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Rio de Janeiro
2005
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
106 f.
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Monografia (Graduação em Relações Internacionais) –
Universidade Estácio de Sá,
2005.
CDD 382
APROXIMAÇÃO POLÍTICA ENTRE CHINA E JAPÃO:
Rio de Janeiro
2005
CARINA SILVA D’ALMEIDA CARDOSO
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
______________________________________________________
______________________________________________________
Comprometo-me de que todo o conteúdo deste trabalho é de minha inteira autoria, salvo as
Agradeço primeiramente a Deus, por todas as oportunidades que d’Ele recebi, pela
fortaleza nos momentos de incerteza e por dar-me a perseverança necessária para alcançar
meu objetivo.
Cardoso, por todas as noites insones em meu auxílio, pelo suporte nas pesquisas e por seu
Agradeço igualmente à minha madrinha, Onir Silva Reis, a quem sempre recorri como
Especialista em Desenvolvimento Urbano e Regional, por sua orientação e também por seus
Miguel de Cervantes
RESUMO
O objeto deste estudo é o relacionamento entre China e Japão, desde o início da rivalidade
entre os dois países, até sua recente aproximação, sob o contexto de integração do continente
compreensão da origem do conflito entre seus principais atores, traçar as perspectivas para a
The object of this study is the relationship between China and Japan, since the beginning of
the contend among the two countries, until their recent approach, under the context of the
integration of the asian continent. We will be studying the particular characteristics of this
process, observing the evolution of the existent mechanisms of cooperation, and, mainly, we
will search, by comprehending the origin of the conflict between its main characters, track for
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 12
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................99
ÍNDICE DE FIGURAS..........................................................................................................102
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................104
Introdução
90 e o conseqüente estabelecimento de não apenas três fortes potências – China, Índia e Japão
O interesse pelo continente asiático teve início nos primeiros períodos do curso,
desejo de compreender sua história e traçar as perspectivas para seu futuro. Porém, somente
com o estudo de Processos Geo-Econômicos de Integração o foco central desta pesquisa pôde
ser delineado: seria possível a realização de uma integração asiática de fato sem que China e
Embora a literatura teórica sobre o regionalismo seja vasta, como bem coloca
originados fora da Europa. No entanto, o crescimento contínuo desta região vem atraindo a
atenção de teóricos das Relações Internacionais, sobretudo pela possibilidade de uma eventual
substituição do eixo dinâmico do Ocidente para o Oriente. É possível, hoje, encontrarmos não
apenas obras que versem sobre a integração no leste asiático, mas também que realizem uma
perspectiva destes dois países centrais, buscando avaliar os reflexos das relações não-
econômicas para o regionalismo. Podemos dizer, assim, que o objeto de nosso estudo é o
asiático. Em nossa pesquisa, porém, não encontramos nenhuma fonte especificamente dirigida
para a análise das relações sino-japonesas no contexto na integração asiática, o que nos
de entender cada etapa dentro de uma evolução dinâmica e, mais ainda, demonstrar a conexão
de cada uma dessas etapas com o cenário contemporâneo na Ásia Oriental. Assim, utilizamos
autores com obras de forte embasamento histórico como Spence e Panikkar para traçar um
panorama local à época observada. Em nossas análises dos processos de integração nos
buscamos textos de Meyer e Miyazaki. Algumas fontes foram estudadas com o objetivo de
nos fornecer um quadro econômico do continente asiático, como Fiori, Grenet e Griffith-
Jones, de modo que pudéssemos compreender as forças atuantes na região. Muito outros
textos nos ajudaram a obter uma visão ampla e geral do cenário estudado, porém não se
relacionavam especificamente com o tema desenvolvido e, assim sendo, não estão listados em
capítulo o estudo traz uma breve introdução sobre os processos de integração geo-econômica,
das teorias regionalistas mais relevantes para a compreensão do caso asiático e delimitando os
modelos existentes de integração. Para o embasamento teórico, utilizaremos principalmente
trabalharemos os textos de Miyazaki e Meyer. Após esta visão geral, nos deteremos, ainda
neste capítulo, em analisar os mecanismos regionais em ação no leste asiático, dirigindo nosso
introdução destes países no cenário internacional, que ocorre com a chegada dos ocidentais ao
continente, no século XVII, influências desta nova cultura no desenvolvimento destes dois
países. Através, principalmente de Panikkar, obteremos uma visão bastante objetiva das
relações que se iniciam e seremos capazes de perceber, durante esta explanação, que este
contato levará estas duas nações a traçar caminhos diferentes política, econômica e
por demonstrar como esta diferença na assimilação da cultura ocidental contribuirá para
determinar o fim das relações pacíficas entre China e Japão neste período.
conflituosas que se estabelecem entre os dois principais atores da região nas últimas décadas
do governo dinástico dos Qing na China. Através das obras de Spence, Daniel Aarão e
reflexos em uma China fragilizada e sem unidade política. Observaremos, igualmente, a partir
socialismo real1, ainda faz questão de rotular-se como uma economia socialista de mercado.
Neste capítulo, conduzidos por autores como Guimarães, Miyazaki, Griffith-Jones e Frank,
pelo estreitamento dos laços comerciais na região, mas também por uma aproximação política
relatados, procuraremos sintetizar as conclusões obtidas em cada parte deste estudo e apontar,
brevemente, o caminho que a economia asiática parece seguir. Buscaremos alcançar, então,
contextualizando-o no século XXI. Ainda, utilizando o que Luciano Tomassini aponta como
responsáveis por conferir a esta nova tendência regionalista um caráter tão diverso dos
críticas que se apresentam a cada uma destas visões. Através de Rogério Haesbert, veremos a
2
TOMASSINI, Luciano. “Globalização e Regionalismo”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra,
setembro / outubro / novembro 1995 – Vol. 4 – Nº 2, p. 150-152.
3
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional. Vol. 17,
no. 1, 1995. p. 25-26.
4
HAESBAERT, Rogério. Globalização e Fragmentação no Mundo Contemporâneo. Niterói, RJ, EdUFF –
Editora da Universidade Federal Fluminense, 1998, p. 11-53.
5
Apud in MIYAZAKI, Silvio Yoshiro Mizuguchi. “Regionalismo no Pacífico Asiático: integração econômica
orientada pelo comércio externo”. Revista de Economia Política. Vol. 16, No. 1 (61), janeiro/março/96. p.129.
Finalizando este capítulo, verificaremos a importância de China e Japão para a
permeabilidade da soberania nacional, caracterizada por uma linha cada vez mais tênue entre
os interesses nacionais e os assuntos internacionais. Como coloca Andrew Hurrell, “os limites
territoriais estão se tornando cada vez menos importantes, o sentido tradicional de soberania
contexto global mais amplo7”. Este fenômeno pode ser demonstrado através da freqüência
mais países “desenvolvem medidas para eliminar as barreiras existentes entre as diferentes
que há de diferente entre eles”. Independente dos diversos conceitos, segundo Andrew
6
TOMASSINI, Luciano. “Globalização e Regionalismo”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra,
setembro / outubro / novembro 1995 – Vol. 4 – Nº 2, p. 150.
7
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional. Vol. 17,
no. 1, 1995. p. 25-26.
8
Apud in MIYAZAKI, Silvio Yoshiro Mizuguchi. “Regionalismo no Pacífico Asiático: integração econômica
orientada pelo comércio externo”. Revista de Economia Política. Vol. 16, No. 1 (61), janeiro/março/96. p.129.
9
OHLIN, Goran. O sistema multilateral de comércio e a formação de blocos. Política Externa. Vol. 1, no. 2. São
Paulo: Paz e Terra, Set. 1992, p.59.
Hurrell10, “em boa parte do debate político e acadêmico está (...) implícito que o regionalismo
uma “onda regionalista” que ocorreu pela última vez nos anos 60. A formação de blocos
conflitos na região.
América Latina, são alguns exemplos. Também segundo Batuli, a maioria destes processos
perder o controle sobre cada um destes Estados, caso eles estivessem fortalecidos pela política
“em bloco”.
Luciano Tomassini aponta três tendências globais que tiveram forte influência na
13
TOMASSINI, Luciano. “Globalização e Regionalismo”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra,
setembro / outubro / novembro 1995 – Vol. 4 – Nº 2, p. 150-152.
comunidade global formada pelo agrupamento de sociedades nacionais e suas estruturas
os valores de seus cidadãos. Por último, o ressurgimento de uma sociedade civil recém-liberta
governo.
contemporânea como “um produto da expansão cada vez mais ampliada do capitalismo e da
processo derivaria da lógica própria do capitalismo, que é responsável não somente por
expansão para novas áreas, mas também pelas redivisões entre diversos blocos de influência
complexas15.
geo-econômicos por suas zonas hemisféricas, como é o caso do NAFTA 17, da União Européia,
da América Latina e dos processos regionais em formação na Ásia. Uma explicação para a
formação desta delimitação geográfica seria a similaridade cultural, econômica, política e até
14
HAESBAERT, Rogério. Globalização e Fragmentação no Mundo Contemporâneo. Niterói, RJ, EdUFF –
Editora da Universidade Federal Fluminense, 1998, p. 13.
15
TOMASSINI, Luciano. “Globalização e Regionalismo”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra,
setembro / outubro / novembro 1995 – Vol. 4 – Nº 2, p. 151.
16
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional. Vol. 17,
no. 1, 1995. p. 24.
17
North American Free Trade Agreement ou Acordo Norte Americano de Livre Comércio. N. da A.
2) a diversidade no grau de institucionalização dos novos agrupamentos, muitos
deles evitando a burocratização das organizações tradicionais. Embora, como veremos mais
mantém uma preocupação constante com o grau exato de institucionalização necessária para a
políticos, o que fica bem evidente nas relações sino-japonesas, onde uma convergência
política tem sido feita a despeito do revanchismo histórico entre os dois atores, visando
caso asiático, como debateremos posteriormente, pode estar ligado não somente à necessidade
integração na Ásia, afetando mesmo os projetos mais antigos como o da ASEAN, que teve
que diversos autores concentrados principalmente nas transformações nas relações intra-
regionais, começam a desenvolver teorias para explicar sua criação, suas possibilidades de
aprofundamento em termos econômicos e, por outro lado, suas perspectivas de criação de uma
comunidade política18. Com o surgimento de outros processos regionais, não apenas em outras
partes do globo, mas também com níveis diferenciados de integração entre os membros, novas
teorias - com novos objetivos, dados e conclusões - foram desenvolvidas para debater o
neste capítulo.
econômico no qual este processo regionalista está inserido e o impacto deste sobre a região; a
segunda, estuda o regionalismo in loco, ou seja, dentro de seu próprio processo, avaliando a
ameaça externa. Como exemplo da primeira carência, o autor aponta os Estados sul-
americanos, que, tendo pouca expressão no cenário competitivo como single players20,
mercado consumidor para seus produtos e, ao mesmo tempo, aumentarem o seu poder de
barganha. Assim, ainda segundo Hurrell, conseguiram manter um desempenho ótimo mesmo
fortalecimento das nações frente a um inimigo ou ameaça comum. O exemplo clássico que
Hurrell utiliza em sua exposição é o europeu, que, após a devastação econômica e física de
18
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional.
Vol. 17, no. 1, 1995. p. 30.
19
Idem, p. 31.
20
Ou “atores independentes”, o que significa atuar isoladamente nas negociações internacionais, visando
unicamente os interesses de seu país, não de uma região. N. da A.
seu continente, percebeu ser a cooperação regional a melhor forma de não só recuperar sua
economia fragilizada, mas também se manter a salvo da ameaça soviética, tão próxima
geograficamente.
regionalismo contemporâneo no contexto de uma globalização cada vez mais intensa. Esta
facilidade com que esta difunde idéias, tecnologias e conhecimentos, além da força
nível mais viável para reconciliar o mercado integrador e as pressões tecnológicas para a
fragmentação, do outro22”.
21
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional. Vol. 17,
no. 1, 1995. p. 32.
22
HURRELL, Andrew. O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial, Contexto Internacional. Vol. 17,
no. 1, 1995. p. 39.
23
Idem, p. 37.
1) um aumento dramático na “densidade” e na “profundidade” da
interdependência econômica;
únicos atores relevantes. Essa visão é também confirmada por Tomassini, que considera
pelas empresas transnacionais24”. Porém, à medida que estes acordos passem a abranger
seja no campo econômico, seja no político – ressaltam que o regionalismo é, em si, uma
questão que, para ser discutida, deve ser também contextualizada nos dias de hoje.
diretamente com as transformações sofridas nas últimas décadas, dando ao mundo uma nova e
Assim sendo, a fragmentação pode tanto ter um vínculo profundo com o conceito de
exemplo, que será mais detalhado ao explicarmos a teoria dos gansos voadores de Akamatsu,
todos possam usufruir o aquecimento do mercado, ainda que dentro de seu potencial. Ao
mesmo tempo, no caso asiático, esta fragmentação acabou por servir como uma forma de
Lipietz, onde a produção de alto nível tecnológico ficou restrita a alguns núcleos seletos28.
próprio capitalismo globalizado tendo em vista sua melhor performance 29”. Ou seja, tentando
definir formas que atinjam melhor seus interesses acima das metas nacionais estabelecidas.
Nesta perspectiva, ainda segundo o autor, seria não só uma estratégia de sobrevivência, mas
também uma forma de manter pacífico um cenário dominado por três forças predominantes:
26
Apud in HAESBERT, Rogério. Globalização e Fragmentação no Mundo Contemporâneo. Niterói, RJ, EdUFF
– Editora da Universidade Federal Fluminense, 1998, p. 24.
27
HAESBERT, Rogério. Globalização e Fragmentação no Mundo Contemporâneo. Niterói, RJ, EdUFF –
Editora da Universidade Federal Fluminense, 1998, p 24-25.
28
HAESBERT, Rogério. Globalização e Fragmentação no Mundo Contemporâneo. Niterói, RJ, EdUFF –
Editora da Universidade Federal Fluminense, 1998, p. 24-25.
29
Idem, p. 27.
Após introduzirmos algumas das principais premissas do debate acerca do
Assim sendo, podemos iniciar com uma citação de Gilson Schwartz, no texto “O
Bloco Asiático” de Altemani e Amorin, onde este diz que o processo de integração na região
culturais e de distribuição de renda30”. Apesar disto, a partir do final do século XX, tornou-se
asiática seria composto, não sob as asas de uma única potência, mas sob um ponto de vista
multipolar. A primeira razão seria o fato de que, além do Japão, duas outras economias
despontam como principais: China e Índia. Apesar disso, conforme afirma Arthur Meyer,
estes três países ainda não se encontram em condições de “exercer um papel de major player
nas políticas regional e mundial31”. Ou seja, qualquer projeto de integração precisaria contar
econômico do Japão dos anos 60. Embora seja claro que o Japão tenha exercido a função de
que as economias de porte diferenciado viessem a deixar o ônus da integração recair sobre os
menos desenvolvidos. Porém, para que uma integração desse tipo ocorra, é preciso um maior
equilíbrio na região historicamente conhecida por seus conflitos étnicos e religiosos. A Ásia é
uma região que possui imensa riqueza histórica e cultural, mas ela também é conhecida por
30
SCHWARTZ, Gilson, coordenador. Lições da Economia Japonesa. São Paulo, Saraiva S.A. Livreiros
Editores, 1995 / 1ª edição, p. 141.
31
MEYER, Arthur V. Correa. “A Região da Ásia-Pacífico no Limiar do Século XXI: o Papel da APEC e da
ASEAN”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, junho 1996 – Vol. 5 – Nº 1, p. 103.
possuir tradições e costumes milenares que constituem, no entender de Lytton Guimarães,
islâmica, tendo como exemplo a Indonésia, que possui a maior população islâmica do mundo;
diversas culturas, convivência nem sempre pacífica, e à mistura de etnias nos países, que nem
sempre se dá de forma equilibrada, e temos uma região onde parece ser impossível um
acordo33.
no grau de interação econômica da região, que pode variar desde um regionalismo aberto a
32
GUIMARÃES, Lytton L.. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, p. 21.
33
ABDENUR, Roberto. “O Brasil e a Nova Realidade Asiática: uma Estratégia de Aproximação”. Política
Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, dezembro 1993 – Vol. 2 – Nº 3, p. 47
34
MIYAZAKI, Silvio Yoshiro Mizuguchi. “Regionalismo no Pacífico Asiático: integração econômica orientada
pelo comércio externo”. Revista de Economia Política. Vol. 16, No. 1 (61), janeiro/março/96. p.128-139.
35
Apud in MIYAZAKI, Silvio Yoshiro Mizuguchi. “Regionalismo no Pacífico Asiático: integração econômica
orientada pelo comércio externo”. Revista de Economia Política. Vol. 16, No. 1 (61), janeiro/março/96. p.128-
139.
Para ele, no caso do regionalismo aberto, o grau de integração é mais brando que
em uma área de livre comércio, assim, levando em conta os fatores peculiares à Ásia,
Miyazaki afirma ser o “regionalismo aberto” o tipo de integração ideal para a região. Embora,
à primeira vista, pareça excluir os países externos, a vantagem deste modelo é o de permitir
que seus membros reduzam suas tarifas com não-participantes, mantendo quaisquer vínculos
membros;
incluindo as obrigações;
EUA na região e sobre focos de instabilidade política. Apesar disto, seu comércio exterior tem
sobre sua implementação. Uma das questões mais preocupantes da região é a explosão
países incluídos em seu estudo (Japão, Cingapura, Coréia do Sul, Malásia, Tailândia,
Filipinas, Sri Lanka, China, Vietnã, Indonésia, Índia, Myanmar, Camboja, Paquistão, Laos e
Paquistão e o Laos continuem, até 2015, com a taxa de crescimento acima dos 2%; porém são
estes justamente os países, ressalta Lytton, com os indicadores de pobreza mais elevados40.
IDH, índice que procura medir as realizações de um país através de uma média calculada de
Este índice, segundo Lytton, veio “preencher uma lacuna há muito reclamada por especialistas
de várias áreas, políticos e líderes mundiais, preocupados não apenas com o crescimento
desenvolvimento”. Dentro dos 16 países da região, metade está classificada como de IDH
baixo, ocupando as últimas posições do ranking mundial41. Essa informação traz maiores
preocupações quando estabelecemos uma comparação com Japão, Cingapura e Coréia do Sul,
consideradas como de IDH Alto. Esta questão, porém, tem sido estudada por estes países e é
possível notar, como coloca Arthur Meyer, que os países asiáticos vêm apresentando, de
forma bastante similar, “taxas altas de poupança e investimento doméstico e gastos públicos
39
GUIMARÃES, Lytton L. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, p. 34
40
GUIMARÃES, Lytton L. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, p. 34.
41
Idem, p. 32.
em educação primária e secundária42”. Meyer chega a afirmar que o investimento principal do
governo tem sido no crescimento econômico através do comércio exterior. Esta não é uma
“flying wild geese pattern”, ou teoria dos gansos voadores. Segundo esta teoria, que explicaria
o caso do desenvolvimento japonês e, a partir deste país para toda a região, haveria um ciclo
que levaria a que a produção de um determinado fator, ao atingir seu auge de exportação,
passaria a ser produzida no país importador, deixando o país previamente industrializado livre
para se dedicar a um novo produto de tecnologia mais avançada 43. Este ciclo, que teria se
iniciado nos Estados Unidos, teria se repetido no Japão e, a partir deste, em todo o Leste
42
MEYER, Arthur V. Correa. “A Região da Ásia-Pacífico no Limiar do Século XXI: o Papel da APEC e da
ASEAN”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, junho 1996 – Vol. 5 – Nº 1, p. 108.
43
MIYAZAKI, Silvio Yoshiro Mizuguchi. “Regionalismo no Pacífico Asiático: integração econômica orientada
pelo comércio externo”. Revista de Economia Política. Vol. 16, No. 1 (61), janeiro/março/96. p.128-139.
Segundo Silvio Miyazaki, “o crescimento econômico liderado pelas exportações
dos países do Sudeste e Leste Asiático, assim como a interdependência econômica 44” são as
substituição de importações, como o grande motor de desenvolvimento e, como tal, deve ser
exterior é o caso da China. Após a abertura ao comércio, ainda que suave, no final do século
XX, o PIB chinês elevou-se em mais de 50% 45. A China começou, então, a estender seus
um acordo com a Índia, em fevereiro de 2003, estabelecendo reduções tarifárias para cerca de
44
Idem, p. 128.
45
MEYER, Arthur V. Correa. “A Região da Ásia-Pacífico no Limiar do Século XXI: o Papel da APEC e da
ASEAN”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, junho 1996 – Vol. 5 – Nº 1, p. 105.
200 itens46 e, o que Eduardo Gonçalves Serra acredita que possa ser considerado “o principal
modificações profundas no comércio mundial. Toda essa dedicação rendeu bons frutos: o
governo japonês, segundo Amaury, registrou estar a China “deslocando o Japão como líder do
é mais visto como o líder regional da Ásia. Essa desaceleração é fruto principalmente da
expressiva desvalorização dos mercados de ativos no Japão no início da década passada. Por
conta disso, o país apresentou, entre 1990 e 2000, decepcionantes 1,1% ao ano de taxa de
crescimento, a menor entre os 16 países do Leste Asiático 48. Um país que se recuperara tão
fantasticamente de duas bombas nucleares levou o mundo a crer que sua recuperação desta
crise econômica, com subseqüente reajuste bancário, seria feita muito mais rapidamente do
que efetivamente tem sido. Dentro do bloco o país apresenta ainda uma reação de relutância
reaparelhamento militar que vai contra a sanção que lhe havia sido imposta ao final da 2ª
Guerra Mundial.
conflitos e uma aproximação crescente entre os dois países. Apesar disso, o Japão encontra-se
entre dois caminhos muito diferentes: manter-se isolado e buscar uma aliança, ainda que mais
46
OLIVEIRA, Amaury Porto. “O Salto Qualitativo de uma Economia Continental”. Política Externa. São
Paulo, Editora Paz e Terra, março / abril / maio 2003 / Vol.11 – Nº 4, p. 5.
47
SERRA, Eduardo Gonçalves. “Considerações sobre os impactos da entrada da China na OMC”. Política
Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, março / abril / maio 2003 / Vol.11 – Nº 4, pp. 39-40.
48
GUIMARÃES, Lytton L. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, p. 36.
branda, com os Estados Unidos, ou submeter-se a uma integração regional em pé de igualdade
com a China, ou, na pior das hipóteses, sob a égide desta nação.
Além disso, é preciso dizer que todos os problemas existentes no Sudeste Asiático
nem de longe superam os da Ásia Meridional. Roberto Abdenur coloca que, apesar da
evolução marcadamente positiva desde os anos 80, estima-se que cerca da metade da
população que sobrevive em estado de pobreza more nesta região 49. Embora estes países
populacional é uma das necessidades fundamentais para que a melhora dos padrões de vida
realmente ocorram.
Huntington em “O Choque das Civilizações”, afirma que a região passa por uma tendência
período de paz e estabilidade. Uma das causas deste interlúdio é um crescente sentimento pan-
asiático responsável pela criação de uma consciência oriental dentro da qual os países do leste
asiático se reúnem buscando uma identidade comum para fazer frente a um elemento externo
à região. Como salienta Abdenur, Huntington alerta que seria possível haver coalizões de
culturas distintas para fazerem frente a uma ameaça comum representada por uma cultura
externa que estivesse se impondo, podendo vir a modificar estruturas e valores locais, o que
próximo capítulo, que, ainda que esta unidade regional tenha ficado mais evidente a partir dos
anos 80, suas raízes datam, na verdade, da chegada dos europeus ao continente, ainda no
século XVI.
civilizações ali estabelecidas. Porém, à época da chegada dos europeus, apenas duas delas
sentido de soberania, tal como esse será entendido pela Europa pós-Westfalia 50. Estas
como se estendendo até o Japão. Isto não quer dizer que, considerando-o parte de seu império
multi-estatal, a China exercesse sobre ele um controle efetivo, pois além de ser um território
insular, não era considerado prioritário aos seus interesses. Sua preocupação com o Japão
consistia em garantir que suas bordas estariam cercadas e, assim, o Império do Meio estaria
defendido.
demais Estados nacionais e soberanos que hoje atuam na região, mas também o
diversa a influência da nova cultura. Essas diferenças foram fundamentais não apenas para o
principalmente, para a mudança de perspectiva nas relações entre ambos, pondo um termo
50
Em Westfalia, no ano de 1648, após a Guerra dos 30 anos, é assinado um Tratado de caráter fundamental para
as Relações Internacionais, pois, além de reconhecer a soberania nacional dos Estados, estabelece a igualdade
entre todas as nações, conceito fundamental para o equilíbrio do sistema internacional. N. da A.
51
Sentimento de unidade regional, surgido na década de 1980, que pode ser identificada pelo lema: a Ásia para
os asiáticos.
empreenderam na região, a reação de cada nação a estes “conquistadores” e as conseqüências
desta resposta na estrutura destes países. Embora este capítulo tenha um caráter
desenvolvimento e, dadas estas diferenças, nas rivalidades que surgirão entre eles. Uma vez
que estas diferenças surgem exatamente do modo de absorção da cultura ocidental por cada
um destes Estados, daí a importância da compreensão deste primeiro contato entre Oriente e
Ocidente.
Uma vez que estaremos trabalhando os processos históricos destes dois países,
“Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História”, de Jonathan Spence, que nos
Até o final da era Ming o Japão reconhecia a suserania da China, chegando por
Segundo Panikkar, “o império sob os Ming (...) gozou do século XVI à metade do século
nacionalistas, a política da dinastia Ming não tinha como princípio o isolacionismo. Desde
52
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p.
73.
embaixadas de todos os países eram muito bem recebidas 53. Assim, quando, com a conquista
de Málaca pelos portugueses, a Europa toma conhecimento das imensas riquezas do império
chinês, nada mais natural que tentassem estabelecer contato com o continente desconhecido.
atos de pirataria e seu desrespeito a todas as regras do comércio internacional 54, porém,
impediram os avanços em uma negociação diplomática até o século XIX, quando obtiveram
autorização para montar um posto avançado de comércio que hoje conhecemos como Macau.
Também estes não obtiveram grande êxito em sua empreitada, pois, além da autorização para
comerciar em Cantão não houve nenhum avanço em suas relações com o país.
holandeses pouco a pouco tomaram todas as posições portuguesas nos mares orientais, com
exceção de Macau. Além disso, ocuparam Formosa, à época ainda não realmente colonizada
pelos chineses, utilizando-a como base comercial e ponto avançado para o contato com o
Japão. Em 1662, contudo, foram atacados por Ching Ching-Cong e seu exército de 25 mil
dinastia com sua depravação, corrupção e um grande desprezo pelos interesses públicos.
Assim, quando Li Tsen-Tcheng desencadeia uma revolta, a capital une-se a ele, decretando o
país.
53
Idem, p. 75.
54
Ibidem, p. 76.
55
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 79.
56
Idem.
Organizados em clãs, os manchus não eram propriamente uma nação, mas um
povo situado na fronteira da China com a Rússia que, embora tenha reconhecido por diversas
vezes a suserania da China, jamais fora realmente conquistado por ela 57. A Nurachi, um
manchu movido pelo desejo de vingar o assassinato de seu pai e de seu avô por um oficial
título de General do Dragão e do Tigre pelo império chinês serviram para aplacar-lhe a ira,
apenas conferindo-lhe mais autoridade para constituir um poderoso exército. Por volta de
resposta, declara guerra à China. Embora decadente, o império Ming mantém a luta de modo
penetrado a península de Liao Tung. Tien Tsung, seu sucessor, dominou o estado coreano, os
mongóis do Tchaar e levou a guerra ao território chinês. Sua morte desencadeia a revolta de
Li Tzu-Tcheng e leva ao suicídio o último dos Ming. Em 1645, os Tsing – como era chamada
Muralha e não compreendia nem o Sinkiang, nem o Tibet. Dois séculos depois o império
Pacífico ao Himalaia e ao Caracorum 60, adquirindo uma configuração bem mais semelhante à
57
Ibidem, p. 80.
58
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição.
p. 80.
59
Idem, p. 81
60
Ibidem.
FIGURA 1: Território da China no século XIX.
troca do apoio ao soberano manchu em sua luta. Porém o fato de serem protestantes fez com
que os missionários europeus já instalados na corte de Pequim desde o fim da era Ming
primeiro, buscando uma aproximação conjunta, depois tentou a sorte por si só. Após uma
61
Ibidem.
frustrada tentativa de dominar Cantão e obter, assim, a permissão para negociarem livremente,
China com o resto do mundo, abriu o porto de Cantão ao comércio e a Companhia Inglesa das
Índias, que detinha o monopólio do comércio inglês na Ásia, pôde instalar neste uma feitoria,
porém, ocorreu apenas em 1715. Este comércio era restrito à cidade de Cantão e, ainda assim,
as negociações eram feitas por intermédio dos Hong – guilda de mercadores que detinham o
monopólio do comércio da cidade. Dentro de seus edifícios, os ingleses eram reis, fora dele,
porém, estavam submetidos às normas impostas pelos chineses, como coloca Panikkar:
Hong63.
A situação dos países europeus na China, no princípio do século XIX, era bastante
parecida com a que ocupavam na Índia em 1748: embora possuíssem algumas feitorias nas
regiões costeiras, não possuíam nenhuma influência política, tampouco poderio militar 64. Ao
contrário do que ocorria na Índia, contudo, o governo chinês não desejava o comércio
marítimo. Havia um preconceito nacional em relação aos produtos estrangeiros que os levava
anos, em um sentido único: embora comprassem imensas quantidades de seda, chá e ruibarbo,
os europeus tinham grande dificuldade em encontrar uma mercadoria necessária aos chineses,
62
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 83.
63
Idem, p. 84.
64
Ibidem, p. 122.
evitando as exportações de ouro que até então haviam mantido a balança comercial
equilibrada65.
causadora de dependência, o consumo jamais havia sido muito elevado. Com a plantação em
grande escala em seu império na Índia, a Inglaterra reverteu este quadro, mais que duplicando
as vendas para o país em 16 anos66. Em 1800, sendo o comércio mais rigidamente proibido, a
era inserida no país em grande quantidade em navios chineses licenciados que vendiam
comércio paralelo, efetuado em sua maioria longe das vias oficiais e legais. Lintim, ilha
situada à embocadura do rio de Cantão, era o destino de navios cujas mercadorias jamais
seriam aceitas no porto. Enquanto o comércio estrangeiro oficial de Cantão não ultrapassava
acabar com o comércio ilegal, o imperador nomeou Lin Tse-hsu, até então vice-rei de Hu
Kuang, que Panikkar descreve como sendo um homem íntegro, honrado e patriota 68,
Embora desejasse manter as boas relações comerciais com os ingleses, Lin pretendia eliminar
de vez o tráfico do ópio. Para isso, destruiu 20 mil caixas de ópio obtidas de mercadores
65
Ibidem, p. 125.
66
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p.
126.
67
Idem, p. 129.
68
Ibidem, p. 130.
chineses em uma cerimônia e fez com que mercadores ingleses e chineses assinassem uma
recusa do superintendente inglês em entregar o criminoso fez com que Lin exigisse a retirada
dos navios ingleses dentro de três dias. Enquanto isso, o Grande Almirante reuniu uma frota
de juncos de guerra. Sem nenhuma tentativa de negociar, os ingleses abriram fogo sobre os
ópio apreendido, mas também as ilhas que lhe haviam sido tomadas. A idéia de um imenso
o tratado abria ao comércio cinco portos, onde os mercadores se instalariam com as famílias
para negociar sem restrições. Era autorizado aos oficiais consulares ou superintendentes
residirem nos cinco portos e as tarifas e direitos alfandegários seriam fixados em uma base
legal e honesta71.
comerciar com os países ocidentais sob termos que Panikkar considera extremamente
maléficos para o país. As autoridades chinesas, no entanto, não se davam conta do que
Percebendo o perigo que a pressão popular representava para suas relações com o
governo chinês, os ingleses decidiram que somente pela força poderiam instalar-se
provocado pela revolta dos Cipaios, levante de grupos indianos contra a exploração britânica,
iniciado em 1857, que teve um ano de duração, Cantão havia sido ocupada e o vice-rei
capturado e enviado à Índia. Após a ocupação dos fortes de Taku, que guardavam Tientsin, a
jurisdição autônoma para seus processos, liberdade de ação para as missões cristãs e o direito
pretexto de não terem autorização para subir o rio, os britânicos atacaram os fortes de Taku,
junto com seus aliados franceses. Com a captura de três parlamentares ingleses, os aliados
decidiram marchar sobre Pequim, destruindo o palácio de Verão após o fracasso das
imperador a indenizações ainda mais elevadas, ao acréscimo de Tientsin aos portos do tratado
obtiveram o direito de alugar ou comprar terras e construir casas. Através destes tratados,
como afirma Panikkar, o orgulhoso império chinês foi de tal modo reduzido à impotência que
as nações européias puderam apoderar-se das terras e dividir seu imenso território em áreas de
influência76.
China como déspota inconteste. Simples concubina, Tseu Hi foi elevada a co-regente em
nome de seu filho Tongzhi, de 1861 a 1873, e em nome de seu sobrinho, Guangxu, de 1875 a
reformas, a imperatriz colocou-o sob detenção no palácio e lançou um édito afirmando que o
imperador lhe pedira para assumir o poder77, ali permanecendo até sua morte, em 1908.
– detinham o vale do Iang-Tsé. Hong Sieu t’inan, que se considerava o Rei Celeste, filho e
representante de Deus na Terra, nas palavras de Panikkar, “pregava uma estranha versão do
Cristianismo, na qual ele (...) proclamava seu direito divino de governar o mundo 78”. Fruto de
uma educação européia e tendo reforçado sua crença por numerosas visões, Hong anunciou a
76
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p.
169.
77
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, pp. 223-234.
78
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 170.
FIGURA 2: Tseu Hi , o Velho Buda, e seu sucessor Pu Yi, no Palácio Imperial da Cidade Proibida.
toda parte a “boa nova” e fundou uma Igreja, a qual denominou Sociedade do Absoluto. Tseu
Hi, apesar da grave ameaça, organizou uma verdadeira campanha contra os rebeldes, em uma
Em 1864 a imperatriz sofreu mais um golpe: o Sinkiang havia sido dominado por
com as potências estrangeiras. Muito mais ameaçador que a Revolta dos Taipings, a Revolta
Muçulmana do noroeste foi uma rebelião contra a China. Tso Tsung-tang, vice-rei da
como de crueldade quando necessário, como enfatiza Panikkar, penetrou no Sinkiang e varreu
79
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,,
p. 172.
80
Idem, 173-174.
prestígio da dinastia e do império encontrava-se bem estabelecido e as relações com as
vedado às autoridades chinesas, onde as leis do país não eram aplicadas e, incrivelmente, os
chineses eram tratados como membros de uma raça inferior 82. Em 1875, a cidade encontrava-
de libras, enquanto as importações “legais” não ultrapassavam três milhões. Embora os portos
A falsa paz reinante na China veio a ser abalada pelo interesse expansionista do
Japão na Coréia, sob a qual a China vinha exercendo uma vaga suserania há 300 anos. Esse
expansionismo japonês irá resultar na guerra sino-japonesa, vindo a modificar não apenas as
relações entre China e Japão, mas todas as relações diplomáticas da China com o Oeste. Além
disso, as conseqüências desta guerra, trouxeram perdas profundas para a China e abalaram
profundamente a estrutura política do país, acabando por permitir a penetração das idéias
socialistas, visto que ambas são produtos do Ocidente, não apenas o capitalismo, mas também
81
Ibidem, p. 174.
82
Ibidem, p. 176
83
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p.
182-183.
Obtendo, numa primeira passagem, uma visão geral sobre os efeitos da penetração
ocidental na China, observaremos, a seguir, como decorreu, no Japão, este primeiro contato
plena crise feudal, com a independência dos grandes príncipes do Oeste, sob a direção do
Panikkar aponta como fator de sorte para os japoneses o fato de Portugal, àquela
época, já haver perdido toda sua influência política, mesmo na costa, tendo dificuldade
mesmo para manter sua soberania em territórios ocupados por eles há 50 anos 84. Não fosse
isso, afirma, Portugal teria ocupado algumas ilhas ou pelo menos agravado a situação interna
do Japão.
que conseguiu não só eliminar os dáimos, mas também exercer um poder que os próprios
príncipes não ousaram romper. Mas havia uma brecha dentro da qual Portugal conseguia
aos missionários cristãos. Afinal, como afirma Panikkar, “a obra missionária, (...) alimentada
pelas rendas da Coroa, não podia deixar de confundir-se com a obra comercial e política85”.
Nobunaga foi sucedido pelo general Taiko Hideioshi que, embora desejasse
seus barcos e o interesse que os dáimos do Oeste demonstravam por este equipamento. Ao
saber que estes tentavam conquistar os estrangeiros para sua causa, Hideioshi proibiu as
missões cristãs em todo o território japonês86. O interesse dos dáimos pelas armas de Portugal
84
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 86.
85
Idem, pp. 86-87.
86
Ibidem, p. 87.
rendeu conseqüências também para os espanhóis. Após um incidente entre o comandante de
Com o assassinato do general em 1598, seu filho tentou assumir o poder, mas foi
vencido por Iyeasu Tokugawa em 1600. Três anos depois, Iyeasu recebe o título de Shetai
Xógum – Grande General da Submissão dos Bárbaros – fundando o xogunato dos Tokugawa
que durante 265 anos exerceram uma autoridade de fato sobre todo o Império Japonês.
Embora devesse prestar contas de suas ações ao imperador, informá-lo acerca de problemas
de importância nacional e necessitasse de sua sanção para as medidas graves, o poder militar
estrangeiro somente era permitido sob controle oficial. Esse controle, se, por um lado,
armas modernas para desafiar o poder central, por outro lado, impedia que os estrangeiros
dizia – pelos portugueses, demandaram todo um exército, uma campanha longa e onerosa para
serem subjugados. Além disso, em 1622, o xógum descobriu um plano de invasão do Japão
europeus88.
87
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 87-88.
88
Idem, p. 89.
por um Conselho de Anciões. Na visão de Panikkar, é a instituição deste sistema que permite
ao Japão restabelecer a paz interna e assim enfrentar sem receio o mundo exterior89.
ruptura total com o Ocidente. A ilha de Deshima, próxima a Nagasaki, permaneceu aberta aos
mas seu interesse era especificamente voltado para a ciência, buscando compreender as razões
de seu poderio.
preocupação crescente com o perigo de uma invasão ocidental da Ásia, preocupação esta que
considerado sempre a China como um modelo de poder imperial, a derrota chinesa levou-os a
Japão com o Ocidente. Decididos a forçar sua entrada no mercado asiático, o Presidente
Fillmore enviou o Comodoro com quatro navios de guerra a Ourawa, portando uma carta ao
xógum assegurando suas intenções amigáveis. A carta, porém, sugeria que o Japão se
igualdade. Acrescentava também que a frota havia trazido consigo apenas quatro de seus
menores navios, mas, caso necessário, ela estaria pronta para retornar a Iedo com uma força
bem maior91. Diante do medo de tornar-se uma nova China, o Japão enviou a resposta
89
Ibidem, p. 90.
90
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,,
p. 338
91
Idem, p. 203.
favorável esperada e, a 31 de março de 1854, um tratado abria os portos ao comércio
Esta abertura enfraqueceu a posição do xógum, uma vez que nobres, samurais e a
própria corte eram avessos à abertura do país a estrangeiros. Exatamente neste momento
crítico, o xógum que negociava os tratados morreu sem deixar herdeiro varão. Aproveitando-
se das turbulências causadas pela sucessão, os Estados Unidos formularam novas exigências,
cláusulas após terem sido longamente ameaçados por Townsend Harris, o primeiro dos
representantes diplomáticos americanos, que lhes pedira que meditassem no exemplo dos
chineses em Cantão93”. Ainda assim, entre 1857 e 1863, após a ratificação dos tratados, os
ataques aos estrangeiros haviam se multiplicado de tal forma que o imperador ordenou a
expulsão dos estrangeiros a 25 de julho de 1863. O xógum, no entanto, declarou não ter a
por aqueles que retornavam do estrangeiro, acreditavam que era necessário adotar uma nova
política, que não a isolacionista, para impedir uma dominação estrangeira. Mesmo com todos
os esforços para restabelecer sua autoridade, o xogunato desmoronou, dando início à Era
92
Segundo este princípio, todo cidadão estrangeiro estaria submetido somente à lei de seu país natal; não sendo,
portanto, obrigado a obedecer às leis do país no qual estivesse habitando em caráter temporário. N. da A.
93
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p.
204.
FIGURA 3: Ocidentalização do Japão: convivência de hábitos e de costumes europeus com as tradições japonesas.
Àquela época, a situação do Japão não era melhor que a da China após o tratado
anunciando sua decisão de entrar em relações com o exterior, sendo a corte imperial – e
somente ela – a responsável por tais relações e que as cláusulas dos tratados seriam
preenchidas de acordo com as leis internacionais. Acima de tudo o desejo do Japão era
diretamente do Deus Sol. Assim, segundo Panikkar, “todo o renascimento japonês que se
seguiu à Era Meiji foi assinalado por uma mistura bizarra de cientificismo ocidental e de
xintoísmo autêntico96”.
94
PANIKKAR, K. M.. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 205.
95
Idem, 206-207
96
Ibidem, p. 340.
Esta reestruturação foi muito bem sucedida em todos os níveis: um governo
central foi estabelecido, um moderno exército estruturado, uma indústria criada, uma
uma nação moderna97. Apesar do que Panikkar classifica como um entusiasmo delirante por
tudo que era ocidental, a tripla identificação da religião, política e educação permitiu que o
com os chineses, demonstrando ter atingido seu objetivo de “dotar o país não apenas de um
exército nacional e instituições modernas, mas também de uma indústria capaz de, sob
enfrentamento tanto dos exércitos ocidentais quanto dos países vizinhos 98”. Mas sua
afirmação definitiva como potência internacional ocorreu, segundo Ernani Teixeira Torres
isoladamente, buscaremos estabelecer uma análise comparativa dos dois casos, confrontando,
para isso, as visões que nos foram oferecidas por Spence e Panikkar da reação de ambas e
da sociedade. A China buscava a formação de uma estrutura liberal que servisse de base para a
construção de uma democracia, pois sua maior preocupação era a organização interna do país.
por sua vez, procurava um fortalecimento externo, construindo uma força militar reacionária
com base no conhecimento técnico e científico ocidental, além de uma indústria moderna
capaz de atender as necessidades geradas por suas atividades bélicas. É inegável que a
construção deste poderio técnico militar colaborou para que, posteriormente, o Japão não
apenas figurasse entre as maiores potências mundiais, mas, tivesse segurança para buscar
planejamento conjunto e, principalmente, promovidos por classes sem interesses políticos que
a recuperação foi dirigida pelo governo, buscando manter a coesão nacional e reforçar o
poderio militar99. Por esta razão, quando o forte e unificado Japão entrou em guerra com a
fragilizada China, seu governo encontrava-se sem condições para reagir, ficando a resistência
Outro ponto importante foi a questão religiosa: o Japão compreendia que para a
construção de um país forte e independente era fundamental haver uma unidade espiritual,
que, no caso, se deu através do xintoísmo. Essa doutrina tinha importância fundamental, não
apenas no sentido religioso, mas também como fonte de coesão política. Porém, a “Jovem
China”, como denomina Panikkar, foi fundamentalmente anti-religiosa. Dentro de uma visão
cética chinesa moldada pelo Confuncionismo, a religião não tinha qualquer papel a
9993
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 336-337.
FIGURA 4: Soldados japoneses aprendem os métodos de combate ocidentais.
FIGURA 5: Compra e posterior fabricação das armas ocidentais para uso em guerras.
progresso crescente da ciência ocidental, o que a levava a uma ruína inelutável, enquanto o
Japão buscava conhecê-la cada vez mais e podia valer-se dos benefícios advindos desta 100.
Para os japoneses, tudo o que pudesse instruí-los era bom, assim, a cultura ocidental
impregnou todas as esferas da atividade intelectual do Japão do século XIX e foi um momento
Estas diferenças colaboram para a compreensão dos resultados das reformas que
ocorreram em cada uma destas nações. O Japão, embora tenha enfrentado uma crise
processo de industrialização, pôde reverter sua situação graças ao boom exportador causado
pela Primeira Guerra Mundial102. Isto, porém, não teria ocorrido se, graças ao núcleo de
intelectuais que se dedicaram a estudar com afinco a cultura ocidental, não estivesse o país
A China, porém, não teve a mesma sorte. O movimento “Jovem China” foi
marxistas. A anarquia social, na visão de Panikkar, havia alcançado um ponto tal em que a
prolongado esforço103. Antes que as teorias da “Nova China” pudessem ser aplicadas,
100
Pakse-Smith, M. e Thompson, J. L. apud in PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de
Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição, p. 343.
101
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 344
102
FILHO, Ernani Teixeira Torres. Japão: da industrialização tardia à globalização financeira in FIORI, José
Luís. Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações. Petrópolis, Editora Vozes, 1999 / 2ª edição, p. 223.
103
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 344.
doutrinas da Revolução Russa haviam-se implantado na China e, em 1921, o Partido
não invalidou o processo de industrialização do país. Porém, a partir deste momento, China e
entanto, mais importante do que a realidade de cada um destes países ou do que a comparação
que possa ser feita entre estes é o efeito desta nova realidade no relacionamento entre ambos
representada, a esta época, pela figura da imperatriz viúva Tseu Hi. A pressão contrária entre
percebia as infinitas possibilidades que a adoção de algumas das práticas ocidentais traria para
o país.
Japão enxerga neste incidente uma excelente oportunidade para estabelecer neste território sua
influência e, assim, suprir as necessidades que se impõe a seu crescimento. A disputa pela
península coreana entre China e Japão irá gerar um conflito que não apenas afetará
eternamente as relações entre ambos, mas também levarão os dois países por dois caminhos
Além disso, a violência empregada pelo Japão em sua expansão territorial irá
refletir em toda a região, gerando uma desconfiança permanente nos países dominados, o que
constitui um dos pontos mais preocupantes com relação ao projeto de integração asiático.
dois países por tanto tempo: as marcas deixadas pelos crimes de guerra japoneses e o
particulares de nossos atores diante desse novo contexto de relações, começando por obter um
Mercantil da China (1872), a expansão das minas de carvão de Kaiping (1877), a criação de
Estados Unidos, enviando, por cerca de dez anos, grupos de meninos chineses, com idades
entre doze e catorze anos, para absorver o conhecimento ocidental. Nos Estados Unidos,
porém, os estudantes não tinham acesso à educação militar ou naval tecnicamente avançada,
enviar os alunos a países como França, Alemanha ou Grã-Bretanha, onde não havia objeções
a esse respeito. Além disso, criou academias militar e naval na própria Tianjin105.
104
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 224.
105
Idem, p. 225.
ausência de um argumento forte que justificasse sua soberania sobre estes territórios, a China
japonês neste período, fruto das reformas econômicas e institucionais da Restauração Meiji.
Assim, em 1879, os japoneses anexaram as Ryukyu e, não fosse o desempenho de Li, a Coréia
Para evitar a conquista de uma base japonesa permanente na Coréia, a corte criou
China no país. A irrupção de uma rebelião doméstica na Coréia levou ambos os países a
julho de 1894 e designaram um “regente” fiel aos interesses deles 107. Mesmo com as tentativas
território Qing.
pagar uma indenização de 200 milhões de taéis, liberavam mais quatro portos e cediam
mais 30 mil taéis de indenização, sob forte pressão de russos, alemães e franceses.
que pretendia manter uma estrutura fundamental de valores filosóficos e morais chineses, ao
mesmo tempo permitindo adotar rapidamente todo o tipo de prática ocidental. Assim, “o
106
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 225.
107
Idem, p. 227.
108
Ibidem, p. 228.
conhecimento chinês devia continuar sendo a essência, mas o conhecimento ocidental devia
Filho de uma família pobre da região de Cantão, Sun emigrou para o Havaí no início da
década de 1880 e ali recebeu educação em escolas missionárias, sendo apresentado às idéias
com o destino da China, Sun havia oferecido seus serviços à Li Hongzhang, para ajudar na
resposta, Sun criou uma sociedade secreta no Havaí, no final de 1894, como nome de
“Sociedade Reviver a China”, com o objetivo de derrubar a dinastia manchu 110. Unido a
outros chineses inquietos, Sun voltou ao Oriente e continuou a lutar por seus objetivos através
Àquela época, o imperador Guangxu, dotado de uma visão mais ampla que seus
predecessores, decidiu afirmar sua independência como monarca e, entre junho e setembro de
1898, divulgou um corpo coerente de idéias reformistas jamais apresentados, que mereceram
o nome de “Reformas dos Cem Dias”.111 Elevou o nível da educação do país, ordenou
verdadeiros valores intrínsecos da China112. Mesmo sua tia Tseu Hi perturbou-se com algumas
das mudanças e preocupou-se com o fato do apoio a Guangxu vir de uma facção
109
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 230.
110
Idem, p. 232.
111
Ibidem, p. 233.
112
Ibidem, pp. 233-234.
tentativa de aproximação destes reformistas de alguns generais, Tseu Hi voltou subitamente à
Cidade Proibida e, dois dias depois, um édito afirmava que o imperador solicitara seu retorno
ao poder. Guangxu havia sido detido no palácio sob suas ordens e seis de seus assessores
Durante este período, dentro do que Spence denomina uma “onda geral de
exigindo o fim dos privilégios gozados por chineses conversos e atacando os missionários
cristãos. Sob a égide “acatar a dinastia e exterminar o estrangeiro”, que havia sido inspirada
no xintoísmo japonês do período pré-Era Meiji, o movimento dos Boxers era formado por
113
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 234-235.
114
Idem, p. 234.
115
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 196.
tropas, tomando os fortes de Taku, em 17 de junho de 1900, a fim de dar cobertura ao
desembarque dos soldados, caso irrompesse uma guerra em larga escala. Naquele mesmo dia
a imperatriz reuniu-se em caráter de emergência e, dois dias depois, lançava uma “declaração
uma série de ataques aos estrangeiros, os mais violentos ocorrendo em Shanxi, Hebei e
Henan. Segundo Panikkar, àquela época, o movimento boxer identificava-se com a China
inteira116.
resistência dos boxers logo esmoreceu e as tropas entraram em Pequim e levantaram o cerco
dos boxers em 14 de agosto. Tseu-hi e seu sobrinho fugiram para Oeste, estabelecendo uma
capital temporária em Xi’an. Após longas negociações, conduzidas mais uma vez por Li
Hongzhang, um tratado formal de paz, conhecido como Protocolo dos Boxers, foi assinado
onde Li acabara de morrer, aos 78 anos de idade - estabelecendo sua residência na Cidade
Proibida, pondo-se, nas palavras de Panikkar, “a adular as mulheres dos diplomatas, a receber
as esposas dos pastores, a fazer boa figura para todos, como se nada tivesse vindo perturbar a
anos que separariam o Protocolo dos Boxers do fim da dinastia manchu foram marcados por
uma forte dominação européia na China. A educação era praticamente monopolizada pelos
116
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 196.
117
Idem, p. 199-200.
FIGURA 7: Ascensão de Pu Yi ao trono, em 1908.
rigoroso118.
derrubada do regime imperial, assim como do complexo edifício construído pelos ocidentais
República Chinesa e Sun Yat-sen foi eleito para o cargo de presidente provisório. Em março
deste mesmo ano, ele renunciava em favor de Yuan Tche-kai, a esperança do partido imperial.
república na China:
assegurar apoio internacional ao seu governo ainda não de todo estabelecido. De posse do
montante, Yuan pôs-se a eliminar sistematicamente seus opositores: esmagou uma revolta
Parlamento, pôde finalmente ser eleito Chefe de Estado em dezembro de 1915. Yuan, porém,
118
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 200.
119
FILHO, Severino Cabral. “O Desenvolvimento da China e Ásia Pacífico: Perspectivas para o Século XXI”.
Estratégias de Desenvolvimento Regional: Mercosul, Nafta e Alca. p. 141.
120
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 276.
morreu poucos meses depois, deixando a China praticamente entregue à anarquia nos 11 anos
já influenciado pela revolução Russa, entrou em contato com Lenine, que lhe enviou Adolfo
Joffé, com o qual deu início à Convenção Sino-soviética onde a URSS declarava seu apoio ao
povo chinês. A primeira medida de Sun ao retornar a Cantão foi enviar Tchiang Kai-tchek a
seu exército aos comunistas. A presença deste novo contingente seria fundamental para a
resistência da China à Guerra que seria imposta pelo Japão nos anos seguintes. Além dos
isolamento feudal para transformá-lo em uma potência de prestígio sem precedentes em sua
história. Além de ter se tornado uma das grandes nações do mundo, o Japão fora encorajado
por sua aliada Inglaterra a anexar a Coréia e apoderar-se dos direitos russos sobre a
Manchúria. Embora a aliança anglo-japonesa tivesse perdido em parte sua razão de ser graças
121
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 277.
aos acordos anglo-russos em 1907, o desenvolvimento naval alemã, que ameaçava
gravemente os interesses ingleses no Pacífico, havia restituído toda sua importância e valor122.
asiático123”, assim assumindo a direção dos negócios na região. Percebendo que havia uma
frente única na Ásia contra eles, trataram de obter de cada potência em separado uma
China. Para Panikkar, houve aí um erro de interpretação de ambas as partes, pois, enquanto o
Manchúria e na Mongólia Interior, os Estados Unidos acreditaram ter o Japão renunciado aos
Imaginando-se assim autorizado para gozar dos direitos que julgava obter, o Japão
estava pronto para auxiliar a Inglaterra e a França, impondo apenas mais uma condição: que
estes apoiassem suas reivindicações às ilhas alemães ao sul do Equador 125. Satisfeita a
condição, uma esquadra japonesa comandada pelo Almirante Sato entrou no Mediterrâneo.
Era a primeira vez, desde o princípio do século XVI que um barco asiático entrara em águas
européias. Vitorioso, tomou assento ao lado das demais potências ao fim da guerra na
Conferência de Versalhes.
122
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 291.
123
Idem, p. 278.
124
Ibidem, p. 293.
125
Ibidem, p. 293.
Os americanos temiam que a aliança anglo-japonesa pudesse provocar um conflito no
Pacífico, desconfiança que crescera com a expansão do Japão nas ilhas do Pacífico Sul. Além
disso, todos os países se davam conta de que o Japão reforçaria sua marinha para defender as
limitação dos armamentos navais, assim pondo um fim aos problemas do Pacífico.
uma coalizão de todo o Ocidente, o Japão tomou todas as precauções necessárias para que a
decisão não alterasse o status das posições já adquiridas antes de aceitar os termos norte-
Manchúria.
Sentindo-se privado de qualquer apoio, o Japão fez o possível para tornar-se uma
grande potência industrial, desenvolveu suas forças militares, melhorou suas culturas e
intensificou seu comércio. Porém, carecendo de carvão, minério de ferro e com recursos
agrícolas insuficientes, somente na Manchúria poderia preencher estas lacunas. Assim sendo,
setembro de 1931, os japoneses ocuparam Mukden e, em poucos dias, haviam ocupado todos
os centros estratégicos da Manchúria 128. Ao final do ano, não só o Japão dominara a maior
parte da Manchúria, como suscitara um movimento autonomista manchu que servia a seus
interesses.Ao apelo da China à Liga das Nações, o Japão respondeu desembarcando tropas em
126
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
pg 295
127
Idem, p. 296-297.
128
Ibidem, p. 298.
FIGURA 9: Pu Yi assume como Imperador de Manchuko, em 1934.
Os Estados Unidos reagiram duramente, apelando inclusive à Liga das Nações, da
qual não fazia parte. Recusava-se a reconhecer qualquer tratado ou acordo que atentasse
Tratado dos Nove – que consagrava a preponderância dos Estados Unidos no Pacífico, os
norte-americanos concentraram sua frota no Havaí, à guisa de advertência 129. Sob pressão, a
Liga das Nações nomeou uma comissão para viabilizar o fim das hostilidades em Shanghai,
propondo todas as medidas imediatas que se fizessem necessárias. Nas palavras de Panikkar,
os Estados Unidos haviam conseguido formar, mais uma vez, uma impressionante coalizão
contra os japoneses130.
China e, desde o fim da dinastia manchu, politicamente, não possuíam com esta mais nenhum
vínculo. Todavia, ainda que o imperador Pu Yi houvesse renunciado ao trono da China, não
havia feito o mesmo com seu título de imperador da Manchúria. Assim sendo, a 18 de
fevereiro de 1932, o Manchuko – que significava terra dos manchus” – foi proclamado
129
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 296.
130
Idem, p. 299.
131
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 379
Liga das Nações enviou uma comissão liderada pelo estadista inglês lorde Lytton para
examinar a situação. Em fevereiro de 1933, com certa pressão dos Estados Unidos, que se
Manchuko independente. Abandonando a Liga das Nações, o Japão rompe com a Europa,
resolvido a empregar a força na China132, antes que esta fosse capaz de realizar qualquer
reorganização interior.
do fracasso da política liberal, tornando-se cada vez mais militarista e fascista. Embora, até
1931, a vida política do Japão estivesse dominada pela grande burguesia capitalista, o exército
assumia um papel cada vez mais importante, agindo sozinho e fazendo “sua” política 133.
mistura de força, astúcia e guerra psicológica: subornaram generais para que desertassem ou
paramilitares e davam ordens falsas para comandantes chineses, provocando confusão nos
de maio de 1933, assinando a humilhante Trégua de Tanggu, que reduzia ainda mais a
132
PANIKKAR, K. M. A Dominação Ocidental na Ásia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1977 / 3ª edição,
p. 301.
133
Idem, p. 304.
134
SPENCE, Jonathan D. Em Busca da China Moderna – Quatro Séculos de História. São Paulo, Editora
Companhia das Letras, 1995 & Editora Schwartz Ltda., 1996, p. 375.
135
Idem, p. 80-81.
FIGURA 10: Passeata pela libertação da China da dominação japonesa.
de protesto vinha tomando força, exigindo uma postura mais enérgica por parte do governo
central de Nanquim contra os agressores. Para o governo, porém a primeira prioridade era
unificar a China, depois, sim, combater o inimigo externo – o que, em outras palavras,
Porém, as tropas do Kuomintang, lideradas por Tchiang Kai-chek, estavam frustradas por se
verem obrigadas a recuar sem combater o invasor japonês e não tinham a menor motivação
Assim, ao chegar em Xi’an, Kai-chek é preso por seus próprios generais, que
um compromisso com a Frente Única, onde os dois partidos lutassem juntos contra o inimigo
136
FILHO, Daniel Aarão Reis. A Revolução Chinesa. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981 / 2ª edição, p. 70.
137
FILHO, Daniel Aarão Reis. A Revolução Chinesa. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981 / 2ª edição, p. 70.
O imperialismo japonês domina, pouco a pouco, todos os centros urbanos de
ofensiva, desta vez no sudeste asiático, tomando o Vietnã, a Malásia, Cingapura, a Birmânia e
ameaçando a Índia. Estados unidos e Inglaterra se vêem obrigados a declarar guerra ao Japão.
consideravelmente sua influência, possuindo 19 bases, sendo a maior parte localizada no norte
respeito em relação aos camponeses. Dotadas de moral elevado, para Daniel Aarão Reis Filho,
138
Idem, p. 72-73.
139
FILHO, Daniel Aarão Reis. A Revolução Chinesa. São Paulo, Editora Brasiliense, 1981 / 2ª edição, p. 73.
É assim que, com o apoio da população, os “vermelhos” conseguem cercar as
tropas japonesas nas cidades e nos principais entrocamentos rodoferroviários. Com a explosão
da primeira bomba atômica em Hiroshima, a 6 de agosto, e da segunda, três dias depois, que
FIGURA 13: A bomba atômica de Nagazaki, vista da China; o cogumelo formado pela explosão em Hiroshima;
e o tratamento de uma criança vítima da explosão.
Até este momento, a história de nossos atores pode ser sintetizada por uma China
tendo seu império fragmentado no cenário asiático e por um Japão expansionista neste mesmo
mais sob a ótica dos dois impérios em confronto – o decadente e o ascendente. O fim da
140
Idem, p. 85.
Guerra afirmou o Ocidente na região e decretou o fim dos “impérios asiáticos”. Assim, o
Japão era a grande nação derrotada pelo Ocidente, enquanto a China buscava reerguer-se das
ruínas causadas pela II Guerra Mundial e pela Guerra Civil que havia se instalado no país.
primeira escaramuça de uma guerra civil que terá início menos de um ano depois. Além da
desconfiança recíproca que esmorecia todas as tentativas de acordo entre os lados, os EUA e a
comprometia-se a convocar uma Conferência Política Consultiva, reunindo, além dos dois
partidos, as forças democráticas e liberais do “centro”. Logo ficou evidente que o Kuomintang
não tinha nenhuma intenção de cumprir os acordos, pois continuava a reprimir o movimento
comunista e a atacar os estudantes que iam às ruas exigir o estabelecimento de uma real
ocupação que se coloca, a guerra civil se instala. O Kuomintang une-se aos Estados Unidos,
recebendo recursos militares, conselheiros civis e militares, apoio logístico e ajuda financeira.
Mas o apoio estrangeiro mais prejudicava que auxiliava a imagem do partido. O Exército
Popular de Libertação (EPL), com sua luta nacional contra “os estrangeiros que querem se
substituir aos japoneses143”, tinham um apelo muito mais forte aos chineses, recém saídos de
Tchiang Kai-chek se retira para Taiwan, onde instala o “seu” governo. Em setembro de 1949,
amplo leque de forças políticas. A Conferência aprova um Programa Comum e Mao Tse-tung
China144.
FIGURA 14: Proclamação da República Popular da China, sob governo de Mao Tse-tung.
Essa nova realidade não decretou o fim dos antagonismos, mas apenas modificou
a qualidade deste, agora no contexto internacional de uma Guerra Fria. Este antagonismo se
144
Ibidem, p. 95.
traduzirá, na escala regional, no confronto sino-japonês nas configurações que descreveremos
nesta seção.
mortos e uma economia em ruínas. A guerra havia esgotado a indústria local por falta de
e o desemprego estavam no auge e a inflação reduzia a cada dia o poder de compra dos
o povo japonês por sua aventura militarista146”. O grande projeto norte-americano era utilizar
todas as suas forças para reconstruir seu outro aliado no continente: a China.
Guerra Fria em 1948 e com a Revolução Chinesa de 1949. Para evitar o contágio do “perigo
vermelho”, era imperativo que as economias atingidas pela guerra pudessem se estabilizar,
ainda que fossem países inimigos recentemente derrotados. Assim os EUA modificaram sua
pressão, de uma posição de controle às estruturas monopolistas dos zaibatsus, para a cobrança
de uma recuperação econômica imediata do Japão. Para isso lhes devolveram a liberdade de
operar, por seus próprios meios, sua economia, contanto que de acordo com as diretrizes da
Viu-se o Japão lançado em um sistema comercial e cambial para o qual não tinha
preparo, com um programa de orçamento fiscal superavitário e uma paridade fixa entre o
dólar e o iene. Não fosse a maciça ajuda financeira americana, o Japão teria mergulhado em
uma crise financeira que levaria à redução da atividade interna e a um aumento das falências e
145
Zaibatsus: grandes grupos econômicos formados, em sua maioria, por antigos senhores feudais do período
imperial, que compunham uma elite político-econômica no Japão. N. da A.
146
FILHO, Ernani Teixeira Torres. Japão: da industrialização tardia à globalização financeira in FIORI, José
Luís. Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações. Petrópolis, Editora Vozes, 1999 / 2ª edição, p. 13.
147
Idem.
necessidades, o Japão negociou algumas mudanças: o câmbio seria monopólio do Estado e as
As medidas defensivas levaram o país a uma trajetória sem precedentes pelos dez
anos seguintes: o produto nacional bruto atinge um crescimento de 10% ao ano e, em 1955, o
país é admitido no Gatt. Já em 1970, o Japão é a terceira potência econômica do mundo, atrás
apenas dos Estados Unidos e da União Soviética 148. Em menos de 20 anos, o Japão se tornou
máquinas e equipamentos. Com a aceleração das exportações, o Japão foi elevado, em curto
Estados Unidos.
apontados por Argemiro Procópio, porém, levaram a China a distanciar-se daquilo que o autor
148
GRENET, Yves. O Capitalismo assalta a Ásia in FERRAULT, Gilles (org.) O Livro Negro do Capitalismo.
Record: 1999. pg. 406
149
PROCÓPIO, Argemiro. China em tempos de mudança in MARTINS, Estevão Chaves de Rezende
(organizador). Relações Internacionais: Visões do Brasil e da América Latina, Coleção Relações Internacionais.
São Paulo, FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão, IBRI – Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, p.
400.
soviético provocasse perversos efeitos em seu país, que possuía estrutura social
Se este rigoroso processo estatal funcionou com sucesso no começo dos anos 50,
Com a morte de Mao Tse-tung, um novo núcleo dirigente, sob a liderança de Deng
Xiaoping, deu início a uma mudança do eixo estratégico da política partidária para a
construção de uma economia nacional baseada na estabilidade e na unidade. Para isso, era
mas onde o estado tivesse o papel de definidor dos parâmetros, de forma a evitar uma
150
Idem.
151
PROCÓPIO, Argemiro. China em tempos de mudança in MARTINS, Estevão Chaves de Rezende
(organizador). Relações Internacionais: Visões do Brasil e da América Latina, Coleção Relações Internacionais.
São Paulo, FUNAG – Fundação Alexandre de Gusmão, IBRI – Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, p.
402.
152
FILHO, Severino Cabral. “O Desenvolvimento da China e Ásia Pacífico: Perspectivas para o Século XXI”.
Estratégias de Desenvolvimento Regional: Mercosul, Nafta e Alca. p. 142.
A China pôde, assim, vivenciar o que, nas palavras de Severino Cabral Filho, foi
sétimo maior país exportador mundial (3,9% do total) e o oitavo maior importador (3,4%), a
pela elevação constante do nível de vida da população chinesa, o país tornou-se um forte
candidato ao papel de principal concorrente dos EUA no âmbito do comércio exterior. Mais
ainda, a China aparece hoje, como afirma Serra, como uma forte candidata à condição de
superpotência no futuro próximo e as relações que vem mantendo com os países vizinhos e
com uma série de outros países em desenvolvimento demonstram seu interesse em participar
asiática155.
vem fazendo com que o Japão, cada vez mais, perca sua posição de locomotiva na região ou,
em uma perspectiva mais branda, tenha que dividir esse papel com a China e, muito
tem início com Deng Xiaoping, ainda que dentro de uma perspectiva socialista, aproximou
153
Idem. p. 142..
154
SERRA, Eduardo Gonçalves. “Considerações sobre os Impactos da Entrada da China na OMC”. Política
Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, março / abril / maio 2003 – Vol.11 – Nº 4, p. 39.
155
SERRA, Eduardo Gonçalves. “Considerações sobre os Impactos da Entrada da China na OMC”. Política
Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, março / abril / maio 2003 – Vol.11 – Nº 4, p. 47.
novamente as realidades de China e Japão. Onde antes havia forças antagônicas de poder
diálogo cooperativo, visando o bem-estar de ambos os países. Este diálogo, porém, não seria
possível caso a China mantivesse uma política isolacionista, como foi o caso da URSS, ou não
Nessa perspectiva, China e Japão tornam-se atores regionais não mais condicionados ao
confronto de impérios da primeira metade do século XX, nem mesmo à dialética capitalismo
X socialismo da guerra Fria, mas sim no contexto da Globalização que terá início com o
também uma maior discussão sobre integração regional, uma vez que os cenários locais
integração regional. Neste último capítulo buscaremos, também, através de todos os pontos
ascensão rumo ao panteão das grandes potências econômicas mundiais. O mundo, no entanto,
não era mais o mesmo com o qual o país estava acostumado. Muito embora o comércio
exterior continuasse tendo importância estratégica para o crescimento das nações, um novo
paradigma havia sido implantado e era agora o próprio cerne de toda a dinâmica do sistema
mundial: o conhecimento.
fantástica. Deste modo, para adequar-se a essa nova realidade seria necessário à China
absorver todo o conhecimento tecnológico e científico que, por tanto tempo, repudiara.
comércio internacional.
Miyazaki afirma que uma das características principais das economias do Pacífico Asiático é a
existentes. Esta complementaridade pode ser explicada através do modelo flying wild geese
terceiro. Assim, nas palavras de Miyazaki, “se antes um país B era tardiamente
Deste modo, a produção, que teria se iniciado nos Estados Unidos, teve seu
excedente exportado para o Japão. O Japão realizou a produção interna do produto, enquanto
excedeu a quantidade consumida, esse excedente foi exportado para as Novas Economias
Japão, NIEs, Asean (Cingapura, Filipinas, Indonésia, Malásia e Tailândia), e este teria sido
Cingapura – a partir da década de 1970. Nos anos 80 e 90, foi a vez dos “dragões asiáticos” –
acreditaram estar nascendo um novo “centro”, que substituiria a Europa e os Estados Unidos
mundial159”.
fim, porém, com um ataque dos capitais especulativos à Tailândia. Uma das causas
fundamentais da crise, segundo Lytton Guimarães, foi a perda de confiança dos investidores,
sobre as ações locais. Por serem países com ligações comerciais estreitas, o que era
considera esta interdependência uma das razões para que houvesse um rápido contágio na
região162. Uma vez instalada a recessão, a demanda por importações intra-regionais diminuiu,
mundial, os cinco países mais afetados (Coréia do Sul, Filipinas, Malásia, Indonésia e
efeitos recessivos levasse muito mais tempo para ocorrer. Para Lytton Guimarães, o papel de
instituições multilaterais como a ASEAN e a APEC, tem sido fundamental, “tanto nos
crise164”. A ASEAN uniu-se ao Japão, à Coréia do Sul e à China, formando uma ASEAN + 3,
no sentido de criar um bloco de livre comércio que atenda à região do Leste Asiático. É a
primeira vez que a região trabalha na criação de seu próprio bloco econômico, com propostas
que visam, além do incremento ao comércio regional, até mesmo a formação de um Fundo
Leste Asiático através de uma maior coordenação econômica e de um emprego mais eficiente
porém há uma possibilidade de que a inclusão de Japão e Coréia do Sul na ASEAN + 3 tenha
como objetivo impedir qualquer tentativa hegemônica da China165. O país vem apresentando
um desempenho bem acima dos demais membros da APEC e continua bem menos vulnerável,
período.
163
GUIMARÃES, Lytton L. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
(org.) Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, p. 64.
164
Idem.
165
Ibidem, p. 65.
Outra possibilidade que pode oferecer grandes chances de desenvolvimento para a
região é o processo ASEM – Asia Europe Meeting – reunindo 10 países asiáticos (Brunei,
China, Indonésia, Japão, Malásia, Filipinas, Coréia do Sul, Cingapura, Tailândia e Vietnã) e os
países que compõe a União Européia. Com encontros bienais, este processo permite a
oportunidade ímpar para que os países asiáticos absorvam a vasta – e bem sucedida –
vinculação tão elevado quanto o da União Européia. A permeabilidade é exatamente uma das
características mais importantes da integração asiática e permite que os países possam ter
acesso a negociações com outras regiões do mundo para suprir necessidades que o mercado
regional não pode atender. Um exemplo claro é a deficiência energética na qual a China se
encontra e os acordos bilaterais que têm feito com países como Sudão, Angola, Argélia, Líbia
integração asiática, não apenas na China e no Japão, mas em todo o Leste asiático. Apesar de
ter apresentado um crescimento elevado contínuo nos últimos anos, a China possui uma
constitui, segundo Meyer, sua maior fraqueza168. O Japão vive um momento de estagnação
econômica, causado pelo subconsumo do mercado japonês. Os demais países acabam por
sofrer as conseqüências destes problemas internos, seja pelo reflexo que porventura tenham
no comércio exterior, seja pela ameaça da explosão de uma guerra civil que acabe por atingir
todo o continente.
166
GUIMARÃES, Lytton L. A Ásia Contemporânea e sua Inserção Internacional. in GUIMARÃES, Lytton L.
(org.) Ásia-América Latina-Brasil: A Construção de Parcerias. Brasília: UnB/CEAM/NEÁSIA, 2003, pg. 68-69
167
LOHBAUER, Christian. “A China e a Dimensão Energética da Ásia”. Política Externa. São Paulo, Editora
Paz e Terra, março / abril / maio 2003 – Vol.11 – Nº 4, p. 53.
168
MEYER, Arthur V. Correa. “A Região da Ásia-Pacífico no Limiar do Século XXI: o Papel da APEC e da
ASEAN”. Política Externa. São Paulo, Editora Paz e Terra, junho 1996 – Vol. 5 – Nº 1 , p. 109.
Assim, sendo, somente uma integração maior entre China e Japão, nos campos
China parece disposta a desempenhar um papel mais ativo na região, quase representativo. O
Japão, porém, parece cada vez mais isolado e não tem tomado nenhuma medida evidente para
APEC, ASEAN e até mesmo a ASEM promovam um diálogo mais ativo que incentivem estes
países a buscar esta proximidade e, talvez, solucionarem suas dificuldades através de uma
política macroeconômica conjunta que beneficie toda a região, trazendo resultados positivos
em manter relações de cooperação com os demais países do globo, pois, embora possuam um
carências, a energética, por exemplo, que somente poderão ser sanadas através de um diálogo
aberto com as demais regiões do mundo. Esta liberdade é o que irá diferenciar seu processo de
O estudo das relações entre os dois principais Estados da região nos oferece uma
visão ainda mais ampla de multipolaridade, uma vez que demonstra estarem os países
relacionados bastante preocupados com uma tentativa de hegemonia destes atores. Embora o
Japão não aparente desejar exercer um papel de condutor da economia asiática, a China várias
japonesa que teve lugar nos diversos países da região durante a Segunda Guerra Mundial,
porém, deixou marcas profundas, que não foram ainda totalmente superadas. Assim sendo,
existe uma preocupação em evitar que estes dois atores possam exercer qualquer tipo de
buscando um acordo que inclua Japão, China e Coréia do Sul, permitindo uma maior
participantes. Esta estratégia também tranqüiliza estes países quanto aos conflitos internos que
ainda problemas políticos internos, tornando-se uma região bastante vulnerável, apesar da
conflitos.
regionalismo asiático, caracterizado por uma aproximação política maior entre os Estados e
por uma maior liberdade de ação para seus membros nas negociações extra-regionais. Embora
sucedida. É possível, obviamente, que a razão fundamental para esta dedicação seja a
percepção de sua dependência dos Estados ao redor para o estabelecimento de seu equilíbrio
interno, em uma concepção bastante neo-realista. Esta perspectiva não é de todo negativa,
pois, uma vez que direciona estes países na construção de um diálogo cordial permanente, os
benefícios advindos deste processo vêm mantendo - e tendem a assim permanecer - China e
Japão unidos em um ideal pacífico comum, baseado nas trocas comerciais que tanto oferecem
Embora não possamos avaliar o processo regional do leste asiático como um todo,
uma vez que este se encontra ainda em evolução, seus resultados bem-sucedidos servem de
de integração da Ásia Oriental, que colaboraram para torná-la uma região de destaque no
tem para o desenvolvimento deste pólo de poder econômico, político e tecnológico. Todos os
processos produtivos e para a integração de seus países na esfera econômica global. Isto fica
através da classe civil burguesa, o crescimento asiático foi basicamente orientado por seus
acompanhados de perto pelos governantes e as ações necessárias são em sua maioria por eles
coordenadas. É preciso lembrar também que, uma vez sendo os Estados os verdadeiros atores
América Latina. Como o continente asiático, a região é formada por países com diferentes
países latino-americanos teve governos militares ditatoriais até os anos 80 e ainda não se
bem sucedido, pois depende fundamentalmente de uma balança de poder equilibrada, o que
hoje, é inviável para a América Latina. Assim, um projeto de integração mais poroso, como a
ALADI170 atual, pode trazer resultados muito mais benéficos, em termos de cooperação para o
mundo.
principal razão para a fantástica recuperação de suas economias após os períodos de crise
Andre Gunder Frank, nenhuma forma institucional particular ou prática econômica política é
próprio que lhe seja mais conveniente e eficiente que os ditados pelas instituições
asiático atingiram um resultado mais positivo após adotarem uma estratégia econômica
própria, mais rigorosa que a economia de mercado exigida pelo Banco Mundial ou pelo
contribuíram para o nivelamento científico-cultural dos países da região. Não apenas os países
da região puderam manter-se sempre dedicados a uma atividade produtiva com mercado-alvo
A criação deste paradigma foi fundamental para que períodos de crise, como a dos
capitais especulativos, no final dos anos 80, não afetassem a recuperação deste setor após a
171
FRANK, Andre Gunder. Tigre de papel, dragão de fogo. SANTOS, Theotonio dos (coord.). Os Impasses da
Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro: PUC –
Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1. p. 39.
estabilização. Na verdade, afirma Frank, “a atual crise de superprodução e de excessiva
de tempo.
sugestão do FMI, destruiu o aparelho produtivo destes países e causou uma proporção tal de
desemprego e recessão, que poucos acreditariam ser possível superar o problema econômico
forma possível: mantiveram controle sobre o fluxo de capital estrangeiro, abrindo seu
mercado de capitais a influxos, mas restringindo especialmente os fluxos para fora de suas
determinada pelo FMI e pelo Banco Mundial. Os resultados foram semelhantes ou, em alguns
casos, mais graves que na região do leste asiático. Alguns países sofreram efeitos tão
engolidos pela onda trazida pela crise financeira, se implementada, pode favorecer a
172
FRANK, Andre Gunder. Tigre de papel, dragão de fogo. SANTOS, Theotonio dos (coord.). Os Impasses da
Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro: PUC –
Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1. p. 41.
173
Idem. p. 44.
4.3.5. Fortalecimento da Posição Político-Econômica
O ponto anterior relaciona-se com este, na medida em que, para a maioria dos
países em desenvolvimento falta a força necessária para resistir ao que Frank denomina
preponderância militar, sua posição política dificilmente poderia ser qualificada como
estratégica – com exceção talvez do Brasil – e suas economias possuem pouco ou nenhum
poder de barganha.
credoras das grandes potências ocidentais; com exceção do Japão, que, mesmo possuindo uma
das tecnologias militares mais avançadas, ainda se respalda no esquema de segurança norte-
por fim, estes três atores, e a Índia cada vez mais, possuem uma relevância política regional e
174
FRANK, Andre Gunder. Tigre de papel, dragão de fogo. SANTOS, Theotonio dos (coord.). Os Impasses da
Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro: PUC –
Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1, p. 42.
175
Idem, p. 42
Na Ásia-Pacífico, segundo Amaury Porto de Oliveira, “começou a tomar corpo a
convicção de que não faz mais sentido formular políticas, econômicas ou outras, partindo da
premissa da hegemonia dos EUA176”. Isso não quer dizer, porém, que ignorem sua força, ou
apenas que percebem a mobilidade dos fluxos de poder e não temem traçar objetivos que
possam deslocar o eixo dinâmico da política econômica internacional para a Ásia Oriental.
internacionais, controladas pelo Ocidente, sobre a Ásia Oriental durante a última crise
financeira. Frank acredita ser provável – uma vez sendo economicamente possível – que estes
países criem uma nova coligação financeira e instituições bancárias que evitem a recorrência
pelo Ocidente177.
Uma iniciativa desta, embora não fosse economicamente viável no momento atual
da América Latina ou da África, por exemplo, regiões onde a maioria dos países apresenta
fracas estruturas financeiras e burocráticas, poderia ser um projeto a longo prazo. Na verdade,
um projeto conjunto neste sentido poderia auxiliar, e muito, os países com maiores
176
OLIVEIRA, Amaury Porto de. Lições da Ásia-Pacífico: Reposicionar-se no Pós-hegemonia. JÚNIOR,
Gélson Fonseca & CASTRO, Sérgio Henrique Nabuco de. Temas de Política Externa Brasileira II. São Paulo,
Editora Paz e Terra, 1994 – Vol. 2, p. 164.
177
FRANK, Andre Gunder. Tigre de papel, dragão de fogo. SANTOS, Theotonio dos (coord.). Os Impasses da
Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro: PUC –
Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1. p. 43.
4.3.8. Reforma das Instituições Mundiais
iniciaram uma batalha para remodelar as instituições bancárias e financeiras mundiais. Para
um fundo monetário asiático, capaz de prestar o auxílio necessário sem todos os requisitos
Outros países também seguem o mesmo caminho, buscando utilizar sua posição
no cenário internacional para reformar estes organismos. Um exemplo atual, que se encontra
outros países com pesos regionais e estratégicos elevados. Entre os países a serem avaliados
estão Brasil, Japão, Índia, Coréia e África do Sul. Mesmo com toda a relutância das potências
tem afetados outros grupos não tão tradicionais e os pólos de decisão tornam-se cada vez mais
delineados.
Para Frank, um dos fatores que contribuiu para que a Índia e, ainda que em menor
178
Lugar onde ocorreu a Conferência que deu origem às seguintes instituições: Organização das Nações Unidas,
Organização Internacional do Comércio, Fundo Monetário Internacional, Banco Internacional de Reconstrução e
Desenvolvimento (BIRD ou Banco Mundial), entre outras. N. da A.
rúpia e o yuan179. Junto com a válvula de controle do mercado de capitais, este mecanismo
reforçou o controle sobre os capitais, permitindo a livre entrada de capitais no país, mas
Este mecanismo reduziria bastante a fragilidade dos mercados nos países latino-
responsável pela evasão dos capitais durante a crise asiática. É bom lembrar que, àquela
época, estes países também foram percebidos como instáveis, sofrendo o reflexo da mudança
Este modelo exigiu que as empresas desenvolvessem uma estrutura industrial flexível, capaz
de, num curto prazo, substituir velhas tecnologias ou transferi-las para outras economias
nacionais inter-relacionadas181.
ausência de uma nação industrialmente potente, como foi o caso do Japão, que assumiu a
liderança do processo na região. Brasil e África do Sul não estão ainda, tecnológica e
179
FRANK, Andre Gunder. Tigre de papel, dragão de fogo. SANTOS, Theotonio dos (coord.). Os Impasses da
Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro: PUC –
Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1. p. 43.
180
GRIFFITH-JONES, Stephany. A crise financeira do Leste asiático: uma reflexão sobre suas causas,
conseqüências e implicações para a política econômica. Política Externa. Vol. 7 – No. 3 – Dezembro, 1998, p.
53.
181
SANTOS, Theotonio dos. Unipolaridade ou hegemonia compartilhada. SANTOS, Theotonio dos (coord.).
Os Impasses da Globalização – Hegemonia e Contra-Hegemonia. São Paulo: Edições Loyola & Rio de Janeiro:
PUC – Pontifícia Universidade Católica, 2003 – Vol. 1. p. 53-54.
O desenho de uma coordenação de ações que vem se delineando nesta última
década sugere um crescimento para a Ásia Oriental que rivalize até mesmo com a
performance da União Européia. Ainda que as perspectivas para o regionalismo asiático não
ocupando no comércio internacional e o poderio militar das nações ali instaladas tendem a
esmoreceu, muito pelo contrário. A globalização fez surgir nestes uma sociedade civil muito
Internacionais sejam o que Amaury Porto de Oliveira denomina “jogo de soma positiva”, ou
182
OLIVEIRA, Amaury Porto de. Lições da Ásia-Pacífico: Reposicionar-se no Pós-hegemonia. JÚNIOR,
Gélson Fonseca & CASTRO, Sérgio Henrique Nabuco de. Temas de Política Externa Brasileira II. São Paulo,
Editora Paz e Terra, 1994 – Vol. 2, p. 164.
Considerações Finais
com um papel cada vez mais fundamental para a economia internacional. Não apenas pelos
números bem-sucedidos que seus países vêm apresentando nas últimas décadas, nem mesmo
por sua imensa capacidade de regeneração demonstrada pela superação da crise asiática nos
anos 80. Como demonstrado na primeira parte de nosso estudo, a importância da Ásia está
teorias das Relações Internacionais, reforçamos o papel realista que China e Japão –
partir da força econômica que vêm conseguindo obter neste cenário de integração foram
dos ocidentais no continente e as conseqüências das influências deste “novo mundo” para
ambos. Verificamos assim, uma assimilação positiva da tecnologia ocidental pelo Japão,
embora conjugada com um renascimento do xintoísmo, o que permitiu que o país absorvesse
asiático. Esta tentativa japonesa trouxe duas conseqüências fundamentais ao nosso estudo:
marcou profundamente a China e os demais países da região com suas táticas de guerra
abusivas e infundiu na população chinesa uma força e um vigor novos, responsáveis pelo
de crescimento fundamentado na exportação e nas relações destes países. Nesta parte, também
como os reflexos e as lições da integração asiática para todo o globo e para a América Latina
em particular.
econômica, o que foi o determinante para o desenvolvimento de acordos visando uma ação
conjunta, mas ainda com alguns obstáculos políticos à integração. Destes, o que tem sido de
mais difícil superação é o ranço histórico que afeta o relacionamento político entre China e
Japão. Porém, o destaque que estes dois atores apresentam no cenário internacional, torna o
proveniente das relações sino-japonesas, bastando para isso que ambos os países dediquem à
FIGURA 2: Tseu Hi , o Velho Buda, e seu sucessor Pu Yi, no Palácio Imperial da Cidade
Proibida. Foto extraída do filme “O Último Imperador” (The Last Emperor) de Bernardo
Bertolucci, 1987.
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