientando
deve reunir as diferentes fontes de influência que trouxe ao longo de seu trajeto histórico, fazendo com que elas se tornem
parte efetiva de sua opção profissional.
A construção da identidade profissional é um momento conciliatório do trabalho do profissional e do orientando
que, como membro ativo do processo, pesquisou fora e dentro de si elementos e conquistou muitas das condições para
efetuar, através de um processo de aprendizagem, uma opção com vistas a uma etapa mais madura de seu desenvolvimento
humano.
É importante mencionar que, nessa prática abordagem, muitas vezes as etapas nomeadas anteriormente se
mesclam. Nem sempre fica nítido o limite entre uma etapa e outra. Além disso, não são todas as vezes que nossos clientes
conseguem chegar ao final do trabalho com uma escolha propriamente dita. É também uma característica de nosso trabalho
a não-obrigatoriedade da escolha. Muitas vezes, nos deparamos com clientes imaturos, muito infantis, ou com pessoas que
vivenciam problemas que lhes absorvem por inteiro, não sendo possível despender energias para reflexões sobre uma
escolha profissional naquele momento. Podemos exemplificar citando a separação dos pais, a morte de um ente querido,
uma gravidez indesejada na adolescência, ou qualquer outra situação de conflito intenso ou de dor, que impossibilite, na
ocasião, a decisão profissional. Consideramos mais viável, então, que esse trabalho seja reiniciado em uma outra etapa.

QUATRO CONCEITOS PSICANALITICOS IMPORTANTES PARA A COMPREENSÃO DO PROCESSO CLÍNICO DE


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

Para que pudéssemos ter uma leitura mais ampliada e uma compreensão mais efetiva do processo da Orientação
Profissional Clínica, optamos por desenvolver e trabalhar com quatro dos conceitos psicanalíticos que nos parecem de
extrema significação para esse tipo de atividade. Justificamos tal atitude devido à permanência desses conceitos
identificados nas orientações e à importância de suas aplicabilidades no procedimento clínico. Não queremos dizer, com
isso, que somente eles estão presentes nessa práxis, uma vez que, para utilizarmos o referencial psicanalítico, temos de
lidar com o seu conjunto teórico, a sua proposta de trabalho e a sua ética. Assim, privilegiamos quatro dos conceitos, pois,
ao redor deles estão os principais fenômenos que ocorrem nesse tipo de trabalho. Vejamos, então, como os conceitos de
Objeto, Escolha, Identificação e Sobredeterminação podem contribuir para a ampliação da leitura do processo de
Orientação Profissional Clínica.
Freud, em 1905, através dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, quando fez uma interessante trajetória
sobre os primeiros investimentos amorosos que a criança faz, desde a infância, apresentou-nos o conceito de objeto. Para
ele, objeto não significa uma coisa em si, como normalmente o termo é utilizado, mas está intimamente relacionado à noção
de pulsão. Objeto é aquilo em que o porquê da pulsão procura atingir sua satisfação, ou seja, como faz seus investimentos
para que possa encontrar o seu alvo, a sua realização.
Na verdade, não é qualquer objeto, seja ele uma coisa, uma pessoa, um objeto real ou imaginário, que pode
satisfazer a pulsão. O objeto que vai ser desejado é caracterizado por particularidades que são dependentes da história
construída pelo sujeito, durante a época de sua estruturação psíquica. Ele está relacionado com as marcas mnésicas, os
traços estruturais que são a base, o alicerce, para a estrutura do sujeito.
Assim, desenvolvemos a ideia de que a profissão também pode ser concebida como um objeto, na medida em que
ela recebe investimentos de natureza psíquica, intelectual e afetiva (Torres, 2001). Para que uma profissão seja
desenvolvida, esses aspectos precisam estar integrados em um exigente trabalho psíquico, conjugando processos
conscientes e inconscientes. Além disso, a profissão pode funcionar como um canal, ou como uma grande possibilidade de
criação e obtenção de satisfação (psíquica e material) por parte de quem nela investe. Uma maneira de detectarmos
clinicamente como o orientando se relaciona com os objetos que elege é observar, por exemplo, como ele estabelece seus
vínculos afetivos com familiares, como lida com seus companheiros e amigos, que relação constrói com a escola, o lazer, os
objetos pessoais e toda uma gama de coisas que podem nos revelar o seu modo característico de tratar com os objetos no
mundo. Isso nos dá indícios de que a construção que fará com respeito à carreira estudantil ou profissional terá muitos
desses traços, pois são aspectos que estão estritamente vinculados à sua forma estrutural de ser, agir e pensar.
Com relação ao conceito de escolha, podemos relacioná-lo ao modo, ao como o sujeito decide investir nos objetos,
e aqui, no nosso caso, também na profissão. Para a psicanálise, esse conceito não se refere ao processo de optar ou decidir
por alguma coisa dentre outras. Adotamos esse termo no sentido de uma irreversibilidade e determinação vivida pelo
sujeito, em relação à escolha de seu tipo de amor objetal. Cremos que é preciso um ato de escolha, em um determinado
tempo da vida infantil, onde o sujeito posiciona-se frente ao como fará seus investimentos objetais. Para nós, a maneira
pela qual o sujeito investe na sua profissão está estreitamente vinculada à forma como ele aprendeu a fazer as suas escolhas,
ao longo de sua vida.
Isso porque tomamos como referência a sua maneira específica de ser, como um modelo, um protótipo de
investimentos objetais. Durante a Orientação Profissional Clínica, podemos apreender os dados relativos ao cliente no que
diz respeito ao seu modo de processar a escolha, principalmente durante o período da formulação da hipótese diagnóstica.
Nesse tempo, podemos descobrir como o orientando vem fazendo suas escolhas ao longo da vida, seu posicionamento
frente a elas, os recursos intelectuais e emocionais que utiliza, o tipo de análise ou argumentação empregado, os valores
referendados, assim como os principais mecanismos de defesa que utiliza. Outro dado importante para observar é como
ele estabelece compromisso com suas escolhas, ou seja, se são passageiras, superficiais, ou se fazem parte de um
empreendimento, uma meta a ser alcançada. Ou, ainda, se assume suas atitudes e suas decorrentes consequências, ou se
as atribui ou responsabiliza a terceiros.
De igual modo, podemos afirmar que, se o orientando desenvolveu em sua vida um quadro neurótico de
funcionamento, permeado por processos defensivos rígidos, ansiedades persecutórias, mecanismos depressivos, maníacos
ou quaisquer outros de que faça demasiado uso, isso torna-se evidente durante o trabalho da orientação. Dependendo de
seu comprometimento neurótico, o sujeito inviabiliza sua escolha, pelo menos uma que possa ser satisfatória e construtiva.
Sua escolha pela neurose acaba por influenciar negativamente sua escolha pela profissão. Assim, acreditamos que, ao
realizar uma escolha, o orientando está exercitando e trazendo à tona seu modelo construído e apreendido de como fazer
escolhas, mesclando marcas genuínas de seu funcionamento inconsciente, de sua estrutura de personalidade e de suas
aprendizagens realizadas ao longo da vida.
A identificação é um dos temas principais na obra de Freud e seus seguidores, sobre o mecanismo psicológico que
permite a constituição do ser como sujeito humano estando relacionada à maneira mais primitiva com que a criança vincula-
se afetivamente a alguém. Origina-se na primeira fase da organização libidinal, a oral. É um processo de caráter inconsciente
marcado não pelas relações intersubjectivas, mas por relações interpsíquicas. A compreensão do processo identificatório
nos remete ao conceito de objeto, na medida em que ele é o agente da identificação e o responsável m pela constituição
do eu. Em Psicologia de grupo e análise do eu, em 1921, Freud (1976b, p. 136) escreveu o seguinte: (...) primeiro, a
identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna um
sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, por meio da introjeção do objeto no ego; e terceiro,
pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto
do instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar-se essa identificação
parcial, podendo representar assim, o início de um novo laço. Sabemos que os investimentos são sempre parciais, pois
reconhecemos que não existe objeto ou objetos que sejam capazes de satisfazer plenamente os nossos desejos. Do mesmo
modo, as identificações também acontecem parcialmente, na medida em que estamos impossibilitados de realizá-las com
um objeto total.
Para a psicanálise, existem três categorias pelas quais a identificação pode ocorrer: a) identificação parcial com
o traço do objeto; b) identificação parcial com a imagem do objeto; e c) identificação parcial com o objeto enquanto emoção.
Como o homem é um ser constituído a partir da relação com o outro, através da organização simbólica, o que determina
sua ligação com os demais é a linguagem, pois só ela lhe possibilita entrar na horda da cultura e adquirir uma identidade
sexual. Assim como o processo identificatório é importante para a formação da identidade do sujeito humano, ele é
igualmente fundamental para o alicerçamento da identidade profissional do orientando, na medida em que essa última
depende das vicissitudes da organização psíquica constituída por cada um.
Uma maneira de constatar os processos identificatórios na Orientação Clínica é através do discurso do orientando,
quando este se refere às figuras representantes de autoridade, aos modelos admirados e imitados. A maneira como ele
vincula-se a essas representações e como as idealiza diz sobre como esses protótipos identificatórios lhe servem de
referência. Ou, ainda, através do modo como estrutura e projeta a sua vivência das manifestações transferenciais em
relação ao papel ocupado pelo orientador profissional.
Assim, acreditamos que as várias identificações feitas pelo orientando ao longo de sua vida o remetem sempre,
inconscientemente, ao modelo primevo de sua relação com o par parental. E tais modelos acabam por servir de subsídios
(através dos traços mnêmicos) para que o orientando construa sua escolha profissional ancorada neles.
No trabalho da Orientação Clínica faz-se necessário, como vimos anteriormente, fazer um levantamento das
influências pelas quais está sujeito o orientando na hora de tomar sua decisão. Na verdade, ficam nítidas para nós,
orientadores, essas inúmeras interferências, e quase sempre o nosso cliente concorda com isso. São múltiplos os fatores
que entram em cena nesse momento, permeando o pensamento e as emoções de quem pretende optar por algum estudo
ou carreira profissional. E constatamos, também, que tais interferências nem sempre podem ser nomeadas, identificadas e
trabalhadas como gostaríamos que fossem. Estamos nos referindo a uma parcela delas, que são inconscientes, e por isso
mesmo acabam exercendo uma força enorme sobre esse momento particular da busca pela opção.
Para que tivéssemos uma leitura mais ampla dessas interferências, novamente recorremos ao texto freudiano.
Nele, encontramos subsídios que nos instrumentalizaram para compreender a multiplicidade dos fenômenos que se
coadunam para, juntos, determinar o caminho que o orientando vai seguir. Nos referimos agora ao conceito de
sobredeterminação.
Freud começou a empregar esse termo na época em que buscava a etiologia das neuroses e constatou que tais
enfermidades eram resultantes de múltiplos fatores. Em Estudos sobre a histeria (1893-1895), quando explicava sobre a
formação dos sintomas, Freud (1976a, p. 281) escreveu o seguinte: “(...) a cadeia lógica corresponde não apenas a uma linha
retorcida, em ziguezague, mas antes a um sistema de linhas em ramificação e, mais particularmente, a um sistema
convergente (...) e em geral os diversos fios que se estendem de forma independente, ou não-ligados em vários pontos por
vias laterais, desembocam no núcleo. Em outras palavras, é notável a frequência com que um sintoma é determinado de
vários modos, é "sobredeterminado".
De igual modo, o conceito de Sobredeterminação aparece nos textos freudianos relacionados aos processos
oníricos, quando fica evidenciado que os sonhos sofrem ação do processo da multideterminação ou sobredeterminação.
Daí o seu conteúdo inteligível fora da análise uma vez que muitos desses conteúdos referem-se ao material latente, ou seja,
de caráter inconsciente.
E como podemos detectar a utilidade desse conceito na clínica da orientação? Como já esboçamos anteriormente,
partindo do pressuposto de que uma escolha é sempre sobredeterminada. Cada escolha sofre a ação de elementos de
diversas naturezas, assim como de várias procedências. Podemos ilustrar, citando algumas: construções psíquicas
conscientes e inconscientes; interferência dos modelos identificatórios pelos quais o orientando passou; aprendizagens ao
longo de sua vida; experiências inter, intra e transpessoais; realidade sociocultural; perfil profissional; situação do mercado
de trabalho,etc.
Assim, percebemos que o orientando já traz consigo, quando procura pela orientação, todos esses determinantes
e precisamos ajudá-lo a tornar-se consciente de boa parte deles, para que possam ser avaliados, repensados e elaborados.
Sabemos que muitos desses elementos, enquanto material inconsciente, assim permanecerão, mas a possibilidade da
abertura para o trabalho com os demais em muito acrescenta e favorece o processo de seleção e, consequentemente, o da
escolha em si.
O caráter sobredeterminado da escolha nos leva a constatar, também, a complexidade que envolve tal processo,
de modo que, enquanto profissionais da área, não podemos nos restringir somente às técnicas ou ir delimitando o campo
de ação ou interferência para o cliente. Este é um trabalho exigente, pois, na abordagem clínica, ele demanda reflexões
mais profundas, confrontos e elaborações de diversas naturezas antes da tomada de decisão. Concluímos, então, a partir
de nossa prática, que esta proposta de trabalho é: dinâmica, porque integra favoravelmente o passado, o presente e a
perspectiva de futuro do orientando; interativa, porque se processa no campo da relação humana orientando-orientador;
facilitadora, porque o profissional serve de canal para viabilizar a construção da escolha que o próprio orientando deverá
fazer durante seu momento de decisão; investigativa, porque gera uma profunda pesquisa sobre os conteúdos vitais e
personológicos do cliente; atual, porque produz uma leitura mais ampliada e recente sobre o cliente e seu mundo; efetiva
porque trata das questões reais, de nível consciente e algumas de nível inconscientes do sujeito com relação ao momento
de escolha; e terapêutica, porque produz elaborações e mudanças na maneira do cliente se perceber, assim como o mundo
em que vive, com vistas a um melhor viver.

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