Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
autora
ALCINÉIA DONIZETI FERREIRA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares; karen
bortoloti; adriana aparecida ferreira marques
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-163-5
Prefácio 5
5
Esperamos oferecer aos estudantes de Serviço Social um material didático,
sem reducionismos que instigue a reflexão sobre o tema e a busca por materiais
que tratam da política social, como forma de complemento a leitura.
Bons estudos!
6
1
A Seguridade
Social no Brasil
Neste capítulo faremos um aprofundamento, de forma crítica, sobre o papel do
Estado e das políticas sociais no contexto do sistema capitalista.
Abordaremos a evolução da Seguridade Social na Conjuntura Nacional e Inter-
nacional desde os Estados de bem-estar social e seus diversos regimes, princi-
palmente a evolução da Seguridade no Brasil.
No decorrer desse capítulo iremos entender a área de abrangência das políticas
que compõem a seguridade social, compreender a histórica atuação do Servi-
ço Social e a importância do exercício da profissão nas políticas de seguridade
social.
Serão apresentados os modelos de gestão da Seguridade Social, os princípios
constitucionais e a relação de contributividade e usufruto das políticas sociais
de seguridade no país.
OBJETIVOS
• Compreender a política social como espaço de luta de classes;
• O Estado de bem-estar social - identificar o papel exercido pelo Estado e suas funções;
• Conhecer o contexto histórico da Seguridade Social no Brasil;
• A gestão da seguridade social no contexto do sistema capitalista;
• As normas operacionais e a relação de contributividade e usufruto das políticas sociais de
seguridade social.
8• capítulo 1
1.1 Conceito de Política Social – O Estado
de Bem-Estar Social
Para entendermos sobre política social, se faz necessário, uma breve descrição
sobre as primeiras iniciativas de políticas sociais nos diversos contextos históri-
cos que permearam vários países e influenciaram as políticas sociais brasileiras.
Assim, podemos dizer que as inciativas dessas políticas tiveram uma rela-
ção de continuidade entre o Estado liberal, do século XIX, e o Estado social,
do século XX, “[...] ambos tem um ponto em comum: o reconhecimento de
direitos sem colocar em xeque os fundamentos do capitalismo” (BEHRING;
BOSCHETTI, 2011, p. 63).
O primeiro fato que marcou a história do Welfare State - das políticas so-
ciais, de acordo com a literatura, foi em 1883, na Alemanha, a regulamentação
do seguro social como reconhecimento das lutas sociais pelo Estado Alemão
socialdemocrata, governado por Otto von Bismarck. O seguro social surge para
atender os trabalhadores, devido a contingências sociais como idade avançada,
desemprego e enfermidades.
“Entre 1883 e 1914, todos os países europeus implantaram um sistema es-
tatal de compensação de renda para os trabalhadores na forma de seguros”
(BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 67).
É importante perceber que com o surgimento do Estado que recebeu o nome
de “Bem – Estar”, essas políticas foram desencadeadas para atender as ques-
tões sociais da classe trabalhadora que lutava por direitos políticos e sociais.
Nesse contexto histórico o Estado começa a perceber a necessidade de res-
ponder as demandas das classes trabalhadoras, para: “Reduzir ou amainar o
confronto político e a tensão social produzidas por estas pressões, buscando
impedir o acirramento da luta de classes e recuperar, assim, a ordem e a paz
social” (RAICHELIS, 1988, p. 28). Nesse período, a classe trabalhadora lutava
por seus interesses, exercendo pressão sobre os setores dominantes e o Estado.
Percebemos com Faleiros (2006, p. 53) que o Estado:
capítulo 1 •9
[...] não é um árbitro neutro, nem um juiz do bem-estar do cidadão. Não é um instru-
mento, uma ferramenta nas mãos das classes dominantes, para realizar seus interes-
ses. O Estado é uma relação social. Nesse sentido, o Estado é um campo de batalha,
onde as diferentes frações da burguesia e certos interesses do grupo no poder se
defrontam e se conciliam com certos interesses das classes dominadas.
10 • capítulo 1
todos os países da Europa, cuja média de gasto na área social em relação ao
Produto Interno Bruto - PIB que passou por um crescimento gradativo de 3%,
em 1914 para 25 % em 1970. Outro foi o crescimento dos programas sociais vol-
tados para os trabalhadores, como: cobertura de acidente de trabalho, seguro-
doença e invalidez dentre outros.
É importante ressaltar que o princípio das politicas sociais tinha como base
a lógica do seguro, que no futuro irá emergir como direitos da política de previ-
dência social assegurada pela Seguridade Social instituída no Brasil através da
Constituição Federal de 1988.
Conforme aponta Marshall, o que marcou a emergência do Welfare State:
AUTOR
Esping-Andersen é Professor do Departamento de Ciências Políticas e Sociais do Instituto
Universitário Europeu de Florença, publicou artigo no Scielo sobre “As três economias políti-
cas do welfare state”. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102-64451991000200006
capítulo 1 • 11
ESPING-
SOUZA ABRAHAMSON TITMUS, ASCOLI FLEURY ALVAREZ
ANDERSEN
(1994) (1992) DRAIBE, VIANNA (1991) (1994) (1994)
(1987)
Welfare Assistência Residual Ou
Liberal Liberal Liberal
Residual Social De Mercado
Institucional
Meritocrático- Misto
Conservador Conservador Conservador Seguro Social
Particularista Mercado-
Estado
Social- Democrático- Institucional Seguridade Total Ou De
Escandinavo
Democrata Social Redistributivo Social Welfare
Solidário
Latino
Cooperativo
Fonte: Silva, A.A. A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o merca-
do. São Paulo: Cortez Editora, 2007, 2ª ed.
12 • capítulo 1
ATENÇÃO
Este histórico se fez necessário para entendermos que a busca por um Estado protetivo é an-
tiga com alicerces antagônicos, entre atender o ideal do capitalismo ou os interesses da clas-
se trabalhadora, ora relegados ao desamparo, ora tendo acesso às legislações protetoras.
O Welfere State viveu seu apogeu e também seu momento de crise, no final
dos anos 1960, “os anos de ouro” o capitalismo começa a se extenuar, as dívidas
públicas e privadas começam a crescer demasiadamente.
O paradigma fordista da produção em massa para o consumo em massa
proporcionado pelos Estados de bem-estar social e a política do pleno empre-
go começavam a enfrenar dificuldades com a absorção das novas gerações no
mercado de trabalho e com a falência do modo de produção da época.
As autoras retratam que países periféricos, como o Brasil, mesmo com o avan-
ço considerável no sistema de proteção social nunca teve um Estado de Bem estar
social em razão da ausência dos pilares básicos: pleno emprego, políticas amplas
de proteção social. O país convive com a fragmentação e precariedade das políticas
sociais. Em suma, após a perspectiva de análise histórica entendemos que a polí-
tica social:
capítulo 1 • 13
No próximo subitem daremos continuidade ao estudo sobre as políticas so-
ciais, agora com características centradas no Brasil.
14 • capítulo 1
COMENTÁRIO
Como complementação ao que foi dito, se faz necessário um resumo sobre o ideário neoliberal,
não faremos um aprofundamento do tema, pois já foi tratado nas vídeos aulas. Como sabemos
todos os países de capitalismo avançado “ditam” as normas econômicas para o mundo inteiro,
visto que os países em desenvolvimento dependem financeiramente dos países desenvolvidos.
As privatizações das empresas públicas é a principal característica do programa político dos
chamados “governos neoliberais”, defensores da liberdade de mercado, isto é, promove gradati-
vamente a entrega total da economia ao mercado, cedendo ao domínio das grandes empresas
privadas a chance de explorar e a tarefa de ofertar as mercadorias e serviços demandados por
toda a população. Quando acontece a privatização de uma empresa pública o Estado deixa de
ser o responsável pelo serviço e passa a responsabilidade para o setor privado.
capítulo 1 • 15
O terceiro setor constitui-se como organizações jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos com objetivos de prestar serviços sociais a população em
situações de vulnerabilidade social.
Neste período surgem também às responsabilidades sociais empresariais,
usada como marketings sociais pelas empresas, como forma de atrair novos
consumidores, neste contexto novas formas de voluntariado aparecem para
mediar à relação entre Estado e sociedade civil.
Através das organizações sociais surge o contrato de gestão, isto é, repasse
de recursos do poder público para a iniciativa privada, sem fins lucrativos, essa
combinação entre o público e privado, constituindo-se numa forma de privati-
zação parcial dos serviços prestados.
No caso do estado de São Paulo, por intermédio das chamadas parcerias, o governo
transfere hospitais recém-construídos e equipados para instituições privadas sem
fins lucrativos, que recebem recursos financeiros pela prestação de serviços ao SUS
(SILVA, 2007, p. 142).
16 • capítulo 1
CURIOSIDADE
De acordo com a Lei nº 12.101, de 30 de novembro de 2009, e o Decreto nº 8.242, 23 de
maio de 2014, será concedido pelo Governo Federal às organizações filantrópicas fins lucra-
tivos a Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social - CEBAS, reconhecidas
como entidades de assistência social que prestam serviços nas áreas de educação, assistên-
cia social ou saúde. Trata-se de uma certificação que possibilita a isenção de contribuições
para a seguridade social, a priorização na celebração de convênios com o poder público,
entre outros benefícios.
capítulo 1 • 17
transfere as responsabilidades que ele deveria assumir para a sociedade civil.
Sem a intenção de desestimular o trabalho do voluntário é preciso refletir de
forma crítica que essas pessoas não são remuneradas e não possuem vinculo
empregatício, é preciso muita boa vontade e comprometimento com ações re-
levantes da sociedade.
De acordo com Silva (2007, p. 167) é preciso ter cautela, pois:
18 • capítulo 1
1.3 Princípios Constitucionais da Seguridade
Social
Não poderão ser excluídos da proteção social todos os que vivem no ter-
ritório nacional, terão direito ao mínimo indispensável à sobrevivência. Se o
Estado Brasileiro assume como fundamento na Constituição a dignidade da
pessoa humana, com isso a Lei deve atender a todo e qualquer ser humano que
esteja no território nacional.
No entanto esse princípio da universalidade da Seguridade Social não terá
sido efetivamente aplicado enquanto houver miséria e desigualdades sociais,
enquanto houver um ser humano passando necessidade, não dá para falar em
justiça e universalidade do atendimento.
É importante ressaltar que todos os que vivem no território nacional tem
direito subjetivo a alguma das formas de proteção social do tripé da seguridade
social, saúde, assistência social e previdência.
A seguridade social, diferente do seguro social, deixa de fornecer proteção
apenas para algumas categorias de pessoas para amparar toda a comunidade.
capítulo 1 • 19
Na realidade, do ponto de vista de Silva (2007, p.201):
20 • capítulo 1
Nesse sentido a Constituição Federal foi criada para garantir maior prote-
ção social, maior bem-estar, no entanto a escolha deve ser sobre as prestações
dos benefícios que tenham maior potencial para reduzir a desigualdade, con-
cretizando o princípio da justiça social. Isto seria a seleção de contingências, de
necessidades, o princípio da seletividade.
A distribuição de proteção social, a distributividade propicia que se escolha
o universo dos que mais necessitam de proteção, isto é, das políticas sociais.
Este princípio trata dos benefícios, os quais não podem ter o valor inicial re-
duzido. Os benefícios, ao longo de sua existência, veio para suprir os mínimos
necessários a sobrevivência com dignidade, e por isso, não pode sofrer redução
no seu valor mensal.
Como constam no artigo 201 da Constituição Federal de 1988, Seção III
da Previdência Social, com redação dada pela Emenda Constitucional nº 20
de 1998:
capítulo 1 • 21
VI - Diversidade da base de financiamento
22 • capítulo 1
toda a sociedade, com recursos oriundos tanto do orçamento fiscal das pessoas
políticas como por meio de imposições de contribuições sociais”.
De acordo com a Emenda Constitucional Nº 20, de 1998 Art. 195 constata-
se que:
A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta,
nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro; II -
dos trabalhadores; III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
Nota-se que o custeio direto da seguridade social deve ser feito com o pro-
duto da cobrança dos trabalhadores e das empresas, sobre a receita de concur-
sos de prognósticos e a importação de bens e serviços, ficando o custeio indi-
reto por conta das dotações orçamentárias da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, reservando, ainda a União, a competência residual
para a regulamentação de novas fontes de custeio.
No entanto, o financiamento da seguridade social constitui-se obrigação
constitucional do Estado Brasileiro, isso não significa que outros órgãos filan-
trópicos ou de iniciativa privada não devam atuar nas áreas da previdência (ex.
previdência privada), saúde (planos particulares) e assistência social (entida-
des beneficentes).
É importante lembrar que o orçamento destinado à seguridade social não
está desvinculado das influências politicas que podem beneficiar o trabalho ou
o capital, como podemos conferir no artigo de Boschetti e Salvador (2006, p.29):
capítulo 1 • 23
Com a intenção de utilizar os recursos destinados à seguridade social para
sustentar a política macroeconômica o governo de Fernando Henrique Cardoso
cria em 1994, a Desvinculação de Receitas da União (DRU), juntamente com im-
plantação do Plano Real, tendo como objetivo; aumentar a flexibilidade para
que o governo use os recursos do orçamento nas despesas que considerar de
maior prioridade e para permitir a geração de superávit nas contas do gover-
no, elemento fundamental para ajudar a controlar a inflação e combater a cri-
se econômica.
A Desvinculação de Receitas da União - DRU foi criada para dividir o orça-
mento do Governo Federal em duas partes: o orçamento fiscal e o orçamento da
seguridade social, isto é, transforma os recursos destinados ao financiamento
da seguridade social em recursos fiscais, para ser utilizado em projetos econô-
micos do governo.
ATIVIDADES
01. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), em seu artigo 1.º, estabelece a Política de
Seguridade Social não contributiva, contemplando a provisão dos mínimos sociais. Os estu-
dos realizados no âmbito do Serviço Social consideram como mínimo social:
24 • capítulo 1
a) A afirmação da qualidade de vida como modo de indenizar os excluídos.
b) A proposta minimalista num processo de inclusão social.
c) A incapacidade de se alcançar um padrão de vida mínimo.
d) O conjunto de possibilidades que assegurem condições de liberdade e sobrevivência.
e) Um padrão básico de proteção social.
REFLEXÃO
Vimos que no Brasil, não obstante o avanço considerável no sistema de proteção social,
segundo muitos autores nunca teve um Estado de bem-estar social em razão da ausência
dos pilares básicos: pleno emprego, políticas amplas de proteção social, pois esta é restrita
apenas as três políticas socais – previdência - saúde e assistência social, também pela frag-
mentação e precariedade das políticas sociais.
No contexto das reformas, percebemos uma apropriação indébita e fortemente ideoló-
gica da ideia reformista, como se qualquer mudança significasse uma reforma progressiva,
independente de seu sentido, consequências sociais e direção sociopolítica.
Com relação aos modelos de gestão da Seguridade Social percebemos claramente a
redução da esfera pública e a transferência das responsabilidades.
Referente aos princípios constitucionais e a relação de contributividade e usufruto das
políticas sociais de seguridade no Brasil, deixamos para amadurecimento teórico e reflexão
que, por meio da “injustiça procura-se alcançar a justiça”.
capítulo 1 • 25
LEITURA
SILVA, Ademir Alves. A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública
e o mercado. São Paulo: Cortez Editora, 3ª ed. 3ª reimpressão, 2013.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das políticas de
previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006.
BRAGA, Lea. REIS LEAL, Maria do Socorro. O Serviço Social na Previdência: trajetórias, projetos
profissionais e saberes. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
BRAVO, A. M. V.(Org). Saúde e Serviço Social. 3º edição. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2007.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Fator Previdenciário. Disponível em: < http://www.
previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182> acesso em: 30/05/2015.
______. Lei 8212 de 24/07/1997 sobre requisitos para isenção de contribuições ao INSS. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm acesso em 30/06/2015.
BRAVO, Maria Inês. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. 3ª. ed.
São Paulo: Cortez, 2010.
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e
saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social Brasileira: uma equação possível?.
8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 9ª. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
Gosta Esping-Andersen. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova no.24 São Paulo
Sept. 1991.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
Esboço de uma Interpretação histórico-metodológica. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MONTAÑO, C. A natureza do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2009.
NAKAHODO, Sidney Nakao; SAVÓIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil: estudo
comparativo dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Disponível em:<http://www.scielo.br/
pdf/rbcsoc/v23n66/03.pdf> acesso em 30/05/2015.
RAICHELIS, Raquel. “Legitimidade popular e poder público”. São Paulo: Cortez, 1988.
SILVA, Ademir Alves. A crise capitalista contemporânea e as relações entre Estado, mercado e
sociedade no âmbito das políticas sociais. IN: Ponto e Vírgula n.10, pp. 260-281, 2011. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/index/php/pontoevirgula/article.
26 • capítulo 1
__________ A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o mercado. São
Paulo: Cortez Editora, 3ª ed. 3ª reimpressão, 2013.
SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma questão de
debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
TEIXEIRA, Andrea de Paula. Política de Previdência Social in REZENDE, Ilma.; CAVALCANTI, Ludmila
Fontenele. Serviço Social e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
capítulo 1 • 27
28 • capítulo 1
2
A Atuação do
Assistente Social
nas Políticas
que compõem a
Seguridade Social
Neste capítulo, abordaremos a trajetória brasileira de regulamentação da atua-
ção dos assistentes sociais nas unidades estatais de ofertas dos serviços que
compõem a seguridade social; as políticas de saúde, assistência social e previ-
dência social.
Por se tratar de temas amplos e complexos, focaremos os sistemas de proteção
e as unidades estatais desde as conquistas pelos direitos ofertados de acordo
com a legislação pertinente.
Faremos um breve resumo da legislação pertencente em cada política da segu-
ridade social, as reformas que ocorreram dentro desse contexto e a conquista
em 2004 da assistência social como Politica Nacional de proteção social.
Serão apresentadas as formas de gestão e gerenciamento, as diretrizes e prin-
cípios, como são administrados os serviços, as formas de financiamento e os
benefícios dentro do contexto de cada política.
OBJETIVOS
• Conhecer o desenvolvimento histórico da política de Assistência Social e sua legislação,
como foco no momento de construção da Política Nacional de Assistência Social – PNAS e
a implantação do Sistema Único de Saúde – SUS, no âmbito da seguridade social.
• Compreender o desenvolvimento da Política de Saúde e da Previdência Social no Brasil,
contextualizando o tema, voltado para o sistema de proteção social.
• Refletir sobre a atuação do assistente social nas políticas que compõem a segurida-
de social.
30 • capítulo 2
2.1 Os Sistemas de Proteção e as Unidades
Estatais de Oferta de Serviços
2.1.1 Da Saúde
capítulo 2 • 31
ao tecnicismo, tinham como reivindicações; defesa da melhoria da saúde com
o fortalecimento do setor público; estudos e debates ampliados acerca da saú-
de e democracia. Havia também partidos políticos da oposição colocando em
pauta propostas na sua programática.
A Reforma Sanitária aconteceu no final da década de 70, trazendo grande
mobilização em prol ao processo de redemocratização do país, o qual passa-
va por grave crise econômica e social, esse Movimento culminou com a VIII
Conferência Nacional de Saúde em 1986, trazendo a saúde como um direito de
todos e dever do Estado.
32 • capítulo 2
participação da comunidade. O setor privado no sistema de saúde deverá ser
complementar, com as entidades filantrópicas sem fins lucrativos, sendo veda-
da a destinação de recursos públicos às instituições com fins lucrativos.
A iniciativa privada é livre para atuar na assistência à saúde (mediante, por
exemplo, a instalação de clínicas, consultórios, hospitais), esta atividade pre-
cisa ter caráter supletivo no SUS, mediante contratos de prestação de serviços
ou convênio.
Atualmente o sistema de saúde é gerenciado pelo SUS (regulamentado pela
Lei n. 8.080/90). As atribuições são marcadas pela ampla descentralização. De
acordo com a Lei 8.080/90 são princípios do SUS: universalidade, integrali-
dade e a equidade no acesso aos serviços de saúde de acordo com os seguin-
tes princípios:
capítulo 2 • 33
Para a efetiva implantação do SUS, tem-se como premissa a garantia do di-
reito à saúde através de ações de promoção, proteção e recuperação, baseando-
se principalmente nos princípios da universalidade, equidade e integralidade.
No entanto como bem ressalta Behring e Boschetti (2011, p. 163-164):
34 • capítulo 2
Em 2005 a Câmara dos Deputados realizou o 8º Simpósio sobre Política
Nacional de Saúde, onde foi lançada a Carta de Brasília em defesa do direito
universal e integral à saúde de acordo com a reforma sanitária e a Constituição
Federal de 1988.
No segundo mandato do governo Lula (2007-2010) pode-se destacar na área
da saúde; a polêmica em torno da legalização do aborto como problema de saú-
de, maiores restrições à publicidade de bebidas alcóolicas e a quebra da pa-
tente do medicamento Efavirenz (S.tocrin) – Merk Sharp & Dohme considerado
eficaz no combate a AIDS.
Além disso, ao mesmo tempo ocorreram proposições contrárias aos princí-
pios constitucionais como; novo modelo jurídico institucional para rede públi-
ca de hospitais com as criações das Fundações Estatais de Direito Privado não
exclusivas da saúde, enfraquecimento do controle social dentre outros.
Fato importante nesse período foi a 13ª Conferência Nacional de Saúde,
cujos temas centrais foram: Aborto e as Fundações. O primeiro não foi apro-
vado devido à tradição cultural do país e influência da Igreja Católica. O segun-
do foi aprovado em vários estados a partir de 2007, inclusive foi mantido no
Programa Mais Saúde.
A Saúde no primeiro mandato Governo Dilma teve a realização de pro-
gramas voltados para atenção à saúde da mulher e da criança, inclui a Rede
Cegonha da gestação aos primeiros anos de vida da criança (março de 2011).
Como recomendação para o sistema de saúde - prevenção, tratamento e reabi-
litação das mulheres acometidas com câncer de útero e mama.
Outros programas que entraram nesse período a compor a rede de serviços
do SUS foram; “Aqui Tem Farmácia Popular” (fevereiro de 2011) para hiperten-
sos e diabéticos; UPAS – Unidade de Pronto Atendimento 24 horas em todo o
Brasil; destacando a importância de formação e fixação dos profissionais de
saúde.
Nota-se que o modelo de gestão continua privilegiando o setor privado, pois
a política econômica do país está voltada para redução dos gastos públicos em
áreas prioritárias, e a saúde, vem sendo gradativamente sucateada por propos-
tas privatizantes, que ganham espaço junto às esferas decisórias das institui-
ções e adeptos, cujo lema é a defesa do deslocamento da universalidade e da
integralidade para o atendimento do mercado, isto é do lucro.
capítulo 2 • 35
2.1.2 Assistência Social
36 • capítulo 2
A Política Nacional de Assistência Social - PNAS que começou a ser implan-
tada em 2004, no governo Lula trouxe um novo desenho para a Assistência
Social ao prever a construção de um Sistema Único e estabelecer procedimen-
tos técnicos e políticos para sua organização, para a prestação de serviços so-
cioassistenciais, para sua gestão e financiamento.
A PNAS expressa à materialidade do conteúdo da Assistência Social como
um pilar do Sistema de Proteção Social Brasileiro no âmbito da Seguridade
Social.
Os mecanismos jurídicos de solidificação da assistência social foram a
LOAS, PNAS e o SUAS. A Lei 8.742/1993 representou uma regulamentação tar-
dia, a assistência social foi a última das três políticas da seguridade social a ser
regulamentada. Processo longo de embate entre o constituído, a não vontade
política de efetivá-la e o processo de luta pela categoria profissional no sentido
de concretizá-la.
Destaca-se o protagonismo do CFESS ao combater o veto do presidente
Collor de Melo no primeiro projeto da LOAS (apresentou projeto ao Congresso
e não foi aprovado) e várias emendas ao projeto de lei que foi sancionado.
De acordo com a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei 8.742/1993)
em seu Art. 1º: “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é
Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”. Regida pelos
seguintes princípios:
capítulo 2 • 37
A gestão das ações na área da assistência social será organizada “sob a for-
ma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de
Assistência Social (Suas)” (LOAS - Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011).
As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com
recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de ou-
tras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:
38 • capítulo 2
buscando recursos na área federal, já em outros municípios a descentralização
foi recebida positivamente.
capítulo 2 • 39
Quanto aos serviços:
Como teremos nesse livro um capítulo somente para a previdência social fare-
mos uma breve contextualização desse tema, voltado para o sistema de proteção.
“A previdência social será organizada sob forma de regime geral, de cará-
ter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o
equilíbrio financeiro e atuarial” (Art. 201, CF, 1988).
O trabalho assalariado é o elemento significativo que define a inclusão/fi-
liação na Previdência Social. “A Previdência brasileira concebida na lógica do
seguro social depende das contribuições dos empregados e empregadores, que
constituem sua principal base de financiamento” (Salvador, 2005, p. 9-10).
Não é necessário haver vínculo empregatício para ser “segurado”, isto é,
contribuir com o regime de previdência social, pois também são segurados os
trabalhadores avulso e autônomo, e estes não tem vínculo de emprego.
40 • capítulo 2
O RGPS – Regime Geral de Previdência Social foi regulado pela Lei n. 8.212
(Plano de Custeio da Seguridade Social – PCSS) e a Lei 8.213 (Plano de Benefícios
da Previdência Social – PBPS) ambas de 24/07/1991. Trata-se da cobertura das
contingências como; invalidez, morte, idade avançada dentre outros.
São segurados obrigatórios todos os que exercem atividade remunerada,
de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo empregatício: empregado,
empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado
especial (arrendatários rurais, meeiro e o produtor rural).
capítulo 2 • 41
2.2 A Trajetória Brasileira de
Regulamentação da Atuação dos Assistentes
Sociais nas Políticas de Saúde, Assistência
Social e Previdência Social
Os eixos de proteção social ficaram divididos em Proteção Social Básica e Proteção social
Especial de Média e Alta Complexidade:
A Proteção Social Básica tem como objetivo atender pessoas em situação de pobreza
abrangendo programas, projetos, serviços e a prestação dos benefícios: BPC – Benefício
de Prestação Continuada e Eventuais deverão ser articulados com as demais políticas
sociais e serão executados pelo Centro de Referência da Assistência Social – CRAS.
42 • capítulo 2
“Na assistência social, o Suas ainda não está presente em todos os municípios
e os Centros de Referencias de Assistencia social (CRAS) atingem, atualmente,
27,5% dos municípios brasileiros” Behring e Boschetti (2011, p. 163-164).
A Proteção Social Especial abrange os serviços de abrigamento de crianças,
adolescentes, jovens e idosos e pessoas com deficiência que não têm a proteção
de suas famílias, está dividida em Proteção de Média Complexidade que visa
o atendimento dos indivíduos com direitos violados, mas que não ocorreu o
rompimento familiar e ou comunitário e de Alta Complexidade: serviços que
garantem proteção integral - moradia, alimentação, higienização e trabalho
protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou,
em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou,
comunitário.
O financiamento previsto na Constituição Federal art. 195, sobre o
Financiamento da Seguridade Social acontece de forma direta e indireta com di-
versas fontes de receitas, já no sistema descentralizado e participativo da assis-
tência social, que se materializa por meio de um Sistema Único, o financiamento
é representado pelos Fundos de Assistência Social nas três esferas do governo.
A Política de Assistência Social como direito dos cidadãos e dever do Estado
muito avançou em sua estrutura jurídico-administrativa, no entanto carece de
ser materializada efetivamente, alargando a proteção social no sentido de rom-
per com a segregação de direitos.
Outro desafio para a política de proteção social é romper com o burocratis-
mo em que se revestem os instrumentos avaliadores da pobreza, indo além da
provisão imediata, com corte seletivo do direito aos que dela necessitam, como
a renda per capita para a concessão dos benefícios.
A assistência social não pode ser responsável pela precariedade do sistema
de saúde e educação no país. A proteção social exige a articulação das três polí-
ticas de seguridade social, saúde, assistência social e previdência, essa articula-
ção precisa acontecer de fato, pois o modelo econômico que enfrentamos é cen-
tralizador de riquezas e não redistributivo, ele exclui os já excluídos do sistema.
O Serviço Social passou a ser inserido nos serviços de saúde no Brasil somente
na década de 1940. Em 1948, ouve a implantação do Serviço social na dinâmica
do Hospital das Clínicas. Ao Serviço Social foi atribuída a triagem socioeconô-
capítulo 2 • 43
mica dos demandatários. Não se configurava ainda o direito universal a saúde,
com a Constituição Federal de 88 é que o direito da universalidade de atenção
foi efetivado.
A saúde como direito de todos e dever do Estado, conceito contido na
Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990 coloca em evidência as expres-
sões da questão social, pois as políticas sociais e econômicas visam à redução do
risco de doença e de outros agravos e “ao acesso universal e igualitário às ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196).
A Lei nº 8.080 foi criada para regular, em todo o território nacional, as ações
e serviços de saúde, também indica como fatores determinantes e condicionan-
tes da saúde, “entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o
meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso
aos bens e serviços essenciais” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º). Pois os parâme-
tros de saúde da população expressam a situação social e econômica do País.
“A presença do Serviço Social no Sistema Único de Saúde – SUS tem varia-
ções decorrentes da divisão do trabalho profissional adotada pelo serviço pres-
tado, os profissionais compõem equipes interprofissionais direcionadas para a
saúde da mulher, a saúde da família” (Sposati, 2013, p. 667).
O Serviço Social atende vítimas de violência/abuso sexual nos hospitais pú-
blicos com referência regional. Participa dos NASF – Núcleo de Apoio à Saúde
da Família e na Residência Multiprofissional em Saúde.
44 • capítulo 2
2.2.3 Atuação na Previdência Social
O assistente social atua dentro das agências do INSS como perito nas solici-
tações do BPC para pessoas com deficiência e atualmente atua também com a
inclusão dessas pessoas ao mercado de trabalho em parceria com instituições
capacitadas no processo de habilitação e reabilitação. Com esse trabalho “não
há articulação entre a ação das agências do INSS e o SUAS, não há vínculos,
nem territoriais, entre os profissionais dos CRAS e os das agências do INSS”
(SPOSATI, 2013, p. 666).
Os campos de trabalho dos assistentes sociais nas agências do INSS per-
manecem restritos a administração dos benefícios operados através de siste-
mas operacionais que tornam distantes o relacionamento humano, uma vez
que o sistema não permite trabalhar com as diferenças e particularidades de
cada usuário.
capítulo 2 • 45
ATIVIDADES
01. De acordo com a Constituição Federal de 1988 o tripé da seguridade social é compos-
to por:
a) assistência social, saúde e previdência social.
b) habitação, saúde e assistência social.
c) previdência social, educação e saúde.
d) previdência social, educação e cultura.
e) saúde, educação e cultura.
03. Segundo Ana Maria Vasconcelos, a atividade do plantão realizada pelos assistentes so-
ciais na Saúde mantêm características conservadoras históricas, são elas:
a) ações pontuais, imediatas e assistemáticas.
b) ações qualificadas baseadas no conhecimento do perfil da população usuária.
c) realização de pesquisas sobre a realidade e necessidades da população usuária.
d) construção de ações de continuidade e acompanhamento da demanda apresentada.
e) planejamento e sistematização das ações.
46 • capítulo 2
REFLEXÃO
Como vimos à política de Assistência Social de acordo com a Constituição Federal de 88,
possui caráter não contributivo, prestada somente a quem dela necessitar, independente-
mente de contribuição à seguridade social. No entanto vasculha a vida do usuário que preci-
sa se enquadrar na renda per capita exigida para ter direito aos benefícios.
Para o progresso na delimitação das atribuições e competências dos assistentes sociais,
torna-se necessário considerar as expressões específicas da questão social, pois no sistema
capitalista centralizador das riquezas e agravador das desigualdades sociais a investigação
da realidade é fundamental e precisa ser transversal a todas as ações.
A saúde única política de fato não contributiva, isto é, não precisa contribuir para ter
acesso no momento que necessitar, no entanto, todos os brasileiros pagam impostos que são
revertidos para as políticas de seguridade social, consta em sua legislação; toda a sociedade
é responsável pelo financiamento da seguridade social.
A saúde como direito de todos e dever do Estado, coloca em evidência as expressões da
questão social, pois as políticas sociais e econômicas visam à redução do risco de doença e
de outros agravos e “ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196).
Aos benefícios da previdência social, o acesso é restrito àqueles que contribuem com ou
sem vínculo empregatício. O Serviço Social na previdência está restrito a administração dos
benefícios operados através de sistemas que tornam distantes o relacionamento humano.
Esse fato lembra a concepção original da assistência como caridade, favor, quando se
expressava sem a participação dos usuários, sem a atuação dos assistentes sociais no sen-
tido de efetivar o acesso aos direitos.
Então, é preciso criar estratégias de luta e buscar o rompimento com as desigualdades
sociais através do enfrentamento da questão social, buscar uma política de distribuição de
renda, trabalho, salário e dignidade. “Não é uma causa perdida no horizonte da seguridade
social, e ela será mais visível, e factível, quanto mais elos forem estabelecidos entre as três
políticas que dela fazem parte” (SPOSATI, 2013, p.673).
capítulo 2 • 47
LEITURA
SPOSATI, Aldaíza. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho
do assistente social. Serv. Soc. & Sociedade, São Paulo, n.116, p. 652-674, out/dez. 2013.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das políticas de
previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006.
BUSS, P. M. A. CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 9º Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 7,
n. 3, set. 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1
991000300001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 01 jun. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
311X1991000300001
BRAGA, Lea. REIS LEAL, Maria do Socorro. O Serviço Social na Previdência: trajetórias, projetos
profissionais e saberes. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
BRAVO, A. M. V.(Org). Saúde e Serviço Social. 3º edição. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ,
2007.
_______. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. 3ª. ed. São Paulo:
Cortez, 2010.
_______. Mota, A. E. Política social no Brasil. Serviço Social e Saúde, 2ª edição, Ed. Cortez, 2007.
______. Política de saúde no Brasil. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. 2006.
Disponível em: http://www.servicosocialesaude.xpg.com.br/texto1-5.pdf. Acesso em: 16 nov. 2013.
______. CORREIA, M. V. C. Desafios do controle social, na atualidade. Serv. Soe. Soc.,
São Paulo, n. 109, mar. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S010166282012000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 jun. 2013.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Fator Previdenciário. Disponível em: < http://www.
previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182> acesso em: 30/05/2015.
______. Lei 8212 de 24/07/1997 sobre requisitos para isenção de contribuições ao INSS. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm acesso em 30/06/2015.
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e
saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social Brasileira: uma equação possível?.
8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
_______. (Org.). O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em
movimento. 3ª ed. São Paulo, Cortez, 2012.
48 • capítulo 2
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 9ª. ed. São Paulo: Cortez,
2006.
Gosta Esping-Andersen. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova no.24 São Paulo
Sept. 1991.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
Esboço de uma Interpretação histórico-metodológica. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MIOTO, Regina Célia Tamaso; NOGUEIRA, V. M. R. Sistematização, Planejamento e Avaliação das
Ações dos Assistentes Sociais no Campo da Saúde. In: MOTA, A. E.; BRAVO, M. I. S.; UCHÔA, R.;
NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R.; GOMES, L; TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço Social e Saúde: formação e
trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.
NAKAHODO, Sidney Nakao; SAVÓIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil: estudo
comparativo dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Disponível em:<http://www.scielo.br/
pdf/rbcsoc/v23n66/03.pdf> acesso em 30/05/2015.
PEREIRA, P. A. Necessidades sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
RAICHELIS, Raquel. “Legitimidade popular e poder público”. São Paulo: Cortez, 1988.
SILVA, Ademir Alves. A crise capitalista contemporânea e as relações entre Estado, mercado e
sociedade no âmbito das políticas sociais. IN: Ponto e Vírgula n.10, pp. 260-281, 2011. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/index/php/pontoevirgula/article.
__________ A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o mercado. São
Paulo: Cortez Editora, 3ª ed. 3ª reimpressão, 2013.
SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma questão de
debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
_________. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho do assistente
social. Serv. Soc. & Sociedade, São Paulo, n.116, p. 652-674, out/dez. 2013.
_________ (org.). Proteção Social de Cidadania: inclusão de idosos e pessoas com deficiência
no Brasil, França e Portugal. SP: Cortez, 2004.
TEIXEIRA, Andrea de Paula. Política de Previdência Social in REZENDE, Ilma.; CAVALCANTI, Ludmila
Fontenele. Serviço Social e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
capítulo 2 • 49
50 • capítulo 2
3
A Evolução
da Previdência
Social no Brasil
Neste capítulo, abordaremos a construção e evolução do Projeto de Previdência
Social no Brasil. Iremos identificar o surgimento das primeiras políticas sociais
no período do estado novo.
Abordaremos a gênese do Serviço Social Previdenciário e a histórica atuação do
assistente social nas políticas de seguridade social no Brasil. Focaremos o pro-
cesso de institucionalização do Serviço Social na organização previdenciária.
Iremos adentrar no processo de construção da matriz teórico-metodológica
que norteou o processo de inserção do Serviço Social na Previdência. Apre-
sentar as primeiras instituições assistenciais em nosso país e alguns benefí-
cios previdenciários.
No entanto, por se tratar de assuntos complexos, iremos fazer sugestões de lei-
turas complementares durante o decorrer do capítulo que se fazem necessárias
para complementar o estudo e enriquecer o embasamento teórico apresentado.
OBJETIVOS
• Conhecer o desenvolvimento histórico da política de Previdência Social no Brasil.
• Identificar o surgimento das primeiras políticas sociais no período do Estado Novo.
• Apresentar o processo histórico do Serviço Social Previdenciário.
52 • capítulo 3
3.1 Gênese da Previdência Social no Brasil
A Previdência Social brasileira teve início na Velha República, período em que
a economia do país girava em torno da monocultura do café e dependência do
capital internacional agroexportador.
“[...] o país ainda se caracterizava por ser essencialmente agrícola e agroex-
portador. Entre 1921 e 1930, o café representava 70% das exportações, e em 1920,
70% da população ativa trabalhava na agricultura.” (FALEIROS, 2000 p.141).
É importante lembrar que a partir de 1933 se definiu as bases do sistema
previdenciário brasileiro que vigorou até 1960.
Nesta época o projeto previdenciário se articulou a um conjunto de medidas
sociais e trabalhistas que integravam um novo patamar de acumulação capita-
lista no país, com base no processo de substituição das importações, através da
instalação de um parque industrial com a presença ativa do Estado na produ-
ção e reprodução social.
Nesta época a questão social era vista como caso de polícia, assim como a
pobreza, as reivindicações grevistas era uma realidade repetitiva sendo muitas
vezes encaradas como afrontas ao Estado Republicano e o tratamento dado a
esses movimentos eram de desordem era necessário conter essas reivindica-
ções intimidando os trabalhadores com repressão.
O governo precisava disciplinar e regulamentar o mercado de trabalho e a
incorporação dos direitos trabalhistas permitiu coibir as formas primitivas do
trabalho excedente.
Durante o processo histórico da Previdência, iremos notar durante o estudo
que ela passou por várias mudanças conceituais e estruturais, envolvendo, grau
de cobertura, benefícios oferecidos e a forma de financiamento do sistema.
No decorrer do capítulo iremos pontuar uma análise de cada fase histórica da
Previdência Social o que nos permitirá refletir sobre os progressos alcançados
ao longo de sua existência e as contrarreformas de cada governo.
capítulo 3 • 53
Em 1923 promulga a Lei Eloy Chaves a qual cria as Caixas de Aposentadorias
e Pensões - CAPs organizadas por empresas, financiamento Bipartite. O Estado
começava a intervir obrigando as empresas a criarem as CAPs, que eram orga-
nizadas e geridas por trabalhadores e empregadores.
A Lei tinha como foco os trabalhadores operários urbanos como os ferroviá-
rios, trabalhadores que eram de interesse das classes dominantes, pois estes
trabalhavam nas estradas de ferro por onde o café e suas sacas eram transpor-
tados. Passavam a ter direito a esses benefícios; como aposentadoria por idade
avançada, problemas de saúde ou devido Acidente de Trabalho.
É importante ressaltar que esses benefícios eram concedidos através de rei-
vindicações dos trabalhadores junto às empresas que eles possuíam vínculo em-
pregatício e que contribuíam com as Caixas de Aposentadorias e Pensões - CAPs.
Com a Revolução de 1930 e o Estado Novo Getulista (1930 – 1945), o país
começa a passar por mudanças na economia agroexportadora para urbano in-
dustrial. Surge então uma nova classe; a burguesia industrial e a classe média.
É no governo Vargas que a questão social passa a ser reconhecida juridica-
mente, como questão política legal e administrada através de políticas sociais,
com crescente intervenção estatal.
Utilizando da perspectiva de análise de Silva, (2007, 32) a política social:
54 • capítulo 3
ATENÇÃO
Diferenças entre CAPs e IAPs:
CAPs: Organizadas por empresas e administradas/financiadas por trabalhadores e em-
presários. As primeiras CAPs criadas foram dos ferroviários e portuários, categorias profis-
sionais estratégicas para a economia do período. Privilegiavam a assistência médica;
IAPs: Organizados por categorias profissionais, já com o Estado como um dos finan-
ciadores, junto com trabalhadores e empresários. Os primeiros IAPs criados foram os dos
marítimos, comerciários e bancários. Privilegiavam a previdência social.
capítulo 3 • 55
Previdência à proteção ao trabalhador rural, foi criado o Fundo de Assistência
ao Trabalhador Rural (FUNRURAL).
A criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (Decreto-lei
n°72/66) foi outro marco importante da Previdência Social, pois foi à reunião
dos Institutos de Aposentadorias e Pensões dentro do INPS. Neste mesmo ano
foi instituto o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço-FGTS, através da Lei n°
5.107, de 13 de setembro de 1966.
São dessa época a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em
1966, o fim da estabilidade no trabalho e a unificação da Previdência, com a criação
do Instituto Nacional de Previdência Social, que reunia todas as Caixas de Pensões e
os IAP’s, retirando de sua gestão a presença dos trabalhadores. Na área da Previ-
dência, também foi acionada a extensão dos benefícios aos trabalhadores rurais, sem
exigir sua contribuição ou a contribuição dos empregadores, desincumbindo, especial-
mente os últimos como forma de retribuir seu apoio ao regime, da obrigação de ban-
car parte dos benefícios sociais aos mesmos. Os benefícios também foram estendidos
aos autônomos e aos empregados domésticos (COUTO, 2000 p. 128-130).
56 • capítulo 3
especial dos acidentes do trabalho ao trabalhador rural que não tinham esses
direitos até então pela Previdência Social.
Em 1977 a Previdência passa por um grande processo de reestruturação
através da criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social –
SINPAS; sistema amplo abrangendo as seguintes instituições:
• Instituto Nacional de Previdência Social – INPS ficou restrito à concessão
dos benefícios.
• IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistencia
Social órgão de arrecadação e fiscalização da Previdência Social.
• Foi criado o INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social.
• Foi incorporado o CEME - Central de Medicamentos.
• DATAPREV – Órgão processador das informações previdenciárias, exis-
tente atualmente, para uso da população.
CURIOSIDADE
A Lei n° 6.439, de 1° de setembro de 1977, instituiu o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social – SINPAS, orientado, coordenado e controlado pelo Ministério da Previ-
dência e Assistência Social, responsável “pela proposição da política de previdência e as-
sistência médica, farmacêutica e social, bem como pela supervisão dos órgão que lhe são
subordinados” e das entidades a ele vinculadas.
capítulo 3 • 57
Quais foram os objetivos no sentido de cobertura previdenciária de acordo
com a Seção III da Constituição Federal:
58 • capítulo 3
Em 1990 foi instituído o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, diante
da fusão do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistencia
Social – IAPAS com o Instituto Nacional de Previdência Social –INPS.
As reformas que ocorreram na década de 90, conhecidas como Reforma da
Previdência ou contra reforma administrativa do Estado aconteceram com a
mesma intenção de extinguir direitos que foram arduamente conquistados, ou
inserir mecanismos burocráticos dificultadores de acesso aos benefícios.
A reforma previdenciária do governo de Fernando Henrique Cardoso acar-
retou impactos principalmente no sistema de concessão das aposentadorias
seja por tempo de contribuição ou tempo de serviço e quanto à idade mínima
para o trabalhador se aposentar.
A concretização da Contrarreforma Previdenciária se deu com a Proposta de
Emenda Constitucional - PEC nº 33 em 1995 e com a Emenda Constitucional
nº 20 de 15/12/1998, as quais:
– Extinguiram o auxílio-natalidade, o auxílio-funeral e a renda men-
sal vitalícia;
– A aposentadoria por tempo de serviço foi substituída pelo tempo de con-
tribuição (30 anos mulher e 35 anos homem);
– A aposentadoria proporcional ao tempo de serviço (25 anos mulher e 30
anos homem);
– Aposentadorias especiais ficaram restritas às atividades exercidas em con-
dições que prejudiquem a saúde física e mental (15,20 e 25 anos em situações
de alta periculosidade);
– Aposentadoria integral no setor público ficou fixado em 53 anos para o
homem e 48 anos para a mulher.
capítulo 3 • 59
CURIOSIDADE
“É aplicado para cálculo das aposentadorias por tempo de contribuição e por idade, sendo
opcional no segundo caso. Criado com o objetivo de equiparar a contribuição do segurado ao
valor do benefício baseia-se em quatro elementos: alíquota de contribuição, idade do traba-
lhador, tempo de contribuição à Previdência Social e expectativa de sobrevida do segurado”
(BRASIL, 2011).
60 • capítulo 3
redução do imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) à indústria automo-
tiva. Com isso o Governo deixou de arrecadar R$ 16 bilhões em 2013. Em 2014 o
déficit ficou previsto em R$ 19 bilhões.
Em abril de 2012 o Congresso aprova a Lei nº 12.618 visando à regulamen-
tação do Regime de Previdência Complementar Privada para os servidores
dos três poderes, denominadas Fundação de Previdência Complementar do
Servidor Público Federal - Funpresp do Poder Executivo, Legislativo e do Poder
Judiciário.
Recentemente a Presidente Dilma por força da Medida Provisória 664/2014
altera os seguintes benefícios:
a) Auxílio- doença a ser pago pelo INSS ao segurado incapacitado a contar
do 31º do afastamento, se requerido em até 45 dias deste;
b) Aposentadoria por invalidez – a data do início será a partir do 31º, os
primeiros 30 dias deverão ser pagos pelo empregador;
c) Pensão por Morte – antes sem carência passou a ter de 24 meses Exceto
se o segurado estava em auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou morte
por acidente de trabalho. O cônjuge, companheiro ou companheira não terá
direito ao benefício da pensão por morte se o casamento ou o início da união
estável tiver ocorrido há menos de dois anos da data do óbito do instituidor do
benefício, salvo nos casos em que:
1. Óbito do segurado decorrente de acidente posterior ao casamento
ou união estável.
2. cônjuge, o companheiro ou a companheira for considerado incapaz
e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade remunerada
que lhe garanta subsistência, mediante exame médico-pericial a cargo
do INSS, por doença ou acidente ocorrido após o casamento ou início da
união estável e anterior ao óbito. A pensão por morte passou a ser tempo-
rária ou vitalícia, a depender da expectativa de sobrevida do dependente
aferida no momento do óbito do instituidor segurado.
d) Auxílio-reclusão – também passou a ter carência de 24 meses.
Notamos no decorrer do estudo uma desconstrução dos Princípios
Constitucionais com focalização das políticas sociais em contraponto a univer-
salidade. As Políticas Sociais são grande campo de interesse para o capital fi-
nanceiro, não ocorre à aplicação dos dispositivos constitucionais para o finan-
ciamento da seguridade social/previdência, o pagamento dos benefícios fica
restrito às contribuições sociais e não são incluídos nos demais elementos de
financiamento da seguridade social.
capítulo 3 • 61
No entanto, percebemos no decorrer da história, o sucateamento dos di-
reitos sociais conquistados ao longo de décadas, com a justificativa que a
Previdência Social não possui recursos financeiros suficientes para custear os
diversos direitos; extinguindo alguns e dificultando o acesso a eles. Os direitos
da Previdência Social foram conquistados através de muita luta pela classe tra-
balhadora, temos que continuar lutando pelos direitos constituídos e por um
sistema previdenciário sustentável.
Nesta época o governo de Getúlio Vargas começa perder o apoio político in-
viabilizando o Projeto de Reforma Previdenciária que objetivava a ampliação do
sistema previdenciário, inspirado na proposta Beveridge, modelo de proteção
social usado na Inglaterra. Resultando na não uniformização e não unificação
62 • capítulo 3
do Sistema, embora o direito da universalidade tivesse o intuito de abranger
todos os cidadãos, aqueles que contribuíssem e os que não contribuíssem.
Precisamos refletir se o direito era universal a todos os cidadãos, porque
para ter direito a assistência era necessário o teste meritocrático da pobreza.
CONEXÃO
Para entender melhor o Plano Beveridge ver www.bibliotecadigital.unicamp.br/
document/?code=000772716
A Previdência Social organizada na forma desta lei, tem por fim assegurar aos seus
beneficiários os meios indispensáveis de manutenção, por motivo de idade avançada,
incapacidade, tempo de serviço, prisão ou morte daqueles de quem dependiam eco-
nomicamente, bem como a prestação de serviços que visem à proteção de sua saúde
e concorram para o seu bem-estar.
capítulo 3 • 63
O Serviço Social dentro da Previdência acontecia nos Centros de Serviço
Social, sendo estes, unidades próprias, com orçamento próprio, cujo trabalho
era desenvolver programas socioassistenciais.
Além da atuação dos assistentes sociais na assistência médica, na reabilita-
ção e no setor de gerenciamento de pessoal o Serviço Social passava a ser inseri-
do na direção nacional e nas projeções regionais da Previdência Social, as ações
desenvolvidas eram de execução, supervisão e planejamento.
Podemos resumir que a implantação do Serviço Social na Previdência foi
alicerçado em três eixos:
• Humanizador da burocracia institucional, centrado na relação sujeito tra-
balhador/organização previdenciária;
• Ação socioeducativa, com ênfase na atuação dos conjuntos habitacionais
financiados pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões -IAPs;
• Atuação voltada para a solução de problemas.
64 • capítulo 3
3.3 Historicidades do Serviço Social na
Previdência Social Brasileira
capítulo 3 • 65
No ciclo das reformas neoliberais a Previdência é duramente atingida, tanto
nos direitos previdenciários, quanto nas condições de trabalho. Esse processo
tem início no governo Collor de Mello.
Como foi vimos no item anterior a Previdenciária passou por diversas refor-
mas dentre elas, destaca-se a Medida Provisória 1729, de 02/12/1998, do gover-
no Fernando Henrique Cardoso que extinguiu o Serviço Social das prestações
da Previdência.
Os assistentes sociais como reação à Medida Provisória citada se mobili-
zam, por meio de seus órgãos de representação, e na articulação com outras
entidades sindicais conseguiram reverter à medida, o que representou uma vi-
tória desse processo de mobilização.
O Serviço Social começa a entender que os direitos previdenciários, garan-
tido pelo Estado, em face ao desgaste provocado pelos ajustes neoliberais esti-
mulam a Previdência de Mercado, convertida, agora, em estratégia para gera-
ção e capitalização de poupança voltada para o lucro.
“No horizonte neoliberal ou liberal, a perspectiva da proteção social tornar-
se o mais reduzido possível e contrapor a dependência com a condição de ser
consumidor” (SPOSATI, 2013, p. 658) e continuar gerando lucro para o merca-
do capitalista.
Durante um longo processo de conquistas os assistentes sociais se esfor-
çaram para compreender o significado do momento atual, como oportunida-
de histórica de superar e romper com padrões tradicionais de subalternidade
que marcaram esse campo de atenção às necessidades sociais dos segmen-
tos populares.
Lembrando que a reorientação da profissão teve como marco o início dos
anos 80, as questões teórico-metodológicas que permeavam a prática profissio-
nal estavam em busca de um projeto profissional com visão crítica da realidade
percorrendo um caminho de ruptura com o modo de agir e pensar do Serviço
Social conservador.
A profissão começa a ser entendida como fenômeno histórico determinado
nas relações sociais de produção, pela competência técnica dos profissionais
da área de redefinir-se e legitimar-se na ótica dos interesses dos usuários. As
demandas e atribuições se revelam na trama das relações sociais, particular-
mente, nas respostas da sociedade no enfrentamento das questões sociais.
66 • capítulo 3
É importante lembrar que a questão social está enraizada na contradição
capital X trabalho, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âm-
bito do modo de produção capitalista.
Na década de 90, aconteceu “um amplo debate em torno das políticas so-
ciais públicas, em especial da assistência social, situada no campo dos direitos
sociais, na teia das relações entre Estado e Sociedade Civil” (IAMAMOTO, 2012,
p. 51).
Assim sendo, essa dimensão politica contribuiu para a articulação entre o
projeto profissional e o projeto societário que apontava para a construção de
uma nova ordem social que lutava para superar a exploração de classe, gênero e
etnia, fortalecendo o debate sobre a identidade da profissão.
Para entendermos o contexto do Serviço Social na Previdência foi necessário
situar rapidamente o processo histórico que a profissão estava enfrentando e os
novos rumos teórico-metodológicos em busca de um novo projeto profissional.
As competências profissionais na Previdência são definidas a partir do di-
reito social, por outro lado à dimensão politica do projeto profissional se po-
siciona na perspectiva da universalização dos programas e políticas sociais
como ampliação da cidadania na perspectiva do acesso aos bens e serviços so-
cialmente produzidos, pressuposto para a emancipação e plena expansão dos
indivíduos.
“As diretrizes norteadoras desse projeto de desdobraram no Código de
Ética Profissional do Assistente Social, de 1993, na Lei da Regulamentação da
Profissão de Serviço Social” (IAMAMOTO, 2012, p. 50) e nas Diretrizes Gerais
para o Curso de Serviço Social.
O Serviço Social começa atuar na politica social previdenciária sob a ótica
do direito social e da cidadania, contribuindo para viabilizar o acesso aos be-
nefícios e serviços previdenciários e garantir as reivindicações da população.
capítulo 3 • 67
Em articulação com os movimentos organizados da sociedade colaborou para
a formação de uma consciência coletiva de proteção ao trabalho no âmbito da
Previdência Pública.
Nessa perspectiva as ações profissionais estavam ligadas as informações
previdenciárias, com vistas ao encaminhamento para o acesso ao direito, am-
pliando essas possibilidades. Os profissionais trabalhavam na perspectiva de
fortalecimento de ações grupais, contribuíam para o fortalecimento da cons-
ciência coletiva de proteção previdenciária.
Os assistentes sociais junto aos movimentos sociais lutavam para o avanço
qualitativo do atendimento e a sistematização de novas reivindicações relativas
à proteção previdenciária. Os instrumentais técnicos utilizados eram entrevistas,
visitas domiciliares, relatórios, pareceres sociais, reuniões, pesquisa e outros.
[...] dar assistência “às famílias dos convocados”, passando depois a atuar praticamen-
te em todas as áreas de assistência social. Nesse sentido, ela se constitui em meca-
nismo de grande impacto para a reorganização e incremento do assistencial privado
e desenvolvimento do Serviço Social. Oferecem um sólido apoio às escolas especiali-
zadas existentes e viabilizando o surgimento de escolas de Serviço Social nas capitais
de diversos estados, atuando, geralmente, em convênio com os movimentos de ação
social católica (IAMAMOTO E CARVALHO, 2000).
68 • capítulo 3
Assim como a LBA, outras instituições sociais foram criadas gradualmente,
tais como Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, Serviço Social
da Indústria - SESI e Fundação Leão XIII, dentre outras.
O SENAI foi criado em 1942, com o objetivo de administrar e organizar as es-
colas de aprendizagem para industriários em todo Brasil. Segundo Iamamoto e
Carvalho, o SENAI despontou:
capítulo 3 • 69
As ações dessa instituição aconteceram com grande apoio do Estado e da
Igreja Católica através da implantação dos Centros de Assistência Social nas
próprias “favelas”, oferecendo serviços de saúde e Serviço Social (quando apa-
rece o Serviço Social de Grupo), constatando que o problema das “favelas” ne-
cessitava de educação popular.
Lembrando que a Previdência Social também faz parte do leque histórico de
instituições assistenciais, já foi vista em subitens anteriores.
ATIVIDADES
01. (FUNRIO-INSS/2009) Segundo a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL),
citada por Boschetti (2008), a Reforma da Previdência brasileira, no que diz respeito à sua
natureza, pode ser classificada como:
a) progressista.
b) recessiva.
c) paramétrica.
d) estrutural.
e) global.
02. (FUNRIO-INSS/2009) Mota (2005) defende que, a partir da década de 1980, as ten-
dências da seguridade social brasileira expressam a formação de uma cultura política da
crise, marcada, fundamentalmente,
a) pela abertura do debate sobre a assistência social como um direito.
b) pela luta em torno da constituição do tripé da seguridade social.
c) pelo pensamento privatista e pela constituição do cidadão-consumidor.
d) pelo marco referencial da 8ª Conferência Nacional de Saúde na viabilização do SUS.
e) pela universalização da Previdência Social no Brasil.
03. (FUNRIO-INSS/2009) Segundo Iamamoto (2007), nas duas últimas décadas, o debate
sobre os fundamentos do Serviço Social podem ser situados em três grandes eixos temáticos:
a) a questão social, as transformações no mundo do trabalho e o terceiro setor.
b) o Projeto Ético-Político, a mundialização capitalista e as formas de vulnerabilidade social.
c) as especificidades étnicas e de gênero, proteção social e neoliberalismo.
d) a economia política, pós-modernidade e instrumentalidade profissional.
e) o resgate da historicidade da profissão, a crítica teórico-metodológica e a política so-
cial pública.
70 • capítulo 3
REFLEXÃO
Na trajetória histórica da Previdência Social notamos que ela tem sido um importante meca-
nismo de regulação do mercado de trabalho e reprodução social, pois em cada momento his-
tórico que o país passou incorporou direitos e reivindicações dos trabalhadores, ou atendeu
mais ao interesse do capital, aumentando a competitividade do mercado de trabalho, através
das reformas (ou contrarreformas), aditamento das aposentadorias dentre outros.
Vimos as “reformas” que o Estado passou devido às crises econômicas e sociais que
tiveram início nos anos 80. “Reformando-se o Estado, com ênfase especial nas privatizações
e na previdência social, e acima de tudo desprezando as conquistas de 1988” [...] (BEHRING
e BOSCHETTI, 2011, p.148), com a Constituição Federal no que se refere aos direitos da
seguridade social.
No decorrer do estudo foi possível compreender a historicidade do Serviço Social no
contexto histórico da época, conhecemos as primeiras instituições assistenciais e como
aconteceu a inserção da profissão na Previdência Social. As mudanças no contexto social e
político que influenciaram a construção da matriz teórico-metodológica que norteou o pro-
cesso de inserção do Serviço Social na Previdência.
Conhecemos as diversas reformas previdenciárias que aconteceram nos Governos; Fer-
nando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, através de emendas
constitucionais que provocaram desmontes de direitos que foram arduamente conquistados,
sempre com o pretexto de que o país para crescer precisa passar por reforma previdenciária.
LEITURA
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos pro-
fissionais e saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das políticas de
previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006.
BRAGA, Lea. REIS LEAL, Maria do Socorro. O Serviço Social na Previdência: trajetórias, projetos
profissionais e saberes. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
capítulo 3 • 71
BRAVO, A. M. V.(Org). Saúde e Serviço Social. 3º edição. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ,
2007.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Fator Previdenciário disponível em: < http://www.
previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182> acesso em: 30/05/2015.
BRAVO, Maria Inês. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. 3ª. ed.
São Paulo: Cortez, 2010.
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e
saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social Brasileira: uma equação possível?.
8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 8ª. ed. ver. São Paulo: Cortez,
2000.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
Esboço de uma Interpretação histórico-metodológica. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
NAKAHODO, Sidney Nakao; SAVÓIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil: estudo
comparativo dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Disponível em:<http://www.scielo.br/
pdf/rbcsoc/v23n66/03.pdf> acesso em 30/05/2015.
PEREIRA, P. A. Necessidades sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma questão de
debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
TEIXEIRA, Andrea de Paula. Política de Previdência Social in REZENDE, Ilma.; CAVALCANTI, Ludmila
Fontenele. Serviço Social e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
72 • capítulo 3
4
Os Programas de
Transferência de
Renda na Política
Social
Neste capítulo, iremos realizar um debate conceitual acerca dos principais pro-
gramas de transferência de renda que fazem parte da Politica Nacional de Assis-
tência social regulamentados pelo Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
Em continuidade aos estudos que envolvem a política de assistência social,
abordaremos nesse capítulo como se distribuem os programas de transferên-
cia de renda no Brasil com enfoque para o Programa Bolsa Família.
Faremos um breve relato sobre o Centro de Referência da Assistência Social -
CRAS, unidade pública de base territorial, localizado em áreas de vulnerabili-
dade social é considerado porta de entrada da população aos serviços assisten-
ciais, inclusive aos programas de transferência de renda. Além de executar os
serviços de proteção social básica, tem como função organizar e coordenar a
rede de serviços socioassistenciais locais.
Constituem conceitos relevantes dentro dos assuntos aqui abordados, com-
preender as formas de gestão e gerenciamento, as diretrizes e princípios, como
o Governo Federal através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate
a Fome administram os serviços, as formas de financiamento e os benefícios
dentro de cada esfera de governo.
OBJETIVOS
• Apresentar um breve histórico dos principais programas de transferência de renda e seus
usuários de acordo com as bases conceituais proposta pela Política Nacional de Assistên-
cia Social.
• Conhecer a organização do Centro de Referência da Assistência Social - CRAS, um dos
equipamentos de execução da política de assistência social.
• Compreender o retrato da família atual, a importância da matricialidade sociofamiliar nos
programas sociais e o acompanhamento das famílias nos Centro de Referência da Assistên-
cia Social - CRAS.
74 • capítulo 4
4.1 Histórico e Principais Programas de
Transferência de Renda no Brasil
[...] e são compreendidos como aqueles que atribuem uma transferência monetária
a indivíduos ou famílias, de forma compensatória, com vistas a romper com o ciclo
vicioso que aprisiona grande parte da população brasileira nas amarras da reprodução
da pobreza (SILVA-e-SILVA et. al, 2004, p. 19).
capítulo 4 • 75
programas de transferência de renda com critérios e controles definidos pelos
Municípios, Estados e Distrito Federal.
No Brasil, atualmente para ter acesso aos programas de transferência de
renda, as famílias devem ser cadastradas no Cadastro Único para Programas
Sociais (CadÚnico) – regulamentado pelo Decreto n° 6.135/07 – destinado a
identificar e caracterizar as famílias com renda per capita de até ½ salário mí-
nimo ou renda familiar total de até três salários mínimos. Esse cadastro tem
como finalidade possibilitar uma análise socioeconômica dessas famílias, com
vistas a inseri-las em programas sociais do Governo Federal.
O primeiro programa governamental com caráter de transferência de ren-
da no Brasil foi o Programa Bolsa Escola no segundo mandato do governo de
Fernando Henrique Cardoso (1999-2002).
Foram sete os principais programas federais até março de 2003, o Bolsa Escola,
o Cartão Alimentação, O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), o
Auxílio Gás, o Bolsa Alimentação, o Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento
Social e Humano e o Benefício de Prestação Continuada – BPC.
O Bolsa Escola
76 • capítulo 4
O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI
O Bolsa Alimentação
capítulo 4 • 77
O Benefício de Prestação Continuada – BPC
Além dos sete principais existem os braços dos programas como o BPC na
escola criado pela Portaria Interministerial nº 18/2007, público alvo são bene-
ficiários do BPC com deficiência, de 0 a 18 anos, com objetivo de promover o
acesso e permanência na escola. Com o objetivos de identificar os beneficiários
que estão na escola e fora dela por meio do pareamento anual dos dados do BPC
e do EducaCenso, identificar, por meio de visitas domiciliares, as principais
barreiras que impedem o acesso e a permanência na escola desse público alvo.
Dados atualizados do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a
fome demonstra que o Benefício de Prestação Continuada (BPC) já alcança 3,1
milhões de beneficiários, sendo 1,5 milhão de idosos e 1,6 milhão de pessoas
com deficiência.
A Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004, criou o segundo maior programa
de transferência de renda no Brasil, o Programa Bolsa Família – PBF, no gover-
no de Luís Inácio Lula da Silva, um programa de governo que assumiu a política
social para atender as famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, sua
concessão direcionada por uma extrema focalização e seletividade. De acordo
com Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a fome o Programa Bolsa
Família (PBF) beneficia 12 milhões de famílias.
78 • capítulo 4
Com a criação do Programa Bolsa Família PBF ocorreu a unificação dos três
programas que já existiam, o Bolsa-Escola, o Bolsa Alimentação e o Auxílio-Gás.
Assim, unificou também as ações dos governos federal, estaduais e municipais
em um único programa de transferência direta de renda por meio de convê-
nios, como veremos melhor a seguir.
capítulo 4 • 79
exigências, ligadas às políticas sociais básicas de saúde, educação e assistên-
cia social estão: a renda mensal por pessoa, o número de integrantes, o total
de crianças e adolescentes de até 17 anos, além da existência de gestantes
e nutrizes.
CONEXÃO
Paulo Gabriel Martins de Moura publicou artigo sobre o programa de transferência de Ren-
da “Bolsa Família: projeto social ou marketing político?” interessante à visão do autor, pois
permite aos assistentes sociais refletir sobre as políticas públicas, as quais atuam e perceber
que além do combate à fome como bem lembra o autor, existe a necessidade de políticas pú-
blicas de combate a inflação, ao desemprego, aos problemas de saúde, da educação e da se-
gurança pública. Artigo completo disponível em: www.scielo.br/pdf/rk/v10n1/v10n1a13.pdf
80 • capítulo 4
Benefício Básico: R$ 77
capítulo 4 • 81
após o recebimento dos outros benefícios. Ele é calculado para garantir que as
famílias ultrapassem o limite de renda da extrema pobreza.
Atualmente, os valores pagos pelo Bolsa Família variam de R$ 22,00 a
R$ 200,00, de acordo com a renda mensal por pessoa da família e o número
de crianças.
O Programa Bolsa Família completou 10 anos em 2013 e o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, publicou em seu relatório de ges-
tão 2013 a quantidade mensal de famílias selecionadas para a concessão de be-
nefícios do PBF – Programa Bolsa Família por região segue gráfico abaixo:
10% Sul
9% Centro-Oeste
30% Nordeste
33% Sudeste
18% Norte
82 • capítulo 4
Em uma conjuntura social adversa, é relevante analisar o significado que os serviços e
benefícios sociais passam a ter para os trabalhadores precarizados. Também são conhe-
cidos os impactos dos benefícios sociais como o Bolsa Família ou a aposentadoria rural
nas economias locais, especialmente nos pequenos municípios dependentes da agricul-
tura, que em muitos casos constituem as mais significativas fontes de renda a movimen-
tar o mercado interno de bens e serviços essenciais (COUTO e cols., 2012, p.68).
Não podemos esquecer que décadas de clientelismo consolidou neste país uma
cultura tuteladora que não tem favorecido o protagonismo nem a emancipação dos
usuários das políticas sociais, especialmente da Assistência Social (os mais pobres).
Ou seja, permanecem nas políticas de enfrentamento à pobreza brasileira concepções
e práticas assistencialistas, clientelistas e patrimonialistas, além da ausência de parâ-
metros públicos no reconhecimento de seus direitos, reiterando a imensa fratura entre
direitos e possibilidades efetivas de acesso as políticas sociais de modo geral. Ao
contrário, carências se acumulam e se sobrepõem, desafiando possíveis soluções e
deixando de lado grandes segmentos populacionais desprovidos de qualquer sistema
público de proteção social (YAZBEK e cols, 2004, p. 105).
capítulo 4 • 83
que os parâmetros de integração das políticas sociais sejam repensados, a partir
de formatos mais claros e em conjunto com as políticas de outras áreas para que o
modelo de proteção social brasileiro atinja seu objetivo de seguridade social.
84 • capítulo 4
A partir da implantação da Política Nacional de Assistência Social surgiram
novos debates a fim de compreender a família, pois ela deixa de ser sujeito das
ações assistencialistas e passa ser o foco da política pública de assistência so-
cial, no entanto é preciso cautela para não sobrecarregar essas famílias exigin-
do que assumam novas responsabilidades diante do Estado e da sociedade.
As reflexões de Couto e cols (2012, p.79) “as metodologias de atendimento
às famílias precisam ser revistas, o padrão burguês de funcionamento familiar
continua a pautar a forma de compreender a tarefa de atender as famílias”.
capítulo 4 • 85
dos de complexidade na organização dos equipamentos públicos de proteção
social básica e especial, em que se destacam os Centros de Referência da Assis-
tência Social – CRAS e os Centros de Referência Especializado da Assistência
Social – CREAS, como unidades de prestação de serviços e de articulação da
rede de atenção socioassistencial destinada à população usuária, tendo como
eixos estruturantes as necessidades sociais das famílias em seus territórios,
considerando-se as particularidades regionais e locais.
Como neste item iremos tratar apenas dos Centros de Referência da
Assistência Social – CRAS, referente à reorganização e prestação dos benefícios
e serviços socioassistenciais prestados nesses locais, o que precisa ficar claro é
que esses serviços vêm cooperar com as medidas de prevenção e proteção, em
seus distintos níveis de complexidade técnica, de forma a possibilitar o atendi-
mento das necessidades humanas básicas, assim como contribuir para o en-
frentamento das contradições sociais, decorrentes dos processos de vulnerabi-
lidade social, opressão, superexploração e violência.
De acordo com os dados preliminares do Censo SUAS 2009, já são aproxima-
damente 5.800 CRAS, distribuídos por mais de 4.300 municípios brasileiros.
“OS CRAS são equipamentos estatais em territórios de vulnerabilidade e ris-
co social e referenciam o atendimento a mais de 8 milhões de famílias em 1.619
municípios brasileiros” (LOPES, 2006). Visando o atendimento de adolescentes
e jovens foi criado o projeto Agente Jovem, também faz parte da rede de serviços
do CRAS o Benefício de Prestação Continuada – o BPC, “o benefício assistencial
que atualmente atende 2,3 milhões de pessoas idosas ou com deficiência, que
recebem o benefício mensal de um salário mínimo” (LOPES, 2006).
O CRAS atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, visando
à orientação e o convívio sócio-familiar e comunitário. O trabalho com famílias
no CRAS deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes
arranjos familiares e partir do suposto de que são funções básicas das famílias:
• Prover a proteção e a socialização dos seus membros.
• Constituir-se como referencia moral, de vínculos afetivos e sociais e de
identidade grupal.
• Ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições
sócias e com o Estado.
No âmbito da assistência social, a existência dos CRAS e dos CREAS cria opor-
tunidade inédita de qualificação e articulação dos serviços, programas, projetos
e benefícios voltados para o atendimento das necessidades sociais da população.
86 • capítulo 4
Nesse contexto, o Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, como
lugar da realização do trabalho profissional, é uma inovação no campo da polí-
tica de assistência social e é considerado um importante equipamento da pro-
teção social básica. A composição de sua equipe de referência é regulamenta-
da pela Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS - NOB-RH/
SUAS e depende do número de famílias referenciadas.
Diversas são as atribuições do assistente social que atua no CRAS, mas é impor-
tante destacar algumas: realizar acolhimento, ofertar informações e realizar enca-
minhamentos às famílias usuárias; mediar os processos grupais do serviço socioe-
ducativo para famílias; realizar atendimento individualizado e visitas domiciliares;
desenvolver atividades coletivas e comunitárias no território, dentre outras.
A atuação do assistente social no CRAS não pode se restringir à execução de
tarefas burocráticas e ao acompanhamento dos programas e benefícios esta-
duais e federais; esse profissional deve atuar junto à população, na viabilização
do acesso a direitos, além de articular a rede de serviços do território de abran-
gência, juntamente com o restante da equipe.
Cabe destacar que o trabalho social com famílias depende de um investi-
mento e uma predisposição de profissionais de diferentes áreas a trabalharem
coletivamente, com objetivo comum de apoiar e contribuir para a superação
das situações de vulnerabilidade e fortalecer as potencialidades das famílias
usuárias dos serviços ofertados. Nesse sentido, tanto o CRAS como o CREAS,
dentre outros serviços da assistência social, são compostos por equipes
interdisciplinares.
capítulo 4 • 87
Na unidade pública-Estatal – CRAS, os serviços socioassistenciais da pro-
teção social básica visam o trabalho social com famílias em situação de vul-
nerabilidade social, realiza o acompanhamento familiar, ações preventivas
e acesso aos programas de transferência de renda, como: Programa Bolsa
Família e orientação e encaminhamento para acesso ao Benefício de Prestação
Continuada – BPC e Eventuais.
Dentro desse contexto encontra-se:
O Serviço de proteção e atendimento integral à família (PAIF), os usuários
desse serviço são famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente da
pobreza, do precário ou nulo acesso aos serviços públicos, da fragilização de
pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de vulnerabilidade
e risco social, em especial:
• Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e benefí-
cios assistenciais.
• Famílias que atendem os critérios de elegibilidade a tais programas ou
benefícios, mas que ainda não foram contemplados.
• Famílias em situação de vulnerabilidade em decorrência de dificuldades
vivenciadas por algum de seus membros (deficientes ou idosas).
88 • capítulo 4
Composição da equipe volante:
• 02 (dois) técnicos de nível superior (sendo 01 assistente social e 01 prefe-
rencialmente psicólogo):
• 02 (dois) técnicos de nível médio.
De acordo com o território e como forma de garantir o acesso à população
que necessita do Serviço Social, as lanchas da Assistência Social que viabilizam
o acesso a direitos e serviços públicos para as populações que vivem em territó-
rios mais isolados, como as ribeirinhas.
A atuação do assistente social no CRAS não pode se restringir à execução de
tarefas burocráticas e ao acompanhamento dos programas e benefícios esta-
duais e federais; esse profissional deve atuar junto à população, na viabilização
do acesso a direitos, além de articular a rede de serviços do território de abran-
gência, juntamente com a equipe interdisciplinar.
ATIVIDADES
01. (INSS/Funrio/2009) O SUAS define e organiza os elementos essenciais à execução da
política de assistência social, possuindo como eixos estruturantes:
a) O controle social e empresarial.
b) A defesa social e segurança socioassistencial.
c) A vulnerabilidade social e espacial.
d) O plantão social e psicológico.
e) A matricialidade sócio-familiar e territorialização.
02. A redução das políticas sociais públicas, como parte dos preceitos neoliberais, vem sen-
do acompanhada, desde finais da década de 1980, por uma expansão de programas de
transferência de renda em toda a América Latina. Uma das principais características desta
modalidade de política social é:
a) possuir um caráter preventivo à vulnerabilidade social.
b) instituir-se universalmente.
c) minimizar situações sociais já instaladas.
d) constituir-se como seguro social.
e) assegurar as necessidades básicas dos usuários.
capítulo 4 • 89
03. A PNAS – Política Nacional de Assistência Social, bem como várias outras políticas
sociais brasileiras, focam suas ações na família. Um dos princípios da PNAS é o da matricia-
lidade familiar. Esse princípio dispõe que nos trabalhos a serem realizados com as famílias
DESCONSIDERE- SE:
a) a perspectiva de se centrar não apenas nas vulnerabilidades, mas nas potências e dese-
jos da família e de seus membros.
b) o levantamento dos serviços e programas relativos às várias políticas públicas.
c) o conhecimento sistematizado do perfil da população e dos respectivos territórios de
incidência das ações.
d) o quadro de recursos humanos a ser utilizado, capacitado e supervisionado.
e) a visão de atomização e individualização da família, atribuindo-lhe a solução de
seus problemas.
REFLEXÃO
Neste capítulo foi realizado debate conceitual de alguns pontos em discussão partindo
de uma caracterização dos desenhos institucionais dos programas de transferência de renda
no Brasil, com enfoque para os programas federais, como; o Bolsa Família e o Benefício de
Prestação Continuada – BPC.
Dentro do contexto de política de assistência social como tirar a “culpa” dos usuários que
dela “necessitam” e passar a tratá-los como sujeitos de direitos com relação aos benefícios,
serviços, programas e projetos, pois, considerando a história do país; pobreza e desigualdade
são fenômenos complexos, com forte persistência não devemos permanecer com visões
simplistas e acreditar que essas políticas são programadas para combatê-las.
Notamos que dentro das políticas sociais brasileiras emergem cada vez mais programas
que são regulados pelo poder do Estado e a ampliação de programas de transferência de
renda com critérios e controles definidos pelos Municípios, Estados e Distrito Federal, que
podem incorrer no risco de não atender aqueles usuários que realmente necessitam des-
ses programas.
Referente ao reconhecimento de que certas desigualdades se originam no seio familiar,
daí a terminologia matricialidade, as políticas sociais centradas na família, deve-se evitar essa
perspectiva como sendo a família a única mantenedora de seus membros, forçando, por
outro lado, a responsabilidade estatal pela disponibilização de serviços e oportunidades aos
usuários dessa política.
90 • capítulo 4
Assim, deve-se perseguir o sentido da articulação, de fato, dos programas de transferên-
cia de renda condicionados com outras políticas sociais com visão mais ampla, que trabalhem
para a emancipação dessa população.
LEITURA
Silva, M. O., Yazbeck, M. C. e Di Giovanni, G. A política social brasileira no século XXI:
a prevalência dos programas de transferência de renda. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2007
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das políticas de
previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006.
BUSS, P. M. A. CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 9º Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 7,
n. 3, set. 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1
991000300001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 01 jun. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
311X1991000300001
BRAGA, Lea. REIS LEAL, Maria do Socorro. O Serviço Social na Previdência: trajetórias, projetos
profissionais e saberes. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
BRASIL. Presidência da Republica. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei n.8742, de 7 de
dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993.
____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência
Social. Brasília, 2004.
____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica do
SUAS – NOB/SUAS. Brasília, 2005.
_____. Resolução Nº 7, de 10/9/2009 - Comissão Intergestores Tripartite-CIT, Protocolo de
Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de
Assistência Social – SUAS.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Fator Previdenciário. Disponível em: < http://www.
previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182> acesso em: 30/05/2015.
______. Lei 8212 de 24/07/1997 sobre requisitos para isenção de contribuições ao INSS. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm acesso em 30/06/2015.
BRAVO, A. M. V.(Org). Saúde e Serviço Social. 3º edição. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ,
2007.
capítulo 4 • 91
_______. Serviço Social e Reforma Sanitária: lutas sociais e práticas profissionais. 3ª. ed. São Paulo:
Cortez, 2010.
_______. Mota, A. E. Política social no Brasil. Serviço Social e Saúde, 2ª edição, Ed. Cortez, 2007.
______. Política de saúde no Brasil. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. 2006.
Disponível em: http://www.servicosocialesaude.xpg.com.br/texto1-5.pdf. Acesso em: 16 nov. 2013.
______. CORREIA, M. V. C. Desafios do controle social, na atualidade. Serv. Soe. Soc.,
São Paulo, n. 109, mar. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S010166282012000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 jun. 2013.
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e
saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social Brasileira: uma equação possível?.
8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
_______. (Org.). O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em movimento.
3ª ed. São Paulo, Cortez, 2012.
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 9ª. ed. São Paulo: Cortez,
2006.
Gosta Esping-Andersen. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova no.24 São Paulo
Sept. 1991.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
Esboço de uma Interpretação histórico-metodológica. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MIOTO, Regina Célia Tamaso; NOGUEIRA, V. M. R. Sistematização, Planejamento e Avaliação das
Ações dos Assistentes Sociais no Campo da Saúde. In: MOTA, A. E.; BRAVO, M. I. S.; UCHÔA, R.;
NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R.; GOMES, L; TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço Social e Saúde: formação e
trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.
NAKAHODO, Sidney Nakao; SAVÓIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil: estudo
comparativo dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Disponível em:<http://www.scielo.br/
pdf/rbcsoc/v23n66/03.pdf> acesso em 30/05/2015.
PEREIRA, P. A. Necessidades sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
RAICHELIS, Raquel. “Legitimidade popular e poder público”. São Paulo: Cortez, 1988.
SILVA, Ademir Alves. A crise capitalista contemporânea e as relações entre Estado, mercado e
sociedade no âmbito das políticas sociais. IN: Ponto e Vírgula n.10, pp. 260-281, 2011. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/index/php/pontoevirgula/article.
__________ A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o mercado. São
Paulo: Cortez Editora, 3ª ed. 3ª reimpressão, 2013.
92 • capítulo 4
SILVA, Maria Ozanira da Silva e; YAZBEK, Maria Carmelita; DI GIOVANNI, Geraldo. A Política
Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. São Paulo:
Cortez, 2004.
SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma questão de
debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
_________. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho do assistente
social. Serv. Soc. & Sociedade, São Paulo, n.116, p. 652-674, out/dez. 2013.
_________ (org.). Proteção Social de Cidadania: inclusão de idosos e pessoas com deficiência
no Brasil, França e Portugal. SP: Cortez, 2004.
TEIXEIRA, Andrea de Paula. Política de Previdência Social in REZENDE, Ilma; CAVALCANTI, Ludmila
Fontenele. Serviço Social e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
capítulo 4 • 93
94 • capítulo 4
5
Debate Conceitual
Atual da Política
Social
Neste capítulo, iremos realizar um debate conceitual acerca das origens da
questão social e seu agravamento a partir da consolidação do capitalismo no
século XIX, cujo conteúdo abarca reflexões acerca da luta de classes, da existên-
cia do operariado no contexto da produção capitalista, bem como os reflexos
desse fenômeno na esfera política.
A gênese histórica do Serviço Social está vinculada a questão social, pois a
profissão surgiu para amenizar os conflitos existentes nas classes operárias,
com vistas à manutenção da ordem capitalista, como veremos detalhadamente
no decorrer do capítulo.
A partir desse contexto será abordada a questão social dentro da cena con-
temporânea: realidade neoliberal e globalizada, no marco de transformações
no mundo do trabalho, na economia e na política. Será possível a existência de
uma “nova questão social”?
Será analisado também o processo de participação popular e controle social
desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, passando pela conquis-
ta da Lei Orgânica da Assistência Social e Sistema Único de Assistência Social
e suas influências na trajetória de afirmação da Política de Assistência Social
como direito social, com a participação dos usuários.
OBJETIVOS
• Relacionar subsídios teórico-práticos do Serviço Social com a questão social, analisando
suas principais manifestações na sociedade brasileira e respostas apresentadas por diferen-
tes autores da literatura.
• Refletir sobre as demandas presentes na sociedade e as respostas profissionais para o
enfrentamento da questão social.
• Compreender como o processo de participação dos usuários nos espaços de controle
social e na gestão dos serviços socioassistenciais.
96 • capítulo 5
5.1 As Novas Expressões da Questão Social
e as Novas Demandas para o Assistente
Social, por meiodas Políticas Sociais.
Antes de adentrar na reflexão sobre a terminologia “novas expressões da ques-
tão social”, é importante compreender que seu surgimento aconteceu na Eu-
ropa no século XIX, ligada a emergência do proletariado no cenário político
reivindicando direitos sociais no contexto das transformações provocadas pelo
processo de industrialização.
Nesta época o projeto político era o conservadorismo que valorizava a tradi-
ção, a autoridade fundada na hierarquia e na ordem. Com isso negava a razão,
a democracia, à liberdade, a indústria, a tecnologia, assim diante das reivindi-
cações dos trabalhadores procurava garantir a reprodução de um sistema mo-
ral que assegurasse a “ordem”, identificando as lutas políticas como ameaça a
ordem social.
A questão social se apresenta diferente em cada momento histórico de acor-
do com as peculiaridades apresentadas, devido aos problemas políticos, sociais
e econômicos, o que não podemos deixar de lembrar é que ela está vinculada
ao conflito capital x trabalho. Segundo Schons (2007, p. 01) “frequentemente
observamos que se confunde ou se identifica a questão social como sendo sinô-
nimo de problema social. É possível e não deixa de ser uma problemática social
em questão, ou seja, esta é uma parte, uma faceta da questão social”.
A questão social se politiza e está ligada ao pauperismo, “[...] não de qual-
quer pauperismo, senão como uma pobreza situada dos elementos da questão
social. Mas há outro elemento tão decisivo para a manifestação da questão so-
cial quanto à pobreza que é o do embate político” (Schons, 2007, p. 20).
Nas revoluções proletárias de 1905 ficou claro a luta dos trabalhadores por
direitos sociais envolvendo questões salariais, redução da jornada de trabalho,
as empresas passavam a subcontratar com condições mais precárias, menos
protegidas e com menos direitos. Com as reivindicações os trabalhadores so-
friam forte repressão policial. Nesse período ficou caracterizada a luta dos tra-
balhadores para romper com a situação de subalternidade.
capítulo 5 • 97
A subalternidade faz parte do mundo dos dominados, dos submetidos à exploração
e à exclusão social, econômica e política. Supõe, como complementar, o exercício do
domínio ou da direção através de relações político-sociais em que predominam os
interesses dos que detêm o poder econômico e de decisão política. Neste sentido,
não podemos abordar indivíduos e grupos subalternos isolando-os do conjunto da
sociedade (YAZBEK, 2009, p. 26).
É bom lembrar que o Welfare State teve suas origens no século XIX, jun-
tamente com o surgimento da questão social, no momento das primeiras
conquistas de direitos sociais e seu ápice aconteceu no período de ouro, com-
preendido entre 1945 e 1975. Nesse período o Estado passou a ser o principal
provedor do bem-estar social.
A partir dos anos 70 teve início à crise do Welfare State, as proteções, dos
direitos vinculados ao trabalho sofriam com a internacionalização do mercado,
as exigências da concorrência e da competitividade, passando o trabalho a ser o
alvo principal de redução de custos; com o objetivo de diminuir o preço da força
de trabalho e maximizar a produção.
Assim a década de 70 ficou marcada pela precarização do trabalho, políti-
cas antiemprego, contratos temporários, isto é, por tempo determinado, provo-
cando instabilidade de emprego, o que fragilizou a situação do trabalho, fazen-
do com que as pessoas se encontrassem em uma situação de vulnerabilidade
e insegurança.
Constata-se que as expressões das desigualdades sociais refletem a ques-
tão social, que significa o conjunto de problemas políticos, sociais e econômi-
cos que foi acirrado pelo aparecimento da classe operária na composição da
sociedade capitalista e vinculada ao conflito entre capital e trabalho. Assim
consideramos que “a Questão Social, enquanto reflexão do aprofundamento
das desigualdades sociais, acumuladas e manifestas nas mais variadas formas
de pobreza, miséria, desemprego e exclusão social, não é fenômeno novo no
Brasil” (ARCOVERDE, 2008, p. 109).
A questão social envolve um processo de revolução, ou seja, envolve “uma
luta ‘aberta’ e ‘surda’ pela cidadania, [...] um processo denso de conformismo e
rebeldias, forjado ante as desigualdades sociais, expressando a consciência e a
luta pelo reconhecimento dos direitos sociais e políticos de todos os indivíduos
sociais” (IAMAMOTO 2001 apud SCHONS, 2007, p. 21).
98 • capítulo 5
Decifrar a questão social na cena contemporânea insere-se na tarefa de
apreender as várias expressões que as desigualdades sociais assumem na
atualidade, seu processo de produção e reprodução e formas de resistência e
enfrentamento.
Inexiste qualquer ‘nova questão social’. O que devemos investigar é, para além da
permanência de manifestações tradicionais da questão social, a emergência de novas
expressões da ‘questão social’ que é insuprimível sem a supressão da ordem do capi-
tal. A dinâmica societária específica dessa ordem não só põe e repõe os corolários da
exploração que a constitui medularmente: a cada novo estágio de seu desenvolvimen-
to, ela instaura expressões sócio humanas diferenciadas e mais complexas, corres-
pondentes à intensificação da exploração que é sua razão de ser.
capítulo 5 • 99
Isso quer dizer que a forma de exploração não mudou, vive-se em uma socie-
dade capitalista, onde quem dita às regras são as exigências do mercado, nesta
relação sempre irão existir desigualdades sociais e formas de exploração entre
o capital e o trabalho.
[...] a recorrente afirmação de que existiria hoje uma “nova questão social” tem, impli-
citamente, o claro objetivo de justificar um novo trato à “questão social”; assim, se há
uma nova “questão social” seria justo pensar na necessidade de uma nova forma de
intervir nela, supostamente mais adequada às questões atuais. Na verdade, a “questão
social” – que expressa à contradição capital-trabalho, as lutas de classe, a desigual
participação na distribuição de riqueza social – continua inalterada; o que se verifica é
o surgimento e alteração, na contemporaneidade, de suas refrações e expressões. O
que há são novas manifestações da velha “questão social” (MONTÃNO, s.d. p. 02).
100 • capítulo 5
Entretanto o desafio do Serviço Social é atuar nas contradições institucio-
nais, construindo seu compromisso com as classes subalternas ao buscar que
esse espaço se torne controle da classe trabalhadora, é também buscar o empo-
deramento dos usuários das políticas de assistência social.
capítulo 5 • 101
O controle social é o controle das ações do Estado pela sociedade civil que pode
participar dos processos de elaboração, implementação e fiscalização das políticas
públicas, por meio de conselhos e comitês. A grande contribuição dos conselhos é a
possibilidade de dar maior transparência às ações do Estado e favorecer uma justa
distribuição dos recursos públicos, com menos desperdício e maior eficiência nos
serviços prestados (Ministério Desenvolvimento Social, 2008).
102 • capítulo 5
5.2.1 O Papel do Estado e da Sociedade Civil e os Conselhos
capítulo 5 • 103
O Estado é uma esfera a favor das classes dominantes desde seus primórdios, nas
sociedades escravistas da Antiguidade. Surgiu para proteger os interesses da classe
dominante e controlar as revoltas dos escravos. Inicialmente, havia apenas alguns
traços essenciais do Estado moderno, como a presença de um corpo policial-militar
de uma burocracia hierárquica, cobradores de impostos, escribas e mensageiros, em
suma, um corpo de funcionários públicos. Assim, em Marx, o Estado não inaugura
a sociedade civil. Antes, se ergue a partir dela no interesse de determinada classe
social (SOUZA, p. 37, 2010).
Não é desse controle social que esta unidade está tratando, mais é impor-
tante relembrar seu contexto histórico. O controle social como eixo estruturan-
te do SUAS é exercido pela sociedade sobre o Estado.
A sociedade também se trata de um conceito complexo e o indica a partir do
pensamento social do século XX, que privilegia a sua relação com o conceito de
Estado, buscando distinções entre as duas instâncias. A mobilização popular
realizada na década de 80 em busca de um Estado democrático e do acesso uni-
versal aos direitos sociais trouxe a tona a possibilidade de inversão do controle
social. Surge, a perspectiva de um controle da sociedade civil sobre o Estado.
Tanto o Estado como a sociedade civil são partes constitutivas e integrais de
um todo contraditório que se torna público à medida que se torna permeável
aos conflitos e diferenças, assim como a definição negociada de políticas pú-
blicas, isto é, de todos.
A esfera pública se constitui como parte integrante desse processo de de-
mocratização, se dá com a construção de espaços de interlocução entre sujeitos
sociais, no sentido da criação de uma nova ordem democrática valorizadora da
universalização dos direitos de cidadania.
Nas últimas décadas do século XX, travaram-se debates e lutas que apontam para as
limitações dos mecanismos tradicionais de democracia representativa em absorverem
demandas sociais que são cada vez mais abrangentes. Consequentemente, forta-
lecem debates e lutas em torno da democratização e representação dos interesses
populares na esfera das decisões políticas.
104 • capítulo 5
Neste sentido surge uma mobilização fortalecida principalmente em torno
da definição, controle e gestão das políticas públicas sociais, com valorização
da luta/participação institucional, ou seja, participação da sociedade civil por
dentro do Estado, instituindo-se os conselhos de políticas e temáticos criados
a partir da Constituição Federal de 1988 e das legislações específicas de cada
área; saúde, previdência, assistência social, criança e adolescente e outros.
CONEXÃO
“O pluralismo é um elemento factual da vida social e da própria profissão, que deve ser
respeitado. Mas este respeito, que não deve ser confundido com uma tolerância liberal para
com o ecletismo, não pode inibir a luta de idéias. Pelo contrário, o verdadeiro debate de
idéias só pode ter como terreno adequado o pluralismo que, por sua vez, supõe também o
respeito a hegemonias legitimamente conquistadas” (NETTO, p.6 1999). Artigo na íntegra
disponível em: http://cpihts.com/PDF03/jose%20paulo%20netto.pdf
capítulo 5 • 105
“O processo de implementação do Sistema Único de Assistência Social tem
tido impactos na participação e no controle social e, em particular, na atuação,
funcionamento e dinâmica dos Conselhos de Assistência Social” (YAZBEK et
al., 2012, p. 213).
Estão previstas duas instâncias de participação nas políticas sociais: os con-
selhos e as conferências.
Os conselhos – são espaços com representação paritária, na maioria das
vezes compostos por 50% de representantes do Poder Executivo e 50% da so-
ciedade civil, os quais discutem, elaboram e fiscalizam as políticas sociais das
diversas áreas: saúde, educação, assistência social, criança e adolescente en-
tre outros.
A Resolução CNAS nº 237/2006 descreve em seu artigo 11 que a eleição da
sociedade civil deverá ser coordenada por ela mesma e sob a supervisão do
Ministério Público, tendo como candidatos/eleitores: “representantes dos usuá-
rios ou de organização de usuários da assistência social; entidades e organização
assistência social; entidades de trabalhadores do setor” (CNAS, 2006, p.3-4).
Em geral, as ações dos conselhos são de natureza deliberativa, ou seja, têm
poder de decisão, em sua maioria tem como objetivo controlar a execução das
políticas públicas.
São baseados na concepção de participação social, que tem sua base na uni-
versalização dos direitos, pautado por uma nova compreensão do caráter do
papel do Estado. Através dos conselhos está previsto a efetividade do controle
social, isto é, a participação da sociedade civil nos processos de planejamen-
to, acompanhamento e avaliação das ações da gestão pública e da execução
das políticas.
Os conselhos precisam ser visualizados como espaços de decisões sobre a
política pública, também como espaços contraditórios de diversos interesses,
orientados pela democracia participativa, tendo no horizonte a construção da
democracia de massas.
É importante entender que os conselhos se articulam com as demais instân-
cias e instrumentos de controle público. Os Conselhos de Assistência Social,
por exemplo, “estão vinculados ao órgão gestor de assistência social, que deve
prover a infraestrutura necessária ao seu funcionamento garantindo recursos
materiais, humanos e financeiros, inclusive com despesas referentes a deslo-
camento de conselheiros quando estiverem no exercício de suas atribuições”
(LOAS, Art. 16).
106 • capítulo 5
Vale a pena ressaltar que as instâncias deliberativas do SUAS, são:
1. – Conselho Nacional de Assistência Social.
2. – Conselhos Estaduais de Assistência Social.
3. - Conselhos de Assistência Social do Distrito Federal.
4. – Conselhos Municipais de Assistência Social.
A política de assistência social nos últimos anos tem ampliado o controle social por
meio da expansão do número de conselhos nos municípios, estados e no Distrito
Federal. A partir da realização da V Conferência Nacional, em 2005, considerada um
marco na consolidação do SUAS, mais desafios têm sido colocados na agenda tanto
dos gestores quanto dos conselheiros: fortalecer o papel dos conselhos e ampliar o
uso de outras formas de participação da sociedade civil, principalmente para garantir
a participação do cidadão usuário (CNAS/SUAS, 2013, p.24).
capítulo 5 • 107
As contribuições dos conselhos, ainda é muito incipiente, a participação da
população, dos usuários ainda é efêmera, tornando um incentivo a participa-
ção elitista, os representantes tem atuado de forma autoritária, pessoal, não le-
vando para a entidade a qual representa as temáticas tratadas nos conselhos, o
que dificulta ainda mais as necessidades da população chegar até os conselhos.
“A centralização do poder nas mãos do Executivo fragiliza a autonomia dos
conselhos diante das condições que os governos reúnem para interferir, neu-
tralizar ou mesmo minar suas ações e decisões coletivas” (RAICHELES, 2009,
p. 16).
Cabe lembrar que: “é condição para o repasse dos recursos da assistência
social aos municípios, estados e Distrito Federal a efetiva instituição e funcio-
namento dos: conselhos de assistência social; fundo de assistência social e pla-
no de assistência social” (Art. 30 da LOAS).
Os assistentes sociais nos conselhos podem atuar como conselheiros e tam-
bém desenvolverem ações de assessoria junto aos conselhos ou aos usuários,
trabalhadores e poder público.
O trabalho dos assistentes sociais nos conselhos deve realizar o trabalho
de mobilização e organização popular, apresentar aos usuários a possibilidade
de participar do espaço de decisões que envolvem o planejamento de políticas
públicas do seu município, promovendo uma participação qualificada, já que
terão ciência da realidade.
O assistente social dever ser socializador de informações, apresentando as
propostas e decisões tomadas nos conselhos, pois quanto mais informada a
população for sobre seus direitos e deveres, mais chance terão de exercer o con-
trole social nos espaços públicos.
A assessoria dos profissionais de Serviço Social pode ser quanto a organiza-
ção da documentação dos conselhos, a elaboração de material informativo so-
bre o controle social e políticas públicas, elaboração de planos com propostas
de participação popular, realização de cursos de capacitação dos conselheiros e
o incentivo a realização e participação no orçamento participativo.
108 • capítulo 5
Muita gente não sabe, mas a população pode ajudar diretamente a definir quais são
as prioridades na aplicação dos recursos do orçamento de seu município. Nas cidades
em que existe o orçamento participativo, representantes da comunidade discutem com
membros da prefeitura quais áreas devem receber maior investimento. As reuniões são
públicas, e as deliberações dessas assembleias são consideradas quando é elaborada
a proposta da Lei Orçamentária Anual. Desta forma a população estará participando
diretamente sobre o direcionamento dos recursos públicos. Para o orçamento participati-
vo funcionar bem, é fundamental haver a mobilização da comunidade e a disposição dos
administradores em democratizar a gestão dos recursos do município.
capítulo 5 • 109
Social e Bolsa Família, o qual exemplifica bem o ciclo das ações exercidas pelos
conselhos e conferências como demonstrado na figura a seguir.
Formulação
Avaliação
110 • capítulo 5
ticas gestadas pelo grande capital, isto é, questionamento da cultura política da
crise gestada pelo capital.
Considera-se como estratégia importante o fortalecimento da organização
popular, tais como os conselhos, conferências e movimentos sociais.
A partir dos anos 1990, vive-se um cenário de regressão dos direitos sociais,
de globalização e mundialização do capital, que tem na financeirização da eco-
nomia um novo estágio de acumulação capitalista.
Na atual conjuntura brasileira, o debate das políticas sociais públicas e suas
ações tem privilegiado a focalização em oposição à universalização, enfatizan-
do a despolitização e a tecnificação dos interesses sociais; estruturando-se em
valores individualistas.
É preciso refletir sobre os movimentos organizados e os espaços públicos de
controle democrático para que se fortaleça a concepção de Seguridade Social
Pública, o que não tem ocorrido, por exemplo, pelos seguintes impasses:
• a qualidade da comunicação estabelecida com a sociedade;
• a fragilidade das lutas empreendidas pela sociedade civil em defesa das
políticas públicas;
• o papel desmobilizador dos governos na sua relação com a sociedade.
capítulo 5 • 111
público e para a mudança da cultura política presente ao longo da história bra-
sileira, pautada no favor e no autoritarismo, no clientelismo e populismo.
No entanto, não é correto atribuir aos espaços institucionais de participa-
ção da sociedade o papel de agentes fundamentais na transformação do Estado
e da Sociedade, pois é uma das instâncias em que ocorre a disputa hegemônica
no país. “O controle social depende também dos espaços democráticos e de
decisões coletivas. Devem-se promover espaços em vista das mobilizações da
sociedade e os interesses públicos” (COUTO e cols, p. 271, 2012).
As possibilidades dos espaços de participação dependem do nível de orga-
nização da sociedade civil, do investimento através de assessoria dos profis-
sionais (como os assistentes sociais) e/ou entidades para o fortalecimento do
controle democrático.
A assistência social em seu longo percurso de afirmação enquanto política
pública, sempre teve uma participação tímida dos usuários enquanto partici-
pantes da formulação, gestão e controle dessa política.
112 • capítulo 5
ATIVIDADES
01. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, a lacuna do texto “O
_______________________é a questão social. É ela em suas múltiplas expressões, que pro-
voca a necessidade da ação profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, a situa-
ções de violência contra a mulher, à luta pela terra etc”. Essas expressões da questão social
são a matéria-prima ou o objeto do trabalho profissional.
a) fenômeno da pobreza extrema.
b) usuário e seus problemas.
c) objeto de trabalho do Assistente Social
d) adolescente, a criança e seu grupo familiar.
e) cadastro único de benefícios.
02. ENADE 2004 - Considere as afirmações abaixo, sobre a questão social como eixo
estruturante do Serviço Social.
I. – O Serviço Social se constitui como profissão enquanto mecanismo institucional utiliza-
do pelo Estado para dar respostas às expressões da questão social, via políticas sociais.
II. – Os assistentes sociais intervêm nas mais variadas formas de expressão da questão so-
cial, tais como os indivíduos as experimentam nas relações de trabalho, na família, na saúde
e em outras esferas da vida social.
III. – A questão social constitui-se exclusivamente de um conjunto de problemas de indiví-
duos e grupos usuários dos serviços prestados pelo Estado, via políticas sociais.
IV. – O reconhecimento de um conjunto de problemas vinculados às modernas condições
de trabalho urbano constitui o fundamento da questão social.
Somente é correto o que se afirma em:
a) I e II
b) II e III
c) I e IV
d) II e III
e) II e IV
03. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, a lacuna do texto. A ori-
gem da questão social data da segunda metade do século XIX, quando a classe operária faz
aparição no cenário político na Europa Ocidental. Por isso afirmamos que a “questão social”
tem sua raiz _______________________ e deve ser pensada como parte constitutiva dessa
sociedade que nos diferentes estágios produz distintas manifestações.
capítulo 5 • 113
a) Na sociedade capitalista
b) No socialismo
c) Na Europa Ocidental
d) Na conjuntura atual
e) Na Revolução Industrial
REFLEXÃO
No decorrer do capítulo entendemos que a profissão está embrionariamente vinculada
ao processo sócio-histórica na qual está inserida a questão social, pois esta é o objeto de
trabalho dos assistentes sociais.
Entendemos que as expressões das desigualdades sociais refletem a questão social, que
significa o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que foi acirrado pelo apa-
recimento da classe operária na composição da sociedade capitalista e vinculada ao conflito
entre capital e trabalho.
Os assistentes sociais também fazem parte desse processo de trabalho de produção e
reprodução atendendo um mercado capitalista, o que exige articulações que fortaleçam as
classes trabalhadoras e alternativas que combatam a ação reguladora do Estado em busca
da defesa dos direitos e da justiça social.
Já com relação ao controle social realizado por meio da participação da população na
gestão da política pública, refletimos sobre a dificuldade da participação dos usuários e das
organizações populares que deveriam estar presentes, principalmente nas tomadas de deci-
sões quanto ao direcionamento das políticas públicas.
114 • capítulo 5
Percebemos como o trabalho desenvolvido pelo assistente social está relacionado com
o controle social como profissão que pode contribuir para o exercício do controle dos seto-
res populares sob as ações do Estado, para que esse atenda aos interesses da maioria da
população, o que tem se tornado um desafio, tendo em vista o panorama atual das políti-
cas públicas.
LEITURA
SCHONS, S. M. Questão social hoje: a resistência um elemento em construção. In:
Revista Emancipação, 7(2): 9-39, 2007. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.
php/emancipacao/issue/view/15/showToc. Acesso em julho de 2010.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARCOVERDE, A. C. B. Serviço Social e Questão Social na Globalização. In: Revista Serviço Social &
Realidade, Franca, v. 17, n. 1, p. 102-124, 2008.
BOSCHETTI, Ivanete. Seguridade Social e Trabalho: paradoxos na construção das políticas de
previdência e assistência social no Brasil. Brasília: Letras Livres, 2006.
BUSS, P. M. A. CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 9º Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 7,
n. 3, set. 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1
991000300001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 01 jun. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
311X1991000300001
BRASIL. Presidência da Republica. Lei Orgânica da Assistência Social. Lei n.8742, de 7 de
dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993.
____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência
Social. Brasília, 2004.
____. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica do
SUAS – NOB/SUAS. Brasília, 2005.
_____. Resolução Nº 7, de 10/9/2009 - Comissão Intergestores Tripartite-CIT, Protocolo de
Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único de
Assistência Social – SUAS.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Fator Previdenciário. Disponível em: < http://www.
previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182> acesso em: 30/05/2015.
______. Lei 8212 de 24/07/1997 sobre requisitos para isenção de contribuições ao INSS. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm acesso em 30/06/2015.
capítulo 5 • 115
BRAVO, A. M. V.(Org). Saúde e Serviço Social. 3º edição. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ,
2007.
_______. Mota, A. E. Política social no Brasil. Serviço Social e Saúde, 2ª edição, Ed. Cortez, 2007.
______. Política de saúde no Brasil. Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. 2006.
Disponível em: http://www.servicosocialesaude.xpg.com.br/texto1-5.pdf. Acesso em: 16 nov. 2013.
______. CORREIA, M. V. C. Desafios do controle social, na atualidade. Serv. Soe. Soc.,
São Paulo, n. 109, mar. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S010166282012000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 22 jun. 2013.
CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência: trajetória, projetos profissionais e
saberes. 1. ed., São Paulo - SP: Cortez Editora., 2007. v. 1.
COUTO, Berenice Rojas. O Direito Social e a Assistência Social Brasileira: uma equação possível?.
8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
_______. (Org.). O Sistema Único de Assistência Social no Brasil: uma realidade em
movimento. 3ª ed. São Paulo, Cortez, 2012.
FALEIROS, Vicente de Paula. A Política Social do Estado Capitalista. 9ª. ed. São Paulo: Cortez,
2006.
Gosta Esping-Andersen. As três economias políticas do welfare state. Lua Nova no.24 São Paulo
Sept. 1991.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:
Esboço de uma Interpretação histórico-metodológica. 13ª. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MONTAÑO, C. E. O projeto neoliberal de resposta à “questão social” e a funcionalidade do
“terceiro setor”. [S.D].
MIOTO, Regina Célia Tamaso; NOGUEIRA, V. M. R. Sistematização, Planejamento e Avaliação das
Ações dos Assistentes Sociais no Campo da Saúde. In: MOTA, A. E.; BRAVO, M. I. S.; UCHÔA, R.;
NOGUEIRA, V.; MARSIGLIA, R.; GOMES, L; TEIXEIRA, M. (Org.). Serviço Social e Saúde: formação e
trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.
NAKAHODO, Sidney Nakao; SAVÓIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil: estudo
comparativo dos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula. Disponível em:<http://www.scielo.br/
pdf/rbcsoc/v23n66/03.pdf> acesso em 30/05/2015.
NETTO, J. P. Cinco notas a propósito da questão social. In: Revista Temporalis, 2ª. ed. Ano 2, n.3
(jan./Jul. 2001). Brasília/DF: ABEPSS, Gráfica Odisséia.
PEREIRA, P. A. Necessidades sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
RAICHELIS, Raquel. “Legitimidade popular e poder público”. São Paulo: Cortez, 1988.
SILVA, Ademir Alves. A crise capitalista contemporânea e as relações entre Estado, mercado e
sociedade no âmbito das políticas sociais. IN: Ponto e Vírgula n.10, pp. 260-281, 2011. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/index/php/pontoevirgula/article.
116 • capítulo 5
__________ A gestão da seguridade social brasileira: entre a política pública e o mercado. São
Paulo: Cortez Editora, 3ª ed. 3ª reimpressão, 2013.
SILVA, Maria Ozanira da Silva e; YAZBEK, Maria Carmelita; DI GIOVANNI, Geraldo.
A Política Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda.
São Paulo: Cortez, 2004.
SCHONS, S. M. Questão social hoje: a resistência um elemento em construção. In: Revista
Emancipação, 7(2): 9-39, 2007. Disponível em: http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/
issue/view/15/showToc. Acesso em julho de 2010.
SPOSATI, Aldaíza. Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras: Uma questão de
debate. 8ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
_________. Proteção social e seguridade social no Brasil: pautas para o trabalho do assistente
social. Serv. Soc. & Sociedade, São Paulo, n.116, p. 652-674, out/dez. 2013.
_________ (org.). Proteção Social de Cidadania: inclusão de idosos e pessoas com deficiência
no Brasil, França e Portugal. SP: Cortez, 2004.
TEIXEIRA, Andrea de Paula. Política de Previdência Social in REZENDE, Ilma; CAVALCANTI, Ludmila
Fontenele. Serviço Social e Políticas Públicas. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
YAZBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social, 7 ed., São Paulo: Cortez, 2009.
GABARITO
Capítulo 1
01. A
02. D
Capítulo 2
01. A
02. B
03. A
04. A
capítulo 5 • 117
Capítulo 3
01. C
02. C
03. E
Capítulo 4
01. E
02. C
03. E
Capítulo 5
01. C
02. A
03. A
04. D
118 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 119
ANOTAÇÕES
120 • capítulo 5